opan - relatÓrio 2010

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Operação Amazônia Nativa

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  • ndicE Apresentao ...............................................2

    Carta do presidente ......................................3

    Desafios da gesto territorial indgena .........3

    Nossa instituio ..........................................6

    Opinio - Contradies nas polticas territoriais, por Francisca Navantino ............7

    Artigo - Gesto territorial indgena: um contraponto necessrio na gesto da Amaznia.................................8

    Projeto Aldeias ...........................................10

    Programa Mato Grosso ..............................18

    Convnio OPAN-FUNASA ............................26

    Atuao da OPAN no Formad .....................29

    Engajamento nas discusses sobre mudanas climticas.........................30

    Gesto financeira .......................................32

    Equipe 2010 ...............................................34

    ApresentaoA OPAN tem o prazer de apresentar o resumo das atividades realizadas em 2010. Nesta publicao, demonstraremos nossos principais xitos na gesto de projetos em parceria com os povos indgenas nos estados do Amazonas e de Mato Grosso,

    contribuindo para o fortalecimento das organizaes indgenas, valorizao cultural e conservao do meio ambiente.

    Um dos aspectos mais importantes que permearam todas as linhas de ao da OPAN em 2010 foram as discusses sobre a gesto ambiental das terras

    indgenas, visando a consolidao de uma poltica nacional a respeito deste tema. Por isso, este foi o eixo central do nosso relatrio.

    Boa leitura!Operao Amaznia Nativa

    ExpedienteEdio de textos e imagens:

    Andreia Fanzeres

    Projeto grfico: IrIs DEsIgn

    www.irisdesign.com.br Abilio Junior e Samantha Iris

    Impresso: Grfica Print

    Contato:

    OPErAO AMAZnIA nATIVA

    Av. Ipiranga, 97, Bairro Goiabeiras, Cuiab MT

    CEP 78032-035 Telefone: 55 (65) 3322-2980

    Fax: 55 (65) 3322-4161 [email protected]

    www.amazonianativa.org.br

    A Embaixada da Noruega tem investido na OPAN ao longo dos anos e mantm um programa de fortalecimento institucional que viabiliza a gesto da organizao.

    Esta publicao foi realizada com o apoio da Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento (USAID). O contedo desta publicao de responsabilidade dos seus autores e no necessriamente reflete as opinies da USAID ou do governo dos Estados Unidos.

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  • Desafios da gesto territorial indgena

    Assistimos nas ltimas dcadas a mudan-as significativas na relao dos povos indge-nas com a sociedade e o governo federal, im-pulsionadas pela ascenso dos movimentos indgenas desde a dcada de 1970. Apoiados por entidades indigenistas, antroplogos, ju-ristas e outros aliados da sociedade civil, eles conseguiram o reconhecimento de direitos fundamentais na constituio de 1988. No plano internacional, esses avanos tambm se fizeram sentir nos acordos, assinados por inmeros pases e tambm pelo Estado brasi-leiro, como a Conveno 169 da Organizao Internacional do Trabalho (OIT) em 1989, e a Declarao da Organizao das Naes Uni-das (ONU) sobre os Direitos dos Povos Indge-nas, em setembro de 2007.

    O que se estabeleceu nesses fruns e do-cumentos legais? Que os indgenas so povos, com o direito ao controle de suas prprias instituies e formas de vida, a um desenvol-vimento econmico e um sistema educacio-nal concebidos em seus prprios termos e a manter e fortalecer suas identidades particu-lares, suas lnguas e religies. Ficou tambm

    estabelecido que os Estados Nacionais devem salvaguardar as pessoas, instituies, bens, o trabalho, as culturas e o meio ambiente des-tes povos. No entanto, tais medidas jamais devero ser contrrias aos desejos expressos livremente por eles e muito menos atingir seus direitos de cidadania e os direitos espe-cficos como povos.

    Mas, at agora, as formas de consulta aos povos indgenas sobre os projetos que os afe-tam no esto bem regulamentadas e, assim, no caso de muitos projetos de interesse de-senvolvimentista, a vontade indgena deve se submeter aos interesses do Estado ou das foras econmicas em expanso no entorno e mesmo no interior de seus territrios. Nestes casos, sua participao tem se resumido a rei-vindicar compensaes, e estas se traduzem apenas em financiamento de projetos forma-tados por tcnicos e dentro de uma lgica es-tranha ao universo indgena e qual eles de-vem se adaptar.

    Foi nesse contexto que surgiu uma nova abordagem, conhecida por gesto territorial indgena, concebida para dar voz aos indge-nas e promover sua participao nos proces-sos sociais mais amplos que acabam por inci-dir sobre sua territorialidade e suas condies de vida. Nessa nova viso, as aes devem

    Carta do presidente

    ndios Deni, na Terra Indgena Deni (AM).

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  • considerar a gesto territorial e ambiental conjuntamente com a concepo cultural do povo indgena. Alm disso, aes de gesto para as terras devem atuar em interface com a sade, a formao de recursos humanos, a conservao e o uso sustentvel dos recursos, a fiscalizao e vigilncia dos territrios e o fortalecimento cultural das comunidades.

    A gesto territorial indgena se apresenta como um conjunto de instrumentos e meto-dologias de gesto a serem apropriados pe-los povos indgenas, construdos de forma participativa, dialogando com os saberes e prticas locais, visando elaborar diagnsti-cos detalhados dos recursos naturais, da pro-duo e do contexto sociocultural, que so elementos fundamentais para a tomada de decises pelas comunidades e pelo poder p-blico. Alm de inspirar as formas de atuao adotadas por ONGs indigenistas e socioam-bientais, essa abordagem se tornou eixo das polticas pblicas voltadas para os povos ind-genas com a instituio da Poltica Nacional de Gesto Territorial e Ambiental das Terras Indgenas (PNGATI), criada por decreto pre-sidencial em agosto de 2010. Ela se prope a construir, sempre em conjunto com os po-

    vos indgenas, os caminhos e solues para a salvaguarda de seus direitos territoriais, do seu meio ambiente, de suas condies de vida e autodeterminao.

    Mas essa abordagem e essa poltica re-almente realizam o que se propem? pri-meira vista, um avano em termos de uma metodologia politicamente correta, eficaz e tambm nas polticas pblicas. Entretanto, neste como em outros avanos, a ambigui-dade permanece e se aprofunda medida que essas polticas e esses instrumentos de gesto passam a se tornar atividades prticas que, forosamente, devem ser adotadas pelos povos indgenas. Sem essa concordncia e aceitao, sem sua adoo, no h, para os povos indgenas no Brasil, possibilidade de resposta positiva s suas demandas polti-cas e materiais.

    J se tornou evidente a obrigao de se criar associaes, com estrutura e lgica de funcionamento conforme a legislao or-dinria, como condio para aceder a proje-tos educacionais, de incremento de prticas produtivas e comerciais, ou a qualquer outra forma de contrato com segmentos da socie-

    Gesto territorial indgena deve estar interligada conservao ambiental, valorizao cultural, sade, vigilncia e formao de recursos humanos.

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  • dade nacional nos quais os indgenas possam ter mais participao na gesto das atividades e dos recursos financeiros. Apesar dos direi-tos reconhecidos de viver de acordo com seus usos, costumes e tradies, suas formas de organizao social e poltica no so aceitas como legtimas no cenrio nacional.

    Por outro lado, mesmo nessa nova aborda-gem, a participao indgena s aceita nos fruns consultivos, deliberativos, de planeja-mento ou outros, concebidos e funcionando de acordo com lgicas de representao, or-ganizao e atuao, sem que sejam levados seriamente em considerao suas formas de organizar o tempo, modos e estilos de delibe-rao e atuao, norteados por outras lgicas e perspectivas.

    A multiplicidade de fruns para os quais devem se habilitar e participar, e o geomtri-co crescimento das tarefas que essa partici-pao demanda, ainda que secundria e sem grande poder de influncia nos resultados, al-teram em grande medida o cotidiano dos in-dgenas, restringindo, impedindo ou deixando em segundo plano o exerccio de muitas de suas prticas rotineiras. No raro ocorrer o resultado oposto: aumento da dependncia, fragilizao de suas formas socioculturais pr-prias, diminuio da autonomia, enfraqueci-mento cultural, conflitos internos.

    Ao mesmo tempo, a proposta de gesto territorial e ambiental das terras indgenas j permitiu a criao de metodologias participa-tivas mais inclusivas, ampliou a visibilidade dos conhecimentos indgenas e, em muitos casos, fortaleceu seus direitos e permitiu um maior empoderamento destes povos em rela-o gesto e ao controle territorial.

    Porm, o que , de um lado, apoderar-se do conhecimento, tcnicas e lgicas de orga-nizao do branco como instrumentos de ampliao da autonomia e fortalecimento sociocultural, pode se tornar, de outro lado, apenas uma outra maneira de rendio dos povos indgenas lgica social e econmica dominante.

    Isso pode se dar porque um problema fun-damental se mantm: a participao indgena costuma se dar apenas em espaos pr-de-finidos pelos projetos, sejam eles governa-mentais ou privados, de cuja elaborao no participaram adequadamente e a cujo forma-

    to, que estabelece em detalhes os objetivos, metodologia, rotinas financeiras, contbeis, avaliativas e os limites de suas aes, devem se adequar.

    Onde est o divisor? A partir de que ponto uma coisa vira a outra? Na dinmica da vida humana em sociedade, nada s preto ou branco, os limites so sempre imprecisos.

    Esse o desafio permanente que se coloca tanto aos indgenas quanto aos indigenistas. S a conscincia dessa ambiguidade e a clare-za de propsitos que podem nos guiar nesse caminho de muitas encruzilhadas. Devemos lembrar que a crescente e cada vez mais qua-lificada participao indgena em inmeros contextos da sociedade nacional vital para que possam afirmar seus direitos, sua existn-cia, sua inteligncia e sua sensibilidade.

