ofício contra o pátio brasil
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Ofício ao Ministério público contra o shopping Pátio BrasilTRANSCRIPT
Brasília-DF, em 08 de maio de 2009.
OFÍCIO Nº 07/2009 ASSUNTO: SUICÍDIO NO SHOPPING PÁTIO BRASIL PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS
Senhor Chefe do Ministério Público,
Considerando a competência do Ministério Público na
defesa dos interesses sociais e dos interesses individuais indisponíveis,
adotando as medidas que forem necessárias para garantir o respeito dos
Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados pela Constituição Federal, sobretudo na área de saúde pública e
segurança pública, com o máximo respeito e admiração, venho à presença de
Vossa Excelência solicitar que sejam tomadas providências pelo Parquet do
Distrito Federal com relação aos casos de suicídio que têm ocorrido nesses
últimos anos, em grau crescente, no interior do Shopping Center Pátio Brasil,
localizado no início da Asa Sul, em Brasília, sem que, aparentemente, tenha
sido tomada qualquer providência eficaz da parte da administração daquele
Shopping, seja na área de segurança, seja na área arquitetônica, para inibir a
ação de suicidas no interior daquele centro comercial.
Ao Excelentíssimo Senhor Doutor LEONARDO AZEREDO BANDARRA Digníssimo Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios Ministério Público do Distrito Federal e Territórios Nesta
Há poucos meses, fui passear com a minha esposa e um
filho de 16 anos no Shopping Pátio Brasil, e todos nós tivemos a infelicidade de
testemunhar a ocorrência de um suicídio naquele local. Estávamos na praça de
alimentação, no quarto andar, quando um jovem pulou daquele piso para o vão
interno do shopping. Muitas pessoas que presenciaram o suicídio passaram
mal, inclusive mulheres grávidas.
Poucos dias depois, em um outro passeio ao Pátio Brasil,
fui informado, no local, que outro jovem tinha acabado de cometer o suicídio no
interior do shopping, também pulando do quarto andar para o vão central.
Eu e minha esposa ficamos muito preocupados com o
novo caso de suicídio. Falamos que parecia que o shopping estava se
transformando na “Nova Torre de TV”, a qual já foi palco de suicídios em
Brasília, mas deixou de ser depois que o Governo mandou instalar grandes de
proteção no local.
Após testemunhar esses casos de suicídio, passei a
indagar de funcionários do shopping se a administração estava tomando
alguma providência para inibir os casos de suicídio. Algumas pessoas me
disseram que o shopping apenas tinha aumentado o número de seguranças no
quarto andar.
Todavia, a solução do problema não depende apenas do
aumento do número de seguranças na praça de alimentação, de onde os
suicidas mais têm pulado.
Creio que tem razão o Senhor Marcos de Alencar Dantas,
cujo filho Pedro Lucas, cometeu o suicídio há poucos dias naquele shopping,
ao sugerir que seja feita uma mudança arquitetônica no centro comercial. Em
carta publicada na imprensa e na internet, ele diz: “A solução é simples: uma
grade, rede ou tela de proteção, vidro ou até mesmo um parapeito mais alto
resolve. O parapeito do lugar de onde meu filho saltou tem apenas 1,20 m de
altura, já é um risco para qualquer adulto, imagine para uma criança que
inocentemente brinca. Eu tenho certeza que essas medidas não prejudicariam
a estética ou o lucro do local.” (documento em anexo).
Diante das notícias de que tem crescido o número de
suicídios naquele shopping, resolvi solicitar, por meio de ofício, informações à
Polícia Civil do Distrito Federal. Em 24 de abril passado, recebi resposta do
Senhor Diretor do Instituto de Criminalística do Distrito Federal, Dr. Celso
Nenevê, comunicando-me que entre 20/02/2001 e 02/03/2009, ocorreram 06
(seis) suicídios no interior e nas adjcacências do Shopping Pátio Brasil (cópia
do documento em anexo). Mas, segundo foi amplamente divulgado pela
imprensa, nos últimos 10 (dez) anos teriam ocorrido no Pátio Brasil 12 (doze)
casos de suicídios.
Em face desse alarmante número de suicídios, verifica-se
que a questão deixou de ser apenas caso de saúde pública mas passou a ser
caso de segurança pública, eis que o suicida, ao praticar o ato, jogando-se de
certa altura, corre o risco de cair sobre alguma pessoa, causando-lhe graves
lesões ou até mesmo a morte. Essa possibilidade existe e tem causado muito
medo nas pessoas que freqüentam o Pátio Brasil. Eu e minha família, por
exemplo, sempre que entramos naquele shopping, ficamos com medo e
sempre olhamos para o alto para checar o ambiente. A sensação é a de que a
qualquer momento alguém vai pular para o vão do shopping, podendo cair
sobre alguma pessoa.
Sobre o angustiante problema, que é de interesse público,
peço licença para transcrever parte do texto de autoria de Cláudio Avelar,
Presidente do Sindicato dos Policiais Federais no DF, publicado na Tribuna do
Brasil, em 07/05/2009:
“Brasília tem sido palco, nos últimos anos,
de uma série de suicídios. Sendo a campeã em
números proporcionais e onde houve, em absoluto, a
maior quantidade de mortes em Shopping Centers,
com nada menos que doze mortes registradas. Deve
ser ressaltado que pode ser ainda maior o número,
pois as estatísticas podem não ter sido atualizadas.
Quer dizer que pessoas se matam em
lugares públicos e na realidade ninguém faz nada de
concreto. Afirmo e reafirmo, pois no Pátio Brasil,
pessoas, na maioria jovens, tem se matado partindo
do mesmo lugar e tudo continua igual, inclusive o
pacto de silêncio que impera entre administração,
lojistas e funcionários.
O suicida, na verdade, é alguém que, por
algum motivo, sofre pressão tão grande, que não
suportando, não vê outra saída senão dar fim à
própria vida. Os estudos demonstram que, na maioria
dos casos, antes de agir em definitivo, vários sinais
são passados para aqueles com os quais se
relaciona, mas nem sempre são percebidos ou
interpretados.
Esses mesmos estudos afirmam que poderá
ser refeito o ciclo, se a tentativa, ou tentativas de
tentar dar fim à sua vida, for interrompido. Ou seja,
quer dizer que quando não conseguir se matar,
poderá repensar a decisão e desistir da morte, ante a
dificuldade e reiniciar os seus dias.
Não consigo acreditar que na Capital
Federal, pessoas se matem, pulando da torre do mais
famoso centro comercial do Plano Piloto e as
autoridades públicas se omitam respaldadas em
laudos ou supostas normas técnicas que permitiriam
que as atividades continuassem sem que mudanças
fossem feitas.”
Senhor Chefe do Ministério Público, estou convicto de que
muitas mortes poderão ser evitadas no interior daquele shopping se forem
tomadas medidas concretas, assim como ocorreu na Torre de TV após a
implantação de grades no local. Acredito, no entanto, que somente mediante
determinação judicial essas medidas concretas serão implementadas no
shopping.
Encaminho a Vossa Excelência, em anexo, alguns artigos
colhidos na internet, informando que no Brasil a taxa de suicídios é de 4,5
casos por 100 mil habitantes, e que os suicídios podem ser evitados havendo
prevenção na área da saúde pública e também na área de segurança pública.
Confiante de que o Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios tomará as medidas que forem necessárias para minorar os casos de
suicídio no interior do Shopping Pátio Brasil, agradeço pela atenção de Vossa
Excelência.
Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI Membro da 2ª Turma Criminal do TJDFT