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Page 1: Onde estão as Moedas - Joan Garriga Bacardí
Page 2: Onde estão as Moedas - Joan Garriga Bacardí

Onde estão as Moedas?Um Conto de Nossos Pais

Traduzido do Original

¿Dónde están las Monedas? – El Cuento de Nuestros Padres

de

Joan Garrida Bacardípor

Carlos Alberto de França Rebouças Junior

Em uma noite qualquer, uma pessoa, da qual não sabemos se é um homem ou uma mulher, teve um sonho. É um sonho que todos temos alguma vez. Esta pessoa sonhou que em suas mãos recebia umas quantas moedas de seus pais. Não sabemos se eram muitas ou poucas, se eram milhares, centenas, uma dezena ou até menos. Tampouco sabemos de que metal eram feitas, se eram de ouro, prata, bronze ou mesmo de barro.

No momento em que sonhava que seus pais lhe entregavam estas moedas, sentiu espontaneamente um calor em seu peito. Percebeu-se invadida por um alvoroço sereno e alegre. Estava contente, se encheu de ternura e dormiu placidamente o resto da noite.

Quando despertou na manhã seguinte a sensação de placidez e satisfação persistia. Então, decidiu caminhar até a casa de seus pais. E, quando chegou, olhando-os nos olhos, lhes disse:

- Esta noite vieram em sonhos e me deram umas quantas moedas em minha mãos. Não recordo se eram muitas ou poucas. Tampouco sei de que metal eram feitas, se eram de um metal precioso ou não. Mas não importa, porque me sinto plena e contente. E tenho que dizer-lhes obrigada, são suficientes, são as moedas que necessito e as que mereço. Assim, as tomo com gosto porque vem de vocês. Com elas serei capaz de percorrer meu próprio caminho.

Ao ouvir isto, os pais, que como todos os pais se engrandecem através do reconhecimento de seus filhos, sentiram-se ainda maiores e generosos. Em seu interior sentiram que ainda podiam seguir dando a seu filho, porque a capacidade de receber amplifica a grandeza e o desejo de dar. Assim, disseram:

- Já que és tão bom filho podes ficar com todas as moedas, pois te pertencem. Podes gastá-las como quiseres e não é necessário que no-las devolvas. São teu legado, único e pessoal. São para ti.

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Então este filho se sentiu também grande e pleno. Percebeu-se completo e rico e pôde deixar em paz a casa de seus pais. À medida que partia seus pés apoiavam-se firmes sobre a terra e andava com força. Seu corpo também estava bem assentado na terra e ante seus olhos se abria um caminho e um horizonte de esperanças.

Enquanto percorria o caminho da vida, encontrou diversas pessoas com as quais caminhava lado a lado. Se acompanhavam durante um trecho, às vezes mais largo ou mais curto, outras vezes estavam com ele durante toda a vida. Eram seus sócios, seus amigos, parceiros, vizinhos, companheiros, colaboradores e até seus adversários. Em geral, o caminho resultava sereno, prazeroso, em sintonia com seu espírito e sua natureza pessoal. Tampouco estava isento dos pesares naturais que a vida impõe. Era o caminho de sua vida.

De vez em quando esta pessoa voltava a vista para trás até seus pais e recordava com gratidão as moedas recebidas. E quando observava o transcurso de sua vida, olhava para seus filhos e recordava tudo o que conquistara no âmbito pessoal, familiar, profissional, social ou espiritual, aparecia a imagem de seus pais e se dava conta de que tudo aquilo havia sido possível graças ao que recebera deles e que com seu êxito e logros lhes honrava.

Dizia a si mesmo: “Não há melhor fertilizante que as próprias origens”, e então se peito se envolvia com a mesma sensação expansiva que lhe havia inundado na noite que sonhou que recebia as moedas.

