organização dos dominios de conhecimento

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150 Perspect. cienc. inf., Belo Horizonte, v. 8, n. 2, p. 150-163, jul./dez. 2003 Organização de domínios de conhecimento e os princípios ranganathianos Atualmente, um dos conceitos discutidos na área da ciência da informação é o de organização do conhecimento. As formas de representação/organização dos diferentes domínios de conhecimentos, neste caso, vão implicar diretamente nos processos de transferência da informação, que hoje estão diretamente ligados a recuperação em meios eletrônicos. Porém, essas questões, desde a década de 30, vem sendo apresentada por Shialy Rammarita Ranganathan, no âmbito da Teoria da Classificação. Apresenta os princípios desta Teoria na qual são discutidos fundamentos da organização de domínios de conhecimento. Enfatiza o papel de Ranganathan como um dos precursores da representação do conhecimento no âmbito da ciência da informação. Palavras-chave: alavras-chave: alavras-chave: alavras-chave: alavras-chave: Classificação facetada - Teoria; Organização de domínios de conhecimento. Recebido em: 11.08.2003 Aceito em: 08.10.2003 Maria Luiza de Almeida Campos Doutora em Ciência da Informação Universidade Federal Fluminense Hagar Espanha Gomes Livre Docente

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    Perspect. cienc. inf., Belo Horizonte, v. 8, n. 2, p. 150-163, jul./dez. 2003

    Organizao de domnios deconhecimento e os princpios ranganathianos

    Atualmente, um dos conceitos discutidos na rea da cincia da informao ode organizao do conhecimento. As formas de representao/organizao dosdiferentes domnios de conhecimentos, neste caso, vo implicar diretamente nosprocessos de transferncia da informao, que hoje esto diretamente ligados arecuperao em meios eletrnicos. Porm, essas questes, desde a dcada de30, vem sendo apresentada por Shialy Rammarita Ranganathan, no mbito daTeoria da Classificao. Apresenta os princpios desta Teoria na qual so discutidosfundamentos da organizao de domnios de conhecimento. Enfatiza o papel deRanganathan como um dos precursores da representao do conhecimento nombito da cincia da informao.

    PPPPPalavras-chave:alavras-chave:alavras-chave:alavras-chave:alavras-chave: Classificao facetada - Teoria; Organizao de domniosde conhecimento.

    Recebido em: 11.08.2003 Aceito em: 08.10.2003

    Maria Luiza de Almeida CamposDoutora em Cincia da InformaoUniversidade Federal Fluminense

    Hagar Espanha GomesLivre Docente

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    Maria Luiza de Almeida Campos, Hagar Espanha Gomes

    A descrio e a organizao fsica de documentos estiveram quase sempreno centro das atenes dos bibliotecrios. Enquanto a descrio tem hoje emdia alta visibilidade no tratamento dos documentos eletrnicos com a introduodos metadados, a organizao fsica manteve seu interesse tradicional nosdocumentos convencionais, em papel, atravs das tabelas de classificao. E asquestes propriamente ditas de organizao no ambiente da rede, inclusive,ficaram sob um vu que encobre sua real essncia e importncia em vriosaspectos da organizao da informao e, mais ainda, do conhecimento.

    A expresso organizao da informao se aplica s bases referenciais,enquanto organizao do conhecimento passa a incluir a possibilidade de utilizaode mecanismos que manipulam textos integrais e multimdia, que so formasatuais de representao do conhecimento. E todos esses recursos no prescindemde uma organizao para que possam ser melhor explorados e recuperados.

    Organizao, no contexto da cincia da informao/documentao,implica no conceito de classificao e nenhuma outra rea do conhecimentobuscou desenvolvimento de bases tericas da classificao como ali. Aclassificao est presente na organizao automtica dos menus/diretrios,que se caracterizam por classificao de assuntos; est presente na classificaoautomtica dos recursos eletrnicos, mais especificamente na construo dosndices das ferramentas de busca, baseados na varredura de textos completos,utilizando tcnicas desenvolvidas nos anos 50 e 60 do sculo passado; estpresente nas ontologias, voltadas para a Inteligncia Artificial. E na RedeSemntica, proposta pelo Consrcio WWW3.

    Na base da classificao est a lgica, fundamental para aqueles queatuam na Informtica como na cincia da informao/documentao. Emboraem ambos os domnios tenha havido progresso no desenvolvimento dasbases tericas da classificao/organizao do conhecimento, as basespropostas por Ranganathan parecem extremamente atuais para a resoluode problemas conjuntos envolvendo informtica/informao (contedossemnticos). Estes contedos esto presentes na construo dehiperdocumentos e na construo das bases de conhecimento.

