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ORALIDADE – uma prática em sala de aula
Edison José Warken ¹Maria Cristina Fernandes Robazkievicz ²
Resumo
As reflexões presentes neste artigo foram desenvolvidas a partir da aplicação de prática da oralidade em sala de aula. Constituindo-se numa inovação positiva e podendo ser fator de desenvolvimento do estudo e de aptidões linguísticas. A oralidade, que é tão importante quanto ler e escrever, é a principal modalidade de comunicação utilizada por todos nós quando interagimos e muitas vezes não está tendo espaço que lhe é devido no ensino da língua materna. A realização de atividades orais ganha importância à medida que pode facilitar o ensino de língua portuguesa, além de contribuir para as práticas sociais dos alunos. A partir de estudos realizados foram planejadas estratégias de ação que promovessem situações constitutivas do dia a dia do aluno e propiciassem o uso da argumentação a fim de prepará-los para ter um espírito crítico consciente.Tais atividades foram desenvolvidas com alunos das 7as Séries (8º ano) do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Barão do Cerro Azul. Buscou-se usar a oralidade nas variadas esferas sociais de modo que os alunos sejam capazes de, entre outras competências discursivas, compreenderem os textos orais com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente. Tendo como principal objetivo formar cidadãos que saibam usar a língua em diferentes esferas comunicativas, a fim de que possam ter acesso aos bens culturais para almejar a participação plena no mundo letrado.
Palavras Chave: oralidade; leitura; produção textual
¹ Professor Graduado em Letras (Português/Inglês), Especialista em Língua Portuguesa e Literatura pela FAFIUV, professor do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e professor do Colégio Estadual Barão do Cerro Azul – Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional.
² Professora Graduada em Letras (Português/Inglês), Especialização em LinguìsticaAplicada, Mestrado em Linguística Aplicada. Professora da FAFIUVColegiado de Letras e Pedagogia.
1 Introdução:
Ao tratar este tema toma-se por base minha experiência como
professor. Constitucionalmente a escola é democrática e deve garantir a
socialização do conhecimento.
No dia-a-dia da maioria das pessoas, a fala é a prática discursiva mais
utilizada. Desta forma, as atividades orais pretenderam oferecer ao aluno
condições de falar com fluência em situações formais. O acesso à norma
padrão é direito dos alunos e é obrigação da escola. Uma de suas funções é
possibilitar aos alunos o acesso e o domínio da língua padrão.
Para um imenso contingente de alunos, a escola pública é que oferece
a oportunidade de acesso à norma culta, ao conhecimento social e
historicamente construído e a instrumentalização que favoreça sua inserção
social e exercício da cidadania.
É sabido que o professor da língua materna, no direcionamento de
seus objetivos relativos à prática da oralidade, deve privilegiar uma prática que
tenha por fim a reflexão, ou seja, saber por que ensinar, que tipo de conteúdo
ensinar, que variedade linguística deve ser abordada, proporcionando uma
relativa auto-suficiência do aluno.
O ensino não pode ter como eixo central apenas o assunto que se
ensina. É necessário que se faça uma ponte sobre o que é ensinado e a real
necessidade do aluno. É preciso fazer dos assuntos abordados uma
oportunidade para que esses educandos as utilizem em novas aprendizagens.
Desse modo, deve-se considerar como ponto de partida os
conhecimentos linguísticos dos alunos abordando a oralidade como importante
forma de comunicação e interação. Essa prática se constitui como inovação
positiva e pode ser fator de desenvolvimento do estudo e de aptidões
linguísticas. Tais atividades ganham importância à medida que pode facilitar o
ensino da língua materna, contribuindo, assim, para as práticas sociais dos
educandos. Uma vez que a prática da oralidade sempre fez parte das
atividades cotidianas em sala de aula.
Na ocorrência das apresentações de atividades de expressão oral
desenvolvidas em sala de aula na disciplina de Língua Portuguesa
encontramos, por parte de muitos alunos, dificuldades de se expressarem.
Muitos apresentam dificuldades em apresentarem ideias claras ao expor os
seus argumentos e de compreenderem a mensagem expressa no discurso de
outros. Além de muitos apresentarem falta de habilidade ao organizar os turnos
da fala ao analisar os argumentos apresentados pelos colegas, dessa maneira,
torna-se imperioso que o apreendente adquira a habilidade de utilizar um
número cada vez maior de recursos da língua adequado a cada situação de
interação comunicativa.
