raul cortez livro
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Raul Cortez
Sem Medo de se Expor
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Raul Cortez
Sem Medo de se Expor
Nydia Licia
São Paulo, 2007
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Coleção Aplauso Série Especial
Coordenador Geral Rubens Ewald FilhoCoordenador Operacional
e Pesquisa Iconográfica Marcelo PestanaProjeto Gráfico e Editoração Carlos Cirne
Assistente Operacional Felipe GoulartTratamento de Imagens José Carlos da Silva
Angélica DaraiaRevisão Heleusa Angélica Teixeira
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Diretor-presidente Hubert Alquéres
Diretor Vice-presidente Paulo Moreira LeiteDiretor Industrial Teiji Tomioka
Diretor Financeiro Clodoaldo PelissioniDiretora de Gestão Corporativa Lucia Maria Dal Medico
Chefe de Gabinete Vera Lúcia Wey
Governador José Serra
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Apresentação
“O que lembro, tenho.”Guimarães Rosa
A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, tem como atributo prin-
cipal reabilitar e resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores,
atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas do cinema, do
teatro e da televisão.
Essa importante historiografia cênica e audiovisual brasileiras vem sendo re-
constituída de maneira singular. O coordenador de nossa coleção, o crítico
Rubens Ewald Filho, selecionou, criteriosamente, um conjunto de jornalistas
especializados para realizar esse trabalho de aproximação junto a nossos bio-
grafados. Em entrevistas e encontros sucessivos foi-se estreitando o contato
com todos. Preciosos arquivos de documentos e imagens foram abertos e, na
maioria dos casos, deu-se a conhecer o universo que compõe seus cotidianos.
A decisão em trazer o relato de cada um para a primeira pessoa permitiu man-
ter o aspecto de tradição oral dos fatos, fazendo com que a memória e toda a
sua conotação idiossincrásica aflorasse de maneira coloquial, como se o biogra-
fado estivesse falando diretamente ao leitor.
Gostaria de ressaltar, no entanto, um fator importante na Coleção, pois os
resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao lei-
tor facetas que caracterizam também o artista e seu ofício. Tantas vezes o
biógrafo e o biografado foram tomados desse envolvimento, cúmplices dessa
simbiose, que essas condições dotaram os livros de novos instrumentos. Assim,
ambos se colocaram em sendas onde a reflexão se estendeu sobre a formação
intelectual e ideológica do artista e, supostamente, continuada naquilo que
caracterizava o meio, o ambiente e a história brasileira naquele contexto e
momento. Muitos discutiram o importante papel que tiveram os livros e a leitura
em sua vida. Deixaram transparecer a firmeza do pensamento crítico, denun-
ciaram preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando o nosso
país, mostraram o que representou a formação de cada biografado e sua atua-
ção em ofícios de linguagens diferenciadas como o teatro, o cinema e a televi-
são – e o que cada um desses veículos lhes exigiu ou lhes deu. Foram analisadas
as distintas linguagens desses ofícios.
Cada obra extrapola, portanto, os simples relatos biográficos, explorando o
universo íntimo e psicológico do artista, revelando sua autodeterminação e
quase nunca a casualidade em ter se tornado artista, seus princípios, a forma-
ção de sua personalidade, a persona e a complexidade de seus personagens.
São livros que irão atrair o grande público, mas que – certamente – interessarão
igualmente aos nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o in-
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trincado processo de criação que envolve as linguagens do teatro e do cinema.
Foram desenvolvidos temas como a construção dos personagens interpretados,
bem como a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns dos per-
sonagens vividos pelos biografados. Foram examinados o relacionamento dos
artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção
de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferenciação fundamental desses
dois veículos e a expressão de suas linguagens.
A amplitude desses recursos de recuperação da memória por meio dos títulos
da Coleção Aplauso, aliada à possibilidade de discussão de instrumentos pro-
fissionais, fez com que a Imprensa Oficial passasse a distribuir em todas as
bibliotecas importantes do país, bem como em bibliotecas especializadas, es-
ses livros, de gratificante aceitação.
Gostaria de ressaltar seu adequado projeto gráfico, em formato de bolso, do-
cumentado com iconografia farta e registro cronológico completo para cada
biografado, em cada setor de sua atuação.
A Coleção Aplauso, que tende a ultrapassar os cem títulos, se afirma progressiva-
mente, e espera contemplar o público de língua portuguesa com o espectro mais
completo possível dos artistas, atores e diretores, que escreveram a rica e diver-
sificada história do cinema, do teatro e da televisão em nosso país, mesmo sujeitos
a percalços de naturezas várias, mas com seus protagonistas sempre reagindo
com criatividade, mesmo nos anos mais obscuros pelos quais passamos.
Além dos perfis biográficos, que são a marca da Coleção Aplauso, ela inclui
ainda outras séries: Projetos Especiais, com formatos e características distin-
tos, em que já foram publicadas excepcionais pesquisas iconográficas, que se
originaram de teses universitárias ou de arquivos documentais preexistentes
que sugeriram sua edição em outro formato.
Temos a série constituída de roteiros cinematográficos, denominada Cinema
Brasil, que publicou o roteiro histórico de O Caçador de Diamantes, de Vittorio
Capellaro, de 1933, considerado o primeiro roteiro completo escrito no Brasil
com a intenção de ser efetivamente filmado. Paralelamente, roteiros mais re-
centes, como o clássico O Caso dos Irmãos Naves, de Luis Sérgio Person, Dois
Córregos, de Carlos Reichenbach, Narradores de Javé, de Eliane Caffé, e Como
Fazer um Filme de Amor, de José Roberto Torero, que deverão se tornar bibli-
ografia básica obrigatória para as escolas de cinema, ao mesmo tempo em que
documentam essa importante produção da cinematografia nacional.
Gostaria de destacar a obra Gloria in Excelsior, da série TV Brasil, sobre a ascen-
são, o apogeu e a queda da TV Excelsior, que inovou os procedimentos e formas
de se fazer televisão no Brasil. Muitos leitores se surpreenderão ao descobrirem
que vários diretores, autores e atores, que na década de 70 promoveram o cres-
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cimento da TV Globo, foram forjados nos estúdios da TV Excelsior, que sucum-
biu juntamente com o Grupo Simonsen, perseguido pelo regime militar.
Se algum fator de sucesso da Coleção Aplauso merece ser mais destacado do que
outros, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país.
De nossa parte coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia
a pesquisa documental e iconográfica, contar com a boa vontade, o entusiasmo
e a generosidade de nossos artistas, diretores e roteiristas. Depois, apenas, com
igual entusiasmo, colocar à disposição todas essas informações, atraentes e aces-
síveis, em um projeto bem cuidado. Também a nós sensibilizaram as questões
sobre nossa cultura que a Coleção Aplauso suscita e apresenta – os sortilégios
que envolvem palco, cena, coxias, set de filmagens, cenários, câmeras – e, com
referência a esses seres especiais que ali transitam e se transmutam, é deles que
todo esse material de vida e reflexão poderá ser extraído e disseminado como
interesse que magnetizará o leitor.
A Imprensa Oficial se sente orgulhosa de ter criado a Coleção Aplauso, pois
tem consciência de que nossa história cultural não pode ser negligenciada, e é
a partir dela que se forja e se constrói a identidade brasileira.
Hubert AlquéresDiretor-presidente da
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
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Meus agradecimentos sinceros a todos os colegas que se prontificaram a cola-
borar nesta tentativa de descrever a trajetória de um grande ator. A Antunes
Filho, Etty Fraser, Eva Wilma, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Lígia Cortez,
Lulu Librandi, Ruy Cortez, meu abraço mais carinhoso.
E um agradecimento muito especial a Maria Thereza Vargas, porto seguro para
todos aqueles que procuram informações a respeito do nosso teatro.
Nydia Licia
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Introdução
A Coleção Aplauso não podia prescindir de um volume dedicado a Raul Cortez,
que faleceu em 18 de julho de 2006, deixando um vácuo muito grande nas
fileiras da classe teatral. Pela sua atuação em todos os movimentos políticos e
culturais, foi figura de proa. Por três vezes, atuou como presidente da Associ-
ação de Produtores de Espetáculos Teatrais (Apetesp), de 1974 a 1980. Liderou
reivindicações dos atores; brigou quando era preciso brigar, montou peças
difíceis, e até perigosas, em momentos delicados da política do nosso país.
Principalmente, não teve medo de arriscar, e isso serviu de exemplo e de estí-
mulo para os mais jovens, e permanecerá em sua memória.
Quando ele me pediu que eu fizesse um livro iconográfico sobre sua carreira,
pôs à disposição sua vasta coleção de fotografias e, pessoalmente, colaborou
na seleção daquelas que considerava mais interessantes e mais representativas
de sua trajetória. Devido ao estado adiantado da doença, passamos a trocar
idéias pelo telefone, tanto de sua casa, como do hospital, procurando evitar
reuniões que o cansassem sobremaneira.
Por isso, achei muito importante que, neste livro, falassem dele também sua
filha mais velha, Lígia Cortez; a amiga Lulu Librandi; seu diretor predileto,
Antunes Filho; Eva Wilma, amiga de juventude e colega de teatro; Ítalo Rossi, o
primeiro diretor e o ator que contracenou com ele em sua última novela; Ruy
Cortez, seu sobrinho e companheiro de trabalho; Etty Fraser, colega de nove-
las na Tupi. Eu me baseei nas palestras que ele pronunciou no Teatro Escola
Célia Helena, a que assisti, e nas muitas entrevistas que ele concedeu. Foram
mais de 20 álbuns de recortes que consultei. Não há acontecimento artístico
ou social de que ele participou que não esteja devidamente registrado.
Tudo que escrevi foi dito por ele. Procurei manter, da melhor maneira, seu
estilo, seu modo de falar e, acima de tudo, sua sinceridade. Na palestra de
fevereiro de 2006 – última vez que falou em público –, sua alegria foi sincera,
contagiante. Fiz questão de indicar as risadas e os aplausos, para que todos
pudessem acompanhar as reações da platéia. Apesar de fragilizado, ele supe-
rou o cansaço, a fraqueza, e transmitiu aos alunos o que é ser um Ator, o que
significa amar o teatro e dedicar-se a ele com toda a sua alma.
Nydia Licia
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Lígia Cortez com o pai, na peça Cheque ou Mate
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Capítulo I
Lígia Cortez fala do pai, na inauguração do Teatro Raul Cortez
Acho que a primeira vez que antevi o prazer de ter o pai que tive foi aos 8
anos, quando fui com minha mãe assistir ao desfile da Rhodia, televisionado
ao vivo. Em determinado momento, para meu susto, ele me mandou aquela
piscada cúmplice, que foi ao ar. No dia seguinte a minha classe inteira comen-
tava que tinha visto meu pai piscar pra mim... Descobri, surpresa, que a reper-
cussão daquilo tinha sido enorme. E foi sempre assim o nosso relacionamento.
A partir daí fui conhecendo, seguindo e sendo formada por uma das pessoas
mais talentosas e criativas que foi Raul Cortez, meu pai.
Logo depois, num almoço na casa da mãe dele, minha avó Conceição, ele e
minha mãe conversavam:
– Puxa Celinha, 8 anos já faz tudo isso?
– É Raul... O tempo passa...
– Liginha tem a minha mão, o meu jeito... Balança o pé de nervoso como eu –
eu devia estar relaxadíssima.
Mas isso ficou marcado na minha memória, porque senti que ali, através do
reconhecimento dele, era como se eu ganhasse um novo contorno, um novo
olhar sobre mim e sobre ele.
Ainda quando garota, ele me convidou pra passear no seu Puma conversível,
branco. Estávamos lá na Avenida Santo Amaro, ele feliz, alegre, solto, corren-
do; eu, retraída, tímida, me sentindo exposta, todo mundo vendo, as pessoas
ao lado olhando, a vida dura, ônibus... Aí ele diz:
– Posso te fazer uma pergunta?
Adorei... Agora vem um assunto, a gente engata uma conversa...
– Pode...
Ele: É gostoso ter cabelo?
Aos 15 anos, minha mãe me deu maioridade: o telefone de um táxi que me
levaria e buscaria para ver meu pai, sem a necessidade de intermediação dela
ou de ficar esperando que ele viesse me visitar. Foi aí que descobri o Raul ator,
e abrimos um caminho enorme para nosso relacionamento. Lá ia eu de táxi
assistir a Noite dos Campeões, muitas, muitas vezes. Às vezes íamos jantar
depois, às vezes eu ia com meus amigos, mas (a maioria) em geral, ia sozinha
ver aquele homem, aquele ator... Observava como era genial a forma como
interpretava, como ele ia ficando bêbado no decorrer da peça, como ele (ia
construindo) construía aos poucos um personagem enorme (aos poucos)...
Virginia Woolf, Teatro Anchieta... Eu não reconhecia meu pai, ele era George;
que direção maravilhosa, do Antunes Filho. Última da fase em que ele era
terrível – Fumava e freqüentava o Gigetto, palavras dele próprio.
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Meu pai achava que ele e Antunes tinham uma espécie de telepatia mágica,
criativa, que um sabia exatamente o que o outro ia fazer e dizer... E se reen-
contraram no Teatro Anchieta, em outro trabalho maravilhoso depois, A Hora
e a Vez de Augusto Matraga.
Todo o seu trabalho, a escolha das peças, vinha de uma enorme necessidade inte-
rior. Precisava estar engajado no tempo e na história. Ou ser coerente com seu
processo interior. Seguindo o princípio adquirido no Grupo Oficina, com Peque-
nos Burgueses, a montagem deveria sempre dizer a que veio. Conversávamos
sobre teatro, sobre o processo do ator. Aprendi muito com ele, e algumas vezes
acho que o ajudei. Aos 17 anos, sugeri que ele fizesse algo mais político. Era fim da
década de 70, eu tinha acabado de entrar na USP, invasão da PUC, movimentos
estudantis, libelu... Eu achava que ele também podia se colocar politicamente no
palco, atuando. Aí ele veio com Rasga Coração (não acreditei; matou a pau!).
Quando penso no que ele deixa, talvez este seja seu primeiro legado: estar engajado
no seu tempo, fazer agora o que é de agora. Hoje. Assim foi com Rasga Coração,
Amadeus, Ah!mérica, Um Certo Olhar, Rei Lear...
Por várias vezes trabalhamos juntos. A primeira vez foi em Ah!mérica, onde ele
me apresentou a riqueza da cultura latino-americana, paixão que nunca mais
parei de aprofundar. Na segunda vez ele me convidou para atuar em Cheque
ou Mate, logo depois da morte de minha mãe. Ali ele me estendeu carinhosa-
mente o braço de pai. A terceira e última vez, foi quando chamei o diretor
anglo-brasileiro Ron Daniels para trabalhar na escola Célia Helena. Ele ia dar
aulas e dirigir uma peça de Shakespeare conosco. Meu pai imediatamente me
ligou e disse que gostaria de estar nesse projeto. Mudamos o curso, e monta-
mos Rei Lear.
Aí o teatro proporcionou uma nova etapa de nosso relacionamento. Meu papel
era Regana, a filha que, depois de receber antecipadamente a sua parte do reino,
expulsa o pai (realmente, não recomendo a nenhuma atriz que faça Rei Lear com
o próprio pai...). Quando Raul Cortez estava em cena, era tudo verdade mesmo.
Ele dizia e ouvia tudo como se fosse verdade. E o meu personagem falava e fazia
coisas horríveis com o pai. Eu tinha tanta preocupação com ele, principalmente
quando a cena saía boa. Assim que acabava, eu precisava sair correndo atrás dele
na coxia, olhar pra ele e dizer, de brincadeira: Era tudo mentirinha, certo? E ele: A
cena foi boa, né? Boa cena... Como se precisássemos a toda hora balizar as coisas,
evitar qualquer possibilidade de desentendimento, de invasão emocional. Bem,
claro que, assim que pôde, ele me tirou da peça.
O trabalho ajudou a consolidar entre nós um afeto cada vez mais verdadeiro e
presente. Ele dizia sempre que podia conversar comigo sobre tudo. Era verda-
de. Quando ficou doente, vivemos uma intimidade que não existia antes.
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Um dia, no quarto do hospital, conversando, deitada no sofazinho ao lado da
cama, descalça, pé pra cima, ele disse: Não estou nem acreditando que você
está aqui comigo, desse jeito... Parei e perguntei: Eu nunca fiquei assim com
você? Ele disse: Nuuuuuunca. Não tinha me dado conta.
Houve uma época em que os intelectuais de vanguarda achavam a TV algo
menor, sujo, meio corrupto. Meu pai encarou logo um anúncio de mortadela e
começou sua carreira de enorme sucesso na TV. Que viria a transformar a no-
ção de qualidade, o critério de interpretação em novela. Cuidou de cada pa-
pel, de cada cena, de cada detalhe com a mesma dedicação que tinha ao teatro
e ao cinema. Popularidade pra ele era fundamental. E quem o assistiu viu tra-
balhos marcantes, inesquecíveis.
Seus personagens eram conseqüência do que ele era. Vinham de uma pessoa
que vivia a vida sem fingir. Meu pai foi inteiro e honesto consigo mesmo e com
os outros. Transparente. Talvez, por isso, uma personalidade tão forte: contra-
ditório, impaciente, intransigente, corajoso, generoso, egoísta, egocêntrico,
companheiro... Humano. Não quis ser correto, quis ser verdadeiro. Ele não podia
deixar de ser o que era. Teve coragem de ser o que era. Talvez esse tenha sido
o segundo legado dele: ter a coragem de ser o que se é.
Teve coragem também para lutar e gritar por um Brasil melhor. Por condições
melhores para o teatro, para a vida. Nunca deixou de se indignar. E gritou
sempre que teve oportunidade de ser ouvido. Fosse em entrevistas, fosse na
escolha das peças, na construção dos próprios papéis ou simplesmente na for-
ma de agir e de ser.
Homem único, ator único. Grande. O maior ator de nossos tempos.
Por isso, a noite de hoje é importante. Sinto que estamos conduzindo o nome
do meu pai ao único lugar que poderia eternizá-lo, um teatro; essa memória
etérea do teatro, que quando nos emociona, como ele nos emocionou, nos
deixa totalmente impregnados. E para abrigá-lo direito, não podia ser uma
salinha pequena, um espaço experimental. Tinha que ser assim: um teatro gran-
de, moderno, permanente. Este lugar combina com Raul Cortez.
Uma lacuna vai ficar pra sempre. Não existem substitutos ou seguidores. Nem
eu, que sou sua filha, serei. O lugar de Raul Cortez vai ficar vago, mas a memó-
ria dele vai estar aqui.
Lígia Cortez
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16 Palestra de Raul Cortez no Teatro Escola Célia Helena, em 7 de fevereiro de 2006
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Capítulo II
Palestra de Raul Cortez
Teatro Escola Célia Helena, 7/2/2006
A noite de 7 de fevereiro de 2006 foi muito especial para alunos e professores
do Teatro Escola Célia Helena. Estava anunciada uma palestra de Raul Cortez.
A euforia de todos era mais do que evidente. Jovens lotavam as arquibanca-
das ou se espremiam nos tapetes de borracha estendidos no chão, para que
coubesse maior número de pessoas. Estavam ansiosos por ouvi-lo e loucos para
fazer perguntas...
Finalmente, Raul entrou, acompanhado pela filha Lígia Cortez, diretora da Esco-
la, feliz com a presença do pai, recém-restabelecido de uma grave operação
(embora frágil e propenso a se emocionar). Foi recebido com palmas calorosas.
Lígia cercou-o com atenções e carinho durante a palestra e, principalmente,
durante os debates. Oferecia-lhe água e verificava se o encontro não o estava
cansando demais. Resumia algumas perguntas, pois, cheios de entusiasmo, os
alunos se estendiam algumas vezes, complicando as perguntas.
Lígia: É sempre uma grande emoção receber meu pai aqui na escola. Eu, como
filha, estou muito emocionada pelo pai que Maria e eu temos (Maria está na
platéia). Um pai maravilhoso. Em segundo lugar, pelo ator que ele é; pelo
grande artista e sua enorme contribuição na história do teatro brasileiro. Há
vários meses ele já esteve aqui com a gente. Volta agora, quando a escola
está comemorando 30 anos e esse homem maravilhoso comemora 50 anos...
Raul (interrompendo): Epaaa!!! (risos e aplausos)
Lígia (rindo): ...50 anos de carreira. Provavelmente vai fazer um bonito curso
aqui na escola, para poder passar um pouco da bagagem que ele tem.
Vou chamar o Marcão para falar e apresentá-lo... Mas antes vou apresentar os
professores maravilhosos que a escola tem, essa equipe extraordinária, que
está aqui presente. Em primeiro lugar... (vai apresentando os professores, um
por um. Todos são recebidos com aplausos pela platéia). E agora vou chamar
então, o professor e diretor Marco Antônio Rodrigues (Marco abraça Raul).
Marco Antônio Rodrigues: Eu passei o dia todo preocupado com o encargo
que tenho aqui e agora. Primeiro, porque não tenho o costume de estar na
frente do palco, meu lugar é quase sempre atrás. E, principalmente, porque
devo fazer uma saudação à altura de um artista que, mais do que admirado, é
amado por todo o povo. Eu fiquei pensando em cima disso, em como dar a
dimensão do excepcional e genial talento dele.
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Penso que de um lado ele tem a elegância da aristocracia, e de outro uma
picardia, uma... Uma sacanagem, que é muito a cara do povo brasileiro. Isso no
que diga respeito ao retrato de sua personalidade... De outro lado, coisa que
muitos aqui, pela juventude, não tiveram a oportunidade de presenciar; olha,
eu já vi ele caminhar por todos os percursos. Desde espetáculos muito difíceis,
de comunicação muito difícil, até grandes comédias. Em geral, produzindo seus
trabalhos. Recentemente, devido a essas Leis de Renúncia Fiscal, essa coisa das
produções serem feitas com recursos públicos – principalmente as comerciais,
que não precisam de recursos públicos – seria normal, é a regra, que um artista
famoso como ele montasse um caça-níqueis e saísse por aí, confiante. Pois, na
contramão disso tudo, engrandecendo todos nós, Raul Cortez montou Rei Lear,
de Shakespeare, com um monte de gente, num espetáculo memorável.
Raul tem uma história de combater, de correr todos os riscos, da grandeza
daquilo que é arte. Sempre foi vinculado com as lutas do seu tempo, recente-
mente se reunindo incansavelmente com muitos de nós aqui na luta pela cria-
ção do Fundo Estadual de Arte e Cultura. Se hoje jovens aspirantes a artistas
encontram na profissão condições um pouco mais fáceis, é porque existem
artistas-cidadãos como Raul.
Então, para completar, me lembrei de uma quadrinha de Brecht que, para mim,
talvez seja, ele Brecht, o exemplo de artista maior, na luta política do século
XX. Diz assim: Tem homens que lutam um dia e são bons. Tem homens que
lutam alguns dias e são muito bons. Tem homens que lutam muitos dias e são
muito, muito bons. Mas há homens que lutam a vida toda – esses são impres-
cindíveis. Muito obrigado Raul Cortez (aplausos). (Raul e Marcos se abraçam.