    A classificao tem, na cincia da informao/documentao, um percursointeressante: a pretensa morte da classificao - viso limitada s tradicionaistabelas de classificao - foi claramente denunciada pelo Prof. Astrio Campos(Campos, 1986) ao mostrar como a classificao est presente na construodos tesauros, que passam a ser um novo meio de manipulao da informao apartir dos anos 60. A possibilidade da indexao/classificao automtica dosdocumentos, com a introduo do computador, mais ou menos mesma poca,levou, tambm, pretensa morte da indexao atributiva (outra forma declassificao) e dos tesauros , mas o tempo mostrou que lidar com a palavra sempre um terreno movedio. E os tradicionais servios de resumos - como oChemical Abstracts, os servios do Commonwealth Bureau of Agriculture, oBiological Abstracts, para citar o mnimo - nunca deixaram de usar tesauros,embora aproveitassem as possibilidades de os sistemas manipularem outroscampos como os ttulos e os resumos, para ampliar a busca.

    Tomando, ento, o conceito e no mais a palavra como base para aorganizao/classificao/indexao, novo reforo se obtm com a introduo

    1 Consideraes iniciais

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    das bases da terminologia que, em muitos aspectos, so comuns teoria daclassificao facetada. Estudar e desenvolver as bases tericas da classificaoem ambinete Web parece ser um campo frtil e promissor. As formas derepresentao/organizao dos domnios de conhecimentos, neste caso, voimplicar diretamente os processos de transferncia da informao, que hoje estodiretamente ligados a recuperao em meios eletrnicos. Porm, essas questes,relacionadas com a organizao de domnios, desde a dcada de 30, vem sendoapresentadas por Shialy Rammarita Ranganathan, no mbito da teoria daclassificao no espao terico da biblioteconomia. Seu objetivo era deixar evidenteos princpios utilizados na elaborao da Colon classification (tambm denominadade Classificao de dois pontos), tabela de classificao elaborada para aorganizao do acervo da Biblioteca da Universidade de Madras, na ndia.

    At aquele momento, no mbito da documentao, as tabelasexistentes no apresentavam as bases tericas para sua elaborao.Ranganathan foi o primeiro1 a evidenciar os princpios utilizados na elaboraode sua tabela, proporcionando uma verdadeira revoluo na rea daclassificao bibliogrfica. Na verdade, ele no elabora somente um trabalhoterico para explicar a construo da tabela, mas apresenta uma teoria slida efundamentada para dar Classificao bibliogrfica um status que a eleva adisciplina independente. (Campos, 2001).

    A teoria da classificao facetada est apresentada praticamente em quatroobras bsicas: Five laws of library science (Ranganathan,1963a), Prolegomena tolibrary classification (Ranganathan, 1967), Philosophy of book classification,(Ranganathan, 195l), alm da prpria Colon classification, (Ranganathan, 1963).Ranganathan conseguiu estabelecer princpios para uma nova teoria da classificaobibliogrfica, e o fez tendo como base o prprio conhecimento.

    Elabora postulados para tentar dar conta da representao doconhecimento, atravs do que ele denomina de universo do conhecimento,universo dos assuntos, universo do documento. Alm desses, ele introduz oconceito de categorias para representar um dado domnio de conhecimento.Esta teoria pode ser definida como um movimento para discutir a gerao doconhecimento e Ranganathan foi uma figura marcante para o desenvolvimentodesta questo no mbito do fazer informacional.

    2 Universo do conhecimentoA importncia da produo do conhecimento e a influncia que essa

    produo exerce sobre o planejamento de esquema de classificao bibliogrfica tema relevante nos trabalhos de Ranganathan. O processo de relacionarobjetos e fatos um processo classificatrio, o que faz com que Ranganathantraga essas questes para dentro da teoria da classificao. Nos Prolegomena(Ranganathan, 1967, p. 80) ele discute o processo de formao de conceitos esua relao com o que denomina universo das idias ou do conhecimento esua influncia no trabalho da classificao.

    Segundo Ranganathan, o homem deposita na memria perceptos puros,isto , impresses produzidas por qualquer entidade atravs de um sentidoprimrio simples. Por exemplo, a luz que vem das estrelas o percepto produzidopor uma entidade do mundo fsico - as estrelas. As entidades correlatas de umpercepto, que esto fora da mente, so denominadas por Ranganathan depercepo. Quando a impresso depositada na memria, como resultado daassociao de dois ou mais perceptos puros, formados simultaneamente ou numa

    1Kumar(1981, p. 409), estudioso eprofessor de classificao indiano, arespeito do trabalho inovador deRanganathan acrescenta que ele sebeneficiou dos trabalhos de Richardson,Cutter, Hulme, Brown, Sayers, Bliss eassim por diante. Ele teve a oportunidadede melhorar sua teoria ao experiment-lapor um perodo de 40 anos. E formulou aClassificao dos dois pontos, na qualaplicou sua teoria. Testou sua teoria com aajuda de princpios normativos. Produziuuma terminologia tcnica prpria e nohesitou em adot-la de outros. Alm disso,sua base Bramnica e matemtica deu-lheuma mente clara e lgica... Comoresultado, foi capaz de sistematizar oestudo e a prtica da Classificao.

