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Título: FABULANDO DE ESOPO À MILLÔR
Autor Liana Maria Fonseca da Silva
Disciplina/Área (ingresso no
PDE)
Língua Portuguesa
Escola de Implementação do
Projeto e sua localização
Colégio Estadual Nilo Peçanha – Ensino
Fundamental e Médio
Rua Iapó, 94, Vila Nova, Londrina - PR
Fone: (43) 3329-0005
Município da escola Londrina - PR
Núcleo Regional de
Educação
Londrina - PR
Professor Orientador Prof. Dr. Vladimir Moreira
Instituição de Ensino
Superior
Universidade Estadual de Londrina
Palavras-chave (3 a 5
palavras)
Fábula, leitura, paródia, interação.
Formato do Material Didático Didático – Unidade Didática
Interdisciplinaridade Arte
Público Alvo 6º ano Ensino Fundamental
Resumo
FICHA PARA CATÁLOGO
PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
PDE/2012
Esta Unidade tem como proposta incentivar a leitura por meio de estudos de fábulas,
pois entende-se que há um maior envolvimento dos alunos à prática da leitura. O
trabalho visa oportunizar ao aluno o contato com o gênero fábula, aprofundando o
estudo acerca das fábulas de Esopo, assim como as versões dos seguintes autores:
La Fontaine, Monteiro Lobato e Millôr Fernandes - este último, como uma
contrafábula, comparando as linguagens e os sentidos, a partir de diferentes
contextos, relacionando o conteúdo e a temática com o nosso dia a dia. Assim, esta
prática pedagógica está fundamentada na concepção sociointeracionista da
linguagem, em que o texto é visto como lugar de interação. A metodologia para o
desenvolvimento de intervenção pedagógica em sala é uma proposta pautada nos
estudos de Schnewly & Dolz (2004) e será apresentada em forma de oficina.
Palavras-chave: Fábula; leitura; paródia; interação.
1. INTRODUÇÃO
Esta unidade didática está inserida na linha de pesquisa de ensino e
aprendizagem de leitura e tem por objetivo principal incentivar a leitura por meio de
estudos de fábulas escritas por Esopo, La Fontaine, Monteiro Lobato e Millôr
Fernandes, pois entendemos que, por meio de textos curtos e lúdicos, pode-se
perceber que há um maior envolvimento do aluno à prática de leitura.
Além de serem narrativas breves e de fácil assimilação, as fábulas
possibilitam uma análise crítica em relação ao homem, seus valores, defeitos, vícios
e atitudes. Sendo de natureza simbólica, suas personagens são geralmente animais
e apresentam características comparadas às dos seres humanos. Desta maneira,
acreditamos que este seja um gênero oportuno para se trabalhar com as turmas do
Ensino Fundamental, tanto pela motivação quanto pelo fato de ser rica em fonte
para utilização das estratégias de leitura.
O objetivo do trabalho é estimular o aluno à prática de leitura de
forma lúdica e prazerosa, bem como levá-lo a apropriar-se de estratégias
necessárias para que seja capaz de realizar leituras significativas, tornando-se um
leitor crítico e atuante nas práticas de letramento da sociedade.
Esta prática pedagógica está fundamentada na concepção
sociointeracionista da linguagem, em que o texto é visto como lugar de interação. A
metodologia para o desenvolvimento da intervenção pedagógica em sala de aula é
uma proposta pautada nos estudos de Schnewly & Dolz (2004), e será apresentada
em forma de oficinas.
Na primeira oficina, os alunos são motivados para o estudo do
gênero fábula com questionamentos que servem como diagnóstico do conhecimento
dos estudantes em relação a essa cultura oral popular. Apresentamos vídeos e
propomos a leitura de várias fábulas para que os alunos reconheçam o contexto, as
características e a estrutura desse gênero. Para isso, são distribuídos trechos para
que os alunos, em grupos, organizem os textos com sentido e coerência.
Apresentamos, também, a leitura e análise linguística da fábula: “A
raposa e as uvas” nas versões de Esopo, La Fontaine e Monteiro Lobato, assim
como a análise comparativa das paráfrases, linguagem e estilo. Ainda nesta oficina,
trabalhamos a moral de cada fábula tendo como objetivo a interpretação e
compreensão dos implícitos, fazendo comparações e análise linguística. As leituras
devem ser orientadas de acordo com o gênero apresentado da ordem do narrar,
uma fábula, seguindo as explicações do contexto produção, conteúdo temático,
construção composicional e marcas linguístico-enunciativas.
Na segunda oficina, trabalhamos a leitura da contrafábula de Millôr
Fernandes por meio da análise comparativa, linguagem e estilo. É propiciada aos
alunos a leitura de vários tipos de fábulas para que conheçam diferentes autores de
fábulas, em um ambiente fora da sala de aula com almofadas, tapetes e fundo
musical, onde possam ler descontraidamente.
Na terceira oficina, os alunos são orientados a produzirem textos
escritos com o gênero solicitado fábula, com as devidas coesões e coerências,
emprego correto dos discursos diretos e indiretos. As tarefas são distribuídas em
duplas: produção de paráfrases ou produção de paródias. Nesta etapa, o professor
conversa com os alunos ressaltando a importância do gênero fábula, a estrutura, os
personagens, o tempo e espaço. Eles escolhem entre todas as fábulas lidas, a fim
de parafrasear ou parodiar, conforme a solicitação do professor. Os alunos devem
escrever como autores de seus textos e cientes de que seus textos serão lidos pelos
seus colegas.
Na refacção, cada dupla recebe um texto de outro grupo. É
solicitado pelo professor que os alunos façam a leitura e verifiquem se há
compreensão e construção do sentido. Devem observar, também, a organização
estrutural, discurso direto e indireto, pontuação adequada, emprego correto dos
tempos verbais, bem como a correção ortográfica. Os textos são recolhidos e a
verificação da correção é feita com as devidas orientações, se necessárias.
Na reescrita dos textos produzidos pelos estudantes, as duplas
recebem os textos que já foram corrigidos pelos colegas e pelo professor.
Solicitados pelo professor, os alunos fazem a leitura e reescrita de acordo com a
forma, conteúdo e estilo.
Finalmente, a organização do livro “Fabulando de Esopo a Millôr
Fernandes”. Este é o momento em que os alunos, separados em duplas, recebem
novamente os textos que já foram corrigidos e reescritos, a fim de que façam as
ilustrações. Os textos são reunidos e organizados em um pequeno livro com
produções dos estudantes. A introdução é escrita no quadro junto com os alunos. A
turma pode ser separada em grupos para que se possa organizar o suporte, ou seja,
o livro com todas as devidas partes: capa, folha de rosto, dedicatória,
agradecimentos, índice, os textos e referência bibliográfica.
É importante lembrar que as análises apresentadas para esta prática
pedagógica não se esgotam nesta Unidade Didática, pois há outras possibilidades
de leituras.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 CONCEPÇÃO DE LEITURA
A busca pelo conhecimento tem intensificado cada vez mais,
constituindo- se um processo permanente na sociedade contemporânea. A leitura
tem se tornado um elemento imprescindível para aquisição do conhecimento,
possibilitando a inserção do indivíduo no meio social e na formação da cidadania.
Compreende-se a leitura um ato dialógico, interlocutivo que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as sua experiência, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as vozes que o constituem. (PARANÁ, 2008, p. 56)
A leitura é um ato que faz parte não somente nos primeiros anos da
escolarização de um indivíduo, mas que perdura ao longo de sua vida, como um
instrumento necessário para realização de novas aprendizagens.
As diretrizes também citam Silva (2005, p. 24), ao afirmar que a
prática da leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas
diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e
também seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos
necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz.
A leitura é considerada uma prática social que remete a outros
textos e outras leituras. Kleiman (2004, pg.10) afirma que ao lermos um texto,
colocamos em ação todo o nosso sistema de valores, crenças e atitudes que
refletem o grupo social em que se deu nossa civilização primária, isto é, o grupo
social em que fomos criados.
Nesse sentido, praticar a leitura em diferentes contextos requer que
se compreendam as esferas discursivas em que os textos são produzidos e
circulam, bem como se reconheçam as intenções e os interlocutores do discurso.
É nessa dimensão dialógica, discursiva que a leitura deve ser
experienciada, desde a alfabetização. O reconhecimento das vozes sociais e das
ideologias presentes no discurso, tomadas nas teorizações de Bakhtin, ajudam na
construção de sentido de um texto e na compreensão das relações de poder a ele
inerentes de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica.
Considerando a concepção interacional da língua, em que o sentido
de um texto é construído na interação texto-sujeitos, Kock (2011, pg. 11) revela que
a leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de
sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos
presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a
mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo.
A concepção da leitura como atividade de produção de sentido está
em consonância com os Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa de Ensino
Fundamental.
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas. (BRASIL, 1997, apud KOCH, 2010, p. 12).
2.2 PARÓDIA E PARÁFRASE: EXPLÍCITOS E IMPLÍCITOS NA LEITURA
Para Sant’Anna (1998, p. 7), a paródia é um efeito de linguagem que
vem se tornando cada vez mais comum nas obras contemporâneas, porém, a
frequência com que aparece em textos parodísticos, não significa que seja uma
invenção recente. Estudos mostram que ela existia na Grécia, em Roma e até
mesmo na Idade Média, mas fato de seu uso ter se intensificado na modernidade faz
com que ela pareça um traço de nossa época.
Aristóteles, em sua poética, atribuiu a Hegemon de Thaso (séc. V
a.C.) a origem da paródia como arte ao utilizar o gênero épico para representar os
homens como seres comuns introduzidos na vida diária, mas não como seres
superiores. Desta forma, teria ocorrido uma inversão, já que na Antiguidade, o
gênero epopeia servia para enaltecer os heróis nacionais como deuses.
A origem do termo paródia é grega, que significa canto paralelo (de
para = “ao lado de” e ode = “canto”). Isto resulta a ideia de uma canção a ser
cantada ao lado da outra, ou seja, uma espécie de contracanto, o que nos leva a
crer que a origem seja musical.
Desde que publicou o estudo “Problemas de Dostoiévski”, Bakhtin
passou a ser referência obrigatória nos estudos sobre paródia. Preocupado em
caracterizar os efeitos cômicos de diversas obras literárias, acabou extrapolando
uma contribuição dos estudos sócio-literários modernos, formulando a “teoria da
carnavalização”.
Bakhtin (1997 apud Pacheco, 2006) faz uma análise temática e de
linguagem, aprofunda o conceito de carnavalização e possibilita reflexões sobre
polifonia e dialogismo. Para esclarecer o conceito de carnavalização, parte da
análise do carnaval como festa popular:
O carnaval é um espetáculo sem ribalta e sem divisão entre atores e espectadores. No carnaval todos são participantes ativos, todos participam da ação carnavalesca. Não se contempla e, em termos rigorosos, nem se representa o carnaval, mas vive-se conforme as suas leis enquanto estas vigoram, ou seja, vive-se uma vida carnavalesca. Esta é uma vida desviada da sua ordem habitual, em certo sentido uma vida às avessas, um mundo invertido (BAKHTIN, 1997 apud PACHECO, 2006).