Raul começa a falar.)
Raul: Eu devia estar levitando com tanto elogio assim... (gritos) Antes de mais
nada, queria pedir desculpas por duas coisas, se por acaso eventualmente acon-
tecerem. Uma é o problema da voz – que ainda estou me recuperando –, a
energia às vezes falha um pouco; além disso, tem o problema da idade que
pesa um pouco também, em que a gente vai ficando cada vez mais emotivo.
Num ator, então, fica quase uma torneira aberta com qualquer coisa que acon-
teça. Então, por favor, não levem em conta se por acaso isso acontecer. Por-
que esse encontro é uma coisa que me comove muito, é uma coisa absoluta-
mente extraordinária e significativa para mim, não só pelo momento que es-
tou atravessando, mas principalmente por eu poder dar um tipo de boas-vin-
das a todas as pessoas que estão começando o curso e aos que já o estão fa-
zendo. Dizer o quão feliz a gente é por ter encontrado essa função e essa
profissão na vida. Muito obrigado (aplausos e gritos).
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19Palestra de Raul Cortez no Teatro Escola Célia Helena, em 7 de fevereiro de 2006
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Pai e mãe de Raul na lua-de-mel, em Itanhaém
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Nesse encontro, o que interessa muito é o pacto, que eu espero que exista. É
essa troca que a gente tem que fazer, esse papo onde vocês fazem perguntas
e através das perguntas a gente fica se conhecendo melhor. Vocês vão me
ajudando a lembrar de coisas que às vezes esqueço. São tantas, graças a Deus;
a minha história é bem comprida. Então muitas coisas, de repente, vêm à cabe-
ça – coisas até engraçadas, que aconteceram.
Mas antes – acho que eu teria de começar do início, – quer dizer, dar meu nome
inteiro, quando eu nasci, etc. Eu nasci em Santo Amaro, que era uma cidadezi-
nha do interior, agora é um bairro de São Paulo. Meu nome inteirinho é Raul
Cristiano Pinheiro Machado Cortez. Como eu achei que a mídia podia ficar mais
satisfeita se eu colocasse todos os nomes, então eu coloco tudo: Raul Cristiano
Pinheiro Machado de Amorim Cortez. De qualquer maneira, meu nome todo é
muito comprido, então eu escolhi o primeiro e o último: Raul Cortez.
A infância em Santo Amaro, SP
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Fotos da infância e juventude, com os irmãos
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Em 1947
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Aos 21 anos, em Campos do Jordão
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Mas, quando fiz meu primeiro papel em teatro – levado por Ruy Affonso – eu
assinei como Cristiano Machado. Foi numa companhia alemã de amadores, um
grupo muito famoso na época, o Teatro Lotte Sievers, no Teatro Glória (sic),
que acho que nem tem mais hoje em dia – acho não, não tem. (aqui houve um
pequeno lapso do ator. Não existiu Teatro Glória em São Paulo. Ele estreou em
24 de novembro de 1955 no Teatro Leopoldo Fróes, mais um teatro posto abaixo
na cidade). E eu botei Cristiano Machado porque, naquele tempo, teatro era
maldito, ter um ator na família era terrível, e assim era uma maneira de eu me
esconder do meu pai.
Mas quando eu decidi ficar mesmo no teatro, então eu disse: Bom, eu vou
ficar, vou fazer, então tem que ser meu nome certo, e daqui em diante eu vou
fazer o possível para ser autêntico em todos os momentos da minha vida. É
uma coisa muito difícil, mas eu procuro que sempre aconteça. Às vezes eu faço
coisas erradas, mas o problema, a necessidade da autenticidade pra mim é
uma coisa vital. Então passei a ser Raul Cortez.
Eu estreei no teatro, minha estréia mesmo foi no Teatro Paulista de Estudante,
com o Gianfrancesco Guarnieri e com o Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha. Um
grupo absolutamente extraordinário de teatro amador – e, naquela época,
muito importante – que durou até o início do Teatro de Arena. Eu tive a honra
e o prazer de começar com esses dois grandes atores e escritores. Portanto, a
minha estréia em teatro foi no Teatro de Arena, numa peça chamada O Impe-
tuoso Capitão Tic, de Eugène Labiche.
Eu sabia que tinha um barzinho ao lado do TBC, que se chamava Nick Bar,
aonde todo mundo ia. Então eu comecei a freqüentar o Nick Bar pra ver se me
enturmava com alguém, pra começar a fazer teatro.
Conheci um ator chamado Rubens de Falco. Nós ficamos amigos e ele me apre-
sentou a Walmor Chagas e Ítalo Rossi, e o Ítalo resolveu me dar o papel de
protagonista da peça do Labiche. As condições em que eu estreei foram
inacreditáveis. Em primeiro lugar, eu nunca tinha feito nada – e era no Teatro
de Arena!; em segundo lugar, era um super-herói, um supergalã. Eu era mais
magro do que estou agora, como resolver isso? Então o Ítalo me encheu o
tórax todo de toalhas, me enrolou, fiquei com um corpo maior. E eu estreei
assim: com uma farda linda e todas aquelas toalhas enroladas no corpo. Es-
treei apavorado e quando entrei na arena dei de cara com a minha avó, senta-
da na primeira fila – foi horrível, dar logo de cara com a família –, e dei com ela
rezando o terço. Achei maravilhoso. Estavam reunidos ali o sacro e o profano,
já estava tudo junto. Foi assim que eu estreei.
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Em sua primeira foto profissional
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Eu fiz várias peças de teatro amador, até a hora em que fui escolhido, mediante
de um teste, para ingressar no Teatro Brasileiro de Comédia, numa peça chama-
da Eurydice, dirigida por Gianni Ratto e protagonizada pela Cleyde Yaconis. Eu
fui escolhido por causa da minha voz. Ganhei o teste por isso. O Ratto queria
fazer um efeito vocal entre a voz da Cleyde e a minha. Eu lia a carta que a
Eurydice deixava ao suicida Orfeu. Eu começava a ler – era comissário de polícia
– e a Cleide entrava aos poucos com a voz dela, as vozes se fundiam, e sumia
tudo. A carta estava dentro do bolso da capa com que eu entrava. Mas eu estava
apavorado, porque era a minha estréia em teatro profissional, e eu havia larga-
do o trabalho numa firma de importações, o segundo ano de Direito em Campi-
nas, tudo. Desde os 17 anos eu me sustentava sozinho, trabalhando. Apesar de
minha família ser rica, não aceitava dinheiro de meu pai. Mas, a partir daquele
momento eu queria viver só do teatro. Foi um momento muito significativo
para mim. A alegria de que eu estava possuído, fazendo aquilo que eu tinha
escolhido na minha vida, também era muito grande.
Eu entrei em cena com a carta no bolso da capa que eu usava e, logo ao entrar,
tinha que tirá-la, mas eu estava tão nervoso que a carta ficou presa no bolso.
Eu não conseguia tirar, minha mão tremia e ficou um movimento meio estra-
nho. Eu fiquei fazendo assim (sacudindo a calça). O papel era novo e fazia
muito barulho! Nunca odiei tanto um papel na minha vida. Mas finalmente
consegui tirar a carta. Tentei falar, comecei a abrir a voz para ler a carta e
fiquei Hum... Hum... Hum... E não saía nada, não saía voz nenhuma. Claro que
quem leu a carta toda, do início ao fim, foi a Cleyde, sozinha. Essa foi a minha
grande estréia.
Recebi críticas más, é evidente, e não podia ser de outra maneira. Então, come-
cei a fazer aquilo que eu achava – e foi – importantíssimo pra mim, da maneira
que eu era, claro: comecei do zero, mesmo. Eu fazia figuração, dessa figuração
calada mesmo, mas havia os ensaios com os grandes atores e nesses ensaios é
que eu ficava o tempo inteiro observando o que os grandes diretores daquela
época davam pra eles fazerem; e o que os grandes atores reproduziam daquilo
tudo que lhes era dado. Não só aprendia o que eu iria fazer, mas também o
que eu queria fazer. Era um momento também de internamento, era uma coi-
sa importantíssima a neurose, tudo isso que era exaltado. Era um movimento
muito vivo nesse sentido emocional de exaltação da personalidade. Eu vi gran-
des atores, convivi com grandes atores, convivi com grandes diretores e isso
me enriqueceu muito. Fiquei fazendo figuração durante quatro anos. Não ha-
via meio de me darem um papel melhor.
No Rio de Janeiro, quando o TBC levou para lá Leonor de Mendonça, de Gon-
çalves Dias, cheguei até a passar fome. Meu salário era mínimo. Eu estava fa-
zendo uma aparição dessas em que se entra quieto e se sai calado, e ainda por
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cima com a cabeça coberta, porque eu fazia um carrasco. E minha cara era
muito moça, não podia aparecer. E não dizia nem uma palavra! Daí em diante
aconteceram várias coisas, viajei com Cacilda Becker – uma mulher extraordi-
nária –, fui para a Europa, e tive o prazer - não é por estar aqui ao lado da
Nydia Licia – de trabalhar com ela e com Sérgio Cardoso na versão de Hamlet,
no Rio de Janeiro. Sérgio me deu até um livro com dedicatória, que guardo até
hoje. Foi uma coisa absolutamente extraordinária, porque é extraordinário
quando você vê um colega de grande talento trabalhar ou fazer uma grande
criação artística; isso até hoje me dá sempre um prazer enorme. Mesmo se eu,
pessoalmente, tenho problemas com esse ator – isso não acontece sempre (ri-
sos) –, eu consigo separar uma coisa da outra, porque o prazer de ver um
trabalho assim é extraordinário. E eu digo isso como ator, como é minha pre-
ferência do teatro a que sempre me dediquei.
Aí eu fiz essas viagens até o momento em que eu desisti de fazer teatro. Me
sentia rejeitado por problemas com a classe – hoje eu me sinto culpado por ter
tido um comportamento excessivo para a minha época; enfim, não se sabe
nunca o que acontece, mas eu me sentia completamente rejeitado pela classe
teatral. Achava que não era ator também, que esse era um privilégio que eu
não merecia. Então resolvi ir embora, sair do teatro. Mas antes aceitei um con-
vite de um grupo amador para ir a Santos, fazer no Hotel Atlântico uma peça
chamada Inimigos Íntimos, de Barillet e Grédy, que havia sido feita anterior-
mente no TBC com a Cacilda Becker e o Maurício Barroso, eu acho. Bem, eu fui
pra lá disposto a não fazer mais nada. Até que eu conheci uma pessoa, uma
senhora a quem eu devo muito, que me fez voltar para o teatro. Me fez entrar
numa análise fantástica. Eu acredito em terapia – desculpe-me quem não acre-
ditar, mas eu acredito, é uma coisa que para mim foi extraordinária.
E aí o Antunes Filho me procurou: Raul, estou fazendo tudo para você voltar
para o teatro, eu estou no TBC para fazer Yerma, do Garcia Lorca, e as pessoas
não estão querendo você. E você resolve não vir, justamente agora que eu vim
te convidar e te buscar? Isso mexeu comigo: Como é que é? Ninguém está me
querendo lá? Ninguém? Pois agora eu vou (risos).
Fui lá, fiz Yerma, graças a Deus ganhei o meu primeiro prêmio e comecei a
seguir o meu caminho, que me foi dado, de verdade, pelo José Celso Martinez
Corrêa, no Teatro Oficina, com a peça de Gorki, Pequenos Burgueses. Aí eu
ganhei os prêmios todos. Fui apontado como um grande ator e recebi as pri-
meiras louvações, essa coisa toda gostosa que, quando acontece, a gente sa-
boreia demais e se acha até maravilhoso. Mas foi muito bom, foi aí que tudo
começou. E eu fiz muito teatro, muito cinema, muita novela e estou aqui de-
pois de todo esse tempo. Foi mais ou menos por aí. Então, acho que vamos
começar a trocar umas idéias, trocar idéias e bater um papo. Seria legal.
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(Os alunos do Teatro Escola Célia Helena passam a fazer perguntas)
Qual a diferença de atuar no teatro e no cinema. A diferença, o fato de você
estar numa tela enorme? Qual a diferença pra você?
Raul: Em primeiro lugar, eu acho que só o fato de você atuar já é alguma coisa.
Então, o tipo de ação que você tem que desenvolver (é claro que cinema é uma
coisa, televisão é outra): é menos, tudo é menos, no cinema. Eu não tenho
tanta experiência assim para falar de cinema, mas no cinema que eu fiz até
agora e o que estou fazendo, eu acho que o importante é você trazer tua alma
no olho. Não é só pensar como personagem – você faz isso em teatro, ou até
na televisão, porque lhe é dado tempo para isso –, mas é principalmente estar
num estado de relax, num estado de repouso tão grande, com tanta integração
com o universo em que você está atuando, que todas as possibilidades, as difi-
culdades de concentração são superadas. Porque o cinema é difícil: você passa
lá o dia inteiro, mas só o fato de você estar à disposição já ajuda muito. Então,
eu acho que você traz a tua alma no olho quando você faz cinema. Mas nada
é mais difícil, nada é mais extraordinário do que o teatro. No teatro é você... É
você e os outros. É tudo tão lindo no teatro, é tão inexplicável, é tão misterio-
so, você troca energia com as pessoas. Ele cria esse oito (símbolo do infinito)
maravilhoso, que vai, que volta para você, você devolve, o tempo inteiro da
peça é assim. Se você faz o protagonista – se tem a sorte de fazer –, com o
tempo você vai observando que o espetáculo fica na ponta dos dedos. Você
sente, você sente teus colegas, se estão inseguros para trabalhar, ou se, aquela
noite, estão totalmente desvinculados do trabalho. Eu sinto certa responsabi-
lidade, eu desejo trazer esse ator, esse colega, para dentro da peça, então
muitas vezes eu fui até acusado, injustamente, de provocá-lo – às vezes eu sei
uma coisa pessoal, eu posso dizer numa fala aquilo que eu sei, que ele quer
esconder –, pra provocar uma reação. Daí ele entra com tudo – às vezes me
xingando muito depois –, mas ali ele passa a atuar, por que teatro não é funci-
onalismo público, não. Cada noite é uma noite, cada noite há uma energia
diferente, na noite esse mistério está acontecendo, por que é um mistério!
Como é que eu vou explicar o que estou sentindo se eu estou aqui e sinto que
tem alguma coisa ali? Uma energia negativa que eu sei como neutralizar; como
é que posso saber disso? Como é que eu vou saber que tipo de público eu vou
ter na hora em que a cortina abrir? Ou, então, como aconteceu muitas vezes
em Rasga Coração, com a cortina fechada, eu dizia para a Sônia Guedes: Hoje
o público está assim. Com a cortina fechada, mas eu sentia como estava. Como
é que você explica isso? É difícil, não? Então, quanto mais tempo de teatro
você tiver, mais você vai saboreando esse outro lado – eu acho extraordinário
essa coisa misteriosa que tem.
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E a televisão? Na televisão, você nunca tem tempo para nada, mal tem tempo
para se preparar; às vezes, mal tem tempo para decorar, e há a obrigação de
ser natural, não é? Se você é um ator, tem talento, então essa naturalidade é
uma coisa legal. Agora, se você simplesmente é um produto, então pode ser
tão ridículo! Não é? Não é nada, qualquer um pode ser! Com uma boa ima-
gem, qualquer um pode parecer ator, mas não é mesmo, porque não passa de
um produto. Está ali agora, daqui a pouco não existe mais. Eu não gosto quan-
do encontro atores que vêm me procurar porque querem usar o teatro para
chegar à televisão, só para isso. Realmente eu não tenho consideração nenhu-
ma por eles, nenhuma vontade de dar conselhos. Eu não posso levar em consi-
deração uma pessoa dessas, porque um artista é um artista, um artista é uma
coisa muito importante, é única, não é? Eu tenho umas coisas que separei aqui,
que me identificam muito, se vocês me permitem eu gostaria de ler (levanta-se
e pega a pasta).
É uma coisa que eu também trouxe, que tem tudo a ver. Se calhar, se interes-
sar, é sobre um trabalho que eu estou querendo fazer. São uns textos que eu já
colhi para colocar nesse espetáculo. Como vai ser, não vou dizer agora. Mas
tem – preciso pegar os óculos –, tem isto aqui que eu encontrei e que a Tita até
me ajudou a bater hoje, que eu achei muito, muito interessante. É justamente
aquilo que eu acho que um artista, um ator, deve ser. Eu acho que tem, às
vezes, um momento muito especial da vida da gente em que precisamos estar
preparados para perceber aquilo que está acontecendo e usá-lo. Às vezes está
acontecendo aí do seu lado e você não percebe e está deixando escapar. Mas
tem certos momentos em que você está mais capacitado a pegar isso. E eu
estava preocupado, não só com esse espetáculo que vou fazer, mas também
com a palestra que eu ia dar. E, de repente, me caiu nas mãos um livro do
poeta Arthur Rimbaud, que encontrei há muitos anos – que nem tem mais, eu
procurei, não existe mais –, marcado já por mim, que diz o seguinte – só que
em vez de poeta, pensem ator, certo?: Afirmo que é preciso ser vidente, fazer-
se vidente. O poeta (ator) se fez vidente por meio de um longo, imenso, irraci-
onal desregramento de todos os sentidos. De todas as formas de amor, de
sofrimento, de loucura, buscar em si, esgotar em si mesmo todos os venenos, a
fim de só reter a quintessência, inefável tortura para qual se necessita toda fé,
toda dor sobre-humana pela qual o poeta (ator) se torna o grande enfermo, o
grande criminoso, o grande maldito e o sabedor supremo, pois alcança o
insabido. Logo o poeta (ator) é o verdadeiro roubador de fogo, responde pela
humanidade, até pelos animais. Deveria fazer com que suas intenções fossem
cheiradas, ouvidas, palpadas. Se o que transmite no fundo possui forma, dá-
lhe a forma, se é informe, deixe-o informe. Achar uma língua, afinal, em que
toda a palavra é a idéia, a linguagem universal que há de chegar um dia. Essa
língua será da alma pra alma, resumirá tudo: o perfume, seres, sons, pensa-
mento que se engata ao pensamento e o puxa para fora.
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O poeta (ator) seria um ditador da quantidade de desconhecido, despertada
em seu tempo na alma universal. Daria mais à fórmula de seu pensamento, a
anotação de seu avanço no futuro. Enormidade se fazendo norma, absorvida
por todos, ele seria verdadeiramente um multiplicador de progresso.
Por isso é que eu sempre achei que o teatro é importante, pelo menos o teatro
que eu fiz e procuro fazer e acho que, raríssimas vezes, aconteceu de eu não
poder fazer. Ele é um agente transformador, ele transforma, ele contribui a
várias coisas de mais excelência, responde a tantas perguntas, pode questio-
nar, a ponto de você ficar tão perturbado que necessite de respostas. Então eu
acho que esse ator tem que ser modificador. Acho isso importantíssimo. Por
isso que eu acho que o teatro ainda bate em cheio a televisão.
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Até onde um ator pode ser um ativista político e trazer idéias novas? Eu que-
ria ver mais disso nas peças. A gente fica aí com essa poluição, esse calor bárba-
ro, e nenhum país resolve fazer nada, e aí chega o apocalipse e não vai existir
mais ninguém. Até que ponto o ator pode fazer alguma coisa sobre isso?
Raul: Em primeiro lugar, o problema é da humanidade inteira. Eu acho que
aqui no Brasil a gente está passando por um longo tempo de mediocridade, de
salve-se-quem-puder, no sentido de você conseguir pensar, raciocinar de ou-
tra forma. Mas, sem ter um pouco de cultura – porque o esvaziamento é ab-
surdo, é total –, a mediocridade bate à tua porta a toda hora, a todo instante,
então temos de ser realmente lutadores. Agora, é a tal história: sempre foi
assim, você tem de contribuir com a sua parte.
Mas o problema é que ninguém questiona mais nada hoje em dia, e eu gosta-
ria de ver peças questionarem as coisas.
Raul: Mas existe um teatro que é assim. Existem grupos a que você pode se filiar e
que são assim, ainda respondem assim. Houve um momento em que o teatro era
político por excelência, isso foi se perdendo por conta da telenovela e de uma
série de outras coisas. Mas hoje em dia, acho que você encontra – eu acho mais
ainda, acho que, por exemplo, existe uma dificuldade muito grande para quem
começa na profissão; você não vai encontrar campo, é muito competitivo. Mas
você tem que se juntar a essas pessoas. Não precisa de um cenário, de uma sala,
não precisa de móveis, de nada, você pode fazer uma peça acontecer só com duas
ou três pessoas e quem estiver sentado, olhando. Você precisa de gente que com-
partilhe de uma idéia, de um pensamento, que crie uma comunhão tão grande
que esse grupo que você formar te dê uma expressão maior. O resto tem que vir,
tudo virá. Então, em vez de ficar se desesperando, como eu vejo muitos jovens
atores que me procuram, se queixando que não tem espaço, que não tem isso,
não tem aquilo – eu acho que tem –, vai ter que entrar numa competição muito
grande. Até para participar de um comercial – pôxa –, para ganhar um dinheiri-
nho, tem que apelar para tanta coisa, não é? Unam-se! Naquela época, em que
não havia tanta competição, os grandes grupos começaram assim, o Oficina co-
meçou assim, o Arena também. Então, sem isso... Não vai acontecer. Agora, há
muito espaço hoje em dia que precisa ser cultivado. Talvez seja esse o problema:
o excesso de individualismo.
O que te atrai numa peça hoje; como ator, o que te atrai?
Raul: Depende muito do universo de que trata a peça, de quem vai dirigir e do
personagem, claro. Se é protagonista – mas nem precisa ser protagonista. De-
pende do papel também, não é? Sem isso não tem magia.
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Raul trabalhando como modelo
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Qual personagem você acha que te falta fazer?
Raul: Eu acho que alguma coisa meio louca, um desafio que seja quase um
personagem abstrato, por exemplo. Eu acho incrível, me estimula muito, me
estimula demais, demais, aí você consegue atingir outros níveis. Eu gostaria
muito, por exemplo, de fazer Hamlet. Acharia incrível, mas representar Hamlet
com a minha idade é uma coisa absurda. Porém, fazer uma leitura do Hamlet,
um homem de 70 e lá, lá, lá (risos), uma leitura é completamente inédito. Tra-
ta-se de uma personagem de uma atualidade absolutamente extraordinária.
Ele é representado por gente jovem, é claro, porque ele é jovem, mas essa
maturidade toda que tem a personagem, pôxa, podia ser uma coisa interes-
sante. Uma vez, em Roma, eu fui ver um espetáculo lá no Vaticano – não sei se
ainda fazem – às 16 horas de um domingo. É todo feito por grandes atores –
nem grandes atores, grandes figurantes daquela época, pessoas com 80, 90
anos. É toda uma tradição que vem de muitos anos, de séculos quase. Então, se
reúnem às 4 horas de todo sábado ou domingo, para representar Romeu e
Julieta, Hamlet, como se tivessem, de fato, 17 anos. É uma coisa absolutamen-
te incrível, é maravilhoso. Adorei ter visto isso... É um pouco patético, até in-
concebível, mas ao mesmo tempo tão pungente e muito bonito.