Sem embargo, em outra noite qualquer, outra pessoa teve o mesmo sonho, já que cedo ou tarde todos chegamos a ter esse sonho. Vinham seus pais e em suas mãos entregavam umas quantas moedas. Neste caso tampouco sabemos se eram muitas ou poucas, se eram milhares, centenas, uma dezena ou ainda menos. Não sabemos de que metal eram feitas, se de ouro, prata, bronze, ferro ou mesmo de barro...

Ao sonhar que recebia em suas mãos as moedas de seus pais sentiu espontaneamente um pontada de incômodo. A pessoa sentiu-se invadida por uma amarga inquietude, por uma sensação de tormento no peito e um lacerante mal estar. Dormiu cheia de agitação e revolvia-se encrespada entre os lençóis.

Ao despertar, ainda agitada, sentia um fastio que parecia fastio e enjoo, mas que também tinha algo de queixa e ressentimento.

Certamente o que mais reinava era a confusão e sua cara era o rosto do sofrimento e da inconformação. Cheia de fúria e com uma pitada de vergonha, decidiu caminhar até a casa de seus pais.

Ao chegar ali, olhando-os se soslaio lhes disse:

- Esta noite me vocês me vieram em sonho e me deram umas quantas moedas. Não sei se eram muitas ou poucas. Também não sei de que metal eram feitas,

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se eram de metal precioso ou não. Não importa porque sinto-me vazia, lastimada e ferida. Venho dizer-lhes que suas moedas não são boas nem suficientes. Não são as moedas que necessito nem são as que mereço nem as que me correspondem. Assim, não as quero e não as tomo, ainda que procedam de vocês e me cheguem por seu intermédio. Com elas meu caminho seria demasiado triste de percorrer e não lograria ir longe. Seguirei sem vossas moedas.

E os pais, como todos os pais, sentem-se diminuídos e sofrem quando não tem o reconhecimento de seus filhos, e ainda sentem-se menores. Retiraram-se, diminuídos e tristes, ao interior da casa. Inquietos e aflitos compreenderam que podiam dar menos a esse filho, porque ante a dificuldade de tomar e receber, a grandeza e o desejo de dar se fazem pequenos e enfraquecem. Guardaram silêncio, confiando que, com o passar do tempo e a sabedoria que traz consigo a vida, quiçá pudessem chegar a orientar os rumos frustrados do filho.

É estranho o que ocorreu a seguir. Após haver pronunciado essas palavras diante dos pais em resposta a seu sonho, este filho sentiu-se impetuosamente forte, mais forte que nunca. Tratava-se de uma força extraordinária.

Havia encarnado nele a força feroz, obstinada e hercúlea que surge da oposição aos feitos e às pessoas. Não era uma força genuína e autêntica como a que resulta da aprovação aos feitos e que está em consonância com as vicissitudes da vida, mas a força era intensa.

Sem nenhuma serenidade interior, aquela pessoa abandonou a casa dos pais dizendo a si mesma:

- Nunca mais.

Impetuosamente forte, mas também vazia, órfã e necessitada, ainda que quisesse e desejasse, não lograva alcançar a paz.

À medida que a pessoa afastava-se da casa de seus pais sentia que seus pés se elevavam alguns centímetros acima da terra e que seu corpo, um tanto flutuante, não podia cair-se no próprio peso real. Mas o mais relevante ocorria em seus olhos: os abria de uma maneira tão particular que parecia que olhava sempre o mesmo, um horizonte fixo e estático.

A pessoa desenvolveu uma sensibilidade especial. Assim, quando encontrava alguém ao longo do caminho, sobretudo se era do sexo oposto, esta sensibilidade esta sensibilidade fazia com que contemplasse com uma enorme esperança, o que, sem dar-se conta, lhe levava a perguntar-se:

- Será esta pessoa a que tem as moedas que mereço, necessito e me correspondem, as moedas que não tomei de meus pais porque não souberam dar-me de maneira justa e conveniente? Será essa pessoa que tem aquilo que mereço?