Este artigo relata o processo de aplicação de um conjunto de
atividades em que a prática da oralidade se faz presente com alunos das 7ª
séries (8º ano) do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Barão do Cerro
Azul – Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional, de Cruz Machado,
Estado do Paraná. O trabalho relatado consiste na implementação de
atividades elencadas na unidade didática “Oralidade: uma prática em sala de
aula”. Tais atividades foram desenvolvidas com vistas a oportunizar um
trabalho baseado na oralidade em que o aluno converta o conhecimento
linguístico que lhe é inerente em reflexões para a construção do seu
aprimoramento. Sendo capaz de desenvolver e ampliar a expressão oral e a
capacidade da argumentação nas diversas situações enfrentadas diariamente
pelo aluno. A partir de tais atividades, que desenvolva hábitos de leitura que
contribuam para o desenvolvimento da elaboração de um raciocínio e a
consequente expressão deste. Aprimore o trabalho com gêneros orais
promovendo o desenvolvimento da argumentação e que a partir desse
conhecimento seja capaz de adequar os diversos gêneros usados em
diferentes esferas sociais. Desenvolvendo assim a percepção da unidade de
sentido do texto oral, organizando os argumentos utilizados tendo em mente o
papel do locutor e do interlocutor na prática da oralidade. Sendo capaz de
reconhecer a contribuição complementar de elementos não verbais (gestos,
expressões faciais, postura corporal).
A oralidade, que é tão importante quanto o ato de ler ou escrever, é a
primeira modalidade de comunicação utilizada por todos e necessita ocupar o
seu devido espaço em sala de aula. Afirma Bagno (2009):
O objetivo da escola, no que diz respeito à língua, é formar cidadãos capazes de se exprimir de modo adequado e competente, oralmente e por escrito, para que possam se inserir de pleno direito na
sociedade e ajudar na construção e na transformação dessa sociedade.
Dessa forma, transformando-os em cidadãos que saibam usar a língua
em diferentes situações comunicativas, para que possam ter acesso aos bens
culturais para almejar a participação plena no mundo letrado. Como sugere
Marcuschi (1995):
Enfocar a oralidade no ensino da língua não implica ensinar a falar, mas ajudar o aluno a identificar o que se faz quando se fala, apontando assim, para um trabalho com a oralidade.
Ao reconhecer o que é necessário para um sujeito ocupar o seu espaço
no mundo, buscamos por uma ação pedagógica comprometida com a evolução
do aluno. Através de situações reais a fim de levar ao reconhecimento dos
diversos contextos comunicativos o ato da fala, sendo ofertado ao aluno
oportunidades para sua evolução nesse processo.
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 Letramento
O desenvolvimento da língua oral e o desenvolvimento da escrita se
suportam e se influenciam mutuamente. As habilidades comunicativas dos
sujeitos podem variar dependendo dos grupos sociais a que pertencem.
Pautados nessa visão propomos um trabalho que leve alunos a gostar de ler,
entender o que está lendo, produzir textos e também ter coragem para a
expressão oral. E é neste contexto que inserimos a necessidade de
entendermos o conceito de letramento.
Magda Soares (1998) traçou a história da palavra letramento, originada
do termo inglês literacy, e introduzida na nossa língua em meados da década
de 1980. Assim definiu letramento:
[...] o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e
escrever: o estado ou condição que adquire um grupo
social ou um indivíduo como consequência de ter-se
apropriado da escrita (SOARES, 1998, p. 18).
A autora considera que o letramento traz consequências (políticas,
econômicas, culturais etc.) para indivíduos e grupos que se apropriam da
escrita, fazendo com que esta se torne parte de suas vidas como meio de
expressão e comunicação. Letrado, no sentido em que estamos usando esse
termo, é alguém que se apropriou suficientemente da escrita e da leitura a
ponto de usá-las com desenvoltura, com propriedade, para dar conta de suas
atribuições sociais e profissionais.
2.2 Oralidade.
A linguagem oral é aprendida pelo indivíduo em seu ambiente de
convivência, onde com pais e familiares aprende a falar. A oralidade, assim
como outros segmentos, tem suas particularidades, e à medida que é praticada
tem sua autenticidade pelo falante, sendo um processo individual, no qual a
experiência melhora a cada nova situação de interlocução.
Segundo Brasil (1997) “a linguagem é uma forma de ação individual
orientada por uma finalidade específica; um processo de interlocução que se
realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade.
