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LEILA CRISTINA COLLA
DO COMPLEXO DE EDIPO AO DESEJO INSATISFEITO DA HISTERICA
Monografia apresentada para a obtencao do titulo
de Especialisla em Psicanalise no curso de Pos-Gradua<;:aoem Psicanalise, Faculdade de CiE!nciasHumanas, lelras e Artes, Universidade Tuiuti do
Parana.
Orientadora: Prof. Fabio Tha
('9.1..' ' oh
\,
CURITIBA
2001
SUMARIO
RESUMO ....
INTRODUCAO ....
CONSTITUICAO DO SUJEITO .....
A HISTERICA E 0 NOME-DO-PAI/COMPLEXO DE EDIPO ...
CONCLUsAo .....
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ..
..12
.18
. 21
RESUMO
A presente monografia aborda a questao do desejo insatisfeito da hister;ca e a rela<;aodesta com a Complexo de Edipo au como diria Lacan a Nome-do-Pai. Para tantobuscou-se tazer uma revisao teorica baseada na teoria Freudiana e Lacaniana. Numprimeiro momento trata-se da constituicao do sujeito, au seja, quais as aspectos queestao em jogo na sua estruturac;ao. E, nurn segundo momento a estruturac;ao histericaem rela9ao ao Complexo de Edipo/Nome-do-Pai.
INTRODUCii.O
o que e hisleria? Sera que histeria e 0 que se escuta no dito popular? Sera que
a histerica e aquela que grita, laz escandalos? Que queima 0 soutien em prac;a publica
reinvidicando igualdade entre homens e mulheres? Que saem em passeata gritando
pelos direitos da mulher?
o ponto central da histerica e 0 desejo insatisleito, que adquire uma dileren,a de
qualquer faltante. 0 discurso da histerica e 0 da reinvindicacao. Para ela nada Ihe
serve, tudo pareee mesquinho, injusto, falso.
A palavra da hister;ca freqOentemenle se apresenta como luga metonimica que
se recusa, par metaforiza~ao, demarcar urn objeto que esteja a altura de seu desejo.
Isto quer dizer que nao existe urn objeto a altura do desejo da histerica, porque 0que ela quer e 0 desejo insatisfeito - mante-Io, pois 0 deseje a marcou de uma formacomo incompleta, faltante e no maximo ela val poder metaforizar isto, nao vai encontrar
este objeto.
A discussao desla gira em torno do seu ponto de extensao: 0 falo. 0 que a
histerica encontrou em seu pai - no pai em geral - e sempre insuficiente, 0 pal da
histerica e estruturalmente urn impotente. A demanda dela se revela em sua dimensao
de questionamento da feminilidade.
A insIgnia paterna s6 indica 0 falo, s6 sugere identifieacao faliea. a que se
coloca em causa a partir de entao, na demanda da histerica ao pai, e uma lalta
absolutamente radical; mais que um Iracasso do recalque, e a verdadeira
impossibilidade de recalcar 0 que Ihe e designada.
A histerica, com efeito, se consagra a denunciar a falta de uma identifiea9ao
feminina, a ausemeia do Outre de um significante do sexo feminino e a falha que dal
resulta ao nivel da identifieacao espeeular. E ela designa seu responsavel: 0 pai,
insuficiente por defini9<io.
A histerica nao vai buscar 0 homem porque esta identificada a ele, pOis, no que
coneerne a histerica, para buscar urn homem ela teria que se ver como se ver eastrada
e isto e insuportavel.
o assunto em questao refere-se a uma estrutura, buseando-se subsidios
te6ricos para levantar as peculiaridades de tal estrutura, ou seja, como nasce, como se
desenvolve e se mante~m.
Procurou-se fazer a discussao teorica sobre a Estrutura Histerica e 0 Complexode Edipo au Nome-do-Pai como diria Lacan, desenvolvendo conceitos sabre a func;aopaterna, em especial a estruturacao do sujeito e a influ€mciado Complexo de Edipo e a
entrada do Nome-do-Pai nesta estrutura.;ao.
CONSTITUI~ii.O 00 SUJEITO
o bebe nasee prematuro: nao e capaz de andar, falar, nao tern controle do seupr6prio corpo; dispondo apenas de alguns reflexos e com total dependencia do Dutro.
Segundo LACAN (19BB, p. 96) 0 recem-nascido e significante puro, passivel de
articula930 com uma imagem e uma linguagem, para chegar nurn significadosubjetivo.o bebe vivencia em wseucarpo", desconfortos como: fome, frio, dar, sono, etc...
Estes sao captados e nomeados pel a mae, au quem fac;a a fun.yao materna, issoacontecera sucessivamente deixando marcas que serao codificadas. Como 0significante puro e desprovido de significado, estas marcas podem adquirir uma
caracteristica complexa, de ligac;6es complexas; nao S8 sa be como 0 significante seracodificado, pois, este e subjetivo. Por isso estar II merce destes significantes pode
arremessar 0 sujeito numa estrutura, dependendo da maneira que exerce suas defesasfrente a situa<;6es, au frente a estes bombardeios de significantes. Assim sendo, 0sujeito pode entrar numa estrutura predominantemente neur6tica, psic6tica ouperversa.