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Se a resposta que dava a si mesma era afirmativa, resultava fantástico. A isto alguns denominavam enamoramento. Nesses momentos sentia que tudo era maravilhoso.

Não obstante, quando o enamoramento acabava convertendo-se em uma relação e a relação durava o suficiente, a pessoa geralmente descobria que o outro não tinha o que lhe faltava, aquelas moedas que não havia tomado de seus pais.

- Que pena!, dizia e se queixava amargamente de sua má sorte, culpando seu destino.

A isto alguns chamam de desengano e esta pessoa se sentia submetida a um tormento emocional que tomava forma de desespero, inquietude, crise, turbulência, enfado frustração...

Por sorte ou não, neste momento podia estar esperando um filho, e sua inquietude tornava-se mais doce e esperançosa, mais controlada.

Então a pergunta voltava ao seu inconsciente:

- Será este filho que espero também amado, quem tem as moedas que mereço, que necessito e me correspondem e que não tomei de meus pais porque não souberam me dar de maneira justa e conveniente? Será este ser o que tem aquilo que mereço?

Enquanto contestava, era maravilhoso, formidável e começava a sentir um vínculo especial com este filho, um vínculo assombroso, muito estreito, pleno de expectativas e anseios.

Mas, se passa tempo suficiente, a maioria dos filhos deseja ter sua própria vida e sabem que possuem propósitos de vida próprios e independentes de seus pais. Então, ainda que amem a seus pais e desejem fazer o melhor para eles, a pressão de ter vida própria resulta exigente, imperiosa, e tão arrasadora quanto a sexualidade.

Assim é como, de novo, esta pessoa compreende um dia que tampouco seu filho tem as moedas que necessita, merece e lhe correspondem. Sentindo-se mais vazia, órfã e desorientada que nunca entra em crise e desespero. Enferma. Agora tem entre 40 e 50 anos, a fase média da vida. Agora nenhum argumento já a sustenta, nenhuma razão a acalma. É seu «cata-crac»1 e grita:

- AJUDA!!!!

Há tanta urgência em seu tom de voz! Seu rosto está tão desfigurado! Nada a acalma, nada pode sustentá-la.

E, o que fazer?

Vai ao terapeuta.

1 Onomatopéia, significando o som de objetos a se quebrarem.

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O terapeuta prontamente a recebe, olha-a profunda e pausadamente e lhe diz:

- Não tenho as moedas.

Há duas classes de terapeutas, os que pensam que tem as moedas e os que sabem que não as tem.

O terapeuta viu em seus olhos que segue buscando as moedas no lugar errado e que lhe encanta equivocar-se de novo. O terapeuta sabe que as pessoas querem mudar, mas lhes custa dar o braço a torcer, não tanto por dignidade, mas por teimosia e hábito.

Ele pensa: «Amo e respeito melhor meus pacientes quando também posso fazê-lo por seus pais e com sua realidade tal como é. Ajudo-os quando sou amigo das moedas que lhes tocam, sejam quais forem».

O terapeuta acrescenta: «Eu não tenho as moedas, mas sei onde estão e podemos trabalhar juntos, para que também tu descubras onde estão, como ir a elas e tomá-las».

Então o terapeuta trabalha com a pessoa e lhe ensina que durante muitos anos há tido um problema de visão, um problema ótico, um problema de perspectiva. Há tido dificuldades para ver claramente. Só se trata disso.

O terapeuta lhe ajuda a reenfocar e a modular seu olhar, a perceber a realidade de outra maneira, de uma desde uma perspectiva mais clara, mais centrada e mais aberta aos propósitos da vida. Uma maneira menos dependente dos desejos pessoais do pequeno eu que trata de nos governar.

Um dia, enquanto esperava sua paciente, o terapeuta pensa que está preparada e que deve dizer-lhe, por fim e claramente, onde estão as moedas.

E neste mesmo dia, como por magia, chega a paciente. Tem outro tom de pele, as feições de seu rosto estão mais suaves e compartilha sua descoberta:

- Sei onde estão as moedas. Continuam com meus pais.