Você falou de uma situação sua, não é, que você tinha desistido, não se sentia
ainda ator, sentia frio na barriga, ia desistir. Mas eu queria saber quando você
se sentiu ator?
Raul: Eu acho que eu me senti ator desde que nasci, acho que sim. Não me
lembro de ter brincado de outra coisa na minha juventude. Foi um tempo em
que eu também tinha uma solidão maravilhosa na minha vida. Eu morava numa
casa grande, com quintal grande, eu ia no fundo do fundo do quintal, onde
guardava as minhas coisas e ficava lá, recortando as figurinhas dos gibis. Tinha
muito caco, tijolo e pedra e construía verdadeiras cidades e colocava nelas
toda aquela gente recortada. E trabalhava, criava situações. Eu colocava tudo
na Segunda Guerra e, claro, tudo terminava em bombardeio. Eu não sabia,
mas já estava fazendo teatro.
Eu tinha uma grande irmã, grande amiga, Regina, quase da minha idade, e eu
a proibia de ir ao cinema porque eu fazia questão de ir, voltar e contar o filme
inteiro para ela – afinal, um ator é um contador de histórias –, e eu reproduzia
cena por cena. Ela foi a minha primeira platéia, sentava, ouvia, participava, a
gente ria muito. Eu queria encenar tudo. Sempre fui assim. Mas daí até você
dizer: tem talento, você tem que ficar, o teu lugar é aí, há uma distância muito
grande. Essa resposta demorou muito pra chegar, demorou muito tempo mes-
mo. Acho que eu realmente acreditei só quando descobri porque era impor-
tante fazer teatro.
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Raul em Pequenos Burgueses
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40 Raul e todo o elenco de Pequenos Burgueses
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Foi com José Celso que descobri a importância de você transformar as pessoas,
qual o peso do teatro político e social no momento em que você leva uma peça
– bem feita, é claro – como foi o caso de Pequenos Burgueses. E o sucesso foi
muito grande, por isso foi importante. Foi aí que eu tive essa resposta. Mas isso
não quer dizer que eu esteja seguro, até hoje existe insegurança e, pra mim,
essa insegurança faz parte. O artista que se sente seguro, que está sentado,
acomodado, parece que ele não vai ter mais desafio pela frente, não vai se
propor altos pulos ou tentar coisa diferente. Isso vai acontecer sempre, esse
frio na barriga de que você fala. Agora passou, mas sempre dá.
Eu gostaria que você falasse de algum trabalho que você amou fazer e não
queria que acabasse, e por quê? E também de um trabalho que você não via a
hora que acabasse, e por quê?
Boa noite, Raul, eu queria te perguntar... Você falou, no começo, de sua es-
tréia e então, logo em seguida, você começou a observar os grandes atores, os
grandes mestres. A partir daí como é que foi o seu processo de criação de
personagem até hoje? E se ator, realmente, tem que sofrer?
Completando a pergunta, você chegou a fazer uma bicha louca em A Gaiola
das Loucas, não foi?
Raul: Na Gaiola, não. Pode ser em outro lugar, mas na Gaiola, não. (risos)
Eu só queria saber se você fez laboratório para interpretar esse papel?
Raul: Eu só quero que o pessoal aí de cima da arquibancada dê um grito se, por
acaso, o microfone, quando eu estiver falando, for audível ou não. Se SIM,
vocês gritam. Se ficarem quietos...(gritos) Obrigado, hein, obrigado.
Tem umas três perguntas diferentes, eu vou começar pela última, que é a das
bichas. Eu não fiz A Gaiola das Loucas, eu fiz várias bichas, foram, parece, três.
A primeira foi nos Rapazes da Banda, que era uma bicha meio... meio
constrangida, saindo do armário, não é, tinha problemas. Foi ótima, diziam
coisas maravilhosas da peça. Em cada peça que eu faço acontecem coisas incrí-
veis de coxia, de bastidor, então é sempre muito divertido.
Depois eu fiz outra – o que é que era? – Os Monstros, de Denoy de Oliveira,
que era um happening. Na verdade, ninguém sabia o que é que era um
happening. Foi o Jerôme Savary que veio de Paris para o Teatro Ruth Escobar
e montou esse texto, que era a história dos monstros brasileiros dominados
pelos estrangeiros. Eu fazia uma bicha reles, chamada Fantoche, sem impor-
tância nenhuma, que virava uma bicha fantástica após ser mordida pelo Drácula
– era uma bicha vampira. Mas isso aí, na verdade, é a história das multinacionais
que estavam entrando no Brasil na época.
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Com Osmar Prado, em Rapazes da Banda
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Raul, em Os Monstros
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Com Marcelo Drummond e Zé Celso Martinez Correa, em As Boas
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Até que os militares proibiram a peça e nós tínhamos que trabalhar com uma
placa na bilheteria, dizendo que a peça era considerada pornográfica. Imagi-
nem o que seria se vissem o teatro que se faz hoje em dia! Naquela época tinha
a Marcha da Família Cristã, o movimento de estudantes, aquela coisa toda.
Então as pessoas fugiam disso, e a Ruth Escobar teve um prejuízo muito gran-
de. Eu disse: Ruth, passa a peça para nós – porque a gente também estava sem
receber, não é? – que a gente levanta o público.
Ela deu a peça para nós, atores, e fomos todos para a Praça da República, lá
para a feira hippie, vender ingressos para quem passasse e para os hippies
também. Então eu lembro que, no último dia, foi num domingo, a peça come-
çou às 7 horas da noite, às 10 não tinha acabado, e se tentávamos parar a peça,
todo mundo dizia os piores palavrões. Todo mundo puxando fumo adoidado,
então o espetáculo não tinha jeito de parar. A Ruth estava apavorada; ela
falou: Pelo amor de Deus, vamos fechar isso que a polícia vem aí!, e dispensou
o público, se não ninguém sairia.
Tem um caso muito engraçado – que a Ruth não fique sabendo, hein! –, aprodução era muito pobre, no início, por isso eu pedi à Rhodia que me empres-
tasse algumas peças da coleção deles. E a Rhodia acabou me vestindo com
roupas incríveis, eu tinha até um maiô que era da Josephine Baker, com bana-
nas, que eu gostava muito. E tinha uma peruca – usava peruca na época – à la
Hebe Camargo. A minha era incrível, cabelo liso, maravilhoso, e a peruca fica-
va lá, no camarim. Quando acabou a peça eu fui até o camarim, não tinha
peruca nenhuma. Tinha desaparecido. Eu teria que pagar uma nota se ela não
aparecesse. Fui, sem a Ruth saber, na casa dela, encontrei a peruca num armá-
rio, peguei-a escondido e a trouxe de volta. (risos) Ela não ficou sabendo dessa
história. Não vão contar pra ela, tá! (risos)
Essa foi uma das bichas. A terceira, e também a que eu mais gostei de ter feito,
foi com Zé Celso: As Boas, uma adaptação de As Criadas, de Jean Genet. Foi
uma criação absolutamente fantástica. Foi o Zé Celso que mandou eu fazer a
patroa, a Madame. As outras duas eram ele e Marcelo, que faziam as criadas.
Mas como chegar e fazer uma personagem despótica e repressiva? Tudo isso ia
ficar só um clichê, mais nada, não é? Então nós começamos a criar várias perso-
nagens femininas que, no final, se tornassem uma só; usamos desde a Marília
Gabriela, Ruth Escobar, Marlene Dietrich, Rita Hayworth, Vivien Leigh, cada
uma no seu momento, e quando acabou ficou de uma personalidade absoluta-
mente fantástica, que não era uma bicha, era uma mulher.
Eu ficava me maquiando durante uma hora e meia, aprendi até a fazer isso! Foi
muito engraçado, porque eu tinha que me portar como mulher mesmo. Fazer
um travesti não interessava, ia ficar uma coisa muito pobre, na minha opinião,
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e na do Zé também. Então tinha que procurar ser uma mulher – e de salto alto!,
tinha de usar um salto enorme. Eu descobri, se alguma mulher tiver o pé grande,
saiba que lá em Moema tem uma sapataria chamada Pé Grande, que vai até o
tamanho 44. Eu comprei lá uma sandália com salto 10, e pra andar ficava todo
desequilibrando. Então, quando eu sentava, meu pé ia lá pra cima. A camareira,
Ruth, que estava no teatro, me falou: Tá tudo errado, o senhor não sabe andar, o
senhor não sabe sentar, mulher não faz isso. O senhor vai, desfila por aí, e eu vou
lhe ensinar a desfilar. Vou ensinar a sentar numa cadeira, como é que põe a perna...
Quer dizer, ela me ensinou tudo isso e ficou muito engraçado. E eu aprendi até a
correr, e andava, e fazia uma porção de coisas, com salto e tudo.
Aí eu comecei a sacar que mulher é uma coisa muito estranha... (risos) Que não
adianta, porque quando você vai encontrar com uma mulher numa festa, numa
grande festa, é bobagem, porque ela não vai estar lá, lá estará uma grande pro-
dução, ela não. (risos) Ela se produz inteira. É tão inconfortável, é tão terrível que,
quando acaba, ela criou uma personagem, e ela vai iludir você, porque se aconte-
cer alguma coisa inesperada, ela pode cair da personagem e não vai ficar bem. É
uma coisa inacreditável! Pena, que judiação! Deve ser terrível, não? Então foi bom,
muito bom ter feito, aprendi muita coisa. (a uma aluna) A sua pergunta?
Qual o seu processo de criação da personagem? Ator tem que sofrer?
Raul: Ator não tem que sofrer, sofrimento é horrível, não é? Eu acho também
que você fazer uma histeria em cena, não leva a nada. O legal é você fazer uma
histeria e combinar esse sofrimento, saber levar essa emoção sofrida para esse
setor. Tem de ser dono da emoção, sofrer eu acho péssimo em qualquer nível.
Também esforço fica uma força jogada fora, não? O processo de criação de
uma personagem, cada um tem que descobrir o seu, o seu meio, não é? É como
decorar o texto, como estudar o personagem. São formas, são maneiras dife-
rentes; eu tenho a minha e os outros colegas, cada um tem a sua.
Uma das coisas mais importantes foi me dada quando eu fiz O Balcão, de Jean
Genet, com a direção de Victor Garcia. É uma coisa que eu herdei do Victor
Garcia que era um gênio, um gênio realmente, mas de difícil entendimento.
Absolutamente incrível. A peça também, por si, era meio difícil, eu não estava
compreendendo nada. E ele me disse: Por que você não usa cor? Cor? É, por-
que você não usa cor? E pronto, comecei a usar, porque eu conclui que devia
mesmo usar cor, e uso até hoje, até para televisão. Eu acho que cada cena tem
uma cor. Eu divido meu personagem racionalmente, com a cor do persona-
gem, conforme o que está acontecendo, então tal cor para isso, vai amarelo
para um, laranja para outro. Isso não só me ajuda a decorar, como principal-
mente me ajuda a tentear os canais da emoção que conduz, no final, à leitura
da personagem. Isso é uma coisa que eu uso.
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Raul, em O Balcão
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48 Em A Hora e a Vez de Augusto Matraga (acima), e em Rasga Coração (abaixo)
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Qual o trabalho que você mais gostou de fazer?
Raul: Acho que tem vários papéis que eu gostei muito de fazer. Hoje em dia eu
percebo que os papéis que eu mais gostei de fazer foram papéis de peças bra-
sileiras. Gostei muito de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de João Guima-
rães Rosa. Foi um acontecimento absolutamente maravilhoso na minha vida.
Rasga Coração, de Oduvaldo Viana Filho, foi outro também. E toda vez em
que surge um autor nacional, para mim é um fator de muita alegria, porque é
uma identificação brutal que se estabelece com a obra.
Se você me perguntasse há pouco, eu diria que era Rasga Coração, mas agora
é A Hora e a Vez de Augusto Matraga. Eu mexi nesse material há pouco tempo
e vi como, no mundo, a gente é infeliz, não é? Digo isso porque eu tive que
largar o Matraga. Eu tinha dado minha palavra de honra para um empresário,
que nem existe mais, para fazer uma peça dele chamada Drácula. Então eu
larguei o Matraga para fazer o Drácula, que é uma coisa absurda. Eu não me
perdôo até hoje. Por isso que estou dizendo para você que o Matraga é tão
presente; foi tão bonito o espetáculo que o Antunes fez.
O que eu não gostei? Que eu não gostei... Tenho duas que eu não gostei – três,
três que eu não gostei. Pra uma pessoa que fez não sei quantas peças, três não
é nada, não é? Uma foi do Edgard da Rocha Miranda, O Estranho, uma boba-
gem muito, muito grande... De um autor muito, muito chato – desculpe Nydia,
se ele é seu amigo, que é do nosso tempo, era no TBC –, mas ele era muito
cacete, muito pedante e a peça era muito chata. Eu fiz com o (Paulo César)
Peréio, um grande ator, que eu adoro; tenho uma consideração, uma estima
extraordinária por ele.
Aí teve uma – eu tenho que bater na madeira para falar o nome dela –, era
Júlio César, de Shakespeare. Tem toda uma história para falar sobre a peça. A
tradução era do Carlos Lacerda, produzida pela Ruth Escobar, e o cartaz era
assim: Shakespeare-Lacerda (risos). Como medalhões romanos tinha: Glória
Menezes, Lélia Abramo, eu, Aracy Balabanian, tinha Jardel Filho, Juca de Oli-
veira, tinha o Tatá, Luís Gustavo, e – quem mais? – Emílio de Biasi, Renato
Consorte, tinha grandes atores, absolutamente fantástico. Maria Bonomi fa-
zia o figurino. De repente, não sei o que aconteceu, os atores passaram a deli-
berar sobre os figurinos. O Jardel queria todo branco, parecia um toldo. Aí eu
falei: Se ele está de branco eu quero um amarelo gema, pra chamar a atenção,
já que cada ator estava usando uma cor diferente. E aí já estava tudo errado.
Para o Emílio arranjaram um figurino onde ele ficou parecido com a jogadora
de tênis, Maria Ester Bueno. Ele, todo másculo, com aquelas perninhas de fora,
era absolutamente ridículo. Eu resolvi fazer o personagem de um jeito que
ninguém havia feito antes, imagina só. Acontece que Cássio, o meu persona-
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gem, era jovem e gracioso e eu já estava careca, então resolvi que tinha de
usar uma peruca. Antes disso, veio o Sadi Cabral, que fazia o Júlio César, me
procurar e disse: Raul, o Antunes quer que eu fique nu, de bunda de fora
dentro do caixão; (risos) o problema não é estar dentro do caixão, o problema
é saber se a minha bunda, na minha idade, como é que fica (risos). E eu falei:
Sadi, vá até o camarim tire a roupa e me chame, que eu vou dar uma olhada
(risos). Fui lá e disse: Sadi, vai em frente, que sua bunda ainda agüenta close
(risos).
Então, pra surpresa minha, na estréia, eu entrei no camarim do Sadi e ele esta-
va lá, deitado de bunda para cima nas cadeiras e o Leontij Timochenko, que
fazia a maquiagem dos atores, maquiando a bunda do Sadi (risos) toda de cor
de rosa. Aí estava tudo preparado, o Sadi com a bunda rosa, o Jardel todo de
branco, eu de amarelo, tudo pronto: um grande espetáculo. A platéia lotada
com o melhor, o top do top social, político e financeiro. O que existia de me-
lhor em São Paulo na época, a Ruth Escobar colocou dentro do Teatro Munici-
pal. E começou a peça.
Quando entrei em cena, eu senti que não ia dar certo. Eu estava de costas para
a platéia, o Renato Consorte me olhando de frente, na escadaria enorme, e eu
falei assim: Renato, a peruca não deu certo, (risos) isso aqui vai ser uma merda.
E ele me respondeu: Imagina! O público está todo aí, pára de falar. Mas eu
senti que ia ser uma merda (risos). Bem, foi indo assim, de desastre em desas-
tre. Mas quando abriram o caixão e botaram a bunda do Sadi na frente, aí o
público não agüentou, deram aquele Oh! e caíram na gargalhada e numa gran-
de vaia. Começou a ser vaiado, foi a primeira vez que eu vi um espetáculo ser
vaiado – e a gente trabalhando nele. Então, quando eu apareci e o Tatá me viu
– era eu de um lado, o Juca de Oliveira do outro, era uma cena de espada
verbal –, quando o Tatá me viu de peruca, começou a rir que não parava mais.
(risos) Não conseguia falar; olha, a história foi um desastre. Aí teve ainda um
problema com o protagonista: o fantasma de César tinha de subir umas esca-
das, o Sadi tropeçou, levou um tombo e quebrou a clavícula. Bem, já no dia
seguinte não tinha mais Júlio César, precisou de um substituto. Tínhamos que
estrear no Rio de Janeiro. Lá no palco tinha um alçapão, o substituto não viu,
levou um tombo... E quebrou a clavícula. É essa coisa, essa maldição do papel
que acompanha um personagem.
Essa foi talvez a peça mais terrível, mas sempre tem um histórico engraçado
que me acompanha. Ah, e tem mais, o Antunes queria receber, e a Ruth não
queria pagar, de jeito nenhum, pois o prejuízo para ela foi enorme. Mas ele foi
lá na Rua dos Ingleses receber, e a Ruth pegou uma máquina de escrever e saiu
correndo atrás dele (risos). Qual era mesmo a pergunta?
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Lígia: O que você faz para se concentrar antes de entrar em cena?
Raul: Bem, é aquilo que disse, cada um tem sua maneira de fazer o persona-
gem, sua maneira de se concentrar. Eu não sei, em primeiro lugar eu tenho
que me colocar em sintonia. Eu fazia uma coisa totalmente intuitiva, inconsci-
ente, eu não sabia começar um ensaio sem dar voltas, círculos, andava sempre
fazendo círculo, círculo, aquilo ia apertando, apertando, apertando, até que
eu estivesse colocado no meio. No meio, eu estava pronto para começar o
ensaio, pronto para começar uma peça.
Eu acho que quando a peça está em cartaz você tem que chegar uma hora e
meia antes – eu chego sempre uma hora e meia antes –, porque você tem que
estar preparado; não é preparado pra receber o santo, mas para atuar. Você
tem que jogar tua emoção, tem que estar calmo, tem que ser dono dela; então
é gostosa essa preparação. Você praticamente tem que se livrar de tudo, vestir
outra roupa e vestir outras coisas. Então a concentração tem sempre que vir
antes. E quando não vem de jeito nenhum, existem vários exercícios. Por exem-
plo, você fixar a atenção num ponto e andar, se mexer, sempre observando
aquele ponto, até conseguir a necessária concentração. Agora, a inspiração, aí
reza pra ela vir, porque bem preparado você tem que estar.
Qual a sua opinião a respeito do talento nato? Ele existe? Se existe, você acha
que o ator que não o possui, através do trabalho possa vir a ser melhor que
aquele que já é bom ator naturalmente?
Raul: Acho que você também tem que considerar uma coisa que eu acho im-
portantíssima, que é o dom, o dom que te é dado e muitas vezes é dado pra um
e não para outro. Esse, que não o recebeu, se trabalhar bastante, vai se tornar
um bom ator, mas aquele que recebeu esse dom, esse chamado específico – o
que é absolutamente extraordinário –, vai ter algo a mais, porque está escrito
que deve ter. Eu acho.
Em algum momento da sua carreira, você se deparou com algum personagem
em que você não acreditava? Você não acreditava que o personagem ia ser
engraçado, você não acreditava numa piada? Aceitou o papel dessa forma:
Não acredito no personagem, mas de qualquer forma, vou fazer. E o que você
tem a dizer para uma pessoa que de repente aceita um papel no teatro, numa
novela, pois ela tem que encarar a oportunidade, e ela diz: Eu não acredito,
não vou conseguir, não vou conseguir trabalhar em cima disso. Quero dizer,
você já passou por uma situação parecida?
Raul: Eu não me lembro de ter passado por situação assim. Personagem que
não gosto, vou embora, não vou fazer. Mas às vezes você é enredado e, então, aí
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é difícil, você fica rezando para aquilo acabar logo. Eu fiz uma peça, Madame
Butterfly, que foi um desastre total, porque havia uma má concepção, embora
houvesse uma atuação muito boa do japonês que fazia a Madame Butterfly – era
muito bonito o que ele fazia –, mas a concepção estava errada, totalmente erra-
da, então a coisa não andava. Eu não via a hora de terminar, mas eu tinha que
acabar a temporada, eram três meses e vamos lá. Você faz não é? Mas foi uma
coisa difícil. Isso sempre acontece quando eu resolvo fazer teatro por dinheiro,
trabalhar por dinheiro. Acabo não ganhando, é um fracasso e eu me aborreço.
Aconteceu dessa vez e mais umas duas, eu acho. E acontece o contrário quando
eu acho que vou perder dinheiro, numa peça que é feita somente com fé, como
foi o Rei Lear (onde atores importantíssimos diziam pra mim: Não faça, isso é uma
loucura. E eu respondia: Todo mundo tem o direito de ser audacioso). De fato era
uma loucura: 40 pessoas em cena, mas nós tivemos casa lotada durante um ano e
meio, e nunca, nunca houve um problema de coxia, de relacionamento meu com
eles ou entre eles. Foi realmente um momento incrível, e eu consegui até ganhar
dinheiro. Quando se resolve fazer por dinheiro parece, como dizia Flávio Rangel,
que os deuses do teatro não perdoam. Fique rindo deles e eles te castigam: não dá
certo, você perde dinheiro e se aborrece profundamente.
Raul, emM. Butterfly
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Como você vê a crítica de teatro no Brasil? (risos) Você acha que, de repente,
ela pode contribuir para que as salas estejam cada vez mais vazias?
Raul: Acho que para todo ator, todo artista, crítico de teatro no Brasil é muito,
muito desagradável. Ser criticado já é desagradável, e você tem que saber rece-
ber muito bem. Havia um momento no teatro, muito feliz pra nós, quando
existia o Décio de Almeida Prado, um grande crítico; quando o Sábato Magaldi
ainda escrevia crítica; quando existia no Rio de Janeiro o Ian Michalski; como
tem agora a Mariângela Alves de Lima. São nomes que você tem que citar
porque são referências do que seja uma boa crítica, e eu tenho que dizer isso.
Eu não posso acreditar em outros críticos, que baseiam suas críticas na simpa-
tia por determinados movimentos, por momentos, por determinados grupos,
então acham que politicamente tem que elogiar um grupo que faz uma má
encenação, que politicamente interessa no momento. E não criticam alguns
atores porque são medalhões. E um teatrão, mesmo quando é um grande
teatrão, para favorecer um teatrinho que não tem a menor expressão.
Não acho bom exaltar, enaltecer essa gente. Não é só criticar e dizer que não
gostou; tem que dizer porque não gostou. Eu só posso dizer é bom crítico se
o que ele elogia e porque elogia é também legal. Mas tem que ser uma crítica
construtiva. Antes era isso. Existia consciência de que estava se fazendo tea-
tro, se criando um teatro. Agora, eles deviam ter uma consciência maior,
pois é uma luta muito grande para se levar uma peça em cena – seja com
quem for –, e cada momento desses está contribuindo para melhorar o esta-
do cultural baixo que existe neste país hoje em dia. É preciso ter essa consci-
ência, que parece, muitas vezes, que eles não têm. Isso me deixa, me deixa
muito... Puto mesmo.
