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ACENOS HISTÓRICOS DA TEOLOGIA ATIVIDADE MODULAR Nº I ORIENTAÇÕES PARA RESENHA: Saudações senhores (as) alunos (as) do Curso de Proficiência Teológica, sou o Prof. Guilherme Alcântara de Oliveira, sou graduado em Ciências da Religião e Pós-graduado em Docência do Ensino Superior. Com satisfação trabalharemos juntos o presente módulo. ATIVIDADE MODULAR: 1º) Baixar e Salvar no PC o texto modular; 2º) Proceder a Leitura, a Releitura e a Reflexão do texto; 3º) Resenhar (refletir criticamente) o texto em no mínimo 40 linhas segundo as normas técnicas da ABNT; 4º) O tempo de duração do presente módulo será de 50 dias a contar da data de sua abertura; 5º Enviar a resenha para o email [email protected] aos cuidados do Prof. Guilherme Alcântara de Oliveira.

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ACENOS HISTÓRICOS DA TEOLOGIA

ATIVIDADE MODULAR Nº I ORIENTAÇÕES PARA RESENHA:

Saudações senhores (as) alunos (as) do Curso de Proficiência Teológica, sou o Prof. Guilherme Alcântara de

Oliveira, sou graduado em Ciências da Religião e Pós-graduado em Docência do Ensino Superior. Com satisfação

trabalharemos juntos o presente módulo.

ATIVIDADE MODULAR:

1º) Baixar e Salvar no PC o texto modular;

2º) Proceder a Leitura, a Releitura e a Reflexão do texto;

3º) Resenhar (refletir criticamente) o texto em no mínimo 40 linhas segundo as normas técnicas da ABNT;

4º) O tempo de duração do presente módulo será de 50 dias a contar da data de sua abertura;

5º Enviar a resenha para o email [email protected] aos cuidados do Prof. Guilherme Alcântara de Oliveira.

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

TERMINOLOGIA

A origem histórica do termo em questão nos remete à Hélade, também chamada de Grécia Antiga. Era utilizada inicialmente para descrever o

trabalho de muitos poetas, que tentavam dar uma noção de como eram os Deuses. Os teólogos eram os que faziam poesias sobre os deuses e sobre seus

feitos, suas virtudes, suas emoções, sua vida particular e também seus vícios e erros.

Entretanto, não era uma análise sobre os deuses e, sim, uma narração dos feitos deles que se pareciam com os feitos humanos e as virtudes dos

mesmos. Somente na Idade Medieval é que o termo deixará de lado o conceito poético e passou a ser considerado como assunto de inquirição existencial

e filosófica.

O termo "teologia" foi usado pela primeira vez por Platão, no diálogo "A República", para referir-se à compreensão da natureza divina de forma

racional, em oposição à compreensão literária própria da poesia, tal como era conduzida pelos seus conterrâneos. Mais tarde, Aristóteles empregou o

termo em numerosas ocasiões, com dois significados:

1º - Teologia como o ramo fundamental da filosofia, também chamada "filosofia primeira" ou "ciência dos primeiros princípios", mais tarde

chamada de metafísica por seus seguidores. 2º - Teologia como denominação do pensamento mitológico imediatamente anterior à filosofia, com uma

conotação pejorativa e, sobretudo, utilizada para referir-se aos pensadores antigos não filósofos (como Hesíodo e Ferécides de Siro).

O protótipo grego teologia (Teos - deus e Logos - ciência), passou sem mudanças ao latim – theologia - e a seguir às línguas modernas.

Os italianos dizem teologia, os espanhóis e portugueses escrevem da mesma forma, embora pronunciem de forma um pouco diferente, os franceses

fizeram apenas uma pequena mudança na palavra - théologie, da mesma forma que os ingleses e americanos - theology.

Os alemães, tanto católicos como protestantes, difundiram entre si a versão Theologie, embora ultimamente - em razão do extremo cuidado com a

purificação da língua de influências estrangeiras - seja cada vez freqüentemente utilizado o nome "ciência da fé" - Glaubenslehre.

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

Como definição literal, aceita-se geralmente a fórmula "ciência sobre Deus", embora mais estritamente a fusão vocabular grega devesse ser traduzida

por "palavra (fala) de deus", eventualmente "palavra (fala) sobre deus".

Os escritores cristãos não encontravam o nome "teologia" nem no Antigo nem no Novo Testamento. Alguns procuravam purificá-la do seu lastro

pagão e introduzi-lo em circulação na língua própria dos cristãos.