Segundo Gerard MILLER (19B7, p. 122) e nesse banho, que e tudo menos
indiferenciado, que vai ser mergulhado pequeno ser humano, e que ele tera desubjetivar, isto e, fazer a sua hist6ria para se achar ai, se reencontrar ai. Esse lugaron de se inscreve 0 "tesouro da lingua" que se dirige ao sujeito e 0 que LACAN (19BB,
p.134) denomina lugar do Outr~. A linguagem tem essencialmente por func;ao
identificar 0 sujeito. E esse efeito e identificac;:aoque Ihe permitira incluir-se na ~Ordem
Simbolica" situando-se como mortal e sexuado.
o sujeito nasee sendo um significante puro, desprovido de significado, a partir donascimento passa estar passivel de estimulacao, de libidinizaC;:80,erogenizaC;:8o,ouseja, marcas que vao se somando, associando-se, complexificando-se, fazendo ahistoria do sujeito e estruturando-o psiquicamente mediante marcas providas tanto do
seu mundo interne como externo.A constituic;:aodo sujeito vai se dando em nlveis de simbolizacao. LAGAN (1988,
p. 135) no semimirio XI diz: "Existe um campo funcionando que antecede 0 sujeito,
envolve este ser. Os significantes vao envolvendo ° ser desde 0 primeiro momento. Ossignificantes vao marcando este carpo para ele comec;:ara reagir. Par isso nao e umdesenvolvimento, mas um envolvimento~.
o bebe quando nasee tern urn organismo, urn corpo que vai ser bombardeado
pelos significantes (tudo que esta no campo do outr~, linguagem), pulsionalizando 0
corpo; e5tas marcas vern do simb6lleD.
o estadio do espelho ordena-se essencialmente a partir de uma experiencia deidentificac;ao, fundamental, durante a qual a crianc;a faz a conquista da imagem de seu
proprio corpo, 0 que ira promover a estruturacao do "Eu", favoreeendo a unidade do
corpo pr6prio.
Primeiramente, a crian~ esta alienada aos significantes do Outro. Nesta fase a
relac;ao e chamada de triade mae-filho-falo, que s6 a partir desta celula narcisica e que
se val constituir 0 sujeito. Neste perfodo nao tern dais sujeitos e sim urn 56,
indiferencia9ao mae e filho.
o sujeito quando nasee esta totalmente submetido ao Outro, e oferecido ao gazodo Outro e vai depender de sua demanda, pOis, primeiro tera que se alienar ao Outro
para depois se separar. Se ele naD tiver este privilegio, naD se constitui como sujeito.Deve haver urn desejo, par parte da mae, de ter urn filho, equayao simb6lica, ter urn
talo, porem a sobrevivencia do bebe tam bern depende de uma demanda por parte da
crianc;a, de ser 0 falo, de se colocar no lugar do falo, au seja, aquila que completa, que
fecha a hizmcia da falta na mae quando no momento da castrac;:ao,"eu sou 0 quefaltava~;"eu sou 0 que completa a mamaen
.
Este momenta da fase do espelho evidencia 0 assujeitamento da crianc;:aaoregistro do imaginario. A crianc;:autiliza-se do mecanismo de projec;:aoe passa adepositar aspectos pr6prios nos objetos afetivos, ou seja, comec;:aa se experienciaratraves do outro, mas nao tem a dimensao simb6lica ou verbal de 5i, nem muito menosdo outro. Esta fase e chamada de imaginaria, dado a pregnancia das imagens internasrefietidas nos objetos da realidade exterior. Entretanto, nao ha simbolizacao dos
desejos, e momento de ac;:ao,pre-verbal, sem reflexao. Persiste a relac;:aodual "mae-crianc;:a".
LAGAN (1988, p. 64) procurou talar do Edipo em torno do processo da metatora
no Nome-do-Pai. Esle significante Nome-do-Pai que esta articulado ao desejo materna,que ira balizar e estruturar toda a trajet6ria edipiana.
o Gomplexo de Edipo pode ser dividido em dois momentos. No primeiro
momenta do Edipo, a crianc;:aao sair da fase identificat6ria do estadio do espelho, naodeixa de estar numa relac;ao de indistinl'iio com a mae, uma relac;ao de simbiose e de
suposta completude. 0 filho esta submetido ao desejo da mae, ele identifica-se com 0
objeto deste desejo, ou seja, olalo.
Este primeiro momento e como urna marca no inconsciente que 0 sujeito, ao
longo de sua existemcia, ira repetir no campo do amor.
Segundo LACAN (1988, p. 66) "A rela9ao da crian9a com 0 lalo e essencial
enquanto 0 lalo e 0 objeto de desejo da mae".
A identifica9iio com 0 objeto lalico levanta a problematica para a crian9a de ser
ou nao ser a falo.
Na segundo momento do Edipo a crianc;a comec;a a perceber que a mae desloca
seu olhar para 0 pai, criando urn mal estar nesta relac;ao de suposta completude,
comet;ando assim a se afastar desta mae. E neste momento que a crianya reconhece
as diferenc;as sexuais anatomicas e conseqOentemente a existencia de urn outro que
ocupara esle lugar de indiferenciac;ao.
A crian9a e introduzida no registro da castra9iio pel a introdu9iio do Nome-do-Pai
que e vivida par ela sob a forma de interdic;a,o, frustrac;ao e privac;ao.
Segundo LACAN (1988, p. 75), a fun9ao "ser pai" nao e absolutamente pensavel
na experiemcia humana sem a categoria do significante. Na medida em que 0
significante paterno internaliza, atraves da Metafora Paterna, os primeiros significantes
do desejo materno, ou seja, os significantes oriundos do grande Outro, que inicialmente
e encarnado pel a mae, sao recalcados no inconsciente, formando 0 Outro do sujeito. A
partir dar 0 sujeito torna~semarcado pela falta. 0 significante paterno vem de um lugar
alter, questionando esse "ser tudo para a mae" que corresponderia ao lugar de lalo.
