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1 Para conhecer mais sobre o meu trabalho, acesse os links abaixo: Blog -> www.psicologiaribeiraopreto.com.br/blog Site -> www.psicologiaribeiraopreto.com.br Facebook -> www.facebook.com/psicologiaribeiraopreto e e-mail [email protected] Olá, tudo bem? Você está prestes a conhecer algumas das crônicas que pertencem à obra “O divã no dia a dia: crônicas do cotidiano sob o olhar da psicanálise”, escrita por mim. A minha motivação para escrever este livro nasceu do desejo de aproximar a psicanálise de um número maior de pessoas, estimulando nelas o desejo de investir em uma análise. Desde que foi criado, no final do século XIX por Sigmund Freud, o método psicanalítico vem ajudando muitas pessoas no mundo todo a conviver melhor com seus sentimentos e com seu mundo mental. Neste sentido, a psicanálise se apresenta como um valioso instrumento para ajudar as pessoas a se tornarem mais felizes e a acolherem, com compaixão e tolerância, as dificuldades naturais do dia a dia. Logo abaixo, há também o sumário da obra. A ideia é que você descubra quais são os outros temas, tratados nos sete capítulos do livro. A obra completa poderá ser adquirida nas melhores livrarias e também no site da editora IELD (www.ield.com.br). Boa leitura e espero que vocês gostem! Ana Laura Moraes Martinez

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Olá, tudo bem?

Você está prestes a conhecer algumas das crônicas que

pertencem à obra “O divã no dia a dia: crônicas do cotidiano sob o

olhar da psicanálise”, escrita por mim.

A minha motivação para escrever este livro nasceu do

desejo de aproximar a psicanálise de um número maior de

pessoas, estimulando nelas o desejo de investir em uma análise.

Desde que foi criado, no final do século XIX por Sigmund

Freud, o método psicanalítico vem ajudando muitas pessoas no

mundo todo a conviver melhor com seus sentimentos e com seu

mundo mental.

Neste sentido, a psicanálise se apresenta como um valioso

instrumento para ajudar as pessoas a se tornarem mais felizes e a

acolherem, com compaixão e tolerância, as dificuldades naturais

do dia a dia.

Logo abaixo, há também o sumário da obra. A ideia é que

você descubra quais são os outros temas, tratados nos sete

capítulos do livro.

A obra completa poderá ser adquirida nas melhores

livrarias e também no site da editora IELD (www.ield.com.br).

Boa leitura e espero que vocês gostem!

Ana Laura Moraes Martinez

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Sumário do Livro

“O divã no dia a dia: crônicas do cotidiano sob o olhar da psicanálise”

Capítulo 1 - Apresentando a psicanálise

• O que é a psicanálise

• Dúvidas comuns sobre o atendimento psicanalítico

• A mente humana – uma obra sempre aberta

• Perspectivas para o desenvolvimento mental da humanidade

Capítulo 2 - Comunismo e Educação no Contemporâneo

• A verdadeira riqueza humana

• Angústias de Natal e de Ano-Novo e a necessidade de comprar presentes

• Para que serve mesmo a universidade?

• Reflexões sobre a escolha pelo curso de psicologia

Capítulo 3 - Reflexões sobre o Trabalho

• Impactos da arrogância nas aprendizagens humanas e no ambiente de trabalho

• O tempo está passando mais rápido?

• Desafios em tempos de aposentadoria

Capítulo 4 - Reflexões sobre Amizade

• Definindo campos de sentidos para a amizade

• É preciso ser infinito para ser só

• A hora do sim é o descuido do não

• Impactos da inveja nas relações de amizade

Capítulo 5 - Nas Tramas do Amor e da Sexualidade

• Tecendo as delicadas tramas entre amor e sexualidade

• Reflexões sobre o amor maduro

• O amor está em extinção?

• Um olhar psicanalítico sobre o ritual do casamento

Capítulo 6 - Conversando sobre Crianças e Famílias

• As famílias na sociedade contemporânea

• Diferenças entre casa e lar – a importância estruturante da família para a mente

humana

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• Impactos da separação conjugal na vida dos filhos

• A dor do crescimento

Capítulo 7 - A Morte como Companheira

• Envelhecimento e morte: estes nossos incômodos (des) conhecidos

• O que fazemos quando a vida vai chegando ao fim?

