orquestra-escola: ensino coletivo e inclusÃo …

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ORQUESTRA-ESCOLA: ENSINO COLETIVO E INCLUSÃO SOCIAL NO PROJETO ORQUESTRA SINFÔNICA VALE DO COTINGUIBA Jorge Eduardo Santos 1 Paloma Araújo Côrtes dos Santos 2 Párbata Araújo Côrtes dos Santos 3 GT1 Educação de Crianças, Jovens e Adultos RESUMO A presente pesquisa aborda o campo dos projetos sociais de musicalização a partir da investigação dos conceitos de ensino coletivo, orquestras-escolas e métodos ativos; visou também atrelar a criação/desenvolvimento das orquestras-escola com a concepção do ensino coletivo e à utilização dos métodos ativos, bem como se propôs a investigar e analisar a metodologia de educação musical aplicada pelo projeto Orquestra Sinfônica Vale do Cotinguiba. Na perspectiva de alcançar os objetivos propostos e para a obtenção dos dados, este estudo de caso utilizou-se de duas modalidades de investigação: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. A partir da pesquisa qualitativa, observou-se que o ensino coletivo a partir da utilização da orquestra-escola permite o desenvolvimento global dos envolvidos. No caso da Orquestra Sinfônica do Vale do Cotinguiba não foi diferente, e, para tal intento, os professores em sua maioria usavam a metodologia Suzuki. Palavras-chave: ensino coletivo, orquestra-escola, métodos ativos, inclusão social. ABSTRACT This research covers the field of social projects of music from the research of the concepts of collective education, schools and orchestras active methods; aimed to also draw the creation/development of school orchestras with collective teaching design and the use of active methods, as well as to investigate and analyze the methodology of musical education applied by the Cotinguiba Valley Symphony Orchestra project. In order to achieve the proposed objectives and to obtain the data, this case study used two types of research: bibliographical research and field research. From the qualitative research, it was observed that the collective education-from the use of the School Orchestra allows global development of those involved. In the case of the Symphony Orchestra of the Cotinguiba was no different, and, for such purpose, the teachers-mostly-used the Suzuki methodology. Keywords: collective learning, school orchestra, active methods, social inclusion. 1 Graduando no curso Música Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] 2 Especialista em Psicodrama Sócio-Educacional pela Profint, graduada no curso de Psicologia pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] 3 Graduada no curso de Psicologia pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected]

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ORQUESTRA-ESCOLA: ENSINO COLETIVO E INCLUSÃO SOCIAL NO

PROJETO ORQUESTRA SINFÔNICA VALE DO COTINGUIBA

Jorge Eduardo Santos1

Paloma Araújo Côrtes dos Santos 2

Párbata Araújo Côrtes dos Santos3

GT1 – Educação de Crianças, Jovens e Adultos

RESUMO

A presente pesquisa aborda o campo dos projetos sociais de musicalização a partir da investigação dos

conceitos de ensino coletivo, orquestras-escolas e métodos ativos; visou também atrelar a

criação/desenvolvimento das orquestras-escola com a concepção do ensino coletivo e à utilização dos

métodos ativos, bem como se propôs a investigar e analisar a metodologia de educação musical aplicada

pelo projeto Orquestra Sinfônica Vale do Cotinguiba. Na perspectiva de alcançar os objetivos propostos

e para a obtenção dos dados, este estudo de caso utilizou-se de duas modalidades de investigação: a

pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. A partir da pesquisa qualitativa, observou-se que o ensino

coletivo – a partir da utilização da orquestra-escola – permite o desenvolvimento global dos envolvidos.

No caso da Orquestra Sinfônica do Vale do Cotinguiba não foi diferente, e, para tal intento, os

professores – em sua maioria – usavam a metodologia Suzuki.

Palavras-chave: ensino coletivo, orquestra-escola, métodos ativos, inclusão social.

