obtenÇÃo, usinagem e desgaste de materiais
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INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGTICAS E NUCLEARES
Autarquia associada Universidade de So Paulo
OBTENO, USINAGEM E DESGASTE DE MATERIAIS COMPSITOS DE MATRIZ
METLICA PROCESSADOS VIA METALURGIA DO P.
EDILSON ROSA BARBOSA DE JESUS
Dissertao apresentada como parte dos requisitos
para obteno do grau de Mestre em Tecnologia
Nuclear - Materiais.
Orientador:
Dr. Jesualdo Luiz Rossi
SO PAULO
1998
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ii
memria de minha me
minha esposa
Aos meus familiares
eu dedico este trabalho.
... sem Mim nada podeis fazer
(Joo 15:5)
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iii
Agradecimentos
Deus pela presena constante.
Ao meu orientador Dr. Jesualdo Luiz Rossi, por ter acreditado no meu trabalho e
pela valiosa participao em todas as etapas do mesmo.
Ao CNPq pela concesso da bolsa de estudos.
Ao Dr. Lus Felipe C. P. de Lima, pelas orientaes e apoio iniciais.
Ao Dr. Arnaldo H. P. de Andrade, pelas discusses e sugestes na elaborao
dos textos.
Ao meu irmo Eng. Edson Souza de Jesus Filho pelo auxlio constante.
Aos colegas do MM e IEO que direta ou indiretamente participaram da elaborao
deste trabalho.
Ao Laboratrio de Ensaios da Faculdade de Engenharia Civil da Escola
Politcnica da USP, nas pessoas do Sr. Reginaldo Mariano da Silva e Srta Patrcia
Rodrigues de Freitas, pela utilizao do equipamento de ensaio para compactao dos
ps.
Ao Laboratrio de Caracterizao Mecnica do IPT, na pessoa do Dr. Marcelo
Gonalves pela utilizao da extrusora na fabricao do material utilizado na pesquisa.
Ao Laboratrio de Fenmenos de Superfcie da Faculdade de Engenharia
Mecnica da Escola Politcnica da USP, nas pessoas do Dr. Amilton Sinatora e MSc
Engenheiro Carlos Henrique da Silva pela utilizao do equipamento e auxlio na
conduo dos ensaios de desgaste.
Ao Laboratrio de Metalografia da Faculdade de Engenharia Metalrgica da
Escola Politcnica da USP, na pessoa da Srta. Mrcia Ribeiro pela utilizao de
equipamentos e auxlio na preparao de amostras.
A todo o pessoal da biblioteca do Ipen e Sra Cllia Megherditchian e Srta
Cludia F. de Lima da biblioteca da Faculdade de Engenharia Metalrgica da Escola
Politcnica da USP, pela colaborao e pacincia dispensadas.
minha esposa Valria Tomi K. de Moraes Jesus pela compreenso, apoio e
incentivo constantes e fundamentais para mais esta conquista.
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iv
OBTENO, USINAGEM E DESGASTE DE MATERIAIS COMPSITOS DE MATRIZ
METLICA PROCESSADOS VIA METALURGIA DO P.
Edilson Rosa Barbosa de Jesus
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi a obteno de compsitos de matriz metlica (CMM)
pela rota da metalurgia do p, e a avaliao destes quanto s suas caractersticas de
usinagem e desgaste. Inicialmente foram obtidos materiais compsitos de matriz de
alumnio comercialmente puro, com fraes volumtricas de partculas de reforo de
carboneto de silcio iguais a 5, 10 e 15 %. Foi obtida tambm uma quantidade de material
somente com o material da matriz (sem partculas de reforo) para que se pudesse
durante o trabalho, verificar por comparao a influncia da adio de material de reforo
na matriz. O material obtido foi caracterizado fsica (densidade hidrosttica), mecnica
(dureza, ensaios de trao) e microestruturalmente (microscopia ptica e microscopia
eletrnica de varredura). Os resultados mostraram para os materiais compsitos uma
distribuio homognea das partculas de reforo e melhoria das propriedades mecnicas
principalmente o limite de resistncia (LR) em relao ao material sem reforo. Na etapa
seguinte foram realizados ensaios para verificao do comportamento dos materiais
frente usinagem, e avaliao de desempenho de diversos materiais de ferramenta
(carboneto cementado, cermica e diamante policristalino). Nestes ensaios foram
coletados valores de fora de corte a partir de porta-ferramentas instrumentados com
medidores de deformao. Fenmenos tais como desgaste da ferramenta, formao ou
no de aresta postia de corte e formao de cavaco tambm foram observados e
avaliados. Os resultados encontrados nos ensaios com ferramenta de carboneto duro
sinterizado foram utilizados para a determinao dos ndices de usinabilidade de cada
material; estes valores foram ainda aplicados na equao de Taylor e as constantes da
equao para os materiais e condies de ensaio foram tambm determinadas. Os
resultados mostraram que a incluso de partculas de reforo cermico torna
extremamente difcil a usinagem desses materiais e, somente com ferramenta de
diamante foi possvel obter resultados satisfatrios. Na fase final foram realizados testes
de desgaste de efeito comparativo para verificao da influncia da adio de partculas
de reforo nas caractersticas de resistncia ao desgaste do material. Neste caso a
adio de partculas de reforo mostrou ser eficiente na melhoria da resistncia ao
desgaste de todos os materiais compsitos em relao ao material sem reforo.
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v
OBTAINMENT, MACHINING AND WEAR OF METAL MATRIX COMPOSITES
PROCESSED BY POWDER METALLURGY.
Edilson Rosa Barbosa de Jesus
ABSTRACT
The aim of this investigation was the obtainment of metal matrix composites
(MMC) by the route of powder metallurgy, and the valuation of these materials with
relation to their machining and wear characteristics. Firstly, were obtained pure comercial
aluminium matrix composites materials, with 5, 10 and 15% volumectric fraction of silicon
carbide particles. Was also obtained a material without reinforcement particles in order to
verify by comparison, the influence of adittion of reinforcement particles. The obtained
materials were characterized physics (hidrostatic density), mechanics (hardness and
tensile tests) and microstructurally (optical microscopy and scanning electron
microscopy). The results showed a homogeneous distribution of reinforcement particles in
the composite, and improvement in the mechanical properties, mainly tensile strength
(UTS) in comparison to the unreinforced material. After, tests were made to verify the
materials behavior during machining and to check the performance of several tool
materials (cemented carbide, ceramics and polycrystalline diamond). In these tests,
values of the cutting force were measured by instrumented tool-holders. Phenomena such
as tool wear, built-up edge formation and mechanism of chip formation were also
observed and evaluated. The results from the cemented carbide tool tests, were utilisated
for the machinability index determination of each material. These results were applied to
the Taylor equation and the equation constants for each material and test conditions were
determinated. The results showed that the inclusion of silicon carbide particles made
extremely difficult the machining of the composites, and only with diamond tool,
satisfactory results were obtained. At last, wear tests were performed to verify the
influence of the reinforcement particles in the characteristics of wear resistance of the
materials. The results obtained were utilized in the wear coefficient determination for
each material. The results showed an improvement in wear resistance, with the increase
in volume fraction of reinforcement particles.
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vi
NDICE
ASSUNTO
1 - Introduo..................................................................................................
2 - Fundamentos tericos..............................................................................
2.1 - Compsitos.........................................................................................
2.1.1 - Introduo...................................................................................
2.1.2 - Compsitos de matriz metlica (CMM)........................................
2.1.2.1 - Processos de fabricao.....................................................
2.2 - Usinagem............................................................................................
2.2.1 - Origens e conceitos....................................................................
2.2.2 - Desgaste da ferramenta..............................................................
2.2.3 - Usinabilidade...............................................................................
2.3 - Tribologia............................................................................................
2.3.1 - Origens e conceitos....................................................................
3 - Materiais e mtodos..................................................................................
3.1 - Obteno do material..........................................................................
3.1.1- Materiais.......................................................................................
3.1.2 - Procedimentos............................................................................
3.1.3 - Caracterizao fsica, mecnica e microestrutural do material
obtido.........................................................................................
3.2 - Ensaios de usinagem e usinabilidade.................................................
3.2.1 - Equipamento...............................................................................
3.2.2 - Foras de corte...........................................................................
3.2.3 - Usinabilidade...............................................................................
3.3 - Ensaios de desgaste...........................................................................
PGINA
01
03
03
03
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vii
4 - Resultados e discusso............................................................................
4.1 - Caracterizao fsica, mecnica e microestrutural do material obtido
4.1.1 - Caracterizao fsica...................................................................
4.1.2 - Caracterizao mecnica............................................................
4.1.3 - Caracterizao microestrutural....................................................
4.1.3.1 - Fractografia.........................................................................
4.1.3.2 - Metalografia........................................................................
4.1.3.3 - Dissoluo de amostras (extrao do reforo)....................
4.2 - Ensaios de usinagem e usinabilidade.................................................
4.2.1 - Desgaste da ferramenta..............................................................
4.2.2 - Foras de corte...........................................................................
4.2.3 - Aresta postia de corte...............................................................
4.2.4 - Formao de cavacos.................................................................
4.2.5 - Usinabilidade...............................................................................
4.2.6 - Equao de Taylor......................................................................
4.3 - Ensaios de desgaste...........................................................................
5 - Concluses................................................................................................
Sugestes para trabalhos futuros.................................................................
Referncias bibliogrficas.............................................................................
Anexos............................................................................................................
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74
75
80
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1 INTRODUO
Os materiais compsitos de matriz metlica tm se destacado nas ltimas
dcadas e tm atrado a ateno de pesquisadores e empresrios, principalmente dos
setores aeronutico e aeroespacial e mais recentmente do setor automobilstico. Estes
materiais se caracterizam normalmente por possurem propriedades mecnicas
superiores em relao a outros materiais convencionais aliadas, em alguns casos,
reduo de peso proporcionada pela utilizao de ligas leves em sua composio. A
tendncia na busca incessante pela reduo de custos e manuteno ou melhoria da
segurana de mquinas e equipamentos, indica que o nmero de aplicaes para este
tipo de material pode aumentar consideravelmente provocando um aumento na demanda
de produo dos mesmos.
