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OS CONTOS E FÁBULAS DE MONTEIRO LOBATO COMO INCENTIVO À

LEITURA

Autora: Ines Maria Bruxel1

Orientadora: Rita Maria Decarli Bottega2

Resumo

O artigo tem como finalidade apresentar a Proposta de Implementação Pedagógica desenvolvida junto aos alunos do 6° ano do Colégio Estadual Pato Bragado, do município de Pato Bragado/PR. No contato com os alunos pré-adolescentes e adolescentes, percebe-se que a maioria deles não gosta de ler, embora grande parte tivessem sido leitores assíduos nas séries iniciais. Com o intuito de resgatar e aprimorar o gosto pela leitura, o projeto foi desenvolvido focando o trabalho em narrativas curtas (fábulas e contos) de Monteiro Lobato. O autor foi escolhido pelo fato de que os textos apresentam personagens animados e envolventes que poderão despertar novamente o interesse dos alunos para a leitura, além de desenvolver habilidades para o entendimento das figuras representativas nas fábulas. Assim objetivou-se a perceber os valores culturais e ideológicos presentes nelas, ampliar o desenvolvimento do vocabulário, da oralidade, da capacidade argumentativa dos alunos, através da contagem de histórias e das encenações, dentre outras atividades. Os resultados alcançados corresponderam à expectativa, uma vez que todos os alunos envolvidos participaram e demonstraram satisfação durante a realização das atividades propostas. A fundamentação teórica abordou a problemática pedagógica das práticas de leitura aplicadas no currículo escolar, a partir do embasamento na concepção interacionista de linguagem, tendo como foco alguns autores e documentos: Evangelista (2001), Cândido (1972), Freire (2005), DCEs (2008) e Geraldi (1997).

Palavras– chave: Leitura; Fábulas; Monteiro Lobato e Contos.

1Ines Maria Bruxel: Formação Acadêmica em Letras-Português. Professora de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Pato Bragado, da cidade de Pato Bragado – Paraná. 2 Rita Maria Decarli Bottega – Doutorado em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São

Paulo. Docente do Curso de Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – campus de Marechal Cândido Rondon.

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1 Introdução

As fábulas e os contos podem ser considerados como umas das mais

antigas expressões culturais de um povo, que se eternizaram graças à tradição oral,

passada de uma geração para outra. São narrativas que despertam o gosto e o

prazer pela leitura, estimulam a imaginação e iluminam as mentes das pessoas,

lugares, acontecimentos, desejos, sonhos. Além desses aspectos, elas expressam

subliminarmente conhecimentos e verdades assimiladas pelas diferentes categorias

sociais, culturais e religiosas e que em momentos diferentes da história agem como

ideias norteadoras dos princípios éticos, morais e religiosos em seu espaço histórico

e cultural. O projeto de Implementação Pedagógica, cujo relato compõe esse

trabalho, reitera que a “busca de perspectivas que pressupõem alguma possibilidade

de atuação dos sujeitos mediante o discurso pedagógico, nas práticas de leitura de

crianças e jovens.” (EVANGELISTA, 2001, p.13).

A relevância do projeto está relacionada à importância que as leituras de

narrativas curtas (fábulas e contos) possuem e que podem proporcionar ao aluno um

aumento do conhecimento, a compreensão dos recursos da língua portuguesa, a

necessidade do desenvolvimento da oralidade, bem como o entendimento dos

recursos literários que envolvem a obra de Monteiro Lobato, aplicados para o 6°ano

do Colégio Estadual Pato Bragado. O projeto também enfatizou a produção oral de

textos, já que os alunos, ao lerem, prepararam-se para contar aos colegas as

leituras realizadas. Mesmo nos momentos de preparação para as encenações e

apresentações dos contos e fábulas, os alunos puderam aperfeiçoar sua oralidade e

a exposição diante dos colegas e demais professores. Normalmente, na fase da pré-

adolescência, muitos alunos apresentam timidez nos momentos de exposição oral e,

neste sentido, o projeto contribuiu para que eles conseguissem expor suas ideias e

opiniões diante dos colegas, em situações mais formais de uso da linguagem oral.

