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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – SP
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA
EXPERIMENTAL: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
OBESIDADE INFANTIL: UMA PROPOSTA DE TRATAMENTO
COMPORTAMENTAL
Maria Tereza Monteiro da Cruz
Orientadora: Prof. Dra. Fani Eta Korn Malerbi
Trabalho parcialmente financiado pela CAPES
SÃO PAULO
2012
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
OBESIDADE INFANTIL: UMA PROPOSTA DE TRATAMENTO
COMPORTAMENTAL
MESTRADO EM PSICOLOGIA EXPERIMENTAL: ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO
Dissertação de Mestrado apresentada à Banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento sob orientação da Profa. Dra. Fani Eta Korn Malerbi
Trabalho parcialmente financiado pela CAPES
SÃO PAULO
2012
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Banca Examinadora
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Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, por
processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
São Paulo, _______ de março de 2012
Assinatura: ___________________________________
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Agradecimentos
Aos meus pais (Luiz e Diná) que sempre incentivaram, valorizaram e torceram por este trabalho e por todo o processo envolvido no mestrado, desde a prova de entrada até a entrega da Dissertação.
Ao Lipe, por toda a sua paciência e interesse pelo trabalho. Saiba que a sua contribuição, muitas vezes como ouvinte (será que é porque eu falo de mais?!) foi fundamental para o trabalho.
À Luli, que também se envolveu com o trabalho e com minha profissão, sempre dando seus palpites.
À Fani, por ter aceitado orientar este trabalho em um momento complicado e pela presença constante durante todo o processo.
À Téia, por ter me dado a possibilidade de ser sua orientanda e por todo o incentivo que você deu aos meus estudos durante a graduação. Gostaria muito de ter trabalhado com você.
À Vera Perino, pelo acolhimento, pelas conversas e explicações sobre obesidade infantil e por todas as oportunidades que você me deu. Por você ser um exemplo de dedicação, aprendi muito com você.
À Nilza Micheletto por ter continuado o grupo de autocontrole, onde eu pude estudar e discutir este tema que tanto me interessa. Por ter me possibilitado aprender tanto com você e por acreditar neste trabalho.
À CAPES pelo financiamento da pesquisa.
Ao Instituto Movere por ter aceitado a minha pesquisa, por fazer um trabalho tão bonito dando novas oportunidades para as crianças e por ser um exemplo do que é uma equipe multidisciplinar.
Aos participantes da pesquisa por terem aberto as portas das suas casas e ter me deixado entrar. Pela dedicação de vocês aos procedimentos e por tudo o que eu pude aprender.
Ao Ivo e Ivinho e à Bela, que também me aceitaram no Instituto de braços abertos e por se envolverem e trabalharem tanto pelas crianças.
À Tati que sempre se colocou à disposição para discutir os planos alimentares dos participantes, dando um grande exemplo do que significa trabalhar junto.
A todas as famílias do Instituto Movere pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o dia-a-dia de vocês.
À minha avó Lydia que muitas vezes se preocupava e ligava para saber se eu tinha almoçado, pelas oportunidades que me deu para ficar no silêncio e trabalhar e por todo o carinho que você me dá.
À minha avó Aurora e à Tia Vua, por todo o carinho que vocês me dão.
Aos meus tios e “agregados”, Antônio Carlos e Elisete, João Marcos e Magaly e Marta e Luigi. Pelos momentos de descanso, por perguntarem como anda o trabalho e pela torcida.
Aos primos: Pedro, Ana Beatriz, Ana Thereza, Laura, Catarina e Miguel. São poucos e especialmente selecionados.
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À Livia Netto, por ter encarado esse trabalho quase como se fosse seu. Não sei como agradecer por toda ajuda que você me deu. Além disso, sempre foi uma amiga mais do que especial, ouviu com paciência todas as minhas reclamações chatas e vibrou comigo todas as conquistas. Não há palavras para agradecer e dizer o quanto você é importante.
À Andrea Ribela (Ribelete) pelo companheirismo no trabalho e fora dele e por me ajudar a encontrar saídas quando elas estão escondidas.
À Carla Andrade (Carlinha, Clarinha, Claudinha). Pela maturidade com a qual você encara a vida e por tudo que aprendi com você.
À Dani Pugliesi, por ter mantido o contato durante todo esse tempo e pelos momentos deliciosos que passamos na Ilhabela.