As caractersticas de usinagem, mais especificamente a usinabilidade e tambm
as caractersticas de desgaste de determinado material, podem ditar a viabilidade ou no
da produo deste material em grande escala. A usinagem exerce forte influncia nos
custos finais de produo de determinada pea ou componente. O desgaste exerce sua
influncia na etapa aps a produo quando da aplicao (utilizao) destas peas e
componentes, podendo representar grandes dispndios financeiros em manuteno e
controle e, tambm, grandes prejuzos quando no feita manuteno ou quando ocorre
falha de controle.
Estudar e avaliar os fenmenos de usinagem e desgaste de materiais compsitos
de matriz metlica, significa entender melhor o comportamento destes novos materiais
durante a confeco de peas e componentes e s solicitaes que os mesmos estaro
sujeitos durante utilizao nos seus mais diversos campos de aplicao. Essa utilizao
implica na concepo (projeto) de variadas formas em que este material poder se
apresentar dependendo, claro, da necessidade de aplicao de cada uma delas.
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2
A materializao dessas formas pode se dar das mais variadas maneiras
possveis, sendo quase que imprescindvel porm, em praticamente todas elas, a
necessidade de pelo menos uma operao de usinagem para complementao e
garantia dos padres de dimensionamento e acabamento superficial estabelecidos no
projeto. Mesmo com mtodos de manufatura que possibilitam a obteno destas
praticamente acabadas "near net shape", como por exemplo nos mtodos de fabricao
via metalurgia do p, a necessidade da usinagem ainda no foi completamente
eliminada.
Da a importncia de que se avalie a usinabilidade de materiais compsitos de
matriz metlica e de que se compreenda melhor os mecanismos de desgaste envolvidos
no processo, propondo se necessrio o desenvolvimento de novos materiais de
ferramenta ou processos alternativos de usinagem. Isto para que se viabilize a produo
e utilizao destes materiais em larga escala, pela reduo dos custos nas operaes de
usinagem e na utilizao em campo de peas e componentes.
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3
2 - FUNDAMENTOS TERICOS
2.1 - Compsitos
2.1.1 - Introduo
Na busca constante pela melhoria do desempenho, que pode ser avaliada sob
vrios aspectos como reduo de peso, maior resistncia, maior resistncia ao desgaste
e melhor estabilidade trmica entre outras, os materiais normalmente usados j
alcanaram o limite de suas aplicaes. Neste sentido cientistas, engenheiros e
pesquisadores da rea de materiais esto constantemente trabalhando para melhorar o
desempenho dos materiais tradicionais ou desenvolver materiais completamente novos.
Materiais compsitos so um exemplo de novos materiais concebidos dentro desta
filosofia.
A idia de material compsito no recente. Compsitos naturais como por
exemplo a madeira e alguns outros compsitos sintticos tm sido usados pelo homem a
milhares de anos; porm, o desenvolvimento maior nesta rea ocorreu somente nas
ltimas dcadas. Segundo Chawla [1], pode-se considerar como origem da disciplina de
materiais compsitos o incio dos anos 60, sendo que grande parte das pesquisas e
desenvolvimento nesta rea comeou em meados da mesma dcada.
Existe muita divergncia quanto definio de material compsito, contudo
Schwartz [2] salienta que uma definio correta deve ser estabelecida em funo do nvel
de observao. O dicionrio define compsito como algo feito ou composto de vrias
partes ou elementos. Neste contexto, avaliando-se do ponto de vista atmico e molecular
todo e qualquer material poderia ser classificado como um compsito, visto que
composto por vrios tomos e molculas. Para que se possa definir melhor o termo
compsito dentro do campo da engenharia metalrgica e de materiais, necessrio que
se faa uma avaliao menos abrangente.
Schwartz [2], subdivide o sentido amplo fornecido pelo dicionrio em trs nveis de
definio:
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- No nvel bsico ou elementar todo material composto de dois ou mais tomos
diferentes pode ser considerado um compsito. Neste nvel pode-se incluir as misturas,
ligas, polmeros e cermicas. Apenas elementos puros podem ser excludos.
- No nvel microestrutural, incluem-se materiais compostos de dois ou mais
cristais, estruturas moleculares ou fases diferentes. Por esta definio muitos materiais
considerados monolticos ou homogneos podem ser classificados como materiais
compsitos. Aos e ligas multifase de carbono e ferro podem ser compsitos.
- No nvel macroestrutural o que se caracteriza so formas estruturais ou
constituntes grosseiros, isto , matrizes, partculas, whiskers e fibras que podem na
grande maioria das vezes ser distinguidos a olho n.
Os materiais compsitos caracterizados pelo nvel de observao macroestrutural,
so os responsveis pela recente revoluo tecnolgica na rea de novos materiais.
Somente a observao do ponto de vista macroestrutural ainda no suficiente para que
se possa definir perfeitamente estes novos materiais. Para tanto, necessrio considerar
ainda segundo Schwartz [2] duas outras caractersticas muito importantes na
identificao destes materiais. Primeiro, os constituintes individuais que formam um
compsito so quase sempre diferentes quimicamente; segundo, eles so
essencialmente insolveis entre si. Chawla [1] coloca algumas outras caractersticas
igualmente importantes, que podem ser adicionadas s de Schwartz [2]; primeiro, o
material compsito um material fabricado (isto , compsitos que ocorrem naturalmente
como a madeira so excludos); segundo, consiste de duas fases qumica e/ou
fisicamente distintas devidamente arranjadas ou distribudas com uma interface de
separao entre elas; e finalmente, esses materiais tm caractersticas diferenciadas das
dos seus componentes isoladamente. Matthews e Rawlings [3] destacam uma outra
caracterstica que se diferencia das anteriores, e que tambm bastante importante; os
constituintes desses materiais tm normalmente que estar presentes em propores
razoveis, maiores que 5 %.
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Feitas as devidas consideraes, Schwartz [2] define material compsito como
sendo um sistema de materiais composto de uma mistura ou combinao de dois ou
mais macroconstituintes que se diferem na forma e/ou composio e so essencialmente
insolveis entre si. Chawla [1], define como sendo materiais consistindo de dois ou mais
materiais fsica e/ou qumicamente distintos arranjados ou distribudos de maneira
conveniente.
Nestes materiais, uma das fases normalmente mais dctil se apresenta em maior
proporo sendo comumente denominada matriz. A fase ou fases complementares
apresentam-se em menor proporo, na maioria dos casos mais dura do que a matriz e
normalmente denominada reforo. Existe uma quantidade enorme de possibilidades
de caractersticas que podem ser usadas para a classificao de materiais compsitos,
contudo, de modo geral eles so classificados de acordo com o tipo de reforo e
orientao dos mesmos (figura 1.2).
Figura 1.2 - Exemplos de materiais compsitos: (a) particulado, randmico; (b) fibrasdescontnuas, unidirecional; (c) fibras descontnuas, randmicas; (d) fibras contnuas, unidirecional(adaptao) [3].
2.1.2 - Compsitos de matriz metlica (CMM)
O incio das pesquisas no campo de materiais compsitos foi marcado em
particular por um grande nmero de estudos e aplicaes em compsitos de matriz
polimrica, dcadas de 70 e 80. A idia evoluiu, e com o passar do tempo intensificou-
se tambm o nmero de pesquisas e aplicaes em compsitos de matriz metlica e
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cermica, devido possibilidade de poderem ser usados a temperaturas mais altas
(figura 2.2) [4].
Figura 2.2 - Mapa de desempenho de vrios materiais de engenharia , em termos de temperaturade operao ( C) e relao resistncia/peso (adaptao) [5].
Os materiais compsitos de matriz metlica tm muitas vantagens sobre os
materiais convencionais, tais como: maiores limites de resistncia mecnica e mdulo de
elasticidade, melhores propriedades a altas temperaturas, baixo coeficiente de expanso
trmica e melhor resistncia ao desgaste, entre outras (figuras 3.2 e 4.2). E graas a
estas propriedades estes materiais podem ser usados em um grande nmero de
aplicaes (tabela 1.2).
Md
ulo
de e
last
icid
ade
AlumnioAl-20 % Al2O3Al-20 % SiC
Al-50 % SiCAl-30 % CAl-50 % BAl-30 % B
Partculas, fibras curtas (whiskers) Fibras contnuas/longas
Figura 3.2 - Efeito da quantidade de reforo sobre o mdulo de elasticidade do alumnio(adaptao) [3].
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7
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0 0,2Expanso (%)
Tem
pera
tura
(oC
)
Al-SiC(p)Mg-Al2O3AlMg
0,4 0,6
Figura 4.2 - Comparao da expanso trmica de metais em relao aos CMM (adaptao) [3].
Tabela 1.2 Exemplos de materiais compsitos de matriz metlica (CMM) para aplicaesaeroespaciais [3].
Matriz Reforo Aplicao
Cu C cmara de combusto
SiC nariz (foguete, lanadores)
W NASPa- Trocadores de calor
Fe W tanques
Ni e intermetlicos Al2O3W
lminas, discos
lminas, discos
Ti e intermetlicos SiC alojamentos, tanque
TiB2 lminas, discos
TiC cabos
Al SiC alojamentos (bombas, instrumentao),
conectores mecnicos, satlite, estruturas
Al2O3 fuselagem
C membros estruturais
SiC anis, lminas
Mg Al2O3 membros estruturais
a Hipersonic American National Aerospace Plane
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Os compsitos de matriz metlica podem ter uma variada combinao de
elementos de matriz e reforo dependendo da aplicao e propriedades que se deseja
obter. Entretanto, devido a principal aplicao ser estrutural buscam-se elementos mais
leves e mais resistentes e utilizam-se normalmente materiais que apresentam baixas
densidades (vide tabela 1.2). Nestes materiais, o reforo normalmente um material
cermico, embora possa ocorrer tambm por exemplo, a utilizao de metais.
Clyne e Withers [6], subdividem os CMM de acordo com os tipos de reforo que
os constituem, que podem ser contnuos (fibras longas), descontnuos (fibras curtas e
whiskers) e particulados. Acrescentam ainda que outras distines podem ser feitas
com base no dimetro das fibras, orientao e distribuio do reforo.
Fibras contnuas Whiskers / fibras curtas Particulados
Figura 5.2 - Descrio esquemtica dos trs tipos de CMM, classificados de acordo com o tipo dereforo [6].
