organização da legislação previdenciária no contexto dos sistemas

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XVI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (XVI ENANCIB) ISSN 2177-3688 GT 2 – Organização e Representação do Conhecimento Comunicação Oral ORGANIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA NO CONTEXTO DOS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO 1 ORGANIZATION OF SOCIAL SECURITY LEGISLATION IN THE CONTEXT OF KNOWLEDGE ORGANIZATION SYSTEMS Andréia Gonçalves Silva, USP - FABCI/FESPSP [email protected] Marilda Lopes Ginez de Lara, USP [email protected] Resumo: INTRODUÇÃO: A Lei de Acesso à Informação Pública (LAI) regulamenta o direito à informação estabelecido pela Constituição Federal de 1988, exigindo que os órgãos governamentais garantam o direito de acesso à informação pública mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão. Parte-se do pressuposto de que as leis produzidas pelo Legislativo estão neste contexto e por isso devem ser disponibilizadas ao cidadão num formato simples e acessível. Para tanto, precisam ser organizadas, estruturadas e disseminadas, conforme as necessidades do público em geral. OBJETIVO: Apresentar proposta para a elaboração de um sistema de legislação previdenciária para públicos não especialistas sob o ponto de vista da Organização e Representação do Conhecimento. METODOLOGIA: Recorre-se a metodologias da Organização Representação do Conhecimento, sobretudo relativas à elaboração de tesauro, para organizar e estruturar os termos da legislação previdenciária; estabelecer relações entre categorias e termos (relação hierárquica, relação associativa e relação de equivalência); definir entradas preferenciais e estabelecer rótulos. RESULTADOS: A experiência mostra que é possível melhorar o acesso à informação legislativa em geral utilizando como referência as reflexões e práticas utilizadas para organizar a legislação previdenciária. Modelo semelhante pode ser aplicado à organização de outras leis utilitárias ao cidadão, sobretudo as que regulamentam direitos sociais. CONCLUSÃO: Conclui-se que é possível elaborar um sistema de informação legislativa a partir de metodologias da Organização e Representação do Conhecimento e de outras áreas que dialogam com a Ciência da Informação. A Lei de Acesso à Informação impõe que os órgãos públicos disponibilizem acesso à informação, no entanto, não é possível disponibilizar sem organizar. Do mesmo modo, não é possível disponibilizar sem adequar a linguagem à realidade do cidadão. Iniciativas que buscam combater a desinformação legislativa são necessárias e contribuem para o pleno exercício da cidadania. 1 O conteúdo textual deste artigo, os nomes e e-mails foram extraídos dos metadados informados e são de total responsabilidade dos autores do trabalho.

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XVI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (XVI ENANCIB) ISSN 2177-3688

GT 2 – Organização e Representação do Conhecimento Comunicação Oral

ORGANIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA NO CONTEXTO DOS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO

CONHECIMENTO1

ORGANIZATION OF SOCIAL SECURITY LEGISLATION IN THE

CONTEXT OF KNOWLEDGE ORGANIZATION SYSTEMS

Andréia Gonçalves Silva, USP - FABCI/FESPSP [email protected]

Marilda Lopes Ginez de Lara, USP

[email protected] Resumo: INTRODUÇÃO: A Lei de Acesso à Informação Pública (LAI) regulamenta o direito à informação estabelecido pela Constituição Federal de 1988, exigindo que os órgãos governamentais garantam o direito de acesso à informação pública mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão. Parte-se do pressuposto de que as leis produzidas pelo Legislativo estão neste contexto e por isso devem ser disponibilizadas ao cidadão num formato simples e acessível. Para tanto, precisam ser organizadas, estruturadas e disseminadas, conforme as necessidades do público em geral. OBJETIVO: Apresentar proposta para a elaboração de um sistema de legislação previdenciária para públicos não especialistas sob o ponto de vista da Organização e Representação do Conhecimento. METODOLOGIA: Recorre-se a metodologias da Organização Representação do Conhecimento, sobretudo relativas à elaboração de tesauro, para organizar e estruturar os termos da legislação previdenciária; estabelecer relações entre categorias e termos (relação hierárquica, relação associativa e relação de equivalência); definir entradas preferenciais e estabelecer rótulos. RESULTADOS: A experiência mostra que é possível melhorar o acesso à informação legislativa em geral utilizando como referência as reflexões e práticas utilizadas para organizar a legislação previdenciária. Modelo semelhante pode ser aplicado à organização de outras leis utilitárias ao cidadão, sobretudo as que regulamentam direitos sociais. CONCLUSÃO: Conclui-se que é possível elaborar um sistema de informação legislativa a partir de metodologias da Organização e Representação do Conhecimento e de outras áreas que dialogam com a Ciência da Informação. A Lei de Acesso à Informação impõe que os órgãos públicos disponibilizem acesso à informação, no entanto, não é possível disponibilizar sem organizar. Do mesmo modo, não é possível disponibilizar sem adequar a linguagem à realidade do cidadão. Iniciativas que buscam combater a desinformação legislativa são necessárias e contribuem para o pleno exercício da cidadania.

