os condenados da lepra

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JULIO CÉSAR DA COSTA E SILVA OS CONDENADOS DA LEPRA SANATÓRIO PADRE BENTO E O IDEAL POLÍTICO-CIENTÍFICO EM BUSCA DE UMA SOCIEDADE PURA, FORTE E TRABALHADORA NOS ANOS 30/40. Trabalho de conclusão de curso , entregue à Universidade Nove de Julho, para obtenção do grau de formação do curso de Licenciatura em História, sob orientação do Professor Mestre Lucio Menezes. SÃO PAULO 2014

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Page 1: Os condenados da lepra

JULIO CÉSAR DA COSTA E SILVA

OS CONDENADOS DA LEPRA – SANATÓRIO PADRE BENTO E

O IDEAL POLÍTICO-CIENTÍFICO EM BUSCA DE UMA

SOCIEDADE PURA, FORTE E TRABALHADORA NOS ANOS

30/40.

Trabalho de conclusão de curso , entregue à

Universidade Nove de Julho, para obtenção do

grau de formação do curso de Licenciatura em

História, sob orientação do Professor Mestre

Lucio Menezes.

SÃO PAULO

2014

Page 2: Os condenados da lepra

OS CONDENADOS DA LEPRA – SANATÓRIO PADRE BENTO E O IDEAL

POLÍTICO-CIENTÍFICO EM BUSCA DE UMA SOCIEDADE PURA, FORTE E

TRABALHADORA NOS ANOS 30/40.

RESUMO: Em 1930/40 sob o governo de Getúlio Vargas, milhares de pessoas foram

condenadas a exclusão social, devido não haver cura para uma doença denominada

lepra, o modelo escolhido foi a segregação, através da internação compulsória se

cometeu uma das maiores atrocidades em nosso país, em especial no estado de São

Paulo.

Para compreendermos melhor o porquê dessa decisão arbitrária é necessário

entender os panoramas político, econômico e cultural em que o Brasil vivia.

Era o período de avanços técnico-científicos, momento de arranjos políticos para

o que se chamou de formação da nação Brasileira.

O modelo liberal estava em crise e os ideais autoritários e Nazi-Fascista

ganhavam forças, o Brasil flertava com esse modelo ideológico que foi utilizado em

diversas aéreas e através do discurso de saúde pública que visava assegurar o bem estar

coletivo, condenou-se milhares de pessoas à internação compulsória e

consequentemente a exclusão social.

PALAVRA-CHAVE: Getúlio Vargas, Lepra, Segregadas compulsoriamente, Ideais

Nazi –Fascista, Formação da nação Brasileira e exclusão social.

ABSTRACT: In 1930/40 under the govemment of Getúlio Vargas, thousands of people

were condemned to social exclusion, because there is no cure for condition called

leprosy disease, the model chosen was segregation by compulsory hospitalization was

made one of the greatest atrocities in our country, especially in the state of São Paulo.

To better understand why this arbitrary decision is necessary to understand the

political, economic and cultural landscapes in which Brazil was.

It was the period of technological advances, time of political arrangements for

what is called the formation of the Brazilian nation.

The liberal model was in crisis and authoritarian ideals and Nazi-Fascist forces

gained, Brazil flirted with this ideological model that was used in several air and

through the public health discourse aimed at ensuring the collective well-being, was

Page 3: Os condenados da lepra

sentenced thousands of people to compulsory hospitalization and consequently social

exclusion.

KEY- WORDS: Getúlio Vargas, Leprosy, Segregated compulsorily, Nazi-Facistas

Ideals, Training of Brazilian nation and social exclusion.

Page 4: Os condenados da lepra

Introdução.

Conforme GARCIA1 os vinte anos entre o fim da primeira guerra (1919) e o início da

segunda (1939) foram marcados pelo crescimento avassalador do modelo autoritário Fascista e

Nazista que se contrapunham ao modelo liberal que estava em descrédito devido à crise em que

o modelo se encontrava, havia um grande consenso que a democracia liberal não passava de um

regime fantasioso incapaz de encontrar solução dos problemas da época, sendo o autoritarismo a

única forma de resolver essa questão.

Era necessário reconhecer a desigualdade entre os homens como condição natural de

todas as sociedades, esse repudio ao igualitarismo fazia com que o modelo fascista se opusesse

aos modelos comunistas e democráticos, além de prometer acabar com o desemprego, tanto o

fascismo como o nazismo vai servir de inspiração.

Admirador desse modelo autoritário Vargas sobe ao poder em 1930, no início o

governo tratou de se firmar, devido o cenário de grandes incertezas, que trouxe como

consequências uma estagnação no setor agrário, o que gerou uma grande crise e a ruína

de muitos fazendeiros, assim como à falência generalizada e demissões de funcionários

nas grandes cidades, entretanto para PRADO JR (1980) essa crise irá servir para o que

ele chamou de período de nacionalização do país, devido à necessidade de superar a

situação, pois até o momento o Brasil tinha sua economia baseada em exportação de

produtos primários, sendo o café o principal produto. O novo cenário revela a

necessidade de o país ter de produzir seus próprios bens de consumo, inaugurando

definitivamente o processo de industrialização no país e abrindo o leque de

possibilidades, gerando grandes debates sobre os novos rumos do país.

No plano político os Estados vitoriosos solicitavam maior autonomia já os

tenentes que apoiaram Vargas se opunham a essa ideia e apoiavam um governo com

poder centralizador, essa última ideia prevaleceu e com a dissolução do Congresso

Nacional Vargas assumia além do poder executivo, o legislativo, o municipal e o

estadual.

Essa situação centralizadora se agrava ainda mais em 1937, após o golpe os

partidos políticos e o parlamento foram abolidos, não havendo mais intermediários entre

o governo e as massas.

1 GARCIA, Bruno. O Outono da democracia. REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL,

Rio de Janeiro, Janeiro de 2013 N.88.

Page 5: Os condenados da lepra

Para governar os Estados eram nomeados interventores, homens de confiança do

presidente, que reproduziam nos Estados a determinação do Governo Federal.

O Estado Novo cria um sentimento de poder central sobre os Estados, surge uma

consciência nacional, a unificação da nação, para Vargas o progresso só seria possível

dentro da ordem, onde todos deveriam se doar em prol da nação,

Assim como na Alemanha e na Itália as ações nacionalistas do governo

brasileiro insistiam na formação da raça homogênea de um povo integral, preparado

para servir a nação, as minorias étnicas, linguísticas e culturais que estavam no país

eram tidas como ameaça a nação e questão de segurança nacional, dessa forma era

impossível formar um povo ou uma raça homogênea com deformidade, “os parias,

dentre eles os leprosos”, essas pessoas passaram a ser tratadas como questão de

segurança nacional.

Através do discurso de preservação da nação, cometeu-se uma das maiores

atrocidades no Brasil, inspirações nazifascistas e os ideais eugênicos que se restringiam

ao campo médico agora se expandem para a política, com uma ânsia de controlar os

corpos em busca de uma nação bonita e forte.

Os leprosos vão ser vistos como monstros que precisam ser apartados da

sociedade, diversas mudanças vão ser feitas e leis de profilaxia contra a lepra vão ser

aprovadas, criando um cenário de “Cruzada contra a Lepra” uma doença estigmatizante

que até então não tinha cura.