2.1.2.1 - Processos de fabricao
Uma srie de tcnicas de processamento tm sido estudadas e utilizadas com o
objetivo de otimizar a microestrutura e as propriedades mecnicas de compsitos de
matriz metlica; entretanto, existe uma certa divergncia quanto classificao destes
processos. Matthews e Rawlings [3], classificam os processos de fabricao de CMM
dentro de quatro grupos bsicos: a) estado slido, b) estado lquido, c) deposio e d) in
situ. Cada um destes mtodos se diferencia dos demais, basicamente pela forma em que
a matriz se encontra no momento em que colocada em contato com o reforo, e
tambm pela rota seguida at a consolidao efetiva entre as partes.
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Segundo Srivatsan, Ibrahim, Mohamed e Lavernia [7], os mtodos de
processamento utilizados na fabricao de compsitos de matriz metlica, mais
especificamente aqueles com reforo particulado, podem ser agrupados de acordo com a
temperatura em que o material da matriz se encontra durante o processo.
Consequentemente podem ser divididos em trs categorias: (1) processos de fase slida;
(2) processos de fase lquida; (3) processos de duas fases (slido/lquido).
No processo de fase lquida, o material de reforo incorporado dentro da matriz
fundida usando-se vrias tcnicas as quais normalmente envolvem mistura e eventual
fundio da mistura resultante em forma de componentes ou tarugos para posterior
retrabalho. No processo de fase slida, os materiais da matriz e do reforo so
adicionados na forma de ps envolvendo uma srie de estgios antes da efetiva
consolidao do material. Processos de duas fases envolvem a mistura de material de
reforo e matriz onde o material da matriz encontra-se em fases lquida e slida.
Ambrozio Filho, Rossi, Gonalves, Goldenstein, Souza e Yoshimura [8], adotam
uma classificao mais abrangente e dividem os processos de fabricao de CMM em
duas categorias bsicas: processos com fase lquida e processos em estado slido.
Dentro da classificao proposta por Ambrozio Filho et alli [8], alguns processos
podem ser exemplificados. So eles: a) via metal lquido ("compocasting", co-deposio
por "spray" e infiltrao entre outros) e b) via metalurgia do p. Clyne e Withers [6],
nomeiam todos os processos citados anteriormente, como processos primrios de
fabricao. Alguns desses processos, exigem uma fase complementar que envolve
normalmente transformao termomecnica como extruso, laminao ou forjamento. A
estes processos, eles do o nome de processos secundrios.
a) Fabricao via metal lquido
Na fabricao via metal lquido, a produtividade maior. No h necessidade da
utilizao de prensas ou matrizes metlicas (exceto se for utilizado o processo squeeze-
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casting como ser visto mais adiante), possibilitando menores custos de produo e
maior produtividade se comparada com a metalurgia do p . Existe entretanto, dificuldade
em se conseguir distribuio homognea do reforo na matriz, bem como a introduo do
reforo na forma de p no banho metlico. Uma soluo seria a refuso/solidificao de
lingotes do compsito, de maneira muito bem controlada para evitar segregao e
porosidades, mas isto encarece o processo e em muitos casos causa reaes interfaciais
indesejveis [4].
Existe ainda a limitao quanto a quantidade de reforo que pode ser introduzido
na matriz, com 20 % em mdia de partculas em um banho, a viscosidade do mesmo
aumenta de tal forma, que inviabiliza a produo via metal lquido (fundio) ou mesmo a
homogeneizao e vazamento do banho [4].
Um outro problema na produo via metal lquido, a falta de molhabilidade do
reforo e as reaes adversas que podem ocorrer entre a matriz e o reforo devido as
altas temperaturas envolvidas. Vrias abordagens tm sido propostas para minimizar
estes efeitos, dentre as quais a mais vivel tm sido o pr-recobrimento do reforo com
material apropriado para proteger contra algumas reaes e aumentar a molhabilidade do
mesmo [3].
a.1) - "Compocasting" ("rheocasting")
No processo compocasting, basicamente o reforo misturado matriz fundida
e em sequida a mistura moldada de maneira convencional. Naturalmente, uma mistura
uniforme dificil de ser alcanada, levando-se em considerao as diferenas de
densidade entre a matriz e o reforo. No "rheocasting" (figura 6.2), a mistura melhorada
graas a um resfriamento controlado da mesma, o que a coloca numa condio mais
viscosa e facilita a homogeneizao.
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Figura 6.2 - "Rheocasting": (a) mistura das fibras ou partculas com o metal, seguido por (b)fundio em molde [5]
a.2) Infiltrao
Em contraste com o caso de mistura de fases como no "compocasting", muitos
processos via lquida envolvem a utilizao de pr-formados de reforo, onde a matriz
lquida precisa infiltrar. Uma infiltrao mais eficiente pode ser conseguida pela aplicao
de uma presso maior que a atmosfrica. Esta presso normalmente obtida
mecanicamente por gs, mas outros mtodos tm sido estudados incluindo induo
eletromagntica [3]. Os processos de infiltrao so aplicados a CMM reforados por
fibras e consistem em se obter um fluxo de metal lquido atravs de interstcios de um
pr-formado que um emaranhado de fibras curtas ou partculas. Aps a infiltrao
obtem-se como produto final uma pea ou uma barra solidificada onde o metal lquido
preencheu todas as cavidades possveis desse pr-formado. Esses pr-formados podem
ser obtidos nas mais variadas fraes volumtricas sendo que, quanto maior a frao
volumtrica desejada de reforo, menor o tamanho das cavidades e maior a dificuldade
de infiltrao.
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a.2.1) Fundio sob presso ("squeeze-casting")
A fundio sob presso caracterizada pela aplicao mecnica da presso e
adequada para a produo de pequenos componentes. Basicamente, um pr-formado de
reforo introduzido dentro de uma cavidade, onde uma quantidade precisa de metal
fundido adicionada e em seguida pressionada sobre o pr-formado para que o metal se
infiltre. As vantagens desse processo so: altas taxas de produo, baixos custos se
grandes quantidades so produzidas, alta qualidade da microestrutura nas regies no
reforadas e altas taxas de solidificao resultando em baixas degradaes das fibras.
Algumas desvantagens so: os altos custos de ferramentais; dificuldade na fabricao de
prottipos e dificuldade no controle de parmetros importantes como temperatura do pr-
formado.
Figura 7.2 - Fundio sob presso: (a) insero do pr-formado dentro da cavidade do molde; (b)adio de uma quantidade precisa de metal; (c) fechamento do molde e aplicao de presso; (d)abertura do molde; (e) componente pronto [3].
a.2.2) Infiltrao sob presso
Neste processo, o pr-formado colocado dentro de um molde que por sua vez
se encontra dentro de uma cmara. O metal que se encontra dentro de um recipiente
tambm no interior da cmara liquefeito pela ao de resistncias eltricas que
envolvem o recipiente. A alta presso conseguida fazendo-se inicialmente vcuo nesta
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cmara para que o metal seja levado a se infiltrar no pr-formado. Posteriormente a
cmara pressurizada e o banho metlico forado ainda mais a se infiltrar no pr-
formado (figura 8.2).
(a) (b) (c)Figura 8.2 - Infiltrao da liga fundida sob presso de gs: (a) insero do pr-formado efechamento do molde, (b) aplicao de vcuo, (c) aplicao de presso de gs, mantida durante asolidificao [3].
a.2.3) Infiltrao por vcuo
Este processo muito parecido com o processo anterior com a diferena de que a
infiltrao feita apenas com a presena de vcuo. geralmente usado quando se tm
fibras grossas (140 m) e espao necessrio entre elas para que se crie uma diferena
de presso suficiente, (no mnimo 1 atm) para que o metal penetre entre as mesmas.
Devido s baixas presses aplicadas, podem ocorrer regies no infiltradas do pr-
formado, mesmo em materiais com boas propriedades de molhabilidade (fig. 9.2).
Figura 9.2 - Desenho esquemtico do processo de infiltrao por baixas presses [4].
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a.2.4) Co-deposio por "spray"
Neste processo, a matriz fundida pulverizada juntamente com o reforo sobre
um substrato de maneira semelhante quela que ocorre nos processos de atomizao;
com a diferena de se adicionar as partculas de reforo na sada do material que est
sofrendo o processo de atomizao. Pode ser aplicado para grandes produes, (0,2 a 6
kg/s) [4]. O metal atomizado permite uma rpida solidificao levando obteno de uma
matriz com microestrutura fina e reduzindo a possibilidade de reao qumica extensiva
da matriz com o reforo [8] (figura 10.2).
SiC banho
pr-formado
substrato
"spray"
atomizao
Parmetros de linhaParmetros pr-estabelecidos
. Dimetro do bocal
. Tipo de gs de atomizao
. Projeto do atomizador
. Geometria do substrato e configurao
1. Superaquecimento do banho2. Taxa de fluxo de metal3. Presso do gs4. Movimento do "spray"
5. Altura do "spray"
6. Movimento dosubstrato
Figura 10.2 - Desenho esquemtico do processo "Osprey" para fabricao de materiaiscompsitos por co-deposio de material de matriz e reforo.
b) Fabricao via metalurgia do p
O processo via metalurgia do p se enquadra na categoria de processos de fase
slida. Este processo envolve a mistura de ps do material da matriz e do material de
-
15
reforo atravs de uma sequncia de etapas que levam efetiva consolidao do
material, podendo incluir basicamente as seguintes etapas:
(a) peneiramento do material da matriz; (b) mistura do material da matriz com o material
de reforo; (c) compactao da mistura; (d) desgaseificao; (e) consolidao por
extruso, forjamento, laminao ou outro mtodo qualquer de trabalho quente.
Srivatsan et al. [7], salientam que a tecnologia de produo via metalurgia do p
tm sido desenvolvida com sucesso por vrios fabricantes comerciais. Os resultados
revelam ainda que o processamento via metalurgia do p, possibilita a obteno de
materiais com nveis de resistncia mecnica superiores, se comparados a materiais
equivalentes obtidos por processamento via metal lquido. Uma abordagem mais
detalhada deste processo ser feita no captulo 3, j que este foi o processo utilizado na
obteno dos materiais utilizados na pesquisa.
