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ORIENTE MÉDIO – OS PAÍSES ÁRABES O mundo árabe 1- Os países árabes do Oriente Médio são: Líbano, Síria, Iraque, Jordânia, Arábia Saudita, Omã Iêmen, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Catar e Kuwait. Pode-se acrescentar a eles a Palestina, ou Autoridade Palestina. Também o Egito possui terras nessa região: a península do Sinai. Mas foi na porção africana do país, especialmente nas margens do rio Nilo, que os egípcios se fixaram e desenvolveram suas atividades econômicas. Os outros países árabes do mundo localizam-se principalmente no norte da África: Marrocos, Argélia, Líbia, Djibuti, Ilhas Comores, Mauritânia, Somália, Sudão e Tunísia. Esses países de língua árabe possuem tradições comuns, principalmente a religião. 1.1- No Oriente Médio destacam-se pela produção e exportação de petróleo os seguintes países: Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque, Omã, Catar, Bahrein, Síria, Emirados Árabes Unidos e Iêmen. Os grandes exportadores de petróleo em geral possuem uma renda per capita muito alta. Os demais países – Líbano e Jordânia – não exportam petróleo. Possuem uma economia pobre, baseada na agropecuária, em que se destacam o cultivo de trigo, legumes, frutas cítricas, algodão, sorgo, gergelim e a criação de gado ovino. 1.2- O regime político dos países árabes é muito variado. Aí encontramos: * Monarquias absolutistas semifeudais Arábia Saudita, Omã, Bahrein e Catar; * Monarquias constitucionais – Kuwait e Jordânia; * Repúblicas presidencialistas – Síria, Líbano, Iêmen e Iraque; * regimes políticos originais – Irã, um país teocrático , e Emirados Árabes Unidos, uma federação de emirados. 1.3- Apesar dessas diferenças entre os regimes políticos, que são apenas formais (emirados, monarquias, repúblicas), o poder policio está sempre monopolizado por uma minoria da população, que dispõe também da maior parte das propriedades e da renda. Em praticamente todos esses países, a regra geral é a concentração do poder nas mãos de duas ou três famílias. Geralmente, o sogro ou o irmão do presidente ou do emir é o ministro do Exército; o cunhado, o ministro da Economia; um primo cuida do Banco Central ou da polícia secreta; e assim por diante. A expansão do islamismo 2- O fundamentalismo islâmico prega um Estado regido apenas pelas leis do Corão, o livro sagrado dos mulçumanos. Em um regime político islâmico não há distinção entre religião e política, como no caso do Irã e, em parte, da Arábia Saudita e do Sudão. 2.1- Divididos em sunitas e principalmente xiitas, os fundamentalistas concordam num ponto: romper com a influência do Ocidente capitalista, considerado o “grande Satã”, e substituir as leis do homem pela xariá ,

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ORIENTE MÉDIO – OS PAÍSES ÁRABESO mundo árabe

1- Os países árabes do Oriente Médio são: Líbano, Síria, Iraque, Jordânia, Arábia Saudita, Omã Iêmen, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Catar e Kuwait. Pode-se acrescentar a eles a Palestina, ou Autoridade Palestina. Também o Egito possui terras nessa região: a península do Sinai. Mas foi na porção africana do país, especialmente nas margens do rio Nilo, que os egípcios se fixaram e desenvolveram suas atividades econômicas. Os outros países árabes do mundo localizam-se principalmente no norte da África: Marrocos, Argélia, Líbia, Djibuti, Ilhas Comores, Mauritânia, Somália, Sudão e Tunísia. Esses países de língua árabe possuem tradições comuns, principalmente a religião.1.1- No Oriente Médio destacam-se pela produção e exportação de petróleo os seguintes países: Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque, Omã, Catar, Bahrein, Síria, Emirados Árabes Unidos e Iêmen. Os grandes exportadores de petróleo em geral possuem uma renda per capita muito alta. Os demais países – Líbano e Jordânia – não exportam petróleo. Possuem uma economia pobre, baseada na agropecuária, em que se destacam o cultivo de trigo, legumes, frutas cítricas, algodão, sorgo, gergelim e a criação de gado ovino.1.2- O regime político dos países árabes é muito variado. Aí encontramos:* Monarquias absolutistas semifeudais – Arábia Saudita, Omã, Bahrein e Catar;* Monarquias constitucionais – Kuwait e Jordânia;* Repúblicas presidencialistas – Síria, Líbano, Iêmen e Iraque;* regimes políticos originais – Irã, um país teocrático, e Emirados Árabes Unidos, uma federação de emirados.1.3- Apesar dessas diferenças entre os regimes políticos, que são apenas formais (emirados, monarquias, repúblicas), o poder policio está sempre monopolizado por uma minoria da população, que dispõe também da maior parte das propriedades e da renda. Em praticamente todos esses países, a regra geral é a concentração do poder nas mãos de duas ou três famílias. Geralmente, o sogro ou o irmão do presidente ou do emir é o ministro do Exército; o cunhado, o ministro da Economia; um primo cuida do Banco Central ou da polícia secreta; e assim por diante.