Eu acabei de me formar agora com o Marco Antônio, e há algum tempo ele disse
que a nossa profissão era mais um ofício. Pra você está muito claro, porque para
você é um ofício. Mas para mim, eu ainda caio na ilusão de que vai dar certo.
Também não consigo trabalhar, sabe, com tanta coisa diferente, com pessoas com
sonhos diferentes e quando, quando está tudo uma zona, quando está tudo uma
merda, o que eu faço para que tudo aconteça? Estou ficando louca. Não estou
entendendo o que está acontecendo, porque parece que eu vou rebolar no meio
do nada. E vejo você, com tantos anos de carreira, fazendo uma peça de Mário
Bortolotto... Pôxa, eu estou reclamando da minha vida, não é? (risos)
Raul: Você disse algo muito importante. Você disse louca? Loucura é uma coi-
sa extraordinária, tem de ser cultivada, aos poucos (risos e aplausos). Ser pes-
soa igual às outras, realmente não vai te trazer nada. Essa cor, isso tudo, essa
coisa extraordinária, só os loucos é que fazem. São os criadores. Isso vai existir
sempre, desde que você obedeça à sua vocação.
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Eu ter feito Mário Bortolotto? Fiz porque tenho muita admiração por ele, eu
escolhi porque gostava. Eu esperava que a peça fosse diferente, não como
encenação ou direção, mas como maneira de história. Eu tinha escolhido um
ator parecido comigo porque eu via uma continuação da peça, que não foi
escrita – parece que um dos diretores não topou. Para mim, ficou uma coisa
inacabada, uma coisa que eu jamais poderia fazer, porque tem uma maneira
de ser, de estar em cena que não é a minha. Mas eu tenho uma grande admira-
ção por ele, e essa audácia de ter feito, de ter me envolvido, eu acho legal,
acho bom. Deu certo ou não deu certo, acho que só o ter me desafiado já foi
legal. Acho que se a proposta é boa, tem que encarar e ir em frente.
Num curso de 6 termos (6 semestres), o que é que você acha essencial para ser
estudado com o auxílio de uma equipe de professores?
Raul: Não sei... Acho que vocês estão aqui para serem atores. Como vai ser feito, é
a escola, são os professores que vão decidir. Não seria eu, porque não sou profes-
sor... Ainda. Futuramente, talvez eu faça alguma coisa aqui. Agora, não estou
preparado para dizer: Tem que ser assim, deve ser assim... Não, isso não.
A gente aqui tem 0 anos de carreira, e você tem 50. Então, na sua formação, o
que você indicaria para nós?
Raul: Ué, quebra a cara, vai fazendo... (risos e aplausos). Como eu fiz; comecei,
não fiz escola. Eu fui lá no TBC, passei quatro anos fazendo figuração – que é
o tempo do curso que a Escola de Arte Dramática propunha – e acho que
aprendi alguma coisa. Mas é ir, é ir, aí parado não dá, é ir! A proposta é esta:
Vamos fazer! Se não estou certo, mudo de lado. Quando você não está bem
de um lado, vai para outro. É isso aí, a vida é essa.
Você já fez uma personagem e, no meio do caminho, achou que tinha que
mudar. Já surgiu alguma coisa assim?
Raul: Você quer dizer, fazer uma personagem e mudar a linha no meio dos
ensaios, é isso? (concordam) Não. Antes de começar a fazer, você tem que ter
sintonia total com o diretor. Se não estiver em sintonia, saia da peça, porque
não vai acontecer. Você não pode torcer uma direção, o universo, da maneira
que você quer e de uma forma totalmente individualista, longe do que está
sendo proposto em cena. É bobagem.
No seu sentimento, às vezes em função da personagem, você não pensa: Olha,
eu não poderia ter feito diferente? Ou não? Você começa numa linha e vai até
o fim?
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Raul: Você escolhe o personagem, não é? Não existe uma linha só para o per-
sonagem, existem nuances, tantas sutilezas, mas o principal está ali proposto,
está te convidando. Não vou mudar, de repente, de linha; tem um universo
todo para estabelecer com os atores. Como eu posso mudar de repente, só de
estalo? Não existe. Eu não posso fazer isso. Não me cabe fazer isso. Não me
ocorre fazer isso. Eu estou direcionado, estou objetivado para dizer alguma
coisa com o meu trabalho, se eu vou dizer outra coisa totalmente diferente,
então eu não deveria estar lá, vou embora. Não existe isso! Eu conheço uma
pessoa que faz isso e não consegue nada, é totalmente louco, é um caminho
tão isolado, tão só, que não dá certo, nunca deu certo, nunca foi feliz, nunca
será feliz, não existe isso!
O cinema brasileiro está crescendo, mas, para mim, acredito que é difícil con-
seguir chegar lá. Você acha que cursos de cinema no exterior facilitam nossa
chegada ao cinema brasileiro, ou não há necessidade? Como foi o desafio de
fazer um romance da terceira idade em Do Outro Lado da Rua, pois é um tema
nada convencional?
Raul: Por que não é nada convencional? (risos) O encontro de duas pessoas
independe da idade. O amor não tem idade, o importante é que num momen-
to como esse, quando há um encontro desse, você mexa com as pessoas e mexa
com o preconceito delas. Eu assisti a Chuvas de Verão, feito pelo Jofre Soares e
pela Miriam Pires, num cinema de bairro lá em Santo Amaro, e quando havia
cena de sexo entre os dois no chão de uma cozinha, os dois pelados, o público
todo caiu na gargalhada; foi terrível porque mexeu muito com eles. Então,
quando houve essa cena do encontro meu com Fernanda Montenegro num
motel, onde a gente teria que se despir pra acontecer aquilo, é muito desagra-
dável realmente. Se você tem 20 anos, tira a roupa em qualquer situação, a
qualquer momento você está tirando a roupa, não tem problema nenhum,
mas com 60, 70, já pesa, tanto para o homem quanto para a mulher. E para
uma grande atriz como ela, era um momento muito delicado também, Fernanda
é por excelência muito pudica – no que ela faz muito bem. Então há um en-
contro delicado, mas isso não é um tabu que tenha que ser quebrado, nem
nada. A história é pra ser vivenciada com delicadeza.
Qual era a primeira pergunta? Ah, sim: se é importante fazer um curso no
exterior? Eu acho que para o ator não. Para um diretor eu acho importante
sim, porque ele vai adquirir uma técnica absolutamente extraordinária, que
faz falta aqui. Eu acho que o cinema brasileiro já está acontecendo, indepen-
dente de bilheteria ou de atores globais. É bem feito, com garra, talento, com
peito, com o que tem. O cinema brasileiro tem que ser brasileiro, o ator brasi-
leiro tem que ser brasileiro. Não adianta o ator ir para fora, pra quê? Vai ter
que competir com tanta gente...
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Mas, enfim, eu acho que para diretores, para a técnica – você tem toda uma
resposta internacional para técnica –, eu acho absolutamente extraordinário.
(uma menina pergunta, e Lígia traduz, repetindo)
Lígia: Ela quer saber o que meu pai acha dessa história do ator cantar, dançar,
interpretar, do ator completo. E de um ator que trabalhou dez anos em teatro
e parou durante 12 anos. E, enfim, qual é a melhor forma de retomar?
Raul: Acho que o ator, hoje, tem que ser completo. A competitividade é muito
grande e o teatro está de uma forma extraordinária; o musical está aí, aconte-
cendo. O ator que canta, que dança, que atua, é muito importante. E muito
prazeroso também, não é? Nem é uma obrigação, é um prazer muito grande
poder fazer isso tudo.
Agora, quanto aos 12 anos de retomada eu acho que é ir embora. Vá em fren-
te. Eu acho que nesses 12 anos, você adquiriu, também, uma certa experiência,
não é? E talvez isso se traduza na sua maneira de atuar. (mudando) Estou
vendo aqui uma amiga minha, eu falei com ela no telefone e lembrei de um
momento que eu vou contar. Quando comecei minha carreira, toda aquela
coisa de competição, de querer dizer e achar que era ótimo, eu tive uma gran-
de amiga que ia às minhas estréias e eu combinei com ela o seguinte; quando
acabasse a peça era pra ela gritar: Bravo! Bravo! E eu achava ótimo, tudo bem.
Daí eu fui fazer Zoo Story, A História do Zoológico, do Edward Albee.
Raul com Marcos Bernstein e Fernanda Montenegro no set de Do Outro Lado da Rua
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E eu, todo James Dean na cabeça, vestido de jeans, com a idade certa e entran-
do em cena, todo preparado para fazer o grande sucesso. Quando terminou a
peça, ela sentada na primeira fila, estava muda e só aplaudiu discretamente, aí
eu falei: Pôxa, a gente não tinha combinado de você gritar bravo? Ela me
respondeu: Raul, não dava, foi tão ruim que eu não consegui gritar. (risos) Eu
fiquei de mal durante anos. Só voltei a falar com ela faz pouco tempo.
Alguma vez já te deu um branco histórico?
Raul: Já. Deu um branco histórico, como você falou.
E o que você fez?
Raul: Eu estava fazendo Amadeus, de Peter Schaffer; eu fazia o Salieri e tinha o
Mozart. Havia um momento da peça em que eu conversava com o público,
como estou conversando com vocês agora, onde dizia o que eu sentia com a
música do Mozart, a presença divina na música do Mozart. Era um monólogo
lindíssimo e eu comecei a falar. Cortina fechada, eu sozinho no proscênio... De
repente eu não sabia mais o que tinha que dizer. Foi aquela coisa: O que é que
eu sou? Onde é que eu estou? Não sentia nada e não conseguia pensar em
nada. Daí eu olhava para todo o público – e isso em fração de segundos –,
então comecei a mexer os lábios como se estivesse balbuciando alguma coisa e
toda a primeira fila se esticava (risos) para tentar ouvir.
Raul, em Zôo Story
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E eu tentando ganhar tempo (aplausos) para lembrar o que tinha de dizer. Foi
realmente muito histórico!
Com tanta escola de atores, o trabalho de ator tão difícil, tão competitivo, o
que você poderia dizer para nós acreditarmos nessa profissão e para que os
outros respeitem essa profissão? Porque hoje em dia qualquer um pode ser
ator, mesmo sem preparo, e pode tirar a oportunidade de quem estuda e se
prepara. Palavras assim de incentivo, para que as outras pessoas respeitem a
nossa profissão.
Raul: Eu acho a competição muito grande, então você tem de encarar isso numa
boa e ir em frente realmente em tudo o que puder. Aparecer na televisão, por
exemplo, porque hoje em dia tem que aparecer, mas sendo ator e não só um
produto da TV. Existe o artista e o produto e você escolhe o que quer ser. Há uma
diferença; os artistas ficam e os produtos são en passant. Você deve lembrar de
muita gente que nem se sabe onde está hoje em dia. É muito duro mesmo, hoje é
mais difícil do que nunca, mas eu não acho que seja mal vista a profissão, acho
que não há respeito por parte das pessoas por causa desses produtos, dessa febre
de ser celebridade. Isso realmente existe, temos é que lutar contra isso, lutar con-
tra essa mediocridade. E você ter cada vez mais cultura, mais argumentos pra
lutar e se colocar contra o que está acontecendo, se unir com pessoas que pensem
como você, com sua idade e formar grupos. Eu acho que é isso que pode e deve
acontecer para se ter um resultado mais feliz.
Você acha que ainda há preconceito contra o ator negro ou ele está conquis-
tando o seu espaço?
Raul: Preconceito existe sim, mas não posso falar porque nunca me confrontei
com isso. Eu acho uma cor linda, muito bonita, e acho que hoje em dia a tele-
visão está abrindo espaço para eles. Vejam, as empregadas já estão sendo in-
terpretadas por latino-americanas. Infelizmente, nos países superdesenvolvidos,
como os Estados Unidos, continua havendo preconceito. E eu acho que hoje
em dia, no Brasil, embora exista menos, continua existindo porque as pessoas
de cor não têm a instrução que deveriam ter – e isso me incomoda muito.
Eu queria saber como foi pra você participar, como ator, de todos os aconteci-
mentos na ditadura?
Raul: Isso é um capítulo enorme e que foi muito importante. Uma época muito
difícil, as peças tinham de ser censuradas pouco antes da estréia. Então, pro-
dutores, atores, tinham investido todo o seu dinheiro e seu tempo naquela
peça... E acabava que muitas vezes ela não era encenada.
À esquerda, Raul como Salieri, em Amadeus
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Mas havia coisas incríveis: dizem que o artista, na repressão, por incrível que
pareça, infelizmente, era bem mais criativo. Não só no teatro, mas na música,
na literatura, tudo foi muito mais criativo naqueles anos todos. Havia essa com-
pensação. Muitas vezes íamos até Brasília para negociar a liberação da peça,
outras vezes nós fazíamos a peça com o censor sentado na platéia com um
revólver no bolso para, a qualquer coisa, atirar. Nós éramos o inimigo, e não
era só porque éramos mais cultos, mas porque éramos a classe pensante da
época e que modificava realmente a platéia que ia nos assistir. E a gente exer-
citou também a maneira de dizer. A intenção era sempre variável quando se
queria dizer algo mais grave. O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, pu-
blicava receitas de bolo, e versos de Camões, para toda a gente saber que a
censura não tinha deixado publicar determinada notícia.
Nós driblávamos muito, havia leituras proibidas que se faziam nas casas de
amigos, ou nos teatros; alguns colegas ficavam nas esquinas para vigiar se não
aparecia ninguém do Dops ou do que fosse, para avisar os que estavam ouvin-
do a leitura. Tudo isso acontecia. No espetáculo Roda Viva a censura acabou
por prender os atores, e a Cacilda Becker, que era a grande líder da época, foi
até a prisão para tirar os colegas da cadeia. Ela usava seu prestígio pra isso.
Toda essa atrocidade existia ao nosso lado. Nós escondemos muita gente, teve
colegas que tiveram uma participação mais ativa. Eu participei de muito comí-
cio, passeata. Havia também as peças de guerrilha contra a ditadura. É uma
história muito grande, há muita coisa para ser contada e com o tempo vai se
sabendo um pouco mais.
Alexandre Mate: Em decorrência dessa última observação e outras coisas que
foram ditas, eu tive a felicidade de vê-lo em vários espetáculos, um deles foi
Rasga Coração, do Vianinha, que foi um espetáculo extremamente significati-
vo para a história do teatro brasileiro. Num momento de contraposição direta
ao regime militar, você fez o Manguari Pistolão, lembrando que, como você
mesmo disse, teve a oportunidade de, em 1955, trabalhar com o Vianinha, que
faleceu fazendo essa última peça dele, que é o relato de um tempo muito
significativo. Você falou no balde de lágrimas que a idade traz e que a gente
passa a se dar o direito de ficar emocionado. Então, como foi pra você fazer
Rasga Coração, que é um texto tão importante, trazendo esse depoimento,
esse relato de um tempo do Vianinha? O Manguari Pistolão representava o
Vianinha e uma luta que você desenvolveu ao longo de sua carreira como ator.
Então, a emoção é muito mais forte que o texto? Mais forte que a linguagem?
Como dizia Carlos Drumond de Andrade: Nós trazemos conosco o sentimento
do mundo. Talvez isso seja o grande diferencial para todos que estão vindo. É
mais que emprestar o corpo para decorar as falas e sim tentar trazer consigo o
sentimento do mundo. Alguns conseguem, outros ficam no meio do caminho
porque é um peso muito grande.
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Raul: Esse foi um capítulo muito importante na minha vida, naquele momento
absolutamente extraordinário da nossa história política. Foi com Rasga Cora-
ção que foi liberada a censura no Brasil. Estreou em Curitiba, patrocinada pelo
governo do Paraná, que era governo de direita, claro. E deram essa verba para
montar, até como pretexto para poder abrir a censura. Mas o que era impor-
tante, não era só o lado emocional do Vianinha, pois foi a última peça que ele
escreveu, e fez isso no próprio leito de morte, mas sim a história que ele conta-
va. A peça era a história do PC do B. O Manguari Pistolão é justamente o gran-
de militante anônimo, e com essa militância anônima ele faz a peça transcor-
rer desde a infância de Manguari Pistolão até aquele momento de que a peça
tratava. Havia um conflito de geração entre ele – um homem engajado – e o
filho, que Manguari esperava seguisse o mesmo engajamento, mas que era
voltado totalmente para o movimento hippie da época. Era o grande hiponga.
A importância dessa peça era fundamental pela grande homenagem que fazí-
amos ao Vianinha. Ele era um ator consagradíssimo, respeitadíssimo. Eu o co-
nheci, eu convivi com ele, eu tenho um respeito muito grande pelo Vianinha.
Ele nunca fraquejou em nenhum momento da vida dele, nunca mudou de opi-
nião. Foi tão radical, no bom sentido, político e de boa conduta, e foi até o
final assim. Então foi feito com muita responsabilidade. E o Rasga Coração –
por incrível que pareça –, dentre todos os meus colegas que exerciam a políti-
ca até mais ativamente do que eu, sempre foi lido por mim. Em todas as leitu-
ras que aconteceram, sempre fui chamado para ler o Manguari. No Sindicato,
no Teatro Ruth Escobar, com os colegas fiscalizando as esquinas, porque a
leitura fora proibida.
Quando o José Renato me convidou pra fazer essa peça foi num momento
muito especial da minha vida. Eu estava fazendo Virginia Woolf, de Edward
Albee, no Teatro Maison de France, com sucesso. Era uma peça americana e eu
também estava entrando na Globo, fazendo a novela Água Viva, e estava es-
perando a chegada da minha segunda filha, Maria. Era um momento muito
especial mesmo. Estava profundamente feliz, emotivo, amando uma mulher
que eu gostava muito e pronto para começar a ter meu liquidificador, ter uma
vida conjugal mais satisfatória.
Era uma coisa muito louca, porque de dia eu fazia aquele médico famoso cer-
cado de grandes peruas, grandes viagens, helicópteros e tal. De repente, à
noite me convidavam para fazer a figura do comunista. Eu não me achava
digno, não quis aceitar quando o Zé Renato me convidou. Eu dizia pra ele que
havia pessoas mais poderosas e mais importantes do que eu pra fazer. Ele me
perguntou: Então diga qual. Quem? Eu acho que me envolvi também, porque
não lembrava de nenhuma (risos). O fato é que acabei fazendo o papel.
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Raul com Glória Pires e Tônia Carrero, em Água Viva
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63Em Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, com Tônia Carrero (acima) e Lílian Lemmertz (abaixo)
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Os cartazes de Rasga Coração: proibido pela censura (acima) e final (à direita)
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Mas antes aconteceu algo muito bonito. Porque eu ficava pensando que eu
era um homem filho de classe média – dita alta –, meu jeito, tudo, era total-
mente contra o Vianinha. Claro, ele sempre me respeitou, nunca houve nada.
Mas o que ele iria pensar? Eu, um burguês, fazendo o Manguari Pistolão? Daí,
quando nasceu a Maria, a viúva dele foi à maternidade fazer uma visita à mi-
nha mulher, mãe de Maria. Na porta do quarto, ela se recusou a entrar e eu
perguntei o que havia acontecido, e ela respondeu: Não posso entrar nesse
quarto, porque foi nesse quarto que o Vianinha morreu. Então eu senti ali um
sinal muito grande e aí eu aceitei o papel e fiz com mais convicção.
Às vezes é muito difícil separar o momento do teatro da sua vida. Acho que
está tudo tão ligado: quanto melhor pessoa você for, melhor ator você será.
Melhor pessoa. Não no sentido do bem e do mal. No sentido de amar a vida,
ter mais história, mais material. Nunca separei uma coisa da outra; quando
estou em cena, estou defendendo a minha vida e não só o personagem, isso é
consciente em mim e é assim mesmo que eu ajo. Se acharem errado, ou se eu
for mal interpretado, para mim não importa, eu estou realmente defendendo
a minha vida. Minha maneira de ser está ali naquele momento, no teatro.
Então, quando fiz Rasga Coração, o importante foi como o público entendeu e
recebeu a peça; isso é tão extraordinário para a vida de um ator, que jamais eu
vou esquecer. Foi muito importante, muito importante politicamente, histori-
camente, para o teatro. Foi uma direção muito feliz do Zé Renato, e muito
bem vivida pelos outros atores. Foi muito legal, muito importante.
O que você acha da falta de mobilização dessa geração diante da crise política
que ocorre atualmente? E como você reagiu à quebra da esquerda e o que ela
representava na época da ditadura?
Raul: Eu acho um momento muito delicado. Não sou politicamente indicado
para dar uma resposta dessa. O que eu responderia seria algo totalmente pes-
soal e acho que nesse momento o pronunciamento do presidente tem uma
responsabilidade maior para falar disso. Acho um momento triste, essa quebra
de esquerda, foi terrível para todos nós, mas não está em mim falar disso. Essa
imobilidade não é de agora, vem de muito antes, desde o militarismo. A
pasmaceira começou ali quando inventaram a telenovela. Não tenho nada con-
tra, eu sou contratado, ganho a minha grana, acho muito bom inclusive, mas
quando ela surgiu fui totalmente contra porque estava quebrando, roubando
atores e autores do teatro. E hoje em dia é isso que acontece, de repente pára
todo mundo para ver uma novela. Eu faço novela, mas eu não vejo, não só
porque sou contra, mas acho ridículo perder uma hora e meia, duas horas na
frente da TV vendo uma receita fácil. Mas não é por isso que eu vou deixar de
fazer. Eu faço porque preciso de grana, eu gosto de ganhar dinheiro (aplau-
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sos), eu tenho consciência disso. Mas quando eu estou no teatro eu não vou
fazer peça caça-níquel, isso não mesmo, me recuso. É perigoso, porque o palco
é outra coisa: é qualidade, talento e inteligência. Tudo isso se deve praticar,
senão acaba se perdendo.
Marco Antônio Rodrigues: Eu quero sublinhar uma coisa, que é a autonomia de
pensamento. Isto é: o quanto hoje pela mesmice, pela banalização do pensamen-
to, nós vamos sendo pautado por questões que não nos dizem respeito e que nos
levam a pensar de forma homogênea. É muito rico o que o Raul está trazendo,
que é a autonomia, a riqueza de personalidade; quero chamar a atenção de quan-
to isso é importante no ofício do artista, o quanto é importante perceber o que
está por debaixo das coisas com olhar pessoal e criativo. O que o Raul está fazen-
do aqui é, acima de tudo, esclarecer a natureza do processo criativo, a pessoalidade,
o quanto é fundamental ter uma opinião e não comprar uma opinião formulada
pela mesmice, pela moralidade, pelo bom-mocismo, pelo pensamento único e
homogêneo. A autenticidade de opinião do Raul é o mais importante que ele traz
aqui hoje, além de seu enorme talento. (aplausos)
Raul: (ao rapaz que fez a última pergunta) Você ficou chateado com a resposta
que eu dei? (o rapaz nega) As perguntas que você fez, eu fazia também.