No ensino fundamental, nas séries finais, observa-se muitas vezes um

comportamento adverso à leitura por parte dos alunos, mais especificamente quando

é proposta uma atividade em que se exigem trabalhos com a leitura realizada pelos

alunos. Este comportamento se caracteriza mais fortemente diante de leituras

extensas como romances de ficção ou de ação, artigos científicos ou mesmo diante

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de uma literatura de informação. Além dessas dificuldades, outras denotam limites

como:

Em outras palavras, professores de Português temos nos debatido com esse pressuposto da dificuldade de trabalhar textos literários na escola, de promover a leitura de livros, de contribuir para que os alunos se tornem leitores voluntários e autônomos, acrescendo-se o fato de que a necessidade escolar de avaliação de leitura tem se transformado em cobrança, com todas as ameaças que esta traz e, por isso mesmo, em vez de aproximação e identificação, tais práticas têm causado repulsa ao objeto, desgosto no ato de ler e afastamento das práticas sociais de leitura próprias do contexto dos leitores. (EVANGELISTA, 2001, p. 11).

No entanto, quando os alunos estão diante de pequenos textos como

fábulas, revistas, gibis, jornais, poesias e crônicas, eles normalmente manifestam

maior aceitação e que pode despertar neles também novos interesses para outras

literaturas ou mesmo em leituras anteriores ou que vão ao encontro de significações

possíveis que passam a serem referências para a compreensão do que leem e

escrevem. Conforme KOCH,

Importante é o aprendiz notar que cada nova leitura de um texto lhe permitirá desvelar novas significações não detectadas nas leituras anteriores. Esse fato poderá, inclusive, servir-lhe de motivação, despertando-lhe maior gosto pela leitura ao perceber que, pela reconstrução que ele próprio faz do texto, acaba por recriá-lo, tornando-se, por assim dizer, o seu co-autor. (KOCH, 2000, p. 162).

A presença das mídias e a falta de incentivos por parte de algumas famílias

apresentam um poder grande de influência sobre os alunos, fazendo com que eles

se envolvam mais, ocupando grande parte de sua rotina diária com diálogos na rede

social como MSN, Facebook, jogos eletrônicos, YouTube que por sua vez

apresentam opções de comportamentos pessoais e coletivos que ultrapassam os

limites e padrões educacionais, como as violências, as posturas irreverentes e a

diminuição acentuada da leitura de textos ou obras escritas.

Verifica-se que a falta de estímulos educacionais de ordem familiar, social e

escolar aos alunos, como programas ou projetos de contra-turno, por exemplo, que

preencham a ociosidade existente nos horários fora do período escolar, na faixa

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etária da pré-adolescência e na adolescência. Na escola, muitas das dificuldades em

relação à leitura estão relacionadas com deficiências de ordem pedagógica que,

muitas vezes, não estimulam os educandos para uma leitura prazerosa e

informativa, bem como a falta de novas estratégias que os cative, estimulando e

preparando-os para gostarem e aprenderem a desvendar o mundo da leitura. Na

prática, muitas vezes, o que deveria ser um prazer torna-se uma tarefa enfadonha e

pouco produtiva, marcas de ensino autoritário e inflexível praticado em muitas

instituições de ensino nos dias de hoje.

A grande maioria de nossos estudantes não é motivada a ter uma relação contínua com a leitura e dela obter o máximo de proveito; eles não são estimulados à pesquisa, ao acesso às bibliotecas, à produção e criação de textos. A leitura fica, entre as tarefas escolares, no patamar da obrigação: “a leitura pode até se tornar insuportável; um verdadeiro exercício de angústia” (MARTINS, apud Cavalcante, 1994, p. 51, grifos do autor).

A falta de material de leitura coerente com a idade cronológica e mental dos

alunos, os espaços físicos inadequados e a falta de um método direcionado ao

ensino da leitura contribuem para que os alunos se afastem dos livros e,

consequentemente, da leitura. Por outro lado, muitas vezes, observa-se que na

escola as dificuldades na oralidade dos alunos é consequência de não se estar

incentivando a contagem dos textos lidos ou das pequenas histórias. Por vezes, não

se tem por hábito desenvolver a oralidade entre os alunos, e esses, por isso mesmo,

não se sentem motivados a ler sem poder compartilhar o que foi lido.

Como então desenvolver o gosto à leitura em geral e especificamente de

narrativas curtas (fábulas e contos) para alunos adolescentes de 6ª série ou 7º ano?

Como articular atividades de leituras de textos com o desenvolvimento da oralidade

para alunos da 6ª série? Estas são duas questões que embasaram o trabalho de

elaboração do projeto de implementação pedagógica e da pesquisa que o constituiu.

