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Nesta edição, apresentamos os trabalhos de Maxim Dondyuk, Lynette Letic, Laura Del Rey & Alziro Barbosa, Patrícia Montrase, Guilherme Tosetto e uma entrevista com o Olhavê.

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equipe editorial

direção de arte

texto e entrevista

capa

fotografias

entrevista

email

facebook

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tumblr

instagram

Felipe Abreu e Paula Hayasaki

Tábata Gerbasi

Angelo José da Silva, Felipe Abreu

e Paula Hayasaki

Maxim Dondyuk

Alziro Barbosa e Laura Del Rey, Guilherme Tosetto,

Lynette Letic, Maxim Dondyuk, Patricia Montrase

Olhavê

[email protected]

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@revista_old

www.revistaold.tumblr.com

@revistaold

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88selvageria

livros

maxim dondyuk olhavê

laura del rey e alziro barbosa

lynette letic patrícia montrase

guilherme tosetto

reflexões

exposição

portfól io entrevista

portfól io

portfól io portfól io

portfól io

coluna

índice

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carta ao leitor

Esta nova edição da OLD passa por uma série de temas e abordagens distintos da fotografia. Começamos com Maxim Dondyuk e sua fantástica visão sobre a marcante onda de pro-testos que tomou a Ucrânia no final de 2013. São imagens duras, mas ao mesmo tempo com um cuidado vi-sual que as tona incrivelmente cha-mativas. Seguimos com Lynette Letic que faz dos retratos a base para re-presentar a cultura de uma série de pequenas cidades da Austrália, Laura Del Rey e Alziro Barbosa apresentam Hart, uma busca na natureza pelas ferramentas para abordar a fragili-dade e a delicadeza da vida. Patrícia Montrase também se deixa envolver pela natureza em sua fotografia, mas como forma de nos transportar ao

passado e a ajudar a contar a famige-rada história de Maria Antonieta da maneira mais lúdica possível. Gui-lherme Tosetto encerra a edição com Terceira: uma jornada por uma das ilhas do território português, cons-truindo uma representação de um espaço grandioso e isolado.A nossa entrevista de Março está re-cheada de conteúdo, com uma super conversa com Alexandre Belém e Georgia Quintas, que contam sobre os novos caminhos do Olhavê e sua visão sobre importantes aspectos da fotografia contemporânea. É com esse variado grupo de pen-samentos e visões sobre a fotografia que te convidamos a entrar na nossa nova edição. Aproveite!

por Felipe Abreu

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Disponível no site da RVB Booksvalor R$160128 páginas

Publicado pela RVB, uma das grandes editoras francesas do momento, Illus-trated People é a transformação de uma

performance para livro. Thomas Mailaender expôs pele a um forte raio de luz UV, sobre ela, uma seleção de 23 negativos do Archive of Mo-dern Conflict. Dessa forma, Mailaender criou uma tatuagem de luz em cada um de seus per-sonagens.O livro é super bem executado, dando uma vida extra a imagens que nem sempre parecem tão interessantes quando vistas em uma tela. Acompanha as imagens dos modelos uma sele-ção de fotografias do AMC, criando uma união entre passado e presente em peles e corpos dis-tintos. Um belo livro, não à toa foi o vencedor da principal categoria do Photobook Awards no Paris Photo deste ano.

ILLUSTRATED PEOPLEde Thomas Mailaender

livros

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Disponível na Amazon.valor R$120224 páginas

BELGIAN AUTUMNde Jan Rosseel

O livro de Jan Rosseel conta uma história complexa e verídica, mas com traços de um macabro realismo fantástico.

Belgian Autumn revisita uma série de assaltos violentos sofridos pela Bélgica entre 1982 e 85. A gangue foi presa deixando um total de 28 ví-timas, sendo uma delas o pai do fotógrafo.O livro apresenta objetos, caminhos e cenas da série de crimes, tentando fazer sentido visual de um dos capítulos mais sombrios da história belga. Com um rigor de catalogação policial, Belgian Autumn constrói sua narrativa própria, unindo metáforas a fatos sólidos dos ocorridos, em uma viagem cada vez mais envolvente e desconcertante para o leitor. Decifrar os papeis de realidade e ficção dentro desta história é um dos grandes pontos do trabalho, executado com maestria por Jan Rosseel.

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exposição

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balho do coletivo – que conta atual-mente com 15 membros – e garante uma estreia com o pé direito, já que esta é a primeira exposição do gru-po. Com fotografias que vão direto na jugular do espectador, Selvageria não é um trabalho que conta sua his-tória através de sutilezas. A seleção de imagens é um soco no estômago, com o que há de mais marcante na complexa noite paulistana. É assim, trazendo a rua para o mu-seu, que o SelvaSP faz sua estreia no circuito de exposições de São Paulo. Do seu constante flanar em busca de um São Paulo ainda conhecida por

Um grupo de fotógrafos vem rondando a noite paulistana há algum tempo. Com um

olhar agudo, um gosto pelo surreal e um desejo de mostrar o que há de mais absurdo e idiossincrático na ca-pital paulista através de suas lentes. O SelvaSP já tem um nome a zelar, um acervo forte, em contínuo cres-cimento e membros de destaque na-cional e internacional. Agora, o cole-tivo chega ao MIS no programa Nova Fotografia, constantemente trazendo novos talentos para dentro do museu. A exposição, certeiramente chamada de Selvageria, faz um recorte do tra-

A SELVAGERIA CHEGOU AO MUSEU

Coletivo SelvaSP apresenta sua prolífica produção focada nas ruas de São Paulo em exposição do programa Nova Fotografia, no MIS.

Selvageria segue em cartaz até o dia 24 de Abril

no MIS, que fica na Av. Europa, 158, em São Paulo.

poucos, nasce um mundo próprio de sexo, bebida, brilho, flashes e aque-la beleza trasheira que só São Paulo sabe ter.A mostra teve sua inauguração na se-mana passada e segue nas paredes do MIS até o final de Abril. Não perca a chance de conhecer mais uma das mil facetas que São Paulo tem para apresentar.

