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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo

Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, LuísFilipe Santos, Margarida Duarte, Sónia Neves, Carlos Borges,

Catarina PereiraGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes

Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos

Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076

MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: Sandra Costa Saldanha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional12 - Opinião D. Manuel Linda14 - A semana de... Catarina Pereira16- Entrevista Tolentino Mendonça28- Dossier Natal

44- Internacional48 - Cinema50 - Multimédia52- Estante54 - Vaticano II56 - Agenda58 - Por estes dias60 - Programação Religiosa61 - Minuto YouCat62 - Liturgia64 - Fundação AIS66 - Opinião D. José Cordeiro70 - LusoFonias

Tema do dossier da próxima edição:2013 em Revista

Foto da capa: PR/Agência EcclesiaPresépio de António Moreira, na

VII Exposição de Presépios de Artesãos do Concelho de EstremozFoto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

Mensagens deNatal dos Bisposde Portugal[ver+]

Cada um é umapersonagem dopresépio[ver+]

A minha leiturados textos donascimento deJesus[ver+] D. José Cordeiro |D. Manuel LindaPadre Fernando Milheiro | AntónioRodrigues | Luis Leal ReverendoSérgio Alves

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Imagens de Natal

Sandra Costa Saldanha

Recebemos por estes tempos inúmeras imagensde Natal. É o tempo, por excelência, decirculação da imagem cristã. Com as origensmais heterogéneas, com todos os tipos derepresentações, mensagens de fé ou deesperança, sintetizam também o gosto duvidosoque (com exceções) norteou a criação de muitasdelas.Cristalizando estereótipos e testemunhos desantidade, diluídas entre a gentileza dalembrança e a materialidade do adorno são, porvia da regra, desprovidas de propósito espiritual,significado ou capacidade de transmissãosimbólica. E de facto, tão importante quanto opressuposto estético é, como sabemos, a forçada imagem, na sua capacidade de diálogo, semnunca banalizar a beleza e a sublimidade damensagem cristã.Ora, é impossível passar ao lado damediocridade que grassa por entre asrepresentações massificadas das felicitaçõesnatalícias, a avalanche de quinquilharia esouvenires coloridos a que muitos cristãos seresignam. Galerias de coisas banais, quedessacralizam a imagem, adulteram edesmerecem tradições iconográficas seculares.Terá de ser assim?O Natal constitui, pois, oportunidade certeira dedignificação da imagem sagrada. Feliz Natal!

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Sem-abrigo que tomaram o pequeno-almoço com o Papa, no dia doseu aniversárioLOsservatore Romano/Lusa

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"Dentro de poucos dias os nossoscorações estarão cheios da alegriado Natal do Senhor. Deixando umlugar vazio à mesa da ceia de Natal,pensemos nos pobres, nos quepassam fome, nas pessoas sós, nossem teto, nos marginalizados, nosque sofrem com a guerra, de modoespecial as crianças. Jesus, Filho deDeus, feito Homem está presenteem cada um deles. Abramos osnossos corações de forma a quetomem parte na nossa alegria."Papa Francisco, Audiência Geral, 18de dezembro "O súbito amor da esquerdapelo Papa tem o sabor de umaconversão: não do Papa, comopretende a esquerda, mas daprópria esquerda. E comotambém está escrito (São Lucas),"haverá mais alegria no céu porum pecador que se arrependedo que por 99 justos".Henrique Monteiro, Jornalista

"Aquilo que está a acontecer éque o Papa Francisco está acompreender, e jácompreendeu, que o mundomudou. A grande parte dasinstituições que têmresponsabilidades públicasainda não assumiu anecessidade de rever a suavisão do mundo e da vida eacontece o mesmo com ospartidos políticos."Adriano Moreira, em entrevista àAgência Ecclesia “Por toda a terra os que amamCristo formam uma grandecomunidade de amizade. A issochama-se comunhão. Têm assim umcontributo a dar para curar asferidas da humanidade: semquererem impor-se, podemcontribuir para uma mundializaçãoda solidariedade, que não excluinenhum povo nem nenhuma pessoa”Irmão Alois, prior da comunidade deTaizé

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Mensagens de Natal dos bisposcom atenção aos mais necessitadosOs bispos portugueses têmdedicado atenção às consequênciasda atual crise económica, pedindoatitudes solidárias e de proximidadenas suas mensagens para opróximo Natal, que têm sidodivulgadas pela Agência ECCLESIA.“Este ano, e mais uma vez, o Natalvolta a ser celebrado emcircunstâncias muito particulares dedificuldades vividas pelas famílias,pelos cidadãos portugueses e domundo inteiro”, admite D. VirgílioAntunes, bispo de Coimbra.O arcebispo de Évora alertou porsua vez para a exclusão dos maisnecessitados na sociedadecontemporânea e apelou à “defesados valores da vida”. “A sociedadedos humanos, que não recebeu oSalvador, continua a não ter lugarpara acolher os que precisam”,alerta D. José Alves.Em Braga, o arcebispo D. JorgeOrtiga declarou que é necessáriocombater o “pecado original doconsumismo” e ajudar as lembravítimas da discriminação, dodesemprego e da fome.O bispo de Aveiro vai partilhar

o jantar de Natal com sem-abrigo dacidade, anunciou na sua mensagempara esta celebração, na qual alertapara as diversas formas de rejeiçãoe exclusão na sociedade. D. AntónioFrancisco dos Santos já em 2012tinha dedicado esta hora a quemestá só.D. Gilberto Reis, bispo de Setúbal,dirigiu uma mensagem de Natal àdiocese, na qual pede aos cristãosque esta celebração tenha comofruto uma presença de “alegria” e“esperança” junto de quem “estejaa sofrer o desemprego, a droga, afome, a solidão, o desencanto davida, a doença, a violência ou outrapobreza”.O bispo da Guarda apelou a umesforço da sociedade portuguesapara assegurar o “direitofundamental” ao trabalho. “EsteNatal convida-nos, por isso, areforçar a proximidade com todos, acomeçar pelos que mais precisam”,refere D. Manuel Felício.D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu,pede na sua mensagem de Natalque se “privilegiem aquelas

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que vivem com dificuldades”,procurando quem se encontra “nasperiferias da vida”.Já D. Anacleto Oliveira, bispo deViana do Castelo, exortou os fiéis airem ao encontro dos mais frágeisda sociedade, como doentes ouidosos, para que cada um tenha“mais um Natal cristão”.D. António Vitalino, bispo de Beja,escreveu a mensagem ‘Natal daesperança’ e alerta que o cristão“não pode contentar-se” em viveresta festa sem conteúdo, mas deve“celebrar a fé” com a comunidade ecom a família.

O bispo de Vila Real, na mensagemde Natal pretende que a Igrejadiocesana encontre “os homensnecessitados, famintos da verdade eamor”. “A Igreja de Cristo vive,sempre, em êxodo, de saída para asperiferias”, escreve D. AmândioTomás.D. Manuel Pelino, bispo deSantarém, afirmou na suamensagem de Natal que énecessário cuidar “da alegria e daunião de todos” e promover osvalores natalícios num período dedificuldades sociais e económicas.

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Cáritas cria rede paradesempregadosO presidente da Cáritas Portuguesapretende que a plataforma ‘Inspira’,lançada esta quarta-feira emLisboa, seja um instrumento deaproximação entre empregadoresde desempregados com mais de 45anos. Eugénio da Fonseca realçouà Agência ECCLESIA que muitasdessas pessoas têm “competênciaspara colocar ao serviço dasociedade”, mas adverte que aplataforma “não dáautomaticamente trabalho”.A «Inspira – Rede de competênciasCáritas» está online desde hoje eassenta em várias funcionalidades -facilidade de navegação ecriatividade – e segundo ospromotores é uma ferramentatecnológica que dá resposta àsustentação do envelhecimentoativo e “combate a exclusão domercado de trabalho dos maisvelhos”.A Cáritas não tem qualquerintervenção no tipo de relaçãocontratual que possa resultar docontacto estabelecido através destaplataforma.O projeto é coordenado por

Maria do Rosário Carneiro eEugénio Fonseca e conta, entreoutras entidades, com a parceria doGRACE (Grupo de Reflexão e Apoioà Cidadania Empresarial) – nadivulgação desta iniciativa.Uma grande franja da populaçãoportuguesa “está privada do direitoao trabalho” e com uma “ansiedadecompreensível”, pelo que EugénioFonseca afirma que a plataforma é“mais uma possibilidade deaproximar quem tem oportunidadede satisfazer esse direito”.Esta plataforma online é umaconjugação de fatores, visto que osempregadores “tem necessidadesdas competências para sedesenvolverem” e as “pessoasnecessitam de um trabalho”, disse àAgência ECCLESIA Maria doRosário Carneiro.A pessoa em busca de trabalhopode colocar online as suas“competências adquiridas” ao longoda vida e a entidade patronal pedepessoas que tenham competênciasnas várias áreas, frisou uma dascoordenadoras do projeto.

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O Menino Jesus numa estóriaaos quadradinhosO professor universitário AlfredoTeixeira recebeu esta terça-feira, emCascais, o 3.º prémio internacionalde composição Fernando LopesGraça pela obra ‘O Menino Jesusnuma estória aos quadradinhos’.Nesta edição do prémio instituídopela Câmara Municipal de Cascaisem 1994 para homenagear ocompositor Fernando Lopes-Graça(1906-1994), o tema proposto foi oNatal, acolhendo obras inéditaspara coro infanto-juvenil (vozesiguais) “a cappella” ou comacompanhamento de piano.O rimance para coro infanto-juvenile piano a partir do poema “Hino deAmor” de João de Deus foi aescolha do compositor AlfredoTeixeira por se tratar de “um poemaque já não faz parte regular dascoletâneas de Natal mas que emtempos fez parte das coletâneas doensino primário”, lembra o autor, emdeclarações à Agência ECCLESIA.“É um poema que narra uma históriade encantamento, do Menino Jesusque salva um passarinho doencantamento da serpente, o quedo ponto de

vista é muito interessante trabalharsobretudo pela qualidade rítmica emétrica do poema”, explica AlfredoTeixeira.O antropólogo, investigador, teólogoe docente da Faculdade de Teologiada Universidade CatólicaPortuguesa reuniu a unanimidadedo júri, constituído peloscompositores Sérgio Azevedo e LuísTinoco, e a maestrina Erica Mandillo.Alfredo Teixeira recebeu este prémiocom “alegria” por significar “umaetapa interessante” da sua vida umavez que a composição não é a suaatividade principal, antes “umaparcela pequena mas importante”da sua vida, vindo assim confirmar“que vale a pena conservar otrabalho na área da composição edireção coral” que temdesenvolvido.

