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1 Os Benefícios da Acupuntura e do Spiral Taping na Entorse de Tornozelo Ana Carla Guerreiro de Menezes Leite 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia 2 Pós-graduação em Acupuntura Faculdade Ávila Resumo As entorses de tornozelo estão entre as lesões mais comuns do sistema musculoesquelético. Estas lesões ocorrem em sua grande maioria devido ao movimento de inversão, e acaba acometendo o compartimento lateral do tornozelo. Entre estas estruturas lesadas estão os ligamentos, a cápsula articular e possivelmente o tecido neural. Nas patologias neuromusculoesqueléticas é essencial a identificação das estruturas acometidas antes da aplicação do tratamento. Este artigo fornece uma revisão bibliográfica de pesquisa sobre os benefícios da Acupuntura e do Spiral Taping no tratamento das entorses de tornozelo fundamentado na anatomia e fisiologia dessa articulação. Palavras-chave: Tornozelo; Entorse; Acupuntura; Spiral Taping 1.Introdução As entorses da articulação do tornozelo são as lesões que mais acometem atletas durante as atividades físicas (NAWATA et al., 2005). As entorses são tipicamente classificadas em grau I, II ou III, baseado no modelo patoanatômico, que consiste na combinação de fatores detectados durante o exame físico (WHITMAN et al., 2005). Conforme Collins et al. (2004), o compartimento lateral da articulação do tornozelo é a estrutura do corpo com maior vulnerabilidade a sofrer entorse. Nas entorses, o ligamento talofibular anterior é o mais frequentemente acometido, seguido pelo ligamento calcâneo fibular e pelo ligamento talofibular posterior. Segundo O’Neill et al. (2007), entorses de tornozelo por inversão colocam o nervo fibular superficial sob estiramento, enquanto Mauhart (1989) observa que um grande número de entorses por inversão do tornozelo tem um componente da mecânica do sistema nervoso alterado como parte de seus sintomas. De acordo com Hunt (2002), tem se dado muita ênfase na literatura para as lesões ligamentares ocorridas na entorse do tornozelo, e centrando menos atenção nas possíveis lesões neurais decorrentes dessas entorses. A presente pesquisa se caracteriza por ser um estudo de revisão bibliográfica científica, com embasamento na anatomia e fisiologia da articulação do tornozelo. O esperado é aprimorar os conhecimentos sobre os benefícios da acupuntura e do spiral taping no tratamento das entorses de tornozelo, proporcionando uma melhor atuação dos profissionais na avaliação clínica e no tratamento desta lesão. 2. Anatomia e Fisiologia do Tornozelo O tornozelo, o pé e os dedos do pé consistem em um complexo de 34 articulações que, pela estrutura óssea, fixações ligamentares e contração muscular, são capazes de mudar, em um 1 Pós-graduando em Acupuntura 2 Orientadora: Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestranda em Bioética e Direito em Saúde

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Os Benefícios da Acupuntura e do Spiral Taping na Entorse de

Tornozelo

Ana Carla Guerreiro de Menezes Leite1

[email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia2

Pós-graduação em Acupuntura – Faculdade Ávila

Resumo

As entorses de tornozelo estão entre as lesões mais comuns do sistema musculoesquelético.

Estas lesões ocorrem em sua grande maioria devido ao movimento de inversão, e acaba

acometendo o compartimento lateral do tornozelo. Entre estas estruturas lesadas estão os

ligamentos, a cápsula articular e possivelmente o tecido neural. Nas patologias

neuromusculoesqueléticas é essencial a identificação das estruturas acometidas antes da

aplicação do tratamento. Este artigo fornece uma revisão bibliográfica de pesquisa sobre os

benefícios da Acupuntura e do Spiral Taping no tratamento das entorses de tornozelo

fundamentado na anatomia e fisiologia dessa articulação.

Palavras-chave: Tornozelo; Entorse; Acupuntura; Spiral Taping

1.Introdução

As entorses da articulação do tornozelo são as lesões que mais acometem atletas durante as

atividades físicas (NAWATA et al., 2005). As entorses são tipicamente classificadas em grau

I, II ou III, baseado no modelo patoanatômico, que consiste na combinação de fatores

detectados durante o exame físico (WHITMAN et al., 2005).

Conforme Collins et al. (2004), o compartimento lateral da articulação do tornozelo é a

estrutura do corpo com maior vulnerabilidade a sofrer entorse. Nas entorses, o ligamento

talofibular anterior é o mais frequentemente acometido, seguido pelo ligamento calcâneo

fibular e pelo ligamento talofibular posterior.

Segundo O’Neill et al. (2007), entorses de tornozelo por inversão colocam o nervo fibular

superficial sob estiramento, enquanto Mauhart (1989) observa que um grande número de

entorses por inversão do tornozelo tem um componente da mecânica do sistema nervoso

alterado como parte de seus sintomas. De acordo com Hunt (2002), tem se dado muita ênfase

na literatura para as lesões ligamentares ocorridas na entorse do tornozelo, e centrando menos

atenção nas possíveis lesões neurais decorrentes dessas entorses.

A presente pesquisa se caracteriza por ser um estudo de revisão bibliográfica científica, com

embasamento na anatomia e fisiologia da articulação do tornozelo. O esperado é aprimorar os

conhecimentos sobre os benefícios da acupuntura e do spiral taping no tratamento das

entorses de tornozelo, proporcionando uma melhor atuação dos profissionais na avaliação

clínica e no tratamento desta lesão.

2. Anatomia e Fisiologia do Tornozelo

O tornozelo, o pé e os dedos do pé consistem em um complexo de 34 articulações que, pela

estrutura óssea, fixações ligamentares e contração muscular, são capazes de mudar, em um

1 Pós-graduando em Acupuntura

2 Orientadora: Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestranda em Bioética e Direito

em Saúde

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único passo, de uma estrutura flexível que se molda às irregularidades do solo para uma

estrutura rígida de sustentação de peso (STAGNI et al., 2003). Segundo Guyton (1988), o pé e

o tornozelo formam uma conexão dinâmica entre o corpo humano e o solo.