O modelo isolacionista se consolida e muitos radicais eugênicos utilizam do

tema lepra para justificar a sua postura através de discursos extremados como o caso do

arquiteto ADELARDO SOARES CAIUBY:

Um gesto violento do Governo Federal amparado na força e na dictadura, instituindo em vários pontos do Brasil zonas de concentração de leprosos, guarnecidas por um cordão sanitário, nas quaes os doentes vivam em liberdade, cuidando de sua vida como nós cuidamos da nossa2 (MONTEIRO apoud CAIUBY, P 160).

Caiuby representa toda uma tendência de sua época, admiradores do governo

autoritário que acreditavam que através de medidas políticas enérgicas poderia controlar

as doenças e endemias:

2 MONTEIRO, Yara Nogueira Op.cit.

Page 6: Os condenados da lepra

Basta-lhe o gesto violento de um decreto e tudo está resolvido [...] E realizado elle, o Brasil inteiro cobrirá de benção o dictador audaz que sauvou das garras da moléstia insidiosa, da apavorante Lepra3. (MONTEIRO apoud CAIUBY, P 161).

Os leprosos tornam-se os indesejáveis e por isso deveriam ser excluídos em

nome do bem estar e da paz, discurso que legitima e constrói razões para aplicação de

medidas de exceção.

Observa-se que o modelo político positivista vai amalgamar-se com o

cientificismo e ideal eugênico daquela época, onde a proposta “eugênica” (boa geração)

e as políticas de saúde pública visavam à manutenção do corpo sadio do trabalhador em

um momento em que a mão de obra era fundamental para industrialização do país e

consequentemente para os planos de modernização da nação.

EUGENIA E O DISCURSO CIENTÍFICO.

Tanto o Brasil como a America Latina vivia um desejo de transformação racial,

movimento diretamente ligado à busca por uma identidade que foi brutalmente

estereotipada pelos cientistas Europeus, que alegavam uma deterioração racial devido à

miscigenação PIETRA (2013), dessa forma, a América latina incluindo o Brasil vão

corroborar com essa nova teoria científica para o melhoramento da raça.

Para entender melhor como os ideais eugênicos se encaixam com o projeto de

nação forte de Vargas é necessário voltar alguns anos antes, precisamente no inicio do

século XX quando a eugenia vai surgir com força no Brasil.

Em 15 de Janeiro de 1918 é fundada a Sociedade Eugênica de São Paulo no

salão da Santa Casa de Misericórdia, seus membros em sua maioria eram médicos e

políticos, o presidente era o senhor Arnaldo Vieira de Carvalho diretor da Escola de

Medicina de São Paulo, o vice-presidente Belisário Penna diretor de Departamento de

Saúde Pública que no futuro não tão distante vai integrar o recém-criado Ministério da

Educação e da Saúde Pública, no governo de Getúlio Vargas, a Sociedade Eugênica

ainda contava com o secretário Renato Kehl, futuro genro de Belisário Penna e um dos

maiores propagandista e estudioso sobre o tema no Brasil, com diversos livros

publicados ao longo da sua vida, a associação estava em perfeito alinhamento com o

que havia de mais moderno na questão eugênica no mundo, segundo PIETRA:

3 Ibidem.

Page 7: Os condenados da lepra

Era a primeira associação do tipo na América Latina e foi fundada apenas dez anos após a equivalente sociedade britânica e seis anos após a francesa, o que sugere o quão atualizados estavam os médicos brasileiros em relação aos europeus. (DIWAN, Pietra. 2013: 97)

A Eugenia brasileira é resultado de uma demanda pela “medicalização da

sociedade” momento em que os médicos reclamam autoridade para junto de advogados

legislarem em prol a saúde pública, temas como disciplina, decadência social, controle,

ordem, faziam parte do discurso da elite médica da época.

Essa medicalização da sociedade esta associada ao contexto histórico do início

do século XX, precisamente em São Paulo onde o movimento operário estava atuante e

cujo controle era entendido como sendo competência da polícia, as elites médicas que

até então temiam apenas os elementos tidos como perigosos, “negros e mulatos” que

estavam passando por um processo de proletarização, agora a elite passava a temer

também a violência contida nos movimentos grevistas e vão transportar esse

comportamento social para o campo médico, cria-se então uma política científica que

pensará nos males do corpo e do como isso interfere na ordem social, esse discurso é

recebido de forma favorável pela imprensa que apontava a eugenia como sendo a nova

ciência capaz de salvar a nação e estabelecer uma nova ordem social, segundo PIETRA:

Sabe-se que é de grande importância a adesão da imprensa, pois os maiores representantes da comunidade médica publicavam nos jornais de grande circulação (Jornal do commercio, O Estado de S. Paulo, Correio Paulistano etc.). Esses artigos eram lidos pela elite em diferentes setores da sociedade com imensa repercussão e credibilidade”. (DIWAN, Pietra. 2013: 99)

O saneamento passou a ser visto como solução de diversos problemas, da

mortalidade infantil à insalubridade, para uma grande parcela da elite médica sanear era

eugenizar, os eugenistas realmente acreditavam que através de procedimentos técnicos

da medicina era possível resolver as questões sociais como crime, delinquência,

prostituição, alcoolismo, os médicos entendiam que esses fatores estavam ligados a uma

enfermidade mental e em 1922 fundam no Rio de Janeiro a Liga Brasileira de Higiene

Mental (LBHM) dentre os membros da liga encontrava-se médicos, educadores,

juristas, intelectuais, empresários e juristas.

A LBHM agia de acordo com os ensinamentos da Eugenia, pois era preciso

combater a sífilis, tuberculose, alcoolismo, doenças que eram consideradas

Page 8: Os condenados da lepra

degenerativas e que levavam o cidadão a miséria, empobrecimento e loucura, para os

psiquiatras miséria e loucura estavam no mesmo nível.

Muitos intelectuais da época também vão aderir aos ideais eugênicos, questões

sobre “a raça brasileira” estava em diversas obras, intelectuais como de Nina Rodrigues,

Oliveira Viana, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Roquette Pinto, todos eles

estavam alinhados com a ideologia da LBHM do branqueamento da população como

solução para a questão disgênica e a formação de um povo bonito, forte e saudável.

A LBHM era dividida entre radicais que defendiam as ações compulsórias que

pleiteavam uma legislação que permitisse separar os degenerados (miseráveis

portadores de moléstias infecto contagiosa, problemas mentais e criminosos) do todo

social, era preciso esterilizar essas pessoas evitando a prole e a contaminação da raça e

de outro lado encontrava-se os moderados que ancoravam suas questões nas causas

religiosas evitando assim a esterilização ou exame pré-nupcial, mas tanto radicais como

conservadores prevalecia o consenso do branqueamento da nação, crença herdada das

formulações europeias do final do século XIX, na década de 30 o poder público começa

endossar os ideais eugênicos e até mesmo patrocina-lo, para PIETRA:

A partir da virada da década de 1920 para a década de 1930, boa parte da LBHM passou a defender abertamente a radicalização das ações “antidegenerativas” [...] O benemérito Sr. Presidente da República prometeu tratar do assunto eugenia. A campanha eugênica começa a ser patrocinada pelos poderes públicos no Brasil. (DIWAN, Pietra. 2013: 104-105).