• Até quando devemos prolongar a vida humana?

• A mastectomia total de Angelina Jolie e a varinha de condão da medicina genética

Texto 1

Angústias de Natal e de Ano Novo e a necessidade de comprar presentes

Com a proximidade das datas de Natal e Ano Novo, o predomínio nas pessoas de um

funcionamento que chamamos na Psicanálise de estado maníaco. Explico-me. Segundo Melanie

Klein1, defesas maníacas têm como propósito a evitação do contato com angústias depressivas que

derivam do sentimento de perda de algo.

Experimente ir a um shopping-center no final do ano e notará o clima de excitação e

agitação no ar. Pessoas enlouquecidas correndo de um lado para o outro PRECISANDO comprar

presentes. Não importa o que e nem para quem será o presente. O ato de comprar importa mais do

que o presentar em si.

Do ponto de vista psicanalítico, precisar fazer algo de forma compulsiva corresponde a uma

necessidade premente de realizar uma ação para evitar que a mente seja invadida por sentimentos

desprazerosos. Trata-se, portanto, de uma ação de evitação, ou, para falar psicanaliticamente, de

uma evitação fóbica. Compra-se para evitar a eclosão da tristeza. É por isso que é tão comum

ouvirmos pessoas se queixarem de que no final do ano ficam mais tristes e deprimidas.

Mas, porque o FINAL de ano ativa em nós angústias depressivas?

Eu não disse anteriormente que a angústia depressiva está ligada ao sentimento subjetivo

de perda de algo? Mas o que é que sentimos estar perdendo nesta época do ano?

1 Klein, Melanie. (1996). Amor, culpa e reparação e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1975).

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Neste período, que envolve as festividades de Natal e de Ano Novo, somos impelidos a

entrarmos em contato com sentimentos ligados aos ciclos de vida e morte, que são expressos,

respectivamente, pelo nascimento do menino Jesus e pela morte do ano velho.

Não sei se já pararam para pensar nisso, mas tanto no nascimento quanto na morte há

perdas significativas que precisamos tolerar. No primeiro caso, há a perda do útero e o trauma do

nascimento e todo o esforço que nós tivemos que fazer para sobreviver, na condição frágil de um

bebê, em um mundo hostil e desconhecido. É por isso que nos sentimos tão identificados com o

bebê menino Jesus na manjedoura. Porque em nossos inconscientes, todos nós sabemos o que é

vivenciar a condição de um bebê frágil e perseguido (pelo seu mundo interno).

No segundo caso – o final de um ano – há a vivência ligada ao fim, ou seja, à morte que

representa, em termos inconscientes, algo extremamente temido e assustador para todos nós.

Trata-se da perda da vida em um processo que é irreversível, já que ninguém que morre volta a

viver. É por isso que muitas pessoas fazem listas de projetos para o próximo ano e promessas para

o futuro, movimentos que visam aplacar estas angústias ligadas ao fim através da esperança (de

que o ano que vem me reserva muitas coisas boas)

Ressalto que estas mesmas angústias – de perda pelo útero protegido e de aproximação

com o fim – são vividas também em nossos aniversários, o que justifica o sentimento depressivo

que muitas pessoas alegam sentir neste dia.

Então, acredito que nestes períodos de final de ano revivemos, de forma coletiva, angústias

primitivas deste tipo que ficaram inscritas em nosso inconsciente de maneira atávica.

Como medidas fóbicas, ou seja, de evitação da irrupção destas angústias de perda, temos

um rol de coisas que fazemos nesta época: 1)reunir-nos em grupo – em grupo o bicho papão fica

sempre um pouco dissipado, pois, podemos terceirizar em algum grau a nossa angústia. Quem

nunca ouviu uma tia te dizer na noite de Natal que você estava com uma carinha triste, quando na

verdade você estava ótima? 2)comprar presentes – que é o que estamos tratando aqui;

3)embebedar-se; 4) soltar fogos de artifício, pois, com aquele barulho todo quem é que vai

conseguir ouvir o que está dizendo a sua cabeça?