À Ligia Pegoraro. Como posso explicar?! Pelo entendimento ser tão rápido a ponto de muitas vezes não precisar falar nada. Queria que você soubesse que é um exemplo para mim e que sou extremamente feliz por te ter por perto.
À Marcela Kotait (Tita) por entender e compartilhar todo o meu mau-humor, por todas as risadas que damos juntas e pelas ajudas neste trabalho.
À Marilia Tannure que compreendeu o momento e deu todo o apoio da maneira mais delicada. Má, eu percebi e só posso te agradecer!
À Tassi, por ter me abrigado diversas vezes durante os anos de mestrado, por se interessar pelo meu trabalho e pela sua amizade. Espero ter você sempre por perto.
Às meninas que fizeram da minha graduação um aprendizado sem igual: Isabela Lemos, Juliana Tambelli, Silvia Cavalcanti e Juliana Sharff. Sinto muito a falta de vocês.
Aos meninos Vitor e Bruno, Rafael (Bora), Felipe, Thiago, Israel, Elder, Rodrigo e Flávio, pelos momentos de diversão garantida.
À Adriana, Aninha Macchione, Isabel (Bel), Natalia, Laura e Talita, que se aproximaram nestes dois últimos anos e que se tornaram especiais.
Ao Bruno Costa, que sempre perguntou sobre o trabalho e discutiu comigo alguns pontos.
Ao Dante, que me ajudou muito com as normas APA, fazendo delas como faz de qualquer outra coisa, algo muito divertido.
À minha turma do mestrado com a qual me diverti muito. Sinto não ter passado mais tempo com vocês.
À Dinalva pela recepção sempre carinhosa.
À Ziza por ter sido a primeira professora com quem trabalhei em uma pesquisa e pela sua presença e torcida durante todo o trabalho, desde a graduação até o fim desta Dissertação.
Aos meus supervisores: Maly Delitti, Daniel Del Rey, Paola Almeida,
Márcio Alleoni, Lygia Dorigon e Ana Silvia Figueiral por terem me ensinado diferentes maneiras de trabalhar, o que ajudou muito neste trabalho e na vida profissional.
É difícil transformar em palavras todo o meu agradecimento.
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There are places I remember All my life though some have changed
Some forever not for better Some have gone and some remain
(The Beatles)
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SUMÁRIO
Introdução .................................................................................................................................... 1
Método ........................................................................................................................................ 24 Participantes .................................................................................................................................................... 24 Considerações Éticas .................................................................................................................................... 25 Local De Coleta De Dados ........................................................................................................................... 25 Material .............................................................................................................................................................. 26 Variáveis Dependentes ................................................................................................................................ 27 Dados Antropométricos .............................................................................................................................. 27 Delineamento................................................................................................................................................... 28 Registro Dos Comportamentos-Alvo ..................................................................................................... 28 Procedimento .................................................................................................................................................. 28 Linha De Base .................................................................................................................................................. 30 Intervenção ....................................................................................................................................................... 30 Procedimentos De Intervenção Para Modificar Os Comportamentos-Alvo .......................... 30
Resultados .................................................................................................................................. 34 Participante P1 ................................................................................................................................................ 34 Participante P2 ................................................................................................................................................ 43 Participante P3 ................................................................................................................................................ 50
Discussão .................................................................................................................................... 57
Referências ................................................................................................................................. 64
Apêndice A ................................................................................................................................. 69
Apêndice B ................................................................................................................................. 70
Apêndice C ................................................................................................................................. 72
Apêndice D ................................................................................................................................. 73
Apêndice E ................................................................................................................................. 74
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Adesão ao plano alimentar observada nas filmagens durante o almoço (painel superior) e o jantar (segundo painel) e relatada por P1 no lanche da manhã (terceiro painel) e no lanche da tarde (quarto painel) ............................................................................................... 35