ABSTRACT

This research covers the field of social projects of music from the research of the concepts of collective

education, schools and orchestras active methods; aimed to also draw the creation/development of

school orchestras with collective teaching design and the use of active methods, as well as to investigate

and analyze the methodology of musical education applied by the Cotinguiba Valley Symphony

Orchestra project. In order to achieve the proposed objectives and to obtain the data, this case study used

two types of research: bibliographical research and field research. From the qualitative research, it was

observed that the collective education-from the use of the School Orchestra – allows global development

of those involved. In the case of the Symphony Orchestra of the Cotinguiba was no different, and, for

such purpose, the teachers-mostly-used the Suzuki methodology.

Keywords: collective learning, school orchestra, active methods, social inclusion.

1 Graduando no curso Música Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail:

[email protected] 2 Especialista em Psicodrama Sócio-Educacional pela Profint, graduada no curso de Psicologia pela

Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] 3 Graduada no curso de Psicologia pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail:

[email protected]

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1 INTRODUÇÃO

A crescente propagação da sociabilização do ensino musical fez com que surgissem

vários projetos sociais de ensino coletivo. É nesse contexto que a orquestra passa a ser uma

ferramenta de musicalização. Apoiando-se nas características principais dos projetos sociais

com orquestra, nas Américas e também no Brasil, observa-se que tais modelos de projeto

propiciam educação musical gratuita (é recorrente em muitos projetos o empréstimo do

instrumento), englobam - dentre as suas atividades- aulas, ensaios e apresentações e

fundamentam-se na utilização de métodos motivadores e dinâmicos de aprendizagem em grupo.

Esses projetos, num geral, têm apoio de instituições governamentais, associações de pais e

apoiadores da iniciativa privada; e trabalham pautados na inserção social, influenciando a vida

dos participantes e dando lhes oportunidade de orientação para a profissionalização musical

(GRUBISIC, 2012, p.61).

A partir da concepção de que educação musical em projetos sociais se baseia no ensino

musical para todas as pessoas, a música é concebida como bem cultural com um papel

democratizante. Dessa forma, a orquestra sinfônica como ferramenta para a educação musical-

a orquestra-escola- pode ser considerada como um “espaço educacional e democrático” no qual

há a expansão do universo musical do aluno, visto que a música, em suas mais diversas

expressões, é um patrimônio cultural capaz de enriquecer a vida de cada um, ampliando sua

experiência expressiva e significativa (PENNA, 2008).

Projetos de caráter educativo-cultural na área da música, cujo objetivo geral é

realização de audições didáticas e concertos, além de oficinas de ensino

instrumental e de prática de orquestra abertas preferencialmente a crianças e

jovens estudantes da rede pública de ensino. Atende gratuitamente os alunos

menos favorecidos economicamente, de forma que realiza a inclusão social,

contribuindo para a cidadania e uma sociedade mais justa (PREFEITURA

MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS, 2010).

A fim de promover uma compreensão mais apurada desse tema, faz-se necessário

conhecer o contexto histórico, como se dão as práticas e como se relacionam os constructos

ensino-coletivo; métodos ativos e orquestra-escola no contexto da educação musical. Para

assim, posteriormente, elucidarmos o estudo de caso com uma orquestra-escola do estado de

Sergipe: A Orquestra Sinfônica Vale do Cotinguiba.

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2 ENSINO COLETIVO

O século XIX foi um momento de revoluções caracterizado pela complexidade tanto no

âmbito social quanto cultural; com o aumento populacional e o aparecimento da cultura de

massa, existiu um crescimento considerável na quantidade de pessoas desejosas de aprender

música e a instrução individual deu lugar a educação coletiva ampliando a relação professor-

aluno (OLIVEIRA, 2012). Em 1843, na Alemanha, Felix Mendelssohn inaugura o

conservatório de Leipzig, no qual havia aulas de música em grupo. Esse evento foi responsável

pela formalização e propagação da metodologia de ensino de instrumentos musicais em grupo,

que anteriormente só ocorria em instituições familiares (CASTRO, 2013).

Posteriormente, este procedimento chegou aos Estados Unidos, onde ganhou espaço nos

conservatórios de The Boston Conservatory e The New England Conservatory. Um fator

importante que colaborou para que esta metodologia se estabelecesse nos EUA foi uma forte

uma efervescência cultural após a Guerra Civil (ibibem). Na mesma época, surgiu um

movimento na Inglaterra chamado “The Maidstonemovement”, através da empresa Murdock

and company of london, especializada na venda deinstrumentos musicais e que implantou nas

escolas o ensino coletivo de violino (All Saints Nacional Schools) buscando desenvolver o amor

pela música orquestral através do aprendizado do instrumento, tal projeto foi considerado como

o surgimento do ensino coletivo instrumental (OLIVEIRA, 2012).