Como já foi apresentado, optou-se em desenvolver práticas de leitura de

narrativas curtas (fábulas e contos) do autor Monteiro Lobato na 6ª série para

estimular o interesse dos alunos pelos textos literários. Além disso, buscou-se

desenvolver habilidades para o entendimento das figuras representativas nas

fábulas, ampliação do vocabulário e do desenvolvimento da oralidade, através da

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contagem de histórias encenadas. Também buscou-se aumentar a capacidade

argumentativa dos alunos, sintetizar conhecimento a partir da leitura das fábulas,

aperfeiçoando a oralidade a prática da escrita, descobrir aspectos literários nos

diferentes textos (fábulas) e abrir diálogo com outros professores e alunos de outras

turmas para incrementar outras práticas de leituras escolares.

2 O Entendimento sobre o que é Leitura.

2.1 Leitura do Mundo

Partindo do conceito de leitura de mundo, é importante recuperar os

conhecimentos do aluno no momento da leitura, uma vez que esse está inserido em

um sistema social que pode direcionar para diferentes comportamentos. Isto significa

que o educando pode estar aproveitando o aprendizado adquirido no seu meio

externo para um aprofundamento no início de seu aprendizado do sistema

educacional escolar, pois todo processo de aprendizado e de leitura requer uma

iniciação, que no início da escolaridade, ocorre no meio familiar. Dependendo dessa

iniciação, o conhecimento do mundo se desenvolve a partir das informações

acumuladas nas práticas de leitura adquiridas pelo aluno desde o início do processo

de aprendizado informal, em casa, pela alfabetização e no decorrer do período de

permanência no ensino formal. Conforme Paulo Freire:

Desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e frases, já estamos “lendo”, bem ou mal, o mundo que nos cerca. Mas este conhecimento que ganhamos de nossa prática não basta. Precisamos ir além dele. Precisamos conhecer melhor as coisas que já conhecemos e conhecer outras que ainda não conhecemos. (FREIRE, 2005, p. 71, grifos do autor).

A aquisição do conhecimento deve ser entendida como um processo de

aprendizado em que se sintetiza o entendimento do mundo. Temos que considerar

que “A Leitura é entendida como um ato dialógico interlocutivo, que envolve

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demandas sociais, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado

momento” (SEED, 2008, p.56).

No ato da leitura, o indivíduo vai ao encontro a uma identificação pessoal

que envolve experiências conhecimentos, vivência familiar, religiosa e cultural.

Forma para si imagens, valores éticos e morais introjetados na sua consciência e

conhecimentos de modo que fortalece a personalidade o que, por sua vez, faz

caracterizar a sua própria identidade. Neste sentido, a leitura tem como função

auxiliar a aprendizagem e acumular os saberes que facilitam ou proporcionam a

leitura do mundo.

Para isso, apoiamo-nos em David R. Olson, que, discutindo as funções da leitura e da escrita nas sociedades letradas, conclui sobre as condições necessárias à aprendizagem, considerando a diversidade de fatores que nela interferem, como o tipo de escritos, as formas de ler e a aplicação dos princípios da leitura dos textos à “leitura” do mundo natural, (EVANGELISTA, 2001, p. 236, grifos da autora)

Aos educandos propõe-se um resgate do benefício que a leitura pode

proporcionar, pois o aluno descobrirá na leitura realizada conhecimentos que

remetem ao envolvimento de si no ideológico das demandas sociais, num resgate ou

mesmo contraponto com os valores familiares, religiosos e culturais, proporcionando

atitudes críticas diante do que lê e descobrindo nas fábulas esses valores, que

podem estar sendo repassados.

A prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão pelas diferentes práticas de leitura pode ficar sabendo quais são as suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz. (SILVA, 2005, p. 24).

A prática da leitura no sentido mais amplo justifica o aprendizado formal e

ajuda a identificar as diferentes manifestações sociais, culturais e ideológicas nos

diferentes discursos escritos e falados, oportunizando nos alunos uma consciência

crítica e uma capacidade de identificar valores expressivos que orientem o indivíduo

para as diferentes situações de sua vida.

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No contexto de leitura das fábulas, pode-se levar em conta a observação do

comportamento humano como objeto ou um caminho para se trabalhar com

princípios da moralidade e da ética, pois se atribuem às fábulas uma apresentação

das virtudes e defeitos do caráter humano, entendido pela maneira de os animais se

portarem, que é semelhante à do homem.