Embora as articulações do tornozelo e do pé sejam discutidas separadamente, elas atuam

como grupos funcionais, não como articulações isoladas. Como a parte terminal da cadeia

cinética inferior, o tornozelo e o pé têm a capacidade de distribuir e dissipar as diferentes

forças (compressivas, de cisalhamento, rotacionais e de tração) que atuam sobre o corpo por

meio do contato com o solo (GUYTON, 2003).

O tornozelo é uma estrutura formada pela união de três ossos: tíbia, fíbula e tálus. E é

formado também por três articulações:

a) articulação talocrural – que é uma articulação sinovial que apresenta um encaixe

estruturalmente forte e ligamentos colaterais de apoio. A superfície côncava desse encaixe é

formada pela superfície articular da região distal da tíbia, assim como pelos maléolos tibial

(medial) e fibular (lateral). Nesse encaixe encontramos a superficie convexa do domo talar. O

apoio ligamentar dessa articulação provem do ligamento deltóide, medialmente, e dos

ligamentos talofibular anterior, calcaneofibular e talofibular posterior, lateralmente.

O maléolo lateral se localiza distal e posteriormente em relação ao maléolo medial, fazendo

com que o eixo da articulação do tornozelo tenha um sentido postero-lateral inferior para o

Antero-medial superior. Essa orientação obliqua permite que haja uma movimentação em três

planos. A flexão plantar e a dorsiflexão no plano sagital compõem os movimentos primários

da articulação e estão associadas a adução e a abdução, respectivamente. Como o eixo está

quase paralelo ao plano transversal, a inversão e a eversão são componentes desprezíveis dos

movimentos. A amplitude disponível do movimento é definida, tipicamente, como sendo de

20º para a dorsiflexão e de 50º para a flexão plantar.

Na flexão plantar e na dorsiflexão também ocorre um pequeno grau de movimento acessório

fisiológico da articulação talocrural. Durante a flexão plantar, o corpo do talus desliza

anteriormente. Por outro lado, na dorsiflexão o talus desliza posteriormente. A estabilidade

máxima contra os estresses angulares e de torção ocorre na posição compactada de

dorsiflexao máxima, na qual o talus desliza posteriormente e se encaixa dentro da fenda. A

posição de repouso do tornozelo ocorre a 10º de flexão plantar.

b) articulação subtalar - entre o tálus e o calcâneo, permite que sejam feitos movimentos

triplanares de pronação e supinação. Os ligamentos colateral medial e lateral, interosseos e

talocalcaneos posterior e lateral fornecem o apoio a essa articulação.

A direção do eixo da articulação se faz no sentido dorsal, medial e distal para o plantar, lateral

e proximal. Ele se encontra aproximadamente a 16º do pano sagital e a 42º do plano

transversal. Devido a essa orientação, essa articulação é capaz de realizar os movimentos

triplanares de pronação e supinação. Os componentes do movimento de pronação em cadeia

cinética aberta são a dorsiflexão, abdução e eversão do calcâneo. Por outro lado, a supinação

em cadeia cinética aberta consiste de flexão plantar, adução e inversão do calcâneo.

Entretanto, funcionalmente a articulação subtalar opera como uma cadeia cinética fechada. A

articulação subtalar une a função do pé ao resto da cadeia cinética proximal. A principal

função dessa articulação é permitir a rotação da perna no plano transversal durante a marcha.

Como a articulação subtalar apresenta uma angulação de aproximadamente 45º em relação ao

plano transversal, existe 1º de inversão ou de eversão para cada 1º de rotação lateral ou medial

da tíbia.

c) articulação tibiofíbular – contribui com uma movimentação acessória, permitindo maior

liberdade de movimento ao tornozelo. A fusão ou hipomobilidade dessa articulação pode

restringir ou impedir o funcionamento normal do tornozelo. Formada pela extremidade

inferior da tíbia e da fíbula.

A articulação do tornozelo possui três faces articulares:

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a) a face articular superior do tálus, denominada tróclea, articula-se com a face inferior da

tíbia;

b) a face articular lateral do tálus articula-se com a face articular do maléolo fibular;

c) a face articular medial do tálus artitcula-se com a face articular do maléolo tibial.

Os movimentos envolvidos na articulação do tornozelo são:

a) Flexão Plantar - movimento pelo qual a planta do pé é voltada para o chão, os músculos

envolvidos neste movimento são: gastrocnêmio e sóleo, a amplitude de movimento é de 0-

50°;

b) Flexão Dorsal - movimento no qual o dorso do pé é voltado para a cabeça, os músculos

envolvidos neste movimento são: tibial anterior e extensor longo dos dedos, a amplitude de

movimento é de 0-20°;

c) Inversão - movimento no qual se vira a planta do pé para a perna, músculos envolvidos são;

tibial anterior e posterior, a amplitude de movimento é de 0-45°;

d) Eversão - movimento no qual se vira a planta do pé para a parte lateral da perna, músculos

envolvidos são: extensor longo dos dedos e fibular longo e curto, a amplitude de movimento é

de 0-30°.

A estabilidade do tornozelo se dá através de ligamentos, que são:

a) Ligamento Colateral Medial - tem origem no maléolo tibial e inserção nos ossos navicular,

tálus e calcâneo: são eles: tibiotalar anterior e posterior, tibiocalcâneio e tibionavicular, que

juntos formam o forte ligamente deltóide;

b) Ligamento Colateral - tem origem no maléolo fíbular e inserção nos ossos tálus e calcâneo;

são eles: talofibular anterior e posterior e calcâneo fíbular;

c) Sindesmose Tibiofibular - tem origem na tíbia e inserção na fíbula, são eles: tibiofibular

anterior e posterior e interósseos.

A parte do membro inferior entre o joelho e a articulação do tornozelo é o local de origem

para os músculos que produzem movimento do tornozelo. Estes músculos são classificados

em três grupos - crural anterior, cervical posterior e crural lateral.

