oficina carlito azevedo - exercícios

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Exercício 1 1 - Pegue um poema de algum poeta de sua preferência e insira nele uma estrofe inteira de sua autoria... depois, pegue sua estrofe e faça o seu próprio poema... SEGREDO (Carlos Drummond de Andrade) A poesia é incomunicável. Fique torto no seu canto. Não ame. Ouço dizer que há tiroteio ao alcance do nosso corpo. É a revolução? o amor? Não diga nada. Seres incorpóreos perambulam entre escritos diários e testemunhais. Proclamam verdades e estilos. Nonada. As confissões são fictícias. Não leia. Tudo é possível, só eu impossível. O mar transborda de peixes. Há homens que andam no mar como se andassem na rua. Não conte. Suponha que um anjo de fogo varresse a face da terra e os homens sacrificados pedissem perdão. Não peça. SEGREDO MODERNO As leis fluorescem em outdoors, popups e vírus indesejáveis. A rosa dos ventos é um instrumento sem sentido. Sem poesia. As leis são trending topics de última hora. Não se entregue. Cada essência é um número único. Cadastrado, gravado, usado, distribuído, para um sem número de coisas despropositadas.

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Poesia, oficina literária Carlito Azevedo

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Exerccio 1

1 - Pegue um poema de algum poeta de sua preferncia e insira nele uma estrofe inteira de sua autoria... depois, pegue sua estrofe e faa o seu prprio poema...

SEGREDO (Carlos Drummond de Andrade)

A poesia incomunicvel.Fique torto no seu canto.No ame.

Ouo dizer que h tiroteioao alcance do nosso corpo. a revoluo? o amor?No diga nada.

Seres incorpreos perambulamentre escritos dirios e testemunhais.Proclamam verdades e estilos.Nonada. As confisses so fictcias.No leia.

Tudo possvel, s eu impossvel.O mar transborda de peixes.H homens que andam no marcomo se andassem na rua.No conte.

Suponha que um anjo de fogovarresse a face da terrae os homens sacrificadospedissem perdo.No pea.

SEGREDO MODERNO

As leis fluorescem em outdoors, popups e vrus indesejveis.A rosa dos ventos um instrumento sem sentido. Sem poesia.As leis so trending topics de ltima hora.No se entregue.

Cada essncia um nmero nico.Cadastrado, gravado, usado, distribudo,para um sem nmero de coisas despropositadas.No entenda.

Seres incorpreos perambulamentre escritos dirios e testemunhais.Proclamam verdades e estilos.Nonada. As confisses so fictcias.No leia.

Pedem que compartilhe seus dirios, amores, a vida...Para num cadinho serem curtidos at fermentar e feder.Todo segredo notcia de primeira pgina.No ceda.

Convites surgem com diversos intentos,gritam a necessidade do seu aceite, imploram sim.A vida agora feita de convites, mas no h celebraes.No se menospreze.

Coma poesia enquanto h.Pois haver o dia que at a poesia ser mais um post s traas.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Exerccio 2

1 - Um EU todo retrico. Faa um poema que voc escreve seu nome prprio, como nos inmeros exemplos aqui mostrados. Tente observar se ao escrev-lo voc est apresentando uma abordagem auto-crtica ou auto-celebratria, auto-piedosa ou auto-cruel, ou seja, se esta vendo seu nome sob um prisma olmpico ou da inviabilidade.

QUANDO O POEMA ME FALOU

Renan, pisciano de meia tigela.Quer racionalizar o mundo, analisar as falas, auscultar os seres...Teu corao bobo! Teu sorriso frouxo! No os segure. No os prenda.Acredite, vale pena crer, no que quiser crer.

Tua infncia passado de separaes, porm, a quanto sonhos no alimentou?Tua juventude rarefeita, mas dela, quantas flores no brotaram?Inclusive a poesia.Prender no fundo do Eu o Renan que no fundo , besteira intil.Seja voc a poesia que voc quer ter. Seu bobalho.

No se desespere! Ainda h crianas saboreando as letras.Voc bem sabe que o mundo mais instigante que os jornais e toda a mdia.Renan, muita razo, tambm caduca. No se caduque Renan.

Seja poesia, pois bem sei, que isso que no fundo quer!

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2 - Poema em vozes. Vale aqui soltar a imaginao. Escreve dilogos que ouviu na rua ou invente dilogos do modo que achar melhor... No h nenhum problema se voc quiser escrever at uma mini-pea (de no mximo duas folhas).

INSPIRAO x TRANSPIRAO

Um dia o poeta notou sobre os papis pequenos seres. Eram letras. O primeiro impulso foi de prend-las. Imprimi-las fora. Mas lembrou de outro poeta, mais sbio, e passou a contempl-las.

- O que faremos?- Ele j nos viu.- No far nada.- um intil mesmo.- Logo hoje que resolvemos nos mostrar.- Estamos todas aqui.- Prontinhas.- Olha a cara de bobo.- Ser que ele realmente entendeu o porqu disso tudo?- At o momento? Acho que no.- Vamos nos esticar um pouco mais.- Haja lirismo nisso aqui.

E as letras pulavam. Fadas encantadas. Brilhavam, cada uma a seu modo.O poeta era todo encanto. Mas todo firme na contemplao. No mexia um dedo sequer, respeitoso com as visitas.

- Olha, cansei disso tudo. O vagabundo no se mexe.- Comeo a concordar com voc.- H dias estava procurando o que escrever.- Nos demos o trabalho de entregar tudo.- Ele nem veio nos ver. Nem se aproximou.- Um acinte!- No quero mais esse poeta.- Quer saber, nem o considero mais poeta.- Ento vamos.- Vamos!

E as letras saram lindas pela janela. Passarinhos em poesia. O poeta, olhos marejados, sentiu-se privilegiado ante tal exibio nica. Com vigor levantou-se, caminhou at a mesa, tomou a caneta e passou o dia inteiro tentando escrever um poema sobre o que viu. Nada saiu.

Nunca mais comps desde aquele dia. Mas pelo menos aprendeu a lio.