Este significante outro, 0 Nome do Pai, marca a falta na mae, dizendo a esta que ela
nao pode ser tudo para 0 filho, e para 0 filho que ele nao e tudo para a mae. Isto ecastrayao - separar, para tornar~se sujeito. Estabelecer a falta no outro e
conseqOentemente no pr6prio sujeito.
Segundo DOR (1993, p. 59) do ponto de vista da crian9a, 0 pai intervem sob a
lorma de interdi9iio, apresentando-se a ela como um "tendo-direito" (Lacan) no que diz
respefto a mae. E por isto que esta intervencao e vivida pela crian9a como uma
frustrac;:ao, isto e, falta imaginaria de urn objeto real, a mae.
A entrada de um pai operante priva a mae de encarnar no filho 0 objeto falico, e
o filho de oferecer-se imaginariamente como objeto do desejo da mae do objeto de seu
desejo. Para que ocorra esta entrada e necessario que haja 0 desejo por parte da mae.
Este desejo de cada um est" submetido a lei do desejo do Outro, isto implica que 0
desejo da mae estil na dependencia de um objeto Dutro (0 pail. Afinal 0 desejo esta no
campo do Dutro.
A questao da crian~ de ser au nao ser 0 talo da mae e colocada eminterroga<;iio. Na medida em que 0 pai privador a faz pressentir que a mae reconhece a
sua lei como que mediatiza 0 desejo que ela tem de um objeto que nao e mais a
crianya, mas que 0 pai e suposto ter au nao ter.Segundo DOR (1993, p.6?) "a mae reconhecendo a palavra do pai como a unica
suscetivel de mobilizar seu desejo, contribui igualmente para atribuir a fun~o do pai
urn lugar simb61icoaos olhos da crianr;aH
,
Assim, neste segundo momento, aparece 0 significante Nome-dc-Pai, isto e,qualquer interesse da mae que nao seja 0 bebe, como privador, rompendo a rela<;iio
dual, 0 pai deve aparecer como aquele que preenche 0 desejo da mae, que ate entao,eslava imaginariamente preenchido pelo filho e que para poder operar, e necessario
que a mae Ihe de entrada, permissao ao significante Nome-dc-Pai que fara a metaforapaterna, ou seja, 0 corte, a castrar;ao~eunao sou tudo para a mamae",
o pai, pela via da palavra, assume 0 papel de real mediador remetendo 0 "filho
da mae" ao mundo, caracterizancto assim a castrar;ao como sendo uma fun<;aointerdit6ria e normativa. Em LAPLANCHE e PONTALIS (1991, p. 78), podemos
constatar que "0 menino teme a castracao como realizacao de uma ameac;a paternaem resposta as suas atividades sexuais, surgindo daf uma intensa angustia dacastrac;:ao.Na men ina a ausencia do penis e sentida como um dana sofrido que elaprocura negar, compensar au reparar. Abre-se para a men ina a busca que a leva adesejar 0 penis paterno".
~Nela, a renuncia do penis 56 se realiza ap6s uma tentativa para obter umacompensal;ao. A menina desliza - ao long a de uma eQuivalencia simb6lica, pode-sedizer - de penis para tilho e 0 seu Complexo de Edipo culmina no desejo, mantidodurante muito tempo, de obter um filho seu".(LAPLANCHE; PONTALlS, p. 80).
Assim, 0 complexo de castrar;:80desempenha um papel dessimetrico num enoutro sexo. Ele tende a desaparecer 0 Edipo do me nino e, ao contra rio, e a origem do
Edipo da men ina , ou seja, a origem da renuncia a mae e a eleil;8o do pai.No menino primeiramente, hi! uma crenc;ade que naD ha diferenc;a anatomica
entre as Or9aOSsexuais masculinos e femininos, au seja, todos sao dotados de urnpenis. Num segundo momento, sofre ameagas verbais, seu penis e amea,ado, que
visa proibir a crianc;ade suas praticas auto-eroticas e obriga-Ios a renunciar as suas
fantasias incestuosas. Estas ameac;asso terao infiuenciana crianc;aquando ultrapassaa momenta seguinte, este e a momento da descoberta visual do orgao feminino, aumelhor, da regiao genital feminina. 0 que a crianc;aobserva nao e a vagina e sim afalla do penis.
As lembranc;asdas ameaC;asverbais serao resignifieadas, a menino sente-s6ameac;adode uma forma bern real, pais um ser tao pareeido com ele nao possui umpenis, entao ele podera perde-Io. Ao inves de reconhecer a falta, insiste em Ihe atribuir
um penis pequenoque vai crescer.Num ultimo momenta 0 menino percebe que sua mae tambem e castrada,
surgindoentao angustia da castrac;ao.Ao admitir isto 0 men ina se ve obrigado, parasalvaguardar 0 orgao, a renunciar a Sua sexualidade (a masturbaC;aoe a via dadescarga genital dos desejos incestuosos). Ele salva 0 6rgao pelo pre<;:o de sua
paralisia e da renuncia a posse da mae. Desta forma, 0 complexo de castravao poe fim
ao Edipo.
Na menina, no primeiromomenta hi! tambem a crenc;ade que nao hi! diferenc;aanatOmiea entre os orgaos sexuais masculinos e femininos. "0 clitoris da meninacomporta-se de inicio, ela julgou e decidiu, ela viu isso, sabe que nao 0 tern e quer te-10"(FREUD, 1925, p. 281).
o descobrimentoda castrac;aoda mae e um motivode grande importaneia paraa separaC;aoda mae e a passagem ao pai. Neste perfodo do descobrimento, ressurgea odio pela mae, separando-a desta e escolhendo 0 pai como objeto de amor. Amenina nao val perdoar nunca este engano.