1 O conteúdo textual deste artigo, os nomes e e-mails foram extraídos dos metadados informados e são de total

responsabilidade dos autores do trabalho.

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Palavras-chave: Organização e representação do conhecimento. Sistemas de organização do conhecimento. Legislação previdenciária. Informação legislativa. Lei de Acesso à Informação

Abstract: INTRODUCTION: The Law on Access to Public Information (LAI) regulates the right to information established by the 1988 Federal Constitution, demanding that the government agencies ensure the right of access to public information through objective and agile procedures, in a transparent and clear way with easy to understand language. It is assumed that the laws made by the Legislative branch are in this context and therefore should be made available to the public in a simple and accessible format. Thus, they need to be organized, structured and disseminated, according to the needs of the general public. OBJECTIVE: To introduce a proposal for a system of social security legislation accessible to non-specialists public from the point of view of Organization and Representation of Knowledge. METHODOLOGY: Recourse to methods of Knowledge Representation Organization, especially for the production of thesaurus to organize and structure the terms of the social security legislation; establish relationships between categories and terms (hierarchical relationship, associative relationship and equivalence relation); set preferred entry and establish labels. RESULTS: The experience of developing methodologies for improving access to legislative information using the social security legislation as a model was effective and can be applied to other useful laws to citizen, particularly the ones governing the social rights. CONCLUSION: It is concluded that it is possible to develop a system of legislative information from methodologies of Organization and Representation of Knowledge and other areas that dialog with the Information Science. The Law on Access to Information imposes agencies to provide access to information, however, it is not possible to make them available without organizing them. Similarly, it is not possible to make them available without adapting the language to the reality of the citizen. Initiatives that seek to combat legislative misinformation are necessary and contribute to the full exercise of citizenship. Keywords: Organization and representation of knowledge. Knowledge organization Ssstems. Social

security legislation. Legislative information. Law on access to information. 1 INTRODUÇÃO

A promoção do acesso à informação envolve procedimentos que não se restringem a

agrupar quantidade significativa de dados e informações e publicá-los num suporte impresso

ou digital. De modo contrário, para que haja eficiência no processo de divulgação da

informação é necessário utilizar critérios para sua organização e sistematização. O acesso à

informação, que é um direito fundamental reconhecido pela Constituição Federal de 1998 (CF

1988), foi regulamentado pela Lei de Acesso à Informação (LAI)2.

Com a publicação da LAI o cidadão pode requerer informação contida em registros ou

documentos produzidos ou acumulados pelos entes governamentais por meio do Serviço de

Informações ao Cidadão (SIC)3. Na concepção do legislador esse serviço deve atender e

orientar o público quanto ao acesso às informações, informar sobre a tramitação de

2 Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011. 3 Art. 9o O acesso a informações públicas será assegurado mediante: I - criação de serviço de informações ao cidadão, nos órgãos e entidades do poder público, em local com condições apropriadas (...).

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documentos nas suas respectivas unidades e protocolar documentos e requerimentos de acesso

às informações. O SIC dos órgãos públicos pode ser comparado ao Serviço de Atendimento

ao Consumidor (SAC) das empresas privadas. É nesses serviços que o cidadão ou consumidor

poderá requerer informações, tirar dúvidas, fazer reclamações, etc.

O texto da LAI também inovou ao exigir que os órgãos governamentais

disponibilizem informações de forma transparente, clara e em linguagem de fácil

compreensão.

Art. 5o É dever do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão (BRASIL. Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011.)

Para os órgãos governamentais cabe vencer dois desafios: (i) criar o serviço de

informação ao cidadão e (ii) disponibilizar informação numa linguagem que seja favorável ao

cidadão e lhe proporcione facilidade na compreensão e interpretação da informação recebida.

Numa análise dos artigos 5º e 9º da LAI verifica-se que o legislador se preocupou em

garantir o acesso à informação para o cidadão, mas não há menção de como isto será feito.

Sabe-se que antes de disponibilizar um serviço de informação é necessário ter critérios de

seleção, organização e representação da informação. Esses critérios são materializados em

arranjos da informação, ou seja, agrupamentos a partir de pontos de vista sobre a realidade.

Como a interpretação e a compreensão são adesivas, a comunicação depende de vínculos, a

partir dos quais os indivíduos se agregam ou desagregam. Esses vínculos são lógicos,

linguísticos, terminológicos e pragmáticos (BAITELLO, 1994; LARA, 2005)4.

Nos últimos anos o desafio de organizar informações tem chamado a atenção das

pessoas, no entanto esse desafio não é recente, há séculos profissionais de diversas áreas vem

lutando contra as dificuldades de organizar informações. A Biblioteconomia, subcampo da

Ciência da Informação, há muito se dedica à tarefa de organizar e fornecer acesso à

informação (ROSENFELD; MORVILLE, 2002). Do mesmo modo, a aréa da Ciência da

Informação se dedica à pesquisa cientifica e às práticas de organização, representação e

recuperação da informação. Para cumprir com esse papel utiliza metodologias de

representação da informação e do conhecimento.

