[ok] - raul livino ventim de azevedo - o j+¦ri e a m+¡dia

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XIII Concurso para magistratura federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região Análise da comissão examinadora RAUL LIVINO VENTIM DE AZEVEDO Coordenador responsável: Rhuan Carlos Duarte Martins ([email protected] ) Equipe: 1) Jáder Benedito; 2) Renato; 3) Andressa Mirella; 04) Roberta Santiago. Artigos científicos de autoria do examinador O JÚRI E A MÍDIA A instituição do Júri – um direito fundamental do cidadão de ser julgado pelos seus pares, na dicção da Constituição de 88 – tem sofrido, nos tempos presentes, acentuado desvio sob influência da mídia que, hodiernamente, projeta a violência para além do real concreto, sem, entretanto, dar atenção às ações humanas praticadas em obediência aos ditames da moral e das regras de trato social, que, tenho certeza, são inúmeras, todavia não merecem programas similares ao de Cidade Alerta , Barra Pesada e outros onde fosse permitido à sociedade ter ciência das boas ações praticadas, o que certamente levaria à convicção de que o crime, que nem sempre é oriundo de estado de violência, não é a regra. A vida é um bem valioso e, por isso, protegida penalmente. O preceito da norma primária incriminadora ameaça com sanção privativa da liberdade qualquer um que exponha a perigo ou danifique este valioso bem individual. Quando o elemento anímico que preside a conduta que venha a danificar o bem vida for o dolo, cabe ao juiz formado por pessoas que integram a comunidade do autor e do réu julgar este. O julgamento pelo Júri implica análise das condições do agente do fato, bem assim das condições da vítima,

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resumao raul livino azevendo

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15 de julho de 2009

XIII Concurso para magistratura federal do Tribunal Regional Federal da 1 Regio

Anlise da comisso examinadora

RAUL LIVINO VENTIM DE AZEVEDOCoordenador responsvel: Rhuan Carlos Duarte Martins ([email protected])

Equipe:

1) Jder Benedito; 2) Renato; 3) Andressa Mirella; 04) Roberta Santiago.Artigos cientficos de autoria do examinadorO JRI E A MDIAA instituio do Jri um direito fundamental do cidado de ser julgado pelos seus pares, na dico da Constituio de 88 tem sofrido, nos tempos presentes, acentuado desvio sob influncia da mdia que, hodiernamente, projeta a violncia para alm do real concreto, sem, entretanto, dar ateno s aes humanas praticadas em obedincia aos ditames da moral e das regras de trato social, que, tenho certeza, so inmeras, todavia no merecem programas similares ao de Cidade Alerta, Barra Pesada e outros onde fosse permitido sociedade ter cincia das boas aes praticadas, o que certamente levaria convico de que o crime, que nem sempre oriundo de estado de violncia, no a regra.

A vida um bem valioso e, por isso, protegida penalmente. O preceito da norma primria incriminadora ameaa com sano privativa da liberdade qualquer um que exponha a perigo ou danifique este valioso bem individual. Quando o elemento anmico que preside a conduta que venha a danificar o bem vida for o dolo, cabe ao juiz formado por pessoas que integram a comunidade do autor e do ru julgar este.

O julgamento pelo Jri implica anlise das condies do agente do fato, bem assim das condies da vtima, observando-os como atores sociais com vistas aos seus agires antes, durante e depois do episdio lutuoso.

Assim o porque o Tribunal do Jri como que a vinculao essencial humana, ou seja, est de algum modo preso, ligado ao fundamento do homem, que a liberdade, e ao comando das coisas elementares da vida.

Os crimes dolosos contra a vida so precisamente aqueles que mais impacto causam na sociedade, e que, muitas vezes, os juzes togados no podem sentir, pois esto afeitos a frmulas tcnicas, mais preocupados em equacionar a jurisprudncia dos casos julgados. J os jurados devem analisar as causas, inclusive sob o enfoque jurdico, de cunho sociolgico que informaram o agir.