O ensino coletivo no Brasil, teve suas primeiras práticas ainda no período colonial

através das bandas de escravos, que no futuro se tornariam as bandas oficiais e de fanfarras

(ibidem). Entretanto, efetivamente, o ensino coletivo iniciou-se na segunda metade do século

XIX, na cidade de Tatuí/SP. Por volta de 1850, o maestro Antonio Rafael Arcanjo forma uma

das mais importantes bandas de música do município: Banda Santa Cruz. Logo no início do

século XX, Tatuí passou por um forte desenvolvimento econômico ligado às tecelagens, que

acarretou na fundação do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” em 11

de agosto de 1954. O professor de flauta e regente José Coelho de Almeida, que na década de

50, já realizava a formação de bandas de música nas fabricas do interior de São Paulo, em 1968

torna-se diretor do Conservatório Dr. Carlos de Campos e cria um projeto de iniciação e

aprendizado musical em conjunto, através de instrumentos de corda, os professores eram Pedro

Cameron e José Antonio Pereira (CASTRO, 2013).

Dentro dessa passagem de tempo, na década de 30, no governo de Getulio Vargas, houve

uma transformação na educação musical brasileira, graças ao incentivo e trabalho do grande

compositor brasileiro Heitor Vila Lobos que introduziu nas escolas de todo o país o Canto

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Orfeônico (OLIVERIA, 2012). Já no fim da década de 70, iniciaram-se projetos envolvendo

orquestra no ensino coletivo de educação musical com interesse em desenvolver aspectos

educativos e sociais. Pode-se destacar, nesse contexto, o “Projeto Espiral”, iniciado em 1976

de âmbito nacional através da Funarte – Fundação Nacional da Arte – e que aconteceu em seis

núcleos no Brasil: Fortaleza, Brasília, Recife, Belém, Natal e Florianópolis (GRUBISIC, 2012,

p. 32) a partir do método de “Ensino Coletivo de Cordas” de Alberto Jaffé. Conforme estudo

de Ying (2007), esse foi um dos primeiros métodos de ensino coletivo de instrumentos de cordas

no Brasil.

Outra personalidade no cenário brasileiro foi Joel Barbosa, que como trabalho de

conclusão de doutorado nos EUA, elaborou o primeiro método de banda brasileiro para ensino

coletivo a partir da descoberta de um método na biblioteca do conservatório que estudava em

1984. Essa inovação no ensino de instrumentos obteve sucesso não somente para os

instrumentos de sopro, destacou-se também dentre os instrumentos de corda expandindo-se por

todo o país (OLIVEIRA, 2012).

Após um pouco de referencial histórico, vale destacar que a metodologia do ensino

coletivo é adequada não somente para inclusão interpessoais e intercâmbio de saberes oriundos

da interação, mas serve, também, para influenciar novas descobertas, práticas em relação à

interpretação e conhecimento musical (OLIVEIRA, 2012, p. 20-21). Cruvinel (2005) relata que

a metodologia de ensino coletivo se afasta das metodologias de ensino de instrumento

tradicionais, inicialmente, na filosofia de ensino, no entendimento de que todos os indivíduos

podem se desenvolver musicalmente.

No ensino coletivo de música existe uma concepção mais eficiente em relação à

motivação, portanto, tocar em grupo, assimilar o som do colega, fica muito mais prazeroso que

tocar para si, as deficiências são socializadas em conjunto propiciando um maior intercâmbio

entre os alunos torna o “fazer musical” um campo de aprendizagens duráveis. Essa prática

coletiva provoca situações onde o aluno não somente é levado a interagir socialmente como

também contribui para um aprendizado instrumental e musical em ambiente lúdico. A aula é

elaborada e encaminhada ao grupo, obtendo do aluno concentração, frequência,

comprometimento e tornando o aluno menos tímido em relação ao público e na observação dos

colegas no cotidiano deixando-os mais tranquilos nas audições (TOURINHO, 2008). Além do

desenvolvimento das atitudes relacionadas ao aspecto musical dos alunos, o ensino instrumental

coletivo tem como principal produto de aprendizado o desenvolvimento social (DANTAS,

2010).