Primeiro soluça, logo chora abertamente. Depois surge o alívio, a paz e a sensação de calor no peito. Finalmente!

Durante o trabalho terapêutico atravessou as purulências de suas feridas, amadureceu em seu processo emocional e deu novo foco à sua visão. Agora dirige-se novamente, como fez muitos anos atrás, à casa de seus pais.

Olha-os nos olhos e lhes diz:

- Vim dizer-lhes que estes últimos dez, vinte ou trinta anos de minha vida tive um problema de visão, uma complicação ótica. Não via claramente e sinto muito. Agora posso ver e venho dizer-lhes que aquelas moedas que recebi de vocês em sonhos são as melhores moedas possíveis para mim. São suficientes e são as moedas que me correspondem. São as moedas que mereço e as adequadas para que possa seguir. Venho agradecer-lhes. As tomo com gosto porque vem de vocês e com elas posso seguir andando meu próprio caminho.

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Os pais, que como todos os pais se engrandecem através do reconhecimento de sues filhos, voltam a florescer e o amor e a generosidade fluem de novo com facilidade. Assim o filho agora é plenamente filho, porque pode tomar e receber.

Os pais olham-no sorridentes, com ternura, e respondem:

- Já que és tão bom filho, podes ficar com todas as moedas, já que te pertencem. Podes gastá-las como quiseres e não é necessário que no-las devolvas. São teu legado, único, próprio e pessoal, para ti. Podes ter uma vida plena.

Agora este filho se sente também grande e pleno. Se apercebe completo e rico e pode, por fim, deixar a casa de seus pais com paz. À medida que afasta-se sente seus pés firmes pisando o solo com força, seu corpo também está assentado na terra e seus olhos olham para um caminho claro e um horizonte esperançoso.

Resulta estranho: perdeu aquela força impetuosa que se nutria do ressentimento, do vitimismo ou do excesso de conformismo. Agora tem uma força simples e tranquila, uma força natural.

Percorrendo o caminho de sua vida encontrava pessoas com as quais caminhava lado a lado, como acompanhantes, durante um trecho, às vezes longo, às vezes curto, às vezes durante toda a vida. Sócios, amigos, parceiros, vizinhos, companheiros, colaboradores, e até adversários. Em geral tratava-se de um caminho sereno, gozoso, em sintonia com seu espírito e com sua natureza pessoal. Tampouco estava isento de seus pesares naturais que a vida impõe. Era o caminho de sua vida.

Um dia aproximou-se da pessoa por quem se enamorou pensando que tinha lãs moedas e também lhe disse:

- Durante muito tempo tive um problema de visão e agora que vejo claro te digo: «Sinto muito! Foi demais o que esperei. Foram demasiadas minhas expectativas e sei que isto foi uma carga demasiado grande para ti e agora o assumo. Me dou conta e te libero. Assim, o amor que nós tivemos pode seguir fluindo. Obrigada. Agora tenho minhas próprias moedas».

Um outro dia vai a seus filhos e lhes diz:

- Podem tomar todas as moedas de mim, porque sou rico e completo. Agora já tomei as moedas de meus pais.

Então os filhos se tranquilizam e fazem-se pequenos em respeito a ele e estão livres para seguirem seus próprios caminhos, tomando suas próprias moedas.

Ao final de seu caminho se senta e olha mais além ainda. Faz uma revista à vida vivida, ao amado e ao sofrido, ao construído e ao maltratado. A tudo e a todos logra dar um bom lugar em sua alma. Acolhe-os com doçura e pensa:

- Tudo na vida tem seu momento: o momento de chegar, o momento de permanecer e o momento de partir. Uma metade da vida é para subir a

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montanha e gritar aos quatro ventos: «Existo». E a outra metade é para a descida até o luminoso nada, onde tudo é desapegar-se, alegrar-se e celebrar.

