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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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A AGRICULTURA FAMILIAR PRESENTE NA FEIRA: UMA POSSIBILIDADE DE ESTUDO DO MEIO EM NOVA CANTÚ, PR

Luciana Andreola Campigotto1 Virgílio Manuel Pereira Bernardino2

RESUMO

Este estudo tem por objetivo tornar as aulas de geografia mais estimulantes, e se justifica na medida em que a feira é um recurso didático por excelência que permite o trabalho interdisciplinar, diminuindo as fronteiras entre a teoria e a prática educativa. Ressalta-se a importância do Estudo do Meio, a feira de Nova Cantú, PR, como possibilidade de aprendizagem significativa. Afinal, só pela saída do ambiente escolar (muitas vezes barulhento e prisional), já permite outro olhar sobre o processo de ensino-aprendizagem. Espera-se que os estudantes usem todos os sentidos e percebam os cheiros, as cores, os sons, etc., para reconhecer melhor este espaço geográfico, além de usar todos os recursos possíveis de observação, vídeo, fotos, desenhos, caderneta de campo, etc., para por exemplo, registrar e entrevistar as pessoas de diferentes idades e profissões. No Brasil, o costume de fazer feiras veio com os portugueses e há registros de feiras desde a época colonial. As feiras brasileiras, possuem um caráter predominantemente hortifrutigranjeiro. Estão inseridas como uma possibilidade de reafirmação da identidade do povo brasileiro, já que se priorizam os costumes e a cultura popular, promovendo a troca de conhecimentos, resgate de valores e sensação de relações sociais. Portanto, a feira é um espaço de vivência pois é frequente o uso desse território temporário como lugar de comércio, de encontros, numa mistura do consumo cotidiano com o lazer. Ainda que estejam sendo realizadas atividades necessárias e rotineiras, é uma oportunidade de viver algo diferente, uma comemoração dentro do dia-a-dia. Entende-se que a feira é um lugar diferente e transformador, um ambiente de respeito, de gentilezas, alegre e unido: um espaço de socialização. Assim, acreditamos que o estudo da feira de Nova Cantú, como prática do Estudo do Meio possa permitir um aprendizado significativo propiciando o convívio, a formação cidadã, o diálogo e o entrosamento de um trabalho educativo coletivo.

Palavras-chaves: Ensino de geografia, Feira de Nova Cantú, Estudo do Meio.

1 Pós-graduada em “Planejamento geo-ambiental” pela UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná / Campus

de Campo Mourão e graduada em Geografia pela UNOESTE - Universidade do Oeste Paulista. Atualmente é professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná no Col. Estadual Prof. J. F. da Costa – E.F.M em Nova Cantú na disciplina de Geografia. Pós- Graduada em supervisão, Orientação Educacional em Nível de Especialização-lato-Sensu, pela UNESPAR. 2 Doutorando em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de

Maringá (UEM), Integrante do Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização (Nemo) e professor da UNESPAR / Campus de Campo Mourão.

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1. INTRODUÇÃO

Estudar a feira, como ambiente vivido serve para compreender o lugar no/do mundo

que os educandos ocupam, além de ressaltar a importância dos espaços públicos no entorno

das escolas como significativos instrumentos metodológicos para o ensino de Geografia.

Afinal, "precisamos ter um lugar de onde partir, para começar a ler o contexto." (SOJA, 1993,

p. 269). Através dessa perspectiva a feira de Nova Cantú, PR foi o local selecionado, para a

realização de um “Estudo do Meio” com os alunos do 2° ano do Ensino Médio do Colégio

Estadual Prof. J.F. da Costa – E.F.M. A escolha desta feira para a realização da prática

pedagógica resultou da necessidade de contextualizar a realidade econômica do município,

que possui uma forte relação com o campo. O objetivo desse estudo foi fazer com que a

disciplina de Geografia se torne uma disciplina interessante e que a mesma permita o

entendimento do espaço e interferência em sua meio. Portanto, se justifica na medida em que

a feira é um recurso didático por excelência que permite o trabalho interdisciplinar,

diminuindo as fronteiras entre a teoria e a prática.

