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Mestrado em Ensino de Português no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário e de Latim no Ensino Secundário Orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas substantivas: prática pedagógica em Português e em Latim Joana Filipa da Cunha Barbosa M 2019

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Mestrado em Ensino de Português no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino

Secundário e de Latim no Ensino Secundário

Orações subordinadas adjetivas e orações

subordinadas substantivas: prática pedagógica em

Português e em Latim

Joana Filipa da Cunha Barbosa

M

2019

2

Joana Filipa da Cunha Barbosa

Orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas

substantivas: prática pedagógica em Português e em Latim

Relatório realizado no âmbito do Mestrado em Ensino de Português no 3.º Ciclo do

Ensino Básico e no Ensino Secundário e de Latim no Ensino Secundário

orientada pelo Professor Doutor Jorge Pereira Nunes do Deserto

Orientadores de Estágio, Dr.ª Isabel Costa e Dr. Jorge Moranguinho

Supervisores de Estágio, Dr.ª Ana Ferreira e Dr. Jorge Deserto

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Junho de 2019

3

4

Orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas

substantivas: prática pedagógica em Português e em Latim

Joana Filipa da Cunha Barbosa

Relatório realizado no âmbito do Mestrado em Ensino de Português no 3.º Ciclo do

Ensino Básico e no Ensino Secundário e de Latim no Ensino Secundário

orientada pelo Professor Doutor Jorge Pereira Nunes do Deserto

Orientadores de Estágio, Dr.ª Isabel Costa e Dr. Jorge Moranguinho

Supervisores de Estágio, Dr.ª Ana Ferreira e Dr. Jorge Deserto

Membros do Júri

Professora Doutora Isabel Margarida Duarte

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Professora Doutora Marta Isabel de Oliveira Várzeas

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Professor Doutor Jorge Pereira Nunes do Deserto

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Classificação obtida: 15 valores

5

Índice

Declaração de honra……………………………………………………………………...6

Agradecimentos……………………………………………………………………….....7

Resumo…………………………………………………………………………………..8

Abstract…………………………………………………………………………………..9

Introdução………………………………………………………………………………10

Capítulo I – Razões da escolha do tema………………………………………………12

1. A área da Gramática – justificação……………………………………………...13

2. Objeto de estudo e problematização…………………………………………….14

3. Motivação e objetivos do estudo………………………………………………..16

Capítulo II – Enquadramento teórico………………………………………………..18

1. O ensino da gramática…………………………………………………………..19

1.1. Evolução do ensino da gramática em Portugal…………………………….19

1.2. Quadro atual do ensino da gramática……………………………………….22

1.3. Importância do estudo da gramática, em contexto escolar………………….24

1.4. Métodos de ensino da gramática…………………………………………...27

2. O ensino do latim na escola……………………………………………………..31

2.1. Evolução do ensino do latim em Portugal………………………………….31

2.2. Importância do estudo do latim…………………………………………….34

3. Orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas substantivas – contexto

pedagógico-didático………………………………………………………………...38

3.1. Em português………………………………………………………………39

3.1.1. Breve perspetiva histórica: da tradição gramatical portuguesa ao

DT………………………………………………………………………………39

3.1.2. Processo de ensino-aprendizagem das orações substantivas e das

orações adjetivas – principais dificuldades……………………………………..41

3.1.2.1. Orações subordinadas adjetivas - relativas restritivas vs.

relativas explicativas……………………………………………………………41

3.1.2.2. “Que” - conjunção subordinativa completiva vs. pronome

relativo………………………………………………………………………….42

3.1.2.3. Orações relativas - subordinadas substantivas vs.

subordinadas adjetivas………………………………………………………….43

3.1.3. As orações nos programas e materiais didáticos de português……44

6

3.1.3.1. Os programas de Português……………………………..45

3.1.3.2. Os manuais e as gramáticas escolares de português…….47

3.2. Em latim……………………………………………………………………52

3.2.1. Orações subordinadas relativas (adjetivas)……………………….52

3.2.2. Orações subordinadas completivas……………………………….53

3.2.3. Importância do estudo das orações em latim para a aprendizagem

das mesmas em português………………………………………………………53

Capítulo III - Relato da investigação-ação: experiências de ensino-

aprendizagem.................................................................................................................56

1. Contextualização da investigação-ação………………………………………...57

1.1. Caracterização da escola e das turmas……………………………………...57

1.2. Metodologia e didática……………………………………………………..59

2. Fase de diagnose – identificação do problema…………………………………..61

3. Descrição do plano de ação em português e em latim e análise dos resultados….63

3.1. Experiências de ensino-aprendizagem, na turma do 9.º E………………….63

3.1.1. Aula do dia 22 de novembro de 2017 (regência I de português)….63

3.1.1.1. Resultados obtidos na realização da ficha de trabalho…..67

3.1.2. Aulas dos dias 7, 9 e 10 de março de 2018 (regência III de

português)………………………………………………………………………69

3.1.2.1. Realização de exercícios de revisão sobre a matéria……69

3.1.2.2. Resultados dos exercícios de revisão…………………...70

3.1.2.3. Realização de uma ficha de verificação de

conhecimentos………………………………………………………………….72

3.1.2.4. Resultados da primeira ficha de verificação de

conhecimentos………………………………………………………………….74

3.1.3. Realização de um exercício, no segundo teste do 2.º período……75

3.1.3.1. Resultados do exercício, colocado no segundo teste do 2.º

período………………………………………………………………………….76

3.1.4. Realização da segunda ficha de verificação de conhecimentos…..78

3.1.4.1. Resultados da segunda ficha de verificação de

conhecimentos………………………………………………………………….80

3.2. Experiências de ensino-aprendizagem, na turma do 11.º F…………………84

3.2.1. Aula do dia 21 de fevereiro de 2017 (regência II de português)….84

3.2.1.1. Resultados obtidos na resolução da ficha de trabalho….88

7

3.2.2. Realização de uma ficha de trabalho final………………………..93

3.2.2.1. Resultados da ficha de trabalho final……………………95

3.3. Experiência de ensino-aprendizagem, na turma do 11.º D…………………97

3.3.1. Realização de uma ficha de trabalho (regência I de latim)……….97

3.3.1.1. Resultados obtidos na realização da ficha de trabalho….99

3.3.2. Breve apresentação de uma proposta complementar para a

abordagem das orações subordinadas relativas e das orações subordinadas

completivas infinitivas (regência II de Latim A)………………………………101

4. Conclusões do plano de ação aplicado em Português e em Latim A……………103

4.1. Conclusões do plano de ação na disciplina de Português…………………103

4.2. Conclusões do plano de ação na disciplina de Latim A……………………105

Considerações finais…………………………………………………………………..107

Referências bibliográficas…………………………………………………………….110

Anexo I………………………………………………………………………………..117

Anexo II……………………………………………………………………………….119

Anexo III………………………………………………………………………………121

Anexo IV………………………………………………………………………………123

Anexo V……………………………………………………………………………….124

Anexo VI………………………………………………………………………………125

Anexo VII……………………………………………………………………………..130

Anexo VIII…………………………………………………………………………….132

Anexo IX………………………………………………………………………………134

Anexo X……………………………………………………………………………….135

Anexo XI………………………………………………………………………………137

Anexo XII……………………………………………………………………………..139

Anexo XIII…………………………………………………………………………….142

Anexo XIV…………………………………………………………………………….143

Anexo XV……………………………………………………………………………..144

Anexo XVI…………………………………………………………………………….146

Anexo XVII…………………………………………………………………………...148

Anexo XVIII…………………………………………………………………………..150

Anexo XIX…………………………………………………………………………….151

Anexo XX……………………………………………………………………………..152

Anexo XXI…………………………………………………………………………….154

8

Declaração de honra

Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente

noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros

autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da

atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências

bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a

prática de plágio e auto plágio constitui um ilícito académico.

Porto, 28 de junho de 2019,

Joana Filipa da Cunha Barbosa.

9

Agradecimentos

Ao terminar esta tão importante etapa da minha vida, não posso nem devo deixar

de agradecer a todos aqueles me acompanharam e ajudaram, ao longo do meu percurso

académico.

Logo, cabe-me agradecer ao Professor Doutor Jorge Pereira Nunes do Deserto,

pela excelente orientação, pelo profissionalismo, pelos ensinamentos e por toda a

compreensão que foi tendo comigo, durante a construção deste trabalho.

Aos orientadores da Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas, Dr.ª Isabel

Costa e Dr. Jorge Moranguinho, que sempre se prestaram disponíveis para me ajudar e

auxiliar no desenvolvimento do meu relatório.

À Ana Raquel e à Maria João, colegas do núcleo de estágio, pelo companheirismo

e pelas palavras de apoio e incentivo, nos dias mais difíceis.

À Bruna, por toda a ajuda prestada e pela amizade única e verdadeira que tanto

alento me deu, nas horas menos boas.

À Sofia, pela amizade incondicional e pelo apoio indescritível. Por me fazer

acreditar nas minhas capacidades, por me dar ânimo e confiança, por me trazer à razão

como só ela sabe fazer.

Ao Rui, por ter sido o meu principal apoio ao longo destes anos. Agradeço por

nunca me ter deixado desistir nos momentos mais complicados. Pelos infindáveis dias de

paciência, carinho e força, que tanta diferença fizeram na forma como fui enfrentando

cada desafio diariamente.

Por último, não me posso esquecer de prestar um profundo agradecimento aos

meus pais, pois sem eles nada disto teria sido possível! Obrigada por todos os sacrifícios

que fizeram para me darem a melhor educação e formação possíveis e por nunca terem

deixado de acreditar que um dia chegaria até aqui.

10

Resumo

Após um período de grande instabilidade, sentida no âmbito do ensino da

gramática, em Portugal, nos últimos anos, estamos certos de que esta é, ainda hoje, uma

das áreas mais problemáticas da disciplina de Português.

Este estudo apresenta uma reflexão sobre o ensino desse domínio na disciplina de

língua materna e prende-se com o contexto pedagógico-didático de um dos conteúdos em

que as dificuldades se têm revelado mais significativas: a frase complexa e, mais

concretamente, as orações subordinadas substantivas e as orações subordinadas adjetivas.

Com efeito, foi desenvolvido um plano de ação com vista a melhorar a prática

pedagógica no que respeita aos dois tópicos gramaticais, tentando, deste modo, minimizar

as dificuldades manifestadas pelos alunos no processo de ensino-aprendizagem dos

mesmos. Partindo da análise dos resultados alcançados, podemos afirmar que esse

objetivo foi parcialmente atingido.

A nossa investigação-ação estendeu-se à disciplina de Latim A, cujo contexto

pedagógico-didático mereceu igualmente a nossa atenção e reflexão. Apesar de alguns

esforços que têm surgido no sentido de contrariar a atual situação do latim, a importância

que lhe é concedida é cada vez menor. Neste trabalho, tínhamos como intuito apurar se a

aquisição de conhecimentos gramaticais nesta língua contribui para uma melhor

compreensão dos conteúdos gramaticais de língua portuguesa. Através da abordagem aos

dois grupos oracionais que correspondem aos que foram estudados em Português,

atestámos que a aprendizagem destes conteúdos em latim pode ajudar a minimizar as

dificuldades encontradas no entendimento dos mesmos na língua portuguesa.

O trabalho desenvolvido durante a iniciação à prática profissional realizou-se nas

duas disciplinas, durante o ano letivo 2016/2017.

Palavras-chave: gramática; ensino de Português e de Latim; subordinação substantival;

subordinação adjetival.

11

Abstract

After a period of great instability, felt in the context of grammar teaching in

Portugal in recent years, this certainly is, still to this day, one of the most troubling areas

of Portuguese studies.

This study presents a reflection on the teaching of this area under the scope of the

native language course and is tied up with the pedagogical and didactic contexts of one

of the contents where the biggest difficulties have been found: the compound sentence

and, more specifically, substantive subordinate clauses and adjective subordinate clauses.

Consequentially, a plan of action was developed in order to improve the

pedagogical practice in regards to the two aforementioned grammar topics in an attempt

to minimize the difficulties shown by students during this teaching-learning process.

After analysing the obtained results, it is possible to say that this goal was partially

accomplished.

The research action expanded into the Latin A course (Latim A), whose

pedagogical and didactical context was equally worthy of interest and reflexion. Despite

some efforts which have arisen to counter the current situation of Latin studies, its

importance is diminishing. This paper's goal was to find out if the acquisition of grammar

knowledge in this language contributes to a better understanding of the grammar contents

of the Portuguese language. Through the approach applied to the two clause groups,

which correspond to the ones which were studied in Portuguese, it was possible to confirm

that learning these contents in Latin may help to minimize the difficulties of

understanding them in the Portuguese language.

The professional practice initiation work was developed in the context of the two

courses during the academic year 2016/2017.

Keywords: grammar; Portuguese and Latin teaching; substantive subordination;

adjective subordination.

12

Introdução

O presente relatório-dissertação faz o relato da nossa investigação-ação, que se

desenvolveu durante as experiências de ensino-aprendizagem vivenciadas ao longo do

ano letivo 2016/2017. A prática pedagógica supervisionada de Português, no 9.º E e no

11.º F, e de Latim A, no 11.º D, teve lugar na Escola Básica e Secundária Rodrigues de

Freitas. Tal como o estágio pedagógico, este trabalho está associado à unidade curricular

de Iniciação à Prática Profissional, no âmbito do Mestrado em Ensino de Português no

3.º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário e de Latim no Ensino Secundário,

surgindo como um “pré-requisito” para a conclusão desse segundo ciclo de estudos e para

a obtenção do grau de mestre.

Relativamente ao tema selecionado, o nosso trabalho desenvolver-se-á no

contexto da Gramática e, mais especificamente, ao nível da Sintaxe. Dentro desta,

pretendemos estudar a Frase Complexa e, em especial, as orações subordinadas

substantivas e as orações subordinadas adjetivas, que, numa perspetiva pedagógico-

didática, serão o objeto de estudo desta investigação-ação. Uma vez que o nosso mestrado

é direcionado para o ensino de português e de latim e visto que o tema deste relatório

deve, tanto quanto possível, fazer o “cruzamento” entre as duas disciplinas, esta

investigação estender-se-á ao estudo das orações no contexto pedagógico-didático de

ambas. Posto isto, acrescentamos, também, que uma das principais vertentes do trabalho

se baseia na importância do estudo do latim para a diminuição do insucesso escolar na

disciplina de Português.

A problematização que funcionará como ponto de partida do nosso estudo consiste

em apurar de que forma podemos melhorar a prática pedagógica dos dois tópicos

gramaticais supramencionados, nas disciplinas de Português e de Latim.

A estrutura do relatório passará por duas etapas fundamentais: a primeira consiste

na análise e reflexão sobre vários estudos que tratam este tema e as diversas questões que,

em termos teóricos, à volta dele se levantam; a segunda baseia-se na descrição da

investigação-ação propriamente dita, que se desenvolveu na prática de ensino

supervisionada. Em relação ao desenvolvimento do trabalho, este subdividir-se-á em três

capítulos, que passaremos a enumerar e a descrever de forma sucinta.

No capítulo I – “Razões da escolha do tema” – procuraremos, em primeiro lugar,

fundamentar a escolha da área da Gramática para a realização do nosso estudo. Em

segundo lugar, explicaremos, detalhadamente, o que mais contribuiu, não só para a

13

delimitação do objeto de estudo, mas também para a definição da problematização. Este

capítulo termina com uma exposição dos vários objetivos a atingir.

O capítulo II – “Enquadramento teórico” -, como o próprio título indica, diz

respeito à parte teórica do trabalho. Num primeiro momento, far-se-á uma reflexão acerca

de vários tópicos que envolvem o ensino da gramática, na disciplina de Português; num

segundo momento, refletiremos acerca do estatuto e importância do ensino do latim na

escola; por último, dedicar-nos-emos, exclusivamente, aos conteúdos que são objeto de

investigação, a fim de repensar várias das questões de caráter pedagógico-didático que

conformam o ensino dos dois grupos de orações, em ambas as disciplinas.

Em relação ao terceiro e último capítulo – “Relato da investigação-ação:

experiências de ensino-aprendizagem” -, este subdivide-se em duas partes. A primeira

corresponde à contextualização da investigação-ação, na qual, após uma breve

caracterização da escola e das turmas, se procede à identificação das metodologias e

estratégias didáticas utilizadas no seu desenvolvimento prático. Na segunda parte, realiza-

se a descrição do plano de ação aplicado nas três turmas. Seguidamente, apresentam-se

os resultados obtidos na aplicação desses instrumentos, acompanhados das respetivas

conclusões.

As conclusões gerais, que constituem a reflexão final acerca deste estudo, as

referências bibliográficas e os anexos encerrarão o nosso trabalho.

Por fim, pretendemos salientar que o tema desenvolvido é bastante complexo, o

que nos impossibilitou de desenvolver um trabalho mais aprofundado no decorrer do

estágio. Todavia, congratular-nos-emos se conseguirmos abrir uma brecha para futuras

investigações mais abrangentes sobre este tema.

14

Capítulo I – Razões da escolha do tema

15

1. A área da Gramática – justificação

A Gramática foi a área de estudo escolhida para o desenvolvimento desta

investigação, fundamentalmente por duas razões.

Em primeiro lugar, resolvemos seguir um gosto pessoal por este domínio da

disciplina de Português, pois, ao longo de todo o percurso escolar e académico, sempre

sentimos um grande interesse pela aprendizagem de conteúdos gramaticais e uma imensa

preocupação em aplicar corretamente – tanto em contexto escolar, como fora dele – os

conhecimentos adquiridos. Podemos afirmar que este gosto pela gramática foi fomentado

por vários professores, que ainda hoje estão presentes na nossa memória, pelos excelentes

ensinamentos e pelas aulas desafiantes. Daí nasce a nossa vontade de seguir tal exemplo,

tentando, de igual modo, incutir esse gosto nos nossos alunos.

Em segundo lugar, atendemos ao facto de, atualmente, o ensino e treino da

gramática ser, a nosso ver, uma tarefa problemática nas aulas de língua materna, tanto

para docentes como discentes. Há bem pouco tempo, Xavier (2013: 139) constatou que a

abordagem da gramática continuava a causar entraves a professores e alunos. Um dos

motivos pelos quais isto se verifica está, na nossa perspetiva, diretamente relacionado

com as consecutivas mudanças no ensino da gramática que se verificaram nos últimos

anos - quer em relação à terminologia a adotar nas aulas de português, quer em relação à

forma como esta deve ser colocada em prática –, pois as mesmas acarretaram

consequências para professores e alunos.

Além destas, outras razões conduziram à nossa escolha, as quais passamos a

explicar brevemente.

A Gramática corresponde a um dos cinco domínios presentes nos programas e

metas curriculares de Português, logo o seu estudo deve ser considerado um dos principais

objetivos da disciplina. No entanto, nem sempre, nas últimas décadas, lhe foi concedido

o devido destaque. Costa (2008: 158), num estudo acerca dos conhecimentos dos alunos

à saída do ensino secundário, concluiu que o mesmo permitia afirmar “que a gramática

não tem sido ensinada ou que não tem sido ensinada de forma a possibilitar uma

aprendizagem efetiva.”

Em relação ao ensino da gramática na atualidade, podemos afirmar que os

programas apontam para um trabalho constante no âmbito da gramática, evitando que este

fique desmerecido perante o estudo dos outros domínios. Contudo, pelo contacto com a

16

prática docente no terreno, constatámos que, muitas vezes, o ensino deste domínio é

colocado em segundo plano.

Consequentemente, a falta de treino gramatical (assente numa prática contínua e

sustentada) refletir-se-á negativamente no aproveitamento dos discentes, que não serão

capazes de mobilizar conhecimentos de domínio gramatical para atividades relativas à

exercitação de outras competências. Além disso, o facto de o estudo desse domínio ser,

em contexto de sala de aula, secundarizado, leva a que os alunos, do mesmo modo,

centrem muito mais o seu estudo pessoal nos outros domínios da disciplina. O resultado

desta situação traduz-se na falta de conhecimentos gramaticais consolidados, ao longo de

todo o percurso escolar. Logo, à medida que novas matérias vão surgindo, os alunos, por

falta de bases sólidas, acabam por, aos poucos, interiorizar a ideia de que a gramática é

algo muito difícil de aprender. Somando a isto a descrença na sua utilidade, encontramos,

frequentemente, nos estudantes, um elevado grau de desmotivação, desinteresse e aversão

perante as atividades de gramática.

Quanto a dados concretos, relativos às turmas em que foram lecionadas as nossas

aulas, durante a iniciação à prática letiva, estes foram absolutamente decisivos,

permitindo a confirmação da nossa escolha. Numa fase inicial, tivemos em conta os

resultados dos testes diagnósticos das duas turmas de Português (9.º E e 11.º F), no início

do ano letivo, em que mais de cinquenta por cento dos alunos de cada turma obtiveram

menos de metade da cotação total, no grupo que se destina a questões explícitas de

gramática. Posteriormente, em encontros de orientação de estágio com a professora titular

das turmas, foi-nos transmitida a informação de que, tanto numa turma como noutra,

existiam grandes lacunas a nível gramatical. Após a observação das primeiras aulas da

professora titular, foi possível constatar o grau de dificuldade dos alunos, no que toca à

gramática, e considerar como definitiva a nossa decisão.

2. Objeto de estudo e problematização

No ponto 1 deste capítulo, afirmámos que um dos aspetos que mais contribuíram

para que a escolha da Gramática como área de estudo se tornasse definitiva foi o facto de,

em encontros de orientação de estágio com a professora titular de Português, nos ter sido

transmitida a informação de que, em ambas as turmas, existiam grandes lacunas a nível

gramatical. Posto isto, acrescentamos agora, que, segundo a professora, essas lacunas

eram visíveis, essencialmente, a nível da frase complexa, no 9.º E, e, mais concretamente,

17

a nível da subordinação, no 11.º F. Ao tomarmos conhecimento dessa situação,

considerámos que seria importante proceder à revisão dos conteúdos nas duas turmas,

para nos inteirarmos dos conhecimentos dos alunos relativamente a esta matéria – tarefa

que tivemos oportunidade de colocar em prática, durante as aulas zero de Português,

realizadas a 25 de outubro de 2016, na turma do nono ano, e a 8 de novembro de 2016,

na turma do décimo primeiro ano.

Os resultados obtidos, após as atividades de revisão1, demonstraram,

efetivamente, a falta de conhecimentos sólidos acerca das orações em geral. Porém, as

lacunas eram muito mais visíveis em relação às orações subordinadas substantivas e às

orações subordinadas adjetivas, tendo as duas turmas apresentado dificuldades em

comum.

A par destes dados concretos em relação às turmas-alvo da nossa investigação-

ação, existiram também outras razões que confirmaram a escolha do nosso objeto de

estudo. Referimo-nos a alguns dados de que tomámos conhecimento, durante a revisão

bibliográfica acerca destes tópicos gramaticais.

Em primeiro lugar, apesar de existirem muitos estudos científicos dedicados ao

ensino das orações subordinadas adjetivas relativas2, parece-nos que o mesmo não se

verifica em relação ao ensino das orações subordinadas substantivas, ou seja, julgamos

que este é um assunto que tem sido pouco discutido.

Em segundo lugar, encontrámos estudos que comprovam a elevada dificuldade

dos alunos nos dois grupos de orações em causa3. Costa revelou - através da análise de

testes diagnóstico, aplicados a estudantes que tinham acabado de sair do ensino

secundário e ingressado em diferentes cursos de Letras, no ensino superior – que, “dos

diferentes tipos de frases subordinadas, apenas as frases/orações adverbiais não são tão

problemáticas” (Costa, 2008: 155). Pela consulta dos resultados dos testes apresentados

em gráficos4, pudemos confirmar que as dificuldades manifestadas pelos alunos, em

exercícios de segmentação e classificação de orações, são muito superiores em frases com

orações substantivas completivas e em frases com qualquer tipo de oração relativa, do

que em frases com orações subordinadas adverbiais.

1 No ponto 2. do capítulo III, descreveremos, de forma sucinta, como se realizaram as atividades de revisão. 2 Nomeadamente os estudos de Brito (1988), Peres e Móia (1995), Choupina (2004), Nunes (2011) e Almeida (2015). 3 Cf. alguns dos resultados obtidos por Almeida (2015: 24 e 28), no seu estudo sobre as orações subordinadas relativas na aula de português e de latim. 4 Cf. Costa (2008: 155-157).

18

Por último, depois de rever e refletir acerca dos principais elementos teórico-

descritivos destes dois grupos de orações5, reconhecemos que são muitos os desafios que

estas oferecem ao docente na preparação da matéria, já que, como veremos

posteriormente, muito facilmente os alunos as confundem.

Com efeito, considerámos necessário e pertinente desenvolver um plano de ação

que incidisse sobre os principais aspetos descritivos e morfossintáticos dos diferentes

subtipos de orações subordinadas substantivas e de orações subordinadas adjetivas. O

nosso intuito era que, através de um trabalho mais aprofundado sobre os vários elementos

que as caracterizam e as distinguem, levado a cabo nas duas turmas ao longo de todo o

ano letivo, fosse possível melhorar o seu entendimento e aprendizagem.

Depois de uma descrição detalhada de todas as razões que nos levaram à definição

do nosso objeto de estudo, passamos a destacar as questões em que se desdobra a

problematização e que orientam o desenvolvimento da nossa investigação-ação: Quais as

principais dificuldades reveladas no processo de ensino-aprendizagem das orações

subordinadas substantivas e das orações subordinadas adjetivas relativas? O que fazer

para colmatar essas dificuldades? Além destas duas questões, incluímos ainda outra, que,

de certa forma, está contida na segunda: o ensino-aprendizagem destas orações em latim

facilita o entendimento das mesmas em português?

Sendo a nossa formação orientada para a docência de português e latim e visto

que esta é uma das vertentes contempladas na parte teórica do nosso trabalho, a última

questão surge numa tentativa de perceber se, realmente, a aprendizagem da morfologia e

sintaxe latinas conferem conhecimentos mais seguros nestas áreas do português. A

contribuição do estudo do latim para a aprendizagem do português é um assunto que

abordaremos, no capítulo II.

3. Motivação e objetivos do estudo

Numa fase em que as áreas de trabalho e o objeto de estudo já estavam definidos,

assim como a problematização que conduziria a investigação-ação, traçámos os seguintes

objetivos, para a concretização deste relatório-dissertação:

5 Veja-se, mais adiante, o ponto 3.1.2. deste trabalho, no qual refletimos acerca das dificuldades que se levantam no processo de ensino-aprendizagem das orações subordinadas substantivas e das orações subordinadas adjetivas.

19

• refletir sobre as várias questões que, nos últimos anos, em Portugal, têm rodeado

não só o ensino da gramática na disciplina de Português, como também a presença

do latim nos currículos escolares.

• identificar, problematizar e dar a conhecer os diferentes desafios que as orações

subordinadas substantivas e as orações subordinadas adjetivas colocam, no

contexto pedagógico-didático das duas disciplinas.

• tentar colmatar as principais dificuldades reveladas pelos alunos de português em

torno dos tópicos gramaticais - aperfeiçoando a prática pedagógica no que aos

dois grupos de orações diz respeito - e melhorar a compreensão dos alunos,

relativamente a esses conteúdos.

• verificar, tanto quanto possível, se os alunos que frequentam a disciplina de Latim

A possuem conhecimentos seguros no que respeita à estrutura da língua

portuguesa; em comparação com os alunos das turmas de português, tentámos

apurar se a aprendizagem destas orações na língua latina representa uma mais-

valia para a compreensão das mesmas em português.

De que modo procurámos atingir esses objetivos é o que iremos demonstrar nos

capítulos II e III.

20

Capítulo II – Enquadramento teórico

21

1. O ensino da gramática

1.1. Evolução do ensino da gramática em Portugal

Antes de refletirmos acerca da evolução do ensino da gramática nas aulas de

português, consideramos relevante fazer uma breve alusão à origem e evolução do estudo

gramatical ao longo dos tempos.6

A gramática7 que conhecemos hoje nasceu no 1.º milénio a.C., com as primeiras

descrições linguísticas sobre o Sânscrito (em obras hindus) e é resultante de uma longa

reflexão linguística ao longo da história (Brito, 2010: 1-2). Este tipo de reflexão, no qual

a língua é encarada como um objeto de estudo, desenvolveu-se no período Alexandrino,

tendo começado com os Gregos e continuado com os Romanos. O trabalho desenvolvido

pelos Gregos foi deveras importante, levando ao surgimento das primeiras gramáticas

normativas. Porém, é às Institutiones grammaticae de Donato (século IV d.C.) e Prisciano

(século VI d.C.) que a história da linguística confere maior destaque. Os gramáticos

latinos preservaram o pendor normativo oriundo dos gregos e o modelo gramatical greco-

latino prevaleceu na Europa, durante toda a Idade Média. As gramáticas da língua latina

assumem um papel preponderante no ensino e acabam por marcar as produções

gramaticais daquele período.

Aquando do aparecimento das primeiras gramáticas das línguas românicas, já no

seio do renascimento, surgem, em Portugal, as primeiras gramáticas do português: a

Gramática da Linguagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira, em 1536; e a Gramática da

Língua Portuguesa, de João de Barros, em 1540. Apesar de, no século XVI, se ter

desenvolvido o estudo formal de outras línguas, o estatuto do latim em nada se alterou e

as gramáticas mantiveram, durante vários séculos, o estilo normativo (Marçalo apud

Gomes, 2012: 21).8

Desde o nascimento da gramática, o modo de a percecionar ultrapassou estádios

muito distintos, correspondendo estes às necessidades sentidas nas diferentes épocas e

6 Cf. as informações descritas neste ponto com Kossárik (1990: 55-60); Verdelho (1995: 25-26); Brito (2010: 1-2); Silvano & Rodrigues (2010: 277); Nunes (2011: 12-17); Gomes (2012: 19-26). 7 Provém do grego gramma e representa a arte da escrita. 8 Até este momento, não se pode falar de estudo e aprendizagem do português (Castel-Branco, 1971 apud Verdelho, 1995: 25). Não se pode mesmo falar do ensino da língua portuguesa, ou pelo menos da escolarização da sua gramática, antes do século XVIII (Verdelho, 1995: 25). Marquês de Pombal foi o responsável por, na segunda metade deste século, decretar o ensino da língua portuguesa na escola (Verdelho, 1982: 34 apud Verdelho, 1995: 25-26).

22

acompanhando sempre a renovação das ideias que ia acontecendo na Europa e no resto

do mundo (Brito, 2010: 2). A mesma autora concretiza isso mesmo:

Assim, as gramáticas foram normativas durante largos séculos, umas mais abertas às

línguas vernáculas e à sua variação, outras mais prescritivas (…); as gramáticas foram gerais e

racionais nos séculos XVII e XVIII, numa tentativa pioneira de relacionar linguagem e

pensamento (…); as gramáticas foram comparadas e históricas no século XIX e no princípio do

século XX, em tempos dominados pela ideia de história e de evolução (…).

Na sequência do Estruturalismo Europeu e do Distribucionalismo Norte-Americano, as

gramáticas assumem um pendor descritivo e tornam-se essencialmente sincrónicas; (…).

A partir dos anos 60, (…) a Gramática adquire um significado propositadamente duplo:

um, sinónimo de conhecimento linguístico dos sujeitos falantes, e outro, de descrição desse

conhecimento por parte dos linguistas. (Brito, 2010: 2)

Posto isto, fica claro que a gramática, depois de um longo período de tempo a ser

marcada por objetivos normativos e prescritivos, tornou-se progressivamente descritiva.

Ferdinand Sausurre, com a sua obra Curso de Linguística Geral (1916), é normalmente

assinalado como o principal responsável pelo início de uma nova era marcada pelo pendor

descritivo. Devido à Gramática Generativa elaborada por Noam Chomsky, na segunda

metade do século XX, a atitude de descrever e analisar a estrutura das línguas

intensificou-se. A história da gramática tomou, a partir deste momento, um novo rumo.

Com efeito, partindo da descrição que fizemos, pretendemos deixar patente que,

quase até ao final do século XX, a gramática de língua portuguesa que foi ensinada nas

escolas era, sobretudo, normativa; o seu ensino realizava-se de forma tradicional,

centrado na memorização de regras e categorias gramaticais, bem como na deteção e

correção do erro (Gomes, 2012: 22). Contudo, a partir dos anos sessenta e setenta, até à

década de noventa, assistiu-se a uma redução do ensino da gramática nas aulas de língua

materna. Assim, “desde o ensino prescritivo da gramática, passando pela sua ausência no

ensino do português, até ao ensino da mesma sem a validação e a reflexão necessárias”9

(Silvano & Rodrigues, 2010: 277), este foi um século fortemente marcado por diferentes

conceptualizações do papel da gramática em contexto escolar.10

9 Esta última conceção do ensino da gramática, que foi notória nos anos noventa, a nosso ver, manteve-se praticamente até à atualidade, mas era bem mais percetível há alguns anos. Ainda que o panorama não nos pareça ter mudado completamente, várias alterações têm surgido no âmbito do ensino da gramática, no sentido de evitar que o estudo deste domínio seja secundarizado. 10 Cf. Silvano & Rodrigues (2010: 277). Para mais informações, consultar a bibliografia aí referida.

23

Além destas, outras grandes mudanças se foram sucedendo no âmbito do ensino

gramatical, desde a segunda metade do século XX, até ao início do século XXI. Em 1959,

é publicada a Nomenclatura Gramatical Brasileira e, pouco tempo depois, em 1967,

surge a Nomenclatura Gramatical Portuguesa (NGP). Esta última visava a uniformização

do ensino do funcionamento da língua portuguesa, nos ensinos básico e secundário,

surgindo, assim, como primeiro documento oficial ao qual o ensino da gramática se

deveria submeter. Em 1970, é publicada a Gramática do Português Contemporâneo de

Celso Cunha e, mais tarde, em 1984, em conjunto com Lindley Cintra, a Nova Gramática

do Português Contemporâneo – ambas tinham como finalidade a uniformização de

questões relacionadas com o funcionamento da língua portuguesa, na terminologia

linguística adotada em Portugal e no Brasil. Outra obra que também se destacou naquela

época foi a Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus, Ana Maria

Brito, Inês Duarte e Isabel Hub Faria, com a sua primeira publicação no ano de 1983,

segunda edição em 1989, tendo sido ainda revista e aumentada, em 2003.