Como nosso tema é o ato compulsivo de comprar, é importante sabermos que esta não é a

única maneira que temos de lidar com nosso bicho-papão interno. Aliás, todas estas medidas que

eu elenquei são medidas, às vezes necessárias, é verdade, mas pobres, porque em nenhuma delas

eu posso de fato viver o que está se passando dentro de mim. São todas formas de me evadir do

que eu estou sentindo.

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Mas de que outra forma isso pode ser vivido?

Na medida em que a mente do indivíduo tem maiores condições de conter angústias

depressivas, esta época pode ser propícia para balanço e reflexões. Neste caso, a pessoa poderá se

deixar penetrar sim pela beleza dos enfeites e das luzes, sentindo com isso uma espécie de enlevo e

paz interior. E poderá, inclusive, rever qual o sentido de dar um presente para esta ou aquela

pessoa, fazendo isso por um ato consciente de vontade e não por um impulso que visa aplacar

angústias intoleráveis.

Tudo irá depender, portanto, da capacidade de contenção e acolhimento destas angústias

depressivas naquele momento.

Espero ter conseguido transmitir a ideia que pretendia: não sou contrária ao ato de

presentear alguém, algo que pode ser extremamente prazeroso. Mas, o que tentei discutir é que a

necessidade compulsiva por comprar presentes nesta época do ano pode, na verdade, estar ao

serviço do aplacamento de angústias profundas das quais o sujeito não se dá conta.

De minha parte, acho este período do ano uma delícia. Não para me meter em um

shopping, mas para olhar as luzes, rever escolhas, fazer projetos… Enfim, para renovar, como diria o

autor desconhecido deste poema2:

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,

a que se deu o nome de ano,

foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança

fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano

se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez

com outro número e outra vontade de acreditar

que daqui para diante vai ser

2 Acreditava que este poema chamado “Cortar o tempo” era de Carlos Drummond de Andrade, mas fui informada pelo site oficial do autor www.carlosdrummonddeandrade.com.br que este texto não é de sua autoria. O texto que ele escreveu é “Receita de Ano Novo”. Entretanto, como o poema é bonito, embora de autoria desconhecida, resolvi deixá-lo no livro.

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Texto 2

Impactos da inveja nas relações de amizade

Como costumo sempre dizer, a alma humana, em seus recônditos mais profundos, não é cor

de rosa. Entretanto, nenhum ser humano se sente muito confortável diante desta constatação – a

de que nossa alma (mente, psiquismo) é habitada não somente por bons sentimentos, mas,

também por ódio, desejos destrutivos e violentos e, sobretudo, pela inveja e seus derivados.

Mas, comecemos por definir o que é inveja embasando-nos na compreensão da psicanalista

que mais contribuiu nesta questão – Melanie Klein3.

Para ela, a inveja é um sentimento complexo e diz respeito ao desejo que o invejoso possui

de destruir, espoliar e danificar a bondade e as qualidades da pessoa invejada. No prefácio da

introdução de sua principal obra sobre esta temática, “Inveja e gratidão”, o psicanalista David

Zimmermann cita uma interessante fábula que vai nos ajudar a clarificar do que se trata a inveja. A

fábula é a seguinte:

Uma fada aparece diante de um invejoso dizendo que ela poderá, magicamente, dar-lhe

tudo o que seus desejos imaginarem – bens materiais, qualidades pessoais e toda a sorte de

felicidade. Mas há uma única condição para que isso ocorra: que seus vizinhos, pessoa a quem ela

muito invejava, obtivesse em dobro seus desejos. Sabem o que o invejoso desejou? Que a fada lhe

arrancasse um olho!

Como vocês podem ver, o âmago do sentimento invejoso não é somente possuir aquilo que

provoca inveja (qualidades, bens materiais e recursos internos), mas impedir que a pessoa invejada

também possua as qualidades invejadas. Como fica evidente na fábula, o invejoso preferiu perder

os olhos (que é o órgão que permite que ele veja as qualidades do objeto) a ter as qualidades

invejadas, pois isso implicaria em ter que proporcionar o bem também ao vizinho.

É este caráter extremamente danoso e empobrecedor da inveja que faz com que Melanie

Klein tenha a considerado a “mãe” de todos os pecados capitais. Para ela, enquanto os outros

pecados capitais (ira, gula, avareza, preguiça, orgulho e luxúria) atacam somente uma virtude

humana, a inveja ataca toda e qualquer virtude, ou seja, ataca a própria bondade – mãe de todas as

virtudes.