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    sucesso rpida, no temos mais somente um percepto puro, mas um perceptocomposto, como fica claro no exemplo abaixo:

    Vamos assumir que o percepto puro do som corvo, emitidosimultaneamente pela me, tambm se torna impresso na memriada criana o percepto composto de corvo crocitante. Vamos almdisso assumir que o percepto puro da cor do corvo e o percepto purodo som emitido pela me seja associado na memria da criana.Ento o percepto composto corvo preto e ele crocita ou corvopreto crocita formado na memria da criana. Logo, um perceptocomposto pode ser formado pela associao de dois ou mais perceptospuros (Ranganathan, 1967, p. 80).

    No momento em que so depositados na memria os perceptospuros e compostos, d-se uma associao e os conceitos se formam.Ranganathan (l 967, p. 80) alerta para o fato de que a linha divisria entreum percepto composto - aquele formado pela aglutinao de vriosperceptos puros - e o conceito tnue. O primeiro, isto , o perceptocomposto, transita para o ltimo, sendo necessrio apenas somar aoprocesso de aglutinao o processo de associao, o que acarreta oestabelecimento de relaes. Desta forma, a partir da formao dosconceitos que se produzir na mente do ser humano um quadro deidentidade com o mundo que o cerca. Em um momento posterior formaodos conceitos, isto , a partir da existncia de um padro conceitual jestabelecido, pode ocorrer a assimilao de novas experincias, o queleva ao processo que Ranganathan denomina de apercepo. O conjuntodessas apercepes depositadas na memria se d, ento, a partir dosconceitos j presentes na memria, com o acrscimo da assimilao deperceptos recentemente recebidos e conceitos recentemente formados.

    Para chegarmos, entretanto, definio de universo de conhecimentoem Ranganathan, ser preciso, primeiramente, analisar ainda os conceitosde idia, informao, conhecimento e assunto. Idia, para Ranganathan,(1967, p. 81) um produto do pensamento, da reflexo, da imaginao,que passou pelo intelecto, integrando com a ajuda da lgica uma seleo deconjuntos de apercepo, e/ou diretamente apreendida pela intuio edepositada na memria. A informao se daria no momento em que umaidia comunicada por outros ou obtida a partir do estudo pessoal e dainvestigao. Conhecimento definido como a totalidade de idiasconservadas pela humanidade; assim, neste sentido, conhecimento podeser sinnimo de universo de idias. Assunto um corpo de idias organizadase sistematizadas, por extenso e inteno, que incide de forma coerente nocampo de interesse, de competncia intelectual e de especializao inevitvelde uma pessoa normal. (Ranganathan, 1967, p. 92).

    O universo original de idias, tambm chamado de universo doconhecimento, no s o local onde as idias conservadas esto agrupadas,mas tambm o local onde existe um movimento que propicia umrepensar constante sobre a apreenso das observaes feitas pelo serhumano, a partir do mundo que o cerca. O universo do conhecimento

    a soma total, num dado momento, do conhecimento acumulado. Eleest sempre em desenvolvimento contnuo. Diferentes domnios do

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    Universo do Conhecimento so desenvolvidos por diferentes mtodos.O Mtodo Cientfico um dos mtodos reconhecidos dedesenvolvimento. O Mtodo Cientfico caracterizado pelo movimentosem fim em espiral. (Ranganathan, 1963a, p. 359)

    Assim, para explicar o movimento do prprio ato de conhecer,perceber e sua influncia sobre os esquemas de classificao, Ranganathanapresenta a Espiral do universo do conhecimento, que possui vrias fasesno seu desenvolvimento. Por convenincia de referncia, Ranganathan(l963a, p. 359) utiliza a denominao dos pontos cardeais para demonstr-las: Nadir - apresenta a acumulao dos fatos obtidos pela observao,experimentao e outras formas de experincia; Ascendente - apresenta aacumulao de leis indutivas ou empricas em referncia aos fatos acumuladosem Nadir; Znite - apresenta as leis fundamentais formuladas, isto , acompreenso de todas as leis indutivas ou empricas acumuladas noascendente com implicaes obrigatrias; Descendente - marca a acumulaodas leis de deduo na direo das leis fundamentais de Znite.

