orientadora: ursula wetzel, d.se. professora adjunta rio de … · ficha cat alogrÁfica quenlal,...

111
EQUILÍBRIO ENTRE VIDA PROFISSIONAL E VIDA PESSOAL: A EXPERIÊNCIA DE MULHERES EMPREENDEDORAS NO RIO DE JANEIRO CAMILLA MUGLlA QUENTAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Rio de Janeiro Fevereiro de 2003 Professora Adjunta

Upload: lamthu

Post on 10-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

EQUILÍBRIO ENTRE VIDA PROFISSIONAL E VIDA PESSOAL:

A EXPERIÊNCIA DE MULHERES EMPREENDEDORAS NO

RIO DE JANEIRO

CAMILLA MUGLlA QUENTAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2003

Professora Adjunta

Page 2: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

EQUiLíBRIO ENTRE VIDA PROFISSIONAL E VIDA PESSOAL:

A EXPERIÊNCIA DAS MULHERES EMPREENDEDORAS

NO RIO DE JANEIRO

Camilla Muglia Quental

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de

Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos

requisitos necessários á obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

Prof. Ursula Wetzel Brandão dos Santos, D.Sc. COPPEAD/UFRJ

Prof. Letícia Moreira Casotti, D.Sc. COPPEAD/UFRJ

Prof.IMaria José Tonelli, D.Sc. FGV/EAESP

Rio de Janeiro, RJ

2003

Presidente da Banca

Page 3: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

FICHA CAT ALOGRÁFICA

Quenlal, Camilla Muglia.

Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência de mulheres empreendedoras no Rio de Janeiro I Camilla Muglia Quental.­Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003.

xi, 103 p.: il.

Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração­COPPEAD,2003.

Orientadora: Ursula Wetzcl

I. Equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal. 2.Empreendedorismo e gênero. 3. Mullicres empreendedoras no Rio de Janeiro.

I. Wetzel, Ursula (Orient.). 11. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. IIl. Título.

Page 4: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço à minha orientadora, professora Ursula Wetzel, pelo apoio,

incentivo e carinho demonstrados na real ização deste trabalho.

A meus pais, em especial a meu pai, Paulo Quental, ex-aluno do COPPEAD, que sempre

me incentivou nos estudos e cuja formação serviu de exemplo e incentivo para que eu

viesse a estudar nesta instituição.

Ao meu companheiro Guilherme, pela compreensão, força e companheirismo

demonstrados durante o curso e a realização desta dissertação.

A meus amigos e colegas de turma e aos funcionários do COPPEAD, sempre tão

atenciosos e dispostos a ajudar.

Page 5: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

RESUMO

QUENT AL, CamiJla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a

experiência de mulheres empreendedoras no Rio de Janeiro. Orientadora: Ursula

Wetzel. Rio de Janeiro UFRJ! COPPEAD, 2003. Dissertação.

As questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal têm se tomado

cada vez mais importantes e discutidas entre empresários e estudiosos do assunto. A

importância de se examinar as questões de equilíbrio entre trabalho e família para pessoas

empreendedoras é reforçada pelo aumento da formação de n ovos negócios, especialmente

por mulheres, que nos últimos anos começaram novas empresas a uma taxa duas vezes

maior do que a dos homens. Este trabalho descreve uma pesquisa realizada com mulheres

que praticam atividades empreendedoras no Rio de Janeiro e pretende investigar, a partir

das percepções destas, as questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e vida

pessoal.

Page 6: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

ABSTRACT

QUENT AL, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a

experiência de mulheres empreendedoras no Rio de Janeiro. Orientadora: Ursula

Wetzel. Rio de Janeiro: UFRJ / COPPEAD, 2003. Dissertação.

The issues related to the work-life balance have become increasingly more important and

discussed between businessmen and academics in the last decade. The importance of

examining the issues related to the work-Iife balance for entrepreneurial people is

renforced by the increasing number ofnew businesses fonned, especially by women, who

have started new businesses in a tax two times bigger than that of men in the last years.

This work describes a research carried through with entrepreneurial women in Rio de

Janeiro and intends to investigate, from the perceptions ofthese, the issues related to the

balance between professionallife and personal life.

Page 7: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

1

1.1

1.2

1.3

2

2.1

2.2

SUMÁRIO

INT.ROD'UÇAO ........................................................................ .

Objetivo da pesquisa ....

Relevância da pesquisa

Delimitação da pesquisa .. ,

REF,ER:ENCIA.L TEORICO ................................................... .

Equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal............... ...... .

A mudança do papel da mulher no mercado de trabalho ......... .

2.3 As questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e vida

pessoal para as mulheres ...

2.3.1

2.3.2

2.4

2.4.1

2.4.2

2.4.3

2.4.4

2.5

2.5.1

2.5.2

2.5.3

2.5.4

Família ...

Amigos, lazer e cuidados pessoais ...... .

Estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal ....

Modelos de conexão entre trabalho e família ............................... .

Trabalho e família como domínios experienciais ................ .

.Fronteiras entre trabalho e família ..

Diferenças individuais ............... . ......... .

Empreendedorismo e mulheres

A importância dos negócios dirigidos por mulheres ................... .

Teorias clássicas de empreendedorismo ..... .

Motivações das mulheres para o empreendedorismo .....

Característica do empreendedorismo em mulheres ................. .

2.6 Influências do tipo de emprego e do gênero no equilíbrio entre vida

profiss ional e vida pessoal

2.6.1

2.6.2

2.6.3

2.7

Tipo de emprego. ......... .............. .

Gênero

Modelo de Parasuraman e Simmers

Modelo conceitual......... ..

1

2

2

5

7

7

8

1 I

12

17

22

22

24

27

28

30

30

34

35

38

40

4\

43

44

47

Page 8: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

3

3.1

3.2

3.3

3.4

3.5

4

4.1

4.1.1

4.1.2

4.1.3

4.1.4

4.1.5

4.1.6

4.2

4.2.1

4.2.2

4.23

4.2.4

4.2.5

4.2.6

4.3

4.3.1

4.3.2

4.3.3

4.4

METODOLOGIA .................................................................... .

Tipo de pesquisa......... ..

Sujeitos da pesquisa

Coleta de dados .....

Tratamento e análise dos dados.

Limitações do método.

DISCUSSÃO DE RESULTADOS .......................................... .

Vida profissional ............................ .

Satisfação e en volvimento com a profissão ...................................... .

Lugar marcado na sociedade.

Motivações para o empreendedorismo ..

A importãncia da flexibilidade de horário

A importãncia da sócia mulher ............... .

A insegurança ......................... ..

Vida familiar .......... .

O apoio do cônjuge .............................. .

Diferenças culturais entre o cônjuge brasileiro e o estrangeiro .......... .

Pais e parentes idosos .......................... .

A importãncia de estar com os filhos ...

O sentimento de culpa ...

Estrutura de apoio ..

Vida pessoal ... .

Estresse ......................................... .

Cuidados pessoais ............................. .

49

49

51

54

55

55

57

58

58

61

62

67

69

71

73

73

77

78

80

82

83

84

84

85

Lazer ....................................................... .

Estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal ...

86

......... 87

5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA PESQUISAS

FUTURAS .................................................................................. 92

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................... 97

Page 9: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

1 INTRODUÇÃO

Durante a última década do século xx, o equilíbrio entre vida profissional e vida

pessoal se tomou assunto de extrema importância nos discursos da comunidade, nas

tomadas de decisão corporativas, nos debates políticos e nas nossas reflexões cotidianas.

De fato, Hall (1990, p.S) afirma que "o equilíbrio entre vida pessoal e profissional está

rapidamente se tomando o assunto do momento sobre carreiras na nova década".

Histórias em proeminentes jornais de negócios, colunas semanais no The Wall Street

Journal, cobertura em jornais locais e programas no rádio e na televisão demonstram o

aumento da importância do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

As demandas conflitantes do trabalho e da vida pessoal sempre estiveram com a maioria

das pessoas. Grande parte dos indivíduos já teve crianças ou parentes idosos para tomar

conta; possuiu hohbies ou devotou parte do seu tempo a atividades comunitárias. No

passado, muitos administradores lidavam com tais necessidades pessoais sucintamente:

"O que você faz no escritório é nosso negócio. O que você faz fora dele é da sua conta".

(FRIEDMAN, CHRlSTENSEN E DEGROOT, 2000)

Poder-se-ia questionar se os tempos mudaram. Por um lado, algumas mudanças

demográficas ocorridas nos últimos anos, como o aumento do número de mulheres na

força de trabalho, colocaram um número maior de mães nas profissões, aumentando a

importância das questões sobre equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Novas

forças econômicas, como a competição global, também modificaram o cenário, criando

uma necessidade sem precedentes de funcionários comprometidos numa época em que

a lealdade se encontra em baixa nas corporações. Por outro lado, a maioria dos

executivos ainda parece acreditar que toda vez que os interesses pessoais de um

Page 10: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

2

funcionário prevalecem, a organização sofre, de alguma forma, uma perda.

(FRIEDMAN, CHR1STENSEN E DEGROOT, 2000)

Nesse contexto, a atividade empreendedora surge como uma opção de carreira para

algumas pessoas que procuram alcançar um melhor equilíbrio entre as demandas do

trabalho e da família. A importãncia de se examinar as questões de trabalho e família

para pessoas empreendedoras é reforçada pelo aumento da formação de novos negócios,

especialmente por mulheres, que nos últimos anos começaram novas empresas a uma

taxa duas vezes maior que a dos homens. (PARASURAMAN E SIMMERS, 2001) Na

ausência de estudos conclusivos, é dificil determinar se o fato de ter seu próprio negócio

atenua as restrições encontradas no trabalho em grandes organizações, e se é uma

solução para o maior equilíbrio entre os papéis do trabalho e da família.

1.1 Objetivo da Pesquisa

A pesquisa tem como objetivo estudar o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal

para mulheres empreendedoras brasileiras. Especificamente, o estudo pretende

investigar, a partir das percepções destas mulheres, as questões relativas a esse

equilíbrio, abordando aspectos de relacionamento com o cônjuge ou companheiro,

filhos, pais ou parentes idosos e amigos. Serão abordados também aspectos como

cuidados pessoais e lazer, além de estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida

pessoal.

1.2 Relevância da Pesquisa

As mudanças nas relações de trabalho que ocorreram a partir dos anos 80 levaram as

carreiras corporativas a grandes incertezas e instabilidade. O antigo sistema de trabalho

Page 11: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

3

que pressupunha segurança, empregos vitalícios, com avanços profissionais previsíveis,

chegou ao fim. (CAPPELLl, 1999)

Kanter (1997) distingue três principais tipos de carreira, nas quais a malOna das

carreiras das pessoas um dia se encaixou: carreiras "corpocráticas" (ou burocráticas nos

negócios); carreiras profissionais e carreiras empresariais.

Na carreira "corpocrática" (burocrática), os elementos de oportunidade estão

intimamente ligados ao cargo que se ocupa na empresa e o crescimento ocorre por

promoções que afetam juntamente a hierarquia e o salário. Tal padrão de carreira se

encontra em extinção em muitos países, notadamente nos desenvolvidos.

A estrutura das carreIras profissionais, por sua vez, é definida por habilidades ou

ocupação, sendo o conhecimento a chance de ter tarefas mais exigentes e desafiadoras.

Neste tipo de carreira os profissionais têm pouca lealdade com as empresas e o lugar

certo para trabalhar depende de suas habilidades e das oportunidades do momento.

o terceiro padrão é a carreira empresarial. Segundo Kanter (1997), diferentemente da

idéia clássica da posse de um negócio, a carreira empresarial é aquela na qual o

crescimento ocorre através da criação de novo valor ou nova capacidade organizacional.

O risco das carreiras empresariais é certamente maior do que o dos outros tipos de

carreira. Por outro lado, os empresários capturam uma parte muito maior dos retornos

financeiros se tiverem sucesso.

Não existe fórmula pronta para que uma pessoa se tome empreendedora. Alguns

estudos que tentaram enfocar o perfil de empreendedores bem sucedidos, tentando unir

Page 12: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

4

características de personalidade com desempenho do negócio, mostraram como é dificil

produzir resultados nesse campo. (MACHADO E GlMENEZ, 2001)

Embora a questão da personalidade empreendedora continue atraindo estudiosos do

assunto, a sua associação com o processo de gestão e com o gênero não foi

suficientemente explorada. De fato, a diversidade de pesquisa em termos de gênero tem

se acentuado relativamente nas duas últimas décadas com o sucesso e o crescimento do

número de mulheres empreendedoras em diversas localidades. (MACHADO E

GIMENEZ, 2001)

Estudos indicam semelhanças no comportamento empreendedor de homens e mulheres

em váríos aspectos. No entanto, algumas diferenças significativas foram encontradas,

principalmente associadas com características de estilo administrativo, relação com o

mercado e estratégia adotada pelos empreendedores. Na análise do estilo administrativo,

levando em consideração a dimensão "valores predominantes", os valores considerados

mais importantes, pela ordem, pelas mulheres foram: vida confortável, liberdade,

segurança da família, harmonia interior e mundo de paz No caso dos homens, embora

os valores sejam quase os mesmos, há algumas diferenças. O valor considerado mais

importante para os homens foi a felicidade, que não ficou entre os mais importantes das

mulheres.Os demais foram, pela ordem, os seguintes·. segurança da família, vida

confortável, auto-respeito e harmonia interíor. (MACHADO E GIMENEZ, 2001)

Os valores considerados mais importantes para as mulheres possuem estreita relação

com a questão do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Tal questão tem se tomado

cada vez mais importante e discutida entre empresários e estudiosos do assunto. A

dificuldade em conciliar vida pessoal com profissional para mulheres que fazem

Page 13: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

5

carreiras em empresas muitas vezes pode levar a crer que a carreira empresarial toma

mais fácil tal equilíbrio.

Diante de tal quadro, cabe perguntar quais são as vantagens e desvantagens das

atividades empreendedoras para as mulheres na busca pelo equilíbrio entre trabalho e

vida pessoal. Trata-se de um tema ainda insuficientemente pesquisado, mas cujas

implicações são bastante relevantes para os profissionais que pretendem alcançar esse

equilíbrio.

Os estudos sobre o assunto seguem, Via de regra, práticas metodológicas que

privilegiam a pesquisa por meio de entrevistas estruturadas. O presente estudo, por sua

vez, parte de uma perspectiva interpretativa, procurando captar as percepções das

mulheres envolvidas em atividades empreendedoras. Assim, espera-se uma contribuição

que possa se constituir em um primeiro passo para novas abordagens teóricas do tema

no caso brasileiro.

Além disso, o estudo de tais questões poderá permitir que pessoas desejosas de

ingressar na carreira empresarial tenham um maior entendimento das mesmas, em um

IÚvel de detalhe que se estenda para além de simples informações gerais.

1.3 Delimitação da Pesquisa

São várias as questões importantes tratadas pela literatura especializada sobre o

equilíbrio entre vida pessoal e profissional, tanto para homens quanto para mulheres. A

questão de tal equilíbrio para pessoas que trabalham em grandes corporações recebe

grande atenção. Esta pesquisa, porém, ficará limitada à captura das percepções de um

grupo específico: mulheres que praticam atividades empreendedoras.

Page 14: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

6

Vale destacar, ainda, que o termo "empreendedorismo" não possui um conceito exato.

Segundo Shane e Venkataraman (2000), "empreendedorismo" envolve dois fenômenos:

a presença de oportunidades lucrativas e a presença de indivíduos empreendedores.

Drucker (1987) utiliza a expressão "entrepreneurship" como "espírito empreendedor".

Para o autor, o espírito empreendedor seria uma característica de um indivíduo ou de

uma instituição, não um traço de personalidade. Para Bernhoeft (1996), embora existam

pessoas que apresentem características empreendedoras desde muito cedo, para ser um

empreendedor não basta apenas identificar oportunidades de negócio; é preciso realizá­

las.

No presente estudo, as mulheres empreendedoras em questão estabeleceram uma

atividade própria, tendo começado um negócio que consiste na sua atividade principal.

Tais mulheres não possuem outra profissão a que se dediquem integralmente, podendo

ser as únicas proprietárías do seu negócio ou possuir sócias também mulheres.

Esta pesquisa se propõe a investigar quais são as questões relativas ao equilíbrio entre

vida profissional e pessoal segundo a percepção de mulheres empreendedoras. Não

pertence ao escopo deste trabalho propor alternativas para alcançar tal equilíbrio.

Assim, o presente estudo não fornece nenhum guia para a realização de mudanças em

relação ao equilíbrio entre trabalho e vída pessoal.

Page 15: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

7

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Equilibrio entre vida profissional e vida pessoal

o problema do equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal reflete uma

incompatibilidade entre as demandas do papel do trabalho e as demandas do papel da

família. O tipo mais freqüente de conflito entre trabalho e família ocorre quando as

demandas por tempo de um papel tomam dificil ou impossível participar integralmente

do outro. (PARASURAMAN E GREENHAUS, 1997) Conflitos de horário e excesso

de tempo despendido no trabalho podem ser citados como exemplos. Outros problemas

podem vir da interferência entre um papel e outro. Isto pode ocorrer quando sintomas de

natureza psicológica, como ansiedade, fadiga e irritabilidade, gerados pelas demandas

de um dos papéis, invadem o outro papel, tomando dificil a execução das

responsabilidades deste último.

A interferência excessiva do trabalho na família pode ter efeitos adversos nas relações

dos indivíduos com seus cônjuges e na qualidade da vida familiar. Por outro lado, a

interferência crônica da família nas responsabilidades do trabalho pode vir a prejudicar

o progresso nas carreiras dos empregados e, portanto, reduzir sua satisfação com a \~da

profissional. Segundo Waterman, Waterman e Collard apud Parasuraman e Greenhaus

(1997), da perspectiva de um empregador, severos conflitos entre trabalho e família

podem interferir na concentração dos empregados em suas atividades, aumentar o

absenteísmo e, em casos extremos, levar a demissões voluntárias. Assim, conflitos entre

vida profissional e vida pessoal podem criar múltiplos problemas que afetam diferentes

membros da sociedade de diversas maneiras.

Page 16: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

8

Greenhaus e Beutell (1985) definiram o conflito entre trabalho e família como pressões

incompatíveis surgindo simultaneamente da interseção dos papéis do trabalho e da

família. Pesquisas anteriores identificaram dois tipos dominantes de conflito entre

trabalho e família: o conflito baseado no tempo e o conflito baseado na tensão.

o conflito baseado no tempo é experimentado quando o tempo despendido em um papel

toma dificil preencher as demandas do outro. O conflito baseado na tensão ocorre

quando as tensões geradas por um papel invadem o outro. Assim, sintomas como

irritabilidade, fadiga e depressão, sentidos em um dos papéis, podem tomar difícil

participar efetivamente do outro. (GREENHAUS E BEUTELL, 1985)

2.2 A mudança do papel da mulher no mercado de trabalho

A revolução no trabalho e na família da última parte do século XX afetou

profundamente as estruturas sociais, instituições e culturas que constituem a base de

nossa sociedade. (LlLLY, PlTT-CATSOUPHES E BRADLEY, 1997) Nossos

processos sociais mais básicos começaram a ser influenciados pelas transformações no

trabalho e na família. Novos papéis para os gêneros têm sido testados, permitindo

flexibilizar as estruturas tradicionais que determinaram as construções sociais relativas

ao gênero. Os efeitos da revolução no trabalho e na família podem ser sentidos em

quase todos os aspectos de nossa vida social e privada.

o aumento expressivo da participação das mulheres na força de trabalho pode ser

considerado a causa da transformação mais importante no mercado de trabalho nos

últimos vinte anos. Estimulado, inicialmente, pela oportunidade de igualdade de

emprego e pelos movimentos feministas, o crescimento da participação na força de

trabalho das mulheres foi sustentado pelo aprimoramento na educação, pelo seu desejo

Page 17: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

9

de realização pessoal, pela necessidade econômica e alto custo de vida, e pelo grande

número de divórcios. (FERBER, O'F ARRELL E ALLEN, 1991)

Na medida em que novas formas de estrutura familiar emergiram, a família tradicional

consistindo no marido responsável por garantir o pão de cada dia, na mulher dona de

casa e nas crianças declinou para um status minoritário e agora responde por apenas

10% dos lares em que se trabalha nos Estados Unidos. Em contraste, a proporção de

famílias em que tanto o homem quanto a mulher são responsáveis pelo sustento e

famílias sustentadas por somente um dos pais cresceu significativamente.