Com a chegada de Getulio ao poder Renato Kehl organizou a CCBE (Comissão

Central Brasileira de Eugenia) a exemplo da Sociedade Alemã de Higiene Racial

Todos esses métodos cientificistas do governo de Vargas servem para

justificar a intromissão e a intervenção do Estado tanto na vida pública como na vida

privada dos indivíduos, assim os eugenistas estão alinhados com o pensamento da

política pública do estado revelando-se totalmente autoritário, intervém no amor, no

trabalho, na política, no conjunto de relações sociais, sem permitir qualquer liberdade de

participação nas decisões, pois a justificativa estava na verdade absoluta da ciência. As

instituições autoritárias se multiplicaram, educação, segurança, saúde seguindo a prática

da segregação, exclusão, desigualdade de direitos de cidadania, pela condição

econômica ou por sua raça ou origem.

Page 9: Os condenados da lepra

MAS AFINAL O QUE É HANSENIÍASE?

Uma doença marcada pela discriminação e quase tão antiga quanto à

humanidade, devido ser tão carregada de preconceito mudou de nome, deixou de ser

conhecida como lepra e passou a ser chamada de hanseníase.

O Mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen é a

bactéria causadora da Hanseníase, o período médio de incubação varia de três a cinco

anos, o bacilo se manifesta na pele e nos nervos causando manchas e alteração na

sensibilidade4.

A transmissão da doença não depende somente da penetração do bacilo que é

capaz de atingir um grande número de indivíduos, mas da resposta que ele vai encontrar

no hospedeiro, já que cerca de 80% da população é naturalmente imune a doença, pois o

organismo resiste e destrói os bacilos. Já os que não possuem resistência (baixa

patogenecidade) podem apresentar maior, menor ou nenhuma resistência, quando a

resistência é alta desenvolve-se

formas benignas e localizadas da moléstia e quando não, formas mais

generalizada. MONTEIRO (1995).

O ministério da saúde classifica a doença da seguinte forma:

Hanseníase indeterminada ou precoce - (MHI)

Fase inicial da doença, caracterizada por manchas esbranquiçadas da pele com

alteração da sensibilidade. Não há bacilos e se tratada, não ira polarizar para forma

bacilíferas, quebrando a cadeia de transmissão da doença com o tratamento precoce.

Hanseníase tuberculóide – (MHT)

Forma não contagiosa e habitualmente estável, apresenta manchas avermelhadas

ou acastanhadas com bordas populosas elevadas ou descamativas com centro da lesão

mais deprimido. As lesões se distribuem pela pele de maneira assimétrica e em pequeno

número. A sensibilidade se apresenta alterada. Insensibilidade ao Calor – Dor – Tato.

Hanseníase virchoviana – (MHV)

Forma contagiosa, aparecimento progressivo de vermelhidão na pele de maneira

difusa e podendo atingir extensas áreas. Com a evolução da doença aparecem nódulos

que são os hansenômas.

4 Disponível em < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/61hanseniase.html >. Acesso em 26 Mar.

2014.

Page 10: Os condenados da lepra

Sem tratamento a doença evolui apresentando perda das sobrancelhas e cílios,

destruição da cartilagem nasal com desabamento do nariz, podendo ocorrer lesões no

nervo ótico, levado á cegueira. Esta forma apresenta alta concentração de bacilos,

sendo, portanto, a responsável pela cadeia de transmissão da doença.

Hanseníase bordeline ou diforma – (MHB)

É uma forma muito instável e pode assumir características de forma virchoviana

ou tuberculóide, podendo, portanto, ser bacilífera ou não5.

Todas as formas de hanseníase são curáveis, dependendo da administração

correta dos medicamentos específicos. O tratamento clássico denomina-se

POLIQUIMIOTERAPIA – (PQT). É a associação de 03 medicamentos, sendo que dois

deles impedem a multiplicação do bacilo (ação bacteriostática) e o terceiro mata o

bacilo (ação bactericida).

Com o emprego da poliquimioterapia não há mais necessidade de isolamento do

paciente e nem o seu afastamento do trabalho.

SENTENCIADOS PELA LEPRA.

A medida adotada para erradicar a doença em São Paulo era a internação

compulsória, em 31 de Dezembro de 1929 foi promulgada a Lei 2.416, onde qualquer

médico que diagnosticasse um caso de Lepra era obrigado a informar o Serviço Médico

Oficial imediatamente, após a notificação por escrito o tratamento e o doente passam a

ser competência do Serviço Médico Oficial e qualquer outro médico que não fizesse

parte do órgão oficial estava proibido de prestar qualquer tipo de consulta ou

assistência.

Não era somente o médico que deveria notificar os casos da doença, através de

campanhas em rádio, cinema, imprensa, gravuras, cartazes a população foi convocada e

estimulada a combater a Lepra, denunciando os casos da doença ou a suspeita dela, as

denuncias por parte da população poderia ser feita por escrito ou anônimas, essas

denuncias tinham grande aceitação e eram quase todas investigadas, porém, devido à

falta de orientação científica da população muitas denuncias de lepra era na verdade

outras doenças.

5 Para saber mais consultar controle da hanseníase: uma proposta de integração ensino-serviço.

Brasil. Ministério da Saúde, SNPES, Divisão de Dermatologia Sanitária, Rio de Janeiro, DNDS/NUTES,

1989, p15.

Page 11: Os condenados da lepra

Ao estimular a população a contribuir com o serviço profilático reforçou-se o

estigma sobre o doente transformando-o em um inimigo do Estado a ser combatido e

consequente mente o aumento do pânico sobre a doença.

Através do discurso oficial e com o passar do tempo à população adquiri um

olhar normalizador sobre as discriminações e abusos cometidos contra os doentes.

Ao ser condenado pela doença à pessoa adentrava em um novo mundo, ganhava

uma nova identidade, similar ao que acontecia com os Judeus na Alemanha Nazista, os

leprosos eram fichados e ganhava um número que os acompanharia para o resto da sua

vida.

O diagnostico era basicamente clinico uma vez que o exame baciloscópico não

identifica a forma benigna da doença, o médico da verificação tinha em suas mãos o

destino do doente, pois ao ser constatada a doença o paciente que já havia sido fichado

antes do exame era imediatamente enviado para um local de isolamento, muitas vezes

sem poder avisar mulheres, filhos ou parentes, os doentes que eram de outros estados e

não residiam em São Paulo a mais de 05 anos muitas vezes eram enviados para seus

Estados de origem, o I.P.L/D.P.L fichava o doente e entrava em contato com o Serviço

de Saúde Pública do Estado de origem do paciente, acertavam uma data e levava o

doente até a fronteira do estado competente e entregava o doente para á autoridade

sanitária competente.

No caso dos doentes de São Paulo ao adentrar aos hospitais Asilos seus direitos

individuais de cidadãos eram expropriados e suas vidas passam a ser regidas por uma

legislação especifica, deixavam de ser João, José, Maria, ou qualquer outro nome, para

ganharem uma nova identidade. “Leprosos” e suas famílias também ganhavam nova

identidade “Comunicantes” após a confirmação da doença a liberdade do doente era

retirada em nome do bem estar da coletividade e da ordem da Saúde Pública.