Inicialmente ela luta contra as efeitos do complexo de castrac;ao, e, com ele,tambem a superioridadedo homem, e sua propria inferioridade,mas se rebela contraeste estado de coisa indesejavel. A partir dessa atitude dividida abrem-se tres linhas de
desenvolvimento segundo FREUD (1931, p. 240)
1'.) Afastamento geral da sexualidade, insatisfeita com seu clit6ris abandona sua
atividadefaliea e com ela sua sexualidadeem geral;2°.) A men ina se apega numa forte auto-afirmaC;aoa sua masculinidade
ameac;ada e eonserva de todos as modos a esperanc;a de conseguir urn penis emalguma ocasiao tornando esta esperanc;a0 objetivode sua vida e a fantasia de ser urnhomem. Despreza toda advertencia, todo sinal a respeito da castravao e empenha-se
na convic,ao de que possui um penis. Esse "Complexo de Masculinidade" na mulher
pode resultar numa escolha de objeto homossexual;
10
3°.) E 0 que ele define como feminilidade normal ou ideal, que va; constituir em
tomar 0 pai como objeto e alcan9ar a forma feminina do Complexo de Edipo, isto e, ela
e atraida pelo fato: "ela sabe onde ele esta, onde deve ir busca-Io, do lado do pai
aquete que 0 tern",
Com a descren9a dela mesmo ser objeto f<ilico desejado pela mae, a crianva e
farcada pela funcao paterna a aceitar, nao somente nao ser 0 falo, mas tambem naD te~10. A funvao paterna s6 e representante da lei sob esta condivao de que a mae deseja
algo rna is que 0 filho, assim, 0 objeto faiico nao e 0 filho.
Neste instante 0 pai nao aparece como privando a mae da rela9EIo com a
crianr;a, pais a mae jil aparece como castrada como quem naD e completa e a quem
ninguem pode completar.
Percebe-se, em princfpia, que qualquer objeto pede servir e passa-s8 a vida
procura dele - objeto faiico no dizer de Lacan - que preencha esta falta radical e que
repita aquela experiemcia inaugural e mftica de plena satisfar;ao, antes tida
imaginariamente com a mae.
Na tentativa de decifrar sabre seus enigmas e de preencher esse furo, 0 sujeito
manta hist6rias sobre sua subjetividade com urn sentido excessivamente
imaginarizado. Nesta montagem, 0 sujeito tenta encontrar 0 objeto perdido que
possibilite preencher esta falta, mas esse objeto nunca existiu, porem 0 sujeito nao
sabe desta inexistencia.
FREUD (1924, p.197) atribui ao Complexo de Edipo fun90es fundamentais,
como a escolha do objeto de amor, na medida que este permanece marcado pelos
investimentos de objeto, pelas identificac;5es, pela interdiC;ao de realizar 0 incesto, pelo
acesso a genitalidade e ainda pelos efeitos sobre a estrutura980 da personalidade.
o Complexo de Edipo permite a crianc;a atingir a simboliza.yao dos seus desejos,
discriminando a si e ao outro. Caracteriza-se pelo aparecimento do pai, ou melhor, da
fun.yao paterna. Ate entao a criantya estaria restrita a vincula980 com a func;ao materna.
A funvao paterna remete a frustravao, a separa9ao ou corte na rela9aO da crian9a com
a func;ao materna, a descoberta do pr6prio desejo em virtude da experiencia de sua
frustra9aO. E esta descoberta se efetiva atraves da verbaliza9aO. A descoberta de que
~meu desejo e ter alguem a minha disposic;ao para me sentir amada~ s6 e passivel
gra.yas a previa frustra.yao. Nao aparecendo 0 proved or, aparece a func;c3o paterna,
ocorre a castravao simb6lica e a experiencia e verbalizada. Neste momenta se daria a
passagem do nivel imagim;rio para 0 simb6lico.
II
Oeve-se destacar que na teona Lacaniana a realidade psiquica e atingida
apenas no momento de ingresso no nivel simb6Hco, antes disso persistiria a negar;aodo real e a ilusao psiquica - manutenc;.ao imaginaria da vinculaca,o com a func;.aomaterna.
"0 apogeu do Complexo de Edipo e vivido entre os tres e cinco anos, durante a
fase falica. 0 seu declinio marca a entrada do periodo da latencia. Esse processo e
revivido novamente na puberdade e e superado com maior au menor exito nurn tipoespecial de escolha de objeto".(LAPLANCHE; PONTALlS, 1991, p. 77).
12
A HISTERIA E 0 NOME DO PAlfCOMPLEXO DE EDIPO
LACAN (1988, p. 203) menciona a possibilidade da identifica<;iio sexual ter
Qutras conseqOencias para a men ina, 0 que ele dizia na ocasiao era que esta
identificayao naD e feita diretamente a mae, mas par um desvio suplementar, ao objetodo desejo da mae, ou seja, que a identifica<;iio passa pelo possuidor do falo. 0 que ele
aponlava nesla epoca, porem e que a men ina pode encurtar este percurso
identificando-se imaginariamente ao pai edisto resulta uma posic;ao estrutural a
histeria.
Segundo LACAN (1988, p.43) no Seminario IV "A hislerica e alguem que chegou
ao nivel da crise edipiana, e que ao mesma tempo naD pade ultrapassa-Ia".