Dos músculos associados ao tornozelo e pé, 12 são extrínsecos ao pé e 19 intrínsecos.

Crural anterior: Os músculos crurais anteriores estão associados ao compartimento anterior

que é limitado pela tíbia e septo intermuscular. O tibial anterior geralmente é considerado um

inversor do pé (articulação subtalar), embora alguns pesquisadores tenham relatado que ele

não é ativo durante a inversão, a menos que ocorra dorsiflexão simultaneamente. É

razoavelmente bem aceito que o tibial anterior não desempenha qualquer papel na sustentação

estática normal do arco longitudinal do pé. Durante condições com cargas dinâmicas,

entretanto, a contração muscular auxilia a fonte primária de sustentação do arco, as estruturas

osteoligamentosas. Os indivíduos com pés planos também necessitam de sustentação

muscular dos arcos, especialmente pelo tibial anterior.

Crural posterior: Os músculos do grupo crural posterior são ainda classificados em

superficiais ou profundos. O grupo superficial, o gastrocnêmio, e sóleo e o plantar. O grupo

profundo é composto pelo poplíteo, flexor longo do hálux, flexor longo dos dedos e tibial

posterior.

As duas cabeças do gastrocnêmio e o sóleo são referidos como tríceps da perna.

Os músculos que compõem o grupo profundo são o poplíteo, o flexor longo do hálux, como o

nome diz atua principalmente na flexão do hálux, inserindo-se na base da falange distal.

O flexor longo dos dedos cujo tendão se divide em quatro tendões separados que fixam nas

bases das quatro falanges distais.

A afirmativa de O’Neil (2007) de que se sabe pouco sobre o tornozelo e o pé é correta, tendo

em vista a controvérsia que envolve as ações do flexor longo do hálux e o flexor longo dos

dedos.

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Guyton indicou que o flexor longo do hálux contribui significativamente para a propulsão do

pé durante a marcha; contudo, Anderson (2002) relatou que, embora não seja essencial nesse

papel, o músculo é crucial na manutenção do equilíbrio durante a posição ereta.

Crural lateral: Dois músculos compõem o grupo crural lateral, os fibulares longo e curto. Um

septo intermuscular separa esse grupo dos grupos anterior e posterior. Ambos os músculos

passam atrás do maléolo lateral para suas inserções na face plantar do pé.

Auxiliam a flexão plantar, embora suas principais contribuições sejam para a pronação do pé

(eversão e abdução combinadas).

3. Entorse de Tornozelo

.A entorse é um movimento violento com estiramento ou ruptura de ligamentos de uma

articulação. A entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas mais

freqüentemente encontradas na população ativa, que geralmente envolve lesão dos ligamentos

laterais. Os ligamentos são formados por tecido conjuntivo, servindo para estabilizar as

articulações e para impedir a mobilidade anormal, sobretudo nas amplitudes de grau extremo.

Suas fibras têm uma elasticidade muito reduzida e não se alongam, mas rompem-se em maior

ou menor número quando seu coeficiente de elasticidade é ultrapassado.

Aproximadamente 25.000 pessoas sofrem um entorse de tornozelo a cada dia. Estas lesões

nem sempre são simples e podem resultar em sintomas residuais em até 40% dos pacientes.

Elas ocorrem com maior frequência nos atletas de futebol, basquete e vôlei, correspondendo a

cerca de 10% a 15% de todas as lesões do esporte. No Reino Unido, elas acontecem em uma a

cada 10.000 pessoas da população geral, isto é, cerca de 5.000 lesões por dia. A entorse do

tornozelo pode evoluir com complicações, com vários graus de limitação funcional.

As entorses de tornozelo acometem mais freqüentemente o compartimento lateral que o

medial. Isso ocorre devido à estrutura de encaixe do tornozelo (O’NEILL, 2007). Segundo

(ANDERSON, 2002), o maléolo lateral se estende mais distalmente que o maléolo medial,

formando uma ‘’barreira anatômica’’ para o deslizamento lateral do talus; dificultando o

movimento de eversão. De acordo com Whitman (2005) a cápsula articular e os ligamentos

são mais fortes na face medial do tornozelo, devido a isso, as entorses por inversão

envolvendo o estiramento ou a ruptura dos ligamentos laterais ocorrem com maior incidência

que as entorses por eversão que envolvem os ligamentos mediais.

Geralmente o ligamento talofibular anterior (estabilizador primário do tornozelo) é a estrutura

mais acometida nas entorses por inversão. Anderson (2002) afirma que fatores biomecânicos

anormais como hiperlacidão ligamentar, déficit proprioceptivo, fraqueza e/ou desequilíbrios

musculares podem contribuir para que ocorram as entorses da articulação do tornozelo.

As entorses são tipicamente classificadas em grau I, II ou III, baseado no modelo

patoanatômico, que consiste na combinação de fatores detectados durante o exame físico

(WHITMAN et al., 2005).

Conforme Hunt (2003), a classificação das entorses de tornozelo varia de acordo com a

literatura. Já Whitman (2005) classifica as entorses de tornozelo por inversão em três graus de

acordo com as suas características. As lesões de grau I são leves com edema e equimose

mínima e discreta perda de função, o tornozelo é estável com provas de gaveta anterior e

inclinação lateral do talo negativas. Nesses casos, há lesão parcial dos ligamentos, mas não

chegando a causar insuficiência. As lesões de grau II são classificadas como moderadas com

edema difuso e equimose mais ampla, o tornozelo é instável sendo positiva para prova de

gaveta anterior, sendo o grau de incapacidade funcional mais extenso. Já o grau III desta lesão

é classificado como grave, apresentando edema e equimose mais intensos; o tornozelo se

torna instável com a prova de gaveta anterior positiva, havendo perda completa da função do

tornozelo.