Diante disto, esta proposta metodológica do ensino da Geografia é uma contribuição

não só para a aprendizagem docente e o desenvolvimento dos professores, mas também com a

possibilidade de permitir aos alunos o estudo de seu meio próximo. Neste sentido, sensibiliza

os jovens sobre a importância da preservação da feira e da pequena produção familiar,

valorizando os espaços públicos urbanos que acolhem trabalhadores e consumidores, num

ciclo virtuoso para a sobrevivência dos pequenos produtores familiares e para o abastecimento

urbano.

A necessidade da valorização do espaço local tem aumentado nos últimos anos; de um

lado, como consequência das mudanças nas relações entre o local e o global resultantes dos

processos de globalização e, de outro, devido à relevância que as questões urbanas vêm

assumindo. O lugar emerge como importante categoria de análise da geografia e também de

outras áreas ligadas a estudos sócio-ambientais e, como consequência, os

estudos/conhecimentos locais ganham relevante papel nas atividades escolares.

Assim, esta pesquisa tem como proposta fundamental discutir as práticas pedagógicas

dos professores no Estudo do Meio no uso dos espaços públicos, como é o caso da feira de

Nova Cantú, como espaço para o aprendizado escolar.

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2. DESENVOLVIMENTO

Educar exige dedicação e persistência, pois é através da educação que podemos

provocar mudanças significativas nas atuais e futuras gerações. O trabalho educacional surtirá

bons resultados quando o ser humano for transformado através do conhecimento.

A feira é um lugar de sobrevivência, do acontecer solidário, uma possibilidade real e

efetiva de comunicação, de trocas de informação e construção política; é uma contra-

racionalidade resistente às mudanças e imposições do mundo globalizado; é um espaço que

emerge das contradições do modo de produção capitalista, portanto, um "espaço diferencial"

(LEFEBVRE, 2008) e ponto de redes no espaço urbano. Neste lugar ocorre a base da

(re)produção da vida humana, que (re)produz os espaços urbanos e econômicos e que podem

ser analisados pela tríade habitante-identidade-lugar (CARLOS, 2007). Segundo a autora

citada,

As relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos de uso, nas condições mais banais, no secundário, no ocidental. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo. (CARLOS, 2007, p.20).

O terceiro milênio, que se inicia, apresenta-se cada vez mais como a era dos espaços

articulados por uma lógica mais espacial do que histórica (SOJA, 1993; SANTOS, 1998). É a

época, acima de tudo, do espaço. "Estamos na época da simultaneidade, da justaposição, do

perto e do longe, do lado a lado, do disperso" (SOJA, 1993, p. 10).

Através do Estudo do Meio (EM) que abrange uma das melhores formas de mostrar o

conhecimento a partir da realidade de vida de cada individuo, seja ela de forma em escala

local ou escala global.

Portanto para Pontuschka (2004), o Estudo do Meio faz ampliar a busca através do

espaço geográfico não só pelo ambiente físico, mas pela relação das pessoas com o meio onde

se realizam. Sendo considerado o meio como indefinível. Podendo buscar novos ambientes de

estudos através da vida, da classe, da escola, da rua, da cidade, de um bairro, de um quarteirão

ou simplesmente de uma cidade completa.

Desenvolver experiências práticas em uma feira, fazer entrevistas ou fazer registros

fotográficos contribui para que os alunos compreendam como a geografia determina o mundo

vivenciado atualmente, pois:

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...a verdadeira compreensão se opõe à memorização. Quem memoriza retém o conhecimento de forma mecânica e, portanto, não aplica ou transfere o que foi aprendido; quem compreende se apropria e constrói o conhecimento associando-o a outros que já possui. (ANTUNES, 2006, p.31)

VESENTINI (1997) ressalta que integrar o educando ao meio significa deixá-lo

descobrir que pode tornar-se sujeito na história. Ao procurar reter informações soltas,

executa-se a aprendizagem mecânica não perpetuando o conhecimento pretendido; já na

aprendizagem significativa, dá-se significação ao que se aprende e que mais facilmente será

guardado.