    Devemos lembrar tambm que no so-mos juzes de suas escolhas e dos rumos que querem tomar, mas que o fundamental que tenham o espao ambiental, social, poltico e cultural para exercitar a gesto de sua vida presente e projetarem seu futuro. Isso no significa aceitao irrestrita do que prope ou querem, mas, simplesmente, que os povos indgenas, assim como qualquer outro seg-mento da sociedade brasileira, devem ter a possibilidade de serem ouvidos como partes equivalentes em todos os campos de dilogo e deciso que afetem seu presente e seu fu-turo, direitos j sacramentados na legislao brasileira e nos acordos internacionais adota-dos pelo Brasil.

    Rinaldo Arruda Presidente OPAN

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    A participao indgena costuma se dar apenas em espaos pr-definidos pelos projetos, de cuja elaborao no participaram adequadamente.

  • A OPAN foi a primeira organizao in-digenista fundada no Brasil, em 1969. Com sede em Cuiab-MT, escritrio em Manaus e bases em Brasnorte-MT, So Flix do Araguaia-MT, Carauari-AM e Lbrea-AM, trabalha pelos direitos dos povos indgenas, dando apoio organizao e ao fortalecimento poltico das comunida-des na Amaznia e no Cerrado. Atualmente, equipes multidisciplinares formadas por in-digenistas, pedagogos, bilogos, jornalistas, antroplogos, agrnomos e profissionais de diversas reas concentram suas atividades em terras indgenas nos estados de Mato Grosso e Amazonas.

    Historicamente, os trabalhos mais destaca-dos da OPAN estiveram voltados educao, ateno sade e demarcao de terras in-dgenas. Nos ltimos anos, a instituio tem dado especial nfase gesto territorial e ambiental das reas, buscando alternativas para gerao de renda baseadas na conserva-o do meio ambiente e na valorizao cul-tural dos povos. A partir de demandas locais, a OPAN desenvolve projetos participativos, experimentando dinmicas de trabalho vin-culadas ao universo simblico dos indgenas. Esta estratgia pretende oportunizar cada vez mais a autonomia dos povos para gerir polti-cas diferenciadas.

    Nossa instituio

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  • OPINIO

    Contradies nas polticas territoriais

    So grandes os desafios da gesto territorial indgena. O primeiro deles lidar com as contraditrias polticas do governo. Do ponto de vista da legislao e das diretrizes, tudo maravilhoso. O problema est na aplicao do se planeja e do que se constri como poltica para os povos indgenas. Na proposta do Plano Nacional de Gesto Ambiental em Terras Indgenas (PNGATI), as aes so voltadas proteo, promoo dos direitos, e usufruto exclusivo de suas riquezas naturais para o bem estar dos povos. No entanto, o que temos visto o oposto. Por exemplo, a Fundao Nacional do ndio (FUNAI) est liberando tudo que viola os direitos dos povos indgenas. Em Mato Grosso, quase todas as terras indgenas esto cotadas para ter empreendimentos e projetos governamentais, inclusive de minerao.

    No raro, os indgenas e suas comunidades so obrigados a aceitar as ingerncias dentro de seu prprio

    territrio. No h uma poltica especfica de proteo aos povos e suas terras. Tudo est sendo realizado para a implantao do consumismo e adeso total do capitalismo. Projetos que valorizam os costumes, a tradio e a sabedoria indgena so menosprezados pelas polticas, mas para grandes projetos de infraestrutura h incentivos. No final das contas, as comunidades ficam numa dependncia capitalista, desestruturando-se social e politicamente. H uma tendncia de sutilmente aculturar os povos indgenas com a finalidade de subtrair seus territrios.

    valioso lutar para que as polticas de gesto territorial sejam polticas especficas que atendam a realidade sociocultural e econmica de cada povo. E os planos de gesto devidamente organizados, com metas estabelecidas de mdio e longo prazos, discutidos amplamente com as comunidades. Benefcios e vantagens sero contemplados gradativamente, como o aprimoramento da formao poltica nesse processo de planejamento, o que permite aos povos adquirir um conhecimento mais profundo de seu prprio territrio e lidar melhor com a tecnologia ocidental.

    Nesse processo, papel dos indgenas cobrar com mais contundncia os seus direitos, fiscalizar e exercer o controle social das polticas de gesto, e se inteirar dos instrumentos e mecanismos que gerenciam tais dinmicas. O governo precisa respeitar as legislaes de proteo dos povos e seus territrios, criar ferramentas apropriadas para lidar com a diversidade social e cultural, assim como da elaborao e execuo de poltica especfica de cada etnia.

    Francisca Navantino (paresi), fundadora e conselheira do Instituto Indgena Maiwu

    de Estudos e Pesquisas de Mato Grosso

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  • Artigo

    Gesto territorial indgena: um contraponto necessrio na gesto da Amaznia*

    O processo atual de construo de mode-los de fortalecimento da gesto territorial in-dgena, o debate socioambiental que o acom-panha e o marco de poltica pblica ensaiado pela Poltica Nacional de Gesto Territorial e Ambiental das Terras Indgenas (PNGATI) sig-nificam muito mais do que sintomas de uma fase ps-demarcatria para as terras ind-genas. As sociedades indgenas amaznicas, na sua permanente abertura aos diversos desdobramentos do mundo, querem debater sua prpria posio na rede de transforma-es socioeconmicas, ambientais e polticas que redefinem as paisagens da Amaznia. No mais suficiente garantir a integridade do prprio territrio: no quadro atual, ocorre reconfigurar os seus entornos e, fundamen-talmente, garantir a prpria viabilidade das populaes indgenas nas suas terras.

    As entidades indigenistas como a OPAN entram, com diversas velocidades, numa corrente de metodologias, prticas e mode-lagens socioambientais situadas em torno da denominada gesto territorial indgena, apoiando uma articulao onde se cruzam o protagonismo poltico dos povos indgenas e das suas organizaes, a sua interao com as polticas pblicas, o debate global sobre conser-vao da biodiversidade e mudana do clima, as demandas de gerao de renda e as transforma-es nas economias indgenas.

    O desafio maior est no dilogo inovador entre os saberes e manejos tradicionais e a reinveno de prticas de gesto do territrio, de maneira que seja garantida a autonomia indgena e efetivamente projetado o papel destes povos no futuro das florestas. Trata--se de modelar o cruzamento de olhares: os olhares indgenas, que desde suas sociocos-mologias constrem suas relaes com os ou-tros seres, atravs de mecanismos xamnicos, rituais, simblicos, e por meio de comporta-mentos de produo de corpos e pessoas; e o olhar socioambiental, que trata de responder aos problemas da conservao da Amaznia,

    da sustentabilidade das suas populaes e aos desafios levantados pelo esforo global de mitigao e daptao.

    Nesta interseo de perspectivas, as carto-grafias sociais em contextos indgenas esto produzindo uma diversidade de processos, em que os mapas e os planos de gesto re-velam, em ocasies, um esforo de legitima-o e afirmao da existncia dos povos; ou se desenvolvem como ferramenta de negocia-o com as polticas pblicas do Estado; so usados como instrumento de poder; ou, ain-da, como mecanismos de controle territorial. Dentro deste amplo leque de processos, possivelmente h dois desafios que ganham destaque: a necessidade de buscar uma me-lhor viabilidade para as economias indgenas contemporneas (que circulam entre o seu ancestral manejo do mundo e sua interao ativa e reativa com os processos do merca-do); e a configurao das novas territoriali-dades indgenas, onde os povos projetam seu olhar sobre os entornos das terras (indo alm da fronteira demarcatria) e sobre as cida-des, como lugares de importncia crescente nos circuitos indgenas. Desta forma, a gesto territorial aparece como um mecanismo que supera amplamente os problemas de manejo

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    No mais suficiente garantir a integridade do prprio territrio: no quadro atual, ocorre reconfigurar os seus entornos e, fundamentalmente, garantir a prpria viabilidade das populaes indgenas nas suas terras.

  • dos recursos naturais, e que envolve todos os processos de produo e reproduo destas sociedades amaznicas, e de intercmbio e relacionamento com seus entornos sociais e ecolgicos.

    Contudo, ocorre lanar um alerta sobre toda esta dinmica. No por acaso que ela coetnea, na Amaznia, de um processo que pretende avanar na regularizao fun-diria (as terras indgenas no so unidades de conservao nem propriedades rurais), na criao de mosaicos (as terras indgenas no so, ou no se reduzem, a reas protegidas) e na conservao da biodiversidade (que, nas terras indgenas, encontra de modo geral me-lhores condies de equilbrio). O dilema que a regio amaznica vive nasce de um para-doxo: vivel (para fugir do ambguo termo sustentvel) promover a gesto territorial in-dgena num contexto de expanso da frontei-ra agropecuria neste bioma, de abertura de estradas amaznicas, de ampliao da rede de empreendimentos hidreltricos de grande escala? Como vai se sustentar uma poltica pblica de gesto das terras indgenas sem depender do controvertido recurso das com-pensaes ambientais dos projetos de acele-

    rao do crescimento regional? A gesto das terras indgenas (e, junto a elas, das unidades de conservao), significa apenas a garantia mnima da sustentabilidade, num cenrio de ocupao ilimitada das florestas e cerrados?

    Neste processo, a OPAN ensaia algumas solues em mbitos locais de cinco bacias da Amaznia: Purus, Juru, Juta, no Amazo-nas; Juruena e Araguaia, em Mato Grosso. Durante 2010, assistimos ao avano crtico do desmatamento no sul do Amazonas, consolidao do plano hidreltrico nacional no noroeste de Mato Grosso e a agresso permanente aos direitos indgenas na TI Ma-raiwatsde. Este o cenrio que envolve o conjunto das nossas intervenes no apoio gesto indgena dos seus territrios, e a nos-sa colaborao na construo de solues.

    Miguel Aparicio Surez antroplogo e gestor do

    Projeto Aldeias Conservao na Amaznia Indgena

    Povos indgenas escolhem espcies para manejar sustentavelmente.

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  • O Projeto Aldeias desenvolve-se em sete terras indgenas do estado do Amazonas, nas bacias dos rios Purus, Juru e Juta. uma iniciativa da OPAN em parceria com Viso Mundial, iniciada em outubro de 2008, e que conta com o apoio da Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

    Os objetivos principais do programa so:

    a) apoio conservao da biodiversidade e ao manejo de recursos naturais nas terras indgenas Katukina do Bi, Deni, Paumari do Rio Cuniu, Paumari do Lago Paric e Paumari do Lago Manissu;

    b) fortalecimento das organizaes indgenas de base, entidades locais e regionais.