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Segundo O’Neill et al. (2007), as entorses de tornozelo por inversão, colocam o nervo fibular

superficial sob estiramento. Estas lesões podem acarretar em acometimentos dos nervos

fibular e/ou tibial posterior, principalmente quando estas entorses são de grau II ou III

(WILK, 2005). Hunt (2003) relata que lesões do tecido neural do pé e da articulação do

tornozelo estão entre as mais difíceis de serem tratadas e diagnosticadas.

O nervo periférico é uma estrutura que contém redes vasculares no epineuro, perineuro e no

endoneuro. Uma vez que a propagação de impulsos e o transporte axonal dependem de um

aporte de oxigênio local, as fibras nervosas necessitam de um suprimento sanguíneo

ininterrupto para desempenhar uma função normal (WILK, 2005).

Segundo Hunt (2003), a interação entre a fisiologia e a mecânica do sistema nervoso, é

denominada neurodinâmica. Sendo assim, uma lesão no tecido neural, implica em alterações

de suas propriedades mecânicas (movimento e elasticidade) e fisiológicas; alterando sua

neurodinâmica. Tais lesões podem resultar em disfunções nos tecidos que recebem sua

inervação.

4. Acupuntura

A acupuntura ou acupunctura (do latim acus - agulha e punctura - pontoada) é um ramo da

Medicina Tradicional Chinesa e um método de tratamento considerado complementar de

acordo com a nova terminologia da OMS - Organização Mundial da Saúde.

Segundo Wen (1985), a acupuntura consiste na aplicação de agulhas, em pontos definidos do

corpo, chamados de "Pontos de Acupuntura" ou "Acupontos", para obter efeito terapêutico em

diversas condições.

Atribui-se o nome "Acupuntura" a um jesuíta europeu que retornando da China, no século

XVII, adaptou os termos chineses "Zhen" e "Jiu", juntando as palavras latinas "Acum"

(agulha) e "Punctum" (picada ou punção), como visto.

A tradução literal do termo chinês, no entanto, é bem diferente. O correto seria Zhen (agulha)

e Jiu moxa ou seja "longo tempo de aplicação do fogo".

A tradução causa a impressão de que o terapeuta só trabalha com agulhas. Os pontos e

meridianos também podem ser estimulados por outros tipos de técnicas. Na verdade, os

pontos de Acupuntura podem ser estimulados por: agulhas, dedos (acupressão) caracterizando

distintas variantes da técnica de massagem chinesa (tui na, shiatsu, do-in); stiper (do inglês

Stimulation and Permanency - Estimulação Permanente); ventosa ou pelo aquecimento

promovido por moxa ou seja, longo tempo de aplicação do fogo, - um bastão de artemísia em

brasa, que é aproximado da pele para aquecer o ponto de acupuntura. Há, também, o método

de estimulação por laser, ainda em estudos.

Segundo Auteroche (1986), a história da Acupuntura é indissociável da história da Medicina

na China. Há que se recordar que a cultura chinesa tem a mais antiga tradição de linguagem

escrita (desde 3100 AC). Isto permitiu a transmissão de conhecimentos entre gerações, sem a

deturpação típica da tradição oral. Na China, a história, período após o surgimento da escrita,

é anterior à idade dos metais. Em achados datados da Dinastia Shang , cerca de 1000 AC, já

havia agulhas de bronze.

A medicina chinesa começou seu desenvolvimento documentado na era da Dinastia "Zhou",

de 1027 AC a 221 AC. Naquele período, a medicina chinesa evolui de uma medicina

xamânica, onde as doenças eram consideradas obras de espíritos demoníacos, para uma

medicina mais evoluída, com embasamento filosófico. Durante o período chamado de "Média

Era Zhou", de 772 AC a 480 AC, o confucionismo estabeleceu-se como um dos três pilares

filosóficos da medicina chinesa (Confucionismo, Taoísmo e Budismo). Deste período vem a

noção de que os atos de uma pessoa afetam diretamente a sua saúde, afastando a idéia de que

as doenças eram de origem demoníaca.

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Durante a "Era Zhou Tardia" de 480 AC a 221 AC, surgiu na China o Taoísmo. Data desta era

uma das mais significativas diferenças entre a medicina Chinesa e a Ocidental. A persistência

de antigas tradições mágico-demoníacas da Medicina Chinesa foram mantidas, junto a

conceitos mais modernos de etiopatogenia.

Esta característica de manutenção de antigos conhecimentos junto a novos, é algo que a

construção substitutiva da medicina Ocidental não soube fazer. No ocidente, o conhecimento

moderno apaga o antigo. Na tradição Chinesa, o conhecimento antigo não é desprezado, mas

fica armazenado, para referência.

A persistência deste conhecimento, em nossos dias, leva alguns praticantes de Medicina

Chinesa a desconsiderar o conhecimento científico moderno, atendo-se ao caráter místico do

conhecimento antigo. Tal fato deve ser visto com cautela. Um exemplo desta afirmação é a

antiga prescrição de Acupuntura para apendicite aguda, que, sendo eficaz para aliviar a dor,

sem o correto diagnóstico, pode retardar o tratamento cirúrgico, com grandes prejuízos para o

paciente.

Em seguida, segundo Wen (1985), a dinastia "Qin" de 221 AC a 206 AC, embora conhecida

como período de "queima de livros", teve o mérito de adotar a moeda e sistematizar pesos e

medidas, construir estradas e organizar a escrita, promovendo o crescimento econômico e

cultural para a Dinastia Han, de 206 AC a 220 DC. .

Datam desta época, três livros importantes da Medicina Chinesa. O Ma Wang Hui, o Nan jing

(clássico das dificuldades) e o Huang Di Nei jing,o livro do imperador amarelo. Foi redigido

entre o primeiro e segundo séculos antes de Cristo, como uma compilação do conhecimento

médico então existente. Escrito como se fosse pelo mítico "Imperador Amarelo", que teria

vivido entre 2698 AC a 2598 AC, é dividido em dois livros. O primeiro, Su Wen, questões

fundamentais, discorre sobre a teoria médica da época. O segundo livro, Ling Shu, ou eixo

espiritual, é um manual de Acupuntura. Os dois livros tratam da aplicação dos conceitos de

Yin e Yang na medicina, da teoria dos cinco elementos (ou cinco movimentos), descrevem a

teoria dos meridianos, tratam do conceito do Qi e atribuem definitivamente aos sintomas

causas orgânicas ao invés de causas sobrenaturais.