Neste sentido, a qualidade que mais provoca inveja não são os bens materiais, a casa bonita

ou a viagem dos sonhos que uma pessoa realiza. Pela minha experiência, o que mais desperta

3 Klein, Melanie. (1974). Inveja e gratidão – um estudo das fontes inconscientes. Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1957).

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inveja e impulsos destrutivos são as qualidades internas de uma pessoa, sua a bondade, equilíbrio e

a paz de espírito.

Como nosso propósito aqui é discutir os impactos funestos da inveja nas relações humanas

quotidianas, sobretudo nas amizades, já temos alguns elementos para pensar.

Eu não disse acima que as qualidades que mais despertam inveja são os bons sentimentos

que um ser humano é capaz de sentir?

Então, diante disso, uma pessoa fortemente motivada pela inveja pode buscar, de forma

inconsciente, ou seja, sem que se dê conta disso, artifícios para “estragar” o equilíbrio do ser

invejado.

Pode, por exemplo, tecer comentários maldosos sobre a conduta equilibrada do colega

dizendo que não entende como esta pessoa deixa-se fazer de boba diante de uma situação em que,

na verdade, a pessoa conseguiu manter seu equilíbrio interno.

Pode ainda, através de potentes mecanismos mentais, buscar estragar o equilíbrio tão

invejado, fazendo coisas para tirar o colega do sério, fazendo-o perder a cabeça.

Outro recurso muito comum utilizado pelo invejoso é o de provocar inveja no outro. Com

isso, ele sente poder fazer o outro sentir a mesma inveja terrível que o assola. E ele pode buscar

isso de várias maneiras. Por exemplo, diante de um comentário de um amigo sobre uma

importante conquista, o invejoso pode necessitar falar, ele próprio, de uma conquista sua, visando

provocar nele a mesma inveja que está sentindo.

Como vocês podem ver, os efeitos da inveja são nefastos e danificam profundamente a

mente daquele que a sente, bem como sua capacidade de usufruir da bondade e da beleza da vida.

Deriva-se daí a ideia expressa pelo dito popular de que para algumas pessoas a grama do

vizinho é sempre mais verde.

Do ponto de vista teórico, esta expressão popular denota o caráter de eterna insatisfação

que potentes sentimentos invejosos despertam na pessoa. Ela nunca pode ficar feliz com suas

próprias conquistas porque sua inveja estraga não somente as qualidades do outro, mas,

sobretudo, a sua capacidade de usufruir da vida.

Uma questão muito corriqueira sobre esta temática é se todos nós sentimos inveja ou se

esta “maldição” é reservada a apenas alguns pobres seres humanos.

E a resposta é: Sim! Todos nós sentimos inveja.

Não é possível passarmos pela vida sem sermos atormentados por este sentimento. Para

Klein, a inveja é constitucional, ou seja, já nascemos com o potencial para este sentimento. Todos

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nós! O que irá mudar de uma pessoa para outra é a quantidade de inveja que ela irá sentir e a

capacidade que terá para contrabalancear este sentimento com outros, mais amorosos e

benevolentes.

Com a ajuda de uma análise não deixamos de sentir inveja, pois este é um sentimento

humano e universal. Com este auxílio, o que muda é que passamos a tomar maior consciência dos

momentos em que somos assolados por ondas de inveja e desejo de destruição e podemos, com o

auxílio dos nossos sentimentos amorosos, conter esta onda, não a deixando destruir relações e o

nosso equilíbrio mental.

Para finalizar, há somente mais um elemento que gostaria de destacar.

Além da inveja que sentimos dos outros, há outro componente deste sentimento que

precisa ser destacado – a inveja que sentimos de nós mesmos.

Sim, nós também sentimos inveja das nossas próprias conquistas!

Quando nos vemos diante de uma importante conquista (profissional, pessoal, um sonho

realizado, uma nova qualidade de mente), ativamos mecanismos derivados das pulsões de morte

que atacam esta conquista e sentimos inveja da nossa parte que está se desenvolvendo. Isso se dá

tanto pela ação de sentimentos invejosos pelo próprio crescimento quanto pela culpa que o

crescimento mental naturalmente gera.