Se as informações governamentais devem estar disponíveis aos cidadãos, é

recomendável que os textos legislativos fossem redigidos e disponibilizados à população em

4 LARA, Marilda Lopes Ginez de. Linguagem documentária, introdução: critérios de organização da informação. São Paulo: ECA-USP, 2005 (Slides: material didático não publicado).

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linguagem de fácil compreensão. Observa-se, no entanto, que na práxis os legisladores

utilizam estrutura textual, linguagem e redação que se distanciam do entendimento do público

em geral, mesmo nas leis que regulamentam questões que interferem diretamente na vida do

cidadão, como, por exemplo, as leis que regem o direito à seguridade e à previdência social

(leis 8.212/91 e 8.213/91).

As expressões técnicas, a redação rebuscada e os conceitos incompreensíveis para o

público não especialista são características comuns da redação jurídica mesmo em leis que

“falam” diretamente ao cidadão. O texto legislativo define direitos, regras, comportamentos e

obrigações que são impostas à população. Nesse sentido, defendem-se iniciativas que,

seguindo as diretrizes da Lei de Acesso à Informação, ofereçam acesso à informação de

interesse coletivo numa linguagem mais acessível e de fácil compreensão, principalmente das

leis que regulam os direitos sociais do cidadão. As leis previdenciárias se inserem neste

contexto, são de interesse coletivo e asseguram direitos sociais. A Lei 8.212/91 regulamenta a

organização da seguridade social e a Lei 8.213/91 dispõe sobre os planos de benefícios da

previdência social.

Para contribuir com as iniciativas existentes, o objetivo desta pesquisa é apresentar

proposta para a elaboração de um sistema de legislação previdenciária para públicos não

especialistas sob o ponto de vista da Organização e Representação do Conhecimento,

subcampo da Ciência da Informação.

2 LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

A primeira lei brasileira que tratava das questões previdenciárias foi um Decreto de

01/10/1821, de Dom Pedro, concedendo aposentadoria aos mestres e professores que

completavam 30 anos de serviço. No entanto, o marco da Previdência Social no Brasil foi a

publicação da Lei Eloy Chaves (Decreto 4.682 de 24/01/1923) que criou as Caixas de

Aposentadorias e Pensões para os ferroviários, em nível nacional, garantindo aposentadoria

por invalidez, doença, velhice e morte. Posteriormente, os benefícios foram estendidos para os

trabalhadores dos serviços portuários, marítimos, telegráficos, de luz, bonde e bancários, por

meio de legislações próprias. Com o passar do tempo, as caixas de aposentadoria e pensões

foram agrupadas em “Institutos de Aposentadoria e Pensões”. Em 1966, todos os institutos

foram unificados pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), o embrião do atual

INSS (MARTINS, 2010).

De 1923 aos dias atuais foram muitas as alterações e atualizações da legislação

previdenciária. Utilizando-se como ponto de partida a ano de 1988, tem-se como destaque: (i)

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promulgação da Constituição de 1988 que instituiu a seguridade social no Brasil

regulamentado-a nos artigos 194 a 204; (ii) criação, em 1990, do Instituto Nacional de Seguro

Social (INSS); (iii) publicação, em 1991, das leis 8.212, que trata do custeio da seguridade

social e 8.123, que estabelece os benefícios previdenciários; (iv) publicação da Lei Orgânica

da Assistência Social (LOAS), que trata da organização da assistência, em 1993; (v)

publicação em 1997 do Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, pelo Decreto

2.172, que posteriormente foi revogado pelo Decreto 3.048, de 1999, que unificou as

disposições das Leis 8.212 e 8.213; (vi) reforma do sistema previdenciário, em 1998, pela

Emenda Constitucional nº 20, que trouxe inúmeras modificações, contudo o maior impacto na

vida do cidadão foi a determinação de 35 anos de contribuição para o homem e 30 anos para a

mulher; (vii) introdução do fator previdenciário, em 1999 pela Lei 9.876, que trouxe

mudança na fórmula do cálculo dos benefícios prevendo a expectativa de vida do segurado

para o cálculo do benefício; (viii) regulamentação da previdência complementar, em 2001,

conforme disposições das leis complementares 108 e 109; (ix) o tratamento previdenciário

diferenciado para o Microempreendedor individual (MEI) que fatura até três mil reais mensais

(Lei Complementar 128/2008); (x) ampliação dos direitos trabalhistas e previdenciários dos

empregados domésticos (Emenda Constitucional nº 72/2013); (xi) alteração na concessão do

auxílio-doença e pensão por morte (Lei 13.135/2015); (xii) instituição do cálculo progressivo

para a aposentadoria por tempo de contribuição (Medida Provisória 676/2015). O cálculo

progressivo soma a idade do cidadão com o seu tempo de contribuição. Para receber 100% do

benefício sem a incidência do fator previdenciário, o homem deve somar 95 pontos e a mulher

85.