Durante a Dinastia Han, a fisiologia foi compreendida como a inter-relação entre os sistemas

orgânicos, segundo Cordeiro (1992).

Na curta Dinastia Sui, de 590 a 617, o médico Sun Si Miao combinou as teorias taoístas e

budistas com a correspondência sistemática entre os sinais, sintomas e as doenças. Também

descreveu vários pontos de Acupuntura localizados fora dos meridianos tradicionais,

chamados de "Pontos Extras".

A dinastia Tang (618 a 906) é conhecida como a segunda idade do ouro na China. O império

foi unificado. Os pilares filosóficos (Confucionismo, Taoísmo e Budismo) e o contato com

outras culturas fizeram a China crescer intelectualmente. Nos outros países do oriente, a

Acupuntura ganhou terreno e foi bem estudada. Em 702, é fundada a primeira escola médica

imperial, em Nara, Japão, onde se ensinou a Acupuntura. Entretanto, o desenvolvimento da

Acupuntura, na China no período Tang, foi modesto. Isto, porque a grande preocupação dos

imperadores, era que se desenvolvessem elixires da longevidade.

A dinastia Song (960 a 1264) foi um período chamado de Neo-confucionismo. O conceito de

Qi tornou-se outra vez popular e os princípios básicos da Medicina Chinesa ficaram bem

estabelecidos em todas as áreas, Acupuntura e Moxibustão, Farmacoterapia, Nutrologia, etc.

Em 1255, com a "Viagem à Terra dos Mongóis", o europeu William de Rubruk já fazia

referências à Acupuntura.

A Dinastia Yuan, de 1264 a 1368 é o período durante o qual a China foi dominada pelos

mongóis, liderados por Gengis-Khan. O Neo-confucionismo prosseguiu e a Acupuntura,

também progrediu. Em 1341, o médico "Hua Shuo" publicou Shi Si Jing Fa Hui. Este texto

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descreveu 303 pontos dos chamados 12 meridianos regulares e 51 pontos em dois meridianos

extraordinários, totalizando 657 dos 670 pontos clássicos de Acupuntura.

Para Cordeiro (1992), a dinastia Ming, de 1368 a 1644, foi o período de consolidação do

conhecimento médico chinês e, conseqüentemente, da Acupuntura.

No século XIX, a dificuldade de comunicação com a China não impediu que a Acupuntura

fosse praticada e estudada por médicos ocidentais.

Pesquisas médico-científicas foram publicadas também no início do século XX. Entre 1939 e

1941 foi publicado na França o livro L'acuponcture chinoise do diplomata e cônsul francês na

China Soulié de Morant (1878-1955) que se interessou por essa técnica ao ver sua aplicação e

efeitos durante a epidemia de cólera em Beijing.

Persistia, porém, a carência de mais informações sobre o modo como a acupuntura era

praticada na China, havia notícia sobre sua proibição no final do período imperial e no início

do século XX passara pela Revolução Chinesa, a qual cerrou as portas ao Ocidente. Segundo

Bull, há controversas informações sobre a proibição da prática da Acupuntura pelo Partido

Comunista da China, que a considerava um símbolo do antigo regime imperial. Noticias de

que os intelectuais foram perseguidos, e as escolas de Medicina que ensinavam Acupuntura

foram fechadas estão em franca contradição com o desenvolvimento do saber popular

proposto na revolução cultural. É fato que após 1949, quando Mao Tse-tung assumiu o poder,

a China passou por um renascimento cultural e científico e a pesquisa e ensino da Acupuntura

foram novamente permitidos e até incentivados, com a reabertura das escolas médicas

chinesas, inclusive foi uma concepção patrocinada pelo Ministro da Saúde Pública da

República popular da China a elaboração e publicação do livro dos 4 institutos (Zhongguo

Zhenjiuxue Gaiyao, 1964).

Mas foi a partir de 1971, conforme Auteroche (1986), com o relato do efeito da acupuntura no

tratamento das dores pós-operatórias do jornalista James Reston, que foi submetido a uma

apendicectomia enquanto estava na China, e após 1972, com a visita do presidente Norte-

americano Richard Nixon, àquele país, que a Acupuntura passou a ser melhor estudada pelo

método científico, no Ocidente, graças ao reatamento de relações internacionais que permitiu

a melhor troca de informações entre os cientistas.

Portanto, para se entender a Acupuntura, Blofeld (1979) afirmou que Tao é a realidade e a

energia primordial do universo. Processo cósmico no qual se achavam envolvidas todas as

coisas. Opostos e complementares. Yin e Yang. A característica principal do Tao é a natureza

cíclica de seu movimento e sua mudança incessante. Essa idéia é a que todos os

acontecimentos na natureza apresentam padrões cíclicos de ida e vinda, de expansão e

contração.

A Teoria Yin-Yang passou pelo processo de cinco etapas: 1) observação; 2) análise; 3)

suposição; 4) comprovação e 5) conclusão. Na China antiga, as primeiras observações

efetuadas levaram à conclusão de que a estrutura básica do ser humano era a mesma do

universo. Então, todos os fenômenos da natureza foram classificados em dois pólos opostos: o

Yin (negativo) e o Yang (positivo). Aqueles que apresentam como características força, calor,

claridade, superfície, grandeza, dureza, peso etc. pertencem ao Yang. Ao contrário, os que

apresentam características opostas às mencionadas, pertencem ao Yin.

Os cinco elementos (a Madeira, o Fogo, a Terra, o Metal e a Água) são, na realidade, os cinco

elementos básicos que constituem a natureza. Existe entre eles uma interdependência e uma

interrestrição que determinam seus estados de constante movimento e mutação, conforme

figura 1.