Este fenômeno, muito comum aos psicanalistas, explica, por exemplo, porque algumas

pessoas, diante do seu sucesso, sucumbem e são impelidas por uma necessidade imperiosa de

destruírem tudo o que conquistaram – fenômeno bem visível entre personalidades famosas,

cantores e estrelas de cinema.

Outros, por outro lado, diante do sucesso, pela sua forte capacidade de amar, seguem

cuidando de seu desenvolvimento e mantendo contato profundo com o que é realmente

importante e fundamental para si, tendo maiores condições de não se deixarem seduzir pelas

ficções ligadas à fama e ao sucesso que estimulam a arrogância, o orgulho e a vaidade.

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Texto 3

Um olhar psicanalítico sobre o ritual do casamento

Fadas, bruxas e príncipes

Desde pequeninas nós mulheres exercitamos nossa feminilidade brincando de bonecas,

vestindo roupas e sapatos de nossas mães e sendo princesas ou fadas a espera de um príncipe

encantado que pode vir personificado de diversas maneiras – de Menudos à Justin Bieber.

Em suma, nós nos transformamos de meninas em mulheres ativando as nossas mais

profundas experiências edípicas vivenciadas com nossos pais e mães (reais e fantasiados), cada um

deles tendo papel crucial nesta metamorfose.

A dor e a delícia de ser quem se é

A questão é que esta metamorfose que nos faz abandonar a posição infantil para assumir a

identidade de mulher adulta está longe de ser só agradável e fácil de ser vivida.

E é por isso que os rituais de passagem (festa de debutante e casamento, por exemplo)

continuam sendo tão importantes: porque, de alguma maneira, eles integram em nosso

inconsciente vivências intensas, individuais e familiares, que são evocadas ao longo do processo.

O que estou querendo dizer é que, junto da beleza e do encantamento desta metamorfose

de lagarta à borboleta, há muita dor e angústia evocada pelo próprio processo, embora, nem

sempre as pessoas tenham consciência de que a angústia que estão sentindo se deve a esta

transformação interna.

É por isso que é tão comum vermos uma noiva simplesmente surtar com o seu vestido ou

com o bem-casado. Outra forma de escape da angústia é o casamento transformar-se em uma

espécie de fetiche. Lembro a vocês que fetiche em Psicanálise significa que a coisa em si (nesse

caso, a festa em si) passa a substituir o significado emocional do ritual.

Mas, quais angústias uma mulher às vésperas de subir ao altar irá ativar em seu

inconsciente?

Para tentar responder a esta complexa questão irei recorrer à fábula “Cinderela” dos irmãos

Grimm, pois, acho que nela estão contidas algumas das angústias centrais que são mobilizadas

neste importante momento da vida da mulher.

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A fábula da Cinderela

A fábula conhecido como Cinderela ou Gata Borralheira possui várias versões. Uma delas foi

elaborada, em 1810, pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm – dois alemães que se dedicaram à

criação e registro de diversas fábulas infantis. Muitas de suas fábulas foram modificadas

posteriormente por serem consideradas violentas demais para as crianças.

Aí vai um breve resumo da fábula Cinderela...

A mulher de um homem muito rico estava muito doente. Ao perceber a proximidade da

morte, chamou sua única filha ao leito e disse a ela para ser boa e piedosa com Deus e que ela (a

mãe) estaria sempre olhando por ela. Dito isso, a mulher morreu. Durante todo o inverno rigoroso,

a jovem visitou e chorou sobre o túmulo de sua mãe. Chegada à primavera, seu pai encontrou outra

esposa com quem se casou. Esta esposa tinha duas filhas que eram bonitas por fora, mas feias e

más por dentro. Tanto a madrasta como suas filhas tratavam a jovem moça muito mal – forçavam-

na a limpar a casa, a vestir roupas velhas, a dormir no chão e a cozinhar, lavar e passar.

Derramavam, só por maldade, ervilhas e lentilhas pelo chão só para que ela as catasse, uma a uma.