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A educação musical coletiva estimula a permuta de experiências entre os alunos mais

iniciantes e aqueles que já carregam uma bagagem de conteúdos teóricos e práticos das

atividades do projeto, contribuindo para uma personalidade ativa daqueles alunos mais

introspectivos, promovendo a socialização com os colegas e com o meio onde está inserido

(TOURINHO, 2008). Esse é o ambiente verificado nos projetos onde a orquestra sinfônica é

um instrumento de musicalização, ou seja, onde a noção de orquestra-escola se faz presente.

3 ORQUESTRA-ESCOLA

A construção de um grupo musical de orquestra engloba distintas ações de domínio

educacional e artístico com diferentes indivíduos através da música. Crianças e adolescentes na

formação do grupo vão se manifestando se desenvolvendo de uma maneira absoluta

(GRUBISIC, 2012, p. 200). Iniciativas em programas sociais que envolvam ensino coletivo e

gratuito de música vêm cooperando para o desenvolvimento sociocultural de vários alunos. A

sociedade atual deve ser percebida como um poderosa ferramenta de transformação, não só do

indivíduo, mas do ser humano social (CRUVINEL, 2005, p.17).

O substrato (música instrumental) da orquestra é condicionada à participação do

coletivo como um ser único. O fruto do trabalho do grupo traz benfeitorias para ele mesmo e

para aqueles pertencentes ao ambiente o qual recebe suas inúmeras apresentações. Interessante

também, é que na Orquestra os alunos que a compõem estão participando por iniciativa própria

no fazer música coletivamente (JOLY; JOLY, 2009, p.9). A orquestra é um ambiente onde estão

congregadas pessoas das mais distintas características, meio onde encontramos “pobres e ricos,

alegres e tristes, músicos experientes e não experientes, jovens e adultos”, todos fazendo parte

de um organismo em busca de um mesmo alvo intrínseco a uma liberdade de expressão (JOLY,

2007, p. 35).

Na prática inerente à Orquestra-Escola, o educador também toca na orquestra junto com

os estudantes, dessa forma, eles aprendem observando o seu educador. Num projeto social, a

figura do educador está bem próxima ao estudante e é o modelo de referência ao ensinar através

do exemplo (KATER, 2004, p. 45). O estudante tem o professor como um paradigma, àquele

que com facilidade tem o domínio do instrumento, encaminha, tem a prática e a técnica,

enquanto que os colegas possuem uma posição de espelhos, desvendando as complexidades de

cada aluno do grupo (TOURINHO, 2008, p. 2).

É fácil analisar e ver que são muitos os benefícios atrelados a uma educação musical

através da orquestra. Todavia, apesar disso, Scoggin (2002) relata que fatores relacionados a

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tradição musical da sociedade brasileira, a oferta e a qualidade do ensino básico, o número e a

qualificação de professores, a aquisição de instrumentos e materiais correlatos e as

oportunidades de trabalho dificultam a difusão e o trabalho com orquestras de cordas no Brasil.

São essas as duas faces da mesma realidade; esse é o ambiente verificado nos projetos

onde a orquestra sinfônica é um instrumento de musicalização. Nesse contexto cheio de

dificuldades potenciais para seu desenvolvimento no Brasil, os projetos socais musicais

possibilitam que o aluno vivencia todas as atividades de uma orquestra, passando pelas aulas

em grupo, máster class, ensaios, culminando nas apresentações. Mas como são passados esses

conteúdos em termos de métodos? O que devem levar em consideração para a boa

aprendizagem musical?

4 MÉTODOS ATIVOS

No século XX, diferentes educadores musicais influenciaram e revolucionaram as

gerações seguintes com suas teorias, metodologias, propostas ou abordagens de ensino e foram

desta forma, responsáveis pela solidificação do conceito de Educação Musical, além de gerar

frutos para novas tendências na área da pedagogia musical (FONTERRADA, 2008, p. 119).