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Natal em tempo de império

D. Manuel Linda

Os números. Sempre os números…Dizem que o desemprego recua umascentésimas, que as exportações aumentamligeiramente, que a economia dá sinais deretoma, que o PIB cresce... Ainda bem. Já nãoera sem tempo!O Governo felicita-se, a Oposição desvaloriza, ossindicatos endurecem a luta, os comentaristasinterpretam como lhes apetece, os «opinonmakers» insinuam que já se vislumbra luz aofundo do túnel.E as pessoas? E o povo, meu Deus?Bem, o povo, na sua sabedoria irónica, recorreao exemplo tradicional: a existência de mais umfrango em cima da mesa, só por si, não garanteque todos os comensais possam matar a fome.Se um qualquer açambarcador os come todos, omaior número de frangos só faz crescer a águana boca e o efeito de um soco no estômago aosque deles ficam privados.Até porque lhe vêm à memória as recentesestatística e a crueza dos seus dados: quePortugal foi o país da Europa que mais viuagravar-se o fosso entre ricos e pobres; queestes o são cada vez mais e que aquelesprosperam a olhos vistos; que estão a matar aclasse média; que nunca se viu por aí tanto«topo de gama» enquanto o resto dosconcessionários quase não se estreia nasvendas; que…

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E mais: recorda-se que quemmanda aqui é um império. Sembandeira nem território. Mas com capital e capitais. Chama-se FMI. E o povo sabe que esteimpério possui uma lei fundamentalque aplica no mundo, «chapacinco», desde os anos sessenta:esmaga os salários para«recapitalizar» as empresas. Ou osdonos?Por isso, em nome de uma deusaestranha chamada«competitividade», achainconcebível que se aumente 15euros no salário mínimo. Sim,cinquenta cêntimos por dia! Masparece-lhe crime de lesa-majestadeque um qualquer gestor depacotilha, colocado à frente dasempresas públicas pelos «bonsserviços» prestados ao Partido,aufira menos de sete, dez ou quinzemil euros por mês. Ou mais! Outrinta ou quarenta mil!Mas, afinal, isto já não é novo. Hádois mil anos, pelo menos, um

outro império, chamado romano,também era especialista emtirar. Não aos pobres para dar aosricos, que Marx foi dos primeiros afalar dessas modernices. Mas tirar atodo o mundo escravizado para daraos «cidadãos», aos romanos daurbe. Àqueles que nem sequerprecisavam de serem gestores ouadministradores porque o Estadolhes entregava «pão e circo» demão beijada.Só que no meio dessa«normalidade» anormal, chegou umMenino. Fraco e indefeso. Masmeigo e amigo de todos. E não seesqueceu do cântico que ouvia àSua Mãe: “O Todo-Poderoso […]manifestou o poder do seu braço edispersou os soberbos. Derrubouos poderosos de seus tronos eexaltou os humildes. Aos famintosencheu de bens e aos ricosdespediu de mãos vazias”. E ascoisas mudaram…E há quem garanta que esseMenino continua por aí…

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Afinal há esperança...

Catarina PereiraAgência Ecclesia

No passado domingo o mundo despediu-se deum dos maiores revolucionários da atualidade.Nelson Mandela foi o principal responsável pelofim do Apartheid na África do Sul, conseguiudiminuir as desigualdades sociais no país eprincipalmente mostrou ao mundo a existênciade igualdade, independentemente da cor, raçaou religião. A morte de Madiba ganhourepercussão em todos os noticiários do mundo,pela sua vida de lutas e pelo seu ideal igualitário.Nelson Mandela, com certeza, será lembradocomo um homem que lutou e principalmente,acreditou em dias melhores para o seu povo. Umexemplo certamente a seguir pelos homens dehoje que, apesar de se dizerem solidários com acausa de Mandela e “chorarem” a sua morte,estão longe de entender o esforço da sua luta.Fica, no entanto, a esperança, de que o seuexemplo seja eterno e inspire, não só osportugueses, mas os homens de todo o mundo,a lutarem por meios justos pelo que consideramcorreto, ao invés de alhearemresponsabilidades. "Prometemos a nós mesmosque amanhã será diferente, contudo,o amanhã é quase sempreuma repetição de hoje", este pensamento doautor James T. McKay, é o retrato do que se vivemuitas vezes em Portugal e no mundo. Umapromessa contínua de que amanhã será o diapara tomar decisões e ir à luta, mas quasesempre o conformismo e a preguiça

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vencem a intenção de agir. Que avida de Mandela inspire homens emulheres de todo o mundo acumprirem a promessa de mudança.Na semana em que morreu umgrande líder, outro completou maisum ano de vida. O Papa Franciscocelebrou, na passada terça-feira, 77anos de idade e comemorou aocasião numa missa com aspessoas da Casa de Santa Marta,onde reside, e com colaboradoresda Cúria Romana. A forma comoFrancisco se expressa e o conteúdodos seus comentários epensamentos têm surpreendido aopinião pública, e têm atingidocrentes e não crentes em todo

o mundo. Na liderança da Igreja hámais de meio ano, a suasimplicidade e a atenção que dá aosmais pobres são um fortetestemunho das suas reaisconvicções e da sua intenção decontribuir para um mundo e umaIgreja melhor. Todos esperamos queFrancisco complete mais anos comoPapa, para alegria do povo que sesente inspirado pelos seus ideais epara alegria das crianças de todo omundo que parecem estar cada diamais interessadas em “descobrir”Francisco e dividir a sua atenção.Afinal há esperança, porque aindahá pessoas e gerações queacreditam.

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Cada um de nós é uma personagemdo presépio e tem de sentir-seenvolvido nesta históriaO padre José TolentinoMendonça, poeta e biblista,analisa os primeiros capítulos doEvangelho de São Lucas, à luzdo atual tempo do Natal, ondetodos os símbolos, como osanimais no presépio ou amanjedoura, são importantes econtextualizados. Agência Ecclesia (AE) – São Lucasé o evangelista que nos dá umanarrativa mais completa e talvez comum rosto mais humano destesepisódios do nascimento de Cristo?Padre José Tolentino Mendonça(JTM) – Dentro dos evangelhos,apenas Mateus e Lucas têm oEvangelho da infância e é muitointeressante porque ambos osevangelhos, contando a mesmarealidade, situam-se em ângulosdiferentes. Mateus escolhe falar deJesus a partir de São José porquelhe interessava apresentar Jesussobretudo para as comunidadesjudaicas, que eram cristãs, e entãoali o papel do pai, do pai adotivo erao papel principal.Lucas dá-nos duas grandescuriosidades, por um lado quem é oguia até ao presépio é Maria,

a figura de Nossa Senhora noEvangelho da Infância de Lucas éaquela que abre as portas aoentendimento do primeiro mistériode Jesus. E depois o próprioEvangelho da Infância em Lucas, eisso é muito interessante, é comoum musical, é uma polifonia, no finalde cada grande cena nós temos umcanto. Temos o canto doBenedictus, depois da anunciação aZacarias que ia ser pai de JoãoBatista, temos o cântico doMagnificat, quando Maria e Isabel seencontram, e temos o cântico doNunc dimittis quando Simeão tem aocolo o menino na primeiraapresentação no templo. Demaneira que é também umEvangelho com muita alegria etemos também o coro dos anjos quevêm anunciar aos pastores que hojelhes nasceu um salvador. É umEvangelho guiado por Maria,atravessado por uma profundidadeteológica enorme mas também porum tom alegre, musical, quase comoque se Lucas construísse umapolifonia de todas as nossas vozesnum louvor ao menino que nasce.

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AE – A narrativa da anunciação,Maria surpreendida pelo anjo quelhe aparece e faz esta revelação.Como podemos contextualiza-la,como surge esta narração ou esteprocesso escolhido por Deus parase anunciar a uma rapariga deNazaré (Galileia, Israel)?JTM – As anunciações fazem parteda religião de Israel, também noAntigo Testamento nós temos anjosenviados a transmitir uma notícia deDeus, de maneira que quando Mariaviu um anjo não morreu de sustoporque de certa forma, no coraçãoe na fé dela existia essa prática deDeus, de enviar dessa forma assuas mensagens. E o anjo é semprecondutor de uma mensagem muitoimportante da parte de Deus.O texto da anunciação é um textoformidável a vários pontos de vista.Um deles é porque estabelece defacto um diálogo, não é umaimposição, é uma proposta queDeus faz aquela rapariga de Nazaré.O anjo revela-lhe o plano de Deus eMaria coloca questões, perguntacomo é que isso pode ser, quer

perceber o mandato de Deus e sóquando o seu coração é ganho pelaconfiança na palavra de Deus enesta racionalidade na fé que elavai construindo no diálogo com oanjo Gabriel é que ela diz o seu sim:“Eis escrava do Senhor faça-se emmim segundo a sua palavra”. É umtexto de facto fantástico porquesitua a mensagem de Deus numahistória concreta, o nome dadonzela é Maria, ela vive em Nazarénum contexto que é muitoidentificado, o seu esposo chama-seJosé, estão todos bem identificadose é assim uma história concreta queDeus se dirige, com a qual Deusdialoga e convida Maria e tambémJosé, porque é agregado a estahistória, convida-os a viverem aemergência da aventura do divinona história pelo mistério daencarnação de Jesus.

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AE – Este “faça-se em mim”, estaresposta de Maria é um aceitar deuma realidade maior, não vemosaqui uma preocupação compormenores da parte dela. Ela tem aperceção que será difícil?JTM – Ela quer perceber oessencial. Maria quer perceber oessencial, pergunta “como poderáser” e quando ela percebe que opróprio Deus virá em auxílio da

fragilidade humana, que o próprioDeus conduzirá essa história, elaabre o seu coração numa atitudeque para nós é um grande modelo.A palavra de Maria continua a serinspiradora para a Igreja de todosos tempos, Maria no fundo sabendouma parte mas não sabendo tudodispõem-se na confiança a vivercomo parceira esta história sagrada.

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AE – É um relato que no remetealgo idêntico para o anúncio deZacarias. O anúncio do nascimentode João que é quase oapresentador de Jesus.JTM – É interessante porque SãoLucas conta precisamente a

história de Jesus sempreem paralelo com a história de JoãoBatista. E nós podemos encontrarno Evangelho da Infância, nosprimeiros três capítulos doEvangelho de São

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Lucas uma espécie de pandã desincronia, a palavra exegéticasíncrise, uma comparação àanunciação Zacarias à anunciaçãoJesus: Zacarias canta, Mariatambém canta; à uma missãoconfiada a João batista, à umamissão confiada a Jesus; JoãoBatista nasce, Jesus nasce. Depoisacabam por se encontrar nocapítulo terceiro, na cena dobatismo de Jesus precisamente porJoão Batista mas onde João Batistase assume como percursor, comoaquele que prepara o caminhodeste Deus que vem em Jesus deNazaré. AE – Existe aqui um dadointeressante que é a proposta doanjo a dois casais quaseimpossíveis: Zacarias casado comuma mulher de idade avançada eMaria que era virgem, que nãoestava casada, que estava apenasprometida.JTM – Essa é de facto uma palavramuito interessante porque são doisnascimentos que têm o seu quê deproblemático. Não são evidentes eisso mostra de facto que o modocomo Deus vem à nossa histórianão é evidente, não é pelo caminhomais imediato e previsível mas há aimprevisibilidade de Deus.

Aquilo que o anjo explica a Maria, aDeus nada é impossível. E de factoo que nós vemos é Deus vencer osimpossíveis da história. A históriaconcreta destes dois casais, Isabel eZacarias, Maria e José para revelara sua palavra. AE – Esta visita de Maria a suaprima Isabel, que leitura podemosfazer deste pôr-se a caminho?JTM – É uma cena extraordináriaque diz muito de Maria: Maria pôs-sea caminho, apressadamente pelasmontanhas da Judeia para ajudarIsabel. Por um lado há um fundohistórico normal, uma mulhergrávida e uma pessoa já comalguma idade como Isabel precisade uma presença amiga, feminina,nos trabalhos do parto que a ajudenos últimos tempos da sua gravideze nos primeiros dias em que é mãe.Isabel precisava de ajuda mas Marialeva no seu seio uma ajuda maiorque não é apenas a ajuda que umamulher amiga pode dar a outra. Queuma parenta pode dar a outra mas étransportar o menino no seu seio,Jesus vai em socorro de Isabel e deJoão Batista que está para nascercomo vem em socorro da nossahumanidade.