Figura 2 - Comparação do que P2 relatou ter comido com as filmagens do almoço e do jantar. ........................................................................................................................................... 41
Figura 3 - Adesão de P2 ao plano alimentar observada nas filmagens do café da manhã, do almoço e do jantar e relatada pela participante nos lanche da manhã, da tarde e na ceia apresentada respectivamente nos painéis de cima para baixo ..................................................... 46
Figura 4 - Adesão de P3 ao plano alimentar observada pelas filmagens para o café da manhã, almoço e jantar e relatada por ele no lanche da manhã, da tarde e ceia respectivamente na ordem em que os painéis aparecem de cima para baixo. ............................................................. 52
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Número de vezes e porcentagem que P1 deixou de filmar as refeições em cada fase .............................................................................................................................................. 37
Tabela 2 - Relação entre comer toda a salada ou todo o prato quente e a ordem que esses alimentos foram servidos ne almoço e no jantar em todas as fases ............................................ 38
Tabela 3 - Número de refeições realizadas por dia pelo participante P1 ................................... 40
Tabela 4 - Avaliação da precisão do relato de P1 de acordo com o tipo de alimento ............... 42
Tabela 5 - Duração (em minutos) da atividade física semanal praticada por P1 registrada pelo pedômetro ............................................................................................................................ 42
Tabela 6 - Medidas antropométricas de P1 ................................................................................ 43
Tabela 7 - Número de vezes e porcentagem que P2 deixou de filmar as refeições em cada fase .............................................................................................................................................. 47
Tabela 8 - Número de refeições que P2 relatou ter feito no dia anterior ................................... 48
Tabela 9 - Duração da atividade física semanal praticada por P2 registrada pelo pedômetro .................................................................................................................................... 48
Tabela 10 - Valores antropométricos avaliados para P2 ........................................................... 49
Tabela 11 - Número de vezes e porcentagem que P3 deixou de filmar as refeições em cada fase .............................................................................................................................................. 53
Tabela 12 - Número de refeições que P3 relatou ter feito no dia anterior ................................. 54
Tabela 13 - Duração da atividade física semanal praticada por P3 registrada pelo pedômetro .................................................................................................................................... 55
Tabela 14 - Medidas antropométricas de P3 .............................................................................. 56
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Cruz, M. T. M. C. (2012). Obesidade infantil: Uma proposta de tratamento comportamental. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Orientador: Fani Eta Korn Malerbi
Linha de pesquisa: Desenvolvimento de metodologia e procedimentos tecnológicos em saúde em diferentes contextos institucionais.
Resumo
O objetivo da presente pesquisa foi avaliar um programa de economia de fichas para modificar o comportamento de crianças obesas. Participaram do estudo dois jovens do sexo masculino com idades de 10 e 11 anos uma adolescente com 15 anos, todos apresentavam peso excessivo para a idade e freqüentavam uma ONG voltada para o tratamento da obesidade infantil e suas mães. A pesquisadora emprestou uma filmadora para os participantes e solicitou que P1 filmasse o almoço e o jantar cinco vezes por semana e P2 e P3 filmassem o café da manhã, almoço e jantar todos os dias da semana. Os filmes eram entregues semanalmente à pesquisadora que categorizava a adesão ao plano alimentar elaborado pela nutricionista da ONG em três classes: adesão total, adesão parcial ou não aderiu. Um observador independente categorizou 20% das filmagens de cada participante para calcular a concordância com a pesquisadora. Primeiramente, ocorreu apenas a observação e o registro da adesão ao plano alimentar para todos os participantes. Além de analisar os filmes, a pesquisadora entrevistava-os, três vezes por semana, questionando a respeito da qualidade e da quantidade de alimento e do número de refeições feitas no dia anterior. Depois que a adesão ao plano alimentar atingiu a estabilidade no almoço e no jantar para P1, vindo a atingir também a estabilidade nas três refeições filmadas para P2 e P3, as mães passaram a receber instrução para fornecer fichas para os filhos quando se serviam de acordo com o plano alimentar e depois trocá-las por itens preferidos pelos jovens. Após P1 passar a aderir ao plano alimentar, sua mãe recebeu instrução para fornecer-lhe fichas pela adesão aos lanches da manhã e da tarde segundo o delineamento de Linha de Base Múltipla e suspender o fornecimento de fichas no almoço e no jantar. A mãe de P1 interrompeu a participação no estudo antes que pudesse ter sido observada uma perda de peso dele. P2 e P3 foram submetidos apenas às fases de Linha de Base e Reforçamento da adesão ao plano alimentar no café, almoço e jantar. Os resultados mostraram que para todos os participantes houve melhora na qualidade da alimentação após o fornecimento de fichas para a adesão ao plano alimentar. Apesar disso, P1 ganhou peso durante o estudo, mantendo-se dentro da classificação de obesidade. P2 perdeu peso, porém não o suficiente para deixar de ser considerada obesa. P3 foi o participante que mais perdeu peso, atingindo um peso considerado normal para a sua idade. O delineamento intra-sujeito empregado evidenciou a necessidade de criar um procedimento individualizado, considerando as idiossincrasias dos participantes. Os dados também apontaram a importância da família, disponibilizando alimentos adequados, evitando alimentos excessivamente calóricos e com baixa qualidade nutricional e reforçando os comportamentos alimentares saudáveis.