2.2 - Usinagem
2.2.1 - Origens e conceitos
Existem basicamente trs processos pelos quais se obtm peas e produtos
prontos para a utilizao. O primeiro se caracteriza pela deposio de material e juno
de partes como por exemplo no caso da solda e metalizao; o segundo o processo por
deformao ou conformao que produz peas e componentes com as propriedades
mecnicas necessrias por deformao plstica, onde o material movido e o seu
volume conservado; o terceiro processo exatamente o processo de usinagem que
produz peas pela remoo de material em partes ou em toda a extenso da pea por
meio da utilizao de ferramentas de corte. Um outro processo tm se destacado nos
ltimos anos revolucionando o campo de fabricao de peas e componentes
principalmente de pequeno e mdio porte, o processo por metalurgia do p, que
permite em alguns casos a confeco de peas to precisas quanto aquelas obtidas
pelos processos mais delicados de usinagem.
-
16
Dificilmente ocorre a presena isolada de um ou outro destes processos na
fabricao de peas ou componentes, sendo que, normalmente o processo de usinagem
atua como processo complementar com relao aos demais processos.
H muito tempo o homem se esfora para concretizar formas que visualiza em
sua mente. Sempre insatisfeito com os resultados obtidos na concretizao de suas
obras, tm buscado constantemente meios que possam facilitar e auxili-lo na busca da
perfeio rumo a excelncia. Percebeu ento, que a forma tinha enorme influncia em
sua existncia e que tinha poder para transform-la, podendo no s torna-la bela, mas
tambm adequada conquista dos seus objetivos. Este o conceito global de usinagem
"alcanar a perfeio da matria, no apenas enquanto a torna bela, mas tambm
enquanto a torna til e com razo suficiente de existncia [9].
Tecnicamente, usinagem a operao executada por uma mquina operatriz que
removendo matria prima e produzindo cavacos por meio de ferramentas de corte,
confere a forma, dimenso e acabamento planejados a uma pea.
Existe uma extensa variedade de processos de usinagem de que se pode fazer
uso, dependendo claro da geometria da pea a usinar, da geometria final que se deseja
obter e do grau de acabamento e tolerncias especificadas no projeto. Ferraresi [10] em
seu livro "Fundamentos da usinagem dos metais", cita 23 processos e 32 subprocessos
dos quais pode-se exemplificar trs processos considerados processos universais de
usinagem: torneamento, fresamento e furao. Cada um destes processos ou
subprocessos se caracteriza pela utilizao de equipamentos diferenciados e de
ferramentas tambm diferenciadas, que iro auxiliar na efetiva consolidao do processo.
Ento, pode-se ter equipamentos como tornos, fresadoras, furadeiras, retificadoras, etc,
utilizando ferramentas como fresas, brocas, rebolos e outras.
2.2.2 Desgaste da ferramenta
No processo de corte dos metais por mtodos convencionais, um fator indesejvel
e que exerce forte influncia nos custos finais de produo de determinada pea ou
-
17
componente, o desgaste da ferramenta de usinagem. De modo geral, o processo de
desgaste na ferramenta de usinagem obedece os prncpios tericos estabelecidos pela
tribologia (cincia que estuda os fenmenos e mecanismos envolvidos no processo de
desgaste) vide tem 2.3.
Mais especificamente para as ferramentas de usinagem de ponta nica, existe
uma classificao que denomina os efeitos do desgaste de acordo com o tipo (local e
forma visual em que se apresentam). So eles: a) desgaste de flanco, b) desgaste de
cratera, c) desgaste de sulco, d) deformao plstica, e) lascamento, f) desgaste em
forma de pente, g) falha catastrfica.
Dentre estes os mais importantes so o de flanco e o de cratera, pois alm de
serem os de maior ocorrncia, so inevitveis e os maiores responsveis pelo fim da vida
da ferramenta em condies normais de trabalho.
2.2.3 - Usinabilidade
A chave para a produo industrial econmica com qualidade assegurada a
escolha e a configurao correta do processo produtivo. Quando este processo o de
usinagem a grande preocupao dos fabricantes de materiais, bem como dos fabricantes
de peas e componentes que iro utilizar estes materiais e tambm dos fabricantes de
ferramentas, com a usinabilidade dos mesmos, ou seja, a facilidade ou no com que
podem ser usinados.
Usinabilidade pode ser definida como sendo uma grandeza tecnolgica que
expressa por meio de um valor numrico comparativo (ndice ou porcentagem) um
conjunto de propriedades de usinagem de um metal, em relao a outro tomado como
padro [10]. Propriedades de usinagem de um metal, so aquelas que expressam o seu
efeito sobre grandezas mensurveis inerentes ao processo de usinagem dos metais tais
como vida da ferramenta, fora de usinagem, acabamento superficial da pea,
temperatura de corte, etc.
-
18
A usinabilidade tm grande influncia na produtividade e nos custos finais de
fabricao do produto de uma empresa. Se o ndice de usinabilidade muito baixo, por
exemplo, leva necessidade da utilizao de velocidades de corte menores para que no
ocorra um desgaste acentuado e prematuro da ferramenta; isto implica em maior tempo
de produo e consequentemente maior custo. Uma opo seria a utilizao de uma
ferramenta mais resistente ao desgaste com aumento simultneo da velocidade de corte.
Esta alternativa diminuiria o tempo de produo mas aumentaria o custo com ferramental
j que ferramentas mais resistentes normalmente custam mais caro. Restaria saber qual
alternativa seria a mais vantajosa e ainda assim o acrscimo no custo final da produo
seria evidente. sabido, que o ideal que se trabalhe com altas velocidades de corte e
que para isso, no seja necessria a utilizao de ferramentas especiais e mais caras;
somente um material com alto ndice de usinabilidade pode oferecer estas condies e
neste sentido que fabricantes de materiais, cientistas e pesquisadores da rea de
materiais tm se empenhado.
2.3 - Tribologia
2.3.1 - Origens e conceitos
O movimento de uma superfcie slida sobre outra, de fundamental importncia
para o funcionamento de muitos tipos de mecanismos naturais e artificiais. A tribologia,
engloba o estudo do atrito, desgaste e lubrificao e definida como a cincia e
tecnologia da interao entre superfcies em movimento relativo e as respectivas prticas
que envolvem o processo [11]. Huchings [12] define tribologia como sendo a cincia e
tecnologia da interao de superfcies em movimento relativo. Jost [13] define como
sendo a cincia e tecnologia da interao de superfcies em movimento relativo, e das
prticas e assuntos relacionados. A palavra tribologia derivada da palavra grega
"tribos" que significa atrito e foi implantada basicamente a partir de 1966.
-
19
A falha de um componente ou estrutura segundo Gahr [11] , pode ocorrer por
meio de 4 mecanismos bsicos, ou em alguns casos pela interao de dois ou mais
desses mecanismos em conjunto sendo que os demais tm efeito secundrio. So eles:
- deformao plstica;
- formao e propagao de trincas;
- corroso;
- desgaste.
Cada um destes mecanismos tm caracterstica prpria e, compreende ramos de
estudos e pesquisas diferenciados dentro do campo das diversas reas da engenharia. O
desgaste um mecanismo que danifica a superfcie de componentes. A vibrao, o
aquecimento, as mudanas geomtricas e sobras de desgaste podem ser causados pela
presena de atrito e desgaste. Estes podem resultar em perda futura da funo do
componente e pode ou no levar a uma falha catastrfica.
O desgaste e atrito so fenmenos antigos para a raa humana. Em pocas
remotas, o fogo era obtido pelo atrito madeira contra madeira, ou pela coliso entre
pedras muito duras. Muito mais tarde no perodo da renascena ocorreram importantes
contribuies para o melhor entendimento dos fenmenos do atrito e desgaste. Conceitos
como coeficiente de atrito foram implantados e a influncia benfica da utilizao de
lubrificantes na reduo dos efeitos do atrito e desgaste tambm foi comprovada.
A importncia econmica da tribologia e a grande necessidade por uma pesquisa
sistemtica e melhoria da transferncia de conhecimentos tericos nesta rea, tm sido
bem reconhecida durante as ltimas quatro dcadas. Muitos estudos tm sido
conduzidos em diferentes pases industrializados no sentido de avaliar o impacto
econmico provocado pelos fenmenos de desgaste e atrito. De acordo com alguns
desses estudos perdas econmicas chegam a atingir cerca de 4,5 % do produto interno
bruto de alguns pases [11]. Da a necessidade de que estudos e pesquisas sejam
-
20
intensificadas nesta rea para que se entenda melhor estes fenmenos e para que se
elimine, minimize ou se tenha controle sobre as suas causas e efeitos.
Existe uma variada gama de aplicaes onde pode ser verificada a ocorrncia de
desgaste: equipamentos de movimentao, bombas, moinhos, anis de pisto,
engrenagens, discos de freio, etc. Em todos os casos uma ampla variedade de condies
causam desgaste. A soluo de determinado problema de desgaste depende da
identificao exata da natureza do problema. Sistemas de anlise podem ser usados
para identificao dos parmetros de sistemas tribolgicos (tribotecnologia ou
tribossistemas). Dependendo dos parmetros de um tribossistema, diferentes tipos de
desgaste podem ocorrer. Mecanismos de desgaste descrevem a interao energtica e
material entre os elementos de um tribossistema. O tipo de movimento relativo entre os
corpos em contato pode tambm ser usado para classificao dos diferentes processos
de desgaste. Embora a norma DIN 50320 [14] no considere o processo tribolgico que
ocorre nos processos de fabricao, como desgaste em relao pea trabalhada, Bayer
[15] sugere que usinagem e polimento so formas de desgaste e que existe o lado
positivo do desgaste e dos fenmenos de desgaste.
Um termo que geralmente acompanha o desgaste o atrito. Bayer [15] define
atrito como "uma fora que se ope ao movimento relativo entre duas superficies". Ela
age em direo paralela s superfcies de contato e em sentido oposto ao do movimento.
Geralmente a magnitude do efeito do atrito descrita em termos de um coeficiente dito
coeficiente de atrito () que a relao entre a fora de atrito F e a fora normal N,
responsvel por manter unidas as superfcies em contato.
= F/N (equao 1.2)
Pode-se ainda considerar variaes no conceito de coeficiente de atrito, na
medida em que existe uma diferena entre o valor da fora de atrito no incio do
movimento, e o seu valor quando o movimento mantido em velocidade constante.
-
21
Assim, tem-se no primeiro caso o chamado coeficiente de atrito esttico (s) e no
segundo caso o coeficiente de atrito dinmico (k).
