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Page 1: ORIGEM DA VIDA: BIOGÊNESE E ABIOGÊNESE · da matéria havia um princípio ativo ou força vital que seria responsável pela transmutação da matéria bruta em matéria viva. Baseavam-se

Editora Galois

ORIGEM DA VIDA: BIOGÊNESE E ABIOGÊNESE

1. ABIOGÊNESE OU GERAÇÃO ESPONTÂNEA

Muitas ideias errôneas sobre a origem dos seres vivos se es-tabeleceram por falta de conhecimento sobre o processo reprodu-tivo. Durante muito tempo, acreditou-se que os seres vivos mais simples poderiam surgir a partir da matéria não viva. Cogume-los e musgos pareciam brotar por si mesmos, sem sementes, sa-pos brotavam da lama, moscas eram geradas do lixo, vermes eram produzidos da carne em putrefação ou do queijo, cobras surgiam de rochas, besouros e vespas das fezes do gado, e outros tantos exemplos que hoje parecem absurdos. Para os animais que se co-nhecia o processo reprodutivo e havia identificação de machos e fêmeas, não se considerava a abiogênese. Aristóteles (384, a.C. – 322, a.C.) defendeu essas ideias, acrescentando que no interior da matéria havia um princípio ativo ou força vital que seria responsável pela transmutação da matéria bruta em matéria viva. Baseavam-se em observações empíricas, sem a realização de experimentos controlados como os realizados hoje.

Figura 1. Geração espontânea.

Figura 2. Geração espontânea de abelhas.Internet: <http://www.pasteurbrewing.com/spontaneous-

generation-and-the-origin-of-life/>.

Jan Baptista van Helmont (1567 – 1644), médico e pes-quisador, acreditava na geração espontânea e propôs uma receita para criar ratos em 22 dias por geração espontânea. Uma camiso-la suada foi colocada em um jarro e, posteriormente, um punha-do de trigo. O jarro foi colocado num local escuro e após 22 dias foram encontrados ratinhos. Nesse período já se conhecia melhor o processo reprodutivo, porém muitos ainda acreditavam na gera-ção espontânea para algumas espécies.

Figura 3. Ratos em 22 dias.Internet: <http://3.bp.blogspot.com/-rRe__ucqdeM/UQgajfHZHfI/AAAAAAAA-

AG8/M6ryJUT0bwI/s1600/experimento+van+helmont.jpg>.

Francesco Redi (1626-1697), em 1668, realizou um expe-rimento muito difundido. Ele estava estudando vermes que sur-giam em cadáveres animais e, percebeu em suas observações que posteriormente eles se transformavam em moscas. Intrigado com esse fato, elaborou um belo e simples experimento. Utilizou alguns frascos nos quais colocou carne; um terço desses frascos ficaram abertos, um terço completamente fechado e o último ter-ço, cobertos com um material que impedia o contato das moscas com a carne, mas, permitia a entrada de ar. Após algum tempo, verificou que apenas nos frascos abertos houve o aparecimento de vermes. Redi identificou ovos das moscas e descreveu seu de-senvolvimento que passava pelo estágio de verme (larva) antes de se metamorfosear no adulto.

Esses resultados contradiziam a ideia de geração espon-tânea de vermes em carne em putrefação, porém não invali-davam outros exemplos de abiogênese da época.

Figura 4. Experimento de Redi.Internet: <http://edspontaneousgeneration.weebly.com/uplo-

ads/4/5/2/0/45206979/3671740_orig.png>.

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BIO

LOG

IA

MATERIAL COMPLEMENTAR

2. BIOGÊNESE

Os resultados desse experimento e outros avanços na com-preensão da reprodução dos seres vivos validavam o pensamento de que todos os seres vivos se originavam de outros seres vivos por reprodução, não sendo gerados espontaneamente no meio.

A descoberta dos micróbios ainda no século XVII por Leewe-nhoek deu nova força aos defensores da geração espontânea. O sé-culo XVIII foi marcado por uma série de experimentos com caldos nutritivos para avaliar a geração espontânea desses micro-organis-mos.

3. ABIOGÊNESE X BIOGÊNESE

Vários experimentos foram feitos com caldos nutritivos, se-guindo um padrão semelhante aos experimentos de Francesco Redi. Os frascos eram cuidadosamente limpos e recebiam caldos nutritivos. Os caldos eram fervidos para matar os micróbios nele presentes, então metade eram fechados e metade ficavam em contato com o ar. Após certo período, eram analisados. Se hou-vesse micróbios em todos os frascos, o resultado fortaleceria a abiogênese; se aparecessem micróbios apenas nos frascos abertos, a biogênese se mostrava mais correta.