Como a moça estava sempre suja e empoeirada as filhas da madrasta lhe deram o nome de

Cinderela – nome que remete a borralho, sujeira em inglês. Certo dia, o pai estava indo à feira e

perguntou às moças o que elas queriam. As filhas da madrasta disseram que queriam belas jóias e

vestidos. Cinderela pediu que o pai lhe trouxesse o primeiro galho de árvore que batesse em seu

chapéu. Assim foi feito. Cinderela plantou este galho no túmulo de sua mãe e, de tanto chorar sobre

ele, nasceu ali uma bela árvore. Todos os dias Cinderela chorava e rezava sob a árvore e passarinhos

brancos vinham realizar os seus desejos. Um belo dia foi anunciado que o filho do rei faria uma festa

para escolher sua noiva. As filhas da madrasta ficaram alvoroçadas. Cinderela também queria ir,

mas não tinha nem roupas nem sapatos. Além disso, tinha que catar as lentilhas e ervilhas que

foram derrubadas de forma maldosa pela madrasta e suas filhas. Pediu ajuda de suas amigas

pombinhas, que rapidamente lhe ajudaram. Triste por não ter roupas adequadas, foi ao túmulo da

mãe e pediu “Balance e se agite, árvore adorada. Me cubra toda de ouro e prata”. O passarinho lhe

deu um lindo vestido de festa e sapatos brilhantes. Assim, Cinderela foi ao baile e dançou a noite

toda com o príncipe, encantado com sua beleza. No momento de ir embora, o príncipe quis

acompanhá-la até em casa para saber quem era sua família, mas Cinderela fugiu dele e se escondeu

no pombal. O príncipe ficou em frente à sua casa até o pai da jovem aparecer e lhe questionou

quem era aquela moça com quem ele tinha dançado. E o pai pensou: “Deve ser Cinderela”. Na noite

seguinte, houve mais um baile e Cinderela surgiu com um vestido ainda mais belo. No final da noite,

novamente se escondeu do príncipe, mas agora no topo de uma árvore. Na terceira noite, tudo se

repetiu, mas desta vez o príncipe, já sabendo da fuga de sua amada, foi mais esperto e resolveu

passar piche na escadaria do palácio – assim, o sapatinho ficaria preso lá e ele saberia, finalmente,

quem era aquela jovem dama. Na manhã seguinte, dirigiu-se à casa do pai de Cinderela e disse que

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só se casaria com a dona daquele sapato. As filhas da madrasta experimentaram o sapato, que

ficou muito apertado. Desesperadas, uma delas cortou o calcanhar e outra o dedão do pé, mas o

príncipe notou o sangue e descobriu o engodo. Perguntou se havia mais alguma moça na casa e o

pai disse que sim, que havia a filha raquítica de sua ex-mulher. O príncipe pediu para vê-la e

experimentar o calçado nela. Ao vê-la, imediatamente a reconheceu. Além disso, o sapato serviu

perfeitamente. No dia do casamento do príncipe com a Cinderela, embora a madrasta e suas filhas

estivessem com muita raiva, queriam voltar a ser amigas da jovem. Mas, as pombinhas furaram os

olhos das duas irmãs, punindo-as por tanta maldade e inveja.

Interpretação da fábula

A fábula inicia com a morte da mãe da Cinderela e, em seguida, com o seu pai se casando

com uma madrasta. E aqui já fazemos uma pausa.

Se pensarmos que esta fábula expressa fantasias inconscientes da menina Cinderela,

podemos considerar que a morte de sua mãe representa a concretização, em fantasia, de desejos

assassinos com relação a ela. Além disso, está implícita aí a sua frustração por não ser ela, e sim a

má-drasta, a assumir o lugar da mãe junto ao pai.

Resumindo, uma das conflitivas que será fortemente ativada no inconsciente da menina-

moça é o de sua relação amorosa e odienta / invejosa com relação à figura materna. É a

predominância dos sentimentos amorosos sobre os hostis que definirá, em grande parte, o sucesso

ou fracasso desta metamorfose. Notem que estou falando não somente da mãe real, mas,

sobretudo da mãe internalizada pela menininha. É esta mãe da infância que precisará em certa

medida ser morta (como acontece no conto) para que a garotinha se torne, finalmente, uma

mulher.

Melanie Klein4, em termos teóricos, situa que para a menina finalmente se tornar mulher

precisa “fazer as pazes com o seio” devolvendo a ele o seu potencial criativo. Sem esta passagem à

posição depressiva, segundo ela, a menina-mulher tenderá a viver este processo inundada por

angústias persecutórias e paranóides.