Dessa forma, se produz linguagem tanto numa conversa em encontros nas
ruas, entre amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou redigir uma
carta. A linguagem verbal possibilita ao homem representar a realidade física e
social e desde o momento em que é aprendida conserva um vínculo muito
estreito com o pensamento”.
A modalidade discursiva oralidade deve ter lugar assegurado também em
sala de aula, é uma das principais modalidades de comunicação utilizada por
todos nós quando interagimos. Utiliza conhecimentos anteriores do aluno que
contribuem para o processo de aprendizagem. É a forma como a língua falada
se manifesta e como esta pode influenciar na aquisição da escrita de inúmeras
formas, visto que falamos diferente da forma como escrevemos.
Para Marcuschi (2001) a oralidade é uma modalidade de uso da língua,
comunicativa e interativa, que se utiliza de diversos gêneros para expressar a
mensagem, do locutor para o interlocutor, em contextos diversos – formais ou
informais. É importante colocar que a fala e a escrita são práticas igualmente
eficazes como objetos de ensino, ambas permitem a construção de textos
coerentes e coesos.
Este mesmo autor classifica a fala como uma produção textual
discursiva e interativa que se utiliza da oralidade e do próprio corpo – gestos,
expressões faciais, mímica, sons – para passar a mensagem e sua aquisição
ocorre naturalmente enquanto a escrita é adquirida na escola e se caracteriza
pela constituição gráfica para complementar a fala. Se a fala e a escrita
possuem particularidades específicas, como a primeira utilizar-se de sons,
repetições, expressões orais como “né, aí", uso da norma coloquial menor
tempo para elaboração e a segunda utilizar-se de grafia, um conhecimento dos
sinais gráficos, da norma padrão, um tempo maior para a elaboração entre
outros, estas podem acarretar algumas dificuldades aos alunos, especialmente
àqueles que não têm contato com o dialeto padrão, eis o porquê de apresentá-
las, pois quanto mais cedo as conhecerem e diferenciarem menor será o grau
de dificuldade.
Segundo Brasil (1997), a escrita alfabética apenas não garante ao
aluno a possibilidade de compreender e produzir textos em linguagem escrita,
pois primeiro é necessário ensinar como a língua se organiza, o vocabulário
adequado ao texto oral e escrito e os recursos coesivos que lhe serão
característicos. Existem pessoas profundamente letradas nas práticas da
escrita, porém com um desempenho oral muito inseguro, ou mesmo uma
expressão oral pouco comunicativa. Um sujeito letrado não é apenas aquele
que tem domínio absoluto das práticas da escrita, mas aquele que tem um
desempenho social razoável e suficiente, capaz de saber quanto tem em valor
de dinheiro em sua carteira, de identificar produtos e preços numa prateleira de
mercado, de saber a estrutura de diferentes gêneros textuais, entre outras
habilidades. Até um analfabeto pode participar ativamente de eventos de
letramento. Portanto, letramento não envolve somente práticas escritas
formais.
Se é necessário um contato maior com a língua padrão para desenvolvê-
la, Possenti também alega “(...) compete à escola uma metodologia que passa
pela exposição constante do aluno ao maior número possível de experiências
linguísticas na variedade padrão”, a leitura e o debate são alternativas para
entrar em contato com o novo”.Possenti (1996, p. 84).
Ao oferecer a oportunidade de aproximação e exposição com a língua
padrão, o aluno aprenderá com mais espontaneidade e maior interesse.
Portanto, é necessário apresentar aos alunos, de diferentes formas, a língua
padrão. Entre estas formas a oralidade, a diversidade de textos, como por
exemplo: os literários, as músicas, os jornais, entre outros, que podem ser
utilizados no contexto escolar, visando um contato maior com a variedade
padrão e ao mesmo tempo diminuindo as dificuldades geradas pela falta de
domínio da mesma. Desse modo, os professores podem contribuir para que o
primeiro contato com a linguagem padrão ocorra de forma agradável, para que
assim não ocorra resistência ao novo e ao mesmo tempo para que não haja
preconceitos com a fala do outro.
Este encorajamento pode ocorrer através do contato mais próximo com
a oralidade, para que a internalização das estruturas das regras da língua
portuguesa auxiliem o aluno a refletir sobre seu objeto de estudo e para que o
uso dos mesmos conhecimentos auxilie no desenvolvimento do aluno e na
construção individual do saber.