2.2 Leitura na Escola

As atividades de leitura na escola podem oportunizar aos alunos um melhor

acesso ao conhecimento e fazê-los entender que dentro da prática de ler existem

condicionamentos orientadores que devem ser levados em conta, como: aumentar a

frequência de acesso às leituras uso de dicionários e práticas de produções escritas.

A individualidade do leitor exige do professor a adoção de estratégias para a prática

de leitura, pois os alunos de 6ª série ainda precisam referenciais que os orientem de

como estabelecer as etapas para as suas práticas de aprendizagem como:

exercícios de leitura, indicação das leituras e compreensão do que as leituras dizem,

por meio de diferentes gêneros de textos.

Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais: jornalísticas, artísticas, judiciária, cientifica, didático-pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária, etc. No processo de leitura, também é preciso considerar as linguagens não-verbais. A leitura de imagens, como: fotos, cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais, figuras que povoam com intensidade crescente nosso universo cotidiano, deve contemplar os multiletramentos. (SEED, 2008, p. 71).

Além disso, deve-se entender que:

O professor de português deve estar familiarizado com a história do ensino da língua portuguesa no Brasil, com a história da alfabetização, da leitura e da literatura na escola brasileira. Pois só assim poderá perceber-se num processo que não começa nem se encerra nele, e poderá, no mesmo gesto, tanto dar sentido aos esforços dos educadores que o precederam, como ainda sinalizar o caminho dos que o sucederão. (LAJOLO, 1993, p. 22).

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Diante dessas abordagens teóricas, têm-se argumentos suficientes para se

abrir uma infinidade de questionamentos quanto ao problema o “gostar de ler”

“vontade de ler” “hábito de leitura” “incentivar a leitura” “visita às bibliotecas”

“definição de uma literatura pessoal” e até uma ação coletiva para uma

conscientização quanto aos benefícios proporcionados pela leitura. A leitura

proporciona o desenvolvimento crítico do leitor, especialmente se forem trabalhados

os mais variados gêneros textuais, como acima está exposto na citação das DCEs.

Por essa razão, o professor deve ser um mediador entre os textos e os leitores, para

que os leitores sejam orientados para que aprendam a perceber os implícitos que

estão inseridos em determinados textos.

Do ponto de vista pedagógico, não se trata de ter no horizonte a leitura do professor ou a leitura historicamente privilegiada como parâmetro de ação: importa diante de uma leitura do aluno, recuperar sua caminhada interpretativa, ou seja, que pistas do texto o fizeram acionar outros conhecimentos para que ele produzisse o sentido que produziu: é na recuperação desta caminhada que cabe ao professor mostrar que alguns dos mecanismos acionados pelo aluno podem ser irrelevantes para o texto que lê, e, portanto, sua “inadequada leitura” é consequência deste processo e não porque se coaduna com a leitura desejada pelo professor (GERALDI, 1997, p. 188, grifos do autor).

Neste contexto, as leituras de contos, fábulas e pequenos textos se tornam

relevantes para levar os alunos a tomarem gosto pela leitura, sendo incentivados

para uma continuidade do processo de leitura e, por sua vez, estarem praticando a

oralidade através de apresentações, encenações e ou outras atividades. Além

disso, com o trabalho proposto, os alunos podem desenvolver estratégias para a

leitura dos dois gêneros textuais escolhidos, mais especificamente, além de

conhecerem a obra do autor Monteiro Lobato. A Leitura das produções literárias é

mais uma ferramenta da aquisição do conhecimento que promove a ligação pessoal

ao social, ou seja, enriquece a capacidade argumentativa e criativa do leitor sobre as

produções dos conhecimentos, do uso linguística utilizado com efeitos estéticos, já

que:

Neste processo, ler é ampliar horizontes e a literatura será tanto melhor quanto mais provocar o seu leitor. Estendendo o conceito de provocação aos ingredientes externos da leitura, a que antes nos referimos, podemos dizer que ela é eficiente quando se faz através de práticas desafiantes e

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tem por foco textos que negam, em instância cada vez maior, o horizonte de expectativas do sujeito. (EVANGELISTA, 2001, p. 242).