A Teoria dos Cinco Elementos ocupa um lugar importante na medicina chinesa, porque todos

os fenômenos dos tecidos e órgãos, da fisiologia e da patologia do corpo humano, estão

classificados e são interpretados pelas interrelações desses elementos, conforme figura 2.

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Fonte: CORDEIRO, A. Acupuntura, Elementos Básicos. São Paulo: Ensaio, 1992.

Figura 1 - Interdependência e Interrestrição dos Cinco Elementos

Segundo Cordeiro (1992), o organismo humano é regido pelo mesmo princípio da natureza.

Assim sendo, os fatores da natureza exercem certa influência nas atividades fisiológicas do

ser humano. Este fato se manifesta não só na dependência como na adaptação do homem ao

seu meio ambiente. A medicina chinesa tradicional constatou essa realidade e, de acordo com

ela, fez a correlação entre a fisiopatologia dos órgãos e tecidos e alguns fenômenos da

natureza.

A noção de geração envolve o processo de produzir, crescer e promover. Seguindo essa

ordem, a Madeira gera o Fogo, o Fogo gera a Terra, a Terra gera o Metal, o Metal gera a

Água e a Água gera a Madeira.

Os órgãos do corpo humano também podem ser classificados conforme os Cinco Elementos.

O conceito de órgão, de vísceras, assim como de seus inter-relacionamentos segundo a Teoria

dos Cinco Elementos, é um dado empírico da medicina chinesa.

O coração, por exemplo, é de Fogo; sua Mãe é o fígado (Madeira) e seu Filho é o baço (e

pâncreas), que é de Terra. No caso se estiver enfraquecido, devemos fortalecê-lo ou então

tonificar o fígado, sua Mãe. Se o coração está excessivamente energético, devemos diminuir a

sua energia, ou a do baço-pâncreas, seu Filho.

Cinco

elementos

Órgãos Vísceras Estação Emoção Clima Cor Gosto

Madeira Fígado V/B Primavera Raiva Vento Verde Azedo

Fogo Coração ID Verão Alegria Calor Vermelho Amargo

Terra BP Estomago Interestação Preocupação Úmido Amarelo Doce

Metal Pulmão IG Outono Tristeza Frio Branco Picante

Água Rim Bexiga Inverno Medo Seco Preto Salgado

Fonte: CORDEIRO, A. Acupuntura, Elementos Básicos. São Paulo: Ensaio, 1992. Figura 2 – Os Cinco Elementos

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5. Acupuntura na Entorse de Tornozelo

A acupuntura pode ser utilizada nas diversas fases da lesão, desde a fase aguda até a fase

crônica. Podendo ser usada para dispersar, mover em caso de plenitude ou nutrir em caso de

vazio.

5.1 Entorse Tíbio-Társica Eversão (Interno).

BP 3: No lado interno do pé, na parte proximal da 1ª articulação-falângica, entre a pele plantar

e dorsal.

1. Ponto Shu;

2. Elimina umidade-calor;

3. Ativa o meridiano: dor na articulação, síndromes BI.

BP 5: Na depressão do bordo antero-inferior do maléolo interno.

1. Ponto Jing/Rio;

2. Elimina umidade: edema nas pernas;

3. Ativa o meridiano: dor local.

BP 6: A 3 tsun diretamente por cima da proeminência do maléolo interno, 1 dedo atrás do

bordo interno da tíbia.

1. Tonifica o Baço;

2. Elimina umidade;

3. Recuperador do Yang;

4. Ponto de reunião dos três Yin da perna;

5. Harmoniza o Aquecedor Inferior;

6. Regula o Qi.

BP 9: No bordo inferior do côndilo interno da tíbia (ao nível da tuberosidade anterior).

1. Ponto He/mar;

2. Tonifica o Qi do Baço;

3. Elimina umidade: Síndroma BI de umidade (inchaço no joelho).

BP 10: A 2 tsun diretamente por cima do epicôndilo interno do fêmur, na proeminência do

músculo vasto interno, encontrando-se o ponto com o músculo tenso.

1. Desbloqueia Estase de Sangue;

2. Elimina Plenitude Calor do Sangue: estas duas funções são aplicadas no Aquecedor

Inferior, principalmente.

F 3: Na parte proximal do espaço interósseo entre o 1º e o 2º metatarso do pé.

1. Ponto Shu/riacho: dor;

2. Ponto Yuan/fonte;

3. Move o Qi do Fígado;

4. Acalma o Yang do Fígado e elimina vento.

F 4: No lado interno do tendão do músculo vasto extensor próprio do hálux, ao nível da

proeminência do maléolo interno.

1. Ponto Jing/rio/corrente;

2. Elimina calor no meridiano do Fígado;

3. Move o qi do Fígado: dor, dormência, sensação de frio;

4. Beneficia o Aquecedor Inferior.

R 3: No ponto médio entre a proeminência do maléolo interno e o bordo interno do tendão de

Aquiles.

1. Ponto Shu/riacho: dor;

2. Ponto Yuan/Fonte: dor, dor no joelho;

3. Ponto de tonificação do Yin e Yang do Rim.

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R 6: Na depressão formada a 1 tsun abaixo do maléolo interno.

1. Ponto de abertura do Yin Qiao Mai;

2. Tonifica o Yin do Rim;

3. Ativa o meridiano.

E 36: 3 tsun abaixo da patela, entre o musculo da tibia anterior e o musculo extensor longo

dos artelhos.

1. Ponto Madeira – Ho;

2. Tonifica o Qi do Baço: a função de tonificar o Baço é extremamente forte;

3. Elimina Umidade;

4. Movimenta o Qi e o Sangue: dor local, dormência e fraqueza da perna;

5. Fortalece o Qi e o Sangue para fortalecerem os meridianos;

6. Síndromas BI: síndrome BI do Frio;

7. Fortalece o Wei Qi;

8. Recupera o Yang.

VB 34: A frente e abaixo da cabeca da fibula, 2 tsun da articulação do joelho.