(P ARASURAMAN E GREENHAUS, 1997)

Os acontecimentos mais significativos oconidos nosEstadosUnidos, em termos de suas

implicações para as questões de trabalho e família foram, segundo Parasuraman e

Greenhaus {I 997):

• entre 1970 e 1994, a participação das mulheres na força de trabalho cresceu duas

vezes mais rápido que a do homem;

• as mulheres respondiam por 46% da força de trabalho total em 1994; em 1970

respondiam por apenas 38%;

• das mães que têm filhos com menos de 6 anos, 62% estão empregadas;

• das mães que têm filhos com idade entre 6 e 17 anos, 75% estão empregadas;

• quase metade (40%) de todos os trabalhadores são membros de famílias em que

tanto o homem quanto a mulher trabalham;

Page 18: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

10

• famílias com somente um dos pai s respondem por 23% da força de trabalho e

formam o segmento que cresce mais rapidamente;

• estima-se que 15% dos homens e mulheres adultos possuem responsabilidade pelos

cuidados com pais idosos ou outros parentes de idade, e a proporção está

aumentando. ( SCHARLACH apudPARASURAMAN E GREENHAUS, 1997)

Uma das limitações mais óbvias no entendimento da natureza e do significado do

trabalho para as mulheres se encontra na definição bastante limitada do que constitui

trahalho. Tradicionalmente, as ciências sociais definiram trabalho como a produção de

bens e serviços que são de valor para outros. (FOX E HESSE-BIBER, 1984) Tomando

como critério essa definição, as mulheres deveriam ser vistas como envolvidas em

trabalho na maior parte do tempo em que se encontram acordadas, estejam sendo pagas

ou não. No entanto, o trabalho da mulher sempre foi considerado menos seriamente que

o dos homens, principalmente quando executado sem pagamento.

Mesmo para as mulheres que trabalham com remuneração, seu trabalho, em

comparação com aquele do homem, geralmente foi considerado menos importante,

menos central para sua definição como pessoa e menos propenso a refletir um

compromisso genuíno. (GROSSMAN E CHESTER, 1990)

o fato de que a malOna das mulheres está concentrada em ocupações de status

relativamente menor continua sendo verdadeiro nos dias atuais. Além disso, as mulheres

que estão empregadas continuam a fazer a maior parte do trabalho da casa,

independentemente do seu status, de suas horas de trabalho ou remuneração.

(BARUCH, BARNETT E RNERS apud GROSSMAN E CHESTER, 1990) Assim, as

experiências profissionais das mulheres possuem caracteristicas específicas, que devem

Page 19: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

11

ser levadas em conta ao analisarmos a questão do equilíbrio entre vida profissional e

vida pessoal.

No Brasil, o mercado de trabalho passou por profundas transformações ao longo da

última década. Dentre elas, uma das mais importantes (e desapercebidas) foi a mudança

de perfil da força de trabalho, que se tomou mais velha, mais escolarizada e mais

feminina. Vários aspectos associam-se a esse processo, como mudanças nas

caracteIÍsticas produtivas por gênero, alterações no âmbito familiar e transformações

estruturais na composição setorial do PIB. (FONTES E URANI, 200 I)

O crescimento do desemprego e a necessidade de complementação de renda da família

se apresentam como causas para a entrada da mulher no mercado de trabalho. Porém, a

inserção da mulher no mercado de trabalho não pode ser vista apenas como

complementar, tendo em vista que o trabalho das mulheres tem sido crescentemente

reconhecido e elas são, cada vez mais, as responsáveis pela principal fonte de renda da

família. (FONTES E URANI, 200 I)

Na região metropolitana do Rio de Janeiro, quase 80% do aumento da população

economicamente ativa (PEA) na década de 90 se deveu às mulheres; elas já

representam, hoje, mais de 40% da PEA da segunda maior região metropolitana do país.

(FONTES E URAN~ 200 I )

2.3 As questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal para as

mulheres

Várias são as implicações das mudanças do papel da mulher no mercado de trabalho

ocorridas nos últimos anos. A seguir serão colocadas algumas questões relativas ao

Page 20: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

12

equilíbrio entre vida profissional e pessoal, abordando-se aspectos como relacionamento

com os filhos, com os pais e parentes idosos, com o cônjuge ou companheiro e com os

amigos, além de cuidados pessoais e lazer.

2.3.1 Família

Lares em que ambos os pais são responsáveis pelo sustento da família e a presença de

crianças aumentam consideravelmente as demandas por tempo no papel da família.

(BENlN E NlENSTEDT apud PARASURAMAN E SIMMERS, 2001) A demanda

pelos pais parece ser uma função do número e da idade das crianças, e da idade da

criança mais nova. (GREENHAUS E PARASURAMAN apud PARASURAMAN E

SIMMERS,200l)

A demanda pelos pais também parece ser maior para aqueles com crianças pequenas e

na idade pré-escolar, menor para aqueles com crianças na idade escolar, e menor ainda

para aqueles com crianças adultas que não vivem na mesma casa. (OSHERSON E

DILL apud PARASURAMAN E SIMMERS, 2001) No entanto, Sue ShelIenbarger,

jornalista responsável pela coluna "Work & Family" do The Wall Streei Journal, afirma

que um dos maiores erros que cometeu na condição de mãe que trabalha foi assumir

que, uma vez que as crianças tinham atingido a idade escolar, a fase mais dificil em

conciliar trabalho e família já teria passado.

Na opinião de ShelIenbarger (1999), o período que começa a partir da idade de cinco

anos é pelo menos tão desafiador para os pais que trabalham quanto os anos pré­

escolares, e freqüentemente até mais. As crianças em idade escolar passam somente

cerca de um quinto do número total de horas em que permanecem acordadas na escola.

Segundo Shellenbarger (1999), as crianças mais velhas possuem necessidades

Page 21: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

13

complicadas ligadas às questões relacionadas a valores que somente os pais podem

responder. "Suas atividades extra-curriculares requerem os serviços de uma animadora

de torcidas, chau./Jeur e dama de companhia (para não mencionar banqueiro para cobrir

essas contas extra-curriculares sempre crescendo)", afirma Shellenbarger. A jornalista

também chama a atenção para o fato de que os pais precisam estar o tempo todo

disponíveis para fazer o papel de conselheiros e amigos, não só quando lhes é

conveniente, mas quando seu filho deseja falar.

A análise das mudanças nas características demográficas e na estrutura familiar da força

de trabalho revela que a maioria das famílias não possui um dos pais ou alguma outra

pessoa que tome conta das crianças o tempo todo. (pARASURAMAN E SIMMERS,

200 I) Um estudo recente mostra que, apesar dos acordos extras feitos pelos pais com

pessoas que tomam conta de seus filhos, quase um terço dos pais relataram a quebra

desses acordos num período de três meses. Pais que conseguem obter um menor número

de quebras em acordos desse tipo geralmente experimentam menos estresse, lidam mais

eficientemente com os problemas e tendem a ficar mais satisfeitos com sua vida em

geral. (pARASURAMAN E SIMMERS, 2001)

A maioria das mães com crianças pequenas nos Estados Unidos ingressa na força de

trabalho num momento em que ao menos um de seus filhos tem menos de 12 meses de

idade. (O.S. BUREAU OF LABOR STATlSTlCS CENSUS apud GROSSMAN E

CHESTER 1990) Uma série de fatores tende a afetar os padrões de emprego das

mulheres durante o período em que seus filhos possuem pouco tempo de nascidos,

incluindo educação, duração e tipo de emprego antes de ter filhos; atitudes do marido,

salário, e tipo de profissão; percepções na imancia das mulheres da experiência de suas

Page 22: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

14

próprias mães e as próprias atitudes das mulheres em relação à possibilidade e ao desejo

de combinar emprego remunerado com a função de tomar conta das crianças.

(GROSSMAN E CHESTER, 1990)

o sucesso dos esforços de qualquer mãe para trabalhar fora de casa dependerá de

variáveis externas (status na organização, flexibilidade de horário, disponibilidade de

tempo, atitude do cônjuge, etc). Entretanto, como afirmam Grossman e Chester (1990),

informações sobre atributos de personalidade, como níveis de motivação individual,

também podem levar a importantes e legítimos insights sobre os diferentes modos pelos

quais as mães reagem às demandas de duplos papéis.

As necessidades de suporte familiar também incluem a assistência aos pais ou parentes

idosos. Nos Estados Unidos, cerca de 15% dos homens e mulheres adultos possuem

responsabilidade pelos cuidados com paIs ou outros parentes idosos.

(PARASURAMAN E GREENHAUS, 1997) A demanda por cuidados com pessoas

idosas deverá crescer significativamente com o iminente aumento da população idosa.

Dentro de poucos anos, os padrões demográficos tornarão a assistência a pessoas idosas

um fator mais importante nos Estados Unidos do que a assistência a crianças. Cerca de

um terço das pessoas que trabalham e tomam conta de seus pais ou parentes idosos

consideram que precisam tirar um tempo no trabalho para dar assistência e eles.

(SHELLENBARGER, 1999)

Segundo Ferber, O'Farrell e Allen (\991), para a próxima geração, duas tendências de

longo prazo na sociedade americana irão contribuir para aumentar as demandas dos

adultos que trabalham por cuidados com os dependentes. Uma tendência é a de aumento

na proporção de pessoas idosas na população americana; os idosos dependem em vários

Page 23: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

15

graus de seus filhos adultos, principalmente das filhas mulheres. A segunda tendência é

a de fluxo constante de mulheres para a força de trabalho, que reduz o tempo que elas

têm disponível para os papéis tradicionais de cuidar dos parentes idosos e das crianças e

cria conflitos para as mulheres empregadas que são responsáveis por dependentes.

A fragilidade ou doença de um parente idoso por quem se tem estima pode trazer à tona

enervantes questões emocionais, causando confusão e preocupação para os envolvidos

no problema. As necessidades de uma pessoa idosa costumam ser complicadas,

geralmente envolvendo períodos de críse alternados com longos períodos de calma. Tais

realidades podem causar grandes impactos, freqüentemente traumáticos, na vida

profissional e pessoal de uma pessoa. (SHELLENBARGER, 1999)

As crises de saúde das pessoas idosas são como relâmpagos, com pouco aviso e força

quase destruidora. Devido a essa imprevisibilidade, ao menos J 6% da força de trabalho

já se encontra providenciando cuidados com os idosos antecipadamente. Nesses casos,

procura-se saber que tipo de assistência o idoso deseja ter, assegurar o direito legal de

realizar seus desejos caso este fique incapacitado e tomar decisões quanto aos cuidados

com a sua saúde. (SHELLENBARGER, 1999)

A assistência aos idosos tem redirecionado carreiras de nível mais elevado nos últimos

anos. Isso ocorre devido ao fato de que no passado, os parentes idosos constituíam um

problema marginal no mercado de trabalho, já que as mulheres, geralmente

responsáveis pela maior parte dos cuidados com os idosos, possuíam, em sua maioria,

profissões marginais. Hoje, um número cada vez maior de mulheres está obtendo

melhores posições nas corporações e cada vez mais os homens se responsabilizam por

questões familiares. (SHELLENBARGER, 1999)

Page 24: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

16

Freud e outros observaram que as duas maiores tarefas da vida são amar e trabalhar.

Com a simples sabedoria da observação, poderiamos nos perguntar o que acontece com

o amor quando o trabalho vai mal e o que acontece com o trabalho quando o amor já

não vai bem. Estas são questões profundas e não admitem respostas simples, universais.

(CROSBY, 1990)

Nos casais em que as duas pessoas trabalham, freqüentemente os dois se encontram

estressados e cansados. Desse modo, o tempo disponível para o relacionamento pode ser

prejudicado, principalmente nos casos em que o casal possui crianças e uma alta

ambição de crescimento profissional. Junto com essa ambição de crescer

profissionalmente, vem a necessidade de reconhecimento e apreciação de seus esforços

por parte do parceiro. Geralmente essas necessidades não são satisfeitas, levando á

frustração e á insatisfação com o relacionamento. Disputas de poder, sentimentos não

apoiados ou falta de cuidados mútuos são comuns, particularmente entre parceiros

muito competitivos. (O'RARE, 1997)

As famílias compostas por parceiros no segundo ou terceiro casamento formam um

grupo em crescimento. Além disso, mulheres divorciadas são as que em maior número

trabalham em horário integral (RIES E STONE apud O'RARE, 1997)

Muitos casais em que as duas pessoas trabalham não são casados pela primeira vez.

Desses casais, muitos possuem carreiras e crianças. Assim, várias das dificuldades

encontradas no primeiro casamento tendem a ocorrer nas novas famílias formadas.

Portanto, os parceiros precisam não só ajustar -se aos seus novos relacionamentos, mas

muitos também precisam fazer o papel de padrasto ou madrasta. (O'RARE, 1997)

Page 25: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

17

Em estudo realizado com o objetivo de descobrir conexões entre vida profissional e

divórcio em mulheres profissionais, Crosby (1990, p.128) observou que o trabalho

parece proporcionar grande alívio ao sofrimento causado pelo divórcio. Uma das

mulheres entrevistadas capturou o sentimento de quase todas as outras entrevistadas ao

dizer: "O trabalho me salvou". Nas palavras de outra entrevistada: "".enquanto outra

pessoa definitivamente contribui para esse sentimento de satisfação, uma profissão pode

fazer quase o mesmo, se não mais".

Os resultados do estudo levaram a crer que quatro aspectos interrelacionados do

trabalho contam muito para este poder de aliviar o sofrimento causado pelo divórcio.

Primeiro, o fato de que o trabalho dá uma estrutura para o dia. Segundo, as atividades

absorventes do trabalho fazem com que as pessoas "dêem um tempo" dos seus

problemas domésticos. O terceiro aspecto é o fato de que ser um bom profissional

permite à pessoa reparar sua auto-estima prejudicada. Quarto, ter uma profissão ajuda a

mulher a diminuir as preocupações financeiras que surgem durante o divórcio.

(CROSBY,1990)

2.3.2 Amigos, lazer e cuidados pessoais

A frase "não tenho tempo para mim mesmo ou meus amigos" é cada vez mais dita por

pessoas que trabalham, seja para sustentar uma família, aumentar o salário familiar ou

mesmo para atingir satisfação pessoal.

Em um estudo conduzido pelo Research Group on Women and Work (RGWW),63%

das mulheres que responderam às perguntas feitas indicaram ter pouco tempo para

relacionamentos (inclui-se aí os amigos e a família mais ampla) fora do casamento. O

estudo do RGWW também indicou que, em termos de horas de lazer, as mulheres

Page 26: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

18

casadas que trabalham têm menos tempo do que as mulheres solteiras que trabalham, e

as mulheres casadas que trabalham e que têm filhos têm menos tempo do que qualquer

um, incluindo mulheres solteiras com crianças. O estudo sugeriu que a presença de um

marido efetivamente diminuía a quantidade de tempo que uma mulher tinha para si

mesma e seus amigos, por causa da carga de trabalho doméstico aumentada. (O'HARE,

1997)

As pessoas casadas, geralmente, reportam sentimentos de culpa quando querem tempo

para si e seus amigos, sentindo-se egoístas porque "não deveriam" deixar o cônjuge

e/ou as crianças. Porém, o estresse, a fadiga e a carga excessiva de trabalho contribuem

para um sistema imunológico enfraquecido e uma vulnerabilidade emocional. Homens e

mulheres que acumulam horas de trabalho ficam com sua saúde física e emocional

debilitada. Aqueles que tentam ser "super-humanos" tomam-se fisicamente doentes e

esgotados. (O'fL\FUE, 1997)

Na opinião de O'Hare (1997), as pessoas precisam entender que ter tempo para si e para

os amigos é uma maneira muito importante de preencher as necessidades emocionais e

se revitalizar. As fontes de suporte para pessoas casadas incluem, além do parceiro,

amigos, família, colegas, e outros recursos da comunidade em que vivem, que devem

estar disponíveis na hora da necessidade. A ajuda pode ser tangível, como na forma de

dinheiro ou baby-sitting, ou intangível, como na forma de "um ombro amigo para se

chorar". Ter outras pessoas com quem contar e em quem confiar aumenta o sentimento

de estabilidade e a auto-estima, fortalecendo e criando um ambiente de atenção mútua.

(O'fL\RE, 1997)

Page 27: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

19

O lazer é tido como uma atividade livre de qualquer obrigação. O trabalho, por outro

lado, é considerado como sendo puramente instrumental, necessário para se obter lucro

e lazer. Essa relação de exclusão entre trabalho e lazer ressoa a máxima favorita de

Frederick Taylor e Henry Ford: "work when you work and play when you play".

(ANDREW,1999)

Para os gregos e romanos, trabalho relacionava-se ao tempo ou à condição em que não

havia lazer.

"Trabalho envolve esforço, tensão, dor; lazer, ao contrário, é fácil e

prazeroso. Trabalho é feito através da coação ou necessidade; por outro

lado, ninguém é forçado ao lazer, tampouco é essencial à sobrevivência.

Trabalho é um meio para atingir um fim; lazer é o próprio fim. Trabalho é

o tempo gasto para outros; lazer é o seu próprio tempo. Trabalho é

socialmente útil; lazer é individualmente agradável mas não

necessariamente é útil para outros. Trabalho é recompensado; o lazer é a

própria recompensa". (ANDREW, 1999, p.19)

Rodrigues (1991) sugere que o lazer não é simples resíduo de tempo que resta além do

trabalho remunerado. Para nos aproximar da definição de lazer como tempo livre,

devemos subtrair do tempo em que o indivíduo não está no trabalho remunerado, o

tempo gasto nas atividades domésticas, compras, manutenção da casa, filhos e cuidados

pessoaIs.

Page 28: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

20

Bernhoeft (1985) também ressalta que, no lazer, pode se observar, muitas vezes,

atividades de caráter recreativo aparente. Existe um compromisso ligado a status ou a

necessidades de relacionamento. Segundo o autor, isto não é lazer, pelo fato de ter

assumido um caráter de obrigatoriedade que pode se transfonnar até em ritual.

Segundo Wellner (2000), um casal trabalha atualmente em média 717 horas anuais a

mais do que trabalhava em 1969. As ferramentas que supúnhamos nos livrar do

escritório estão cada vez mais nos prendendo. Isto não significa o fim do lazer, mas sim

uma mudança na nossa idéia de liberdade do trabalho. Antes definido como a

capacidade de ficar longe do escritório fisico, "workplace independence" é atualmente

um tenno definido pela habilidade de criar horas flexíveis que nos pennitam resolver

problemas de nossas vidas pessoais e desenvolver um ambiente que propicie lazer

mesmo durante o próprio trabalho. (WELLNER, 2000)

Bowman (200 I) sugere que, para a maioria, o trabalho se tomou menos limitativo e o

lazer mais disponível. Na virada do século XIX para o XX, pesquisas indicaram que,

nos Estados Unidos, os 10% das pessoas economicamente ativas que ganhavam os

salários mais baixos trabalhavam 600 horas anuais a mais do que os 10% das pessoas

que recebiam os maiores salários. Hoje os 10% que ganham menos trabalham 400 horas

a menos. (BOWMAN, 2001)

Pesquisas recentes também sugerem que o Jazer está sendo redefinido. Quando as férias

começaram a se tornar disponíveis para a classe média americana, eram geralmente

usadas para trabalhos de outra natureza - religiosos, educacionais ou de caridadade. A

aceitação do Jazer por si mesmo é recente. Em 1975, 48% dos respondentes de uma

pesquisa feita sobre lazer afinnaram que "trabalho é o que importa e o propósito do

Page 29: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

21

lazer é recarregar as baterias das pessoas para que elas trabalhem melhor". Atualmente

34% são dessa opinião. Aqueles que responderam "lazer é o que importa e o propósito

do trabalho é tomar possível tempo para lazer e curtir a vida" aumentaram de 36% para

40%. (BOWMAN, 2001)

Como o lazer tem se tomado mais importante, sua definição pode estar mudando de

"tempo livre" para "tempo para ficar sozinho". Entre os resultados mais interessantes de

pesquisas: 50% dos respondentes afirmou ao Gallup em 1950 que geralmente acordava

antes das 7 horas no sábado de manhã; hoje somente 28% afirmaram fazê-lo. Além

disso, as mulheres estão despendendo menos tempo em afazeres domésticos do que no

passado. (BOWMAN, 2001)

A entrada das mulheres na força de trabalho nos últimos anos chama a atenção para o

efeito que o trabalho remunerado tem sobre o seu bem-estar. Até recentemente, teorias e

pesquisas sobre estresse foram direcionadas principalmente às experiências masculinas.

Como resultado, as experiências de estresse das mulheres permaneceram relativamente

inexploradas. (LONG E KAHN, 1993)

A literatura sugere que as mulheres que trabalham estão sujeitas aos mesmos fatores

causadores de estresse experimentados pelos homens. No entanto, as mulheres são

adicionalmente confrontadas com fatores potencialmente específicos, tais como

discriminação, estereótipo, isolamento social e conflitos entre trabalho e família. Além

disso, tomar conta de crianças e parentes idosos continua a ser uma fonte de estresse

para mulheres que trabalham fora de casa. (REPETTI, MATTHEWS E WALDRON,

1989)

Page 30: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

22

Apesar de as mulheres na força de trabalho remunerada se depararem com numerosos

fatores de estresse, a sabedoria convencional de que o trabalho é necessariamente

prejudicial ao bem-estar das mulheres não foi provada. Repetti, Matthews e Waldron

(1989) não chegaram a evidências conclusivas que suportem uma relação entre trabalho

remunerado e saúde mental ou fisica de mulheres. Pelo contrário, acharam que o

trabalho remunerado possui claros efeitos benéficos à saúde para algumas mulheres e

efeitos prejudiciais para outras. Tais efeitos dependem das características individuais de

cada mulher, de sua situação familiar, e das especificidades de sua profissão.

