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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
1 Licenciado em Matemática e Física pela Universidade Estadual do Centro-Oeste(UNICENTRO), especialista em ensino da Matemática pela mesma instituição. Professor de Física da rede estadual do Paraná no Colégio Estadual Francisco Carneiro Martins e de Matemática no Colégio Estadual Professora Leni Marlene Jacob. E-mail: [email protected] 2 Graduado em Física pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), doutor em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Universidade de São Paulo (USP). Professor adjunto do departamento de Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail: [email protected]
A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NAS AULAS DE FÍSICA DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO.
Autor: Samuel Augusto Leopolski1
Orientador: Ricardo Yoshimitsu Miyahara2
RESUMO:
Modernização, flexibilização, diversificação entre outras palavras está de um modo geral sendo utilizada como “motivação” para o ensino. A produção de vídeos é uma dentre as muitas estratégias que podem ser utilizadas no processo de ensino aprendizagem. Buscou-se nesse trabalho investigar e mostrar como essa metodologia pode ser utilizada na disciplina de Física do primeiro ano do ensino médio, levando o aluno a produzir os próprios vídeos, relacionando situações do cotidiano com conceitos de Física estudados em sala de aula, tais como velocidade média, aceleração, deslocamento e leis de Newton. Ao final verificou-se que produzir vídeos para usar como estratégia de ensino nas aulas de Física se mostrou uma alternativa muito eficiente. PALAVRAS CHAVE: Produção de Vídeos. Conceitos do Cotidiano. Ensino de Física. INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje muito se fala em modernização, flexibilização, diversificação
entre outras palavras que poderíamos citar para referir-se de um modo geral ao que
se pode chamar “motivação”. Assim sendo, vemos, por exemplo, técnicas para que
funcionários de determinada empresa sintam-se mais motivados para o trabalho e
por consequência melhorem sua produção, não muito diferente disso percebe-se ao
longo das reuniões pedagógicas realizadas no início e no meio de cada ano letivo a
presença de uma técnica de motivação ou outra, que certamente serão reproduzidas
por alguns professores em suas aulas com o intuito de fazer com que seus alunos
mostrem-se mais entusiasmados pelos conteúdos e pelos estudos. Contudo, isso
não é suficiente para que os alunos desenvolvam empatia pelo estudo. Essa técnica
na maioria das vezes funciona apenas como uma forma de distração, é necessário
algo mais duradouro, mais impactante, que faça do estudante agente dessa
motivação, que ele perceba e sinta gosto pelo aprendizado.
Está impregnada em nossa mente a frase de autoria desconhecida: “a
primeira impressão é a que fica”, o que faz muitos professores pensarem em
demasia no primeiro dia de aula e esquecerem-se de todos os outros, faz-se uma
introdução esplêndida de sua disciplina, faz dinâmicas, usa música, vídeos entre
outros recursos. Tenta ao máximo possível mostrar a importância dos conteúdos que
vai lecionar. Os alunos ficam ávidos pelo conhecimento, ansiosos pela próxima aula,
no entanto, com o passar dos dias as aulas vão caindo numa natural rotina e a
avidez despertada na primeira aula vai aos poucos se esvaindo.
É preciso que esse vislumbramento seja ao menos mais duradouro, sabemos
que ele jamais perdurará para sempre, pois a mesmice do dia-a-dia faz com que vez
ou outra nos desmotivemos naturalmente. Nesse sentido cabe ao professor utilizar
ferramentas de ensino apropriadas para cada momento e que sejam as mais
eficazes possíveis despertando no aluno o real interesse e que esse perdure por
muito mais tempo que apenas a primeira aula.
Aquela escola tradicional como um espaço de repasse e reprodução de
conhecimento acumulado pelo homem ao longo da história não tem mais espaço na
sociedade atual, pois, informação o aluno pode buscar e encontrar em várias fontes
que não necessariamente a escola, tais como jornais, revistas, TV, internet entre
outros.