A histerica trata 0 Nome-do-Pai como S8 ele ainda naD a tivesse convencido,contudo este nao a deixou isenta de seU$ efeit05.
Originalmenle 0 sujeilo deseja ser 0 falo, objelo de desejo de sua mae. Quer
dizer que para se assegurar da presen~ e do sustentacula afetivo total de sua mae, acrian9a busca inconscientemente ser ela mesma 0 que pade melhor preenche-Ia.
~No desejo da mae, a crianca ocupa primeiramente a posiC;aodaquilo que vemarrolhar a falta que causa desejo: a erianva faz de sua mae uma mulher "plena", umamulher preenchida. Neste estagio, a crianc;a- menina QU menino - nao e ainda maisque uma parte do corpo da mae: mesmo que a parto tenha ocorrido, pode-se dizer quea crian(:a ainda nao foi "posta no mundo' enquanto sujeilo". (SEGER, 1987 p. 192).
o pai, par seu interdita, torna impassivel a fusao mae-crianc;a e marca estaultima per uma falta fundamental. Castrado, isto e, afastado da mae pelo interditopaterno. A crianc;atern que renunciar a anipotencia de seu desejo e aeeitar uma lei delimitac;ao(desejo fragmentado). Tern que assumir sua falta. Pela metafera paterna, acrianc;anomeia a seu desejo e a ele renuncia. 0 seu desejo verdadeiro e impelido aoinconsciente. E 0 recalque eriginaria que determina a acesso a linguagem e quesubstitui0 real da existencia por um simbola e uma lei.
A crian(:a assumindo a lei do pai, passa do regislro do ser (ser 0 falo onipolenle)
para 0 regislro do ler (ter um desejo limilado, legislavel e en uncia vel) e se engaja na
procura dos objetos cada vez mais afastados do objeto inicial de seu desejo. E napassagem do ser ao ter que se situa a divisao do sujeito, isto e, sua divisao entre ser
de consciencia e ser de inconsciencia, devido a sua relagao com a significanle Nome-
do-Pai.
13
o desejo de ser 0 ralo que falta a sua mae, 0 desejo de uniBo com a mae erecalcado e em seu lugar vern 0 substituto; aquele que nomeia e ao mesma tempo 0
transforma, isto e 0 simbolo. Se 0 Nome-dc-Pai preenche esta fun980 de simbolizar a
desejo, tornar-se "um~Pai vai doravante substituir 0 desejo inconsciente de fusao, eque 0 Pai se manifesta como 0 que tem 0 falo desejado e 0 que pode usar numa
rela~o socialmentenormalizada.
Isto afirma que nao he desejo implicado, ou seja, substitui 0 seu desejo pelo
desejo do Dutro, pois, mantem a ilusao de que quem deseja e 0 Dutro castrado,
portanto e 0 outro, 0 qual e faltante, e ela e 0 objeto causa. "A histeria imagina esse
Outro encarnado em urn semelhante; com 0 tratamento termina reconhecendo que
esse lugar Outro esta nela e que ela 0 ignorou" (LAPLANCHE; PONTALlS, 1991, p.
48).
A relay80 da histerica com 0 Dutro, com urn homem e sempre impotentizante,
castrante no sentido de destituinte, porque nenhum homem pode chegar perto do que
esta a altura do seu imaginario. Com iS50 ela feminiza 0 homem sendo esta Dutra
caracteristica fundamental do funcionamento histerico.
Poderia-se dizer que as histericas amam os homossexuais porque elas podem
assim acreditar que existe mulher falica, que ha mulher com penis, e na~ ha diferenrya.
Existe um sotaque da perversao na histeria parque ela que e uma histerica se ve
privada disso que e 0 gazo talico atraves do orgao, do penis, entao acha que ecastrada e dentra de suas fantasias esta a de que ela foi mutilada ou que na~ Ihe
deram 0 6rgao. Portanto, os homens sao todos despreziveis e ela vai cclocar nohomem a culpa por essa diferenrya sexual.
Essa castraryao nao e vivida como simb61ica e sim como imaginaria. Na
castra~o imaginaria 0 sujeito se imagina faltante por causa de um objeto que perdeu
"e par Isso que nao sou completa" e as desculpas que ele arruma buscando tamponar
a falta, ou seja, 0 falo imaginario, faz com que fique escapando de poder ser
verdadeiramente urn sujeito.
Segundo LACAN (1988, p. 54) "a histerica faz 0 homem" expressao que deveser tomada no seu duplo sentido, ela faz 0 homem na medida em que no casal ela
convoca seu parceiro a ocupar a posiryao masculina, ensinando-o a ser homem, mas
como para ela todos os homens, inclusive 0 pai real, nao estao a altura do pai
imaginarioque ela cultua, ela assumea responsabilidadede ocupar este lugar.
14
o direito de naD se ver como castrada, 0 direito de manter e5ta ilu580 do proprio
desejo insatisfeito porque ela impotentiza 0 outr~, ganhando com isso a manutencao da
sua propria ilusao de falicidade.
"Assim 0 poder do falo e tambem 0 poder daquela que se coloca na posicao de
se-Io. Assimilando-se dessa forma ao menos um que escapa a castra9aO" (TEIXEIRA,
1988, p.23).
A histerica admite e deseja ser desejada, mas nao pode se sustentar como 0
objeto. Quando se ve como tal, a que reivindica e amor.