    H tambm uma componente desenvol-vida em parceria com a Coordenao de n-dios Isolados e de Recente Contato (FUNAI/ CGIIRC) de proteo etnoambiental dos po-vos indgenas Hi Merim e Suruaha, no marco da Frente Purus de Proteo Etno-ambiental (Veja tabela abaixo).

    Equipes de campo compostas por indige-nistas com formao em Cincias Sociais e Ambientais desenvolvem a agenda de traba-lho nas aldeias, com participao nas ativida-des cotidianas e buscando uma insero equi-librada entre as pautas indgenas do dia a dia e as pautas de implementao de um progra-ma de gesto territorial. Um dos maiores de-safios do Projeto Aldeias conjugar a articu-lao entre os manejos indgenas tradicionais da floresta e a introduo de novas ferramen-tas de gesto ambiental. Estas metodologias

    Etnia T. I. Superfcie (ha) PopulaoKatukina Rio Bi 1.185.790 572Deni Deni 1.531.300 890

    PaumariPaumari do Rio Cuniu 42.828 84Paumari do Lago Paric 15.792 49Paumari do Lago Manissu 22.970 68

    Suruaha Zuruah 239.070 149Hi Merim Hi Merim 677.840 [Isolados]TOTAL 7 terras indgenas 3.715.590 1812

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  • esto sendo propostas em funo das deman-das indgenas de proteo das suas terras, das transformaes nas economias indgenas contemporneas e das presses regionais que impactam os recursos naturais dessas socie-dades indgenas. Junto ao trabalho das equi-pes de campo, no Projeto Aldeias h tambm aes de articulao regional no Mdio Pu-rus, no Mdio Juru e na bacia do rio Juta , que desenvolvem agendas de advocacy e de fortalecimento organizacional indgena.

    O apoio gesto territorial indgena

    Ao longo de 2010, foram executados diag-nsticos socioambientais, etnomapeamentos e avaliaes ecolgicas colaborativas junto aos Katukina, Deni e Paumari. A construo de metodologias de etnomapeamento com-binou a aplicao de tecnologias de SIG (Sistema de Informao Geogrfica, com softwares livres utilizados em oficinas nas aldeias) com o conhecimento tradicional dos povos indgenas sobre a biodiversidade dos seus territrios.

    Para desenvolver este trabalho, foi cons-trudo um modelo inspirado em outras expe-rincias amaznicas (Projeto Nova Cartografia Social da Amaznia/UFAM-PPGAS; Mapea-mento Cultural Colaborativo/ACT; aplicao

    participativa in loco do software livre GvSIG), buscando a adaptao s especificidades lo-cais. Em diversos momentos, o Projeto Al-deias promoveu ou participou de eventos sobre gesto territorial indgena: Workshop Metodologias de Gesto territorial indgena (NEAI, Manaus, 29-30 julho 2010), onde hou-ve intercmbio de experincias com Kanind, ACT, TNC, Projeto Nova Cartografia Social/UFAM, Fundao Vitria Amaznica; Semi-nrio Pan-amaznico Mapeamentos Partici-pativos e Gesto Territorial Indgena (Projeto Paisagens Indgenas do Brasil, Rio Branco AC, 15-19 novembro 2010); consultas regionais da PNGATI em Cuiab (maio 2010) e Manaus (junho 2010).

    Em relao Poltica Nacional de Gesto Territorial Indgena (PNGATI), uma das prio-ridades do Projeto Aldeias consiste em en-saiar e promover processos locais, de base, e influenciar a implementao regional de modelos de gesto das terras indgenas junto aos povos e organizaes indgenas e FU-NAI. Produo de mapas cognitivos e calen-drios ecolgicos, diagnsticos participativos dos processos de comercializao, tcnicas de avaliao ecolgica com participao de pes-quisadores indgenas foram alguns dos passos dados neste dilogo entre as perspectivas na-tivas e as perspectivas de conservao.

    rea de atuao do Projeto Aldeias.

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  • O mapa que queremos

    Cada etnia foi reforando seus interesses e singularidades no percurso das atividades: a preocupao pelos manejos extrativistas nos Katukina, a insistncia dos Deni na proteo e vigilncia da sua terra, o foco dos Paumari na sustentabilidade dos recursos pesqueiros. Definia-se assim, no contexto de cada povo, o mapa que queremos. O processo buscou a mxima integrao possvel com os saberes locais (importncia das taxonomiasindgenas na percepo do territrio, ateno aos pro-cessos de ocupao que vo alm das terras demarcadas, compreenso das relaes po-lticas e das redes de intercmbio, ritualida-de, temporalidade e cosmoviso...), e tambm destacou o interesse indgena pela apropriao de novas tecnologias: uso do GPS, acesso a ima-gens de satlite, aplicao de ferramentas de geoprocessamento, recursos audiovisuais.

    Em 2010, foram produzidos os seguintes etnomapas, que esto em mos das prprias comunidades Katukina, Deni e Paumari:

    etnomapas da TI Bi (Bia/Norte e Bi/Sul); etnomapa TI Deni/sub-bacia Xeru; etnomapas Paumari (aldeia Aa/TI

    Cuniu, aldeia Xila/TI Cuniu, etnomapa Paric, etnomapa Manissu).

    Estes etnomapas servem de base no pro-cesso de construo dos planos de gesto, atualmente em andamento e com finalizao prevista para setembro de 2011.

    A agenda de proteo e vigilncia das ter-ras tambm foi central como rea de interesse indgena no marco das aes de gesto terri-torial. Foram promovidas oficinas de planeja-mento das estratgias de vigilncia territorial, que estabeleceram expedies de reabertura de picadas nas divisas demarcatrias, capaci-taes em legislao indigenista e ambiental, viagens de monitoramento a locais de confli-to e invaso (caa e pesca predatria, roubo de madeira, captura de quelnios) e viagens a locais remotos, de alta relevncia histrica e simblica. Como resultado final, avanou-se na organizao das estratgias locais (autno-mas) de vigilncia da terra.

    Manejo pesqueiro nas terras indgenas Deni e Paumari

    A expectativa de introduo de tcnicas de manejo sustentvel dos recursos pesqueiros constituiu, desde o incio do projeto, um dos eixos fundamentais da demanda indgena de apoio gesto dos seus territrios. Mantendo a perspectiva de construo participativa e de interao entre os conhecimentos indgenas e as ferramentas de conservao ambiental, o Projeto Aldeias promoveu o Estudo para Ela-borao de um Plano de Manejo Pesqueiro das Terras Indgenas Deni e Paumari (Pezzuti Lima Albuquerque - Barbosa/ abril 2010), a partir de pesquisas de campo executadas com a colaborao das equipes indigenistas. A incidncia constante de prticas predatrias no entorno e no interior das terras indgenas, a importncia da pesca nas relaes comer-ciais indgenas e no contexto da economia regional, a constatao do aumento do esforo de pesca e da subseqente presso sobre os es-toques de ictiofauna estimularam os Deni e os Paumari a buscarem tcnicas de manejo que re-forassem as prticas tradicionais de pesca.

    O diagnstico participativo e mapeamento dos recursos pesqueiros, realizado junto s comunidades indgenas, apontava os riscos da sobrepesca com explorao intensa atravs do arrendamento de lagos (Paumari), da ausncia de seleo de tamanho de captura de espcies como o pirarucu (com possibilidade de extino comercial, se no houver manejo, no caso Pau-mari); e com potencialidade de riscos futuros, dependendo das prticas de pesca e das condi-es de vigilncia do territrio, nos Deni.

    Elaborao de calendrio ecolgico Katukina.

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  • O estudo indica que os problemas da sobre-pesca, as dificuldades e custo de escoamento de produo comercializada, as invases e a gesto dos territrios de pesca realizada de forma desarticulada entre terras indgenas e aldeias, envolvendo relaes de parentesco, compadrio e ao mesmo de explorao e de-pendncia, so contornveis. No entanto, necessrio implementar experincias-pilo-to de manejo, capacitar os indgenas, pro-mover acordos de pesca entre as aldeias e fortalecer a capacidade organizacional des-tes povos indgenas.

    Vrios passos foram j dados neste sentido. Como ponto de partida, foram introduzidas tcnicas de manejo de pirarucu, formando os indgenas em novas tecnologias de captura. A implementao do manejo de pirarucu nas terras indgenas Deni e Paumari se deu atra-vs das seguintes componentes:

    Mapeamento participativo dos lagos; Treinamento de contadores de pirarucu

    (foram capacitados 10 especialistas Deni e 11 especialistas Paumari);

    Produo de material didtico para manejo de pirarucu;

    Avaliao dos estoques de pirarucu; Oficinas de legislao pesqueira na Amaznia; Oficinas de elaborao de material

    pesqueiro para manejo; Reunies de discusso para estabelecimento

    de acordos de pesca e para definio das classificaes de uso dos lagos;

    Fortalecimento da organizao para a gesto dos recursos pesqueiros.

    O universo da pesca Paumari

    No contexto especfico Paumari, com maior situao de riscos na conservao dos recursos pesqueiros, foi muito importante o aprofundamento na rede social e simblica que configura o universo da pesca. A relao com os patres comerciantes e os pesqueiros no se limita a um problema de saldo ou de troca de bens por produtos extrativistas. Trata-se de uma relao antiga entre a populao de uma aldeia e um provedor de bens e cuidados com o qual os Paumari sabem que podem contar. Essas relaes so consolidadas atravs das geraes.

    Os comerciantes no apenas garantem um acesso privilegiado a um mercado, mas tambm perpetuam as relaes. So elas (reais, simblicas ou puramente comerciais) que tecem entre aldeias, rios e cidades uma complexa rede cuja trama no tem comeo nem fim e dificilmente pode ser desfeita por um s lado. Trata-se de uma cosmologia indgena viva que inclui seus interlocutores como parte integrante de seu mundo e que no se concebe em nenhum momento como parte de outro mundo. Antes de serem agentes econmicos, os peixeiros e patres so seres da sociocosmologia Paumari. O mundo dos brancos no apenas um mundo desejado, ele simplesmente mais um desdobramento do mundo (O. Bonilla). Esta anlise introduziu uma perspectiva nova no Projeto Aldeias, ao verificar que a sustentabilidade dos modelos de manejo deve estar integrada com a dinmica sociocultural especfica da comunidade indgena.