Bayer [15] classifica desgaste basicamente em trs caminhos: o primeiro leva em
conta a aparncia da marca do desgaste; o segundo relaciona o mecanismo fsico que
remove o material ou causa a falha e o terceiro as condies que envolvem a situao do
desgaste. Assim tem-se a seguinte configurao:
APARNCIA
- Corrodo (Pitted)- Lascado (Spalled)- Riscado (Scratched)- Polido (Polished)- Rachado (Crazed)- Fadigado (Fretted)- Escavado (Gouged)- Brunido (Scuffed)
MECANISMO FSICO- Adeso- Abraso- Delaminao / fadiga de superfcie [11]- Oxidativa / reaes triboqumicas [11]
CONDIES QUEENVOLVEM A
SITUAO DO DESGASTE
- Desgaste lubrificado- Desgaste no lubrificado- Desgaste por escorregamento metal/metal- Desgaste por rolamento- Desgaste por deslizamento de alto esforo- Desgaste metlico a alta temperatura
O desgaste avaliado por meio de testes tribolgicos, atravs dos quais obtm-se
resultados que permitem estabelecer relaes comparativas entre os materiais. Gahr
[11], cita em seu livro diversas normas relacionadas ao assunto dentre elas a DIN 50321
[16], que estabelece meios para a determinao da quantidade de desgaste baseados
nos resultados encontrados em testes tribolgicos.
-
22
3 - MATERIAIS E MTODOS
3.1 - Obteno do material
A obteno do material objeto desta pesquisa foi feita pela rota da metalurgia do
p. Vale salientar que todos os parmetros utilizados na obteno foram retirados das
dissertaes de mestrado de Aroldo Jos Mourisco [4] e Humberto N. Yoshimura [17].
No presente trabalho foram avaliados materiais compsitos com matriz de
alumnio reforados com partculas de carboneto de silcio (SiC), em trs diferentes
quantidades (fraes volumtricas) de reforo. Foi produzida tambm, pela mesma rota e
nas mesmas condies uma quantidade de material somente com o componente da
matriz (sem partculas de reforo) objetivando comparar e verificar a influncia da adio
das partculas de reforo na matriz. Para que este ltimo (material sem reforo) seja
diferenciado em relao aos demais, o mesmo ser ao longo do presente trabalho
denominado Al/SiC 0 % ou simplesmente material sem reforo (vide tabela 1.3).
Tabela 1.3 - Relao de materiais produzidos para a pesquisa
Item Material Frao volumtrica de reforo presente
na matriz (expressa em %)
Denominao ao longo do
presente trabalho
1 Al/SiC 5 Al/SiC 5 %
2 Al/SiC 10 Al/SiC 10 %
3 Al/SiC 15 Al/SiC 15 %
4 Al 0 Al/SiC 0 %
Partindo de um compactado de 127 mm de dimetro externo e aproximadamente
150 mm de comprimento (dimenses da caneca), a idia inicial era utilizar uma relao
de reduo na extruso de 45:1 obtendo-se ao final da operao barras de
aproximadamente 6 metros de comprimento e dimetro de 19 mm. Como o escopo do
trabalho voltado para o estudo da usinagem e usinabilidade do material produzido,
optou-se ento por uma relao menor que possibilitasse o aumento do dimetro
usinvel. Esta embora ainda no fosse a melhor condio foi a melhor soluo
-
23
encontrada. Assim a relao de reduo passou a ser de 16 : 1 obtendo-se ao final da
operao barras com dimetro de 31,75 mm e comprimento em torno de 2,5 metros.
3.1.1 - Materiais
Na produo do material para a pesquisa foram utilizados ps comerciais de
alumnio puro (AA1100) produzido pela ALCOA (MG), e de carboneto de silcio (SiC)
produzido pela EMAS/CARBORUNDUM (SP). O p de alumnio foi produzido por
atomizao a ar e manipulado sob atmosfera de gs inerte com tamanho mediano de
partculas igual a 22 m. O p de carboneto de silcio utilizado como reforo do tipo
preto, denominado industrialmente como gro 800 e tem tamanho mediano de partculas
igual a 6 m. As composies qumicas do p de alumnio e SiC utilizados encontram-se
na tabela 2.3.
Tabela 2.3 - Composio qumica (nominal) em peso dos ps utilizados.
Material Elemento (%) em pesoAl 99,7 - 99,83
P de Alumnio Si 0,037 - 0,120Fe 0,089 - 0,180
Outros * 0,001 - 0,069* Entende-se como outros a soma das impurezas excetuando-se o Fe e o Si.
SiC 98,87Si + SiO2 0,6
P de SiC Fe 0,18Al 0,15Cu 0,20
Embora no conste da tabela anterior deve-se considerar a presena de uma
pequena parcela de alumina (Al2O3), resultante da camada xida que se forma em torno
da partcula de alumnio. Vale salientar que, o processo de extruso utilizado na
obteno dos materiais do presente trabalho, como ser visto mais adiante (tem 3.1.2),
quebra essa camada xida que reveste as partculas de alumnio; entretanto ela se
mantm presente no material acabado
-
24
3.1.2 - Procedimentos
O primeiro passo para a produo do material, foi um levantamento inicial das
necessidades para a execuo de todas as etapas do processo. Nesta etapa foi
verificada a necessidade de construo de um dispositivo de conteno e compactao
dos ps dentro das canecas, foi elaborado um projeto e o dispositivo foi confeccionado
(vide figura 2.3).
Foram tambm confeccionadas canecas para a acomodao dos ps no
processo de produo, estas foram retiradas de uma barra tubular de liga de alumnio
extrudado com comprimentos de 150 mm e dimetros externo e interno de 127 mm e 114
mm respectivamente. A utilizao de canecas de alumnio serve no caso da produo de
compsitos via metalurgia do p, no s para conter a mistura mas tambm para evitar o
contato direto do material compsito com a matriz da extrusora o que poderia danific-la,
visto que a fase de reforo nestes materiais normalmente um material cermico,
portanto, de dureza muito mais elevada. As dimenses das canecas esto associadas
aos limites dimensionais do vo da mesa do equipamento utilizado na etapa de extruso.
Em seguida foi feita a pesagem dos ps de alumnio e carboneto de silcio em
quantidades suficientes para preencher um volume de 1,4 litros do total da caneca,
considerando-se densidade de compactao 80 % e observando-se a manuteno da
relao de porcentagem em volume de reforo em cada material. Assim foram os
seguintes os valores utilizados (tabela 3.3):
Tabela 3.3 - Quantidade em peso de alumnio e SiC utilizados em cada caneca.
Material Massa alumnio (kg) Massa SiC (kg)
Al/SiC 5 % 2,87 0,18
Al/SiC 10 % 2,72 0,36
Al/SiC 15 % 2,57 0,54
Al/SiC 0 % 3,026 --
-
25
Aps a etapa de pesagem teve incio a produo propriamente dita do material
para a pesquisa. Esta foi feita pela rota da metalurgia do p, obedecendo as seguintes
etapas conforme indicadas no fluxograma (figura 1.3) e melhor detalhadas em seguida:
Figura 1.3 - Fluxograma da sequncia de produo do material compsito Al/SiC utilizado napesquisa.
- Secagem dos ps:
Os ps de alumnio e SiC foram colocados em estufa por um perodo de 4 horas
temperatura de 100 C. Este procedimento permitiu a retirada de umidade dos ps
evitando aglomerao dos mesmos quando da mistura.
- Mistura dos ps:
Nesta etapa os ps j secos foram misturados em um misturador tipo "V" por 4
horas 40 rotaes por minuto.
- Compactao dos ps:
A compactao dos ps foi feita em um equipamento de ensaio mecnico. A
carga aplicada em cada caneca para a obteno de uma densidade inicial de 80 % foi de
100 toneladas (o que equivale pelo valor do dimetro externo da caneca a uma presso
-
26
de 7,9 kg/mm2 ). Nesta etapa foi utilizado o dispositivo citado no item 3.1.2 (figura 2.3).
Figura 2.3 - Detalhe da etapa de compactao dos ps
- Encapsulamento do compactado (fechamento das canecas):
Uma vez compactadas as canecas foram fechadas, ou seja, em suas
extremidades foram colocadas tampas de alumnio as quais foram torneadas de acordo
com as dimenses de cada caneca e depois foram encaixadas com carga de
aproximadamente 1,5 toneladas em uma prensa hidrulica manual.
- Pr-aquecimento das canecas:
A operao de extruso requer um pr-aquecimento das canecas para que
possveis gases oriundos da etapa de mistura de ps sejam eliminados atravs de
orifcios existentes nas tampas, e tambm para que o material tenha maior escoabilidade
no momento da aplicao de presso. Entretanto, a finalidade principal a de facilitar a
consolidao do material por caldeamento. Esta operao foi feita em forno comum
deixando-se as canecas por um perodo de aproximadamente quatro horas a 450 C
(temperatura em que as mesmas so introduzidas na extrusora).
- Extruso das canecas:
A extruso foi feita em uma extrusora vertical de 1500 toneladas, com a matriz de
extruso a uma temperatura de 220 C. A velocidade de extruso foi acima de 50
mm/seg e a fora mxima chegou a 450 toneladas momento em que o material comeou
-
27
a escoar pela matriz de extruso. Para facilitar o escoamento do material pela matriz de
extruso foi utilizada graxa Molikote como lubrificante (figura 3.3).
a)
Material consolidado
sobra de extruso(b)
Figura 3.3 - Detalhe da extrusora vertical de 1500 toneladas utilizada para extruso das canecas(a) e do material consolidado (b).
3.1.3 - Caracterizao fsica, mecnica e microestrutural do material obtido.
Como caracterstica fsica, foi avaliada a densidade hidrosttica do material
produzido. Para isto foi preparada (torneada) uma amostra de cada material com
dimetro de 26 mm por 8 mm de altura, em seguida estas amostras foram submetidas a
ensaio para a determinao da densidade hidrosttica.
A caracterizao das propriedades mecnicas foi feita por intermdio de ensaios
de dureza e trao uniaxial; para os ensaios de dureza usou-se as mesmas amostras
utilizadas anteriormente (densidade hidrosttica), procedeu-se um ligeiro polimento em
uma de suas faces e efetuou-se o ensaio de dureza Brinell. A carga aplicada foi de 62,5
kg e o dimetro do penetrador esfrico utilizado foi de 2,5 mm. As calotas esfricas
impressas resultantes foram posteriormente mensuradas em projetor ptico e os valores
-
28
encontrados foram aplicados na equao para a determinao da dureza Brinell. Para a
determinao da resistncia mecnica, foram preparados doze corpos de prova conforme
DIN 50125 [18] vide figura 4.3, sendo trs de cada material. Estes foram ento
submetidos a ensaio de trao.