Como ilustra 0 dito popular "Quem eu quero nao me quer, quem me quer mandei
embera",
Do texto "Sobre 0 amor, uma leitura a partir de Freud" (Palestra proferida em
27/09/90 por ocasiao do Semimirio sobre 0 amor, no Centro de Ciencias Juridicas da
UFSC. MARQUES, Agostinho Ramalho Neto) e passivel dedulir que 0 objeto final do
in5tinto sexual nunca mais sera objeto original, mas apenas urn sub-rogado do mesma.
A psicanalise revela que, quando 0 objeto original de um impulso desejoso se perde em
conseqo.encia da repressao, ele se representa, freqllentemente, par uma sucessao
infindavel de objetos substitutivos, nenhum dos quais, no entanto proporciona
satisfacao completa. Isto pode explicar a inconstancia na escolha do objeto, 0 anseio
pela estimula9Bo, que amiude caracterizam a amor dos adultos.Para a histerica 0 paradoxa de seu funcionamento no qual ela sempre faz
referencia ao desejo do outro numa busca incansavel, e se oferece a esse outro como
objeto deste desejo, ou seja, ela esta sempre cavando uma falta no outro e com isso
um lugar para ocupar.
A sua fala nao se autoriza em S1, que e 0 significante mestre, significante falice,
que fal categoria do lado masculina, ou seja, aquele que forma cia sse do lado
masculino da SeXUa9aO. Perante isso, TEIXEIRA (1988, p.22) dil que:
Ela eo levada a recalcar a 81, nao podendo, como 0 menino, autorizar*se desse significante.Melman nos diz que ela vai entao buscar sua autorizacao em outra parte, identificando*se ao S2:ela nao tern a falo, mas ela e a falo. Se como resultado da metafora patema, 0 falo e elevado aposi9ao de significante do desejo, do desejo do Outro, identificar*se ao falo e, para uma mulher,colocar·se como desejavel para urn homem. Assim e a mulher por tras do seu veu: e a ausenciado penis que a faz, objeto de desejo.
A histeria se origina por meio do recalcamento de uma ideia incompativel, de
uma motivacao de defesa. Segundo esse ponto de vista, a ideia recalcada persistiria
com 0 trac;o mnemico fraco, enquanto 0 afeto dela arrancando seria utilizado para uma
15
inversao somatica, au seja, a excita~o e convertida em sintoma fisico. "Sabemos que,
ao longo dos seculos, a histerica oferece ao olhar da medicina 0 espetaculo de um
corpo doente, que parece dos mais diversos sofrimentos" (TEIXEIRA, 1988, p.27).
o sintoma histerico esta no lugar da castra<;ijo que nao foi simbolizada.
Simbolizar 0 falo e talar da Falta e que esta falta e real, au seja, torna-Io significante,
com iS50 a histerica utiliza seu corpo para Falar no lugar daquilo que nao esta
historicizado nela. "0 sintoma e 0 retorno do recalcado".(FREUD, 1924, p.57)
Para FREUD (1925, p.252) 0 sentimento de inferioridade, de menos valia, e
interpretado e compreendido como urn sintoma e, esta inteiramente relacionado com a
perda de amor e a castraC;80 vivida pela crianc;a.
Segundo LAPLANCHE e PONTALIS (1991, p. 174), a ambivalencia pode ser
encontrada em algumas afec,oes e em certos estados de ciume e luto. FREUD (1924,
p.195) atribui a ambivalencia ao conflito edipiano, uma vez que este e concebido por
urn uamor fundamentado e urn 6dio naD menos justificado ambos dirigidos a mesma
pessoa". Esta ambivalencia aparece na busca de satisfa9fto atraves da escolha de
objetos amorosos.Considera-se sabido que 0 sujeito para a PSicanalise, e urn sujeito faltante,
portanto nao ha um objeto ideal, capaz de obturar toda a lalta. Fundamentalmente e
isso que leva 0 sujeito a desejar.
A histerica deseja na verdade transformar seu desejo em desejo insatisfeito
porque ela precisa velar e revelar que ha um desejo insaciavel. Por mais que se
realize, ele nao a sacia.
A histerica pode, enta~, pouco se devotar, rivalizar com os homens, porque se
coloca do lado daquele que sabe, fazenda 0 papel de hamem alienanda neste, a saber
sobre seu corpo.
Nao se pade negar a fate de que as experiencias da infancia deixam marcas nao
erradicaveis nas profundezas de nossa mente. Aquilo que pare,a importante devido a
seus efeitos imediatos ou diretamente subseqOentes e recordado, e assim evidencia
(par ter side retido na mente) que produziu impress6es naquele momenta.
A recorda,ao de um passado remota e em si, lacilitada por algum tipo de gozo, 0
de manter a sintoma, au seja, de procurar a qualquer preco, ate mesma de uma
insatisfaQ8,o encontrar 0 seu lugar.
Em LAPLANCHE e PONTALIS (1991, p. 254), "a psicanalise atribui a lembran,a
encobridora uma grande importancia, na medida em que condensa grande n"mero de
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elementos infantis reais ou fantasisticos. As lembranyas encobridoras contem naa 56alguns elementos essenciais da vida infantil, mas verdadeiramente todo 0 essenciar.Faz-se necessario, param, expJicita-lo com 0 auxilio da analise, uma vez que estaslembranyas representam as anos esquecidos da infancia.