A idéia fundamental é a de aprendizagem significativa, na qual a organização cognitiva é considerada em termos hierárquicos; possui conceitos mais ou menos inclusos, portanto, com diferentes potenciais de ancoragem das novas aprendizagens. (...) Enfatizamos, nessa perspectiva, a ação decisiva da natureza social da aprendizagem, no papel mediador da linguagem na construção do pensamento, e destacamos, na aprendizagem de conceitos científicos, dois processos relacionados e igualmente importantes para a construção do conhecimento do aluno: um primeiro a abstração dos conceitos espontâneos, tornando-os mais gerais; e outro, de aquisição do conteúdo dinâmico dos conceitos, enriquecendo-os de atributos familiares do sujeito. Esse processo se dá em interação social, na sala de aula, envolvendo professor e alunos. (FRANCISCHETT, 2002, p.30).

Quando o professor agrega à sua função o papel mediador, ele traz em si as metas e

objetivos que estruturam a sua proposta de ensino, procurando mostrar ao aluno a dimensão

social do trabalho.

Alguns Autores conceituam-se a realidade física, biológica que os rodeiam e, portanto

estão de certa forma ligada diretamente a eles mesmos, através de experiência ou por

simplesmente passarem por aquele local ou de histórias que ouviram há muito tempo. E à

medida que esses alunos vão crescendo seu relacionamento com o meio que os rodeiam

podem se tornar imprescindível. O argumento central dessa técnica do Estudo do Meio é a

metodologia do ensino, que possibilita aos alunos através da investigação de um ambiente

livre como a feira, ative o processo de participação e de aprendizagem, como agentes

construtores e pelo seu desenvolvimento intelectual. Ao dispor aos alunos em situações de

realidade concretas e problemas que várias pessoas enfrentam e a estrutura de territórios

povoados, o aluno começa a entender e adquirir conhecimento e instrumento para o mundo e

sua vivência, da vida que muitas pessoas enfrentam em seu dia-a-dia (CALLAI, 2001, p. 144).

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Ressalta-se a importância do Estudo do Meio, a feira de Nova Cantú, como

possibilidade de aprendizagem significativa. Afinal, só pela saída do ambiente escolar (muitas

vezes tenso, barulhento e prisional), já permite outro olhar sobre o processo de ensino-

aprendizagem. Neste sentido, (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE; 2007, p. 174),

recomendou-se usar todos os sentidos para conhecer melhor este meio, além de usar todos os

recursos possíveis de observação (vídeos, fotos, desenhos, cadernetas de campo, cartazes,

etc.), para, por exemplo, registrar e entrevistar as pessoas de diferentes idades e profissões.

3 METODOLOGIA

Foram realizadas atividades educativas com os alunos do 2° ano do Ensino Médio,

turno vespertino, faixa etária entre 14 e 17 anos do Colégio Estadual Professor J. F. da Costa

E.F.M, proporcionamos aos alunos subsídios que os levaram a compreender de forma

significativa os conteúdos.

A implementação do trabalho teve a finalidade de levar em consideração as

contradições sociais que apresentam o espaço do pequeno produtor rural, presente na feira de

Nova Cantú, tratando assim de um trabalho de ensino interdisciplinar na qual o principal

objetivo é a busca alternativa para compartilhamento do conhecimento adquirido.

Neste sentido, nos debruçamos sobre a temática “a Agricultura Familiar Presente na

Feira: uma possibilidade de estudos do meio em Nova Cantú, PR", foi desenvolvida

englobando os seguintes métodos de coleta para o estudo: pesquisa bibliográfica; coletânea de

imagens e confecções de cartazes; palestra/relatório; e visita à feira;

3.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Diagnóstico

Foi realizado aplicado aos alunos um questionário sobre a Feira de Nova Cantú,

previamente preparado, sendo os mesmos informados da presente pesquisa, tendo como

objetivo de coletar mais informações sobre as atividades exercidas nas propriedades rurais da

cidade.