Uma dica que você daria aos que estão começando agora. Qual é a dica que você dá?
Raul: Eu acho que, para quem quer fazer teatro, é procurar o grupo certo, a
escola certa. Eu estou aqui no Célia Helena por considerá-la uma escola de
peso, de responsabilidade pela qualidade dos professores, de uma certa postu-
ra que coloca para os alunos e o ator de: respeite para ser respeitado, de me
respeito, pois sou um artista. Acho que há muita religiosidade nisso, porque
Deus está em cada um de nós. Você não pode se agredir, não pode faltar com
respeito a você mesmo. Ele está ligado ao teu talento, ao teu dom, que te foi
dado e que tem de ser exercido por você. Então é esse cuidado que eu acho
que esta escola tem.
Eu vejo hoje em dia que qualquer um está ensinando teatro, é só abrir o jornal.
As pessoas acham que é um chamariz para irem para a Globo. Tem gente até
que usa Escola Globe no nome, pra chamar as pessoas para sua escola, ganhar
dinheiro. Tem de tomar um cuidado muito grande, ter a resposta em si mes-
mo: É para isso que eu nasci? É isso mesmo que eu quero fazer? Sem isso eu vou
viver bem? Sem isso eu posso morrer? Até que ponto isso é vital? Como diria o
Rainer Maria Rilke, em Cartas a um Jovem Poeta: Se questione antes de dormir,
lá bem no fundo de você mesmo.
(como último comentário, a uma interrupção inaudível)
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Eu não conseguiria ficar parado. Estou parado hoje em dia obrigatoriamente,
mas não vejo a hora de recomeçar, não vejo mesmo. Sinto-me totalmente inú-
til e estou buscando energia para voltar o mais rápido possível para a cena,
porque eu quero atuar.
Tem alguma coisa que você considera um diferencial para o ator?
Raul: É sempre algo especial, um carisma, uma maneira de ser, não sei explicar.
Existe isso. Há pessoas que têm, outras não, mas isso não quer dizer que seja
melhor ou pior. É um dom, sei lá, algo que vem desde o início. Fernanda
Montenegro tem, Cacilda Becker tinha, mesmo fazendo papéis que aparente-
mente não seriam para elas. Uma coisa, uma centelha inexplicável, papéis que
não eram para elas, mas faziam. Essa é a grande diferença.
(Raul Cortez encerra as perguntas e é aplaudido ruidosamente por todos os
alunos e professores)
Raul: Antes de acabar eu poderia ler uma coisinha do meu próximo espetáculo?
(todos concordam) Eu ainda não sei como vai ser, mas vou colocar nele e gostaria
de ler para vocês. Vai ser a primeira seqüência dentro do espetáculo, que começa
com um poeta jovem de San Salvador (acrescido de um poema de Fernando
Pessoa, assinalado). Ele escreveu durante a revolução e eu gostei muito:
Ao saber da minha morte não digas o meu nome.
Porque me fazes deter a morte e o repouso.
Tua voz que eu sigo,
cinco sentidos seriam um faro tênue buscado por minha névoa.
Ao saber da minha morte, diz sílabas estranhas.
Diz flor, abelha, lágrima, dor, tormenta.
Não deixes que teus lábios achem minhas onze letras.
(Fernando Pessoa)
Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços e chama-me teu filho.
Eu sou o rei que voluntariamente abandonei meu trono
de sonhos e cansaços
Minha espada pesada abraça os laços em mãos viris e calmas entreguei
E meu cetro e coroa vos deixei na antecâmara feitos em pedaços
Minha cota de malha tão inútil, minhas esporas de um tinir tão fútil
Deixei-as pela fria escadaria
Despi realeza, corpo e alma
E regressei à noite antiga e calma,
Como a paisagem ao morrer do dia.
Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte.
O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu.
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Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também
Onde nada está tu habitas.
Onde tudo está, eis o teu corpo
Toca-me puro como a água e alto como céu
Toca-me grande como o sol
Para que te possas dourar em mim
E toca-me puro como a Lua
Para que te possas rezar em mim
E toca-me claro como o dia
Para que eu te possa ver sempre em mim
Embelezar-te e adorar-te
Senhor, protege-me e ampara-me
Dá-me que eu me sinta seu, Senhor
Senhor, livra-me de mim.
Fui ver um espetáculo em Lisboa, com Amália Rodrigues e velhos fadistas que
cantavam fados antigos, conduzidos por gente jovem, chamado Cabelo Bran-
co é Saudade, e tinha um verso lindo que dizia assim:
Tinhas o corpo cansado,
A cidade era tão fria
E quem dormia ao teu lado
Ninguém sabia que amado
O teu corpo se acendia
Andavas devagarinho pelas ruas de Lisboa
Em busca de algum carinho
Que te fosse pão e vinho
E te desse noite boa
Eras triste se sorrias
E mais nova se choravas
As palavras que dizias tinham dores e alegrias
Mas só ternura queixavas
Por ti não houve ninguém
A quem tu te desses mui
Podias ter sido o mar
Podias ter sido alguém
E foste esquina de rua
Eu recebi um jornal sobre quem planta cana, onde há um verso que eu tam-
bém vou colocar em minha peça – não sei a hora, mas vou botar –, vai ser bom
para terminar. Diz assim:
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Os pais levam um menino de oito anos à igreja. Eles sentam na primeira fila,
para que o menino possa apreciar bem a missa, mas menino de oito anos não
costuma gostar de igrejas. Principalmente esse. E ele adormece no meio do
sermão. O padre nota isso, decide lhe dar um susto e lhe faz uma pergunta
direta:
- E você menino, diga-me quem foi que criou o céu e a terra?
A mãe, pra não passar vergonha, espeta um alfinete na bunda do menino, que
acorda de sobressalto e grita:
- Meu Deus!
O menino volta a dormir, e o padre vê que precisa acordá-lo outra vez, lhe
pergunta:
- Menino responda-me agora, quem foi o filho de Maria e José?
A mãe novamente espeta o menino, que acorda gritando:
- Jesus!
O padre percebe, mas não pode dizer nada, pois a resposta está correta. O
menino cochila mais uma vez, e o padre pergunta:
- Então menino, diga agora o que disse Eva para Adão quando eles acordaram
no primeiro dia?
Mas antes que a mãe lhe espetasse de novo, o menino fala pra ela:
- Se você enfiar esse negócio na minha bunda de novo, eu te arrebento!
Muito Obrigado! (Raul Cortez encerra a palestra)
Debaixo de risadas estrepitosas e de uma ovação espontânea de todos que
participaram do encontro, Raul parecia uma criança, transbordando felicida-
de. Os olhos brilhavam como se ele novamente tivesse 18 anos. Não demons-
trava o quanto lhe custara o esforço desprendido naquelas duas horas do en-
contro. Estava feliz por estar no meio de jovens que o aclamavam e sabia que
não teria mais tantas oportunidades de repetir a façanha. Foi a sua despedida;
a despedida de um grande ator, cujo domínio no palco era total.
A mensagem final que ele nos passou foi de que um ator permanece de pé.
Não importa quanto sofra, física ou moralmente, sempre deve oferecer ao
público uma imagem de energia, de fé, de felicidade por estar ali naquele
momento.
Assim Raul Cortez, um grande ator, se despediu de nós. Que sua imagem per-
maneça gravada na memória de todos os que estiveram presentes e seja uma
lição de vida.
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Cronologia
Teatro
1955
• A Cacatua Verde, de Arthur Schnitzler: Teatro Lotte Sievers - Teatro Leopoldo
Fróes - Direção: Ruy Affonso
• O Impetuoso Capitão Tic, de Eugène Labiche - Teatro Paulista
• Dias Felizes, de Claude-André Puget - Teatro de Arena - Direção: José Renato
• Está lá Fora o Inspetor, de Priestley - Teatro Paulista do Estudante - Teatro
Novos Comediantes - Direção: Raymundo Duprat
1956
• Eurydice, de Jean Anouilh - Teatro Brasileiro de Comédia - Direção: Gianni
Ratto
• Hamlet, de Shakespeare - Companhia Nydia Licia-Sérgio Cardoso - Theatro
Municipal, Rio de Janeiro - Direção: Sérgio Cardoso
1957
• Leonor de Mendonça, de Gonçalves Dias - TBC - Teatro Ginástico Rio de Ja-
neiro - Direção: Zbigniev Ziembinski
• As Provas de Amor, de João Bethencourt - TBC - Direção: Maurice Vaneau
• A Rainha e os Rebeldes, de Ugo Betti - TBC - Direção: Maurice Vaneau
• Rua São Luiz 27, 8o,de Abílio Pereira de Almeida - TBC - Direção: Alberto
D’Aversa
• Os Interesses Criados, de Jacinto Benavente - TBC - Direção: Alberto D’Aversa
• Do Outro Lado da Rua, de Augusto Boal - Teatro Experimental do TBC -
Direção: Flávio Rangel
1958
• O Diário de Anne Frank, de Francis Goodrich e Alban Hackett- Pequeno Tea-
tro de Comédia - Teatro Maria Della Costa - Direção: Antunes Filho
1959
• Santa Marta Fabril S/A, de Abílio Pereira de Almeida - Cia. Cacilda Becker -
Teatro Leopoldo Fróes - Direção: Ziembinski
• Maria Stuart, de Friedrich von Schiller - Teatro Cacilda Becker- Teatro Leopoldo
Fróes - Direção: Ziembinski
• A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho - Teatro Cacilda Becker –
Teatro Guarany, Salvador - Direção: Benedito Corsi
• A Compadecida, de Ariano Suassuna - Teatro Cacilda Becker - Teatro Santa
Isabel, Recife - Direção: Cacilda Becker
• O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna - Teatro Cacilda Becker - Teatro Monu-
mental, Lisboa - Direção: Ziembinski
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Raul com Fernanda Montenegro, Jussara Freire, Maria Helena Dias, Oscar Felipe, ElizabethHenreid e Egydio Eccio, em Rua São Luiz 27 - 8.º andar
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Raul com Jussara Freire, Maria Helena Dias, Oscar Felipe, Elizabeth Henreid e Egydio Eccio, emRua São Luiz 27 - 8.º andar
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• Os Jograis de São Paulo, de vários autores - Excursão pela Europa e África -
Direção: Ruy Affonso
1960
• Código Penal - Artigo 240, de Abílio Pereira de Almeida - Cia. Brasileira de
Comédia - Teatro Federação - Direção: Abílio Pereira de Almeida
• Exercício para Cinco Dedos, de Peter Shaffer - Cia. Brasileira de Comédia -
Teatro Federação - Direção: Ziembinski
• Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues - Cia. Brasileira de Comédia - Teatro Fede-
ração - Direção: Ziembinski - Interditado pela censura
1961
• O Bezerro de Ouro, de Abílio Pereira de Almeida - Teatro Leopoldo Fróes -
Direção: Abílio Pereira de Almeida e Armando Bogus
• Inimigos Íntimos, de Barillet e Grédy - Cia. Amadora Santos Hotel Atlântico
1962
• Yerma, de Frederico Garcia Lorca - TBC - Direção: Antunes Filho
• Revolução dos Beatos, de Dias Gomes - TBC - Direção: Flávio Rangel
• Balanço de Orfeu, de Vinicius de Moraes - Teatro Maria Della Costa - Direção:
Luiz Vergueiro
• O Pagador de Promessas, de Dias Gomes - TBC - Direção: Flávio Rangel
• Tiro e Queda, de Marcel Achard - Cia. Tônia Carrero - TBC - Direção: Antônio
do Cabo
• A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller - TBC - Direção: Flávio Rangel
1963
• César e Cleópatra, de George Bernard Shaw - Teatro Cacilda Becker - Direção:
Ziembinski
• Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki - Teatro Oficina - Direção: José Celso
Martinez Correa
1964
• Pena que Ela Seja uma Puta, de John Ford - Teatro Oficina - Direção: Zé Celso
Martinez Correa - Peça proibida pela censura federal
• Vereda da Salvação, de Jorge Andrade - TBC - Direção: Antunes Filho
1965
• A Grande Chantagem, de Clifford Odets - Teatro Oficina - Direção: Antunes
Filho
• A Conspiração, de Bráulio Pedroso - Centro de Estudos Teatrais Cacilda Becker
Walmor Chagas
Em excursão com os Jograis de São Paulo, pelas regiões de Évora, Minho e Tânger (à esquerda)
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Os Jograis, em visita ao túmulo de Fernando Pessoa e numa apresentação de estúdio (à esquerda); na capado compacto, Jograis de São Paulo com bossa nova (acima)
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Os Jograis de São Paulo: Raul, Ruy Affonso, Roberto Ribeiro, Maurício Barroso e Rubens de Falco
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98 Cenas de Raul em Pequenos Burgueses
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Cenas de Raul em Pequenos Burgueses
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Cena de Raul em Vereda da Salvação, no TBC
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Raul, em Júlio César
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1966
• Os Físicos, de Friedrich Dürrenmatt - Teatro Copacabana, Rio de janeiro -
Direção: Ziembinski
• Júlio César, de Shakespeare - Cia. Ruth Escobar - Teatro Municipal São Paulo
- Direção: Antunes Filho
1967
• Os Corruptos, de Lílian Hellman - Maison de France - Direção: João Augusto
• Blackout, de Frederick Knott - Teatro Aliança Francesa - Direção: Antunes Filho
1969
• Os Monstros, sobre texto de Denoy de Oliveira - Teatro Ruth Escobar - Sala
Galpão - Direção: Jerome Savary
• O Balcão, de Jean Genet - Teatro Ruth Escobar- Direção: Victor Garcia
1970
• Rapazes da Banda, de Mart Crowley - Teatro Cacilda Becker - Direção: Maurice
Vaneau
• O Estranho, de Edgard da Rocha Miranda – TBC - Direção: Silney Siqueira
• Saldo para o Salto, Festival de Teatro do Oficina
• Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, Direção: José Celso Martinez Corrêa
• Don Juan, de Molière - Direção: Fernando Peixoto
1971
• Saldo para o Salto, Festival do Oficina - Teatro João Caetano RJ
• Galileu Galilei, de Bertolt Brecht - Direção: José Celso Martinez Corrêa
• Os Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki - Direção: José Celso Martinez Corrêa
1972
• Gracias Señor, Oficina Brasil - Teatro Ruth Escobar - Direção: coletiva, inter-
rompido pela censura federal
1973
• Hoje é Dia de Rock, de José Vicente - Teatro 13 de Maio - Direção: Emílio di
Biasi - Primeira produção de Raul
1974
• Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá, de Fernando Mello - Teatro Itália
- Direção: Leo Jusi
1976
• Lição de Anatomia, de Carlos Mathus - Auditório Augusta - Direção: Carlos Mathus
• A Noite dos Campeões, de Jason Miller - Auditório Augusta - Direção: Cecil Thiré
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Cenas de Raul em Os Monstros
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Cenas de Raul em Os Monstros
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110
Cenas de Raul em Os Monstros
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111
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114
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115
Cenas da revolucionária montagem de O Balcão, com Ruth Escobar (acima, à direita)
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116
Cenas de Rapazes da Banda, com Antônio Pitanga (acima) e Otávio Augusto (à direita)
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117
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118 Rapazes da Banda: Benedito Corsi, Antônio Pitanga, Paulo César Pereio...
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119...Osmar Prado, Denis Carvalho e John Herbert, entre outros
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120
Em cena de Don Juan
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121
Hoje é Dia de Rock, com Nuno Leal Maia e Carlos Alberto Ricelli
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122 Célia Helena e o elenco de Hoje é Dia de Rock
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123
Com Rodrigo Santiago em Hoje é Dia de Rock
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124
Cena de Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá (1a montagem)
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125Cena de Greta Garbo... (1a montagem), com Nuno Leal Maia
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126
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127Cenas de Greta Garbo... (1a montagem), com Íris Bruzzi (acima), Marcos Wainberg e Analy Alvarez (abaixo)
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128
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129A Noite dos Campeões, com Edney Giovenazzi, Jonas Mello e Sérgio Mamberti
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130
1978
• Quem tem Medo de Virgínia Woolf?, de Edward Albee - Teatro Anchieta -
Direção: Antunes Filho
• Chuva, de John Colton e Clemence Randolph, baseado num conto de Somerset
Maugham - Teatro Anchieta-SP - Direção: Jorge Takla / Teatro Villa - Lobos-RJ -
Direção: José Renato
1982
• Amadeus, de Peter Schaffer - Teatro Maria Della Costa - Direção: Flávio Rangel
1985
• Ah!mérica, vários autores - Roteiro: Raul Cortez - Teatro Domus - Direção:
Odavlas Petti
1986
• A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa - Teatro Sesc Anchieta
- Direção: Antunes Filho
• Drácula, de Hamilton Deane e John L. Balderston, baseado no romance de
Brain Stocker - Teatro Procópio Ferreira - Direção: Gianni Ratto
1987
• Lobo de Ray-Ban, de Renato Borghi - Teatro Bibi Ferreira - Direção: José Possi
Neto - Participa do Festival Internacional de Teatro em Montevidéu
1990
• M. Butterfly, de David Henry Hwang - Teatro de Arena-RJ - Direção: José
Possi Neto
1991
• As Boas, de Jean Genet - Centro Cultural São Paulo – Adaptação e direção:
José Celso Martinez Corrêa
1992
• Luar em Branco e Preto, de Lauro César Muniz - Teatro Hilton - Direção:
Sérgio Mamberti
1993
• Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá, de Fernando Mello - Teatro Cultura
Artística Pequeno Auditório - Direção: Wolf Maya
1997
• Cheque ou Mate, de Ricardo Semler - Sala São Luís - Direção: Roberto Lage
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131
Cena de Quem tem Medo de Virginia Woolf?
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132 Cenas de Quem tem Medo de Virginia Woolf?, com Tônia Carrero...
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133... com Lílian Lemmertz, no papel de Virginia
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134 Cenas de Chuva, com Consuelo Leandro
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135
Como Antônio Salieri, em Amadeus
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136 Cenas de Amadeus, com Maria Isabel de Lizandra e Carlinhos Siqueira
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137
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138
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139
Cenas de Amadeus, com Carlinhos Siqueira
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140
Cenas de Amadeus
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141
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142 Cenas de Ah!mérica
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143
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144
Cenas de A Hora e a Vez de Augusto Matraga
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147
Cenas de A Hora e a Vez de Augusto Matraga
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148
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149Cenas de Drácula
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150
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151Cenas de Lobo de Ray-Ban
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152
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153Cenas de Lobo de Ray-Ban, com Patrícia Pilar (acima) e Chistiane Torloni (abaixo)
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154
Cena de M. Butterfly
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155
Camarim de As Boas
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156
Como a Madame de As Boas
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158
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159
Cenas de Luar em Preto e Branco, com Célia Helena (acima)
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160
Cenas de Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá (2a montagem), com Eduardo Moskovis eElisângela
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163
Cenas de Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá (2a montagem), com Eduardo Moskovis
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164
Cenas de Cheque ou Mate, com Ligia Cortez (acima), Myrian Persia (direita acima) e Malú Bailo(direita abaixo)
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165
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166
Com José Possi Neto, diretor de Um Certo Olhar - Pessoa e Lorca
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167
1999
• Um Certo Olhar - Pessoa e Lorca, pesquisa, roteiro e produção: Raul Cortez e
Teatro Alfa - Teatro Alfa Sala Pequena - Direção: José Possi Neto - Peça levada
na Muestra de Teatro Del Mercosul, no Uruguai e em Portugal
2000
• Rei Lear, de William Shakespeare - Teatro Sesc Vila Mariana - Direção: Ron Daniels
2004
• À Meia-Noite, um Solo de Sax na minha Cabeça, Mário Bortolotto - Teatro
Faap - Direção: Cibele Forjaz
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168
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169
Imagens de Um Certo Olhar - Pessoa e Lorca
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170
Cenas de Rei Lear
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174
Cenas de Rei Lear
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176
Cenas de Rei Lear
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177
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178
No filme Vereda da Salvação
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179
Cinema
1956
• O Pão que o Diabo Amassou - Direção: Maria Basaglia
1964
• Vereda da Salvação (Joaquim) - Direção: Anselmo Duarte - Representando o
Brasil no Festival de Berlim e Menção Honrosa do Júri no Festival de Brasília
1966
• Cristo de Lama: a História de Aleijadinho - Direção: Wilson Silva
1967
• Anjo Assassino (Victor) - Autoria e direção: Dionísio Azevedo
• Capitu (Escobar) - Direção: Paulo Saraceni
• Caso dos Irmãos Naves (Joaquim Naves) - Direção: Luís Sérgio Person
• O Homem que Comprou o Mundo (O Homem) - Direção: Eduardo Coutinho
1968
• Dezesperato - Direção: Sérgio Bernardes Filho
1969
• Brasil Ano 2000 (O Homem que protesta) - Direção: Walter Lima
• Tempos de Violência - Direção e autoria: Hugo Kusnet
1970
• A Arte de Amar Bem (Ronaldo) - Autoria e direção: Fernando de Barros
• Beto Rockfeller - Direção: Olivier Perroy
1971
• Roberto Carlos a 300 km por hora (Rodolfo) - Direção: Roberto Farias
• A Infidelidade ao Alcance de Todos – segmento A Tuba - Direção: Olivier Perroy
1972
• Janaína, a Virgem Proibida (Raul também diretor de elenco) - Direção: Olivier
Perroy
1977
• O Seminarista - Direção: Geraldo Santos Pereira
1978
• Pecado sem Nome - Autoria e direção: Juan Siringo
• Os Trombadinhas - Direção: Anselmo Duarte
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180 Cenas do filme Vereda da Salvação, com Lélia Abramo (abaixo)
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181
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182
Cenas do filme Anjo Assassino, com Flora Geny e Altair Lima
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183
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184 Filmagens de O Caso dos Irmãos Naves, com o diretor Luiz Sérgio Person (acima); e de Janaína (abaixo)
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185
1980
• Tensão no Rio - Direção: Gustavo Dahl
1982
• Amor de Perversão - Autoria e direção: Alfredo Sternheim
1983
• Agüenta Coração - Direção: Reginaldo Faria
1987
• Os Trapalhões no Auto da Compadecida (Major) - Direção: Sérgio Toledo
• Vera (vereador Eduardo Suplicy) - Autoria e direção: Sérgio Toledo
1988
• Jardim de Alah - Direção: David Neves
1991
• A Grande Arte (Lima Prado) - Direção: Walter Salles Jr.