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MAXIM DONDYUKCulture of the Confrontation

Maxim Dondyuk apresenta o lado mais bruto e po-tente da série de protestos que marcaram a Ucrâ-nia no final de 2013. Suas imagens tem um poder

de comunicação incrível e um apelo visual ainda mais mar-cante. A criação do ensaio veio em um momento de trans-formação na carreira de Maxim, que se via em dúvida entre o cinema e a fotografia. Com esta série, ele decidiu de vez seguir em frente com a sua produção fotográfica.

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Com as minhas fotos, eu queria des-pertar a capacidade mais profunda de associação e as emoções de quem visse cada imagem.

Maxim, como começou seu interesse pela fotografia?Só me tornei fotógrafo profissio-nal na terceira tentativa. A primeira experiência que tive foi com cinco anos, vendo minha mãe revelar fotos de família em um laboratório impro-visado em casa. Mais tarde, ganhei minha primeira câmera, uma SME-NA, marca soviética da época, e co-mecei a fazer minhas próprias fotos. Depois do colapso da União Sovié-tica ficou muito caro comprar e re-velar filmes, então eu e minha mãe paramos com a fotografia. A segunda experiência foi com 12 anos, quando me juntei a um foto-clube, voltando a fotografar e reve-lar filmes, mas meu entusiasmo não durou muito. A terceira e definitiva

experiência foi com 24 anos, quanto trabalhava em um campo completa-mente diferente e a fotografia se tor-nou meu hobby. Todo o meu tempo livre era usado lendo, estudando e praticando fotografia. Um ano de-pois, sai do meu emprego e me tor-nei um fotojornalista para grandes jornais da Ucrânia. Em 2010 percebi que precisava de mais liberdade, en-tão deixei os jornais e passei a pro-duzir projetos de longo prazo.

Nos conte sobre a criação de Culture of the Confrontation.No meio de 2013, por uma série de razões, eu estava pensando seria-mente em migrar para a produção de documentários. Me parecia que eles contavam histórias socialmente rele-

vantes de uma maneira mais eficiente que a fotografia. Decidi produzir um documentário sobre Crimea Sich, um campo de treinamento para militares. No verão de 2013 fui para a Crimeia com meu irmão. Era uma tentativa de encontrar respostas para perguntas que assolavam minha mente. Depois disso, fui selecionado para uma bol-sa para diretores de documentários, disponibilizada pelo American Do-cumentary Film Festival na Ucrânia. Foi neste período que começou a Eu-romaidan [série histórica de protes-tos] na Ucrânia. Antes de Dezembro de 2013 eu não sabia se deveria con-

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sentia em um mundo paralelo. Era uma batalha entre o bem e o mal, luz e sombra, fogo e gelo. Na tela revolu-cionária, cenas sangrentas se interla-çavam com cenas incrivelmente lin-das. A linha entre realidade e ficção tinha sumido. Eu entendi que a fo-tografia para mim não é só a maneira de contar uma história, mas também uma representação visual que con-tém uma série de emoções, permite que o observador a interprete e pen-sa sobre importantes pontos em nos-sas vidas.

Imagino que você tinha uma quanti-dade enorme de imagens durante a produção da série. Nos conte um pou-co sobre o processo de edição do ma-terial.Não é um segredo que muitas vezes a edição do material é mais difícil do

tinuar trabalhando com cinema ou ir para os protestos com minha câ-mera fotográfica. Também não sabia o que queria fazer na Euromaidan, fotografar ou filmar. Em um primeiro momento só assisti, analisei, tentan-do buscar respostas. Mas, de repente, recebi um novo fôlego fotográfico e percebi que via os protestos através da associação de imagens, com várias camadas de significado.Eu não estava tentando mostrar o que estava acontecendo como foto-jornalista. Com as minhas fotos, eu queria despertar a capacidade mais profunda de associação e as emoções de quem visse cada imagem. Para mim, não era uma revolução na praça da independência, para mim era uma batalha com cenas de lendas e con-tos de fada. Durante o embate entre a polícia e os manifestantes eu me

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que a produção das fotografias em si, especialmente quando são suas fotografias. Não vejo uma tarefa tão complexa em editar o trabalho de outras pessoas, mas o meu... Emo-ções, memórias de como você fez as fotografias podem interferir com o melhor caminho para a série. É claro que durante a onda de protestos eu fazia uma seleção semanal de fotos para revistas e jornais que entravam em contato comigo. Mas pensando na edição final do projeto, deixei as imagens guardadas por cerca de um ano, para assim poder editar com a cabeça limpa, distante das emoções ligadas às imagens. A maneira ideal de encontrar a edição perfeita para uma série é começar um novo pro-jeto. Assim as emoções não influen-ciam mais a maneira com que vejo o projeto que acabo de concluir.

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LYNETTE LETICLet’s Get Togheter

Let’s Get Togheter explora a cultura popular do in-terior da Austrália, com uma série de encontros co-munitários. As imagens tiraram a fotógrafa de sua

zona de conforto, fazendo com que ela descobrisse regiões novas de seu país natal, criando uma imagem mais comple-xa da sua própria cultura.Os retratos, espaços e sentimentos retratados apresentam uma exploração visual de alguém curioso com um tema novo, mas também a construção de uma história única, uma metonímia de parte da cultura de um país.

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A percepção que você constrói das pessoas fotografadas só emerge no final da série, não enquanto você produz os retratos

Lynette, como começou seu interesse pela fotografia?Meu primeiro contato com a foto-grafia aconteceu no meu último ano de colegial, quando eu tinha aula de artes. Comecei a brincar com uma câmera digital, depois passei para o laboratório, no qual me familiarizei com a fotografia em branco e preto, a produção de cópias e a revelação e me encantei com todo o processo. Acredito que essas experiências ini-ciais criaram o meu interesse pelo meio, mas ele foi realmente se de-senvolver quando comecei meus es-tudos em fotografia, em 2012.