A vida tem seus assuntos e seus ritmos sem deixar de ser o sonho que sonhamos.

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¿Dónde están las Monedas?El Cuento de Nuestros Padres

Joan Garriga Bacardí

En una noche cualquiera, una persona, de la que no sabemos si es un hombre o una mujer, tuvo un sueño. Es un sueño que todos tenemos alguna vez. Esta persona soñó que en sus manos recibía unas cuantas monedas de sus padres. No sabemos si eran muchas o pocas, si eran miles, cientos, una docena o aún menos. Tampoco sabemos de qué metal estaban hechas, si eran de oro, plata, bronce, hierro o quizá de barro.

Mientras soñaba que sus padres le entregaban estas monedas, sintió espontáneamente una sensación de calor en su pecho. Quedó invadida por un alborozo sereno y alegre. Estaba contenta, se llenó de ternura y durmió plácidamente el resto de la noche.

Cuando despertó a la mañana siguiente, la sensación de placidez y satisfacción persistía. Entonces, decidió caminar hacia la casa de sus padres. Y, cuando llegó, mirándolos a los ojos, les dijo:

— Esta noche habéis venido en sueños y me habéis dado unas cuantas monedas en mis manos. No recuerdo si eran muchas o pocas. Tampoco sé de qué metal estaban hechas, si eran monedas de un metal precioso o no. Pero no importa, porque me siento plena y contenta. Y vengo a deciros gracias, son suficientes, son las monedas que necesito y las que merezco. Así que las tomo con gusto porque vienen de vosotros. Con ellas seré capaz de recorrer mi propio camino.

Al oír esto, los padres, que como todos los padres se engrandecen a través del reconocimiento de sus hijos, se sintieron aún más grandes y generosos. En su interior sintieron que aún podían seguir dando a su hijo, porque la capacidad de recibir amplifica la grandeza y el deseo de dar. Así, dijeron:

— Ya que eres tan buen hijo puedes quedarte con todas las monedas, puesto que te pertenecen. Puedes gastarlas como quieras y no es necesario que nos las devuelvas. Son tu legado, único y personal. Son para ti.

Entonces este hijo se sintió también grande y pleno. Se percibió completo y rico y pudo dejar en paz la casa de sus padres. A medida que se alejaba, sus pies se apoyaban firmes sobre la tierra y andaba con fuerza. Su cuerpo también estaba bien asentado en la tierra y ante sus ojos se abría un camino claro y un horizonte esperanzador.

Mientras recorría el camino de la vida, encontró distintas personas con las que caminaba lado a lado. Se acompañaban durante un trecho, a veces más largo o más corto, otras veces estaban con él durante toda la vida. Eran sus socios, sus amigos, parejas, vecinos, compañeros, colaboradores e incluso

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sus adversarios. En general, el camino resultaba sereno, gozoso, en sintonía con su espíritu y su naturaleza personal. Tampoco estaba exento de los pesares naturales que la vida impone. Era el camino de su vida.

De vez en cuando esta persona volvía la vista atrás hacia sus padres y recordaba con gratitud las monedas recibidas. Y cuando observaba el transcurso de su vida, miraba a sus hijos o recordaba todo lo conseguido en el ámbito personal, familiar, profesional, social o espiritual, aparecía la imagen de sus padres y se daba cuenta de que todo aquello había sido posible gracias a lo recibido de ellos y que con su éxito y logros les honraba.

Se decía a sí mismo: «No hay mejor fertilizante que los propios orígenes», y entonces su pecho volvía a llenarse con la misma sensación expansiva que le había embargado la noche que soñó que recibía las monedas.