1995
• Cinema de Lágrimas da América Latina (Rodrigo) - Autoria e direção: Nelson
Pereira dos Santos
1996
• Iminentemente Luna - Direção: Maurício Lanzari - curta-metragem
2001
• Lavoura Arcaica (o Pai) - Direção: Luiz Fernando de Carvalho
2003
• O Outro Lado da Rua (Camargo) - Autoria e direção: Marcos Bernstein
Cinema de Lágrimas da América Latina
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186
Cenas de Lavoura Arcaica
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188
Em Água Viva, com Tetê Medina
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189
Televisão - Novelas
1966
• Ninguém Crê em Mim - TV Excelsior - Direção: Dionísio Azevedo
• Os Miseráveis - TV Tupi
1972
• Vitória Bonelli - TV Tupi - Autoria e direção: Geraldo Vietri
1973
• A Volta de Beto Rockfeller - TV Tupi - Direção: Oswaldo Loureiro
1976
• Xeque-Mate - TV Tupi - Direção: David Grimberg
• Tchan! A Grande Sacada - TV Tupi - Direção: Antônio Moura Mattos
1980
• Água Viva - TV Globo - Direção: Roberto Talma e Paulo Ubiratan
1981
• Baila Comigo - TV Globo - Direção: Roberto Talma e Paulo Ubiratan
• Jogo da Vida - TV Globo - Direção: Wolf Maya
1983
• Sabor de Mel - TV Bandeirantes - Direção: Roberto Talma
1984
• Partido Alto - TV Globo - Direção: Carlos Magalhães e Jayme Monjardim
1987
• Brega e Chique - TV Globo - Direção: Jorge Fernando, Carlos Magalhães e
Marcelo Barreto
• Mandala - TV Globo - Direção: José Carlos Pieri e Ricardo Waddington
1990
• Rainha da Sucata - TV Globo - Direção: Jorge Fernando e Márcio Bandarra
1992
• Perigosas Peruas - TV Globo - Direção: Roberto Talma e Jodele Larcher
1993
• Mulheres de Areia - TV Globo - Direção: Wolf Maya
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190 Água Viva, com Danton Jardim (acima); e Baila Comigo, com Tony Ramos (abaixo)
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191Jogo da Vida, com Glória Menezes (acima); e Sabor de Mel, com Sandra Bréa (abaixo)
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192 Partido Alto, com Célia Helena (abaixo); e Brega e Chique, com Glória Menezes e Marília Pêra (à direita)
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193
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194 Mandala, com Vera Fischer (acima); e Rainha da Sucata, com Paulo Gracindo (abaixo)
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195Mulheres de Areia, com Suzana Vieira
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196
Na novela Rei do Gado
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197
1996
• Rei do Gado - TV Globo - Direção: Luiz Fernando Carvalho
2001
• As Filhas da Mãe - TV Globo - Direção: Jorge Fernando
2002
• Esperança - TV Globo - Direção: Luiz Fernando Carvalho
2006
• Senhora do Destino - TV Globo - Direção: Wolf Maia
Televisão - Minisséries
1983
• Moinhos de Vento - Direção: Walter Avancini
1985
• Esperando Godot - Direção: Flávio Rangel
1990
• A E I O Urca - TV Globo - Direção: Denis Carvalho e Maurício Sherman
1991
• O Sorriso do Lagarto - TV Globo - Direção: Roberto Talma
1992
• Noivas de Copacabana - TV Globo - Direção: Mauro Farias e Roberto Farias
1995
• Uma Mulher Vestida de Sol - TV Globo - Direção: Luís Fernando Carvalho
2006
• JK - TV Globo - Direção: Denise Sarraceni e Denis Carvalho
• Vários Casos Especiais na TV Globo
• Teatro 2, na TV Cultura - peças completas
• Apresentou Você Decide, na TV Globo
• Primeiro ator a fazer filme publicitário no Brasil
• Momento 68, produção da Rhodia, em turnê pelo Brasil, Portugal, Tailândia
e Camboja
• Stravaganza, produção da Rhodia
• Direção de show da cantora Maysa, em 1973
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198
Rei do Gado
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199As Filhas da Mãe, com Fernanda Montenegro, Reinaldo Gianechinni e Alexandre Borges
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200
Esperança, com Walmor Chagas (acima); e Terra Nostra, com Maria Fernanda Cândido (à direita, acima),Marcelo Antony e Ângela Vieira (à direita, abaixo)
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201
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202
Senhora do Destino, com Glória Menezes
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203A E I O Urca, com Renata Sorrah (acima); e O Sorriso do Lagarto, com Tony Ramos e Maitê Proença (abaixo)
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204 Noivas de Copacabana (acima); e Uma Mulher Vestida de Sol (abaixo)
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205Na TV Cultura: A Ceia dos Cardeais, com Sérgio Viotti e Rodolfo Mayer (acima); e em O Último Capítulo, comJoana Fomm (abaixo)
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207
Dirigindo a cantora Maysa (à esquerda); e com a cantora Gal Costa no show Stravaganza, da Rhodia
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209
Discos
• Jograis de São Paulo, em Portugal
• Gravação com Maysa, pela RCA
Apresentador
1966
• Lima Barreto – Trajetória
1989
• Paraty: Mistérios
1997
• Globo de Ouro
1997 / 2000
• Mundo VIP
2001
• Noites Marcianas
2002
• Teatro Segundo Antunes Filho
Prêmios - Teatro
1962
• Yerma
Melhor Ator Coadjuvante APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)
Prêmio Governador do Estado SP
1963
• Pequenos Burgueses
Prêmio APCA
1964
• Vereda da Salvação
Prêmio Governador do Estado SP
Prêmio APCA
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210
1970
• Rapazes da Banda
Prêmio Molière
Prêmio Jornal do Brasil
Prêmio Governador do Estado da Guanabara
Prêmio Embaixada Americana para Melhor Ator em espetáculo de autor americano
1974
• Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá
Prêmio APCA
Prêmio Governador do Estado SP
1976
• A Noite dos Campeões
Prêmio Molière
Prêmio APCA
Prêmio Governador do Estado SP
Prêmio Mambembe do Inacem
1978
• Quem tem Medo de Virginia Woolf?
Prêmio Molière
Prêmio Zimba, da Apetesp
Prêmio da Embaixada Americana para Melhor Ator em espetáculo de
autor americano
1979
• Rasga Coração
Prêmio Molière
Prêmio Mambembe
1981
• Amadeus
Troféu Roquete Pinto
1987
• Lobo de Ray-Ban
Prêmio Molière
Prêmio Mambembe SP
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211
1991
• As Boas
Prêmio Shell
Prêmios - Cinema
1967
• Vereda da Salvação
Menção Honrosa de Júri no Festival de Brasília
1967
• Anjo Assassino
Prêmio Festival de Cabo Frio
• Capitu
Prêmio Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Brasília
• O Caso dos Irmãos Naves
Prêmio do Festival de Moscou
Prêmios – Televisão
1996
• O Rei do Gado
Melhor Ator Revista Contigo
Melhor Destaque Revista Contigo
Troféu Imprensa
Melhor Ator em Caracas - 1997
Melhor Ator em Montevidéu - 1997
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Eva Wilma, no seu casamento, com a grande amiga Regina Cortez, irmã de Raul (nov/1955)
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Eva Wilma relembra Raul, seu amigo de juventude
Tenho uma excelente recordação, porque eu liguei a última vez em que estive
com o Raul – foi no aniversário dele no sítio, numa linda festa com a família, com
amigos, e Raul dançou; teve, inclusive, uma das amigas que levou trajes de dan-
ça espanhola e dançou um número, e ele participou – eu me remeti ao início do
nosso relacionamento, depois de termos nos conhecido por intermédio da mi-
nha melhor amiga, a Regina Cortez, a irmã que o Raul adorava. Ela era muito
bonita, provavelmente tão talentosa quanto o irmão, e nós nos conhecemos, na
verdade, quando eu ia a Itanhaém. O doutor Rui Cortez tinha sido prefeito de
Santo Amaro, que era município independente, e a família do doutor Rui tinha
uma casa de praia em Itanhaém. Nessa casa de praia, eu me lembro de Regina e
eu dormindo juntas e olhando um mosquitinho no teto, e Raul ali. Nós íamos de
tamanco para o cinema, e a gente tirava o tamanco e ia descalça também; era
uma época onde, provavelmente, nós tínhamos uns 15 para 16 anos. A amizade
continua porque, por influência do doutor Rui, nós tínhamos desconto num
lugar adorável perto do aeroporto, que era também boate, Moulin Rouge, e lá
nós podíamos jantar aos sábados ou às sextas-feiras, conforme a possibilidade e
em turma também; e, além de jantar, dançar. E eu tenho uma recordação, não
sei se é fantasiosa, mas acho que não é, acho que é verdade, nós dávamos uma
canseira em todos. Nós, eu digo, Raul e eu. Porque os outros desistiam e Raul e
eu continuávamos até pelas quatro da manhã, dançando valsa, tango, rumba,
samba, o que viesse. Então, eu estou ligando essa última vez, no último aniver-
sário dele, com as temporadas em que estou nos vendo dançando com 17 para
18 anos. Depois disso, naquela época, nós provavelmente nem sonhávamos ain-
da muito. Talvez assim aspirávamos a nos mostrar, não é, dentro dessas habili-
dades; além de dançar, também representar, falar.
E assim nós começamos, Raul por sua vez, eu pela minha, na formação do Tea-
tro de Arena. No cinema, acho que a primeira vez em que eu falei como atriz
foi numa figuração, num filme dirigido pelo Luciano Salce. Mas isso não vem
ao caso, o que vem ao caso é que Raul também deve ter tido a sua primeira
fala. E o muito gostoso é que nós nos reencontramos representando num es-
petáculo que deu muito o que falar. Raul estreou no Black-out, dirigido pelo
Antunes Filho, no Rio de Janeiro. Era um personagem que foi estreado em São
Paulo pelo saudoso Ivan de Albuquerque, grande ator e diretor. O Ivan saiu
para outro rumo e o Raul estreou no Rio.
Aí nós temos uma história deliciosa também. Deliciosa. E também recordações
de um período sofrido para todos nós, não é? Um período em que todos nós,
atores, artistas em geral, não gostávamos da questão da ditadura militar. Era
Rio de Janeiro, era fim de 1969; teve a morte do estudante no Calabouço, ao
lado do Teatro Maison de France, onde nós estávamos com o Black-out.
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214 Eva e Raul no filme A Arte de Amar Bem, 1970
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Os teatros fizeram greve de três dias e três noites, nas escadarias do Teatro Muni-
cipal, não só do Rio como de São Paulo. Todos os atores, por causa da censura.
Estavam censurando espetáculos, fechando teatros – não foi o caso do Black-out
–, mas nós líamos todas as noites os manifestos escritos, eu me lembro muito bem,
escritos pelo Hélio Pelegrino, publicados na primeira página do Jornal do Brasil, e
nós líamos em cena antes ou depois do espetáculo. Ivan Cândido, que substituiu
na época alguém de São Paulo, dizia que ele conhecia bem vários agentes que
estavam vigiando essas nossas lidas de manifestos.
O Raul interpretava o antagonista da peça, era um paranóico, o bandido-che-
fe que lutava de faca com a ceguinha, minha personagem. Era uma peça de
suspense fantástico, uma direção primorosa do Antunes, e nós fazíamos com
muito prazer. No final, o grand-finale, digamos assim, a ceguinha saia de den-
tro do quarto engatinhando, porque ela teria conseguido se livrar desse para-
nóico, mas ele, com a faca na mão – minha personagem se chamava Susy, ele
se chamava Skelton –, dizia: Acabou, Susy, a faca está aqui, comigo. Quando o
Raul fez isso, com a genialidade e o talento de sempre, a faca escapuliu da mão
dele e espetou numa poltrona da primeira fila. Felizmente, vazia. Exatamente.
Nós nunca esquecemos desse episódio porque, na hora dos agradecimentos,
antes da leitura do manifesto, uma pessoa, um homem com maus olhados,
com cara meio brava, devolveu a faca pelo cabo, dizendo: Tomem mais cuida-
do com isso. Imaginação nossa ou não, pra nós era um agente da repressão.
São momentos que nós vivenciamos de muita luta. E de um trabalho muito
vitorioso, ao mesmo tempo, não é? Quatro meses. Estreou em janeiro e fica-
mos os quatro meses mais conturbados, em 1969, em pleno Rio de Janeiro, no
centro da cidade, ao lado do Calabouço, com baionetas na porta.
A outra parceria com o Raul, acho que uma até anterior a isso, não tenho bem
certeza, mas no mesmo ano, foi o filme que nós fizemos juntos: A Arte de
Amar Bem, dirigido por Fernando de Barros, altamente sofisticado. E tem uma
foto de nós dois; eu, assim, meio caída e ele me segurando, nós éramos dois
figuraços. Cinema, no qual nós contracenamos, foi só isso.
Além dessa grande parceria no teatro, na televisão a primeira parceria que
aconteceu eu acho que foi em O Rei do Gado, se não me engano, eu acho que
foi isso... Não, não. Só pra desfazer toda e qualquer confusão – que, assim de
improviso, começo a misturar um pouco as coisas – no Rei do Gado nós não
contracenamos, apenas participamos das idas pro interior de São Paulo, lá per-
to de Amparo. Ficávamos ali no campo; e eu me lembro que admirei demais a
atuação dele e gostei de fazer esse trabalho também, então eu tenho orgulho
de termos estado num trabalho como esse. Agora, na novela Esperança, não
só contracenamos, como aí eu tenho uma recordação muito interessante, pois
nós fomos marido e mulher.
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216 Na novela Esperança, Eva, Raul e Walmor Chagas em cena; e descansando, num intervalo
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Na primeira fase, o Fernando de Carvalho ousou e conseguiu gravar na Itália,
num lugarejo chamado Civita di Bagnoreggio, que é um castelo no alto, bem
no alto de uma montanha. E eu tenho memórias absolutamente maravilhosas
do nosso convívio, Raul, Walmor (Chagas) e eu. Tenho memória do cansaço
que era galgar aquela imensa ladeira lá pra cima: atores, técnicos, câmeras. E
de gravar com muita satisfação, cenas altamente poéticas. A lembrança mais
poética que eu tenho é que depois, nos estúdios, encerrando essa primeira
fase, minha personagem (engraçado, é parecido com o Rei do Gado; também
no Rei do Gado a primeira fase terminava com a morte da minha persona-
gem), em Esperança também morre, numa cena junto ao marido, o Raul Cortez.
E ele fica conversando, e ela vai deitando a cabeça na mesa, vai deitando a
cabeça na mesa e fica quietinha, ele continua falando e falando mais devagar,
e mais devagar e percebendo que ela já não está mais lá. É isso.
Então eu acho que não só os personagens ficam pra sempre, como essa minha
parceria com o Raul dançando, na minha memória, é altamente poética.
Acho que o Raul tinha um talento tão diversificado. Ele podia fazer vilões, ele
podia fazer heróis, ele podia cantar, dançar e representar com a alegria que só
o verdadeiro ator tem.
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Antunes Filho fala de Raul Cortez
Desde o primeiro espetáculo que vi do Raul, no Teatro de Arena, em que ele
fazia um aviador – numa peça estranha, tipo Nossa Cidade –, que chegava
num lugar, uma coisa de jovens, eu fiquei encantado com o trabalho dele. Aí
eu comecei a curtir o Raul e a cultivar nossa amizade. Ele foi tão meu amigo
que, quando estava ensaiando com Zé Celso no Oficina, ele largou tudo para
fazer Vereda da Salvação comigo. Era um amigo que eu tinha e que me deu
muito apoio naquele momento, como eu dava apoio a ele.
Mas o Raul sempre tinha essas crises, não? Eu tinha que dizer: Vamos, Raul.
Vamos em frente. Eu pegava ele e conversávamos. Espiritualmente a gente
tinha muita força, um em relação ao outro. De certa maneira, um conseguia
comandar o outro.
Tanto que o Juca de Oliveira, outro dia, brincando, falou assim: Alguém falou
prá mim que você, Antunes, nunca quis saber de mim. Tudo que você ia fazer,
você chamava o Raul e não eu, que era teu amigo. Outro dia até saiu isso no
jornal. Saiu impresso: É verdade. Sempre que eu tinha um papel – e eu era
amigo do Juca – convidava o Raul. Eu coloquei os dois juntos foi num desastre:
foi em Júlio César. Foi um desastre absoluto e completo, que eu fiz e estavam
os dois. Por isso eu não podia colocar os dois juntos. Coloquei os dois e mais o
Jardel, daí deu... Deu aquilo que deu. Foi uma folia, uma farra.
O Raul tinha uma intuição extraordinária – você dava um livro, ele lia algumas
páginas e intuía o resto; ele tinha essa capacidade intuitiva. Houve uma época
em que eu falava: Raul, você tem que fazer psicanálise. Eu? Vou fazer psicaná-
lise? Vou perder essas coisas que eu tenho por dentro? Não! Isso aí é funda-
mental para o meu trabalho! Mas, anos mais tarde, ele foi procurar um psica-
nalista; ele tinha problemas que nunca revelou, mas eu sentia que existiam.
Do Raul eu tenho recordações das melhores no mundo a respeito de nosso
trabalho em Yerma; gostei muito de sua interpretação. Gostei muito de A Gran-
de Chantagem, e muito de Vereda da Salvação, que ele fez comigo naquele
palco maravilhoso do TBC. Fizemos tanta coisa: Virginia Woolf, que eu fiz com
ele e a Tônia.
Era gostoso trabalhar com ele; a gente se entendia com o olhar sabe? Eu diri-
gia ele com o olhar, ele já sabia o que eu queria. Fazia um gesto leve para ele e
ok, piscava para ele e ele já entendia. Outro olhar e ele sabia, não precisava
falar com ele, a gente se entendia, sabe, no olhar. Legal isso. Foi um grande
ator, um grande amigo.
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Augusto Matraga foi um trabalho que fizemos aqui no CPT ( Centro de Pesqui-
sa Teatral). Magnífico o trabalho dele, magnífico.
A única coisa que eu tenho pra falar do Raul – e com isso ele ficou brigado comigo
algumas vezes – é da atração que ele sentia pela vida social. Eu sempre criticava
isso nele; nós brigamos por causa disso, inclusive. Tanto que éramos pra fazer
outro espetáculo depois do Matraga, e não fizemos porque ele tinha uma vida
social intensa. Eu falava que era uma bobêra dele, que ele tinha que ser artista, e
a gente não se entendia. Ele era atraído por uma vida socialite, uma bobagem né,
pra ele que era um grande ator. Mas ele gostava. Fazer o quê? Era a sobremesa
dele. Eu deixava ele ir nessa sobremesa, mas criticava muito. Muitas e muitas vezes
nós dois ficamos sem falar por causa dessa coisa socialite dele.
Um dia ele me disse: Eu vou para Nova York! E eu brinquei com ele: Vai para os
Estados Unidos, vou morrer de inveja. Eu não sabia que ele ia por problemas de
doença. Eu soube que ele estava doente não sei como. E bem mais tarde. Eu
telefonava para a casa dele e ninguém me dizia nada. No ano passado telefo-
nei por vários dias para lá e ele não atendia. Não atendeu na primeira vez, na
segunda vez. Na terceira falei uns palavrões, xinguei. E ele já estava em coma e
eu não sabia. Por isso é que ele não atendeu; por isso não respondia ao telefo-
ne. E eu não sabia disso. Sonegaram-me. O que eu posso fazer?
Raul fez uma carreira com princípio, meio e fim. Hoje em dia querem começar
pelo fim. Fez o princípio, fez o meio inteiro. Um princípio duro, um meio mais
ou menos interessante, e o final foi glorioso.
Importante era a amizade que havia entre nós. Um olhava pro outro e falava
besteira, muita besteira. Você vê a profundidade de uma amizade quando se
fala besteiras um para o outro; não tem nenhum formalismo, nada formal. Ele
era muito engraçado; pelo menos comigo ele era sempre muito engraçado.
Mesmo quando estava fazendo uma coisa séria, olhava para mim e piscava. E
as ironias dele! Muito engraçado o Raul. E era bem-humorado, mas quando
ficava de mau humor, sai de perto, ficava bufando.
Ele era muito ciumento, sentia muito ciúme dos outros. Não se podia dar mui-
ta atenção a outra pessoa, que ele já ficava bufando. Então eu tinha que ir
perto dele e falar, falar... Aos outros tinha que dar atenção sem que ele perce-
besse, porque era ciumento. O mal do ciúme! Essa era uma característica dele.
Não era raiva, era ciúme só.
Uma coisa que era maravilhosa: às vezes ele não acertava uma inflexão (essas
coisas de que as pessoas não gostam mais de ouvir falar hoje em dia). Se não
acertava a verdade de uma frase, ficava se torturando, mastigando a frase
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como se fosse chiclete, até encontrar a maneira de poder se sentir bem falan-
do. Ninguém mais faz isso. Hoje em dia as pessoas decoram e falam o que está
escrito, e dane-se. Parece que tem ódio da palavra. Eu não consigo fazer teatro
se não tiver a palavra, se não tiver o texto. Para mim, fundamental é o texto.
Depois o ator. Depois vamos ver se o espetáculo sai legal.
Que falta faz um ator como o Raul!
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Lulu Librandi relembra o amigo Raul
Raul Cortez: uma referência que não se pode perder
Advertência
Não é um texto literário que você vai encontrar aqui, mas um fluxo de consci-
ência, cuja linha condutora é minha amizade de 40 anos com o maior ator
brasileiro de teatro: Raul Cortez. Não é uma narração cronológica, sociológica
ou historiográfica. Não tive a preocupação de contextualizar os episódios, nem
de ser exata. A rigor, não é quase nada. Mas sei que a memória das situações
intensas, que vivi com ele, não pode se perder, sob pena das gerações futuras
de atores perderem um dos seus maiores exemplos.
Rei Leão
Falar de Raul Cortez ainda é muito difícil e doloroso para mim. Foram mais de
40 anos de amizade cotidiana e que só acabou às 19h45 do dia 18 de julho de
2006. Uma amizade que terminou em seu último momento, no quarto do hos-
pital Sírio Libanês. Raul lutou como um leão, o Rei Leão, no sentido de dominar
a doença. Às vezes Raul me perguntava se eu achava que ele ia sair dessa. Eu,
que sabia da gravidade e iminência da morte, jogava a pergunta de volta para
ele. E respondia que tinha muita esperança e acreditava que ficaria bom. Raul
lutou até o fim. Não se acovardou diante da doença. Encarava médicos e en-
fermeiros sem se render a compaixões ou, como ele mesmo dizia, condescen-
dências. Como ele sabia que eu não era dada a lamentações ou compaixões,
me chamava e me queria o tempo todo a seu lado. Ligava da UTI no meu celu-
lar pedindo a minha presença. Eu o atendia sempre. Eu era dura a seu lado.
Como ele também era duro. E assim ele foi embora e, tenho certeza, com um
desprezo total pela morte. Pergunto, hoje, porque não falei sobre a morte
com ele? Mas a situação era delicada. Ele jamais admitiu a morte.
Os Deuses Malditos
Em abril de 2006, já sabendo pelos médicos do pouco tempo de vida que lhe
restava, fui me refugiar em Paris, na residência de minha amiga Vera Pedrosa,
embaixadora em Paris, para ganhar forças e voltar para ajudar o meu amigo
nos seus últimos dias. Raul ligava quase diariamente para saber de mim como
estava Paris naquela primavera e, principalmente, para eu encontrar uma agen-
da que ele tanto gostava, da editora Franco Maria Ricci. Revirei Paris, mas essa
editora não fez mais a tal da agenda, que era muito bonita. Ele ficou bem
triste. Raul fazia planos de voltar ao teatro até o final do ano. Pediu-me várias
vezes que entrasse em contato com Danilo Miranda do Sesc. Sua idéia era
estrear em janeiro de 2007. Ia fazer Sheakespeare: O Mercador de Veneza.