Ao receberem as denuncias iniciava-se a etapa denominada verificação, onde

funcionários do serviço profilático eram mandados para residência dos acusados, caso

não o encontrassem iniciava-se uma busca pelo doente que deveria a qualquer custo ser

levado para ser examinado.

A lei estipulava que fosse salvaguardada a identidade do doente, entretanto o

serviço não tinha nada de discreto e sigiloso, como muitas vezes o doente já sabia seu

destino final, muitos relutavam para fazer o exame, resultando em uma captura

ostensiva e policialesca, para isso o Estado de São Paulo contava com a tropa de choque

Page 12: Os condenados da lepra

do I.P.L/D.P.L que era composta de funcionários e de policiais que tinham permissão

para portar arma e capturar o doente a qualquer custo.

Os Guardas Sanitários eram aqueles que iam caçar os doentes, a internação do

doente era Lei, o não cumprimento ou a fuga do doente era considerada uma ameaça a

ser combatida, a lepra era uma guerra a ser vencida e através da força policial o doente

era capturado e levado para internação compulsória.

O processo de internação em massa foi doloroso e gerou inúmeros casos de

abusos, muitas pessoas que não possuíam a doença foram internadas erroneamente até

que se comprovasse a doença, em um mesmo local aprisionaram crianças, mulheres,

homens, jovens, velhos, tuberculosos, doentes graves com suspeitos de doença.

Em São Paulo o serviço de captura era feito através das “ambulâncias negras” ao

invés das ambulâncias na cor branca, utilizadas em outros serviços de saúde, segundo

Yara Monteiro:

“Esses veículos eram facilmente identificáveis, pois traziam

grafados de ambos os lados, e de forma bem visível, o nome do

serviço e a palavra “lepra”. A parte traseira era inteiramente fechada e

possuía apenas uma porta que era trancada pelo lado de forra, para

evitar possíveis fugas dos suspeitos.” (MONTEIRO, 1995: p 221).

A forma policialesca de captura, com armas e uma ambulância negra gerava na

população uma sensação de pânico e insegurança, reforçando a ideia de que o leproso

era perigoso e isso legitimava a ação do Estado em prol à segurança da coletividade.

Assim como no período medieval a queima roupas e vestuários dos doentes, foi

adotada como medida profilática, entretanto, muitas vezes esse método foi adotado no

momento de captura do doente, que ao realizar todos os exames era considerado sadio,

ou seja, não possuía a doença, porém ao retornar para sua casa já não possuía roupa,

colchão e outros pertences.

Na ânsia de evitar a exposição da família ou de proteger seu ente querido muitas

famílias adotaram como medida esconder os doentes, porém a doença ao se manifestar

provoca marcas impossíveis de esconder, isso gerava uma verdadeira caça aos doentes

como pode ser observado em depoimento através de uma carta de um doente

endereçada para o Jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro, uma vez que os jornais

de São Paulo compactuavam com as medidas adotadas e seria impossível a sua

publicação nesse Estado.

Page 13: Os condenados da lepra

“Ia eu distraidamente... quando sou suprehendido [sic]

por apitos policiais [sic] e gritos de prendam esse homem. O

fugitivo, cercado tem armas apontadas ao peito: - Não fuja que

atiramos! Os curiosos aproximam-se e os homens da lei

esclarecem: - É um leproso!

O pobre doente, acuado como uma fera não tenta resistir;

e exclama dolorosamente:

- Eu não matei! Eu não roubei! Não sou um criminoso!

Meus filhos passam fome... Quero apenas cuidar da minha

família, meu Deus!...”6 (MONTEIRO 1995: p. 222. Apud Jornal

Correio da manhã)

Outro modelo aplicado para a internação compulsória era o doente de livre e

espontânea vontade procurar a rede asilar, isso vai ocorrer com maior frequência após

os anos 40 com a descoberta e o tratamento com a sufa, mas nesse momento nosso

recorte vai até os anos 40, sendo esse assunto abordado quem sabe em um futuro

próximo.

Como abordado no capitulo II a questão cientificista e eugênica influenciava

diretamente as decisões e medidas adotadas pelo Governo de Getulio Vargas, uma

dessas medidas foi tomada em 1932, através do decreto 5493 que instituiu a

obrigatoriedade da carteira de saúde, necessária para se arrumar um emprego em

diversos setores sob administração da Inspetoria de Higiene do Trabalho, a filosofia do

serviço de saúde pública.

DISTORÇÃO DO MODELO NORUEGUÊS DE ISOLAMENTO E OS

MECANISMOS QUE LEVARAM AO MODELO PAULISTA DE SEQUESTRO

DA VIDA.

Em 1873 o norueguês G.H. Armauer Hansen descobriu o agente causador da

moléstia, o Mycrobacterium leprae , essa descoberta foi um divisor na história da lepra,

pois a doença deixava de ser considerada hereditária para ser considerada como

6 Jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 23 de maio de 1939.

Page 14: Os condenados da lepra

moléstia infectocontagiosa, porém, apesar da descoberta a corrente dos que acreditavam

na hereditariedade da doença continuou forte e defendida por diversos leprólogos, talvez

o fato da doença incidir com maior frequência dentro do mesmo grupo familiar

continuou a fomentar a ideia da hereditariedade.

Como Hansen acreditava na doença infectocontagiosa era necessário isolar o

doente já infectado, acreditava-se que essa medida contribuiria para diminuição da

endemia, essa medida defendida por Hansen levaria o nome de “Modelo Norueguês”

que foi apresentada como solução dos problemas, entretanto, há uma distorção nesse

caso, pois o isolamento defendido pelo médico norueguês era um isolamento dentro da

própria casa do doente e com auxílio dos familiares, através de uma ação educativa a

família era orientada a separar roupa, talheres, pratos, roupas de cama e nos caso mais

graves era oferecido abrigo nos hospitais onde o paciente voluntariamente decidia pela

internação. MONTEIRO (1995)

Quando os dados correspondentes ao resultado alcançado pelo modelo

Norueguês foram apresentados em congressos, associou-se o declínio da doença ao

isolamento dos pacientes, não associando o trabalho educacional que complementava o

tratamento, o modelo de isolamento foi disseminado e diversos países adotaram a

medida, inclusive o Brasil.

No Brasil devido às transformações ocorridas incluindo a criação do

Departamento Nacional de Saúde vai ter reflexo direto na área da hanseníase, com a

criação da INSPETORIA DE PROFILAXIA DA LEPRA, reformada em 1923 com o

Decreto n. 16.300 de 31/12/1923.

A inspetoria tinha por finalidade dirigir o programa profilático nacional,

entretanto, devido à autonomia dos Estados era vedado seu poder de execução,

entretanto foram estabelecidos acordos sanitários em que o Estado se comprometia a

respeitar e executar a Legislação Sanitária Federal, exceto São Paulo que vai adotar esse

acordo somente em 1925 através de um novo Decreto.

Devido crescimento da doença em 1924 São Paulo cria o seu Serviço de

Profilaxia Estadual, porém semelhante ao Federal, esse serviço em 1925 se transforma

em Inspetoria de profilaxia da lepra e vai aumentando sua área de atuação, criando uma

estrutura funcional definida que vai ser totalmente influenciada pelas questões políticas,

pois como inspetor chefe era indicado, cada um tinha uma postura política quanto à

internação compulsória que variava de governo para governo.