FREUD (1899, p. 302) em seu texto Lembran,as encobridoras diz que ·0
histerico habitual mente mostra uma amnesia em relacao a algumas ou todas as
experiemcias que leva ram a instalacao de sua doeny8, as quais tarnam-se importantespara ete",
Na histeria 0 sujeito "se inscreve em uma ordem que prescreve queixar-se e naa
desejar" (CHEMAMA, 1987, p. 97). A queixa, quando procuram uma escula "evidencia
duas formas clfnicas aparentemente paradoxa is; uma delas e a forma depress iva naqual 0 sujeito vive como estranho ao mundo e recusa toda assertividade e lodo
engajamento, e a outra e aquela na qual 0 sujeito faz de seu sacriffcio 0 sinal de umaeleil'ao" (CHEMAMA,Roland.p.97).
Fala-se de estrutura clinica referindo-se aquela discursiva que se escuta pel a
ordemda linguagem.(LACAN,1988, p. 35)
Do Edipo sabe-se que ha quem jogue com 0 esquema do lerceiro excluido.
Enquanto colada a mae, a crianc;aocupa urn lugar de falo irnaginario. Com a entradado Nome do Pai que vai colocar urna ameaya de corte nesta relaC;ao,como ameac;a decastrac;ao,privando assim esta mae de fagocitar sua cria ° que redunda em frustrac;aocrianc;a,privandotanto a mae como a crianya desta relaC;aode suposta completude.
A filha excluida rompe as rela,oes incestuosas com a mae e dirige seu olhar
para aquele que a mae deseja. Desta leila a filha passa a eslabelecer com 0 pai amesma relac;aoque ela tinha com a mae, porem, hit uma diferenc;a, ela esta marcadapelacastrac;ao.
Entre a mae e 0 pai configura-se uma relat;ao de amor e sexo, fazendo com queesta filha passe a ser a terceira excluida.
A histeria demonstra a busca par urn lugar e aquele que tern 0 maior amor damae, torna-se a maior rival desta filha, configurando a parceria entre a histeria e afeminilidade. Para exercer essa feminilidade ela deve entao se acalmar, resignar-sedesta ferida narcfsica e identificar-se com esse objeto de relac;aodo pai, ou seja, com amae, ainda que a mae nao seja apenas mae, e sim mulher e rival. Esta crianc;aentaose descobre sem aquele pedacinho a mais de prazer, carente, sem 0 penis.
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Para tentar se resolver, essa men ina entao, ao inves de ficar nesse lugar se
rivalizando, ela vai resignar-s8 usufruindo dessa identificac;ao e procurar um parceiro,
porem suas escolhas serao feitas desde este lugar de excluida, de pobre coitada e
insatisfeita. A duvida e companheira inseparavel dos neur6ticos.
Justamente a angustia desta duvida e que leva 0 sujeito a buscar uma analise.
Se para a histerica 0 que Ihe privaram e justa mente 0 objeto de desejo edipiano, au
seja, 0 falo, entao sobre 0 seu desejo tambem nao e ela quem detem 0 saber e sim 0
Outr~. Este que ela supoe saber a resposta ao enigma da origem e do processo do
desejo em questao. Sendo que para ela 0 analista tambem vai ocupar este lugar de
saber sabre e1a.A pSicanalise 56 pode acontecer na transferencia, e esta, e sempre do sujeito,
cnde ele mesma reconstr6i sua hist6ria e des vela 0 seu desejo.
No processo analitico e feita a reconstruc;ao da hist6ria do sujeito a qual S8
funda sobre 0 arnor e seus fracassos. No trabalho analftico a interpretac;:ao 56 pode ser
dada depois que 0 "amor" entre a analista e a analisando esta constituido. Amor este
que e reconhecido por FREUD (1912, p. 185) na transferencia, como sendo um
deslocamento de afeto de uma representa~o para outra. Ele afirma que e a rela~o do
paciente com as figuras parentais que sao revividas na transferencia, principal mente
atraves da ambivalencia entre amor e 6dio.
Na transferencia analitica vai ocorrer a repetiryao da posi~o que 0 sujeito ocupa
na sua vida social. 0 lace> transferencial estabelecido entre ana1ista e analisando
possibilita a analise e a interpretaryao. 0 que funda a transferencia e utilizada na
analise para a dire~o da cura. Nas demais relary6es que 0 sujeito estabelece hi!
transferencia, mas estas relaryoes sao ditas sociais.
LAPLANCHE e PONTALIS (1991, p. 126) diz que "a transferencia na sua forma
positiva ou negativa entra a servi90 da resistElncia, mas nas maos do analista torna-se
o mais poderoso dos instrumentos terapeuticos e desempenha um papel que nao pode
deixar de ser hipervalorizado na dinamica do processo de cura".
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CONCLUSAO
Mas afinal 0 que e Histeria? Segundo Nasio (NASIO, 1991 ,p.15)
A hisleria nao e, como sa costuma acreditar, uma doen98 que afeta urn individua, mas 0 estadodoentio de urna relaq.ao humana que assujeita uma paSsoa a oulra, A hisleria ii, antes de maisnada, a nome que damos ao lavo e aos nos que 0 neur6tico lece em sua relayao com as Quirosa partir de suas fantasias. Formulernos i550 com clareza: 0 hislerico, como qualquer sujeitoneur6lico, e aquele que, sem ter conhecimento dis so, impOe na relay80 afetiva com 0 outro a16gica doantia de sua fantasia incon$cienle. Urna fantasia em que ele desempenha a papal deuma vitima infeliz e constanlemente insatisfeita
Para a Psicanalise a castrat;ao inscreve no sujeito uma falta que tern urn sentido
construtivo e estruturante. A lalta constitui 0 sujeito. Nao e possivel supri-Ia, pois, 0
objeto que ira completa~la total mente ja foi perdido desde sempre; e isso impulsiona, ao
desejo. E esta "brecha" que abre a possibilidade do simb61ico e a dimensao da palavra,
na busca pela satisla"ao e pela completude.