A Previdência Social tem a função de garantir que o cidadão tenha condições de

subsistir em tempos de penúria. Há em seu âmago a preocupação com o futuro, com os

dissabores que podem surgir quando o homem é impedido de garantir sua própria manutenção

ou a de sua família. De acordo com Martins (2010, p. 282) a Previdência Social é um

segmento da Seguridade Social composto de princípios, regras e instituições destinadas a

estabelecer um sistema de proteção social. Conforme preceitua o artigo 194 da Constituição

Federal de 1988, a Seguridade Social é um conjunto de ações dos poderes públicos e da

sociedade com a finalidade de assegurar os direitos à saúde, previdência e assistência social.

Como um ramo da seguridade social, a Previdência Social assegura a satisfação das

necessidades básicas dos beneficiários (segurados e dependentes). Ela é organizada sob a

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forma de regime geral5, de caráter contributivo e filiação obrigatória. Os benefícios garantidos

são estabelecidos no artigo 18 da Lei 8.213/91, que divide as prestações oferecidas pelo

Regime Geral da Previdência Social em três categorias, conforme ilustra a Figura 1:

• Para os segurados: aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez,

aposentadoria por tempo de serviço, aposentadoria especial, auxílio-doença, salário-

família, salário-maternidade, auxílio-acidente;

• Para os dependentes: pensão por morte, auxílio-reclusão;

• Para os segurados e dependentes: serviço social e habilitação e reabilitação

profissional.

Figura 1 – Cobertura previdenciária para os segurados e dependentes

Fonte: HORVATH JÚNIOR, 2014, p. 159.

Os segurados da Previdência Social são classificados em obrigatórios e facultativos.

Os que trabalham e possuem renda são segurados obrigatórios, já os que não possuem renda

fixa, como a dona de casa, o estudante, o bolsita, etc., são facultativos. Dentre os segurados 5 No Brasil há três tipos de regimes previdenciários: Regime Geral de Previdência Social (filiação obrigatória para qualquer cidadão acima de 16 anos); Regime Próprio da Previdência Social (filiação obrigatória para os servidores públicos e titulares de cargos eletivos) e Regime de Previdência Complementar (filiação facultativa para todo o cidadão que desejar ampliar os benefícios previdenciários). Nossa pesquisa concentrou-se nas regras do Regime Geral de Previdência Social.

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que exercem atividade remunerada há os que possuem vínculo empregatício (trabalhador

urbano ou rural) e os que não possuem vínculo empregatício e trabalham por conta própria

(autônomos), que são os chamados contribuintes individuais. Os trabalhadores rurais são

classificados ainda na categoria segurado especial: eles possuem regras diferenciadas para se

aposentar. Já os chamados trabalhadores avulsos possuem vínculo empregatício, mas prestam

serviços para várias empresas, por intermédio de sindicatos ou órgãos gestores. Eles são

segurados obrigatórios, mas quem recolhe a contribuição previdenciária é o órgão ao qual o

trabalhador está vinculado.

O direito aos benefícios previdenciários tanto para os segurados obrigatórios como

para os facultativos depende de arrecadação de recursos. Isto significa que no regime da

Previdência Social o indivíduo é obrigado a se filiar e pagar uma contribuição mensal para ter

garantida a cobertura financeira no momento de infortúnio. É diferente do sistema da

Seguridade Social, no qual o indivíduo não precisa contribuir para ter garantido o benefício.

Para usufruir dos benefícios previdenciários é necessário estar habilitado, que inclui,

por exemplo, pagar a contribuição mensal, ter a idade exigida, etc. Muitas vezes o cidadão,

seja ele segurado ou dependente, não sabe se está habilitado para pleitear seus direitos. Há

informações importantes que são desconhecidas e outras que não estão claras para eles. Neste

sentido, reconhece-se a importância de iniciativas que visam a divulgar e disponibilizar a

legislação previdenciária em uma linguagem e formato acessíveis para o cidadão não

especialista. Dependendo do grau de complexidade da linguagem e vocabulário utilizados, o

não especialista terá acesso à informação, mas precisará lançar mão de recursos que possam

orientá-lo no que se refere à compreensão e assimilação dos conceitos expressos em

terminologia especializada. De sorte que há serviços de informação que se voltam à

divulgação dos conhecimentos científicos ou sua vulgarização e procuram “propor pontes

entre linguagens, como alternativas de acesso à linguagem estereotipada das organizações

político-administrativas ou a linguagem sofisticada da ciência” (LARA FILHO; LARA,

2011).

O órgão da Administração Federal competente para gerenciar os assuntos

previdenciários é o Ministério da Previdência Social. Em seu portal há informação sobre os

tipos de benefícios previdenciários, orientações para a realização de cálculos e para

agendamento de atendimento, o inteiro teor da legislação previdenciária, entre outros

serviços. O portal do Ministério da Previdência Social será objeto concreto de análise na

presente pesquisa.