1. Ponto Terra – Ho;

2. Ponto miorrelaxante;

3. Ponto mestre dos músculos e tendões: tensão muscular, rigidez, fraqueza, outros

problemas que afectem os membros inferiores;

4. Move o Qi do Fígado e Vesícula Biliar.

5.2 Entorse Tíbio-Társica Inversão (Externo).

B 60: Entre a proeminência do maléolo externo e o tendão de Aquiles.

1. Ponto Fogo: elimina Calor;

2. Ponto Jing-Rio do meridiano da Bexiga;

3. Elimina Vento.

B 62: Numa depressão situada a 0,5 tsun por baixo do bordo inferior do maléolo externo,

diretamente abaixo da sua proeminência.

1. Elimina Vento;

2. Ponto de Abertura do Yang Qiao Mai;

3. Ativa o meridiano.

B 63: Diretamente por baixo do bordo anterior do maléolo, na depressão que se encontra por

baixo do osso cubóide (atrás da tuborosidade do 5ª metatarso).

1. Ponto Xi (Emergência) do meridiano da Bexiga: aliviar situações agudas como dor na

perna;

2. Elimina vento.

VB 34: Na depressão antero-inferior da cabeça do peróneo.

1. Ponto He (mar);

2. Ponto miorrelaxante;

3. Ponto mestre dos músculos e tendões: tensão muscular, rigidez, fraqueza, outros

problemas que afectem os membros inferiores;

4. Move o Qi do Fígado e Vesícula Biliar.

VB 39: A 3 tsun acima da proeminência do maléolo externo, no bordo posterior do peróneo.

1. Ponto mestre das medulas;

2. Ponto mestre dos ossos;

3. Elimina calor: tem ação anti-infecciosa;

4. Ativa o meridiano.

VB 40: Na depressão antero-inferior do maléolo externo (fora do grande extensor dos dedos).

1. Ponto Yuan/fonte;

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2. Elimina calor da Vesícula Biliar;

3. Elimina umidade: edema e dor na parte inferior da perna e tornozelo.

E 36: A 3 tsun abaixo do E 35 (dubi) 1 dedo lateralmente à crista tibial, no alto da

proeminência, na parte superior do músculo tibial anterior.

1. Ponto He/mar do Estômago;

2. Tonifica o Qi do Baço: a função de tonificar o Baço é extremamente forte;

3. Elimina umidade;

4. Movimenta o Qi e o Sangue: dor local, dormência e fraqueza da perna;

5. Fortalece o Qi e o Sangue para fortalecerem os meridianos;

6. Síndromas BI: síndrome BI do Frio;

7. Fortalece o Wei Qi;

8. Recupera o Yang.

F 3: Na parte proximal do espaço interósseo entre o 1º e o 2º metatarso do pé.

1. Ponto Shu/riacho: dor;

2. Ponto Yuan/fonte;

3. Move o Qi do Fígado;

4. Acalma o Yang do Fígado e elimina vento.

BP 10: A 2 tsun diretamente por cima do epicôndilo interno do fêmur, na proeminência do

músculo vasto interno, encontrando-se o ponto com o músculo tenso.

1. Desbloqueia Estase de Sangue;

2. Elimina Plenitude Calor do Sangue: estas duas funções são aplicadas no Aquecedor

Inferior, principalmente.

5.3 Canais Tendinomusculares

Segundo Wen (1985), os canais de Energia Tendinomusculares são os canais de energia

secundários grandes e superficiais, de carater Yang, que circulam pelos músculos e tendões,

com ramificações no tórax e o abdome, não se interiorizando profundamente, por isso, não

apresentam ligações energéticas diretas com os orgãos ou com as vísceras.

Os percursos dos canais de energia tendinomusculares são mais superficiais que profundos,

passando por locais onde são supridos energeticamente pelos canais de energia principais,

distintos, curiosos e luo. Eles têm a função de mover os músculos e as articulações,

possibilitando-lhes a extensão e a flexão. A patologia energética desses canais de energia

reflete-se nas atividades dos tendões, dos músculos e das articulações, além das manifestações

algicas.

Os canais de energia secundários tendinomusculares originam-se dos pontos Ting dos 12

canais de energias principais, e estes lhes dão energia para sua formação e atividade

energética, de modo que a fisiologia e a fisiopatologia energética dos canais de energia

tendinomusculares estao intimamente relacionadas com o Qi dos canais de energia princiapais

que lhes dão origem.

Os canais de energia tendinomusculares apos percorrerem tendões, músculos e articulações,

torrnam-se cada vez mais superficiais, ramificando-se em pequenos canais de energia nos

quais se situam os pontos relacionados com as manifestações pontuais da dor e são chamados

de pontos Ashi.

Eles constituem a primeira barreira do organismo contra a penetração de energia perversa. Se

os canais de energia principais estiverem plenos de energia e sangue, os canais de energia

secundários tendinomusculares também estarão, evitando e combatendo a penetração das

energias perversas pela presenca da energia de defesa e do Qi correto.

Os vasos tendinomusculares possuem a função de tratar doenças exclusivas do sistema

músculo-esquelético. Sua regra de tratamento e simples, sempre usar:

12

1-Ponto Tsing do meridiano afetado (meridiano mais próximo do local de dor);

2-Ponto Ashi (pontos de dor propriamente dito);

3-Ponto de união do meridiano afetado.

Para saber o ponto de união, devemos dividir os meridianos em categorias:

1-Três Yang do pé (Bexiga, vesícula biliar e estomago): ID18

2-Três Yin do pé (Rim, fígado e baco-pancreas): VC3

3-Três Yang da mão (Triplo-aquecedor, intestino grosso e intestino delgado): VB13

4-Três Yin da mão (Circulação e sexo, pulmão e coração): VB22

Se além do problema muscular o paciente possuir afecção de algum órgão interno, deve-se

tratar os tendinomusculares mais pontos que reequilibrem o órgão em questão.