Para Brasil, ensinar língua oral deve significar para a escola possibilitar
acessos a usos da linguagem mais formalizados e convencionais, que exijam
controle mais consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a
importância que o domínio da palavra pública tem no domínio da cidadania
(Brasil, 1998, p.67).
Desse modo, o trabalho com oralidade pode auxiliar o aprendiz na
construção e no aprimoramento do saber, na criticidade e oferecer uma
oportunidade para adquirir o domínio da palavra. A escola deve promover um
ensino, a fim de que o aluno seja capaz de aprimorar sua competência
linguística discursiva, com práticas de produção oral através de atividades que
envolvam conversações formais e informais, de maneira natural, ensinando aos
alunos através de métodos didáticos de comunicações orais, para se chegar a
um discurso significativo pelo uso adequado às práticas e à situação a que se
destina.
Como afirma Bagno (1999), os professores precisam conhecer a língua
e descobrir maneiras prazerosas para direcionar os estudos de forma
agradável, para tornar os alunos bons “motoristas da língua”.
De tal modo é necessário preparar o aluno para a prática oral, visto que,
em muitos momentos de sua vida, a comunicação oral será de extrema
importância para a sua cidadania. O professor da língua materna deve
determinar seus objetivos relativos à prática da oralidade, privilegiando uma
prática que tenha por fim a reflexão, ou seja, saber por que ensinar, que tipo de
conteúdo ensinar, que variedade linguística deve ser abordada, proporcionando
uma relativa auto-suficiência do aluno.
Escrevendo, lendo e discutindo a linguagem, os alunos compreendem
melhor a relação entre linguagem e a sociedade e descobrem que com a
palavra podem interagir, impor regras, registrar informações, transmitir
conhecimentos e, ainda, expressar pensamentos e idéias (Pisciotta, 2001,
p.127).
Entre as propostas de trabalhar a oralidade há as possibilidades de
proporcionar aos alunos atividades prazerosas e interessantes como:
pesquisas sobre aspectos da cultura local como “ditados populares”, cantigas
infantis, crendices, lendas, jogos infantis, receitas típicas, remédios caseiros,
para utilizar na discussão do tema, produção de textos e análise gramatical,
bem como na transcrição do texto falado adaptando-o aos padrões da norma
escrita.
É importante destacar que devido ao fato de a língua falada ser mais
flexível que a língua escrita, sua manifestação pode auxiliar no
desenvolvimento da criatividade, visto que o estudante entrará em contato com
diferentes formas de manifestações e diferentes conteúdos lexicais que irão
auxiliar na aquisição da língua materna e na construção do saber.
Outra forma de manifestação da linguagem oral pode ocorrer com a
divulgação de materiais produzidos ou lidos pelos alunos aos demais,
simulando alguma situação em que haja a necessidade de uma formalidade
maior e o uso da norma padrão, como simulação de uma entrevista, de um
noticiário ou a divulgação de algum material.
Dentre as atribuições propostas às escolas em Brasil (1997) está a
necessidade de ensinar os alunos a utilizar a linguagem oral em diversas
situações comunicativas, principalmente nas situações mais formais. Assim, a
sala de aula pode tornar-se um lugar no qual os alunos podem iniciar o uso da
língua, simulando uma situação formal ou oralizando de alguma forma os seus
conhecimentos.
Brasil (1998) também sugere que a oralidade seja trabalhada através de
participações com gêneros textuais que apresentam tipologia de narrativas e
aspectos descritivos ou manifestações de experiências que requeiram ouvir
com atenção o desenvolvimento do assunto de forma ordenada para que o
aprendiz aprimore a habilidade de ouvir, formular hipóteses e adequar as
colocações às intervenções. Para Finotti (2008, p. 170) “O importante em sala
de aula é tornar viva a atividade, para que eles percebam que a oralidade é
uma ferramenta poderosa para sua formação e desempenho em todas as
esferas de atividades”.
Ao ouvir o outro, formular hipóteses e posicionar-se criticamente diante
de uma informação, o aprendiz adquire novos conceitos que o auxiliarão a
produzir novos conhecimentos e, consequentemente, os seus textos.