Bakhtin caracteriza o carnaval como celebração do riso cômico, e
nesse sentido, a paródia é o elemento que mais se aproxima de carnavalização,
pervertendo a ordem pré-estabelecida pelo deboche e pela sátira da realidade.
Segundo o autor, a carnavalização pode ser um desvio e também uma inversão dos
costumes consagrados, como fez a geração hippie, que sobrepôs o sacro e o
profano, o velho e o novo e a ruptura com tudo que é institucionalizado.
Shipley (1972, p. 12), no seu dicionário de literatura, apresenta três
tipos básicos de paródia:
Verbal: com a alteração de uma ou outra palavra do texto.
Formal: em que o estilo e os efeitos técnicos são usados como forma de
zombaria.
Temática: em que se faz a caricatura da forma e do espírito de um autor.
Tynianov (1919) e Bakhtin (1928) consideram a paródia um trabalho
que compreende em reunir partes diferentes de uma obra ou de diferentes artistas.
Tynianov ampliou o conceito de paródia quando realizou estudos
com o conceito de estilização. Embora as duas estejam interligadas, estabelecem
ideologias diferentes. Na paródia, há uma espécie de texto paralelo ao texto matriz;
normalmente, é feita com intenção de satirizar, ridicularizar as ideias do texto
original, mas pode servir somente para apresentar uma ideia contrária daquela que o
original defende. Nesse sentido, uma paródia de uma tragédia será uma comédia e
a paródia de uma comédia pode ser uma tragédia.
Quando há estilização não há mais discordância. A concordância
com o texto original ocorre normalmente, uma vez que a forma de expressão dessas
ideias é particularizada, constituindo assim um estilo próprio. Portanto, a estilização
é um tipo de paráfrase.
De acordo com Sant’Anna (1998, p. 17), paráfrase é a reafirmação,
em palavras diferentes, do mesmo sentido de uma obra escrita; pode ser uma
afirmação geral da ideia de uma obra como esclarecimento de uma passagem difícil.
Em geral ela se aproxima do original em extensão.
O termo “para-phasis” vem do grego e significa: continuidade ou
repetição de uma sentença. Na paráfrase existe uma concordância com o texto
original que faz com que suas ideias e formas sejam reproduzidas e respeitadas.
Quando usamos citações para validar um argumento num texto, fazemos uma
paráfrase.
A “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, possivelmente é o poema
mais parafraseado, estilizado e parodiado de nossa literatura:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(Canção do Exílio, de Gonçalves Dias)
Seguem outras variações feitas por alguns autores modernistas:
Minha boca procura a “Canção do Exílio”
Como era mesmo a “Canção do Exílio”?
Eu tão esquecido de minha terra
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
(fragmento de “Europa, França e Bahia”, de Carlos Drummond de
Andrade)
Esta saudade que fere
Mais do que as outras quiçá,
Sem exílio nem palmeira
Onde cante um sabiá...
(estrofe do poema "Um dia depois do outro", de Cassiano Ricardo)
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá.
(“Canto de regresso à pátria”, paródia de Oswald de Andrade)
Mediante os comentários da primeira estrofe do poema de
Gonçalves Dias e o estabelecimento de comparação, Sant’Anna constatou a
existência de um processo comum a todas as variantes: um deslocamento. Segundo
a observação do autor, na paráfrase de Drummond, o deslocamento é mínimo,
ocorrendo uma técnica de citação e transcrição direta do poeta. Já no texto de
Cassiano o desvio aumenta, inclusive pela afirmação ao contrário, pois a saudade é
descrita na ausência da “palmeira” e do “sabiá” (“sem exílio, nem palmeira / onde
canta um sabiá”). Ocorre um jogo de diferenciação em relação ao texto original sem
que haja traição ao seu significado inicial. (SANT’ANNA, 1998, p. 23-4).
No texto de Oswald o distanciamento é absoluto. Ocorre um
processo de inversão do sentido, com um deslocamento completo. O nome comum
“palmeiras” é substituído pelo nome próprio “Palmares”, mas com letra minúscula.
Introduz logo uma crítica histórica, social e racial. A substituição do ingênuo termo
romântico “palmeira” pelo nome do famoso quilombo onde os negros liderados por
Zumbi foram dizimados, em 1695, tem um efeito irônico e crítico, introduzindo um
comentário social (SANT’ANNA, 1998, p. 26).
Outra consideração relevante do autor é que os conceitos de
paródia, paráfrase e estilização são relativos ao leitor, isto é, depende do receptor.
Se o leitor não tiver informação do texto de Gonçalves Dias, não perceberá o
recurso utilizado no texto de Oswald. Estilização, paráfrase e paródia são recursos
percebidos por um leitor mais informado. É preciso um repertório ou memória
cultural e literária para decodificar os textos superpostos.
2.3 ASPECTOS COGNITIVOS
Os aspectos cognitivos referem-se ao processo de cognição para
compreensão de texto. Para Kleiman a percepção, atenção, memória, inferência
continuam tendo um papel central na compreensão e na reflexão sobre as
estratégias do leitor; daí a sua relevância para o ensino aprendizagem da língua
escrita, porém não são os únicos aspectos relevantes (KLEIMAN, 2011, pg. 8).
Ler envolve mais do que compreender, a leitura é prazer para os sentidos, é abstração do mundo dos sentidos, é experiência única e individual e evento social e coletivo; fazem parte dela tanto o entendido como os mal entendidos. (KLEIMAN, 2011, pg. 8)
A percepção, bem como a reflexão sobre o conjunto de componentes
mentais da compreensão, contribuirá com a formação do leitor e ao enriquecimento
de outros aspectos humanos e criativos do ato de ler (KLEIMAN, 2011, pg. 9).
Kleiman apresenta vários aspectos acerca da compreensão textual,
mostrando a leitura como um processo interativo, em que o leitor utiliza os diferentes
níveis de conhecimento para que ocorra essa interação, destacando a importância
de ler com objetivo e formulações de hipóteses,
A autora cita o conhecimento de mundo adquirido ao longo da vida -
caracterizado o conhecimento linguístico - como conhecimento prévio, ou seja, o
conhecimento implícito, que envolve toda a compreensão da língua, incluindo a
pronúncia, o vocabulário, as regras, e também a compreensão textual, que são
obtidos por meio do contato com os gêneros, reconhecendo as suas estruturas
textuais. É a partir da interação desses conhecimentos que o leitor consegue
construir o sentido do texto.
Kleiman leva o leitor a considerar essencial a ativação do conhecimento
prévio para a construção do significado de um texto, sem o qual a compreensão não
é possível, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite
fazer inferências necessárias para relacionar diferentes partes do texto num todo
coerente. No processo da leitura, as inferências que o leitor realiza com base em
marcas formais do texto são decorrentes do conhecimento adquirido.
O conhecimento linguístico, textual e de mundo devem ser
ativados durante a leitura para poder chegar ao momento da compreensão,
momento esse que passa despercebido, em que as partes discretas se juntam para
fazer um significado. O mero passar de olhos pela linha não é leitura, pois leitura
implica uma atividade de procura por parte do leitor no seu passado de lembranças
e conhecimentos, daqueles que são relevantes para a compreensão de um texto
que fornece pistas e sugere caminhos, mas que certamente não explica tudo o que
seria possível explicitar (KLEIMAN, 2011, pg. 27).
2.4 GÊNEROS
2.4.1 Conceitos Gerais
Os gêneros textuais ou discursivos estão presentes na vida do ser
humano, visto que é por meio do texto que as pessoas se comunicam. É no gênero
textual onde ocorre a interação com o outro, é por meio da linguagem que o sujeito
organiza sua ideologia, sua subjetividade. A concepção de texto enquanto discursivo
e a sua classificação em gêneros, apontadas pelo PCN´s 1988, são pressupostos do
pensamento bakhtianiano. Para Bakhtin (2000, p. 279), “cada esfera de utilização da
língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que
chamamos gêneros do discurso”. Com isso, entendemos que um gênero discursivo
se constitui a partir de um enunciado organizado e estável.
Marcushi (2002, p. 19) ressalta que os gêneros textuais são fenômenos
históricos profundamente vinculados à vida cultural e social. Uma das contribuições
dos gêneros é ordenar e estabilizar as atividades do dia a dia.
Para Bakhtin (19997, p. 282), os gêneros são instrumentos que fundam a
possibilidade de comunicação.
Os gêneros podem ser considerados como uma variedade de textos que
se encontram nos mais diversificados espaços sociais, onde se faz uso do discurso,
tendo uma função específica, para um público específico e com características
próprias. Dessa forma, podem ser citados como exemplos de gêneros textuais:
anúncios, avisos, cartas, crônicas, bulas, editoriais, noticias, leis, decretos,
mensagens, convites, contos de fada e outros.
Desde que os gêneros foram incorporados em documentos Curriculares
Nacionais, o trabalho com textos em sala de aula passou a ter destaque especial no
Ensino de Língua Portuguesa. Nesse sentido,
Bunzen (2000) discorrre que as práticas discursivas presentes nos diversos gêneros que fazem parte do cotidiano dos educandos podem ser legitimadas na escola. Isso colaboraria com a não fragmentação entre a língua e a vida do aluno, uma vez que na escola ele não leria e produziria apenas textos presentes nos diversos espaços de socialização que frequenta. (PARANÁ, 2008, p. 52-3)
Bakhtin classifica os gêneros discursivos em primários e secundários. Os
primários referem-se à comunicação cotidiana - são simples - e os secundários são
produzidos a partir de códigos culturais elaborados, como a escrita - são mais
complexos. Os gêneros secundários, como romances, gêneros jornalísticos, ensaios
filosóficos são formações complexas, porque demandam mais elaboração, como a
ciência, a arte, a política.
Quanto à distinção entre gêneros primários e secundários sobre a obra de
Bakhtin, (MARCUSHI, 2003, p. 26) trata-se de uma distinção entre duas esferas da
criação ideológica: a ideologia do cotidiano e os sistemas ideológicos constituídos.
As duas esferas são interdependentes.
A primeira compreenderia a totalidade das atividades sócio-ideólogicas
desde os mais fortuitos eventos (um acidental pedido de informação na rua) até
aqueles que associam diretamente com os sistemas ideológicos constituídos (a
leitura de um romance, por exemplo). A segunda esfera compreende a totalidade
das práticas sócio-ideólogicas culturais mais elaboradas, como as artes, as ciências,
o direito, a filosofia, a religião, etc. (MARCUSHI, 2003, p. 26-7)
Essas duas esferas dão origem ao que Bakhtin chamou de gêneros do
discurso, segundo aponta Faraco (2003, p. 61-2) “os gêneros primários aqueles da
ideologia do cotidiano e os gêneros secundários aqueles dos sistemas ideológicos
constituídos”.