A expansão do islamismo2- O fundamentalismo islâmico prega um Estado regido apenas pelas leis do Corão, o livro sagrado dos mulçumanos. Em um regime político islâmico não há distinção entre religião e política, como no caso do Irã e, em parte, da Arábia Saudita e do Sudão.2.1- Divididos em sunitas e principalmente xiitas, os fundamentalistas concordam num ponto: romper com a influência do Ocidente capitalista, considerado o “grande Satã”, e substituir as leis do homem pela xariá, um conjunto de regras presentes no Corão e na tradição oral associadas ao profeta Maomé.2.2- Do norte da África ao sudeste da Ásia, o fundamentalismo islâmico vem modificando a vida de milhões de pessoas, assustando os governos dos países ricos. Onde se instala, é causa de turbulência. * no Egito – o confronto entre o terror islâmico e o governo já deixou centenas de mortos e afugentou turistas;* na Argélia – provocou uma guerra civil que matou milhares de pessoas e deixou o país sem saber o que é pior: a ditadura militar que domina o país, ou um governo teocrático semelhante ao do Irã;* nos territórios palestinos ocupados por Israel – os fundamentalistas do grupo terrorista Hamas tornaram-se o grande obstáculo ao acordo de paz entre a Autoridade Palestina e Israel;* no Líbano, no Afeganistão, na Jordânia, na Índia e nas novas nações asiáticas oriundas da dissolução da União Soviética (Turcomenistão, Quirguízia, Usbequistão, Tajiquistão) – os fundamentalistas também crescem e, especialmente na Índia, entraram em choques freqüentes com os hindus.2.3- Países como a Jordânia, que tinham costumes ocidentalizados, passaram a adotar costumes tradicionais do islamismo: estão fechadas as piscinas mistas, onde homens e mulheres podiam tomar banho juntos; é proibida a venda de bebidas alcoólicas; e livros ou filmes considerados pornográficos ou contrários aos costumes religiosos são proscritos. Além disso, as mulheres usam, cada vez mais, os tradicionais véus para cobrir o rosto em público e são proibidas de dirigir carros.2.4- Podem ser apontados três motivos para a expansão islâmica. Primeiro, é natural que, na falta de alternativas, como a que representou o socialismo, que antes influenciava pessoas e organizações, os mais pobres se voltem para as promessas religiosas de uma vida simples, como a de seus antepassados, teoricamente sem roubalheiras nem injustiças sociais. Depois, o novo governo teocrático do Irã investe milhões de dólares a cada ano para propagar a fé islâmica. Com isso, o clero muçulmano estabelece uma rede de assistência social nas áreas mais pobres do Oriente Médio, sul e sudeste da Ásia e norte da África, onde os Estados não realizam obras para a população. É aí que os fundamentalistas recrutam os seus novos militantes fanáticos, que muitas vezes até matam em nome da fé e contra tudo aquilo que eles odeiam.2.5- A seguir, vamos estudar o Iêmen, o Líbano e o Iraque, três países do Oriente Médio que merecem destaque por seus problemas políticos.