    Esses pontos cardeais produzem quatro quadrantes no ciclo daespiral, a saber: Quadrante l - Situa-se entre Descendente e Nadir.Corresponde ao estgio do desenvolvimento do domnio do Universo doconhecimento, onde os fatos so encontrados e registrados. Nele estoinseridos os seguintes conceitos: experimentao, observao, concretudee particularizao; Quadrante 2 - Situa-se entre Nadir e ascendente.Corresponde ao momento em que as leis empricas ou indutivas soformuladas e registradas. So os seguintes os conceitos nele inseridos:intelecto, induo, abstrao, generalizao; Quadrante 3 - Situa-se entreo ascendente e Znite. Corresponde ao estgio em que as leisfundamentais so entendidas e registradas. Intuio, abstrao egeneralizao so conceitos inseridos; Quadrante 4 - Situa-se entre Znitee Descendente. Corresponde ao momento em que as leis dedutivas soderivadas e registradas. Os conceitos inseridos so intelecto,particularizao, deduo e concretude.

    Tendo a espiral um movimento contnuo e infinito, a cada novociclo necessrio re-introduzir o quadrante l, que se torna um poucodiferente, a saber: observaes e experimentos so feitos para verificarempiricamente a validade de novas leis; alm disso observaes eexperimentos so feitos continuamente, conduzindo acumulao denovos fatos empricos. Nesse movimento contnuo verifica-se que, emdado momento, existem contradies entre os fatos empricos e as leisfundamentais at ento existentes. Temos que reconhecer, neste instante,a existncia de novas classes de fatos e declarar a incidncia da crise naaplicao do mtodo cientfico. Assim, novas classes de fatos empricosso acumulados em Nadir e um novo ciclo na espiral se inicia. (FIG.I)(Ranganathan, 1963a, p. 364).

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    Figura l: A Espiral do Universo do Conhecimento.Sperial of the Universe of KnowledgeFonte: Ranganathan. Prolegonema

    3 A espiral do desenvolvimento de assuntos

    Alm da espiral do conhecimento e para evidenciar ainda mais a ligaoentre a produo de conhecimento e a organizao de registros deconhecimento, Ranganathan apresenta tambm a espiral do desenvolvimentode assuntos: se o movimento da espiral do conhecimento propicia o ato deperceber os fatos que ocorrem no mundo fenomenal, com a espiral dodesenvolvimento de Assuntos possvel verificar a relao entre este percebere a produo de conhecimento que, no nosso caso, conhecimento registrado.

    Apesar dessas questes terem um cunho filosfico, Ranganathan deixaevidente, a todo momento, sua preocupao em relacion-las com o universode trabalho da documentao, apresentando como uma meta-espiral doconhecimento a espiral do universo de assunto. Esses assuntos se apresentame so analisados na rea da documentao a partir dos documentos produzidospor um grupo de falantes de determinado universo de discurso. Dessa forma,a garantia literria e a dinmica do conhecimento andam juntas, e so essesfatores que determinam a relao do documento com o conhecimento einfluenciam a elaborao de esquemas classificatrios para a rea dadocumentao.

    A espiral do desenvolvimento de assuntos (Ranganathan, 1967, p. 372) uma meta-espiral da Espiral do universo do conhecimento, pois regidapelas mesmas leis do movimento contnuo e do dinamismo que regem a Espiraldo conhecimento. O movimento em espiral (FIG. 2) pode ser caracterizado apartir de fatos que podemos observar no desenvolvimento de novos assuntos,a saber: novos problemas; pesquisa fundamental; pesquisa aplicada; projetopiloto; novas mquinas; novos materiais; novos produtos; utilizao dessesprodutos; novos problemas.

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    Organizao de domnios de conhecimento e os princpios ranganathianos

    Figura 2: A espiral do desenvolvimento de assunto.Sperial of Subject Development

    Fonte: Raganathan. Prolegonema

    O mtodo cientfico em espiral propicia a integrao constante doconhecimento, do desenvolvimento de assuntos e a relao com a atividadede organizao. Ranganathan, assim, singular na medida em que evidenciaessa dinmica, esse movimento constante e a possibilidade tambm deconstantes modificaes no universo do conhecimento e de assuntos queinfluenciam na organizao do conhecimento.

    4 A formao dos assuntos nos documentos e sua influncia naorganizao de domnios de conhecimento

    Ranganathan, ao enfocar o documento como um registro deconhecimento, traz para o ambiente da documentao a preocupao com ouniverso de conhecimento. Dessa forma, na estrutura elaborada a partir desua teoria, as unidades que a constituem no so mais os assuntos dosdocumentos, mas os conceitos, que ele denomina de isolados. Estes, reunidospor um processo de arranjo ou combinao, permitem formar qualquer assuntodo documento. Em sua teoria, Ranganathan apresenta cinco modospreliminares de formao de assuntos e de isolados; desta forma, evidenciaum dos campos de atuao do profissional da informao, aquele relacionadoao espao temtico dos assuntos tratados nos documentos.

    O entendimento dos modos como o assunto formado emdocumentos fundamental, pois desta compreenso resultar uma dadaatuao do profissional no mbito dos processos de organizao e recuperaode informao, dito de outra forma na sua prpria atuao comoclassificacionista. So os seguintes as maneiras de formao de assuntos(Ranganathan, 1967, p.351): dissecao; laminao; desnudao; reunio/agregao; superposio.