Para Freire (2011) o espaço escolar precisa ir muito além e precisa mostrar-se
como um lugar onde na pluralidade e na diversidade, além de estudar e se apropriar
do que o homem já produziu em termos de conhecimento, possa também servir para
a manifestação de novas ideias, onde cada individuo possa mostrar suas
potencialidades, ganhando cada vez mais ferramentas para ter uma vida com
plenitude, podendo no futuro usufruir do seu espaço construído na sociedade.
Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, á curiosidade, ás perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho-a de ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, 2011)
Para que o aluno possa desenvolver todas as suas potencialidades precisa
encontrar na escola um ambiente aberto para acolher o novo. Assim, velhos hábitos
tem de ser repensados, principalmente no que se refere a metodologias de ensino.
Não se trata de num passe de mágica mudar tudo, toda forma de ensinar tem em si
seu valor e seus pontos positivos e negativos, o que precisamos é fazer as
mudanças que sejam eficazes e importantes para cada realidade escolar.
O primeiro contato com a Física ocorre no ensino fundamental nas aulas de
ciências. Contudo, é no primeiro ano do ensino médio que esse contato se dá
maneira mais contundente e como fruto desse contato pode surgir a avidez pelo
estudo e por consequência também, as principais dificuldades com os conteúdos
estudados. Isso se dá por uma série de fatores que fogem ao escopo desse
trabalho, mas, dentre as mais importantes causas dessas dificuldades destacam-se
a falta de estudo por parte dos alunos, o exagerado tratamento matemático dado à
disciplina e a falta recursos metodológicos por parte do professor.
[...] os professores devem superar a visão do livro didático como ditador do trabalho pedagógico, bem como a redução do ensino de Física à memorização de modelos, conceitos e definições excessivamente matematizados e tomados como verdades absolutas, como coisas reais. (PARANÁ 2008, pg 50).
É no primeiro ano que o aluno deve se encantar pela Física, pegando gosto
pela matéria e pelo estudo. Assim, o conteúdo estudado poderá romper os muros da
escola fazendo que ele possa enxergar no seu cotidiano o que se aprende em sala
de aula, dessa maneira sua aprendizagem será muito mais eficiente.
Verifica-se que o trabalho com vídeos proporciona uma maior reflexão sobre o
que se aprende e como se aprende.
Assim, professores e alunos são sujeitos atuantes no processo educacional, fazendo um trabalho colaborativo na perspectiva de crescimento do grupo como um todo. Vivenciando o aprender a aprender, o aprender a fazer, aprender a conviver e o aprender a ser em todas as fases da produção de vídeo com autoria consciente, dinâmica, criativa e com intencionalidade pedagógica. (Silva e Silva, 2011).
No mesmo artigo os autores deixam claro que “atividades como essas vem
mostrar que nossas aulas devem transpor os muros da escola”, que não somos uma
ilha no meio da sociedade e que tudo que se ensina na sala de aula é proveniente
de produção humana, logo está intimamente ligado com nossas atividades diárias.
Porém o que se tem percebido que de modo geral essa relação do conhecimento
com o mundo do aluno tem sido pouco explorada, na disciplina de Física, em
especial os conteúdos do primeiro ano, parecem não fazer parte da vida do
estudante. Essas conexões entre conhecimento formal e aquele que o aluno traz de
casa deve ser explorada com mais afinco, pois de acordo com a teoria da
aprendizagem significativa de Ausubel quanto mais conexões o novo conhecimento
fizer com aqueles já vivenciados pelo aluno mais eficiente será a aprendizagem.
Dessa forma a produção de vídeo a partir do qual pudesse explorar conceitos
físicos pode ser uma ferramenta importante no processo ensino-aprendizagem.
O projeto a produção de vídeos como ferramenta pedagógica nas aulas de
Física do primeiro ano do ensino médio é parte integrante das atividades do PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional) da secretaria de estado de educação
do Paraná e foi desenvolvido numa turma de primeira série do ensino médio do
Colégio Estadual Francisco Carneiro Martins em Guarapuava. Foi visando
aperfeiçoar a forma de ensinar e por consequência de aprender que esse projeto
teve como objetivo a produção de vídeos para o ensino de Física.