Do início do século XXI até à atualidade, tem-se assistido à realização de

sucessivas atualizações das terminologias ou nomenclaturas que devem ser usadas nas

aulas de português. Em 2004, como consequência da revisão da gramática de Mateus et

al. (2003)11, entra em vigor a Terminologia Linguística para o Ensino Básico e

Secundário (TLEBS). Porém, esta terminologia não permaneceu no sistema de ensino por

muito tempo, sendo substituída pelo Dicionário Terminológico12 (DT), no ano de 2008.

Este tinha como principal intuito a reformulação e a uniformização de termos e

conceitos que, até então, continuavam a levantar problemas do ponto de vista do

funcionamento da língua. Segundo Santiago e Paixão (2011: 19), o Dicionário

Terminológico, “por um lado, eliminou termos redundantes, inadequados ou pouco

relevantes; por outro lado, acrescentou termos nos domínios da análise do discurso e da

retórica”, tendo tais alterações motivado a reestruturação dos domínios da disciplina.

Seguiram-se outras alterações ao plano e à perceção de como deve ser ensinada a

gramática, as quais iremos dar a conhecer no subcapítulo seguinte.

Na verdade, é necessário ter em conta que muitas foram as consequências do

resultado final de um período bastante conturbado. Em primeiro lugar, a progressiva

11 Assim como as autoras consideraram necessário rever e republicar a sua obra, também o sistema educativo, inevitavelmente, decidiu rever a NGP em vigor, acabando por aceitar a TLEBS, como modelo a seguir para o ensino da gramática, nas disciplinas de língua materna. 12 Atualmente, o Dicionário Terminológico para consulta em linha pode ser acedido em http://dt.dge.mec.pt/ .

24

desvalorização do ensino da gramática durante um longo período de tempo, fez com que

muitos estudantes chegassem ao ensino superior com conhecimentos gramaticais pouco

seguros.13 Em segundo lugar, a instabilidade vivida durante vários anos obrigou a um

esforço sucessivo por parte de professores e alunos, que constantemente se viram forçados

a atualizar e reatualizar os seus conhecimentos gramaticais, dificultando, deste modo, o

processo de ensino-aprendizagem deste domínio.

Por fim, depois de uma longa evolução do conceito gramatical e das constantes

atualizações no plano da disciplina de Português, concretizadas ao longo do tempo,

questionamos o seguinte: como podemos caracterizar o processo de ensino-aprendizagem

da gramática, na atualidade? No ponto 1.2., tentaremos responder a essa questão.

1.2. Quadro atual do ensino da gramática

Depois da entrada em vigor do Dicionário Terminológico, ocorreram outras

alterações ao plano da disciplina, nomeadamente a homologação dos novos Programas

de Português do Ensino Básico, em 2009.

Pela consulta do Guião de Implementação do Programa de Português do Ensino

Básico (Costa, 2011: 6), pudemos perceber que, durante os estudos preparatórios que

conduziram à elaboração dos novos programas de Português, se constatou que o processo

de ensino-aprendizagem da gramática continuava a ser uma área bastante sensível da

disciplina. A par das dificuldades ao nível da gramática, apresentadas pelos alunos no

final do ensino secundário, observou-se que muitos docentes não reconheciam a utilidade

do ensino da gramática e consideravam-no menos importante do que o trabalho

desenvolvido sobre as outras competências de português. Segundo o autor, uma das

razões apontadas para justificar este facto consistia nas contradições existentes entre os

próprios documentos orientadores para a elaboração dos novos programas: os programas

de 1991 e o Currículo Nacional do Ensino Básico, publicado em 2001. Até ao surgimento

dos novos Programas de Português do Ensino Básico, de 2009, esses documentos

conviveram com orientações metodológicas distintas – enquanto os primeiros atribuíam

à Gramática (denominada como “Funcionamento da Língua”) um lugar periférico, o

segundo documento encarava a Gramática (aqui designada como “Conhecimento

Explícito da Língua”) como uma competência nuclear, tão importante quanto as outras

(Costa, 2011: 6).

13 Cf. Costa (2008: 149-158).

25

O autor (2011: 6-7) dá-nos conta, ainda, de que o próprio Currículo Nacional do

Ensino Básico, além de prever que fossem elaborados novos programas, deixa claro que

os mesmos deviam especificar as orientações gerais dadas por esse documento, que

serviria como enquadramento e orientação de caráter mais geral. De acordo com tal

recomendação, os programas referidos, propunham o seguinte:

a) Um trabalho sobre Conhecimento Explícito da Língua enquanto competência autónoma (com

um estatuto idêntico ao das outras competências) e não apenas instrumental e transversal.

b) Um trabalho sobre Conhecimento Explícito da Língua e não sobre Funcionamento da Língua.

(Costa, 2011: 7)

No ano letivo de 2011/2012, entram em vigor os novos Programas de Português

do Ensino Básico (de 2009), juntamente com o novo tipo de abordagem do ensino da

gramática – o Conhecimento Explícito da Língua. Segundo os programas, a nova

perceção do ensino da gramática pretende substituir o método normativo pelo descritivo.

Esta abordagem, privilegiando o conhecimento implícito e inconsciente dos discentes,

parte do pressuposto de que os mesmos são falantes competentes, ou seja, utilizadores da

língua que mobilizam, de forma automática, regras gramaticais para gerar e produzir

enunciados na sua língua (Costa, 2011: 7).

Em relação aos métodos que devem ser utilizados para trabalhar o Conhecimento

Explícito da Língua no ensino básico, os programas sugeriam que fossem colocadas em

prática atividades de aprendizagem pela descoberta e laboratórios gramaticais (Costa,

2011: 25). A par com a nova conceção do ensino da gramática, o objetivo desta estratégia

metodológica é levar o aluno a descobrir, por ele próprio, as diferentes regularidades da

língua, para que ele mesmo se aperceba do quão se revelam importantes, no

desenvolvimento do domínio da língua, os conhecimentos gramaticais assimilados. A

partir daqui, abriu-se a possibilidade de o ensino da gramática se realizasse seguindo o

método laboratorial/oficinal, embora, a nosso ver, sem uma grande dimensão.

Em 2012, juntaram-se ao programa as Metas Curriculares. Estas constituíam um

conjunto de objetivos obrigatórios, os quais se deviam tentar atingir ao planear as aulas,

procurando sempre articular todos os domínios da disciplina. Ao longo de todo este

documento, o termo “conhecimento explícito da língua” foi substituído pelo termo

“gramática”; este último acaba por ser recuperado para designar um dos cinco domínios

da disciplina. A eficácia deste documento foi submetida a um período de teste durante

dois anos letivos, tendo sido implementados os novos programas e metas curriculares de

26

Português, no ano letivo de 2015/2016. Os objetivos propostos pelos atuais programas e

metas curriculares de Português, para os ensinos básico e secundário, apontam para que

o progressivo domínio dos conhecimentos gramaticais se desenvolva paralelamente às

competências da oralidade e da escrita, para que o aluno seja capaz de mobilizar os

conhecimentos gramaticais, a fim de aperfeiçoar as capacidades de interpretação e

produção de enunciados orais ou escritos (Buescu, Morais, Rocha & Magalhães, 2015: 5-

6; Buescu, Maia, Silva & Rocha, 2014: 11).

Por fim, pretendemos salientar que, mesmo depois de muitas transformações no

âmbito da operacionalização do ensino-aprendizagem da gramática, o posicionamento de

professores e alunos face a esta matéria não se modificou significativamente. Quanto aos

professores, embora alguns já comecem a introduzir o trabalho laboratorial nas suas aulas

e a seguir as novas propostas de abordagem metodológica, a grande maioria ainda prefere

manter uma metodologia mais tradicional (com recurso ao método expositivo/abordagem

dedutiva)14. Portanto, mesmo que esta proposta metodológica já exista há algum tempo,

este tipo de trabalho está a ser integrado nas escolas de forma lenta e, por isso, esse ainda

não é o método dominante utilizado no ensino da gramática. Relativamente aos alunos,

no geral, demonstram, normalmente, que a gramática é uma das matérias menos atrativas

da disciplina (Xavier, 2013: 139), não reconhecendo nem compreendendo a utilidade e a

importância do seu estudo.

1.3. Importância do estudo da gramática, em contexto escolar

No seguimento das nossas reflexões nos pontos anteriores, urge refletir acerca da

importância do ensino-aprendizagem da gramática, na escola. De seguida, enumeraremos

algumas razões que consideramos fundamentais para justificar a relevância do seu estudo,

nesse contexto.

Quando uma criança inicia o seu percurso escolar, possui um conhecimento

implícito da sua língua, fazendo uso da mesma de forma intuitiva. Nesta fase, mesmo que

seja capaz de usar e compreender a língua de forma correta, a consciência linguística

ainda não se encontra desenvolvida, isto é, o aluno não possui um conhecimento explícito

da língua. Assinalando, assim, a primeira razão que justifica o ensino da gramática de

língua materna na escola, afirmamos que é ao professor que vai caber o papel de

14 Cf. Xavier (2013: 141-142).

27

transformar o conhecimento implícito da criança em conhecimento explícito e consciente

(Silva, 2012: 18-19).15

Tendo como ponto de partida esta última afirmação, assinalamos a segunda razão,

que, de certa forma, vai ao encontro da primeira. Esta consiste na ideia de que os

conhecimentos explícitos de gramática influenciam diretamente o desenvolvimento de

competências nos outros domínios da disciplina de Português. Atentemos no que refere

Vilela (1993: 251-252):

Não é possível compor e interpretar textos escritos sem noções de pontuação, das

regularidades ou irregularidades flexionais e derivacionais, das grandes linhas de sintaxe e das

coerências textuais decorrentes da gramática. Um texto falado ou escrito para ser compreendido

tem de se apresentar com uma estrutura gramatical: a frase projeta-se no texto e o texto é, em

grande parte, composto por frases. Precisamos inclusive da gramática para podermos distinguir

os níveis de língua na linguagem falada: a norma da língua escrita e da língua falada divergem.

A adequação da escrita faz-se por meio das palavras e das grafias auxiliares, a adequação da

língua falada faz-se por outros meios, tanto segmentais como suprassegmentais. Por outro lado,

a língua não é apenas forma e significante, é também significado. E a compreensão lógica da

língua, onde intervêm causas e efeitos, consequências e condições, concessões e oposições, exige

a gramática, como exige também a coerência construccional e vocabular.

Seguindo esta linha de pensamento, defendeu também Fonseca (1998: 5) que a

gramática constitui, “enquanto complexo de regularidades e de virtualidades, ‘a pedra

angular da construção dos discursos’ e do sentido que eles carreiam”. Analisando as

exposições dos dois autores, concluímos que tanto o processo de leitura

(interpretação/compreensão de textos) como o processo de produção textual dependem

de noções gramaticais, já que qualquer texto/discurso (oral ou escrito), para ser dotado de

sentido e ser compreendido corretamente, deve por força respeitar as normas e os

paradigmas da gramática. Logo, quanto mais os alunos aperfeiçoarem os seus

conhecimentos gramaticais, mais possibilidades terão de melhorar as suas competências

de leitura, de escrita e de oralidade.

Com efeito, o desenvolvimento das competências da língua será um fator

resolutivo no sucesso escolar do discente, já que, em todas as disciplinas, as atividades

de avaliação pressupõem a compreensão/interpretação e a produção de enunciados

15 Cf. Costa (2011: 7-14).

28

escritos (por vezes, orais) (Silva, 2012: 19). Esta ideia ilustra a terceira razão pela qual se

torna essencial o estudo da gramática na escola.

A quarta razão baseia-se no princípio de que os conhecimentos gramaticais da

língua materna facilitam a aprendizagem de uma língua estrangeira. Duarte (2010: 12)

dá-nos conta de que já no século XVIII este era um dos principais propósitos assinalados

para se considerar indispensável o estudo da gramática no contexto educativo. A autora

recua à obra de Reis Lobato (1770), a Arte da Grammatica da Lingua Portugueza16, na

qual Lobato afirmara:

Ninguem póde duvidar do grande proveito, que alcança cada hum em saber a Grammatica

da sua mesma lingua; porque não somente consegue fallala com certeza, mas também fica

desembaraçado para aprender com muita facilidade qualquer outra. A razão disto he claríssima;

porquanto na Grammatica materna, de que já o uso nos tem ensinado a prática das suas regras,

sem dificuldade se aprendem muitos princípios, que são comuns a todas as linguas; e por isso

todo aquelle, que della tiver perfeita sciencia, quando passar para o estudo de qualquer lingua

estrangeira, assim como a Latina, levará hum grande adiantamento por saber já o que he Nome,

o que he Verbo, e a natureza, e propriedade de todas as partes do discurso, e o modo com que se

unem estas na oração. (Lobato, 1770: X-XI apud Duarte, 2010: 12)

Logo, o domínio das estruturas e das normas da língua materna permite ao aluno

detetar princípios que são comuns a todas as línguas, facilitando o entendimento e a

compreensão do funcionamento das línguas estrangeiras (Duarte, 2010: 12).

Por fim, a quinta e última razão prende-se com a noção de que o domínio dos

conhecimentos linguísticos influencia o desenvolvimento cognitivo e pessoal de cada

indivíduo. Figueiredo (2010: 159), ao fazer o levantamento de alguns modelos que

envolvem e sempre envolveram o ensino-aprendizagem da gramática e o desempenho

deste processo no contexto didático, refere-se ao conceito de “língua” do seguinte modo:

Dada a importância deste elemento exclusivamente humano na configuração das nossas

capacidades cognitivas, o ensino da língua é necessário e fundamental. Um processo educativo

que privilegia a educação linguística e a educação literária terá de ser sempre a rampa de acesso

aos conhecimentos e à descoberta do funcionamento do mundo.

16 Publicada numa época em que a reforma pombalina implementara, de forma revolucionária, o ensino da língua materna antecipado ao do latim, esta gramática surge em auxílio desse mesmo desígnio (Duarte, 2010: 11).

29

Na verdade, a forma como conhecemos a língua tem interferência na forma como

percecionamos e compreendemos o mundo à nossa volta, e no modo como nos

relacionamos com os outros. Ao aprender a usar a língua, o aluno aprende não só a emitir

frases gramaticalmente corretas, mas também a saber como usá-la em diferentes

contextos, adequada, apropriada e eficazmente (Figueiredo, 2010: 163).

Assim, por um lado, defendemos que a gramática fornece ao estudante a

capacidade de comunicar, sensibilizando o aluno para o uso da língua como meio de vida

e de atuação (Vilela, 1993: 252). Por outro lado, acreditamos que a língua acaba por

moldar o comportamento e a personalidade do discente (Vilela, 1993: 252). Logo, embora

estejamos a falar de vantagens que só poderão ser constatados a longo prazo, cremos que

a maneira como o estudante lida com a língua vai, no futuro, moldar o seu comportamento

e a sua forma de estar, interferindo, desse modo, na sua esfera pessoal e social.

Porém, como sabemos, a grande maioria dos alunos não tem uma noção muito

clara das várias razões que tornam o ensino da gramática tão importante. Na nossa

perspetiva é necessário transmitir aos discentes a ideia de que o estudo do domínio

gramatical não tem de ter uma utilidade imediata, mas sim, que, a seu tempo, esse tipo de

conhecimentos se tornará uma mais-valia, dentro e fora da sala de aula.

1.4. Métodos de ensino da gramática

Neste texto, apresentaremos alguns métodos e linhas de orientação pedagógica

que, na nossa opinião, devem ser seguidos pelos professores da disciplina de Português,

no âmbito do ensino da gramática.

Em primeiro lugar, defendemos que, nos ensinos básico e secundário, a reflexão

gramatical deve ser articulada com a aprendizagem dos outros domínios da disciplina. De

acordo com Brito (2010: 5-6):

A esse nível de formação, há que articular a reflexão gramatical com a aprendizagem da escrita

e da leitura; por outro lado, a aula de língua materna deve estar aberta a todos os níveis de

funcionamento e de uso da língua (…). A reflexão gramatical a esses níveis ajuda ao

desenvolvimento do raciocínio abstrato, traduz-se em avanços ao nível das diferentes

competências (ouvir, falar, ler, escrever), favorece uma atitude descritiva e tolerante perante a

variação e ajuda a adquirir uma metalinguagem útil na aprendizagem das línguas estrangeiras.

30

Do mesmo modo, segundo Figueiredo (2010: 159-160), o desenvolvimento de

competências da língua “implica saber fazer uma real integração entre as áreas básicas

em que se estrutura o ensino da língua materna (ouvir-falar, ler-escrever) e a descrição

dessa mesma língua”. Figueiredo (2010: 160) declara ainda que a perceção de que a escola

“deve ensinar a língua nas suas distintas formas e nos seus distintos usos” é consensual.

Por razões mencionadas em 1.3., ao falar dos benefícios do estudo da gramática

para o desenvolvimento das outras competências da disciplina, concordamos com as

autoras e afirmamos que só é possível possuir, de facto, um verdadeiro domínio da língua

materna através deste tipo de reflexão gramatical.

Com efeito, consideramos que a atitude reflexiva a nível da gramática não pode

ser colocada de parte nem deve acontecer de forma esporádica; pelo contrário, deve ser

algo constante na aula de português. Como refere Nunes (2011: 17), “a aula não pode ter

partes estanques, deve ser lecionada como um todo”. Contudo, normalmente, o ensino

das outras competências sobrepõe-se ao ensino da gramática, sendo muitas vezes o estudo

e análise do texto literário o centro da aula. Não desvalorizando esse tipo de trabalho, que

é, sem dúvida, deveras importante, consideramos que seria mais produtivo associar o

estudo do texto literário a uma permanente reflexão linguística, já que “os textos literários

constituem uma fonte riquíssima e adequada para uma análise que integre todos os

elementos que compõe a aula de língua materna, sendo um deles, claro, a gramática”

(Nunes, 2011: 17).

Independentemente das estratégias pedagógico-didáticas utilizadas, os programas

e metas da disciplina (nos ensinos básico e secundário), apesar de proporem, por um lado,

que o ensino da gramática aconteça de forma independente, recorrendo ao método

laboratorial/oficinal, por outro lado, vão ao encontro daquilo que defendemos

anteriormente, pois recomendam que a esse método se associe o trabalho nos restantes

domínios. Todavia, apoiados numa afirmação de Fonseca (1998: 3), pretendemos deixar

claro que, a nosso ver, “os Programas não devem constituir mais que uma baliza ou ponto

de referência – e que a prática lectiva deve sempre tentar ir mais além, e mais fundo, em

resposta adequada às situações vividas na aula”.

Em 201017, Purificação Silvano e Sónia Rodrigues, no seu artigo A Pedagogia dos

Discursos e o Laboratório Gramatical, defenderam a necessidade de uma urgente

renovação metodológica no ensino da gramática. A partir de uma análise das novas

propostas do ensino gramatical que começaram a surgir em Portugal entre o final dos anos

17 No momento da publicação deste artigo, os programas de 2009 ainda não tinham entrado em vigor.

31

setenta e meados dos anos oitenta, as autoras debateram-se sobre a articulação entre duas

das perspetivas dominantes: a Pedagogia de Receção/Produção de Textos/Discursos e a

Oficina/Laboratório Gramatical. Estas, embora se baseiem no mesmo princípio – de que

o estudo da gramática deve partir do conhecimento intuitivo da língua para a

sistematização dos princípios e regras do funcionamento da língua –, caracterizam-se por

diferentes metodologias. De seguida apresentaremos, resumidamente, as principais ideias

mencionadas por Silvano e Rodrigues, acerca de cada uma das propostas.18

A Pedagogia dos Textos/Discursos coloca o texto/discurso como o centro da aula.

O objetivo desta metodologia não se baseia na utilização do texto como pretexto para o

estudo gramatical, mas sim numa “reflexão sobre a estrutura e as regras de funcionamento

da língua como ferramenta para a construção do sentido do texto em articulação com a

situação comunicativa em que se insere” (Silvano & Rodrigues, 2010: 278). Este método

permite ao aluno perceber a relação existente entre o domínio da gramática e o da

literatura e, além de fazer com que o discente mobilize conhecimentos linguísticos para

o estudo do texto literário, “assegura uma análise da unidade ‘frase’” (Silvano &

Rodrigues, 2010: 278). Sendo este último um objeto de estudo bastante privilegiado, na

reflexão gramatical que acontece em sala de aula, este método tem a vantagem de não

examinar a frase de forma isolada, inserindo-a num determinado contexto dado pelo

texto/discurso. Permite, ainda, trabalhar o desenvolvimento de competências a nível da

escrita, pois leva o aluno a “«introduzir na planificação e realização dos seus próprios

discursos» o conhecimento linguístico aprendido” (Silvano & Rodrigues, 2010: 278).

Além disso, as realizações discursivas facilitam a interligação entre os diferentes

domínios da disciplina, promovendo, deste modo, momentos de reflexão, sistematização

e/ou aprofundamento gramatical bastante mais produtivos.

O Laboratório ou Oficina Gramatical, segundo as autoras (2010: 279), surge

depois de se ter constatado que o ensino da gramática nas aulas de português tinha sido

secundarizado. Assim, numa tentativa de que a reflexão acerca do funcionamento da

língua seja parte integrante da aula, como uma componente autónoma (a par do

desenvolvimento das competências a nível da oralidade, da leitura e da escrita),

considerou-se necessário um trabalho mais aprofundado sobre a língua, afastado dos

objetivos puramente comunicativos (Duarte, 1992: 165 apud Silvano & Rodrigues, 2010:

279). Ao usar este método, o conhecimento explícito da língua desenvolve-se a partir do

18 Cf. Silvano & Rodrigues (2010: 277-281). Para mais informações, consultar bibliografia referida no artigo.

32

conhecimento intuitivo dos alunos acerca da língua e a reflexão gramatical ocorre através

do método científico (uma abordagem que já remonta ao pensamento de Descartes: cf.

Silvano & Rodrigues, 2010: 279). Pretende-se, assim, que o aluno investigue e alargue os

seus conhecimentos através da descoberta (“discovery learning”) e que adote o “olhar de

cientista”19; portanto, a língua acaba por ser percecionada pelo aluno como qualquer outro

objeto de estudo das ciências naturais.

Perante a exposição destas duas orientações metodológicas, as autoras

apresentaram, então, uma proposta de articulação entre ambas, pois defendem que essa é

a melhor forma de maximizar as vantagens de cada uma, sem necessidade, portanto, de

abandonar por completo qualquer uma delas.

Partindo desta ideia – a articulação entre abordagens -, defendemos que não

existem teorias metodológicas absolutas. O que é preciso é saber adaptá-las às

necessidades dos alunos, em função da realidade vivida nas turmas. Na nossa perspetiva,

quer se utilize o método do laboratório gramatical ou um método com um cunho mais

normativo, o ensino da gramática pode realizar-se de forma separada do ensino das outras

áreas da disciplina, fazendo com que esta atividade valha por si própria.

Por um lado, reconhecemos as vantagens de existirem momentos de estudo

aprofundado da gramática, isolados dos outros momentos da aula, já que estes acabam

por ser a forma mais direta de alcançar e, porventura, resolver as dificuldades mais

específicas dos alunos. Por outro lado, para nós, é fundamental transmitir aos alunos a

ideia de que, embora os conhecimentos explícitos da língua possam ser estudados

isoladamente, a Gramática não é um domínio alheio dos restantes. É principalmente

necessário que o aluno saiba que esses conhecimentos só fazem verdadeiramente sentido

quando ele é capaz de os usar com facilidade e correção - a gramática deve representar

também uma ferramenta e não apenas um fim em si mesmo. Logo, não basta que o

discente adquira um conhecimento reflexivo e explícito da língua e que consiga

sistematizar e compreender os aspetos fundamentais do português padrão; é igualmente

necessário que o aluno saiba fazer uso adequado desses conhecimentos, nas diversas

situações de oralidade, de leitura e de escrita (Buescu et al., 2015: 6).

Fundamentalmente, o que aqui pretendemos ressaltar é que, a nosso ver, um

ensino isolado da gramática não é incompatível com o uso desta como ferramenta, ou

seja, o uso deste método não constitui nenhum obstáculo a que outros momentos de

reflexão linguística se realizem ao longo das aulas.

19 Cf. Silvano & Rodrigues (2010: 279) e bibliografia aí referida.

33

Por último, consideramos que, no ensino dos diferentes tópicos gramaticais, estes

não devem ser trabalhados de forma isolada, pois só é possível realizar uma explicação

adequada se tratarmos diferentes aspetos linguísticos de um mesmo conteúdo. Assim, é

essencial que o ensino dos diferentes conteúdos gramaticais, como funções sintáticas,

coordenação e subordinação, se associe, por exemplo, à pontuação, mais concretamente

ao uso da vírgula (Silva, 2012: 22), ou seja, a nosso ver, deve fazer-se uma articulação

entre o ensino de diversos tópicos gramaticais como a frase complexa, as funções

sintáticas, a análise morfológica, a pontuação, etc.

Porém, normalmente, tal não se verifica. Os exercícios são elaborados

especificamente para o estudo de determinado conteúdo, sem incluir questões que

obriguem o aluno a demonstrar conhecimentos sobre os diferentes aspetos linguísticos

que envolvem um mesmo tópico gramatical. Na nossa perspetiva, a inclusão deste tipo de

questões, em exercícios que coloquem em confronto diferentes frases e situações

linguísticas, levará o aluno a comparar e, necessariamente, memorizar e sistematizar,

mais facilmente, os diversos aspetos linguísticos que caracterizam os vários tópicos

gramaticais, além de facilitar a distinção entre eles.

Apesar de estarmos conscientes de que a “memorização” de regras, regularidades

e irregularidades não é suficiente para se garantir uma aprendizagem efetiva da língua,

defendemos que “sem memória não há conhecimento” (Xavier, 2013: 141) e, por isso,

exercícios deste tipo não se tornam tão menos importantes e tão menos eficazes do que

outros em que se envereda pela via oficinal ou em que se associa este método ao trabalho

nos restantes domínios. Mais uma vez, defendemos que o mais importante é que o treino

gramatical na aula de língua materna aconteça de forma regular e que a reflexão

gramatical não se reduza apenas a momentos isolados do resto da aula, mas que possa

acontecer também noutros momentos, em paralelo com atividades de leitura, de escrita e

de oralidade.

Para terminar, entendemos que, ainda assim, cabe ao professor, mediante as

metodologias que tem ao seu dispor, definir as mais adequadas, mediante a faixa etária e

o perfil de cada turma, no sentido de contribuir para a mudança do panorama atual.

2. O ensino do latim na escola

2.1. Evolução do ensino do latim em Portugal

34

Apesar de afirmarmos de ante mão que o latim é, nos dias de hoje, uma língua

pouco valorizada, relembramos que esta foi, durante muito tempo, uma língua bastante

prestigiada. Além de ter adquirido, durante a Idade Média, o estatuto de língua universal,

serviu posteriormente, durante o Renascimento, para alimentar uma extensa e influente

rede cultural que, por toda a Europa, comunicava e publicava as suas obras naquela que

foi, por longo tempo, a língua franca das mais variadas manifestações do saber. Serviu,

também, de modelo sintático e estilístico como base para o desenvolvimento das línguas

modernas (Viaro, 1999: 2). Do mesmo modo, até há algum tempo, as celebrações

litúrgicas católicas, bem como as descrições da Zoologia e da Botânica eram todas em

latim, e os nomes científicos ainda hoje o são (Viaro, 1999: 2). Porém, ao longo dos

séculos, o estatuto do latim foi-se modificando e a sua centralidade foi dando lugar ao

papel dominante das línguas vernáculas.

A partir do início do século XX, o estatuto do latim e o seu lugar no ensino

começaram a ser debatidos. Durante todo esse século, assistiu-se a uma progressiva

redução, quase extinção, do ensino da língua latina. Carneiro (1993: 158-161) demonstrou

de que forma o ensino do latim foi desaparecendo, aos poucos, das escolas e universidades

portuguesas, enunciando as várias reformas do sistema educativo que ocorreram, ao longo

do século passado, nos currículos do ensino secundário. Com base nesta comunicação,

afirmamos que, entre 1905 e o 25 de abril de 1974, vários golpes significativos foram

desferidos no ensino do latim. Em 1972, por ação de José Veiga Simão, o latim acabou

por ser reduzido “à situação de cadeira opcional para os cursos de Letras, mantendo-se

como obrigatória apenas para os cursos de Filologia Clássica e de Direito, deixando de

ser obrigatória também para este último curso, a partir do ano lectivo de 1972/73”

(Carneiro, 1993: 159).

Ainda na mesma comunicação, o autor dá-nos conta de que, após a Revolução de

Abril, as universidades se reestruturaram, renovando cursos e respetivos currículos. No

que respeita às Faculdades de Letras, estas passaram a admitir que fosse conferido o grau

de licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos, sem a frequência de qualquer unidade

curricular de Latim (Carneiro, 1993: 161). Pouco tempo depois, algumas universidades

voltaram a exigir a frequência de, pelo menos, uma cadeira anual de Latim, nas

licenciaturas de todas as variantes de Estudos Portugueses e, ainda, a frequência de dois

anos da disciplina de Latim no ensino secundário, para o acesso aos cursos de Letras

(Carneiro, 1993: 161). Ainda assim, Camelo (1987: 113) dá-nos conta de que a situação

política, que resultara da revolução, “não foi favorável ao Latim e ao Grego”. O autor

35

deixou patente que, além de se ter continuado a contestar a sua metodologia, começou-se

a pôr em causa, também, “a sua vitalidade cultural, esquecendo-se até as razões mais

válidas do estudo do Latim/Grego” (Camelo, 1987: 113).

Depois de vários ataques ao latim, o ensino desta língua, nos ensinos básico e

secundário, continuou a desaparecer das escolas portuguesas. A aprendizagem do latim

realizava-se, apenas, em algumas situações particulares – por exemplo, como condição

necessária para a frequência de cursos destinados à formação de professores de português,

exigida pelas universidades.

Numa tentativa de reverter a situação descrita anteriormente (comum a outros

países da Europa), a UNESCO recomendou em 2010, que o latim fosse ensinado nas

escolas de todos os países em que se falam línguas românicas. Procurando seguir esta

recomendação, surge, em 2015, uma nova reforma do ensino do latim em Portugal, na

qual se enquadra o Projeto Educativo “Oferta Escola” e onde está integrada a componente

curricular de Introdução à Cultura e Línguas Clássicas. Este projeto foi dado a conhecer

em maio de 2015. Ao abrigo do Decreto-Lei nº 139/2012, de 5 de julho, na redação dada

pelo Decreto-Lei nº 91/2013, de 10 de julho, “os Agrupamentos de Escolas/Escolas não

agrupadas podem oferecer, no Ensino Básico ‘componentes curriculares

complementares’.”20 A inserção desta disciplina no ensino básico é a resposta do

Ministério da Educação e Ciência à necessidade de se dar a devida importância à

formação cultural e linguística dos alunos, conferindo especial destaque ao

desenvolvimento de conhecimentos mais profundos da língua materna e das suas raízes.21

Relativamente ao ensino secundário, entraram em vigor, no ano letivo de

2015/2016, as Metas Curriculares de Latim A do Ensino Secundário - 10.º e 11.º anos22,

homologadas em conformidade com os programas de Latim A de 22 de fevereiro de

200123, tendo em conta os conteúdos, as finalidades, e os objetivos gerais e específicos

por ele apresentados24. Segundo o Ministério da Educação e Ciência, a articulação de

todos estes fatores “estabelece o conjunto de conhecimentos e de capacidades essenciais

que os alunos devem adquirir e desenvolver nos 10.º e 11.º anos, na disciplina de Latim

A”.25 Os motivos que levaram o Ministério a incluir, nos currículos do ensino básico, a

20 MEC (2015a). 21 MEC (2015a). 22 Pimentel & Costa (2015). 23 Martins, Sardinha & Silva (2001a); Martins, Sardinha & Silva (2001b). 24 MEC (2015b). 25 Idem.

36

componente curricular de Introdução à Cultura e Línguas Clássicas são os mesmos com

que justifica a importância da disciplina de Latim A, no ensino secundário.

No entanto, atualmente, o Latim A sujeita-se à condição de disciplina opcional,

pertencendo unicamente ao currículo do curso Científico-Humanístico de Línguas e

Humanidades. A esta situação desfavorável junta-se, muitas vezes, a necessidade de

existir um número mínimo de alunos inscritos, para se justificar a abertura da disciplina.

Devido ao número bastante reduzido de alunos interessados em estudar latim, poucas são

as escolas onde, atualmente, se confirma o ensino do latim a decorrer.

Pela consulta de um estudo de Gomes (1995: 292), pudemos perceber que, naquela

altura, mesmo os alunos que se inscreviam em Latim A, não encontravam as suas

expetativas satisfeitas do modo que desejariam. Nesse estudo (Gomes, 1995: 292), o autor

dá-nos a conhecer três razões apresentadas pelos mesmos para a sua desmotivação: “a

inexistência de bases científicas a nível da língua materna”; “um programa demasiado

extenso para a disciplina de língua latina”; “o facto de latim ser uma língua difícil e sem

interesse porque não proporciona a conversação”. Passada mais de uma década, desde a

realização deste estudo, acreditamos que a posição da maioria dos alunos em relação à

disciplina ainda se mantém, tendo em conta, principalmente, a última razão apresentada.

2.2. Importância do estudo do latim

Como já confirmámos anteriormente, o latim é, na atualidade, uma língua bastante

desvalorizada pela sociedade. Ora há quem lhe critique os métodos, ora quem não lhe

encontre qualquer utilidade. Num artigo de 2017, Ferreira constata que esta situação se

deve a mais do que um fator: “um deles é o entendimento generalizado de que o

conhecimento considerado mais erudito e abstrato deve dar lugar ao conhecimento prático

e funcional; outro fator é a crítica aos métodos tradicionais que se associam ao ensino das

Línguas Clássicas” (Ferreira, 2017: 54).