E quem seria esta má-drasta má do conto?

Ela é a mãe má que se interpõe entre a menina e o pai e só por isso já tem motivo de sobra

para ser simplesmente odiada. Esboça, portanto, a mulher adulta que impede o acesso na

4 Klein, M. (1997). Os efeitos das situações de ansiedade arcaicas sobre o desenvolvimento sexual da menina. In: Klein, M. A Psicanálise de crianças. (pp. 213-257). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho originalmente produzido em 1975)

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triangulação edípica da menina ao pai. Em termos kleinianos, a má-drasta é a mãe má ou o seio

mau.

E as irmãs-más-invejosas, que no conto têm os olhos furados pelas pombinhas por terem

sido invejosas e más?

Podemos pensar que elas representam, ao mesmo tempo, aspectos invejosos da própria

Cinderela com relação ao seu desenvolvimento e à sua nova identidade mulher (sim, nós temos

inveja do nosso próprio desenvolvimento!), assim como aspectos invejosos reais que são

despertados em outras mulheres, sobretudo dentro do núcleo familiar, no “tão sonhado dia”.

Mas, retornando ao conto, é interessante notar que, depois que o príncipe se apaixona por

Cinderela e ela se esconde dele, é somente o pai da moça que intui que a mulher que o príncipe

procura é a sua filha. Não seria esta uma referência ao importante papel que o pai da noiva tem no

ato de autorizar “a entrega” de sua filha a outro homem?

A função paterna

Sabemos que o pai tem uma função crucial nesta resolução da identidade sexual da menina,

pois, é ele quem poderá auxilia-la a viver plenamente sua feminilidade sem tantas culpas,

autorizando-a a encontrar o seu homem (que, na verdade, é sempre um reencontro) e a gozar com

ele os prazeres de ser mulher.

Não é a toa que no ritual do casamento é o pai da noiva que a leva, orgulhoso, pelo braço e

“lhe concede a mão” ao noivo.

Enquanto isso, normalmente a mãe da noiva está chorando no altar, provavelmente

mobilizada por sentimentos ambivalentes de orgulho de sua filha “agora mulher”, mas também de

perda e pesar pela “filhinha que se vai”; de inveja pela beleza e juventude da filha, mas também de

admiração pela beleza e juventude dela.

Crescer ou não crescer? Eis a questão

Ainda na fábula, Cinderela esboça um jogo de mostra-se-e-esconder-se do príncipe durante

três dias, movimento que pode revelar sua ambivalência entre o casamento e a manutenção de sua

identidade infantil, ambivalência até certo ponto natural já que a identidade adulta exige muito

mais responsabilidades da personalidade em questão.

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Ressalto, nesse sentido, que toda mudança de identidade envolve um luto e, nesse caso,

penso que um dos lutos necessários é o da identidade infantil perdida, que no conto é expresso,

por exemplo, através das fantasias de onipotência (quando ela chora no túmulo da mãe,

imediatamente consegue o que quer) e de não responsabilização pelos seus atos (por não suportar

perceber que é ela própria que desejou a morte da mãe, personifica sua maldade na má-drasta).

O dia mais feliz de sua vida?

Diante disso tudo, deu pra perceber que o “dia mais feliz da sua vida” não deveria ser

encarado com tanta ingenuidade e idealização por nós mulheres porque “o dia mais feliz de sua

vida” vai trazer com ele milhões de exigências internas que, caso não tenham sido mobilizadas até

então, irão bater à sua porta e te tirar noites de sono.

Assim como no caso da maternidade, acredito que o casamento é investido em nossa

sociedade atual de ares de romantismo e idealização, sentimentos que não contemplam e

descrevem, de forma verdadeira, a complexidade emocional implicada nestes delicados processos.

Com isso, muitas noivas e noivos acabem ficando sós (e normalmente culpados) para

viverem esta crise natural e necessária, a única que fará com que a mulher possa nascer de seu

casulo de lagarta-borralheira. Ou então, angústias preciosas e riquíssimas se esvanecem em meio a

tules, plumas, cabelos e “rituais” cada vez mais mecanizados e parecidos uns com os outros,

exatamente como eu tenho visto cada vez mais serem os casamentos contemporâneos.