    Indgenas realizam contagem de pirarucu, uma das aes para o manejo da espcie.

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  • Foram tambm promovidas atividades de intercmbio: os Paumari viajaram para a regio do Mdio Solimes para conhecer a equipe do Instituto Mamirau e, de modo es-pecial, a experincia do Acordo de Pesca do Pantaleo, na Reserva de Desenvolvimento Sustentvel do Aman (municpio de Mara, AM). Na perspectiva de identificar solues potenciais inovadoras na gesto dos recur-sos pesqueiros em terras indgenas, foi pro-movida uma anlise de viabilidade da pesca ornamental. Com apoio da equipe indigenista e numa dinmica de pesquisa participativa junto aos Paumari, Felipe Rossoni (Instituto Piagau) desenvolveu o Estudo Preliminar de Levantamento do Potencial de Peixes Orna-mentais nas Terras Indgenas Paumari, Mdio Rio Purus (setembro 2010).

    Proteo etnoambiental dos isolados Hi Merim e da TI Zuruaha

    O Projeto Aldeias mantm uma parceria com a Coordenao de Isolados e de Recen-te Contato (CGIIRC) da FUNAI, no mbito da

    Frente de Proteo Etnoambiental Purus. Sua misso garantir as condies necessrias para a sobrevivncia fsica e cultural dos iso-lados Hi Merim e do povo Suruwaha. O Sis-tema Nacional de Proteo de ndios Isolados est sob responsabilidade direta e exclusiva da FUNAI/CGIIRC, e abrange as reas de ges-to das Frentes de Proteo Etnoambiental, localizao e monitoramento, fiscalizao e proteo, educao ambiental, infraestrutu-ra, comunicao e sistematizao, capacita-o, sade e planejamento.

    A Frente de Proteo Etnoambiental Purus desenvolve atividades de pesquisa de campo para conhecimento das reas de ocupao indgena, levantamento etno-histrico, bem como aes de proteo, vigilncia e fiscali-zao das terras indgenas (TIs) Hi Merim e Zuruaha, alm de outras referncias que pos-sam ser identificadas. A OPAN, atravs do Pro-jeto Aldeias, foi convidada pela FUNAI/CGIIRC para fortalecer as aes da Frente Purus. De modo mais significativo, foram realizadas as seguintes aes durante 2010:

    Apoio na estruturao de duas bases de vi-gilncia e proteo nos limites leste e oeste da TI Hi Merim (PVIP Canuaru e PVIP Pira-nha) e uma no igarap Riozinho, no entor-no da TI Zuruaha (PVIP Hahabiri);

    Exuberncia da Terra Indgena Zuruaha (AM).

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  • Capacitao das equipes de campo da Frente de Proteo Etnoambiental, atravs de treinamentos em cartografia, protoco-los e metodologias de monitoramento de entornos, legislao indigenista, legislao ambiental e formao indigenista;

    Diagnsticos socioambientais dos entornos de presso das terras indgenas Hi Merim e Zuruaha;

    Promoo do dilogo e da educao am-biental por meio de reunies e encontros com as comunidades extrativistas do en-torno da TI Hi Merim (pertencentes Reserva Extrativista Mdio Purus) e com as comunidades indgenas vizinhas (Ja-mamadi da TI Jamamadi-Jarawara-Ka-namanti). Articulaes com o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodi-versidade (ICMBio), Coordenao Regio-nal da FUNAI e outros rgos pblicos para fortalecer a dinmica de proteo de isolados nos entornos dos seus terri-trios;

    Um dos desafios mais destacados ao longo do ano foi a reduo da presso ex-trativista do povo indgena Jamamadi so-bre o territrio Hi Merim. Os Jamamadi, em funo das suas aes de extrao de copaba como atividade de gerao de renda que os vincula com o mercado ex-trativista regional realizam incurses no territrio dos ndios isolados, o que cons-titui para estes um fator de risco. O Proje-to Aldeias, em sintonia com a Frente Pu-rus/ CGIIRC, promoveu articulaes com a Coordenao Regional Purus e com a Co-ordenao Geral de Etno-desenvolvimen-to da FUNAI e tem trabalhado com alter-nativas de manejo de recursos florestais no madeireiros para os Jamamadi, com o escopo de neutralizar a presso sobre os isolados e, simultaneamente, viabilizar solues sustentveis na sua atividade ex-trativista.

    Em relao a TI Zuruaha, o Projeto Al-deias colaborou na execuo de pesquisas sobre territorialidade Suruwaha e, por so-licitao da CGIIRC, produziu o Relatrio Preliminar de Identificao da terra ind-gena Masanidawa/Kurubidawa e da terra indgena Alto Hahabiri (Povo Suruwaha), (M. Aparicio A. Huber, dezembro 2010)

    Parceria com Viso Mundial: fortalecimento de organizaes indgenas

    Dentro do trabalho de apoio s organiza-es locais regionais, as aes do Projeto Al-deias em 2010 tiveram como foco o fortaleci-mento da gesto organizacional e a promoo de agendas colaborativas entre as organiza-es indgenas e extrativistas. A equipe da Viso Mundial, nossa parceira no consrcio, promove essas agendas de trabalho com as organizaes. Na regio do Mdio Solimes (entorno Katukina), o programa executou aes junto ao Conselho dos Povos Indgenas de Juta (COPIJU) e a Associao dos Produ-tores Extrativistas do Rio Juta (ASPROJU, na Reserva Extrativista Juta). No Mdio Purus, houve atividades de apoio Federao das Organizaes e Comunidades Indgenas do Mdio Purus (FOCIMP) e Associao das Mulheres Indgenas do Mdio Purus. Tais organizaes tm uma abrangncia de car-ter regional e envolvem diversas etnias. No contexto Deni, a agenda organizacional tem como beneficiria a Associao do Povo Deni do Rio Xeru (ASPODEX), organizao de car-ter local inserida nas aldeias.

    COPIJU e ASPROJU (Juta) O Projeto Al-deias promove, nas trs bacias onde atua, agendas colaborativas entre as terras indge-nas e as unidades de conservao, incentivan-do o dilogo entre as lideranas indgenas e ribeirinhos, entre as suas respectivas asso-

    Assembleia da FOCIMP, 2010.

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  • ciaes e organizaes e, inclusive, entre os rgos governamentais que as apoiam (FUNAI e ICMBio). Foi realizado o Seminrio Interfa-ces entre Terras Indgenas e Unidades de Con-servao (Juta, 29-31 agosto 2010), como plataforma de dilogo entre os Katukina, a or-ganizao indgena do municpio (COPIJU), a organizao extrativista (ASPROJU), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Secretaria de Produo (Prefeitura Municipal de Juta), representantes do Projetos Demonstrativos de Povos Indgenas (PDPI/MMA), da FUNAI, do ICMBio, de rgos e programas estaduais, como Instituto de Desenvolvimento do Ama-

    zonas (IDAM) e Programa de Desenvolto Re-gional do Alto Solimes (PRODERAM), alm de 120 representantes das comunidades ind-genas e extrativistas. O Projeto Aldeias pos-sibilitou ainda uma parceria com a empresa tica de Comrcio Justo. O seminrio serviu de ponto de partida para o estabelecimento de uma agenda ambiental municipal entre os diversos setores, focada na busca de mecanis-mos de comercializao e gerao de renda para as comunidades da regio.

    Com ASPODEX (TI Deni) Apoiamos a as-sociao Deni na construo de uma agenda e plano de vigilncia territorial, o que possibi-litou um acordo tcnico com a Coordenao Geral de Monitoramento da FUNAI em Bras-lia. Na rea de gesto organizacional, a falta de experincia dos indgenas em administra-o bsica e produo de documentos gera uma grande demanda de capacitao que fortalea sua autonomia no gerenciamento da associao. Nesta linha, foram realizados cursos de computao, que tiveram excelen-te aceitao entre os Deni participantes. O Projeto Aldeias apoiou tambm a assembleia anual da ASPODEX (6-8 agosto 2010), em que a associao, junto com os representantes de todas as aldeias, debateu suas agendas e planos de trabalho, avaliou e programou as parcerias com as entidades governamentais e no governamentais que mantm interlocu-o com os Deni.

    Com FOCIMP e AMIMP (Mdio Purus) Em 2010, o Projeto Aldeias deu suporte ao movimento indgena do Mdio Purus no seu processo organizacional, ainda em vias de consolidao, que conduziu fundao da Federao das Organizaes e Comunidades Indgenas do Mdio Purus - FOCIMP. Frente ao estrangulamento vivido pela organizao indgena no mbito da gesto do Distrito Sa-nitrio Especial Indgena (DSEI) Mdio Purus, os processos heterogneos surgidos nos diversos focos, seja nas aldeias ou nas cidades da bacia do Purus, se destacaram com notria vitalida-de. Durante meses, uma comisso indgena tinha trabalhado com o escopo de fortalecer o processo de reorganizao do movimento, enquanto simultaneamente surgiam processos localizados de organizao (em Canutama e em Tapau) ou entre alguns grupos especficos (es-tudantes indgenas, agentes indgenas de sa-de, membros da antiga organizao, etc.).

    Nos dias 21-23 de maio de 2010, cerca de

    OficinasO Projeto Aldeias promoveu junto COPIJU, ASPROJU e Associao das Mulheres Indgenas do Mdio Purus (AMIMP) em Lbrea o treinamento em gesto administrativa e financeira para as associaes. Partindo do objetivo geral de possibilitar uma melhor compreenso dos conceitos da gesto administrativa e financeira das associaes, bem como das ferramentas bsicas de controle de gesto, as capacitaes foram divididas em trs eixos: conceito de associao, controles administrativos/financeiros e prestao de contas. A metodologia utilizada partiu do conhecimento dos participantes. Foram discutidos os conceitos e prticas usadas nas organizaes e com isso realizaram-se anlises conjuntas possibilitando a visualizao de alternativas e solues para o aperfeioamento do trabalho.