(REPETTI, MATTHEWS E WALDRON, 1989)

Segundo Repetti, Matthews e Waldron (1989), as mulheres que trabalham

experimentam uma série de fatores causadores de estresse relacionados ao trabalho. No

entanto, parecem estar em melhor situação do que aquelas mulheres que não trabalham.

Os individuos que possuem seus próprios negócios, em particular, estão mais propensos

a se deparar com altos níveis de estresse devido ao fato de que o trabalho e suas

demandas geralmente dominam suas vidas. Para os indiviiduos empreendedores, a

separação clara entre atividades de trabalho e não relacionadas ao trabalho

freqüentemente não existe. Além disso, para esses indivíduos, um dia típico de trabalho

pode facilmente se estender para 12 horas ou mais por dia. (JAMAL, 1997)

2.4 Estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal

2.4.1 Modelos de conexão entre trabalho e família

Wilensky apud Sumer e Knight (2001) formulou hipóteses de três possíveis modelos

para explicar a relação entre os domínios do trabalho e da família: extravasamento

Page 31: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

23

(spillover), compensação e segmentação. Na hipótese de extravasamento, a satisfação

em um domínio da vida irá causar satisfação em outros. O extravasamento pode ser

positivo ou negativo, ou seja, a vida familiar pode facilitar e estimular a vida

profissional (~pillover positivo) ou torná-Ia maIs dificil e problemática (LAMBERT

apud SUMER E KNIGHT, 2001)

O modelo de compensação defende que as experiências de trabalho e de família tendem

a ser anti éticas, isto é, há uma relação inversa entre trabalho e família. A compensação

ocorre quando as pessoas respondem às condições insatisfatórias de um dos domínios

envolvendo-se mais no outro. De acordo com Lambert apud Sumer e Knight (2001), a

compensação geralmente ocorre indiretamente; reações subjetivas (geralmente na forma

de insatisfação) transmitem os efeitos de condições objetivas de um domínio para

resultados no outro domínio. Os resultados da compensação são niveis diferenciados de

envolvimento no trabalho e na família. (SUMER E KNIGlIT, 2001)

O terceiro modelo, a hipótese de segmentação, enfatiza a separação dessas esferas da

vida. Tal modelo defende que trabalho e familia são distintos e não se relacionam.

Proponentes dessa visão afirmam que trabalho e lazer são psicologica e fisicamente

separados; a maioria dos indivíduos na sociedades industriais vive cada segmento mais

ou menos independentemente do outro. (SUMER E KNlGHT, 2001)

Devido ao fato de que extravasamento, compensação e segmentação são tipicamente

considerados processos mutuamente exclusivos, os indivíduos são tipicamente

classificados como extravasando, compensando ou segmentando, com base no padrão

que mais se aproxima das suas próprias experiências. A evidência empírica sugere, no

entanto, que extravasamento, compensação e segmentação podem não ser mutuamente

Page 32: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

24

exclusivos. Piotrkowski apud Sumer e Knight (2001), por exemplo, descreveu exemplos

de compensação e extravasamento experimentados pelos mesmos indivíduos. Parece

plausível pensar que alguns aspectos tanto da vida em familia quanto da vida

profissional estão sujeitos a extravasamento, enquanto outros são mais propensos à

compensação, e ainda outros são mais prováveis de serem segmentados.

Assim, parece ser mais lógico tratar compensação, extravasamento e segmentação como

processos potencialmente em sobreposição, mais do que competindo entre si.

Experiências com os três processos podem ser diferentes entre indivíduos, assim como

ao longo do tempo para um mesmo indivíduo. (SUMER E KNlGHT, 2001)

2.4.2 Trabalbo e família como domínios experienciais

Segundo Christena Nippert-Eng (1995), em nossa sociedade, por razões históricas, a

abordagens segmentárias em relação ao trabalho e à familia são geralmente muito

melhor compreendidas do que as integradoras. De fato, o "mito das esferas separadas"

permeiam a nossa cultura. (KANTER apud NIPPERT-ENG, 1995) À exceção de uma

pequena elite e/ou ocupações e estilos de vída não usuais (políticos, cléricos, médicos

rurais, soldados, pescadores comerciais, fazendeiros), raramente se espera que trabalho

e família sejam intimamante ligados para membros de nossa sociedade. (NIPPERT­

ENG,1995)

As expectativas normativas de uma experiência segmentária de trabalho e família

resultam da separação de valores, ativídades, funções sociais e pessoas do trabalho e da

família em localidades espaciais e temporais separadas. Ao longo dos séculos dezenove

e vínte nos Estados Unidos, trabalho e família se tornaram cada vez mais distintos,

mentalmente e fisicamente. (NIPPERT -ENG, 1995)

Page 33: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

25

Foi durante esse periodo que o trabalho se tomou o domínio público da atividade

assalariada. Foi crescentemente conceituado como o masculino, político, artificial (e

portanto instrumental, racional e socialmente valorizado) mundo da produção

econômica. Tomou seu espaço longe do domínio da família durante uma parte

específica do dia. A esfera familiar, por sua vez, ficou identificada como o território

privado onde o individuo residia e encontrava atividades simbolizando o amor da

mulher pela sua família. O domínio familiar foi se tomando gradualmente o dominio

feminino, um natural, não político (ou seja, irracional, emocional, biologicamente

necessário) mundo focado na reprodução social e biológica, no consumo, e, em termos

de lazer, na restauração fisica e mental para o trabalhador assalariado. (NIPPERT -ENG,

1995)

Essa separação entre os domínios do trabalho e da família pode ser ressaltada no modo

como pensamos em termos de trabalho e família hoje. Em primeiro lugar, trabalho é

tanto um lugar como uma atividade, uma função da sua associação com uma

determinada hora e lugar. Nós "vamos"para o trabalho "com o objetivo"de trabalhar.

Além disso, descrever algo como "trabalho" geralmente implica uma tediosa e até

mesmo desagradável atividade, que requer grandes doses de esforço, auto-disciplina e

habilidade. (NIPPERT ~ENG, 1995)

Apesar dos crescentes esforços das feministas, "trabalho" é geralmente associado a

"trabalho remunerado". O termo referencialmente exclui trabalho doméstico e não

remunerado, e deve ser acompanhado do termo "voluntário" quando realizado fora de

casa, sem remuneração. A implicação disso é que o trabalho remunerado é tido como

Page 34: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

26

um tipo de atividade fundamentalmente diferente das outras, mesmo se as tarefas

realizadas forem as mesmas. (N1PPERT -ENG, 1995)

A implicação mais profunda disso é que o trabalho assalariado, fundamentalmente um

território masculino, é necessário, central para a economia, e requer esforço e

habilidade. Resistimos em igualar trabalho doméstico com remunerado porque tal

atitude rebaixa seu valor simbólico de "trabalho por amor" (DEV AUL T apud

NlPPERT-ENG, 1995) As mulheres especialmente vêem o trabalho doméstico como

um presente para sua família e uma extensão de motivos e relacionamentos mais puros

do que os que assumimos no trabalho assalariado. (N1PPERT-ENG, 1995)

Na nossa cultura, tendemos a contrastar "trabalho" com "diversão" ou "lazer", usando o

primeiro para comprar os últimos. Procuramos refügio e individualidade através do

lazer, raramente esperando encontrá-los através do trabalho. Tendemos a ver "trabalho"

principalmente como um meio para atingirmos um fim. É o que fazemos para obter os

bens necessários e desejáveis para manter nossa "casa" em várias dimensões: como uma

unidade familiar coerente, como uma residência, como um local de lazer, e como um

refügio do trabalho. É um "bônus" se o nosso trabalho é prazeroso; seu objetivo último

é proporcionar dinheiro para a obtenção de prazer em outro lugar. (NlPPERT-ENG,

1995)

Assim, trabalho e família se tomaram ideologicamente distintos nos últimos dois

séculos, cada um imbuído de expectativas que se contrapõem às do outro. A experiência

segmentária do trabalho e da família pode ser atribuída a essa imagem conceitualmente

contrastante. Realidades individuais à parte, nós culturalmente contrastamos trabalho e

Page 35: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

27

família, cada um definido inversamente pelo outro dentro de um sistema conceitual

fechado. (NIPPERT -ENG, 1995)

2.4.3 Fronteiras entre trabalho e família

A agenda diária de uma pessoa que faz a segmentação entre trabalho e família cria um

caráter de transição para algumas horas do dia e para os espaços onde essas horas são

passadas. Preferências e necessidades individuais à parte, tais horas incluem aquelas

antes de deixarmos um determinado local de ocupação, aquelas que se seguem à

ocupação de um local diferente, e aquelas em que nos movemos de um local para o

outro. (NIPPERT-ENG, 1995)

Um exemplo de segmentação é dado pela autora Christena Nippert-Eng (1995), que

considerava difícil escrever antes que seu marido e sua filha deixassem a casa todos os

dias. Uma vez que eles saíssem de casa, a autora se considerava "pronta para trabalhar".

Em outras palavras, a saída de sua família de casa guiava a transição da autora de "casa"

para o "trabalho".

Segundo a autora, quanto mais segmentamos entre trabalho e família, mais alternamos

entre status sociais, retirando-nos de um domínio para ocupar o outro. Ao contrário,

quanto mais integramos os dois domínios, mais mantemos a presença e o contato com

os dois domínios. Nesse caso, mantemo-nos mais tanto no domínio do trabalho quanto

no da família simultaneamente, apesar de que provavelmente nos dedicamos mais a um

dos domínios em cada momento. (NlPPERT -ENG, 1995)

Page 36: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

28

2.4.4 Diferenças individuais

A conexão entre as diferenças individuais e as relações entre trabalho e família parecem

ter sido amplamente ignoradas, apesar de existir alguma evidência de que as diferenças

individuais podem predizer padrões de satisfação nesses domínios. (JUDGE e

WAT ANABE apud SUMER E KNIGHT, 2001)

Entre as variáveis relativas a diferenças individuais, os estilos de vinculação merecem

especial atenção por várias razões. Primeiro, a teoria da vinculação (attachment theory),

que é um paradi!,>ma relativamente novo para se estudar relacionamentos próximos tanto

na infància quanto na vida adulta, oferece uma fundamentação teórica para se examinar

as orientações das pessoas em relação a tais relacionamentos. Segundo, a evidência

empírica sugere que o estilo de vinculação dominante de uma pessoa, que tem se

mostrado relativamente estável ao longo do tempo, proporciona uma perspectiva única

para se entender diferenças individuais em experiências interpessoais, incluindo como

as pessoas reagem ao seu ambiente de trabalho. (HAZAN e SHA VER apud SUMER E

KNlGHT,2001)

Terceiro, a teoria da vinculação sugere que indivíduos com diferentes estilos também

irão diferir na manutenção de limites entre trabalho e família (CASSIDY E BELSKY

apud SUMER E KNIGHT, 2001) Quarto, e talvez mais importante, a teoria da

vinculação fornece uma plataforma para se estudar a questão das relações de trabalho e

família de uma perspectiva de personalidade, de modo a se compreender o papel do

estilo de vinculação no uso de diferentes estratégias de equilíbrio entre trabalho e

família. (SUMER E KNIGHT, 2001)

Page 37: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

29

Apesar de o conceito de vinculação ter sido mais profundamente estudado em relação às

interações entre a criança e a mãe, a literatura recentemente focou na continuidade da

vinculação ao longo da vida. Hazan e Shaver apud Sumer e Knight (2001)

argumentaram que os três padrões de vinculação na infância identificados por

Ainsworth el ai. (1978), seguro, esquivo e ansioso/ambivalente, seriam evidentes no

modo como os adultos pensam, se comportam e se sentem em seus relacionamentos

íntimos. (SUMER E KNIGHT, 2001)

Bartholomew apud Sumer e Knight (2001) propôs um modelo de quatro categorias para

a vinculação adulta: seguro, preocupado, desprezador e receoso. O padrão de vinculação

seguro é caracterizado por uma imagem positiva de si e dos outros. Ele reflete um

sentimento positivo de mérito e uma expectativa de que as outras pessoas são

disponíveis e atenciosas. O padrão preocupado é caracterizado por uma imagem

negativa de si e uma imagem positiva dos outros. Ele indica um sentimento de

desmerecimento, combinado com uma visão positiva dos outros. Esse padrão

corresponde ao grupo ansioso/ambivalente de Hazan e Shaver (1987). (SUMER E

KNIGHT,2001)

O padrão receoso reflete uma imagem negativa de si e dos outros. Essa categoria é

caracterizada por um sentimento de desmerecimento, combinado com a expectativa de

que os outros são rejeitadores e não confiáveis. Finalmente, o estilo desprezador é

tipificado por uma positiva imagem de si e uma imagem negativa dos outros; esse estilo

indica um sentimento de auto-estima, combinado com uma expectativa de que os outros

serão rejeitadores e não confiáveis. (SUMER E KNlGHT, 2001)

Page 38: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

30

Hazan e Shaver apud Sumer e Knight (2001) argumentaram que as diferenças

individuais relacionadas às vinculações podem ter importantes implicações para a

atitude das pessoas em relação ao seu trabalho. Os autores demonstraram que os adultos

seguros têm uma atitude mais positiva em relação ao seu trabalho. Apesar de

valorizarem o trabalho, tendem a dar mais valor aos relacionamentos. Além disso, são

menos propensos a permitir que o trabalho interfira em seus relacionamentos. (SUMER

E KNIGHT, 2001)

Para os indivíduos preocupados, os problemas amorosos geralmente interferem na sua

performance no trabalho, já que eles expressam medo de rejeição por baixa

performance. Os indivíduos receosos, por sua vez, são mais propensos a usar o trabalho

para evitar interação social. Eles reportaram que o trabalho interfere em ter amigos e

uma vida social. Apesar de sua média salarial quase se igualar à do !,'lUpO seguro, os

indivíduos receosos se encontram menos satisfeitos com sua profissão. (SUMER E

KN1GHT,2001)

2.5 Empreendedorismo e Mulheres

2.5.1 A importância dos negócios dirigidos por mulheres

Os negócios dirigidos por mulheres estão cada vez mais crescendo em importância na

economia mundial, notadamente nos países mais desenvolvidos. Nos Estados Unidos,

por exemplo, vinte por cento de todos os negócios são de propriedade de mulheres.

(CENSUS BUREAU 1991 apud BUTTNER E MOORE, 1997) As mulheres empregam

mais de quinze milhões de americanos, mais do que todas as 500 empresas da F ortune

em todo o mundo. (NAT10NAL FOUNDATlON FOR WOMEN BUSINESS

OWNERS [NFWBO] apud BUTTNER E MOORE, 1997) Operando em todas as

Page 39: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

31

indústrias, as mulheres empreendedoras mais do que triplicaram em número, de 2,5

milhões em 1980 para 7,7 milhões em 1994, representando uma taxa de crescimento

duas vezes maior do que a dos negócios de propriedade masculina. (NFWBO apud

BUTTNER E MOORE, 1997)

Esta alta taxa de crescimento no número de mulheres empreendedoras não é tão

facilmente explicável, especialmente do ponto de vista puramente econômico, dado que

os ganhos das mulheres com seus próprios negócios são significantemente menores do

que aqueles de mulheres assalariadas e de homens com seus próprios negócios - mesmo

quando ajustados pelas diferenças de indústria, ocupação e horas trabalhadas. (BROWN

apud CARR, 1996)

No Brasil, estudos recentes do lnstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ffiGE)

indicam que quase metade da população urbana brasileira trabalha sem assinar carteira

ou receber ordenado. Isso se deve ao fato de que, para a classe média do país, empregar­

se com carteira assinada não mais fascina as pessoas como antigamente. Uma

significativa parcela da sociedade descobriu o caminho paralelo de trabalhar por conta

própria, vivendo sem patrão. Segundo o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega,

sócio da consultoria econômica Tendências, esta é uma das maiores mudanças já

ocorridas na estrutura e na dinâmica da economia brasileira. (ABBUD, 2001)

Como a carteira de trabalho assinada foi uma conquista da era Vargas, que garantiu

direitos básicos aos empregados, trabalhar sem ela significava o mesmo que estar

subempregado. Exemplos de pessoas nessa situação são camelôs e domésticas. Essa

fatia mais humilde da sociedade continua na mesma situação de penúria. A grande

mudança ocorrida diz respeito ao ingresso no grupo dos que trabalham sem carteira

Page 40: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

32

assinada de uma fatia expressiva formada por uma mão-de-obra qualificada. (ABBUD,

2001)

Assim, um número cada vez maior de administradores, engenheiros, publicitários e

bancários vem optando por trabalhar sem patrão no Brasil. Esse grupo se divide em três

blocos centrais: há os terceirizados, que permanecem vinculados à empresa onde

trabalhavaIfl antes, só que na condição de prestadores de serviço; há os consultores, que

atuam em diversas companhias; e há os empresários, que montaraIfl um negócio

qualquer. Comércio e prestação de serviço são as áreas mais procuradas, com cerca de

35% da preferência. Estima-se que essa fatia mais qualificada concentre em tomo de 12

milhões de pessoas, entre as 23 milhões de pessoas que trabalhaIfl sem carteira assinada

no BrasiL (ABBUD, 2001)

HistoricaIflente, a remuneração dos trabalhadores sem carteira assinada situava-se num

patamar abaixo do auferido pela fatia empregada da sociedade. Ao longo das décadas de

80 e 90, esse patamar foi subindo de forma expressiva. Segundo o cientista político

Sérgio Abranches, o Brasil se tomou uma nação de empreendedores, e tal mudança vem

se intensificando de forma silenciosa. (ABBUD, 2001)

Dados do Departamento Nacional de Registro do Comércio mostram que, de 1985 a

1989, foram abertas, em média, 420.000 empresas por ano no Brasil. Entre 1995 e 1999,

essa média aumentou para 496.000, um aumento de 18%. Outra indicação do fenômeno

empreendedor no Brasil é um trabalho recente elaborado pelo Babson College e pela

London Business School. Neste estudo, os especialistas criaram um ranking com os

povos mais empreendedores do planeta. O Brasil ficou em primeiro lugar na lista. Um

Page 41: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

33

em cada oito brasileiros adultos monta um negócio próprio. Nos Estados Unidos,

segundo colocado, a proporção é de um para dez. (ABBUD, 2001)

Um dos motivos que contribuem para o alto índice de empreendedores no Brasil é a

legislação trabalhista rigida, que impede contratações flexíveis. Enquanto nos Estados

Unidos uma mulher que precise cuidar de uma pessoa inválida e dos filhos ao mesmo

tempo pode ser contratada como secretária de uma firma para trabalhar apenas duas

horas por dia em dias alternados, no Brasil isso não é possível. O único modelo aceito é

o das oito horas diárias, com um mês de férias, décimo terceiro salário e indenização.

(ABBUD,2001)

Há pessoas que abrem uma empresa para melhorar a qualidade de vida. Um exemplo

disso é o de um casal em que ambos tinham bons cargos na Rhodia, em São Paulo.

Depois de dez anos de carreira, os dois se desligaram da empresa para inaugurar uma

pousada no interior de Minas Gerais. Com o rendimento da pousada, o casal sustenta

quatro filhos, tem casa própria, plano de saúde e mantém um bom padrão de vida. A

renda do casal é um pouco menor se comparada à da época em que ambos eram

empregados. Porém, segundo o próprio casal, a diferença acaba sendo compensada pelo

prazer de levar adiante um projeto pessoal. (ABBUD, 2001)

Outros motivos levam as pessoas a se tomarem empreendedoras no Brasil. Alguns dos

mais fortes são: demissão por iniciativa da empresa, desejo de livrar-se do chefe,

esperança de encerrar uma rotina de trabalho que começa às 9 da manhã e acaba às 7 da

noite e, por fim, aspiração de melhorar o padrão de vida da família. (ABBUD, 2001)

Page 42: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

34

2.5.2 Teorias clássicas de empreendedorismo

Duas teorias clássicas de empreendedorismo fornecem meios de se exammar as

caracteristicas de indivíduos empreendedores. Por um lado, as pessoas empreendedoras

podem ser vistas como aquelas que possuem habilidades particulares e o

reconhecimento dessas habilidades as motiva a estabelecer suas próprias empresas.

(KNIGHT, 1933 apud CARR, 1996) Consistentemente com esta teoria, alguns autores

descobriram que variáveis como educação, idade e experiência passada de trabalho têm

um efeito positivo nas chances de se abrir um negócio.