Clemente de Alexandria (+ c. 211/215) explicava a sabedoria da "teologia" de Homero, Hesíodo e outros sábios gregos utilizando-se da sabedoria dos

profetas e acreditava que eles queriam praticar o verdadeiro ensinamento a respeito de Deus.

Seguiu o mesmo caminho Orígenes (+254/255), que conhecia o significado grego do nome "teologia", mas não o rejeitava. Dizia que a verdadeira

teologia é a doutrina a respeito de Deus, especialmente a respeito de Cristo Salvador. "Praticar a teologia" significa também "confessar e cultuar a Deus e a

Cristo" (intepretação doxológica da teologia).

Eusébio de Cesaréia (+ c. 340) foi o primeiro escritor cristão na história a introduzir o nome "teologia" no título de uma das suas obras: Da teologia

eclesiástica (Peri tes eklesiastikes teologias).

S. Atanásio (+373) distinguia a teologia da economia. Entendia por teologia a ciência sobre o Deus único na Trindade de Pessoas, e por economia -

sobre o Verbo Encarnado e a obra da redenção. Essa distinção foi aceita pelos Padres gregos desde a segunda metade do século IV. O termo grego

oikonomia (de oikos - casa, conjunto residencial e oikomenei - administrar, dirigir a casa ou o conjunto residencial) traduzia bem a idéia do governo de Deus

no mundo, que se expressa da forma mais plena na obra da redenção.

Os Padres e escritores latinos demonstravam uma reserva ainda maior diante do nome teologia, que até S. Agostinho não conseguiu penetrar na

linguagem eclesiástica. O Doutor de Hipona, embora dele se servisse, não fez desse nome a denominação técnica da teologia cristã. Depois dele Boécio

(+524) e S. Gregório Magno (+604), no lugar do nome teologia, que não introduzem em sua linguagem, utilizam-se dos nomes doctrina christiana, sacra

Scriptura, sacra eruditio, sacra Pagina ou divina Pagina.

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

Foi apenas Pedro Abelardo (+1142) quem introduziu o nome "teologia" no título da sua obra teológica: Theologia christiana.Quanto ao conteúdo, ele

limita a sua exposição ao Mistério da Santíssima Trindade como principal artigo da fé cristã (como os Padres gregos). Faz uma explanação da doutrina cristã

sobretudo com base em S. Agostinho e Boécio (+524); além disso recorre sistematicamente aos pensadores pagãos, especialmente Platão e Cícero. A

Revelação é afastada para um plano secundário.

Os grandes escolásticos atêm-se basicamente à terminologia tradicional, a saber: sacra Scriptura, sacra Pagina, etc. S. Tomás de Aquino (+1274)

utiliza-se na sua Suma teológica do nome sacra doctrina cerca de oitenta vezes, e apenas três vezes utiliza-se do nome theologia. Algumas vezes utiliza o

nome doctrina fidei. Da mesma forma S. Boaventura (+1274) prefere utilizar-se dos nomes sacra Scriptura ou sacra Pagina.Querendo esclarecer aos

coirmãos religiosos o que é a teologia, caracteriza a Sagrada Escritura (sacra Scriptura) como se absolutamente não distinguissse uma da outra. Até no

Breviloquium, onde recorre a profundíssimas especulações filosófico-teológicas, utiliza-se alternadamente do nome sacra Scriputura e theologia. Muitas

vezes escreve: "A Sagrada Escritura ou teologia" (sacra Scriptura sive theologia).

No ocaso da Idade Média os autores utilizam-se cada vez mais do nome teologia. Atualmente, nome teologia tornou-se quase o nome próprio

exclusivo de um amplo setor da ciência que abrange tanto as ciências bíblicas, como a teologia sistemática e prática.

Nos passos da iniciativa alemã de definir a nomenclatura dessa área do conhecimento no âmbito da própria língua, no Brasil a teologia vem cada vez

mais sendo substituída pelas “Ciências da Religião”.

CONCEITO DE TEOLOGIA

Hegel, filósofo e teólogo alemão do século XIX, definiu a teologia como sendo o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às

divindades. Como toda área do conhecimento, a teologia também possui objetos de estudo definidos. Deus é o objeto por excelência do estudo teológico.

No entanto, segundo Hegel, em se tratando desse de seu Objeto próprio (Deus), a teologia enfrenta sérias dificuldades, pois o mesmo não é palpável como

os objetos de exploração das demais ciências.

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

Nesse caso, afirmava Hegel, não sendo possível estudar Deus diretamente, como sugere o termo literalmente observado, o caminho mais coerente

é estudar aquilo que se pode observar se tornar, o concreto do dia a dia, onde se pode encontrar os sinais ou as manifestações sobre Deus. Esse concreto

é, sobretudo, a natureza e as representações sociais nas mais variadas culturas.