METODOLOGIA
A Produção de vídeos foi pensada para ser algo informal, de situações
comuns do dia a dia como, por exemplo, uma ida ao parque. O objetivo foi mostrar
que a Física está presente em todos os momentos de nossa vida, até nos mais
corriqueiros, o que falta para a maioria dos estudantes é perceber sua presença nos
pequenos detalhes, assim ela pode tornar-se mais agradável ao estudo.
Mas então, se o vídeo foi produzido em um parque não seria mais
interessante que a aula fosse também no parque? A opção pelo vídeo se deve
fundamentalmente pelo fato de que em apenas uma das brincadeiras feitas no
parque pode se explorar um conteúdo usando várias aulas, ou ainda em um único
brinquedo pode ser estudado mais de um conteúdo, e como a ida ao parque não
pode ser feita em toda aula o vídeo proporciona visualizar uma mesma cena várias
vezes. Outro motivo é que o tempo de exibição de determinadas cenas iria ser
utilizado como informação na resolução de algumas situações problema propostas
em sala de aula.
Assim o fato de se fazer uma visita ao parque e filmar proporcionam
momentos para o professor poder fazer uma investigação mais detalhada sobre o
que cada aluno traz de conhecimento para poder fazer inferências com mais
qualidade, desse modo facilitando a exploração dos conteúdos.
O Colégio Estadual Francisco Carneiro Martins está localizado na região
central da cidade de Guarapuava e os alunos são oriundos de diversos bairros e
escolas de nossa cidade, e em geral não se conhecem, o que dificulta um pouco o
inicio dos trabalhos pelo falta de entrosamento que possuem entre si. Para iniciar o
trabalho, foi utilizado uma história fictícia (de Pedrinho) para nortear as filmagens.
Tudo gira em torno de um menino que tinha o sonho de conhecer o Parque das
Crianças de Guarapuava.
“Pedrinho, era um menino muito simples, desde pequeno ajudava seu pai no trabalho, e sua
brincadeira mais emocionante era atirar em latas com bolinhas de gude e estilingue. Seu pai nunca
quis levá-lo ao parque, para isso ele se aproveitava a ida pra escola tentando fugir, a professora já
não aguentava mais ter que em todos os dias ir atrás do garoto que tentava pular o muro. Certo dia
ao iniciar a aula a professora percebeu que Pedrinho não estava na sala, novamente teria que ir atrás
dele para que não pulasse o muro, antes, porém fez um combinado com a turma, decidida a dar um
basta na situação resolve levar Pedrinho e a turma ao parque. Na próxima tentativa de fugir da aula a
professora falando de maneira ríspida com o garoto o leva em direção da sala da diretora, ele fica
desesperado tendo certeza que iria levar uma advertência ou algo parecido, mas para surpresa a
professora leva Pedrinho até um ônibus onde todos o aguardavam aos gritos de “SURPRESA!” os
colegas o receberam para que então ele pudesse realizar seu sonho. Durante todo o caminho eles
foram brincando e cantando, até que chegaram ao tal parque das crianças, os olhos de Pedrinho
brilhavam, ele e seus colegas passaram horas agradáveis e inesquecíveis no parque, brincando de
cabo-de-guerra, gangorra, escorregador, balanço, gira-gira entre outros, foi uma tarde daquelas.
Desse modo, a professora conseguiu com que Pedrinho nunca mais tentasse fugir de suas aulas,
este por sua vez realizou o sonho de conhecer o parque, além de terem um dia fabuloso com toda a
turma.”
Baseado nessa estória os alunos foram ao parque das crianças onde
puderam usar livremente os brinquedos. Toda a atividade foi filmada, inclusive
durante o deslocamento entre a escola e o parque, que foi feito de ônibus.