Borjas e Bronars apud Carr (1996) chegaram à conclusão de que a formação escolar e o

aumento da idade cronológica aumentam a probabilidade de que um indivíduo escolha

estabelecer um empreendimento, em detrimento do trabalho assalariado. Outros

atributos que podem ser cruciais para o estabelecimento de um negócio são tempo de

experiência profissional, acúmulo de capital para iniciar o negócio e o estabelecimento

de uma reputação profissional consistente. (BORJAS apud CARR, 1996) Outras

análises também mostraram que as mulheres empreendedoras, em média, são malS

velhas e melhor educadas do que as assalariadas. ( DEVINE apud CARR, 1996)

Outra perspectiva vê o empreendedorismo como a única opcão alternativa para aqueles

que sofrem restrições com a tradicional profissão assalariada. De acordo com essa

perspectiva, os indivíduos empreendedores não possuem necessariamente habilidades

específicas que os diferenciam dos outros em empregos assalariados, mas estão

simplesmente reagindo às restrições estruturais com que se deparam. (SCHUMPETER,

1934 apud CARR, 1996)

Page 43: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

35

Similarmente, estudos também mostram que o empreendedorismo agiria principalmente

como uma defesa contra o desemprego ou como um refugio para trabalhadores mais

velhos, incapacitados, e para aqueles com baixa produtividade pessoal. Essa teoria

sugere que as minorias étnicas, os imigrantes, os fisicamente incapacitados e aqueles

que vivem em áreas geográficas com alto desemprego tendem a reagir aos obstáculos do

tradicional setor de empregos assalariados formando seus próprios negócios. (CARR,

1996)

As duas teorias sobre empreendedorismo se baseiam implicitamente no modelo padrão

de participação no mercado de trabalho, segundo o qual os indivíduos se comportam

racionalmente de modo a maximizar seus retornos financeiros. Segundo Aronson apud

Carr (1996), ambas as teorias foram formuladas para explicar o empreendedorismo em

homens.

2.5.3 Motivações das mulheres para o empreendedorismo

Em um estudo sobre motivações de mulheres para o empreendedorismo, Hisrich e

Brush (1985) perguntaram às mulheres respondentes, donas de negócios, quais foram as

razões que as fizeram começar seus negócios. Os fatores mais freqüentemente citados

foram frustração e tédio em suas profissões anteriores, seguidos por interesse no

negócio e autonomia. Pesquisa mais recente feita por Stokes, Roger e Sullivan apud

Buttner e Moore (1997) chegou à conclusão de que as mulheres vêem o ambiente de

trabalho em grandes organizações como sendo significantemente mais hostil e essa

percepção está relacionada com suas intenções de mobilidade profissional.

Nos últimos anos, atenção considerável tem sido dada ao "teto de vidro" - a barreira

aparentemente impenetrável que impede que mulheres com cargos gerencias se movam

Page 44: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

36

para a suíte executiva. (Crichton apud BUTTNER E MOORE, 1997) Consistentemente

com a pesquisa de Hisrich e Brush (1985), essas mulheres com experiência profissional

que deixam as grandes organizações para se tornarem empreendedoras podem estar

abrindo mão de suas posições nas empresas devido ao "teto de vidro".

Algumas pesqUISas sugerem que as carreiras das mulheres não podem ser bem

compreendidas se forem levados em conta os padrões dos homens. Espera-se dos

homens que direcionem sua energia para a carreira durante os anos de trabalho,

enquanto das mulheres é esperado que assumam maior responsabilidade pelos cuidados

com a família, assim como com o trabalho. (BUTTNER E MOORE, 1997)

A administração das responsabilidades do trabalho e da família é uma questão que

preocupa a maioria das mulheres que trabalham. Apesar de haver um crescente

reconhecimento das responsabilidades dos pais e maridos na manutenção da vida

doméstica, as mulheres ainda assumem uma parte desproporcionalmente maior dessas

responsabilidades. Olson e Currie apud Buttner e Moore (1997) concluíram que o valor

mais importante para mulheres empreendedoras é a segurança da família.

Carr (I996), por sua vez, afirma que nem a teoria das restrições de Schumpeter nem a

teoria de escolha de Knight oferecem uma explicação adequada dos fatores que levam

as mulheres a se tornarem empreendedoras. Segundo Carr (1996), ter seu próprio

negócio, assim como trabalhar meio expediente ou em casa, são estratégias de trabalho

flexível adotadas por mulheres para melhor conciliar as demandas da família e do

emprego remunerado. Assim, de acordo com a autora, uma teoria de empreendedorismo

que se aplique a mulheres precisa incorporar características familiares, incluindo estado

Page 45: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

37

civil e idade das crianças, Tais características familiares representam tanto motivações

corno restrições nas decisões profissionais das mulheres,

Para Carr (1996), abrir um negócio oferece à mulher urna alternativa adaptativa ou "via

escapatória" de empregos menos convenientes e menos flexíveis no setor assalariado. A

autora desenvolve urna nova teoria de empreendedorismo em mulheres, que pOSSUI

aspectos tanto da teoria de Schumpeter corno da teoria de Knight,

Apesar de as características familiares - maIS notavelmente, cnanças pequenas -

imporem restrições nas opções de emprego remunerado de urna mulher, alguns fatores

corno educação e os rendimentos do cônjuge permitem que esta escolha ter seu próprio

negócio ao invés de ter um emprego assalariado menos flexível. As mulheres não se

tomam empreendedoras por não terem outra opção, corno sugerido pela teoria das

restrições de Schumpeter. Ao invés disso, as mulheres - especialmente aquelas com

críanças pequenas e que possuem recursos para facilitar o início do seu próprio negócio

(ex: educação e urna segunda fonte de renda vinda do cônjuge) - irão optar por abrír um

negócio porque isso permite que ela tenha mais flexibilidade e um maior grau de

autonomia do que outras formas de trabalho contingente, corno meio expediente e

trabalho temporàrío. (CARR, 1996)

Green e Cohen (1995) oferecem algumas citações ilustrativas extraídas de suas

entrevistas com 24 mulheres que deixaram posições em grandes organizações para

estabelecer seus própríos negócios. Urna das mulheres tentou permanecer em sua

profissão na área de vendas por um ano depois de ter seu bebê: "Eu continuei a

trabalhar porque pensei que fosse conseguir fazer tudo, Pensei que Jessica iria fazer

exatamente o que eu havia dito a ela, e pensei que poderia ter urna profissão em vendas

Page 46: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

38

que me demandava viajar por todo o país, e que ainda poderia cuidar do meu bebê. Mas

essa foi a declaração mais estúpida que já dei na minha vida." A respondente agora é

proprietária e gerente de uma distribuidora de papéis.

2.5.4 Características do empreendedorismo em mulheres

São várias as histórias heróicas de mulheres que fundaram companhias que cresceram

milhões em vendas, com centenas de empregados. Ao mesmo tempo, há casos de

empreendimentos que trouxeram menos de mil dólares nos seus melhores anos. (BURT,

2000)

Hisrich e Brush apud Carter, Anderson e Shaw (200 I, p.24), na tentativa de traçar um

perfil demográfico das mulheres empreendedoras, descreveram a típica empreendedora

feminina como sendo "a primeira filha de pais de classe média ... depois de obter um

diploma em artes, ela se casa, tem filhos e trabalha como professora, administradora ou

secretária. Seu primeiro empreendimento na área de serviços começa depois que ela tem

35".

Algumas características de mulheres empreendedoras foram listadas por Hisrich apud

Burt (2000), em contraste com as características masculinas: enquanto os homens

empreendedores possuem forte opinião e são persuasivos, as mulheres são flexíveis e

tolerantes; enquanto os homens obtêm satisfação profissional com o fato de estar no

controle, as mulheres obtêm satisfação por estarem livres das fiustrações da profissão

anterior; enquanto os homens contam com o suporte de amigos e colegas de profissão,

as mulheres confiam nos amigos mais próximos; enquanto os homens abrem seus

negócios com idade entre 25 e 35 anos, as mulheres empreendedoras são uma década

mais velhas.

Page 47: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

39

Usando uma amostra de 58 mulheres e 43 homens empreendedores, Watkins e Watkins

apud Carter, Anderson e Shaw (2001) descobriram que as experiências anteriores das

mulheres eram substancialmente diferentes daquelas dos homens. As experiências

anteriores dos homens empreendedores tendem a ser mais relacionadas com o seu

empreendimento atual. Para eles, a abertura do próprio negócio permite que tenham

uma ocupação similar a que tinham antes, porém com mais independência e autonomia.

As mulheres empreendedoras, por sua vez, geralmente não possuem experiência

anterior relacionada ao negócio atual. Os autores também concluíram que a maioria das

mulheres se encontra despreparada para iniciar o negócio e, conseqüentemente, tende a

incorrer em maiores riscos.

Em relação à aquisição de recursos para iniciar um negócio, pesquisas mostram que as

mulheres enfrentam mais barreiras para obter dinheiro, seja pelo sistema bancário ou

por outras fontes. Como Hisrich e Brush apud Carter, Anderson e Shaw (2001)

descreveram: "Para uma mulher empreendedora que não tem experiência em

administração executiva, tem responsabilidades financeiras limitadas, e propõe um

produto não registrado, a tarefa de persuadir um funcionário do setor de empréstimos a

disponibilizar capital inicial não é fácil. Como resultado, uma mulher geralmente

precisa ter seu marido para assinar uma nota promissória, procurar um avalista ou usar

ativos pessoais. Muitas mulheres empreendedoras sentem fortemente que foram

discriminadas nesta área financeira" Os autores também reportaram que metade de

suas respondentes disseram ter tido dificuldades em enfrentar as crenças sociais de que

as mulheres não são tão sérias quanto os homens nos negócios.

Page 48: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

40

Em pesquisa feita com 814 mulheres que cursaram um MBA na Graduate School of

Business da Universidade de Chicago e que vivem nos Estados Unidos, Burt (2000) se

deparou com o fato de que quase todas as atividades empreendedoras praticadas pelas

respondentes eram em serviços. Refletindo a reputação da Universidade de Chicago, a

categoria mais popular foi a de serviços financeiros, desde contabilidade até

aconselhamento financeiro. Uma em cada cinco empreendedoras são consultoras de

marketing. Um número similar de mulheres se encontra em outros ramos de consultoria,

incluindo aconselhamento em fusões e aquisições e, mais freqüentemente,

aconselhamento ou serviços em gerência de recursos humanos.

Segundo a pesqUIsa, os empreendimentos manufatureiros são variados, desde uma

companhia que produz equipamentos de golf (Avid Diva) até uma doceria na California

(Robin Rose Ice Cream & Chocolate). (BURT, 2000)

Outros aspectos encontrados na pesquisa foram quanto ao tamanho das organizações em

que as mulheres trabalham antes de se tornarem empreendedoras e quanto à sua posição

na empresa. Quanto maior a organização em que a mulher trabalha, menos provável que

ela se tome empreendedora. Em relação à posição na empresa, observou-se que a

probabilidade de que uma mulher se torne empreendedora diminui consideravelmente

depois que esta alcança urna posição senior em uma organização. (BURT, 2000)

2.6 Influências do tipo de emprego e do gênero no equilíbrio entre vida

profissional e vida pessoal

Equilibrar as demandas e responsabilidades dos papéis do trabalho e da família tem se

tomado um problema cada vez mais comum para trabalhadores e empregadores. De

Page 49: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

41

fato, a perda de produtividade relacionada ao estresse entre mulheres empregadas em

grandes organizações é estimada em quase 40 bilhões de dólares por ano.

(PARASURAMAN E SlMMERS, 2001)

A maior parte das pesquisas feitas sobre o conflito entre trabalho e família focou quase

que exclusivamente nas experiências de indivíduos empregados em grandes

organizações. Pouca atenção foi dada a examinar -se as relações de trabalho e família de

homens e mulheres que operam seus próprios negócios. A literatura sobre pequenos

negócios e empreendedorismo tende a focar nos fatores que motivam os indivíduos a

começarem seus próprios negócios e nas habilidades e outros atributos que contribuem

para seu sucesso econômico e sobrevívência. Fatores como necessidade de realização,

autonomia e auto-satisfação são proeminentes dentre aqueles que motivam homens e

mulheres a iniciarem seus próprios negócios. (pARASURAMAN E SlMMERS, 2001)

Ter seu próprio negócio é percebido como uma opção de carreira que conduz a um

maior equilíbrio entre as responsabilidades dos papéis do trabalho e da família. A

importância de se investigar as relações de trabalho e família para pessoas que possuem

seus próprios negócios é reforçada pelo aumento da formação de novos negócios,

especialmente por mulheres, que abriram novas empresas a uma taxa duas vezes maior

do que a dos homens. (P ARASURAMAN E SlMMERS, 200 I )

2.6.1 Tipo de emprego

A literatura sobre o estresse sugere que é a falta de controle pessoal sobre as situações

que torna os trabalhadores estressados e gera tensão. Assim, a natureza firmemente

estruturada das profissões e os horários inflexíveis de trabalho característicos de grandes

Page 50: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

42

organizações contribuem para o conflito entre trabalho e família baseado no tempo.

(GREENHAUS et ai apud PARASURAMAN E SIMMERS, 2001)

As pessoas que possuem seus próprios negócios geralmente reportam uma maIOr

liberdade, autonomia e oportunidade de auto-realização do que aquelas empregadas em

grandes organizações. A posse da empresa e o fato de que o proprietário é seu próprio

chefe proporcionam a esses indivíduos a liberdade e a flexibilidade de estruturar seu dia

de trabalho de acordo com suas preferências, e portanto um maior controle sobre a

situação de trabalho (LOSCOCCO apud PARASURAMAN E SIMMERS, 2001)

Segundo Greenhaus et aI apud Parasuraman e Simmers (200 I), tal flexibilidade pode

reduzir o nível de conflito entre trabalho e família experimentado, permitindo a pessoas

donas de seus próprios negócios administrar os conflitos entre trabalho e família mais

eficazmente e aumentar o bem estar psicológico.

No entanto, sendo a propriedade do negócio responsável por uma parte do sucesso

deste, o empreendedorismo poderia também aumentar a identificação com o papel do

trabalho e o investimento nele, em detrimento do papel da familia. Parasuraman e

Simmers (200 I) advertem que os indivíduos donos de seus próprios negócios tendem a

ser mais envolvídos psicologicamente com o trabalho do que aqueles empregados em

grandes organizações. Além disso, as pessoas que possuem seu próprio negócio

tipicamente trabalham mais horas, já que possuem a responsabilidade pelo sucesso ou

fracasso do negócio. Conseqüentemente, os indivíduos empreendedores tendem a

experimentar um maior número de conflitos entre trabalho e família do que aqueles que

trabalham em grandes empresas, diminuindo assim seu bem estar psicológico.

(pARASURAMAN E SIMMERS, 2001)

Page 51: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

43

Assim, o empreendedorismo pode oferecer certas características de trabalho, como

autonomia e horário flexível, que potencialmente facilitam um melhor equilíbrio entre

trabalho e família, reduzindo a ocorrência de conflitos e conseqüentemente aumentando

o bem estar psicológico. Porém, tais beneficios podem não se concretizar e podem ser

compensados pelo aumento do envolvimento com a profissão e do comprometimento de

tempo com o trabalho demonstrado por pessoas donas de seus negócios, diminuindo

assim o envolvimento no domínio da família, exacerbando os conflitos e afetando

adversamente o bem estar psicológico dessas pessoas. (P ARASURAMAN E

SIMMERS, 2001)

2.6.2 Gênero

Teorias do papel do gênero sugerem que os homens e as mulheres diferem na

quantidade de tempo e energia que devotam às duplas demandas do papel do trabalho e

do papel da família. Na medida em que os homens se conformam com seu papel

socialmente previsto de responsáveis pelo "pão de cada dia", tendem a se envolver mais

com seu trabalho do que as mulheres e despendem mais tempo e esforço em preencher o

seu papel no trabalho. Esse maior comprometimento dos homens com o trabalho os

deixa com menos tempo e energia dispoJÚveis para a família. (PARASURAMAN E

SJMMERS, 2001)

Pesquisas em pequenos negócios mostram que as mulheres donas de seus próprios

empreendimentos experimentam dificuldades e problemas que limitam sua pe~formance

em termos econômicos e prejudicam seus sentimentos pessoais de satisfação.

(HISRICH E BRUSH apud PARASURAMAN E SlMMERS, 2001) Apesar de a

propriedade do negócio e o fato de ser seu próprio chefe darem liberdade e flexibilidade

Page 52: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

44

para se estruturar o dia de acordo com as suas preferências, e portanto maior controle

sobre a situação de trabalho, esses aspectos positivos podem ser menos sentidos pelas

mulheres. (PARASURAMAN E SIMMERS, 2001)

Assim, dado que as mulheres possuem mais responsabilidade pela casa, as que possuem

seus próprios negócios podem se encontrar motivadas a se envolverem com o trabalho,

mas incapazes ou não dispostas a diminuir seu envolvimento no domínio da família,

exacerbando portanto o conflito entre trabalho e família. (PARASURAMAN E

SIMMERS, 200 I )

2.6.3 Modelo de Parasuraman e Simmers

Parasuraman e Simmers (200 I) propõem um modelo que relaciona tipo de emprego e

gênero com conflito entre trabalho e família e bem-estar. Os autores examinam quatro

indicadores de bem-estar nos domínios da família e do trabalho, e na vida em geral:

satisfação com a profissão; satisfação com a carreira; satisfação com a família e estresse

de vida.

A satisfação com a profissão se refere às reações afetivas quanto à profissão. Reflete o

quanto o indivíduo possui sentimentos positivos em relação à sua profissão. A

satisfação com a carreira reflete uma avaliação da satisfação com o progresso e o

sucesso dos indivíduos ao longo do tempo na sua vida profissional. A satisfação com a

família se refere à medida pela qual os indivíduos se sentem bem em relação à sua

situação familiar. O estresse de vida, por sua vez, se refere ao estado de resposta

psicológica aos efeitos dos distúrbios causados pelos fatores estressantes na vida de uma

pessoa. (PARASURAMAN E SIMMERS, 2001)

Page 53: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

45

O conflito entre trabalho e família está associado a uma diminuição da satisfação com a

profissão, a uma pobre adaptação conjugal, a uma diminuição da satisfação com a

carreira e com a vida, e a um aumento no estresse de vida. (GREENHAUS E

BEUTELL, 1985). Assim, chega-se à conclusão de que o conflito entre trabalho e

família irà reduzir a satisfação com a profissão, com a carreira, com a família e està

estreitamente associado a uma vida mais estressante. O modelo de Parasuraman e

Simmers (2001) pode ser expresso na figura a seguir:

Page 54: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

46

FIGURA 1

Modelo de tipo de emprego, gênero, conflito entre trabalho e família e bem-estar

Cardcterísticas e pressões do

papel do trabalho

" Autonomia (-) Tipo de ----. Flexibilidade de horário (-) Indicadores de bem-

emprego Envolvimento com o trabalho( +)

estar

Comprometimento de tempo com o Satisfação com a

trabalho (+) Conflito entre profissão

L-. trabalho e 4 Satisfação com a

família familia Características e pressões do

I ~ papel da família Satisfação com a

Gênero carreira Demandas pelos pais (+)

Envolvimento familiar (+) Estresse de vida

Comprometimento de tempo com a

familia ( +)

i

Fonte: Parasuraman e Simmcrs (2001)

Page 55: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

47

2.7 Modelo conceitual

Tendo por base a revisão de literatura realizada, pode-se chegar ao quadro conceitual

orientador da coleta, da análise e da interpretação dos dados.

As questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal para mulheres

empreendedoras serão examinadas utilizando os temas apresentados na revisão de

literatura. O quadro a seguir identifica os tópicos e sub tópicos a serem considerados:

Vida profissional Satisfação e envolvimento com a profissão

Lugar marcado na sociedade

Motivações para o empreendedorismo

A importância da flexibilidade de horário

A importância da sócia mulher

A insegurança

Vida familiar O apoio do cônjuge

Diferenças culturais entre o cônjuge brasileiro e o estrangeiro

Pais e parentes idosos

A importância de estar com os filhos

O sentimento de culpa

Estrutura de apoi o

Vida pessoal) Estresse

Cuidados pessoais

Lazer

Estilos de equilíbrio Extravasamento (spillover)

entre vida profissional Compensação

e vida pessoal Segmentação

1 O tópico vida pessoal se refere aos cuidados das mulheres com elas próprias.

Page 56: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

48

Os estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal foram considerados na

análise devido ao fato de que a revisão de literatura revelou uma quantidade relevante

de pesquisas que se voltaram para tal assunto. Esses estudos realizaram-se tendo por

foco não apenas o tipo de atividade e o gênero, mas também o indivíduo. Optou-se,

portanto, por adicionar o modelo de conexão entre trabalho e família de Sumer e Knight

(200 I), que propõe três hipóteses para explicar a estratégia de equilíbrio entre os

domínios do trabalho e da família: extravasamento (spillover), compensação e

segmentação.

Page 57: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

49

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de Pesquisa

Segundo Vergara (1997), a pesquisa pode ser definida quanto aos fins e quanto aos

meios. No que se refere aos fins, a pesquisa poderia ser do tipo exploratória, descritiva,

explicativa, metodológica, aplicada ou intervencionista. No que se refere aos meios, a

pesquisa pode ser classificada como de campo, de laboratório, telematizada,

documental, bibliográfica, experimental, ex-posl facto, participante, pesquisa-ação e

estudo de caso.

Assim, tendo por base a tipologia proposta por Vergara (1997), o presente estudo pode

ser caracterizado como tendo dupla finalidade: exploratória e descritiva. Exploratória

porque, embora o fenômeno esteja parcialmente pesquisado e documentado em outros

países, não se verificou no âmbito brasileiro a existência de estudos que abordem a

questão do equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal em mulheres

empreendedoras com o ponto de vista pelo qual a pesquisa tem a intenção de abordá-lo.