Santo Agostinho tomou o conceito de teologia natural da obra Antiquitates rerum humanarum et divinarum, de M. Terêncio Varrão, como única

teologia verdadeira dentre as três apresentadas por Varrão: a mítica, a política e a natural. Acima desta, situou a Teologia Sobrenatural (theologia

supernaturalis), baseada nos dados da revelação e, portanto, considerada superior. A teologia sobrenatural, situada fora do campo de ação da Filosofia,

não estava subordinada, mas sim acima da última, considerada como uma serva (ancilla theologiae) que ajudaria a primeira na compreensão de Deus.

1. TEOLOGIA DE S. PAULO

S. Paulo não foi um professor de teologia, mas um Apóstolo. Possuía, no entanto, como o único entre os hagiógrafos do Novo Testamento, uma

preparação teológica no âmbito do Antigo Testamento. Nas suas cartas ele transmitiu muitos elementos importantes da teologia cristã.

Enfatizava firmemente que estava anunciando Jesus Cristo, o crucificado. Ele estabelece os esboços de uma doutrina, mas ressalva que não é a

doutrina que constitui o objeto principal do seu interesse, mas sim a pessoa de Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Ele recebeu esse "objeto" da primeira

congregação de cristãos, mas a experiência às portas de Damasco e a vocação para pregar o Evangelho aos pagãos apresen-taram-lhe uma nova etapa do

Evangelho. Não era apenas uma vocação, mas a revelação de algo novo na história da salvação, algo em que se viu envolvido pessoalmente. O anúncio do

Cristo místico se tornará para ele a sua tarefa dentro dessa história, numa perspectiva nova e ampliada (abordagem personalista e histórico-salvífica da

teologia).

Tendo em vista os ambientes judeus e os cristãos convertidos do judaísmo, Paulo utilizava-se freqüentemente de argumentos extraídos do Antigo

Testamento. Principalmente quando escrevia sobre a fé, trazia à lembrança os grandes exemplos da fé dos patriarcas. Quando se dirigia aos pagãos,

argumentava de forma diferente: fazia uso das obras dos escritores pagãos e recorria ao que na cultura pagã ele considerava como mais valioso. Mostrava aos

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judeus e aos pagãos quanto a revelação cristã correspondia aos "pressentimentos" e aos prognósticos de ambas as culturas pré-cristãs. S. Paulo tentava

aproximar o Mistério de Cristo das congregações cristãs de diversas formas: pela analogia da fé (demonstração das relações entre o Mistério explanado e

outras verdades da fé), pelo aprofundamento intelectual ou pelo próprio testemunho.

O Apóstolo tratava todo o seu ensinamento como o anúncio do Evangelho. Subordinava a teologia ao bem da fé. A sua teologia brotava do anúncio,

ela se formava no anúncio e permanecia nos serviços da fé (caráter querigmático da teologia).

2. TEOLOGIA ANTIGNÓSTICA DOS SÉCULOS II E III

Os primeiros grandes teólogos cristãos surgiram da luta contra o gnosticismo. A gnose (de gnosis - conhecimento pela participação) não constituía

uma seita, mas um movimento filosófico-religioso-teológico que fazia um conglomerado de diversas tradições da sua época, um verdadeiro "coquetel

religioso" (definição de Paulo Tillich). Introduzido na Igreja primitiva por Marciano, o gnosticismo rejeitava o Antigo Testamento e pregava a necessidade

de se purificar o Novo Testamento dos elementos do Antigo. Ao Deus do Antigo Testamento, como Demiurgo judeu, ele contrapunha o Deus do Novo

Testamento. O primeiro era - no seu entender - o Deus da lei; o segundo - o Deus do Evangelho. Foi o primeiro, o Deus mau, quem criou o mundo, que é

igualmente mau, e é preciso salvar-se dele. A salvação é trazida pelas forças cósmicas, pelos íons, o mais eminente dos quais desceu à terra como Salvador,

mas não pôde ingressar na matéria, porque ela é a sede do mal...

Para defender os centros cristãos dos erros da gnose, Irineu (+202), Tertuliano (+ c. 220) e Hipólito (+ c. 235) criaram a teologia ortodoxa, que levava

em conta os conceitos deletérios da heterodoxia. Adotaram a idéia do Logos, já aceita pelos apologistas, mas foram mais longe, ligando-a mais nitidamente

com a Bíblia e a Tradição.