Esses educadores propuseram a visão de Métodos Ativos em Educação Musical os quais são

alicerçados em pensadores como Rousseau, Pestalozzi, Froebel e valorizaram as ações do

aluno, considerado ativo no seu processo de aprendizagem (KEBACH, 2011, p.71).

Tais métodos em música aparecem na transição do século XIX para o século XX como

reflexo das grandes mudanças na concepção sobre a música na Europa. Antes a preocupação

com o bem estar e o desenvolvimento do aprendiz, sendo criança, jovem ou adulto, era nulo. O

panorama era a formação do virtuose, o interprete era o objetivo a ser alcançado, isso em âmbito

acadêmico, a busca pela excelência em execução era o comum da época (FONTERRADA,

2008 p. 121).

A partir daquele momento, defendeu-se a prática musical coletiva e o mecanismo de

aprendizagem-desenvolvimento centrou-se no duplo movimento do processo de

apropriação/interiorização: do externo (música) para o interno (aluno) e do interno (motivação)

para o externo (prática musical). Os Métodos Ativos fundamentavam-se numa prática musical

sistematizada, norteada linearmente a partir de conteúdos mais simplórios até aqueles definidos

como mais complicados, a qual tornava a educação musical inventiva, produtiva e agradável.

Priorizava-se uma experiência musical objetiva e prática, através do manuseio sonoro, da

execução musical em grupo e da manifestação corporal em música como esteio primário do

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procedimento de ensino-aprendizagem (BENEDETTI; KERR, 2009 p. 89). Os Métodos Ativos

destacam a experimentação da música diante de teorizá-la, focando como princípio a inserção

da sensibilização musical. De modo que são apreciadas as experiências musicais que o aluno

traz consigo, visto que, por meio dos exercícios anteriormente produzidos, para posteriormente

ser inserido a sistematizado (tradicional) da música, seja a prática de instrumento ou o estudo

da teoria da música (JESUS; HARDER, 2013, p. 360).

Segundo Fonterrada (2008) os principais autores dos Métodos Ativos são: Émile-Jaques

Dalcroze, Carl Off, Zoltán Kodály e Shinichi Suzuki. Émile-Jaques Dalcroze tem sua prática

pedagógica centrada na escuta e no movimento, tendo as ferramentas básicas do método

abalizadas na rítmica, no solfejo e na improvisação. Sua técnica, que promove a conexão da

melodia musical com a expressão corporal, foi desenvolvida primeiramente para ensinar música

a seus alunos. Esse método suscitou influências não somente na música, mas também nas artes

cênicas e na dança. Dalcroze também dedicava-se ao coletivo em arte e criticava o fato de o

pensamento coletivista não ter chegado na área musical.

Carl Orff, por sua vez, não deixou nenhum material que explicasse suas práticas

pedagógicas e filosofia, existindo somente uma coletânea de cinco volumes com peças escritas

para serem executadas. A essência da proposta pedagógica de Orff encontra-se na abordagem

dos elementos linguagem, música, movimento; na inter-relação entre dança, corpo, movimento,

música como expressões equivalentes e no caráter circular dos elementos: movimento, som e

ritmo. Outro autor é Zoltán Kodály cujo material de ensino é a voz visto que permite o ensino

grupal, além de que possibilita a inclusão de participantes, independentemente de seu poder

aquisitivo, logo que não há necessidade de aquisição de um instrumento. O desenvolvimento

do método abarca desde o treinamento auditivo, a percepção musical, ritmo até a leitura e escrita

musicais (FONTERRADA, 2008).

Por fim, o método de Shinichi Suzuki o qual busca desenvolver as primeiras habilidades

dos alunos através da audição e repetição. Através de seu método, Suzuki pretende que as

crianças aprendam a tocar violino da maneira mais natural possível, assim como as mesmas

aprendem a falar, portanto, a participação da família é apontada como primordial. Nessa

metodologia os familiares incentivam a prática de violino, o desenvolvimento da sensibilidade

e do gosto pela música. Para o estudo das peças, o pedagogo sugere que elas sejam

memorizadas, pois, ao memorizá-las a criança ficará livre para prestar atenção na postura,

afinação e técnica, nas frases musicais e na dinâmica (ibidem).