Sin embargo, en otra noche cualquiera, otra persona tuvo el mismo sueño, ya que tarde o temprano todos llegamos a tener este sueño. Venían sus padres y en sus manos le entregaban unas cuantas monedas. En este caso tampoco sabemos si eran muchas o pocas, si eran miles, unos cientos, una docena o aún menos. No sabemos de qué metal estaban hechas, si de oro, plata, bronce, hierro o quizás de barro…

Al soñar que recibía en sus manos las monedas de sus padres sintió espontáneamente un pellizco de incomodidad. La persona quedó invadida por una agria inquietud, por una sensación de tormento en el pecho y un lacerante malestar. Durmió llena de agitación lo que quedaba de noche mientras se revolvía encrespada entre las sábanas.

Al despertar, aún agitada, sentía un fastidio que parecía enfado y enojo, pero que también tenía algo de queja y resentimiento. Quizá lo que más reinaba en ella era la confusión y su cara era el rostro del sufrimiento y de la disconformidad. Llena de furia y con un ligero tinte de vergüenza, decidió caminar hacia la casa de sus padres.

Al llegar allí, mirándolos de soslayo les dijo:

— Esta noche habéis venido en sueño y me habéis dado unas cuantas monedas. No sé si eran muchas o pocas. Tampoco sé de qué material estaban hechas, si eran de un metal precioso o no. No importa, porque me siento vacía, lastimada y herida. Vengo a decirles que vuestras monedas no son buenas ni suficientes. No son las monedas que necesito ni son las que merezco ni las que me corresponden. Así que no las quiero y no las tomo, aunque procedan de ustedes y me lleguen a través vuestro. Con ellas mi camino sería demasiado pesado o demasiado triste de recorrer y no lograría ir lejos. Andaré sin vuestras monedas.

Y los padres que, como todos los padres, empequeñecen y sufren cuando no tienen el reconocimiento de sus hijos, aún se hicieron más pequeños. Se retiraron, disminuidos y tristes, al interior de la casa. Con desazón y congoja comprendieron que todavía podían dar menos a este hijo porque ante la

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dificultad para tomar y recibir, la grandeza y el deseo de dar se hacen pequeñas y languidecen. Guardaron silencio, confiando en que, con el paso del tiempo y la sabiduría que trae consigo la vida, quizá se pudieran llegar a enderezar los rumbos fallidos del hijo.

Es extraño lo que ocurrió a continuación. Después de haber pronunciado estas palabras ante los padres en respuesta a su sueño, este hijo se sintió impetuosamente fuerte, más fuerte que nunca. Se trataba de una fuerza extraordinaria. Se había encarnado en él la fuerza feroz, empecinada y hercúlea que surge de la oposición a los hechos y a las personas. No era una fuerza genuina y auténtica como la que resulta del asentimiento a los hechos y que está en consonancia con los avatares de la vida, pero la fuerza era intensa.

Sin ninguna serenidad interior, aquella persona abandonó la casa de los padres diciéndose a sí misma:

— Nunca más.

Impetuosamente fuerte, pero también vacía, huérfana y necesitada, aun queriéndolo y deseándolo, no lograba alcanzar la paz.

A medida que la persona se alejaba de la casa de sus padres sentía que sus pies se elevaban unos centímetros por encima de la tierra y que su cuerpo, un tanto flotante, no podía caerse por su propio peso real. Pero lo más relevante ocurría en sus ojos: los abría de una manera tan particular que parecía que miraba siempre lo mismo, un horizonte fijo y estático.

La persona desarrolló una sensibilidad especial. Así, cuando encontraba a alguien a lo largo de su camino, sobre todo si era del sexo opuesto, esta sensibilidad le hacía contemplarlo con una enorme esperanza, la que, sin darse cuenta le llevaba a preguntarse:

— ¿Será esta persona la que tiene la monedas que merezco, necesito y me corresponden, las monedas que no tomé de mis padres porque no supieron dármelas de la manera justa y conveniente? ¿Será esta la persona que tiene aquello que merezco?