Page 15: Os condenados da lepra

Em 27/12/1926 através da Lei n. 2.169 estruturou-se O Modelo Profilático

Paulista que era a favor do isolamento dos doentes, foi durante esse período que inicia-

se a construção de grandes asilos no interior com a intenção de isolar a totalidade dos

doentes do Estado.

Cria-se as Inspetorias Regionais responsáveis pelo combate da hanseníase em

suas jurisdições, permitindo o uso de medidas repressivas quando necessária

O sistema era tão centralizado que as informações de qualquer doente do Estado

era armazenadas em um único arquivo localizado na cidade de São Paulo, isso permitia

total controle sobre a pessoa que se relacionava com o mundo da hanseníase, o arquivo

continha informações sobre os doentes, sobre suspeitos da doença e os chamados

comunicantes em 31/12/1929 a Lei n. 2.416 vai reestrutura o I.P.L e normatizar a vida

do interno no asilo, desde o momento da descoberta até sua morte, essa lei é

fundamental para se entender como o modelo paulista emerge e vai funcionar ao longo

dos anos. O modelo funciona como um tripé o ASILO é responsável pela internação do

doente, o DISPENSÀRIO é o local onde se identifica a doença e o PREVENTÒRIO era

onde se recolhia os filhos sadios de pais doentes ou nascidos nos asilos.

São Paulo é o único Estado a adotar um modelo de internação em massa, os

demais Estados preferem um modelo que siga as normas internacionais, mas brando.

A I.P.L em um prazo de 10 anos se transforma em um organismo poderoso,

organizado e politicamente forte, posteriormente denominado de D.P.L (Departamento

de Profilaxia da Lepra).

Na década de 30 com a chegada de Getúlio Vargas ao poder a ala que defendia o

isolamento compulsório chega ao poder da I.P.L/ D.P.L, houve muitas demissões e o

autoritarismo foi instalado de vez como modelo a ser adotado, essencial para o

exercício de funções de comando na tarefa profilática, é também nesse período que

Salles Gomes vai assumir o cargo de diretor geral. MONTEIRO (1995)

Gomes Salles assume a direção e implanta uma linha dura e centralizadora, alijando dos

cargos diretivos todos os partidários de medidas humanitárias, agora todas as decisões estão

centralizada nas mãos de uma só pessoa (o Diretor, no caso “Ele”), o serviço implantado tinha

que ser exemplar, o orgulho de São Paulo, esse modelo vai influenciar o restante do Brasil.

De acordo com o Decreto Estadual 5.965 de 30 e Junho de 19337 havia uma previsão de

6.900 caso de Lepra no Estado, Dr. Salles Gomes com requintes de crueldade e uma obstinação

ímpar queria eliminar o Estado desse mal, sendo assim, se impôs a isolar todos os doentes e

7 Decreto Lei encontra-se no Arquivo do Estado de São Paulo.

Page 16: Os condenados da lepra

internou até casos suspeitos que depois de internados receberam alta por não serem portadores

do bacilo.

Salles Gomes soube utilizar como ninguém o poder da caixa beneficente, dos prefeitos e

delegados dentro dos asilos, criando uma situação onde os internos vigiavam outros internos a

fim de receber regalias e chegar aos cargos tão almejados, esse modelo jogava doentes contra

doentes.

O Diretor da D.P.L sabia que não havia cura para doença naquele momento, então com

mãos de ferro executa o artigo 9º do Decreto n. 5.965 de 1933 isolando e condenando o doente a

separação de seus familiares, serviços e amigos, O Estado rouba a vida do cidadão que é

condenado a uma dura pena, por um crime que não cometeu, mas lhe foi imposto pela natureza,

a Lepra.

Indiferente aos problemas das acomodações para abrigar todos os doentes ou se as

condições de higiene eram no mínimo satisfatória aos asilados, Salles Gomes era implacável e

superlotou os asilos, transformando-os em verdadeiros guetos onde deixa nítido que a política

de isolamento tinha o objetivo de isolar o maior número de doentes possíveis para que

morressem dentro dos Auschwitz Brasileiro, quebrando assim a cadeia de contaminação.

Praticamente de forma ininterrupta Salles Gomes ocupou a diretória do D.P.L até 1945,

também nesse período por duas vezes se afastou para assumir o posto de Secretário de Educação

e Saúde.

No início o I.P.L (Inspetoria de profilaxia da lepra) era subordinada à Divisão de

Moléstia Infecciosa, um braço do Serviço Sanitário, como seu rápido crescimento o I.P.L deixa

de ser apenas uma simples inspetoria e em 1935 transforma-se no D.P.L, com enorme liberdade

e abrangência no Estado de São Paulo, Segundo Yara Monteiro:

“A Trajetória do D.P.L constitui-se em exemplo totalmente

atípico dos serviços de saúde, mesmo se comparada com outros

serviços encarregados de combate ás moléstias infectocontagiosas e

que demandavam, á época, algum tipo de isolamento, como era o caso

da tuberculose. Enquanto estes mantiveram dentro da Divisão de

Moléstias Infecciosas, o D.P.L se situava ao mesmo nível do

Departamento d Saúde. Desta forma, na secretária de Estado, havia

dois grandes serviços relacionados com a saúde: Um destinado apenas

para a “lepra” e outro que se encarregaria de todas as demais

doenças”. (MONTEIRO. 1995: p. 168)

O D.P.L assume tamanha importância que nem mesmo o Secretário de saúde do Estado

vai opinar sobre a questão da “Lepra”, em tese o diretor do D.P.L era indicado pelo secretário,

Page 17: Os condenados da lepra

mas como relatado anteriormente Gomes Salles ficou de forma ininterrupta até 1945 o que

demonstra que modificava-se secretário, mas o quadro do D.P.L permanecia inalterado.

O D.P.L gozava de grande prestigio junto ao Governos Estadual o que lhe garantia

grandes quantias orçamentárias, além de captar outros fundos juntos à União, aos Municípios e

á Sociedade.

Os mecanismos adotados por São Paulo permitiram sua independência em relação às

diretrizes impostas aos serviços profiláticos adotados nos demais Estados, adquirindo um perfil

próprio.

Para que São Paulo se tornasse um modelo único foi criado um mecanismo de controle,

onde todo o conhecimento sobre a lepra ficaria delegado ao I.P.L/D.P.L responsável pela

criação e formação de um quadro altamente técnico e influenciando de forma direta a criação

de Leis, segundo nossa autora:

“...as leis e decretos publicados em São Paulo relativos à

profilaxia da “lepra” estabeleceram como forma legal as concepções

do Serviço Oficial. Portanto, toda e qualquer concepção ou prática

divergente da pregada pelo I.P.L/D.P.L passava a ser considerada

“ilegal”. Com relação a “lepra”, a lei dispunha que tanto a doença com

o doente seriam de exclusividade do Serviço Oficial”. (Monteiro.

1995: p. 170).

Com essa medida ficava proibido que qualquer outro médico que não fosse do

serviço da I.P.L/D.P.L atendesse e cuidasse de casos da “Lepra” ficando estabelecido

que caso um doente ou suspeito se apresentasse a qualquer consultório do Estado, o

serviço oficial deveria ser notificado imediatamente se possível com o doente ainda no

consultório.

Essa restrição vai assegurar ao I.P.L/D.P.L total conhecimento sobre a doença,

restringindo esse saber a um grupo fechado e formando quadros técnicos especializados.