Visto que os gnósticos apelavam a revelações especiais que lhes teriam sido dadas durante os quarenta dias que separavam a ressurreição da ascensão,

era preciso primeiro estabelecer o cânon da Sagrada Escritura. Na busca de um critério de avaliação dos escritos autenticamente revelados, os padres,

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

especialmente Irineu, apontavam para a Tradição como uma regra de fé. O estabelecimento de como e onde devia ser buscada a Tradição Apostólica levou à

tese da sucessão apostólica como garantia de Tradição autêntica. E dessa forma cristalizavam-se os fundamentos da metodologia teológica.

Após essas definições metodológicas, os padres procederam à defesa teológica da imagem de Deus. A distinção entre "Deus criador" e "Deus

salvador" foi por eles reconhecida como uma blasfêmia. O mesmo Deus criou o mundo do nada, e o objetivo da Sua atividade era e continua sendo a

salvação da humanidade. Irineu ocupou-se mais de perto com essa questão, construindo a teologia da história da salvação com a famosa tese da redução de

tudo a Cristo como Cabeça (anakephalaiosis - recapitulatio - religação com a cabeça). Tertuliano, ao defender a unidade de Deus, chegou ao conceito de

"trindade", sendo o primeiro dentre os padres latinos a se utilizar da palavra trinitas: Deus - Logos - Sapientia ou: Deus - Filho - Espírito.

3. TEOLOGIA DE S. BOAVENTURA

Em S. Boaventura (+ 1274) encontraram-se dois professores de teologia: o biblista e o escolástico. Nos tempos do Doutor Seráfico introduziu-se

vitoriosamente na Universidade de Paris a filosofia de Aristóteles, acompanhada de uma forte tendência de distinguir as ciências (artes) da teologia, bem

como de introduzir o aristotelismo nas aulas de teologia. Ele teve que trabalhar num período verdadeiramente decisivo no que diz respeito à forma de praticar

a teologia. Muitos teólogos receavam essas mudanças.

Roger Bacon, uma das mentes mais brilhantes daqueles tempos, protestava contra a colocação dos IV Libri Sententiarum de Pedro Lombardo acima

dos livros da Sagrada Escritura. O papa Gregório IX encaminhou duas cartas alarmantes aos teólogos parisienses (7 de julho de 1228 e 13 de abril de 1231).

Protestava contra a "torpe mistura da Palavra de Deus com a doutrina dos filósofos" e contra a supervalorização da filosofia. No seu entender, estava sendo

subvertida a ordem natural das coisas, ao se ordenar que a rainha, isto é, a teologia, fosse a serva da serva, ou seja da filosofia. Os teólogos filosofantes, que

haviam abandonado a exegese bíblica para expor problemas disputáveis (quaestiones disputatae) ou promoviam disputas, eram cercados de glória, recebiam

assistentes, melhores moradias e horas adequadas para lecionar, enquanto os "biblistas" eram tratados como teólogos de segunda categoria.

Boaventura revoltava-se contra essa situação. No entanto, era filho da sua época e estava sujeito à sua pressão. Comentava a Sagrada Escritura e

comentava Pedro Lombardo. Por convicção era um biblista, por obrigação tinha que ser igualmente um escolástico das questões e das disputas.

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

A respeito da teologia bíblica ele tinha o seu conceito formado. Identificava o seu objeto e o seu objetivo com o objeto e o objetivo da Sagrada

Escritura. A Escritura fala de Deus, que é, cria, conduz a história e conserta através do Filho a obra da criação deformada pelo pecado. Portanto, Deus deve

ser reconhecido como o "objeto" da teologia.

Quando Boaventura explana o "objeto" da teologia filosofante, ou estritamente escolástica, que se baseia nas Sentenças de Pedro Lombardo e que adota a

forma das disputas e das questões, ele diferencia a sua resposta. De acordo com o ponto de vista, o "objeto" de uma teologia assim compreendida é Deus,

Cristo ou as verdades da fé. Deus é o objeto da teologia mais fundamental, geral e definitivo; Cristo - o objeto integrante (visto que é Deus e homem, e

devemos analisá-lo também como Cabeça e membros, isto é, conjuntamente com a Igreja); e o objeto geral são as verdades da fé, na medida em que podem

ser compreendidas (credibile ut intelligibile). Se o objeto da teologia é abordado no seu último significado, é fácil perceber que a teologia se torna uma

tentativa de compreender a fé: intelligentia fidei, intelligentia revelationis, intelligentia misteriorum, scientia fidei ou fides quaerens intellectum.

Ambos os tipos de teologia possuem um objetivo comum, que se identifica com o objetivo da Sagrada Escritura: que nos tornemos melhores e

alcancemos a salvação: ut boni fiamus et salvemur. A fé é o objetivo mediato, e não definitivo, da Sagrada Escritura e da teologia. Com efeito, ela conduz a

algo mais importante, a saber, ao conhecimento, ao amor e à felicidade eternos.