Mas, se no passado, os que eram inimigos do Jri (Nelson Hungria, Frederico Marques, Heleno Fragoso) o acusavam de absolver desmedidamente, hoje podemos opinar que o Jri condena desmedidamente.Em Braslia, durante algum tempo s havia um Tribunal do Jri, que funcionava no Plano Piloto. A classe mdia alta, integrando o Conselho de Sentena, julgava tambm os pobres, residentes e domiciliados quase sempre nas periferias das cidades-satlites, e, compreendendo suas angstias e condies, fazia-lhes justia, na maioria das vezes absolvendo-os. Hoje, cada cidade-satlite tem seu Tribunal do Jri cujos jurados so implacveis com os rus, pois, alm de sofrerem na pele a violncia, esto quase sempre com a opinio formada pela mdia, que enaltece e superdimensiona a violncia.

"O que se pretende mostrar nestas digresses sobre a mudana de enfoque do julgamento pelo Jri como, de fato, as condies polticas, sociais e econmicas de existncias no so um vu ou um obstculo para o sujeito do conhecimento, mas aquilo atravs do que se formam, sobretudo, as relaes de verdade. S pode haver certos tipos de sujeito de conhecimento, certas ordens de verdade, certos domnios de saber a partir de condies polticas, que so o solo em que se formam o sujeito, os domnios do saber e as relaes de verdade".

A histria da verdade paira pela utilizao do modelo nietzscheano (Michel Foucault in As Formas Jurdicas).

As constantes condenaes daqueles que integram a clientela ordinria do julgador pelo Jri passam, antes, pela responsabilizao sobre outras esferas. Bastantes as lies do Professor da Universidade de Roma Maurizio Viroli, verbis: "Onde esto, hoje, as autoridades morais capazes de oferecer um ensinamento baseado na autoridade? Houve um tempo em que a primeira e mais importante autoridade moral eram os pais; hoje, os pais capazes de exercer sobre os filhos uma autoridade moral so raros. (...) Havia os partidos polticos, com todos os seus defeitos; os velhos partidos polticos eram escolas de educao civil; hoje, os partidos ensinam a obedecer aos seus chefes". Como se observa, as sbias digresses do Mestre peninsular, guardadas as devidas diferenas que as singularizam, so ocorrentes abaixo do Equador.

No mesmo sentido, leciona o saudoso Mestre Norberto Bobbio: "H, sem dvida, um vazio de autoridade moral. Este vazio cada vez mais preenchido pela religio. O fato de os jovens serem com freqncia demasiado cnicos, arrogantes, consumistas, est ligado a um sentimento de nulidade da vida. Uma vez que a vida no tem sentido, posso me autodestruir. (...) O fato mais grave, porm, que hoje ningum se envergonha mais de nada, sendo que, cabe lembrar, o senso da vergonha sempre foi o sinal da existncia de sentimento moral."

Em eplogo, urge trazer baila:

"A nica forma inescusvel de julgar expor as duas faces da moeda e obedecer ao impulso da conscincia. Neste jogo incessante de dualidades opoentes vibra o fiel da justia dos homens. No entanto, transpassando os tempos, alguns princpios ascendem eternidade sublimados pela prpria histria e transformam-se em invulnerveis categorias necessrias sobrevivncia da prpria espcie. Entendo o Jri neste campo indivduo-sociedade, quando a verdade sempre suficiente e bastante para iluminar o juzo. O Jri transcendncia, no princpio da justia, do individual para a conscincia pblica e social. auto-exposio e evidncia pura. E vnculo entre liberdade, sobre a qual a ao se assenta, e o direito de julg-la em pleno exerccio democrtico. Eis a sua magnitude exemplar, vital e nica" (Carlos Eduardo de Arajo Lima in Os Grandes Processos do Jri).

RAUL LIVINO

Advogado Criminal e Professor de Filosofia do Direito e Direito Penal no UniCeub, na Escola da Magistratura e na Academia de Polcia Militar.