Page 8: organização da legislação previdenciária no contexto dos sistemas

3 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E OS MÉTODOS DE ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO

Dentre as principais questões da Ciência da Informação estão, para Saracevic (1995), a

preocupação com as formas mais promissoras para solucionar os problemas de informação e a

oferta de melhores sistemas de informação e serviços para os usuários. O campo se dedica à

organização intelectual da informação e à descoberta de formas para sua apresentação e busca,

recorrendo a processos que envolvem procedimentos técnicos e linguagem.

Atuando em dois polos – investigação científica e prática profissional – a Ciência da

Informação se volta para a produção de conhecimento e para a prática de organizar acervos

documentais, controlando todo o fluxo informacional. É o que atesta Borko em sua clássica

definição da área:

Ciência da Informação é a disciplina que investiga as propriedades e o comportamento informacional, as forças que governam os fluxos de informação, e os significados do processamento da informação, visando à acessibilidade e a usabilidade ótima. A Ciência da Informação está preocupada com o corpo de conhecimentos relacionados à origem, coleção, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação (BORKO, 1968, p. 3, tradução nossa)6.

Sua natureza interdisciplinar promove o diálogo com outras áreas do conhecimento tais como

Comunicação, Administração, Ciências Cognitivas, Biblioteconomia, Museologia, Arquivologia,

Linguística, Terminologia, Organização e Representação do Conhecimento (ORC), Tecnologia

da Informação e Arquitetura da Informação. O diálogo com outras áreas oferece aportes teóricos

e metodológicos para a sua evolução e sedimentação.

No âmbito da ORC, a Ciência da informação utiliza metodologias de representação da

informação e do conhecimento. Essas representações são conhecidas como Sistemas de

Organização do Conhecimento (SOC), do inglês Knowledge Organization Systems (KOS)7.

6 No original: Information science is a discipline that investigates the properties and behavior of information, the forces governing the flow of information, and the means of processing information for optimum accessibility and usability. It is concerned with that body of knowledge relating to the origination, collection, organization, storage, retrieval, interpretation, transmission, transformation, and utilization of information (BORKO, 1968, p. 3). 7 Nessa pesquisa adota-se o termo Sistemas de Organização do Conhecimento (SOC) e Organização e Representação do Conhecimento (ORC). Ressalta-se, no entanto, que na literatura da área predominam as expressões Knowledge Organization Systems (KOS) e Knowledge Organization (KO).

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3.1 OS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO (SOC)

Os Sistemas de Organização do Conhecimento são utilizados para representar

tematicamente um domínio, por meio de sistemas de conceitos e de relações entre eles. São,

na opinião de Souza, Tudhope e Almeida (2012, p. 181), “representações do conhecimento

baseadas em conceitos e com diferentes graus de relacionamentos entre eles8”.

Hodge (2000) apresenta uma visão mais abrangente do termo e destaca sua

importância para os Serviços de Informação:

O termo Sistemas de Organização do Conhecimento pretende abarcar todos os tipos de esquemas de organização de informações e promoção da gestão do conhecimento. Os sistemas de organização do conhecimento incluem esquemas de classificação que organizam materiais em um nível geral (tais como livros em uma prateleira), listas de cabeçalhos de assuntos que propiciam acesso mais detalhado, e listas de autoridade que controlam versões variantes de informações-chave (tais como nomes geográficos e nomes pessoais). Incluem, ainda, esquemas menos tradicionais, tais como redes semânticas e ontologias. Em razão dos Sistemas de Organização do Conhecimento serem mecanismos empregados para a organização de informações, eles são o coração de cada biblioteca, museu ou arquivo. (HODGE, 2000, tradução nossa)9.

Com a finalidade de organizar conceitos para fins de representação e recuperação da

informação, o Sistema de Organização do Conhecimento é uma denominação atual que

engloba as Linguagens Documentárias (LDs)10, mas não se restringem a elas. Para Carlan e

Bräscher (2015, p. 135) os SOC são sistemas conceituais semanticamente estruturados que

contemplam termos, definições, relacionamentos e propriedades dos conceitos. Cumprem o

objetivo de padronização terminológica para facilitar e orientar a indexação e os usuários.

Nos dias atuais, os Sistemas de Organização do Conhecimento são considerados

imprescindíveis para organizar informações armazenadas na web. Nesse contexto, o Simple

Knowledge Organization System (SKOS) é uma especificação da web semântica que

estabelece uma ponte entre as tendências da web semântica e as práticas tradicionais de

controle do vocabulário e organização do conhecimento. De iniciativa da World Wide Web

8 No original: KOS as knowledge representations based on concepts and with different degrees of relationships. 9 No original: The term knowledge organization systems is intended to encompass all types of schemes for organizing information and promoting knowledge management. Knowledge organization systems include classification schemes that organize materials at a general level (such as books on a shelf), subject headings that provide more detailed access, and authority files that control variant versions of key information (such as geographic names and personal names). They also include less-traditional schemes, such as semantic networks and ontologies. Because knowledge organization systems are mechanisms for organizing information, they are at the heart of every library, museum, and archive. 10Denominação utilizada para falar dos instrumentos intermediários ou de comutação “através dos quais se realiza a “tradução” da síntese dos textos” (CINTRA et al., 2002, p. 34).