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5 PROBLEMA DE PESQUISA

O presente trabalho almejou oferecer uma contribuição para o estudo desta temática,

visto que no Brasil são poucas as pesquisas relacionadas diretamente ao ensino coletivo,

orquestras-escolas e métodos ativos. É notório que apenas por meio de pesquisas e da criação

de novas orquestras e projetos de ensino é que se chegará ao domínio das técnicas de trabalho

e à elevação da qualidade artística dos grupos.

Os objetivos do trabalho foram: apresentar um aporte teórico aos conceitos de ensino

coletivo, orquestras-escolas e métodos ativos; atrelar a criação/desenvolvimento das orquestras-

escola com a concepção do ensino coletivo e à utilização dos métodos ativos, investigar e

analisar a metodologia de educação musical aplicada pelo projeto Orquestra Sinfônica Vale do

Cotinguiba, orquestra-escola, que até o momento da pesquisa, pertencente ao cenário

sergipano, em específico, na cidade de Nossa Senhora do Socorro.

6 METODOLOGIA

O trabalho desenvolvido caracterizou-se como pesquisa de cunho qualitativo na qual

cabe a utilização de uma gama de métodos, técnicas e abordagens de investigação como estudo

de caso, investigação participativa, entrevistas, observação participante e análises

interpretativas (HARDER, 2008, p.19). Na perspectiva de alcançar os objetivos propostos e

para a obtenção dos dados, este estudo de caso utilizou-se de duas modalidades de investigação:

a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo.

A pesquisa bibliográfica fez uso de livros, artigos científicos, teses e outras fontes para

a fundamentação teórica a respeito das diferentes metodologias em Educação Musical, com a

finalidade de catalogar o material existente sobre o assunto. A pesquisa de campo, por sua vez,

foi realizada na sede da instituição e nela foram adotados os seguintes procedimentos:

Entrevista semiestruturada abordava os seguintes temas: nome do profissional, instrumento que

leciona, grau de escolaridade do professor, a quanto tempo leciona e desde quando está no

projeto, número de alunos e faixa etária dos alunos. E sobre a metodologia foi perguntado qual

método utilizado, a importância do método, os pontos positivos e negativos, a dinâmica das

aulas, avaliação dos alunos. Ocorreu também a observação estruturada direta das aulas de

instrumentos, com a finalidade de realizar observações acerca dos procedimentos de ensaio e

de trabalho.

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A coleta dos dados demandou aproximadamente um mês e, para tanto, era feito

inicialmente um contato prévio com o entrevistado para propor a participação, após aceitar o

convite, era feito o agendamento da entrevista.

7 RESULTADOS

Na observação estruturada direta constatou-se que o método utilizado pelos professores

do projeto em questão era o Método Ativo Suzuki. No intuito de verificar se seria confirmado

pelos professores a utilização desse método, na entrevista, foi deixado a cargo dos mesmos

responder a essa pergunta. Todavia, dois professores não mencionaram o uso de tal método,

logo, para confrontar tal fato com os dados obtidos na observação, questionou-se diretamente

se tais professores usavam o método Suzuki.

Com as novas perguntas, pôde-se obter um panorama da metodologia adotada na

Osquestra Sinfônica Vale do Cotinguiba. Com o auxílio de estudos de escalas, o método Suziki

fora considerado maravilhoso devido a suas melodias fáceis que fomentam a musicalidade nos

alunos. O método foi apontado como sendo muito importante na formação de uma escuta

musical e na promoção de uma maior participação dos pais no processo de aprendizagem. Outro

aspecto que é relatado foi que por possuir músicas bastante conhecidas pelo público em geral,

facilita o aprendizado e a memorização das peças, fator esse que auxiliaria o aluno com

dificuldade de leitura musical, além do que possuem nível de dificuldade gradual.