O questionário foi composto por seis questões objetivas, que foram respondidas

prontamente pelos alunos, sem qualquer constrangimento. No questionário foram realizadas

perguntas relacionadas diretamente aos alunos e seus pais como acontecem à escolha dos

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suplementos que serão plantados? Se a renda é diretamente da lavoura ou existe outras

atividades agrícolas desenvolvidas na propriedade? Onde os mesmos realizam a

comercialização de suas produções e se recebem algum tipo de assistência técnica na

propriedade rural.

Pesquisa Bibliográfica:

Com a finalidade de ampliar os conhecimentos sobre: a importância do Estudo do

Meio, a feira de Nova Cantú, como possibilidade de aprendizagem. Usando todos os sentidos

para conhecer melhor este meio, além de utilizar todos os recursos possíveis de observação

(vídeos, fotos, desenhos, pesquisa internet, etc.) para, por exemplo, registrar e entrevistar as

pessoas de diferentes idades e profissões.

Etapa 1 – Foi realizada uma pesquisa bibliográfica com os alunos do 2º ano do

Ensino Médio, os quais foram divididos em grupos e receberam o tema principal: Sobre a

Feira de Produtores de Nova Cantú.

Etapa 2 – Aplicação do questionário investigativo.

Etapa 3 – Coleta de desenhos, músicas, vídeos relacionado ao tema pesquisado.

Etapa 4 – Palestra com o Presidente da Feira J. F. P.

Etapa 5 – Apresentação dos resultados obtidos nas etapas anteriores na forma de

seminários.

Contextualização da pesquisa

Individualmente, os alunos se organizaram e complementaram através de pesquisa em

livros, revistas e internet, onde foram realizadas as apresentações dos seminários, as quais

foram utilizadas como instrumentos de avaliação das participações dos trabalhos realizados.

Coletânea de imagens e confecção de cartazes

Atividade realizada na biblioteca da escola, onde todas as imagens foram selecionadas,

organizadas e reunidas, de acordo com o tema, e as quais os cartazes foram confeccionados e

expostos no mural do pátio da escola, local de acesso para todos os alunos da escola e

visitantes.

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Visita à feira:

Devido a Feira funcionar às sextas-feiras após as 17 horas, horário em que os alunos

estão saindo da escola para pegar o ônibus, foi necessário comparecer na mesma no sábado. A

denominada “FEIRA DA LUA”, acontece uma vez ao mês para melhor entender esta

dinâmica econômica e assim, se encontrar com os feirantes, que são todos conhecidos pelos

estudantes. Foi discutido sobre o trabalho na lavoura, o qual a maioria é manual, exigindo

muita dedicação e capricho, ressaltando que a sobrevivência da família depende de suas

colheitas. Por isso precisam enfrentar a luta, com qualquer tipo de tempo, o trabalho é

contínuo, pois alguns tipos de produtos diferenciam-se quanto ás épocas de plantio e colheita.

Este encontro com o lugar estudado ficou registrado na figura 01: visita à feira.

Figura 01: Visita a Feira.

Foto: Luciana A. Campigotto

Desta maneira os alunos puderam conhecer um pouco mais sobre a realidade dos

pequenos proprietários, o que facilitou um melhor entendimento sobre a relação e interligação

dos trabalhos da produção no campo com a comercialização de seus produtos na feira.

Em sala os educandos fizeram uma discussão a respeito da visita e prepararam

apresentações de trabalhos através de poemas, produção de textos, fotos da feira e

comentaram o que aprenderam e mostraram aos demais alunos do Ensino Médio.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nova Cantú está localizada no noroeste do Estado do Paraná, mais precisamente na

messoregião geográfica Centro-Ocidental paranaense, também denominada COMCAM

(Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão), conforme figura 1. O município

é marcado pela evasão populacional. Segundo o IBGE (2010), o município possuía 7.425 mil

habitantes.