Porém, a ideia de inutilidade do latim, associada ao seu caráter de língua muito

complexa, conta já com algumas décadas. Relembramos que, no ponto anterior, através

de um estudo de Raúl Gomes (1995), pudemos perceber que até os alunos que se

inscreviam na disciplina consideravam o latim uma língua “difícil” e “sem interesse.” No

mesmo sentido, já havia defendido Gomes (1973: 59) que “o ensino desta disciplina se

encontra eivado dos mais diversos preconceitos: políticos, sociais, culturais e até

37

religiosos”; o mesmo autor designou a imagem que se guardava da disciplina de Latim

como “penosa”, revertendo para a ideia de algo demasiado difícil e muito trabalhoso.

Na verdade, o descrédito da cultura e línguas clássicas é algo que foi ganhando

força com a progressão científica e tecnológica e a consequente evolução da sociedade na

direção de um utilitarismo cada vez mais imediato. Acreditamos que esta perceção do

latim está essencialmente relacionada com o facto de se tratar de uma língua de cultura,

sem prática oral frequente (aquilo a que muitos chamam uma língua “morta”), tal como

defendera Ribeiro (1987: 60), em relação aos estudantes de Línguas e Literaturas

Modernas:

A relação incontestavelmente difícil entre os estudantes de Línguas e Literaturas Modernas e o

Latim (…) parece-me decorrer sobretudo de uma atitude preconceituosa que determina, da parte

dos alunos, a relutância na aprendizagem de uma língua morta cuja real utilidade lhes custa a

perceber, já que dela não obtêm o lucro imediato que desejariam.

Ainda que seja incontestável o legado que a antiguidade clássica nos deixou,

estamos certos de que a grande maioria da sociedade desconhece essa herança, a sua

importância e o seu valor inestimável, ou seja, cada vez mais, a influência da cultura

greco-latina na construção de toda a cultura ocidental é ignorada.

Como vimos em 2.1, pela enunciação das sucessivas reformas que operaram no

ensino do latim nos séculos XX e XXI, podemos afirmar que este problema de política

educativa é ainda hoje muito polémico. No âmbito do panorama atual do latim, surgem

sempre questões como as seguintes: “Para que serve, hoje, o latim?”, “Qual a utilidade de

estudar uma língua morta, que requer tanto esforço e dedicação?”. É sobre este assunto

que iremos refletir nos próximos parágrafos, de forma a demonstrar quais os motivos que

tornam a aprendizagem do latim e da cultura latina tão importantes e em que medida

podemos encontrar no seu estudo uma mais-valia para o estudo da língua portuguesa.

Em primeiro lugar, além de o estudo do latim nos permitir compreender, avaliar e

julgar melhor o presente (os seus homens e os seus problemas), por confronto com os do

mundo clássico (Faria, 1973: 67), também constitui o melhor meio de nos levar a

conhecer a Antiguidade, raiz da cultura ocidental (Gouveia, 1973: 90). Atentemos no que

refere Viaro (1999: 2):

O latim serve-nos de trampolim para mergulhos mais profundos na nossa visão de mundo, no

nosso modo de pensar, na nossa vida. Aquele que entende bem a mensagem que o latim passa

38

em seus textos se questionará melhor e verá que antes de nossos valores, havia outros, muito

distintos, mas perfeitamente coerentes, que merecem nossa admiração e respeito.

Em 2017, Ferreira defende também o seguinte:

A relação direta que o Latim estabelece com o Português, a herança que a Cultura

Ocidental recebeu da Antiguidade Greco-Latina e as repercussões que esta tem tido em vários

domínios, como as artes plásticas, a literatura, o teatro, a filosofia ou a ciência, mostram a

vitalidade das línguas grega e latina. (2017: 51)

Com efeito, fica claro que “este é um mundo demasiado valioso para que lhe

voltemos as costas” (Deserto, 2007: 1).

Em segundo lugar, “o latim possibilita-nos aprender melhor outras línguas.”

(Viaro, 1999: 9). É indiscutível o contributo do latim, enquanto língua-mãe das línguas

românicas, para um estudo consciente, uma compreensão clarificada, um domínio mais

perfeito da língua românica materna e para uma melhor aprendizagem de outras línguas

modernas estrangeiras - o conhecimento do latim auxilia na perceção de laços e analogias

que entre elas subsistem e que facilitam ao falante de uma, a aprendizagem de outra(s)

(Ribeiro, 1987: 60).

Partindo desta última razão, defendemos que o argumento mais forte em defesa

do ensino de latim nas escolas portuguesas, se traduz, ainda hoje, nas vantagens que este

acarreta para o aprofundamento do estudo da língua portuguesa, já que, para nós, um

conhecimento básico de latim continua a ser “fundamental e indispensável para um estudo

profundo e sério da língua portuguesa” (Carneiro, 1993: 162).

Pretendemos aqui deixar patente que, com a passagem do tempo, embora tenham

existido muitas mudanças, no âmbito do ensino da língua portuguesa que parecem

enfraquecer este tipo de argumentos - como o surgimento do DT e do Novo Acordo

Ortográfico –, estes não se tornaram, do nosso ponto de vista, inválidos. Porém, é

absolutamente necessário ter em conta que há um obstáculo a ser ultrapassado – o conflito

terminológico entre a gramática tradicional usada na disciplina de Latim A e o dicionário

terminológico - e que não pode nem deve ser ignorado. Independentemente das soluções

que venham a ser adotadas no futuro, o importante a reter, na nossa opinião, é o seguinte:

apesar da constatação deste problema didático (que se manifesta mais numas áreas da

gramática do que noutras), o paralelismo entre as duas línguas mantém-se evidente. Sendo

39

o latim a língua mãe do português, esta será sempre o cerne do nosso idioma e a principal

chave para a compreensão dele (Viaro, 1999: 10).

Apesar das inúmeras razões que abonam a favor do estudo da língua latina na

escola, o panorama do ensino do latim neste momento, não é, como vimos, o mais

animador. Mas por que razão isto acontece? Pela bibliografia consultada, além dos

pensamentos utilitaristas, um dos fatores que mais contribui para a desvalorização do

latim e, por sua vez, para o decréscimo desta disciplina nas escolas portuguesas traduz-se

na crítica aos métodos tradicionais utilizados, que, segundo vários estudiosos, lhe

atribuíram as designações de língua “penosa” e “difícil”.

Fátima Ferreira (2017: 49) dá-nos conta de que igualmente a área da Didática do

Latim não tem sido uma aposta forte no nosso país, facto esse que, em seu entender, pode

estar relacionado com o quase desaparecimento da disciplina de Latim do ensino

secundário português. Ferreira (2017: 50) afirma que esta situação – “e a consequente

falta de aposta (sobretudo dos governantes) nesta disciplina” – tem aumentado devido às

práticas “desajustadas” no ensino desta língua, que se mantêm alheias “de todas as

tendências inovadoras do ensino de línguas”. A autora declara, ainda, que o sistema de

ensino português tem reservado um “papel menor” ao latim, perante a ascensão de

diversas outras disciplinas (Ferreira, 2017: 51).26 Perante estas circunstâncias, Ferreira

(2017: 54) alerta:

A importância inegável do Latim requer que se repense o modo como esta língua se

aprende, sendo, para tal, necessário que se revejam os métodos, nomeadamente a abordagem da

gramática e a integração da cultura, aproximando-os do contexto histórico e social em que

vivemos e trabalhando a interação com outras áreas.

Na nossa opinião, não negamos que alguns métodos devam ser mantidos, mas

muito pode ser modificado. Assim, concordamos com a autora, quando esta defende que

um investimento nas Línguas Clássicas, atualmente, requer que se faça “uma síntese entre

as práticas do passado e uma metodologia de ensino mais ativa, que valorize a oralidade,

a compreensão textual e a aquisição de vocabulário” (Ferreira, 2017: 49).

Deste modo, não pretendemos aqui tirar o mérito aos métodos antigos, mas sim

deixar patente que a integração de novas metodologias e o repensar do processo de

ensino-aprendizagem, não obriga a que práticas que sempre foram vistas como boas e

26 Uma tentativa recente para dar um novo impulso ao ensino do latim em Portugal foi a publicação de Lourenço, F. (2019). Nova Gramática do Latim. Lisboa: Quetzal.

40

eficazes sejam, agora, descartadas. A propósito de “boas práticas”, chamamos a atenção

para a relevância das atividades de análise morfossintática, compreensão e tradução do

texto latino. A tradução “demonstra o conhecimento das estruturas da língua (quem traduz

corretamente é porque conhece as estruturas fundamentais da língua latina

comparativamente com as da portuguesa)” (Borregana, 1993: 204), isto é, promove “o

domínio mais perfeito das estruturas morfossintáticas da língua portuguesa,

paralelamente às da língua latina” (Borregana, 1993: 204). Logo, este exercício constitui

“a prova final de que se conhecem as estruturas das duas línguas” (Borregana, 1993: 205).

Outro exercício também muito importante é a versão de português para latim, pois

a análise da estrutura da frase portuguesa exigirá ao aluno um maior rigor nos

conhecimentos que possui da língua materna. Este exercício torna-se bastante útil, já que

o aluno precisa, primeiro, de identificar corretamente as estruturas do português, para de

seguida ser capaz de elaborar, também de forma correta, a versão da sua língua para a

língua latina, o que faz com que adquira um conhecimento refletido das duas línguas.

Por último, destacamos que é de extrema importância a inclusão de atividades que

estabeleçam, constantemente, relações com o português (ou com outras línguas

românicas) (Carneiro, 1993: 162), partindo, sempre, do presente para o passado, isto é,

do português para o latim, tanto na abordagem de temas culturais como na análise de

temas linguísticos. Colocando, tanto quanto possível, o latim ao serviço do estudo da

língua portuguesa, damos ao seu ensino uma finalidade prática e sempre atual (Carneiro,

1993: 165). Tal como afirmou Viaro (1999: 11), é preciso trabalhar com o objetivo de

“revitalizar o valor que o latim tem”.

Considerando – por tudo o que aqui foi dito - o papel preponderante do estudo da

língua e cultura latinas, é inegável que o latim merecia ocupar um lugar de maior valor

nos currículos dos ensinos básico e secundário. Todavia, uma possível mudança de

“cenário”, nos currículos do século XXI, exigirá um grande esforço por parte dos

docentes, no sentido de promover uma maior consciencialização da importância desta

disciplina na escola.

3. Orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas substantivas – contexto

pedagógico-didático

41

Nesta fase do nosso relatório-dissertação, refletiremos sobre algumas questões que

envolvem o contexto pedagógico-didático dos dois grupos de orações mencionados no

título, primeiramente na disciplina de Português e, posteriormente, na disciplina de Latim.

3.1. Em português

3.1.1. Breve perspetiva histórica: da tradição gramatical portuguesa ao DT

Até ao final do século XIX, as gramáticas do português não apresentavam uma

tipologia para a classificação das orações subordinadas. Esta surge, pela primeira vez, em

1900, na 25ª edição da “Gramática” de Bento José de Oliveira, assentando sobretudo em

critérios sintáticos, ou seja, as orações subordinadas eram classificadas consoante as

funções que cada uma podia desempenhar na frase. Tais funções correspondem às que

são normalmente ocupadas pelas três categorias transformáveis em orações: substantivo,

adjetivo e advérbio. Assim surgiu a tipologia tripartida das orações subordinadas que

conhecemos hoje: as “substantivas”, as “adjetivas”, e as “adverbiais”.27

De acordo com tal critério, as definições gerais atribuídas a cada um destes grupos

de orações são as seguintes: as substantivas são as que desempenham uma função sintática

característica de um grupo nominal; as adjetivas são as que desempenham, em relação a

uma expressão nominal, uma função sintática característica de um grupo adjetival; por

fim, as adverbiais ocupam uma função sintática equivalente à de um grupo adverbial. Esta

tripartição continuou nas gramáticas do português, durante todo o século XX, integrando

a Nomenclatura Gramatical Portuguesa. Apesar das várias mudanças terminológicas

ocorridas a partir do início do século XXI, conservaram-se os mesmos critérios e opções

gramaticais, no que respeita à classificação das orações subordinadas. A mesma tipologia

integra o dicionário terminológico, sendo ensinada nas atuais aulas de português dos

ensinos básico e secundário.

Referindo-nos particularmente às subordinadas substantivas e às subordinadas

adjetivas, que constituem o nosso objeto de estudo, em toda a tradição gramatical, até

hoje, estes dois grupos oracionais sempre se apresentaram desta forma, não se tendo

verificado alterações relevantes na forma como são percecionados pelas gramáticas e

pelas nomenclaturas a utilizar no ensino de português – o modo como estão subdivididas,

27 Cf. Lopes (2005: 109-162). Este trabalho serve de apoio a muito do que é tratado nas páginas seguintes. Para mais informações, consultar a bibliografia aí referida.

42

os critérios de classificação e os termos utilizados para as designar mantêm-se

praticamente os mesmos. A única alteração consiste no facto de ter sido excluído o termo

“integrante” da designação atribuída às orações subordinadas substantivas completivas28.

Relativamente aos elementos que introduzem as orações, podemos afirmar que,

desde que existe uma tipologia da frase complexa, as gramáticas associam a sua

classificação à classificação das orações. Focando-nos, mais uma vez, naquelas que são

tema deste trabalho, pretendemos salientar aqui que a conjunção subordinativa “que” nem

sempre foi considerada uma conjunção, tendo-lhe sido atribuídas diversas designações,

até ao século XVIII – momento em que é, pela primeira vez, identificada como tal (Lopes,

2005: 152-153). Em relação aos “pronomes relativos”29, a gramática conseguiu alcançar

a diferença entre estes e todos os outros elementos introdutórios subordinativos, tanto a

nível morfológico como sintático. Segundo Cunha e Cintra (2000: 344), os pronomes

relativos

assumem um duplo papel no período como representarem um determinado antecedente e

servirem de elo subordinante da oração que iniciam. Por isso, ao contrário das conjunções, que

são meros conectivos, e não exercem nenhuma função interna nas orações por elas introduzidas,

estes pronomes desempenham sempre uma função sintática nas orações a que pertencem.

Porém, em algumas situações, estes vocábulos não possuem antecedente expresso,

daí a existência de orações relativas “com antecedente” e orações relativas “sem

antecedente”.

Ainda quanto aos mesmos elementos introdutórios verificaram-se algumas

alterações da nomenclatura tradicional para o dicionário terminológico30: quanto ao

vocábulo “que”, que era considerado pela gramática tradicional conjunção subordinativa

integrante, a designação “integrante” foi substituída pelo termo “completiva”. Face ao

pronome relativo, as alterações estão relacionadas com o facto de alguns vocábulos que

até aqui eram classificados como “pronomes relativos”, pertencerem, agora, a outras

classes de palavras - ainda que continuem a ser morfemas relativos, distribuem-se pelas

classificações de quantificador (“quanto”), advérbio (“onde”) e determinante (“cujo”).

28 Esta oração era designada pela tradição gramatical como “oração subordinada substantiva completiva ou integrante”. Atualmente, é lhe atribuída a designação de “oração subordinada substantiva completiva”. 29 Como veremos já a seguir, alguns dos vocábulos que eram considerados pronomes relativos pertencem agora a outras classes de palavras. 30 Cf. Santiago & Paixão (2011: 27).

43

Com efeito, podemos concluir que, a continuidade entre a NGP e o DT, em relação

a estes conteúdos, foi praticamente absoluta. Logo, com as sucessivas revisões

terminológicas ao longo dos anos, os dois grupos de orações poucas alterações sofreram

em relação à forma como se descrevem gramaticalmente.

3.1.2. Processo de ensino-aprendizagem das orações substantivas e das orações

adjetivas – principais dificuldades

Após uma revisão atenta dos principais aspetos descritivos e morfossintáticos dos

dois grupos de orações31, concluímos que há, de facto, vários fatores que podem

contribuir para que o aluno sinta dificuldade em distinguir e classificar, corretamente,

diferentes frases complexas com tais construções. Com efeito, consideramos que essas

dificuldades se baseiam, essencialmente, em três situações diferentes; estas serão

apresentadas de seguida, pela lógica progressiva dos programas32.

3.1.2.1. Orações subordinadas adjetivas - relativas restritivas vs. relativas explicativas

Na fase de diagnóstico desta nossa investigação-ação, verificámos que o único

critério utilizado pelos discentes, para distinguirem as orações relativas restritivas das

orações relativas explicativas, é a presença/ausência de vírgulas entre estas e a oração

principal. Além destes dados observados nas turmas em causa, podemos afirmar, com

base na nossa experiência pessoal enquanto estudantes, que esta é uma situação recorrente

entre os alunos dos ensinos básico e secundário.

De uma forma geral, nos materiais didáticos, são utilizados três critérios de

distinção entre a oração restritiva e a explicativa. O primeiro consiste na possibilidade ou

impossibilidade de omissão de cada uma dessas orações na frase. O segundo baseia-se

numa reflexão sobre a diferença de sentido entre elas. A acrescentar a estas duas formas

de distinção, as definições vêm sempre acompanhadas da ideia de que, ao contrário das

restritivas, as explicativas são sempre separadas por vírgulas.

Contudo, apesar de estas orações serem distinguidas semanticamente, a maioria

dos discentes fixa-se nesta última referência relacionada com a pontuação, por ser, do

31 Como apoio à nossa reflexão foram consultadas as gramáticas de Mateus, Brito, Duarte & Faria (2003: 655-685) e de Moreira & Pimenta (2017: 190-193), e o Dicionário Terminológico para consulta em linha. 32 Veja-se o ponto 3.1.3.1.

44

ponto de vista deles, “mais fácil de memorizar”. Deste modo, os alunos acabam por não

compreender verdadeiramente a função de cada uma das orações, preocupando-se,

apenas, em encontrar uma forma “infalível” de as classificar corretamente.

Na nossa perspetiva, só é possível obter uma plena compreensão do

funcionamento da oração restritiva e da oração explicativa, se forem considerados,

estudados e compreendidos todos os aspetos que envolvem estes dois tópicos gramaticais:

morfossintáticos, semânticos, pragmáticos e fonológicos (Pezatti & Câmara, 2014: 145).

Se os alunos desenvolverem uma compreensão inadequada destas estruturas, também não

serão capazes de as utilizar e interpretar corretamente. Além disso, é preciso transmitir

aos alunos a ideia de que “a presença/ausência de vírgula na escrita é consequência da

escolha do falante, da sua intenção comunicativa de construir uma restritiva ou uma

explicativa” (Pezatti & Câmara, 2014: 152). Logo, é fundamental que os alunos façam o

raciocínio no sentido inverso – em vez de reterem a ideia de que as orações explicativas

“são explicativas, porque se separam por vírgulas”, devem antes reter que “por serem

explicativas, se separam por vírgulas”.

Assim sendo, consideramos que esta questão deve constituir uma preocupação

para os professores de português. Para nós, não é suficiente que os alunos respondam

corretamente às questões em que têm de as classificar, porque, ao usar o método

mencionado para as distinguir, a falta de uma compreensão adequada acaba por passar

despercebida. Por isso, é sobretudo necessário aferir o correto entendimento das orações,

a nível semântico. 33

3.1.2.2. “Que” - conjunção subordinativa completiva vs. pronome relativo

Na nossa língua, muitos são os casos em que duas palavras, embora possuindo a

mesma grafia e o mesmo som, pertencem a classes gramaticais diferentes (palavras

homónimas). O vocábulo “que”, ora classificado, por exemplo, como conjunção

subordinativa completiva, ora como pronome relativo, representa um desses casos.

Quando classificado como conjunção subordinativa funciona como principal elemento

introdutório das orações subordinadas substantivas completivas; quando classificado

como pronome relativo é responsável por introduzir a maioria das orações subordinadas

adjetivas.

33 Muito do que é dito nos trabalhos de Silva (2012: 50-52, 64-66, 73-78) e Almeida (2015: 28) serviu de apoio a esta nossa reflexão.

45

Referindo-se a este vocábulo como um constituinte relativo, Mateus et al. (2003:

662) afirmam o seguinte: “o relativo ‘que’ é sem dúvida um dos mais polivalentes, pois

além de ter a mesma forma do ‘que’ completivo, da partícula de ‘realce’ (…) e do segundo

termo de comparação, tem outros valores semânticos”.

Dada a natureza morfossintática deste vocábulo, consideramos que estão reunidas

as condições para que se criem dificuldades nos alunos durante o estudo das orações

adjetivas e das orações substantivas. Se não existir uma correta compreensão do que

caracteriza cada uma das estruturas sintáticas, os alunos não serão capazes de identificar

o “que” corretamente e, por sua vez, classificarão de forma errada as orações por ele

introduzidas.

Com efeito, defendemos que esta situação exige, do docente, um elevado cuidado

e rigor, no momento da exposição da matéria. A nosso ver, o docente deve insistir naquilo

que distingue, sintaticamente, a conjunção do pronome e, no mesmo sentido, deve

procurar destacar a diferença entre uma oração que acrescenta informação sobre um nome

e uma oração que é selecionada pelo verbo da oração subordinante. O trabalho do

professor deve realizar-se, portanto, sem nunca esquecer esta questão, ou seja, no

desenvolvimento das suas estratégias didáticas, o docente deve sempre ter em conta a

possibilidade de os alunos confundirem os dois vocábulos, assim como os dois tipos de

orações, e trabalhar no sentido de evitar que isso aconteça.

3.1.2.3. Orações relativas - subordinadas substantivas vs. subordinadas adjetivas

Em relação às orações subordinadas substantivas relativas sem antecedente e às

orações subordinadas adjetivas relativas com antecedente, embora, desde logo, estas

designações permitam distingui-las, há determinados aspetos que as aproximam. De entre

eles, pretendemos dar ênfase ao facto de serem introduzidas por elementos morfológicos

idênticos, ou seja, pertencentes às mesmas classes de palavras – pronomes, advérbios e

quantificadores relativos. As primeiras são introduzidas pelos conectores relativos

“quem”, “o que”, “onde” e “quanto”. As segundas são introduzidas por “que”, “quem” e

“onde” (conectores relativos invariáveis) e por “o que”, “cujo” e “quanto” (conectores

relativos variáveis).

Além destes aspetos que as tornam próximas, Mateus, et al. (2003: 678) dão-nos

conta de várias outras situações em que, “dado o paralelismo entre as relativas livres e as

46

relativas com antecedente (…), é possível estabelecer desde logo uma aproximação entre

os dois tipos de construção”.

Vejamos o seguinte exemplo dado pelas autoras (2003: 680): “Quem vai ao mar

perde o lugar”. Nesta frase, temos uma oração subordinante – “perde o lugar” – e uma

oração subordinada substantiva relativa – “Quem vai ao mar” – introduzida pelo pronome

relativo “Quem”. Tendo em conta as características semânticas do pronome relativo

“quem” - que, neste caso, “corresponde a uma variável universalmente quantificada” -, a

frase apresentada pode ser substituída por outras, mantendo a mesma significação: “Quem

vai ao mar perde o lugar” é o mesmo que dizer “Aquele que vai ao mar perde o lugar” ou

“Todo aquele que vai ao mar perde o lugar” (Mateus et al., 2003: 678-680).

Atentando nestas construções relativas, facilmente se depreende uma proximidade

com as orações relativas com antecedente expresso, já que a segunda e a terceira frase,

apesar de terem o mesmo significado da primeira, apresentam uma estrutura sintática

diferente – estamos, portanto, diante de uma construção frásica em que temos um

antecedente, representado por um determinante demonstrativo, seguido de uma oração

adjetiva relativa iniciada por “que”.

Tendo em conta o fator de proximidade existente entre as substantivas relativas e

as adjetivas relativas, defendemos que também estes dois tipos de orações são passíveis

de serem confundidos pelos alunos, se não existir um trabalho sistemático por parte do

professor no sentido de colocar em evidência os principais aspetos que as distinguem, tais

como: o tipo de funções sintáticas que cada uma pode ocupar; o facto de as adjetivas

relativas se referirem a um nome que as antecede, enquanto as substantivas relativas não

possuem um antecedente expresso.

3.1.3. As orações nos programas e materiais didáticos de português

Neste ponto, assinalamos dois objetivos. Em primeiro lugar, pretendemos

desenvolver uma reflexão acerca do modo como está organizada, nos programas de

Português, a presença dos tópicos gramaticais que são alvo do nosso estudo. Com base

numa revisão bibliográfica orientada para este tema e após a consulta dos programas dos

níveis básico e secundário, apresentamos o nosso ponto de vista relativamente ao modo

como podem ser introduzidas e trabalhadas estas orações na sala de aula, ao longo do

percurso escolar. Em segundo lugar, apresentaremos uma reflexão que recai sobre a forma

47

como os manuais e as gramáticas escolares dos ensinos básico e secundário abordam estes

conteúdos, principalmente no que toca ao tipo de exercícios empregados.

3.1.3.1. Os programas de Português

O programa de Português do ensino básico (Buescu et al., 2015: 31) propõe que o

pronome relativo - vocábulo responsável por introduzir a maior parte das orações relativas

- seja inserido no 7.º ano, assim como alguns dos outros conectores relativos34 e as orações

subordinadas adjetivas relativas. Consideramos que, nesta fase, se deve desenvolver um

estudo mais exaustivo do pronome relativo, no que respeita à sua identificação e função

na frase (relação que estabelece com o antecedente). Esse estudo permitirá ao aluno

adquirir ferramentas para uma maior facilidade em compreender e assimilar

conhecimentos relacionados com o funcionamento morfossintático das orações

subordinadas adjetivas relativas. Tal como defende Choupina (2010: 62),

o aluno só compreenderá que uma oração relativa é a expansão de um determinado SN e, em

termos sintáticos, faz parte desse SN, quando perceber a relação anafórica que se estabelece entre

o pronome e o nome que ele substitui na oração encaixada.

De acordo com o programa e as metas curriculares da disciplina (Buescu et al.,

2015: 78), o aluno, no final do 7.º ano, deve saber identificar o pronome relativo e os

processos de subordinação entre as orações subordinadas adjetivas relativas e as orações

subordinantes. Relativamente ao momento em que deve ser estabelecida a distinção entre

uma relativa restritiva e uma relativa explicativa, não encontrámos nenhuma indicação

nesse documento. Contudo, pela consulta do manual do sétimo ano de que falaremos

posteriormente, verificámos que as atividades sobre estes tópicos gramaticais não supõem

essa distinção. A introdução do modificador do nome restritivo e modificador do nome

apositivo (funções sintáticas ocupadas por estas orações) só está prevista para o 8.º ano

de escolaridade.

Na nossa perspetiva, talvez valesse a pena refletir, desde logo, sobre as

subclassificações destas orações. No entanto, independentemente do momento em que

essa distinção se realize, defendemos que será mais vantajoso estabelecer essa diferença

em paralelo com o levantamento das funções sintáticas ocupadas pelos dois subtipos de

34 Relembramos que, além do pronome relativo, outras palavras são responsáveis por introduzir as orações subordinadas adjetivas relativas: advérbio relativo, determinante relativo e quantificador relativo.

48

orações, mesmo que isso possa implicar um pequeno reajustamento no programa em

relação ao momento em que o modificador do nome é introduzido. A associação das duas

classificações gramaticais (a sintática e a oracional) ajudará o aluno a compreender

melhor a designação de “adjetivas”, assim como as designações de “restritivas” e

“explicativas”. Importa referir que, para nós, é essencial que, desde muito cedo, se

comece a estabelecer uma “íntima” relação entre a atribuição das funções sintáticas e a

classificação das orações, para que os alunos percebam que não se trata de classificações

gramaticais completamente alheias uma à outra e que, muito pelo contrário, dependem

uma da outra.

No 8.º ano de escolaridade, são introduzidas as orações subordinadas substantivas

completivas (com função de complemento direto) e, por sua vez, a conjunção

subordinativa substantiva completiva “que” (Buescu et al., 2015: 34). Nesta fase,

consideramos imprescindível proceder a uma reflexão gramatical que coloque em

confronto frases complexas que contenham orações adjetivas relativas e frases complexas

que contenham orações substantivas completivas, aproveitando, se for o caso, as

hesitações e as dúvidas quanto à classificação do pronome relativo “que” e da conjunção

subordinativa completiva “que”, para refletir sobre as possibilidades da língua (Choupina,

2010: 62). Neste sentido, concordamos que “a comparação entre estas duas orações irá

levar o aluno a distinguir com clareza uma oração que é um acrescento ao SN e uma

oração que é um argumento selecionado por um verbo” (Choupina, 2010: 62). A nosso

ver, este tipo de reflexão é muito importante, já que, segundo o programa e as metas

curriculares (Buescu et al., 2015: 83), no final do oitavo ano o aluno deve saber

estabelecer relações de subordinação entre orações, identificando os elementos de que

dependem as subordinadas.

Relativamente às orações subordinadas substantivas relativas (sem antecedente),

estas são introduzidas no 9.º ano de escolaridade (Buescu et al., 2015: 37). Nesta fase,

julgamos que é preciso ter em conta tudo o que os alunos aprenderam acerca dos

conectores relativos, nos anos anteriores. No nosso entendimento, o docente deve

clarificar que, apesar de esses elementos se definirem como representantes ou substitutos

de um nome (antecedente), existem também orações relativas sem antecedente expresso;

deve, igualmente, diferenciar estas últimas das adjetivas relativas, na medida em que se

designam “substantivas” por desempenharem funções sintáticas de substantivos e não de

adjetivos. Acrescentamos, ainda, que, tal como Choupina (2010: 59), defendemos que,

49

“pelo nível de competência gramatical desenvolvido que estas construções requerem,

deveriam ser abordadas no final do 9.º ano e retrabalhadas no Ensino Secundário”.

Visto que, a partir desta altura, o aluno já conhece todos os subtipos de orações

subordinadas adjetivas relativas e de orações subordinadas substantivas, é importante

retomar os que foram sendo estudados nos anos anteriores e refletir, agora, sobre os dois

grupos de orações em conjunto, ressaltando as principais diferenças e semelhanças entre

eles, numa perspetiva de confronto.

Quanto ao estudo destes dois grupos de orações no ensino secundário (10.º, 11.º,

e 12.º ano), o programa e as metas curriculares do ensino secundário propõem a retoma e

consolidação da frase complexa no 10.º ano (Buescu et al., 2014: 16); e a retoma, em jeito

de revisão dos mesmos conteúdos, no 11.º e 12.º ano (Buescu et al., 2014: 21; Buescu et

al., 2014: 28). Porém, como já vimos em momentos anteriores, o que se constata muitas

vezes é que, nestes níveis de escolaridade, muitos alunos ainda demonstram uma grande

falta de conhecimentos consolidados, em relação a estes conteúdos gramaticais. Por isso,

no nosso entendimento, é importante que o trabalho a nível destes conteúdos continue no

ensino secundário, tanto quanto as dificuldades diagnosticadas na sala de aula assim o

exijam.

3.1.3.2. Os manuais e as gramáticas escolares de português

Em relação à forma como são introduzidos e abordados estes conteúdos nos

materiais didáticos, a nossa reflexão parte da análise de manuais e gramáticas escolares35,

utilizados, quase todos, na escola onde decorreu a iniciação à prática pedagógica.

Iniciando a nossa reflexão pela análise do manual do 7.º ano, este apresenta, nas

páginas 152-153, quatro exercícios36: os dois primeiros incidem sobre o estudo do

pronome relativo “que”; os dois últimos recaem sobre o estudo das orações subordinadas

adjetivas relativas. O modo como foi construída a abordagem aos dois conteúdos segue

aquilo que defendemos anteriormente - o estudo do pronome relativo em paralelo com o

estudo deste grupo de orações, de forma a facilitar a assimilação dos conhecimentos.

Quanto ao tipo de exercícios propriamente ditos, consideramo-los bastante úteis e

35 Neto, Guimarães, Brochado, Amaral & Nunes (2016a) – manual do sétimo ano; Neto, Guimarães, Brochado, Amaral & Nunes (2016b) – manual do oitavo ano; Pinto & Baptista (2013) – manual do nono ano; Cameira & Andrade (2016) – manual do décimo primeiro ano; Falcão (2016) – gramática escolar do 3.º ciclo do ensino básico; Oliveira & Junqueira (2016) – gramática escolar do ensino secundário. 36 Ver Anexo I.

50

eficazes, no sentido em que facilitam a compreensão do funcionamento morfossintático

do pronome relativo (exercícios 1 e 2) e das orações subordinadas adjetivas relativas

(exercícios 3 e 4). Nota-se, no entanto, que os dois últimos exercícios estão condicionados

pela ausência de reflexão sobre os dois sentidos que uma oração deste tipo pode

introduzir.

No exercício 3, os discentes são levados a transformar frases simples em frases

complexas, seguindo o exemplo apresentado; ou seja, constroem orações subordinadas

adjetivas relativas colocando-as sempre entre vírgulas. O exercício 4 apresenta frases

complexas constituídas por orações subordinadas adjetivas relativas restritivas, sobre as

quais é pedida a transformação das orações subordinadas em adjetivos. A nosso ver, não

parece fazer muito sentido que os alunos sejam levados a lidar ora com relativas

explicativas, ora com relativas restritivas, sem que se reflita sobre o que as distingue, isto

é, sem que seja explicado por que razões umas ficam entre vírgulas e outras não. Por

outras palavras, defendemos que, mesmo numa fase inicial, a questão da semântica aliada

à pontuação não deve ser ignorada.

Quanto ao manual do 8.º ano, queremos salientar três momentos diferentes. Nas

páginas 48 e 4937, encontramos três exercícios de gramática: o primeiro consiste na

revisão/consolidação das orações subordinadas adjetivas relativas; os dois últimos servem

de introdução à função sintática de modificador do nome – um incide sobre o modificador

do nome restritivo e o outro sobre o modificador do nome apositivo. Embora

consideremos que os exercícios foram bem construídos, note-se que os mesmos surgem

sem se estabelecer qualquer relação com o facto de estas serem as funções sintáticas

desempenhadas pelas orações revistas. No nosso entendimento, este momento poderia ter

sido aproveitado para abrir uma brecha sobre esse aspeto.

A página 20138 apresenta um exercício que visa a introdução das orações

subordinadas substantivas completivas. Neste são colocadas questões que levam os

alunos a refletir a partir de diferentes perspetivas, sobre o comportamento sintático dessas

orações. Por fim, são levados a concluir que estas orações se designam “substantivas”,

pelo tipo de funções sintáticas que ocupam. Ainda que este exercício nos pareça bastante

adequado para o efeito pretendido, encaramos a falta de uma questão de identificação do

elemento que as introduz como um ponto menos positivo a apontar.