Após a edição do vídeo, feita de forma bem amadora, só para cortar algumas
partes de modo que o vídeo não ficasse muito longo e colocar uma trilha sonora, ele
passou a ser usado em sala de aula. Todo trabalho baseou-se em atividades
elaboradas pensando nas cenas do filme.
O objetivo foi usar o vídeo como um organizador prévio, para que além de
servir como uma introdução para o conteúdo a ser estudado, pudesse ser útil como
situação problema a ser investigada, que seria o motivador para a busca de
ferramentas que solucionassem o problema apontado no vídeo.
Para Ausubel, a principal função do organizador prévio é a de servir de ponte entre o que aprendiz já sabe e o que ele deveria saber a fim de que o novo material pudesse ser aprendido de forma significativa. Ou seja, organizadores prévios são úteis para facilitar a aprendizagem na medida em que funcionam como “pontes cognitivas”. (MOREIRA, 2008).
A partir da exibição do vídeo e de alguma investigação, o professor pode
também ter uma noção do que o aluno conhece acerca do conteúdo, e de onde
iniciar sua aula de modo a tornar mais eficiente à aprendizagem. Por outro lado
como o vídeo serve apenas como um organizador prévio, temos que estar cientes
de que devemos lançar mão de outras estratégias de ensino e materiais auxiliares
para que o ensino seja mais efetivo. Assim, o professor aliou o vídeo a uma boa
explicação usando recursos disponíveis na escola como, por exemplo, o laboratório
para realizar experimentos. Além dos experimentos, exercícios de fixação foram
indispensáveis, para poder se determinar onde estavam as maiores dificuldades
apresentadas pelos alunos, para que em seguida o professor pudesse fazer uma
intervenção mais incisiva.
A situação problema que motivava a busca por conhecimentos suficientes
para resolvê-la surgia sempre a partir de um determinado trecho do vídeo, por
exemplo, em uma das cenas em que um aluno carregava outro dentro de um
carrinho de mão eles tinham que calcular a força necessária para deslocar o
carrinho. No entanto para poder se determinar a força necessária vários conceitos
físicos tiveram que ser estudados. Primeiramente estudamos o conceito de força e
força resultante, que também foi aprofundado com o uso de uma das cenas em que
eles aparecem brincando no parque com um cabo de guerra. Em seguida foi lhes
apresentado o princípio fundamental da dinâmica, onde eles vislumbraram uma
forma de calcular a força necessária para deslocar o carrinho de mão, no entanto
tínhamos que buscar as outras grandezas, como a massa, que foi facilmente obtida
com o uso de uma balança, no entanto a aceleração era um conceito ainda
desconhecido.
Nesse momento passamos a nos preocupar com a aceleração, e
aproveitando o momento foram introduzidos outros conceitos, uma vez que para
calcular a aceleração precisaríamos outras informações, tais como variação de
velocidade e variação de tempo, este ultimo os alunos facilmente perceberam que
bastava usar o tempo de exibição da cena ou então usar um cronômetro.
Quanto à variação de velocidade tivemos que nos aprofundar no conceito de
movimento uniformemente variado (MUV), uma vez que além da variação de tempo
tínhamos apenas a velocidade inicial, que era nula, pois o carrinho partia do
repouso.
De posse das outras equações do movimento uniformemente variado eles
perceberam que precisariam saber a distância percorrida pelo carrinho, após
algumas discussões concluíram que a única saída era ir até o local da filmagem e
fazer a medida do deslocamento, e assim o fizeram com uma trena. De posse dos
dados disponíveis foi possível obter a aceleração usando a função horária das
posições do MUV, ainda foi possível calcular a velocidade final do carrinho usando a
função horária da velocidade e também a equação de Torricelli. Dispondo de todas
as informações foi possível resolver a situação problema inicial e encontrar a força
necessária para deslocar o carrinho com aquela aceleração.