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AE – É neste contexto que surge oMagnificat que é um cântico deexortação, de louvor, dereconhecimento.JTM – É um cântico extraordinário,conta o abraço, o encontrodaquelas duas mulheres e é comoque uma dança em que se recuperaa grande tradição do cânticofeminino que anuncia a açãolibertadora de Deus. De facto muitaspalavras do Magnificat não sãooriginais na boca de Maria, elas jános aparecem, por exemplo, naboca de Ana, a mãe do profetaSamuel, e em outros passos daescritura e é um texto como umaforça de fé extraordinária porqueMaria enuncia a libertação de Deus,a alternativa de Deus. Este Deusque rebusca a história, que a reviramostrando as possibilidadesinauditas que a história conserva.Ele reira os soberbos dos seustronos, ele despede os ricos demãos vazias, ele exalta os humildes,ele realiza as promessas demisericórdia feitas a Abraão e anossos pais. É o cântico daalternativa de Deus, é de facto umcântico de uma beleza

extraordinária e é interessantelembrar que Sofia de Mello Breynerquando lhe perguntavam qual é opoema mais lindo que conhecerespondia sempre que “é oMagnificat no Evangelho de SãoLucas”. É de facto o mais belopoema da humanidade em que secanta não apenas o passado mascanta-se o presente atuanteredentor de Deus nas nossashistórias. AE – Depois o nascimento. Numaprimeira parte o texto fala dadeterminação das autoridades civis,o édito de recensear de CésarAugusto, de alguma forma também éuma forma de contextualizaçãohistórica e é um dado queaconteceu?JTM – Lucas tem essa preocupaçãohistórica de situar Jesus nascoordenadas do tempo e do lugar. Eesse prólogo ao nascimento deJesus é de uma enorme importânciaporque esse recenseamento defacto aconteceu, é um dadohistórico e como em todos osrecenseamentos as pessoas tinhamde se deslocar de um lado para ooutro. A razão pela qual Maria eJosé vivendo em Nazaré

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têm Jesus em Belém é cheia deuma grande verossemelhançahistórica por causa desterecenseamento. AE – Depois a questão do nãohaver lugar, como podemos ler estasituação, mesmo na realidade dosnossos dias em que as pessoas nãocriam lugar, não há lugar?JTM – Podemos dar-lhe umaconotação histórica que tinha. Elesnão estão na sua terra, estão alideslocados, visitantes, forasteiros.Uma mulher grávida

e em trabalhos de parto não é umamulher que se possa acolher emqualquer lugar e é natural quenaquela situação eles tenham tidomuita dificuldade em encontrar essahospitalidade mas tem tambémevidentemente uma leiturasimbólica. Como se diz no prólogode São João, “Ele veio ao que eraseu e os seus não o reconheceram”.Este não reconhecimento há demarcar a vida de Jesus desde oprimeiro instante da sua passagempela terra.

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AE – É escolhida aquela gruta,aquele lugar, não se especifica…JTM – É um lugar de pastores,podia ser um piso térreo ondeestavam os animais, podia ser umagruta onde também os animais serecolhiam, mas era de facto umlugar marginal. AE – Esta marginalidade tem umacarga que poderemos interpretar?JTM – Tem também uma forte cargasimbólica muito interessante. Tudo oque a

narrativa descreve tem um grandesentido, por exemplo, a presençados animais, o burro e o boi sãomuito importante no presépio aocontrário do que se pensa porquetêm a ver com uma passagem doinício do livro do profeta Isaías quediz, “o burro conheceu o seu dono eo boi conheceu aquele que oalimenta mas Israel não conheceu oseu Senhor”. A presença dosanimais tem também quase que umsentido escriturístico, é quase comoque

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um ato de fé para dizer que Jesuscumpre de facto aquela palavra e ofacto de ser deitado numamanjedoura tem a ver com Jesusser o alimento e se fazer dom. Oseu último grande gesto, aquele quese perpetua no tempo é a eucaristiaem que Jesus se torna alimento. Eleé colocado por Maria namanjedoura que é o lugar dacomida, dos impuros. Jesus éalimento que se oferece e por issotambém a manjedoura é um sinalque mais tarde vamos entenderperfeitamente. AE – Depois há o episódio dospastores a quem o anjo anunciaeste nascimento. O facto de serempastores também podemos fazeruma leitura noutro prisma? Ospastores não são uma classesacerdotal.JTM – Há dois sentidos. Um é esseEvangelho da alegria, os anjos quedizem “anuncio-vos uma grandealegria que o será para todo o povo,hoje nasceu para vós um salvador”.É a grande alegria do nascimentode Jesus e o anúncio de umasalvação para todos, não para oseleitos mas uma salvação quechega a todos os homens e por issoveem os últimos. Isto é, aquelesque socialmente têm uma menordignidade. Os pastores viviam foradas cidades, viviam

a cuidar dos animais, eramconsiderados impuros e éinteressante que são esses osúltimos na escala social que primeirochegam, que primeiro acolhem aadorar o Deus que nasce. Issotambém já diz alguma coisa doministério de Jesus que é o salvadorde todos mas que abre o seucoração de uma maneira muitoparticular para os últimos de cadatempo e de cada sociedade. AE- Estes últimos e no caso dospastores também não se puseramcom grandes perguntas parasaberem ao certo o que tinhaacontecido. Eles perceberam omistério e puseram-se a caminho.Mais uma vez alguém que está acaminho?JTM – Uma das coisasextraordinárias no Evangelho deLucas é muitas vezes coloca-noscomo modelo, os pecadores, osimpuros porque ele diz: “os que sejulgam santos justificam-se a simesmos”, vivem numaautossuficiência e são aqueles queprecisam de salvação que nosexplicam o que é acolher asalvação. Também hoje podemosviver o mistério do Natal de umaforma muito autossuficiênciadispensando o próprio Jesus, comose o Natal fosse apenas umaconversa entre nós.

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AE – No anúncio aos pastores acriança que nasceu é o salvador, jánão é o filho de José e Maria. O queinteressa é o salvador dado àhumanidade?JTM – Isso mostra a capacidade dever o invisível. Quando os pastoresse inclinam diante de Jesus estão aver para lá daquilo que os olhosveem e o mistério da encarnação deJesus pede de nós essacapacidade. Jesus é um de nós,vive a nossa história mas temos deser capazes de olhar nele o Deusconnosco, o Deus que se fazpresente nas nossas vidas. AE – O papel dos pastores nãotermina no facto de irem visitarporque eles regressam exultantes eanunciando aos outros o que viram.Este nascimento, esta mensagemnão é para guardar no segredo, nasatisfação pessoal de cada um épara comunicar aos outros?JTM – Um dos traços muito belos nanarrativa da infância é essa espéciede propagação. Eu vi e vou chamaroutro a ver e vou dizer o que vi evou contar e tece-se como umaespécie de polifonia. É como queuma luz que não se pode escondere a propagação

é hoje para nós um compromissomuito grande. No fundo vemos,ouvimos e lemos o que tocamosacerca do mistério da vida é aquiloque vo-lo anunciamos. AE – É o desafio hoje passadosestes anos nas conjunturashistóricas, económicas e sociais quevivemos de nos deixarmos fascinar,emocionar, tocar por estenascimento do salvador que serevisita todos os anos?JTM – Nós cristãos não vivemosestes acontecimentos apenas comoacontecimentos históricos de umpassado. Vivemo-los também na suadimensão de presente e de futuro.Jesus não nasceu, nasce. Jesus nãofoi apenas contemplado por aquelespersonagens que nós colocamos nopresépio, cada um de nós é umapersonagem do presépio e tem desentir-se envolvido nesta históriasentindo que ele nasceu para si.Jesus nasceu para que cada um denós tenha a possibilidade de nascermesmo sendo velho, mesmosentindo que até já viveu coisascontraditórias mas somos chamadosa sentir que Jesus nasce hoje paranos fazer nascer neste momento.

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AE – Na forma de viver o Natal, ospresépios já estiveram mais fora doimaginário do que agora?JTM – Há um regresso. Penso queo texto de São Lucas pode ajudarmuito. Era importante não cair numaestilização do presépio que odeslocasse do seu fundo bíblicoporque há uma série de elementosque são muito importantes, como: oburro, o boi, a manjedoura. Podeparecer de facto que são supletivosmas são

de facto elementos essenciais, talcomo claro o menino, Maria e José.É interessante a tradição dopresépio que é como o grandeteatro do mundo, representam avida nas aldeias e vemos ospresépios populares portugueses, ode Machado de Castro mas mesmoesses de barro anónimos que todo omundo é colocado no presépio. Émuito bonito porque é acreditar queJesus nasce neste mundo concretoe é muito curioso.

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Festa de Natal abre portas amanhã A 25ª Festa de Natal com as pessoas sem-abrigo começa amanhãpelas 15h na Cantina da Cidade Universitária de Lisboa. Durante os 3 dias são disponibilizados inúmeros serviços de apoio(espetáculos, vestuário, calçado, cabeleireiro, saúde, refeições, apoiojurídico, Espaço Aberto ao Diálogo, área da cidadania, espiritualidade entreoutros) aos muitos convidados que se esperam na Festa.Neste ano jubilar a Comunidade celebra a Esperança na Vida assente noAmor e na Justiça, homenageando todos os que fizeram parte da suahistória e olhando também para o futuro, de forma a levar a esperança aquem mais precisa. Em 2012, foram distribuídas cerca de 7.000 peças de roupa a 2.990convidados, realizados 161 rastreios dentários, 281 consultas médicas erastreios de tensão arterial e de diabetes, 152 banhos quentes, 576atendimentos na Loja do Cidadão e 216 cortes de cabelo. Além disso,o Espaço Aberto ao Diálogo atendeu 187 convidados que mostraraminteresse em ingressar no programa de recuperação da Comunidade Vida ePaz. Horário da Festa:6ªf – 15h às 20h30Sábado e Domingo – 14h às 20h30 Morada:Avenida Professor Gama Pinto1649-003 LisboaCantina da Cidade Universitária de Lisboa (junto ao Hospital Santa Maria)

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“Natal dos Sós” em CampanhãO Natal é a época mais marcantedo ano, pois nela vêm ao de cimaaqueles valores íntimos que estãoligados ao carinho do berço, pelamão de uma mãe atenta e afável.Evidentemente que Jesus aparecenormalmente, pois a marca cristãnão morreu de todo. No entanto, aforça do Natal transbordou muitopara além da vivência cristã... eainda bem! E assim, pelo Natal,multiplicam-se as iniciativas deapoio aos mais pobres, sejam asprendas, os cabazes ou as ceias...normalmente almoços ditos deNatal.Em Campanhã, Porto, há diversasiniciativas, uma boa partepromovidas por gente de formaçãocristã, mas também através deassociações, centros sociais e Juntade Freguesia.Desde 1987 que a paróquia deSanta Maria de Campanhãpromove, no dia 24, às 19 horas,uma Ceia de Natal para os maissós. Realiza-se no Patronato-Associação Nun’Álvares e destina-se a quem correria o risco de ficarsó na grande noite das famílias.Costumam ser meia centena

aqueles que acorrem, alguns comgrande desejo de ajudar os outros...daqui levando o que lhes faz maisfalta: o carinho de um ambientefamiliar em que todos convivem ese ajudam. De longe ou de perto,alguns economicamente carecidos,todos são pobres naquilo que é ariqueza do Natal: uma família feliz!O acolhimento, pelas 18 horas(Travessa da Corujeira de Baixo,140) ajuda cada um a sentir-se bem:será tratado pelo primeiro nome,não havendo títulos nemdignidades. Às 19 horas, o pároco,de nome Fernando, aparece, atodos saúda e faz memória donascimento de Jesus, lendo anarrativa bíblica. Reza-se o Pai-Nosso lembrando todas as famílias equem esteja em sofrimento para queJesus lhes faça chegar o carinho daSua alegria. Os jovens e o grupocoral cantam melodias conhecidas ealguns amigos do Natal apresentamas suas mensagens, indo depoisjantar com as suas famílias.Segue-se a tradicional Ceia, num

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ambiente muito simples em que setenta pôr a servir quem disso forcapaz, misturando quem vem defora com o grupo de membros dacomunidade. No fim, há um tempode convívio, oferecem-se algumasprendas e, às 22 horas, chegam os“anjos do Natal” para levar cadaum a sua casa. Alguns têm já ohábito de interromper a ceia emfamília para prestarem esteserviço... quando chegam a casa éque comem os bolos!