Como se deu a criação de Let’s Get To-gheter?Antes de começar o projeto, eu sabia

que queria fazer algo fora da minha cidade. Como nunca passei muito tempo no interior, minha curiosida-de me levou a fazer viagens curtas, de cerca de uma hora, para cidades pequenas oeste de Brisbane. Inicial-mente me senti atraída pelos monu-mentos, sinais e a paisagens dessas áreas, mas rápido percebi que o mais interessante seria produzir retratos dos habitantes dessas cidades. Abor-dar pessoas na rua parecia pouco confortável e não fez muito sentido no começo, já que não tinha o proje-to muito claro, então decidi começar a frequentar eventos locais da co-munidade. Fotografar dentro desses contextos me deixou mais confortá-vel e ganhei a confiança para envol-ver pessoas no meu projeto, enquan-

to afinava o escopo da série.

Como você buscou criar a ilusão de uma única comunidade nesta série, considerando que as imagens provém de grupos variados?Tentei excluir sinalizações das mi-nhas imagens ou ângulos muito abertos dos prédios e espaços, para assim torná-los impossíveis de iden-tificar. Tirar da imagem seu contex-to geográfico me permitiu focar nos personagens de meus retratos ou em um detalhes do ambiente para assim unir eventos e pessoas de locais dis-tintos e construir uma comunidade

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final da série, não enquanto você produz os retratos, respondendo de maneira intuitiva àquilo que é apre-sentado à você.

Qual o papel da memória neste tra-balho? Você pretende apresentar este contexto como uma realidade atual ou evocar um sentimento de passado e saudade?Eu acredito que esta série fique en-tre as duas coisas, porque enquanto minha intenção era fazer fotografias desses eventos reais e das pessoas que os frequentam, não é uma repre-sentação objetiva da região em que eles vivem hoje. Enquanto eu via es-ses eventos como parte da tentativa da comunidade de manter seus ritu-ais, tradições e narrativas de suas ci-dades, eu também jogava com a ques-tão da representação através da série.

única. A escolha por fotografar co-memorações anuais ou semanais, como danças ou feiras comemora-tivas, me trouxe algumas limitações, mas também me trouxe a liberdade para construir este trabalho.

Você buscou construir personagens para a sua série ou fotografar o que as pessoas apresentavam para você?Eu me sentia muito atraída pela apa rência e pelo comportamento destas pessoas, por isso não dei muitas ins-truções no momento de fazer as foto-grafias. Também pensei no contexto típico em que estão as pessoas des-tes eventos e reuniões, mas não quis buscar personagens óbvios para o trabalho ou os fotografar de maneira caricata. A percepção que você constrói das pessoas fotografadas só emerge no

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Eu gosto como algumas das imagens realmente evocam uma sensação de passado como, por exemplo, a foto-grafia do casal dançando. Só depois de revelar e ampliar a fotografia que percebi como o abraço e o olhar per-dido do rapaz pareciam sair direta-mente de uma comédia romântica dos anos oitenta.

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LAURA DEL REY E ALZIRO BARBOSA

Hart

Hart é uma busca pela fragilidade e a delicadeza na vida em seu estado mais puro, em uma natureza selvagem e intocada. Laura Del Rey e Alziro Bar-

bosa passaram três anos produzindo as imagens que, no ano passado, se tornaram livro. A série busca detalhes e sensações, carregando o leitor com a possibilidade de criar seu próprio sentido para as imagens.

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Nos concentramos em sentir os

lugares da forma mais profunda

possível, e fotografar.

Como surgiu a ideia de trabalhar em dupla? Este foi o único trabalho que vocês produziram juntos?Nós viajávamos juntos e, nos traje-tos, acabávamos conversando muito sobre as sensações deles, os lugares, as pessoas e também sobre como fo-tografar tudo aquilo. Foram algumas viagens concentradas em três anos e acabou sendo natu-ral que essas conversas aparecessem nas imagens que passamos a produzir, co-mo tam-bém que elas dialogassem - e, por isso, acabassem em um mesmo pro-jeto. O Hart foi a única coisa que fi-zemos juntos com início, meio e fim. Mas há dezenas de ideias, rascunhos e embriões nos nossos HDs e pautas de conversas. Tem também um outro projeto, no qual só eu tenho o mau

gosto de mexer (risos), que é uma espécie de chorume do material do Hart; o contra-plano dele, na reali-dade. São retratos meio bagunçados que fiz do Alziro e ele de mim, que serviam de códigos para, na hora de logar as fotos, sabermos quem esta-va usando a câmera e, portanto, de quem eram as fotos [precisávamos fazer isso porque usávamos o mesmo equipamento]. Eu sempre fazia um 1 com os dedos e ele um 2. Esse proje-to se chama Love Is A Losing Game e está andando, devagar e sempre, às vezes para trás (risos). Sou eu escara-funchando arquivos, incidentes, um quebra-cabeças geológico-emocio-nal do final de um relacionamento. Acho interessante como o avesso, in-clusive estético, do Hart.

Como foi o processo de criação do Hart?Foram três anos de viagens, nos quais nos concentramos em sentir os luga-res da forma mais profunda possível, e fotografar [ as imagens são todas feitas no Alasca (2012), Islândia e No-ruega (2013) e uma no Brasil (2014) ]. A gente conversava muito, nestes pe-ríodos largos fora de casa, buscando em imagens coisas que tivessem a ver com o que pensávamos e sentíamos estando naqueles espaços - e como metaforicamente eles se relaciona-vam com a maneira como enxerga-mos a vida, sobretudo em sua fragili-

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folheando tudo o que podia. Muitos dos professores têm pontos de vista bastante interessantes, também - isso sempre é fundamental num centro de estudos. Se fosse para resumir a experiência? Diria que o curso sim; ter impresso fora, apesar da excelen-te qualidade da impressão, talvez não. Mas estão chegando em breve, libe-rados de Viracopos, duzentos livros fresquinhos - bom momento para uma entrevista (risos).

Como vocês buscam fazer com a que a paisagem conte a história deste en-saio?A maneira mais primária acho que é buscando imagens atraentes. Em se-guida, que elas sejam enxutas de ‘in-formação visual’ (não sei se haveria expressão me-lhor), porém com alta carga simbólica. E, por fim, que no

dade, de uma forma bonita. Algumas fotografias foram bastante marcantes como respostas visuais a tudo isso. Uma delas é a ‘onda japonesa’ que abre o livro. Ela deu uma virada de chavinha.