Palavras-chave: obesidade infantil, economia de fichas, adesão ao plano alimentar, Linha de Base Múltipla.
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Cruz, M. T. M. C. (2012). Childhood obesity: A suggestion of behavioral treatment. Master thesis. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Advisor: Fani Eta Korn Malerbi
Research Line: Development of methodology and technological procedures in health in different institutional contexts
Abstract
The objective of this work was to evaluate a program of token economy to modify the behavior of obese children. Two male youngsters aged 10 and 11 years old and an adolescent girl aged 15 years old participated in the research, all of whom where above the desired weight and sought a non-profitable organization aimed at treating childhood obesity and their mothers. The researcher lent a movie camera to the participants and asked that P1 filmed lunch and dinner five times a week and asked that P2 and P3 filmed breakfast, lunch and dinner every day of the week. The videos were delivered weekly to the researcher, who categorized the adherence to the food orientation provided by the nutritionist from the non-profitable organization in three classes: total adherence, partial adherence and non-adherence. An independent observer categorized 20% of each participant’s videos to calculate the agreement between the researchers. Initially, it was only taken observation and register of the adherence to the nutritional orientation for all the participants. Besides the video analysis, the researcher interviewed the participants three times a week, asking about the quality and quantity of the food and number of meals made on the day before. After the adherence to the nutritional orientation reached stability in lunch and dinner for P1, eventually reaching stability on the three filmed meals for P2 and P3, their mothers received instruction to give tokens to their children when they served themselves according to the nutritional orientation then exchanging the tokens for tangible items preferred by de youngsters. After P1 adhered to the nutritional orientation, his mother received instruction to give tokens for the adherence to the morning and afternoon snacks according to the Multiple Base Line design and to suspend the tokens in the lunch and dinner. P1’s mother suspended their participation in the study before it was possible to observe any weight loss. P2 and P3 were submitted to the Base Line and Reinforcement phase of the adherence to the nutritional orientation in breakfast, lunch and dinner. The results showed a better quality of food consumption for all participants after the token delivery for the adherence to the nutritional orientation. Despite that, P1 gained weight during the study, remaining in the obesity classification. P2 lost weight but not enough to abandon the obese classification. P3 was the participant who lost the largest amount of weight, reaching a normal weight for his age. The intra-subject applied also showed the necessity to create a individualized procedure, considering the idiosyncrasies of the participants. The data also showed the importance of the family, offering adequate food, avoiding excessive caloric food and with low nutritional quality and reinforcing healthy feeding behavior.
Key words: childhood obesity, token economy, adherence to nutritional orientation, Multiple Base Line.
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INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS (World Health Organization)
obesidade e sobrepeso são definidos como acúmulo anormal ou excessivo de gordura no
corpo (World Health Organization, 2011a). Este acúmulo é resultado de um consumo
maior de energia do que o organismo gasta (Epstein, Salvy, Carr, Dearing, & Bickel,
2010).
Embora a definição de obesidade para adultos e crianças seja a mesma, os
critérios diagnósticos e os tratamentos são bastante diferentes levando em consideração
as faixas etárias, indicando que a obesidade infantil deva ser analisada a partir das suas
peculiaridades (Foreyt, Poston, McInnis & Rippe, 2003; Mancini, Geloneze, Salles,
Lima & Carra, 2010; Straub, 2007; Wadden & Stunkard, 2002).
Para adultos, o diagnóstico é feito através do índice de massa corporal (IMC).
Esse índice é calculado dividindo-se o peso da pessoa em quilos pela sua altura em
metros elevada ao quadrado. Para que um adulto seja considerado obeso, seu IMC deve
ser maior ou igual a 30, segundo a OMS (World Health Organization, 2011b).
Há uma grande variedade de métodos para o diagnóstico da obesidade infantil.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (2008) recomenda que ele se baseie em exames
físicos, história e dados antropométricos. Além de medidas precisas de gordura
corporal, formas de medição acessíveis e aceitáveis para a criança, as quais devem ser
comparadas com valores de referência publicados.