Estava tudo acertado com Ricardo Paes, diretor de teatro português e amigo.
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Outro plano: Maria Adelaide Amaral iria biografar a vida de Luchino Visconti,
o grande diretor de cinema italiano. Raul importou toda a obra de Visconti.
Assistíamos juntos em sua casa, seu filme predileto: Os Deuses Malditos. Raul
era tão elegante e sofisticado, eu diria, como um Visconti. Acho que isso o
fascinava e criava essa identificação.
À Meia-noite um Solo de Sax em Minha Cabeça
Em 2004, realizamos duas peças do jovem autor Mário Bortolotto: À Meia-
noite um Solo de Sax em Minha Cabeça e Fica Frio. Dois textos com dois elencos
diferentes. Não fomos felizes nessa empreitada. Eram textos escritos há 20
anos atrás que falavam da amizade. Foi no Teatro FAAP. Uma pré-estréia de-
sastrosa, graças a mim, que resolvi fazer uma noite beneficente. A platéia era
só de ricos e grã-finos. Imagine essa platéia assistindo a Raul Cortez, vestido de
bebê com chupeta na boca, touca e fralda. Um silêncio tomou conta da pla-
téia. Aplausos poucos e fracos. Odiaram, é claro. Não era para menos. Nin-
guém mandou a gente se arriscar tanto. Mas este era o Raul. Fazia grandes
papéis, e ousava fazer outros que nem sempre caíam no agrado do público
tradicional. À Meia-noite um Solo de Sax em Minha Cabeça, com muito esfor-
ço, ficou dois meses em cartaz. Ele ficou um tanto decepcionado. Afinal, ele
tinha naquele momento decidido se aproximar mais do teatro feito por jovens
e para jovens. E nada mais atual e jovem do que Mário Bortolotto. Apostou
toda as fichas. Acabou perdendo.
As Boas
Noutra ocasião, Raul decidiu dar uma força para Zé Celso Martinez Corrêa,
que estava doente, em situação difícil, fora de cena, sem o Teatro Oficina.
Chamou-me para ajudá-lo nessa empreitada, também difícil. Ora, pergunto
eu: o que é fácil de fazer em teatro? Nos unimos. Com um pouco de dinheiro
que eu tinha e ele outro tanto, montamos a peça As Boas (As Criadas, de
Molière). Raul fazia a Madame. Zé Celso, que além de dirigir também atuava, e
seu companheiro Marcelo Drumond completavam o elenco. Era no Teatro do
Centro Cultural Vergueiro, na época um local alternativo. Sem a verba que o
teatro do fomento recebe hoje. Um sucesso a tal da Madame. Raul com um
enorme vestido de tule e tafetá rosa, luvas compridas, salto altíssimo, boca
vermelha de batom. Quando ele entrava no palco, a platéia vinha abaixo! Sua
participação durava meia hora, o suficiente para roubar a cena. A outra meia
hora era do Zé Celso e do Marcelo. Terminada a participação de Raul, muita
gente saía. Zé não agüentou o sucesso da Madame e nos demitiu: eu da admi-
nistração e Raul do papel de Madame. Foi um baque. Ficamos indignados. Eu
cobrei do Zé Celso o dinheiro que havia antecipado. E Zé Celso escreveu um
artigo na Folha de S. Paulo dizendo que Raul era o ator de 20% do teatro
brasileiro.
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Isso tudo deixou Raul muito magoado, vindo depois a perdoá-lo, e manteve
sempre a mesma admiração e amizade pelo Zé. No teatro é assim. A gente
briga, mas depois faz as pazes. Somos poucos e amorosos. Raul cobrava, sim,
20% da renda bruta. No que ele estava certo. O sucesso dos espetáculos quem
fazia era ele. Nada mais do que justo.
Rei do Gado
Raul apoiava sempre os tucanos. Dava a cara para bater de verdade. Eu tam-
bém. Ia aos comícios das Diretas com Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Lula
e todo mundo que desejava a volta da democracia. Era o garoto propaganda
do PSDB. E foi o escolhido para fazer a campanha na televisão pela privatização
da Vale. Era o início do governo FHC. Consultou-me a respeito. Estava com
medo da opinião pública. Toda a esquerda era contra. Sobretudo o PT, uma
vez que era o PSDB, governo, quem estava privatizando. Aconselhei-o a acei-
tar. A Vale dava um enorme prejuízo ao governo. Mal administrada. Cheia,
obviamente, de distorções, e cabidão de emprego. Eu não só admitia que ele
deveria fazer a campanha como também cobrar um cachê bem alto. Raul acei-
tou o meu conselho e ainda me colocou como sua empresária na intermediação
do negócio. Pedi um cachê altíssimo e o mesmo foi aceito. Fomos para o Rio e
ficamos num estúdio por quase 24 horas de gravação. Raul foi de um
profissionalismo nunca visto. Fiquei orgulhosa dele. Cachê merecido. A cam-
panha foi ao ar. Ninguém fez nenhum comentário que denegrisse a sua ima-
gem. Ele ganhou seu bom dinheiro. Eu também. E hoje a Vale do Rio Doce,
privatizada, dá um lucro excepcional. De volta a São Paulo, quando estávamos
a caminho do aeroporto, Raul recebeu um telefonema do diretor-geral da Rede
Globo, o Boni. Queria dar um presente a ele pela sua atuação na novela O Rei
do Gado. Coincidência ou não, o presente era um cheque no mesmo valor do
cachê da Vale. Raul saiu de São Paulo remediado e voltou rico. Caímos na gar-
galhada. Eu feliz, por ver meu amigo, que conheci ainda muito duro, com enor-
me dificuldade em pagar a mensalidade da casa própria, sendo reconhecido
por seu talento. E a partir daquele dia, garanto, Raul ficou mais seguro na
vida. Ele era extremamente inseguro. Não acreditava que pudesse ser, de fato,
o maior ator do teatro brasileiro. Raul não era ator técnico. Raul atuava na
emoção. Colocava toda a sua intuição a serviço do personagem. E o incorpora-
va como nenhum outro ator.
Chuva
Em meados dos anos 70, seu amigo, o empresário Aparício Basílio da Silva,
dono da Perfumaria Rastro, convidou Raul e Consuelo Leandro para fazer a
peça Chuva, de Somerset Maughan. Eu fazia a direção e coordenação de pro-
dução. O diretor era um jovem amigo do Aparício, recém-chegado do Teatro
La Mama de Nova York, Jorge Takla. Tudo isso era no Sesc Anchieta.
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Lembro dos atores Serginho Mamberti e Herson Capri, que faziam parte do
elenco. Todos ganhavam superbem. Afinal, não é sempre que aparece um
mecenas para produzir teatro. Figura rara naqueles tempos. Imaginem alguém
tirar dinheiro do seu bolso e aplicar em teatro. Todo mundo da classe teatral
falava mal. A inveja rolava solta. E nós nem aí. Fomos, fizemos o espetáculo,
ganhamos, e muito bem, da empresa do Aparício. E viva o Aparício, que com
sua generosidade produziu um espetáculo sem Leis de Incentivo – que nem
existiam naquela época. O jovem diretor, Jorge Takla, foi expulso da peça aos
gritos por Raul, que não aceitava a sua direção. Hoje, eu e Takla relembramos
o episódio às gargalhadas. Eu sempre tentava acalmar a fera. A peça não foi
um grande sucesso. Coisas de teatro...
Quem tem Medo de Virginia Woolf?
Aparício gostou do brinquedo e resolveu produzir outro espetáculo, dessa
vez, Quem tem Medo de Virginia Woolf?, de Edward Albee. Tudo isso para o
Raul, a quem adorava. O diretor foi Antunes Filho, e a Tônia Carrero, a atriz
que contracenava com o Raul. O outro casal era a Eugênia Domenico e o
Roberto Lopes. Essa peça havia sido encenada com a Cacilda Becker, anos an-
tes. E eu, outra vez, na coordenação de produção. Um espetáculo difícil para o
público da época. E difícil de administrar os ânimos. Os bastidores tremiam. Eu
procurando amenizar as situações e reconciliar as partes. Foi daí que nasceu
uma boa amizade entre Tônia Carrero e eu. Até hoje minha amiga. Raul não
gostava muito dessa amizade. Era ciumento. Eu também. Várias brigas entre
nós por conta do ciúme. Mas, quem, com gênio forte e de talento, não o é?
Fuga para Veneza
Raul ia fazer 60 anos. Entrou numa grande crise de idade. Para um homem
elegante, vaidoso, e que vivia da imagem, ele realmente estava sofrendo. Era
1990. Eu era comissária do Pavilhão Brasileiro em Veneza. E coincidia com o dia
28 de agosto, dia de seu aniversário. Não deu outra: Raul foi comigo para
Veneza. Ninguém deveria saber dos seus 60 anos. Ele tinha uma passagem ga-
nha da Air France, recebida pelo Prêmio Molière. Eu voaria pela Varig, pois
meu bilhete era pago pelo Itamaraty. Combinamos de nos encontrar no Aero-
porto Charles De Gaulle, em Paris, para depois voarmos juntos na conexão
Paris-Veneza. Que fantástico chegarmos juntos a Veneza, tomarmos um táxi-
lancha do aeroporto Marco Pólo até a beira do cais de nosso pequeno e sim-
ples hotel Al Gazettino, duas estrelas, cujo dono Mario Lazzari é um amigo até
hoje. Mario, ao ver Raul, saiu gritando à moda italiana no restaurante do hotel
que ali estava hospedado o maior ator brasileiro. Raul ficou tão feliz! Se sentiu
em casa. E pôde perceber que era já conhecido na Europa. As telenovelas já
circulavam por ali. Contei o grande segredo do aniversário de Raul. Mario pre-
parou uma festa às escondidas.
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Sem que Raul percebesse, achando ser um simples passeio em noite de verão e
lua cheia, conforme combinado, à meia-noite em ponto, a gôndola parou sob
a Ponte dos Suspiros e todos estouramos champanhe e cantamos o parabéns
em italiano para ele. Uma festa na gôndola. Que felicidade a do Raul, virar os
seus 60 anos isolado, numa laguna, com uma enorme lua, ao som dos
gondoleiros que passavam ao largo e dos palácios iluminados no Grande Ca-
nal. Isso foi em 1992.
Compañero Berdinazzi
Noutra ocasião, fui trabalhar em Havana. Outra Bienal Internacional de Artes
Plásticas de Cuba. Raul foi junto. Quando avisei, por e-mail, aos organizadores
cubanos que Raul Cortez, o Berdinazzi da novela da Globo, que estava passan-
do na televisão local, chegaria comigo, foi uma comoção geral. Eu, paralela-
mente, organizava um minifestival de filmes brasileiros, ou melhor, paulistas.
Encaixei Raul na história e inauguramos o Festival no Cine Chaplin, com 3 mil
pessoas presentes. Os organizadores cubanos, e o nosso embaixador à época,
o Luciano Martins, chamou-nos ao palco para falarmos. Raul, nervosíssimo,
me dizia que não sabia falar em público, mas, diante do inesperado, fez um
pequeno discurso elegante num portunhol bem bonitinho. O teatro veio abai-
xo. Raul era tímido, por incrível que pareça. Morria de medo de falar em públi-
co. Nas ruas de Havana, mulheres, crianças pequeninas, vinham atrás dele para
abraçá-lo e chamavam-no de Compañero Berdinazzi. Isso foi em 2001.
Rei Lear
Raul produziu e atuou no espetáculo Rei Lear, dirigido pelo brasileiro Ron
Daniels. O espetáculo estreou no Sesc Vila Mariana. Foi muito boa a direção e
com sucesso de público. Corajoso o Raul: colocar em cena um elenco grande,
trazer diretor de Londres. A idéia foi de Lígia, sua filha, que também atuava no
espetáculo. Ele conseguiu o patrocínio da Volkswagen. No final do espetáculo
o rei, o Raul, ficava literalmente nu. Bons tempos aqueles em que ainda se
conseguia produzir um espetáculo com tantos atores e técnicos. Trabalho para
todo mundo. Hoje, mal dá para produzir um espetáculo com dois atores. Não
há verbas, não há mais subvenção como outrora.
Solidariedade
Certa ocasião me revoltei contra isso. Raul me apoiou nessa luta. Era o ano de
2000, e se falava muito na série de eventos chamada Brasil 500 Anos, que consu-
miu toda a verba para atividades culturais. Um dos todo-poderosos das comemo-
rações era o então misto de banqueiro e mecenas Edemar Cid Ferreira. Ele estava
lá, instalado no Parque do Ibirapuera, em todos os pavilhões. Fez uma enorme
exposição, que depois (parte dela) iria viajar pelo mundo. Ninguém ousava desafiá-
lo ou criticá-lo. Pois escrevi um artigo para a coluna Tendências-Debates, da Folha
de S. Paulo, intitulado justamente A Cultura de Pires na Mão.
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Atacava os desvios das leis de incentivo fiscais, usadas quase exclusivamente
para pagar as contas das festas dos 500 anos do Brasil. Cheguei a ser interpela-
da juridicamente pelo então presidente do Banco Santos. E onde entra Raul
nessa história? Ele não só se solidarizou comigo, como se dispôs a escrever um
artigo em minha defesa no mesmo espaço da Folha. A matéria saiu com gran-
de repercussão. No texto, Raul tomava as dores dos atores iniciantes ou que
não estão na televisão. Escreveu que ele, ator consagrado nas novelas da Glo-
bo, não tinha nenhum problema em conseguir patrocínio por meio das leis de
incentivo à cultura, mas e o pobre coitado que ama teatro, é talentoso, faz um
trabalho sério de pesquisa de linguagem e não tem nenhum apoio?
Boca de Urna
Raul, como disse antes, não tinha opinião política formada, definida. Era um
intuitivo e cada vez mais seu interesse se voltava para política, para os gover-
nos, para os governantes. Nunca gostou do PT. Chamava os seus militantes de
mistificadores. Gostava do Serra, do Alckmin, do Fernando Henrique Cardoso.
Fazia grandes festas políticas em sua residência em prol da campanha deles
todos. Pena que poucos são os políticos que ao se elegerem dão pouca ou
quase nenhuma ênfase à cultura.
Paris, Roma
Com Raul conheci Paris pela primeira vez. Ele sempre ganhava o Prêmio Molière.
E o prêmio era uma passagem de ida e volta a Paris, pela Air France. Muitos
atores e diretores que ganhavam o prêmio não podiam viajar. Não tinham di-
nheiro para hospedagem e alimentação na França. Flávio Império, que também
ganhou o Molière, usou a passagem de ida e volta e permaneceu o dia no aero-
porto, voltando à noite para o Brasil. Era a da década de 70. Foi uma delícia. Era
novembro, inverno, e Raul me levou para ver a Torre Eiffel e ficava olhando
para a minha cara para curtir. Que maravilha caminhar por aquela cidade, sem-
pre à noite, é claro, pois Raul realmente dormia até tarde. E passeávamos com
um bando de amigos que por lá viviam. Eram tempos difíceis por aqui. Tempos
de ditadura e de debandada. O País não vivia lá seus melhores momentos. O
teatro sofria grande censura. As pessoas, como dizia Chico Buarque, andavam
de lado e olhando pro chão. Muitos anos depois, fui com Raul conhecer Praga.
Lá, ele fez várias fotos para a revista Caras. Adoramos a cidade. Vivíamos sob
um frio terrível de inverno.
Hoje é Dia de Rock
Em 1976 Raul resolveu produzir a peça Hoje é Dia de Rock, de José Vicente,
que viveu num auto-exílio em Londres. O espetáculo foi feito num espaço da
Ruth Escobar na Rua Treze de Maio, onde pouco antes ela havia feito o mara-
vilhoso espetáculo, dirigido por Vitor Garcia, Cemitério de Automóveis. O ce-
nário era um carrossel de verdade.
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Os atores falavam o texto girando, girando... Eu peguei todas as minhas eco-
nomias, e dei para o Raul montar o espetáculo. E resolvi que iria morar em
Roma. Peguei um navio com minha filhinha de 6 anos e me mandei sem prazo
de volta. Estava meio triste com o Brasil. Fui presa pela ditadura militar por
estar envolvida com os chamados terroristas, a quem eu admirava profunda-
mente e, às vezes, os escondia. Como constava no processo, eu era uma ino-
cente útil. Em Roma, fiquei por dois anos. Raul foi me visitar, ficou um bom
tempo lá em casa e quando fui levá-lo no meu carro ao aeroporto, para seu
embarque de volta ao Brasil, ao me despedir dele comecei a chorar. Naquele
dia, decidi que era hora de voltar ao Brasil.
Lavoura Arcaica
Raul era um homem de poucas, mas sinceras, amizades. Uma delas foi Aparício
Basílio da Silva, que morreu de forma brutal: assassinado. Ficamos muito tris-
tes. Raul era também muito ligado à sua mãe, a dona Conceição, que morreu
um ano antes dele. Era o líder entre seus quatro irmãos e muitos sobrinhos. Era
ele quem dava as ordens, o elo entre todos. Muito apegado às filhas, sobretu-
do à Maria, com quem morava e com quem ele muito se preocupava. Afinal,
ela era a mais frágil das duas. Lígia, ele sabia bem, que além de mais velha, era
casada, tinha duas filhas e uma escola de teatro, e profissionalmente, como
atriz, estava bem resolvida. Lembro-me de uma manhã de sábado, eu no Rio
de Janeiro, Raul me ligou aos prantos, avisando da morte da atriz Célia Helena,
mãe de sua filha Lígia. Raul tinha paixão pelos seus cães da raça dobermann.
Um deles tinha o nome indígena de Tupaqui. O outro chamava-se Hermes.
Quando Raul adoeceu, ele também e acabou morrendo. Raul tinha também
suas predileções. Na televisão, adorava o diretor Luiz Fernando Carvalho. Foi
por ele dirigido em algumas novelas, e no filme Lavoura Arcaica. Nesse filme,
lembro-me bem, ele ficou três meses sozinho numa fazenda no interior do
Estado do Rio, numa casinha, cercado de bichos. Os únicos que viviam ao lado
dele, e com ele conversavam, eram os cachorros e os passarinhos. Foi um duro
laboratório. As unhas dele cresciam, a barba e o cabelo. Tudo para fazer o
personagem de um duro pai árabe. Raramente me ligava; quando conseguia,
pois o acesso era difícil, apenas para ter com quem conversar.
Lobo de Ray-Ban
No teatro, era o José Possi Neto seu diretor preferido. Antunes também o foi,
até a montagem de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, no CPT, ao lado de
iniciantes. Depois, nada mais fizeram juntos. Com Possi, Raul fez O Lobo de
Ray-Ban, de Renato Borghi. Viajei todo o Norte e Nordeste com este espetácu-
lo, e era um sucesso. Ao mesmo tempo, nas folgas das viagens, Raul vinha até
o Rio de Janeiro filmar A Grande Arte, com direção de Walter Salles, baseado
no conto de Rubem Fonseca. Como era uma co-produção brasileira e america-
na, trabalhava no filme o ator Peter Coyote.
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Raul com as filhas Maria (à esquerda) e Lígia
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Raul era muito sério e cônscio de seus trabalhos. Fossem eles na televisão ou
no teatro. Estudava impecavelmente os papéis e sempre chegava no horário.
Não era e nunca foi irresponsável. Era um ótimo companheiro das equipes
técnicas. Nem sempre bom companheiro de certos atores. Depois dos espetá-
culos, na viagem, sobretudo, ele tinha arritmias cardíacas. Terminava o espe-
táculo e eu o levava para o hospital. Ele jamais parou um espetáculo por conta
disso. Outro espetáculo que ele amava, também dirigido pelo Possi, foi Um
Certo Olhar, de Lorca e Pessoa. Nesse espetáculo ele cantava, dançava e recita-
va. Fez e tornou a fazer por diversas vezes e tinha vontade de repeti-lo. Mas
não deu tempo.
Rapazes da Banda
Em 1970 fez enorme temporada com Rapazes da Banda. Uma vez me pediu
que fosse ao Rio de Janeiro fazer-lhe companhia, pois não suportava mais o
ator Paulo César Pereio, que o importunava durante o espetáculo. Colocava o
pé na frente para que ele tropeçasse, dentre outras coisas. Raul ficou de saco
cheio e acabou por estapeá-lo em cena. A cortina fechou. Pereio e Raul se
reaproximaram e descobriram que se adoravam. Seu último réveillon, de 2005
para 2006, foi na casa de Pereio, que teve pelo Raul a maior admiração. Outro
grande amigo de Raul foi o empresário Luiz Osvaldo Pastore. Raul e eles se
adoravam. Pastore sofreu muito com sua morte. Era amigo de Raul e financiou
Amadeus, dirigido por Flávio Império. Gostava muito também de Ariclê Perez.
Ficou triste quando ela morreu.
Dois Perdidos Numa Noite Suja
Conheci Raul Cortez em 1965, na Livraria Ponto de Encontro, que ficava na
Galeria Metrópole, na Avenida São Luís. A livraria era composta de uma loja
de livros, discos, galeria de arte e bar. Trabalhava eu com o idealizador do
Ponto de Encontro, João Carlos Meirelles, que tinha por objetivo reunir a
intelectualidade paulistana que estava dispersa em função do golpe de Estado
de 1964. No local do bar eram feitos debates sobre arte, cultura em geral e
também optou-se por fazer teatro. A primeira peça foi de Plínio Marcos, Dois
Perdidos Numa Noite Suja. Plínio era um dos atores. E eis que de repente Raul
aparece pedindo para fazer o espetáculo Zôo Story, de Edward Albee. Foi um
encontro meu e dele instantâneo, que gerou toda essa amizade de 40 anos. Ele
fazia o personagem Jerry e o encarnava pra valer. Lembro-me bem de uma
tarde em que apareceram Cacilda Becker e Walmor Chagas para conhecer o
Ponto de Encontro, ou melhor, o palco pequenino do Teatro em Bar, onde
Raul se apresentava. Os recebi no bar com o chá da tarde. Que glória para
mim, conhecer pessoalmente a dama do teatro brasileiro. Daquela época em
diante, Raul e eu nunca mais nos separamos. Ao contrário, eu que sempre
gostei de teatro, que freqüentava o Teatro de Arena, agora realizava o meu
sonho: trabalhar com Raul Cortez.
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Raul foi embora para Araguari e integrava o elenco do filme O Caso dos Irmãos
Naves; ele era um dos irmãos. Grande filme! Mas, cansado de ficar naquela cida-
dezinha, ele inventou uma história para o diretor do filme Luiz Sergio Person,
para que eu o tirasse de lá. E lá fui eu de ônibus, nove horas de viagem para
buscá-lo. E mentir para o Person que tínhamos que fazer o espetáculo Zôo Story.