Como foi a experiência de transformá-lo em livro? Como a vivência na Blank Paper, em Madrid, auxiliou o proces-so?Uma coisa que aproveitei muito do tempo na BP foi ter os projetos de outros fotógrafos correndo em para-lelo e sendo comentados. É um jeito muito bacana de aprender edição e pensar sobre as nossas escolhas. A cidade também estava em um mo-mento particularmente interessante para livros de fotografia, com muitas feiras e exposições acontecendo. Pas-sei boas tardes na biblioteca deles,

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seu contato façam um trajeto senso-rial - às vezes extremamente fluido e, às vezes, muito truncado. Acho que as partes mais importantes do que você chamou de “a história deste ensaio” talvez venham justamente do que falta nas imagens (pensando que os negativos delas sempre seriam tão ou mais interessantes que as próprias) e estes crec’s que algumas das esqui-nas forçam - e que geram as tais cica-trizes, afinal.

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OLHAVÊOLD entrevista

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O Olhavê se aproxima de completar sua primeira década de atividade. De blog de curadoria fotográfica a edito-ra, curadoria e escola, a parceria for-mada por Alexandre Belém e Georgia Quintas é um dos importantes marcos no pensamento da fotografia brasilei-ra nos últimos dez anos. Conversamos com a dupla direto do Festival de Foto-grafia de Tiradentes, no qual o Olhavê lançou novas publicações e coordenou o ciclo de ideias pela sexta vez no fes-tival.

O Olhavê está para completar uma década de atividade. Como começou a ideia? Quais os pontos mais marcantes dessa trajetória?AB: Juro que não estava ligado nis-so. É verdade! O blog começou em 2007. Extremamente influenciado pelo blog PicturaPixel, do fotógrafo Claudio Versiani, abri um blog no

Wordpress. Era setembro de 2007 e parece uma eternidade. O Olhavê “cresceu” muito rápido. Comecei es-coando as coisas que via na web. Todo dia, visitava mais de cinquenta sites de fotografia e “mastigava” isso para os visitantes. Nessa época, não usava redes sociais e o Olhavê era página inicial do navegador (isso ainda exis-te?!) de muita gente. Publicava dois/três posts por dia e o blog foi fonte e pauta para muito site grande e revista de fotografia. Também foi referência para novos blogs. Naturalmente, o conteúdo noticioso foi dando lugar para entrevistas e debates sobre pro-cesso de criação, portfólios, etc. Hoje, vejo que seguimos a mesma filosofia. A busca sempre foi por conteúdo denso e sério. Conseguir relevância e credibilidade. Isso segue até hoje no que fazemos.Esse acervo é visitado diariamente.

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São dezenas de entrevistas, perfis, análise de imagem, resenhas, críticas e textos reflexivos. Perdi a conta de citações que o Olhavê tem em mono-grafias acadêmicas. Publicamos mui-ta gente pela primeira vez. Abrimos espaços para autores pernambuca-nos e de outros estados que não ti-nham uma um espaço de visibilida-de. Queria aproveitar essa reputação que o Olhavê tinha e fomos bem su-cedidos nesse escoamento de novos autores. Fotógrafos foram convida-dos para galerias, publicações legais e seguiram sua trajetória. Nunca co-bramos nada de ninguém. Também, não tínhamos propaganda, grana de edital ou coisa parecida.

Aos poucos o ponto central de produ-ção deixou de ser o blog e foi se tor-nando um misto de editora, escola e produtora cultural. Como se deu esse

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processo de transição?AB: Chegamos a palestrar sobre isso: do virtual para o real. Foi natural. Fa-zíamos edição de fotografias para o blog (em 2009, abrimos o Perspecti-va. Um braço do Olhavê só com en-saios e textos críticos. Esse conteúdo hoje está na seção Análise de ima-gem: http://olhave.com.br/category/analise-de-imagem/, textos, resenhas, etc. Eu sou jornalista e fotógrafo. Ge-orgia é antropóloga, sempre pesqui-sou imagem e já era professora. Foi natural começarmos a fazer cura-dorias, entrevistas em eventos, mi-nistrar workshops, consultorias, etc. Com a expertise do Olhavê, também editei alguns projetos pioneiros na web como a primeira blogosfera fo-tográfica (blog do 5º Paraty em Foco) e o Fórum Virtual (blog do 2º Fó-rum Latino-americano de Fotografia de São Paulo). Outra coisa que nos

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se pretende ser onipotente. Ao con-trário, é sim um fio venoso possível de visualidade e interpretação sobre a obra apresentada. Há razão para as curadorias de grife, alimenta uma via para esse campo; mas o que fazemos é antagônico, questão de inclinação, de vontade em desfrutar das imagens pelo traço elaborado através do olhar do outro. Reconheço minha forma-ção antropológica nesse raciocínio, em considerar sobretudo a obser-vação sobre o que o artista nos pro-põe. Gostaria de conhecer e aceitar os convites feitos e que, muitas vezes, declino por perceber não ser possí-vel traçar esse percurso de dedicação com o fotógrafo. E assim, seguimos com nosso estilo, e contentes com as curadorias realizadas até aqui.

Há também uma preocupação e um in-teressante no desenvolvimento teórico

GQ: Vejo a atividade de curadoria que realizamos como algo extensivo a partir ao nosso trabalho de base que o olhar crítico sobre formação e difusão de fotógrafos com os quais admiramos a pesquisa e a potencia-lidade de expressão desprendida. É uma questão profissional claro, mas também de afinidade com a imagem sobre a qual determinado autor se dedica. Há muitas nuances ao meio e propriamente aos curadores no nos-so mercado contemporâneo. Talvez a nossa nuance principal seja o tempo do encontro e da pesquisa. E isso envolve, sobretudo, diálogo, compre-ensão do conceito e do processo em-pregados pelo artista. Para mim, de-senvolver uma curadoria, é pesquisar a sensibilidade poética e construir com as imagens (sempre em diálo-go com o fotógrafo) uma visualidade narrativa para o público, que em nada

alegra é sermos curadores de alguns eventos sérios. Concebemos e orga-nizamos o Ciclo de Ideias, no Festival de Fotografia de Tiradentes; e sou do conselho curador da Mostra SP de Fotografia. Tudo com amigos do co-ração: Eugênio Sávio, Mônica Maia e Fernando Costa Netto.