Fig. 4.3 Detalhe dimensional do corpo de prova utilizado nos ensaios de trao.
Para a caracterizao microestrutural, foram preparadas para anlise em
microscpio ptico duas amostras de cada material sendo uma no sentido transversal e
uma no sentido longitudinal direo de extruso. Somente as amostras do sentido
longitudinal foram embutidas em baquelite. Em seguida todas elas foram submetidas a
polimento que obedeceu seguinte ordem seqencial:
- Lixas grana 280 320 400 600
- Panos pasta de diamante 6 m 3 m slica coloidal 0,25 m
No polimento com pasta de diamante foi utilizado como lubrificante uma soluo
de lcool e glicerina na proporo de 2/1.
As amostras devidamente polidas foram ento observadas em microscpio ptico.
Como resultado da impregnao de partculas de SiC no material da matriz dos
compsitos, oriundas das lixas utilizadas na etapa de lixamento; foi verificado que as
imagens obtidas a partir das observaes em microscpio se apresentaram confusas e,
levantaram dvidas quanto proporo real de partculas de reforo presentes em cada
material. A impresso de que havia uma proporo muito maior do que a que realmente
deveria haver, a preocupao tambm era de que a distribuio dessas partculas no
estivesse muito homognea.
-
29
Optou-se ento pela utilizao do processo de extrao qumica do reforo para
que fosse verificada com exatido a quantidade de material de reforo presente em cada
um. O ensaio consiste basicamente em dissolver em cido uma amostra de material de
massa conhecida, e em seguida efetuar a filtragem da soluo final. O material que fica
retido no filtro subtrado da massa inicial da amostra e sua porcentagem real em
volume pode ento ser determinada.
Foram preparadas amostras dos materiais (uma amostra de cada), estas sofreram
uma pr-dissoluo para eliminao de impurezas superficiais, em seguida foram secas e
pesadas. As amostras foram ento dissolvidas uma a uma em soluo de cido clordrico
(35% vol.) em gua destilada. Depois toda a soluo passou por um processo de
filtragem em micro filtro de PTFE (teflon) com dimetro de poro de 0,2 m. Os filtros com
os resduos remanescentes foram colocados em dessecador durante 24 horas para a
eliminao de umidade. Aps a secagem os filtros foram pesados e os valores foram
determinados.
3.2 - Ensaios de usinagem e usinabilidade
Estes ensaios foram realizados com o objetivo de avaliar o comportamento dos
materiais a usinagem e o desempenho de diversos materiais de ferramenta. Fenmenos
tais como desgaste da ferramenta, formao ou no de aresta postia e formao do
cavaco tambm foram observados e avaliados.
Um aspecto em particular que mereceu especial ateno, foi o estabelecimento do
ndice de usinabilidade para cada material avaliado. Como no foram encontradas
referncias a respeito de trabalhos que tenham feito uma avaliao deste aspecto em
materiais deste tipo, esta pode ser efetivamente uma contribuio original do presente
trabalho.
-
30
Para estes ensaios foram preparados um total de quatorze corpos de prova com
dimetro de 31,75 mm e comprimento de 160 mm, sendo conforme a tabela 4.3 a
distribuio para cada tipo de estudo:
Tabela 4.3 - Distribuio dos corpos de prova de acordo com a natureza do estudo.
Natureza do estudo Material daferramenta
Material Quantidade decorpos de prova
Usinagem , usinabilidade ecomportamento do material daferramenta
Carboneto durosinterizado(CERMET)
Al/SiC 5 %Al/SiC 10 %Al/SiC 15 %Al/SiC 0 %
2 2 2 2
Usinagem e comportamentodo material da ferramenta
Cermica Al/SiC 5 %Al/SiC 10 %Al/SiC 15 %
1 1 1
Usinagem e comportamentodo material da ferramenta
Diamante Al/SiC 5 %Al/SiC 10 %Al/SiC 15 %
1 1 1
Como o equipamento utilizado nos ensaios foi um torno a comando numrico
conforme ser visto no tem 3.2.1, foram desenvolvidas rotinas (programas) na linguagem
do comando do equipamento, para que os ensaios fossem realizados. Foram
desenvolvidos dois programas: um para a utilizao com ferramenta de carboneto duro
sinterizado e outro para utilizao com ferramentas de cermica e diamante.
O programa para utilizao com ferramenta de carboneto duro sinterizado (anexo
1), compreende a aplicao de um total de quatro velocidades de corte diferentes para
cada dois corpos de prova ensaiados e, considera inicialmente um bloco de desbaste.
Nesta etapa o dimetro inicial dos corpos de prova usinado at o dimetro de 27 mm
para retirada da camada de alumnio resultante das canecas utilizadas para compactao
e encapsulamento da mistura de ps. A partir da o programa considera as usinagens e
paradas para medio de desgaste a intervalos regulares garantindo a constncia de
comprimento de cavaco e volume de material removido, e tambm a mudana no valor
da velocidade de corte a cada seis passes efetuados.
O programa para utilizao com ferramentas de cermica e diamante (anexo 2),
praticamente o mesmo utilizado com ferramenta de carboneto duro sinterizado. A
-
31
diferena que neste caso so aplicadas apenas duas velocidades de corte diferentes
para cada corpo de prova ensaiado. O ciclo de desbaste foi mantido para que tambm
nesses corpos de prova a camada de alumnio resultante das canecas utilizadas no
encapsulamento dos ps fosse retirada.
Foram utilizados (conforme mostrado na tabela 4.3), trs tipos diferentes de
material de ferramenta. Um destes materiais composto por partculas de TiC, ligadas
por uma fase metlica de nquel, e comumente denominada CERMET. CERMET
segundo Black, Chiles, Lissaman e Martin [19], o nome coletivo para carbonetos duros
sinterizados onde as partculas duras so baseadas em outros elementos que no o
carboneto de tungstnio (WC). Quando a ferramenta baseada em (WC) d-se o nome
de metal duro.
Carboneto duro sinterizado um material de ferramenta obtido a partir de
partculas duras de carboneto cimentadas por um elemento aglutinante. Neste contexto
CERMET e metal duro podem ser considerados ferramentas de carboneto duro
sinterizado.
Ao longo deste trabalho ser adotada a classificao geral proposta por Black et
alli e para simplificar mais ainda, a ferramenta de carboneto duro sinterizado (CERMET),
ser simplesmente denominada ferramenta de carboneto.
Particularidades, especificaes e caractersticas fsicas das ferramentas
(pastilhas e suportes) utilizadas nos experimentos seguem as indicaes das tabelas 5.3
e 6.3.
Tabela 5.3 - Particularidades bsicas das ferramentas utilizadas nos experimentos
Ferramenta Particularidades bsicasFerramenta de carboneto Carboneto duro sinterizado (CERMET): partculas
cermicas (TiC) + material metlico (Ni) como ligante.Cermica Cermica mista base de alumina com adio de
carboneto de titnio.
Diamante Artificial policristalino (PCD): partculas de diamantesinterizadas alta presso e alta temperatura compequena quantidade de cobalto como metal ligante.
-
32
Tabela 6.3 - Especificaes e caractersticas fsicas das ferramentas utilizadas.
Suporte(Ref. ISO)
Pastilha Caractersticas de conjunto (suporte + pastilha) (fig. 5.3)
GeometriaRef. ISO
(* Ref. fabricante)
ClasseRef. ISO
(* Ref. fabricante)
ngulosada(W)
ngulo deincidnciaou folga
(K)
ngulo deposio
(X)
STGCR 1616 H11 CarbonetoTCMT 110204 - (UF*)
K05*CT515
0 11 90
CTGPR 2525 M11 CermicaTPGN110304(T01020*)
*CC650 0 11 90
STGCR 1616 H11 DiamanteTCMW 16T304(F*)
*CD10 0 11 90
* Ref. Sandvik
Figura 5.3 - Principais ngulos das ferramentas utilizadas.
Quanto ao ngulo de posio () utilizado no presente trabalho (tabela 6.3),
necessrio que se faa algumas consideraes. Na indstria e mesmo em pesquisa,
recomendvel sempre que possvel que se utilize um ngulo de posio menor que 90;
na prtica um valor bastante usado, sendo inclusive adotado pela ISO 3685 de 75.
Esta condio favorece o processo de usinagem na medida em que equilibra as foras
radiais e axiais resultantes do processo de usinagem, minimizando os seus efeitos sobre
a ferramenta de corte. A utilizao de um ngulo de posio de 90 no torneamento se
faz necessria em casos de faceamento, usinagens com terminaes a 90 ou ento na
usinagem de eixos esbeltos (pequena relao dimetro/comprimento) o que foi o caso
dos corpos de prova utilizados no presente trabalho. A utilizao de um ngulo de
posio de 90 em eixos esbeltos, praticamente anula a resultante radial das foras de
-
33
corte que poderia resultar em flexo do corpo de prova ou trepidao excessiva durante o
processo de usinagem.
Os ensaios consistiram basicamente na usinagem dos corpos de prova a
profundidade de corte p e avano f constantes iguais a 0,875 mm e 0,1 mm/rot
respectivamente, para um raio de ponta r tambm de mesmo valor para todas as
ferramentas igual a 0,4 mm de acordo com indicaes da norma ISO 3685 [20]. As
condies de profundidade de corte e avano constantes, faz com que em cada passe
no s o comprimento de cavaco seja constante, mas tambm o volume de material
removido (vide figura 6.3).
Figura 6.3 - Representao esquemtica ilustrativa dos parmetros de usinagem utilizados nosexperimentos.
A velocidade de corte foi o parmetro varivel tendo sido aplicadas, conforme
mencionado anteriormente, um total de quatro velocidades (273, 229, 185 e 141 m/min)
na usinagem com ferramenta de carboneto; e apenas duas (273 e 229 m/min) com
ferramentas de cermica e diamante. Para cada velocidade de corte, a ferramenta de
corte percorreu um total de 393,96 metros (comprimento de cavaco), com paradas para
avaliao da evoluo do desgaste da ferramenta a cada 65,66 metros, perfazendo-se
um total de 6 paradas para cada velocidade de corte utilizada.