Os gêneros são desiguais e se reproduzem para atender à variedade de
atividades que surgem no dia a dia - não são estáticos. Assim como a língua, eles
mudam, alguns transformam-se, adaptam-se, renovam-se, multiplicam-se e novos
gêneros nascem conforme as necessidades ou para acompanhar a evolução das
novas tecnologias como o rádio, o telefone, a televisão e a internet. Com base nessa
necessidade, surgem os gêneros do discurso eletrônico, como e-mail, chat, lista de
discussão, blog, etc. Estes fatos evidenciam a dinamicidade dos gêneros e sua
facilidade de adaptação inclusive na materialidade linguística, como também a sua
funcionalidade e organicidade. (MARCUSCHI, 2002, p. 27)
2.4.2 Estrutura dos Gêneros
Em relação ao processo de leitura e construção de sentido, Koch (2010,
pg. 101) considera que a escrita e a fala baseiam-se em formas padrão e
relativamente estáveis de estruturação. Sendo assim um indivíduo depara-se com a
leitura de inúmeros textos, consegue ouvir e produzir enunciados em suas atividades
comunicativas do dia a dia.
Acerca da atividade da constituição dos gêneros, Bakhtin (1992, p. 301-2)
afirma:
Para falar, utilizamo-nos sempre dos gêneros do discurso, em outras palavras, todos os nossos enunciados dispõem de uma forma padrão e relativamente estável de estruturação de um todo. Possuímos um rico repertório dos gêneros do discurso orais (e escritos). Na prática, usamos com segurança e destreza, mas podemos ignorar totalmente a sua existência teórica.
Nesse sentido, Koch (2010, p. 102), defende a ideia de que os indivíduos
desenvolvem uma competência metagenérica que lhes possibilitam interagir de
forma precisa, na medida em que se envolvem nas diversas práticas sociais. Essa
competência é o que possibilita a produção e a compreensão de gêneros textuais.
Segundo a autora, a competência metagenérica orienta a produção de nossas
práticas comunicativas. Em contrapartida, essa mesma competência orienta a nossa
compreensão sobre os gêneros produzidos.
Os gêneros textuais são constituídos de um determinado modo, com uma
finalidade e organizados em esferas de atividades humanas, o que facilmente nos
permite reconhecê-los e produzi-los sempre que necessário. Isto quer dizer, por
exemplo, que na esfera doméstica e gastronômica podemos ler e escrever
diferentes receitas de bolo. Na esfera jornalística, podemos ler diferentes notícias.
Segundo Bakhtin (1992 apud KOCH, 2011, p. 106), todo gênero em sua
composição possui uma forma, conteúdo e estilo. São elementos indissociáveis na
constituição do gênero.
2.4.3 Composição, Conteúdo e Estilo
Na perspectiva bakhtiana, (KOCH, 2011, p. 107), um gênero pode ser
assim caracterizado:
Tipos relativamente estáveis de enunciados presentes em cada esfera
de troca: os gêneros possuem uma forma de composição, um plano
composicional.
Além do plano composicional, distingue-se pelo conteúdo temático e
pelo estilo.
Trata-se de entidades escolhidas, tendo em vista as esferas de
necessidade temática, o conjunto dos participantes e a vontade
enunciativa ou a intenção do locutor, sujeito responsável por
enunciados, unidades reais e concretas da comunicação verbal.
Pela competência metagenérica, reconhecemos facilmente as
características de um gênero. Assim, sabemos quando se trata, por exemplo, de
uma poesia ou de um artigo de opinião ou mesmo de uma tirinha, porque o modo de
composição desses gêneros é a estruturação e esquematização. Sendo assim, a
poesia se estrutura em estrofes e versos, com rimas ou sem rimas.
O artigo de opinião se estrutura em torno de um ponto de vista de
argumentação em sua defesa e a tirinha se estrutura em enunciados curtos,
constituídos em balões, para representar a fala de personagens, destacando-se
nessa composição a linguagem verbal e não verbal. Portanto, conforme Kock (2010,
p. 109) do ponto de vista da composição dos gêneros, deve-se levar em conta a
forma de organização, a distribuição, das informações e os elementos não verbais: a
cor, o padrão gráfico ou a diagramação, as ilustrações.
Do ponto de vista do conteúdo temático, na poesia predomina a
expressão dos sentimentos do sujeito, suas emoções, organizando-se na primeira
pessoa. No artigo de opinião, veiculado em revistas ou jornais, o conteúdo,
geralmente consiste de acontecimentos de ordem política, econômica, social,
histórica ou cultural. Na tirinha, o conteúdo é a crítica bem humorada referindo-se
aos modos de comportamento, valores, sentimentos.
No que se refere ao estilo, na poesia, há uma maior expressão do
trabalho do autor pela criatividade e organização da mensagem. No artigo de
opinião, exige-se a característica de comunicação formal direcionada a um grupo
privilegiado social, econômica e culturamente. Na tirinha, há forte expressão do
trabalho do autor, ressaltada geralmente pelo grau de informalidade.
2.4.5 Gêneros Textuais e Intergenericidade
Para Alves Filho (apud KOCH, 2010, p. 113), os gêneros não são
instrumentos rígidos e estanques, o que quer dizer que “a plasticidade e a
dinamicidade não são características intrínsecas ou inatas dos gêneros, mas
decorrem da dinâmica da vida social cultural e do trabalho dos autores”.
Os gêneros não se definem por sua forma, mas por sua função. Isto
explica que pode haver uma produção textual em que o trabalho do autor se
evidencia na mobilização de duas formas composicionais para fazê-las funcionarem
ao mesmo tempo superpostas uma à outra, como por exemplo, um artigo de opinião
construído sob a forma de receita. Neste caso, um gênero pode assumir a forma de
outro, e ainda assim continuar pertencendo àquele gênero (o artigo de opinião
assumiu o formato de receita, mas continuou, por sua função, um artigo de opinião).
Esse fenômeno relativo à hibridização ou mescla de gêneros é chamado de
intertextualidade intergêneros.
De acordo com Koch, (2010, p. 114), a hibridização ou intertextualidade
intergêneros é o fenômeno segundo o qual um gênero pode assumir a forma de um
outro gênero, tendo em vista o propósito de comunicação. Este fato pode ser
verificado em anúncios, tirinhas e até mesmo em artigos de opinião.
2.4.6 Gêneros Textuais e Heterogeneidade Tipológica
A noção de gênero não pode ser confundida com a noção de tipo. Os
gêneros são organizados por sequências diferenciadas chamadas tipos textuais.
Partindo desse pressuposto, Adam (1991 apud KOCH, 2010, p. 119) afirma que uma
narrativa ou uma descrição diferem uma da outra e também de outras narrativas e
outras descrições.
As sequências reconhecidas como descritivas, por exemplo, apresentam
características do conjunto que contribuem para que o leitor se familiarize ao
reconhecê-las como sequências descritivas mais ou menos típicas, com estruturas
mais ou menos usuais.
Adam (1991 apud KOCH, 2010, p. 119) propõe situar a tipologia de
sequências em um conjunto mais amplo e complexo dos planos de organização da
textualidade. Concebendo o texto como uma estrutura sequencial heterogênea, o
autor afirma ser possível observar a diversidade e a heterogeneidade do texto bem
como definir linguisticamente alguns aspectos dessa complexidade.
Já Marcushi, (2005 apud KOCH, 2010, p. 119), afirma que os “tipos
textuais constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados e não são
textos empíricos.” Os tipos, teoricamente, são nomeados como narrativos,
descritivos, argumentativos, expositivos ou injuntivos. O autor ainda destaca que os
gêneros textuais são constituídos por dois ou mais tipos em geral. A presença de
vários tipos textuais em um gênero é chamada de heterogeneidade tipológica.
Portanto, é perfeitamente possível um gênero textual ser composto por diferentes
tipos textuais.
O estudo dos gêneros representa uma contribuição das mais importantes
para o ensino da leitura e redação. Porém, nossos alunos só serão capazes de
perceber o jogo que normalmente se faz por meio de manobras discursivas, quando
dominarem os gêneros mais usuais do dia a dia.
2.4.7 Gêneros do Narrar
A obra narrativa pode ser definida como o relato de um enredo imaginário
ou não, situado num tempo e num lugar determinados envolvendo uma ou mais
personagens. Quanto à estrutura, ao conteúdo e à extensão, as obras narrativas
podem ser classificadas em romances, contos, novelas, poemas poéticos, crônicas,
fábulas, etc.
A narração é um modo de organização de texto cujo conteúdo está
vinculado, em geral, às ações ou acontecimentos contados por um narrador. Para
construir esse tipo de texto, é preciso explorar os elementos da narrativa. Há sempre
uma voz que conta a história, isto é, tudo na narrativa depende do narrador. De
acordo com suas intenções, um narrador é capaz de fornecer ao leitor informações
sobre os fatos narrados. É ele que mostra o que está acontecendo, atuando como
intermediário entre a ação narrada e o leitor.
O narrador pode ser um dos personagens, expondo o que presencia em
primeira pessoa. Pode expor a ação como quem a observa de fora, utilizando para
isso a terceira pessoa. No primeiro caso, o narrador transmite para o leitor apenas
os fatos que consegue observar. O segundo caso pode ser onisciente, não participa
da história, mas faz várias intervenções com comentários e opiniões acerca das
ações das personagens. Neste caso, o foco narrativo é em terceira pessoa.
Personagens são seres imaginários que estão envolvidos na história e
que realizam ou sofrem as ações narradas. Os personagens são criados para
representar os diferentes tipos de pessoas. Suas características são identificadas
por meio de descrições físicas e psicológicas.
Os acontecimentos se desenvolvem em torno de um personagem
principal, chamado protagonista, e um antagonista, personagem que tenta impedir o
protagonista de realizar seus propósitos. Ao lado deles, agem os adjuvantes ou
coadjuvantes, personagens secundários. Em alguns casos, protagonista e
antagonista não são indivíduos, mas sim grupos.
Toda narrativa envolve ação, movimento. E a sequência dos
acontecimentos constitui o enredo. Numa narrativa, costuma-se passar de um
estado inicial e equilíbrio para um estado final em que, depois de uma série de fatos
e acontecimentos, se restabelece o equilíbrio (diferente ou não do equilíbrio inicial).
Dessa forma, é comum que um texto narrativo apresente a seguinte estrutura:
Apresentação: É a parte do texto em que são apresentados alguns
personagens e expostas algumas circunstâncias da história, como o
momento e o lugar em que a ação de desenvolverá. Cria-se, assim, um
cenário e uma marcação de tempo para os personagens iniciarem suas
ações. Nem todo texto narrativo tem esta primeira parte, há casos em que
já de início se mostra a ação em pleno desenvolvimento.
Complicação: É a parte do texto em que se inicia propriamente a ação.
Por algum motivo, acontece alguma coisa ou algum personagem toma
uma atitude que dá origem a transformações no estado inicial, expressas
em um ou mais episódios. Encadeados, esses episódios se sucedem,
conduzindo ao clímax.