37 Ver Anexo II. 38 Ver Anexo II.

51

Na página 24339, depois de um exercício de revisão e consolidação, sobre as

orações subordinadas (adverbiais, substantivas e adjetivas), realiza-se, em jeito de síntese

da matéria, a distinção entre os três grupos oracionais, no que diz respeito ao tipo de

dependência nas relações de subordinação na frase complexa. Esta descrição teórica

pareceu-nos bastante apropriada, pois entendemos que, principalmente nesta fase, a

criação de momentos em que, de facto, se evidencia a diferença entre uma oração que

depende de um grupo nominal e uma oração que depende de um grupo verbal é

absolutamente necessária.

Em relação ao manual do 9.º ano, na página 56 (correspondente à unidade didática

em que o programa prevê que sejam introduzidas as orações subordinadas substantivas

relativas), encontramos dois exercícios40 que incidem sobre os dois grupos de orações que

são objeto do nosso estudo. O exercício 1 trabalha a distinção entre os dois tipos de

orações subordinadas adjetivas relativas – as restritivas e as explicativas – e a

identificação do respetivo antecedente. O exercício 2 testa a capacidade dos alunos em

reconhecer as orações subordinadas substantivas relativas, confrontando-os com outras

frases que incluem orações subordinadas substantivas completivas. Nesta etapa, a

realização destes exercícios torna-se muito útil, já que permite relembrar as orações

subordinadas adjetivas relativas e as orações subordinadas substantivas completivas, ao

mesmo tempo que se dá início ao estudo das orações subordinadas substantivas relativas.

Todavia, defendemos que, ao último exercício, se poderia acrescentar uma tarefa:

a identificação das funções sintáticas ocupadas por cada uma das orações subordinadas

presentes nas frases. Isto permitiria, desde logo, aproximar as orações substantivas

relativas e as orações substantivas completivas, ao concluir que todas elas ocupam

funções sintáticas características de grupos nominais e, ao mesmo tempo, distingui-las

das orações relativas que seriam relembradas no exercício anterior. Com esta atividade,

na nossa opinião, a resolução do exercício tornar-se-ia muito mais produtiva.

Nas unidades didáticas seguintes, o manual sugere a realização de vários

exercícios que solicitam a divisão e classificação das orações em causa41. Estes seguem,

maioritariamente, dois caminhos: por um lado, trabalham-se os dois subtipos de orações

subordinadas adjetivas relativas em conjunto, confrontando frases que contêm apenas

estas orações; por outro lado, insiste-se no confronto entre as orações subordinadas

39 Ver Anexo II. 40 Ver Anexo III. 41 Ver Anexo III.

52

adjetivas relativas e as orações subordinadas substantivas completivas, utilizando frases

complexas constituídas com estas e outras orações subordinadas, por exemplo adverbiais.

Relativamente às orações subordinadas substantivas relativas, notamos que acabam por

ficar um pouco “esquecidas”, não reaparecendo muito mais vezes nos exercícios de

gramática, o que nos parece ser uma lacuna de alguma relevância, visto que possuem o

estatuto de conteúdo “novo” introduzido neste ano de escolaridade.

No manual do 11.º ano, encontramos o mesmo tipo de exercícios, embora em

menor quantidade42, devido ao facto de, nesta fase, ser esperado que a retoma dos

conteúdos aconteça, já, em jeito de revisão e/ou consolidação.

Por último, ao consultar as duas gramáticas escolares supramencionadas,

percebemos que os exercícios de aplicação são muito idênticos aos apresentados pelos

manuais; são, no entanto, mais extensos e em maior quantidade e variedade, relativamente

a cada tópico gramatical. Em relação à gramática do 3.º ciclo do ensino básico, nas

páginas 176-17743, encontramos um exercício de aplicação que vai ao encontro daquilo

que defendemos. Este pede a classificação das orações presentes num conjunto de frases

nas quais só existem orações subordinadas adjetivas relativas (restritivas e explicativas)

e orações subordinadas substantivas (completivas e relativas), ou seja, num mesmo

exercício, os quatro tipos de orações são colocados em confronto. Quanto à gramática do

ensino secundário, nesta predominam as solicitações de divisão e classificação de

orações, em exercícios que contêm frases com todos os tipos de orações, isto é, as

atividades práticas já se apresentam, apenas, com o objetivo de consolidar os

conhecimentos gerais acerca da frase complexa, seguindo a mesma lógica de objetivos

dos manuais escolares.

Após esta análise e reflexão, apresentamos, de seguida, algumas conclusões

gerais, retiradas da revisão desses materiais didáticos.

Em primeiro lugar, verificámos que todos os manuais que foram analisados

organizam as unidades didáticas fazendo uma divisão das atividades pelos domínios

correspondentes, logo os exercícios gramaticais são separados de todos os outros. As

gramáticas acompanham a seguinte sequência: exposição dos conteúdos através da

simplificação das definições e das características de cada tópico gramatical e, no que diz

respeito às orações, focalizando os principais aspetos dessas construções; depois da

descrição de cada tópico gramatical, seguem-se os exercícios de aplicação. De acordo

42 Ver Anexo IV. 43 Ver Anexo V.

53

com os objetivos propostos pelos programas para cada fase escolar, tanto nos manuais

como nas gramáticas, há uma progressiva redução das atividades relacionadas com o

ensino e treino da gramática (os exercícios sofrem, aos poucos, uma diminuição de

quantidade, de variedade e de extensão), do ensino básico para o ensino secundário.

Posto isto, podemos afirmar que, apesar de várias alterações ao programa da

disciplina, referidas no ponto 1. deste capítulo, não só a maioria dos materiais didáticos

apresenta uma organização tradicional (apelando a um método mais expositivo e

dedutivo), como também a maior parte dos exercícios possui, ainda, um cunho bastante

normativo.44 Conforme é visível numa leitura atenta dos exercícios colocados em anexo,

apenas os manuais do sétimo e oitavo ano apresentam atividades de gramática com um

cunho mais oficinal. Porém, defendemos que esse facto não coloca em causa a sua

adequação, nem tão pouco os torna menos úteis e eficazes.

Ainda assim, constatámos que, além da lacuna que existe em relação às orações

subordinadas substantivas relativas, não há um momento em que os vários aspetos

diferenciadores (morfológicos, sintáticos, semânticos, etc.) sejam trabalhados em

conjunto, numa perspetiva contrastiva.45 Nos exercícios que incidem sobre estes dois

grupos de orações, predominam as solicitações de divisão e classificação das orações. Por

exemplo: questões que solicitem a identificação da função sintática desempenhada por

tais estruturas poucas vezes são incluídas nos exercícios; questões que avaliem,

concretamente, a correta compreensão daquilo que distingue, a nível semântico, uma

relativa restritiva de uma relativa explicativa também não foram encontradas.

Concluindo, a nosso ver, consideramos que um dos aspetos a ser melhorado, no

que diz respeito ao modo como são encarados estes conteúdos pelos materiais didáticos,

talvez seja a criação de um momento em que se insista em exercícios que, pela forma

como estão construídos, coloquem em evidência os vários aspetos caracterizadores dos

dois grupos de orações. Isto ajudará, certamente, a clarificar e assimilar, mais

eficazmente, as principais diferenças e semelhanças entre os mesmos. Seguindo esta

orientação metodológica, os quatro subtipos de orações poderiam ser trabalhados em

conjunto, num mesmo exercício, no qual seriam incluídas questões de ordem

morfológica, sintática, semântica, etc.. Do mesmo modo, este tipo de trabalho pode

basear-se na construção de três exercícios específicos que coloquem em contraste: as

44 Note-se o que Xavier (2013: 141-142) já tinha constatado no seu estudo. 45 Relembramos que, de todos os materiais consultados, encontramos apenas um exercício que reunia um conjunto de frases com os quatro tipos de orações e que pedia a sua correta classificação.

54

orações adjetivas relativas restritivas e as orações adjetivas relativas explicativas, as

orações substantivas completivas e as orações adjetivas relativas, as orações substantivas

relativas e as orações adjetivas relativas, respetivamente.

3.2. Em latim

Em comparação com o português, tentaremos, neste momento, assinalar as

principais diferenças e semelhanças entre tais construções sintáticas em latim – orações

subordinadas relativas e orações subordinadas completivas – e as que lhes correspondem

em português.46 Procuraremos, fundamentalmente, destacar os aspetos que consideramos

mais relevantes no âmbito do nosso estudo.

3.2.1. Orações subordinadas relativas (adjetivas)

Este tipo de orações em latim corresponde às orações subordinadas adjetivas

relativas (com antecedente) em português. Designam-se por “relativas”, pois, tal como

em português, são introduzidas por conectores relativos (pronome relativo “qui”, “quae”,

“quod”, nas suas variantes flexionais) que substituem, na oração subordinada, o

antecedente presente na oração subordinante. Importa referir que o pronome relativo em

latim concorda, por via de regra, em género e número com o seu antecedente, no entanto

expressa-se no caso correspondente à função sintática que ocupa na oração subordinada

que introduz. Estas orações são ainda designadas por “adjetivas”, porque, também em

latim, modificam uma expressão nominal à qual se referem.

Ao contrário do que acontece em português, a distinção entre orações relativas

adjetivas (com antecedente) e orações relativas substantivas (sem antecedente), e entre

orações relativas (adjetivas) restritivas e orações relativas (adjetivas) explicativas, não

integram a tipologia de classificação de orações subordinadas em latim. No entanto, é

importante clarificar que isso não significa que essas estruturas sintáticas não existam em

latim; elas existem, mas as gramáticas não consideram tais distinções.

Na língua latina, as orações subordinadas relativas apenas se distinguem pelo

modo verbal – modo indicativo ou modo conjuntivo – exprimindo, cada um destes,

valores semânticos diferentes: enquanto as orações que se encontram no modo indicativo

46 Como apoio à nossa reflexão foram consultadas as gramáticas latinas de Borregana (1999: 206-215) e de Almendra & Figueiredo (2003: 190-198).

55

assumem um valor assertivo, as que se encontram no modo conjuntivo associam o valor

restritivo a um valor circunstancial.

3.2.2. Orações subordinadas completivas

Estas orações em latim correspondem às orações subordinadas substantivas

completivas em português. Designam-se por “completivas”, já que, tal como na língua

portuguesa, completam o sentido da oração subordinante.

Também em latim, este tipo de orações pode ser introduzido por conjunções

subordinativas ou não conter qualquer elemento de ligação (apresentando o verbo no

modo infinitivo): as que se ligam à oração subordinante por uma conjunção subordinativa

(por exemplo, “ut”, “quod”, “ne” e “quin”) são classificadas como orações subordinadas

completivas conjuncionais; as que não possuem um elemento de ligação têm o verbo no

modo infinitivo (presente, perfeito ou futuro) e classificam-se como orações subordinadas

completivas infinitivas. Estas orações podem ainda ser introduzidas por pronomes

interrogativos, advérbios interrogativos e partículas interrogativas, sendo-lhes atribuída a

designação de orações subordinadas completivas interrogativas indiretas.

Enquanto na língua latina é realizada a distinção entre estes três subtipos de

orações subordinadas completivas, de acordo com critérios como, por exemplo, o tipo de

verbo ou o elemento de ligação, em português não ocorre essa distinção, ou seja, não

existe uma subclassificação para este tipo de orações.

Em latim, as completivas infinitivas são as mais frequentes. Em português, apesar

de a sintaxe da oração infinitiva ainda existir, esta não é a forma preferida. Este subtipo

de orações completivas contém o sujeito (e o predicativo do sujeito, se existir) no

acusativo, pois ambos integram o complemento direto da frase – função sintática

desempenhada pela oração subordinada completiva infinitiva.

Assim como em português, este tipo de orações (tanto as infinitivas como as

conjuncionais) ocupa, normalmente, a função sintática de complemento direto; há, no

entanto, orações deste tipo que ocupam a função sintática de sujeito da frase (quando

acompanhadas por verbos ou expressões impessoais), mantendo o sujeito (e o predicativo

do sujeito) em acusativo.

3.2.3. Importância do estudo das orações em latim para a aprendizagem das mesmas

em português

56

Relembrando que, no ponto 2.2. deste capítulo, defendemos a importância do

ensino do latim na escola, pretendemos agora demonstrar em que medida o estudo destes

conteúdos gramaticais em latim poderá facilitar a compreensão dos mesmos em

português. Partindo da comparação que fizemos com o português, desenvolveremos essa

tese, explicando o que nos leva a crer nessa ideia.

Em primeiro lugar, é necessário ter em conta que as aulas de latim assentam num

paralelismo constante entre a língua portuguesa e a língua latina; portanto, consideramos

que seguir um método comparativo, focado essencialmente em semelhanças, se revelará

bastante vantajoso na diminuição das dificuldades do estudo dos tópicos em português,

pois facilita o processo de mobilização de saberes entre uma língua e outra.

Atualmente, apesar de o conflito existente entre a terminologia a usar em latim e

a que é usada em português, ainda se encontram mais semelhanças do que diferenças

entre tais orações em latim e as que lhes correspondem em português. Embora, em relação

a outras questões de morfologia e sintaxe, seja notório um conflito terminológico

causador de alguns obstáculos no momento de ensino-aprendizagem, no que diz respeito

à frase complexa essa situação não se coloca de forma tão relevante, existindo, entre elas,

mais pontos de contacto do que de distanciamento. Ainda que a descrição gramatical de

tais orações em latim apresente algumas diferenças relativamente à língua portuguesa,

continua a existir uma proximidade entre essas estruturas sintáticas, nas duas línguas.

Posto isto, na nossa opinião, a introdução das orações nas aulas de Latim A pode

e deve ter, sempre, um momento prévio de revisão de noções básicas acerca das mesmas

em português, para que, daqui, se parta para a exposição do conteúdo na língua latina, à

medida que se vão reconhecendo pontos de contacto entre ambas as línguas. Para nós,

mais importante do que ultrapassar as diferenças entre uma convenção e outra é tentar, ao

máximo, aproximar estruturas, mesmo que tenhamos de lhes dar “nomes” distintos. Este

processo deverá terminar com atividades de explicitação e sedimentação de

conhecimentos (como, por exemplo, exercícios de versão e retroversão), que obriguem o

aluno a refletir sobre a estrutura das duas línguas, relacionando-as entre si. Como

resultado, os alunos aprofundarão os seus conhecimentos acerca das duas realidades

linguísticas.47

Em segundo lugar, partindo do geral para o particular, defendemos que

determinados princípios reguladores destas orações se tornarão mais claros em português,

47 Cf. Anunciação (2013: 48-51) e Almeida (2015: 49-50). Estes trabalhos servem de apoio à nossa reflexão neste parágrafo.

57

quando estudados na língua latina. Os nossos alunos de latim pensam em português, logo

estarão sempre a fazer a ponte entre as duas realidades linguísticas. Deste modo, os

conhecimentos resultantes da aprendizagem de algumas regras de funcionamento

morfossintático em latim facilmente serão transportados para a língua portuguesa,

clarificando e consolidando determinados aspetos gramaticais comuns às duas línguas.

Por exemplo, em relação às orações subordinadas relativas, defendemos que a

introdução da regra de concordância do pronome relativo (em género e número) com o

antecedente, ajudará o aluno a compreender melhor o conceito de antecedente e a

perceber mais eficazmente a função do pronome relativo na oração relativa. Além disso,

julgamos que o discente, ao perceber que o pronome relativo pode ser flexionado,

facilmente depreende que este possui, necessariamente, funções sintáticas. Logo,

distingue-se das conjunções, que são meros elementos de ligação.

Quanto às orações subordinadas completivas, julgamos que o estudo do

funcionamento morfossintático das mesmas, nomeadamente o das infinitivas, facilita o

entendimento das orações subordinadas substantivas completivas em português. Na nossa

perspetiva, a introdução da regra que dita em que caso o sujeito deste tipo de orações se

deve encontrar ajudará o aluno a perceber a definição de oração completiva, já que este

se apresenta no acusativo, por integrar, tal como em português, o complemento direto da

frase. Por isso, tais orações são um complemento ao sentido do verbo da oração

subordinante, daí se designarem por “completivas”.

De uma forma geral, acreditamos que o fundamental, nas aulas de Latim A, é

manter uma constante ligação com a língua portuguesa, para que o aluno desenvolva a

capacidade de relacionar a estrutura das duas línguas. Quanto mais consciente o aluno

estiver de todas as semelhanças e diferenças entre o português e o latim, mais

aprofundados serão os seus conhecimentos gramaticais, tanto de uma língua como de

outra.

Ainda assim, temos perfeita noção de que o estudo do latim não é suficiente para

dissipar todas as dificuldades que decorrem do processo de ensino-aprendizagem das

orações em português, mas pode, e muito, ajudar a diminuí-las. Além disso, embora esse

seja um elemento com interesse e não negligenciável, não se aprende latim apenas para

aperfeiçoar o português ou numa lógica comparatista – o latim também se aprende por si

mesmo, pelo conjunto de janelas que abre por si só.

58

Capítulo III - Relato da investigação-ação:

experiências de ensino-aprendizagem

59

1. Contextualização da investigação-ação

1.1. Caracterização da escola e das turmas

A nossa experiência letiva (iniciação à prática profissional) decorreu, no ano letivo

de 2016/2017, na Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas, em duas turmas de

Português (9.º E e 11.º F) e uma de Latim A (11.º D).

Relativamente à escola, esta situa-se na Praça Pedro Nunes, no Porto, começou a

ser construída em 1927 e iniciou atividade em 1933. Atualmente, é uma escola pública,

onde são lecionados o 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e o ensino secundário.

Esta instituição é, também, um Território Educativo de Intervenção Prioritária

(TEIP) com contrato de autonomia. O projeto TEIP consiste numa iniciativa

governamental, implementada em cento e trinta e sete agrupamentos de escolas que se

localizam em territórios económica e socialmente desfavorecidos. São objetivos centrais

do programa a prevenção e a redução do abandono escolar precoce e do absentismo, a

redução da indisciplina e a promoção do sucesso educativo de todos os alunos.48

Outro elemento que caracteriza este espaço escolar é o facto de o mesmo trabalhar

em conjunto com a Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes. Integra,

portanto, a rede de escolas de referência para a educação de alunos cegos e de baixa visão

em Portugal. O trabalho dos docentes conta com o apoio de um gabinete destinado à

educação especial, do qual fazem parte professores especializados, que se encontram na

posse de todos os meios necessários para oferecer boas condições de aprendizagem aos

alunos com necessidades educativas especiais.

Além de tudo isto, graças à iniciativa dos professores Alexandra Azevedo e Jorge

Moranguinho, a Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas foi pioneira do projeto

Pari Passu. Este projeto, que se aplica ao 2.º ciclo do ensino básico, visa a concretização

da componente curricular designada por Introdução à Cultura e Línguas Clássicas.

Essencialmente, o que se pretende é despertar, nos alunos, o interesse pelos estudos

clássicos e prepará-los, de certa forma, para o estudo do latim no ensino secundário.

Também nós tivemos oportunidade de participar nesse projeto, chegando a lecionar

algumas aulas da disciplina de Iniciação à Cultura Clássica.

48 Sobre este tema consulte-se a informação disponível da página do Ministério da Educação: http://www.dge.mec.pt/teip.

60

Por último, importa salientar que, durante todo o ano letivo, nos sentimos muito

bem acolhidos pela comunidade escolar, o que motivou e facilitou o desenvolvimento de

todo o nosso trabalho. Atentemos, de seguida, no perfil de cada turma.49

Começando pela turma do 9.º E, esta é constituída por um total de 21 alunos, cuja

média de idades ronda os catorze anos. Os alunos desta turma possuem um nível de

aproveitamento, interesse e participação razoáveis. Porém, apesar de serem bastante

interessados e participativos, as intervenções nem sempre são realizadas de modo ordeiro

e pertinente. De uma forma geral, o comportamento da turma é razoável, embora haja a

necessidade de ter em atenção alguns casos particulares de alunos com elevado défice de

atenção e que perturbam o resto da turma. Mesmo assim, nunca chegam a ultrapassar os

limites da insolência e da má educação, pois basta a professora impor-se de uma forma

mais assertiva, para que tudo volte à normalidade. A turma manifesta algumas

dificuldades em quase todos os domínios da disciplina (compreensão de textos, expressão

oral e escrita), mas, principalmente, na área da Gramática – nesta vertente da disciplina,

revela, essencialmente, desinteresse pelos conteúdos e, por sua vez, uma grande falta de

estudo.

A turma do 11.º F, da qual fazem parte 14 alunos, pertence ao curso de Ciências

Socioeconómicas. A média de idades dos discentes ronda os 16 anos. O facto de se tratar

de uma turma pequena acarreta vantagens e desvantagens: por um lado, torna-se mais

fácil e eficaz cumprir um plano em que se introduzem conteúdos novos, já que, devido ao

reduzido número de alunos, sobra mais tempo para dedicar a cada tarefa prevista; por

outro lado, por se criar, dentro da sala de aula, um ambiente mais descontraído, os alunos

distraem-se facilmente, conversando entre eles, sobre assuntos não relacionados com o

conteúdo da aula. Ainda assim, a professora consegue facilmente chamá-los à razão e

pedir-lhes que voltem a estar atentos e concentrados, ao que eles atendem sem grande

esforço. Ainda que possam existir alguns momentos de distração, os discentes não

demonstram problemas de mau comportamento ou má educação. São, em geral, bastante

empenhados e interessados, apresentando um nível de aproveitamento e de participação

bastante satisfatório. Alguns deles revelam um elevado nível de cultura geral. A maioria

da turma não revela dificuldades significativas na compreensão de textos e na produção

escrita; contudo, quanto à gramática, as dificuldades já são mais visíveis, apresentando,

também, a ideia pré-concebida de que os conteúdos relativos a este domínio são algo

muito difícil de se aprender.

49 Por questões de reserva de identidade, ao longo deste capítulo, os alunos nunca serão identificados.

61

Por fim, a turma do 11.º D, pertencente ao curso de Línguas e Humanidades, é

constituída apenas por cinco alunas. Como mencionamos anteriormente, uma turma

pequena traz algumas vantagens. Visto que esta turma apresenta um número bastante

reduzido de alunas, a nosso ver, é possível ir mais facilmente ao encontro das dificuldades

de cada uma delas, oferecendo um apoio mais individualizado. No entanto, este facto

muitas vezes não é suficiente para que as aulas sejam produtivas e evoluam

favoravelmente. Embora as discentes pareçam bastante interessadas, revelam um nível de

aproveitamento pouco satisfatório, devido à falta de estudo. Trabalhando pouco em casa,

atrasam o cumprimento dos planos de aula, não contribuindo para que a aula progrida a

uma velocidade aceitável; as aulas tornam-se lentas e pouco produtivas. Isto exige um

grande esforço por parte da docente, que se vê obrigada a estar constantemente a encontrar

estratégias que façam com que as aulas avancem sem deixar nenhuma matéria por dar e

que tornem a aula mais dinâmica, a fim de despertar, nas alunas, um maior interesse pela

matéria.

1.2. Metodologia e didática

O desenvolvimento prático da investigação-ação decorreu durante os blocos de

aulas de português e de latim, atribuídos ao longo do estágio. Este consistiu,

essencialmente, na ocupação de tempos letivos com o ensino e/ou revisão dos conteúdos,

seguindo-se a resolução de fichas gramaticais e outros exercícios, instrumentos utilizados

na recolha e análise de dados.

Em português, numa fase inicial, a explicação da matéria foi acompanhada de

fichas informativas entregues aos alunos, para que os mesmos pudessem acompanhar a

explicação da professora e adquirir material de estudo. De modo a tentar atingir os

objetivos propostos, não trabalhámos estes conteúdos em toda a sua plenitude, mas antes

procurámos, em todo o trabalho desenvolvido nas aulas (na exposição oral e na

construção de materiais didáticos), ir ao encontro das principais dificuldades encontradas

no processo de ensino-aprendizagem dos dois tópicos gramaticais50.

Quanto ao tipo de exercícios por nós concebidos, estes foram construídos

atendendo às recomendações de Vilela (1995) e Choupina (2010), as quais nos parecem

constituir uma boa orientação para dar resposta aos problemas que se levantam.

50 Cf. ponto 2. do capítulo I e ponto 3.1.2. do capítulo II.

62

Segundo Vilela (1995: 241), “apenas o confronto sistemático, a comparação e a

manipulação de muitas frases nos levarão à explicação capaz das regularidades e

irregularidades da língua”. Em relação ao modo como devem ser trabalhadas as orações

relativas51 em aula, defendeu Choupina (2010: 61) que estas “são um conteúdo complexo,

que implica um amplo trabalho quer ao nível da palavra (pronomes e antecedentes), quer

ao nível da frase (confronto com outras orações, nomeadamente as completivas finitas)”.

A autora deixa patente que as orações relativas devem ser confrontadas com outras

orações; além disso, salienta que devem, em algum momento, cruzar-se com o estudo das

orações substantivas completivas. Posto isto, tivemos como ponto de partida,

essencialmente, a ideia de uma abordagem gramatical assente numa perspetiva de

“confronto” entre diferentes frases, defendida pelos dois autores. Assim, de acordo com

o tipo de dificuldades apontadas no ponto 3.1.2. do capítulo II, colocámos os diferentes

subtipos de orações subordinadas adjetivas e de orações subordinadas substantivas em

confronto, tentando, tanto quanto possível, trabalhá-los em conjunto, insistindo nos

principais aspetos linguísticos (morfológicos, sintáticos e semânticos) que diferenciam as

orações, ou seja, que permitem distingui-las mais facilmente.

Além de seguirmos estas orientações metodológicas, procurámos não nos afastar

muito do método de reflexão gramatical adotado pela professora titular das turmas, ou

seja, daquele que era o método dominante na escola. Servindo como modelo, apoiámo-

nos nos exercícios apresentados pelas gramáticas escolares da Porto Editora mencionadas

no ponto 3.1.3.2. do capítulo II, que estão de acordo com os atuais programas e metas

curriculares de português. Estes e todos os outros materiais didáticos que construímos

foram revistos e aprovados pela professora orientadora de estágio.

Na disciplina de Latim A, para recolhermos dados sobre os conhecimentos e as

dificuldades acerca dos tópicos gramaticais em causa, entregámos à turma uma ficha de

trabalho com exercícios que incidem sobre os conteúdos que lhes correspondem na língua

latina. Nesses exercícios, incluímos frases complexas em português e em latim que, pelo

tipo de construção morfossintática que apresentam, se tornam relevantes para o nosso

estudo, comparando uma língua com a outra. A estratégia metodológica consistiu,

sobretudo, na construção de exercícios de versão e retroversão dessas mesmas frases, que,

como já defendemos antes, constituem um ótimo meio para comprovar, efetivamente, a

existência de conhecimentos acerca das duas línguas. A nosso ver, pelo paralelismo que

permitem estabelecer entre o português e o latim, este tipo de exercícios é de uma

51 Aqui, a autora referia-se aos dois tipos de orações relativas, as substantivas e as adjetivas.

63

importância bastante significativa, para verificar se o discente tem ou não a capacidade

de estabelecer uma correta relação gramatical entre os dois sistemas linguísticos.

2. Fase de diagnose – identificação do problema

A descrição do modo como se realizaram as atividades de revisão (diagnóstico)

será acompanhada de uma análise comentada sobre o desempenho dos alunos de cada

turma, durante essas atividades.

A aula lecionada no 9.º E foi preparada com base nos temas abordados, nas duas

aulas anteriores: “A importância das palavras” e “A importância dos conectores para a

comunicação”. Neste seguimento, considerámos que seria pertinente, nesta aula, refletir

sobre a seguinte temática: “As conjunções como um subconjunto dos conectores”,

destacando, sobretudo, dois aspetos: a importância do seu uso interfrásico para uma

melhor articulação do discurso e a sua função como elementos de ligação de orações.

Assim, depois de introduzirmos a temática da aula, a partir da leitura e comentário de um

excerto da crónica Pessoas de Verbo Complicado, de Maria Judite de Carvalho,

relembrámos a função das conjunções, transitando, de seguida, para as atividades de

revisão da frase complexa, que se realizou através da resolução de uma ficha de

trabalho52.

Esta ficha (recurso didático totalmente produzido por nós) subdividia-se em dois

grupos. O primeiro era constituído por exercícios que procuravam estabelecer a distinção

entre os conceitos de coordenação e de subordinação e continha, também, vários

exercícios sobre os diferentes tipos de orações coordenadas e subordinadas adverbiais.

Quanto ao segundo, este era constituído por dois exercícios: o exercício 1 incidia sobre

as orações subordinadas adjetivas relativas e o exercício 2 recaía sobre as orações

subordinadas substantivas completivas. Durante a realização da ficha, verificámos que os

alunos demonstraram muito mais dificuldades em resolver os exercícios do Grupo II, do

que os exercícios do Grupo I. Nas questões do segundo grupo, embora fossem capazes de

dividir as orações presentes nas frases, não as classificavam corretamente, confundindo

os dois tipos de orações. No mesmo sentido, não reconheciam os elementos que as

introduziam, ou seja, não distinguiam o “que” conjunção subordinativa substantiva

completiva do “que” pronome relativo.

52 Ver Anexo VI.

64

A revisão da subordinação na turma do 11.º F surge como último momento da

aula zero, na qual se deu início ao estudo do capítulo V do Sermão de Santo António aos

Peixes, de Padre António Vieira. Durante a leitura e análise dos dois primeiros tipos de

peixes, procurámos demonstrar aos alunos a importância dos conhecimentos gramaticais,

para uma melhor compreensão e análise dos textos literários.

Para terminar, entregámos à turma uma ficha de trabalho53 (também produzida por

nós, na íntegra) com dois exercícios sobre as orações subordinadas, para que fosse

resolvida na aula, juntamente com a professora, em jeito de diálogo com os alunos. No

exercício 1, de escolha múltipla, pretendíamos atestar se a turma era capaz de identificar

o tipo de subordinação adverbial presente na frase apresentada. No exercício 2,

pretendíamos apurar os conhecimentos dos alunos relativamente às orações subordinadas

substantivas e às orações subordinadas adjetivas, procurando aferir se eram capazes de

reconhecer tais orações nas frases apresentadas, assim como os elementos que introduzem

cada uma delas.

Durante a resolução dos exercícios, verificámos o seguinte: no exercício 1, ao

reconhecerem a ideia de consequência presente na frase, os estudantes não tiveram

dificuldades em identificar e classificar a oração subordinada adverbial consecutiva. Pelo

contrário, no exercício 2, os alunos não classificaram corretamente as orações

subordinadas presentes nas frases, tendo confundido a oração subordinada adjetiva

relativa com a oração subordinada substantiva completiva e, por sua vez, os elementos

que as introduzem. Resumindo, tal como aconteceu com o 9.º E, os alunos do 11.º F

revelaram muitas lacunas no que toca aos conhecimentos sobre estes dois tipos de orações

subordinadas.

Relativamente à turma do décimo primeiro ano, houve ainda outro fator que

confirmou o diagnóstico inicial – o resultado das respostas dadas pelos alunos, a uma

questão de gramática54, no segundo teste do primeiro período. Nessa questão, o nosso

objetivo era tentar perceber o seguinte: por um lado, se os alunos eram capazes de

classificar corretamente a oração subordinada adjetiva relativa restritiva; por outro lado,

se, porventura, voltavam a confundi-la com uma oração substantiva completiva.

Analisando as respostas dadas, os resultados foram os seguintes: duas respostas certas e

doze respostas erradas - seis alunos classificaram-na como “oração subordinada

53 Ver Anexo VII. 54 Ver Anexo VII.

65

substantiva completiva” e dois alunos designaram-na por “oração subordinada adjetiva

completiva”.

Os resultados obtidos levaram a constatar, efetivamente, a elevada dificuldade que

os alunos sentem em compreender e distinguir estes dois tipos de orações, quando

introduzidos pela palavra homónima “que”. No entanto, alguns factos apurados durante

a observação direta e a resolução dos exercícios permitiram-nos chegar a outras

conclusões. Verificámos que os discentes não compreendiam o conceito de

“antecedente”, pois não eram capazes de o reconhecer na frase complexa nem de o

relacionar com a função do pronome relativo. Além disso, demonstravam imensas

dúvidas quanto à distinção semântica entre os dois subtipos de orações subordinadas

adjetivas – as relativas restritivas e as relativas explicativas. Logo, pudemos concluir que

as dificuldades dos alunos não se estendiam, somente, à distinção entre as orações

supramencionadas (quando introduzidas por um “que”), mas também se manifestavam

noutros aspetos relacionados com o funcionamento morfossintático dos dois grupos de

orações.

3. Descrição do plano de ação em português e em latim e análise dos resultados

Em português, o plano de ação desenvolveu-se durante quatro regências, duas em

cada turma: no 9.º E, realizou-se uma regência no primeiro período e outra no segundo;

no 11.º F, realizou-se uma regência no segundo período e outra no terceiro. Em latim, o

plano de ação desenvolveu-se no âmbito da nossa primeira regência na disciplina.

Quanto às metodologias utilizadas na análise dos resultados obtidos, esta realizar-

se-á, essencialmente, sob a forma de comentário (método qualitativo), recorrendo

também ao uso de gráficos - (método quantitativo) – sempre que assim se justificar,

acompanhados da respetiva explicação e análise.

3.1. Experiências de ensino-aprendizagem, na turma do 9.º E

3.1.1. Aula do dia 22 de novembro de 2017 (regência I de português)

Esta regência decorreu nos dias 17, 18 e 22 de novembro de 2017 e teve como

base o estudo e análise do conto “História comum”, de Machado de Assis, que integra a

Unidade 1 do programa de Português. A nível do domínio gramatical, neste ponto do

66

programa, prevê-se a introdução das orações subordinadas substantivas relativas e a

revisão das orações subordinadas adjetivas relativas e das orações subordinadas

substantivas completivas. Ao planificarmos o conjunto de aulas da regência, decidimos

que, durante as duas primeiras, nos centraríamos, sobretudo, na leitura e análise do conto.

A introdução do conteúdo gramatical novo, que ocorreu em paralelo com uma revisão

mais aprofundada das restantes orações acima referidas, realizou-se na última aula da

regência, dia 22 de novembro.