A cada parada a pastilha era retirada do suporte e levada at o microscpio
ptico para medio e registro da evoluo do desgaste de flanco (VB) vide figura 6.4
pag. 46. Em seguida a pastilha era fotografada em um microscpio estereoscpico e
ento recolocada no suporte para continuidade do ensaio. Com a mudana no valor de
-
34
velocidade de corte, a aresta de corte danificada da pastilha era substituda por uma nova
aresta, iniciando-se ento um novo ciclo de medies.
Foram coletados valores de fora, e foram observados fenmenos tais como
formao ou no de aresta postia de corte e tambm formao do cavaco. Foi utilizado
em todos os ensaios, o fluido refrigerante ref.: Monol 9420 - IORGA na concentrao de 5
% em soluo aquosa com vazo sobre a regio de corte em torno de 2000 l/h.
3.2.1- Equipamento de usinagem
O equipamento utilizado foi um torno a comando numrico computadorizado
(CNC), vide figura 7.3. A escolha desse tipo de equipamento est associada a algumas
caractersticas superiores em relao a um equipamento convencional dentre elas
principalmente os seguintes tens:
- Alto valor de rotao no eixo rvore podendo atingir 4000 rpm o que possibilita
tambm acesso a altos valores de velocidade de corte.
- Variao infinita (dentro de dois valores limites) do valor de velocidade de corte
possibilitada pela presena de um variador de frequncia no sistema de transmisso do
equipamento.
- Mnima folga e boa rigidez caractersticos de equipamento novo recentemente
adquirido, o que possibilitou a utilizao de ferramentas de diamante e cermica sem
comprometimento de desempenho das mesmas.
Figura 7.3 Detalhe do equipamento utilizado nos experimentos.
-
35
3.2.2 - Foras de corte
Para que se pudesse medir as foras atuantes no momento da usinagem em cada
um dos materiais, foi feita uma montagem a base de medidores de deformao (strain
gauges). Por limitao do equipamento que possui apenas um canal de leitura, optou-se
por instrumentar as ferramentas de modo que fosse feita a leitura da fora principal de
corte (Fc), ou seja aquela tangencial ao movimento circular da pea, e por conseguinte a
que normalmente tem maior intensidade (vide figura 8.3).
Figura 8.3 Esquema ilustrativo mostrando a direo da fora de corte medida (Fc).
Com as ferramentas devidamente instrumentadas foi feita uma calibrao esttica
das mesmas com a utilizao de massas conhecidas. As curvas de calibrao foram
construdas e demonstraram ter comportamento linear (vide figura 9.3). Nas equaes
das retas foram aplicados os resultados obtidos nos experimentos transformando-os em
unidade de fora.
y = 0,1147x - 0,3161R2 = 0,9999
y = 0,1855x - 0,722R2 = 0,9979
-5
0
5
10
15
20
25
30
0 50 100 150 200 250 300
Resposta (mV)
Car
ga a
plic
ada
(kg)
Ferr. de carboneto e diamante
Ferr. de cermica
Figura 9.3 - Curvas de calibrao das ferramentas utilizadas nos experimentos, variao da cargaaplicada versus resposta em (mV).
-
36
As micro deformaes acusadas pelos strain gauges, foram convertidas em
milivolts por uma ponte de Wheatstone. Por um multmetro acoplado ao sistema os
valores foram enviados a um microcomputador por intermdio da interface de
comunicao RS 232, onde os mesmos foram armazenados por um software de registro
de dados para que fossem trabalhados posteriormente (vide figura 10.3).
Figura 10.3 Representao esquemtica do equipamento utilizado para medio de foras.
3.2.3 Usinabilidade
Para determinao do ndice de usinabilidade de cada material, foram utilizados
os resultados obtidos nos testes com ferramenta de carboneto. Foi aplicado o mtodo do
comprimento usinado citado por Ferraresi [10]. Este um mtodo de ensaio de curta
durao que no requer grandes quantidades de material, to pouco longos perodos de
ensaio. A escolha deste mtodo esteve relacionada principalmente limitao na
quantidade de material disponvel.
Mtodos de ensaio dessa natureza (curta durao) normalmente no apresentam
boa correspondncia com os equivalentes de longa durao. Entretanto, Ferraresi [10]
faz algumas consideraes quanto aos ensaios de curta durao, referindo-se a um
-
37
trabalho onde feita uma comparao estatstica de vrios ensaios de curta durao
baseados no desgaste da ferramenta, com o correspondente ensaio de longa durao.
Os resultados mostram que dentre todos os mtodos analisados apenas dois
apresentaram boa correlao com o correspondente de longa durao, dentre eles o
mtodo do comprimento usinado. O Metals Handbook [21], sugere um procedimento para
determinao da usinabilidade que na realidade est intimamente relacionado e
bastante similar ao mtodo do comprimento usinado a diferena que ao invs de fazer
uma relao do desgaste pelo comprimento usinado, faz uma relao do desgaste pelo
tempo, o que faz segundo Ferraresi com que o erro nos resultados no caso do mtodo do
comprimento usinado seja minimizado j que o comprimento de vrios metros. Os
valores encontrados nos experimentos foram ainda aplicados na equao de Taylor
(equao 1.4 pag. 62), e as constantes da equao para os materiais e condies de
ensaio foram determinadas.
3.3 Ensaios de desgaste
Foram feitos basicamente ensaios de desgaste por deslizamento do tipo pino
sobre disco sem lubrificao. Para estes ensaios que visam estabelecer uma relao
comparativa entre os materiais estudados, foram preparados oito corpos de prova (vide
figura 11.3), sendo dois de cada material.
Como contracorpo foram utilizados discos de ao SAE 1045 com espessura de 5
mm e dimetro de 63,5 mm, tratados trmicamente e retificados, atingindo dureza em
torno de 48 HRC e acabamento superficial de 0,14 Ra.
Dimenses em mm
Figura 11.3 - Detalhe dimensional do pino utilizado nos ensaios de desgaste.
-
38
O equipamento utilizado foi um tribmetro do tipo pino contra disco (figura 12.3).
Procedimentos de ensaio e nomenclaturas utilizadas foram baseados nas normas ASTM
G99 [22] e G118 [23]. Cada pino foi previamente pesado, em seguida foi ensaiado por um
perodo de quatro horas e meia com paradas regulares (a cada 45 minutos) para
determinao da perda de massa. Os valores totais de perda de massa encontrados,
foram aplicados na equao para a determinao do coeficiente de desgaste (equao
2.4 pag. 65). Tambm foi analisado em microscpio eletrnico de varredura o aspecto
das regies desgastadas. A perda de massa do contra corpo no foi considerada nos
ensaios e os parmetros de ensaio utilizados foram os seguintes:
- Velocidade (relativa do pino sobre o disco): 0,75 m/s
- Raio: 26 mm
- Carga: 5 N
Figura 12.3 - Equipamento utilizado nos ensaios de desgaste.
-
39
4 - RESULTADOS E DISCUSSO
Neste captulo sero mostrados e discutidos os resultados obtidos na
caracterizao dos materiais, testes de usinagem e usinabilidade e testes de desgaste,
procurando sempre que possvel estabelecer uma relao com o material sem reforo na
verificao da influncia da adio de partculas de reforo nas propriedades e
caractersticas de usinagem e desgaste dos compsitos Al/SiC.
4.1 - Caracterizao fsica, mecnica e microestrutural do material obtido
A tabela 1.4 fornece uma viso geral dos resultados de densidade, dureza e
resistncia mecnica encontrados durante a caracterizao fsica e mecnica dos
materiais obtidos. Estes resultados sero melhor evidenciados e discutidos nos itens
subsequentes.
Tabela 1.4 Aspecto geral das caractersticas fsicas e mecnicas dos materiais produzidos.
Material Densidade
terica
(g/cm3)
Densidade
hidrosttica
(g/cm3)
Valores de
dureza
(HB)
Limite de
escoamento
LE0,2 (MPa)
Limite de
resistncia
LR (MPa)
Alongamento
e (%)
Reduo em
rea
RA (%)
Al/SiC 0 % 2,702 2,687 0,003 32 1 88 1 120 1 32 2 64 4
Al/SiC 5 % 2,7277 2,713 0,002 39 1 84 3 128 2 26 2 47 5
Al/SiC 10 % 2,7535 2,718 0,001 44 1 93 4 135 2 22 3 32 5
Al/SiC 15 % 2,7793 2,729 0,001 49 1 94 3 138 4 15 2 20 3
4.1.1 Caracterizao fsica
Densidade hidrosttica
Pelo grfico (figura 1.4), possvel notar a diferena entre os valores de
densidade hidrosttica encontrados e os respectivos valores de densidade terica. Os
valores inferiores de densidade hidrosttica em relao terica, indicam a presena de
vazios em todos os materiais produzidos. Ainda com relao aos materiais contendo
partculas de reforo, a diferena tende a aumentar medida em que tambm aumenta a
frao volumtrica, indicando tambm que nesses materiais a formao de vazios
-
40
preferencial, nas regies de aglomerao de partculas de reforo e tambm nas regies
interfaciais.
2,64
2,66
2,68
2,7
2,72
2,74
2,76
2,78
Den
sida
de (g
/cm
3)
Al/SiC 0 % Al/SiC 5 % Al/SiC 10 % Al/SiC 15 %
Material
Densidade hidrosttica
Densidade terica
Figura 1.4 - Valores de densidade hidrosttica e terica para os materiais compsitos comdiferentes fraes volumtricas de SiC.
Mourisco [4] e Yoshimura [17], encontraram resultados similares em seus
trabalhos. Yoshimura, sugere que existe uma frao volumtrica mxima a partir da qual
deve ocorrer uma acentuada diminuio da densidade desses compsitos devido
formao de aglomerados; para uma diferena maior entre tamanho de partcula de
reforo e da matriz menor esta frao crtica. Neste caso a relao entre os tamanhos
de partculas igual 0,27. Al-Rubaie, Goldenstein e Mello [24], apontam como primeira
caracterstica importante no processamento via metalurgia do p, a RTP (relao
tamanho da partcula do p de alumnio/tamanho de partcula de p de SiC). Salientam
que quanto maior a relao maior a aglomerao de partculas de SiC e consequente
heterogeneidade da microestrutura; e que a aglomerao de SiC dependente tambm
da sua frao volumtrica, ou seja, aumenta com o aumento da quantidade de material
de reforo.