Clímax: É o ponto da narrativa em que a ação atinge seu momento crítico,
tornando inevitável o desfecho.
Desfecho ou desenlace: É a solução do conflito produzido pelas ações
dos personagens. Restabelece-se o equilíbrio. Contudo, nem sempre o
enredo tem um desfecho claro. Muitas vezes uma possível solução fica no
ar e cabe ao leitor imaginar possíveis soluções.
Nem sempre a narração apresenta os fatos numa sequência temporal
(cronológica), isto é, nem sempre os fatos são apresentados numa progressão do
primeiro ao último. Por isso, é importante fazer a distinção técnica entre a história (a
sequência temporal dos fatos) e a trama (a sequência em que o narrador apresenta
os fatos).
O narrador pode dispor os fatos nas mais diferentes ordens. Ele pode, por exemplo, apresentar os acontecimentos em sua ordem inversa. Pode ainda narrar em idas e vindas, isto é, ir apresentando uma situação atual, intercalando nela, fatos ocorridos no passado, e é a progressiva combinação de ambos os eixos que vai compondo o desfecho do problema que sustenta o enredo. (FARACO, 2005, p. 44)
Espaço é o lugar onde ocorrem os acontecimentos. A sua descrição pode
indicar a condição social dos personagens, pode caracterizá-lo como elemento
estruturador do conflito, pode contribuir para tornar uma narrativa engraçada,
misteriosa, irônica, triste, lúgubre, trágica, etc. Muitas vezes, é o espaço que
determina o envolvimento do leitor com a história.
Toda narrativa tem uma duração, ocorre num certo segmento de tempo.
Tempo, quando cronológico, ou seja, aquele medido em anos, meses, semanas,
dias, horas, minutos, indica a ordem em que as ações acontecem. Há também o
tempo psicológico, que depende da percepção de cada um. Por exemplo: ao fazer
algo que lhe agrada, o tempo parece passar depressa, mas se faz algo de que não
gosta, o tempo parece passar lentamente.
Muitas vezes a localização em uma época é clara, em outras, é apenas
sugerida por meio de pistas, como costumes e comportamentos, linguagem usada
pelos personagens, utensílios, vestuário, etc.
2.4.8 Gênero Fábula – Contexto Histórico
De acordo com Coelho (1982, p. 77-8), o termo fábula, de origem latina e
grega, significa “dizer, contar algo”. Segundo a autora, é uma narrativa de natureza
simbólica, de uma situação vivida por animais, que alude a uma situação humana e
tem por objetivo transmitir certa moralidade. Com isso torna-se clara a ideia de que o
gênero fábula tem a sua origem assegurada na tradição oral.
Esse gênero surgiu no oriente, mas somente no século VI fábulas
muito antigas foram difundidas na Grécia, por meio de um suposto escravo grego
chamado Esopo. Não há provas que confirmem realmente a existência do fabulista,
pois não há registro escrito, suas histórias foram transmitidas oralmente. A lebre e a
tartaruga, A raposa e as uvas, A galinha e os ovos de ouro são algumas das muitas
narrativas que ele criou.
No século I d.C., Fedro, um escravo romano enriqueceu
estilisticamente esse gênero, iniciando assim os registros das narrativas de Esopo.
Fedro redigia suas próprias fábulas usando a sátira para criticar os costumes e
personagens da época. Suas fábulas são muito conhecidas, dentre elas: A rã e os
bois, O lobo e o cordeiro.
Nos anos de 1600 (século XVII), surge o escritor francês Jean de La
Fontaine, um nome muito importante na esfera do gênero fábula. Considerado o pai
da fábula moderna, reescreveu e adaptou as fábulas de Esopo e criou novas
histórias. Utilizava a ironia em suas fábulas para denunciar as misérias e as
injustiças de sua época. Seguiu o estilo de Esopo ao falar sobre a vaidade,
estupidez e agressividade por meio de animais. La Fontaine escreveu suas fábulas
em linguagem simples e atraente, as quais logo conquistaram seus leitores. La
Fontaine também usou os versos para escrever suas histórias. Sobre a natureza da
fábula declarou: “É uma pintura em que podemos encontrar nosso próprio retrato”.
Algumas fábulas escritas e reescritas por ele são: A cigarra e a formiga, O leão e o
rato, A raposa e a cegonha.
No Brasil, Monteiro Lobato foi um dos escritores mais importantes.
Reescreveu antigas fábulas e criou outras novas. Escreveu tanto para adultos como
para crianças, porém foram suas histórias infantis que o tornaram famoso. Dedicou-
se a um estilo de escrita com linguagem simples, em que a realidade e a fantasia
estão próximas. É considerado o precursor da literatura infantil no Brasil. Escreveu O
Sítio do Picapau Amarelo, criando os personagens: Narizinho, Pedrinho, Visconde
de Sabugosa, Tia Anatácia e Dona Benta. No livro “Fábulas”, o autor recria e reconta
fábulas de Esopo, de La Fontaine além de contar suas próprias fábulas. A
preocupação em preparar as crianças para a vida em sociedade está presente em
quase todos os seus livros.
Assim, este estudo será desenvolvido de acordo com o seguinte
cronograma:
LEITURAS E ANÁLISES DA FÁBULA “A RAPOSA E AS UVAS”
CRONOGRAMA DA UNIDADE DIDÁTICA
CONTEÚDOS AULAS
OFICINA 1 – PARÁFRASES
APRESENTAÇÃO DO GÊNERO / LEITURA DE FÁBULAS 1 e 2
A HISTÓRIA DAS FÁBULAS 3 e 4
CONHECENDO O GÊNERO 5, 6, 7 e 8
A RAPOSA E AS UVAS – ESOPO 9, 10 e 11
A VERSÃO DE LA FONTAINE 12, 13 e 14
A VERSÃO DE MONTEIRO LOBATO 15, 16 e 17
OFICINA 2 - PARÓDIA
A VERSÃO DE MILLÔR FERNANDES 18, 19, 20 e 21
OFICINA 3 – LEITURA E PRODUÇÃO
LEITURA DE PARÁFRASES E PARÓDIAS 22
PRODUÇÃO ESCRITA DE PARÁFRASES E PARÓDIAS 23 e 24
REFACÇÃO DOS TEXTOS PRODUZIDOS PELOS ESTUDANTES 25, 26 e 27
REESCRITA DOS TEXTOS PRODUZIDOS PELOS ESTUDANTES 28 e 29
ORGANIZAÇÃO DO LIVRO: FABULANDO DE ESOPO À MILLÔR 30, 31 e 32
Oficina 1 - Paráfrases
Aulas 1 e 2
APRESENTAÇÃO DO GÊNERO
LEITURA DAS FÁBULAS
(vídeos e impressos)
Professor (a),
Neste primeiro momento, explique aos alunos todas as etapas do projeto, desde o ponto de partida ao ponto de chegada.
Conceitos de Paródia e Paráfrase
PARÓDIA
A origem do termo paródia é grega, que significa canto paralelo (de para = “ao
lado de” e ode = “canto”). Isto resulta a ideia de uma canção a ser cantada ao lado
da outra, ou seja, uma espécie de contracanto, o que nos leva a crer que a origem
seja musical.
Tynianov (1919) e Bakhtin (1928) consideram a paródia um trabalho que
compreende em reunir partes diferentes de uma obra ou de diferentes artistas.
Tynianov ampliou o conceito de paródia quando realizou estudos com o
conceito de estilização. Embora as duas estejam interligadas, estabelecem
ideologias diferentes. Na paródia há uma espécie de texto paralelo ao texto matriz;
normalmente, é feita com intenção de satirizar, ridicularizar as ideias do texto
original, mas pode servir somente para apresentar uma ideia contrária daquela que o
original defende. Nesse sentido, uma paródia de uma tragédia será uma comédia e
a paródia de uma comédia pode ser uma tragédia.
(SILVA, Liana Maria Fonseca da. Projeto de Intervenção Pedagógica. A fábula como
estratégia para o aprimoramento da leitura no ensino fundamental. PDE/2012)
PARÁFRASE
De acordo com Sant’Anna (1998, p. 17), paráfrase é a reafirmação, em
palavras diferentes, do mesmo sentido de uma obra escrita; pode ser uma afirmação
geral da ideia de uma obra como esclarecimento de uma passagem difícil. Em geral,
ela se aproxima do original em extensão.
O termo “para-phasis” vem do grego e significa: continuidade ou repetição de uma sentença. Na paráfrase existe uma concordância com o texto original que faz com que suas ideias e formas sejam reproduzidas e respeitadas. Quando usamos citações para validar um argumento num texto, fazemos uma paráfrase.
(SILVA, Liana Maria Fonseca. Projeto de Intervenção Pedagógica. A fábula como
estratégia para o aprimoramento da leitura no ensino fundamental. PDE/2012).
Expectativas de aprendizagem
Conhecer a proposta pedagógica.
Fazer leitura de diferentes fábulas.
Reconhecer a estrutura, o contexto e as características desse gênero.
Atividades
Antes de apresentar a leitura de fábulas, faça um diagnóstico para verificar o
conhecimento dos alunos em relação ao gênero fábula, distribuindo um questionário
para ser respondido individualmente.
Você gosta de histórias?
Que tipo de história você prefere ouvir ou ler?
Você sabe explicar o que é uma fábula?
Cite alguns títulos de fábulas que você já conhece.
Escolha uma dessas fábulas que você citou e faça um pequeno resumo.
Quem escreveu as fábulas?
Para que servem?
Quando surgiram?
Qual é o primeiro e mais importante autor de fábulas?
Que outros fabulistas se destacaram?
Geralmente, qual é o suporte e o veículo de circulação das fábulas?
Leitura
Os alunos assistirão aos vídeos: O leão e o rato
fonte: http://www.youtube.com/watch?v=6d8HKhV7FKQ&playnext=1&list=PL8F72E90B9A1B64EA&feature=results_main
A lebre e a tartaruga
fonte: http://www.youtube.com/watch?v=OLoh42zGjQQ
Professor(a),
Procure verificar as impressões dos alunos, fazendo alguns questionamentos sobre as histórias. A seguir, os alunos farão a leitura de várias fábulas. Para realizar a atividade, os alunos se organizarão em grupos. Serão distribuídos trechos com os quais eles montarão os textos de acordo o sentido e coerência.
ATIVIDADE ESCRITA:
1. Após ler atentamente as fábulas, observe as características comuns entre os
textos, escrevendo (V) para verdadeiro e (F) para falso.
( ) Presença de animais com características humanas nas histórias.
( ) Há príncipes e princesas.
( ) Os textos são curtos.
( ) Têm castelos e fadas.
( ) Os textos, ao final, apresentam uma moral.
( ) O tempo e o lugar são indeterminados.
( ) Há diálogos entre animais .
( ) Narrador em 3ª pessoa.
( ) Jogo de valores opostos.
( ) São textos narrativos.