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Consortium (W3C) os SKOS oferecem um modelo para representar a estrutura básica e o

conteúdo de esquemas conceituais, como oferecem os tesauros, os sistemas de classificação,

as listas de cabeçalhos de assuntos etc. Arquivos, bibliotecas e centros de documentação

podem aplicar as especificações dos SKOS (MOREIRO GONZÁLEZ, 2011, p. 44-45).

De acordo com Zeng (2008, p. 161) e Souza, Tudhope e Almeida (2012, p. 181), os

Sistemas de Organização do Conhecimento podem ser categorizados em grandes grupos, que

vão dos mais simples aos mais complexos. Dentre os diversos grupos de SOC que podem ser

citados, destacam-se:

� Lista de termos: Relação de palavras, algumas vezes, acompanhadas de definições.

Todas as suas entradas são formadas por termos preferenciais. As listas de termos, com

exceção das folksonomias, são fontes de informação que controlam as formas corretas de

uso ou apresentam as acepções e variações de termos ou palavras. São exemplos de listas de

termos: lista de autoridade; dicionários; glossários; dicionário geográfico (índices

toponímicos, gazetteers); Folksonomia e Anéis de Sinônimos (Synonym rings).

� Categorização e classificação: Os termos ou códigos são estruturados em conjuntos

temáticos e hierarquicamente. A lista de cabeçalho de assuntos, o vocabulário controlado, os

sistemas de classificação e a taxonomia são exemplos de categorização e classificação.

� Lista de relacionamentos: Apresenta relação entre os conceitos definidos. As

relações podem ser hierárquicas, de equivalências ou associativas. As ontologias, os tesauros,

a rede semântica e os mapas conceituais, mentais, topic maps são exemplos de listas de

relacionamentos.

A complexidade, o nível de estruturação e as funções dos SOC variam conforme a

tipologia. Glossários e dicionários precisam o significado de um termo numa dada área de

especialidade; sistemas de classificação são instrumentos mais antigos que hoje se prestam

mais à organização física de acervos, porém continuam contribuindo para a distribuição dos

assuntos em grupos temáticos; listas de cabeçalho de assuntos originalmente apenas

controlavam as variações sinonímicas e agregavam algumas relações hierárquicas. Hoje,

buscam maior estruturação para assemelhar-se aos tesauros; tesauros possuem todas as

funções citadas anteriormente e também estabelecem relações de associação entre os termos,

ampliando a rede semântica entre eles, o que contribui para a contextualização do significado

dos termos; as ontologias e redes semânticas integram a apresentação de propriedades de um

termo, e geralmente focalizam uma área temática ou de atividade.

Os níveis de estruturação contribuem para a coesão dos Sistemas de Organização do

Conhecimento e, consequentemente, para o melhor entendimento dos conceitos, permitindo

Page 11: organização da legislação previdenciária no contexto dos sistemas

enfrentar a polissemia, fenômeno natural do vocabulário. A próxima figura mostra a análise

comparativa das funções e características dos SOC segundo o nível de estruturação. Há um

grau crescente no número de funções conforme se avança nas dimensões de cada grupo.

Listas de termos possuem um grau menor de funcionalidade se comparadas, por exemplo,

com o tesauro.

Figura 2 – Tipos e função dos Sistemas de Organização do Conhecimento

Fonte: ZENG (2008, p. 161).

A decisão sobre qual é o SOC mais apropriado para um Serviço de Informação requer

a análise de alguns critérios, como, por exemplo, dos tipos documentais a que se busca

organizar, das necessidades dos usuários, do meio em que a informação será disponibilizada,

do grau de complexidade que se pretende representar a informação, do hardware e software

que serão utilizados, entre outras questões que envolvem a escolha de um sistema para

organização das informações.

Para a nossa proposta de organização de um sistema de informação legislativa

utilizaremos a metodologia utilizada para a construção de tesauros. O tesauro é um

vocabulário controlado e estruturado no qual os conceitos são representados por termos e

organizados por relações entre eles. Os termos considerados não preferidos (sinônimos e

quase sinônimos) remetem aos descritores, ou termos preferidos. A elaboração do tesauro é

sustentada por normas documentárias. A norma ISO 25964-1/2 é a norma internacional mais

atual. Ela atualiza, revisa e substitui as ISO 2788 e 5964, bem como algumas partes da BS