4.1.2 - Caracterizao mecnica
Dureza
Pela figura 2.4, possvel verificar o aumento do valor de dureza medida em
que a frao volumtrica de reforo aumentada. Esse comportamento esperado, j
que neste caso as partculas de reforo (material cermico) isoladamente tm dureza
-
41
muito mais elevada que o material da matriz. Ainda, pela linha de tendncia (linha
vermelha) possvel notar que o acrscimo nos valores de dureza tende a uma queda na
taxa de aumento medida em que a quantidade de reforo aumenta.
0
10
20
30
40
50
60
Al/SiC 0 % Al/SiC 5 % Al/SiC 10 % Al/SiC 15 %Material
Dur
eza
(HB
)
Figura 2.4 - Valores de dureza Brinell dos materiais compsitos com diferentes fraesvolumtricas de SiC.
- Resistncia mecnica
Pelo grfico (figura 3.4), possvel verificar que o limite de resistncia aumenta
medida em que aumenta tambm a quantidade de SiC, entretanto, pela linha de
tendncia (linha verde) a taxa de crescimento vai gradativamente diminuindo. Esta
tendncia indica que a adio de partculas de reforo deixa de ser interessante a partir
de certo ponto, se o objetivo principal for a melhoria do limite de resistncia mecnica do
material. O aumento no valor de resistncia com o aumento da quantidade de reforo,
pode ser explicado pelo aumento no nmero de barreiras para movimentao de
discordncias.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Al/SiC 0 % Al/SiC 5 % Al/SiC 10 % Al/SiC 15 %Material
LR (M
Pa)
LE (M
Pa)
0
5
10
15
20
25
30
35
Alo
ngam
ento
- e
(%)
LRLEe
Figura 3.4 - Valores obtidos nos ensaios de trao para o material sem reforo e compsitos comdiferentes fraes volumtricas de SiC.
-
42
Quanto ao limite de escoamento verificada uma certa instabilidade nos valores
obtidos (vide figura 3.4).
De qualquer forma, no possvel fazer qualquer tipo de correlao entre os
materiais, j que dentre todos os parmetros, o limite de escoamento aquele que est
mais associado ao grau de encruamento imposto durante o processo de produo dos
mesmos. Seria necessria uma homogeneizao entre os materiais, atravs de um
controle rgido de alguns parmetros durante o processo de produo, dentre eles
principalmente a temperatura. Ento, uma tentativa de associao teria maior
confiabilidade.
4.1.3 - Caracterizao microestrutural
4.1.3.1- Fractografia
As regies fraturadas nos ensaios de trao foram observadas e avaliadas em
microscpio eletrnico de varredura. Pelas imagens possvel verificar que em relao
ao material sem reforo que apresentou fratura dctil (figura 4.4 (d)), predomina nos
materiais com 5 %, 10 % e 15% de reforo, fratura com caractersticas de maior
fragilidade (figuras 4.4 (a-c)).
(a) (b)
-
43
(c) (d)Figura 4.4 Micrografia eletrnica de varredura mostrando o aspecto das regies fraturadas nosensaios de trao para o material sem reforo e para o material compsito com diferentes fraesvolumtricas de SiC. (a) Al/SiC 5 %, (b) Al/SiC 10 %, (c) Al/SiC 15%, (d) Al/SiC 0 %.
4.1.3.2 - Metalografia
Pelas figuras 5.4 (c-h) possvel verificar para os materiais com 5 %, 10 % e 15
% de reforo, a existncia de aglomerados de material de reforo no material da matriz.
fcil imaginar o porque dessa tendncia, j que existe uma diferena significativa entre os
tamanhos das partculas de p de alumnio e SiC utilizados na produo do material. As
partculas de SiC tm em mdia tamanho 4 vezes menor e, por isso tendem a se
concentrar nos interstcios do p de alumnio. Mais uma vez verificada a influncia da
relao entre tamanho de partculas na formao de aglomerados, neste caso conforme
foi visto anteriormente (item 4.1.1) essa relao igual a 0,27. O ideal que este valor
esteja muito prximo de 1.
Ainda, para os materiais compsitos no to evidente pelas figuras a diferena
entre eles na quantidade de material de reforo presente no material da matriz, tambm a
quantidade de reforo em cada material aparenta ser maior do que a que realmente
deveria haver. A explicao para estas observaes pode estar associada a impregnao
de partculas de SiC no material da matriz dos compsitos, oriundas das lixas utilizadas
na etapa de lixamento das amostras destes materiais (conforme visto no tem 3.1.3 pg.
27). Este impasse culminou com a dissoluo qumica de amostras dos compsitos,
objetivando a extrao do reforo para a determinao da quantidade real de partculas
de reforo presente em cada um.
-
44
Para o material sem reforo (figuras 5.4 (a-b)), o que se verifica a presena de
vazios e incluses homogeneamente distribudos, proveniente provavelmente da etapa
de mistura durante o processamento do material.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
-
45
(g) (h)
Figura 5.4 Micrografias pticas mostrando o aspecto microestrutural do material sem reforo edo material com diferentes fraes volumtricas de SiC (sem ataque). (a) Al/SiC 0 % - secotransversal; (b) Al/SiC 0 % - seco longitudinal; (c) Al/SiC 5 % - seco transversal; (d) Al/SiC 5% - seco longitudinal; (e) Al/SiC 10 % - seco transversal; (f) Al/SiC 10 % - secolongitudinal; (g) Al/SiC 15 % - seco transversal; (h) Al/SiC 15 % - seco longitudinal.
4.1.3.3 Extrao de reforo.
Os valores encontrados com a dissoluo de amostras, mostraram que os
materiais obtidos estavam com as quantidades corretas de reforo. Embora o processo
de dissoluo tenha sido feito em apenas uma amostra de cada material, os valores
encontrados sugerem que a distribuio do reforo homognea; j que as amostras
foram retiradas em regies aleatrias da barra em cada um dos materiais (tabela. 2.4).
Tabela 2.4 - Valores de frao em volume encontrados em cada material aps a dissoluo deamostras.
% em volume de SiC encontrado no materialaps procedimento de extrao
Al/SiC 5 % 5,05%Al/SiC 10 % 9,91%Al/SiC 15 % 14,77%
4.2 - Ensaios de usinagem e usinabilidade
4.2.1 - Desgaste da ferramenta
Os aspectos aqui avaliados, levam em conta a anlise da extenso do desgaste
bem como os mecanismos e os tipos de desgaste que puderam ser detectados nos
experimentos.
-
46
Para que se possa identificar melhor os locais de desgaste, bem como visualizar
a extenso do desgaste gerado em cada um dos materiais de ferramenta utilizados nos
experimentos, segue um esquema indicativo dos locais de desgaste (figura 6.4) e
tambm ilustraes das condies de cada material de ferramenta antes de serem
utilizadas (figuras 7.4 (a-f)).
Fig. 6.4 Esquema indicativo dos locais de desgaste A Desgaste de flanco (superfcie lateral de folga) B Desgaste de cratera (superfcie de sada)
(a) (b)
(c) (d)
-
47
(e) (f)Figura 7.4 Macrografias pticas (microscpio estreo) mostrando o aspecto das ferramentas deusinagem antes de serem utilizadas (novas). (a) ferramenta de carboneto (superfcie lateral defolga); (b) ferramenta de carboneto (superfcie de sada); (c) ferramenta de cermica (superfcielateral de folga); (d) ferramenta de cermica (superfcie de sada); (e) ferramenta de diamante(superfcie lateral de folga); (f) ferramenta de diamante (superfcie de sada).
Pela anlise da evoluo do desgaste em cada um dos materiais de ferramenta
utilizadas nos experimentos, foi possvel notar que a ferramenta de carboneto foi a mais
agredida em termos de desgaste, seguida pela ferramenta de cermica e por fim a de
diamante cujos valores de desgaste encontrados durante os experimentos, podem ser
considerados desprezveis .
A figura 8.4 representa de modo geral, o comportamento ao desgaste de cada
material de ferramenta, em todos os materiais usinados e para todas as velocidades de
corte utilizadas durante os experimentos. Sempre com a ferramenta de carboneto sendo
a mais agredida, seguida pela de cermica e por ltimo a de diamante
0
200
400
600
800
1000
0 1 2 3 4 5 6N passe
Desg
aste
( m
)
Carboneto
Cermica
Diamante
Figura 8.4 - Grfico da evoluo do desgaste de flanco (VB) para cada material de ferramenta(material usinado: Al/SiC 5 % - Vc 273 m/min).
-
48
Embora o desgaste da ferramenta ocorra mais rapidamente na usinagem de
compsitos reforados com partculas de SiC, possvel verificar que as curvas de
desgaste (figura 8.4) tm um comportamento similar s curvas originadas com a
usinagem de materiais convencionais. No nicio ocorre um desgaste mais acentuado
seguido por uma certa estabilidade, e por ltimo novamente um acrscimo acentuado
levando ao fim de vida da ferramenta.
O desempenho superior apresentado pela ferramenta de diamante em todos os
materiais usinados e para todas as velocidades de corte utilizadas, demonstra que este
o nico material de ferramenta capaz de suportar, a contento, a ao abrasiva provocada
pelas partculas de reforo durante a usinagem. Em alguns casos (Al/SiC 15 %), chegou
a ter rendimento 22 vezes superior se comparado ferramenta de carboneto, ou seja,
uma extenso total de desgaste de flanco 22 vezes menor. Vrios pesquisadores [25-30],
chegaram a concluses semelhantes quando da usinagem de diversos tipos de
compsitos de matriz metlica, e, so unnimes em apontar o diamante como o material
mais indicado para a usinagem de materiais deste tipo.
O mecanismo de desgaste predominante na ferramenta de carboneto, na verdade
uma associao de dois fenmenos: abraso provocada pela presena de partculas de
carboneto de silcio extremamente duras e abrasivas no material da pea, e adeso
oriunda da formao de aresta postia de corte durante os ensaios. Bergman e Jacobson
[31], na usinagem de CMM tambm verificaram uma forte adeso entre o material da
pea e a superfcie de sada da ferramenta de carboneto, culminando com o
arrancamento de partculas (gros) dessa regio da ferramenta.
Os tipos de desgaste ocorridos foram basicamente de flanco (medido), e de
cratera (observado) (Figuras 9.4 (a-c)). importante verificar que na usinagem do
material sem reforo (Al/SiC 0 %) com ferramenta de carboneto, o desgaste gerado na
ferramenta imperceptvel, realando o efeito d