Atividade de pesquisa
Professor(a),
Para explicar melhor o que venha ser uma Fábula, oriente os alunos que
pesquisem na biblioteca ou na internet. Peça também que tragam textos
desse gênero para a próxima aula. (Para isso, entre em contato com a
bibliotecária para que os textos explicativos relativos ao gênero sejam
reservados e separados para os estudantes pesquisarem).
Oralidade
Respondidas as questões da atividade anterior, os alunos apresentarão suas
respostas para os colegas de classe.
Os estudantes deverão socializar as suas pesquisas.
Aulas 3 e 4
A HISTÓRIA DAS FÁBULAS
Professor (a),
Nesta etapa, converse com os alunos, ressaltando a importância do gênero
fábula como cultura oral e popular. Explique também a sua origem e
comente sobre os principais autores.
Expectativas de aprendizagem
Conhecer a origem da fábula, assim como a sua função na sociedade.
Conversando sobre as fábulas:
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=364&cat=Infantil&vinda=S
http://www.mundoeducacao.com.br/redacao/fabula.htm
http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/didaticos_fabulas.html
Professor (a),
É interessante que os alunos percebam que as fábulas continuam sendo
reproduzidas e reinventadas por autores contemporâneos. Por isso, peça
que cada grupo de alunos, pesquise a respeito dos autores: Esopo, La
Fontaine, Monteiro Lobato e Millôr Fernandes.
Formar grupos de alunos e cada grupo pesquisará a respeito de um autor.
Cada grupo expõe o seu trabalho para a classe.
Organizar um quadro com as informações dos autores pesquisados.
Aulas 5, 6, 7 e 8
CONHECENDO O GÊNERO
GÊNERO DO NARRAR
NARRAÇÃO: É o relato de um fato, de um acontecimento, em que atuam
personagens.
ENREDO: É a estrutura da narrativa, o desenrolar dos acontecimentos, “tecer”,
“entrelaçar os fatos”.
NARRADOR: É aquele que narra os acontecimentos. Quando o narrador participa
das ações como personagem, temos uma narrativa em primeira pessoa. Neste
caso, é importante notar que tudo o que o leitor sabe chega pelo olhar e pela
interpretação do personagem-narrador. Quando o narrador não participa dos
acontecimentos, mas observa tudo o que ocorre, temos uma narrativa em terceira
pessoa. Neste caso, o narrador sabe de tudo, “lê” inclusive sentimentos e
pensamentos dos personagens, sendo chamado de onisciente (aquele que tem
ciência de tudo).
FOCO NARRATIVO ou PONTO DE VISTA: Determinará o ângulo pelo qual o
narrador observará os fatos, por qual “modo de olhar” o leitor tomará conhecimento
deles.
PERSONAGENS: São os seres que atuam, que vivem os acontecimentos. O
personagem principal é o protagonista; aquele que se opõe ao protagonista é o
antagonista.
AMBIENTE: É o espaço, o cenário por onde transitam os personagens e se
desenrolam os acontecimentos.
TEMPO: É a época, o momento em que os fatos acontecem.
Fonte:
TERRA, Ernani e NICOLA, José de. Gramática, Literatura & Redação para o
ensino médio. São Paulo: Scipione, 1997.
Professor (a),
Apresentar aos estudantes o gênero conforme o quadro a seguir:
FÁBULA: gênero da ordem do narrar
CONTEXTO DE
PRODUÇÃO
Produtor: Escritores
Destinatário: Apreciadores de literatura/ficção – para
adultos e crianças.
Objetivos: Entreter. Levar à reflexão. Transmitir
ensinamentos. Levar à lição moral.
Local de Circulação: Obras Literárias Infantis. Obras
Literárias Infanto-juvenis. Obras Literárias. Livros
Didáticos. Internet.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Trata a respeito de atitudes humanas. Valores morais e éticos.
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
Foco Narrativo:
3ª pessoa (pronome pessoal do caso reto) Enredo:
Situação inicial
Complicação
Tentativa de Solução
Resultado Final
Moral
Elementos da Narrativa:
Narrador (narrador observador)
Personagens (quase sempre animais)
Tempo – Linear - cronológico
Espaço físico
Escrita:
Pode ser em verso ou em prosa.
MARCAS
LINGUÍSTICO-
ENUNCIATIVAS
Verbos: predomina pretérito perfeito e imperfeito e eventualmente pode-se encontrar o mais que perfeito do modo indicativo.
Pronomes: narração pode ser 1ª pessoa do singular, ou plural (pronome pessoal do caso reto).
Advérbios e locuções adverbiais.
Adjetivos e locuções adjetivas.
Sequências: narrativas e descritivas e argumentativas.
Escrita em prosa e em verso.
Discurso: direto, indireto.
Expectativas de aprendizagem
Conhecer o gênero de acordo com o contexto de produção, conteúdo
temático, construção composicional e marcas linguístico-enunciativas;
Processar a leitura do texto na versão de Esopo;
Realizar atividades de compreensão do texto.
Aulas 9, 10 e 11
A FÁBULA DE ESOPO
Professor (a),
Para desenvolver atividades de leitura, interpretação e análise linguística foi selecionada a fábula “A raposa e as uvas” em várias versões para que possam ser analisadas especificamente.
É muito importante discutir com a classe um texto de cada vez, destacando
a ideologia no qual está subtendida. Será que esse tipo de atitude só
acontece com a raposa?
Conta a História, que Esopo, um escravo grego, teria vivido na Antiguidade
por volta do século (VI a.c.). Esopo é considerado o primeiro fabulista, tendo
a sua obra como base para outros escritores. Não há provas que confirmem
que teria existido, pois não há nenhum registro. As fábulas de Esopo não
foram escritas por ele, foi o povo que se encarregou de transmiti-las ao
longo dos tempos, transformando-as em parte da tradição oral grega.
Dizem que Esopo tinha uma aparência muito feia, além disso, era gago,
corcunda e muito miúdo, porém muito inteligente. Todos admiravam o seu
bom senso e esperteza. Em muitas situações, costumava dar conselhos,
contando suas fábulas. Conta-se que seu dono encantado com suas
histórias decidiu libertá-lo. Assim Esopo teria viajado em busca de novos
conhecimentos e em cada lugar por onde passava contava suas histórias,
sempre tomadas de sentido e ensinamento moral.
De caráter moral, as histórias de Esopo procuram mostrar certas atitudes
humanas, como a disputa entre fortes e fracos, a esperteza de alguns, a
ganância, a gratidão, a bondade etc. Esses são alguns dos temas das
fábulas. Para isso, utilizava os animais para representar seus personagens.
Leitura
A Raposa e as Uvas
(Esopo)
Uma raposa solitária, há muito tempo sem comer e magra de fome, depois
de muito perambular chegou a um parreiral. As parreiras estavam cobertas de
frutos, com muitos cachos de uvas, cheios de uvas, cheios e maduros, prontos
para comer.
Como não havia ninguém à vista, a raposa entrou sorrateiramente no
parreiral, mas logo descobriu que as uvas estavam muito altas, pois os galhos das
plantas se enroscavam num alto caramanchão, fora do seu alcance.
Ela pulou, errou, tornou a pular; mas todos os seus esforços foram inúteis.
Cansada, a raposa começou a sentir dores pelo corpo, em resultado dessas
repetidas tentativas no sentido de matar a fome. Finalmente, frustrada e zangada, a
pobre raposa, depois de um último pulo, exclamou:
Ora, eu não quero mesmo essas uvas! Estão verdes, não prestam.
Moral da história: Quem desdenha quer comprar.
Fonte:
MATHIAS, Robert. Fábulas de Esopo. São Paulo: Círculo do Livro, 1983.
Professor (a),
Realizar a análise da fábula conforme o quadro apresentado abaixo.
FÁBULA DE ESOPO
A RAPOSA E AS UVAS
CONTEXTO DE
PRODUÇÃO
Produtor: Esopo
Destinatário: Textos, originalmente orais para adultos.
Objetivos: Levar as pessoas a refletirem acerca das
atitudes humanas.
Circulação: Entre as pessoas na modalidade oral de
geração em geração.
Época: séc. VI a.C.
CONTEÚDO
TEMÁTICO
Desprezo. Menosprezo.
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
Foco Narrativo:
3ª pessoa. Ex: “Uma raposa solitária (...) a raposa entrou (...)
Enredo:
Apresentação: Uma raposa solitária, magra e faminta, depois de muito perambular encontrou um parreiral.
Desenvolvimento: Encontra dificuldades: 1ª – O fato das uvas estarem muito altas. 2ª Não alcançou as uvas. 3º - Sentiu dores pelo corpo.
Desfecho: Frustrada e zangada, desistiu.
Moral: “Quem desdenha quer comprar”
Elementos da Narrativa:
Narrador (narrador observador): 3ª pessoa – ela
Personagens: Raposa
Tempo: linear – cronológico. Duração do momento em que se encontra perambulando, encontra o parreiral, a tentativa de conseguir as uvas e a desistência.
Espaço Físico: parreiral.
Discurso Indireto: “Uma raposa solitária (...)”.
Discurso Direto: “Ora, eu não quero mesmo essas uvas! Estão verdes, não prestam”.
MARCAS
LINGUÍSTICO-
Verbos:
Pretérito perfeito (m. Indicativo): entrou – descobriu – pulou – entrou – chegou - errou – tornou – foram – começou – exclamou.
Pretérito imperfeito (M. Indicativo): estavam – havia – enroscavam do modo indicativo.
Narração: 3a pessoa sing. – Ela (a Raposa)- (pronome pessoal do caso reto).
ENUNCIATIVAS Advérbios: Finalmente (advérbio – circunstância de conclusão).
Adjetivos:
Raposa: solitária – magra – cansada – frustrada – zangada – pobre.
Locuções Adjetivas:
o Parreira (de frutos)
o Cachos de uvas (cheiros e maduros)
o Uvas (verdes)
Sequências narrativas (ações verbais no tempo com a ideia de já ter acabado (Pretérito Perfeito) e ações não concluídas (Pretérito Imperfeito).
Sequências descritivas: caracterização da Raposa, dos cachos de uvas e das uvas.
Escrita em prosa: parágrafos – discurso direto.
Discurso Indireto: “Uma raposa solitária (...)”.
Discurso Direto: “Ora, eu não quero mesmo essas uvas! Estão verdes, não prestam”.
Atividades
Leia o texto e responda:
1. Que motivo levou a raposa ao parreiral?
2. No início do texto, o autor descreve a personagem revelando o estado que se
encontrava. Quais são as características atribuídas à raposa?
3. Na fábula de Esopo, a raposa faminta depara com cachos de uvas cheios e
maduros, prontos para comer. Por que razão então, a raposa disse que as
uvas estavam verdes?
4. “Como não havia ninguém à vista, a raposa entrou sorrateiramente no
parreiral”. O termo sublinhado significa: às escondidas, que age em silêncio
com muito pouco barulho. Se não havia ninguém por perto, por que a raposa
teve a preocupação de adentrar ao parreiral às escondidas?
5. Após várias tentativas sem sucesso, a raposa afirma que as uvas estavam
verdes e que só serviriam para os cães. Por que ela cita cães e não faz
referência a outro animal?