O ineditismo a cada aula foi também salientado, depois que o aluno ter absorvido todas

as dinâmicas da melodia estudada e ter tocado como o professor indicou, a melodia subsequente

passa a ser o próximo obstáculo a ser ultrapassado. Isso faz com que a criança fique estimulada

a sempre aprender algo novo, podendo ser esse um dos inúmeros motivos de o método Suzuki

estar sendo “atualmente o mais difundido método de ensino para instrumentos de cordas do

mundo” (fala de um dos professores).

Por outro lado, fora alegado por um dos professores que as músicas do Suzuki são

folclóricas para outra cultura, não faz parte do cenário brasileiro, como por exemplo, a canção

“Brilha brilha estrelinha” que o aluno deve assimilar, e por não compreender a melodia ainda

desconhecida para ela, pode passar muito tempo sem progredir. Por isso, esse professor afirmou

ser interessante mesclar peças do Suzuki com outras metodologias e aproveitar as músicas

folclóricas, relacionadas a infância das crianças brasileiras.

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8 CONSIDERAÇÕES

O ensino coletivo traz inúmeras benesses para a formação do indivíduo em sua

totalidade, proporcionando o incremento das atitudes e do caráter sociocultural do aluno. A

orquestra­escola, por sua vez, é fonte de produção cultural – a qual alcança as mais

diversificadas camadas da sociedade –, de educação, de sustento para os professores e maestros

que trabalham nesse meio, é elemento fomentador de opção profissional para seus alunos, e é,

primordialmente, espaço de convívio social, no qual pessoas das mais diferentes raças, credos

e classes sociais desenvolvem suas atividades em busca de um objetivo comum. Portanto,

projetos sociais envolvendo a utilização de ensino coletivo a partir da estrutura da orquestra

sinfônica são ambientes de inter-relações explícitas no decorrer de suas atividades, seja com os

educadores, com monitores e mesmo com os colegas: é uma troca de experiências muito

enriquecedora.

A Orquestra Sinfônica Vale do Cotinguiba (OSVC) nasceu com esse propósito; é um

projeto de ação social voltado a população carente das regiões do Vale do Cotinguiba, situado

na cidade Nossa Senhora do Socorro no estado de Sergipe para a promoção de ensino de música

a partir do conceito de orquestra-escola. Sobre a metodologia desse projeto, foi verificado que

não é imposto nenhum método, ficando a cargo da preferência e da experiência de cada

professor como o ensino será realizado.

Apesar da inúmera gama de métodos, os professores optaram em utilizar o caderno de

melodias da metodologia de Chinishi Suzuki que mostrou-se ser o mais adequado ao contexto

da OSVC, visto que possibilitou um ambiente favorável de aprendizagem pois possuía algo

muito atrativo aos futuros músicos: a possibilidade de tocar prontamente, mostrar sua arte para

os outros e para si; visualizando que tal habilidade é possível.

Talento não é acidente de nascimento... Qualquer criança devidamente

treinada pode desenvolver a habilidade musical assim como toda criança

desenvolve a habilidade de falar sua língua materna. O potencial de cada

criança é ilimitado (Shinichi Suzuki, apud CUNHA; GOMES, 2012).

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HARDER, Rejane. A abordagem pontes no ensino de instrumentos: três estudos de caso.

2008, 314 f. Tese (Doutorado) - Escola de música, Universidade Federal da Bahia. Salvador,

2008.

JESUS, Simone C. L; HARDER, Rejane. Uma proposta pedagógica para a educação musical

no ensino fundamental baseada nos “métodos ativos”: Relato de experimento. In: ABEM | XI

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JOLY, Maria Carolina Leme. Convivência em uma orquestra comunitária: um olhar para os

processos educativos. Dissertação de Pós-Graduação, CECH da Universidade Federal de São

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JOLY, Ilza Zenker Leme; JOLY, Maria Carolina Leme. Convivência em uma Orquestra

Comunitária – um Olhar para os Processos Educativos. In: XII Congresso de

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KATER, Carlos. O que podemos esperar da educação musical em projetos de ação social. In:

Revista da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM, nº. 10, 2004.

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movimento corporal e construção musical. In: Revista da Associação Brasileira de Educação

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PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.

PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS. Portfólio de Projetos 2009/2010.

Disponível em:

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