As Diretrizes Curriculares contemplam:

A literatura como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social. O entendimento do que seja o produto literário está sujeito a modificações históricas, portanto, não pode ser apreensível somente em sua constituição, mas em suas relações dialógicas com outros textos e sua articulação com outros campos: o contexto de produção, a crítica literária, a linguagem, a cultura, a história, a economia, entre outros. (SEED, 2008, p. 57).

Segundo Cândido (1972, apud SEED, 2008, p. 57), a literatura é vista como

arte que transforma/humaniza o homem e a sociedade. O autor atribui à literatura

três funções: a psicológica, a formadora e à social, as quais caracterizam o

direcionamento das opções do leitor dentro da literatura.

A primeira, função psicológica, permite ao homem a fuga da realidade, mergulhando num mundo de fantasias, o que lhe possibilita momentos de reflexão, identificação e catarse.

Na segunda, afirma que a literatura por si só faz parte da formação do sujeito, atuando como instrumento de educação, ao retratar realidades do sujeito, atuando como instrumento de educação, ao retratar realidades não reveladas pela ideologia dominante.

A função social, por sua vez, é a forma como a literatura retrata os diversos segmentos da sociedade, é a representação social e humana. (SEED, 2008, p. 57).

Na literatura, a leitura pode fazer parte da formação do sujeito, atuando

como um dos instrumentos para aprimorar o conhecimento e identificar diferenças

nas realidades não reveladas explicitamente pela ideologia dominante. Além disso, a

leitura é uma forma de o leitor familiarizar-se e identificar-se com os diferentes

gêneros literários, como os jornalísticos, artísticos, científicos, didáticos, literários e

outros.

A leitura é um jogo em que o autor escolhe as peças, dá as regras, monta o texto e deixa ao leitor a possibilidade de fazer combinações. Quando ela faz sentido, está ganha e aposta. Mas isso só acontece porque o leitor aceita as

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regras e se transporta para o mundo imaginário criado. Se ele resiste, fica fora da partida. Ao mergulhar na leitura, entra em outra esfera, mas não perde o sentido do real e aí está, a nosso ver, a função mágica da literatura: através dela vivemos uma outra realidade, com suas emoções e perigos, sem sofrer as consequências daquilo que fazemos e sentimos enquanto lemos. Essa consciência do brinquedo que a arte é leva-nos a experimentar o prazer de entrar em se jogo. (EVANGELISTA, 2001, p. 254).

O educador, em sua prática pedagógica pode estar atento ou aberto

para trazer conhecimentos, informações e fontes literárias atualizadas

disponibilizadas pelos meios de comunicação e mídias para dar oportunidade,

direcionamento e direito ao aluno de escolher aquilo que quer ler. E mesmo estar

manipulando livros e literaturas segundo seus interesses dentro de suas

curiosidades.

Uma vez dissecado o objeto livro a partir de dados externos, chega-se à

hora da leitura, ela mesma que é sempre individual, silenciosa. Mesmo

quando introduzida por algum estímulo externo do professor (como narrar

parte da história, apresentar personagens, fazer fundo musical, levar ao

teatro), a ação de ler supõe isolamento, contato direto com o texto,

capacidade de gerir a solidão para chegar à internalização dos significados

descobertos e a um posicionamento diante deles. Para que isso aconteça,

as atividades grupais podem colaborar, pois vão chamar a atenção para

narrativas e poemas, no início transmitidos oralmente e depois identificados

nos textos, facilitando a relação entre sentidos e sinais gráficos.

(EVANGELISTA, 2001, p. 253).

2.3 Leitura no Projeto: Desenvolvimento do gosto pela leitura de histórias-

fábulas.

A opção por trabalhar com as fábulas e contos, neste projeto, deve-se pelo

fato de que as obras de Monteiro Lobato serem adequadas à faixa etária do 6º ano,

por apresentarem um estilo de escrita com linguagem simples, onde a realidade e

fantasia estão permeadas pela ação e aventuras. Foram trabalhados os textos

extraídos dos livros: “O Pica-Pau Amarelo”, “Emília no País da Gramática”, “As

Caçadas de Pedrinho”, “O Saci”, “Memórias da Emília”, “Poço do Visconde”,

“Reinações de Narizinho” e outras.