Joblot (1645-1723), em 1711, conduziu seus experimentos utilizando um caldo nutritivo preparado à base de carne e pre-viamente fervido, colocou nos frascos e fechou metade deles com um pergaminho feito de pele de animais. Após alguns dias, não encontrou micróbios em nenhum dos frascos. Ele concluiu que os micróbios surgiam a partir de sementes provenientes do ar.

John T. Needham (1713-1781), em 1745, repetiu os experi-mentos de Joblot fechando os frascos com rolhas, porém encon-trou micro-organismos em todos os frascos, defendendo assim a geração espontânea.

CIENTISTA JOHN NEEDHAM

LAZZARO SPALLANZANI

TEMPO DE FERVURA MENOR MAIOR

FECHAMENTO DO FRASCO ROLHA HERMÉTICO

APARECIMENTO DE MICRO-ORGANISMOS

NOS DOIS TI-POS DE FRAS-

COS

APENAS NOS FRASCOS ABERTOS

Tabela. Comparação dos experimentos de Needham e Spallanzani.

Em 1770, Lazzaro Spallanzani (1729-1799) repetiu os ex-perimentos de Needham, porém aumentou o tempo de fervura e fechou hermeticamente os frascos. Não observou micróbios em nenhum dos frascos. Spallanzani explicava que o tempo de fer-vura de Needham não tinha sido suficiente para matar todos os micróbios do caldo nutritivo, permitindo assim sua multiplica-ção. Needham se defendia argumentando que o tempo de fervura destruiria a força vital e a vedação do frasco impediria a entrada do gás oxigênio, essencial à vida. Nessa discussão, Needham saiu fortalecido.

Figura 5. Experimentos do século XVIII que negavam a geração espontânea de micro-organismos, pois foram encontrados apenas nos frascos abertos.

Internet: http://2.bp.blogspot.com/-hdu3HiUoW3A/VqwYYSQmjZI/AAAAAAAA-D0A/1nEwKTXYQac/s1600/ddddd.jpg

Figura 6. Experimento de Spallanzani.Internet: <http://schoolbag.info/biology/concepts/concepts.files/image535.

jpg>.

Não havia consenso na comunidade científica, muitos acredi-tavam na abiogênese enquanto outros defendiam a biogênese. As experiências favoráveis às duas correntes de pensamento conti-nuaram durante o século XIX. Em 1856, o médico naturalista Félix Archimède Pouchet (1800-1876) conduziu experimentos bem elaborados favoráveis à geração espontânea de micro-organis-mos. Em 1860 Louis Pasteur (1822-1895) ganhou um prêmio da academia de Ciências de Paris, disputando com Pouchet, com um experimento que demonstrava a biogênese também para micró-bios. O resultado do concurso não foi bem aceito na comunidade científica, pois havia indícios da influência da Igreja Católica asso-ciada ao governo de Napoleão. Para a Igreja, a geração espontâ-nea natural poderia contradizer a criação dos seres vivos feita por Deus. A discussão é que os dois experimentos foram bem condu-zidos e não havia, à época, como confirmar por meios de testes os erros de nenhum deles. Hoje sabe-se que o material utilizado por Pouchet (folhas de feno) continha esporos resistentes à alta tem-peratura, por isso todos os frascos ficavam contaminados.

Independentemente dessa página obscura, o experimento de Pasteur foi bem conduzido com resultados em favor da biogênese. Ele moldou um frasco (pescoço de cisne) com um gargalo fino e curvo que permitia o contato com o ar, mas não contaminava o caldo, pois os micróbios ficavam retidos na curva do gargalo. Quando o gargalo era quebrado, o caldo exposto ao ar sofria con-taminação com multiplicação de micro-organismos.

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Editora Galois

Figura 7. Experimento de Pasteur.Internet: <http://2.bp.blogspot.com/-S8-b7t8ejII/TndgKHnk_

1I/AAAAAAAABUE/_TnZ1Hm4R3s/s1600/Untitled.jpg>.

Figura 8. Frasco pescoço de cisne idealizado por Pasteur.Internet: <http://www.visionlearning.com/images/figure-images/226-f-2x.jpg>.

A discussão sobre biogênese e abiogênese ainda continuou por alguns anos, até uma melhor compreensão dos mecanismos de reprodução de micro-organismos, porém o experimento de Pasteur é colocado como um marco na derrubada da teoria da geração espontânea.