    Oficinas de legislao ambiental tambm ocorreram junto COPIJU e com associaes locais das etnias Kokama, Kambeba e Tikuna, assim como com representantes dos Katukina do Bi. A capacitao de lderes e a preparao da participao de representantes indgenas nas consultas da PNGATI foi tambm facilitada pelo Projeto.

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  • 200 lideranas indgenas das etnias Apurin, Paumari, Jarawara, Jamamadi, Banawa, Deni, Mamori, Kamadeni e Katukina reuniram-se na Assembleia do Movimento Indgena reali-zada na aldeia apurin de Nova Esperana (TI Caititu, Lbrea, AM). O objetivo principal do encontro foi a reconstruo da organizao indgena regional, fragilizada aps a extino da Organizao dos Povos Indgenas do M-dio Purus (OPIMP). A expectativa de algumas regies e etnias, especialmente os Apurin de Tapau, os Banawa da cidade de Canutama, e os Apurin e Kamadeni de Pauini, manifesta-va certo descrdito em relao formao de uma organizao de tipo centralizado, focada em uma coordenao institucional estabelecida desde a cidade de Lbrea. Para harmonizar as tenses perifricas com a necessidade de uma articulao indgena regional, e para possibilitar a heterogenei-dade de processos organizacionais existen-tes nos ltimos anos, consolidou-se um mo-delo descentralizado, que acabou obtendo a adeso da plenria indgena.

    Finalmente, cabe ressaltar a componente de pesquisa desenvolvida pelo Projeto Aldeias. Alm dos estudos para manejo pesqueiro nas TIs Deni e Paumari j apresentadas, o Projeto Aldeias promoveu, junto ao Ncleo de Estudos da Amaznia Indgena (Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social, Universidade Federal do Amazonas) e outras entidades parceiras, o Seminrio Purus Ind-gena (UFAM, Manaus, 22-24 abril 2010). O encontro possibilitou o dilogo aberto entre anlises, experincias de interveno, estu-dos e testemunhos de lideranas regionais, tentando uma compreenso interdisciplinar sobre os processos da regio Purus desde a perspectiva de historiadores, eclogos, antroplogos, entidades socioambientais e lideranas regionais. O dilogo de saberes que se estabeleceu nas diversas mesas te-mticas do seminrio tentou, alm de traar um panorama regional, identificar as chaves de compreenso e as pistas de atuao em favor da sociobiodiversidade no rio Purus. Os diversos estudos apresentados no seminrio compem a publicao lbum Purus. Povos, Recursos naturais, Cultura (NEAI/PPGAS OPAN VM IIEB).

    Formao de cinegrafistas indgenas e intercmbio audiovisual

    O Projeto Aldeias desenvolve uma agenda de capacitao de cinegrafistas indgenas e de intercmbio entre povos e organizaes atravs dos recursos de comunicao audiovisual. Nas terras indgenas Katukina, Deni e Paumari, os cinegrafistas indgenas treinados participaram de oficinas de operao de cmera, som, direo de documentrios e telerreportagens. Apoiamos a produo de um documentrio dos Paumari, e produzimos vdeos sobre as aes de proteo territorial, a introduo de prticas de manejo pesqueiro e outras temticas vinculadas execuo do Projeto Aldeias. Destacam-se os vdeos: Assembleia Deni, Vigilncia na terra indgena Rio Bi, Sade indgena no Mdio Purus, Problemas ambientais da TI Caititu, Shivahani Ibura Boiadorza (Deni), Sobrevoo da Frente de Proteo de Isolados Purus, Pamoari na Cidade, assim como as vdeo-cartas de intercmbio entre os Katukina, Deni e Paumari.

    Indgenas Katukina capacitam-se em oficinas para registrar

    suas atividades.

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  • A OPAN est presente tambm nas regies noroeste e no nordeste de Mato Grosso, na rea de transio entre Amaznia e Cerrado conhecida como arco do desmatamento, cujo modelo de desenvolvimento privilegia a ex-plorao madeireira ilegal, a converso da vegetao natural em latifndios de soja e pastagens, e a concentrao fundiria. As al-tas taxas de desmatamento comprometem a qualidade dos recursos hdricos, a biodiversi-dade e a qualidade de vida de povos que tm uma relao social intensa de conservao e enriquecimento destes ambientes. O mapa de biomas e bacias hidrogrficas cruzados com as reas de desmatamento a seguir nos do uma dimenso do problema no noroeste de Mato Grosso.

    Vrios estudos do governo federal apon-tam que as reas protegidas so barreiras efi-cazes contra o desmatamento, em especial as terras indgenas. No entanto, alguns povos da regio, por falta de opes, acabam adotando modelos de desenvolvimento que ameaam sua reproduo fsica e cultural, como caso

    das reas com plantao de soja dentro de terras indgenas. Neste contexto vivem, entre outros, os povos Enawene Nawe e Manoki, com os quais a OPAN trabalhou em 2010.

    J a regio do rio Araguaia, a nordeste de Mato Grosso, uma das mais pobres e iso-ladas do estado, numa encruzilhada de am-bientes naturais Cerrado, Amaznia, zonas pantanosas e de culturas ndios Tapirap, Karaj, Xavante; quilombolas; alm de des-cendentes de nordestinos, goianos, mineiros, alemes e italianos do sul do Brasil. Nesta re-gio localizam-se 4 dos municpios que mais desmatam a Amaznia brasileira, inclusive no interior de terras indgenas. Desde 2008, a OPAN trabalha com os Xavante de Mariwat-sd. Apesar de o territrio estar homologa-do, hoje ele tomado por plantaes diversas e pastagens. Imbrglios na Justia protelam a desocupao e recuperao ambiental do territrio Xavante. Enquanto a soluo no se concretiza, este povo sofre constantes ame-aas, enfrentam incndios provocados nas suas terras e at atentados.

    Programa MTPrograma de Apoio e Fortalecimento da Organizao Indgena em Mato Grosso

    Terras Indgenas no noroeste de MT, onde a OPAN atua h mais de 30 anos.

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  • Para lidar com essas ameaas e presses contra os povos indgenas no contexto do desmatamento na Amaznia, a estratgia da OPAN visa fortalecer a gesto territorial nas reas dos Enawene Nawe, Myky, Manoki e Xa-vante de Mariwatsd, e o aprimoramento da organizao indgena atravs do Programa de Apoio e Fortalecimento da Organizao Indgena em Mato Grosso (Programa MT) cujos objetivos so:

    Gesto territorial Elaborao dos planos de gesto das ter-

    ras indgenas Manoki e Enawene Nawe;

    Construo de metodologia participativa para mapeamento de ameaas e agres-ses do entorno das terras indgenas Ma-noki e Enawene Nawe;

    Apoio produo e comercializao susten-tvel visando estruturao de cadeias de produtos da sociobiodiversidade junto aos Ma-noki, alm da segurana alimentar com o povo Xavante e o manejo sustentvel dos recursos naturais de uso tradicional com os Enawene Nawe.

    Organizao indgena Capacitao gerencial dos gestores das

    associaes indgenas Enawene, Manoki e Xavante;

    Apoio participao e realizao de fruns de articulao poltica e de controle social de polticas pblicas;

    Articulao, junto a organizaes do Movi-mento Indgena de Mato Grosso, referente ao tema Ameaas no entorno das terras indgenas.

    O Programa MT surgiu a partir da neces-sidade de integrar aes em curso desenvol-vidas pela OPAN com os Enawene Nawe, os Manoki, e os Xavante da Terra Indgena Ma-riwatsde, para fazer frente s presses do entorno que afetam a sua reproduo fsica e cultural. A estratgia objetiva o fortaleci-mento da articulao e o protagonismo in-dgena no cenrio regional valorizando seus modos de organizao social e capacitando os povos para enfrentar os desafios que in-cidem e ameaam seus modos de vida, atra-vs da qualificao das prticas de gesto de seus territrios, recursos naturais, sim-blicos e econmicos, com autonomia e de forma sustentvel.

    Grandes empreendimentos pblicos e pri-vados tm causado impactos socioambientais graves a curto, mdio e longo prazos, afetan-do as minorias tnicas e sociais do Mato Gros-so. O contexto atual direciona a atuao in-digenista para a construo de modelos que dialoguem com os desafios encarados pelas populaes indgenas, como adequao aos territrios limitados, necessidade de gerir resduos decorrentes do consumo de pro-dutos industrializados, aprimoramento dos sistemas de manejo, soberania alimentar e nutricional, entre outros. Tudo isso leva em considerao as perspectivas futuras das populaes, tendo em vista a valorizao e fortalecimento da diversidade sociocul-tural. A regio do Araguaia, por exemplo, que desde os anos 60 tem incentivo gover-namental de colonizao da Amaznia, re-tratada casos emblemticos dos problemas sociais causados pela implantao de grandes latifndios para a criao de gado extensivo, sendo que os Xavante sofreram diretamente os efeitos dessa poltica.

    A formao dos quadros indgenas tem como premissa colaborar com a organizao local tanto a tradicional quanto novas for-mas de emergentes no contexto de interao com a sociedade brasileira na busca de mo-delos que minimizem o impacto da depen-dncia econmica (com solues viveis para a questo) e que consolidem canais de inter-locuo com o Estado na formulao, estrutu-rao e controle social de polticas pblicas de seu interesse.

    Empreendimentos hidreltricos cercam terras indgenas e provocam graves consequncias socioambientais e culturais aos povos, a exemplo desta usina no rio Juruena.

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  • Os Enawene Nawe so um grupo com 600 pessoas, falantes do tronco lingustico aruaque. Seu territrio demarcado abrange cerca de 750 mil hectares em rea de transio entre o Cerrado e a Amaznia. Atualmente, eles se encontram em relativo isolamento ge-ogrfico, sendo o acesso para sua nica aldeia feito exclusivamente por via fluvial.

    O modo de produo Enawene Nawe regulado por padres prprios. O calendrio ritual organiza os plantios, as expedies de pesca e de coleta atravs de uma dinmica de ocupao espacial que lhes permite percor-rer periodicamente grande parte do territrio (tanto o demarcado quanto o no demarca-do) a fim de cumprir obrigaes domsticas voltadas para a subsistncia dos ncleos fa-miliares e de responsabilidades envolvidas no jogo de reciprocidade com os espritos.