No início da aula, distribuímos uma ficha informativa sobre os dois grupos de

orações – o das adjetivas e o das substantivas55. Com recurso a este material,

pretendíamos que os alunos ficassem com um documento que lhes permitisse consultar o

resumo da matéria a qualquer momento, facilitando o seu estudo individual. A ficha

dividia os dois grupos de orações nos seus diferentes subtipos, através de um quadro que

incluía não só as definições gramaticais, mas também os seus principais aspetos

descritivos e morfossintáticos, apresentando um exemplo ilustrativo para cada caso56.

Depois da distribuição da ficha, pedimos aos alunos que, primeiramente,

estivessem com atenção à explicação da professora, antes de começarem a ler o que lhes

tinha sido entregue. Importa referir que, durante a exposição da matéria, fomos

recuperando conhecimentos que os alunos já detinham, em jeito de diálogo com a turma,

colocando-lhes questões à medida que íamos avançando na matéria.

Iniciando a nossa abordagem pelos conteúdos que os alunos já conheciam,

começámos por colocar no quadro os dois exemplos frásicos que apareciam na ficha, para

o grupo das orações subordinadas adjetivas. Incitando a participação da turma,

solicitámos a divisão das orações subordinantes e subordinadas, a identificação do

elemento que introduzia as subordinadas e, por fim, a classificação completa destas

últimas. Na identificação dos elementos de ligação, os alunos indicaram corretamente o

“que” como resposta, mas hesitaram entre as classificações de “pronome relativo” e de

“conjunção subordinativa”. Perante o surgimento destas dúvidas, explicámos aos

discentes que este vocábulo, ao contrário de uma conjunção, possui também a função de

substituir, na oração subordinada, o grupo nominal ao qual se refere – destacando, em

cada frase, o antecedente do pronome relativo.

Aquando da classificação de cada uma das orações, ao verificarmos que as

designações de “restritiva” e “explicativa” foram atribuídas com base na

55 Ver Anexo VIII. 56 Os exemplos frásicos foram extraídos do conto analisado ou construídos a partir do mesmo.

67

presença/ausência de vírgulas, tentámos clarificar em que medida aquilo que as distingue

semanticamente e o tipo de informação que pretendem veicular estão relacionados com a

pontuação utilizada. De modo a complementar esta explicação, considerámos que seria

importante estabelecer uma relação entre a classificação das orações e as funções

sintáticas que lhes são atribuídas. Assim, visto que o conceito de modificador de nome

ainda não tinha sido ensinado, decidimos introduzi-lo nesta aula, de forma breve57.

Primeiramente, procedemos à exposição da matéria no quadro, com as definições

de modificador de nome restritivo e de modificador de nome apositivo, acompanhadas de

exemplos. Após a identificação dos modificadores presentes nas frases e da respetiva

explicação de cada um deles, reescrevemos as frases no quadro, transformando as

expressões que lhes correspondem numa oração subordinada adjetiva relativa restritiva e

numa oração subordinada adjetiva relativa explicativa, respetivamente.

Depois de reescrever os dois exemplos no quadro, realçámos a relação existente

entre os dois tipos de classificação (oracional e sintática) e articulámos o nosso discurso

de forma que os alunos notassem que, de facto, estas orações podem perfeitamente ser

substituídas por um grupo adjetival, sem que haja alteração do sentido global da frase e

desempenhando as mesmas funções sintáticas – daí serem designadas de “adjetivas”.

Seguidamente, prosseguindo com a revisão das orações, transcrevemos para o

quadro a primeira frase que, na ficha informativa, serve como exemplo para as orações

subordinadas substantivas completivas. Na análise desta, em semelhança ao que tínhamos

feito anteriormente, solicitámos à turma a divisão das orações (subordinante e

subordinada), a identificação do elemento que introduzia a oração subordinada e a análise

sintática da frase – a partir desta última, chegámos à classificação completa da oração

subordinada e do elemento de ligação.

Do desempenho dos alunos nesta atividade, queremos destacar que, embora

apontando, de forma correta, o “que” como resposta, a maioria encarou esta conjunção

como se de um pronome relativo de tratasse. Por esse motivo, explicámos, novamente, a

diferença entre os dois vocábulos, procurando deixar claro que este “que” apenas faz a

ligação entre as orações subordinante e subordinada, tratando-se, portanto, de uma

conjunção subordinativa. Relativamente à análise sintática, depois de os alunos, com

algumas dificuldades, conseguirem intuir que a oração subordinada constituía o

complemento direto da frase, chamámos a atenção deles para dois aspetos: esta oração

está a ocupar uma função sintática ocupada normalmente por grupos nominais, daí se

57 Ver Anexo IX.

68

designar “substantiva” (evidenciando essa diferença em relação às que se designam

“adjetivas”); além disso, visto que se trata do complemento direto da frase, esta completa,

portanto, o sentido do verbo da oração subordinante e, por esse motivo, são designadas

“completivas”.

Em último lugar, colocámos no quadro as quatro frases que constavam, na ficha,

como exemplo para as orações substantivas relativas. Depois de solicitarmos aos alunos

a indicação do número de orações que cada frase continha, delimitámos as subordinantes

e as subordinadas. Sublinhámos todos os elementos que introduziam as subordinadas e

pedimos aos alunos que identificassem as classes e subclasses de palavras a que

pertencem. Pedimos, ainda, a identificação da função sintática desempenhada por cada

oração subordinada.

Quanto aos elementos introdutórios, devido às grandes lacunas dos alunos a este

nível, só com o auxílio da docente foi possível chegar à conclusão de que todos eram

conectores relativos. A partir do levantamento deste facto, explicámos que estávamos

perante outro tipo de orações relativas, que eram sempre introduzidas por pronomes,

advérbios ou quantificadores, relativos. Através da identificação da função sintática,

realçámos que estas orações, tal como as completivas, pertenciam ao grupo das

substantivas, pois ocupam, igualmente, funções sintáticas características de grupos

nominais. Chamámos também a atenção para o facto de as mesmas não desempenharem

uma função sintática em relação a uma expressão nominal (antecedente) com a qual se

relacionam, estabelecermos, desse modo, a distinção entre as substantivas relativas e as

adjetivas relativas. Terminámos a introdução deste tópico gramatical novo enunciando a

classificação completa destas orações.

Para finalizar a revisão/exposição da matéria, procedemos, à leitura da ficha em

conjunto com os alunos, revendo, calmamente, cada um dos exemplos frásicos

analisados, tendo como objetivo sintetizar tudo o que tinha sido tratado.

A segunda parte da aula consistiu na realização de uma ficha de trabalho58 sobre

esses conteúdos gramaticais. Na resolução de cada exercício, solicitámos aos alunos que,

primeiramente, tentassem responder às questões sozinhos; depois de fornecermos tempo

suficiente para a resolução de um exercício, passávamos imediatamente para a correção,

antes de transitarmos para o exercício seguinte. Durante a correção, procurámos recorrer

à participação oral dos alunos e não nos basearmos, apenas, em enunciar as respostas

58 Ver anexo X.

69

corretas, mas sim em conduzir o raciocínio dos alunos pelos diferentes aspetos

linguísticos que os levavam a obter a resposta certa. Pretendemos salientar que, embora

esta turma fosse razoavelmente participativa, havia alguns alunos menos participativos e

que demonstravam uma certa timidez em expor as suas dúvidas. Por termos conhecimento

disso, tentámos sempre interpelá-los a todos, para nos certificarmos de que toda a turma

estava a acompanhar a resolução dos exercícios e a compreender a matéria.

A ficha de trabalho continha três exercícios que visavam a aplicação dos

conhecimentos adquiridos e uma assimilação mais sólida da matéria dada. De uma forma

geral, desejávamos testar se a aprendizagem dos discentes estava a acontecer de forma

eficaz e perceber quais as dificuldades que continuavam a persistir.

Os tópicos sobre os quais os exercícios59 incidiam mais concretamente eram os

seguintes: as orações substantivas relativas, no exercício 1; as orações adjetivas (relativas

restritivas e relativas explicativas), no exercício 2; as orações substantivas completivas e

as orações adjetivas relativas, no exercício 3. Estes incluíam questões, nas quais

solicitávamos, sobretudo, a delimitação e classificação de orações, a classificação

morfológica dos seus elementos introdutórios e a identificação da função sintática

desempenhada pela oração subordinada.

3.1.1.1. Resultados obtidos na realização da ficha de trabalho

Visto que os alunos resolveram os exercícios no caderno e que toda a resolução

foi acompanhada pela professora, as respostas dos alunos não foram recolhidas por

escrito. No entanto, fizemos o nosso próprio registo do desempenho da turma e

analisaremos de seguida, em jeito de comentário, os resultados obtidos a partir da

observação direta.

No exercício 1, verificámos que os alunos facilmente reconheceram as três

orações subordinadas substantivas relativas, devido (na nossa perspetiva) ao facto de

terem reconhecido desde logo os elementos que as introduzem, os quais ainda estavam

bem presentes na memória deles, já que a matéria tinha acabado de ser dada. No entanto,

tiveram mais dificuldade em analisá-las sintaticamente.

Quanto ao exercício 2, constatámos que os discentes não tiveram dificuldade em

encontrar, nas frases dadas pelo enunciado, as orações subordinadas adjetivas – uma

59 Também aqui, as frases utilizadas nos exercícios foram extraídas do conto analisado ou construídas a partir do mesmo.

70

relativa restritiva e outra relativa explicativa –, mas não foram capazes de identificar o

antecedente com o qual se relacionam. Na última etapa do exercício, a maior parte dos

alunos indicou corretamente as funções sintáticas ocupadas por essas orações; porém, a

nosso ver, não por perceberem o sentido de cada oração na frase, mas sim por terem

memorizado a função sintática que se associa a cada uma delas.

Relativamente ao terceiro exercício, podemos afirmar que este foi o que causou

mais obstáculos aos alunos. Apesar de terem conseguido fazer o levantamento das orações

introduzidas pelo vocábulo “que”, não foram capazes de identificar as situações em que

se encontravam perante uma oração subordinada substantiva completiva ou perante uma

oração subordinada adjetiva relativa. Nesse sentido, demonstraram também dificuldades

em distinguir o pronome da conjunção. Só depois de resolvida e corrigida essa parte do

exercício, os discentes conseguiram indicar as funções sintáticas desempenhadas pelas

orações, recorrendo, mais uma vez, à memorização.

Em relação ao aproveitamento geral da turma, que foi observado por nós, podemos

afirmar que os alunos se refugiavam muito na memorização - sem se preocuparem em

compreender a explicação da professora -, o que não é inválido, mas é insuficiente, do

ponto de vista de uma aprendizagem efetiva. Durante a resolução dos exercícios, pudemos

perceber que, recorrendo a essa estratégia, conseguiam, por vezes, responder

corretamente, mas, quando alguma questão exigia que os alunos compreendessem a

relação que se estabelece entre morfologia, sintaxe e semântica, por exemplo, já sentiam

mais dificuldades em chegar à resposta certa.

Não podemos deixar de salientar que a realização da ficha de trabalho decorreu

logo a seguir à exposição da matéria, com o acompanhamento da professora e tendo os

alunos a ficha informativa ao lado - ou seja, a atividade decorreu no âmbito de um

conjunto de circunstâncias que ajudaram esta atividade a fluir naturalmente sem grandes

pausas e entraves. Portanto, importou, posteriormente, avaliar o desempenho da turma,

em circunstâncias muito diferentes destas – tendo os discentes que resolver os

exercícios/fichas de trabalho sozinhos, sem acompanhamento e sem poderem consultar a

matéria.

Por fim, pretendemos destacar que, desde o início da aula, a relação da turma com

a Gramática não foi a melhor. Devido ao incentivo e ao acompanhamento constantes da

professora, a turma acabou por participar razoavelmente na resolução dos exercícios.

Continuámos, contudo, a sentir uma elevada falta de interesse por alguns alunos, que nem

participavam oralmente na atividade nem realizavam os exercícios no caderno.

71

3.1.2. Aulas dos dias 7, 9 e 10 de março de 2018 (regência III de português)

Nos dias 7, 9 e 10 de março de 2017, decorreu a terceira regência de português.

Esta inseriu-se na “Unidade 3: Mar Português – Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas”. As

três aulas debruçaram-se, essencialmente, sobre a leitura e análise do episódio “Consílio

dos deuses no Olimpo”, intercalando com exercícios de interpretação textual e fichas

gramaticais.

Em relação ao domínio da Gramática, os nossos principais objetivos passavam

por, numa primeira instância, retomar conteúdos estudados na regência I e, numa segunda

instância, testar os conhecimentos dos alunos através da realização de uma ficha de

verificação de conhecimentos sobre tais conteúdos. Embora a maior parte do tempo das

aulas dos dias 7 e 9 tenha sido ocupada com o estudo do texto, no final de cada aula,

foram marcados, como trabalho de casa, dois exercícios elaborados com o intuito de ir ao

encontro das principais dificuldades sentidas na ficha de trabalho anterior. Estes foram

corrigidos no início das aulas seguintes, dias 9 e 10 respetivamente.

3.1.2.1. Realização de exercícios de revisão sobre a matéria

Na aula do dia 7 de março, foi marcado, como trabalho de casa, um exercício que

incidia sobre o grupo das orações subordinadas adjetivas60 e duas das principais

dificuldades apresentadas pelos alunos na realização da ficha de trabalho na regência I:

incapacidade de estabelecer uma relação entre o pronome e o seu antecedente e de

distinguir semanticamente uma oração restritiva de uma oração explicativa (por sua vez,

um modificador restritivo de um modificador apositivo).

Assim sendo, neste exercício, que consistia essencialmente na transformação de

frases simples em frases complexas, o nosso objetivo era que os alunos (ao terem que

substituir a expressão nominal repetida pelo pronome relativo “que”) compreendessem

mais facilmente a função do vocábulo nesse tipo de orações. De modo a construírem a

frase complexa corretamente, era necessário que fossem capazes de, mediante aquilo que

já conheciam do episódio d’ Os Lusíadas61 (contexto das frases), perceber se deveriam

construir uma relativa restritiva ou uma relativa explicativa.

60 Ver Anexo XI. 61 As frases dos exercícios foram construídas a partir do conteúdo do texto que estava a ser analisado nestas aulas.

72

No final da aula do dia 9 de setembro, marcámos como trabalho de casa um

exercício que assentava na distinção entre uma oração subordinada substantiva

completiva e a oração subordinada adjetiva relativa62, pois continuava a ser uma

dificuldade observada frequentemente nos alunos. O nosso intuito, com um exercício que

consistia na análise de uma frase complexa construída com os dois tipos de orações

mencionados, era levar os discentes a treinar a sua capacidade de distinção entre as duas

estruturas sintáticas (pois só assim seriam capazes de resolver todo o exercício

corretamente). Pela forma como foi construído, na nossa perspetiva, este exercício

contribuiria, ainda, para que o aluno comprovasse e melhor compreendesse que a oração

completiva é assim designada, porque, de facto, completa o sentido da oração principal

da frase.

3.1.2.2. Resultados dos exercícios de revisão

Em primeiro lugar, é importante mencionar que os exercícios foram corrigidos

oralmente, na aula, recorrendo à participação da turma e registando as soluções no quadro.

Visto que a solicitação destes trabalhos de casa tinha como principal objetivo rever alguns

tópicos gramaticais, não recolhemos as respostas dos alunos por escrito. Procedemos

apenas ao nosso registo pessoal, a partir da observação direta durante a correção.

Em relação ao primeiro trabalho de casa63, a maior parte dos alunos não o

resolveu. Perante esta circunstância, pedimos a um aluno que tinha feito o trabalho de

casa que fosse ao quadro resolver o exercício e, de seguida, colocámos o resto da turma

a refletir sobre o que o colega tinha feito. Com isto, pretendíamos perceber se eles eram

ou não capazes de avaliar as respostas do colega, apontando possíveis correções. Neste

momento, tentámos que toda a turma se envolvesse na correção do exercício, para que

todos os alunos ouvissem a explicação e pudessem colmatar as suas dúvidas. A

participação dos alunos acabou por ser bastante razoável, embora tenham demonstrado

bastantes dificuldades na resolução do exercício.

Durante a correção, pudemos observar o seguinte: os discentes compreenderam a

função do pronome relativo e transformaram, com facilidade, as frases simples em frases

complexas; porém, na hora de decidir se a oração subordinada deveria ou não ser

delimitada por vírgulas, começavam as dificuldades. Não conseguiam perceber que a

62 Ver Anexo XI. 63 Marcado no dia 7 e corrigido na aula do dia 9.

73

colocação (ou não) de vírgulas a delimitar as orações introduzidas pelo pronome dependia

da informação que pretendiam transmitir e do contexto do conteúdo das frases. Depois de

relembrarmos e explicarmos novamente este aspeto, finalizámos, em conjunto com a

turma, a transformação das frases. Neste seguimento, ficou automaticamente resolvida a

questão de identificação e classificação das orações presentes nas frases complexas. Após

a correção, concluímos que este exercício foi bastante útil para mostrar a função do

pronome relativo na frase complexa; contudo, sentíamos que a distinção semântica entre

uma restritiva e uma explicativa era algo que merecia ser ainda muito trabalhado nesta

turma.

Quanto ao segundo trabalho de casa64, tal como acontecera na aula anterior, a

maior parte da turma não o realizou. De modo a quebrar a ideia de que alguns alunos

fazem o que é pedido e os restantes ficam a aguardar pela correção, desta vez, escolhemos

um aluno que não tinha realizado o trabalho de casa, para ir ao quadro resolver o exercício.

Depois de reescrever a frase, o discente dividiu as orações de forma incorreta e, ao tentar

classificá-las, hesitou bastante, acabando por desistir da tarefa. Posto isto, pedimos aos

restantes que tentassem ajudar o colega a resolver o exercício e, nesse momento, pudemos

perceber o seguinte: se uma frase complexa contiver uma ou mais formas de “que”, quase

todos os alunos fazem destas “balizas” na divisão das orações, mesmo sem saberem o que

representam na frase e que tipo de orações introduzem, naquela situação específica. No

entanto, sem compreenderem o funcionamento morfossintático das orações adjetivas

relativas e das orações substantivas completivas, mesmo delimitando pelo vocábulo

“que”, nem sempre farão a divisão das orações corretamente. Por esse motivo, neste

exercício, os discentes não encararam a oração adjetiva relativa como uma parte

integrante da oração substantiva completiva. Constatadas as dificuldades que estavam a

ocorrer, interviemos e procedemos à explicação, conduzindo o raciocínio dos alunos desta

forma: primeiramente, revimos as principais ideias que definem cada uma dessas orações;

de seguida, recuámos à frase original dada pelo exercício – tarefa que, só depois de

despendermos algum tempo de aula a relembrar as ideias principais acerca dos dois tipos

de orações, resolveram com alguma desenvoltura.

Voltámos à análise da frase reescrita e, nesse momento, imediatamente alguns

alunos referiram que a oração subordinada introduzida pelo vocábulo “que” (seguido da

forma verbal “perceber”) era uma substantiva completiva, pois estava a completar o

64 Marcado no dia 9 e corrigido na aula do dia 10.

74

sentido da frase. Por fim, corrigimos e esclarecemos a divisão das orações, salientando

que, apesar de a oração subordinada adjetiva relativa ser classificada de forma

independente, neste caso, ela faz parte da oração subordinada substantiva completiva.

Para concluir, afirmámos que, embora estes exercícios fossem mais exigentes

pedagogicamente, no momento em que a professora relembrava a matéria, os alunos

resolviam os exercícios sem grandes dificuldades. Logo, o que ressaltava aqui é a falta de

um estudo regular da gramática, o que faz com que os conhecimentos adquiridos nunca

cheguem a ficar devidamente sedimentados.

3.1.2.3. Realização de uma ficha de verificação de conhecimentos

Na segunda parte da aula do dia 10, entregámos à turma uma ficha de verificação

de conhecimentos65 sobre os dois grupos oracionais que tinham sido trabalhados nas aulas

anteriores. Os exercícios foram resolvidos pelos alunos de forma individual, sem o

acompanhamento da professora e sem permissão para consulta da matéria, já que o nosso

objetivo era avaliar os reais conhecimentos dos alunos. Este foi, portanto, o primeiro

momento de teste em relação a estes conteúdos.

Ao construirmos os exercícios, decidimos inserir questões semelhantes àquelas

com que os discentes tinham contactado até então, ainda que aumentando um pouco o

grau de complexidade e de dificuldade. Inserimos, portanto, algumas questões (pelo

menos uma em cada exercício) que levassem os alunos a refletir sobre estes tópicos, a

partir de perspetivas que normalmente não são abordadas nos questionários. O nosso

objetivo era retirá-los da sua zona de conforto, pois consideramos este processo

extremamente importante para que os discentes alarguem e potenciem os seus

conhecimentos gramaticais.

A ficha é constituída por três exercícios, construídos a partir do episódio d’Os

Lusíadas estudado nas aulas anteriores - Consílio dos deuses no Olimpo. Cada um assenta

numa das três principais dificuldades do processo de ensino-aprendizagem dos dois

grupos oracionais, por nós apontadas no ponto 3.1.2. do capítulo II, cujos objetivos

passamos a explicar de seguida.

O exercício 1, ainda que indiretamente, coloca em confronto as orações

subordinadas substantivas relativas e as orações subordinadas adjetivas relativas. Neste,

pretendíamos aferir se os alunos identificavam corretamente os elementos que as

65 Ver Anexo XII.

75

introduzem e se, mesmo sendo uma delas introduzida por um conector relativo que os

alunos mais facilmente associam às substantivas relativas, eram capazes de intuir que

ambas eram orações adjetivas relativas. Chamamos a particular atenção para a questão

1.2. - na qual, implicitamente, colocámos em oposição o facto de as adjetivas relativas

possuírem antecedente, ao contrário das substantivas relativas – já que, habitualmente,

apenas é solicitada aos discentes a identificação do antecedente da oração adjetiva

relativa, sem nunca se conduzir a reflexão gramatical no sentido de reconhecer essa

diferença entre os dois tipos de orações relativas.

No exercício 2, colocámos em confronto as orações subordinadas substantivas

completivas e as orações subordinadas adjetivas relativas, todas introduzidas pelos

vocábulos “que”. O nosso objetivo era atestar a capacidade dos alunos em classificar e

distinguir, corretamente: os dois tipos de orações, que são introduzidos por vocábulos

iguais, mas morfologicamente diferentes; o pronome relativo e a conjunção subordinativa

substantiva completiva. Focando-nos particularmente, na última questão do exercício,

nesta, além de avaliarmos a atribuição de uma função sintática a uma oração, testámos a

capacidade do aluno em relacionar a sintaxe de uma frase complexa com a pontuação,

nomeadamente, com o uso da vírgula. Aqui, pretendíamos verificar como os alunos

reagiriam a esta questão, dado que, normalmente, o uso da vírgula na frase complexa só

é mencionado no âmbito do estudo das orações adjetivas relativas.

No terceiro e último exercício, colocámos em confronto os dois subtipos das

orações subordinadas adjetivas, as relativas restritivas e as relativas explicativas. Aqui,

quisemos, sobretudo, constatar a capacidade dos alunos em reconhecer, num texto, um

exemplo de cada uma dessas orações; ao serem confrontados com outro tipo de orações

aí presentes, exigia-se que soubessem realmente identificá-las e distingui-las de outras.

Além disso, desejávamos, ainda, apurar a capacidade dos alunos de identificar aspetos

gramaticais que caracterizam estas orações e que não só as distinguem uma da outra,

como também as diferenciam das substantivas (tanto das relativas como das completivas).

Pelo tipo de conteúdo que levanta, destacámos aqui a última questão deste

exercício, a qual foi aqui inserida com o intuito de apurarmos se os alunos sabiam,

efetivamente, o que justifica a presença/ausência das vírgulas a delimitar as orações

adjetivas relativas. Importa ressaltar que este tópico não costuma ser questionado de

forma tão direta. No entanto, consideramos necessário confrontar os alunos com

abordagens desta natureza, de modo a confirmarmos e garantirmos a plena compreensão

destes conteúdos gramaticais.

76

3.1.2.4. Resultados da primeira ficha de verificação de conhecimentos

Pretendemos, desde já, referir que esta ficha foi realizada por um total de 17

alunos, tendo os restantes faltado à aula.

Antes de partirmos para uma análise detalhada dos resultados obtidos em cada

exercício, pretendemos dar a conhecer a forma como os alunos reagiram à tarefa que lhes

estava a ser sugerida para aquela aula. Primeiramente, podemos afirmar que os discentes

não receberam esta atividade de forma positiva, tendo demonstrado uma absoluta

resistência aos exercícios de gramática. Por várias vezes, manifestaram o seu

descontentamento, argumentando que não tinham sido avisados da realização da ficha e,

como tal, não tinham estudado previamente, por isso não se sentiam preparados.

A conclusão que podemos retirar daqui é que estes alunos, além de preservarem

uma certa aversão a este tipo de atividades, secundarizam a importância deste domínio e,

portanto, não mantêm um estudo regular da gramática. Posto isto, o estudo autónomo e

individual dos conteúdos gramaticais só acontece como preparação para o teste de

avaliação, ou quando os alunos são avisados da realização de alguma atividade de

gramática que seja contabilizada na avaliação final da disciplina. Embora a professora

tenha tentado minimizar o desagrado dos alunos, referindo que a ficha tinha sido

construída com base nos exercícios realizados em aula, a postura inicial da turma acabou

por influenciar negativamente a sua prestação na realização da ficha.

No quadro que pode ser visualizado no Anexo XIII, apresentamos, para cada

questão, o número de alunos que acertaram/erraram/não responderam. Tendo em conta

que o cenário de respostas foi praticamente o mesmo em todos os exercícios, decidimos

apresentar os resultados gerais através de um quadro e, posteriormente, proceder à nossa

reflexão sobre o sucedido.

Como é possível atestar através da leitura do quadro, há uma elevadíssima

quantidade de respostas erradas e de respostas deixadas em branco, face à quantidade de

respostas certas, ou seja, na maioria das questões, quase todos os alunos ou erraram a

resposta ou não responderam. Além disso, é ainda possível constatarmos que o número

de alunos que deixou as respostas em branco é muito superior ao número de alunos que

responderam erradamente, correspondendo, quase sempre, à grande maioria da turma.

No entanto, em duas questões de escolha múltipla (1.2. e 3.3.) e uma de

verdadeiro/falso (2.3.), os resultados foram diferentes destes: nas duas primeiras, os

alunos não revelaram dificuldades, tendo a grande maioria respondido corretamente; na

77

última, embora o número total de alunos que erraram e de alunos que não responderam

seja bastante elevado, obtivemos uma quantidade considerável de respostas certas

(praticamente metade). Estes resultados, na nossa perspetiva, revelam que os alunos,

deixando-se levar pela falta de motivação para a realização da ficha, desistiram

completamente de a tentar resolver, limitando-se apenas a responder a este tipo de

questões que não obrigam a muito esforço. O facto de estes resultados terem sido bastante

mais positivos que os mencionados antes só demonstra que estes alunos possuem alguns

conhecimentos consolidados e que são capazes de os aplicar. Oferecem, contudo, uma

grande resistência a qualquer atividade de gramática, principalmente a atividades mais

trabalhosas e de maior complexidade.

Para terminar, podemos concluir que não foi possível apurar os reais

conhecimentos dos alunos. Dadas as circunstâncias, os resultados obtidos com a

resolução da ficha não foram suficientes para percebermos se já houve alguma evolução

em relação a estes tópicos.

No nosso entendimento, devido à menor relevância que a gramática assume,

normalmente, na avaliação da disciplina de Português, estes alunos acabavam por fazer

um estudo marginal deste domínio, não compreendendo a necessidade de um estudo mais

exaustivo. Assim sendo, consideramos fundamental tentar alterar os hábitos enraizados

dos alunos (como o de estudar gramática apenas em época de teste), começando por

introduzir nas aulas cada vez mais atividades de gramática. Seja qual for o método

utilizado no processo de ensino-aprendizagem da gramática, é preciso atribuir-lhe o

devido destaque nas aulas de português, para que os alunos se vão habituando à sua

presença e percebam que este não é nem deve ser um domínio menos importante que os

outros.

3.1.3. Realização de um exercício, no segundo teste do 2.º período

Em conformidade com a professora titular da turma, decidimos colocar, no

segundo teste do segundo período, um exercício de gramática66 que incidisse, de alguma

forma, sobre as orações que com eles tínhamos trabalhado. Fizemo-lo por dois motivos:

em primeiro lugar, porque era necessário avaliar, oficialmente, uma matéria que havia

sido tão trabalhada nesta turma desde o primeiro período; em segundo lugar, na sequência

dos resultados da ficha de verificação de conhecimentos, e tendo em conta a forma como

66 Anexo XIV.

78

a turma reagiu à proposta de realização da mesma, pretendíamos, naquele momento,

atestar o desempenho da turma numa situação em que é suposto os alunos terem estudado.

Visto que não é possível abordar, num teste, tudo aquilo que foi estudado sobre os

dois grupos oracionais, decidimos, juntamente com a professora titular, construir um

exercício que recaía sobre aquela que, no nosso entendimento, tinha demonstrado ser a

maior dificuldade destes alunos, no âmbito do ensino-aprendizagem dos dois grupos

oracionais: as distinções entre o pronome relativo “que” e a conjunção subordinativa

completiva “que” e, por sua vez, entre a oração subordinada adjetiva relativa e a oração

subordinada substantiva completiva, introduzidas, respetivamente, por tais elementos.

Num primeiro momento, o nosso objetivo consistia em verificar se os alunos eram

capazes de reconhecer o pronome relativo “que”, perante a conjunção subordinativa

substantiva completiva “que” e a conjunção subordinativa adverbial consecutiva “que”.

Decidimos incluir, neste exercício, uma oração subordinada adverbial consecutiva, pois,

tal como já defendemos antes, o estudo das orações relativas deve ocorrer em confronto,

também, com o estudo de outras orações, ainda que, no âmbito da nossa reflexão teórica,

tenha ficado clara uma necessidade de confronto mais acrescida com as orações

subordinadas substantivas, tanto com as completivas como com as relativas. Porém,

consideramos importante que os alunos, em algum momento, sejam confrontados com

exercícios que lhes permitam refletir sobre outras possibilidades linguísticas do vocábulo

“que”, de modo a reforçar a sua capacidade de distinção entre o pronome e outras formas

de “que”.

Desejávamos, num segundo momento, aferir se os alunos eram capazes de

identificar as orações introduzidas por cada um dos elementos de ligação

supramencionados, dividindo e classificando corretamente as orações presentes no

conjunto de frases complexas enunciadas.

3.1.3.1. Resultados do exercício, colocado no segundo teste do 2.º período

Os resultados alcançados neste exercício estão descritos nos gráficos nº 1 e 2.

Acrescentamos que, na questão 3., analisámos não só o número de alunos que

acertou/errou/não respondeu, mas também o número de alunos que, tendo errado,

selecionaram a frase da opção B. (na qual a palavra “que” é uma conjunção subordinativa

substantiva completiva), por nos parecer relevante para o nosso estudo.

79

Gráfico Nº 1 – Resultados quantitativos obtidos na questão 3.

Gráfico Nº 2 – Resultados quantitativos obtidos na questão 3.1.

Como podemos constatar pela leitura do primeiro gráfico, num total de 21 alunos,

apenas 7 acertaram a resposta, o que significa que dois terços da turma teve dificuldades

em responder a esta questão. Estes resultados, na nossa perspetiva, comprovam que a

grande maioria dos alunos ainda não foi capaz de reconhecer o pronome relativo “que” e

distingui-lo das palavras homónimas. Outro dado importante é o facto de mais de metade

dos alunos que erraram a resposta terem selecionado a opção B., o que significa que os

discentes ainda continuavam a confundi-lo com a conjunção subordinativa substantiva

completiva.

Através da visualização do segundo gráfico, podemos apurar que os níveis de

desempenho nesta questão foram muito baixos - em todas as frases, a grande maioria dos

alunos errou a divisão e a classificação das orações.

Além dos resultados quantitativos, é importante analisarmos cinco tipos de erros

cometidos pelos alunos, pois os mesmos permitem-nos chegar mais longe nas nossas

conclusões. Os erros mais comuns traduzem-se na fusão de designações, como por

exemplo, “substantiva relativa restritiva”, “adjetiva completiva” e “substantiva

7

11

3

7

0

5

10

15

Acertou Errou Não

respondeu

Tendo errado,

selecionou a

opção B

Questão 3.: Identificação da única frase em que apalavra "que" é um pronome relativo.

2 3 1

17 16 16

2 2 3

0

10

20

Frase A. Frase B. Frase C.

Questão 3.1.: Divisão e classificação das oraçõespresentes nas frases A., B. e C.

Acertou Errou Não respondeu

80

completiva com antecedente” e na confusão entre as orações adjetivas relativas e as

orações substantivas completivas. Os menos comuns resumem-se na apresentação de uma

resposta errada, mas tendencialmente correta: divisão das orações subordinante e

subordinada de forma correta, sem terminarem a classificação (quatro casos registados na

análise da frase C.); classificação incompleta das orações, tendo sido apresentadas

respostas como por exemplo “oração adjetiva restritiva” e “oração subordinada

completiva” (um caso registado, na análise das frases A. e B., respetivamente).

Posto isto, podemos concluir que o facto de este exercício ter sido colocado no

teste, ou seja, de a sua resolução ter ocorrido numa situação em que seria expectável que

os alunos tivessem estudado de uma forma mais consistente, em nada alterou aquele que

tem vindo a ser o desempenho da turma neste tipo de exercícios.

3.1.4. Realização da segunda ficha de verificação de conhecimentos

Tendo em conta o desempenho desta turma na primeira ficha de verificação de

conhecimentos, considerámos necessário repetir a realização de uma atividade deste tipo,

para podermos chegar a resultados mais reais, alcançados com o plano de ação aplicado

nesta turma. Esta atividade realizou-se numa aula extra, cedida pela professora titular da

turma, de modo a podermos finalizar o trabalho desenvolvido ao longo do ano letivo.

Relativamente à segunda ficha67, esta difere um pouco da estrutura da primeira.