Em relação à transcrição de textos falados, Ramos (1997) afirma ser de
grande importância devido ao fato do texto escrito exigir uma adequação de
vocabulário e de estrutura gramatical, que contribuirá para que os alunos sejam
revisores de seus próprios textos. Ao transcreverem os textos os alunos
perceberão algumas marcas da oralidade e algumas diferenças entre a língua
oral e escrita. Com isso a escola poderá auxiliar os alunos a interagir com o
mundo, refletir a sua realidade, tornar-se um cidadão crítico e exercer
plenamente a sua cidadania. O professor deve levar em conta as capacidades
de linguagem que visa construir com os alunos, percebendo o progresso
individual, aplicando recursos didáticos bem elaborados e pensados, conforme
o desenvolvimento de cada aluno.O indivíduo vai aprimorar a linguagem oral
para compreender a realidade que o rodeia e assim construir um leque de
conhecimentos que serão aprimorados ao passo de sua vivência com o social
e o real existente.
3 METODOLOGIA
As ações implantadas no Colégio Estadual Barão do Cerro Azul, tiveram
como sujeitos envolvidos os alunos das 7as Séries (8º anos) do Ensino
Fundamental. A forma utilizada foram as sequências didáticas que exploraram
as marcas linguísticas típicas da oralidade em seu uso formal e informal.
Dois tipos de atividades foram implementadas: Gênero Entrevista e Júri
Simulado, que apresentaram elementos importantes abordados em sala de
aula como a retórica e mecanismos linguísticos. Levantado os elementos da
situação de comunicação o trabalho com estas atividades constituiu-se numa
forma de estimular a prática da oralidade que é fator de desenvolvimento das
aptidões linguísticas.
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná apontam para três
práticas discursivas: a oralidade, a escrita e a leitura. Ora, se o oral deve ser
um dos domínios prioritários a ser garantido no ensino da língua materna, é
necessário, reconhecer a natureza sociológica da língua em sua dimensão de
interação dialógica.
Na realidade escolar atual, observa-se que isso raramente acontece,
pois as turmas são numerosas, barulhentas e dificilmente se consegue fazer
um trabalho com a oralidade. “O oral não existe, existem os orais, atividades de
linguagem realizadas oralmente, gêneros que se praticam essencialmente na
oralidade.” (SCHNEUWLY, 1997, p.139).
A linguagem oral pode ser desenvolvida e os alunos podem ir além da
oralidade cotidiana e espontânea para uma comunicação pública formal
mediada pela escola, porém essa intervenção só se efetivará quando o
professor tiver conhecimento para realizá-la.
Ensinar o oral implica em “levar os alunos das formas de produção oral
auto-reguladas, cotidianas e imediatas a outras mais definidas do exterior, mais
formais e mediadas.” (SCHNEUWLY, 1994, p.143). O autor ainda defende a
ideia de que para se ensinar os gêneros orais é preciso que se ficcionalize a
situação. É necessário que se faça uma representação abstrata. Para
podermos dar ao oral, além da ficcionalização, a legitimidade como objeto de
ensino, é preciso conhecer os gêneros que circulam nas práticas sociais e que
serão explorados na escola, saber as especificidades linguísticas de cada um
deles, conhecer métodos e técnicas que possibilitem a devida sistematização.
Os principais gêneros que servem à aprendizagem nas aulas de língua
portuguesa são dentre outros: a exposição oral (ou seminário), a entrevista, o
debate, o debate regrado, a discussão em grupo, o relato de experiência ou
viagem, a negociação, o testemunho, a conferência.
Quando levamos um gênero para a sala de aula como objeto de ensino,
“ele passa a ser, ao mesmo tempo, um instrumento de comunicação e um
objeto de aprendizagem.” (SCHNEUWLY e DOLZ, 1994, p.76).
Assim, consta a seguir o relato da implementação realizada em que foi
dada ênfase ao gênero entrevista:
ATIVIDADE 1:
O primeiro encaminhamento foi conversar com a turma apresentando o
projeto. A partir disso os alunos foram agrupados em grupos de mais ou menos
cinco e realizaram uma das seguintes tarefas:
Um grupo realizou uma entrevista em estilo ‘pingue-pong’, com pessoa
da escolha do aluno. Outro grupo elaborou uma entrevista coletiva com uma
pessoa escolhida pelo grupo. Outra equipe produziu uma enquete sobre um
dos seguintes temas: a) o ‘bullying’ na escola; b) o aumento da obesidade
infantil; c) a música popular brasileira (está ou não em boa fase?).
Determinados alunos transformaram em entrevista um discurso ou um artigo.
Uma equipe elaborou perguntas que poderiam ser feitas à Secretária de
Educação do Município. Outros elaboraram uma entrevista para uma
personalidade local e finalmente outro grupo recortou entrevistas de jornais e
revistas e classificaram-na quanto aos entrevistados, entrevistadores e
conteúdo.