    Dissecao cortar um universo de entidades em partes que tenham

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    posio coordenada (de mesmo nvel, de mesmo status), como quandocortamos uma fatia de po em tiras. Quando as partes so enfileiradas elasformam um renque. Cada parte denominada por Ranganathan de lamina epodem representar um universo de assuntos bsicos ou um universo de idiasisoladas. Por exemplo:

    Universo de Assunto bsico Universo de Isolado - Plantas agrcolas botnica plantas forrageiras agricultura plantas alimentcias zoologia plantas estimulantes

    Laminao uma construo por superposio de faceta sobre faceta,como se fizssemos sanduches colocando uma camada de vegetal sobre umacamada de po. Quando a camada bsica um assunto bsico e as outrascamadas so idias isoladas, formou-se um assunto composto. Os assuntoscompostos podem ser formados pela laminao de uma, duas, trs ou maisidias isoladas em qualquer assunto bsico como lmina bsica. Por exemplo:agricultura do milho formado pela laminao do assunto bsico agricultura eda idia isolada milho; agricultura do milho em Java formado pelo assuntobsico agricultura e pelas idias isoladas milho e Java.

    Desnudao a diminuio progressiva da extenso e o aumento dainteno de um assunto bsico ou de uma idia isolada, como se ns tirssemosa polpa de uma fruta macia de suas camadas mais internas ou como seescavssemos um poo. A desnudao permite a formao de cadeias. Porexemplo:

    filosofia lgica lgica dedutivaReunio, tambm denominada de agregao livre, a reunio de dois

    ou mais assuntos bsicos ou compostos e de idias isoladas. O resultadodesta reunio forma um assunto complexo, ou uma idia isolada complexa,como podemos observar nos exemplos: assuntos complexos: relao geralentre a cincia poltica e a economia; anlise estatstica para gerentes de ferrovias;influncia da geografia na histria; idia isolada complexa: influncia do budismona cristandade; diferena entre vertebrados e invertebrados.

    Superposio liga duas ou mais idias isoladas que pertencem ao mesmouniverso de idias isoladas, diferenciando da Laminao na qual a reunio seapresenta em dois ou mais universos diferentes de idias isoladas. Por exemplo:No universo de isolado, professor pode ser classificado tanto pela caractersticaassunto como pela caracterstica habilidade retrica. Os assuntos formados pelareunio destas duas caractersticas so idias isoladas superpostas, como podemosobservar: professor de qumica brilhante; professor de qumica; professor de zoologiabrilhante; professor de zoologia medocre.

    A partir desses estudos relacionados, a produo do conhecimento, anatureza do conhecimento e sobre como os assuntos se manifestam nosregistros de conhecimento (os documentos). Ranganathan prope uma sriede princpios para a organizao de um universo de conhecimento queapresentaremos a seguir.

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    Organizao de domnios de conhecimento e os princpios ranganathianos

    5 Princpios ranganathianos para a organizao de domnios deconhecimento

    Ranganthan elabora uma srie de princpios que visam a permitir queos conceitos de um domnio de saber possam ser estruturados de formasistmica, isto , os conceitos se organizam em renques e cadeias, essasestruturadas em classes abrangentes, que so as facetas, e estas ltimas dentrode uma dada categoria fundamental. A reunio de todas as categorias formaum sistema de conceitos de uma dada rea de assunto e cada conceito nointerior da categoria tambm a manifestao dessa categoria.

    Prope, atravs de sua teoria, uma nova forma de organizar o Universode Assuntos, no mais uma classificao dicotmica/ binria, ou decatmica esim uma policotomia ilimitada. Na verdade, j na dcada de 20 percebia-seque no mbito da classificao de documentos, os assuntos deviam serrepresentados muito mais como uma rvore Baniana2 (FIG. 3) do que comouma rvore de Porfrio. Os mtodos de diviso, ou seja, aqueles que auxiliama organizao do conhecimento em um dado domnio foram durante muitossculos dicotmicos. Na dicotomia encontram-se duas divises no primeiroestgio, duas divises de cada uma dessas divises so formadas no segundoestgio e assim por diante, a representao esquemtica da dicotomia chama-se rvore de Porfrio. No mbito da representao de assuntos que ocorre nosdocumentos esta forma de classificao falha logo na concepo de esquemasde classificao para o universo de assuntos, pois como vimos, os assuntos dosdocumentos no fazem parte de um domnio de conhecimento somente, muitopelo contrrio, eles so complexos. A analogia com a rvore Baniana muitomais apropriada. A rvore Baniana se aproxima muito mais de uma rvore declassificao, do tronco original formam-se muitos outros troncos secundriosde tempos em tempos.