A pesquisa também se caracteriza como descritiva porque visa descrever percepções das

mulheres que praticam atividades empreendedoras acerca do seu equilíbrio entre vida

profissional e vida pessoal.

Quanto aos meios, duas classificações se aplicam: estudo de campo e pesquisa

bibliográfica. Bibliográfica, por ter partido de conhecimento obtido em fontes como

livros e periódicos especializados. De campo, por ter entrevistas com os principais

atores do fenômeno - mulheres que estabeleceram um negócio que consiste na sua

atividade principal. Além disso, possui uma metodologia abrangente que inclui a

Page 58: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

50

pergunta da pesquisa, prossegue com a coleta e a análise de dados e termina com as

conclusões e a redação final da pesquisa. (YIN, 1994)

É importante ressaltar que o presente estudo utiliza alguns princípios dagronded theory,

notadamente o de que a teoria deve ser gerada a partir de dados observados pelo

pesquisador. A grounded theory foi originalmente desenvolvida pelos sociólogos

americanos Anselm Strauss e Barney Glaser. O nome justifica-se por ser uma

abordagem aos dados qualitativos cujo objetivo principal se encontra na geração de

teoria a partir dos dados coletados . (STRAUSS apud SANTOS, 1994)

Diferentemente da prática comum a outros métodos, na grounded theory o fenômeno

não é abordado tendo-se um quadro teórico como referência e orientação; parte-se do

princípio de que, através de procedimentos sistematizados com os dados coletados, a

teoria surgirá de forma indutiva. Ao longo da pesquisa conceitos são formulados e

hipóteses são geradas, sendo continuamente retrabalhadas. O processo de construção da

teoria é, dessa forma, paralelo ao processo de coleta e análise de dados. (SANTOS,

1994)

Assim, pode-se dizer que o presente estudo utilizou alguns princípios da grounded

Iheory, no sentido de que o número de pessoas a serem entrevistadas e os locais a serem

visitados e observados não foram especificados previamente. As perguntas e eventuais

lacunas teóricas serviram parcialmente de guia para a definição dos próximos dados a

serem coletados.

Page 59: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

51

3.2 Sujeitos da Pesquisa

Tendo em vista a compreensão das questões relativas ao equilíbrio entre vida

profissional e vida pessoal para mulheres brasileiras que praticam atividades

empreendedoras, foram definidos os sujeitos da pesquisa'. mulheres que estabeleceram

um negócio próprio, consistindo este na sua atividade principal, no estado do Rio de

Janeiro. Tais mulheres se encontravam ativas em seus negócios até a data das

entrevistas e não possuíam outra profissão a que se dedicassem integralmente. Algumas

das entrevistadas eram as únicas proprietárias do negócio, enquanto outras possuíam

sócias também mulheres.

Como as questões de equilíbrio entre vida profissional e pessoal vão surgindo no dia-a­

dia das mulheres à medida que o empreendimento se mantém, é necessário um certo

tempo para a percepção de tais questões por parte das mulheres empreendedoras. Não é

por outra razão que os sujeitos da pesquisa deveriam estar praticando a atividade

empreendedora há pelo menos um ano.

Quanto ao número de entrevistas, não foi definido, em princípio, um número ideal

antecipadamente. No entanto, devido às limitações de tempo, e por se tratar de uma

dissertação de mestrado, foram feitas 12 entrevistas em profundidade. A saturação

teórica, situação indicativa de repetição das questões conceituais, não chegou a ser

assegurada devido ao número limitado de entrevistas. No entanto, alguns aspectos

emergiram com razoável consistência conforme observado no capítulo de discussão de

resultados.

Em relação aos ramos dos negócios, duas possuem restaurantes; duas possuem buffet

(oferecem serviços para festas e reuniões); uma possui restaurante e buffet; duas

Page 60: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

52

possuem lojas de roupas femininas; uma possui uma confecção de roupas infantis; uma

possui uma loja de tecidos para decoração; uma possui uma assessoria de imprensa;

uma possui uma produtora de cinema e uma possui sua própria clínica de

odontopediatria.

A seleção das respondentes foi feita por conveniência, ainda que se tenham tomado

cuidados, como o de distribuir as entrevistas por ramos de atividade diferentes.

Algumas pesquisadas indicaram pessoas de seu conhecimento para serem entrevistadas,

de ramos de negócios diferentes, porém de nível sócio-cultural semelhante. Assim, é

importante ressaltar que a maioria das mulheres empreendedoras entrevistadas provém

da região metropolitana do Rio de Janeiro e possui um alto nível de renda e de educação

formal.

Um breve perfil das entrevistadas é traçado no quadro a s%'Uir:

Page 61: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

53

QUADRO]

Ramo de atividade, faixa de idade, número de filhos e estado civil das entrevistadas

Ramo de atividade Faixa de idade Número de filhos Estado civil

E1 restaurante I bulfet 36 - 40 1 casada/companheiro

E2 restaurante 36 - 40 1 casada/companheiro

E3 restaurante 36 - 40 O solteira

E4 loja de roupas 30 - 35 2 casada/companheiro femininas

E5 loja de roupas 36 - 40 2 casada/companheiro femininas

E6 buffet 30 - 35 3 casada/companheiro

E7 bulfet 30 - 35 2 casada/companheiro

E8 confecção de 40 - 45 2 casada/companheiro roupas infantis

E9 loja de tecidos 40- 4S 1 casada/companheiro para decoração

ElO assessoria 40 - 4S 2 casada/companheiro de imprensa

Ell produtora de cinema 36 - 40 O solteira

E 12 clínica 40 - 45 O solteira de odontopediatria

Page 62: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

54

3.3 Coleta de Dados

o principal meio de coleta de dados foi a entrevista, pois esta permitiu a obtenção de

dados em profundidade acerca das questões relativas ao equilíbrio entre vida pessoal e

profissional das entrevistadas. Cada entrevista gravada teve, em média, uma hora de

duração . .Por meio do relato, foi dada às respondentes a oportunidade de expressar seus

sentimentos e pensamentos sobre tais questões, relacionando sua experiência de vida a

um contexto social mais amplo.

Yin (1994) indica que três tipos de entrevista podem ser utilizados no estudo de caso:

aberta, focada e com questões estruturadas. No presente estudo, as entrevistas foram

focadas, podendo as perguntas incluir dados e opiniões acerca de determinados eventos.

Além disso, foram obtidos das respondentes insights acerca de determinadas

ocorrências. A pesquisadora elaborou uma lista de itens que serviu como um guia, o que

permitu a captura de pontos de vista diferentes acerca das mesmas questões, sem

impedir que novos aspectos que surgissem fossem investigados.

Antes de cada entrevista ser iniciada, foram explicados à entrevistada o objetivo e a

relevância da pesquisa, a importância de sua colaboração, bem como foi garantida a

confidencialidade. As entrevistadas foram encorajadas a entrar em detalhes, a exprimir

sentimentos e crenças e a relatar características e experiências pessoais. Vale ressaltar

que a liberdade de condução das entrevistas propiciou a emergência de questões que não

estavam previstas, e que foram abordadas no capítulo de discussão.

Page 63: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

55

3.4 Tratamento e Análise dos Dados

Numa primeira etapa, as entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas para

documentos em Word.

Primeiramente, cada entrevista foi analisada separadamente, permitindo a emergência

de questões e conceitos de cada situação. Em uma etapa posterior, uma análise

simultânea de todas as entrevistas foi realizada, obtendo-se aSSim as eventuais

similaridades e diferenças nos depoimentos, e procurando-se estabelecer aderência ou

discrepância em relação ao referencial teórico.

Dentro dos princípios da grounded theory, permitiu-se a emergência de categorias

conceituais não previstas ne revisão de literatura. Assim, questões como a importância

da sócia mulher e as diferenças culturais entre o cônjuge brasileiro e o estrangeiro

surgiram indutivamente das entrevistas.

3.5 Limitações do Método

A pesquisa possui limitações que devem ser consideradas quando da interpretação de

seus resultados. Em primeiro lugar, a opção por entrevistas em profundidade pode trazer

problemas, como o fornecimento de respostas falsas, determinadas por razões

conscientes ou inconscientes; a influência exercida pelo aspecto pessoal do

entrevistador sobre o entrevistado; e a influência de opiniões pessoais do entrevistador

sobre as respostas do entrevistado. Tais limitações, de alguma forma, podem intervir na

qualidade das entrevistas.

Outro tipo de limitação se refere à amostra pesquisada. Devido ao fato de a maioria das

respondentes possuir um alto nivel de renda e de educação formal, as conclusões deste

Page 64: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

56

estudo não devem ser estendidas a outras classes sociais ou a outras localizações

geográficas. É reduzida, também, a capacidade de comparar os resultados obtidos com o

de estudos já realizados no Brasil, devido à escassez de bibliografia específica sobre o

assunto no âmbito brasileiro.

Page 65: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

57

4 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Neste capítulo, apresentamos o resultado do processo de pesquisa, isto é, como, a partir

da análise das entrevistas realizadas, conseguiu-se esboçar as questões relativas ao

equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional das entrevistadas.

A partir da análise das entrevistas, e a fim de facilitar a compreensão da interpretação,

organizamos os pontos de conteúdo mais significativo em quatro grandes temas,

incluindo, por vezes, alguns trechos dos discursos das informantes, tendo sido suas falas

fielmente reproduzidas. Portanto, os eventuais erros gramaticais foram mantidos para

manter a naturalidade dos relatos.

É importante lembrar que os temas, embora apresentados separadamente para facilitar o

entendimento, na prática estão entrelaçados. Assim, os quatro principais tópicos que

podemos depreender do discurso das entrevistadas são apresentados a seguir, de modo a

se estruturar com maior clareza o pensamento das mesmas acerca das questões de

equilíbrio entre vida pessoal e vida profissionaL

Os principais tópicos identificados foram: (1) Vida profissional; (2) Vida familiar e

(3) Vida pessoal 2 Por fim, em relação aos modelos de conexão entre trabalho e família,

foram identificados os estilos de equilíbrio que explicam a relação das pesquisadas com

os domínios do trabalho e da família, constituindo-se no quarto tópico: (4) Estilos de

equilíbrio entre vida profissional e vida pessoaL

2 O tópico vida pessoal se refere aos cuidados das muI heres com elas próprias.

Page 66: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

58

4.1 Vida Profissional

4.1.1 Satisfação e envolvimento com a profissão

A satisfação com a profissão, que reflete o quanto o indivíduo pOSSUl sentimentos

positivos em relação à sua profissão, é uma característica que parece estar presente nas

mulheres brasileiras que possuem seus próprios negócios. As pesquisadas demonstram

estar satisfeitas com a sua profissão e ter orgulho desta, principalmente devído ao

interesse pelo trabalho e à autonomia conquistada. Nas palavras de uma das

entrevístadas:

"Eu não pensava em nada disso. Eu não planejei muito. Mas tenho prazer de fazer.

De ver crescer, fuzer planos para crescer mais. Meu marido, que trabalha numa

empresa, não é assim. Eu fico muito mais empolgada do que ele quando chego em

casa. Eu acho o meu trabalho muito mais interessante, meu trabalho tem muito mais

novidades a cada dia. Cada trabalho feito é uma vitória". (E 6 - buffet)

As entrevistadas também demonstram estar satisfeitas com o desenvolvímento de seus

negócios, ou seja, com o progresso e o sucesso dos negócios ao longo do tempo:

"As satisfações pessoais, pelo Restaurante 2, pelo que ele é. Se eu tivesse outro

negócio, uma sapataria, conserto de relógio, talvez não me desse tanto prazer. Mas o

meu negócio me dá muito prazer. Eu tenho satisfação com o sucesso que o

Restaurante 2 tem." (E 2 - restaurante)

"Gosto muito do que faço. Não conseguiria me imaginar hoje em dia sem meu

trabalho". (E I - restaurante / buffet)

Page 67: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

59

Este aspecto parece corroborar a afirmação de Loscoceo (1997) de que as pessoas que

possuem seus próprios negócios reportam uma maior liberdade, autonomia e

oportunidade de auto-realização do que aquelas empregadas em grandes organizações.

o envolvimento com o trabalho é grande entre as mulheres brasileiras donas de seus

próprios negócios. Algumas das entrevistadas tiveram experiência de trabalho em

grandes organizações antes de se tornarem empreendedoras, e demonstram estar muito

mais envolvidas com o seu negócio atual do que antes:

"Eu costumo dizer que é como se você estivesse trabalhando de temo e gravata. Eu

saía da Organização I e tirava a gravata. Eu saio daqui e fico de temo e gravata até

muitas vezes 3, 4 horas da manhã, pensando". (E 4 -loja de roupas femininas)

A expressão "ficar de terno e gravata", utilizada por uma entrevistada, pode ser

interpretada como uma constatação de que as pessoas que possuem seus próprios

negócios tendem a ser mais envolvidas psicologicamente com o trabalho do que aquelas

empregadas em grandes organizações. Assim, mesmo não estando mais em seu

ambiente de trabalho, as mulheres empreendedoras demonstram permanecer envolvidas

com este durante muitas horas.

Outra possível interpretação da expressão "ficar de terno e gravata" é a de que as

mulheres bem sucedidas tendem a assumir uma postura mais agressiva, mais masculina.

Segundo Tonelli e Beliol (1991), o papel idealizado de docilidade feminina parece não

ter espaço nas organizações, pelo menos para a atuação da mulher em postos de

comando. As mulheres assalariadas da amostra do estudo realizado pelas autoras

afirmaram atuar segundo padrões masculinos de conduta nas organizações em que

trabalhavam As mulheres empreendedoras entrevistadas para a presente pesquisa, por

Page 68: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

60

sua vez, não demonstraram ter que assumir tal postura a fim de obter crescimento

profissional.

Segundo a psicóloga e socióloga Rosiska Oliveira, nas décadas de 70 e 80 esperava-se

que a mulher agisse profissionalmente como homem; até a postura fisica era masculina.

"Nos anos 80 uma vez saí na Quinta Avenida em Nova York, às 17h30, e fiquei

estarrecida, porque a maioria das mulheres estava de temo e gravata.", diz a especialista

em mulheres. (BRlSSAC, 1997)

Segundo Miranda e Petraglia (2002), hoje, ao contrário, as mulheres querem ter

igualdade salarial com os homens, mas também querem ter o direito de interromper uma

reunião diante de um telefonema do filho sem receber olhares tortos. Ou chorar em paz

em pleno expediente nos dias de tensão pré-menstrual. Na Europa, alguns patrões

preferem permitir que as mulheres façam meio expediente nos primeiros dias de

menstruação. "Primeiro elas se igualaram aos homens para conquistar o mercado de

trabalho. Depois, perceberam que não precisavam agir como eles para serem

valorizadas.", diz o psicanalista Joel Birman apudMiranda e Petraglia (2002).

Além do maior envolvimento com o trabalho, observa-se uma maior realização pessoal

por parte das pesquisadas, que demonstram valorizar o controle sobre a forma de

trabalhar, apesar da grande carga de trabalho.

"Muito mais, muito mais feliz. O que eu fazia na Organização I eu amava, eu não

suportava era a maneira com que eu tinha que fazer. Achava que era imposta, tinha

muita pressão. Aqui eu tenho o controle da situação, é muito mais prazeroso".

(E 4 - loja de roupas femiuinas)

Page 69: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

61

Outro fator observado foi a motivação que algumas entrevistadas demonstraram possuir

para gerir e expandir seus negócios. Nas palavras destas depoentes:

"A gente tem que crescer. Tem uma hora em quc você ou cresce ou fecha as portas.

Então a gente está crescendo, a gente está querendo sair daqui para uma casa maior".

(E 6 - buffet)

"Tenho expectativas excelentes para o ano que vem. Eu quero ter uma cadeia de

lojas, isso é uma coisa que está na minha cabeça, abrir franquia ou abrir com capital

próprio. A gente vai rcalizar esse objetivo, que já virou obsessão".

(E 4 - loja de roupas femininas)

4.1.2 Lugar marcado na sociedade

Um interessante aspecto observado em algumas das entrevistadas é a necessidade de

demonstrar ter um lugar marcado na sociedade e de interagir em conversas e reuniões

com o marido e os amigos, definida por elas próprias como uma necessidade de "falar a

mesma língua que o marido":

"Me sinto bem em me posicionar na sociedade, sou mais segura, mais atual, mais

independente, tenho satisfação própria, você vê o resultado do seu trabalho".

(E 9 - loja de tecidos para decoração)

"Quando você tem trabalho, você começa a entender mais o seu marido, também. Eu

falo a mesma linguagem que ele, eu participo das mesmas coisas, você troca idéias.

A pessoa que trabalha, você sai para jantar numa reunião e você participa mais, você

está entendendo do que está se falando". (E 5 - loja de roupas femininas)

Page 70: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

62

É curioso notar que, apesar de desejarem "falar a mesma língua que o marido", as

mulheres empreendedoras pesquisadas possuem atividades que podem ser consideradas

tipicamente femininas, relacionadas a cozinhar, como possuir buffet e restaurante; à

moda, como possuir uma loja de roupas femininas ou de tecidos para decoração; ou a

cnanças, como possuir uma confecção de roupas infantis ou uma clínica de

odontopediatria. Os trabalhos tipicamente femininos parecem se reproduzir também

dentro das organizações. De acordo com Monaban, Kuhn e Shaver apud Tonelli e

Betiol (1991), o sucesso da mulher em campos tradicionalmente masculinos envolve

considerável negatividade e conflito. Por outro lado, os autores indicam que o sucesso

das mulheres, na visão das próprias, em campos tradicionalmente femininos é bem

visto. (TONELLI E BETIOL, 1991)

4.1.3 Motivações para o empreendedorismo

Em relação às motivações das entrevistadas para trabalhar em seus próprios negócios,

foram identificados dois grupos principais. Um grupo de mulheres começou a praticar a

atividade empreendedora sem um planejamento anterior. Para este grupo, o crescimento

do negócio foi uma conseqüência do sucesso inicial. Outro grupo de mulheres

demonstra ter procurado a atividade empreendedora como uma forma de melhor

conciliar vida profissional e maternidade.

Dentre as entrevistadas, o maior número de mulheres que disse ter começado o negócio

sem planejar não possuía experiência anterior em grandes organizações. Segundo

depoimentos das entrevistadas:

"A gente começou sem pretensão alguma de ter um negócio desse tamanho".

(E I - restaurante / buffet)

Page 71: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

63

"E a gente começou, sem muitas expectativas, a gente estava experimentando, era

mais para curtir, estava gostando. Se der certo ótimo, se não, ótimo também., eu não

tinha plan~iado." (E 6 - buffet)

No segundo grupo, das mulheres que procuraram a atividade empreendedora como uma

forma de conciliar trabalho e maternidade, grande parte das pesquisadas possuíam

experiência de trabalho anterior em grandes empresas. Nas palavras das entrevistadas:

"Trabalhei na Organização I e eram 14 hs de trabalho por dia, era enlouquecedor,

não tinha flexibilidade de horário, muitas vezes eu faltava ás festinhas da escola das

crianças, reuniões de pais, porque tinha reunião de trabalho e eu tinha que

estabelecer prioridades, porque naquele momento aquilo era mais importante".

(E 4 - lqja de roupas femininas)

"O que me deu mais estimulo para me tornar empreendedora e abrir um negócio foi

muito essa questão. Foi principalmente essa questão. O sonho de qualquer pessoa é

ter o seu próprio negócio. Mas eu acho que o que mais me estimulou foi o fato de

não poder acompanhar o desenvolvimento das crianças quando eu trabalhava em

empresa grande" (E 8 - confecção de roupas infantis)

Esta constatação vai ao encontro do estudo feito por Buttner e Moore (1997), segundo o

qual mulheres que experimentaram conflito de papéis entre trabalho e família nos seus

empregos anteriores tendem a medir o sucesso em termos de alcançar um maior

equilíbrio das responsabilidades do trabalho e da família.

Segundo Stoner e Fry apud Buttner e Moore (1997), existe uma relação entre o nível de

(in)satisfação que uma pessoa empreendedora reporta com seu emprego anterior e o tipo

de negócio iniciado posteriormente. Consistentemente com os achados dos

Page 72: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

64

pesquisadores, parece possível que as mulheres deixem suas posições corporativas

devido a aspirações frustradas. Por exemplo, mulheres que se sentiram frustradas pela

falta de desafio em suas posições anteriores e se tornaram empreendedoras podem vir a

medir o sucesso internamente em termos de crescimento pessoal ou externamente em

termos de lucros e crescimento dos negócios.