Esta iniciativa da Paróquia deCampanhã conta com o apoio daAssociação Nun’Álvares que abre adispensa, oferecendo tudo o que épreciso. Aos pobres que podemfazer a Ceia em sua casa, osvicentinos levam um cabaz de Natalcom tudo o que é preciso. É assimque em Campanhã haverá Natalpara todos. Padre Fernando Milheiro

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Bispo de Bragança confraternizacom estudantes na Ceia de NatalSerá uma ceia de Natal diferentepara dezenas de alunos deprogramas de intercâmbiointernacional que, por estes dias,estudam em Bragança. D. JoséCordeiro, Bispo da Diocese deBragança-Miranda, lançou o repto àcerca de um mês, após umacelebração na Catedral deBragança. Uma vez que são muitosos estudantes deslocados das suasraízes, que nesta altura do anoestão impossibilitados de ir às suascasas e estar com as suas famílias,D. José Cordeiro desafiou-os areunirem-se todos à mesma mesacom o prelado na noite do dia 24 dedezembro, antes da celebração damissa do Galo na Catedraldiocesana.“A iniciativa nasceu muitonaturalmente no final de uma missade domingo onde jovensestudantes, nomeadamente doprograma Erasmus, e de outros,disseram que ficariam cá e nasceu aideia de jantarmos juntos paracelebrarmos também juntos a Fé ànoite na Catedral”, explica D. JoséCordeiro.

A ideia foi prontamente acolhidacom entusiasmo, que se traduz nonúmero de adesões, de váriasdezenas nesta altura, o que permite“a troca cultural”. “E tambémpodermos celebrar a profundidade ea beleza do Ministério do Natal”,sublinha D. José.O sucesso inicial permitiu mesmoalargar o âmbito do convívio.“Inicialmente nasceu paraestudantes estrangeiros que nãopodem ir às suas famílias e aosseus países. Depois a ideia ganhoucorpo e os estudantes que vivem emBragança querem associar-se àmissa da noite e à Catedral. Vêmdar um colorido maior à iniciativa,que está a mobilizar muitos deles”,nota o Bispo de Bragança-Miranda.Os alunos que vão participar na ceianatalícia são, sobretudo, oriundosdos Países de Língua OficialPortuguesa (PALOP), como Angola,Cabo Verde, S. Tomé ou Brasil, etambém de alguns países europeus,sobretudo de Leste.

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Esta ideia até já não écompletamente nova na diocese. Háalguns anos, ainda como capelãodo Instituto Politécnico de Bragança,D. José Cordeiro desafiou asfamílias da cidade a acolheremnesse dia um estudante estrangeiro.“Conseguiu-se que um númerosignificativo de famílias acolhessecada aluno daqueles queparticipavam nas atividades daparóquia escolar e na capelania doPolitécnico. Tendo presente issoousei propor aos

jovens no encontro que tivemos háum mês”, explica o prelado.Para D. José Cordeiro, a suaexperiência como emigrante ajudou-o a compreender melhor anecessidade de uma iniciativa comoesta. “Já fiz a experiência comoemigrante e sinto ainda, de umamaneira mais vincada, estanecessidade de o ter proposto e dareação imediata e muito positiva daparte dos estudantes”, conclui oBispo de Bragança-Miranda.

António Rodrigues

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Natal ecuménicoDando continuidade com umatradição que, desde há já algunsanos, se vem cimentando entre osjovens cristãos das Igrejas CatólicaRomana, Lusitana (ComunhãoAnglicana) e Metodista da região doPorto, terá lugar, na próxima 6ª feira,dia 20 de dezembro, a edição de2013 dos “Cantares Ecuménicos deNatal pelas ruas do Porto”.Aos transeuntes que, por estesdias, percorrem, “a alta velocidade”,as ruas da Baixa portuense, estesjovens pretendem recordar que “oNatal é de Jesus” (ou, numa versãoem inglês já entretanto colocada acircular nas redes sociais, que“Jesus is the reason for theseason”). Recordação “em passolento”, e em total contraponto com acorreria dos que com eles secruzam, também ela sinal de que ascoisas verdadeiramente importantestêm “outro ritmo”…Apelo “cantado” à memória, não sódas melodias natalícias maistradicionais mas fundamentalmentedaquela que é a (nossa) identidademais densa, daquela que é a

essência mais profunda desteTempo “mágico”: o de sermos Filhosdo mesmo Deus, porque renascidosno Nascimento de Jesus, Seu Filho,que nos veio libertar de toda aescravidão e tristeza. É Ele (e sóEle) – e a fé que nele têm epartilham - a razão pela qual estesjovens se reúnem, ano a ano e aolongo de todo o ano, em outrasatividades igualmente ecuménicas,não obstante as diferentes “leituras”(Tradições) eclesiais de onde sãooriginários. E é também por isto queestes são uns “cantares” especiais:a sintonia dos acordes e das vozes(devidamente ensaiadas e“aquecidas”), quer ser aqui sinal da“sinfonia do encontro” dos olhares,das vontades, das inteligências edos corações em direção àquilo queé o mais importante, a saber, amensagem de fé, de alegria, de paze de amor que o Filho de Deus veiotrazer ao mundo e que o Natal quercelebrar.Em tempo de tantos “ruídos”, amaioria deles ”estranhos” (e, porvezes até, contrários) ao verdadeiro“espírito” do Natal,

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os “Cantares de Natal pelas ruas doPorto” são, assim, uma formasingela de “testemunho direto” daverdadeira Alegria Natalícia. Re-centrar as atenções naquilo que é oessencial e verdadeiramenterefundante, deste Tempo e de todaa nossa História: o nascimento deJesus, o “Emanuel”, “Deus-connosco”, o seu Advento no nossocoração e na nossa vida – eis o seuobjetivo.Para participar, muito pouco é

exigido: que se apareça no local ehora marcados (Largo de SantoIldefonso – Batalha) e leve consigoesta mesma vontade e alegria emcantar que “O Natal é de Jesus”!

Luis Leal (Teólogo) – SecretariadoDiocesano da Pastoral Juvenil do

Porto – Igreja CatólicaRevº Sérgio Alves – Igreja Lusitana

(Comunhão Anglicana)

insira a foto aqui

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Anúncio do nascimento de JesusAo sexto mês, o anjo Gabriel foienviado por Deus a uma cidade daGalileia chamada Nazaré, a umavirgem desposada com um homemchamado José, da casa de David; eo nome da virgem era Maria.Ao entrar em casa dela, o anjodisse-lhe: «Salve, ó cheia de graça,o Senhor está contigo.» Ao ouvirestas palavras, ela perturbou-se einquiria de si própria o quesignificava tal saudação. Disse-lhe oanjo: «Maria, não temas, poisachaste graça diante de Deus. Hásde conceber no teu seio e dar à luzum filho, ao qual porás o nome deJesus. Será grande e vai chamar-seFilho do Altíssimo. O Senhor Deusvai dar-lhe o trono de seu pai David,reinará

eternamente sobre a casa de Jacobe o seu reinado não terá fim.» Mariadisse ao anjo: «Como será isso, seeu não conheço homem?» O anjorespondeu-lhe: «O Espírito Santovirá sobre ti e a força do Altíssimoestenderá sobre ti a sua sombra.Por isso, aquele que vai nascer éSanto e será chamado Filho deDeus. Também a tua parente Isabelconcebeu um filho na sua velhice ejá está no sexto mês, ela, a quemchamavam estéril, porque nada éimpossível a Deus.» Maria disse,então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.»E o anjo retirou-se de junto dela.(Do Evangelho segundo São Lucas,capítulo 1)

Maria Teresa Gonzalez, escritora

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Visita de Maria a IsabelPor aqueles dias, Maria pôs-se acaminho e dirigiu-se à pressa para amontanha, a uma cidade da Judeia.Entrou em casa de Zacarias esaudou Isabel. Quando Isabel ouviua saudação de Maria, o meninosaltou-lhe de alegria no seio eIsabel ficou cheia do Espírito Santo.Então, erguendo a voz, exclamou:«Bendita és tu entre as mulheres ebendito é o fruto do teu ventre. Edonde me é dado que venha tercomigo a mãe do meu Senhor?Pois, logo que chegou aos meusouvidos a tua saudação, o meninosaltou de alegria no meu seio. Felizde ti que acreditaste, porque se vaicumprir tudo o que te foi dito daparte do Senhor.»Cântico de MariaMaria disse, então:«A minha alma glorifica o Senhore o meu espírito se alegra em Deus,meu Salvador.Porque pôs os olhos nahumildade da sua serva.De hoje em diante, me chamarãobem-aventurada todas as gerações.O Todo-poderoso fez em mimmaravilhas.Santo é o seu nome.