    Nos diz Ranganathan,

    Na verdadeira rvore de assuntos, um ramo enxertado no outro emmuitos pontos. Raminhos tambm se enxertam entre si de modosemelhante. Os ramos de um tronco se enxertam em outros de outrotronco. difcil dizer a que tronco pertencem tais ramos. Os troncos seenxertam entre si. Mesmo ento, o quadro da rvore no est completo. muito mais complexa do que todos estes. (Ranganathan, 1967, PL 3)

    FIGUIRA 3 - rvore Baniana.Bnyan tree

    Fonte: Ranganathan, Prolegonema

    2 rvore Baniana - Tipo de f igueiraindiana, que se espalha por uma granderea enviando galhos para o solo, osquais cr iam razes formando vriostroncos.

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    A representao da rvore Baniana apresentada por Ranganathan vemao encontro do conceito de rizoma de Deleuze e Guattari, (Deleuze & Guattari,1995), confirmando, mais uma vez, a originalidade do pensamento deRanganathan. Percebe-se a importncia de se analisar as temticas tratadasem um documento com uma abrangncia conceitual que no esteja relacionadaa somente um raiz/ncleo, mas a diversos ncleos, dependendo da formacomo as unidades de conhecimento se relacionam. Dessa forma, Ranganathanresgata da Antiguidade Clssica, atravs de Aristteles, para o universo dadocumentao, o conceito de categoria como um princpio fundamental para aorganizao do conhecimento.

    5.1 Postulado das categorias

    O postulado das categorias o princpio normativo adotado paraorganizar um universo/domnio, ou seja, um corpo de conhecimentosistematizado. Mapear o universo de Assuntos o primeiro passo doclassificacionista para elaborar um Esquema de classificao. Esta atividade tempor funo definir em que nvel de extenso se dar o corte classificatriodo universo de assuntos.

    Ranganathan considera o mapeamento de um universo de assuntosuma tarefa bastante complexa, como o prprio ato de classificar:

    ...a tarefa da classificao mapear o universo multidimensional dosassuntos ao longo de sua atividade... Vimos quo tortuosa a tarefa determinar e priorizar uma escala de relaes preferidas entre todas asidias isoladas e entre todos os assuntos... H muitas relaes vizinhasimediatas entre os assuntos. Tendo fixado um destes assuntos na primeiraposio da linha, devemos decidir qual ser seu vizinho imediato, qualser seu vizinho de transferncia dois, e assim sucessivamente. Podemosperder noites de sono e ainda no estarmos perto de uma soluo firme.Se no formos estudantes srios de classificao podemos desistir dizendoa classificao impossvel. Para uns poucos, a classificao mesmomarcada por um absurdo lgico. Esta a medida da magnitude domapeamento do Universo de Assuntos multidimensional ao longo daatividade que a classificao. (Ranganathan, 1967, p. 395).

    O mapeamento consiste, no primeiro momento, em se decidir o domniode conhecimento que ser tomado como base para a organizao das unidadesclassificatrias (assunto bsico, isolados). Ranganathan conduz seu trabalhotentando definir uma forma que possibilite a anlise do universo de assuntos,pois as classificaes bibliogrficas at aquele momento - apesar de seremorganizadas tambm por reas do conhecimento/disciplina - no deixavamevidentes os princpios que empregavam para o estabelecimento das classes esubclasses dentro de cada rea. Isto provocava uma certa imobilidade, nopermitindo que elas acompanhassem a dinmica do conhecimento. Ranganathanresolve buscar princpios lgicos atravs do uso de postulados.

    Eudides postulou que duas linhas paralelas no se encontram. Durantequase vinte sculos ningum questionou este postulado. Ento vem Gauss,que diz: Como voc sabe que elas no se encontram? Voc j caminhou

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    Organizao de domnios de conhecimento e os princpios ranganathianos

    ao longo delas para verificar seu fim? Eu digo que elas se encontram - numlugar muito distante; voc pode negar? Ento ele fez seu prprio postulado,que as linhas paralelas se encontram em ambas as pontas. Qual dessespostulados preferimos? Qualquer um que sirva para nosso propsito; qualquerum que auxilie nosso trabalho. (Ranganathan, 1967, p. 396)

    Postula, ento, que existe em todo Universo de Assuntos cinco idiasfundamentais que so utilizadas para a diviso do Universo. A respeito dototal cinco ele apresenta o seguinte argumento:

    Algum pode perguntar: Por que as idias fundamentais postuladas so emnmero de cinco? Por que no trs? Por que no seis? Isto possvel. Hliberdade absoluta para todos tentarem. Uma pessoa pode talvez gostar deseis. Ela deve classificar nessa base alguns milhares de artigos variados. Seelas produzirem resultados satisfatrios, arranjando os assuntos dos artigos aolongo de uma linha, aquele postulado pode ser aceito. Isto no uma matriaa ser discutida ex cathedra sem um teste completo e prolongado. Trabalharcom base em cinco idias fundamentais produziu resultados satisfatriosnos vinte ltimos anos. (Ranganathan, 1967, p. 398).