No caso entorse tibio-tarsica eversão (interno), utiliza-se:

Ponto Ting: BP1 + Ponto Ashi, que depende do local da dor + Ponto de união: VC3

Para o tratamento de entorse tíbio-tarsica inversão (externo), utiliza-se:

Ponto Ting: B67 + Ponto Ashi, que depende do local da dor + Ponto de união: ID18

6. Spiral Taping

O Spiral Taping surgiu no Japão, em 1980, quando o engenheiro e acupunturista nipônico

Nobutaka Tanaka que abrira uma clínica, observou um atleta que torcera o tornozelo e sentia

um alívio depois que sua perna era enfaixada em uma determinada direção. Depois de repetir

suas pesquisas por alguns anos, viu que as ataduras poderiam ser substituídas por uma tira

adesiva. Unindo os seus conhecimentos de acupuntura aos conceitos de Cinesiologia

Aplicada, passou a estudar as relações músculo-articulares e unindo através de uma linha

imaginária, uma articulação aos músculos à ela relacionados, pensou que o traçado seria um

zigue-zague. Entretanto, o corpo humano é uma estrutura em três dimensões assim, o traçado

que surge é uma espiral. Daí o nome de batismo do Spiral Taping.

Os princípios são os mesmos da acupuntura. Ou seja, o toque do esparadrapo sobre a pele,

estimula pontos pelos quais flui a energia vital, redirecionando-a e equilibrando seu fluxo.

Conforme Bull (1988), o Spiral Taping foi aperfeiçoado baseando-se nos conhecimentos da

Medicina Oriental, Cinesiologia, Fisiologia Muscular, que possuem diagnósticos e métodos

de tratamentos específicos. Dessa forma possibilita o reequilíbrio dos grupos musculares e das

articulações, contribuindo para a normalização da postura.

A colagem de fitas gera estímulos cutâneos que são levados ao cérebro pelas vias sensitivas e

a resposta retorna pelas vias motoras e pelo sistema nervoso autônomo, o que melhora a

circulação e regulariza o metabolismo e tônus muscular.

As fitas são estrategicamente colocadas na região a ser tratada, no sentido perpendicular às

fibras musculares, com o propósito de corrigir fluxo energético. Assim, as fitas, de natureza

não elástica, são coladas sobre a pele na forma de spiral (fitas estreitas) ou cross tape (fitas em

formas de retículos). Conforme Auteroche (1986), não é utilizado qualquer tipo de

medicamento, apenas utiliza-se o esparadrapo comum, aplicado criteriosamente no sentido e

locais adequados, após uma análise individual.

Como em outras terapias, para a indicação da técnica do spiral taping é fundamental uma

avaliação precisa para a escolha da abordagem utilizada, fato este que determinará o sucesso

do tratamento.

A indicação do tratamento local faz-se procedente quando a sintomatologia e a causa residem

juntas, ocupando o mesmo território, fato observado com maior freqüência em lesões

traumáticas recentes, tais como entorse de tornozelo e contraturas musculares.

Conforme Wilk (2005), a spiral taping é aplicada duas vezes por semana, em sessões rápidas.

O paciente fica com os movimentos livres e, depois de duas horas, pode lavar o local sem

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problemas. O tempo ideal de permanência das fitas é de três dias e após esse período, a pessoa

deverá retornar à clínica para ser reavaliada pelo terapeuta.

Qualquer pessoa pode se beneficiar desta técnica, desde crianças até idosos, exceto bebês,

pois sua pele é muito sensível. Em atletas, o Spiral Taping mostrou-se um excelente método

de tratamento, tendo sua eficácia comprovada por diversos esportistas tratados nas várias

academias.

No caso de entorses de tornozelo o spiral taping é usado para proteger o ligamento lesionado

na entorse. Coloca-se o spiral taping no dorso do pé até o joelho. Coloca-se um segundo

taping no calcâneo e estende passando pelo maléolo lateral e pela fíbula. Coloca-se um

terceiro taping sobre a face anterior da articulação até a sola do pé. Por ultimo coloca-se um

quarto taping no arco plantar e estende para ambos os lados levantando o mesmo. Porém,

existem também outras técnicas para se aplicar o spiral taping, conforme figuras 3 e 4.

Fonte: WILK, Andrews. Reabilitação Fisica do Atleta. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005

Figura 3 – Utilização do Spiral Taping na Entorse de Tornozelo

Fonte: WILK, Andrews. Reabilitação Fisica do Atleta. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005

Figura 4 – Utilização do Spiral Taping na Entorse de Tornozelo

7. Conclusão

Tendo em vista a revisão bibliográfica realizada no presente artigo, deve-se evidenciar a

importância da Acupuntura e do Spiral Taping nas entorses de tornozelo.

Sabe-se que a Acupuntura é um ramo da medicina Tradicional Chinesa e que pode ser

utilizada desde a fase aguda até a fase crônica, dispersando, movendo em caso de plenitude ou

nutrindo em caso de vazio e o Spiral Taping possibilita o reequilíbrio dos grupos musculares e

das articulações, com isso, ambos os tratamentos levam a uma revisão de conceitos tanto na

parte de avaliação quanto no tratamento da entorse de tornozelo.

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O conhecimento acerca da anatomia, fisiologia e fisiopatologia do sistema nervoso periférico

é clinicamente essencial para que o terapeuta possa realizar uma avaliação correta e

prescrever o tratamento adequado nos casos de entorses de tornozelo. A articulação do

tornozelo é a estrutura do corpo com maior vulnerabilidade a sofrer entorse, as entorses são

classificadas em três graus e o ligamento mais freqüentemente acometido é o talofibular

anterior.

A partir da presente pesquisa, interferências podem ser realizadas no que diz respeito à

condução do tratamento dessas entorses, demonstrando ser fundamental uma abordagem com

enfoque no sistema neural, além do tratamento músculo-esquelético segmentado através da

Acupuntura e do Spiral Taping, de total importância para a melhora real do paciente.

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Referências

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WHITMAN, J. M.; CHILDS, J. D.; WALKER, V. Entorse de Tornozelo. São Paulo: Saraiva, 2005.

WILK, Andrews. Reabilitação Fisica do Atleta. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.