A sua misericórdia se estende degeração em geraçãosobre aqueles que o temem.Manifestou o poder do seu braçoe dispersou os soberbos.Derrubou os poderosos de seustronose exaltou os humildes.Aos famintos encheu de bense aos ricos despediu de mãosvazias.Acolheu a Israel, seu servo,lembrado da sua misericórdia,como tinha prometido a nossos pais,a Abraão e à sua descendência,para sempre.»Maria ficou com Isabel cerca de trêsmeses. Depois regressou a suacasa.(Do Evangelho segundo São Lucas,capítulo 1)

Sara Ideias, atriz

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Nascimento de Jesus

Por aqueles dias, saiu um édito daparte de César Augusto para serrecenseada toda a terra. Esterecenseamento foi o primeiro que sefez, sendo Quirino governador daSíria.Todos iam recensear-se, cada qualà sua própria cidade. Também José,deixando a cidade de Nazaré, naGalileia, subiu até à Judeia, àcidade de David, chamada Belém,por ser da casa e linhagem deDavid, a fim de se recensear comMaria,

sua esposa, que se encontravagrávida.E, quando eles ali se encontravam,completaram-se os dias de ela dar àluz e teve o seu filho primogénito,que envolveu em panos e recostounuma manjedoura, por não haverlugar para eles na hospedaria.(Do Evangelho segundo São Lucas,capítulo 2)

Padre Tolentino Mendonça,biblista e poeta

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Os Magos do OrienteTendo Jesus nascido em Belém daJudeia, no tempo do rei Herodes,chegaram a Jerusalém uns magosvindos do Oriente. E perguntaram:«Onde está o rei dos judeus queacaba de nascer? Vimos a suaestrela no Oriente e viemos adorá-lo.» Ao ouvir tal notícia, o reiHerodes perturbou-se e toda aJerusalém com ele. E, reunindotodos os sumos sacerdotes eescribas do povo, perguntou-lhesonde devia nascer o Messias. Elesresponderam: «Em Belém daJudeia, pois assim foi escrito peloprofeta:E tu, Belém, terra de Judá,de modo nenhum és a menor entreas principais cidades da Judeia;porque de ti vai sair o Príncipeque há de apascentar o meu povode Israel.»Então Herodes mandouchamar secretamente os magos epediu-lhes informações exacassobre a data em que a estrela lhestinha aparecido. E, enviando-os aBelém, disse-lhes: «Ide e informai-vos

cuidadosamente acerca do menino;e, depois de o encontrardes, vindecomunicar-mo para eu ir tambémprestar-lhe homenagem.» Depois deter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela quetinham visto no Oriente ia adiantedeles, até que, chegando ao lugaronde estava o menino, parou. Aover a estrela, sentiram imensaalegria; e, entrando na casa, viram omenino com Maria, sua mãe.Prostrando-se, adoraram-no; e,abrindo os cofres, ofereceram-lhepresentes: ouro, incenso e mirra.(Do Evangelho segundo SãoMateus, capítulo 2)

Júlio Martin, ator e encenador

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Bento XVI - «A Infância de Jesus»

Mateus e Lucas – cada um à suamaneira – queriam não tanto narrar«histórias», mas escrever história:história real, sucedida, emboracertamente interpretada ecompreendida com base na Palavrade Deus. Isto significa também quenão havia a intenção de narrar demodo completo, mas de escreveraquilo que, à luz da Palavra e paraa comunidade nascente da fé, serevelava importante. As narrativasda infância são história interpretadae, a partir da interpretação,

escrita e condensada.Entre a palavra de Deus e a históriainterpretadora há uma relaçãorecíproca: a Palavra de Deus ensinaque os eventos contêm «história dasalvação», que diz respeito a todos.Mas os próprios eventosdesvendam, por sua vez, a Palavrade Deus e levam a reconhecer arealidade concreta que se escondenos diversos textos. Padre João Lourenço, biblista

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Eu disse à minha diocese que esteAdvento vivido em tema de missãojubilar e em caminhada das bem-aventuranças tem de ser Adventode tempo futuro. O Natal é isso. É oanúncio da esperança num temponovo, em que não haja neblinas nohorizonte e em que as pessoasmarcadas por mais sofrimentosrecuperem o ânimo, a força, aalegria e a esperança. Isto só épossível com a ajuda e com acomunhão de todos.A Igreja tem de ser presença deanúncio e certeza de proximidadepara ajudar todos a viver um santoe feliz Natal. D. António Francisco dos SantosBispo de Aveiro

Aproveito a ocasião, na proximidadeda celebração do mistério daencarnação do Senhor, do Natal,para saudar todos e partilhar aalegria que nos vem do nascimentode Jesus. E tomo as palavras quemarcam esta quadra festiva para,com votos de paz e de harmonia,desejar que o Natal de Cristo nosajude a construir essa harmonia eessa paz com todos à nossa volta.Que o Natal seja um tempo dealegria, de esperança e deharmonia. Umas boas festas paratodos. Padre João LourençoDiretor da Faculdade de Teologiada Universidade CatólicaPortuguesa

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O Natal do presentee não só a memória de há 2 mil anosO padre Vasco Pinto Magalhães, daProvíncia Portuguesa daCompanhia de Jesus (jesuítas),explica a importância de criarespaços para que exista oacolhimento de Deus no Natal, quepor excelência é também o encontroda família.“Às vezes podemos ficar só nasrabanadas e no bacalhau, nasluzinhas e na árvore, no presépio,que é um Natal devocional”, começapor revelar o sacerdote jesuíta, quedestaca mais três géneros natalíciospara assinalar esta data: “O Natalmais teológico, um mais espiritual eum mais cultural e social”.“Tudo envolve uma preparação jáque é um momento de grandecelebração”, acrescenta o padreVasco Pinto Magalhães queconsidera que “ninguém conseguepassar ao lado de uma ideia tãobonita como o de nascer, por isso, oNatal tornou-se muito social ehumano”.“Festejamos o nascimento, umacoisa ternurenta, Maria, José, omenino pequenino, a ideia quequalquer coisa devia renascer

mais profundamente porquepodemos ficar apenas no atopoético e revirados para opassado”, desenvolve em entrevistaà Agência ECCLESIA.Para o autor de diversos livros deespiritualidade, a celebração deveser o “Natal do presente e não só amemória de 2 mil anos” mas umNatal do futuro: “Creio que tem deser mais consistente se não ficamospelo decorar a cidade ou as casas,não se pode ficar muito exterior”,acrescenta.Nesse sentido, para além doacolhimento à família, o sacerdotedestaca também a necessidade dedar uma “atenção muito especialaos pobres, aos marginalizados, aosexcluídos e não só por uma questãode solidariedade social que já erabom mas porque percebemos que éesse o sentido da fé cristã e o Natalconcretiza-se porque se não ficaabstrato”.Num tempo em que a crise “nãodeixa que haja tantas prendas”, opresente de Natal é significativo umavez que foi e é Deus que se fazpresente num apelo

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“bastante mais fundo não tanto dedar presentes” mas de cada umtornar-se “presente, próximo”porque o Natal é a festa daproximidade de Deus àhumanidade”, clarifica.A consoada é por excelência a noitedo encontro da família, doacolhimento que o sacerdote jesuítaconsidera uma “dimensão muitocerteira” porque percebe-se que “avida só faz sentido”

se as pessoas se aproximaremumas das outras.Para o dia 24 de dezembro, o padreVasco Pinto Magalhães aconselhacomo “grande gesto o abraço, tervontade de dizer ao mundo que avida vale a pena”; como leitura oEvangelho ou “Um Deus à Flor daTerra”, de Christian Bobin, e comocelebração um “ato deagradecimento”.

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Humildade e solidariedadepara celebrar o NatalO Papa defendeu no Vaticano que amelhor forma de celebrar o Natalsão os gestos solidários com “osmais fracos e marginalizados”, àimitação de Jesus, que quis nascer“pequenino e pobre”. “Se no NatalDeus não se revela como alguémque olha do alto e domina oUniverso, mas como alguém que sehumilha e desce à terra pequeninoe pobre, isso significa que para nosparecermos com Ele não devemoscolocar-nos acima dos outros, mashumilhar-nos, pôr-nos ao seuserviço, fazer-nos pequenos com ospequenos e pobres com os pobres”,declarou, na catequese da últimaaudiência pública semanal de 2013.

Perante dezenas de milhares deperegrinos reunidos na Praça deSão Pedro, Francisco convidou oscatólicos a “abrir o coração”, nacelebração de Natal. “Deixando umlugar livre na mesa da Ceia deNatal, pensemos nos pobres, nosque têm fome, nas pessoas sós, nossem-abrigo, nos marginalizados, nosque sofrem por causa da guerra e,de forma especial, nas crianças”,declarou, na saudação aosperegrinos de língua polaca.O Papa insistiu na importância dahumildade e afirmou que “um cristãoque se pavoneia é uma coisa feia,não é cristão: o cristão serve,humilha-se”. “Façamos que osnossos irmãos e irmãs nunca sesintam sós: a nossa presençasolidária ao seu lado explica, não sócom as palavras mas também com aeloquência dos gestos, que Deusestá próximo de todos”,acrescentou.Francisco repetiu um gesto habitual,nestes encontros, e deixou de ladoo texto para

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convidar os presentes a repetirem,consigo, uma frase: “Jesus é Deusconnosco”.Segundo o Papa, a celebração doNatal é uma “festa da confiança eda esperança”, que ultrapassa “aincerteza e o pessimismo”. “A razãoda nossa esperança é esta: Deusestá connosco”, para se deixarencontrar “onde o homem passa osseus dias, na alegria e na dor”,precisou.Francisco destacou o facto de Jesuster assumido a história humana“com todo o peso dos seus limites edos seus dramas”, o que demonstraa sua “inclinação misericordiosa eplena de amor” para com todas aspessoas.

“Daqui vem o grande presente domenino de Belém: uma energiaespiritual que nos ajuda a não nosafundarmos na nossa fadiga, nonosso desespero, na nossa tristeza,porque é uma energia que aquece etransforma o coração”, disse ainda.Francisco deixou uma saudaçãoperegrinos de língua portuguesa,com votos de “um santo Natalrepleto de consolações e graças doDeus Menino”. “Nos vossoscorações, famílias e comunidades,resplandeça a luz do Salvador, quenos revela o rosto terno emisericordioso do Pai do Céu. Elevos abençoe com um Ano Novosereno e feliz”, acrescentou.

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Vaticano divulga estatísticasdas audiências do PapaO Vaticano revelou que mais de 1,5milhões de pessoas estiveram como Papa nas audiências concedidaspor Francisco desde a sua eleição,em março. Os dados foramdivulgados pela Prefeitura da CasaPontifícia, organismo da Santa Sé, ereferem-se às 30 audiênciassemanais de quarta-feira, para asquais são emitidos bilhetes(gratuitos).No dia da última audiência geral doano, o Vaticano referiu que osnúmeros deixam de fora “os fiéisque participaram de formaespontânea nas audiências aolongo da Avenida da Conciliação”,que liga Roma à Praça de SãoPedro. A Prefeitura da CasaPontifícia distribuiu 1,54 milhões debilhetes para estes encontros, entre27 de março e hoje, que nalgunscasos levaram ao Vaticano mais de100 mil pessoas.“Muitas vezes foram colocadosecrãs gigantes na Praça Pio XII[junto à Praça de São Pedro] e aAvenida da Conciliaçãotransformou-se numa zonapedonal”, destaca a sala de

imprensa da Santa Sé.O “pico” na distribuição de bilhetesaconteceu a 29 de maio, com maisde 90 mil entradas, num dia em queo Papa passou pelo meio damultidão num carro aberto, à chuva.Estes são números aproximados,calculados com base nos pedidosde participação nos eventosdirigidos à prefeitura e nos bilhetesgratuitos distribuídos pela mesma,bem como nas estimativas depresença nas grandes celebraçõesna Praça São Pedro.De fora ficam os dados relativos aoutras celebrações no Vaticano, àviagem internacional ao Brasil (Riode Janeiro e Aparecida) e às trêsviagens na Itália, incluindo umapassagem pela ilha de Lampedusa.A Prefeitura da Casa Pontifíciaestimava que no pontificado deBento XVI (abril de 2005-fevereirode 2013) mais de 21 milhões depessoas tenham participado emencontros com o agora Papaemérito no Vaticano e na residênciade verão de Castel Gandolfo.