O princípio da Inércia pode ser estudado a partir da cena feita durante o
trajeto de ida e volta do parque, usando as variações de direção e de velocidade do
ônibus e os efeitos que foram sentidos por eles, se fazendo valer de questões que
permeiam situações como as experimentadas quando viajamos, por exemplo, a que
se deve o fato de parecer que somos jogados para frente quando o ônibus freia, qual
a importância de se usar cinto de segurança, qual a explicação para quando
passamos por uma curva termos a sensação de ser jogado para fora dela? Além
dessas questões, a primeira Lei de Newton também pode ser abordada em um dos
brinquedos do parque, conhecido como gira-gira, onde as crianças ficam sentadas e
ele é posto a girar por alguém, eles foram questionados sobre o fato de que quando
um objeto caia do brinquedo tinha a tendência de seguir uma trajetória retilínea, ou
então quando alguém queria descer do brinquedo em movimento quando tocava o
solo com os pés tinha que sair correndo em linha reta, caso contrário cairia.
Ainda usando o deslocamento até o parque foi possível definir velocidade e
velocidade média, bem como a diferença entre as duas. Foi solicitado aos alunos
que marcassem o tempo de exibição da cena desde a saída da escola até o instante
em que passavam por um trevo, de posse do tempo fomos até o laboratório de
informática e usando o recurso do Google mapas, medimos a distância entre os dois
pontos, em seguida calculamos a velocidade média. Como numa das partes filmada
nesse trajeto aparece o velocímetro do ônibus em movimento, pudemos diferenciar
então velocidade média de velocidade instantânea.
Um dos conceitos mais importantes da primeira série do ensino médio é de
energia e sua conservação, assunto esse que demanda um pouco de esforço por
parte do professor, pois embora esteja presente em cada momento de nossa
existência ele é bastante abstrato. Ele pode ser introduzido usando o material
produzido pelos alunos da seguinte forma: em uma das cenas do vídeo Pedrinho
fazia sua brincadeira favorita que era atirar bolinhas de gude em latas, com base
nisso os alunos foram questionados a respeito de como o projétil saía do estilingue e
atingia a lata, que grandeza física permitia isso, além disso, como poderíamos
determinar a velocidade com que a bolinha atingia a lata?
Feitos os questionamentos e levantadas às hipóteses fomos em busca do
conhecimento necessário para solucionarmos o problema, tais como energia,
energia cinética, energia potencial elástica e o princípio da conservação de energia.
Depois dessa etapa então fomos ao laboratório onde verificamos a massa da
bolinha de gude. No entanto o maior problema residia em determinar a constante
elástica do material que constitui o estilingue, para isso dispomos o elástico na
vertical ao lado de uma régua graduada, a seguir passamos a pendurar no elástico
massas conhecidas, com a deformação apresentada e sabendo que na posição de
equilíbrio a força elástica é igual à força peso em intensidade, foi possível por meio
da lei de Hooke determinar a constante elástica do material.
Na sequência foi aplicado o princípio da conservação da energia,
desprezando as forças dissipativas, e encontrar a velocidade da bolinha de gude.
Ainda faltava abordar o conceito de energia potencial gravitacional, como em um dos
trechos do filme uma aluna abandona um balanço da altura de seu nariz e este
retorna sem tocar na menina, eles foram questionados sobre os motivos para que o
balanço retornasse somente até a mesma altura de onde foi abandonado, outro
problema que teríamos que resolver era como calcular a velocidade do balanço ao
passar pelo ponto mais baixo da trajetória.
Após estabelecer o conceito de energia potencial gravitacional, pelo princípio da
conservação da energia foi possível então determinar a velocidade do balanço no
ponto citado anteriormente.
Para verificar a evolução nos conhecimentos dos alunos, foram aplicados pré
e pós teste, de acordo com o Anexo 1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este trabalho traz em si uma série de possibilidades para exploração dos
conteúdos de Física cabendo uma análise cuidadosa para saber em que momentos
será mais eficiente. É certo que de uma forma ou de outra todos os conteúdos da
primeira série do ensino médio podem ser estudados a partir da construção de um
vídeo ou indo mais longe poderíamos abordar outros conteúdos em outras séries
com a mesma metodologia.