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Iêmen: reunificação ou separação?3- O Iêmen é um Estado-Nação original, com uma precária unidade nacional e uma baixa renda per capita: 800 dólares, na época da Guerra Fria, existiam dois Iemens: o Iêmen do Norte, tido como capitalista, e o Iêmen do Sul, que se proclamava socialista.3.1- Na verdade, o Iêmen do Sul foi uma peça importante para os soviéticos no Oriente Médio. Tratava-se de um território que servia de base aos soviéticos, além de ser um aliado na região. Da mesma forma, o apoio soviético foi indispensável para a sobrevivência desse regime político hostilizado pelos Estados Unidos e pelos vizinhos árabes.3.2- A unificação formal do Iêmen do Sul e do Iêmen do Norte, em maio de 1990, manteve intactas as economias de cada parte. Os antigos governos dos dois países entraram num acordo para dividir entre si os cargos do novo Estado unificado, e a União Soviética deixou de fornecer ajuda financeira ao Iêmen do Sul (a parte mais pobre do novo país).3.3- Em maio de 1994, porém, o norte e o sul do países voltaram a se enfrentar militarmente, tendo em vista uma nova separação em dois países. A guerra civil terminou após dois meses de combate, o que reforçou a posição do líder do Partido do Congresso Geral do Povo, pois ele ocupou a presidência da República do Iêmen. Seu governo deixou de lado os políticos do sul. Nas eleições de 1997, boicotadas pelo Partido Socialista do Iêmen (constituído pelos ex-dirigentes do Iêmen do Sul), o partido do governo conquistou mais da metade dos cargos parlamentares. A constituição do Iêmen se baseia inteiramente na Legislação islâmica, isto é, no Corão, desde 1994. do ponto de vista das relações com os Estados vizinhos, em 1995 o Iêmen e a Arábia Saudita resolveram, por meio de negociações diplomáticas, manter a fronteira terrestre que haviam estabelecido em 1934, e a respectiva demarcação encontra-se em curso.3.4- O grande desafio do Iêmen diz respeito à sua consolidação como um único Estado. Paralelamente, as camadas populares reclamam medidas que favoreçam o crescimento econômico desse Estado pobre, à exceção de uma minoria privilegiada. Mesmo o petróleo, descoberto em 1984 e que responde por 90% das exportações do país, não mudou as condições de vida de sua população.

Líbano: a difícil reconquista da soberania4- O Líbano foi um dos países mais prósperos da região – possui solos férteis e excelente posição geográfica para o comércio mundial – mas hoje é um dos mais pobres e enfrenta enormes problemas internos. O país apresenta uma grande diversidade cultural e religiosa. Os muçulmanos – divididos em sunitas e xiitas – abrangem cerca de 60% da população. No entanto, é grande a presença de católicos, cristãos ortodoxos, armênios, protestantes, etc.4.1- As lutas entre essas comunidades, agravadas ainda mais pela presença de refugiados palestinos, tem sido freqüentes e violentas e constituíram quase que um reflexo das lutas entre Israel e os países vizinhos. Em 1975, iniciou-se uma verdadeira guerra civil no país, principalmente entre cristãos – apoiados por Israel – Estado muçulmanos – apoiados pelos árabes. Além disso, o sul do país foi freqüentemente bombardeado por forças israelenses, que tentavam assim responder aos ataques palestinos, que possuíam e possuem instalações nessa parte do Líbano. Essa terrível guerra civil, que conheceu alguns períodos de trégua, terminou em 1991. mas as tropas da Síria não se retiraram do território do Líbano, e o sul do país continuou ocupado por Israel. Por isso mesmo, o Hezbollah, grupo xiita radical apoiado pelo Irã, continua combatendo as tropas israelenses no sul do Líbano.4.2- Se a paz se confirmar no Líbano; se a paz entre a Autoridade Palestina e Israel se consolidar na região; se Israel parar de bombardear esse território; se a Síria retirar as suas tropas do Líbano, este país poderá, enfim, começar a reconstruir como um Estado soberano. E, por conseguinte, recuperar o antigo prestígio de centro turístico e a posição de grande centro financeiro do Oriente Médio.