E eu, como sempre, a sua empresária sem ser. Era uma amiga. Vivíamos com
pouco dinheiro. Ninguém tinha carro naquela época. Viajávamos de ônibus. Eu
era amiga de um gerente do Banco Real, da Praça da República, que nos empres-
tava dinheiro, naquele tempo a juros baixos. Vivíamos assinando papagaios com
o senhor Ênio Flexa. Tornou-se grande amigo nosso, até morrer. Era um banco
mineiro. Assim como o senhor Flexa. Arrumei com ele dinheiro para Guarnieri e
Boal, para a turnê do Arena Conta Zumbi, grande sucesso à época.
Enquanto isso, não sei como, consegui vender o espetáculo Zôo Story para
Franca e Uberaba. Já naqueles tempos, o Raul era desejado. À noite, no Rotary
Club da cidade de Uberaba, apresentamos o espetáculo. Éramos a primeira
companhia de teatro profissional a se apresentar naquela terra de boiadeiros.
No meio da cena, onde havia um bife de 15 minutos, Raul deveria contar ao
parceiro a história de Jerry e o cachorro. Raul esqueceu o texto! E corria de um
lado para o outro, batia na testa e perguntava para o Líbero em que ponto ele
estava. Eu, fazendo a iluminação da peça, uma luz que acendia e apagava no
final, fiquei lívida, mas finalmente ele recobrou a memória e tudo isso passou
desapercebido pelo público. Líbero Ripoli, que trabalhava em um cartório de
Santo Amaro, nunca mais pisou no teatro. Sumiu. Isso era 1965. Alguns anos
depois repetimos o espetáculo Zôo Story no Teatro Ruth Escobar, na Sala do
Meio. Só que o ator era Carlos Vereza. Zôo Story é uma peça que agrada muito
e atual até hoje. Mas, como Raul, não vi ninguém interpretá-la.
Rede Globo
Muito estranho, tudo. Como a vida mudou. A gente fazia espetáculos sem dinhei-
ro e vivíamos razoavelmente bem. Não tínhamos concorrentes como a televisão, o
cinema e, agora, a Internet. Hoje, para se montar um espetáculo é preciso muito
dinheiro. Formar elenco tornou-se um verdadeiro problema. Os atores foram para
a televisão. Claro, a TV paga bem. Trabalham como loucos e não têm tempo para
se dedicar ao teatro. Fazíamos teatro de 3a-feira a domingo, com duas sessões aos
sábados e duas aos domingos. Hoje, fazemos apenas três sessões semanais. E quem
não tem recursos advindos de patrocínio não consegue fazer nada. Será a morte
do teatro? O fim dele? Os grandes atores daquele tempo que ainda sobrevivem
estão todos na televisão. Muitos já morreram. Raul, já muito doente, no hospital,
me dizia que o câncer que ele teve veio da TV Globo. Lá no fundo do seu íntimo
Raul, que veio do teatro, que fez mais de 70 peças durante sua carreira, no cinema
35 filmes mais ou menos, fora as novelas e teleteatro que ele fazia com o Antunes
Filho, tinha certa irritação de ficar dias e dias fechado nos estúdios de gravação
da Rede Globo, no Rio de Janeiro, fora de sua casa, que era em São Paulo.
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Raul era um paulistano nato e orgulhoso de ter nascido em Santo Amaro. Sem-
pre morou por aqueles lados. Era um homem de teatro. Mais do que issso, um
bicho de teatro. Paulo Autran desistiu para sempre de fazer televisão. Está certo
ele. Raul talvez não soubesse parar. Ou tinha compromissos financeiros que o
impediam. Viver só de teatro é quase impossível. Não há mais bilheteria que
sustente elencos ou produção. Mas, com teatro ou sem teatro; com novela, ou
sem novela; o vazio e a dor que Raul deixou não só em mim , meu melhor e
grande amigo, são muito fundos. O que dói na gente, além da morte, é claro,
que nos priva da companhia dele, é saber que não temos mais projetos, pessoas
que se unam em torno de uma causa, e que a levem até o fundo, como Raul
Cortez fez com sua carreira. Não existem mais pessoas como uma Ruth Escobar,
que apostava em espetáculos grandiosos. Trazia um Arrabal, um Vitor Garcia,
um Jean Genet ou Bob Wilson, através de seus festivais que movimentavam a
cidade. Raul era fã e defensor árduo de Ruth Escobar.
De minha parte fica ainda a vontade e a garra ainda de produzir alguma coisa.
Logo após a morte do Raul, de pé e mão quebrados, consegui produzir o espe-
táculo Pequenos Crimes Conjugais, com Maria Fernanda Cândido, amiga de
Raul e parceira de novela, e Petrônio Gontijo. Foi o que me distraiu da dor da
perda do meu grande amigo. E dediquei o espetáculo a ele.
Raul, que saudades de você. Que saudades de nosso tempo. Que saudades de
sua elegância física. Pedi tanto ao governador José Serra que me ajudasse a
fazer um enterro digno da grandeza do Raul. Ele me atendeu. No Teatro
Muncipal. Com a bandeira das 13 listras; bandeira paulista. Com o Corpo de
Bombeiros. E com uma multidão que o aplaudiu enormemente quando o cai-
xão deixou aquele teatro a caminho de sua última morada. Raul jamais acredi-
tou ser tão popular.
E Viva o Raul. E Viva o Teatro.
São Paulo, maio de 2007
Maria Luiza, ou Luca – era assim que ele me chamava.
Lulu Librandi
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Quem tem medo de Virginia Woolf?
Raul Cortez é quem atinge a plenitude da interpretação ambígua, conseguin-
do paradoxalmente demonstrar todos os possíveis e complexos sentimentos
dos personagens. Uma grande e marcante interpretação.
Clóvis Garcia
São admiráveis sua intensidade, amargura e domínio lúcido da situação.
Sábato Magaldi
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Rei Lear
Montar Rei Lear é um desejo que alimento há muito tempo. Mas ficou mais
exacerbado nesse momento. Não sei. É intuição. Não posso explicar. Há mo-
mentos em que a gente sente que tem de dizer alguma coisa, então me inte-
resso em fazer um novo trabalho. É sempre intuitivo de minha parte.
Raul Cortez
Foram mais de uma centena de apresentações de Rei Lear. Assisti a todas não
só para acompanhar o espetáculo, mas para ver representar aquele monstro.
A cada espetáculo parecia que ele se superava, parecia que ia rasgar, explodir
em cena, tamanha era a violência emocional com que se entregava ao ato de
representar. Quando o Lear entrava carregando a filha querida morta nos bra-
ços, seus gritos e sua dor faziam mesmo calar a abóbada do céu. E quando
morria com seu coração arrebentado por tamanha dor, eram raras as vezes em
que não me ocorria que devíamos chamar uma ambulância porque acreditava
realmente que ele estava tendo um enfarte em cena. Todos os dias o elenco o
assistia da coxia. Para o Raul, era sempre a primeira e a última vez. Ele buscava
a cada dia a atuação definitiva, a absoluta. O Teatro era realmente sua vida e
nele, ao atuar, não tinha medo de morte.
Ruy Cortez
O espetáculo é obrigatório, e isso é consenso.
Maria Lúcia Candeias
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Vereda da Salvação
...A obra mais ambiciosa do teatro bra-
sileiro na década de 60 afunda num
incompreensível fracasso, arrastando
consigo as últimas energias do TBC.
Alberto Guzik
O Balcão
O Balcão, de Jean Genet, estreado no findar de 1969,
sob a direção de Vitor Garcia, foi talvez, pelo choque
provocado, o maior acontecimento do nosso teatro até
aquela data.
Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas
Rasga Coração
Como Manguari Pistolão, talvez o
personagem mais complexo e
comovente que conheço em toda a
dramaturgia nacional, Raul Cortez
mostra mais uma vez uma prodigio-
sa capacidade de controle e dosagem
de recursos e emoções.
Yan Michalski
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A Hora e a Vez de Augusto Matraga
Ele atravessa todo o palco em passo
de cavaleiro. Bota, capa larga,
chapelão, barba cerrada. Chega e se
impõe: Matraga.
Jefferson Del Rio
Drácula
Acho bonita a sua coragem de fazer
um teatro tão audacioso como este
José Mojica Marins
As Boas
Foi intencional. Eu queria um ator forte no papel. O
Raul tem um magnetismo e uma credibilidade que
foram fundamentais para o meu retorno ao teatro,
já que sempre fui visto como maldito.
Raul tem um cuidado extremo com seu trabalho e
transforma qualquer personagem em estrela.
José Celso Martinez Corrêa
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Na TV Tupi
Raul brincava muito durante a novela da TV Tupi: Tchan, a Grande Sacada. Eu
tinha uma admiração imensa por ele. Nós contracenávamos e ele fazia o meu
namorado. Eu nunca tinha sido beijada em cena. Só quem me beijava era o
meu marido, Chico. Por isso estava muito nervosa e preocupada. Quando co-
meçamos a gravar, ele se virou pro câmara e perguntou: Plano geral ou ameri-
cano? Americano! Eu pensei: Que maravilha! O Raul pensa em tudo!
Então, enquanto me dava o beijo, me beliscou na bunda.
Quer dizer, a emoção do primeiro beijo foi um beliscão! E, depois, ele ainda
me disse: Você usa uma cinta muito dura. Não dá nem para beliscar direito!
Etty Frazer
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As Boas
As Boas era um choque, um acontecimento. Sua atuação era um evento. Uma
comoção. O público comprava flores antes de ir para o teatro e quando ele
entrava vinha aquela chuva, gritos, adoração... Sua atuação era um trabalho
de composição primoroso. Não fazia uma caricatura de mulher. Era uma mu-
lher. Uma homenagem a todas elas. Todas que o haviam tocado, influenciado.
Todas que amava, admirava. As atrizes do cinema e teatro, daqui e de acolá, as
personalidades políticas e também as suas amigas. As mulheres da família e
principalmente a mãe. Quando acabava o espetáculo o teatro vinha abaixo.
No mínimo cinco minutos de aplausos compassados para aquela interpreta-
ção. Todos pareciam saber estar diante de um raro momento em suas vidas.
O Rei do Gado
Passei mais de um ano ajudando ele a decorar O Rei do Gado. Acompanhei o
nascimento e a morte de Geremias Berdinazzi. Quando estudava, meu tio sofria
enquanto não encontrava a verdade de cada cena, de cada fala. Fugia da forma
vazia, para ele uma mentira. Buscava incessantemente uma organicidade entre o
interior e o exterior. E mais, dizia que o ator tinha que trabalhar a contramão da
personagem. Fugir do óbvio. Cavar e encontrar o que está escondido nas
profundezas, no que está por baixo, oculto. A humanidade de cada ato, de cada
ação. Suas criações eram sempre depoimentos muito íntimos de sua vida, de sua
história, de seus valores e ideais e de suas contradições. Criar pra ele era um ato de
exposição pessoal, completamente sem disfarces. Como Cacilda Becker, sua ami-
ga, lhe dissera uma vez: Representar é se atirar sem rede de proteção.
Ruy Cortez
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Meu pai tem coisas para falar que ninguém tem.
Lígia Cortez
Quando você dá amor e não espera receber, a sua energia cresce demais. Não
importa se você recebe ou não. Importa se você dá.
Célia Helena
Raul tem uma história de combater, de correr todos os riscos, da grandeza
daquilo que é arte. Sempre foi vinculado com as lutas do seu tempo.
Marco Antônio Rodrigues
Lavoura Arcaica
Joaquim Maranhão, homem bruto, mau e traiçoeiro, foi encarnado com gran-
de força e dignidade por Raul Cortez; e, como uma espécie de encarnação
demoníaca, fazia sua primeira entrada em cena montando num touro de
bumba-meu-boi, imagem da brutalidade desencadeada contra sua filha Rosa –
criada por Tereza Seiblitz em comovente desempenho.
Ariano Suassuna
O início
Quando eu ia dirigir uma peça no Teatro de Arena, no tempo de amador,
conheci o Raul. Descobri que ele queria fazer uma peça, então o convidei para
interpretar O Intrépido Capitão Tic. E ele se saiu muito bem por sinal. Já apare-
ceu marcando sua presença como ator, nada de amador. Reencontramo-nos
no TBC, em Rua São Luiz, 27- 8o, Pedreira das Almas, Vereda da Salvação. Tra-
balhou bastante no Grande Teatro Tupi, com Fernada Montenegro, Sérgio
Britto, e comigo.
Na última novela que fizemos juntos, na Globo, Senhora do Destino, ele era o
barão e eu o mordomo. Nunca falou de sua doença. Apenas parou de gravar
por um tempo dizendo que devia fazer alguns exames, que estava cansado por
fazer coisas demais, cinema e TV ao mesmo tempo. Foi operado e voltou para
as últimas gravações. Disse estar passando bem, não se queixou de nada. Gra-
vou mais de 40 cenas. Era um homem incrivelmente forte. É triste perder um
grande amigo.
Ítalo Rossi
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Índice
Apresentação - Hubert Alquéres 5
Introdução - Nydia Licia 11
Capítulo I
Lígia Cortez fala do pai,na inauguração do Teatro Raul Cortez 13
Capítulo II
Palestra de Raul CortezTeatro Escola Célia Helena, 7/2/2006 17
Cronologia
Teatro 73
Cinema 179
Televisão - Novelas 189
Discos 209
Apresentador 209
Prêmios - Teatro 209
Prêmios - Cinema 211
Prêmios - Televisão 211
Depoimentos 213
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Créditos das fotografias
Acervo pessoal Raul Cortez 19, 20, 21, 22, 25, 26, 32, 35, 37, 90, 92, 56, 59, 60, 72,104, 206, 208, 222, 225, 231Adir Mera/TV Globo 192Alexandre 24, 28Anselmo Duarte Produções 178, 238Arquivo Nacional/Correio da Manhã 116, 118, 119Ary Brandi 128, 129Cedoc TV Globo 62, 188, 190, 191, 192Cinedistri 180, 181Conceição Almeida 125Daniel Geller 136Divulgação 42, 43, 52, 63, 64, 65, 84, 85, 102, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 114, 115,117, 120, 124, 125, 126, 127, 129, 132, 133, 134, 142, 143, 150, 151, 152, 153, 154, 161,162, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 207, 235, 238Emidio Luisi/Fotograma 145, 146, 239F. Pinto 58Gabriela de Moura 162, 163Giulio Trazzi 135Half Davis/TV Globo 193Heloísa Bortz 168João Caldas 16, 170, 171, 174, 175, 176, 177, 236Joaquim 98Jorge Baumann/TV Globo 196, 201José Pinto 144, 145, 147J. Testa Santos 92Lenise Pinheiro 164, 165Linda Conde 46Luiza Dantas/TV Globo 201Manchete 71Marcos Santilli/Ed. Abril 98marKo 10, 58Móbile Studio 121, 122MPA Comunicação 160Nelson Di Rago/TV Globo 201Nico 39, 40, 99, 100, 101Patrícia Alegria 158, 159Paulo de Carvalho 140, 141Ruiz Sérgio 57Thereza Pinheiro 131, 133, 136, 137, 138, 139TV Bandeirantes 191Valdir Silva 148, 149, 239Vânia Toledo 12, 31, 44, 155, 165, 166, 169, 239
Todos os programas reproduzidos são do acervo de Nydia LiciaCapa: ilustração a partir de fotografia de João Caldas4a capa: ilustração a partir de fotografia do Cedoc/TV Globo
Todos nossos melhores esforços foram feitos para creditar devidamente os detentores dos direitos autoraisdas imagens utilizadas neste livro. Eventuais omissões de crédito não são intencionais. Agradecemos acomunicação de eventuais falhas ou omissões verificadas neste livro.
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Coleção Aplauso
Série Cinema Brasil
Alain Fresnot – Um Cineasta sem AlmaAlain Fresnot
Anselmo Duarte – O Homem da Palma de OuroLuiz Carlos Merten
Ary Fernandes – Sua Fascinante HistóriaAntônio Leão da Silva Neto
Bens ConfiscadosRoteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach
Braz Chediak – Fragmentos de uma VidaSérgio Rodrigo Reis
Cabra-CegaRoteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman
O Caçador de DiamantesRoteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro
Carlos Coimbra – Um Homem RaroLuiz Carlos Merten
Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de ViverMarcelo Lyra
A CartomanteRoteiro comentado por seu autor Wagner de Assis
Casa de MeninasRomance original e roteiro de Inácio Araújo
O Caso dos Irmãos NavesRoteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person
Como Fazer um Filme de AmorRoteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero
Críticas de Edmar Pereira – Razão e SensibilidadeOrg. Luiz Carlos Merten
Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo ShimbunOrg. Alessandro Gamo
Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LGOrg. Aurora Miranda Leão
Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de SerOrg. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak
De PassagemRoteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias
DesmundoRoteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui
Djalma Limongi Batista – Livre PensadorMarcel Nadale
Dois CórregosRoteiro de Carlos Reichenbach
A Dona da HistóriaRoteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho
Fernando Meirelles – Biografia PrematuraMaria do Rosário Caetano
Fome de Bola – Cinema e Futebol no BrasilLuiz Zanin Oricchio
Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta CinéfiloLuiz Zanin Oricchio
Helvécio Ratton – O Cinema Além das MontanhasPablo Villaça
O Homem que Virou SucoRoteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito
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Dogma Feijoada: O Cinema Negro BrasileiroJeferson De
João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas HistóriasMaria do Rosário Caetano
Jorge Bodanzky – O Homem com a CâmeraCarlos Alberto Mattos
Maurice Capovilla – A Imagem CríticaCarlos Alberto Mattos
Narradores de JavéRoteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu
Pedro Jorge de Castro – O Calor da TelaRogério Menezes
Rodolfo Nanni – Um Realizador PersistenteNeusa Barbosa
Ugo Giorgetti – O Sonho IntactoRosane Pavam
Viva-VozRoteiro de Márcio Alemão
Zuzu AngelRoteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende
Série Crônicas
Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeçasMaria Lúcia Dahl
Série Cinema
Bastidores – Um Outro Lado do CinemaElaine Guerini
Série Ciência & Tecnologia
Cinema Digital – Um Novo Começo?Luiz Gonzaga Assis de Luca
Série Teatro Brasil
Alcides Nogueira – Alma de CetimTuna Dwek
Antenor Pimenta – Circo e PoesiaDanielle Pimenta
Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco VisceralAlberto Guzik
Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como OficioOrg. Carmelinda Guimarães
Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma PaixãoOrg. José Simões de Almeida Júnior
Luís Alberto de Abreu – Até a Última SílabaAdélia Nicolete
Maurice Vaneau – Artista MúltiploLeila Corrêa
Renata Palottini – Cumprimenta e Pede PassagemRita Ribeiro Guimarães
Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBCNydia Licia
Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o ArNeyde Veneziano
O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas &Pablo Picasso – Pólvora e PoesiaAlcides Nogueira
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O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que temSol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do TeatroIvam Cabral
O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra PrometidaSamir Yazbek
Série Perfil
Aracy Balabanian – Nunca Fui AnjoTania Carvalho
Ary Fontoura – Entre Rios e JaneirosRogério Menezes
Bete Mendes – O Cão e a RosaRogério Menezes
Betty Faria – Rebelde por NaturezaTania Carvalho
Carla Camurati – Luz NaturalCarlos Alberto Mattos
Cleyde Yaconis – Dama DiscretaVilmar Ledesma
David Cardoso – Persistência e PaixãoAlfredo Sternheim
Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da VidaMaria Leticia
Etty Fraser – Virada Pra LuaVilmar Ledesma
Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no ArSérgio Roveri
Ilka Soares – A Bela da TelaWagner de Assis
Irene Ravache – Caçadora de EmoçõesTania Carvalho
Irene Stefania – Arte e PsicoterapiaGermano Pereira
John Herbert – Um Gentleman no Palco e na VidaNeusa Barbosa
José Dumont – Do Cordel às TelasKlecius Henrique
Leonardo Villar – Garra e PaixãoNydia Licia
Maria Adelaide Amaral – A Emoção LibertáriaTuna Dwek
Marisa Prado – A Estrela, O MistérioLuiz Carlos Lisboa
Miriam Mehler – Sensibilidade e PaixãoVilmar Ledesma
Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em FamíliaElaine Guerrini
Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das OutrasSara Lopes
Paulo Betti – Na Carreira de um SonhadorTeté Ribeiro
Paulo José – Memórias SubstantivasTania Carvalho
Pedro Paulo Rangel – O Samba e o FadoTania Carvalho
Reginaldo Faria – O Solo de Um InquietoWagner de Assis
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Renata Fronzi – Chorar de RirWagner de Assis
Renato Consorte – Contestador por ÍndoleEliana Pace
Rolando Boldrin – Palco BrasilIeda de Abreu
Rosamaria Murtinho – Simples MagiaTania Carvalho
Rubens de Falco – Um Internacional Ator BrasileiroNydia Licia
Ruth de Souza – Estrela NegraMaria Ângela de Jesus
Sérgio Hingst – Um Ator de CinemaMáximo Barro
Sérgio Viotti – O Cavalheiro das ArtesNilu Lebert
Silvio de Abreu – Um Homem de SorteVilmar Ledesma
Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana?Maria Thereza Vargas
Suely Franco – A Alegria de RepresentarAlfredo Sternheim
Tony Ramos – No Tempo da DelicadezaTania Carvalho
Vera Holtz – O Gosto da VeraAnalu Ribeiro
Walderez de Barros – Voz e SilênciosRogério Menezes
Zezé Motta – Muito PrazerRodrigo Murat
Especial
Agildo Ribeiro – O Capitão do RisoWagner de Assis
Carlos Zara – Paixão em Quatro AtosTania Carvalho
Cinema da Boca – Dicionário de DiretoresAlfredo Sternheim
Dina Sfat – Retratos de uma GuerreiraAntonio Gilberto
Eva Wilma – Arte e VidaEdla van Steen
Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da TelevisãoBrasileiraÁlvaro Moya
Lembranças de HollywoodDulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim
Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua VidaWarde Marx
Ney Latorraca – Uma CelebraçãoTania Carvalho
Raul Cortez – Sem Medo de se ExporNydia Licia
Sérgio Cardoso – Imagens de Sua ArteNydia Licia
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Formato: 23 x 31 cm
Tipologia: Frutiger
Papel miolo: Offset LD 90g/m2
Número de páginas: 256
Tiragem: 1500
Editoração, CTP, impressão e acabamento:Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
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Imprensa Oficial do Estado de São PauloRua da Mooca, 1921 Mooca03103-902 São Paulo SPwww.imprensaoficial.com.br/[email protected] São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109Demais localidades 0800 0123 401
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Licia, NydiaRaul cortez : sem medo de se expor / Nydia Licia. – São Paulo :
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007.256p. : il. – (Coleção aplauso. Série especial / Coordenador
geral Rubens Ewald Filho)
ISBN 978-85-7060-545-0 (Imprensa Oficial)
1. Atores e atrizes de teatro – Brasil – Crítica e interpretação2. Cortez. Raul 3. Teatro brasileiro 4. Teatro brasileiro – Críticae interpretação I. Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série.
CDD 791.092 81
Índices para catálogo sistemático:1. Atores brasileiros : Biografia e obra : Crítica e interpretação :
Representações públicas : Artes 791.092 81
Dados Internacionais de Catalogação na PublicaçãoBiblioteca da Imprensa Oficial
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Coleção Aplauso | em todas as livrarias e no sitewww.imprensaoficial.com.br/loja virtual
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