O fato em si de fazer a filmagem e poder ver os resultados e até mostrar para
seus amigos e familiares podendo contar o que se passa na escola faz com que o
estudante se entusiasme mais com o ensino, podendo obter melhor aprendizagem,
um aluno motivado a aprender é tudo que um professor quer em sala de aula.
Nas palavras de um aluno da turma ”os alunos estão cansados de ficar o tempo todo
na sala e muitas matérias passam despercebidas e nós não conseguimos aprender,
mas quando tem uma coisa interessante fica tudo mais fácil”. Já outro aluno disse
que “conseguimos aprender melhor os conceitos físicos que estão presentes em
nosso dia-a-dia”.
A produção em vídeo tem uma dimensão moderna, lúdica. Moderna, como um meio
contemporâneo, novo e que integra linguagens. Lúdica, pela miniaturização da
câmera, que permite brincar com a realidade, leva-la junto para qualquer lugar.
Filmar é uma das experiências mais envolventes tanto para as crianças como para os
adultos. Os alunos podem ser incentivados a produzir dentro de uma determinada
matéria, ou dentro de um trabalho interdisciplinar. (José Manuel Moran, 1995,
Comunicação e Educação p. 31).
No entanto certo cuidado tem que ser tomado, para que a ludicidade não
desvie o foco do trabalho que é acima de tudo a aprendizagem, aprender sem sentir
que está aprendendo, mas saber o que foi aprendido, o professor deve ter o cuidado
de saber o que está ensinando sem perder o controle do ato intencional que está
praticando.
Assim que ficou pronto o vídeo os alunos o assistiram pela primeira vez e em
seguida responderam a um questionário (vide anexos), na forma de um pré-teste,
para verificar o nível de entendimento acerca de alguns conteúdos. O mesmo
questionário foi aplicado depois que o trabalho foi desenvolvido na forma, de pós-
teste para que se pudesse ter um padrão de comparação.
Dos 27 alunos que participaram do trabalho nenhum deu resposta satisfatória
quando da aplicação do pré-teste apenas três alunos conseguiram citar duas, das
três leis de Newton, inércia e ação e reação, na questão 6. Dois alunos citaram
velocidade como conceito físico percebido no vídeo, quando responderam a questão
8. Os demais alunos escreveram nas questões que não sabiam ou deixaram sem
responder.
Quando da aplicação do pós-teste três alunos conseguiram responder de
forma satisfatória a questão 1, dois não responderam e os demais não deram
respostas coerentes. Em relação ao conceito de aceleração na questão 2 , um aluno
deu resposta correta. Nas questões 3 e 4 esperava-se que os alunos fizessem
menção a inércia e os resultados foram muito bons, 23 alunos deram respostas
corretas a questão 3, já na questão seguinte, 17 alunos deram respostas
coerentes. Na questão 5 havia a possibilidade de uma resposta qualitativa ou
quantitativa, dos 16 alunos que responderam corretamente apenas três utilizaram
cálculos para justificar a resposta, os demais justificaram fazendo um comparativo
entre as massas e explicando que se a massa aumenta então para que se tenha a
mesma aceleração deve-se também aumentar a força aplicada.
Quanto a questão 6, na qual foi solicitado para que citassem as leis de
Newton todos os 27 alunos conseguiram responder corretamente, já na pergunta
seguinte onde foi pedido para que escrevessem a expressão matemática da
segunda lei de Newton, apenas dois alunos não responderam corretamente.
Na última questão, foi pedido aos alunos que escrevessem que conceitos físicos
conseguiriam perceber no vídeo que eles produziram, 17 alunos conseguiram
colocar ao menos um conceito, os mais citados foram velocidade, aceleração e força
resultante.