À pergunta tradicionalmente feita a respeito do caráter teórico ou prático da teologia, S. Tomás respondia que ela é teórica e prática, mas antes teórica

(especulativa). A essa mesma pergunta S. Boaventura respondia: sobretudo prática (para que nos salvemos).

Um objetivo assim compreendido da teologia não pode ser atingido apenas pela especulação sobre o texto da Bíblia. A teologia do tipo antigo, isto é,

a bíblica, deve tomar como modelo a própria Sagrada Escritura e familiarizar-se com as suas variadas formas de exposição: narrativa, imperativa, proibitiva,

estimulante, profetizante, admoestante, suplicante, louvadora, etc., isto é, com aquele que fala eficazmente ao ouvinte, atraindo-o à sabedoria cristã e à

salvação.

A teologia como sacra Doctrina, isto é, escolástica, deve cuidar mais do aprofundamento intelectual do mistério revelado (modus perscrutatorius,

ratiocinativus, inquisitivus).

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

Todas as ciências leigas (artes), inclusive a filosofia, devem subordinar-se à teologia e apoiá-la na obtenção do objetivo que tem para o homem o

significado mais fundamental (teoria da subalternação, típica da Idade Média, que consistia em subordinar à teologia todas as áreas da ciência).

4. TEOLOGIA DE S. TOMÁS DE AQUINO

S. Tomás (+1274) dedicou a primeira questão da sua famosa Suma teológica à caracterização da teologia. Em dez artigos concisos caracterizou a

teologia como santa doutrina (sacra Doctrina). Mais que Boaventura, utilizava-se desse termo em relação à teologia e distinguia-a mais claramente da

Palavra de Deus. No entanto não se esqueceu da sua distinção em relação à filosofia. A teologia - segundo ele - deve aproximar ao homem aquilo que Deus

revelou sobre o seu objetivo e sobre os caminhos que a ele conduzem. A teologia é um conhecimento teórico, visto que, apoiando-se na Revelação, penetra

no mistério de Deus. Mas analisa também questões humanas, e por essa razão possui um caráter de ciência prática. Visto que a investigação da verdade a

respeito de Deus é um conhecimento mais perfeito que o conhecimento das Suas criaturas, a teologia é um conhecimento antes teórico que prático: Magis

tamen est speculativa quam practica (STh I q 1 a 4).

O Doutor Angélico conhecia as tentativas da época de uma formulação cristocêntrica de toda a teologia. Lembra que alguns reconhecem como objeto

da sacra Doctrina a redenção (opera reparationis) ou o Cristo todo (totum Christum), isto é, a Cabeça e os membros. No entanto, optou por um nítido

teocentrismo, segundo o qual Deus é o "objeto" da teologia, e tudo o mais é analisado no seu relacionamento com Deus e na subordinação a esse Centro

absoluto (secundum ordinem ad Deum - art. 7).

S. Tomás enfatizava mais decididamente que S. Boaventura o caráter especulativo da teologia, que chamou de "doutrina que argumenta - doctrina

argumentativa" (art. 8). Avaliava também de forma mais positiva as possibilidades de aproveitar a filosofia na prática da doutrina teológica. Se os coirmãos

franciscanos do professor traziam-lhe das suas longínquas expedições ao Oriente os escritos dos Padres orientais da Igreja, os irmãos dominicanos do mestre

organizaram para ele uma equipe de tradutores dos escritos filosóficos de Aristóteles. Boaventura advertia contra a mistura do vinho do Evangelho com a

água da filosofia pagã; Tomás, preocupado com uma teologia digna daqueles tempos, fascinado pela descoberta do Estagirita, ousou fazer uso dele para a

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

construção de uma grande síntese teológica. Felizmente, evitou o perigo temido pelo seu amigo franciscano. Mas, antes de S. Tomás aplicar na teologia a

filosofia de Aristóteles, fez as indispensáveis correções. Cheio de admiração pelo filósofo pagão, não o aceitava, entretanto, sem uma avaliação crítica.

Interpretou de forma original a teoria aristotélica do ato e da potência, reconhecendo o ato e a existência como o ato dos atos, ou seja, ato puro e existência

pura (pura apenas e tão somente existência). Isso lhe permitiu distinguir radicalmente Deus das criaturas, visto que apenas em Deus a essência identifica-se

com a existência, enquanto que em todos os outros seres, tanto espirituais como materiais, a existência não faz parte da sua essência, isto é, a essência

distingue-se efetivamente em tudo, a não ser em Deus. Uma tal colocação dos conceitos filosóficos básicos, abrangendo a totalidade do ser, possibilitou-lhe a

construção de um sistema teológico que abrange tanto a ciência de Deus, como do homem e da salvação.