Poderia~se entao dizer que 0 desejo e urn desejo de nao desejar, de encontrar
um significante que tape 0 furo. Porem, e justa mente neste movimento que surge a
angustia, pais, 0 sujeita nao safre parque e um furo e sim par tentar tampana-Ia. Pais, 0
que nunca se inscreve e justamente 0 significante talico, aquele que fecharia
completamente a falta, um significante que mate 0 desejo.
o que se tern a fazer e assumir a falta como estruturalmente insubstituivel e
lazer dela 0 lugar do outro enquanto pr6ximo e semelhante. Esta lalta abre caminho
para que 0 sujeito se torne desejante.
Contudo, e exatamente isto que nao ocorre na histeria, pois ao passar pel a
castracao quando percebe a castracao da mae a men ina sente nao angustia como 0
menino e sim 6dio e ressentimento para com a mae, e a vagina acaba se configurando
como a lalta de um falo que deveria ler estado ali.
Mais do que atraida, a histerica se sente traida pelo talo, tendo passado da
mesma forma que °menino pela fase falica e pela castracao ela nao herda com ele 0
reconhecimento simb61ico do pai, a marca que Ihe garantiria pertencer a uma cia sse,
uma filia"ao. Por que ela deveria renunciar a posicao lillica sem ganhar nada em troca?
Do seu sentimento de ter sido lesada deriva a sua posic;ao reivindicat6ria: doravante
seus sofrimentos, suas queixas, serao uma demanda perpetua de reconhecimento
simb61ico dirigida ao pai.
Para a psicanalise esta incapacidade de metaforizar urn objeto de deseja se
traduz na nao aceita"ao do limite da castra"ao que impoe ao desejo a possibilidade de
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se realizar somente atraves do "goza faliee" que requeira 0 semblante como objeto.
Esse acesso aD goza 56 e passivel mediante a apropria~o do Nome do Pai, porem a
histerica 0 trata como se ele nao a tivesse convencido.
Isto ocorre porque a histerica nao pade suportar que a Lei Simb61ica 56 possa
ser transmitida atrav8S de urn preceito imaginaria onde 0 transmissor assegura para si
um goza falica. 0 pai ao interditar a mae como goza do Outro a conserva para si como
gozo Faiico, a histerica sente-se injustil'ada por nao ter recebido nada a altura em traea
desta interdicao, como no case os meninos que Mrecebem" au Mpermanecem" com 0falc. A partir de enta~ comet;a a classificar como insuficiente 0 goza falico sem se dar
conta que e somente a partir da submissao as condir;oes de castra98.o que se imp6e a
este goze que realmente e limitado que ela poderia aceder a um gozo suplementar e
desta vez feminino.
Pode-se dizer que a histerica ocupa 0 papel de terceira excluida e este fato de
sentir-se deixada de lado que muitas vezes a torna tao triste. Este e 0 unico lugar que
pode ocupar em que ela se reconhece e por isto vivencia as rna is diversas
experiencias, mas aonde sempre no final das contas vai se perceber como aquela que
ficou fora do jogo, a parte excluida.
Nesta tristeza identifica-se com a propria insatisfacao, nao e homem nem
mulher. "A tristeza do eu histerico corresponde ao vazio e a incerteza de sua identidade
sexuada." (NASIO, 1991 p.19)
Dar 0 Wstatusn a urn objeto implica em reconhecer tambem, a lugar que 0 sujeito
ocupa. Isto e 0 remete e a confirma urn lugar de excluido, como foi inicialmente. Esta
condi,ao de exclusao cabe como para todos os neur6ticos no desfecho do Complexo
de Edipo. Porem, no caso da histeria pode-se dizer que esta posi,ao nao foi superada,
levando 0 sujeito a nao reconhecer seu lugar, sua falta e, portanto sua condiC;:8o
feminina.
Segundo NASIO (1991, p. 56) "Tomado pela angustia de perder aquilo que
considera essencial para si - seu falo - ele se perde na canfusao de nac saber se e
homem au mulher. Numa palavra, 0 universo falico constitui 0 mundo angustiante em
que se debate constantemente 0 sujeito histericon•
Quando a histerica tala de uma outra, fala daquela que possa gozar em seu
lugar, que ocupe 0 lugar entre ela e seu objeto de amor, como aquela que sabe ser
mulher, ser desejante, que ao reconhecer a falta, da ao homem 0 lugar de potente e
viril com capacidade de preencher essa falta feminina.
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Todavia e no simb61icoque vai se determinar a sexualidade, que S8 da somenteatraves do dito. Simbolizar 0 sexo da mulher e derrubar todas as fantasias que ela tem
sabre 0 que pensa que "e ser mulher".
Este processo de simboliza~ao e possibilitado pela analise. Fazer analise ereconstruir sua hist6ria, e nesta trajet6ria 0 sujeito vai se desindentificancto dos objetos
com os quais se identificou durante sua vida. Eo um assujeitamento do sujeito a
castracilo, suportar que 0 furo existe e nao pode fazer nada para tampona-Io, ou seja, e
nao esperar nada de ninguem nas situar;::oes em que houver angustia e sim saber lidarpar si nestas situayees.
No final da analise 0 sujeito goza da falta, porque ela e a propria liberdade por
nao precisar repetir aqui e la e entao poder e ir para todo e qualquer lugar.
Para concluir pade-se dizer que final de analise e deixar a posic;ao de objeto e
tomar-se verdadeiramente um sujeito, e poder depois de muito tempo escolher,
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