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Santa Sé pede diálogo interculturalnas Escolas CatólicasO Vaticano divulgou hoje emconferência de imprensa odocumento ‘Educar para o diálogointercultural na Escola Católica.Viver juntos para uma civilização doamor’, da Congregação para aEducação Católica (CEC),organismo da Santa Sé.O prefeito da CEC, cardeal ZenonGrocholewski, disse aos jornalistasque “a palavra-chave que liga emconjunto todos os aspetosabordados no documento é‘diálogo’”, em resposta àsindicações dadas pelo PapaFrancisco.O cardeal polaco evocou os“sofrimentos” das 70 milhões decrianças que segundo dados daUNICEF (2013) não vão à escola ecitou, a esse respeito, a jovempaquistanesa Malala, alvo de umataque dos talibãs em 9 de outubrode 2012, quando voltava a casanum autocarro escolar. “Umacriança, um professor, um livro, umacaneta podem mudar o mundo. Aeducação é a única solução”, dissea vencedora do prémio Sakharov2013, concedido pelo parlamentoEuropeu.

O prefeito da CEC afirmou que odireito de “todas as crianças a umainstrução justa” é “demasiadasvezes descurado quando se trata demeninas”, falando em fatores “muitopreocupantes” que ameaçam aeducação.Durante a conferência de imprensaforam apresentados os dadosrelativos ao número de alunos nasescolas católicos a nível mundial,entre 2008 e 2011, registando umaumento de quase 3 milhões (5%)de estudantes.No total, 209 670 escolas católicasnos cinco continentes acolhiam 57,6milhões de alunos em finais de2011, com crescimento na Ásia,África e Oceânia e diminuição naEuropa (de 8,64 milhões para 8,46)e América.

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O passadoAhmad, de origem iraniana,regressa a Paris após anos deausência no Irão. À sua espera noaeroporto está Marie, sua mulher emotivo do seu regresso. De vidaamorosa refeita, Marie requereu odivórcio.Na casa que foi sua, onde ambosvivem os últimos dias de casadosjuntamente com as duas filhas damulher, o novo namorado desta,Samir, e o seu filho, Ahmad e Marieconfrontam-se com o tempo, adistância e as palavras nunca ditasque os separaram.Entre um passado carregado deinterrogações e um presenteatribulado que urge definir, Ahmadtenta ajustar-se, redescobrindo oseu lugar naquela família que lhe ésimultaneamente tão estranha e tãopróxima…Passam dois anos desde que críticae cinéfilos foram surpreendidos por‘Uma Separação’, o filme de AsgharFarhadi que arrebatou o júri dofestival de Berlim, dali saindo com oUrso de Ouro e os prémios paramelhor ator e atriz, e arrecadou oOscar da

Academia de Artes e CiênciasCinematográficas para melhor filmeestrangeiro, entre muitos outrosprémios e nomeações por váriospontos do mundo cinematográfico.Ali, Farhadi mostrou umacapacidade invulgar para lidar coma verdade, ao mergulhar no sentidoe significado profundos de umacadeia de acontecimentos que,comumente possíveis, evidenciamfragilidades sociais, afetivas e éticasdo nosso tempo.Mais uma vez, em ‘O Passado’ aseparação de um casal é a fendaatravés da qual transpomos atrivialidade e o anonimato das ruasde uma cidade, o desmazelo de umavizinhança com que não temosgrande afinidade, os estrangeirosque somos uns para os outros, osdesconhecidos com quecasualmente nos cruzamos, paraatribuir nome, sentido e alma a umconjunto de personagens, agorapessoas, nos seus conflitos edesafios.Ahmad que sofreu uma depressãocalada a que escapouextemporaneamente deixando paratrás a família. Marie

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que procura resposta à dureza dosdias no afeto de homens vários enos filhos gerados, Samir quedeambula entre a vida possível comMarie e a morte anunciada damulher, em coma. E finalmenteLucie, a filha perdida numaadolescência povoada de medos esegredos.Uma trama feita de uma memóriaacumulada de culpas e silênciosgeradores de ruturas e de enganosque o divórcio, expondo por catarseverdades escondidas, vem resgatar,reunindo em vez de separar eabrindo espaço para areconciliação.Gerida com delicadeza, naprogressiva intimidade dos

espaços e das personagens, anarrativa fílmica de Asghar Farhadifaz-nos olhar por dentro e por fora oque há de único e comum nasrelações, ao mesmo tempo quelevanta questões pertinentes sobrea complexidade das famílias, dopapel do homem e da mulher, dasrelações de trabalho e de imigraçãoque não se reduzem nem aocontexto francês nem ao iraniano.Prémio do júri ecuménico na últimaedição de Cannes, o filme foielogiado como ilustração doversículo ‘…e a verdade vos libertará’ (Jo 8, 32). Margarida Ataíde

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Presentes Solidários 2013www.presentessolidarios.pt/ Pelo terceiro ano consecutivo, poraltura do Natal, recomendamos esteextraordinário espaço virtual,porque consideramos que estanossa proposta faz sentido todos osanos.Como é sabido a internet é cada vezmais um meio para promoção deentidades, ideias, projetos enegócios. Agora que a possamosutilizar para dar mais sentido aonosso Natal e principalmente aoNatal dos outros? Não acredita? Éverdade, basta que visite o sítiowww.presentessolidarios.pt efacilmente percebe que a sua basede trabalho está sustentada nastecnologias, como forma de atingirum maior número de aderentes.Com uma apresentação gráficabastante eficaz e clara, aoentrarmos neste espaço virtual,somos facilmente envolvidos noespirito solidário. Daresponsabilidade da Fundação Fé eCooperação, organismo de IgrejaCatólica Portuguesa, estacampanha «Presentes Solidários2013», contribui “de forma

concreta para a melhoria dascondições reais de vida de inúmerasfamílias dos Países Lusófonos”.Através da página inicial poderemosimediatamente acompanhardiariamente a evolução dacampanha, clicando em barómetro.É possível também, aceder às maisrecentes notícias que vão dandoecos deste extraordinário projeto.Na opção “presentes 2013”,podemos conhecer ao pormenorcada um dos onze presentes queestão ao dispor para este ano.Clicando em cada um deles, ficainformado acerca do custo dopresente, a quem se destina, quemsão as entidades responsáveis pelasua administração, bem como qual olocal para onde vai a sua oferta.Caso pretenda saber como se operaesta ação solidária, aceda acampanha. Aí pode assistir a umvídeo promocional que explicadetalhadamente o seufuncionamento, ler um conjunto derespostas às dúvidas mais comuns eainda saber quais são as entidadesque apoiam este

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projeto. No item resultados, somosinformados sobre o sucesso dascampanhas dos anos anteriores,onde facilmente acedemos aosresultados efetivos dos presentesentregues e a algum feedback dosbeneficiados. Como forma deaumentar o sucesso e a divulgaçãodesta ação, foi criado o conceito depadrinho solidário, onde diferentespersonalidades nacionais abraçammais de perto este projeto. Porúltimo, está ao dispor das escolasum conjunto

de manuais, divididos por ciclos deestudo, que ajudam de uma formamuito concreta a divulgar acampanha junto de toda acomunidade escolar.Como referíamos no início,claramente este é já um projetovencedor, quer pela magnificênciados objetivos a que se propõe, querpela qualidade da sua presençavirtual. E não se esqueça, com ospresentes solidários, dá a duplicar!

Fernando Cassola Marques

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Moral cristã e responsabilidadeno viver socialO jesuíta italiano Sergio Bastianel,especialista em Teologia Moral,disse à Agência ECCLESIA que oscatólicos são chamados a assumir a“responsabilidade do viver social”, atodos os níveis, incluindo aeconomia e a “correta distribuiçãodas riquezas”. “É preciso procederde modo a que não usemos asdificuldades de facto, que são reais,e os problemas que são maiores doque nós para nos desculparmos e,por isso, dizer que não podemosfazer nada”, referiu o autor, queapresentou duas obras, em Lisboa.A reflexão do docente

universitário destaca aresponsabilidade pessoal no modocomo os problemas sociais sãocompreendidos e assumidos,porque “a questão não passa pelasregras éticas, mas pela atitude daconsciência, a formação da própriapessoa”.“O objetivo de se procurar a partilhaa todos os níveis nunca pode deixarser primário”, acrescenta.Os livros ‘Entre Possibilidades eLimites’ (autoria e coordenação) e‘Moralidade Pessoal na História’foram editados em português pelaCáritas. Entre os problemas

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abordados está o da fome, que estáno centro da mais recentecampanha internacional daorganização católica desolidariedade.“Fazer uma campanha, projetada aomais alto nível, envolvendo todas asorganizações da Cáritas éimportante, porque o primeiro nívelde resultados é o da sensibilidade ede mentalidade”, afirmou o padreBastaniel.O especialista considera que, doponto de vista ético, “é preciso quese dê atenção, para a vivênciapessoal, ao facto de os diversosproblemas, de uma forma ou deoutra” colocarem em questão cadapessoa. “Nunca acontecerá queaqueles que têm bens achem que érazoável dá-los aos outros a não serque tenham realmente percebidoque o único modo de viverhumanamente é esse”, exemplifica.Outro elemento“fundante”, prossegue, é o “centrara reflexão ética sobre a realidadeda consciência, com confiança napessoa e com a possibilidade de serexigente”.

As obras publicadas pela Cáritasfazem parte das propostas do Cursosobre o Pensamento Social Cristão,lecionado na Faculdade de Teologiada Universidade CatólicaPortuguesa.Um dos volumes publicados, ‘Entrelimites e possibilidades”, reúnetextos sobre os 50 anos do ConcílioVaticano II (1962-1965) e evoca oscem anos do nascimento de umadas referências da Teologia Moralna época conciliar, o jesuíta JosefFuchs.Sérgio Bastianel, professorcatedrático de Teologia Moral, foidiretor da Faculdade de Teologia daPontifícia Universidade Gregoriana(Roma).http://www.caritas.pt/livraria/

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II Concílio do Vaticano:De «Fontainebleau» aos «LugaresSantos»

Na reunião de encerramento da segunda sessão doII Concílio do Vaticano (04/12/1963), o Papa Paulo VIanuncia que iria, em Janeiro, à Terra Santa. Será aprimeira vez, desde o cativeiro de Pio VII, em«Fontainebleau» (França), no reinado de Napoleão,que um Papa irá ao estrangeiro.Os últimos Papas que ultrapassaram as fronteiras deItália são Pio VI (1775-1799) e o seu sucessor, PioVII, (1800-1823). Convém referir que “o fizeramconstrangidos por considerações diplomáticas ouaté, como se sabe, contra vontade” (In: HenriFesquet; «O Diário do Concílio» Volume I; Lisboa;Publicações Europa-América; pág. 353).O Papa Pio VI foi a Viena (Áustria) em 1782, junto deJosé II, “cuja política o inquietava”. Em relação aoseu sucessor, Pio VII, foi «conduzido», em 1812,como «refém» a Fontainebleau. O Papa só alcançoua sua liberdade em 1814.Cerca de um século e meio depois, um Papa anunciaque irá realizar uma viagem além-fronteiras. Paulo VIdeclarou que iria aos lugares santos e julgou-se, naaltura, no Vaticano, que a viagem não iria durar maisde um dia. Afinal, Paulo VI esteve na «Terra Santa»de 04 a 06 de Janeiro de 1964. Convém recordarque os lugares santos estavam repartidos entreIsrael e a Jordânia, e, na altura, o Vaticano e Israelnão tinham relações diplomáticas.A viagem é um regresso às fontes. Não podia serinterpretada de outro modo senão como