    Essas idias so denominadas categorias fundamentais. O termocategoria fundamental usado por Ranganathan para representar idiasfundamentais que permitem recortar um universo de conhecimento em classesbastante abrangentes. As categorias fundamentais funcionam como o primeirocorte classificatrio estabelecido dentro de um universo de conhecimento. Poroutro lado, so elas que fornecem a viso de conjunto dos agrupamentos queocorrem na estrutura, possibilitando, assim, o entendimento global da rea. Opostulado das categorias fundamentais apresentado por Ranganathan:

    H cinco e somente cinco Categorias fundamentais; so elas: Tempo,Espao, Energia, Matria e Personalidade. Estes termos e as idiasdenotadas so usadas estritamente no contexto da disciplina declassificao. No tm nada a ver com seu emprego em metafsica oufsica. Em nosso contexto, seu significado pode ser visto somente nasdeclaraes sobre as facetas de um assunto - sua separao e seqncia.Este conjunto de categorias fundamentais , em sntese, denotado pelasiniciais PMEST. (Ranganathan, 1967, p. 398).

    Ranganathan define as categorias PMEST de modo a explic-las, isto, pela enumerao de algumas de suas facetas que so manifestaes dasprprias categorias dentro de uma rea do conhecimento. Faceta um termogenrico usado para denotar algum componente - pode ser um assunto bsico ouum isolado - de um assunto composto, tendo, ainda, a funo de formar renques,termos e nmeros. (Ranganathan, 1967, p. 88). No contexto das classificaesespecializadas, definida como uma manifestao das cinco categoriasfundamentais (Vickery, 1980, p. 212).

    A categoria tempo definida com seu significado usual, exemplificando-a com algumas idias isoladas de tempo comum, a saber: milnios, sculos,dcadas, anos e assim por diante. Ele prev manifestaes de isolados detempo de outro tipo, tais como: dia e noite, estaes do ano, tempo comqualidade meteorolgica.

    A categoria espao tambm definida com seu significado usual,

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    apresentando como suas manifestaes a superfcie da terra, seu espao interiore exterior, como por exemplo, continentes, pases, estados, idias isoladasfisiogrficas etc.

    A categoria energia de entendimento um pouco mais difcil. Ela podeser entendida como uma ao de uma espcie ou outra, ocorrendo entre todaespcie de entidades inanimadas, animadas, conceituais e at intuitivas, como,por exemplo, atravs das seguintes facetas: problema, mtodo, processo,operao, tcnica.

    A categoria matria apresenta um entendimento de complexidade aindamaior que a da categoria energia e assim definida por Ranganathan:

    A identificao da categoria fundamental Matria mais difcil do queEnergia. V-se que suas manifestaes so de duas espcies: Material ePropriedade. Pode parecer estranho que propriedade fique junto com omaterial. Mas, peguemos uma mesa como exemplo: a mesa feita dematerial de madeira ou ao, conforme o caso. O material intrnseco mesa, mas no a prpria mesa. Principalmente o mesmo materialtambm pode aparecer em muitas outras entidades. Assim, a mesatem a propriedade de ter dois ps e meio de altura e a propriedade deter um tampo meio duro. Esta propriedade intrnseca mesa mas no a prpria mesa. Alm disso, a mesma propriedade pode aparecer emmuitos outros lugares. (Ranganathan, 1967, p. 400).

    Assim, a categoria matria pode ser encarada como a manifestao demateriais em geral, como sua propriedade, e tambm como o constituintematerial de todas as espcies.

    A categoria personalidade considerada como indefinvel. Explica que,se uma certa manifestao for facilmente determinada como no sendo espao,energia ou matria, ela vista como uma manifestao da categoria fundamentalpersonalidade. Considera que este tipo de identificao da categoriapersonalidade o que denomina de mtodo de resduos. Acrescenta queeste mtodo pode no ser fcil em certos casos, mas sua experincia mostrouque as idias isoladas vo manifestar-se em algumas das categorias acimamencionadas. As dificuldades encontradas so raras na maioria das vezes(Ranganathan, 1967, p. 401). As seguintes facetas podem ser consideradascomo manifestao da categoria personalidade: bibliotecas, nmeros,equaes, comprimentos de ondas de irradiao, obras de engenharia,substncias qumicas, organismos e rgos, adubos, religies, estilos de arte,lnguas, grupos sociais, comunidades. (Vickery, 1980, p. 212).

    No interior de cada categoria, dentro de um domnio de conhecimento,prope Ranganathan que os conceitos sejam organizados em renques e cadeias.