Para facilitar a adesão dos alunos a esta atividade, transformámos a sua realização em

algo mais apelativo, construindo exercícios de menor complexidade, de resolução mais

rápida e menos trabalhosa, mas que possibilitavam igualmente testar todos os conteúdos

pretendidos. As frases utilizadas nos exercícios foram construídas a partir do episódio A

Tempestade d’ Os Lusíadas, que tinha sido estudado nas aulas anteriores.

Inspirados num exercício mencionado por nós no subcapítulo 3.1.3.2.68,

construímos o exercício 1, o qual reunia um conjunto de frases complexas com os

diferentes subtipos dos dois grupos de orações estudados ao longo do ano letivo. O nosso

objetivo consistia num teste final aos conhecimentos dos alunos acerca destes conteúdos;

através de um exercício em que os quatro subtipos de orações se colocam em confronto,

numa situação de “proximidade” (no que toca à relação de semelhança que se verifica

67 Anexo XV. 68 Cf. Exercício presente em Falcão (2016: 176-177).

81

entre os elementos que as introduzem69), pretendíamos atestar a capacidade dos alunos

em reconhecer essas estruturas e os vários aspetos gramaticais que as caracterizam, no

final do ano letivo.

De modo a diminuir o grau de dificuldade e a probabilidade de erro, em relação à

classificação oracional, não solicitámos a divisão/identificação das orações - nas frases

apresentadas, as orações subordinadas, cuja classificação é pedida, já se encontram

destacadas. Além disso, a classificação de tais orações é solicitada através de uma

resposta de escolha múltipla - as possíveis classificações são dadas pelo exercício e o

aluno deve assinalar a classificação correta para cada oração subordinada que se encontra

destacada. Procedemos desta forma, pois o facto de os alunos não terem que dividir as

orações e redigir a sua classificação completa, elimina a possibilidade de ocorrência de

alguns tipos de erros que normalmente os alunos cometem (como, por exemplo, a

delimitação incorreta das orações (dificuldades no estabelecimento de “fronteiras”) e a

classificação das mesmas de forma incompleta). O nosso intuito baseava-se, apenas, em

verificar se, perante as possibilidades de resposta que lhes eram apresentadas, os alunos

seriam, pelo menos, capazes de identificar a classificação correspondente a cada oração

subordinada. Pretendíamos, no fundo, aumentar a probabilidade dos alunos acertarem,

demonstrando ter alguns conhecimentos sólidos.

A ficha era ainda constituída por mais dois exercícios, os quais eram semelhantes

a outros que já tinham sido realizados em diferentes momentos do ano letivo, cuja

aplicação considerámos que seria importante repetir.

O exercício 2 incidia sobre o que distingue, a nível semântico, os dois subtipos de

orações adjetivas (relativas restritivas e relativas explicativas). Relembrando que, na

primeira ficha, praticamente metade da turma errou num exercício muito semelhante a

este (dado que vários fatores negativos influenciaram o desempenho da turma nessa

atividade), considerámos necessário voltar a testar este tipo de conhecimentos,

confrontando os alunos com um exercício deste tipo novamente.

No terceiro e último exercício, apresentámos uma frase complexa construída com

orações subordinadas substantivas completivas e uma oração subordinada adjetiva

relativa restritiva. Pretendemos, aqui, relembrar que, no segundo exercício de revisão

69 Por razões já mencionadas por nós, defendemos que é essencial elaborar exercícios que levem os alunos a refletir sobre frases complexas em que os diferentes subtipos dos dois grupos de orações se colocam em confronto. Neste sentido, além de ser relevante o contraste entre os vocábulos “que”, pronome relativo e conjunção subordinativa, defendemos que é igualmente importante o contraste entre conectores relativos idênticos que sejam introdutores da oração adjetiva relativa e da oração substantiva relativa.

82

marcado como trabalho de casa no dia 9 de março, cuja resolução, numa primeira

instância, resultava na obtenção de uma frase complexa com uma estrutura sintática

semelhante a esta, os alunos revelaram imensas dificuldades em dividir e classificar as

orações. Perante esta situação, sentimos a necessidade de proceder a uma explicação mais

exaustiva da matéria no momento de correção, insistindo na diferença entre uma oração

que é um complemento do verbo e uma oração que é um acrescento a um grupo nominal.

Dada a relevância da análise de frases complexas deste tipo, para testar a capacidade de

diferenciação entre uma e outra oração, decidimos voltar a confrontá-los com um

exercício semelhante, procurando verificar se as dificuldades a esse nível haviam

diminuído de alguma forma.

3.1.4.1. Resultados da segunda ficha de verificação de conhecimentos

Em primeiro lugar, pretendemos referir que, apesar de, novamente, a turma não

ter reagido muito favoravelmente à atividade que lhes estava a ser sugerida, sentimos,

desta vez, um maior empenho na resolução dos exercícios. Importa referir que tivemos,

mais uma vez, um total de 17 alunos a realizar a ficha.

Nos gráficos nº 3 a 6 revelamos o desempenho da turma no exercício 1.

Gráfico Nº 3 – Resultados quantitativos obtidos na classificação das orações -

questão 1.1.

Gráfico Nº 4 – Resultados quantitativos obtidos na identificação da função sintática

de cada oração – questão 1.1.

46

0

131310

17

40 1 0 0

0

10

20

F. (1) - oração

substantiva

completiva

F. (2) - oração adjetiva

relativa explicativa

F. (3) - oração

substantiva relativa

F. (4) - oração adjetiva

relativa restritiva

Questão 1.1.: Classificação das orações destacadas nas frases (1),(2), (3) e (4).

Acertou Errou Não respondeu

83

Gráfico Nº 5 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.2.

Gráfico Nº 6 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.3.

A partir dos resultados exibidos pelos dois primeiros gráficos, podemos constatar

que, a par de um elevado número de respostas erradas na classificação das orações, a

atribuição de uma função sintática às orações continuou a ser uma dificuldade visível nos

alunos. Em relação à classificação morfológica dos elementos de ligação (1.2.), o gráfico

nº 5 demonstra que o desempenho da turma nesta questão confirma a falta de

conhecimentos apurada anteriormente (note-se que apenas na classificação do pronome

relativo que introduz a oração adjetiva relativa explicativa da frase 2, os alunos

apresentaram um aproveitamento mais positivo).

41

7

1

13 139

15

13

1 1

0

20

Frase (1) Frase (2) Frase (3) Frase (4)

Questão 1.1.: Identificação da função sintáticadesempenhada por cada oração destacada nasfrases (1), (2), (3) e (4).

Acertou Errou Não respondeu

16

1

0

20

Questão 1.3.: Identificação do respetivoantecedente da oração subordinada adjetiva relativadestacada.

Acertou Errou

0

10

2

10

3

874

7

0

5

10

15

(1) "que" Conjunção

Subordinativa

(2) "que" Pronome

Relativo

(3) "o que" Pronome

Relativo

Questão 1.2.: Identificação da classe e da subclasse das palavrasque introduzem as orações destacadas nas frases (1), (2) e (3).

Acertou Errou Não respondeu

84

Os erros dos alunos na classificação destas orações assentam, em grande parte, na

dificuldade de distinção entre uma oração subordinada adjetiva relativa e uma oração

subordinada substantiva completiva, ou entre uma oração subordinada adjetiva relativa e

uma oração subordinada substantiva relativa.

Quanto aos erros cometidos na questão 1.2., o tipo de erros apresentados vai ao

encontro do que se observou na questão anterior, assentando na dificuldade de distinção

entre o pronome relativo e a conjunção subordinativa. A acrescentar a isto, podemos

também afirmar que os discentes não foram capazes de identificar “o que” como uma

forma do pronome relativo, nem de o reconhecer como um dos conectores relativos

responsáveis pela introdução de orações subordinadas substantivas relativas, atribuindo-

lhe outras classificações.

Pelo que pudemos perceber durante a prática pedagógica, muitos alunos têm por

hábito centrar o seu estudo individual (acerca das orações), apenas, na memorização dos

elementos que as introduzem. Este facto faz com que, muitas vezes, quando os discentes

não são capazes de identificar o elemento que está a introduzir determinada oração, não

sejam também capazes de a classificar corretamente. Vejamos, portanto, o que sucedeu

em relação à oração substantiva relativa: os alunos, do mesmo modo que não encararam

“o que” como um pronome relativo, não souberam identificá-lo como um dos elementos

introdutórios das orações substantivas relativas, ou seja, não foram capazes de reconhecer

essa estrutura na frase, atribuindo-lhe outras classificações. A nosso ver, por semelhança

deste elemento com o “que” pronome relativo e com o “que” conjunção subordinativa,

praticamente metade dos alunos atribuíram-lhe a classificação de oração adjetiva relativa

e os restantes de oração substantiva completiva.

Por outro lado, mesmo que os alunos memorizem os principais elementos que

introduzem as orações, em determinadas situações, isso não é suficiente. Verificámos

anteriormente que os discentes, tal como revelaram dificuldades em distinguir uma oração

adjetiva relativa de uma oração substantiva completiva (e vice-versa) também revelaram

dificuldades em distinguir o pronome relativo “que” da conjunção subordinativa “que”.

Na nossa perspetiva, os discentes sabem que as orações adjetivas relativas e as orações

substantivas completivas são, essencialmente, introduzidas por tais elementos, no entanto

não são capazes de os diferenciar. Assim sendo, o aluno acaba por não tirar muito proveito

desses conhecimentos, pois é necessário que ele saiba o que caracteriza tais elementos,

para que seja capaz de os diferenciar de outros morfologicamente, auxiliando na

classificação das orações.

85

Relativamente à terceira e última questão deste exercício (1.3.), o desempenho da

turma foi bastante positivo, não revelando dificuldades em identificar o antecedente do

pronome relativo. Importa aqui referir que, na nossa perspetiva, o facto de, através do

enunciado desta questão, os alunos tomarem conhecimento de que o vocábulo “que”

destacado na frase (1) era um pronome relativo, pode ter sido uma mais-valia para que a

maioria dos alunos acertasse a classificação da oração, deitando por terra a possibilidade

de a confundir com uma oração subordinada substantiva completiva.

No exercício 2, a prestação da turma foi razoável - dez alunos acertaram e outros

sete erraram, ou seja, mais de metade da turma acertou a resposta. Relativamente a este

conteúdo, podemos afirmar que o panorama geral se mantém, já que, mesmo tendo-se

registado, aqui, mais respostas certas do que no anterior exercício deste tipo (colocado na

primeira ficha de verificação de conhecimentos), a evolução não foi significativa, pois a

diferença é de, apenas, mais duas respostas certas.

Por último, o gráfico que se segue apresenta os resultados alcançados no último

exercício, em cada uma das alíneas.

Gráfico Nº 7 – Resultados quantitativos obtidos na questão 3.1.

Analisando o gráfico, facilmente se depreende que o aproveitamento da turma

neste exercício não foi muito positivo, tendo demonstrado bastantes dificuldades em

delimitar/identificar estas orações, na frase complexa.

De modo a percebermos por que razões obtivemos tais resultados, procedemos ao

levantamento e análise de alguns tipos de erros cometidos pelos alunos.

Relativamente aos alunos que erraram a transcrição da oração substantiva

completiva podemos salientar o seguinte: alguns erraram completamente a delimitação

das orações, transcrevendo os excertos “que Camões tentou mostrar aos seus

contemporâneos” e “que não são dignos das gerações”, um, como resposta para a alínea

51

1115

1 1

0

10

20

Alínea a) Oração

Substantiva

Completiva

Alínea b) Oração

adjetiva relativa

restritiva

Questão 3.1.: Transcrição das orações pedidas nas alínas a) e b).

Acertou Errou Não respondeu

86

a), e outro, como resposta para a alínea b); os restantes transcreveram a oração

subordinada adjetiva relativa restritiva para a alínea a) e uma das orações subordinadas

substantivas completivas para a alínea b), ou seja, não foram capazes de distinguir os dois

subtipos de orações.

Para finalizar, concluímos que os discentes ainda demonstraram bastantes

dificuldades em delimitar as orações de uma frase complexa deste tipo. Além disso,

confirmamos algumas das conclusões obtidas com o exercício 1.

3.2. Experiências de ensino-aprendizagem, na turma do 11.º F

3.2.1. Aula do dia 21 de fevereiro de 2017 (regência II de português)

A segunda regência de português, lecionada na turma do 11.º F, realizou-se nas

aulas dos dias 16 e 21 de fevereiro, nas quais se deu início ao estudo da “Unidade 4 – Eça

de Queirós, Os Maias”. Quanto ao domínio gramatical, nesta unidade, prevê-se a

realização de atividades que permitam rever e consolidar os conhecimentos acerca da

frase complexa e das funções sintáticas. Assim, considerámos que este seria um bom

momento para fazer uma revisão mais aprofundada destes dois grupos oracionais, visto

que os alunos se defrontariam com esse conteúdo nas aulas seguintes.

Na primeira aula, procedemos à contextualização histórico-literária do realismo;

na segunda aula, na qual, efetivamente, se deu início ao estudo do romance de Eça de

Queirós, realizou-se a leitura e a análise de um excerto do capítulo I da obra e, ainda, a

revisão das orações subordinadas substantivas e das orações subordinadas adjetivas. Na

última parte da segunda aula, na qual nos dedicámos à revisão de tais conteúdos

gramaticais, entregámos à turma uma ficha informativa70 sobre os dois grupos oracionais.

O nosso objetivo era facilitar o processo de revisão da matéria – através de um documento

que lhes permitisse relembrar esses conteúdos – e, ao mesmo tempo, fornecer-lhes

material de estudo.

Tal como a ficha informativa que foi entregue na turma do nono ano, esta expunha

a matéria através de um quadro, que subdividia os dois grupos de orações nos seus

diferentes subtipos; inserimos alguns exemplos ilustrativos de cada subtipo, construídos

com base no contexto do excerto analisado na aula. Contudo, o modo como é realizada a

70 Ver Anexo XVI.

87

descrição teórica dos conteúdos, nesta ficha, difere um pouco da descrição apresentada

na ficha informativa do nono ano.

Nesta, dividimos, por tópicos, os diferentes aspetos gramaticais que as definem.

Procedemos deste modo, por termos concluído (depois da exposição da matéria na turma

do 9.º E) que – tendo em conta as dificuldades que os alunos demonstram em identificar

aquilo em que as orações contrastam umas com as outras – ao expor a matéria desta forma,

obteríamos uma descrição muito mais elucidativa daquilo em que se distinguem. É

necessário salientar que estendemos a referência ao uso da vírgula (na frase complexa) às

orações subordinadas substantivas, para que os alunos compreendam que as regras de

pontuação estão presentes nas orações subordinadas adjetivas relativas como em qualquer

tipo de frase ou texto escritos, ajustadas à sintaxe e à semântica. O nosso intuito é que os

alunos não percecionem a presença/ausência da vírgula, nestas orações, apenas como um

elemento de distinção entre uma restritiva e uma explicativa, mas sim como uma regra de

pontuação que tem uma razão efetiva (assim como existe uma razão para que, por

exemplo, uma oração substantiva relativa que ocupa a função sintática de sujeito não seja

separada por vírgula da oração subordinante).

Após a entrega da ficha informativa, procedemos à revisão da matéria. Por se tratar

de uma turma do 11.º ano, julgámos desnecessária uma leitura detalhada da ficha

informativa, deixando essa tarefa para o estudo individual de cada aluno. Considerámos,

então, que seria mais produtivo escrever, no quadro, exemplos de frases com estas

orações, procurando recapitular e realçar os seus principais aspetos descritivos e

morfossintáticos. Durante este momento da aula, recorremos frequentemente à

participação da turma, procurando envolvê-los na reflexão gramatical.

Em primeiro lugar, abordámos o grupo das orações subordinadas adjetivas,

começando por explicar por que motivo estas se designam “adjetivas”. Logo depois,

relembrámos que estas se subdividem em: relativas (com antecedente) restritivas e

relativas (com antecedente) explicativas. Após esta explicação inicial, colocámos, no

quadro, as duas frases complexas que, na ficha, serviam de exemplo aos dois subtipos

oracionais. Posto isto, analisámos as frases, fazendo as seguintes solicitações aos alunos:

identificação das orações subordinadas adjetivas relativas e do elemento que as introduz;

classificação das orações em “restritiva” e “explicativa”, assim como a atribuição da

função sintática desempenhada.

A partir da identificação do pronome relativo “que” como vocábulo introdutor de

tais orações, pretendíamos clarificar a função do pronome relativo neste tipo de frases

88

complexas, associando-a ao conceito de antecedente. Além disso, deixámos ainda patente

que a designação “relativas” se justifica, por si só, com o tipo de palavras que as

introduzem. Através das respostas dos alunos à nossa última solicitação, procurámos

enfatizar a relação que se estabelece entre as designações que lhes são atribuídas (e, por

sua vez, as funções sintáticas que ocupam) com o facto de uma oração deste tipo estar ou

não entre vírgulas.

Em segundo lugar, revimos as orações subordinadas substantivas, tentando, desde

logo, revelar os aspetos em que estas diferem das anteriores. Assim sendo, salientámos,

inicialmente, o que define estas orações como “substantivas” e relembrámos que estas

podem ser completivas ou relativas (sem antecedente). De seguida, transcrevemos para o

quadro um exemplo frásico de cada subtipo destas orações, exemplos presentes na ficha

informativa. Novamente, de modo a analisarmos as frases em conjunto com a turma,

solicitámos a delimitação e classificação das orações subordinadas, a identificação dos

elementos que as introduzem e a atribuição das respetivas funções sintáticas.

Por meio da identificação dos vocábulos que as introduzem, destacámos: a

diferença entre a conjunção subordinativa substantiva completiva “que” e os pronomes

relativos vistos anteriormente; o facto de as orações substantivas relativas serem assim

designadas, devido ao tipo de conectores por que são iniciadas. A atribuição da função

sintática não só confirmou a definição “substantivas”, como também nos permitiu:

distinguir, quanto ao comportamento sintático, duas orações que são introduzidas por

vocábulos iguais, mas morfologicamente diferentes; distinguir uma oração relativa que

se relaciona sintaticamente com uma expressão nominal antecedente, de uma oração

relativa que não possui um antecedente ao qual está associada.

Neste momento, parece-nos importante refletir acerca da forma como os alunos

foram reagindo à explicação da matéria. Na abordagem ao primeiro grupo, também estes

alunos, embora identificando, corretamente, o “que” como elemento introdutor das

orações, hesitavam na sua classificação. Facilmente identificaram a relativa restritiva e a

relativa explicativa, mas, mais uma vez, com base no critério da pontuação; isto exigiu

que demorássemos mais tempo na explicação, para que os alunos interiorizassem o que

as distingue semanticamente, tentando descentrá-los do critério a que estão habituados.

Ao abordar o segundo grupo, os alunos novamente hesitaram na classificação do

“que”, elemento introdutor da oração substantiva completiva, mas, depois da nossa

explicação, mostraram que entenderam a diferença entre a conjunção e o pronome. A

partir daí, facilmente chegaram à função sintática por ela desempenhada. Em relação à

89

oração substantiva relativa, o mais difícil foi a classificação do elemento introdutor,

devido às dificuldades deles nas classes de palavras. Ultrapassada essa parte,

compreenderam-nas com facilidade e demonstraram ter percebido a diferença entre estas

e as adjetivas relativas.

Ainda que, à partida, os discentes tenham revelado as mesmas dificuldades que os

alunos do nono ano durante a revisão teórica da matéria, envolviam-se com mais

empenho, demonstrando interesse em colmatar as suas dúvidas.

Alcançando o último momento da aula, marcámos, como trabalho de casa, a

realização de uma ficha de trabalho, sobre os tópicos gramaticais revistos71. Com esta

atividade, desejávamos verificar se a retoma e a revisão destes conteúdos tinham

contribuído, de alguma forma, para a diminuição das dificuldades apresentadas por esta

turma, no início do ano letivo. Além disso, consideramos extremamente importante, para

a consolidação dos conhecimentos adquiridos, a realização de exercícios de aplicação,

logo após a revisão da matéria.

A ficha incluía três exercícios bastante semelhantes aos que colocámos na ficha

de verificação de conhecimentos, realizada pelo 9.º E, no dia 10 de março, já que, do

mesmo modo, assentam nas três dificuldades assinaladas por nós, no ponto 3.1.2., do

capítulo II. Neste sentido, os exercícios 1, 2 e 3 da ficha realizada pelo 11.º F colocam em

confronto, respetivamente, as orações subordinadas substantivas e as orações

subordinadas adjetivas relativas; as orações subordinadas substantivas completivas e as

orações subordinadas adjetivas relativas; os dois subtipos de orações subordinadas

adjetivas relativas (restritivas e explicativas). Além de pretendermos testar se os alunos

são capazes de distinguir e classificar as orações que se colocam em confronto em cada

um dos exercícios, quisemos verificar se os discentes reconhecem aquilo que as

caracteriza e que as diferencia.

Importa ainda referir que, também aqui, incluímos algumas questões que diferem

um pouco daquilo que é normalmente tratado num questionário gramatical, com o intuito

de levar os alunos a refletir sobre determinados tópicos, a partir de perspetivas menos

comuns, contribuindo, a nosso ver, para que os alunos desenvolvam uma compreensão

mais ampla e sólida destes conteúdos. A única diferença é que o exercício 1, em vez de

conter duas orações adjetivas relativas, apresenta uma deste tipo e uma oração substantiva

relativa (com o mesmo intuito de as colocar em oposição).

71 Ver Anexo XVII.

90

Concluindo, os objetivos que definimos para esta atividade são os mesmos que

traçámos para a turma do 9.º ano, visto que, apesar de se tratar de anos de escolaridade

diferentes, encontrámos o mesmo nível de dificuldades. Além disso, nesta fase do ensino

secundário, na qual as metas curriculares propõem a revisão da frase complexa em jeito

de consolidação, consideramos que estes exercícios estão devidamente enquadrados.

3.2.1.1. Resultados obtidos na resolução da ficha de trabalho

Começamos por informar que, numa turma de catorze alunos, apenas oito

cumpriram essa tarefa. O facto de mais de metade da turma ter realizado o trabalho de

casa pode ser encarado como algo positivo, já que isso nos leva a crer que estes alunos

não criam tanta resistência às atividades de domínio gramatical, como a turma do 9.º E.

Em contrapartida, a quantidade de alunos que não entregou a resolução da ficha é, ainda

assim, bastante significativa, e, na nossa perspetiva, é importante perceber os motivos

pelos quais isso aconteceu. Nesse sentido, dada a relevância do facto, pretendemos revelar

que, em conversa informal com a professora estagiária, vários alunos confessaram que

não entregaram a resolução da ficha por timidez - sentiam-se expostos intelectualmente e

inseguros em relação às suas capacidades.

Relativamente ao exercício 1, apresentamos, nos gráficos seguintes, os resultados

quantitativos obtidos em cada questão.

Gráfico Nº 8 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.1.

Gráfico Nº 9 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.2.72

72 Nesta questão só consideramos como resposta correta aquela em que o aluno responde acertadamente a ambas as solicitações: indicar a oração que possui um antecedente com o qual se relaciona; identificar o seu antecedente.

7 8

1 00

10

a) "Quem" b) "que" (pronomerelativo)

Questão 1.1.: Identificação e classificação doselementos que introduzem as orações assinaladas nasalíneas a) e b).

Acertou Errou

91

Gráfico Nº 10 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.3., relativamente à

oração assinalada na alínea a)

Gráfico Nº 11 – Respeitante aos resultados quantitativos obtidos na questão 1.3.,

relativamente à oração assinalada na alínea b)

Observando os gráficos anteriores, podemos constatar que o desempenho da turma

na identificação dos elementos que introduzem as orações foi bastante satisfatório. No

entanto, ainda não foram capazes de reconhecer, nem a diferença entre uma oração

relativa que tem antecedente e outra que não tem, nem a relação existente entre uma

oração subordinada adjetiva relativa e a expressão nominal que a antecede. Podemos

ainda verificar que, embora a turma não tenha revelado dificuldades em classificar a

76

011 1

0

5

10

Classificação daoração

Identificação dafunção sintática

Questão 1.3., a): Classificação da oração subordinada substantivarelativa e identificação da respetiva função sintática.

Acertou Errou Não respondeu

3 35 5

0 00

10

Classificação daoração

Identificação dafunção sintática

Questão 1.3., b): Classificação da oração subordinadaadjetiva relativa e identificação da respetiva funçãosintática.

Acertou Errou Não respondeu

4 4

0

5

Questão 1.2.: Identificação da oração que possuium antecedente com o qual se relaciona eindicação do respetivo antecedente.

Acertou Errou

92

oração substantiva relativa e em lhe atribuir uma função sintática, o mesmo não se

verificou em relação à oração adjetiva relativa restritiva. Na análise desta última,

acrescentamos que, dos cinco alunos que erraram a classificação desta oração, três

classificaram-na como oração subordinada substantiva relativa.

Após a análise destes resultados, podemos chegar a duas conclusões. Em primeiro

lugar, podemos afirmar que, do mesmo modo que os alunos não compreendem a função

sintática que a oração desempenha na frase, também não são capazes de a classificar

corretamente e vice-versa. Em segundo lugar, podemos constatar que os erros cometidos

pelos alunos na classificação da oração adjetiva relativa assentaram principalmente na

confusão entre este tipo de orações e as orações substantivas relativas. A nosso ver, isto

deveu-se sobretudo ao facto de ambas serem introduzidas por pronomes relativos, estando

este fator relacionado com a forma como os discentes estudam as orações - refugiam-se,

sobretudo, na memorização dos elementos que as introduzem.

Transitando para o exercício 2, apresentamos, a seguir, os resultados quantitativos

obtidos em cada questão. Atentemos nos gráficos nº 12 a 14.

Gráfico Nº 12 – Resultados quantitativos obtidos na questão 2.1.

Gráfico Nº 13 – Resultados quantitativos obtidos na questão 2.2.

8

30

5

0

5

10

a) "que"(pronomerelativo)

b) "que"(conjunção

subordinativa)

Questão 2.1.: Identificação da classe e subclassede palavras a que pertencem os vocábulosdestacados a negrito.

Acertou Errou

76

12

0

5

10

a) Oração adjetivarelativa

b) Oraçãosubstantivacompletiva

Questão 2.2.: Identificação e classificação das oraçõesintroduzidas pelos vocábulos a negrito.

Acertou Errou

93

Gráfico Nº 14 – Resultados quantitativos obtidos nas questões 2.3.1. e 2.3.2.

Através da observação dos gráficos, constatamos que o desempenho da turma

neste exercício foi bastante satisfatório: a maioria dos alunos não revelou dificuldades em

distinguir e classificar a oração subordinada adjetiva relativa e a oração subordinada

substantiva completiva; quanto a esta última, ainda foram capazes de identificar a função

sintática e de a relacionar com a pontuação utilizada entre as orações subordinante e

subordinada.

No entanto, poucos foram os discentes que classificaram corretamente o vocábulo

que introduzia a oração subordinada substantiva completiva. Em relação à classificação

deste último, acrescentamos que todas as respostas erradas são de alunos que o

classificaram como pronome relativo. Logo, apesar de todos terem acertado a

classificação do primeiro vocábulo, estes alunos ainda continuam a confundir o pronome

relativo “que” com a conjunção subordinativa substantiva completiva “que”,

principalmente em exercícios em que as duas palavras homónimas são colocadas em

confronto.

Por último, apresentamos os resultados quantitativos obtidos nas primeiras 3

questões do exercício 3, através dos gráficos nº 15 a 17, que revelam o desempenho pouco

satisfatório da turma.

Gráfico Nº 15 – Resultados quantitativos obtidos na questão 3, alíneas a) e b)

5 43 4

0

10

a) Transcrição daoração restritiva

b) Transcrição daoração explicativa

Questão 3: Transcrição de duas orações subordinadas adjetivasrelativas, uma restritiva e uma explicativa.

Acertou Errou

86

02

0

10

2.3.1. 2.3.2.

Questão 2.3.1.: Identificação da função sintática da oração daalínea b).Questão 2.3.2.: Avaliação da afirmação como verdadeira ou

falsa - uso da pontuação na oração substantiva completiva.

Acertou Errou

94

Gráfico Nº 16 – Resultados quantitativos obtidos na questão 3.1.

Gráfico Nº 17 – Resultados quantitativos obtidos na questão 3.2.

É importante salientar que, naturalmente, uma resposta incorreta na primeira etapa

do exercício deita por terra todas as possibilidades de acertar na resposta à questão 3.2.,

e diminui consideravelmente a valorização de uma resposta correta, nas questões 3.1. e

3.3. Posto isto, no levantamento dos resultados alcançados nas questões 3.1. e 3.2.,

excluímos da nossa análise o número de alunos que errou na transcrição da oração

subordinada adjetiva relativa restritiva e da oração subordinada adjetiva relativa

explicativa, tendo em conta um total de cinco respostas em relação à oração da alínea a)

e de quatro resposta em relação à oração da alínea b).

No que respeita aos resultados quantitativos obtidos na questão 3.3., podemos

referir que apenas dois alunos não foram capazes de explicar o que distingue

semanticamente uma relativa restritiva de uma relativa explicativa. Porém, dois dos

alunos que responderam acertadamente a esta questão, não tinham realizado,

inicialmente, a transcrição das orações de forma correta. Tendo em conta que, ao contrário

dos restantes discentes que acertaram a resposta a esta pergunta, estes dois não

estabeleceram qualquer tipo de relação entre a sua exposição e o caso concreto das

orações que transcreveram, há, na nossa perspetiva, duas justificações possíveis para o

3 35 5

0

10

Oração transcritapara a alínea a)

Oração transcritapara a alínea b)

Questão 3.1.: Identificação das funções sintáticasocupadas pelas orações transcritas para a alínea a) e para aalínea b).

Acertou Errou

4 34 5

0

10

Oração transcritapara a alínea a)

Oração transcritapara a alínea b)

Questão 3.2.: Identificação dos antecedentes retomadospela orações transcritas, para a alínea a) e para a alínea b).

Acertou Errou

95

que se sucedeu: ou memorizaram aquilo que as distingue (contudo, sem compreender),

ou limitaram-se a reproduzir o que é referido na ficha informativa. Por esse motivo,

desvalorizámos, de certa forma, estas duas respostas e considerámos somente 4 respostas

como totalmente certas. Apesar de a memorização ser bastante importante, é fundamental

compreender a diferença entre os dois subtipos de orações, saber identificá-la e

reconhecê-la. Assim sendo, declaramos que apenas metade dos alunos demonstraram ter

essa capacidade.

Analisando os resultados alcançados podemos afirmar que este foi o exercício da

ficha em que a turma manifestou mais dificuldades, tendo ficado o desempenho geral da

turma condicionado pela resolução da primeira questão. Apesar de a prestação da turma

ter sido razoável na transcrição das orações pedidas e na explicação daquilo que as

distingue semanticamente, não podemos afirmar que compreendem o conceito de

antecedente e que sabem quais as funções sintáticas que estas orações ocupam (como

também pudemos concluir na análise dos resultados obtidos no exercício 1).

Depois da realização desta atividade, percebemos não só as dificuldades que ainda

persistem, mas também em que aspetos os alunos já manifestaram alguma evolução.

Importa referir que, por razões inerentes às circunstâncias do estágio profissional, não foi

possível, numa fase posterior, efetuar a correção da ficha de trabalho em aula; porém,

todos os trabalhos foram corrigidos, comentados (por escrito) e entregues aos alunos.

Entregámos, ainda, a toda a turma, a resolução completa dos exercícios. Com isto,

tínhamos dois objetivos: o primeiro consistia em permitir aos alunos que realizaram o

trabalho de casa confrontar as soluções apresentadas com aquilo que fizeram e,

eventualmente, colocar as suas dúvidas (o que, em alguns casos, efetivamente, veio a

suceder); o segundo, baseava-se em incentivar o estudo dos que não fizeram, fornecendo-

lhes esse material.

3.2.2. Realização de uma ficha de trabalho final

A resolução de uma ficha de trabalho final realizou-se no âmbito da regência IV

de português, que decorreu numa aula de noventa minutos do dia 23 de maio de 2017.

Nesta aula, procurámos dar seguimento à aula anterior, na qual se deu início ao estudo da

“Unidade 6: Cesário Verde”, começando com uma breve contextualização histórico-

literária e transitando, depois, para a leitura e análise da parte I do poema “O Sentimento

dum Ocidental”. Assim sendo, demos continuidade ao estudo do poema, procedendo à

96

leitura e análise da parte II (“Noite-Fechada”), e preenchemos a última parte da aula com

a revisão das orações subordinadas substantivas e as orações subordinadas adjetivas.

A revisão destes conteúdos decorreu a partir da resolução de um exercício de

gramática da página 326 do manual73, que solicitava a classificação de uma oração

subordinada substantiva completiva e de uma oração subordinada adjetiva relativa

restritiva. Durante a resolução de tal exercício no quadro, procurámos, em jeito de diálogo

com a turma, relembrar os principais aspetos descritivos e morfossintáticos dos dois

grupos a que estas orações pertencem (o das substantivas e o das adjetivas), articulando

o nosso discurso de modo a ir ao encontro dos erros mais cometidos na ficha de trabalho

anterior. Para nos auxiliar nesta tarefa e por forma a tornar mais completa a retoma dos

dois grupos oracionais, acrescentámos, ao exercício, mais duas frases complexas – estas

eram compostas, respetivamente, por uma oração subordinada substantiva relativa e uma

oração subordinada adjetiva relativa explicativa.

De modo a finalizar o estudo desta matéria e numa tentativa de perceber se existiu

alguma evolução da turma, solicitámos, como atividade para trabalho de casa, a realização

de uma ficha de trabalho final74. Atendendo à insegurança demonstrada por vários alunos,

na regência anterior, em entregar a resolução da ficha de trabalho, conversámos

brevemente com os mesmos e sugerimos à turma que, desta vez, entregassem o trabalho

de casa sob anonimato. Com isto, pretendíamos evitar a possibilidade de os discentes não

realizarem o trabalho, por não se sentirem confortáveis em demonstrar as suas

dificuldades a este nível.