As razões para que uma mulher se torne empreendedora parecem se basear em

circunstâncias pessoais e externas, que podem ser positivas ou negativas. Os fatores

negativos tendem a impulsionar (push) as mulheres, para que estas considerem a

possibilidade de se tornarem empreendedoras, enquanto os fatores positivos as atraem

(pull). (STARCHER, 2001)

Os fatores impulsionadores (push) incluem necessidade financeira, falta de facilidades

para cuidar das crianças, condições de trabalho inaceitáveis, diferença grande de salário

entre homens e mulheres, segregação ocupacional, frustração com a profissão, ou

desilusão com as relações tradicionais entre o empregado e o empregador. Em alguns

paises, o desemprego é um dos maiores fatores impulsionadores (push). (STARCHER,

2001)

Fatores positivos que atraem mulheres para o empreendedorismo incluem oportunidades

de mercado, interesse por uma área de atividade particular, objetivos sociais,

necessidade de horário flexível, maior salário e independência financeira, uma simples

necessidade de sair de casa e um desejo de autonomia, crescimento pessoal e aumento

da satisfação com a carreira. (STARCHER, 2001)

Outro fator motivador para o empreendedorismo em mulheres identificado nas

entrevistas é o fato de que, no mercado de trabalho, as mulheres se deparam com o

Page 73: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

65

chamado "teto de vidro", que as impede de ascender na carreira em grande

organizações. O seguinte depoimento corrobora esta afirmação:

"A gente conversava sobre as limitações do universo feminino, o quanto você dá e o

que você recebe, quem são os seus pares, quantos são os homens e as mulheres, qual

é o seu potencial jlillto a seus pares, o cara do seu lado pode amanhã fazer um

doutorado e você mal terminou uma faculdade, já quase morrendo de eulpa por

causa dos scus filhos. Você começa a ter uma série de desvantagens no mundo

profissional" (E 8 - confecção de roupas infantis)

Este fator motivador para o empreendedorismo em mulheres vai ao encontro da

pesquisa realizada por Hisrich e Brush (1985), segundo a qual mulheres com

experiência profissional que deixam as grandes organizações para se tornarem

empreendedoras podern estar abrindo mão de suas posições nas empresas devido ao

"teto de vidro".

"Teto de vidro" é uma expressão surgida na década de 80, nos Estados Unidos, como

metáfora para os obstáculos que impedem a ascensão profissional. A maioria dos

estudiosos e consultores considera que o mundo corporativo caminha para valores tidos

como femininos, como importância do relacionamento, trabalho em equipe, uso de

motivação e persuasão ao invés de ordem e controle, cooperação no lugar de

competição. Esta teoria parece estar de acordo com as estatísticas sobre o avanço

profissional das mulheres, tanto no Brasil como no exterior. Tomando-se o caso dos

donos de empresas, por exemplo, constata-se que as mulheres representavam 17% dos

empregadores brasileiros em 1991 e passaram a 22,4% em 1998, segundo a Pesquisa

Nacional por Amostragem de Domicílios (pnad), feita pelo IBGE. (COHEN, 2001)

Page 74: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

66

Apesar disso, observa-se que as empresas têm poucas mulheres em áreas de comando.

Segundo a organização feminista americana Catalyst, nas 500 maiores empresas da lista

da revista Fortune, apenas 12,5% dos diretores são mulheres. Porém, nem todos os

cargos de diretoria são iguais: dos postos com poder de decisão e impacto na operação,

apenas 6,2% são ocupados por mulheres. Dos cargos que levam ao topo, somente 7,3%.

Entre os cinco executivos mais bem pagos de cada empresa, apenas 4,1% são mulheres.

Vale ressaltar que todos esses dados são dos Estados Unidos, um pais em que as

mulheres representam 49% da força de trabalho. (COHEN, 2001)

No Brasil, não há esse tipo de acompanhamento. Porém, uma pesquisa feita com as 500

empresas da lista de "Melhores e Maiores" publicada pela revista Exame revela dados

muito parecidos. Entre as 500 maiores, apenas duas têm uma mulher na presidência. As

mulheres são 40% da força de trabalho no Brasil e 24% do universo de gerentes. No

entanto, de todos os diretores de primeiro escalão das 100 melhores empresas para

trabalhar, apenas 7,7% são do sexo feminino. (COHEN, 2001)

Apesar da existência do "teto de vidro", um motivo por que as mulheres não ocupam

cargos de comando é que muitas delas simplesmente não querem. Um estudo da

consultoria KornlFerry, feito em 1996, concluiu que apenas 14% das executivas

empregadas em grandes companhias ambicionavam a presidência. Para os homens, a

taxa era de 46%. (COHEN, 2001)

Segundo a pesquisadora Dominique Lazanski, do Pacific Research Institute, "muitas

mulheres obtêm diplomas e lutam por posições gerenciais, mas muitas ainda escolhem

tirar um periodo sabático ou trabalhar em tempo parcial para cuidar da família, ou

Page 75: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

67

começar negócios próprios. Em suma, os resultados profissionais das mulheres refletem

suas escolhas pessoais". (COHEN, 2001)

Podemos depreender dessas informações que as carreiras das mulheres não podem ser

bem compreendidas se forem levados em conta os padrões dos homens. Concordando

com Carr (1996), podemos dizer que ter seu próprio negócio muitas vezes é uma

estratégia de trabalho flexível adotada por mulheres para melhor conciliar as demandas

da família e do trabalho. Muitas mulheres desejam mais flexibilidade de horário e

autonomia no trabalho e estão iniciando negócios próprios em números recordes.

4.1.4 A importância da flexibilidade de horário

A flexibilidade de horário aparece como um fator determinante na satisfação com a

carreira. As pesquisadas, apesar de trabalharem muitas horas, valorizam a flexibilidade

de horário e a vêem como uma vantagem, especialmente para as próprias mulheres que

são donas do próprio negócio. Segundo depoimentos das pesquisadas:

"A maior vantagem é a flexibilidade de tempo. Por mais que você trabalhe, você

trabalha na hora que você quer, entre aspas. Se você tem que entregar um trabalho,

eu fico até às 10 horas da noite, mas não tenho que dar satisfação. Isso te dá um

alívio muito grande." (E 6 - buffet)

"Tipo alguém está doente, sei lá, qualquer que seja o assunto, eu já não preciso ficar

negociando com todo mundo para estar presentc na vida dos mcus filhos. Hoje, no

início do ano, eu já tenho aquelas datas e eu já não marco nada naqueles dias que são

importantes para mim. Pode ser o maior cliente do mundo, que eu tenho como deixar

pra outro dia". ( E 8 - confecção de roupas infantis)

Page 76: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

68

A contribuição da flexibilidade de horário para o equilíbrio entre vida pessoal e vida

profissional se dá devido ao fato de que, sendo as donas dos próprios negócios, as

mulheres empreendedoras possuem a liberdade de estruturar o dia de trabalho de acordo

com suas preferências, adaptando os compromissos de profissionais ás necessidades da

família.

A socióloga Rosiska Oliveira propõe a "reengenharia do tempo" para solucionar os

problemas relativos ao equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional da mulher.

Segundo Oliveira, a briga pela igualdade com os homens foi uma formulação totalmente

equivocada: "No momento em que a mulher conquista seu espaço no mercado e

esconde que a vida privada dá trabalho e consome seu tempo, ela oculta que a vida

privada prejudica o desempenho profissional. Na luta pela igualdade de oportunidades,

é inevitável deixar claro que a vida privada é algo a ser negociado. Não negociamos,

assumimos tudo e transformamos nosso tempo em algo elástico. É por isso que as

mulheres estão esgotadas", diz a socióloga em entrevista à Melo (2002, p.36).

Oliveira afirma que a flexibilidade na organização do trabalho, permitindo uma melhor

distribuição do tempo, por si só não basta para garantir melhor permuta entre os

membros de um casal no atendimento à família e á vida privada. O que teria sido

verdade se a flexibilidade não estivesse sendo entendida pelas empresas, cada vez mais,

como uma disponibilidade permanente do empregado, chamado quando dele se tem

necessidade. Para a escritora, é legítimo imaginar que a flexibilidade tal como está

sendo entendida e praticada, sobretudo nas emprresas mais modernas nos países mais

desenvolvidos, seja uma das razões que determina a postergação da idade do casamento

e a conseqüente queda da natalidade. (OLIVEIRA, 2001)

Page 77: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

69

A socióloga defende a idéia de que uma reengenharia do tempo, que leve em conta, na

relação trabalho/família, valores até então indiscutíveis como a responsabilidade dos

pais face aos filhos, o direito ao lazer e o espaço interior necessário à construção de si, é

não somente prioritária, mas uma ocasião ideal para tornar nítidos os valores que estão

informando as novas conformações do mundo do trabalho e da vida familiar.

(OLIVEIRA, 2001)

De acordo com a autora, precisamos mudar a organízação da sociedade, seus horários e

sua produção, reestruturando o tempo social para que homens e mulheres possam se

ocupar mais de suas famílias. Em relação às mulheres, a socióloga afirma que a

sociedade tem que se redesenhar diante do novo, que é a chegada ao espaço público de

seres que engravidam, amamentam e, como fruto de uma experiência diferente da dos

homens, desenvolvem sensibilidades e linguagens próprias. (OLIVEIRA et ai, 2002)

4.1.5 A importância da sócia mulher

Outro aspecto observado em relação às pesquisadas é a compreensão por parte das

sócias, também mulheres, de suas necesssidades fora do trabalho. Esse aspecto faz com

que o contentamento com a opção de ter seu próprio negócio aumente, já que podem

contar com a outra sócia nos momentos em que precisam resolver algum problema

relativo à família. Os seguintes depoimentos corroboram esta afirmação:

"Você ter alguém para revezar é importante. Eu não poderia imaginar ter um sócio

homem. A sócia mulher entende mais. Eu não me imagino dizendo para um sócio

homem que o meu filho está com febre e então vou ter que chegar mais tarde, ou não

vou poder vir. A cabeça da mulher é mais caótica. O homem é mais metódico e não

compreende que no final dá tudo certo. Amamentando eu ficava trabalhando em

Page 78: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

70

casa, e vinha aqui. Um homem logo pergunta: 'Que negócio é esse que dá certo com

a mãe amamentando?'" ( E 6 - buffct)

"Como ela segurou a minha onda grávida, eu também segurei a onda dela grávida."

(E I - restaurante / buffct)

Algumas entrevistadas já haviam tido a experiência de ter sociedade com um homem, e

reportam diferenças entre ter um sócio homem e uma sócia mulher:

"Eu acho que flui melhor se é uma mulher, porque tem uma cabeça diferente da do

homem. A minha sócia foi criada como eu, tem até questões da época. Eu já tive

experiência de ter um negócio com um homem e, agora que tenho com uma sócia

mulher, posso dizer que é bem diferente. Flui melhor, a gente se entende melhor."

(E 3 - restaurante)

o apoio da sócia mulher parece ser, portanto, um fator importante para a manutenção do

equilíbrio entre trabalho e família das mulheres empreendedoras. Tal aspecto vai ao

encontro das características de mulheres empreendedoras listadas por Hisrich apud Burt

(2000), em contraste com as características masculinas: enquanto os homens

empreendedores possuem forte opinião e são persuasivos, as mulheres são flexíveis e

tolerantes; enquanto os homens obtêm satisfação profissional com o fato de estar no

controle, as mulheres obtêm satisfação por estarem livres das fiustraçães da profissão

anterior; enquanto os homens contam com o suporte de amigos e colegas de profissão,

as mulheres confiam nos amigos mais próximos.

Outra interpretação das razões pelas quais as mulheres entrevistadas afirmaram preferir

ter uma sócia mulher pode ser a de que num empreendimento em sociedade, valores

tidos como femininos, como a cooperação e a importância do relacionamento, parecem

Page 79: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

71

ser mais importantes para o sucesso profissional do que valores considerados

masculinos, como a competição e o controle, importantes dentro da maIona das

organizações. Segundo Tonelli e Betiol (1991), a mulher, ingressando nas organizações,

deverá reavaliar os investimentos que faz nos papéis femininos, e isto exige uma

capacidade de superação de papéis prescritos, sem medo ou culpa. Tal capacidade de

superação de papéis não parece ser tão necessária quando uma mulher possui seu

próprio empreendimento.

Um aspecto cunoso sobre a ajuda mútua das mulheres foi observado em pesquisa

recente realizada por pesquisadoras da USP sobre o comportamento humano O estudo

demonstrou que as mulheres que vivem e trabalham no campo também contam com a

ajuda de suas amigas mulheres no dia-a-dia. A antropóloga social Beatrice Gropp, que

participou da pesquisa Mulheres do Braçil coordenando as visitas a comunidades rurais,

ficou impressionada com o auxílio mútuo das mulheres do campo. Elas vivem próximas

de suas tias, das mães, dos amigos e isso as faz sentirem-se menos sozinhas. "Na cidade

grande, esse agrupamento poderia ser feito com vizinhas, se o senso de comunidade

fosse resgatado", diz Oriana White, coordenadora da pesquisa. (MIRANDA E

PETRAGLIA,2002)

4.1.6 A insegurança

Por serem responsáveis pelo sucesso ou fracasso de seus empreendimentos, as

entrevistadas apontaram a insegurança como uma das principais desvantagens em se ter

o seu próprio negócio. Apesar de se encontrarem bastante envolvidas e satisfeitas com a

atividade empreendedora, a insegurança de não ter um salário fixo e outros beneficios

Page 80: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

72

proporcionados por grandes organizações é um fator que incomoda as mulheres

pesquisadas.

" ... tem esse negócio da insegurança, é uma vida de altos e baixos. Você depende de

venda. Se vender bem, ótimo, foi um mês bom. Se não vender bem, não é um mês

bom e cu tenho que adequar a minha vida a isso" (E 4 -loja de roupas femininas)

"Por exemplo, eu fiquei doente, tive meningite e fiquei 20 dias fora. Para tirar isso

na empresa, nenhum problema. Sinto muito, a empresa tinha que dar um jeito e

colocar alguém no meu lugar. No meu caso, quem foi sacrificada foi a minha sócia.

A gente acabou sacrificando o nosso negócio, porque eu não estava aqui. Eu tenho

essa insegurança". (E 12 - clínica de odontopediatria)

A insegurança provocada pela dependência do retorno financeiro do seu próprio

empreendimento, assim como as prioridades na vida de uma mulher empreendedora,

parecem ser uma função do quanto a mesma depende dos lucros advindos do negócio

para Viver.

As entrevistadas que não possuem apoIo financeiro do cônjuge nem dos paiS

demonstram colocar a carreira em primeiro lugar em suas vidas. Conforme depoimento

de uma entrevistada divorciada:

''Nesse momento, é dificil para mim administrar essas três coisas: o namorado, as

crianças e o trabalho. A prioridade é o trabalho, depois as crianças, e depois o

namorado, e depois não sobra mais." (E 4 -loja de roupas femininas)

Ao contrário, quando existe o apoio financeiro do cônjuge ou dos pais, os filhos tendem

a ocupar o primeiro lugar na lista de prioridades das mulheres empreendedoras. Nas

palavras de uma pesquisada:

Page 81: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

73

"Para mim, para o resto da minha vida, a prioridade são os meus filhos. A gente faz

uma listinha de prioridades, até porque é muito fácil a gente dizer isso, quando é um

outro que está provendo, quando tem alguém que está por trás para pagar as contas.

São problemas diferentes. Eles se sentem muito cobrados. A gente tem a opção de

dar prioridades." (E 6 - buffet)

4.2 Vida Familiar

4.2.1 O apoio do cônjuge

Em relação ao cônjuge ou companheiro, é destacada a sua importância como fonte de

apoio para as mulheres empreendedoras. O apoio do cônjuge é principalmente

emocional, apesar de algumas entrevistadas terem obtido apoio financeiro do cônjuge

no início do empreendimento.

"Meu marido é um companheirão, eu não teria conseguido chegar aonde cheguei

sem ele. Ele nunca saiu de casa para tomar um chope, ele sempre me espera quando

a festa é longe. Na Casa Cor ele sempre me dá força, ele me substihri á noite.

Quando eu tive esse baque do colesterol, ele ia aos eventos para mim". (E 7 - buffet)

"Primeiro, o marido tem que ser muito legal e tem que apostar junto, curtir. Se fosse

um marido assim, jogando contra, seria muito difícil. Ele dá apoio, a orientação

gastronômica foi idéia dele. Ele fíca muito orgulhoso quando sai alguma coisa no

jornal". (E 6 - buffet)

Quanto à aquisição de recursos para iniciar um negócio, as mulheres parecem enfrentar

mais barreiras para obter dinheiro, seja pelo sistema bancário ou por outras fontes.

Como Hisrich e Brush apud Carter, Anderson e Shaw (200 I) indicam, a obtenção de

empréstimos é mais dificil para as mulheres do que para os homens. Dentre as mulheres

Page 82: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

74

pesquisadas, nenhuma recorreu ao sistema bancário para a obtenção de capital inicial.

No entanto, uma das entrevistadas afirmou ter tido ajuda financeira do marido no início

do empreendimento. Em suas palavras:

"Meu marido dá a maior força. Nesse começo aqui ele deu a maior força, até porque

foi ele quem me bancou. Eu sempre tive o meu dinheiro, e no começo aqui eu tive

que ter uma ajuda dc custo, senão você não tcm nem dinheiro para colocar gasolina

no carro". ( E 9 - loja de tecidos para decoração)

Quanto ao relacionamento com o cônjuge, foi observado que existe uma cobrança por

parte deste em relação às tarefas domésticas, que ainda são, na sua maior parte,

realizadas pelas mulheres. Corroborando a afirmação de Grossman e Chester (I 990), as

mulheres que estão empregadas continuam a fazer a maior parte do trabalho da casa,

independentemente do seu status, de suas horas de trabalho ou remuneração:

"Por exemplo, tenho que manter a água de coco do meu marido na geladeira, essas

besteiras. Homem é muito cricri, super cricri. Eles estão acostumados a ser

cuidados." (E 6 - buffet)

"O meu marido gosta da mulher que tcm o seu negócio, mas tem as cobranças. Se

ele chega antes de mim, já liga me procurando, aquela coisa de a mulher ter que

chegar antes do homem". ( E 5 - loja de roupas femininas)

o movimento feminista parece ter sido maIs eficiente na luta por igualdade de

oportunidades profissionais do que na luta por igualdade doméstica. Os homens ainda

cuidam muito pouco do lar. Quem faz a lista de compras, quem conversa com a babá

quando chega em casa para saber como foi o dia das crianças, quem arruma o quarto do

filho ainda é a mulher. Dividir as tarefas domésticas com o companheiro parece ser o

Page 83: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

75

sonho de toda mulher que trabalha fora - mesmo das que têm um batalhão de

empregados para cuidar das refeições do dia-a-dia, fazer as compras do mês, dar banho

e levar as crianças ao colégio. (MIRANDA E PETRAGLIA, 2002)

A divisão de tarefas do lar pode ser considerada um nó ainda não desatado. "A mulher

resiste em aceitar que o domínio doméstico, área onde sempre reinou, seja algo

compartilhado. Isso deixa o homem numa situação confortável. Se ninguém pede, ele

vai tomar a iniciativa por quê?", diz a antropóloga Mirian Goldenberg, antropóloga da

UFRJ. A mulher não fala, mas se ressente. Quer que o homem seja mais participativo,

mas espera que ele assuma o novo papel sem que seja necessário convocá-lo, já que o

pedido poderia soar como uma confissão de fracasso, uma admissão de que ela não dá

conta de levar a vida que as mulheres de gerações anteriores tanto lutaram para

conseguir viver. (MIRANDA E PETRAGLlA, 2002)

Portanto, o homem parece entrar nas tarefas domésticas como um suporte, uma

"mãozinha a mais". Em reportagem recente (Miranda e Petraglia, 2002), uma das mais

conceituadas dermatologistas cariocas, Paula Bel1otti, de 33 anos, relata viver um

casamento feliz. Não hesita em dizer que, se não fosse o apoio do marido, não teria

conseguido chegar onde chegou na carreira. No entanto, ao falar sobre o cotidiano, não

menciona uma vez sequer o nome do companheiro.

A divisão de trabalho no lar parece ocorrer de maneira mais natural entre os casais mais

jovens do que entre pessoas que estão juntas há muitos anos. Segundo a socióloga e

psicóloga Rosiska de Oliveira, casos em que o cônjuge ou companheiro ajuda nas

tarefas domésticas são cada vez mais freqüentes entre pessoas que estão juntas há pouco

Page 84: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

76

tempo. Isso porque as mulheres adultas de hoje sabem desde meninas que não querem

cuidar sozinhas da casa. (BRISSAC, 1997)

Apesar das cobranças, parece existir uma admiração por parte do cônjuge pela mulher

que trabalha e se ocupa com uma atividade. Segundo depoimento de uma entrevistada:

"Quando eu tenho algum problema no trabalho, chego em casa mais agitada. Mas aí

é que cu acho que o homem admira a mulher empreendedora, ele olha para você

com admiração, sempre com aquela admiração." (E 5 -loja de roupas femininas)

Diferentemente do que ocorre nos casos em que a mulher é empreendedora, quando a

mulher trabalha em uma grande empresa e aspira alcançar cargos elevados, o apoio do

cônjuge parece ter que ser ainda maior. Isso porque se torna mais fácil para a mulher

subir na carreira se há uma sólida retaguarda. Em alguns casos, o cônjuge deixa o

emprego para cuidar do casal e dos filhos. Entre as cinco executivas mais influentes dos

Estados Unidos, listadas pela revista For/une, quatro têm maridos que não trabalham

fora. (COHEN, 2001)

Um exemplo é o marido de Carly Fiorina, executiva-chefe da Hewlett-Packard, que se

aposentou da AI &I há alguns anos e lhe serve de assistente e companheiro de viagem.