O que fez Tomás foi para a época algo progressista, corajoso e significativo. Não é de estranhar, portanto, que tenha provocado acaloradas disputas e

protestos nas faculdades de teologia, bem como a inquietação do ministério magisterial da Igreja.

Os atuais julgamentos negativos sobre o tomismo são facilmente atribuídos ao próprio S. Tomás. Esquece-se aí a autêntica grandeza da sua obra, que,

no entanto, deve ser avaliada no contexto do seu tempo, para evitar o erro da a historicidade.

5. TEOLOGIA DO PE. VICENTE GRANAT

Dois manuais de teologia dogmática deixados pelo teólogo polonês Pe. Vicente Granat (+1979), por muitos anos professor da Universidade Católica

de Lublin (1952-1970), permitem caracterizar a sua compreensão da teologia.

O primeiro manual (Teologia dogmática católica, I-IX + volume introdutório, Lublin 1959-1967), tipicamente acadêmico, mantém basicamente a

convenção tradicional-escolástica, a saber: 1) mantém uma abordagem claramente teocêntrica, apesar da nítida valorização da temática cristológica,

eclesiológica e antropológica; 2) mantém coerentemente o esquema de exposição típico dos manuais desde o séc. XIX em: tese, explanação dos conceitos

mais importantes utilizados na tese, ou o chamado status quaestionis, posição do ministério magisterial da Igreja, definição da qualificação teológica

apresentada no início da tese (dogma, doutrina próxima do dogma, doutrina teologicamente certa, doutrina universalmente aceita pelos teólogos),

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

apresentação de opiniões contrárias à tese ou diferentes dela (adversarii), e finalmente a comprovação da tese pela Sagrada Escritura ou pela Tradição

(geralmente se trata de citações de Padres da Igreja); 3) apresenta amplamente uma temática que há muito tempo perdeu a sua atualidade, por exemplo, a

forma de Deus conhecer os atos humanos livres, ou a disputa do século XVI entre os dominicanos e os jesuítas a respeito da natureza da graça eficaz.

Facilmente podem ser percebidos elementos renovadores e atualizadores da teologia tradicional: o Pe. Granat aliava o respeito à herança da Tradição

a uma corajosa abertura à nova problemática (unidade psíquica com Cristo, problemática da pessoa, da cultura e do diálogo). Enriqueceu a exposição da

teologia da criação com informações muito eruditas da área das ciências naturais, mostrando em que medida o teólogo pode fazer uso de ciências específicas.

Gostava de fazer referências aos modernos movimentos filosóficos e gostava igualmente de fazer citações literárias. Ampliou dessa forma o âmbito do locus

theologicus aceito na teologia escolástica. Esforçava-se por demonstrar os valores vitais do dogma.

No segundo manual, escrito na sua totalidade após o Concílio Vaticano II, idealizado antes como uma introdução à teologia moderna do que um

manual clássico quanto à forma (Em direção ao homem e a Deus em Cristo, I-II, Lublin 1972-1974), o pe. Granat renunciou ao esquema escolar de

exposição (tese, status quaestionis, etc.). Quanto ao conteúdo, dedicou mais atenção à abordagem histórico-salvífica das questões e à explanação da doutrina

do último concílio. Afastou-se de uma disposição da matéria nitidamente teocêntrica em favor de uma estrutura cristocêntrica. Fez isso convencido de que

tanto o Mistério de Deus como o Mistério do homem, da Igreja e do mundo são esclarecidos em Cristo. Indo ao encontro das sensibilidades da cultura

moderna, iniciou a exposição da teologia pelo problema do homem aberto à transcendência. Introduziu novas questões (história da salvação, estrutura

carismática da Igreja, o caráter missionário e o ecumenismo como marcas da Igreja...). Criou uma teologia profundamente posit iva e prática, que fala de

Deus, com Deus e a Deus, uma teologia destinada ao homem que necessita de salvação hoje. Um amplo leque de fontes utilizadas, a abertura a toda verdade,

independentemente de onde ela se encontre (em que Igreja, em que filosofia e em que corrente teológica), o mesmo respeito ao passado, ao presente e ao

futuro, o desejo de servir com a teologia, e não de obter vitória sobre quem quer que seja - são valores que fizeram com que o autor não possa ser enquadrado

nem entre os "conservadores" nem entre os "progres-sistas".Consegiu escrever uma teologia simplesmente católica, ou seja, ampla e afavelmente aberta a

todos os loci theologici, bem como aos problemas antigos e novos.