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3 Desenvolvimento do projeto

As estratégias de ação que foram aplicadas tiveram como propósito a

aquisição de resultados de aprendizado como: ampliar o enfoque sobre a leitura,

descobrir aspectos literários nos diferentes textos (fábulas), aumentar a capacidade

argumentativa dos alunos, ampliar o desenvolvimento da oralidade, através da

contagem de histórias encenadas e dramatizadas. A partir do projeto aplicado com

os alunos da 6ª série A do Colégio Estadual Pato Bragado, foram realizadas

atividades como:

3.1 Verificação junto aos alunos os conhecimentos relativos às fábulas, já adquiridos

anteriormente;

3.2 Apresentação aos alunos fontes diferenciadas de leitura, como livros e sites que

podem ser acessados, desde que sejam educacionais e específicos com a

literatura de fábulas. Ex. www.sitededicas.uol.com.br;

3.3 Pesquisa sobre Monteiro Lobato, realizada pelos alunos, no laboratório de

informática pelo sistema Paraná Digital;

3.4 Realização do dia do conto entre a turma;

3.5 Apresentação para as demais turmas do colégio os contos e as fábulas lidas;

3.6 Encenação de fábulas lidas com a participação dos alunos do 6º ano;

3.7 Criação de uma oficina de teatro, onde se transformoua fábula em uma peça

teatral;

3.8 Elaboração de painéis representando as histórias lidas, através de imagens,

textos e produções escritas.

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4 Fases

4.1 A aplicação da Produção Didático-Pedagógica, como parte do Projeto de

Implementação Pedagógica, “O desenvolvimento do gosto pela leitura de histórias-

fábulas de Monteiro Lobato” teve início com a apresentação do gênero textual da

fábula juntamente com alguns de seus aspectos históricos e características. Os

alunos tiveram uma noção do que seria o trabalho e como ele seria realizado, tempo

da realização e expectativas, detectando o grau de conhecimento acumulado

anteriormente pelos alunos sobre fábulas, oportunizando a eles para que falem

sobre uma fábula conhecida.

4.2 Na sequência foram apresentadas as características mais peculiares desse

gênero textual, atentando para o fato de sua semelhança com um conto,

apresentada aos alunos através da leitura algumas fábulas e fazendo a comparação

com os pequenos contos. Procurou-se conscientizar os alunos a respeito do grande

valor que o ato de “ler” tem em suas vidas e como eles poderiam ser beneficiados

por esta prática.

4.3 Foi realizada uma visita à biblioteca da escola para que os alunos pudessem

conhecer as obras de Monteiro Lobato especificamente os livros com Fábulas,

quando cada aluno escolheu uma obra com o compromisso de ler e recontar para os

demais colegas da turma.

4.4 Para a sala de aula foram levadas diversas fábulas de Monteiro Lobato, que

foram lidas e interpretadas pelos alunos, muitos demonstraram grande interesse e

gosto pela atividade. Uma vez que estavam apreciando as fábulas apresentadas, os

alunoscomeçaram a questionar, pois cada fábula lida exigia um grau de

conhecimento prévio do leitor, para que ela pudesse ser compreendida, uma vez

que certos vocábulos lhes eram desconhecidos e mesmo o porquê daquele

ensinamento ou moral. Após conhecer melhor a significação dos vocábulos, os

alunos puderam compreender o seu sentido. A compreensão de um texto pode ser

comprometida pelo simples fato de o leitor desconhecer um vocábulo. Outro entrave

na compreensão do que se lê é o fato de a pessoa não ter conhecimento a respeito

do assunto contido no texto. Por isso, o trabalho do estudo dos vocabulários ajudou

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muito na interpretação das fábulas trabalhadas. “A fome não tem ouvidos” “O Lobo e

o cordeiro” “O Leão e o Rato” e “O Carreiro e o Papagaio”.

4.5 A oralidade fez parte das aulas, pois os alunos foram incentivados a comentar o

que entenderam a respeito das fábulas lidas e de que forma elas se relacionaram

com as outras histórias e textos já lidos anteriormente. Neste momento, cada aluno

pode falar livremente sobre suas impressões e o que compreendeu a respeito das

leituras, mas sempre com o cuidado de não desviar o entendimento para ideias

fantasiosas.