Para que se possa compreender e analisar melhor os resultados eles foram
representados na tabela a seguir:
PRÉ-TESTE PÓS-TESTE
QUESTÃO ERROS ACERTOS ERROS ACERTOS
1 27 0 24 3
2 27 0 26 1
3 27 0 4 23
4 27 0 10 17
5 27 0 11 16
6 24 3 0 27
7 27 0 2 25
8 25 2 10 17
TOTAL 211 5 97 129
Como são 27 alunos participantes e 8 questões, o total de acertos da turma poderia
ser de no máximo 216. No pré-teste o índice de acertos foi de 2,3 %, e o de erros
97,7 %. No pós-teste o índice de acertos foi de 59,7 % e o de erros foi 40,3 %. Isso
mostra que houve um significativo avanço nos percentuais e que a metodologia
aplicada é tão eficiente quanto outras.
Além disso, os resultados foram promissores nas atividades da sala de aula e nas
avaliações, cerca de 90% dos alunos da turma ficaram com notas acima da média,
mostrando que houve aprendizado pela maior parte dos alunos.
CONCLUSÃO
A aplicação desse trabalho propiciou momentos ímpares com a turma, que
não seriam possíveis em outras situações, além de poder com esse contato mais
individualizado verificar melhor o nível de conhecimento de cada aluno em relação
aos conteúdos estudados.
Após uma cuidadosa análise e interpretação dos resultados, pode-se verificar
que a produção de vídeos para usar como estratégia de ensino nas aulas de Física,
do primeiro ano do ensino médio, se mostrou uma alternativa eficiente, uma vez que
os resultados observados foram positivos, com possibilidades de aplicação para
outros conteúdos da disciplina também em outras séries.
REFERÊNCIAS FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa. São Paulo 2011 43 Ed.. GLEISER, M. Por que ensinar Física. Física na Escola, v.1, n.1, p.4-5. 2000. GUSTAVO, W.V. DOMINGUES, M.J.C. O uso do vídeo como instrumento didático e educativo em sala de aula. In: Anais do XIX ENANGRAD, Curitiba PR, 01 a 03 de outubro de 2008. SILVA, I.D. SILVA, I.P. Autoria em produção de vídeos: uma experiência com alunos dos projetos integradores do curso de Física licenciatura da UFAL. Revista Científica do IFAL, v. 1, n. 3, jul./dez. 2011.
MORAN, J.M. O vídeo na sala de aula. Comunicação & Educação, São Paulo, p.27-35 jan./abr. 1995 MOREIRA, A.M. ORGANIZADORES PRÉVIOS E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA. Revista Chilena de Educación Científica V. 7, N. 2, p. 23-30, 2008. PARANÁ, SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCAÇÃO, DCE – Diretrizes Curriculares da Educação Básica. SEED/PR 2008. TAVARES, R. Aprendizagem significativa e o ensino de Ciências. Departamento de Física. Programa de Pós-Graduação em Educação Universidade Federal da Paraíba. Vigésima oitava reunião anual 2005. Disponível em:<http://www.fisica.ufpb.br/~romero/pdf/ANPED- 28. pdf>. Acesso em: 19 mar. 2014.
ANEXO 1:
PRÉ –TESTE E PÓS TESTE
1) O que é movimento uniformemente variado?
2) Que informações são necessárias para calcular a aceleração de um móvel?
3) É correto afirmar que quando um ônibus freia o passageiro é jogado para frente?
4) Porque quando viajamos por uma rodovia ao passar em uma curva temos a
impressão de sermos jogados para fora dela?
5) Uma pessoa chuta uma bola de massa 400g e esta por sua vez adquire
aceleração de 15 m/s2. Considere agora que a mesma pessoa chute uma bola de
800g, se ela aplicar a mesma força que na situação anterior a bola irá adquirir 15
m/s2 de aceleração? Explique.
6) Quais são as três leis de Newton para o movimento?
7) Escreva a expressão matemática da segunda lei de Newton para o movimento.
8) Observando o vídeo indique alguns conceitos físicos nele contidos que você
conseguiu perceber.