Figura 02: Localização de Nova Cantú, PR

Além de Nova Cantú, a evasão populacional é recorrente aos demais municípios que

compõe a COMCAM. O fator que causou esse processo foi à passagem da agricultura

tradicional para a agricultura moderna, principalmente nos anos 60 e 70, o que resultou em

um acentuado processo de saída de população dessa região. Segundo o relatório da

COMCAM, na década seguinte, em 1980 a população reduziu para 403.902; passando para

387.451, em 1991; em 2000 diminuiu para 346.431 habitantes e o censo do IBGE, de 2010,

apontou a presença de 334.125 habitantes. Com esta evolução negativa, a taxa de crescimento

populacional na região foi de -1,24% ao ano no período entre 1991 a 2000.

Quanto ao trabalho desenvolvido com os estudantes, a pesquisa bibliográfica foi um

dos recursos mais relevantes que possibilitou que os mesmos desenvolvessem seus

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conhecimentos, porém, a maioria logo de início apresentaram dificuldade para a realização de

suas pesquisas de modo satisfatório. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino Freire

(1996).

A participação dos alunos durante a elaboração dos trabalhos foi significativa,

demonstrando esforço e dedicação pelos mesmos. Alguns buscaram informar junto aos

demais estudantes como acontece o trabalho em sua propriedade como um amigo, um vizinho

e um parente. Explicaram que trabalham de formas diferentes, sempre buscando atingir o

melhor para sua propriedade, com maior rentabilidade. Consideramos as contradições sociais

que se apresentam no espaço dos pequenos produtores rurais e o modo de produção

capitalista, presente na feira de Nova Cantú. De modo geral esta feira vem sendo um evento

de caráter comercial onde predominam os produtos hortifrutigranjeiros e o artesanato, com

relevante influência da cultura popular.

A feira pode ser analisada segundo diversas dimensões que se interpenetram. A

dimensão cultural é uma delas e por seu intermédio ampliam-se a compreensão da sociedade

em termos econômicos, sociais e políticos, assim como se tornam inteligíveis as

espacialidades e temporalidades expressas no espaço urbano (CORRÊA, 2003, p. 167). Entre

as diversas perspectivas a cultural é que mais se sobressai como resposta a esta questão. "A

cultura não é um produto igual aos demais. Ela é uma maneira de perceber e de se integrar ao

mundo. Ela é um tecido de experiências e de interpretações da vida do qual cada sociedade

humana tem necessidade para se compreender" (MARQUES, P.; MARQUES, S., 2001, p.62).

Neste sentido, a noção de cultura é tratada como código, como um conjunto de regras de

interpretação da realidade, que dá sentido ao mundo natural e social (VELHO; CASTRO,

1978, p.17).

Portanto a feira é um espaço de vivência, pois é frequente o uso desse território

temporário como lugar de comércio, de encontros, numa mistura de cotidiano e lazer. Ainda

mesmo que estejam sendo realizadas atividades necessárias e rotineiras, é uma oportunidade

de viver algo diferente, uma comemoração dentro do dia-a-dia. Entende-se que a feira é um

lugar diferente e transformador, um ambiente de respeito, de gentilezas, alegre e unido: um

espaço de socialização.

Segundo Sousa (2012, p. 16), ao mesmo tempo, o caráter comercial da feira disfarça

sua importância na manutenção e promoção da cultura popular. Ainda que o imerso no

discreto dia-a-dia desse evento, as noções de identidade, comunidade, hábitos, relações e

comunicação aparecem fortemente durante toda a sua duração e possibilitam aos indivíduos

um sentimento de humanização.

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De posse deste embasamento teórico, foi elaborado um questionário investigativo para

analisar a porcentagem de alunos cujos pais são produtores rurais, nessa pesquisa foram

abordadas: informações pessoais, espaço de produção, tamanho da propriedade, localização

da propriedade, produção permanente, características socioeconômicas, método de produção

agrícola, quantas pessoas trabalham na propriedade, comercialização e apoio.