ATIVIDADE 2:
Após concluírem suas atividades cada grupo apresentou o resultado de
seu trabalho. Em seguida, realizaram uma análise com o professor e os alunos
refletindo sobre os seguintes critérios: participação dos elementos do grupo, se
a entrevista foi configurada no nos moldes que todos conhecem, se a atividade
trouxe os resultados esperados e quanto à qualidade do trabalho.
ATIVIDADE 3:
Nesta etapa foi apresentada aos alunos o texto “A infância mudou
muito”, uma entrevista concedida por Maurício de Sousa ao Jornalista da
Revista Carta Fundamental Fernando Vives. Após a leitura feita pelos alunos
foram analisadas as condições de produção do texto (autor, destinatário,
objetivo, local, época, suporte veiculador); o conteúdo temático (assunto/ tema,
foco das perguntas, opiniões do entrevistado, justificativas dadas); organização
do gênero (texto visual ou verbal, visual e verbal, somente verbal, disposição e
impressão, participantes do gênero); as marcas linguísticas (função do
parágrafo, efeito persuasivo, operador argumentativo, forma verbal).
4 DISCUSSÃO E RESULTADOS
É comum ouvir em nossas escolas as queixas sobre as dificuldades que
têm nossos alunos em apresentar trabalhos, que são péssimos diante de
platéias e que não possuem desenvoltura para utilizar a palavra em público.
Porém, vê-se que muitas vezes não lhes é ensinado como realizar tais tarefas.
O trabalho realizado proporcionou aos alunos o desenvolvimento das
práticas da oralidade a partir do gênero Entrevista.
Considerando que o grau de conhecimento de cada aluno acerca do
tema proposto foi possível reconhecer os interesses e necessidades do
educando onde foi possível aplicar os encaminhamentos necessários para que
os objetivos propostos fossem atingidos contribuindo assim com o
aprimoramento do trabalho com gêneros orais promovendo assim o
desenvolvimento da argumentação.
Nesse trabalho, buscou-se uma renovação metodológica nas aulas de
língua portuguesa a fim de contemplar a prática discursiva da oralidade como
conteúdo estruturante previsto pelas DCEs. Os gêneros orais existem e
precisam ser ensinados através de uma sistematização didática consistente.
Com relação à oralidade está quase tudo por fazer nas nossas escolas.
SCHNEUWLY (1994, p.36) afirma:
(...) postulamos que a aprendizagem deve se dar sobre atividades complexas nas quais possa intervir um certo controle do sujeito, o ângulo escolhido deve, consequentemente, ir ao encontro das representações de linguagem dos aprendizes e corresponder a modos sociais e socialmente reconhecidos de apreensão dos fenômenos de linguagem que não sejam tão abstratos a ponto de se tornarem inacessíveis a atividade consciente.
Durante a implementação surgiram vários momentos propícios a
discussões tanto nos pequenos grupos quanto no grande grupo. Tais
discussões promoveram a reflexão sobre o conteúdo a ser apreendido e a
troca de experiência tornou possível o enriquecimento do processo.
Ao final do trabalho aqui relatado, observou-se a evolução dos
apreendentes. É claro que algumas dificuldades surgiram ao longo do processo
(falta de alunos, atrasos), porém toda dificuldade remeteu o buscar da
resolução dos problemas e assim a continuidade do projeto.
Certamente para os alunos foi um momento de grande importância, pois
lhes foi proporcionado a aquisição de conhecimentos e valores importantes
para a sua vida. No momento em que participavam das atividades e ações
propostas neste trabalho, vivenciaram a troca de experiências entre os colegas
de turma e o professor PDE, na busca de informações que foram
transformadas em conhecimento, proporcionando inúmeras reflexões.
Sem maiores pretensões o trabalho foi desenvolvido, porém foi possível
reconhecer a necessidade de tal trabalho. A promover assim a interação entre
sujeitos: o diálogo. A linguagem humana é essencialmente dialógica e, de
modo especial, ocorre a oralidade. Dessa maneira, o gênero Entrevista
constitui-se como um privilégio no interrelacionamento humano.
Concluímos desse modo, que quando os alunos estão motivados na
busca por um objetivo eles se mostram mais atentos ao proposto e capazes de
assimilar as características do gênero em uso e assim apropriar o seu uso.
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