4.6 Na aplicação da Produção Didático-Pedagógica contemplou-se a realização, de

encenações das fábulas: “As Duas Cachorras”, “O Julgamento da Ovelha”, “O Lobo

e o Cordeiro” e “Pau de Dois Bicos” para o terceiro e quarto ano do Ensino

Fundamental da Escola Municipal Marechal Deodoro. Na apresentação oral

(contagem dos livros de Monteiro Lobato), foram expostas as obras “A Reforma da

Natureza”,”Caçadas de Pedrinho”, “Memórias de Emilia”, “O Pica-Pau Amarelo”, “

Reinações de Narizinho”, “O Saci”, “Viagem ao Céu”, Aventuras de Hans Staden”,

“Peter Pan”,” O Minotauro”, ”Histórias da Tia Anastácia”, “Dom Quixote das

Crianças”,”Os Doze Trabalhos de Hércules” e “Emília no País da Gramática”, que

cada aluno leu e apresentou para a turma do quinto ano da Escola Municipal e para

o sexto ano do Colégio Estadual. O envolvimento com outras disciplinas aconteceu

após trabalhar a fábula de Monteiro “A fome não tem ouvidos”, que os alunos

pesquisaram nas aulas de ciências o valor nutricional dos alimentos, a importância

dos alimentos para os seres vivos e a falta dos mesmos no mundo para os seres

humanos. Eles pesquisaram rótulos e montaram painéis com as informações

obtidas.

4.7 Os alunos apresentaram também em sala de aula uma relação de palavras,

contidas nos textos, cujos significados evidenciavam valores que induziam

comportamentos morais e éticos, os quais eram identificados como sendo

significativos para as atitudes comportamentais pessoais a serem tomadas na

escola, na família e na sociedade.

4.8 Executou-se uma atividade escrita em que os alunos produziram um desfecho

diferente para a o conto “A Negrinha,” com o propósito de, após a correção, estarem

disponibilizando os textos em forma de livrinho na biblioteca para os demais alunos.

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5 Resultados

5.1 A apresentação das fábulas lidas foi um sucesso entre os alunos na sala de

aula. Percebeu-se que eles queriam falar, queriam ser ouvidos, queriam mostrar

suas capacidades.

5.2 Quando da apresentação das fábulas lidas para as outras turmas, pode-se

afirmar que foi muito proveitoso, pois assim que os alunos assistiram as

apresentações começaram a procurar as obras de Monteiro Lobato para ler. Antes

das apresentações foi explicado a eles por que é importante ler e para que se possa

falar sobre algum assunto, é preciso se ter um conhecimento prévio do mesmo muito

bom, caso contrário falariam coisas sem nexo que poderiam não fazer sentido algum

para quem os ouvissem.

5.3 Para a apresentação das encenações, os alunos foram orientados sobre como

deveriam utilizar a voz, a imagem corporal, o cenário, etc. O professor de Arte deu

uma ótima contribuição para a execução dessa atividade.

5.4 O trabalho de produção textual partiu da leitura do conto “A Negrinha”, que após

a leitura, interpretação e análise, os alunos reescreveram a história dando um final

diferente do original.

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6 Conclusão.

O artigo teve seu desenvolvimento focado nas questões relacionadas com

os gêneros literários de contos e fábulas levando-se em conta serem textos

atraentes, curtos e fáceis de serem trabalhados uma vez que possibilitam resgatar

valores e benefícios que as leituras podem estar proporcionando ao conhecimento e

aprendizado dos alunos.

Além disso, priorizou-se ainda o despertar dos benefícios que a leitura pode

proporcionar, embora fosse observado dentre os alunos, alguns que, durante a

trajetória de estudos, já terem criado uma grande necessidade em procurar por

leituras e que praticamente tem definido o gosto ou prazer de ler, bem como o tipo

de literatura de sua preferência.

Levou se em conta que a motivação à leitura deve estar presente na vida do

professor, na escola, na biblioteca e principalmente deve estar contemplado no

planejamento pedagógico. Priorizou-se também o exercício da interpretação como

ferramenta para o despertar, o questionamento, a reflexão e as próprias respostas

para os diversos saberes, mesmo àqueles que estão sendo assimilados em frente a

televisão, ao computador, jornais e revistas, além dos que são transmitidos pelos

textos de Monteiro Lobato.

Houve também oportunidades em que os conteúdos despertaram

discussões polêmicas e que as mesmas contribuíram para saberes de

enriquecimento argumentativo pessoal e coletivo.

Enfim, o benefício da execução da proposta do projeto veio ao encontro dos

propósitos idealizados no decorrer da preparação, estudos e desenvolvimento do

projeto, uma vez que os alunos demonstraram, durante a aplicação do trabalho, um

grande interesse e empenho nas execuções das tarefas e o que facilitou na

aplicação das estratégias propostas.

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