Após os dados coletados foi possível diagnosticar que 95% dos familiares dos alunos

são produtores rurais. De acordo com as informações pode-se perceber a importância da

agricultura familiar para a sobrevivência da população urbana e dos pequenos produtores de

Nova Cantú.

Neste sentido, coletou-se imagens relacionadas ao tema “Feira do Produtor Rural”,

reuniram imagens pesquisadas na internet, revistas e livros, as quais ilustraram as definições e

os conceitos da feira. As imagens das confecções dos cartazes na biblioteca do Colégio

Estadual Prof. J. F. da Costa E.F.M, podem ser observadas nas figuras 3 e 4.

Figuras 3 e 4: Confecção dos cartazes.

Fotos: Luciana A. Campigotto.

As imagens selecionadas foram apresentadas pelos alunos, mostrando como acontece

a rotina de exposição dos produtos alimentícios produzidos pelos produtores rurais para a

população.

Uma palestra com o presidente dos feirantes da Feira do Produtor Rural, J. F. Pereira,

complementou as atividades (figuras 5 e 6). Em suas falas, o mesmo relatou que a feira teve

seu início no mês de novembro do ano de 2010. A princípio contavam com 14 feirantes,

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sendo que atualmente possui 12 feirantes participantes. Estes trabalhadores contam com uma

boa demanda de consumidores que prestigiam a feira todas as sextas-feiras. Por ser bem

frequentada, os feirantes decidiram realizar uma vez por mês, ao sábado após a missa uma

feira especial: a “FEIRA DA LUA”. Esta feira conta com o apoio da Prefeitura Municipal de

Nova Cantú e a Emater-PR (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural),

apoio confirmado também pelo secretário da Agricultura A. D. e APRORENC (Associação

dos Produtores Rurais de Nova Cantú).

Figuras 05 e 06: Palestra pelo Presidente da Feira, Junho de 2014.

Fotos de Luciana A. Campigotto.

Além de participarem da feira, os produtores rurais realizaram parceria com a

Prefeitura Municipal de Nova Cantú, onde se cadastraram nos programas do Governo Federal:

Programa Nacional Alimentação Escolar (PNAE), Programa de Aquisição de Alimentos

(PAA) e ainda perante a Lei Federal: dos 30% da Agricultura Familiar na Merenda – Produtor

Compra. E ainda contamos com a COAVERCAN (Cooperativa dos Produtores do Vale do

Rio Cantú).

Conforme assinalou o presidente dos feirantes, a feira passou por momentos cruciais,

na organização, para a sua implantação como: escolha do local para a feira; padronização das

barracas; desenvolvimento de etiquetas padronizadas para a colocação de preços; elaboração

de regimento interno; estabelecimento dos horários de funcionamento, entre outros. Foi

estabelecido que não se entrega mercadorias, na residência dos consumidores, na quinta-feira

e sexta-feira. Assegurou ainda que para o consentimento do uso do espaço público os feirantes

pagam mensalidade de R$ 10.00 ao poder público.

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A feira do Produtor possui uma boa variedade de produtos, oferecendo em torno de 60

tipos diferentes de mercadorias aos seus consumidores. O que atrai a população à feira são os

produtos (frutas, verduras, entre outros) sempre frescos. Além disso, constitui um espaço

democrático e mais humano, pois o consumidor tem a oportunidade de conhecer o produtor e

a origem do alimento que consome. A feira é portanto, um lugar onde o pequeno produtor se

realiza na cidade.

Por fim, toda a temática resultou na apresentação de seminários, tendo como

finalidade estimular, através deste exercício de reflexão, uma melhor compreensão do papel

dos produtores feirantes na manutenção do tecido social urbano de Nova Cantú. Também se

sensibilizou os educandos, por meio do conhecimento científico e do contexto da proposta,

promover cidadãos mais participativos e comprometidos em melhorar qualidade de vida em

seu município.