8723. Sua estrutura está dividida em duas partes. A parte 1 - Thesauri for information

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retrieval - contempla o desenvolvimento e manutenção de tesauros monolíngues e

multilíngues, incluindo orientações sobre desenvolvimento, gerenciamento e manutenção de

tesauro, requisitos funcionais para o software gerenciar tesauros e formatos e protocolos para

intercâmbio de dados. A parte 2 - Interoperability with other vocabularies – trata da

interoperabilidade entre diferentes tesauros e outros tipos de vocabulários estruturados, como

os esquemas de classificação, taxonomias, listas de cabeçalho de assunto, ontologias, listas de

nomes de autoridades e anéis de sinônimos11 (CLARK; ZENG, 2012, p. 24-25). A elaboração

de tesauros também é sustentada pelas normas terminológicas ISO 704 - Terminology work-

principles and methods e ISO 1087 - Terminology work – vocabulary. A adoção da norma

para elaboração de tesauros traz benefícios para a área de Organização da Informação e

Conhecimento na medida em que orienta o relacionamento entre conceitos: a hierarquização

(estabelecimento de categorias, níveis de subordinação), a construção de redes de

equivalência (identificação dos sinônimos ou quase sinônimos) e de relações associativas

(complementam o sentido de um termo).

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia da pesquisa seguiu o caráter exploratório, dividindo-se em duas etapas.

No primeiro momento, estudo bibliográfico sobre as temáticas organização e representação do

conhecimento; acesso à informação legislativa, legislação previdenciária, terminologia,

análise de conteúdo e arquitetura da informação. No segundo momento, os passos para a

constituição de proposta para elaboração de sistema de informação legislativa centrado no

usuário não especialista.

O segundo momento partiu do levantamento da terminologia do domínio

previdenciário seguido de sua organização de modo estruturado, contemplando os

relacionamentos entre conceitos e variação de designações. O exercício compreendeu as

seguintes etapas:

• Análise do Portal do Ministério da Previdência Social

(http://www.previdencia.gov.br);

• Compreensão e estudo da doutrina e da legislação previdenciária;

• Escolha do corpus legislativo no que se refere à legislação previdenciária (Leis

8.212/1991, 8.213/1991 e Decreto 3.048/1999).

11 INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION. ISO 25964-1: thesauri and interoperability with other vocabularies. Part 1: Thesauri for information retrieval. Geneve: International Standard Organization, 2011

Page 13: organização da legislação previdenciária no contexto dos sistemas

• Análise das cartilhas que tratam do tema legislação previdenciária, principalmente as

disponibilizadas no Portal da Previdência Social;

• Seleção de termos/conceitos previdenciários relevantes para o cidadão não

especialista;

• Estabelecimento de categorias para a organização dos termos selecionados;

• Comparação dos termos das leis previdenciárias selecionadas com os descritores dos

vocabulários e tesauros jurídicos, a fim de validar e selecionar rótulos mais adequados

para um sistema de informação previdenciário acessível ao cidadão não especialista.

Foram analisados o Vocabulário Jurídico Controlado do Superior Tribunal de Justiça

(STJ)12, o Tesauro da Justiça Federal13 e o Thesaurus do Senado Federal14.

• Definição dos termos preferenciais (rótulos);

• Utilização das diretrizes da norma de elaboração de tesauros (ISO 25964-1:2011) para

organização dos termos preferenciais

• Elaboração da proposta de estruturação do sistema de informação legislativa.

5 ORGANIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA NO CONTEXTO DOS

SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO: ALGUNS RESULTADOS

Os sistemas de informação legislativa, principalmente de leis que “falam ao cidadão”,

podem ser organizados e estruturados com categorias e conceitos de fácil entendimento,

conforme estabelece a Lei de Acesso à Informação. O apoio das metodologias de Organização

e Representação do Conhecimento, especificamente da norma de elaboração de tesauros, e da

Terminologia permite criar linguagens de interface, que se mostram úteis para compatibilizar

a linguagem legislativa e a linguagem de vulgarização. Esta permite contemplar a interação de

usuários não especializados nos serviços de informação. Para tanto, é preciso, de um lado,

consultar as referências legislativas específicas e, de outro, identificar formas alternativas para

dar acesso e facilitar a consulta de não especialistas, desenvolvendo um trabalho no universo

da linguagem.

Da análise do portal do Ministério da Previdência Social e da legislação previdenciária

notou-se que alguns termos não eram favoráveis ao entendimento do cidadão. Daí a

importância das metodologias para a construção de tesauros que permitiu definir categorias,

12 Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/thesaurus>. 13 Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/biblioteca>. 14 Disponível em: <http://www.senado.gov.br/publicacoes/thes/asp/apresentacao.asp>.

Page 14: organização da legislação previdenciária no contexto dos sistemas

estabelecer linguagens de equivalência, controlar sinônimos e estabelecer relacionamentos

entre os termos (rótulos).

De um modo geral, a proposta de organização conjuga, simultaneamente,

subordinação por tipo (gênero/espécie) e associação. Ressalta-se que, embora seja usual, nos

sites, a apresentação sob forma de árvore, nem sempre os rótulos se caracterizam

exclusivamente por subordinação: ao contrário, muitas vezes as ‘subordinações’ misturam

relações hierárquicas e associativas, utilizando critérios pragmáticos, mais do que lógicos. A

Figura 3 apresenta as categorias sugeridas.