Outra medida importante para o controle total dos casos de Hanseníases foi

adotada pelo então diretor Salles Gomes ao proibir a participação de iniciativa na

construção e no auxilio dos doentes da lepra, agora apenas o serviço oficial poderia

manter os asilos para internação, com essa determinação os dois Asilos já construídos o

Santo Ângelo e o Aimorés deixam de ser controlado pelas associações e são de

responsabilidade do Estado.

Qualquer medida de interesse particular que não fosse aprovada pelo Serviço

Oficial era considerada uma afronta e atentatória à tarefa profilática.

Page 18: Os condenados da lepra

Salles Gomes conseguiu ter o total controle dos asilos e dos serviços profiláticos

do estado de São Paulo, o Diretor detinha em suas mãos a gerência da vida de todos os

doentes internados e de seus familiares, exemplo disso era a lei aprovada em São Paulo

que determinava que se o doente não fosse de São Paulo, ele deveria retornar ao seu

Estado de Origem para o tratamento, essa medida permitiu que o sistema de São Paulo

não sobrecarregasse.

Essas medidas foram fundamentais para legitimar o discurso oficial alicerçado

em toda uma herança cultural perpetuando uma estrutura montada e única onde a

centralização do saber e dos doentes tornou sólido o conhecimento sobre a doença e

para que essa engrenagem permanecesse azeitada era necessário formar novos médicos

dentro da filosofia isolacionista, por isso, os novos médicos eram recrutados no último

ano da faculdade de medicina ou recém formados, estes estagiavam junto ao D.P.L e

após o estágio eram contratados, participavam de congressos e reuniões organizados

pelo D.P.L onde era reforçada as ideias isolacionistas, através de pessoas convidadas, os

futuros hansenólogos acreditavam piamente que esse era o modelo ideal para

eliminação da endemia.

Aqueles que não concordavam com as medidas adotadas ou se recusasse a

cumprir quaisquer ordens eram considerados “inimigos da grande causa paulista” e

muitas vezes mandados para lugares longínquos ou removidos para postos de pouca

importância, ou em caso extremo a exclusão do médico, onde ele não poderia mais atuar

no campo de hansenologia, tendo que começar novamente alterando por completo a sua

formação especifica, o que inibia os divergentes e limitava a formação de um raciocínio

critico, porém mesmo com todas essas artimanhas havia aqueles com postura diferente,

que ao serem excluídos rumavam para vida acadêmica, transformando esse local em um

reduto oposicionista as medidas isolacionistas do serviço oficial.

O modelo centralizador do D.P.L refletia o modo de Governar de Getúlio

Vargas que consequentemente era replicado nos Estados através da indicação dos

interventores8, todo esse autoritarismo precisava ser legitimado, transvestido de um

serviço de saúde pública, onde a população comprasse a ideia de que o Estado estava

cuidando do bem estar coletivo e que as medidas adotadas eram justas e necessárias,

para que isso ocorresse era preciso criar um discurso oficial e como não poderia ser

diferente quem se encarrega de legitimar esse discurso é a imprensa.

8 Ver capítulo I - 1.2 O ESTADO NOVO E A MANIPULAÇÃO DAS MASSAS.

Page 19: Os condenados da lepra

Falar sobre a lepra rendia matéria, pois tratava-se de um assunto polêmico que

instigava a sociedade, qualquer assunto relacionado com a lepra, garantia espaço na

mídia, não a toa entrevistas, pronunciamentos, eventos científicos, festas eram

constantemente publicados, muitas vezes com uma boa dose de sensacionalismo.

A maior parte da imprensa adota o discurso oficial e em suas publicações deixa

claro sua predileção se referindo ao serviço oficial sempre de forma elogiosa, quando o

doente aceitava o tratamento se isolando do mundo era tratado com compaixão, caso se

rebelasse não aceitando o tratamento ou tentasse fugir era tido como perigoso, essas

matérias serviam para disseminar ainda mais o medo coletivo e consequentemente

vender mais jornais, porém, esse medo gerava repúdio aos doentes endossando por parte

da população as medidas adotadas pelo governo paulista, mas fora de São Paulo era

diferente a imprensa que conviviam com um modelo profilático diferente adotará outra

postura principalmente no Rio de janeiro que se tornou o espaço para critica ao modelo

paulista, divulgando carta de internos e outros materiais recusados pela imprensa de São

Paulo, sempre com grande sigilo para que os autores não recebessem represálias,

segundo Monteiro:

“... A imprensa paulista acabou, de certa forma, por

desempenhar ompapel de porta voz do grupo que cosntituia o D.P.L.

perante a opinião pública, contribuindo para manutenção do arbítrio e

para o fortalecimento das concepções herdadas sobre a periculosidade

do doente.” (MONTEIRO. 1995: p. 175)

Esses discursos serviram para reforçar e estigmatizar ainda mais a doença,

empurrando os doentes da lepra para um mundo isolado, medida que reforça a tese de

Jean- Jacques Coutrine que defende em seu trabalho o desaparecimento do mostro, onde

é abordada a transformação histórica ocorrida na sensibilidade do olhar do ocidente em

relação à deformidade, esse tema é o pano de fundo no filme “O homem elefante” onde

a personagem da Inglaterra vitoriana Jonh Merrick era uma das principais atrações de

um circo dos horrores devido sua deformação no rosto, até ser resgatada por um médico

que se sensibiliza com seu problema o leva para o hospital para ser tratado, para

Coutrine o monstro só pode usufruir de tratamento e da caridade da opinião pública se

ele desaparecer do olhar da sociedade, o amor pelo doente aumenta em proporção ao

seu distanciamento. (PIETRA: 2013. PP 134-135).

Page 20: Os condenados da lepra

SANATÓRIO PADRE BENTO.

O Sanatório do Padre Bento está localizado a apenas 20 km da cidade de São

Paulo, mais especificamente no bairro de Gopoúva em Guarulhos, devido seu fácil

acesso, seja por rodovia como por ferrovia o Governo decide adquirir o antigo hospital

psiquiátrico.

Desde a sua aquisição o Padre Bento é visto como um possível centro de

pesquisa de formação de profissionais na área da hanseonologia.

No dia 05 de Junho de 1931 inaugura-se o Sanatório Padre Bento, para lá foram

levados 83 doentes do bairro do Guapira9, porém, o Padre Bento nascia diferente dos

outros asilos colônias, para lá só eram levados os doentes assintomáticos, como uma

espécie de centro de triagem, pois quando o doente apresentava sintomas graves, era

removido para os demais asilos, não importando sua situação econômica.

Padre Bento era o cartão de visita da Inspetoria de Profilaxia da Lepra (mais

tarde denominada DPL – Departamento de Profilaxia da Lepra).

Em poucos anos Padre Bento se transformaria em uma pequena cidade, seguindo

o padrão arquitetônico dos demais asilos, com a compra da Chácara das Jabuticabeiras o

Padre bento chega a 23 alqueires bem cuidados.

Dentro dessa minicidade estava o mais luxuoso cassino entre todos os asilos,

possuía um campo de futebol de dar inveja aos melhores times da cidade, seu gramado

sempre verde e bem cuidado, a mureta circundando o campo e sua pista de atletismo, as

arquibancadas em preto e branco com o brasão SPB (Sanatório Padre Bento)

entrelaçado, servia de palco para as disputas dos times dos doentes internados no Padre

Bento e os campeonatos inter-sanatórios.