    Mas o modelo de ocupao do entorno, com destaque para os impactos decorrentes da instalao de pequenas centrais hidrel-tricas, tem gerado inmeros desafios, desde limitaes das prticas nativas de manejo at implicaes diretas organizao social. Aps 35 anos de contato amistoso com a socie-dade nacional, os Enawene Nawe observam que preciso se capacitar e estar aptos para dialogar com as polticas pblicas voltadas ao atendimento de seus pleitos. Por isso, as aes esto pautadas na necessidade deste povo interagir de maneira protagonista com a sociedade em suas diferentes esferas de to-mada de decises, atuando na consolidao de modelos regulados pela atual poltica in-

    digenista. Para isso, eles precisam ter acesso a novos conhecimentos e correlacion-los aos seus prprios saberes.

    Principais atividades realizadas em 2010:

    Apoio participao indgena qualificada em redes e articulaes regionais, amplian-do o protagonismo dos povos indgenas no Mato Grosso. Nesse sentido, destacam-se as etapas preparatrias para participao na consulta pblica da PNGATI e eventos ligados ao tema das hidreltricas, como o seminrio Terra: Mercadoria ou vida?, realizado pelo Conselho Missionrio Indi-genista; e o seminrio Amaznia em de-bate, promovido pela Associao dos Do-centes da Universidade do Estado de Mato Grosso (ADUNEMAT).

    Parceria com a Secretaria do Estado de Educao de Mato Grosso (SEDUC) para im-plantao do projeto Formao de agentes indgenas de sade e professores Enawene Nawe no ensino fundamental pela modali-dade de Educao de Jovens e Adultos. A OPAN foi assessora do processo de formali-zao do ensino escolar atravs do apoio realizao das etapas de ensino na aldeia, ao aprendizado da lngua Enawene Nawe para qualificar a ao dos docentes, cons-truo de um modelo escolar adequado s caractersticas culturais deste povo, e na disponibilizao de infraestrutura e logsti-ca para deslocamento fluvial.

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    Mulheres Enawene Nawe fiando algodo para confeco de indumentrias.

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  • Registro do ritual

    Yakwa como Patrimnio Imaterial da Cultura Brasileira.

    Em novembro de 2010, o Conselho Deliberativo do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) aprovou o registro do ritual Yakwa como Patrimnio Imaterial da Cultura Brasileira a partir da anlise do dossi realizado por meio de um convnio entre a OPAN e o IPHAN, em 2008. O Yakwa um dos mais longos rituais indgena da Amaznia brasileira, com sete meses de durao, mas se encontra sob a ameaa das frentes de ocupao e da construo de hidreltricas no rio Juruena, que vm comprometendo a oferta de pescado, recurso central para a realizao deste ritual. Os Enawene Nawe acreditam que a nica forma de apaziguar a ira dos espritos e evitar que eles causem doenas e mortes atravs do oferecimento de peixes e bebidas.

    Mobilizao contra

    deturpaes na proposta de

    zoneamento de Mato grosso

    Em 2010, a OPAN se fez presente junto a outras organizaes sociais nas mobilizaes decorrentes da elaborao e aprovao do Projeto de Lei de Zoneamento Socioeconmico e Ecolgico de Mato Grosso (ZEE-MT), na Assembleia Legislativa. O processo de discusso e validao da proposta pela sociedade foi marcado por graves episdios de falta de transparncia e atendimento a interesses ruralistas. Quando foram iniciados os procedimentos para aprovao do texto, a OPAN e demais entidades analisaram a fundo as propostas em pauta, revelando artimanhas que beneficiavam diretamente o agronegcio, desconsideravam 20 anos de estudos tcnicos e um amplo debate junto sociedade mato-grossense nesse perodo, alm do desperdcio de milhes de reais gastos em consultorias. Entre as propostas aprovadas pela Assembleia Legislativa que motivaram manifestaes pblicas por parte da OPAN destacam-se:

    a eliminao de reas com elevado potencial florestal

    desconsiderao proteo de recursos hdricos, especialmente na regio das nascentes do Xingu e Alto Paraguai

    excluso da possibilidade de criao de unidades de conservao

    omisso necessidade de planejamento de reas de promoo da agricultura familiar, e, de modo geral, os direitos de populaes extrativistas, quilombolas e indgenas.

    Pelo menos 13 terras indgenas que esto em processo de regularizao foram retiradas sumariamente do substitutivo avalizado pelos parlamentares de Mato Grosso no dia 1 de dezembro de 2010.

    Ritual Yakwa, reconhecido como patrimnio cultural do Brasil.

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  • Os Manoki, localmente conhecidos como Irantxe, tm uma populao de cerca de 400 pessoas distribudas em sete aldeias na mar-gem direita do rio Cravari, no bioma Cerrado. Foram contactados em 1910 e hoje depen-dem de aposentadorias, programas sociais do governo, venda de artesanato, produtos do extrativismo, mel e trabalho informal em fazendas da regio como fonte de renda. Co-leta de frutos, sementes, caa, pesca e criao de animais incrementam a subsistncia deste povo. O territrio Manoki, que est em pro-cesso de ampliao para 251 mil hectares, cercado por latifndios de soja. Os ndios tm procurado alternativas a esse modelo de ocu-pao salvaguardando seu patrimnio cultu-ral e, ao mesmo tempo, acessando benefcios e conhecimentos da sociedade no indgena.

    As aes junto ao povo Manoki visam forta-lecer os saberes tradicionais e as instituies de organizao interna, construir uma rede de articulao para o aumento do protagonismo indgena no noroeste de Mato Grosso, poten-cializar a capacidade de gesto territorial e promover o desenvolvimento sustentvel na Terra Indgena Manoki.

    Principais atividades realizadas em 2010: Acompanhamento da execuo do Projeto

    Centros de Cultura Manoki, junto aos ges-tores indgenas da Associao Watoholi.

    Articulao regional e sensibilizao dos setores pblicos e privados para o reco-nhecimento das especificidades tnicas, atravs da realizao de eventos (Vdeo ndio Brasil); do apoio participao ind-gena em celebraes regionais (Dia do n-dio) e estabelecimento de dilogo com o Ministrio Pblico, por meio da comarca do municpio de Brasnorte.

    Aes de apoio estruturao da produ-o e comercializao de mel, atravs do Projeto de Gesto Ambiental no Territ-rio Indgena Manoki, um convnio entre a OPAN e o Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA). Essas aes incluem a es-truturao de um apirio-escola, a partici-pao no Congresso Brasileiro de Apicultu-ra e Feira do Mel, oficina de formao de apicultores indgenas e intercmbio para capacitao gerencial do mel.

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    Mulheres Manoki descascam mandioca para ritual.

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  • Oficina ICMS Ecolgico e Terras Indgenas

    em Mato Grosso.

    Com o objetivo de avanar na consolidao de modelos de co-gesto de recursos oriundos do ICMS Ecolgico entre prefeituras e associaes indgenas, a oficina discutiu implantao de aes sustentveis, de fiscalizao e de melhoria na qualidade de vida nas terras indgenas de Mato Grosso. O evento contou com a participao de representantes das etnias Myky, Manoki e Rikbaktsa, cujos territrios incidem sobre Brasnorte, alm do prefeito e do secretrio municipal de agricultura e meio ambiente.

    Como resultados da oficina, a prefeitura aceitou dialogar sobre uma possvel ampliao dos programas e valores que atualmente so repassados aos povos Myky, Manoki e Rikbaktsa atravs de recursos do ICMS Ecolgico. Tambm considerou criar, dentro da Secretaria de Meio Ambiente municipal, um Departamento de Assuntos Indgenas a ser coordenado por uma pessoa indicada pelos trs povos. Os indgenas ainda garantiram vagas para participao de representantes no Conselho Municipal de Meio Ambiente.

    Converso da floresta em lavoura pressiona terras indgenas.

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  • Os Xavante de Mariwatsd habitam re-as de floresta e de Cerrado na regio entre os rios Araguaia e Xingu. Eles foram contacta-dos no final da dcada de 1950, no auge das polticas de desenvolvimento da ocupao e expanso da agropecuria na Amaznia mesma poca em que foram expulsos de suas terras contra sua vontade e deportados para outras reas de Mato Grosso. Durante esse processo, muitos morreram em poucas se-manas por causa de doenas resultantes do contato.

    Aps anos de lutas, em 2004, os Xavante conseguiram retornar para o seu territrio tradicional, que quela altura j estava total-mente ocupado por no ndios, o que gera um clima permanente de tenso. Apesar de homologado desde 1998, cerca de 85% deste territrio esto ocupados por invasores que desenvolvem atividades altamente degradan-tes, como monoculturas de soja e a pecuria. Em decorrncia disto, Mariwatsd hoje a terra indgena mais devastada da Amaznia brasileira.

    Nesse contexto, as aes da OPAN jun-to aos Xavante de Mariwatsd preten-dem contribuir para a soberania alimentar do povo, a sustentabilidade dos recursos e o fortalecimento da cultura Xavante atravs do aumento da diversidade de espcies cultiva-das nas casas e nas roas tradicionais e das se-mentes armazenadas pelas famlias. Tambm so realizadas aes pela implementao de experincias pedaggicas de gesto susten-tvel dos recursos naturais (recuperao do solo, uso racional do fogo, proteo dos cur-sos hdricos, etc.), alm do fortalecimento da

    identidade e reconhecimento do territrio.

    A OPAN faz questo de estreitar laos com outras entidades que atuam na regio por meio de redes. Essas organizaes fazem par-te da Articulao Xingu Araguaia (AXA), com-posta pela Comisso Pastoral da Terra (CPT), alm da Associao de Educao e Assistncia Social Nossa Senhora da Assuno (ANSA), Instituto Socioambiental (ISA) e Associao Terra Viva (ATV). O objetivo fortalecer ex-perincias de gesto sustentvel dos recursos como alternativas ocupao territorial, dada como nica forma de desenvolvimento para a regio, baseada no plantio extensivo de soja ou na criao de gado, mas que tem se mos-trado invivel para os pequenos produtores. A cada dia, as populaes indgenas ficam mais pressionadas.