6. A raposa estava indo embora, quando de repente ouve um barulho de algo
caindo com o vento. Por que a raposa se volta rapidamente, se havia
desprezado as uvas, dizendo não querê-las mais?
7. No terceiro parágrafo, observa-se uma sucessão de ações da raposa na
tentativa de alcançar as uvas. Quais são essas ações?
8. No final da história, o autor descreve a personagem revelando os seus
sentimentos em relação ao seu mau desempenho. Como ela se sente?
9. Retire a moral da história e explique com suas palavras o que você entendeu.
10. Assinale o provérbio que se pode aplicar a esta fábula:
( ) Quem tudo quer nada tem.
( ) É fácil desprezar aquilo que não se pode alcançar.
( ) Quem espera sempre alcança.
( ) Falar é fácil o difícil é fazer.
11. Você concorda com a atitude da raposa na história? Justifique seu ponto de vista.
12. Na fábula, os animais estão representando os seres humanos. Você acha que esse tipo de atitude ainda pode ser encontrada nos dias de hoje?
13. Discurso direto é a representação textual da fala das personagens por meio do diálogo. É frequente o uso de verbos de elocução: dizer, falar, responder, perguntar, mandar, acrescentar etc., além do uso de travessões. Quando as falas das personagens são curtas, os verbos de elocução podem ser retirados. Reescreva do texto a frase onde aparece o discurso direto.
14. Discurso indireto apresenta o narrador transmitindo com suas palavras o pensamento ou fala das personagens. Reescreva um trecho da fábula que identifique a voz do narrador.
15. O narrador conta a história em:
( ) 1a pessoa ( ) 3a pessoa
16. Quanto ao foco narrativo, trata-se de um narrador:
( ) observador ( ) personagem
17. Leia as duas frases abaixo:
a) A raposa entrou sorrateiramente no parreiral, mas logo descobriu que as uvas estavam muito altas.
b) Ela pulou, errou, tornou a pular; mas todos os seus esforços foram inúteis.
Em ambos os períodos, a palavra mas expressa a ideia de:
( ) comparação ( ) oposição, contraste ( ) explicação
Aulas 12, 13 e 14
A VERSÃO DE LA FONTAINE
Professor (a),
As fábulas tornaram-se mais conhecidas no século XVII, através do escritor
francês Jean de La Fontaine, porque ele as escreveu em versos. Na época,
costumava-se declamá-las às pessoas, geralmente da alta sociedade, que
se reuniam para ouvi-las. La Fontaine é considerado o pai da fábula
moderna.
La Fontaine (1621-1695) usava a fábula em versos e em prosa para
denunciar as misérias e as injustiças de sua época. A partir desse período
as fábulas que anteriormente eram escritas para os adultos passaram a ser
adaptadas para crianças, retirando delas os elementos violentos e os
aspectos nocivos à educação.
Como La Fontaine reescreveu as fábulas de Esopo utilizando-se de verso,
trata-se de poemas compostos por versos, estrofes e rimas.
Expectativas de aprendizagem
Processar a leitura da fábula de Jean de La Fontaine.
Passar o texto de verso para prosa.
Leitura
A Raposa e as Uvas
(Jean de La Fontaine)
Contam que certa rapôsa,
Andando muito esfaimada,
Viu roxos, maduros cachos
Pendentes d’alta latada.
De bom grado os trincaria,
Mas sem lhes poder chegar,
Disse: “Estão verdes, não prestam,
Só cães os podem tragar!”
Eis cai uma parra, quando
Prosseguia seu caminho,
E, crendo que era algum bago,
Volta depressa o focinho.
(linguagem de acordo com o texto original, tradução de Bocage)
Fonte:
FONTAINE, Jean de La. Fábulas de La Fontaine. São Paulo: Edigraf, 1957.
Professor (a),
Passe para os alunos noções de versificação: Poesia / Poema / Verso /
Estrofe / Rima.
Atividades
Leia o texto e responda:
1. Reescreva o(s) trecho(s) que diferencia(m) da versão de Esopo.
2. Que diferentes sentidos da palavra “raposa” podem ser observados nas
duas expressões abaixo? Quais as palavras que sugerem esses diferentes
sentidos?
a. Narrativa de Esopo: “Uma raposa solitária...”
b. Narrativa de La Fontaine: “Contam que certa raposa...”
3. Relacione as colunas de acordo com o significado das palavras:
( 1 ) pendentes
( 2 ) esfaimada
( 3 ) trincaria
( 4 ) parra
( 5 ) bago
( 6 ) latada
( 7 ) grado
( ) parreira
( ) agradar
( ) fruto
( ) comeria
( ) suspensos
( ) esfomeado
( ) folha da videira
4. Reescreva o trecho do texto onde ocorre discurso direto.
5. Reescreva um trecho do texto que identifique o discurso indireto.
6. Embora não esteja explícito, como você descreveria a raposa na versão de
La Fontaine?
7. Explique o final da história na versão de La Fontaine.
8. Compare o desfecho da fábula entre as versões de Esopo e La Fontaine.
9. Reescreva na ordem direta os versos que se encontram na ordem inversa:
a) “...Viu roxos maduros cachos”
b) “Volta depressa o focinho.”
10. Na versão de La Fontaine, a moral está implícita, ou seja, não está
claramente identificada, como ocorre na versão de Esopo. De acordo com o
contexto que moral você daria para esta versão?
11. O poema de La Fontaine é composto de quantos versos e quantas
estrofes? Quantos versos formam cada estrofe?
12. Complete com as rimas encontradas no poema:
a. “Esfaimada” rima com: ________________
b. “Chegar” rima com: _______________
c. “Caminho” rima com: ______________
Análise da fábula: uma narrativa em verso.
Professor (a),
O quadro a seguir, é a orientação para o processamento da leitura com os
estudantes.
FÁBULA DE JEAN DE LA FONTAINE
A RAPOSA E AS UVAS
CONTEXTO DE
PRODUÇÃO
Produtor: Jean de La Fontaine
Destinatário: Textos para adultos com adaptações para as crianças.
Objetivos: Levar as pessoas a refletirem acerca das atitudes humanas.
Circulação: Textos escritos.
Época: séc. XVII (1.601-1.700)
CONTEÚDO
TEMÁTICO
Desprezo e desistência diante das dificuldades, antes
da tentativa de alcançar.
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
Poema:
Composição poética formada por:
Estrofes: 3 estrofes (4 versos cada)
Versos: 12 versos.
Rimas.
MARCAS
LINGUÍSTICO-
ENUNCIATIVAS
Diálogos entre os gêneros:
Literário poético (da ordem do narrar) e fábula.
Texto apresentado em verso, mas nele encontramos
elementos da narrativa. Por isso, uma narrativa em
verso - conforme enredo - elementos da narrativa e
moral de uma fábula:
Uma apresentação: “Contam que certa raposa”
Contam = indeterminação do sujeito e do tempo.
Desenvolvimento: A Raposa estava com fome. Viu os cachos maduros. Desejou. Encontrou dificuldade. Desprezou e desistiu.
Desfecho: Prosseguiu, mas quando caiu um bago,
voltou depressa.
Moral: “Quem desdenha quer comprar”
Elementos da Narrativa:
Narrador (narrador observador): 3ª pessoa – Ela
Personagens: Raposa
Tempo: Linear-cronológico – Duração do momento
em que avistou os cachos maduros e momento da
rejeição.
Espaço físico: parreiral.
Marca da presença do discurso direto no verso:
o Pelas aspas: “estão verdes, não prestam, / só cães os podem tragar!”
o Pelo verbo de elocução: disse.
Composição poética formada por:
o Estrofes: 3 estrofes (4 versos cada)
o Versos livres.
o Inversão de palavras:
“viu roxos maduros cachos
Pendentes de alta latada”
Ordem inversa da oração:
“volta depressa o focinho”
Rimas:
o Rima rica:
Esfaimada (adjetivo) ↔ latada (substantivo)
o Rima pobre:
Chegar (verbo) ↔ tragar (verbo)
Caminho (substantivo) ↔ focinho (substantivo)
Atividade de escrita em grupos
1. Passe o texto que está em verso para a prosa.
Professor (a),
Após a produção escrita dos estudantes, trocar os textos entre os colegas e
fazer a correção;
Passar no quadro um texto refeito, a fim de que os estudantes possam
realizar uma melhor avaliação do texto em verso para o texto em prosa.
Aulas 15, 16 e 17
A VERSÃO DE MONTEIRO LOBATO
Professor (a),
José Bento Marcondes Lobato (1882-1948) foi um escritor brasileiro que, por
volta de 1920-1940, escreveu para adultos e crianças. Suas incríveis obras
infantis o tornaram famoso, dentre elas está “O Sítio do Picapau Amarelo”
com as personagens: Narizinho, Pedrinho, Emília, Visconde de Sabugosa, Tia
Anastácia e Dona Benta. Dentre muitos livros, escreveu “Fábulas”, no qual
recria e reconta fábulas de Esopo e de La Fontaine, além de contar as suas
próprias. Monteiro Lobato utilizou as fábulas como forma de criticar e
denunciar injustiças e tiranias, mostrando às crianças a vida como ela é.
Fonte:
FERNANDES, Mônica Teresinha Ottoboni Sucar. Trabalhando com os gêneros do
discurso: narrar: fábula. São Paulo, FTD, 2001.
Expectativas de aprendizagem
Conhecer a estrutura da fábula por meio da leitura de diferentes autores.
Destacar o discurso ideológico presente no gênero fábula.
Compreender os implícitos no texto.
Leitura
A Raposa e as Uvas
(Monteiro Lobato)
Certa raposa esfaimada encontrou uma parreira carregadinha de lindos cachos maduros, coisa de fazer vir água na boca. Mas tão altos que nem pulando.
O matreiro bicho torceu o focinho.
─ Estão verdes ─ murmurou. Uvas verdes, só para cachorro.
E foi-se.
Nisto deu o vento e uma folha caiu.
A raposa ouvindo o barulho voltou depressa e pos-se a farejar...
Moral da história: Quem desdenha quer comprar.
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Fábulas. 33 ed. São Paulo: Brasilense, 1983.
Atividades
Leitura e comparações – Monteiro e La Fontaine
1. Releia o texto de La Fontaine e observe as semelhanças entre os dois
textos. Escreva as expressões usadas por ele que correspondam às
expressões de Monteiro Lobato:
Monteiro Lobato La Fontaine
esfaimada:
certa raposa:
lindos cachos maduros:
tão altos:
só para cachorros:
foi-se:
farejar:
2. No texto abaixo, sublinhe as palavras que Monteiro Lobato acrescentou à sua
versão, mas que não existem no texto de La Fontaine:
A Raposa e as Uvas
(Monteiro Lobato)
Certa raposa esfaimada encontrou uma parreira carregadinha de lindos cachos maduros, coisa de fazer vir água na boca. Mas tão altos que nem pulando.
O matreiro bicho torceu o focinho.