As ruas do Padre bento eram arborizadas e bem cuidadas, os jardins bem tratados e a

pérgola defronte à atual Avenida Emilio Ribas, era o recanto dos namorados, porém,

como em todos os asilos-colônia, os casais eram vigiados e sofriam restrições em seus

contatos físicos.

9 “Sanatório Padre Bento. Depto de Profilaxia da Lepra”. In: Revista Brasileira de Leprologia.

São Paulo, vol IV, Março, 1936. Nº1.

Page 21: Os condenados da lepra

ILUSTRAÇÃO 01 - PÉRGOLA ONDE OCORRIA OS ENCONTROS DE

CASAIS PARA NAMORAR OU RECEBER AS VISITAS DOS FAMÍLIARES.

Fonte: Arquivo do Instituto Butantã – Museu de Saúde Pública do Estado de São Paulo.

O Padre Bento era constituído de três pavilhões, ao centro o pavilhão central, à

esquerda o pavilhão lateral feminino e a direita o pavilhão lateral masculino. Os

pacientes que habitavam o quarto andar do pavilhão central eram denominados

moradores do pombal.

ILUSTRAÇÃO 02 – DORMITÓRIO COLETIVO.

Page 22: Os condenados da lepra

Fonte: Arquivo do Instituto Butantã – Museu de Saúde Pública do Estado de São Paulo.

Essa foto demonstra claramente a falta de privacidade do doente não havia lugar

para guardar seus objetos pessoais ou roupas, a cama e seu colchão era o único objeto

individual, aos recém-chegados era reservado os piores locais que com o passar do

tempo e de acordo com a função que fosse ocupando poderia galgar posições e obter

melhores instalações.

Como em uma cidade o Diretor do Sanatório indicava um prefeito que era

responsável pela administração dos serviços executados pelos internados, contratando

os empregados e demitindo-os ou providenciando sua transferência.

Para manter o controle do local era instituído o delegado e seus auxiliares que

deveriam vigiar e impedir fugas e aplicar castigos que julgassem procedentes tinham

sob sua responsabilidade as chaves da cadeia.

Estes dois cargos eram ocupados por doentes internados que geralmente eram

odiados pelos outros internos.

Em 1931 foi criada a Caixa Beneficente, onde conforme o estatuto o Diretor do

Asilo também acumulava a função de diretor da Caixa Beneficente com plenos poderes,

esse órgão tinha a função de levantar fundos, através de cartas enviadas às indústrias e

comerciantes da cidade de São Paulo que “generosamente” doavam a fim de manter os

“leprosos” longe de suas vistas, graças a esses fundos o Estado de São Paulo

economizou muito nas reformas e manutenção de prédios dentro do asilo, aqui

encontramos o primeiro ponto de intersecção, pois devido o discurso proferido pelo

Page 23: Os condenados da lepra

Estado, se estabeleceu um medo coletivo incluindo os empresários que doavam recursos

para que os parias da sociedade ficassem longe da vista de todos.

ILUSTRAÇÃO 03 - EDIFÍCIO PRINCIPAL DO SANTÓRIO PADRE BENTO.

Antiga construção do Sanatório São Paulo

Fonte: Arquivo do Instituto Butantã – Museu de Saúde Pública do Estado de São Paulo.

Como já citado o Padre Bento recebia apenas doentes assintomáticos após a

manifestação da doença ele tinha que partir, mas caso um doente de outro asilo quisesse

fazer o caminho oposto e ingressar ao Padre Bento era exigido pelo menos um ano de

internação nos demais asilos e 12 exames de baciloscopia negativos10 entretanto, esses

critérios poderiam variar caso o candidato à vaga do Padre Bento tivesse uma boa rede

de relacionamento como políticos, médicos que através de cartas de recomendações

enviadas para o I.P. L/D.P.L que prontamente eram atendidas, isso criou no Padre Bento

um conceito de local privilegiado dos demais asilos.

A direção do Padre Bento foi exercida pelo médico Lauro de Souza Lima que

manteve uma equipe fixa por décadas. O Doutor Lauro nasceu em Campinas onde

estudou medicina, em 1925 transfere-se para São Paulo assumindo o cargo de

dermatologista da Inspetoria da Lepra, ainda jovem recebe o convite do então Diretor

10 SCHUJAMAN, S – La profilaxis anti-leprotica em El Estado de São Paulo. Passim, Apud

MONTEIRO, Yara. OP. Cit.

Page 24: Os condenados da lepra

DR. Francisco de Salles Gomes a exercer a função de Diretor do Sanatório Padre Bento

de Guarulhos.

O interesse pela Lepra pediátrica fez com que o médico e agora diretor

direcionasse numerosas crianças para o Padre Bento alterando e criando uma

infraestrutura para atendê-las, as internações seguiam o mesmo critério dos adultos,

apenas doentes assintomáticos.

A dedicação e estudos do Dr. Lauro sobre a lepra conferiu-lhe uma série de

prêmios internacionais, sendo convidado a representar o Brasil na ONU onde

permaneceu por muitos anos, organizando serviços de leprosários em diversas partes do

mundo, principalmente na América Latina, Dr. Lauro nunca recomendou a internação

compulsória.

Com apoio do Rotary Clube e da elite da sociedade paulistana a caixa

beneficente arrecadou fundos para construção da enfermaria, gabinete dentário,

pavilhão para médicos, cassino, teatro, capela, parque de recreio, estádio de esporte,

arquibancada e até mesmo um pequeno zoológico, fotos da época demonstram o

cuidado na decoração e o luxo, entretanto nem todos os doentes tinham o direito a

usufruir dessa estrutura.

Padre Bento era realmente um cartão de visitas dentro da rede asilar, a intenção

era através da sua gestão e serviço impressionar os visitantes ilustres como políticos,

jornalistas e muitas vezes médicos de outros estados e países:

“O “Padre Bento” é um dos maiores centros de investigação

therapeutica e clínica de todos os países do mundo... ”11

A VIDA SOCIAL NO PADRE BENTO.

O Ser Humano tem grande capacidade de adaptação, em situações adversas se

molda a novos sistemas e modo de viver, criando condições necessárias para

transformar o meio em que vive e dando continuidade ao ciclo da vida, pensar diferente

disso é atribuir a todos os doentes internados o título de imbecis, lamentando a sua sorte

todo o tempo e esquecendo-se de viver.

11 “O Sanatório padre Bento foi visitado pelo presidente e secretário do Rotary Club” In: Diário

da Noite S. Paulo, 24/03/1941 Arquivo do Estado de São Paulo.

Page 25: Os condenados da lepra

Muito dos doentes após detectar a doença e ser internado eram aposentados ou

prestavam serviços para o Estado nos asilos, recebendo um salário a título de

laborterapia, o que lhe propiciava melhores condições de vida. Já os pacientes que

possuíam parentes financeiramente bem situados, levavam uma vida social dentro do

Padre Bento que fora dele seria praticamente impossível, com cinemas, bailes, futebol,

cassino, biblioteca, os cultos religiosos eram respeitados podendo ser frequentado pelos

doentes, independente da religião professada católica, protestante, centro espírita ou

qualquer tipo de culto.