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a vontade de Paulo VI de reintegrara Igreja Católica no estilo evangélicoque se “esfumou pouco a pouco apartir da época de Constantino” (In:Henri Fesquet; «O Diário doConcílio» Volume I; Lisboa;Publicações Europa-América; pág.353). Além disso, é um actoecuménico da mais alta importância,a que os orientais foramextremamente sensíveis. Paulo VIdeslocou-se à Terra Santa eencontrou-se com Atenágoras,Patriarca Ecuménico deConstantinopla.No seu discurso quando anunciou aviagem, Paulo VI disse: “Veremos osolo bendito donde partiu Pedro eaonde não voltou qualquer dos seussucessores. Nós, humilde ebrevemente, voltaremos ali em sinalde oração, penitência e renovação,para oferecer a Cristo a Sua Igreja,para chamar a Ela, que é única esanta, os irmãos separados, paraimplorar a misericórdia divina emfavor da paz entre os homens, essapaz que nestes dias mostra uma vezmais como é frágil e

trémula, para suplicar a CristoSenhor pela salvação dahumanidade inteira”. As palavras doPapa foram saudadas pelasaclamações dos padres conciliarese de toda a assistência.Na mensagem de Natal de 1963, osucessor do Papa que convocou o IIConcílio do Vaticano escreveu umautêntico tratado sobre as grandesnecessidades do mundo actual. Aprimeira – apontou Paulo VI – é «Asolução da fome no mundo», asegunda é «A promoção das novasnações» e a terceira passa pelo«Garantir a paz internacional». «Averdadeira união dos Espíritos» é aquarta necessidade. Comoconclusão da sua mensagemnatalícia, o Papa Montini revela o«Sentido da Viagem à Terra Santa».No documento, o sucessor de Pedroescreveu: “A nossa peregrinaçãopretende ter aspecto e finalidadeexclusivamente religiosos”.

LFS

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Dezembro 2013

Dia 20* Vaticano - Lançamento dosegundo número da bandadesenhada «Papa Francisco emquadrinhos». * Vila Real - Igreja de Santo António- Concerto de Natal pelo projeto«Maranatha». * Braga - Famalicão (Igreja Matrizvelha) - Cerimónia Nacional departilha da luz da Paz de Belémpromovida pelo CNE.* Beja - Grândola (Igreja deAzinheira de Barros) - Concerto«Melodias de Natal».* Aveiro - Reunião da ComissãoCoordenadora da Missão Jubilar.* Guarda - Sé (18h00m) -Celebração presidida por D. ManuelFelício pelas vítimas do tufão quepassou nas Filipinas. * Porto - Igreja de Nossa Senhorado Carmo - Concerto de Natal daUniversidade do Porto.

* Setúbal - Almoço dos sem-abrigopromovido pela Cáritas Diocesana.* Lisboa - Mosteiro de São Vicentede Fora (15h00m) - Celebração deNatal com a presença do patriarcade Lisboa e bispos auxiliares.* Viana do Castelo - Convento de S.Domingos (15h00m) - Festa dascrianças com oferta de brinquedospromovida pela Cáritas de Viana doCastelo.* Braga - Mosteiro de Tibães -Conferência sobre «Liturgia e Arte»por D. José Cordeiro.* Lisboa - Assembleia da República - Encerramento (início a 10 dedezembro) da exposição fotográfica«My Life as a Refugee», organizadapelo Serviço Jesuíta aosRefugiados.* Porto - Cantares de Natal pelasruas da cidade organizado peloGrupo Ecuménico Jovem do Porto.* Lisboa Cantina 1 da cidadeuniversitária - Início dascomemorações do 25º aniversárioda Comunidade Vida e Paz e Festade Natal para os Sem-Abrigo. (20 a22)

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* Lisboa - Cantina 1 da cidadeuniversitária - Exposição fotográficacom o tema «Enquadrar a Vida»,que resulta do curso de fotografiadestinado aos utentes dasComunidades Terapêuticas e deInserção da Comunidade Vida ePaz. (20 a 22)* Évora - Vila Viçosa (Convento dosCapuchos) - A comunidade religiosa«Arca de Maria» realiza a iniciativa«Efata Jovem». (20 a 22)* Braga - Soutelo (Casa da Torre) -Exercícios espirituais «Pé-descalço»orientados pelo padre AntónioValério e promovidos pelos jesuítas.(20 a 23) Dia 21* Portalegre - Pedrogão Pequeno(Igreja Matriz) - Concerto de Natal. * Algarve - Olhão (Igreja Matriz deOlhão) - Concerto de Natal com oCoro dos Antigos Orfeonistas daUniversidade de Coimbra. * Castelo Branco - Vila Velha deRodão (Igreja matriz) (18h00m) -Concerto de Natal com aparticipação da Orquestra TípicaAlbicastrense.* Leiria - Sé (21h30m) - Concerto deórgão de celebração do Natal, como organista António Esteireiro ondeserá apresentada a obra “LaNativité du Seigneur”, do compositorfrancês Olivier Messiaen.

* Porto - Sé (21h30m) - Concerto deNatal pelo Coro da Sé do Porto. * Beja - Grândola (Igreja de SãoPedro de Melides) - Concerto deNatal* Lisboa - Igreja de Nossa Senhorada Conceição do Rato (17h30m) -Partida do passeio de BTT solidáriocom a Cáritas de Lisboa promovidopelo núcleo de BTT da UniversidadeLusíada e da Paróquia de SantaIsabel. * Lisboa - Alcabideche (Associaçãode Bem Estar Social) -Concerto do ICiclo Adventus - Solidário.* Évora - Castro Verde (BasílicaReal de Castro Verde) (21h30m) -Sessão do ciclo de cante e músicapara o Natal.* Vila Real - Igreja Paroquial deMouçós - Concerto de Natal peloprojeto «Maranatha».* Lisboa - Convento de SãoDomingos - Retiro de Advento emtorno da «Evangelli Gaudium»orientado pelo padre Mateus Peres.* Vaticano - O Papa Francisco visitaas crianças internadas no HospitalPediátrico «Menino Jesus» deRoma, propriedade da Santa Sé. * Lisboa - Ruas da cidade - Bençãodas grávidas e Via da Alegria(procissão pelas ruas de Lisboa,que simboliza o caminho que aSagrada Família fez até Belém).

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Com o aproximar da festa do nascimento de Jesus, osconcertos de Natal, de norte a sul do país, dãosonoridade à festa dos cristãos. As igrejasportuguesas recebem melodias natalícias. Os coros eas orquestras dão sentido e interioridade aonascimento do menino de Belém. O Papa Francisco vai visitar as crianças internadas noHospital Pediátrico «Menino Jesus» de Roma,propriedade da Santa Sé, no próximo dia 21, anunciouo secretário de Estado do Vaticano, D. Pietro Parolin“Tal como os seus predecessores, Franciscodemonstra pelas crianças um extraordinário amorpaterno. Quanto mais promovermos a infância, melhorserá o nosso futuro”, declarou o arcebispo italiano. O «Presépio na Cidade», organizado para anunciar osentido cristão do Natal por um grupo de leigoscatólicos, está de volta novamente, com presença naBasílica dos Mártires no Chiado. O «Presépio daCidade» está em Lisboa, com um “espaço de encontroe acolhimento”, no exterior da Basílica dos Mártires,até 24 de dezembro, das 14h00 às 19h00. O Secretariado Diocesano das Comunicações Sociaisde Bragança-Miranda, em parceria com a Pastoral doTurismo, desafiou os diocesanos a fotografaremcoroas de Advento e presépios como iniciativa dotempo de Advento e de Natal. As fotografias dasCoroas de Advento “estarão em votação até ao Natal”e devem ser enviadas até ao dia 22 de dezembro, eserão publicadas no facebook da Diocese Bragança-Miranda.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 22 - A terra e ostextos do nascimento deJesus. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 23 -Entrevista a a frei FernandoVentura e Joaquim Franco.Terça-feira, dia 24 - Natal emAlter do Chão e entrevista aopadre Vasco Pinto deMagalhães.Quarta-feira, dia 18 -Presépios de Estremoz e entrevista ao padre VascoPinto de Magalhães.Quinta-feira, dia 19 - Informação e entrevista ao padreVasco Pinto de Magalhães.Sexta-feira, dia 20 - Apresentação da liturgia dominicalpelos padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves. Antena 1Domingo, dia 22 de dezembro, 06h00 - O padre JoséTolentino Mendonça reflete sobre o evangelho deLucas lido na noite de Natal. Segunda a sexta-feira, dias 23 a 27 de dezembro,22h45 - Leitura e análise de textos biblicos com MariaTeresa Gonzalez, Sara Ideias, José TolentinoMendonça, Júlio Martin e João Lourenço.

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Cremos num Deus ou em trêsdeuses?

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Ano – 4.º Domingo do Advento Acolher oDeusconnosco

O Evangelho do quarto domingo do Adventoapresenta Jesus como a incarnação viva do Deusconnosco. Contém um convite implícito a acolher debraços abertos a proposta de salvação que Ele traz ea deixar-se transformar por ela.No episódio de hoje temos, não uma descrição defactos históricos, mas uma catequese sobre Jesus.Fundamentalmente, procura-se mostrar que Jesus oMessias vem de Deus, que a sua origem é divina.Procura-se ensinar qual será a missão de Jesus: onome que Lhe é atribuído mostra que Ele vem deDeus com uma proposta de salvação para toda ahumanidade.A figura de José desempenha aqui um papel muitointeressante. Pela sua obediência, a quem o anjo sedirige como o filho de David, realizam-se os planos eas promessas de Deus ao seu Povo.A festa do Natal que se aproxima deve ser o encontrode cada um de nós com este Deus que vem ao nossoencontro; e esse encontro só será possível setivermos o coração disponível para O acolher e paraabraçar a proposta que Ele nos veio fazer.Com frequência, o Natal é a festa pagã doconsumismo, das prendas obrigatórias, da refeiçãomelhorada, das tradições familiares que têm de serrespeitadas mesmo quando não significam nada. Nós,cristãos, celebramos o Natal – preparado no nossocoração – à maneira pagã ou como verdadeiroencontro com esse Deus libertador, cuja proposta desalvação estou interessado em escutar e acolher?Mais ainda: no esbanjamento, na opulência, nodesperdício,

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cometemos autênticos atentados epecados a tantos pobres eexcluídos de bens essenciais paraviver ou sobreviver. E se calharfazemos isso olhando para asimplicidade e a pobreza dopresépio…As figuras de Maria e de José aíestão para nos apelar à essênciadas coisas para quem preparamesmo o Natal como deve ser:escutar os apelos de Deus,responder com um “sim” dedisponibilidade total.Deus está sempre a dar-nos sinais,mas nós procuramos quase sempredo lado do extraordinário.Raramente Deus está noextraordinário. O sinal que Ele nosoferece é o de uma família humana,como as nossas, em que Ele se fazcorpo para ser “Deus connosco”.Que espaço Lhe abrimos nasnossas vidas de homens e demulheres para que o Sinal da suaPresença e do seu Amor seja legívelpara todos os que O procuramhoje?Só com o coração aberto a Deuspoderemos acolher os irmãos. Sódeixando que Deus seja Natal nas nossas vidas poderemos serNatal para os outros. Nem mais!