    Principais atividades realizadas em 2010: Aporte de mil mudas frutferas, 40 kg de

    sementes florestais, 42 kg de sementes anuais, 650 mudas de cana, e 300 kg de cars para o enriquecimento dos quintais, fortalecimento das roas tradicionais e so-berania alimentar;

    Intercmbio com agricultores da regio que desenvolvem projetos alternativos de gerao de renda atravs da valorizao dos produtos da floresta e do Cerrado. Eles tambm realizam o plantio consorciado de espcies (mtodos da muvuca de semen-tes e sistemas agroflorestais), atravs da Rede de Sementes do Xingu e da venda de frutas para a fabricao de polpa;

    XAVANTE

    Terra Indgena Mariwatsd teve 85% de sua rea devastada.

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  • Intercmbio com os povos Kaiabi, Juruna e Kisdj no Parque Indgena do Xingu para a troca de experincias em formas de gesto sustentvel dos recursos naturais como a produo de mel e outras experincias de manejo, incluindo o consrcio de pasto com pequi e outras espcies frutferas.

    Ritual na Terra Indgena Mariwatsd.

    Expedio ao territrio tradicional Xavante

    Apesar do alto grau de degradao da Terra Indgena Mariwatsd e da grande dificuldade de encontrar recursos alimentares tradicionais como a caa, as frutas e as razes do Cerrado, uma das mais bem sucedidas experincias do projeto em 2010 foi a organizao de uma viagem de expedio a uma rea de uso e ocupao tradicional dos Xavante. Essas expedies so hoje uma atualizao de prticas tradicionais de movimentos pelo seu territrio, essenciais para a manuteno do ethos xavante e de transmisses dos conhecimentos tradicionais desse povo, sobretudo com relao aos recursos naturais do Cerrado.

    Dinmica de desmatamento na Terra Indgena Mariwatsd (1992-2009)

    Foto: Arquivo OPAN.

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  • Convnio OPAN-FUNASAA OPAN tem tido h 11 anos forte atua-

    o junto aos povos indgenas do noroeste do Mato Grosso na ateno primria sade indgena. Nossa inteno contribuir com a implantao de modelos de ateno sade que respeitem as diferenas e possam apoiar os povos com os quais historicamente a OPAN tem compromisso direto, como Enawene Nawe, Manoki, Myky e Nambikwara.

    Em seu trabalho cotidiano, o convnio OPAN-FUNASA busca aliana e parceria com os povos indgenas visando o cumprimento das metas de sade, sem deixar de manter um vnculo especial com cada um deles. Os nmeros relativos aos ltimos 10 anos de atu-ao da OPAN na sade indgena estampam uma trajetria de sucesso que pode ser nota-da, entre outros indicadores, pelo crescimen-to populacional e no baixo nmero de bitos.

    Apesar de inmeras dificuldades pelas quais passa a sade indgena quanto infra-estrutura (manuteno de veculos, salrios congelados, falta de passagens e outros) e

    Histrico do sistema de sade indgena no Brasil

    A ateno sade indgena foi pensada para atender uma populao de cerca de 500 mil indgenas pelo governo brasileiro por meio da Fundao Nacional de Sade (FUNASA). Desde 1999, o Subsistema de Ateno Sade Indgena atua por meio de 34 Distritos Sanitrios Especiais Indgenas (DSEI). A I Conferncia Nacional de Proteo Sade do ndio, ocorrida em 1986, j previa a constituio de um sistema diferenciado de ateno sade indgena, assim com a participao efetiva dos povos em todas as instncias de formulao, implementao e gesto do novo sistema. A II Conferncia Nacional, em 1993, definiu os princpios e diretrizes da poltica indgena de sade. Outras conferncias (2001/2006)

    j avaliaram a implementao dos distritos em todo o Brasil com significativa participao dos conselhos indgenas e de todos os colaboradores nacionais chamados pela FUNASA para assumir atividades previstas pela Lei Arouca, de 1999.

    No final de 2010, o governo assinou uma portaria criando a Secretaria de Sade Indgena (SESAI), ligada diretamente ao Ministrio da Sade. Vive-se ainda um momento de transio entre a FUNASA e a SESAI . Atendendo a pedidos dos Enawene nawe, Myky e Manoki, a OPAN deliberou por colaborar por mais um ao com a SESAI at que efetivamente a secretaria possa assumir as obrigaes de Estado.

    Profissional de sade atende criana Enawene Nawe.

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  • operao no pas, a atuao da OPAN se di-ferencia pela ao comprometida dos profis-sionais. Eles, em especial, e os indigenistas membros da OPAN, tm sido determinantes para dar suporte s equipes que trabalham no convnio com a FUNASA.

    Seminrio Sade e Bem Viver

    Em outubro de 2010 aconteceu na al-deia Cravari, na Terra Indgena Manoki, o seminrio Sade e Bem Viver, organizado pela OPAN com o objetivo de discutir riscos sade da populao indgena do noroeste de Mato Grosso. Participaram integrantes da Coordenao Regional da FUNASA, chefe do DSEI Cuiab, profissionais de sade, repre-

    sentantes do controle social dos DSEI Cuiab e Vilhena (RO), Ministrio Pblico Federal, Fu-nai, lideranas das etnias Apiak, Myky, Mun-duruku, Kayabi, Rikbaktsa, Enawene Nawe, Manoki e das entidades conveniadas com a FUNASA, Halitin e UFMT (Sade Coletiva).

    Durante o evento, foi apresentada a pes-quisa realizada pela Fundao Osvaldo Cruz (FIOCRUZ) sobre as mudanas dos hbitos ali-mentares que esto levando para as aldeias doenas como diabetes e hipertenso. Essa situao pode ser observada entre os povos Myky e Irantxe/Manoki, que mantm maior contato com a sociedade envolvente e se uti-lizam quase que cotidianamente de alimen-tos industrializados como arroz e leo de soja em substituio alimentao tradicional.

    Comparativo de bitos dos povos Myky, Irantxe e Enawene Nawe (Fonte: OPAN)

    Comparativo do crescimento Populacional dos povos Myky, Irantxe e Enawene Nawe (Fonte: OPAN)

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  • Um agravante tambm a diminuio das atividades fsicas na roa tradicional, uma vez que conseguem comprar comida nos merca-dos das cidades mais prximas. No caso dos Enawene Nawe, cujo contato com as cidades menos intenso e por consumirem predomi-nantemente a alimentao tradicional, no h casos registrados de diabetes, hipertenso e comprometimentos cardiorrespiratrios.

    Ainda no seminrio, o professor Wander-ley Pignati, da rea de Sade Coletiva da Uni-versidade Federal de Mato Grosso (UFMT), mostrou quais so os impactos da agricul-tura mecanizada, ancorada no uso intenso de agrotxicos, gerando consequncias di-retas sade das populaes. Nelson Rik-baktsa, um abnegado profissional indgena desde os anos 90, resumiu as consideraes dos representantes indgenas presentes no seminrio lembrando de histrias antigas. Sade no o que vem de fora, mas o que brota da terra. E reiterou ainda que sade roa, amorosidade, unio, boa alimentao e a cultura de cada povo vivida no dia a dia e atravs dos rituais.

    No final do evento, um documento foi en-caminhado para as autoridades de sade e Ministrio Pblico Federal, explicitando as reivindicaes dos indgenas:

    Participao do rgo gestor da sade in-dgena nos processos de licenciamento de empreendimentos, com ateno especial

    para os impactos das obras na sade dos povos atingidos;

    Integrao da poltica de sade a outras polticas desenvolvidas com cada povo;

    Estabelecimento de sistema permanente de vigilncia em sade (sanitria, ambien-tal e epidemiolgica) dos territrios indge-nas por parte da SESAI;

    A OPAN mantm um banco de dados com registro de atendimentos a todos os indge-nas, desde o nascimento. Esse acompanha-mento gera relatrios especficos que devem sempre orientar as polticas de sade.

    Entre as atividades rotineiras que a OPAN desenvolveu em 2010, destacamos:

    vacinao nas populaes indgenas, alm das campanhas contra a poliomielite e gripe para idosos;

    consultas mensais de pr-natal em todas as gestantes nas aldeias e pelo menos quatro exames mdico-laboratoriais em mulheres grvidas das etnias Myky e Manoki. As Enawene Nawe normalmente no saem da aldeia e o acompanhamento feito em rea. Todos os partos realizados so tradicionais;

    Doenas crnicas - Comparativos entre os povos (Fonte: OPAN)

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  • coleta anual do exame preventivo ginecolgico Papanicolau (PCCU) em todas as mulheres em idade frtil, exceto nas Enawene Nawe, que no aceitam o procedimento por questes culturais.

    identificao e tratamento em casos de DST/AIDS, leishmaniose, malria, pacientes com transtornos mentais, hipertensos, diabticos, tuberculosos;

    identificao de uso abusivo do lcool, oferecendo tratamento aos que aceitam;

    tratamentos odontolgicos;

    escovao supervisionada semanal nas aldeias;

    aplicao de flor em maiores de 4 anos;

    acompanhamento mensal do estado nutricional das gestantes e de crianas menores de 5 anos;

    monitoramento bimestral do estado nutricional dos idosos.

    Atuao da OPAN no FORMAD

    A OPAN faz parte da coordenao executiva do Frum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD), entidade que rene cerca de 30 organizaes sociais e ambientais do estado. Em 2010, a maioria das aes do frum foi centrada no fortalecimento da sua gesto interna. Ocorreram, por exemplo, oficinas voltadas construo de planos estratgicos, a fim de potencializar seu papel no monitoramento e interveno nas polticas pblicas socioambientais em Mato Grosso. Uma delas resultou na elaborao de um projeto para a Oxfam/Novib relacionado ao acompanhamento dos impactos da produo de agrocombustveis a partir de soja e cana no estado. Outra conquista foi a aprovao do Projeto Novo Trinio 2010-2012 pela Misereor.

    Tudo isso favorece insero do FORMAD no cenrio poltico de modo mais orgnico, planejado, orientado e fortalecido.