Esta ficha continha apenas um exercício, que apresentava quatro frases

complexas, que elaborámos a partir do texto analisado na aula. Cada uma dessas frases

era constituída por uma oração subordinante e uma oração subordinada correspondente a

um dos quatro subtipos de orações estudados. O exercício proposto reunia um conjunto

de questões que, mais uma vez, incidiam sobre os principais aspetos gramaticais que

caracterizam estas orações. O nosso objetivo era verificar se os discentes seriam capazes

de identificar e distinguir as diferentes orações subordinadas, numa situação em que as

quatro se colocam em contraste, reconhecendo e mencionando, por meio das suas

respostas, os vários elementos morfossintáticos que as caracterizam.

De seguida, daremos a conhecer o desempenho da turma neste questionário final

sobre as orações subordinadas substantivas e as orações subordinadas adjetivas.

73 Ver Anexo XVIII. 74 Ver Anexo XIX.

97

3.2.2.1. Resultados da ficha de trabalho final

A análise de resultados realizada neste momento será crucial, para percebermos

se existiu, ou não, alguma evolução por parte da turma.

Começamos por afirmar que, em catorze alunos, dez deles entregaram a resolução

da ficha (70% da turma). Por considerarmos um aspeto relevante, acrescentamos que,

mesmo depois de lhes ter sido sugerido que entregassem a resolução da ficha sob

anonimato, todos os discentes a identificaram com o respetivo nome e número de aluno.

A nosso ver, este facto demonstra que a professora acabou por conseguir transmitir-lhes

a segurança suficiente para entregarem o trabalho, sem receio de julgamentos.

Possivelmente, isto deveu-se não só à forma como a docente lidou com os alunos no

momento da entrega da primeira ficha corrigida, mas também a uma breve conversa que

teve com os alunos antes da marcação do segundo trabalho de casa.

De seguida, daremos a conhecer o desempenho dos discentes em cada uma das

questões que constituem o único exercício da ficha de trabalho, através dos gráficos nº 18

a 21.

Gráfico Nº 18 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.1.75

Gráfico Nº 19 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.2.

75 Como certa, só consideramos a resposta que apresenta uma correta divisão e classificação de todas as orações da frase.

68

108

41 0

2

0

10

20

a) Inclui uma

substantiva completiva

b) Inclui uma adjetiva

relativa restritiva

c) Inclui uma

substantiva relativa

d) Inclui uma adjetiva

relativa explicativa

Questão 1.1.: Divisão e classificação das orações presentes nas frasesdas alíneas a), b), c) e d).

Acertou Errou

98

Gráfico Nº 20 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.3.

Gráfico Nº 21 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.3.

Para uma análise qualitativa, pretendemos acrescentar alguns dados importantes.

Em primeiro lugar, constatamos que os erros cometidos na questão 1.1. estão

sobretudo relacionados com alguma dificuldade na delimitação das orações, tanto

subordinantes como subordinadas, e não com os três tipos de dificuldades diagnosticadas

no início do ano letivo e por nós abordadas no ponto 3.1.2., do capítulo II.

Em segundo lugar, queremos destacar aqui algo que já tinha acontecido na

resolução da primeira ficha: três alunos que classificam, erradamente, a conjunção

subordinativa “que” como pronome relativo acertaram a classificação da oração por ela

introduzida. Para nós, isto significa que alguns alunos ainda têm uma certa dificuldade

em relacionar diferentes conhecimentos acerca de um mesmo conteúdo.

9 10 10

01 0 0 00

10

20

a) - "que"

(conjunção

subordinativa)

c) - "Quem" d) - "que" (pronome

relativo)

Questão 1.2.: Classificação morfológica dos vocábulos a negrito,que introduzem as orações subordinadas presentes nas alíneas a),c) e d).

Acertou Errou

9 10 10

1 0 0 00

20

Alínea a) Alínea c) Alínea d)

Questão 1.3.: Indicação da função sintática desempenhada pelasexpressões sublinhadas (orações subordinadas), nas frases dasalíneas a), c) e d).

Acertou Errou

4 4

0

5

Questão 1.4.: Identificação do antecedente do pronomerelativo "que" na frase da alínea b).

Acertou Errou

99

Por último, outro dado interessante é o facto de termos confirmado que todos os

alunos que erraram apresentaram como resposta o excerto “O sujeito poético”, sujeito da

oração subordinante. A nosso ver isto está inteiramente relacionado com o facto de, neste

caso, o vocábulo “que” não ocupar a função sintática de sujeito, mas sim de complemento

direto – já que, nos exercícios, os alunos estão mais habituados a lidar com orações

adjetivas relativas em que o antecedente é o sujeito da oração principal. Isto levou-nos a

concluir que as diferentes funções sintáticas que o conector relativo pode ocupar na

oração subordinada, associadas ao conceito de antecedente, são aspetos que mereciam ter

sido trabalhados nesta turma.

Para finalizar, apesar de os resultados alcançados em 1.4. não terem sido tão

favoráveis quanto nas questões anteriores, podemos afirmar que o desempenho dos alunos

nesta ficha de trabalho final foi muito melhor do que o demonstrado na ficha de trabalho

anterior. Assim sendo, acreditamos que estamos em condições de concluir que, na turma

do 11.º F, se sentiu uma evolução significativa, relativamente aos conhecimentos sobre

os dois grupos de orações estudados.

3.3. Experiência de ensino-aprendizagem, na turma do 11.º D

3.3.1. Realização de uma ficha de trabalho (regência I de latim)

Nos dias 24, 26 e 27 de janeiro de 2017, decorreu a primeira regência de latim, no

âmbito da qual se procedeu à resolução de uma ficha de trabalho que vai ao encontro do

tema do nosso estudo76. Esta regência, que estava inserida na “Unidade 3: A Organização

Social”, mais concretamente no tema “Época Republicana”, desenrolou-se em três aulas

de noventa minutos. Após um momento expositivo sobre a temática cultural envolvente

(que ocupou o início da primeira aula), esta e as aulas seguintes centraram-se, sobretudo,

na leitura, análise morfossintática e tradução de um texto de Floro77, privilegiando,

sempre, uma abordagem linguístico-cultural. De acordo com o programa nacional, para

esta regência estava ainda prevista a introdução do ablativo absoluto como conteúdo

gramatical novo, seguida da respetiva exercitação.

Quanto aos tópicos gramaticais que são objeto da nossa investigação-ação, é

importante mencionarmos que, no conjunto das orações latinas que correspondem às

76 Ver Anexo XX. 77 Presente no manual de Martins e Freire (2014: 94).

100

orações estudadas em português, as que integraram o plano de ação na turma de latim

foram as seguintes: orações subordinadas relativas, com o predicado no modo indicativo;

e orações subordinadas completivas infinitivas com o predicado no infinitivo presente.

Delimitámos o nosso objeto de estudo desta forma, essencialmente, por duas razões.

Em primeiro lugar, tivemos em conta o ponto do programa em que a turma se

encontrava, já que, nesta fase do ano letivo, ainda não tinham sido abordadas nem as

orações subordinadas relativas construídas com o modo conjuntivo, nem os restantes

subtipos de orações subordinadas completivas. Além disso, ainda não tinham sido

ensinados o infinitivo perfeito e infinitivo futuro.

Em segundo lugar, embora condicionados pela matéria que ainda não tinha sido

dada, tentámos, ao máximo, aproximar estruturas sintáticas entre as duas línguas, fazendo

corresponder, tanto quanto possível, as frases complexas em latim, aos diferentes tipos de

frases complexas estudadas nas turmas de português. Contudo, pretendemos aqui deixar

patente que, devido ao facto de, em latim, a designação de “oração relativa sem

antecedente” não estar incluída na tipologia de classificação das orações subordinadas,

não utilizámos nos exercícios (os quais continham sempre uma questão relativa à

identificação/classificação de orações) nenhuma frase que apresentasse uma estrutura

sintática equivalente à dessas orações em português. Logo, tivemos em conta que o

principal objetivo da disciplina de Latim é aferir a capacidade dos alunos de identificar e

classificar as orações presentes nas frases complexas latinas, de acordo com a tipologia

de classificação de orações latina.

Durante as três aulas da regência, não houve possibilidade de proceder a uma

revisão teórica de tais conteúdos. Devido à necessidade de cumprimento dos principais

objetivos previstos pelo programa, não foi possível ocupar tempo de aula com a retoma

desses conteúdos. A adicionar a isto, tivemos o facto de o texto estudado durante as aulas

não apresentar, no seu conjunto de frases, nenhuma oração correspondente aos dois

grupos oracionais em causa, o que também não nos permitiu relembrar essas orações,

durante a análise morfossintática/tradução.

Posto isto, elaboramos uma ficha de trabalho sobre os tópicos gramaticais, para

que as alunas a resolvessem como trabalho de casa. Esta continha dois exercícios, ambos

constituídos por frases formadas a partir da temática do texto latino estudado.78

78 No final do enunciado da ficha, juntamos um pequeno glossário com as enunciações de algum vocabulário desconhecido, que seria necessário para a resolução dos exercícios.

101

Tanto num exercício como noutro, pretendíamos verificar os conhecimentos das

alunas acerca destas orações, não só na língua latina, mas também na língua portuguesa,

já que a resolução correta dos dois exercícios implicaria, obrigatoriamente, a perfeita

compreensão das mesmas nas duas línguas. Assim sendo, desejávamos o seguinte: apurar

se as alunas reconhecem, nas duas línguas, as estruturas sintáticas em causa,

estabelecendo, ao mesmo tempo, uma correta relação entre o seu comportamento

morfossintático, em português e em latim; perceber se apresentam dificuldades na

resolução dos exercícios e se estas advêm, forçosamente, da falta de conhecimentos da

língua materna; por fim, constatar se os alunos de latim demonstram conhecimentos mais

sólidos, no que respeita ao funcionamento da língua portuguesa, em comparação com os

alunos das turmas de português, que, por sua vez, não frequentam a disciplina de Latim.

3.3.1.1. Resultados obtidos na realização da ficha de trabalho

Sobre o desempenho do 11.º D, na resolução da ficha que foi solicitada como

trabalho de casa, na aula do dia 27 de janeiro de 2017, começamos por dizer que, das

cinco alunas que constituem a turma, quatro delas realizaram o trabalho de casa, o que,

na nossa perspetiva, é bastante positivo.

Quanto ao exercício 1, analisaremos, separadamente, os resultados obtidos nas

questões 1.1. e 1.2. Atentando nas respostas das alunas à primeira questão, verificámos

que estas cometeram poucos erros, tendo ocorrido todos na oração subordinante. Em

relação à versão das orações subordinadas mais concretamente, as alunas não

apresentaram qualquer erro.

Estes dados permitem-nos concluir que o desempenho da turma foi bastante

satisfatório. Os poucos erros cometidos, além de serem decorrentes de outras

dificuldades, relacionadas com a falta de conhecimentos da língua latina a outros níveis,

não incidiram sobre a versão das orações subordinadas. Este facto demonstra que as

alunas reconheceram imediatamente as estruturas sintáticas presentes nas frases

apresentadas em português.

Além desta, podemos ainda tirar outras conclusões.

Em primeiro lugar, ao terem colocado na forma correta o pronome relativo que

iniciava a oração relativa, as alunas comprovaram que conheciam a regra de concordância

do pronome como elemento de ligação deste grupo de orações. Em segundo lugar, ao

verificarmos que aplicaram o verbo que constitui as duas orações subordinadas

102

completivas infinitivas, no tempo e modo corretos, e que colocaram (acertadamente) o

sujeito no acusativo, aferimos que a turma tem conhecimento das regras de morfossintaxe

deste tipo de orações em latim. No âmbito da língua portuguesa, estes resultados levam-

nos a crer que estas alunas compreendem, mais claramente, os aspetos descritivos e

morfossintáticos destas orações em português, como por exemplo: a relação que se

estabelece entre a oração relativa e o sintagma nominal ao qual se refere; a definição de

orações subordinadas substantivas completivas.

Relativamente aos resultados alcançados na segunda questão, vejamos o gráfico

que se segue.

Gráfico Nº 22 – Resultados quantitativos obtidos na questão 1.2.

Como fica claro, a turma não manifestou dificuldades em distinguir e classificar

estas orações. Por considerarmos relevante, acrescentamos, que, embora somente tenha

sido solicitada a identificação e classificação das orações presentes nas frases latinas, as

alunas responderam a essa solicitação, procedendo à divisão e classificação oracional das

frases não só em latim, mas também em português, o que acaba por revelar o nível de

facilidade com que lidaram com estes conteúdos.

Transitando para o exercício 2, atentemos nos gráficos nº 23 e 24, que expõem os

resultados obtidos nas questões 2.1. e 2.2.

Gráfico Nº 23 – Respeitante aos resultados quantitativos obtidos na questão 2.1.

43

4

01

00

5

Frase da alínea a) Frase da alínea b) Frase da alínea c)

Questão 1.2.: Identificação e classificação das oraçõespresentes nas frases obtidas em 1.1.

Acertou Errou

4 4 4

0 0 00

5

Frase da alínea a) Frase da alínea b) Frase da alínea c)

Questão 2.1.: Tradução das frases das alíneas a), b) e c)

Acertou Errou

103

Gráfico Nº 24 – Respeitante aos resultados quantitativos obtidos na questão 2.2.

A partir da leitura dos gráficos, podemos afirmar, desde logo, que o desempenho

da turma, neste exercício, foi excelente. As alunas foram capazes de traduzir

escorreitamente as frases latinas, assim como comprovaram conhecer o tipo de

subordinação com que são formadas.

3.3.2. Breve apresentação de uma proposta complementar para a abordagem das

orações subordinadas relativas e das orações subordinadas completivas infinitivas

(regência II de Latim A)

Na regência II de Latim A, que se desenrolou nas aulas dos dias 30 e 31 de março,

tínhamos como objetivos: introduzir o Infinitivo Futuro (na primeira aula) e fazer uma

breve revisão das orações subordinadas relativas e das orações subordinadas completivas

infinitivas (na segunda aula), de acordo com a matéria que já tinha sido dada.79 As

reflexões/exposições gramaticais partiriam, sempre, da análise do texto80.

Assim sendo, depois de termos introduzido o infinitivo futuro, pretendíamos

retomar e sintetizar tudo o que os alunos já sabiam sobre os dois grupos de orações latinas,

partindo da análise morfossintática e tradução de um período do texto que era constituído

por uma oração subordinada relativa, seguida de uma oração subordinada completiva

79 As orações relativas construídas com o conjuntivo, os tempos perfeito e futuro do modo infinitivo, as orações completivas conjuncionais e as orações completivas interrogativas indiretas só são estudadas no 11.º ano. Nesta fase do ano, as alunas já tinham aprendido as orações relativas com o predicado no modo conjuntivo e o infinitivo perfeito, completando então, neste momento, o leque de conhecimentos acerca do modo infinitivo. 80 Texto de Cícero no manual (Martins & Freire, 2014: 166). Apesar de este contemplar frases construídas com orações completivas conjuncionais e orações completivas interrogativas indiretas, apenas fizemos o seu levantamento no texto, explicando a diferença entre estes dois tipos de orações completivas e as infinitivas, fornecendo a tradução desses fragmentos textuais. A introdução destes conteúdos propriamente dita realizar-se-ia numa aula posterior à nossa regência, ficando a cargo do professor titular da turma.

4 4

0 00

5

Frase da alínea a) Frase da alínea b)

Questão 2.2.: Identificação e classificação das oraçõespresentes nas frases

Acertou Errou

104

infinitiva. Contudo, pelo facto de a análise morfossintática e a tradução do texto terem

demorado mais tempo do que era esperado, este acontecimento obrigou a um

reajustamento dos restantes momentos que integravam a planificação da regência, não

tendo sido possível proceder ao que tínhamos programado. Dado o perfil da turma,

relembramos que as alunas trabalhavam pouco em casa, o que tornava as aulas muito mais

lentas do que seriam se, pelo menos, fizessem o levantamento do vocabulário do texto

previamente – esta foi uma das principais causas do sucedido. Seguidamente, tentaremos

descrever, de forma simples e sistematizada, o que pretendíamos fazer caso tivesse

existido oportunidade.

Após a tradução do segundo período do texto, pretendíamos registar no quadro,

separadamente, a oração subordinada relativa e a oração subordinada completiva

infinitiva - acompanhadas das respetivas possibilidades de tradução - analisando-as com

o objetivo de ressaltar, sobretudo, as semelhanças com o português, a fim de tornar o mais

próximas possível as estruturas das duas línguas. Comparando as estruturas sintáticas em

latim com as correspondentes em português, queríamos realçar que, tal como na oração

relativa em português, o pronome relativo que introduz a oração subordinada está a

substituir, nessa mesma oração, o nome do qual depende, concordando com ele em género

e número - regra esta que evidencia a sua dupla função na frase e ainda clarifica o conceito

de antecedente. Pretendíamos destacar também que a diferença entre o pronome relativo

e todos os outros elementos de ligação é bem aparente em latim, por este poder ser

flexionado, ou seja, desempenhar funções sintáticas.

Em relação à oração subordinada completiva infinitiva, queríamos,

primeiramente, fazer notar que a sintaxe deste tipo de orações existe na língua portuguesa,

contudo não é muito usada, sendo a forma verbal finita a preferida. Através de uma análise

sintática das orações em latim e em português, desejávamos salientar que, exatamente

pelo facto de, em ambas as línguas, representarem o complemento direto da frase,

dependem do verbo da oração principal, completando assim o sentido da frase - daí, se

designarem, tanto na língua portuguesa como na língua latina, “orações completivas”. No

seguimento desta explicação, deveríamos justificar o caso em que se expressa o sujeito

da oração subordinada (complemento direto da frase).

Ainda que não tenha havido possibilidade de realizar esta tarefa, enviámos para

trabalho de casa uma ficha de trabalho81 com exercícios muito semelhantes aos que

81 Anexo XXI.

105

constavam na primeira ficha realizada pelas alunas. No entanto, com o pressuposto de

avaliar matéria que havia sido dada depois da realização dessa ficha, decidimos construir

exercícios que incidissem sobre frases complexas constituídas por: orações subordinadas

relativas com o modo conjuntivo e orações subordinadas completivas infinitivas

constituídas com os infinitivos perfeito e futuro. Com efeito, os nossos objetivos

consistiam no seguinte: atestar se as alunas mantinham a prestação da primeira ficha,

comprovando, efetivamente, ter conhecimentos seguros acerca destes conteúdos nas duas

línguas; verificar se as dificuldades, caso existissem, provinham do português ou do facto

de a matéria nova que é solicitada pelos exercícios ainda não se encontrar perfeitamente

consolidada; recolher mais instrumentos de análise, com vista a chegarmos a conclusões

mais sólidas e diversificadas.

Todavia, as alunas do 11.º D, por mais chamadas de atenção da nossa parte, não

chegaram a entregar a resolução do trabalho de casa. A nosso ver, as dificuldades na

matéria nova (que estas acabaram por manifestar posteriormente) e o facto de ser uma

turma que não realiza trabalhos de casa acabaram por contribuir para o que aconteceu.

4. Conclusões do plano de ação aplicado em Português e em Latim A

4.1. Conclusão do plano de ação na disciplina de Português

Após a análise dos resultados obtidos no plano de ação desenvolvido na disciplina

de Português, podemos concluir que as duas turmas revelaram níveis de desempenho

muito distintos. Enquanto a turma do 9.º E não apresentou melhorias na compreensão dos

tópicos gramaticais estudados, a turma do 11.º F evoluiu significativamente. No nosso

entendimento, a diferença de aproveitamento está, essencialmente, relacionada com o

perfil de cada turma.

Relativamente à turma do 9.º ano, constatámos, logo no início do ano letivo, que

esta apresentava um aproveitamento, comportamento e nível de interesse razoáveis; no

entanto, mais concretamente no domínio da Gramática, demonstravam desinteresse pelos

conteúdos (a par da falta de estudo) e muitas dificuldades em quase todos os tópicos

gramaticais, principalmente na frase complexa. Durante o ano, fomo-nos apercebendo,

tanto nas aulas por nós lecionadas, como nas aulas lecionadas pelas outras professoras do

nosso núcleo de estágio e pela professora titular, de que os alunos desta turma

preservavam uma resistência e uma aversão bem vincadas no que tocava a todo o tipo de

106

atividades gramaticais, associadas à ideia de inutilidade. No que ao estudo deste domínio

diz respeito, estes alunos realizavam-no marginalmente (apostando, sobretudo, na

memorização), além de o fazerem, quase unicamente, na véspera dos testes de avaliação.

Pela falta de um estudo regular da gramática, os conteúdos nunca eram devidamente

assimilados e consolidados.

Quanto à turma do 11.º ano, esta era bastante diferente do 9.º E. Apesar de, no

início do ano letivo, nos termos deparado com o mesmo tipo de dificuldades que as

apresentadas pela turma do nono ano, o 11.º F apresentava um rendimento escolar, não

só em Português como também nas outras disciplinas, muito superior. Além disso,

manifestava um nível de interesse, empenho e participação mais satisfatórios. Contudo,

no domínio da Gramática, as dificuldades eram bastante notórias e, associada a este facto,

existia a perceção de que a gramática é uma matéria muito difícil. Nestes alunos, a nível

geral, não verificávamos as mesmas reações de aversão e resistência a que assistíamos no

9.º E, mas sim uma grande insegurança em relação aos seus conhecimentos gramaticais.

Posto isto, fica claro que o tipo de “terreno” encontrado na turma do 9.º ano não

favoreceu o nosso trabalho, ao contrário do que aconteceu na turma do 11.º ano. Todavia,

não pretendemos aqui apontar estas circunstâncias como os únicos motivos do

insucesso/sucesso obtido nas duas turmas; a nossa intenção é apenas deixar patente que

todo o nosso trabalho foi influenciado pelo tipo de turmas que encontrámos.

Sabíamos, à partida, que os alunos do 9.º E apresentavam lacunas muito profundas

em relação à gramática e que, obviamente, não seria em algumas aulas da nossa prática

letiva que iríamos resolver, de forma significativa, todas as dificuldades sentidas pelos

alunos na compreensão dos tópicos gramaticais em causa. Esperávamos, antes, que o

nosso trabalho pudesse contribuir para alguma evolução dos alunos, tal como aconteceu

no 11.º F. Porém, acabámos por constatar que a perceção que estes conservavam acerca

da gramática - nosso principal entrave – não poderia ser resolvida em tão pouco tempo –

a consciencialização da importância e da utilidade da gramática é algo que tem de ser

fomentado e desenvolvido nos alunos desde as primeiras aprendizagens de conteúdos

gramaticais.

Pelo contrário, na turma do 11.º ano, o que faltava, a nosso ver, era a transmissão

da segurança necessária, para exporem as suas dificuldades e fragilidades no âmbito do

domínio da Gramática, sem receios de julgamentos por parte da professora. Embora, na

primeira ficha, o desempenho geral da turma já tenha sido claramente melhor do que o

do 9.º E, a prestação da turma melhorou substancialmente, depois de uma breve conversa

107

da professora estagiária com os discentes. Na nossa perspetiva, a postura da turma mudou

consideravelmente após esse momento, pois os alunos sentiram uma maior abertura para

exporem as suas dúvidas e para solicitarem a ajuda da professora na resolução da segunda

ficha. Demonstraram, ainda, uma vontade muito maior de aprender e um desejo imenso

de ultrapassar dificuldades (as quais, segundo eles, já os acompanhava há demasiado

tempo).

As circunstâncias em que ocorre um estágio profissional também não favoreceram

o nosso trabalho. O pouco tempo de prática letiva que nos foi conferido, a exigência de

cumprimento dos programas e até alguma falta de experiência da nossa parte foram alguns

dos obstáculos que tivemos de enfrentar durante a preparação das aulas e do plano de

ação a aplicar. Estas circunstâncias condicionaram o desenvolvimento do nosso trabalho,

sobretudo na turma do 9.º ano, que exigia um maior esforço por parte do professor, mais

oportunidades para experimentar outras abordagens aos conteúdos, abrindo a hipótese de

errar, retomar e reinventar o ensino destes tópicos, de modo a alcançar resultados – algo

que, devido às limitações de tempo impostas, não foi, de facto, possível.

Ainda assim, durante a prática pedagógica, tentámos, tanto quanto possível,

perceber quais eram os principais erros dos alunos, analisá-los, e, a partir daí, reorientar

o nosso ensino, de modo a melhorar a sua qualidade e a qualidade das aprendizagens. O

nosso trabalho consistiu, essencialmente, na repetição e insistência de exercícios que

incidiam diretamente nas principais dificuldades dos alunos. Embora no 9.º E o plano de

ação não tenha dado frutos, no 11.º F foi suficiente para, aliado a uma estratégia de

diálogo com os alunos, desencadear uma mudança de cenário e, efetivamente, uma

melhoria considerável na compreensão dos conteúdos.

4.2. Conclusão do plano de ação na disciplina de Latim A

No caso do plano de ação desenvolvido na disciplina de Latim A, embora só

tenhamos um instrumento de análise, podemos dizer que os resultados alcançados foram

satisfatórios. Contudo, no nosso entendimento, estaríamos a ir longe demais nas nossas

afirmações se disséssemos que os resultados obtidos na resolução de uma ficha nos

permitiam constatar que a aprendizagem das orações em latim, contribui, efetivamente,

para uma melhor compreensão das mesmas em português.

Por um lado, não querendo descurar a importância do segundo exercício, é

extremamente importante destacarmos aqui os resultados obtidos no exercício 1, que, do

108

ponto de vista do nosso estudo, se tornam verdadeiramente relevantes. Neste, ao contrário

dos alunos das turmas de Português, as alunas do 11.º D não demonstraram qualquer

dificuldade em identificar, nas frases em português, uma oração subordinada adjetiva

relativa e duas orações subordinadas substantivas completivas, distinguindo-as com

facilidade. É necessário ter em conta que, para realizarem a versão para latim

corretamente, as alunas tinham de, desde logo, reconhecer as orações que constituíam as

frases; só assim, mobilizando conhecimentos entre as línguas portuguesa e latina, seriam

capazes de fazer corresponder a estrutura das frases a uma estrutura correspondente em

latim.

Por outro lado, embora as alunas tenham reconhecido as orações que estavam em

causa nas duas línguas – realizando as atividades de tradução e de versão, e a divisão e

classificação das orações, de forma correta – consideramos que, para chegarmos a

conclusões mais sólidas, seria necessário, ao longo do ano letivo, ter desenvolvido um

trabalho mais consistente, com mais instrumentos de análise, de modo a reunirmos dados

mais esclarecedores.

Devido ao perfil da turma e às condições de realização do estágio profissional, tal

não foi possível. Importa referir que, por se tratar de uma turma de 11.º ano, com uma

avaliação externa no final do ano letivo, havia uma maior preocupação em cumprir o

programa, sem grande margem para atrasos no cumprimento dos planos de aula e para

sucessivas retomas de matéria dada; além disso, estas circunstâncias eram absolutamente

limitadoras, não só no processo de calendarização das regências das professoras

estagiárias, como também no próprio processo de construção das planificações das aulas.

Em suma, apesar de não termos atingido os nossos objetivos, cremos que

conseguimos intuir de que forma é possível, nas aulas, aproximar as estruturas das duas

línguas, no sentido de contribuir para o seu melhor entendimento não só na língua latina,

mas também na língua materna.

109

Considerações finais

Após a realização deste trabalho, podemos afirmar que os nossos objetivos foram

atingidos parcialmente.

Relativamente ao plano de ação desenvolvido na disciplina de Português,

consideramos que os resultados obtidos fazem jus às médias gerais de aproveitamento de

cada turma. Por se tratar de turmas com perfis distintos, assumimos que talvez o

desenvolvimento do nosso trabalho devesse ter sido também diferente em cada turma.

Apesar de acreditarmos que muitos outros caminhos poderiam ter sido percorridos

na busca por alcançar os nossos objetivos e que, do mesmo modo, se poderiam ter

revelado vantajosos – seguindo, por exemplo, uma abordagem com um cunho mais

oficinal/laboratorial ou escolhendo uma forma que tornasse mais visível aos olhos dos

alunos a importância e a utilidade dos conhecimentos gramaticais no desenvolvimento

das outras competências –, reconhecemos as vantagens do trabalho por nós realizado.

A evolução verificada na turma do 11.º F comprova, a nosso ver, a eficácia da

nossa abordagem. Embora nem sempre seja possível desenvolver um estudo tão

demorado e trabalhoso sobre estes tópicos no 11.º ano (já que, neste momento do percurso

escolar, as atenções já têm de estar, forçosamente, centradas no desenvolvimento de

outras competências), não se pode negar que o trabalho nessa turma se revelou bastante

útil e importante. Na nossa perspetiva, conteúdos pertencentes a anos de escolaridade

anteriores podem e devem ser retomados sempre que possível, pois a sua sedimentação é

absolutamente fundamental para a aquisição e assimilação de novos conhecimentos (cf.

Almeida, 2015: 29).

Em relação aos tópicos gramaticais que foram objeto do nosso estudo, entendemos

que há determinados aspetos que também poderiam ter sido tratados e que deixamos aqui

como sugestões para o futuro: trabalhar de forma mais aprofundada as diversas situações

linguísticas em que uma oração adjetiva relativa e uma oração substantiva relativa se

tornam próximas; trabalhar o confronto entre os dois tipos de orações relativas (as

substantivas e as adjetivas) e entre as orações adjetivas relativas e as orações substantivas

completivas, alargando o leque utilizado, no que respeita aos elementos introdutórios;

trabalhar no sentido de dar mais ênfase ao facto de o pronome relativo ocupar funções

sintáticas; analisar outras formas de “que”, nomeadamente o consecutivo.

No entanto, importa deixar patente que nos esforçámos por fazer, sempre, o

melhor trabalho possível, tentando lidar da melhor forma com a pouca experiência

110

profissional que tínhamos e com todas as limitações impostas pelas condições de um

estágio profissional. Para nós, mais importante do que a escolha dos métodos a utilizar é

que os docentes desenvolvam um trabalho contínuo ao longo dos diferentes anos de

escolaridade; para que os alunos progridam de forma a desenvolver uma aprendizagem

efetiva, é necessário tempo, treino e insistência (Silva, 2012: 88).

Quanto ao plano de ação aplicado na disciplina de Latim, ainda que as alunas

tenham revelado conhecer bem as estruturas sintáticas em causa nas duas línguas, torna-

se difícil afirmar, com segurança, que as mesmas apresentam conhecimentos seguros no

que respeita à gramática de língua portuguesa, pois, como já vimos, estas conclusões

decorrem da realização de uma única ficha de trabalho.

Em comparação com os resultados obtidos na turma de Português do mesmo ano

de escolaridade, o nível de desempenho das alunas não foi muito superior ao dos alunos

do 11.º F. Tendo em conta a evolução desta última (constatada na segunda ficha de

verificação de conhecimentos) e o que sucedeu na turma de Latim A em relação à segunda

ficha de trabalho, a nosso ver, isto pode significar que, embora o estudo da língua latina

possa ser uma mais-valia para um melhor entendimento da gramática de língua

portuguesa, não é, por si só, uma solução milagrosa ou infalível - nem todos os alunos de

latim terão melhores resultados que os de português. No entanto, cremos que os

estudantes que aprendem latim, habituados a uma presença constante e premente da

gramática, terão certamente tendência para transferir esse trabalho para a área do

português.

Também em relação a esta disciplina, entendemos que muitos outros aspetos

poderiam ter sido tratados, no sentido de aproximar estruturas das duas línguas, como por

exemplo, demonstrar às discentes que as estruturas sintáticas das orações substantivas

relativas e dos dois subtipos de orações adjetivas relativas (as restritivas e as explicativas)

também existem em latim, ainda que não integrem a tipologia de classificação das orações

na gramática latina.

Por fim, após uma análise atenta dos resultados alcançados com o plano de ação

aplicado nas três turmas, salta à vista o papel decisivo que exerceu o perfil de cada turma

no sucesso/insucesso do nosso trabalho. Logo, cremos que o mais importante passa por

ter, desde o início do ano, a perfeita noção da turma que temos sentada à nossa frente,

refletindo, a partir daí, sobre quais as estratégias mais adequadas a aplicar. A procura das

melhores estratégias e metodologias de ensino deve ser algo constante ao longo de todo

111

o ano letivo, o que exige do professor muita paciência e persistência, a fim de obter a

evolução que é esperada nos alunos.

112

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119

Anexo I

� Manual 7.º ano (Neto, et al., 2016a: 152-153):

120

121

Anexo II

� Manual do 8.º ano (Neto, et al. 2016b: 48-49, 201 e 243):

122

123

Anexo III

� Manual do 9.º ano (Pinto & Baptista, 2013: 56, 62 e 69):

124

125

Anexo IV

� Manual do 11.º ano (Cameira & Andrade: 2016: 182 e 231):

126

Anexo V

� Gramática do 3.º ciclo do ensino básico (Falcão, 2016: 176-177):

127

Anexo VI

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

FICHA DE TRABALHO

Grupo I

1. Atenta no seguinte excerto: “Até podem não ser nada complicadas a falar, nem

na sua maneira de ser…” (linha 1).

1.1. Identifica a conjunção presente no excerto e classifica-a.

R.: “nem” – conjunção coordenativa copulativa

1.2. Classifica a oração introduzida pela conjunção que indicaste em 1.1. e

indica a ideia que esta exprime.

R.: Oração coordenada copulativa. Exprime a ideia de adição.

1.3. Reescreve o excerto (“Até podem não ser nada complicadas a falar…”),

completando com uma oração que exprima as ideias de:

a) Oposição;

R.: “Até podem não ser nada complicadas a falar, mas (serem) na

sua maneira de ser…”

b) Alternativa;

R.: “Até podem não ser nada complicadas a falar ou na sua

maneira de ser…”

c) Conclusão;

R.: “Até podem não ser nada complicadas a falar, (não sendo)

portanto na sua maneira de ser”

d) Explicação;

R.: “Até podem não ser nada complicadas a falar, pois não são

sua maneira de ser…”

128

1.4. Preenche o quadro abaixo com as orações que elaboraste em 1.3.,

fazendo corresponder uma oração a cada classificação da coluna do lado

direito.

2. Atenta na frase: “Até é possível que sejam pessoas extremamente simpáticas e de

trato agradável” (linhas 2 e 3).

2.1. A expressão sublinhada corresponde a uma oração coordenada.

Classifica-a.

R.: Oração coordenada copulativa.