Um dos critérios de diagnóstico de obesidade infantil baseia-se no cálculo do
índice peso/altura que é comparado com índices de referência, sendo a da OMS a mais
usada (World Health Organization, 2011c).
Outro critério para o diagnóstico de obesidade infantil baseia-se no cálculo do
IMC cujo resultado deve ser comparado com uma tabela da OMS, levando-se em conta
a idade e o sexo da criança (World Health Organization, 2011d). A faixa de percentil do
IMC entre 5 e 85 indica peso normal, entre 85 e 95 sobrepeso e percentis maiores que
95, ou IMC z maior que 2, obesidade (Daniels et al., 2005). Segundo Sotelo, et al.
(2004) esse último é o método de avaliação de obesidade infantil mais usado na prática
clínica. Diferentemente do que acontece com o adulto, um IMC elevado de uma criança
não é preditivo de morbidade e mortalidade.
Segundo o IBGE a frequência de crianças brasileiras entre cinco e nove anos
com excesso de peso era de 33,5% em 2008-2009. Entre os adolescentes a frequência
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do excesso de peso foi de 21,5%, sendo que esta número representa um número seis
vezes maior para os meninos e três vezes maior para as meninas em comparação com os
dados de 34 anos atrás (IBGE, 2009). Analisando vários estudos realizados no Brasil
entre 1998 e 2005, Damiani e Damiani (2010) verificaram que a taxa de sobrepeso de
adolescentes brasileiros aumentou cerca de 0,5% ao ano nesse período e nas regiões
Sudeste e Nordeste a prevalência de obesidade e de sobrepeso aumentou de 4,1% para
13,9%.
Estudos realizados em Londrina – Paraná mostraram que o sobrepeso em
meninos aumentou de 11,3% em 1998 para 19,7% em 2005. No caso da obesidade, este
aumento foi de 12,3% para 17,5% no mesmo período e no mesmo local. Para as
meninas em Londrina, as taxas de prevalência de sobrepeso aumentaram de 12,2% em
1998 para 17,3% em 2005 e de obesidade diminuíram de 13,7% para 9,3% nesse
mesmo período (Damiani & Damiani, 2010).
A obesidade infantil é um fator de risco para uma série de problemas de saúde
tais, como, o desenvolvimento de diabetes tipo 2, puerpério adiantado, irregularidades
menstruais, mudanças na secreção do hormônio do crescimento, hipertensão,
dislipidemia, síndromes obstrutivas e apnéia do sono (Sabin, Crowne & Shield, 2004).
Além disso, a obesidade infantil também contribui para a ocorrência de depressão,
ansiedade e déficit em competências sociais (Luiz, Gorayeb, Liberatore, & Domingos,
2005).
Além de prejudicar o indivíduo, a obesidade ainda traz problemas para a saúde
pública, pois muitas das suas conseqüências necessitam de tratamento constante.
Estima-se que nos Estados Unidos o custo do alto IMC na infância é de
aproximadamente $14,1 dólares por ano em medicação, atendimentos de emergência e
atendimento clínico (Trasande & Chatterjee, 2009). As conseqüências da obesidade
adulta muitas vezes geram a necessidade de internações hospitalares, o que no Brasil
corresponde a 3,02% dos custos de internação para os homens e 5,83% para as mulheres
(Coutinho & Lins, 2010).
Ford e Mokdad (2008) fizeram uma revisão de estudos populacionais
preocupados em avaliar a prevalência de obesidade, correlatos e custos econômicos,
utilizando como palavras-chave os nomes de países do hemisfério ocidental ou termos
como “Latin America”, “Central America”, “Caribe” e a palavra obesidade em inglês
(obesity). Os resultados chamam a atenção para o fato de que a obesidade (não
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especificam se infantil ou adulta) vem se tornando uma questão de saúde pública no
Brasil e México.
Além dos problemas de saúde e dos custos econômicos é importante ressaltar
que a qualidade de vida da criança obesa também pode estar comprometida pela
obesidade. Poeta, Duarte e Giuliano (2010) compararam a qualidade de vida - avaliada
através das respostas ao questionário PedsQL - de crianças com peso menor que
percentil 85 com aquela de crianças com peso maior que o percentil 85 (obesas) e
verificaram que essas últimas apresentavam qualidade de vida significativamente pior
nos domínios físico, emocional, social, psicossocial e na qualidade de vida geral.