No volume introdutório da grande teologia dogmática, após passar em revista muitas definições de teologia, ele mesmo propõe duas:

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

1) Toda a teologia dogmática é uma ciência sobre Cristo Criador, Salvador, Sacerdote, Distribuidor das graças e Realizador da fé.

2) Pode-se também definir a teologia como uma disposição metódica dos resultados da cooperação da razão humana com o pensamento divino revelado em

Cristo.

O Pe. Granat dá preferência à primeira definição por ser mais personalista, por proteger a teologia do perigo do abstracionismo e por ser mais út il ao

apostolado.

O Pe. Granat entende a teologia como uma espécie de humanização da Revelação. A primeira etapa da humanização da Revelação realizou-se durante

o processo da transmissão por Deus ao homem da verdade salvífica, especialmente em Jesus Cristo (ápice da humanização da Revelação). A segunda etapa

da humanização da Revelação realiza-se nas oficinas dos teólogos, onde a Revelação é elaborada de tal forma que com ela seja iluminado e salvo o

humanum, ou seja, a realidade humana.

A teologia é teórica e prática. Em certas etapas do trabalho do teólogo prevalece o esforço pela busca da verdade, em outras sobressaem as aplicações

práticas. Mas sempre a teologia toda deve servir ao Corpo Místico de Cristo e à humanidade na consecução do seu objetivo final.

6. A TEOLOGIA DO PADRE CONGAR

Yves Marie Joseph Congar, herdeiro espiritual de S. Tomás de Aquino, aceita basicamente a sua visão de teologia. Aceita, portanto, que a sacra

Doctrina é uma ciência dedutiva, de acordo com o modelo aristotélico da ciência, porquanto possui premissas certas (por serem reveladas), que são as

verdades fornecidas pela Sagrada Escritura, das quais extrai de forma segura as verdades-conclusões, aprofundando dessa forma a revelação e criando um

conjunto de sentenças que a seguir sistematiza e funde numa só ciência. O objeto da teologia é Deus como Deus (Deus sub ratione deitatis). Isso não

significa que o homem ou o mundo devam ser excluídos das reflexões teológicas; eles se tornam objeto da teologia na medida em que são analisados na sua

relação com Deus: na medida em que d'Ele procedem a tendem a Ele. Congar enfatiza o caráter eminentemente teocêntrico da teologia de Tomás. Ele fala

sempre de Deus:

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

"Deus que se revela; Deus, primeira Verdade, autor da Revelação e da fé; Deus, criador e condutor do mundo; Deus, senhor dos anjos, que recebe as suas

homenagens e que se serve deles no cumprimento da Sua obra; Deus, salvador; Deus, que se tornou homem e servo sofredor".

Fala de toda a economia da salvação como de uma obra de Deus, de Jesus Cristo como do centro dessa obra e da Revelação, e de Deus como sujeito

dessa economia: "Porque é DEUS que, em Cristo, reconcilia consigo o mundo" (2 Cor 5, 19): "O Deus que faz a aliança, que atua nas almas, que me

justifica; Deus, fonte da minha justiça; Deus, que estabelece sinais eficazes de aliança; Deus, criador dos sacramentos, e que neles atua; Deus, que traçou

todo o plano de santidade, que o introduz no mundo e o concretiza".

Fala da atuação de Deus, do qual depende toda a existência cristã: "Deus que reina sobre a Igreja e pela Igreja; Deus, que une consigo os homens em Cristo e

pelo serviço da Igreja; Deus, que promete a ressurreição dos nossos corpos; Deus, quem nos dá a felicidade eterna e a plenitude definitiva do Seu amor;

Deus, que é "tudo em todos" (1 Cor 15, 28).

E, no entanto, a teologia de Congar distingue-se sensivelmente da teologia de Tomás. Congar, que - como os outros dominicanos - fez juramento de

fidelidade ao grande doutor de Aquino, enriqueceu a sua visão da teologia com o seu próprio carisma e com a sua formação. Ele aprecia, sobretudo, a

teologia positiva, especialmente a eclesiologia dos Padres da Igreja, da qual extrai novas luzes, preciosas para a eclesiologia contemporânea.