─ Estão verdes ─ murmurou. Uvas verdes, só para cachorro.
E foi-se.
Nisto deu o vento e uma folha caiu.
A raposa ouvindo o barulho voltou depressa e pos-se a farejar...
Moral da história: Quem desdenha quer comprar.
3. Monteiro Lobato procura ampliar o sentido de seu texto utilizando adjetivos que descrevem a personagem e enriquecem o enredo. Como ele caracteriza:
a) raposa:
b) cachos:
c) bicho:
d) uvas:
4. Compare os elementos da narrativa apresentados nas duas versões:
Esopo Monteiro Lobato
Personagem
Local
Reação da raposa, quando percebe que as uvas estão altas.
A reação da raposa quando cai algo da árvore.
Fala da personagem
5. Reescreva do texto um trecho em que aparece o discurso direto.
6. Retomando o mesmo trecho, passe para o discurso indireto.
7. “Matreiro” é a característica atribuída à raposa. Assinale a alternativa que
corresponde ao seu significado.
( ) forte e poderosa
( ) perigosa, ardilosa
( )astuta, experiente, inteligente
( ) mau e feroz
Atividade escrita
Professor (a),
Discuta com os alunos, questionando a intenção do autor em terminar a
história com o ponto de reticências. Qual a função desse sinal ortográfico?
Peça para que os alunos ampliem a história dando continuidade à narrativa
de Monteiro Lobato. É importante que eles demonstrem pontos de vista em
relação à atitude da Raposa.
Professor (a),
O quadro a seguir, é a orientação para o processamento da leitura com os
estudantes.
FÁBULA DE MONTEIRO LOBATO
A RAPOSA E AS UVAS
CONTEXTO DE
PRODUÇÃO
Produtor: Monteiro Lobato
Destinatário: Textos para crianças
Objetivos: Levar as crianças a refletirem acerca das
atitudes humanas.
Circulação: Livros de Literatura Infantil.
Época: 1.920-1.940
CONTEÚDO
TEMÁTICO
Desprezo e desistência diante das dificuldades, antes
da tentativa de alcançar.
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
Foco Narrativo:
3ª pessoa - “Uma raposa esfaimada encontrou uma parreira (...)
Enredo:
Apresentação: Certa raposa esfaimada encontrou
uma parreira.
Desenvolvimento:
1º - As uvas estavam muito altas - Dificuldade (complicação): “tão altos que nem pulando”.
2º - Desfez-se – “Estão verdes”.
3º - Foi-se
Desfecho: O vento fez uma folha cair e ela ouviu o barulho e voltou-se depressa.
Moral: “Quem desdenha quer comprar”
Elementos da Narrativa:
Narrador (narrador observador): 3ª pessoa – ela
Personagens: Raposa
Tempo: linear-cronológico (Duração do momento em que se encontra perambulando, encontra o parreiral, vê dificuldade, desiste, vai-se, mas retorna quando ouve um barulho).
Espaço físico: parreiral.
Discurso Indireto: “Certa raposa esfaimada (...)”
Discurso Direto: “ Estão verdes”.
MARCAS
LINGUÍSTICO-
ENUNCIATIVAS
Verbos:
Pretérito perfeito (modo Indicativo): encontrou – torceu o focinho – murmurou – deu o vento – folha caiu – voltou depressa. Pôs-se a farejar.
Narração:
3a pessoa do singular – ela (a Raposa)
(pronome pessoal do caso reto).
Advérbios: Certa - Indefinido
Adjetivos e locuções adjetivas.
Raposa (esfaimada)
Cachos (maduros, lindos, altos)
Uvas (verdes)
Sequências narrativas (ações verbais com a ideia de já ter acabado (Pretérito. Perfeito).
Sequências descritivas: caracterização da Raposa, dos cachos e da uva.
Escrita em prosa – parágrafos – discurso direto.
Discurso Indireto: “Certa raposa esfaimada (...)
Discurso Direto: “ Estão verdes”.
Oficina 2 - Paródia
Aulas 18, 19, 20 e 21
A VERSÃO DE MILLÔR FERNANDES
Professor(a),
Millôr Fernandes nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro e 1924. Ao longo da
sua carreira, desenvolveu diversas atividades, conseguindo exercer todas
elas com talento e criatividade. Foi jornalista, humorista, desenhista,
dramaturgo, tradutor e escritor. Autor de mais de 40 obras, Millôr era
frequentemente confrontado pela censura por conta do seu estilo singular e
polêmico. Suas marcas registradas eram valer-se do humor para criticar o
poder e corromper com padrões pré-estabelecidos. Apesar de ter falecido
recentemente, em março de 2012, Millôr sempre será lembrado por ter sido
uma figura autêntica, inconformada, desbravadora e revolucionária no
cenário cultural e intelectual brasileiro.
Como fabulista, publicou: Fábulas fabulosas (1964) e Novas fábulas
fabulosas (1978).
A versão da fábula “A raposa e as uvas” de Millôr Fernandes difere das
versões dos demais fabulistas na forma de narrar, no argumento, no
desfecho e na moralidade da fábula. As narrativas de Millôr são paródias,
contrafábulas que visam o humor, a irreverência e a ironia.Em suas histórias,
ele faz uso dos animais como personagens para representar as injustiças e
fraquezas dos seres humanos.
Expectativas de aprendizagem
Processar a leitura da contrafábula.
Identificar o discurso ideológico presente na paródia ou contrafábula.
Compreender os implícitos.
Leitura
A Raposa e as Uvas
(Millôr Fernandes)
De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os
tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia
por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto,
cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retestou o
corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não
conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo que tinha, não conseguiu
nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva:
“Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes.” E foi descendo, com
cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a
pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra,
perigosamente, pois o terreno era irregular e havia o risco de despencar, esticou a
pata e... conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu.
Realmente, as uvas estavam muito verdes!
Fonte:
FERNANDES, Millôr. Novas Fábulas Fabulosas. Rio de Janeiro: Desiderata, 2007.
Atividades
Leia o texto e responda:
1. Como o autor descreve o percurso que levou a raposa até o parreiral?
2. Qual a expressão utilizada no texto que indica o tempo de duração em que a
raposa esteve sem comer?
3. Como o autor caracteriza as uvas?
4. Reescreva o trecho do texto que comprova que a raposa calcula, planeja sua
ações, antes de colocá-las em prática?
5. Cite os verbos que fazem uma sequência de ações da raposa ao tentar
alcançar as uvas?
6. Qual é a reação da raposa diante da dificuldade de conseguir as uvas?
7. Reescreva o trecho em que a raposa desiste do seu plano de alcançar as
uvas.
8. Dentro do contexto da história, que siginificado pode ter a enorme pedra que
surge no caminho da raposa?
9. Julgar = imaginar, crer, supor. Qual o julgamento que a raposa fez das uvas
após ter fracassado na tentativa de alcançá-las?
10. Constatar = comprovar, verificar, certificar. Em que momento a raposa
constatou que as uvas estavam verdes?
11. Que diferentes características humanas podemos observar entre a raposa
da fábula de La Fontaine e a raposa da fábula de Millôr?
12. Retire do texto o trecho que é identificado como discurso direto. De que
forma o autor apresentou?
13. Existe outra forma de apresentar o discurso direto?
14. Retire o discurso direto do texto de Monteiro Lobato e reescreva da forma
apresentada por Millôr Fernandes.
15. Na sua opinião, qual é a melhor forma de separar o discurso direto do
discurso indireto?
16. Após essas respostas explique,qual é a função das “aspas”?
17. Que desfecho o autor dá para a sua história?
18. A frustração da raposa é atribuída a vários fatores. Assinale a alternativa
que não corresponde à sua frustração:
( ) a constatação que as uvas estavam verdes.
( ) ter se esforçado em vão.
( ) ter desistido diantes das dificuldades.
( ) não ter confiado em seu julgamento.
19. O que as atitudes da raposa revelam em relação a sua personalidade?
20. A narrativa de Millôr tem como intenção:
21. Por meio dessa narrativa de Millôr percebe-se que o narrador:
( ) Leva o leitor a refletir seu ponto de vista.
( ) Leva ao entretenimento.
( ) Transmite valores morais.
( ) Transmite ensinamentos.
22. Indique as circunstâncias das locuções adverbiais encontradas no texto:
De repente: ( ) tempo ( ) modo
Fome de quatro dias: ( ) tempo ( ) modo
Gula de todos os tempos: ( ) tempo ( ) modo
A perder de vista: ( ) tempo ( ) modo
Perigosamente: ( ) tempo ( ) modo
Com avidez: ( ) tempo ( ) modo
23. Retire a moral da contrafábula e explique o que você entendeu.
24. Releia as versões da fábula de La Fontaine e Millôr Fernandes e faça a
comparação, observando as diferenças entre os dois textos.
La Fontaine Millôr Fernandes
A personagem:
O local:
As ações da personagem:
A reação da raposa, ao perceber
que as uvas estão altas:
A reação da raposa, quando cai
algo da árvore:
A moral:
A fala da raposa:
25. Identifique as diferenças entre as duas versões colocando ( F ) para La
Fontaine e ( M ) para Millôr:
a) ( ) A narrativa é mais resumida.
b) ( ) A narrativa é mais detalhada.
c) ( ) O narrador caracteriza a raposa como esforçada.
d) ( ) O narrador caracteriza a raposa como preguiçosa e incapaz.
e) ( ) O narrador caracteriza a personagem como frustrada.
f) ( ) A voz que fala é a do narrador que não se preocupa com o pequeno
leitor.
g) ( ) A voz que fala é a do narrador onisciente, que se preocupa e mostra-
se mais consciente da presença do leitor.
h) ( ) O narrador especifica o tempo: “...fome de quatro dias...”.
i) ( ) O tempo é indeterminado, sem começo, meio e fim.
j) ( ) A moral está implícita, ou seja, ela aparece dentro da própria
narrativa.
k) ( ) A moral é explícita, ou seja, ela é claramente identificada.
l) ( ) O narrador não leva o leitor a uma reflexão em relação à atitude da
raposa.
m) ( ) O narrador leva o leitor a uma reflexão, expressando sua própria
opinião de forma irônica e irreverente.
n) ( ) O narrador não especifica o local onde se passa a história.
o) ( ) O narrador descreve o local onde se passa a história.
p) ( ) A narrativa é em forma de verso.
q) ( ) A narrativa é em forma de prosa
r) ( ) A narrativa é tradicional.
s) ( ) A narrativa é moderna.
t) ( ) Presença da intenção de transmitir ensinamentos.
u) ( ) Quase não existe a preocupação com ensinamentos.
Escrita
Professor (a),
Peça aos alunos que recontem a história fazendo alterações e acréscimos
no texto do Millôr.
Peça também que eles elaborem uma outra moral de acordo com o contexto
da história do autor.
Oralidade
Apresentação dos textos para a sala.
Gênero: Contrafábula
Professor (a),
O quadro a seguir é uma orientação para o processamento da leitura com os
alunos.