Figura 3 – Categorias sugeridas

Fonte: Elaborado pelas autoras.

No que se refere ao tratamento visual dos objetos de conteúdo (notícias, imagens,

animação, vídeo, mapa, calendário, menus, links) recomenda-se que as informações sejam

Page 15: organização da legislação previdenciária no contexto dos sistemas

representadas de forma a facilitar a pesquisa pelos usuários. Fornecer navegação por

diagramas pode ser uma estratégia significativa. Ao disponibilizar informações de forma pré-

coordenada, como nas listas de cabeçalho de assunto, é possível oferecer sugestões de

pesquisa para o usuário que não sabe exatamente o que procura, conforme demonstra a

próxima figura.

Figura 4 – Sugestão de layout

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Além da disponibilização da informação em diagramas, os ícones, juntamente com

rótulos textuais podem facilitar a localização da informação desejada. Para Rosenfeld e

Morville (2002, p. 91) ícones podem representar informações, da mesma forma que textos.

Page 16: organização da legislação previdenciária no contexto dos sistemas

Eles recomendam, no entanto, que os rótulos icônicos sejam apresentados junto com os

rótulos textuais para não comprometer a usabilidade do site.

As informações foram organizadas sob forma de estrutura e relacionamentos,

princípios que estão na base das metodologias de organização defendidas pelo subcampo

Organização e Representação do Conhecimento, tal forma de apresentação de informações

permite estabelecer vínculos de adesão com seus públicos, à medida que observa os critérios

de ordenação lógicos, linguístico-comunicacionais, terminológicos e pragmáticos.

Acredita-se que os procedimentos utilizados para organizar a legislação previdenciária

podem ser estendidos a outras leis sociais de importância para o cidadão. Para tanto,

recomenda-se observar as seguintes etapas:

• Seleção da lei que será organizada e estruturada de forma simplificada;

• Estudo da terminologia das leis selecionadas para a compreensão e interpretação dos

conceitos (consulta aos instrumentos do Direito e uso das bases teóricas da

Terminologia teórico-metodológica e concreta);

• Seleção dos termos que representam informações relevantes e que podem ser rótulos

para o cidadão acessar o conteúdo da lei (uso das bases teóricas da Terminologia e

Organização e Representação do Conhecimento);

• Estabelecimento de categorias para a inclusão dos termos selecionados (uso das bases

teóricas da Análise de Conteúdo e da Organização e Representação do

Conhecimento);

• Comparação dos termos selecionados com descritores de vocabulários controlados

(uso das bases teóricas da Organização e Representação do Conhecimento);

• Seleção dos termos preferenciais (uso das referências teóricas da Terminologia e da

Organização e Representação do Conhecimento);

• Estabelecimento das relações entre termos e categorias (uso das bases teóricas da

Terminologia Teórica e da Organização e Representação do Conhecimento, sobretudo

das recomendações da norma para elaboração de tesauro – ISO 256964-1:2011);

• Análise de sites, portais ou outras fontes de informação referendadas no contexto da

lei selecionada para validar os termos preferenciais (uso da Arquitetura da

Informação);

• Organização do layout do sistema de informação legislativa, sobretudo da

disposição dos rótulos textuais e iconográficos e do sistema de busca (uso das bases

teóricas da Arquitetura da Informação).

Page 17: organização da legislação previdenciária no contexto dos sistemas

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As bases teóricas e práticas da Organização e Representação do Conhecimento,

subcampo da Ciência da Informação, aliadas à Terminologia, permitiram representar

tematicamente o domínio por meio da delimitação do sistema de conceitos da previdência,

identificar os termos que correspondem aos conceitos e estabelecer relações entre eles.

Especificamente, foi a utilização das metodologias para a construção de tesauros e

vocabulários (em especial a norma ISO 25964-1:2011) que permitiu estruturar o sistema de

informação legislativa. O tesauro, no conjunto dos Sistemas de Organização do Conhecimento

se mostra um meio para realizar a intermediação entre linguagens (linguagem do público-

alvo) e (linguagem adotada na legislação).

Em nossa proposta de organização da informação legislativa procurou-se apresentar

uma experiência passível de ser generalizada para outras leis utilitárias ao cidadão.

A Lei de Acesso à Informação estabelece que é dever do Estado disponibilizar

informação em linguagem simples e de fácil compreensão. A Ciência da Informação, em

especial o subcampo Organização e Representação do Conhecimento e as ciências com as

quais dialoga, pode cumprir com essa missão. Cabe a outras instâncias assumirem seus papéis

para que a informação jurídico-legislativa esteja mais próxima, mais acessível e mais

compreensível à população que não comunga dos conhecimentos especializados dos

profissionais das Ciências Jurídicas. Ambos os esforços permitem diminuir a desinformação

legislativa e criar uma geração de cidadãos mais participativos e críticos, que conheçam seus

direitos e deveres.

REFERÊNCIAS

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