Si la respuesta que se daba a si misma era afirmativa, resultaba fantástico. A esto, algunos lo denominan enamoramiento. En esos momentos sentía que todo era maravilloso. No obstante, cuando el enamoramiento acababa convirtiéndose en una relación y la relación duraba lo suficiente, la persona generalmente descubría que el otro no tenía lo que le faltaba, aquellas monedas que no había tomado de sus padres.

— ¡Qué pena!, se decía y se quejaba amargamente de su mala suerte, culpando al destino de ello.

A esto lo llaman desengaño y esta persona se sentía sometida a un tormento emocional que tomaba la forma de desesperación, desazón, crisis, turbulencia, enfado, frustración…

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Por suerte, o no, en este momento podía estar esperando a un hijo y la desazón se volvía más dulce y esperanzadora, más atemperada. Entonces la pregunta volvía a su inconsciente:

— ¿Será este hijo que espero, tan bien amado, quien tiene las monedas que merezco, que necesito y que me corresponden y que no tomé de mis padres porque no supieron dármelas de la manera justa y conveniente? ¿Será este ser el que tiene aquello que merezco?

Cuando se contestaba de nuevo que sí, era maravilloso, formidable y empezaba a sentir un vínculo especial con ese hijo, un vínculo asombroso, muy estrecho, lleno de expectativas y anhelos.

Pero si pasa el tiempo suficiente la mayoría de los hijos desean tener una vida propia y saben que tienen propósitos de vida propios e independientes de sus padres. Entonces, aunque aman a sus padres y desean hacer lo mejor para ellos, la presión de tener vida propia resulta exigente, imperiosa y tan arrolladora como la sexualidad.

Así es como, de nuevo, esta persona comprende un día que tampoco su hijo tiene las monedas que necesita, merece y le corresponden. Sintiéndose más vacía, huérfana y desorientada que nunca entra en crisis y desesperación. Enferma. Ahora tiene entre 40 y 50 años, la fase media de la vida. Ahora ningún argumento la sostiene ya, ninguna razón la calma. Es su “cata-crac” y grita:

— ¡A Y U D A!

¡Hay tanta urgencia en su tono de voz! ¡Su rostro está tan desencajado! Nada la calma, nada puede sostenerla.

Y… ¿qué hace? Va al terapeuta.

El terapeuta la recibe pronto, la mira profunda y pausadamente y le dice:

— Yo no tengo las monedas.

Hay dos clases de terapeutas: los que piensan que tienen las monedas y los que saben que no las tienen.

El terapeuta ha visto en sus ojos que sigue buscando las monedas en el lugar equivocado y que le encantaría equivocarse de nuevo. El terapeuta sabe que las personas quieren cambiar, pero les cuesta dar su brazo a torcer, no tanto por dignidad sino por tozudez y costumbre.

Él piensa: “Amo y respeto mejor a mis pacientes cuando puedo hacerlo con sus padres y con su realidad tal como es. Los ayudo cuando soy amigo de las monedas que les tocan, sean las que sean.”

El terapeuta añade: “Yo no tengo las monedas pero sé dónde están y podemos trabajar juntos para que también tú descubras dónde están, cómo ir hacia ellas y tomarlas.”

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Entonces el terapeuta trabaja con la persona y le enseña que durante muchos años ha tenido un problema de visión, un problema óptico, un problema de perspectiva. Ha tenido dificultades para ver claramente. Sólo se trata de eso.

El terapeuta le ayuda a reenfocar y a modular su mirada, a percibir la realidad de otra manera, desde una perspectiva más clara, más centrada y más abierta a los propósitos de la vida. Una manera menos dependiente de los deseos personales del pequeño yo que trata de gobernarnos.

Un día, mientras espera a su paciente, el terapeuta piensa que está listo y que debe decirle, por fin y claramente, dónde están las monedas. Y este mismo día, como por arte de birlibirloque, llega el paciente. Tiene otro color de piel, las facciones de su rostro se han suavizado y comparte su descubrimiento:

— Sé dónde están las monedas. Siguen con mis padres.