O Olhavê realizou 14 projetos cura-toriais em sua trajetória. Como vocês veem o papel do curador na fotogra-fia? Algo próximo de um guia, um or-ganizador ou algo diferente? AB: Não lembrava que eram 14. Pen-sava que eram bem menos. Entende-mos um trabalho curatorial enquan-to construção de narrativa crítica, pesquisa e envolvimento da trajetó-ria processual e poética do fotógrafo. Será que é por isso que são apenas 14? Curadoria para nós é resultado de um processo; acompanhamento.

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da fotografia dentro do projeto. Qual a importância de reforçar o debate te-órico e histórico dentro da fotografia brasileira?GQ: Isso se deve à minha formação acadêmica, aos anos que me dedi-co aos estudos e pesquisa nos cam-pos da imagem e fotografia. A minha interdisciplinaridade, ao transitar pelo Jornalismo, História da Arte e Antropologia, e nesse momento à crítica dos processos de criação, foi fundante para trazer o pensamento sobre imagens para o blog. O debate reflexivo é primordial para distintas instâncias sobre o teórico e histórico. Sempre entendi que através da arti-culação de ideias, teorias e imagens podemos ampliar a compreensão sobre a o universo de percepção, do olhar e, por conseguinte, da imagem. Reconheço um número reduzido de debate que desconstrua alguns para-

digmas para ampliarmos a discussão por outras áreas epistêmicas. Escutar novas formas de elaboração analí-tica são de extrema relevância para o contemporâneo, sinto que alguns não fazem essa ponte entre o teóri-co e o empírico. Não refletem além das bordas, caminhar mesmo que de modo cauteloso entre esses dois pó-los é uma tentativa que deve ser de construção de redes de sentido, e de entendimento sobre as imagens que são sempre convergências e deslo-camento de ideias. O filósofo Edgar Morin, diz que que não há de um lado um campo da complexidade, que seria o do pensamento, da refle-xão, e de outro o campo das coisas simples, que seria o da ação. A ação é o reino concreto e às vezes vital da complexidade. Há colegas que estão nessa linha, concentrados e pesqui-sando, e isso é muito esperançoso.

Como surgiu a ideia de criar grupos de estudo em fotografia? O que mais chama a atenção nesse processo de acompanhamento de produção de um ensaio?GQ: Trata-se de algo orgânico, natu-ral de quem construiu uma formação acadêmica. Aliado a isso, o público que acompanha o trabalho do Olhavê sempre nos solicitou, uma demanda que é individual, mas que funciona plenamente como as aulas dos gru-pos de estudo ao reunir pessoas in-teressantes e interessadas por temas específicos filosóficos ou atividades com relação ao ensaio fotográfico.Sobre acompanhamento de proje-tos, eu e Alexandre temos uma von-tade genuína em conhecer trabalhos, projetos e pesquisas (como queiram chamar a produção de imagens) a partir do diálogo, da interlocução com aqueles que quase sempre estão

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com vontade em discutir seus traba-lhos e dividir seus questionamen-tos. Muitos comentam conosco que deve ser difícil dar atenção a quem nos procura querendo uma análise, um retorno imediato do trabalho, do seu portfólio. Tecemos comentários, provocamos o autor, discutimos refe-rências, refletindo sobre a problemá-tica poética, que às vezes está Assim, costumo dizer que isso é também nosso processo, nosso interesse em contribuir e refletir sobre o trabalho do outro. Estudamos para nos apro-ximarmos das imagens do artista que nos procura e quer seguir com nós a discutir o seu discurso, buscas, expe-rimentações e linguagem. Para nós, os alunos trazem desafios poéticos, reflexão sobre o pensamen-to da imagem e o exercício da edição.Acompanhar projetos é como estar num lugar repleto de diálogo e dis-

cussão. Um lugar de compreensão. Estudamos para nos aproximarmos das imagens do artista que nos pro-cura e quer seguir conosco a discutir os seus projetos, linguagem, buscas, experimentações.

Georgia ministra um grupo de estudos que une fotografia e literatura. Como foi desenvolvido esse projeto? Vocês veem a literatura como uma forte fon-te de influência na construção da se-quências e narrativas fotográficas?GQ: Fundamentalmente, busco cami-nhos possíveis e profícuos de debate cujo fio condutor seja caro à imagem. Digo imagem, embora ela seja tam-bém fotográfica. Todos os meus gru-pos/cursos se delineiam pelo campo do imaginário, do simbólico, da per-cepção – sejam esses campos anco-rados temporalmente na história ou no contemporâneo. Sigo portanto

pela teoria da imagem e pela filosofia da imagem. Enfim, sempre trata-se incessantemente de pesquisar auto-res que pensar sobre, a partir e por imagens. Meu grupo de estudos em Fotografia e Literatura é um proje-to acalentado há muito tempo e que venho colocando em prática com um grupo muito querido de alunos que me acompanha em todas as minhas inquietações, propostas, leituras e dinâmicas. É um curso que tenho orgulho de como tenho o traçado – seja pela metodologia seja pelo con-teúdo – e estabelecendo uma linha de pensamento e reflexão que me interessa profundamente. A escrito-ra que sempre esteve em paralelo à professora, certamente influenciou nesse desejo. O meu processo como professora é contaminado por minha escrita, minhas referências. No fundo é uma opção de pensamento: pensar

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pela fotografia e pensar por palavras. No fundo, é a reflexão sobre o pen-samento de imagens que me interes-sa. Uma inquietação particular que compartilho filosoficamente através de livros e imagens carregadas de po-esia no meu grupo de estudos.