    Entre outros compromissos, o FORMAD firmou parceria com a Associao dos Docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso (ADUNEMAT) para a realizao do Seminrio Sinop Amaznia em Debate: compromissos das universidades pblicas e movimentos sociais, com a participao de 300 pessoas. A partir deste evento foi criado o Frum Teles Pires Vivo, interessado em problematizar o complexo hidreltrico na Amaznia. No ZSEE-MT, houve uma fuso com o Grupo de Trabalho de Mobilizao Social (GTMS), descentralizando as iniciativas de mobilizao e monitoramento deste tema em questo.

    Auxiliar de enfermagem indgena conferindo temperatura das doses de vacina.

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  • O ano de 2010 foi decisivo para uma guina-da da OPAN em direo ao seu engajamento institucional na temtica de mudanas clim-ticas. A instituio teve oportunidade de par-ticipar ativamente em vrios cursos e fruns de discusso e ainda apoiamos a realizao de oficinas com o povo Rikbaktsa para consulta sobre mecanismos de projetos de Reduo de Emisses por Desmatamento e Degradao com salvaguardas socioambientais (REDD+).

    Em 2009, a Lei n 9.111 criou o Frum de Mudanas Climticas (FMC) em Mato Grosso, tendo entre seus objetivos mobilizar e cons-cientizar a sociedade. Como membro deste frum, a OPAN passou a participar ativamen-te do grupo de trabalho (GT) REDD+, que con-duziu uma programao sobre o tema, como o seminrio tcnico em maio em Cuiab, para colher subsdios para a construo do marco legal no estado.

    Em junho de 2010, a OPAN participou de um curso introdutrio sobre REDD+, organiza-do pela The Nature Conservancy (TNC); e em setembro do encontro sobre mudanas clim-

    ticas e REDD+, promovido pela TNC, Coopera-o Alem (GTZ) e Conservao Internacional (CI) e que contou com quatro participantes Rikbaktsa. O GT REDD+ dedicou-se discus-so e formatao da Minuta de Lei Estadual que regulamentar a futura aplicao dos me-canismos de REDD em Mato Grosso. Este GT ainda dialogou com o Projeto de Lei No. 5.589 de 2009, que tramitava no Congresso Nacio-nal, para a criao de um marco legal federal.

    A convite do Instituto Centro de Vida (ICV), desde 2009, a OPAN se integrou ao Consr-cio Noroeste de REDD no municpio de Co-triguau, organizando oficinas de mudanas climticas e REDD+ com o povo Rikbaktsa. A demora na definio de um marco legal e as incertezas sobre sua implementao criaram um clima adverso continuidade destas ofi-cinas. A expectativa por parte dos Rikbaktsa de que j havia recursos de carbono colocou em questo o papel da OPAN no consrcio. As oficinas foram ento suspensas, atendendo a uma deciso dos caciques e da Associao In-dgena Rikbaktsa (ASIRIK).

    Engajamento nas discusses sobre mudanas climticas

    OPAN se envolveu mais ativamente em 2010 com as discusses sobre mudanas climticas.

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  • De forma concomitante, em nvel nacional, constituiu-se um GT de REDD+ com o prota-gonismo da Coordenao das Organizaes Indgenas da Amaznia Brasileira (COIAB) e da FUNAI, alm de um conjunto de entidades (TNC, CI, GTZ, OPAN, Instituto Socioambiental - ISA, WWF). Este GT se dedicou a estabelecer metodologias para os cursos de mudanas cli-mticas para lideranas indgenas. Diante de muitos contratos para negociao de crditos de carbono lesivos s comunidades, a FUNAI props medidas de cautela e recentemente editou diretrizes para a abordagem dos me-canismos de REDD na publicao Dilogos interculturais: povos indgenas, mudanas cli-mticas e REDD.

    Alm disso, o Ministrio do Meio Ambien-te (MMA) montou GTs para tratar da Estrat-gia Nacional de REDD+. O grupo multissetorial foi formado para dar suporte ao Executivo no dilogo com a Cmara Federal, onde estava em fase final de tramitao o Projeto de Lei No. 5.589 de 2009. Este processo contou com a participao de cerca de 200 pessoas de diferentes instituies dos setores pblico, privado, organizaes ambientalistas, repre-sentantes de povos indgenas e comunidades tradicionais, divididos em sub-grupos. Esses passaram a lidar com arranjos institucionais, princpios e critrios para gerao e reparti-o de benefcios, alm de dominialidade, fontes de recursos e mecanismos financeiros.

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    Este processo contou com a participao de cerca de 200 pessoas de diferentes instituies dos setores pblico, privado, organizaes ambientalistas, representantes de povos indgenas e comunidades tradicionais, divididos em sub-grupos.

  • Gesto financeiraFinanciadores das atividades da OPAN em 2010

    No quadro a seguir, apresentamos a relao das fontes de recursos de 2010, com as respectivas percentagens, perfazendo um total de R$ 4.129.087,45.

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  • ICV/Packard Foundation disponibilizaram recursos para a componente indgena do Piloto REDD Noroeste.

    A Embaixada Real da Noruega disponibilizou recursos para o Programa Mato Grosso, para as atividades da Coordenao Executiva e a manuteno da sede em Cuiab.

    A Agncia de Desenvolvimento da Igreja Catlica Alem (Misereor) apoiou um programa com o povo Manoki e atividades de secretaria e monitoramento de polticas socioambientais do FORMAD.

    O Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) apoiou os Manoki em atividades de apicultura.

    O Convnio OPAN/FUNASA e SAS-Brasnorte sustentaram o atendimento sade dos povos Myky, Manoki e Enawene Nawe no Polo Brasnorte.

    A USAID (Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) apoia o Projeto Aldeias Conservao na Amaznia Indgena, iniciativa de conservao da biodiversidade integrada na rede de parceiros do Programa Meio Ambiente USAID Brasil.

    A ANSA/Burgos proporcionou recursos para o Fortalecimento da segurana alimentar e apoio ao banco gentico da agricultura AUwe Maraiwatsede.

    Viso Mundial parceira da OPAN no Consrcio Aldeias, e nele desenvolve aes de promoo de direitos e de fortalecimento das organizaes indgenas nas regies dos rios Purus, Juru e Juta.

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  • Equipe 2010Diretoria

    Presidente Rinaldo Arruda

    Secretrio Pedro Henrique Passos

    Tesoureira Andrea Jakubaszko

    Coordenao

    Coordenador geralIvar Luiz Vendruscolo Busatto

    Coordenador financeiro Marcelo Moreira

    Coordenadora tcnica Lola Campos

    Programa Mato Grosso

    Equipe indigenista XavanteCarolina Delgado de Carvalho Marcos de Miranda Ramires

    Equipe indigenista ManokiAndr Lopes

    Debora Duran

    Equipe indigenista Enawene Nawe Fausto CampoliJuliana Almeida

    Responsvel pelo Programa de REDD+

    Ivo Schroeder

    Secretria-executiva do FORMAD

    Adriana Werneck Regina

    Projeto AldeiasGestor

    Miguel Aparicio Surez

    Coordenao de CampoFernando Penna

    Administrao Rochele Fiorini

    Fernanda Oliveira

    Equipe na TI KatukinaMyrian Barboza

    Diogo Carneiro

    Equipe na TI DeniEdemar TreuherzRicardo Carvalho

    Equipe nas TIs PaumariGustavo SilveiraRenata Apoloni

    Priscila Miorando

    Equipe Frente Purus de IsoladosMarcelino Soyinka

    Danilo Clemente PintosAntnio Moiss

    Jos Faustino MaiaRoglio Alves

    Francisco MarquesRaimundo Macrio

    Tcnico em Manejo pesqueiro Sade Barbosa

    Comunicao AudiovisualSrgio Lobato

    LogsticaCarlos Arajo

    Antnio das Chagas de PaulaLeopoldo Barbosa Neto

    Convnio OPAN-FUNASAEquIPE DE REA

    Adriana da Silva Barbosa; Aldenisa Carneiro da Silva; Ameiro Yokwariene Kaholase Enawene; Catarina Lourdes; Claudinei Santana; Cleonice Nasi Irantxe; Daliyamase Enawene;

    Dalokwalise Enawene; Denise Cristina Stocker; Elizete Jemusi; Fernanda Delfino Miranda; Gerson Garcia Quenzo; Gonalo Agostinho dos Santos; Jos Gabriel Warakuxi Awrakira;

    Kamunu Myky; Kamuu Myky; Kiwuxi Myky; Lucimar Kamusi Wazeragyra; Luiz Antonio de Almeida; Marco Tetsuo Fumoto; Marcos Messias da Silva;

    Maria Angelina Kamunstsi; Maria de Fatima Naasi; Maria Izabel Naasi; Romildo Orenaezokae; Rosa Marlene Correia; Sandrelina de Oliveira Silva; Solano da Silva Angelo; Warakuxi Myky;

    Wemerson Rezende da Silva; Zilmar Candido da Silva; Kanwarikwa Marikerosene Kayroli; Soeli Weiss; Tania Lima Alvarenga; Timi Towairioene Enawene; Wilma Pereira do Prado;

    EquIPE ADMINISTRATIvA (CuIAB E POlO BRASNORTE) Alerson Luiz Wagner; Ana Carla; Angelita Deraldina Mozer; Cleacir Alencar S;

    Deonzia Rosa da Silva Jesus; Fernanda Dias Pessoa; Ivar Luiz Vendruscolo Busatto; Lurdite Rodrigues de Freitas; Maria Aparecida de Freitas; Simone Silva e Silva;

    TERCERIZADOS/APOIO EquIPE DE REA Ivar Tapur; Loureno Inacio Janaxi.

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  • Financiadores

    Lista dos parceiros institucionais da OPAN em 2010

    Associao de Educao e Assistncia Social Nossa Senhora da Assuno (ANSA)

    Conselho dos Povos Indgenas de Juta (COPIJU)

    Coordenao de ndios Isolados FUNAI-CGIIRC

    Federao das Organizaes e Comunidades Indgenas do Mdio Purus (FOCIMP)

    Instituto Centro de Vida (ICV)

    Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN)

    Instituto Internacional de Educao do Brasil (IEB)

    Instituto Maiwu

    NEAI- UFAM

    Rede de Sementes do Xingu

    Secretaria de Estado de Educao de Mato Grosso (SEDUC-MT)

    Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

    Superintendncia de Assuntos Indgenas de Mato Grosso

    Survival International

    Takin

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