GENERO DA ORDEM DO NARRAR
CONTRAFÁBULA
CONTEXTO DE
PRODUÇÃO
Produtor: Escritores. Comediantes
Destinatário: Apreciadores de comédias, textos humorísticos e críticos, “fábulas” para adultos.
Objetivos: Entreter. Levar à reflexão por meio do humor e crítica.
Local de Circulação: Obras Literárias. Revistas. Jornais. Livros Didáticos. Internet.
CONTEÚDO
TEMÁTICO
Trata-se de modo humorístico a respeito de atitudes
humanas, valores morais e éticos que se encontram
nas fábulas tradicionais, alterando de modo irreverente
os seus sentidos.
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
Narrador: 3ª pessoa (pronome pessoal do caso reto)
Foco Narrativo: Narrador Observador
Enredo:
Apresentação
Conflito
Clímax
Desfecho
Moral
Elementos da Narrativa:
Narrador (narrador observador)
Personagens (quase sempre animais)
Tempo – Linear - cronológico
Espaço físico:
Escrita em prosa.
MARCAS
LINGUÍSTICO-
ENUNCIATIVAS
Verbos: predomina pretérito perfeito e imperfeito do modo indicativo.
Pronomes: 3ª pessoa do singular (pronome pessoal do caso reto).
Advérbios e locuções adverbiais.
Adjetivos e locuções adjetivas.
Sequências: narrativas e descritivas e argumentativas.
Escrita em prosa.
Discurso: direto, indireto.
ORDEM DO NARRAR
CONTRAFÁBULA
CONTEXTO DE
PRODUÇÃO
Produtor: Millôr Fernandes
Destinatário: Leitores de revistas e textos
humorísticos.
Objetivos: Fazer gerar o humor, a crítica e a formação
de opinião.
Local de Circulação: FERNANDES, Millôr. Novas
Fábulas Fabulosas. Rio de Janeiro: Deisderata, 2007.
CONTEÚDO
TEMÁTICO
A frustração
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
Narrador: 3ª pessoa (pronome pessoal do caso reto).
Ex: “De repente a raposa...”
Foco Narrativo: Narrador Observador.
Enredo:
Apresentação: A raposa tem fome de quatro dias e gula de todos os tempos saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral.
Desenvolvimento:
1º - Olhou e viu à altura de um salto os cachos de uvas.
2º - Armou o salto.
3º - Saltou.
4º - Caiu.
5º - Tentou de novo.
6º - Não conseguiu.
7º - Descansou.
8º - Encolheu mais o corpo.
9º - Deu tudo o que tinha.
10º - Não conseguiu e desistiu e desprezou.
11º - Desceu com cuidado e viu uma enorme pedra à sua frente.
12º - Empurrou a pedra.
13º - Trepou na pedra. Esticou a pata e conseguiu.
Desfecho: Não gostou do que conseguiu.
Moral: “A frustração é uma forma de julgamento tão boa quanto qualquer outra”.
Elementos da Narrativa:
Narrador (narrador observador)
Personagens (quase sempre animais): A raposa
Tempo: linear-cronológico (A duração do tempo de sair do areal do deserto, o encontro do parreiral, a dificuldade, as tentativas, a insistência e persistência até alcançar o objeto desejado).
Espaço físico: parreiral
Escrita em prosa:
Discurso Indireto: “De repente a raposa...”
Discurso direto: “Ah, também não tem importância. Estão muito verdes”
Verbos:
Predomina Pretérito Perfeito (saiu – caiu – olhou – viu - armou – retesou – conseguiu – descansou -
MARCAS
LINGUÍSTICO-
ENUNCIATIVAS
encolheu – desistiu – empurrou – trepou – esticou – colocou – cuspiu)
Pretérito Imperfeito do modo indicativo (descia – estavam)
Pronomes: 3ª pessoa do singular (pronome
pessoal do caso reto).
Advérbios e locução adverbiais:
o De repente (tempo)
o Fome de quatro dias (tempo)
o Gula de todos os tempos (modo)
o A perder de vista (modo)
o Perigosamente (modo)
o Com avidez (modo)
Adjetivos e locuções adjetivas:
o Raposa (esfomeada, gulosa)
o Uvas (grandes, tentadoras, gordas, redondas)
o Cachos (maravilhosos)
o Sombra (deliciosa)
o Uvas (verdes)
Sequências: narrativas e descritivas e argumentativas.
A argumentação esta marcada também pelo ponto de exclamação.
Escrita em prosa.
Discurso Indireto: “De repente a raposa...”
Discurso direto: entre aspas → “Ah, também não tem importância”
Implícito: Humor apresentado de forma sutil e irônica.
PRODUÇÃO
Oficina 3 – Leitura e Produção
Aula 22
LEITURA DE PARÁFRASES E PARÓDIAS
Professor (a),
Neste momento, os estudantes deverão fazer leituras de vários autores de fábulas com diferentes títulos.
Levar diversas fábulas para as leituras.
Organizar um ambiente diferenciado para leituras. Por exemplo, usar almofadas e tapetes em outro ambiente da escola (anfiteatro, sala de reuniões, etc.).
Expectativas de aprendizagem
Conhecer diferentes autores de fábulas.
Promover um momento de leitura mais descontraída.
Atividades: Livros e leituras sem cobrança.
Oralidade: Conversas espontâneas a respeito das leituras.
Aulas 23 e 24
PRODUÇÃO ESCRITA DE PARÁFRASE OU PARÓDIA
Professor (a),
Separar os alunos em duplas.
Distribuir as tarefas: produção de paráfrase ou uma paródia.
Conversar com os alunos ressaltando a importância do gênero fábula, a
estrutura, os personagens, o tempo, espaço.
Eles deverão escolher uma entre todas as fábulas lidas, a fim de parafrasear
ou parodiar – conforme a solicitação dada pelo professor.
Explique também que deverão escrever como autores dos seus textos.
Não se esqueça de avisar os estudantes que as paráfrases e as paródias
serão lidas pelos colegas da sala.
Expectativas de aprendizagem
Produzir textos escritos de acordo com o gênero solicitado: fábula, com as
devidas coesões e coerências.
Empregar corretamente os discursos: direto e indireto.
Caracterizar as personagens.
Pontuar devidamente.
Escrever de acordo com o contexto de produção, conteúdo temático,
construção composicional, marcas linguístico-enunciativas.
Aulas 25, 26 e 27
REFACÇÃO DOS TEXTOS PRODUZIDOS PELOS ESTUDANTES
Professor (a),
Separar as duplas e entregar os textos de uma dupla para outra.
Solicitar que façam a leitura e verifiquem se há compreensão, organização estrutural, discursos diretos e indiretos, pontuação adequada, bem como correção ortográfica.
Passar aos estudantes os critérios de correção.
Recolher os textos e fazer a verificação da correção com as devidas orientações, se necessárias.
Expectativas de aprendizagem
Refletir acerca da escrita.
Reescrever o texto.
Atividades
Os estudantes farão as leituras dos textos dos colegas, refletindo acerca dos erros e
acertos na produção do gênero fábula.
Aulas 28 e 29
REESCRITA DOS TEXTOS PRODUZIDOS PELOS ESTUDANTES
Professor (a):
Separar as duplas e entregar os textos que já foram corrigidos pelos colegas e pelo professor.
Solicitar que façam a leitura e reescrevam os textos de acordo com a forma, conteúdo e estilo.
Expectativas de aprendizagem
Formalizar a escrita da produção escrita da fábula como paráfrase ou
paródia.
Atividades
Os estudantes farão as reescritas dos textos dos colegas de acordo com o gênero
estudado e o tipo de composição solicitada.
Aulas 30, 31 e 32
ORGANIZAÇÃO DO LIVRO: FABULANDO DE ESOPO À MILLÔR
Professor (a),
Separar as duplas e entregar novamente os textos que já foram corrigidos e
reescritos, a fim de que façam as ilustrações.
Reunir os textos e organizar o pequeno livro com as produções dos estudantes.
Junto com a turma, escrever no quadro a introdução do livro.
Pode ser dividida a sala em grupos, a fim de que possam organizar o suporte, ou seja, o livro com todas as devidas partes: capa, folha de rosto, dedicatória, agradecimentos, índice, os textos e referencia bibliográfica.
Expectativas de aprendizagem
Organizar o livro produzido pelos estudantes – “Fabulando de Esopo à
Millôr”.
Atividades
Os estudantes em dupla devem organizar as partes que compõe um livro, ou seja, o
suporte para os gêneros textuais com que trabalharam neste projeto.
AVALIAÇÃO DO PRODUTO FINAL:
Agora que chegamos ao final do projeto, mostre o que você aprendeu a respeito
das fábulas.
1. O que é fábula?
2. Onde e quando surgiram as fábulas?
3. Qual é a sua função na sociedade?
4. Qual é o primeiro e mais importante fabulista?
5. Que outros fabulistas se destacaram?
6. Quais são as características comuns de uma fábula?
7. Qual é o suporte de circulação das fábulas?
8. Qual é a importância da moral na fábula?
9. O que é paráfrase?
10. O que é contrafábula?
11. Quais são os autores de contrafábulas mais conhecidos?
REFERÊNCIAS:
BAKHTIN, Mikhail. Os Gêneros discursivos. In: Estética da Criação Verbal. São
Paulo, Martins Fontes, 2000.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: língua portuguesa. Brasília, 1997.
COELHO, Nelly Novaes. A literatura infantil: história, teoria, análise: das origens
orientais ao Brasil de hoje. 2 ed. São Paulo: Quíron/Global, 1982.
FARACO, Carlos Alberto. Português: língua e cultura. 1a série. Curitiba: Base,
2005.
FERNANDES, Millôr. Novas Fábulas Fabulosas. Rio de Janeiro: Desiderata, 2007.
FERNANDES, Mônica Teresinha Ottoboni Sucar. Trabalhando com os gêneros
do discurso: narrar: fábula. São Paulo: FTD, 2001.
FONTAINE, J. de La. Fábulas de La Fontaine. São Paulo: Edigraf, 1957.
GERALDI, João Wanderley (org). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1999.
KLEIMAN, Angela. Oficina de Leitura: Teoria e Prática. 10 ed. São Paulo: Pontes,
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KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da leitura. 14 ed.
Campinas: Pontes, 2011.
KOCH, Villaça Ingedore, ELIAS Vanda Maria. Ler e Compreender os sentidos do
texto. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2011.
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo:
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LOBATO, Monteiro. Fábulas. 33 ed. São Paulo: Brasilense, 1983.
MARCUSHI, Luis Antônio. Gêneros textuais e ensino. In: Gêneros textuais e
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MATHIAS, Robert. Fábulas de Esopo. São Paulo: Círculo do Livro,1983.
PACHECO, Enilda. Carnavalização: um fenômeno de cultura popular. Revista
eletrônica Uninter.com [on line]. Curitiba: Grupo Educacional Uninter, 2006, nº 2, 2a
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d=4&id=35> ISSN 1809-549. Acesso em: 01 nov 2012.
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