Primero solloza, luego llora abiertamente. Después surge el alivio, la paz y la sensación de calor en el pecho. ¡Por fin!

Durante el trabajo terapéutico ha atravesado las purulencias de sus heridas, ha madurado en su proceso emocional y ha reenfocado su visión. Ahora se dirige de nuevo, como lo hizo hace tantos años atrás a la casa de sus padres.

Los mira a los ojos y les dice:

— Vengo a deciros que estos últimos diez, veinte o treinta años de mi vida he tenido un problema de visión, un asunto óptico. No veía claramente y lo siento. Ahora puedo ver y vengo a deciros que aquellas monedas que recibí de vosotros en sueños son las mejores monedas posibles para mi. Son suficientes y son las monedas que me corresponden. Son las monedas que merezco y las adecuadas para que pueda seguir. Vengo a daros las gracias. Las tomo con gusto porque vienen de vosotros y con ellas puedo seguir andando mi propio camino.

Ahora los padres, que como todos los padres se engrandecen a través del reconocimiento de sus hijos, vuelven a florecer y el amor y la generosidad fluyen de nuevo con facilidad. Así el hijo ahora es plenamente hijo, porque puede tomar y recibir.

Los padres le miran sonrientes, con ternura y contestan:

— Ya que eres tan buen hijo puedes quedarte con todas las monedas, puesto que te pertenecen. Puedes gastarlas como quieras y no es necesario que nos las devuelvas. Son tu legado, único, propio y personal, para ti. Puedes tener una vida plena.

Ahora este hijo se siente grande y pleno. Se percibe completo y rico y puede, por fin, dejar la casa de los padres con paz. A medida que se aleja siente sus pies firmes pisando el suelo con fuerza, su cuerpo también está asentado en

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la tierra y sus ojos miran hacia un camino claro y un horizonte esperanzador.

Resulta extraño: ha perdido esa fuerza impetuosa que se nutría del resentimiento, del victimismo o del exceso de conformidad. Ahora tiene una fuerza simple y tranquila, una fuerza natural.

Recorriendo el camino de su vida encontraba con frecuencia otra personas con las que caminaba lado a lado como acompañantes durante un techo, a veces largo, a veces corto, a veces durante toda la vida. Socios, amigos, parejas, vecinos, compañeros, colaboradores, incluso adversarios. En general se trataba de un camino sereno, gozoso, en sintonía con su espíritu y con su naturaleza personal. Tampoco estaba exento de los pesares naturales que la vida impone. Era el camino de su vida.

Un día se acercó a la persona de la que se enamoró pensando que tenía las monedas y también le dijo:

— “Durante mucho tiempo he tenido un problema de visión y ahora que veo claro te digo: Lo siento, fue demasiado lo que esperé. Fueron demasiadas expectativas y sé que esto fue una carga demasiado grande para ti y ahora lo asumo. Me doy cuenta y te lobero. Así el amor que nos tuvimos puede seguir fluyendo. Gracias. Ahora tengo mis propias monedas.”

Otro día va a sus hijos y les dice:

— Podéis tomar todas las monedas de mí, porque yo soy una persona rica y completa. Ahora que he tomado las mías de mis padres. Entonces los hijos se tranquilizan y se hacen pequeños respecto a él y están libres para seguir su propio camino tomando sus propias monedas.

Al final de su largo camino se sienta y mira aún más allá. Hace un repaso a la vida vivida, a lo amado y a lo sufrido, a lo construido y a lo maltrecho. A todo y a todos logra darles un buen lugar en su alma. Los acoge con dulzura y piensa:

— Todo tiene su momento en el vivir: el momento de llegar, el momento de permanecer y el momento de partir. Una mitad de la vida es para subir la montaña y gritar a los cuatro vientos: “Existo”. Y la otra mitad es para el descenso hacia la luminosa nada, donde todo es desprenderse, alegrase y celebrar.

La vida tiene sus asuntos y sus ritmos sin dejar de ser el sueño que soñamos.