Iraque5- O Iraque representa um caso especial entre os países árabes e também no Oriente Médio em geral. O país, que já foi mais rico no passado, pois tem a segunda reserva mundial de petróleo (inferior somente à da Arábia Saudita), se encontra, há algumas décadas, num estado de extrema penúria com uma enorme falta de alimentos, de remédios, de bens e equipamentos. Isso porque, até 2003, foi governado por um partido único e oficial, que não admitia oposições nem liberdades democráticas, e existia a ditadura pessoal do seu líder, Saddam Hussein, que se apoderou de grande parte das riquezas do país: dos principais bancos e indústrias, das propriedades rurais, dos poços de petróleo, etc.5.1- Para evitar um maior descontentamento popular – que em parte já existia, principalmente no sul, onde predomina a vertente xiita do islamismo, e no norte, onde existem os curdos – o governo iraquiano promovia freqüentes conflitos externos como uma forma de unir o povo contra um inimigo comum, o adversário da pátria.5.2- A primeira dessas aventuras foi a guerra com o Irã (1979-1989), na realidade uma invasão desse país pelo Iraque, que pretendia tomar uma parte do seu território. Todavia, ao contrário do que imaginavam as autoridades iraquianas, o Irã foi uma presa fácil, e o conflito foi demorado e sangrento, provocando a morte de milhares de pessoas e a destruição de pontes, aeroportos, estradas, etc. Após esse conflito, o Iraque ficou numa precária condição econômica e, para piorar a situação, já se encontrava bastante endividado por causa dos volumosos recursos que tomou emprestado para financiar a guerra.5.3- Para tentar conseguir novos empréstimos e reconstruir a economia, o governo do Iraque, em 1989 e 1990, procurou ajuda nas nações árabes vizinhas e acordos com os demais países exportadores de petróleo para elevar os preços desse combustível. Mas não conseguiu nenhum desses objetivos, pois os países árabes vizinhos já lhe haviam emprestado grandes somas durante a guerra com o Irã e uma súbita elevação dos preços do petróleo não é interessante para os grandes exportadores, como a Arábia Saudita, que tem interesses (ações, propriedades) nas economias desenvolvidas e importadoras. Por isso o Iraque invadiu o Kuwait, em agosto de 1990, procurando anexá-lo ao seu território. O Kuwait, pequeno país vizinho do Iraque, possui grandes reservas de petróleo (a terceira maior do mundo) e uma ótima saída para o mar, algo que os iraquianos sempre almejaram.5.4- No entanto, a reação do resto do mundo a essa invasão, e em particular dos Estados Unidos, acabou pegando o Iraque de surpresa. A ONU decretou um boicote comercial ao Iraque; nenhum país comprava produtos do Iraque nem vendia nada a ele. Ale disso, foi dado ao governo iraquiano um prazo, até o início de 1991, para a retirada de suas tropas do Kuwait. Caso a retirada não ocorresse, como não ocorreu, as tropas das forças aliadas – lideradas pelos

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Estados Unidos e com a participação de outros países (Reino Unido, Itália, França, Egito, Arábia saudita, etc.) – iniciaram uma guerra contra o Iraque pela libertação do Kuwait. A antiga União Soviética, que até o final dos anos 1980 sempre se opôs aos Estados Unidos, ajudando os países adversários dessa superpotência, nada fez para auxiliar o Iraque.5.5- Após intensos bombardeios, as tropas iraquianas foram desalojadas do Kuwait em março de 1991 e o saldo dessa breve, mas intensa guerra foi catastrófico para esses dois países: destruição de cidades e instalações industriais, principalmente petroquímicas; derramamento de petróleo no mar, o que causou grande poluição; e poços de petróleo em chamas, o que provocou enorme concentração de gases venenosos na atmosfera e até nas poucas reservas de água potável.5.6- No início do século XXI, o Iraque foi acusado pelos Estados Unidos e por outros países, e até mesmo pela ONU, de fabricar e armazenar grandes quantidades de armas químicas e biológicas, além de tentar produzir bombas atômicas. Os precários recursos do país estariam sendo investidos no setor militar. O Iraque negou essas acusações, mas elas teriam sido confirmadas por inúmeros depoimentos de técnicos e cientistas que conhecem bem o assunto, inclusive alguns que já trabalharam no Iraque. Por esse motivo, a ONU, pressionada pelos Estados Unidos, decretou um boicote ao Iraque, que não podia exportar grandes quantidades de petróleo (a sua maior fonte de renda), mas apenas o mínimo para comprar os alimentos e remédios que necessitava.5.7- Em 2003, os Estados Unidos e o Reino Unido, mesmo sem o aval da ONU, resolveram invadir o país e derrubar o seu governo, instalando um outro regime político, em tese, menos agressivo com o Ocidente.

ATIVIDADES

I- Diferencie os seguintes conceitos: mundo islâmico, mundo árabe e países árabes do Oriente Médio.II- Indique a principal diferença entre os países árabes do Oriente Médio.III- Quais são os dilemas atuais do Líbano e do Iraque?