Como S. Tomás, padre Congar demonstra sensibilidade aos sinais do tempo. O doutor de Aquino percebeu o grande sinal do tempo no aristotelismo

renascente; corajosamente utilizou-se dele na filosofia e na teologia cristã. O parisiense (padre Congar) percebeu o sinal do tempo no atual retorno às fontes e

no ecumenismo. A força daquele residia na especulação e na ordenação; a força deste reside na volta à história e na correção. Ambos tiveram sérios

dissabores, tanto pela interpretação dos sinais do tempo, como pelas respostas que deram em função desse reconhecimento. Tomás recorreu corajosamente

ao Estagirita pagão, Congar teve a coragem de fazer uma leitura de Lutero. Constatou com alegria que um teólogo católico pode encontrar muita luz preciosa

junto aos chamados teólogos heréticos.

Tomás criou uma grande síntese filosófico-teológica; Congar, apesar de sua obra impressionar pelo gigantismo das suas dimensões, trabalha apenas

com alguns temas teológicos, sentindo-se melhor na patrística, mas, sobretudo na doutrina sobre a Igreja e o Espírito Santo.

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

7. TEOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA LIBERTAÇÃO

Após a Segunda Guerra Mundial, surgiu nos países da América Latina um novo tipo de teologia. Chama-se ela "teologia do desenvolvimento",

"teologia da libertação" ou "teologia da revolução"9. Essa teologia nasceu com base na terrível miséria de uma grande parte da sociedade, na discriminação

racial, na exploração econômica, no atraso cultural e na falta de chances de uma rápida mudança nessa situação desesperadora.

Uma boa parte da hierarquia, da camada inferior do clero e dos teólogos colocou-se decididamente do lado dos "sedentos de justiça". Os responsáveis

pelo Evangelho encontraram-se diante de perguntas extremamente difíceis. Por exemplo: faz parte das tarefas da Igreja a preocupação com a reforma

econômica nos países em que ela atua? Até que ponto a Igreja pode ou deve intervir nos conflitos entre patrões e operários, entre os exploradores e os

explorados? Até que ponto podem ser justificadas as atividades revolucionárias das pessoas cruelmente exploradas? Em que circunstâncias e condições os

representantes da Igreja podem e devem participar das manifestações armadas? Que relação existe entre a salvação escatológica anunciada por Cristo e a

salvação aqui e agora? A contínua situação de escravidão social, econômica e política não é uma blasfêmia contra a libertação trazida por Cristo?... Será que

Cristo lançaria mão de um açoite (fuzil) para sanar essa situação pecaminosa? Nem os bispos, nem os teólogos daquelas regiões podem fugir diante desse

tipo de perguntas.

O episcopado sul-americano fez uma urgente consulta ao eminente teólogo francês René Laurentin, a respeito da teologia do desenvolvimento. Os

próprios teólogos sul-americanos também deram início à construção de uma teologia que o seu continente estava esperando. Eles trabalharam sob a enorme

pressão da situação sócio-política dos seus países.

Iniciaram por análises sociológicas que apresentaram um mundo desumano e "terrível", que deve ser o ambiente de salvação de milhões,

desvendaram as condições de injustiça e de miséria que contrastam não apenas com os ideais do Evangelho, mas igualmente com os direitos fundamentais do

homem. Recorreram em seguida ao Evangelho, para lhe perguntar mais uma vez o que significa realmente "salvação", "desenvolvimento" e "libertação".

Sensibilizados pelo drama que atinge a sua existência humana, buscavam respostas muito concretas. Fizeram também o estudo dos documentos dedicados à

doutrina social da Igreja. Exigiam novos pronunciamentos do magistério da Igreja que atentassem melhor para os seus problemas. Estabeleceram uma

estreita cooperação com o episcopado latino-americano, que em Medelin (1968) e Puebla (1979) deu a maior atenção a esses problemas.

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Módulo I – Acenos Históricos da Teologia

Dessa forma surgiu a teologia do desenvolvimento e da libertação, que não possui parâmetros na história. Essa teologia não demonstra interesse por

grandes sínteses, mas pelo complexo das questões humanas concretas; liga-se com a soteriologia, buscando a sua dimensão temporal e terrena. A maior parte

dos loci theologici tradicionalmente aceitos parecem falhar aqui. Na liturgia, nos Símbolos da fé, na patrística, entre os escolásticos, e igualmente na doutrina

dos concílios, com exceção do último, é difícil encontrar respostas para as perguntas que atormentam. As maiores chances são oferecidas pelo Evangelho, se

dele for feita uma nova leitura e se forem feitas perguntas próprias, não tradicionais. Trazem uma boa contribuição as encíclicas sociais dos últimos papas,

embora não proponham respostas prontas. Os teólogos recorrem a pesquisas sociológicas, considerando-as indispensáveis na sua difícil tarefa. Aqui a

indução ajuda mais que as mais imponentes deduções escolásticas. Possui igualmente um grande significado a diligente interpretação do sensus fidei das

próprias Igrejas locais.