    5.2 Renques e cadeias

    Renques e cadeias so denominaes dadas por Ranganathan paradiferenciar, na formao de classes, sries verticais e horizontais de conceitos.

    Renques so classes formadas a partir de uma nica caracterstica dediviso, formando sries horizontais. Por exemplo: macieira e parreira soelementos da classe rvore frutfera, formada pela caracterstica de diviso -tipo de rvores frutferas.

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    Organizao de domnios de conhecimento e os princpios ranganathianos

    Renque rvore frutfera macieira parreiraCadeias so sries verticais de conceitos em que cada conceito tem

    uma caracterstica a mais ou a menos conforme a cadeia seja descendente ouascendente. Por exemplo: macieira um tipo de rvore frutfera, que por suavez um tipo de rvore. Neste exemplo, observa-se uma cadeia ascendente.

    Cadeia rvore rvore frutfera macieiraOs renques e cadeias revelam a organizao da estrutura dassificatria

    que totalmente hierrquica, evidenciando as relaes hierrquicas de gnero-espcie e de todo-parte. Ranganathan desenvolve uma srie de regras (cnones)para estabelecer uma conduta uniforme na formao dos renques e cadeias.Neste estudo, interessam-nos os cnones da exaustividade e da exclusividade,pois estabelecem princpios para pensar a formao de classes de conceitos.

    O cnone da exaustividade estabelece que as classes formadas porum renque devem ser exaustivas, de modo que, se algum tpico novo surgir,ele deve ser acrescentado estrutura, e esta tem que ter hospitalidade3 paraagrup-lo numa classe existente ou numa classe recm-formada.

    O cnone da exclusividade estabelece que os elementos formadoresdos renques devem ser mutuamente exclusivos, ou seja, nenhum componenteda estrutura (isolado ou assunto bsico) pode pertencer a mais de uma classeno renque. Ranganathan, desse modo, no aceita a polihierarquia.

    6 Consideraes finais

    Os princpios apresentados por Ranganathan para a elaborao deuma base terica slida, visando a construo de classificao bibliogrfica,como pode ser observado, de fundamental importncia para a organizaode domnios de conhecimento. A representao de um domnio de saber, seconfigura como princpio norteador para a organizao de documentos einformao. Dessa forma, consideramos que um repensar sobre estudosseminais, como o de Ranganathan, possam trazer novos rumos para conceitosatuais como o de organizao de domnios do conhecimento. Odesenvolvimento desses estudos, no mbito de modelos tericos derepresentao, permitir ao profissional de informao a possibilidade deatuar cada dia mais num espao interdisciplinar que englobe questes ligadas epistemologia, lgica, teoria cognitiva, computao e terminologia.

    Finalizando, interessante citar mais uma vez Ranganathan, quandodiz: O conhecimento um continuum, mas como uma espiral que retorna aoponto inicial para poder prosseguir. O ponto inicial est relacionado antes posio na espiral, que configura o surgimento de um novo fato, o qual,percorrendo todas as etapas do ciclo, desemboca em novos conceitos (teorias,tcnicas, procedimentos), como decorrncia do avano do conhecimento, ato surgimento de novos fatos, e o ciclo continua...

    Do ponto de vista da organizao do conhecimento, a ao

    3 Hospitalidade um conceitoapresentado por Ranganathan parainserir uma perspectiva de flexibilidadeem uma estrutura dassificatria, ou seja,toda classe de conceitos deve possuirmecanismos para incluso de novosconceitos que venham a surgir a partir dadinmica do conhecimento. ParaRanganathan o conhecimento umcontinuum dinmico e as representaes(como uma estrutura de classificao)devem possibilitar mecanismos que visemacompanhar esta dinmica.

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    permanente, contnua, como contnuo o conhecimento e os princpios deRanganathan do conta desta pecularidade,

    The organization of knowledge domains and the Ranganathan principles

    Nowadays one of the most discussed concepts in the field of Information Science isthat of Knowledge Organization. As such, forms of representation/organization ofdifferent domains of knowledge have a direct impact on processes of informationtransfer, now closely linked to retrieval in electronic media. But these questionshave been discussed by Shialy Ramamrta Ranganathan, within the domain ofClassification Theory. In this paper principles of Faceted Classification Theory, aswell as fundamentals of organization of domains of knowledge, are presented anddiscussed. Emphasis is given to the role of Ranganathan as a forerunner of KnowledgeRepresentation in Information Science.

    KKKKKeyeyeyeyey-words:-words:-words:-words:-words: Faceted Classification Theory; Domains of Knowledge -Organization

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    CAMPOS, Maria Luiza de Almeida. Linguagem documentria: teorias que fundamentam sua elaborao. Niteri, RJ: Eduff, 2001.

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    VICKERY, B. C. Classificao e indexao nas cincias. Rio de Janeiro: BNG/Brasilart, 1980. 274p.