Debby Hopkins, diretora financeira da 'Lucent, tem no marido, David, a sua "arma

secreta". Aposentado da General Motors, David edita os discursos e cuida do guarda­

roupa da esposa. No Brasil, temos o exemplo de Melanie Healey, gerente-geral para a

America Latina da Procter & Gamble, que tem o firme propósito de se tornar executiva­

chefe de uma grande empresa. Quando sua ascensão profissional determinou a segunda

transferência para o exterior, o marido largou o emprego para cuidar dos filhos.

(COHEN,2001)

Page 85: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

77

Entre as mulheres empreendedoras entrevistadas, não foi encontrado nenhum caso em

que o cônjuge tenha deixado seu emprego para cuidar do casal ou dos filhos.

Vale ressaltar também as diferenças entre o apoio do cônjuge nas relações entre homens

e mulheres que possuem alto nível de renda e na classe operária. Sulerot apudTonelli e

Betiol (1991) aponta que há maior hostilidade nas relações entre mulheres e homens da

classe operária, porque os homens já são tão explorados fora de casa que não querem

perder o único lugar em que são os primeiros. Além disso, a idéia de trabalhar fora vem

acompanhada do temor de que haverá maior liberdade sexual, ficando as mulheres

exageradamente independentes. Nas classes mais altas, tal hostilidade parece não

ocorrer tão freqüentemente.

4.2.2 Diferenças culturais entre o cônjuge brasileiro e o estrangeiro

Um aspecto interessante que surgiu durante as entrevistas foi a comparação feita pelas

entrevistadas entre o homem brasileiro e o estrangeiro, mais especificamente entre o

cônjuge brasileiro e aquele europeu ou americano. Na opinião de várias das

entrevistadas, o homem brasileiro não foi educado para auxiliar nas tarefas domésticas,

diferentemente do homem europeu e do americano, que parecem ter uma mator

disposição para ajudar nas tarefas de casa. Nas palavras das entrevistadas:

"É claro que, em relação às coisas de casa, os homens brasileiros são muito mais

'mal educados' do que os europeus, por exemplo. Meu marido, como qualquer

brasileiro, não foi educado para ajudar nas coisas de casa. Na França, na Europa em

geral, é muito mais comum ver os homens fazerem o jantar, cuidarem dos filhos,

etc" ( E 1 - restaurante / buffet)

Page 86: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

78

"O homem pode cozinhar muito, mas a mulher quer estar lá. É ela quem vai estar

preocupada com os filhos, em como a casa está administrada, é ela que é cobrada por

isso. O Brasil é muito chauvinista. Eu não vejo isso na França, na Alemanha, nos

Estados Unidos. Lá não tem empregada mesmo e, se o homem não dividir o trabalho

de casa, não tem como. A gente ainda tem aqui a bendita passadeira."

(E I O - assessoria de imprensa)

"Eu ligo para o pai dos meus filhos e ele é incapaz de levar ao pediatra. De repente

os homens americanos e europeus têm um pouquinho mais disso, de entender que

têm que ajudar também. Tem que ter mais matéria para eles lerem, mais estatística,

para mostrar que eles podem ser diferentes, que eles têm que dividir com as

mulheres." (E 4 - loja de roupas femininas)

4.2.3 Pais e parentes idosos

Quanto aos pais e parentes idosos, os depoimentos não corroboram a teoria exposta no

referencial teórico, sendo os pais ou parentes idosos uma fonte de apoio, muito mais do

que uma preocupação para as entrevistadas.

"Eu tive esse apoio, até hoje eu tenho Eu poderia trabalhar, viajar, porque cu tenho

uma família super legal que me ajudaria em todos os níveis, emocional e .financeiro".

(E 3 - restaurante)

"Pelo contrário, meus pais também ajudam. Saem para passear com eles, buscam no

colégio, etc" (E 7 - buffet)

"Hoje em dia minha mãe ajuda. Tenho também muita ajuda dos outros avós."

(E l- restaurante I buffet)

Page 87: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

79

O fato de os pais e parentes idosos serem uma fonte de apoio para as mulheres

empreendedoras brasileiras entrevistadas, ao contrário do que acontece com as

americanas, provavelmente se deve a diferenças demográficas e culturais entre as

sociedades brasileira e americana. Nos Estados Unidos, os idosos dependem em vários

graus de seus filhos adultos, principalmente das filhas mulheres (FERBER, O'FARREL

E ALLEN, 1999). Cerca de um terço das pessoas que trabalham e tomam conta de seus

pais ou parentes idosos consideram que precisam tirar um tempo no trabalho para lhes

dar assistência (SHELLENBERGER, J 999)

No Brasil, ao contrário, os pais e parentes idosos contribuem com a renda familiar e,

devido a características culturais, tendem a ajudar mais do que os norte-americanos nas

tarefas domésticas. Pesquisa recente realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea) demonstra que, das 47 milhões de famílias brasileiras, em 12 milhões

são os idosos que mantêm a casa com a renda da aposentadoria (GRECCO, 2002)

Pode-se dizer que, em geral, o idoso hoje no Brasil está em melhores condições de vida

do que a população mais jovem: ganha mais, uma parcela maior tem casa própria e

contribui significativamente na renda familiar. Em estudo realizado pelo Ipea,

observaram-se melhorias significativas no nível de renda da população idosa nos

últimos anos. (CAMARANO et aI., J 999)

Foi observado também um aumento da longevidade, como tem ocorrido na maior parte

do mundo. Tal aumento da longevidade está alterando a sociedade brasileira, através de

um crescimento mais elevado do segmento populacional em idades mais avançadas,

geralmente definido como contingente idoso, que está passando a viver mais. No Brasil,

aos 65 anos, um indivíduo do sexo masculino pode esperar viver mais 13 anos e as

Page 88: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

80

mulheres, mais 17 anos. O aumento da longevidade, conjugado com o momento

recessivo pelo qual passa a economia brasileira, com efeitos expressivos sobre o jovem,

têm levado o idoso a assumir papéis não esperados nem pela literatura, nem pelas

políticas públicas. (CAMARANO el aI., 1999)

Assim, além de ser explicado pelas diterenças culturais em relação aos norte­

americanos, o apoio dos pais e parentes idosos relatado pelas entrevistadas também

poderia ser explicado pela idade e aumento da longevidade dos mesmos. É possível que

os pais e parentes idosos das pesquisadas ainda não estejam na idade em que começam a

apresentar problemas de saúde mais sérios, já que nove das doze respondentes se

encontra na faixa etária abaixo dos quarenta anos.

Outro fator explicativo do apoio dado pelos idosos poderia ser a conjuntura econômica

do país nos últimos anos. Pode-se dizer que os idosos brasileiros, de forma geral,

passaram a maior parte de sua vida produtiva num periodo mais propício da economia

brasileira, o que os permite ser uma fonte de apoio para os filhos.

4.2.4 A importância de estar com os filhos

A idéia de que os cuidados da mãe são melhores para os filhos nos seus primeiros anos

de vida do que os cuidados de qualquer outra pessoa parece estar presente nas mulheres

pesquisadas. Muitas consideram o período de amamentação extremamante importante, e

se esforçam para não deixar que a carreira prejudique essa fase, utilizando-se de vários

meios para conciliar o trabalho com a amamentação dos filhos pequenos.

"Agora que eu acabei de ter filho, eu estou tirando a manhã para ficar com ele. Eu

estou amamentando. Antes era muito engraçado, eu tirava o leite, mandava pelo

Page 89: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

8l

motorista, ele pegava o leite para levar para o meu filho .. Eu não podia amamentar

toda hora ... " (E 6 - buffct)

"Meu filho estava com quatro meses e eu tive que viajar a trabalho. Eu tive que tirar

leite lá e mandar, para não desestimular. Quando eu voltei, eu consegui retornar a

amamentação. Mas eu corri o risco de não conseguir retomar. Tudo isso mexe com a

criança." (E 5 -loja de roupas femininas)

A maioria das pesquisas não encontrou evidências de que a carreira da mãe é prejudicial

às crianças com idade acima de um ano. Para crianças muito pequenas, há evidências

nos dois sentidos; alguns estudos encontraram efeitos negativos para as crianças quando

a mãe trabalha em tempo integral durante o primeiro ano de vida, enquanto outros

estudos não encontraram efeitos da carreira da mãe sobre as crianças. (BLAU E

EHRENBERG, 1997)

Mesmo após os primeiros anos de vida, as entrevistadas que têm filhos demonstram ter

uma preocupação em estar com eles, comparecer às reuniões de pais na escola e às

festinhas. Além disso, consideram importante o acompanhamento escolar. Segundo

depoimento das mesmas:

"Eu sempre procurei ir ás reuniões da escola, a não ser que eu tivesse uma viagem.

Não vou dizer que eu saiba tudo. Mas eles sempre me viram na escola."

(E 5 - loja de roupas femininas)

"Eu hoje fui convidada para assistir a uma aula do pequeno. Fui lá, assisti á aula com

ele. Às vezes tem apresentação de capoeira do outro. Eu procuro estar em todos

esses eventos." (E 6 - buffet)

Page 90: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

82

"Eles às vezes me passam e-mails, mas eu não quero ser uma mãe virtual. Eu

estabeleci que eu almoçaria com cada um dos meus filhos, separadamente, toda

semana. O mais velho vem mais ao escritório, então eu almoço com ele por aqui. O

mais novo, eu marco de almoçar com cle num restaurante, para ter mais contato com

ele." (E 10 - assessoria de imprensa)

4.2.5 O sentimento de culpa

As mulheres empreendedoras brasileiras demonstram um sentimento de culpa por não

estarem com sua família, principalmente com os .filhos, na maior parte do tempo.

Assim, tentam obter qualidade no tempo em que estão com a sua família. Conforme

relatos das pesquisadas:

"Eu sinto um pouco de culpa. Por isso tento nos finais de semana e sempre que eu

posso durante a semana aproveitar ao máximo quando estou com eles. É o que

chamam de "quality time", o seu tempo com os filhos tem que ter qualidade. Tento

aproveitar e ter qualidade nos momentos em que estou com os meus filhos."

(E 6 - buffct)

"Eu estava com sensação de culpa, toda mulher que trabalha e tem filhos tem essa

sensação. Eu devo ter passado esse desespero da culpa, de não estar acompanhando

tudo, os detalhes, quantas coisas você perde, a quantas festinhas você não pode ir

para acompanhar os filhos". ( E 8 - confecção de roupas infantis)

Tal sentimento de culpa observado nas entrevistadas pode ser encontrado em estudos

anteriores, como o de O'Hare (I997), em que as mulheres casadas reportam sentimentos

de culpa quando querem tempo para si, sentindo-se egoístas porque "não deveriam"

deixar as crianças e o marido.

Page 91: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

83

4.2.6 Estrutura de apoio

Devido ao alto envolvimento das mulheres empreendedoras com o trabalho, muitas das

pesquisadas demonstraram precisar de uma estrutura de apoio no dia-a-dia. Tal estrutura

consiste em babá para os filhos, empregada doméstica e algumas vezes motorista. As

demandas maiores do domínio da família parecem vir dos filhos pequenos.

Segundo Shellenberger (1999), as atividades extra-curriculares dos filhos "requerem os

serviços de uma animadora de torcidas, chauffeur e dama de companhia (para não

mencionar banqueiro para cobrir essas contas extra-curriculares sempre crescendo)". A

estrutura de apoio foi apontada como sendo de grande importância. Os relatos abaixo

sintetizam a idéia:

"Babá é fundamental. Eu tenho uma babá para os dois, ela é muito mais cara, mas

ela tem uma capacidade de liderança enorme. Hoje cu dei dinheiro e ela foi para a

feira com as crianças. A minha pequcninha tinha que ir para o balé, eu deixei ela no

balé, c ela foi com o meu filho, Ela vai à feira, arruma tudo e cu também tenho urna

empregada," ( E 7 - buffet)

"Tenho uma enfermeira para a pequena, uma babá para os meninos, e tenho também

uma cozinheira, Graças a Deus, senão eu não sei como seria". ( E 6 - buffet)

"Acho que o primeiro filho sempre é mais dificil. Agora eu tiro de letra, Na época eu

nem tinha empregada, Agora já tenho babá. Agora eu já estou escolada, tenho toda

uma infra", ( E 5 -loja de roupas femininas)

Assim como as donas de empresas, as mulheres que trabalham em grandes organizações

também parecem montar uma estrutura de apoio para melhor conciliar a vida

profissional com as tarefas domésticas. Um exemplo é dado pela ex-presidente da CSN,

Page 92: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

84

Maria Sílvia Bastos Marques, que afinnou não ter remorsos por trabalhar fora. A

solução, disse a executiva, é montar uma estrutura que substitua os cuidados da mãe:

babá, empregada, faxineira. (COHEN, 2001)

Esse parece ser um ponto paradoxal do avanço das mulheres no mundo corporativo

brasileiro. Na imensa maioria dos casos, o avanço se dá pela terceirização do trabalho

tipicamente feminino de cuidar da casa - com a contratação de outras mulheres.

Segundo a socióloga Cristina Bruschini, da Fundação Carlos Chagas, o aumento

absoluto de empregadas domésticas foi de quase 200% entre 1970 e 1997, de 1,7 milhão

para 4,9 milhões de trabalhadoras. A existência dessas trabalhadoras facilita a ascensão

profissional da mulher de classe alta, na maioria das vezes sem alterar a posição

dominante do marido. (COHEN, 2001)

Assim, podemos dizer que a presença de inrra-estrutura doméstica funciona como um

suporte para que a mulher possa exercer, com custos pessoais menores, atividades no

dominio público, tanto nas organizações quanto em seus próprios empreendimentos.

4.3 Vida Pessoal

4.3.1 Estresse

o estresse se refere ao estado de resposta psicológica aos efeitos dos distúrbios

causados pelos fatores estressantes na vida de uma pessoa. Como estas profissionais

trabalham muitas horas por dia, e seu envolvimento com o trabalho é grande, o estresse

é apontado como uma das principais desvantagens em se ter um empreendimento

próprio.

Page 93: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

85

"Ano passado eu tive uma crise de estresse, de tanto cansaço, Meu colesterol foi a

240, estorou urna veia na minha perna, Realmente é muita responsabilidade, eu não

consigo deixar meu trabalho"- ( E 7 - buffet)

As mulheres brasileiras parecem ser adicionalmente confrontadas com fatores

específicos, tais como as dificuldades em se ter um negócio no Brasil. Além disso,

tomar conta das crianças e ser responsável pela maioria das tarefas domésticas, além de

possuir a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do negócio constituem fontes de

estresse para as mulheres que possuem um empreendimento,

As entrevistadas lidam com os problemas relacionados ao estresse praticando atividades

que encaixam no seu dia-a-dia, como ginástica, ioga c outras. Foi apontada como uma

das vantagens em serem donas do próprio negócio a flexibilidade de horário para essas

atividades, Alguns depoimentos das pesquisadas corroboram essa afirmação:

"Hoje, fim de semana, estou trabalhando, já fui na loja do Leblon encontrar com a

minha filha, fiz um spinning, vou encaixando, fui andando, tomei uma água de coco,

Eu vou encaixando no dia-a-dia as coisas que me dão prazer. Se eu tenho que vir do

Leblon para Ipanema, eu certamente vou vir pela praia, Nem que seja só para olhar",

(E ) - restaurante I buffct)

4.3.2 Cuidados pessoais

Um aspecto curioso que pôde ser depreendido das entrevistas é o fato de que as

mulheres empreendedoras, principalmente as que possuem filhos, não dispõem de um

tempo satisfatório para os cuidados pessoais, Entenda-se por cuidados pessoais os

cuidados com elas próprias, como consultas médicas, cuidados com a pele, cabelos e

unhas, Nas palavras das entrevistadas:

Page 94: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

86

"Eu faço muito pouca ginástica, deveria fazer mais. Eu sinto falta de me cuidar mais.

A mulher que trabalha muito não tem tempo de sc cuidar mesmo."

(E 5 - loja de roupas femininas)

"Eu sou um péssimo exemplo para as mulheres. O máximo que eu estou fazendo é o

meu cabelo. Eu mantenho o mcu corte, faço uma escova e faço unha, mas eu não

tenho uma rotina para isso. Eu estou em débito com a questão física, estou muito

sedentária, não estou conseguindo romper um ciclo. Eu acho que a mulher tem que ir

sempre a uma dermatologista, por exemplo. Eu estou fazendo mal e porcamente o

meu check-up. Acaba que você vai se acomodando." (E I O - assessoria de imprensa)

Podemos notar, portanto, que a flexibilidade de horário proporcionada pelo fato de ter

seu próprio negócio não parece contribuir muito para o aumento dos cuidados pessoais

das mulheres empreendedoras.

4.3.3 Lazer

o lazer é visto pelas pesquisadas como sendo importante fonte de relaxamento. No

entanto, foi freqüentemente associado a "tempo para ficar sozinho", mais do que a

"tempo livre". Algumas pesquisadas relataram que, para elas, lazer significa passar mais

tempo com os filhos e o marido, enquanto outras demonstraram desejo de ter mais

tempo sozinhas nos momentos de lazer.

"Meu lazer é fazer minhas aulinhas, ficar com minha filha. Vou para Búzios quando

posso." ( E 9 - loja de tecidos para decoração)

"Gostaria de ter mais tempo para mim, para ficar quieta, em silêncio, porque é uma

demanda muito grande. São 80 pessoas falando comigo, 60 funcionários, e todos os

telefones tocando. Quando chego em casa, tem sempre alguém perguntando, a conta

Page 95: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

87

de luz, o que eu faço para o jantar, minha filha pedindo para ler história, meu

marido .. " (E I - restaurante f buffet)

"É por isso que cu faço ioga e spinning, porque é a hora em que ninguém fala

comigo, eu estou quieta. As atividades de que eu goslo, velejar, por exemplo, é

porque sou eu com a minha prancha. En sinto mais falta disso, silêncio."

(E 7 - buffet)

Pode-se observar, também, que entre as mulheres empreendedoras é comum existirem

compromissos ligados a status ou a necessidades de relacionamento, que muitas vezes

são confundidos com lazer, como encontros informais com clientes. Tal aspecto é

particularmente comum em atividades empreendedoras no setor de serviços.

"Eu tenho meu finais de semana mas, mesmo assim, minha amiga diz que para sair

comigo ela tem que inventar algum trabalho. Eu ando muilo cansada, e o tempo de

lazer nunca é suficiente. Aí tem aquela coisa do estresse diário. Eu até almoço com

cliente no final de semana ... " ( E 10 - assessoria de imprensa)

Segundo Bernhoeft (I985), isto não pode ser considerado lazer, pois assume um caráter

de obrigatoriedade que pode se transformar até em um ritual. De fato, as entrevistadas

demonstraram estar constantemente ligadas de alguma maneira ao trabalho.

4.4 Estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal

Foram encontrados nos relatos das pesquisadas os estilos de equilíbrio propostos por

Sumer e Knight (200 I) para explicar a relação entre os domínios do trabalho e da

família: extravasamento (.\pillover), compensação e segmentação. Algumas

Page 96: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

88

entrevistadas demonstraram estar utilizando o extravasamento (spillover), como no

depoimento a seguir:

"Isso acontece. É inerente ao ser humano, tem que ter um limite. Eu vejo isso com as

minhas funcionárias, algumas têm mms facilidade e outras têm rnrus dificuldade para

separar. Elas trazem os problemas de casa para o trabalho e isso atrapalha enquanto

outras não. É impossível você não trazer, mas a gente tenta. Tem dias que aparece

um fiscal que fica o dia inteiro e dá tudo errado, me aborrece, aí é dificil você chegar

em casa feliz. Principalmente em casa". ( E 2 - restaurante)

Pode-se observar no depoimento acima o extravasamento (ópillover) negativo, em que

problemas na vida profissional tomam mais dificil e problemática a vida familiar.

Outras entrevistadas demonstraram responder ás condições insatisfatórias de um dos

domínios envolvendo-se mais no outro. Tal atitude caracteriza o modelo de

compensação. Um exemplo é dado por uma das entrevistadas, que durante certo periodo

de sua vida envolveu-se integralmente com o trabalho, em detrimento da vida pessoal:

"Então eu acho que, até os 30, eu tive a vida muito equilibrada, muito saudável.

Fazia esporte, tinha trabalho, amigos, vida pessoal. Depois dos 30, eu pensei: 'O

tempo está passando e a minha carreira está indo muito devagar'. Observando as

pessoas que eu admirava profissionalmente, eu vi que o ritmo tinha que ser esse. Eu

joguei tudo na carreira profissional. Tive um problema no joelho, e parei de fazer

esporte. Joguei 100% na carreira, na vida profissional. Eu me fechei totalmente

afetivamente nessa época" (E II - produtora de cinema)

Page 97: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

89

O relato acima parece corroborar a teoria de Sumer e Knight (2001), segundo a qual as

experiências com os três processos podem ser diferentes entre individuos, assim como

ao longo do tempo para um mesmo indivíduo.

Em outras pesquisadas, foi encontrado o estilo de equilíbrio segmentação para lidar com

os dois domínios.