Há uma preocupação e um forte de-senvolvimento da edição entre os workshops e grupos de estudos que o Olhavê ministra. A edição é o ponto central da produção fotográfica con-temporânea? Quais são os principais desafios neste processo? Vocês acre-ditam que seja possível desenvolver uma didática para o ensino da edição e da construção de sequências na fo-tografia?AB: Sem dúvida. A edição é ubíqua e inebriante. Não falo de escolher foto “boa” e descartar foto “ruim”. Falo de algo mais abrangente. Semantica-

dor David Campany, em artigo na Aperture, quando ele fala (e cutuca) sobre o processo de edição: “Many a landmark photographic book has resulted from collaboration betwe-en photographer and editor. This complicates the presumption of the singular authorial voice that still do-minates discussion of photographic books”.

Olhavê também é editora, com uma série de livros lançados nos últimos anos. Como se iniciou esse processo? Como é o processo de escolha dos títu-los que serão lançados?AB: Nosso primeiro livro foi publi-cado em 2008: Man Ray e a imagem da mulher. Foi um livro de produção independente (recursos próprios) a partir de um desejo de escoar uma pesquisa de Georgia realizada em 1997. Veja, estamos juntos há 25 anos

mente a palavra edição é limitadora. O que fazemos está mais próximo de um híbrido entre direção + edição + montagem. E, principalmente, pro-blematizar o trabalho para encontrar caminhos e proposições. A questão não é “o quê” mostrar é “como dizer”.Nas turmas do meu grupo de acompa-nhamento de projeto e no workshop de edição, o desafio é o autor en-tender que um bom ensaio é para ser lido. Lido e compreendido de diversas formas e possibilidades. As imagens na mesa se configuram em múltiplas possibilidades. O que me interessa é aquilo que narra histó-rias, coisas, vontades, paisagens, me-mórias, símbolos, realidades, desejos.Sim, acredito que editar é refotogra-far. É articular, criar analogias, desen-rolar e, finalmente, como sempre falo para os fotógrafos que acompanho, é alinhavar. Concordo com o cura-

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e os livros sempre e são parte da nos-sa vida. Em 1999, quase abrimos uma livraria de livros e fotografia lá no Recife. Já tínhamos o espaço e conta-tos com editoras de fora. Bem, Geor-gia entrou num mestrado e o projeto acabou. Em 2012, lançamos Olha-vê Entrevista (parceria com Tempo d’Imagem) e seguimos com, em 2014, com Abismo da carne e Inquietação fotográficas (os dois foram contem-plados com o Prêmio Marc Ferrez e feitos em parceria com a Tempo d’Imagem). O movimento nos levou para os foto-livros. Mas, nunca deixando pra trás o que acreditamos. Veja, não impor-ta se é blog, curadoria, texto, livro, curso. Não mudamos nosso foco: se-riedade. Odiamos oba-oba de poder, vaidade, ego e busca incessante pela fama. Sim, quebramos a cara algumas vezes. Normal. C’est la vie. Em 2015,

lançamos Baches, Tempo arenoso e Ninguém é de ninguém, de Montser-rat Baches, Elaine Pessoa e Rogério Reis, respectivamente. Se a pergunta versa sobre linha edito-rial, é o seguinte. Queremos publicar aquilo que gostamos e admiramos. Ser independente é isso: fazemos o que desejamos, com quem admira-mos, quando podemos e como acha-mos mais legal. Também é importan-te ressaltar que o Olhavê sou eu e Georgia. Quem edita, publica, vende, cobra, embala e leva nos Correios so-mos nós mesmos. Carregamos a edi-tora na mochila e temos muito orgu-lho nisso.Com a coleção Olhavê {Projeto} lan-çada, ainda temos para esse ano o próximo livro teórico de Georgia: Jo-gos de aparência: os retratos da aris-tocracia do açúcar. Trata dos álbuns de família – do século 19 e começo

do 20 – das famílias abastadas de Pernambuco; o período do açúcar. E, 1978, da fotógrafa Gabriela Oliveira.

Vocês acabam de lançar uma nova li-nha na editora, chamada Olhavê {Pro-jeto}. Como surgiu essa ideia? O que vocês podem nos contar sobre os dois títulos lançados no começo de Março?AB: Na realidade é uma coleção. Que-remos propor livros que no seus cernes a edição seja fundamental na construção da história. Ensaios con-cisos e pontuais. Projetos redondos, potentes e propositivos. Serão dez títulos com o mesmo e primoroso projeto gráfico de Fernando Sciarra. O projeto conseguiu (foi um desafio) trazer unidade a coleção e indivi-dualidade para cada fotolivro. Papel simples, brochura, tiragem peque-na. Coisa fina para viajar nas histó-rias. Um momento para esquecer um

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pouco esse momento ilha de Caras e pensar no ensaio.Branca e Vigília, de Ligia Jardrim e Katia Kuwabara, são fotolivros que trazem histórias bem atuais e pro-blematizam questões de espaço, me-mória e cidade. São ensaios que a narrativa nos deixa viajar em possibi-lidades infinitas.

O fotolivro é hoje a grande sensação entre fotógrafos, com quase todos buscando produzir o seu. Vocês veem essa superprodução com bons ou maus olhos? Como vocês buscam dar desta-que aos livros produzidos pela editora dentro deste universo imenso de pro-duções? AB: Acho que você usou a palavra sensação no sentido tendência/co-moção/burburinho. Acho isso tudo um perigo. Nos aproveitarmos das facilidades (contemporâneas) de fer-

Achamos isso desnecessário, pouco lúcido.Procuramos fazer coisas que perdu-rem. Tenham vida longa e relevância. Acreditamos que isso é o bastan-te para garantir o tal destaque. Veja, como você lembrou, o Olhavê faz dez anos em 2017 e nesses anos todos, o que mais nos motivou e motiva é o feedback do pessoal. São demons-trações de carinho, respeito, gratidão, afeto, etc. Isso basta! Para quê ficar sapateando num palco iluminado?Vendemos nossos livros na loja on-line do Olhavê (loja.olhave.com.br), em festivais, feiras, encontros e al-guns lugares que respeitam o que fazemos. Por exemplo, em São Paulo, a Banca Tatuí (Santa Cecília), DOC Galeria (Vila Madalena), Capibaribe Centro da Imagem (Recife), etc. Nes-se semestre, iremos expandir os lo-cais físicos de venda.

ramenta, impressão e distribuição é lindo. Temos que seguir e copiar o que a música já faz há tempos. Pra quê intermediários?Esse trabalho não é simples, requer muita disposição, dedicação e refle-xão quanto aos livros que acarinha-mos. Mergulhamos. Acho que produ-zir é sempre bom. Isso não significa qualidade. Pra mim, um bom fotoli-vro é um livro de fotografia que na sua essência traz um ensaio fotográ-fico potente; um corpo de trabalho estruturado e uma narrativa que pro-ponha algo. Tudo isso balizado por uma boa edição fotográfica e um de-sign coerente.Olhe, na boa, não pensamos nisso de “destaque”, etc. É difícil para o status quo entender que existe gente tra-balhando pela vontade de trabalhar e ser feliz. Não queremos holofotes, nem gente lambendo nossas botas.