Porém dentro do microcosmo social estabelecido no Padre Bento encontravam-

se de tudo, carolas, maníacos sexuais, espertos, tolos, egoístas, idealistas, inteligentes e

medíocres, professores e ginastas, aproveitadores, bajuladores e rebeldes.

O modelo de sociedade a ser copiado dentro do Padre Bento e dos demais asilos

era de uma cidade do interior, com direito a delegacia e prefeitura, entretanto, o órgão

mais poderoso dentro dos asilos colônias era sem dúvida a Caixa Beneficente,

arrecadando em nome dos doentes rios de dinheiro, propiciando a corrupção e deleites

de muitas pessoas como delegados, prefeitos e seus auxiliares, não muito diferente do

que ocorria fora dos muros do Sanatório.

A Caixa beneficente através do seu estatuto tinha a função de arrecadar fundos

para propiciar diversão e lazer aos internos, organizava quermesses, contratava

orquestras para os bailes de gala, patrocinava sessões de cinema e explorava o bar do

cassino.

A maioria dos internos após se conscientizarem da sua real situação e sabendo

que não haveria retorno, procurava romper suas ligações com o mundo fora dos muros

(esposas/os e filhos/as) se entregando e satisfazendo seus instintos sexuais em

prostíbulos internos ou arrumando amantes.12

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

O mundo criado dentro do Padre Bento e demais asilos era a reprodução e o reflexo de

uma nação fora dos muros, o cientificismo e as questões eugênicas estava em voga e

influenciavam as decisões dos governantes daquele período que nutriam grande

admiração aos ideais fascistas, caberia ao grande líder conduzir a nação ao progresso,

12 RUBIO, Arnaldo. EU DENUNCIO O ESTADO. Ed. do autor, 2007, Guarulhos – SP.

Page 26: Os condenados da lepra

através de uma ordem estabelecida, sendo isso somente possível através de um comando

forte e uma política policialesca.

Dentro desse conceito o Sanatório do Padre Bento e os demais asilos

representaram o sonho político da sociedade pura, forte, trabalhadora. Na busca desse

ideal criou-se um modelo estruturado capaz de identificar, capturar e excluir todos

aqueles que ameaçavam o bem estar da coletividade, para lograr êxito nessa empreitada

era necessário segregar e retirar de circulação os portadores do perigo.

As campanhas governamentais criaram e mexeram com o imaginário coletivo da

população, situações como pânico, preconceito, marginalidades foram promovidas e

incentivadas em relação ao leproso, esse discurso do ódio serve para a população apoiar

e legitimar o poder político e suas atitudes truculentas, no caso da lepra serviu para

captura e exclusão social do doente.

O modelo profilático trazia em si valores e concepções ideológicas, onde através

de normas se estabeleceu o controle das pessoas, as quais toda a vida era passível de

intervenção, que inúmeras vezes extrapolaram simplesmente o individuo, alcançando

seus familiares, pais, mães, cônjuge, filhos, entre outros, ultrapassando todos os limites,

tendo muitas vezes a pretensão de alcançar a posteridade, através de controle ou da eliminação

da prole, discurso muito utilizado na questão eugênica que acreditava que era necessário o

estado intervir esterilizando criminosos e doentes mentais e até mesmo impedir casamentos

daqueles considerados como degenerados, evitando assim a proliferação dos indesejáveis.

A Internação significou a morte civil, a ruptura com um mundo conhecido, com seus

familiares e amigos. A partir daquele momento ele teria que aprender a viver em um mundo

totalmente diferente, onde novas regras teriam que ser aprendidas, mas com total controle e

vigilância.

Page 27: Os condenados da lepra

FONTES E BIBLIOGRÁFIA:

I – FONTES PRIMÁRIAS

ARQUIVO DO MUSEU DE SAÚDE PÚBLICA EMÍLIO RIBAS:

Prontuários Médicos

Fotografias.

LEGISLAÇÃO

Decreto Federal.

Decreto nº 16.300 de 31/12/1923. (Sobre o Isolamento)

Leis e Decretos Estaduais.

Lei nº 2.169 de 27/12/1926 (Profilaxia)

Lei nº 2.416 de 31/12/1929 (Profilaxia)

Decreto nº 5.965 30/06/1933 (incorporação dos Asilos)

Decreto nº 15.003 de 15/07/1921 (Isolamento)

Decreto nº 15.533 de 24/06/1922 (fundo para construção de leprosário)

Decreto nº 16.300 de 31/12/1923 (sobre o isolamento)

Jornais

Diário da Noite S. Paulo, 24/03/1941 Arquivo do Estado de São Paulo.

Jornal Folha da Noite, 27 de junho de 1932, disponível em <

http://acervo.folha.com.br/fdn/1932/06/27/1/

II – FONTES SECUNDÁRIAS

BIBLIOGRAFIA GERAL E AUXILIAR

AGUILAR FILHO, Sidney. O Outono da democracia. REVISTA DE HISTÓRIA DA

BIBLIOTECA NACIONAL, Rio de Janeiro, Janeiro de 2013 N.88. p.26-28.

Page 28: Os condenados da lepra

BENEVIDES, Claudia. UM ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL NO BRASIL? Rio de Janeiro. Tese de Mestrado apresentada à Universidade Federal Fluminense, UFF/RJ).

DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente. São Paulo, Companhia das

Letras, 2009.

DIWAN, Pietra. Raça Pura. Uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São

Paulo, Contexto, 2013. DUCATTI, Ivan. A hanseníase no Brasil na Era Vargas e a profilaxia do

isolamento compulsório: estudos sobre o discurso científico. São Paulo. Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Humanas. Universidade de

São Paulo, USP/SP). GARCIA, Bruno. O Outono da democracia. REVISTA DE HISTÓRIA DA

BIBLIOTECA NACIONAL, Rio de Janeiro, Janeiro de 2013 N.88.

LE GOFF, Jaques. O Maravilhoso e Quotidiano no Ocidente Medieval. Lisboa,

Edições 70, 1983.

MARANHÃO, Carlos. Maldição e Glória: São Paulo: Companhia das Letras, 2004

MONTEIRO, Yara Nogueira e CARNEIRO, Maria L. T. AS DOENÇAS E OS

MEDOS SOCIAIS. São Paulo: Ed. FAP-UNIFESP, 2013.

MONTEIRO, Yara Nogueira. DA MALDIÇÃO DIVINA A EXCLUSÃO SOCIAL:

UM ESTUDO DA HANSENÍASE EM SÃO PAULO. São Paulo, 1995 (Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Filosófia, Letras e Humanas. Universidade de São Paulo, USP/SP).

MONTEIRO, Yara N. “Hanseníase e poder no Estado de São Paulo”. In:

Hanseníase Internacionalis. Vol 12, nº 1, Jun. São Paulo, 1987 OPROMOLLA, Paula A. e LAURENTI, Ruy Controle da hanseníase no Estado

de São Paulo: análise São Paulo. Revista Saúde Publica 2011.

RUBIO, Arnaldo. EU DENUNCIO O ESTADO. Ed. do autor, 2007, Guarulhos – SP.

Sanatório Padre Bento. Depto de Profilaxia da Lepra”. In: Revista Brasileira de Leprologia. São Paulo, vol IV, Março, 1936. Nº1.