Estes dados mostram que a obesidade infantil e adulta tem consequências
importantes para o indivíduo e para a sociedade, o que torna relevante o estudo de
possíveis tratamentos.
Entre os tratamentos disponíveis, há aquele que emprega medicamentos,
atualmente bastante discutido na mídia brasileira, uma vez que esses medicamentos tem
efeitos colaterais prejudiciais à saúde e muitas vezes são empregados sem que outras
alternativas tenham sido testadas (ONU, 2011; Formenti & Bassetti, 2011).
Há dois tipos mais comuns de medicamentos para a redução de peso: um
aumenta a sensação de saciedade e o outro inibe o apetite. O tratamento medicamentoso
tem sido mais utilizado com adultos, uma vez que a segurança do uso de medicamentos
para crianças e adolescentes ainda não está comprovada (Damiani & Damiani, 2010).
Outro tratamento disponível para a obesidade adulta e que eventualmente pode
ser empregado em crianças e adolescentes é a cirurgia bariátrica, que apesar de ser a
forma mais eficaz e duradoura deve ser escolhido apenas em casos excepcionais pelo
seu caráter invasivo e riscos associados (Damiani & Damiani, 2010).
Um tratamento não medicamentoso para tratar a obesidade é a mudança de estilo
de vida envolvendo uma combinação de dieta, exercício e alteração de outros
comportamentos relacionados com o peso (Goldfield, Raynor & Epstein, 2002;
Kitzmann et al, 2010).
Comer em excesso talvez seja determinado pelo fato de que a resposta de
alimentar-se produz reforços positivos imediatos, embora a longo prazo, tenha
conseqüências negativas como o sobrepeso ou a obesidade. Alguns indivíduos com
excesso de peso consomem pouco alimento, mas apresentam uma vida sedentária, não
tendo gasto calórico. As comodidades da vida moderna como deslocar-se de carro, ficar
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sentado em frente à televisão ou jogar vídeo-game estão associadas a reforçadores de
comportamentos sedentários.
O comportamento de alimentar-se também pode ser entendido como uma cadeia
de respostas, ou seja, uma determinada resposta altera alguma variável que controla a
resposta subsequente (Skinner, 1953/1965). Segundo Skinner pode haver uma unidade
funcional na cadeia de respostas alimentar-se, já que cortar o alimento e colocá-lo na
boca são respostas sucessivas reforçadas pela presença do alimento na boca.
Uma das formas do obeso controlar seu próprio comportamento ocorre através
da manipulação de algumas propriedades da cadeia de respostas envolvidas no
alimentar-se. Ferster, Nurnberger e Levitt (1973) afirmam que alongar a cadeia é uma
das formas, pois quanto mais longa a cadeia, menor será a disposição do indivíduo para
iniciá-la. A pessoa pode alongar a sequência de respostas, colocando o alimento no
garfo apenas depois de ter engolido a porção que estava na boca e/ou aumentando o
intervalo entre garfadas. Uma forma de inserir mais elos de respostas na cadeia seria,
por exemplo, consumir apenas alimentos que precisam ser preparados antes de serem
servidos.
Para diminuir a probabilidade de ocorrência de comer, Ferster et al. (1973)
também sugerem alterar os estímulos que tem a função discriminativa na contingência
de reforçamento. Para esses autores, as pessoas deveriam comer sempre no mesmo
ambiente, por exemplo num lugar em que houvesse uma mesa apropriada para as
refeições, e não em lugares nos quais passassem muito tempo no seu dia-a-dia, de forma
que apenas o lugar “apropriado para as refeições” adquirisse propriedades de estímulo
discriminativo para a resposta de alimentar-se. Recomendam também que as pessoas
não pratiquem outras atividades enquanto se alimentam.
Respostas eliciadas como os movimentos gástricos podem também adquirir a
função de estímulo discriminativo para a resposta de alimentar-se. Por este motivo
Ferster et al. (1973) sugerem que as pessoas alimentem-se sempre no mesmo horário,
para que sejam eliciadas as respostas condicionadas apenas em horários específicos.
Os alimentos calóricos podem ter um valor reforçador maior que os de baixa
caloria e frequentemente indivíduos obesos escolhem alimentos muito calóricos. Taif
(1976) sugere que a escolha de alimentos muito calóricos deveria ser alterada se o
objetivo for perder peso.