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Mercado à parte, dinheiro à parte, vaidades à parte, poder à parte,

para nós é uma questão de relacionar-se com um terreno particular

e complexo, que envolve poética, narrativa, discurso, apegos, er-

ros, acertos, achados, visão de mundo e cumplicidade.

GQ: Mercado à parte, dinheiro à parte, vaidades à parte, poder à parte, para nós é uma questão de relacionar-se com um terreno particular e com-plexo, que envolve poética, narrativa, discurso, apegos, erros, acertos, acha-dos, visão de mundo e cumplicidade. A cada ideia, estudo de edição, proje-to gráfico, encaminhamento do livro ao ganhar corpo, nos deleitamos, nos angustiamos, questionamos, retoma-mos caminhos… Mas, sobretudo, nos doamos e sentimos um prazer enor-me por eles, os livros. Colocamos o nosso profissionalismo em tudo isso, repito que com muita amorosidade e delicadeza. E com muito rigor e com-prometimento. Em alguns aspectos, que envolvem esse dito “boom”, percebo adensada fogueira das vaidades. Não é um juí-zo de valor, é uma percepção da qual, particularmente, tento ver e assistir

de fora. A observação disso tudo é mui-to importante para decantarmos o que nos motiva. É uma questão de postura. É simples assim. Eu reconheço do que se trata e respeito, cada um administra o tamanho da sua vaidade. Embora, não estar incensando está fogueira seja ta-refa fácil. Poucos compreendem essa li-nha de trabalho. Mas como falei, acima, a fotografia é complexa, assim como tra-ta o tempo todo das relações humanas. Portanto, como tudo há um sistema, e há aqueles que convivem com o sistema

com cautela. Os livros nos representam nesse sentido, produzir com qualidade edições ao seu tempo, respeitando o au-tor e manejando a ética sempre.

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PATRÍCIA MONTRASEQu’ils Mangent de la Brioche

Patricia Montrase abandonou a correria da publicida-de para se dedicar completamente à sua produção fotográfica em um período de estudos em Nova Ior-

que. Deste período, surge a série apresentada nesta edição da OLD, uma reinterpretação romântica de Maria Antonie-ta e sua cruel frase “que comam brioche”. A série caminha entre o contato com a sua personagem principal e uma imersão em um espaço onírico, que ajuda a nos transportar até o tempo da monarca francesa.

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O silêncio e a energia que

envolve a cena é puro, vem

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Patrícia, como começou seu interesse pela fotografia?A fotografia sempre foi presente na minha rotina, mas nunca como pro-fissão. Sou formada em Marketing e acabei trabalhando em agências di-gitais por um bom tempo. Foi só em 2013 que resolvi deixar o stress in-tenso da publicidade e mergulhar na fotografia de vez. Resolvi largar tudo e estudar fotografia na New York Film Academy em Nova York. Foi tudo muito intenso, mas está sendo uma jornada incrível.

Nos conte sobre o processo de criação de Qu’ils Mangent de La Brioche.A série nasceu quando eu estava es-tudando na NYFA. Na verdade, foi um exercício para trabalhar a minha

dificuldade em fotografar pessoas. Influenciada pelos meus tutores, pensei em um tema e em uma das minhas “personagens” preferidas, a Maria Antonieta. Ela foi retratada inúmeras vezes por fotógrafos, prin-cipalmente no mundo da moda, eu precisava ser diferente de alguma forma. Foi ai que a ideia do pós vida me veio a mente. Existem fotos dela com o pescoço marcado, ou mesmo sem cabeça, devido ao fato de sua decapitação, mas achei melhor tra-balhar algo mais sutil, poético e obs-curo.

Qual o papel da ficção e do fantástico na sua produção?Acho que por influência pessoal, acabo transferindo tudo que leio,

assisto e pesquiso no meu trabalho. Sou uma bookworm e viciada em sé-ries e filmes. A música também traz uma influência muito grande. En-tão o meu meio de expor tudo isso acaba sendo em imagens. No caso da Maria Antonieta, já havia assistido o filme da Sofia Coppola inúmeras ve-zes, pesquisei livros, documentários, pinturas e pude visitar o Palácio de Versalhes na França. Uma das mi-nhas paixões em todo o processo, é sentar e pesquisar sobre o tema de um projeto.

Quais os desafios de criar essa viagem

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paz dentro da natureza. O silêncio e a energia que envolve a cena é puro, vem da própria natureza, a textura vem da técnica que uso, influencia-da pelo estilo Pictorialista, sempre usei tecidos na frente da lente e sou apaixonada por fotografia analógi-ca, o que também ajuda muito nesse sentido. O tecido usado neste caso, foi o que ela usa nos olhos em uma das fotos, além de dar a textura que buscava, dei a possiblidade ao ex-pectador de ver através dos olhos de Antonieta. A melancolia abraça tudo em volta, permitindo que a modelo mergulhe em um transe sem muito esforço.

no tempo fotográfica, voltando ao sé-culo XVIII?De início eu fiquei preocupada, por-que eu não tinha uma equipe dispo-nível e muito menos um stylist. Pas-sei noites e noites pensando no que poderia fazer sem toda essa produ-ção. Acabei me apoiando na própria história, usando uma maneira mais estratégica de trabalhar o simples. E foi no Petit Trianon que achei minha resposta.