2.2. Reescreve a frase (“Até é possível que sejam pessoas extremamente

simpáticas…”), substituindo a oração coordenada por outra oração iniciada pelos

vocábulos:

a) Quando

R.: “Até é possível que sejam pessoas extremamente simpáticas,

quando acordam bem dispostas!”

b) Já que

R.: “Até é possível que sejam pessoas extremamente simpáticas,

já que hoje acordaram bem dispostas!”

c) Se

“pois não são sua maneira de ser…”

Oração Coordenada Explicativa

“mas (serem) na sua maneira de ser…”

Oração Coordenada Adversativa

“ou na sua maneira de ser…”

Oração Coordenada Disjuntiva

“(não sendo) portanto na sua maneira de

ser”

Oração coordenada Conclusiva

129

R.: “Até é possível que sejam pessoas extremamente simpáticas, se

acordarem bem dispostas!”

d) Para que

R.: “Até é possível que sejam pessoas extremamente simpáticas,

para que isso agrade a quem os escuta.”

e) Apesar de

R.: “Até é possível que sejam pessoas extremamente simpáticas,

apesar de não parecer.”

2.3. Preenche o quadro abaixo com as orações que elaboraste em 2.2.,

fazendo corresponder uma oração a cada classificação da coluna do

lado direito.

… já que hoje acordaram bem dispostas!

Oração Subordinada Adverbial Causal

…para que isso agrade a quem os escuta.

Oração Subordinada Adverbial Final

… se acordarem bem dispostas!”

Oração Subordinada Adverbial Condicional

… apesar de não parecer.”

Oração Subordinada Adverbial Concessiva

… quando acordam bem dispostas!”

Oração Subordinada Adverbial Temporal

130

Grupo II

1.

1.1. Atenta na frase: “Por qualquer razão, que pode ser simplesmente o desempenharem

um cargo importante, (…), as referências que lhes são feitas trazem o tal verbo

complicado” (linhas 3 a 5).

1.1.1. Transcreve as orações introduzidas pelo pronome relativo que.

R.: “que pode ser simplesmente o desempenharem um cargo

importante”; “que lhes são feitas”.

1.1.2. Indica o antecedente do pronome relativo em cada uma das

orações por ele introduzidas.

R.: “qualquer razão”; “as referências”.

1.1.3. Apesar de ambas as orações serem designadas por orações

subordinadas adjetivas relativas, introduzem, contudo, noções

diferentes. Identifica-as.

R.: “que pode ser simplesmente o desempenharem um cargo

importante” – oração subordinada adjetiva relativa explicativa;

“que lhes são feitas” – oração subordinada adjetiva relativa

restritiva.

RELEMBRA:

- O pronome substitui ou representa um nome ou Grupo Nominal (GN);

- O pronome nunca vem antes do nome;

- Que é um pronome relativo, que substitui um nome ou um GN. A esse nome ou GN, que o pronome relativo substitui, atribui-se a designação de antecedente.

- O pronome relativo que introduz Orações Subordinadas Adjetivas Relativas.

131

2.

2.1. Considera o excerto: “(…) podemos verificar que o ‘deslocar-se’ uma pessoa tem, de

facto, muito mais dignidade do que o “ir” puro e simples” (linhas 8 a 10).

2.1.1. Transcreve do excerto a oração subordinada substantiva completiva.

Classifica-a sintaticamente.

R.: “que o ‘deslocar-se’ uma pessoa tem, de facto, muito mais dignidade

do que o “ir” puro e simples” – oração subordinada substantiva

completiva; ocupa a função sintática de complemento direto.

RELEMBRA:

- As Orações Subordinadas Substantivas Completivas completam o sentido do

verbo da oração subordinante;

- São, geralmente, introduzidas pelas conjunções subordinativas que e se.

132

Anexo VII

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Ficha de Trabalho

1)

1.1. Na frase «tinha tão boa espada, que ele só avançou contra um exército inteiro de

Soldados Romanos;» (ll. 10-11), as orações são, respetivamente,…

a) … subordinante e subordinada adverbial concessiva.

b) … subordinante e subordinada adverbial consecutiva.

c) … subordinada adverbial concessiva e subordinante.

d) … subordinada adverbial causal e subordinante.

R.: Alínea b).

1.2. Atenta nas frases:

a) «Duas coisas há nos homens, que os costumavam fazer roncadores, porque

ambas incham» (ll. 34-35);

b) «Lá diz a Escritura (…) que todas as aves do Céu descansavam sobre os

seus ramos» (ll. 89-91);

1.2.1. Classifica morfologicamente os vocábulos a negrito, em cada uma das frases.

R.: “que”, alínea a) – pronome relativo; “que”, alínea b) – conjunção subordinativa

substantiva completiva.

1.2.2. Identifica e classifica a oração introduzida por cada um desses vocábulos nas

frases.

R.: “que os costumavam fazer roncadores” – oração subordinada adjetiva relativa

explicativa; “que todas as aves do Céu descansavam sobre os seus ramos” – oração

subordinada substantiva completiva.

133

� Exercício do segundo teste do 1.º período:

2.1.) R.: Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

134

Anexo VIII

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

RELEMBRA

Orações Subordinadas ADJETIVAS:

- Orações que ocupam funções sintáticas características de adjetivos;

- Podem, por vezes, ser substituídas por um adjetivo;

- Além do pronome relativo “que”, também os pronomes relativos

“quem” e “o qual”, o advérbio relativo “onde”, o determinante relativo

“cujo” e o quantificador relativo “quanto” podem introduzir estas orações.

Relativas (com antecedente) Restritivas

� Oração que delimita (restringe) o sentido do nome a que se refere, ou seja, do seu antecedente.

� A sua supressão altera o sentido global da frase, pois esta introduz informação essencial acerca do antecedente. Por isso, não se separa da subordinante com vírgula.

� Ocupa a função sintática de modificador do nome restritivo.

Ex.: “Caí na copa do chapéu de um homem que passava.” – linha 1.

Relativas (com antecedente)

Explicativas

� Oração que acrescenta uma explicação acerca do seu antecedente.

� A sua supressão não altera o sentido global da frase, já que esta apenas introduz uma informação acessória (não essencial). Por isso, são, por norma, delimitadas por vírgulas.

� Ocupam a função sintática de modificador do nome apositivo.

Ex.: “Entre o peito da Felicidade e o recanto de uma mesa velha, que ela tinha na alcova, gastei uns cinco ou seis dias.” – linhas 22-23.

135

Orações Subordinadas SUBSTANTIVAS:

- Orações que desempenham, geralmente, funções sintáticas características

de grupos nominais;

- Sem estas orações, a frase não faz sentido, pois dependem do verbo da

oração subordinante.

Completivas

� Orações que completam o sentido do verbo da oração subordinante.

� Ocupam diversas funções sintáticas – geralmente, a de complemento direto.

� Além de serem introduzidas pela conjunção subordinativa completiva “que”, podem também ser introduzidas pela conjunção subordinativa completiva “se”.

Ex.: “(…) dizia comigo, que era bem bom ser alfinete de damas,(…)” – linha 44. Ex.: O alfinete queria saber se era possível ascender socialmente, não saindo do lenço de uma mucama.

Relativas (sem antecedente) � Orações introduzidas pelos pronomes relativos “o que” e “quem”, pelo advérbio relativo “onde” e pelo quantificador relativo “quanto”.

� Os vocábulos que as introduzem não estabelecem qualquer relação com um nome ou expressão que os anteceda; daí se designarem orações “sem antecedente”.

� Pode ocupar diversas funções sintáticas como: sujeito, complemento direto, complemento indireto, complemento oblíquo e modificador do grupo verbal.

Ex.: O alfinete alcançou o que desejava. Ex.: Quem sonha demasiado alto, desilude-se. Ex.: A mucama sentia- se feliz onde trabalhava. Ex.: O alfinete sonhava quanto podia.

136

Anexo IX

� Reprodução da explicação realizada no quadro:

- Frase 1: Os alunos trabalhadores tiveram boas notas.

- Frase 2: Aquela rapariga, com cabelos compridos e loiros, é minha vizinha.

Na frase 1, a expressão “trabalhadores” desempenha a função de modificador do

nome restritivo. Na frase 2, a expressão “com cabelos compridos e loiros” desempenha a

função de modificador do nome apositivo.

- Frase 1 modificada: Os alunos que são trabalhadores tiveram boas notas.

- Frase 2 modificada: Aquela rapariga, que tem cabelos compridos e loiros, é

minha vizinha.

Na frase 1, a expressão “que são trabalhadores” classifica-se como uma oração

subordinada adjetiva relativa restritiva, ocupando a função de modificador do nome

restritivo. Na frase 2, a expressão “que tem cabelos compridos e loiros” classifica-se como

uma oração subordinada adjetiva relativa explicativa, ocupando a função de modificador

do nome apositivo.

137

Anexo X

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Ficha de Trabalho

1. Considera as seguintes frases:

a) Deve-se estimar quem trabalha com empenho.

b) O alfinete chegou onde pretendia.

c) Quem espera sempre alcança.

1.1. Classifica as orações sublinhadas nas frases.

R.: Orações subordinadas substantivas relativas.

1.2. Analisa cada uma delas sintaticamente.

R.: a) Complemento direto;

b) Modificador do grupo verbal;

c) Sujeito.

2. Atenta nas seguintes frases abaixo:

“Não sei quanto tempo ali estive; saí um dia de manhã para pregar o lenço de chita que

a mucama trazia ao pescoço.” (linhas 16-17).

“Quando os via ir da boca da mucama, que os tirava do toilette, para o corpo das moças,

(…)”. (linhas 42-44).

2.1. Retira das frases:

a) uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva;

R.: “que a mucama trazia ao pescoço”.

b) uma oração subordinada adjetiva relativa explicativa.

R.: “que os tirava do toilette”.

2.2. Identifica o antecedente do pronome que as introduz.

R.: a) “lenço de chita”; “mucama”.

138

2.3. Indica a função sintática de cada uma delas.

R.: a) Modificador do nome restritivo; b) Modificador do nome apositivo.

3. As frases que se seguem são todas constituídas por orações introduzidas pelo vocábulo

que:

a) “Clarinha calçava as luvas, a mãe dizia que era tarde, entraram, mas ao entrar caiu a

rosa do peito da moça.” (linhas 62-63)

b) “Mas Clarinha pedia que se demorasse um instante, um instante só, e diria à mucama

que fosse buscar um alfinete.” (linhas 64-66)

c) “Agora, o peito de moça bonita, vestida de seda, carro, baile, lacaio que abre a

portinhola, cavalheiro que dá o braço à moça, que a leva escada acima;” (linhas 73-75) d)

d) “O Dr. Florêncio declarou que era tempo de autorizá-lo a pedi-la.” (linhas 80-81)

3.1. Delimita as orações introduzidas pelo vocábulo que, presentes nas frases.

Classifica-as.

R.: a) “que era tarde” – oração subordinada substantiva completiva.

b) “que se demorasse um instante, um instante só”; “que fosse buscar um alfinete” –

orações subordinadas substantivas completivas.

c) “que abre a portinhola”; “que dá o braço à moça”; “que a leva escada acima” –

orações subordinadas adjetivas relativas restritivas.

d) “que era tempo de autorizá-lo a pedi-la” – oração subordinada substantiva

completiva.

3.2. Classifica morfologicamente esse vocábulo que introduz cada uma das orações

referidas por ti em 3.1..

R.: Nas orações presentes nas alíneas a), b) e d), é uma conjunção subordinativa

substantiva completiva. Nas orações presentes na alínea c), é um pronome relativo.

3.3. Indica a função sintática das expressões sublinhas na alínea c) e d).

R.: c) Modificador do nome restritivo; d) Complemento direto.

139

Anexo XI

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Trabalho de casa – dia 7/3/2017

1) Observa o exemplo:

Os deuses sentavam-se mais perto de Júpiter. Os deuses eram mais antigos.

Os deuses que eram mais antigos sentavam-se mais perto de Júpiter.

1.1. Seguindo o exemplo, transforma cada par de frases simples numa frase complexa,

substituindo a expressão repetida pelo pronome relativo que:

a) Mercúrio levou a mensagem de Júpiter às divindades. Mercúrio era o mensageiro

dos deuses.

b) O deus encontrava-se no assento de estrelas cristalino. O deus era severo e

soberano.

R.: a) Mercúrio, que era o mensageiro dos deuses, levou a mensagem de Júpiter

às divindades.

b) O deus que era severo e soberano encontrava-se no assento de estrelas

cristalino.

1.2. Divide e classifica as orações presentes na frase que obtiveste em 1.1..

R.: a) “Mercúrio levou a mensagem de Júpiter às divindades” – oração

subordinante; “que era o mensageiro dos deuses” – oração subordinada adjetiva

relativa explicativa.

b) “O deus encontrava-se no assento de estrelas cristalino” – oração subordinante;

“que era severo e soberano” – oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

140

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Trabalho de casa – dia 9/3/2017

1) Considera a frase:

Júpiter, que era o presidente do consílio, pretendia ajudar os portugueses.

1.1. Reescreve a frase iniciando-a por:

Pude perceber que…

R.: Pude perceber que Júpiter, que era o presidente do consílio, pretendia ajudar

os portugueses.

1.1.1. Divide e classifica as orações presentes na frase que obtiveste em 1.1..

R.: “Pude perceber” – oração subordinante; “que Júpiter, que era o presidente do

consílio, pretendia ajudar os portugueses” – oração subordinada substantiva

completiva; “que era o presidente do consílio” – oração subordinada adjetiva relativa

explicativa.

141

Anexo XII

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

FICHA DE VERIFICAÇÃO DE CONHECIMENTOS

1) Considera as seguintes orações:

a) “onde as proas vão cortando” (est. 19, v. 6);

b) “Que do gado de Próteu são cortadas” (est.19, v. 8).

1.1. Identifica os elementos que as introduzem e refere a que classe e subclasse de

palavras pertencem.

R.: “onde” – advérbio relativo; “Que” – pronome relativo.

1.2. Avalia as afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F):

a) A oração da alínea a) não está associada a nenhum grupo nominal que a antecede.___F___

b) O antecedente da oração da alínea b) é “As marítimas águas consagradas”. __V___

1.3. Classifica as orações de forma completa e indica a função sintática que cada uma

desempenha.

R.: “onde as proas vão cortando” – oração subordinada adjetiva relativa explicativa;

“Que do gado de Próteu são cortadas” – oração subordinada adjetiva relativa

explicativa.

2) Atenta nas frases abaixo:

a) Os deuses que detinham mais honras sentavam-se em assentos de ouro e de

perlas.

b) Júpiter afirmou que o povo lusitano era persistente, corajoso e valente.

142

2.1. Diz a que classe e subclasse de palavras pertencem os vocábulos a negrito.

R.: “que” – alínea a) – pronome relativo; “que” – alínea b) – conjunção subordinativa

substantiva completiva.

2.2. Identifica e classifica, de forma completa, as orações por eles introduzidas.

R.: alínea a) – “que detinham mais honras” – oração subordinada adjetiva relativa

restritiva com antecedente; alínea b) – “que o povo lusitano era persistente, corajoso

e valente” – oração subordinada substantiva completiva.

2.3. Em relação à frase da alínea b), assinala como verdadeiras ou falsas as seguintes

afirmações:

a) A oração introduzida pelo vocábulo que desempenha a função sintática de

sujeito. V_____ F__X___

b) A oração subordinante não se encontra separada por vírgula da oração

subordinada, porque esta última completa o sentido do verbo da oração principal.

V__X___ F_____

3)

3.1. Retira do texto (entre as estrofes 25 e 26):

a) uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

R.: “que rega o Tejo ameno” (est. 25, v. 4).

b) uma oração subordinada adjetiva relativa explicativa.

R.: “Que co a gente de Rómulo alcançaram” (est. 26, v. 2).

3.2. Para cada uma dessas orações indica:

3.2.1. a função sintática desempenhada.

R.: alínea a) – Modificador do nome restritivo; alínea b) – Modificador do nome apositivo.

3.2.2. o antecedente com o qual se relaciona.

R.: alínea a) – “Toda a terra”; alínea b) – “a fama antiga”.

3.3. Assinala a única frase verdadeira:

143

3.3.1. A oração subordinada adjetiva relativa restritiva não se encontra

delimitada por vírgulas, porque não acrescenta informação essencial à

frase._____

3.3.2. A oração subordinada adjetiva relativa explicativa encontra-se

delimitada por vírgulas, pois apenas acrescenta informação acessória

(adicional) à frase.__X___

3.3.3. A supressão destes dois tipos de orações altera o sentido global da

frase._____

144

Anexo XIII Quadro Nº 1 – Número de alunos que acertaram/erraram/não responderam, nas questões

da primeira ficha de verificação de conhecimentos (3.1.2.3, capítulo III)83

82 Nesta questão, nenhum aluno acertou na atribuição de funções sintáticas, havendo apenas dois alunos que acertaram na classificação da oração da alínea a) e três alunos que acertaram na classificação da oração da alínea b). Como alunos que “erraram”, entendemos aqueles que não acertaram nem na classificação oracional nem na classificação sintática. 83 Importa esclarecer que, nas questões 1.1., 1.3., 2.1., 2.2., 3.1., 3.2.1 e 3.2.2., analisamos as respostas de forma separada, em relação às orações/frases das alíneas a) e b), dadas pelos exercícios. Nas questões 1.2. e 2.3., interessou-nos saber se os alunos acertaram nas classificações de verdadeiro/falso, relativamente às afirmações das alíneas a) e b). Por fim, na questão 3.3., verificamos se os discentes assinalaram, corretamente, a única alínea com a afirmação verdadeira.

Acertaram Erraram Não responderam

1.1. a) 0

b) 0

a) 10

b) 8

a) 7

b) 9

1.2. a) 10

b) 13

a) 7

b) 4

a) 0

b) 0

1.3. 82 Classificação da oração:

a) 2;

b) 3.

Atribuição de função

sintática:

a) 0.

b) 0.

a) 7

b) 6

a) 8

b) 8

2.1. a) 1

b) 1

a) 5

b) 4

a) 11

b) 12

2.2. a) 2

b) 2

a) 5

b) 5

a) 10

b) 10

2.3. a) 15

b) 15

a) 1

b) 1

a) 1

b) 1

3.1. a) 0

b) 0

a) 4

b) 4

a) 13

b) 13

3.2.1. a) 0

b) 0

a) 3

b) 3

a) 14

b) 14

3.2.2. a) 0

b) 0

a) 3

b) 3

a) 14

b) 14

3.3.3. 8 4 5

145

Anexo XIV

� Exercício de gramática no segundo teste do 2.º período:

3. R.: A.

3.1. R.: A. “Os Portugueses são exaltados por Camões” – oração subordinante; “que

se destacaram dos demais” – oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

B. “Camões deseja” – oração subordinante; “que os feitos daqueles portugueses sejam

divulgados” – oração subordinada substantiva completiva.

C. “Os Portugueses eram tão especiais” – oração subordinante; “que até os deuses

lhes obedeceram” – oração subordinada adverbial consecutiva.

146

Anexo XV

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Ficha de Verificação de Conhecimentos – 2/6/2017

1) Observa a tabela.

1.1. Completa-a, indicando com um (X) a classificação correta das orações

destacadas nas frases. Indica, também, a função sintática desempenhada por

cada uma delas.

1.2. Refere a classe e a subclasse das palavras que introduzem as orações

destacadas nas frases (1), (2), (3):

(1) “que”: conjunção subordinativa substantiva completiva.

(2) “que”: pronome relativo.

Explicativa Restritiva Relativa (sem

antecedente)

Completiva

(1) O poeta lamenta que seja incompreendido pelos seus contemporâneos.

X

Complemento direto

(2) Quando os navegadores desembarcaram na Ilha dos Amores, viram as Ninfas, que se deixaram perseguir e seduzir por eles.

X

Modificador do nome apositivo

(3) No cume de um monte, Tétis mostrou a Vasco da Gama o que os Portugueses ainda iriam alcançar.

X Complemento

direto

(4) O vento que anunciou a tempestade era mais fresco e mais intenso.

X

Modificador do nome restritivo

Frase Orações Orações Função Subordinadas Subordinadas Sintática Adjetivas Relativas Substantivas (com antecedente)

147

(3) “o que”: pronome relativo.

1.3. Indica o antecedente do pronome relativo “que”, que introduz a oração

destacada na frase (4). R.: “O vento”.

2) Assinala com um (X) a afirmação verdadeira:

a) A oração subordinada adjetiva relativa restritiva não se encontra delimitada por

vírgulas, porque não acrescenta informação essencial à frase._____

b) A oração subordinada adjetiva relativa explicativa encontra-se delimitada por

vírgulas, pois apenas acrescenta informação acessória (adicional) à frase.__X___

(3) Considera a frase:

Pude verificar que Camões tentou mostrar aos seus contemporâneos que não são dignos

das gerações que os precederam.

3.1. Transcreve da frase:

a) uma oração subordinada substantiva completiva:

R.: “Que Camões tentou mostrar aos seus contemporâneos que não são dignos das

gerações que os precederam” (1.ª hipótese de resposta); “que não são dignos das gerações

que os precederam” (2.ª hipótese de resposta).

b) uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva:

R.: “que os precederam”.

A professora, Joana Barbosa.

148

Anexo XVI

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

RELEMBRA

Definição Elemento Introdutório

Função Sintática

Uso da vírgula

Exemplos

Relativas (com antecedente) Restritivas

Retomam o antecedente, restringindo o seu sentido e particularizando-o.

Além do pronome relativo “que”, também os pronomes relativos “quem” e “o qual”, o advérbio relativo “onde”, o determinante relativo “cujo” e o quantificador relativo “quanto” podem introduzir estas orações.

Modificador do nome restritivo.

Nunca aparecem entre vírgulas, pois a sua supressão altera o sentido da frase – acrescentam informação essencial.

Ex.: O amor que Pedro da Maia sentia era um amor à Romeu.

Relativas (com antecedente) Explicativas

Retomam o antecedente, acrescentando informação adicional sobre o nome ao qual estão ligadas.

Além do pronome relativo “que”, também os pronomes relativos “quem” e “o qual”, o advérbio relativo “onde”, o determinante relativo “cujo” e o quantificador relativo “quanto” podem introduzir estas orações.

Modificador do nome apositivo.

São sempre separadas por vírgulas, já que a sua supressão não altera o sentido da frase – acrescentam informação acessória.

Ex.: André, que era o criado, trouxe o champanhe.

Orações Subordinadas ADJETIVAS:

- Orações que ocupam funções sintáticas características de adjetivos;

- Podem, por vezes, ser substituídas por um adjetivo.

149

Definição Elemento Introdutório

Função Sintática

Uso da vírgula

Exemplos

Relativas (sem antecedente)

Orações introduzidas por um pronome, advérbio ou quantificador, relativos, sem estarem associados a nenhum antecedente na oração subordinante.

Pronomes relativos – “o que” e “quem”; Advérbio relativo – “onde”; Quantificador relativo – “quanto”.

Sujeito; Complemento direto; Complemento indireto; Modificador oblíquo; Modificador do grupo verbal.

Este tipo de orações pode, ou não, estar entre vírgulas, dependendo da frase em que se insere e da função sintática que desempenha.

Ex.: Certo dia, Pedro da Maia avistou o que não esperava. Ex.: Quem ama assim, esquece, muitas vezes, a razão. Ex.: Aquela bela mulher apareceu onde Pedro se encontrava. Ex.: Pedro amava quanto desejava.

Completivas Completam o sentido da oração subordinante – sem a oração subordinada substantiva completiva, a oração subordinante não faz sentido.

Além de serem introduzidas pelas conjunções subordinativas substantivas completivas “que” e “se”, podem também ser introduzidas pelas preposições “para” e “de” ou não conter qualquer elemento de ligação.

Ocupa diversas funções sintáticas – geralmente, a de Complemento direto.

Não se encontram separadas por vírgulas, porque estão ligadas ao verbo da oração subordinante.

Ex.: Alencar perguntou a Pedro da Maia se este queria saber informações sobre a mulher. Ex.: Pedro pediu ao criado que retirasse o champanhe.

Orações Subordinadas SUBSTANTIVAS:

- Orações que desempenham, geralmente, funções sintáticas características de grupos

nominais;

- Sem estas orações, a frase não faz sentido, pois dependem do verbo da oração subordinante.

150

Anexo XVII

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Ficha de Trabalho – Regência II (11.º Ano)

1) Considera as seguintes orações:

a) Quem chegou à cidade de caleche azul foi Maria Monforte.

b) “que assaltam uma existência” (linha 3).

Nota: Na alínea a), deves considerar a oração sublinhada.

1.1. Identifica e refere a classe de palavras dos elementos que as introduzem.

R.: a) “Quem” – pronome relativo;

b) “que” – pronome relativo.

1.2. Qual das duas orações retoma o antecedente com o qual se relaciona?

Menciona-o.

R.: Oração na alínea b), que retoma “uma dessas paixões” (linha 2-3).

1.3. Classifica as orações e atribui-lhes uma função sintática.

R.: a) oração subordinada substantiva relativa; ocupa a função sintática de sujeito.

b) oração subordinada adjetiva relativa restritiva; ocupa a função sintática de

modificador do nome restritivo.

2) Atenta nas expressões abaixo:

a) “Sob as rosinhas que ornavam o seu chapéu preto, (…)” (linha 8);

b) “Queres que te diga o nome, meu Pedro?” (linha 20).

2.1. Diz a que classe de palavras pertencem os vocábulos a negrito.

R.: a) “que” - pronome relativo;

b) “que” - conjunção subordinativa substantiva completiva.

151

2.2. Delimita e classifica as orações por eles introduzidas.

R.: a) “que ornavam o seu chapéu preto” – oração subordinada adjetiva relativa

restritiva;

b) “que te diga o nome, meu Pedro?” – oração subordinada substantiva completiva.

2.3. Em relação à oração introduzida pelo vocábulo que, na alínea b):

2.3.1. indica a função sintática desempenhada;

R.: Complemento direto.

2.3.2. avalia a seguinte afirmação como verdadeira ou falsa:

Esta oração não se encontra delimitada por vírgulas, porque completa o sentido do

verbo da oração principal.

R.: A afirmação é verdadeira.

3) Transcreve do texto:

a) uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

Ex.: “que se acumulavam diante dele sobre o tabuleiro de genebra” (linha 35).

b) uma oração subordinada adjetiva relativa explicativa.

Ex.: “que fumava encostado à outra ombreira” (linha15).

3.1. Indica a função sintática desempenhada por essas orações.

R.: a) Modificador do nome restritivo;

b) Modificador do nome apositivo.

3.2. Identifica o antecedente retomado por cada uma delas.

R.: a) “linhas encruzadas”;

b) “um rapaz alto”.

3.3. Distingue-as quanto ao uso da vírgula, justificando.

R.: A oração subordinada adjetiva relativa restritiva não se separa por vírgulas,

porque esta oração altera o sentido da frase, ou seja, acrescenta informação

relevante sobre o antecedente; pelo contrário, a oração subordinada adjetiva

relativa explicativa encontra-se entre vírgulas, pois acrescenta informação não

essencial acerca do antecedente, isto é, a sua supressão não altera o sentido da frase.

152

Anexo XVIII

� Manual do 11.º ano (Cameira & Andrade, 2016: 326):

153

Anexo XIX

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Ficha de Trabalho Final – 23/5/2017

1) Atenta nas seguintes frases:

a) Verifica-se que a clausura na cidade afeta, sobretudo, os mais frágeis.

b) O sujeito poético descreve toda a realidade que observa.

c) Quem foi desfavorecido pela sorte provoca sentimentos de compaixão no eu

poético.

d) As costureiras e as floristas dos magasins, que ele observa minuciosamente,

causam-lhe sobressaltos.

1.1. Divide e classifica as orações presentes em cada uma das frases.

R.: a) “Verifica-se” – oração subordinante; “que a clausura na cidade afeta, sobretudo,

os mais frágeis” – oração subordinada substantiva completiva.

b) “O sujeito poético descreve toda a realidade” – oração subordinante; “que observa”

– oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

c) “Quem foi desfavorecido pela sorte” – oração subordinada substantiva relativa;

“provoca sentimentos de compaixão no eu poético” – oração subordinante.

d) “As costureiras e as floristas dos magasins causam-lhe sobressaltos” – oração

subordinante; “que ele observa minuciosamente” – oração subordinada adjetiva

relativa explicativa.

1.2. Refere a que classe e a subclasse de palavras pertencem os vocábulos a negrito.

R.: “que” (alínea a)) – conjunção subordinativa substantiva completiva; “Quem”

(alínea c)) – pronome relativo; “que” (alínea d)) – pronome relativo;

1.3. Indica a função sintática das expressões sublinhadas.

R.: “que a clausura na cidade afeta, sobretudo, os mais frágeis” – complemento direto;

“Quem foi desfavorecido pela sorte” – sujeito; “que ele observa minuciosamente” –

modificador do nome apositivo.

1.4. Identifica o antecedente do pronome relativo “que”, na frase da alínea b).

R.: “toda a realidade”.

154

Anexo XX

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Ficha para Trabalho de Casa – 27/01/2017 – Latim A

1. Lê atentamente as seguintes frases:

a) A república romana, que foi construída em vários séculos e gerações, foi

fortemente marcada pelas revoltas da plebe.

b) A plebe desejava que os seus direitos fossem protegidos.

c) Os plebeus tinham vontade de criar uma magistratura.

Verte as frases para latim.

R.: a) Respublica romana, quae multis saeculis et aetatibus constituta est, fortiter

seditionibus plebis insignita est.

b) Plebs uolebat sua iura muniri.

c) Plebei uolebant se unum magistratum creare.

1.1. Identifica e classifica as orações presentes nas frases latinas que obtiveste em 1.1.

R.: a) “Respublica romana, (…) multo seditionibus plebis insignita est.” – oração

subordinante; “quae multis saeculis et aetatibus constituta est” – oração subordinada

relativa.

b) “Plebs uolebat” – oração subordinante; “sua munera muniri” – oração subordinada

completiva infinitiva.

c) “Plebei uolebant” – oração subordinante; “se unum magistratum creare” – oração

subordinada completiva infinitiva.

155

2. Considera as frases abaixo:

a) Leges quae a Graecia allatae sunt, a decem principibus conscriptae sunt.

b) Plebs uolebat leges iustas esse.

2.1. Faz a tradução das frases.

R.: a) As leis que foram trazidas da Grécia foram escritas pelos dez escolhidos.

b) A plebe pretendia que as leis fossem justas.

2.2. Identifica e classifica as orações presentes em cada uma delas.

R.: a) “Leges (…) a decem principibus conscriptae sunt.” – oração subordinante;

“quae a Graecia allatae sunt” – oração subordinada relativa.

b) “Plebs uolebat” – oração subordinante; “leges iustas esse” - oração subordinada

completiva infinitiva.

Glossário:

- Aetas, -atis (f.): geração;

- Constituo, -is, -ere, -ui, -utum: construir;

- Insignio, -is, -ire, -iui/–ii, -itum: marcar, distinguir;

- Ius, iuris (n.): direito;

- Munio, -is, -ire, -iui/-ii, -itum: defender, proteger;

- Uult: 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo uolo, uis, uele, uolui = desejar, querer,

pretender.

156

Anexo XXI

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas

Ano letivo 2016/2017

Ficha para Trabalho de Casa – 31/3/2017 – Latim A

1. Lê atentamente as seguintes frases:

a) Cícero, que tivera bons mestres, queria ter bons livros.

b) Penso que tu compraste e enviaste todas aquelas coisas importantes.

c) Ático prometeu que há-de arranjar uma biblioteca.

1.1. Verte as frases para latim.

R.: a) Cicero, qui bonos magistros habuerat, uolebat se bonos libros habere.

b) Cogito te omnia illa magna emisse et misisse.

c) Atticus pollicitus est se bibliothecam confecturum esse.

1.2. Identifica e classifica as orações nelas presentes.

R.: a) “Cicero uolebat se bonos libros habere” – oração subordinante; “qui bonos

magistros habuerat” – oração subordinada relativa.

b) “Cogito” – oração subordinante; “te omnia illa magna emisse et misisse” –

oração subordinada completiva infinitiva.

c) “Atticus pollicitus est” – oração subordinante; “se bibliothecam confecturum

esse” – oração subordinada completiva infinitiva.

2. Considera as frases abaixo:

a) Cicero epistulam scripsit, quae Attico mitteretur.

b) Spero eum omnia nobis emisse et misisse.

c) Scripsisti mox libros venturos esse.

2.1. Traduz as frases.

R.: a) Cícero escreveu uma carta que fosse enviada a Ático.

b) Espero que ele nos tenha comprado e enviado tudo.

c) Escreveste que os livros vão chegar em breve.

157

2.2. Identifica e classifica as orações presentes nas frases latinas.

R.: a) “Cicero epistulam scripsit” - oração subordinante; “quae Attico mitteretur”

- oração subordinada relativa.

b) “Spero” – oração subordinante; “eum omnia nobis emisse et misisse” – oração

subordinada completiva infinitiva.

c) “Scripsisti” – oração subordinante; “mox libros venturos esse” – oração

subordinada completiva infinitiva.

2.3. Refere o valor expresso pelo predicado da oração subordinada, na frase da alínea

a).

R.: Valor final.

2.4. Justifica, quanto à morfossintaxe, o caso em que se encontram os vocábulos

sublinhados nas frases das alíneas a), b) e c).

R.: a) “quae” – pronome relativo “qui, quae, quod”, que introduz a oração

subordinada relativa e substitui o antecedente “litteras”; por isso, concorda

com este em género (feminino) e número (plural), e está em acusativo, porque

ocupa a função sintática de complemento direto.

b) “eum” – pronome demonstrativo “is, ea, id”: ocupa a função sintática de sujeito

da oração subordinada infinitiva, sendo esta o complemento direto da oração

subordinante; por isso, o sujeito da oração é expresso em acusativo.

2.5. Indica a função sintática da oração subordinada que identificaste na frase da

alínea c).

R.: a) Complemento direto.

Glossário:

- Emo, -is, -ere, emi, emptum: “comprar”;

- Mitto, -is, -ere, misi, missum: “enviar”;

- Conficio, -is, -ere, feci, fectum: “arranjar”;

- Scribo, -is, -ere, scripsi, scriptum: “escrever”, “dizer/fazer saber por escrito”, “escrever uma carta”;

- Uolo, uis, uelle, uolui: “querer”.