"Eu saio daqui c desligo. Enquanto eu estou andando do Lcblon para Ipanema, eu

desligo. Eu criei uma capacidade de desligamento. Se cu saio do Leblon, cu não fico

carregando problema, o garçom chegou atrasado, etc. Eu desligo. Eu vou olhar o

mar. Chego aqui eu ligo". (E I - restaurante I buffet)

As pesquisadas demonstram estar sujeitas a extravasamento (spillover), compensação e

segmentação em diferentes situações, e por vezes simultaneamente. Tal fato corrobora a

teoria, segundo a qual experiências com os três processos não são mutuamente

exclusivas. (SUMER e KNlGHT, 2001) Em alguns relatos, podem ser identificados

mais de um estilo de equilíbrio, como no relato a seguir da mesma entrevistada:

"Como a gente é a dona do negócio, leva para casa os aborrecimentos, não tem

jeito ... eu procuro tentar relaxar, eu procuro dividir. Quando eu estou com meus

amigos, é lazer; trabalho é trabalho, senão vira uma bola dc neve".

(E 2 - restaurante)

Observa-se, no relato anterior, que há sobreposição dos estilos de equilíbrio

extravasamento e segmentação.

Além dos três estilos de equilíbrio, notou-se que uma estratégia adotada pelas

entrevistadas para melhor equilibrar vida pessoal e vida profissional é a de simplificar o

Page 98: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

90

cotidiano. Pesquisa recente feita por pesquisadoras com mulheres bem-sucedidas

profissionalmente demonstrou que as mulheres urbanas de classe média querem uma

vida mais simples. (MIRANDA E PETRAGLIA, 2002)

Tendo conquistado a sua fatia do mercado de trabalho, as mulheres trabalham tanto

quanto os maridos e ainda precisam levar o filho na escola do outro lado da cidade,

buscar a filha no balé e comprar as roupas da família no shopping center. Estão

cansadas e gostariam de encurtar as distâncias fisicas percorridas diariamente. Assim,

morar no mesmo bairro em que trabalham, onde fica o colégio do filho, a academia de

ginástica e bem ao lado da vendinha (a ida ao supermercado para grandes compras

mensais é encarada como tormento) virou desejo de quase todas as mulheres.

(MIRANDA E PETRAGLIA., 2002)

A empresária Cristiana Beltrão, que Vive no Rio de Janeiro, é um exemplo de

profissional que conseguiu encurtar as distâncias fisicas que percorre diariamente. Seu

vaivém diário resume-se aos limites entre a Lagoa e Ipanema. Por ali fica seu

apartamento, a escola do filho e o restaurante que abriu há dois anos, na Lagoa.

Cristiana também transferiu a sede da empresa de de sua família, uma holding ligada ao

mercado financeiro, para Ipanema. "Minha vida ficou mais fácil", diz. (MIRANDA E

PETRAGLIA, 2002)

Foram encontrados depoimentos dados pelas entrevistadas do presente estudo que

demonstram estratégias para simplificar o cotidiano:

"Vou trabalhar de tarde, e no final do dia muitas vezes meus filhos vêm para cá, e

daqui a gente vai junto para casa. Outras vezes eles vão para casa, até porque eu

Page 99: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

91

moro do lado. Eu consegui isso, então vou a pé para casa. Não preciso maIS

enfrentar duas horas para ir e voltar para casa. Antes, cu perdia tempo com as

crianças, em qualidade de vida, no trânsito." (E 4 -loja de roupas femininas)

Page 100: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

92

5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

As percepções das mulheres entrevistadas trazem importantes reflexões para as questões

relativas ao equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional.

Os relatos apontam para uma escolha pela atividade empreendedora devido ao fato de

que esta permite uma maior flexibilidade e um maior grau de autonomia do que outras

formas de trabalho, principalmente o trabalho em grandes organizações. Não há

indicação nos depoimentos de que as mulheres se tomam empreendedoras por não

terem outra opção. Retirando-se os casos em que o empreendimento começou sem um

planejamento anterior, ter seu próprio negócio demonstrou ser uma estratégia de

trabalho flexível adotada por mulheres para melhor conciliar as demandas da família e

do emprego remunerado.

A flexibilidade de horário proporcionada pelo fato de ter seu próprio negócio parece

diminuir o conflito entre trabalho e família, permitindo a mulheres donas de seus

próprios negócios administrar os conflitos entre trabalho e família mais eficazmente.

As mulheres entrevistadas demonstram ser bastante envolvidas psicologicamente com o

trabalho, o que poderia contribuir para aumentar o conflito entre trabalho e família. No

entanto, pode-se dizer que, apesar do grande envolvimento psicológico com o trabalho e

da responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do negócio, a flexibilidade de horário e a

autonomia proporcionadas pelo fato de possuir seu próprio empreendimento parecem

compensar, fazendo com que as mulheres empreendedoras se encontrem satisfeitas com

sua profissão.

Page 101: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

93

Tal constatação poderia ser explicada levando-se em conta o fato de que as mulheres

acabam por possuir mais responsabilidade pelos cuidados com os filhos e pelas tarefas

domésticas. Assim, sendo donas de seu próprio negócio, podem utilizar mais facilmente

estratégias de integração entre os domínios do trabalho e da família. Um exemplo disso

é o fato de que algumas entrevistadas levam os filhos para o local de trabalho. Além

disso, muitas entrevistadas relataram levar trabalho para casa freqüentemente.

Portanto, podemos dizer que as características de trabalho que o empreendedorismo

oferece, como horário flexível e autonomia, tendem a facilitar o equilíbrio entre os

domínios do trabalho e da família para mulheres, reduzindo a ocorrência de conflitos

entre os dois domínios.

Os resultados do presente estudo vão de encontro à afirmação de Parasuraman e

Simmers (200 I) de que os aspectos positivos proporcionados pelo empreendedorismo

podem ser menos sentidos pelas mulheres. Ao contrário, os beneficios da atividade

empreendedora para as mulheres parecem se concretizar e compensar pelo aumento do

envolvimento com o trabalho, característico de pessoas donas de seus negócios.

Outro ponto observado na análise das entrevistas é a importância do apoio, notadamente

o emocional, seja da sócia mulher, do cônjuge ou dos pais. Quanto à sócia mulher, sua

importância se dá pela maior compreensão dos problemas domésticos da outra sócia.

Em relação ao cônjuge, apesar de reclamarem da pouca ajuda nas tarefas domésticas por

parte destes, as mulheres pesquisadas consideram importante seu apoio emocional.

Corroborando a teoria, as depoentes parecem continuar a fazer a maior parte do trabalho

da casa, e tal fato se acentua ainda mais se levarmos em conta as diferenças culturais

entre os homens brasileiros e estrangeiros.

Page 102: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

94

Por sua vez, os pais e parentes idosos brasileiros, diferentemente do que acontece na

sociedade norte-americana, parecem servir como uma fonte de apoio para as mulheres

brasileiras donas de seus próprios negócios, muito mais do que representar um ônus.

Este fato provavelmente se deve a diferenças demográficas e culturais entre as

sociedades brasileira e americana, mas também pode ser explicado pela idade do pais e

parentes idosos das pesquisadas. Por estar a maioria das mulheres entrevistadas na faixa

etária entre 35 e 40 anos, é possível que os pais e parentes idosos das mesmas ainda não

estejam na idade em que começam a apresentar problemas mais sérios.

Outro fator explicativo do apoio dado pelos idosos poderia ser a conjuntura econômica

de recessão vivida pelo país nos últimos anos. Pode-se dizer que os idosos brasileiros,

de forma geral, passaram a maior parte de sua vida produtiva num período mais

propício da economia brasileira, o que os permite ser uma fonte de apoio para os filhos.

Apesar dos beneficios que o empreendedorismo oferece, principalmente em relação aos

cuidados com os filhos, proporcionando um melhor equilíbrio entre vida pessoal e vida

profissional, devido à melhor utilização de estratégias de integração entre os dois

domínios, foram identificadas algumas áreas passíveis de melhoria. A principal área em

que as entrevistadas demonstraram não estar satisfeitas é a que se refere aos cuidados

pessoais, entendendo-se por cuidados pessoais os cuidados das mulheres com elas

próprias, como consultas médicas, cuidados com a pele, cabelos e unhas .

Assim, pudemos notar que tais cuidados, na maioria das vezes, acabam por ficar em

segundo plano, notadamente para as mulheres que possuem filhos. Portanto, as

estratégias de integração entre os dois domínios, proporcionadas pelo

Page 103: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

95

empreendedorismo, tendem a ser mais utilizadas em beneficio dos filhos, e pouco

utilizadas para os cuidados pessoais das pesquisadas.

Outra área de melhoria diz respeito ao lazer. Parece haver pouca segmentação entre os

domínios do trabalho e da família para as mulheres entrevistadas, tomando-se dificil

para as mesmas obter um tempo de lazer, definido como uma atividade livre de

qualquer obrigação. Tomando a definição de lazer como "tempo para ficar sozinho", as

pesquisadas demonstram sentir falta desse lazer, pois tendem a se dedicar aos filhos e ao

cônjuge quando não estão trabalhando.

Quanto às prioridades, podemos concordar com Buttner e Moore (1997), concluindo

que o valor mais importante para as mulheres empreendedoras é a segurança da família.

Porém, o conceito de segurança da família apresenta diferenças em relação ao nível de

dependência das mesmas do retomo financeiro do empreendimento.

Quando há apOlO financeiro do cônjuge ou dos pais, e a mulher não depende

inteiramente dos lucros do negócio para manter sua casa, geralmente os filhos vêm em

primeiro lugar na lista de prioridades da mulher empreendedora.

Ao contrário, quando não há apoio financeiro de nenhuma espécie e a renda familiar

depende unicamente do retomo financeiro advindo do negócio, a mulher

empreendedora tende a colocar o trabalho em primeiro lugar nas suas prioridades.

Assim, concordamos com a teoria de Carr (1996), segundo a qual não podemos levar

em conta os padrões dos homens para compreendermos as questões do

empreendedorismo em mulheres. Concluimos que uma teoria de empreendedorismo que

Page 104: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

96

se aplique a mulheres precisa incorporar características familiares, incluindo estado

civil, presença de filhos e idade destes.

o objetivo deste trabalho foi entender as questões relativas ao equilíbrío entre vida

profissional e vida pessoal para mulheres empreendedoras brasileiras. Esta pesquisa

podería ser realizada com um grupo de mulheres empreendedoras em outros países,

procurando captar as características culturais que diferem o grupo de outras

nacionalidades,

Outra possibilidade de pesquisa é a que leva em conta atributos de personalidade, como

níveis de motivação individual. Apesar de termos detectado que as mulheres

empreendedoras entrevistadas demonstram ter níveis de motivação individual bastante

altos em relação a seus negócios, nosso modelo conceitual não abordou tal aspecto.

Seria interessante estudar como os atributos de personalidade influem sobre os diferntes

modos pelos quais as mulheres reagem às demandas de duplos papéis,

Outra contribuição poderia vir de uma pesquisa realizada com mulheres que trabalham

em grandes organizações, a fim de verificar se as áreas de melhoria identificadas neste

estudo, cuidados pessoais e lazer, constituem também áreas de melhoria para essas

mulheres.

Sugerimos ainda um estudo sobre o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal para

mulheres empreendedoras que leve em conta as diferenças entre os setores de atuação

dos negócios, Acreditamos que o grupo de mulheres que possuem empreendimentos no

setor de serviços tende a fazer menos segmentação entre os domínios do trabalho e da

família, o que poderia levar a um aumento do conflito entre trabalho e família.

Page 105: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

97

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBUD, L. A vida sem patrão. Veja, edição 1705, n. 24, p.l08-115,jun 2001.

ANDREW, E. Closing the iron cage: the scientific management of work and leisure.

London: Black Rose Books, 1999.

BERNHOEFT, R Como tornar-se empreendedor em qualquer idade. São Paulo:

Nobel, 1996.

_____ . Administração do tempo. São Paulo: Nobel, 1985.

BLAU, F.D.; EHRENBERG, RG. Gender and family issues in the workplace. New

York: Russell Sage Foundation, 1997.

BOWMAN, M. This labor day, workers have cause to celebrate. The WaU Street

Journal, 27 agosto 2001.

BRlSSAC, C. A guerra acabou. Istoé, edição 1453, agosto 1997.

BURT, RS. Creating Careers: Women's paths through entrepreueurship.

University of Chicago and Institute Européen d' Administration d' Affaires (INSEAD),

2000.

BUTTNER, E.H.; MOORE, D.P. Women's organizational exodus to entrepreneurship:

self-reported motivations and correI ates with success. Journal of SmaU Business

Management, v.35, p.34-46, 1997.

CAMARANO, A. el ai. Como vai o idoso brasileiro? Texto para discussão n. 681,

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 1999.

Page 106: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

98

CAPPELLl, P. The new deal at work Boston: Harvard Business School Press, 1999.

CAPRONI,P Work/life Balance: You can't get here from there. Journal of Applied

Hebavioral Science, v.33, n.l, p.46-56, 1997.

CARR, D. Two paths to self-employment? Women's and men's self-employment in the

United States, 1980. Work and Occupations, v23, n.l, p.26-53, 1996.

CARTER, S; ANDERSON, S.; SHAW, E. Women's business ownership: a review of

lhe academic, popular and internet literature. Report to the Small Husiness Service.

University of Strathc1yde, Glasgow, 2001.

COHEN, D. Até onde chegam as mulheres? Exame, edição 732, ano XXXV, n.2, p. 36-

50, jan 2001.

CROSBY, F.J. Divorce and work life among Women Managers. In: GROSSMAN,

H.Y.; CHESTER, N.L. Tbe Experience and meaning of Work in women's lives.

Hillsdale, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates Publishers, 1990. p. 121-142.

DRUCKER, PF. Inovação e espírito empreendedor (Entrepreneurship). São Paulo:

Pioneira, 1987.

FERBER, MA; O'FARRELL; B.; ALLEN, L.R. Work and Family: Policies for a

Changing Work Force. Washington, D .C.: National Academy of Sciences, 1991.

FONTES, A; URAN!, A. Gênero no mercado de trabalho do Rio de Janeiro. In Rio

de Janeiro: trabalho e sociedade. Instituto de estudos do trabalho e sociedade (lETS),

ano I, n. 2, p. 39-46, dez 2001.

Page 107: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

99

FOX, M.; HESSE-BIBER, S. Women at Work PaIo Alto, CA: Mayfield, 1984.

FRIEDMAN, S.D.; CRRlSTENSEN, P; DEGROOT, 1 Work and life: the end of the

zero-sum game. In: Harvard Business Review on work and life balance. Boston:

Harvard Business School, 2000. p. 1-29.

GRECCO, S. O vovô virou papai: brasileiros dependem cada vez mais do dinheiro do

avô. Veja, edição 1745, n. 13 , p.68, abril 2002.

GREEN, E.; COHEN, L. Women's business: are women entrepreneurs breaking new

ground or simply balancing the demands of women's work in a new way? Journal of

GenderStudies, v. 4, p. 297-314,1995.

GREEHAUS. J.H; BEUTELL, NJ. Sources of conflict between work and family roles.

Academy of Management Review, v.10, p.76-88, 1985.

GROSSMAN, H.Y.; CHESTER, N.L. The Experience and meaning of Work in

women's lives. Hillsdale, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates Publishers, 1990.

HALL, D. Promoting work/family balance: An organizational change approach.

Organizational Dynamics, p.5-17, 1990.

HISRlCH, RD.; BRUSH, C. Women and minority entrepreneurs: A comparative

analysis. In: HORNADA Y, J. et aI. Frontiers in Entrepreneurship Research.

Wellesley, MA: Babson College, 1985. p.566-587.

JAMAL, M. Job stress, satisfaction and mental health: an empirical exaamination of

self-employed and non-self-employed Canadians. Journal of Small Business

Management, v.35, p.48-57, 1997.

Page 108: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

100

KANTER, Rosabeth Moss. Quando os gigantes aprendem a dançar: dominando os

desafios de estratégias, gestão e carreiras nos anos 90. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

LILLY, T.A.; PITT-CATSOUPHES, M.; GOOGINS, B.K. Work-family research: an

annotated bibliography. Westport, Connecticut: The Center for Work & Family at

Boston College and The Wallace E. Carrol School ofManagement, 1997.

LONG, B.C; KAHN, S.E. Women, work and coping: a multidisciplinary approach to

workplace stress. Montreal: McGiIl-Queen's University Press, 1993.

LOSCOCCO, K.A. Work-family linkages among self-employed women and men.

Joumal of Vocational Behavior, v.50, p. 204-226, 1997.

MACHADO, H.PY; GIMENEZ, F.A.P. Comportamento Gerencial, Gênero e

Empreendedorismo. In: ENCONTRO ANUAL DA ANP AD, 25, 2001.

MELO, L. Mulheres no limite. Istoé, edição 1707, junho 2002.

MIRANDA, C; PETRAGLlA, M.Uma vida menos solitária. Revista Domingo do

Jornal do Brasil, n. 1355, ano 26, abril 2002.

NIPPERT-ENG, CE. Home and Work negotiating boundaries through every-day life.

Chicago: The University ofChicago Press, 1995.

O'HARE, M. Managing work-fami1y tensions: a counseling perspective. In:

PARASURAMAN, S.; GREENHAUS, lHo Integrating Work and Family: challenges

and choices for a changing world. Westport, Connecticut: Praeger Publishers, 1997. p.

57-68.

Page 109: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

101

OLIVElRA, RD. A reengenharia do tempo. In: Rio de Janeiro: trabalho e sociedade.

Instituto de estudos do trabalho e sociedade (IETS), ano I, n. 2, p. 25-29, dez 2001.

OLIVEIRA, RD. et ai. As novas faces do feminismo e os desafios para o século

XXI. Comitê Nacional Preparatório à Sessão Especial das Nações Unidas sobre Pequim

+5, 2002. Disponível em: http://www.mre.gov.brlbeijinglanexoport.htm. Acesso em: 05

agosto 2002.

PARASURAMAN, S.; GREENHAUS, J.H. Integrating Work and Family: challenges

and choices for a changing world. Westport, Connecticut: praeger Publishers, 1997.

PARA SURAMAN, S.; SlMMERS, CA Type of Employment, work-farníly conflict

and well-being: a comparative study. Journal of OrganizationaI Behavior, v.22, p.

551-568,2001.

REPETTI, RL.; MATTHEWS, KA.; WALDRON, 1. Employment and women's

health: effects of paid employment on women' s mental and physical health. American

Psychologist, v.44, p.1394-1401, 1989.

RODRIGUES, M.V. Qualidade de vida no trabalho: evolução e análise no nível

gerencial. Ceará: Universidade de Fortaleza, 1991.

SANTOS, U.W. Métodos qualitativos para pesquisa em Administração:

caracterização e relacionamento aos paradigmas para pesquisa. Dissertação (mestrado

em administração). Orientadora: Sylvia Constant Vergara. Rio de Janeiro: PUC-RJ,

1994.

Page 110: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

102

SHANE, S.; VENKATARAMAN, S The promisse of entrepreneurship as a field of

research. Academy ofManagement Review, v.25, p. 217-226, 2000.

SHELLENBARGER, S. Work & family: essays from the "Work & Family" column of

The Wall Street Joumal. New York: Ballantine Books, 1999.

STARCHER, D.e. Women entrepreneurs: catalysts for transformation. Paris:

European Baha'i Business Forum, 2001.

SUMER, H.e.; KNIGHT, P.A. How do people with different attachment styles balance

work and family? A personality perspective on work-family Iinkage. Journal of

Applied Psychology, v. 86, p.653-663, 2001.

TONELLI, MJ.; BETlOL, M.S. A mulher executiva e suas relações de trabalho.

Revista de Administração de Empresas - FGV-SP , v.31 (Out-Dez), n. 4, p.17-33,

1991.

VERGARA, S.C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo:

Atlas, 1997.

YIN, R.K. Case Study Research: design and methods. Second Edition. Newbury Park:

Sage, 1994.

WATERMAN, R.H.; WATERMAN, JA.; COLLARD, BA Toward a Career-Resilient

Workforce. Harvard Business Review, v.72, (July-August), pp. 87-95, 1994.

WELLNER, A.S. End ofleisure. American Demographics, jul 2000.

Page 111: Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se. Professora Adjunta Rio de … · FICHA CAT ALOGRÁFICA Quenlal, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência

103

ANEXO I

Guia para entrevistas

1) Como você iniciou o seu negócio? / Como tudo começou?

2) Você se tornou empreendedora por que razões? Já pensava nas vantagens e desvantagens?

3) Como você equilibra sua vida profissional com relação a:

Filhos

Pais ou parentes idosos

Cônjuge ou companheiro

Amigos

Lazer

Cuidados pessoais

4) Quais as vantagens que vê hoje em ser dona de seu próprio negócio?

5) Você se veria numa empresa? Voltaria a trabalhar numa empresa (se for o caso)?

6) Encontrou dificuldades para financiamento ( se for o caso)?

7) Quais são as suas fontes de apoio?

8) Quais são os principais entraves?

9) Alguma coisa que te incomoda em ter o seu próprio negócio?

10) Como você faz para equilibrar os dois lados, profissional e pessoal, no dia-a-dia?