Assim, em Estudos do Meio, como o da feira do Produtor, esses conceitos podem e

devem ser aprendidos pelos educandos de forma mais significativa e natural. O Estudo do

Meio, as oficinas pedagógicas, os projetos e o trabalho de campo, por exemplo, podem

representar metodologias muito mais atrativas e motivadoras ao aprendizado em geografia.

Quando os estudantes saem da sala de aula para uma feira, passam a sentir, ver, ouvir,

materializando o seu objeto de estudo. Observa-se que se o meio escolhido for o local de

moradia dos escolares, eles se tornam ainda mais receptivos e o aprendizado passa a ser mais

significativo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os vários depoimentos dos alunos, caracterizaram a feira como uma local de convívio,

encontro de classes e lugar de sobrevivência. O presente trabalho objetivou, através de uma

pesquisa aplicada a um público direcionado, identificar quem são o que compram e pensam,

os consumidores e visitantes da Feira do Produtor Rural, no município de Nova Cantú.

Através desse estudo realizado sobre a feira pôde-se inferir que os maiores desafios para o

entendimento do Ensino de Geografia na atualidade constituem a falta de uma prática

pedagógica, onde o espaço em que o aluno vive se torne um meio de reflexão e ampliação do

processo de aprendizagem e fixação dos conteúdos estudados em sala de aula.

Os resultados das entrevistas com os consumidores demonstraram, que estes

frequentadores utilizam as feiras para fazer suas compras semanais. Outros deixaram claro em

suas respostas, que a feira é também um espaço de lazer. Já que muitos buscam os locais

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atrativos das feiras nos finais de tardes, para passear com os amigos, além de aproveitarem

para descansar e se distrair um pouco, enquanto saboreiam algumas “delícias” encontradas

nas barracas dos feirantes. Os consumidores deixaram transparecer, que se encontram

satisfeitos com os produtos comercializados diretamente pelo pequeno produtor rural e

retornavam à feira sempre que podiam ou precisavam. Os resultados desta atividade foram

satisfatórios, porque propiciaram aos alunos envolvidos sociabilidade ao se organizarem no

trabalho.

Portanto, as atividades realizadas foram relevantes e despertaram nos educandos o

compromisso de ter uma renda extra e permanecerem na propriedade tendo novas

perspectivas tanto na produção e venda dos produtos quanto no avanço da categoria. Assim,

percebe-se que o hábito de comprar produtos em feiras, não se extinguiu com o passar dos

tempos, mas se adaptou às novas exigências de um consumidor que pretende unir o “útil ao

agradável”, buscando qualidade e preços menores na Feira do Produtor Rural.

6. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Desafios impostos pela volta do homem ao campo. São Paulo: Gazeta Mercantil, 02 de outubro de 2000. ANTUNES, C. Trabalhando habilidades: construindo idéias. São Paulo: Scipione, 2006. BERNARDINO, V. M. P. O uso da praça da catedral, em Campo Mourão-PR, como Estudo do Meio: uma reflexão sobre suas possibilidades no ensino da geografia. I SEURB - Simpósio de Estudos Urbanos: Desenvolvimento Regional e Dinâmica Ambiental. 29 a 31 de agosto de 2011. Disponível:<http://www.mauroparolin.pro.br/seurb/Trabalhos/EIXO_10_ENSINO_DE_GEOGRAFIA_REPRESENTACOES_DO_ESPACO_URBANO_4_ARTIGO/BERNARDINO_CADETRAL_EM_CAMPO_MOURAO.pdf>. Acesso em: 01-10-2014 CALLAI, H. C. A Geografia e a Escola: Muda a Geografia? Muda o Ensino? Revista Terra Livre, n. 16. (p. 133-152). São Paulo, 2001 CARLOS, A. F. A. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007. CORRÊA, R. L. Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. COSTA, M. R. Feira livre de São Bento em Cascavel-ce: meio de educar. ENG 2010. Porto Alegre. FRANCISCHETT, M. N. A cartografia no ensino de geografia: construindo os caminhos do cotidiano. Rio de Janeiro: Litters. Ed.: KroArt, 2002.

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