Mãos à obra em mais uma semanaque Deus nos concede, a semanado Natal!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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RCA: Igreja acolhe milhares de pessoas em fuga

As panquecas do irmão MathieuAntes da chegada das tropasfrancesas à República Centro-africana, viveram-se dias trágicos,com combates entre ganguesarmados. O balanço é tremendo:centenas de mortos, milhares depessoas em fuga, igrejas emosteiros transformados em centrosde acolhimento. É o caso doconvento carmelita de Bangui, que éagora dormitório para mais de 2 milpessoas O irmão Mathieu nunca imaginaraque o seu talento para a culináriafosse tão aplaudido como naquelamanhã. Quem chegasse aoconvento carmelita de Bangui, acapital da República Centro-africana, ficaria perplexo. Numa fila,cerca de 800 crianças aguardamque lhes deem a mais saborosapanqueca das suas vidas. Ládentro, na cozinha, está o irmãoMathieu. Há pouco, Yousuf, umamigo muçulmano dos carmelitas,dono de um pequeno aviário,oferecera 2 mil ovos. Foiprovidencial.Milhares de pessoas fugiram desuas casas e correram para as

igrejas em busca de abrigo. Nasruas, em total impunidade, bandosarmados semearam o terror, numaespiral de violência que começouem Março, quando um grupoislamita, os Seleka, fizeram um golpede Estado e depuseram opresidente. Desde então, o caostomou conta do país. Os Cristãostornaram-se um dos seus alvosprincipais. Há relatos de pessoasmutiladas, torturadas, mortas asangue-frio. As aldeias foramabandonadas, as casas saqueadas,reduzidas a cinzas. Em Bossangoa,no norte, a Caritas teme pelasegurança de 40 mil pessoasacampadas junto da missão católica.Nas ruas jazem corpos que ninguémse atreve a ir buscar. Um convento em azáfamaVoltemos ao irmão Mathieu. Desdeque aquelas duas mil pessoaspediram abrigo aos carmelitas que avida no convento mudou. A Igrejaagora é um dormitório. Oiçamos opadre Trinchero: “Celebramos amissa da manhã lá fora para não

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acordarmos as 350 crianças quedormem na capela. Duas atédormiram debaixo do altar. Temosde tomar conta deles todos, a cuidar de tudo.”O silêncio do convento foiconvertido numa algazarra imensa.Mas isso pouco importa. Aquelesrefugiados encontraram ali um larprovisório e assim será até que acalma regresse às ruas. Ninguémsabe ainda quando isso acontecerá,mas o padre Trinchero

garante que as portas estarão sempre abertas e sabe que podecontar com a ajuda da FundaçãoAIS.Às vezes, lá fora, ouvem-se tiros,rajadas de metralhadora, carros quepassam em alta velocidade. Hácrianças que começam logo achorar.

Paulo Aido | Departamento deInformação | www.fundacao-ais.pt |

[email protected]

Novena de Oração pela PazPerante a situação dramática que se vive na República Centro-africana,a Fundação AIS decidiu organizar uma Novena de Oração pela Paz,preparada em conjunto com os bispos, sacerdotes e fiéis deste paísmergulhado há meses no caos. Descarregue aqui a brochura daNovena (PDF 4Mb) e reze por esta intenção!

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Amigo, neste Natal do Senhorquero vê-lo!

D. José Cordeiro, Bispode Bragança-Miranda

«…e o Verbo fez-se homem e veio habitarconnosco» (Jo 1, 14).

Hoje, o Natal continua a ser a habitação doimenso amor de Deus que se mostra àquelescujo anseio fundamental é “ver” a Deus, isto é,que aceitam a vocação de ver o invisível. E estarevelação é de tal modo forte que se tornapresença na realidade real.Para onde olhar, então, senão para a realidadede todos os dias? É mesmo aí que Deus habita.Aqui e agora sentimos que a vida de cadapessoa vai «de início em início, através decomeços sempre novos» (cf. S. Gregório deNissa).«Amigo, neste Natal do Senhor quero vê-lo !»,assim disse Francisco de Assis, no início dedezembro de 1223, voltando-se para o amigoGiovanni Velita, um proprietário rico de Greccio.Francisco explicou ao seu amigo o que queriadizer “ver” o Natal. Daquela compreensão nasceuo presépio como é conhecido na cultura cristã,na piedade e na arte dos países latinos.Francisco é um crente com um coração decriança. Os antigos diziam: «para quem acreditatudo é prova, para quem não acredita nenhumaprova basta».A sua fé “vê” o que crê, mas ele sentia umalacuna na representação do nascimento do Filhode Deus. Graças às suas peregrinações a Roma,ele conhecia o nascimento

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representado nos mosaicos dasgrandes basílicas, mas não lhebastava. Por isso, criou umaimagem viva do Menino de Belém,feito de carne, de um olhar, de umgemido, de um sorriso e, ao mesmotempo, pediu um sacerdote paracelebrar naquela noite a Eucaristia.Com efeito, a Eucaristia é, já,semeada em Belém, casa do pão. Eisto ainda

hoje se pode ver, no fresco da grutado Presépio em Greccio, próximo deRieti em Itália.A simplicidade da fé ilumina toda avida e faz-nos aceitar comdocilidade as grandes coisas deDeus. Experimentamos como aalegria perfeita é possível tambémneste mundo, apesar dossofrimentos e das dores de cadadia. Uma vida sem

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reconhecimento é uma vida triste,difícil, que ignora o prazer e abeleza do dom, que acredita quetudo seja sempre devido, e antes dese alegrar pelo que possui, vive naraiva por aquilo que pensa que lhefoi retirado.A nós foi-nos dada a alegria depoder dizer obrigado, de voltar adescobrir as palavras mágicas quetornam a vida mais leve, os gestosde fineza e de atenção queultrapassam as tensões mais durase abre a janela do encontro.Responder à vocação de ver oinvisível é próprio da pessoahumana, um ser natal. «Se Cristotivesse nascido mil vezes em Belém,mas não nasce em ti, então nasceuem vão» (A. Silesius).A procura de Deus é também umaatenção ao outro, àquele Jesus quenasce às vezes como um“incómodo” na nossa vida, masquando a habita torna-a experiênciade bondade e um lugar decomunhão e de paz.O Natal reforça em nós acapacidade de interpretar a imagemde Deus e de O ver nos rostossofredores de tantas famílias, emmuitos desempregados, pobres,doentes, migrantes, presos, vítimasda

violência doméstica, mais sós,pessoas idosas. Rezo, vejo econtacto diariamente com algunsirmãos e irmãs assim, especialmentenestes tempos desafiantes e tãoexigentes. Aqueles que são amanifestação das chagas de Deus eda sua fragilidade, mostrama necessidade de tecermos asrelações solidárias e deproximidade.Deus continua a escolher a periferiadas periferias, para que ninguém sesinta excluído do seu abraço e faz-se homem, amando-nos com umcoração de carne. O grande M.Torga também o expressou destemodo poético: «sei o teu nome napágina da noite, Menino Deus… Efico a meditar no milagre dobrado deser Deus e menino. Em Deus nãoacredito. Mas em ti, como possoduvidar?»Aos crentes e não crentes, auguroum coração de carne na alegria daEsperança, Cristo Jesus, o DeusMenino. Deixa Deus habitar a tuacasa e deixa-te olhar por Ele!Boas festas e um Santo NatalBuonas fiestas i un Santo Natal.

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Menino Jesus - Miranda do DouroFotografia - oferta de Luis Cordeiro

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Natal 2013

Tony Neves

Cristo vai nascer. Vem sempre até nós quando onosso coração é uma porta aberta a Deus e atodas as pessoas. Natal é uma festa semfronteiras.Este Natal é especial, como cada um dos quevivemos até hoje. O mundo sente a perda deNelson Mandela, um cristão-estadista que quistomar a sério o caminho da não-violência e asolução dos conflitos através da reconciliação edo perdão. Tentou fazer da África do Sul um ‘paísarco-íris’, com todas as raças, tribos, cores ereligiões. Ele - como disse D. Manuel Clemente -merece estar na História ao lado de homenscomo Gandhi e Luther King, por terem acreditadoque era possível vencer-se sem recurso á forçadas armas. A 'não-violência' será sempre a armamais poderosa.Ao olhar para o mundo onde vivemos e ondeCristo quer nascer, vejo manchas de sangue queatentam contra a dignidade das pessoas ebeliscam a mensagem do Natal. A RepúblicaCentro Africana está a ser saqueada porbandidos armados, que pertencem a ummovimento de fundamentalistas islâmicos. OSudão do Sul continua a braços com umapobreza extrema da maioria da sua população.Uma parte da Nigéria continua a ferro e fogo,com lutas entre fações cristãs e muçulmanas. Aguerra na Síria continua sem fim á vista… defacto, o Príncipe da Paz precisa de chegardepressa

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a muitas partes do mundo ondequem manda é a violência.Mas o mundo tem obrigação desorrir porque o Papa Franciscopublicou a ‘Alegria do Evangelho’,um hino à felicidade, à justiça, àpaz, aos direitos humanos, á opçãopelos mais pobres. Francisco pedemais espiritualidade para quetambém haja mais missão, maiscompromisso efetivo com osexcluídos deste mundo.Pode haver melhor Natal porque aCaritas lançou a Campanha Mundial‘uma só família humana, alimentopara todos’. Haver tanta gente apassar fome é um escândalo, umacrise de civilização e o PapaFrancisco alertou para o facto deque ‘não se pode virar a cara para olado e fingir que os quase milmilhões de famintos não existem’.

No postal que enviei a muita gente,por todos os meios, escrevi: ‘Natal éa Festa da Família, a Festa dosPobres, a Festa da Ternura de umDeus que se fez um de nós. Acorda-nos o Papa Francisco quandoescreve: ‘devemos dizer não a umaeconomia da exclusão e dadesigualdade social. Esta economiamata. Não é possível que a mortepor enregelamento de um idososem-abrigo não seja notícia,enquanto o é a descida de doispontos na bolsa. Isto é exclusão.Não se pode tolerar mais o facto dese lançar comida no lixo, quando hápessoas que passam fome. Isto édesigualdade social’. (A Alegria doEvangelho, nº53)’.Desejo, do fundo do coração, umNatal com Amor e um 2014 cheio deAlegria, Justiça e Paz.

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«Meu irmão de Dezembro, levanta-te, olha em redor e vê quejá nasceu o dia, e há-de andar por aí uma roda de alegria. Senão souberes a letra, a música ou a dança, não te admires,

porque tudo é novo. Olha com mais atenção. Se mesmoassim ainda nada vires, então olha com os olhos fechados,

olha apenas com o coração, que há-de bater à tua porta umacriança. Deixa-a entrar. Faz-lhe uma carícia. É ela que traz a

música e a letra da canção. Ela é a Notícia».(Da Mensagem de Natal d e D. António Couto, Bispo de Lamego)

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