Como o espaço ajuda a construir a at-mosfera e a narrativa nesta série?Eu morava ao lado do Prospect Park no Brooklyn, e em uma caminhada pelas árvores antigas de lá, acabei pensando no Petit Trianon, a casa no campo que o rei deu para Antonieta fugir da agitação. O parque pra mim, tinha esta mesma função, buscar a

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GUILHERME TOSETTOTerceira

Terceira é uma experiência visual ligada a um espa-ço geográfico específico, uma visita a uma ilha e a tentativa de compreendê-la visualmente. Guilherme

Tosetto passou uma temporada na Ilha Terceira, território português entre Europa e América, produzindo uma série de imagens que discutissem a grandeza da paisagem local e a pequenez da ilha em meio ao oceano atlântico.

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Apresento visualmente uma porção de terra ocupada, e como qualquer outra, com marcas e rastros desta ação.

Guilherme, como começou seu interes-se pela fotografia?A minha aproximação com a foto-grafia aconteceu durante a faculda-de, em 2001, onde pude entrar pela primeira vez no laboratório e apren-der como revelar imagens a partir de um negativo. Desde aquele momen-to, percebi que a minha preferência era pelo que acontecia depois do ato fotográfico em si, principalmente o processo de revelação e edição. Pos-teriormente, fiz um curso de espe-cialização em fotografia e concluí o mestrado em multimeios, ampliando a minha atuação também no campo teórico da imagem fotográfica.

Nos conte sobre a criação do ensaio Terceira.

Este ensaio surgiu durante uma vi-sita à Ilha Terceira, nos Açores, em Portugal. Estive durante 5 dias nesta porção de terra que pertence ao ter-ritório português, no Município da Praia da Vitória. Ao chegar lá pude perceber ao mesmo tempo a grande-za da paisagem local, e a pequenez da ilha localizada no meio do Oce-ano Atlântico, entre Europa e Amé-rica. O que motivou o ensaio foi a percepção deste lugar do qual não possuía nenhuma referência visual.

Quais os papeis da geografia e da me-mória na criação deste ensaio?A paisagem como conceito geográfi-co tem um papel fundamental, pois ela funciona como o território e ce-nário deste ensaio. Apresento visual-

mente uma porção de terra ocupada, e como qualquer outra, com marcas e rastros desta ação. E são justamente estes sinais – restos, pegadas, objetos e construções – que, reunidos neste ensaio, funcionam como memórias visíveis.

Quais foram os principais elementos que você usou para construir a sua narrativa?No processo de edição, as fotografias traçam a narrativa através de imagens que revelam, de algum modo, a pre-sença humana na Ilha Terceira, foto-grafias que mostram rastros de uma

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elementos naturais, como as vistas da praia, para facilitar a aproximação com este espaço que não é dele.

ocupação, como as pegadas e cons-truções. Busquei também apresentar a noção da amplitude da paisagem, como a ilhota partida ao meio e o mar. As texturas e as cores também funcionam como elementos visuais importantes na narrativa, as paredes mofadas, o metal oxidado, o amarelo e vermelho nas construções e o azul do crepúsculo.

Como você busca trazer o observador para dentro de um espaço que ele, pro-vavelmente, ainda não conhece?Busco apresentar elementos visuais estranhos ao universo do observa-dor. Uso isso como meio para atrair sua atenção e convidá-lo a entrar em um espaço desconhecido, como a fo-tografia da sinalética, que não tem sentido em outro contexto. Ao mes-mo tempo trabalho com imagens de

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Quando trazemos à memória A moça com brinco de péro-la, de Johannes Vermeer ou

O sonho da razão produz monstros, de Francisco de Goya y Lucientes, notamos que o tema luz e sombra são clássicos da pintura. A luz costu-ma se apresentar associada ao bom, ao divino, ao belo, ao jovem, ao vivo... no corner oposto temos a sombra, o lado negro da força, representando o doentio, o maléfico, o diabólico, Lú-cifer, este que, em aparente contra-dição, significa aquele que traz a luz.

Podemos aqui traçar uma linha que liga a pintura e a fotografia. O siste-ma de zonas criado por Ansel Adams, uma maneira de se medir a luz para alcançar a maior quantidade de tons de cinza na impressão em papel a partir do negativo, busca desenvol-ver no olhar do fotógrafo uma apro-ximação mais íntegra dos tons mais claros e dos mais escuros. Tomando como referência os milhões de cores do sRGB, passeamos também entre luzes e sombras. Definimos o que ganhará destaque em uma imagem, dentre outras coisas, com o jogo de contrastes e luminosidades. Muitas vezes tomamos os contrastes como oposições ou exclusões. Busca-mos algo mais suave ou menos de-finido porque acreditamos que su-avizar as diferenças é algo positivo.

Quero chamar a atenção para outra forma de considerar o assunto. Uma maneira de lidar com oposições ou diferenças que nos aproximem dos pólos em questão e nos permitam reconhecê-los como aspectos dis-tintos de algo que se torna inteiro à medida que reconhecemos o essen-cial de cada um deles e a relação que eles estabelecem entre si.A integridade da foto brota dos con-trastes, ganha vida nas texturas resul-tantes desse jogo da luz e da sombra com nossos olhos. Talvez a integrida-de do tema abordado na imagem e a nossa própria venham do reconheci-mento das diferenças entre a luz e a sombra e da observação dos efeitos que aquela luz e aquela sombra pro-duzem no recorte que nós fizemos. A vida vem da diferença.

Angelo José da Silva é professor de socio-

logia na Universidade Federal do Paraná e

fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes fo-

cam o espaço urbano e o grafite.

LUZ E SOMBRA reflexões

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reflexões

Muitas vezes tomamos os contrastes como oposições ou exclusões. Buscamos algo mais sua-ve ou menos definido porque acreditamos que suavizar as diferenças é algo positivo.

coluna

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[email protected]

MANDE SEU PORTFÓLIO

Fotografia do ensaio Feira de Ciências, de Romy Pocztaruk.Ensaio completo na OLD Nº 56.

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