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Várias técnicas denominadas comportamentais ou cognitivo-comportamentais
têm sido empregadas em estudos cujo objetivo é relatar procedimentos para tratar a
obesidade, seja ela infantil ou adulta. Estas técnicas geralmente fazem parte de
procedimentos de tratamentos/terapias (Díaz, Esparza-Romero, Moya-Camarena,
Robles-Sardín & Valencia, 2010; Garaulet & Heredia, 2009; Heller, 1990; Kerbauy,
1972) ou de programas especialmente elaborados para o tratamento da obesidade
(Hipsky & Kirk, 2002; Mellin, Slinkard, Irwin, 1987; Sothern, Shumacher, Von Almen,
Carlisle & Udall, 2002; The Look AHEAD Research Group, 2006) e são pouco
descritas nos artigos.
O emprego destas técnicas no tratamento da obesidade infantil nem sempre tem
o objetivo de diminuir o peso, mas sim de diminuir a velocidade do ganho de peso ou
manter o peso atual, dependendo da idade da criança, o grau de sobrepeso e a presença
ou não de alguma comorbidade (Daniels et al., 2005).
Conhecer a idade da criança também é importante para a escolha do tratamento
comportamental. Wolfe (1996) especificou que técnicas como o auto-monitoramento e
reforçamento recíproco só podem ser usadas com crianças maiores que oito anos, pois
estas têm acesso independente ao alimento, sofrem influência de amigos e leem e
escrevem.
Jelalian e Saelens (1999) concluíram a partir de uma revisão da literatura que a
modificação do comportamento de alimentar-se e de praticar atividades físicas
apresenta melhores resultados que apenas a educação sobre a alimentação. Esses dados
são sustentados por uma meta-análise que mostra que tratamentos com modificação de
estilo de vida são mais eficazes que a ausência de tratamento ou apenas o fornecimento
de informações sobre o controle de peso a curto e longo prazo (Wilfley et al. 2007).
Em uma revisão sistemática (Luttikhuis, et al., 2009) avaliaram 54 estudos com
tratamentos de mudança de estilo de vida para crianças e adolescentes que tinham
ênfase em prática de atividade física e comportamento sedentário, dieta ou modificação
de comportamento (que os autores definiram como uma terapia que teria o objetivo de
mudar os padrões de pensamento e ações em relação ao consumo de alimento, prática
de atividade física e o ambiente físico da família) que compararam grupos com o
tratamento com grupos sem o tratamento. Segundos os autores, entre os estudos de
estilo de vida avaliados foram observados poucos efeitos adversos, sendo que apenas 18
estudos apontaram algum efeitos (piora de desordens alimentares, depressão ou
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ansiedade). No entanto foi comum observar mudanças no crescimento das crianças e
razões para suspender o tratamento. A conclusão dos autores é de que o tratamento de
mudança de estilo de vida é mais eficaz do que o tratamento padrão ou a auto-ajuda
para crianças e adolescentes com sobrepeso.
Uma série de estudos procuraram estabelecer se a mudança de comportamento
foi responsável pela mudança no peso em pessoas obesas ou com sobrepeso. No Brasil,
Kerbauy (1972) testou um programa de autocontrole para tratar obesidade em 15
mulheres com idades entre 15 e 62 anos, sendo o peso corporal das participantes do
estudo a variável dependente.
Sete mulheres foram atendidas individualmente, três em um grupo e duas em
outro. Nos primeiros dois meses, as sessões foram realizadas duas vezes por semana,
com duração de aproximadamente 40 minutos para as pessoas que eram atendidas
individualmente e de 90 minutos para os grupos. Conforme a pesquisadora observava
que os sujeitos passavam a ter um maior controle sobre sua alimentação, os
atendimentos foram espaçados, variando o tempo que cada participante passava em
atendimento.
Nas sessões alguns princípios da análise do comportamento foram ensinados
para as participantes as quais recebiam tarefas para colocá-los em prática sempre em
situações relacionadas com a alimentação. As participantes recebiam uma ficha de
registro que deveria ser preenchida todos os dias da semana, com todos os alimentos
consumidos. Nesta ficha elas deveriam registrar: o início, o término e os intervalos entre
as refeições, o que havia comido, especificando quantidade e qualidade, a atividade que
estava realizando e/ou como se sentia antes e depois de comer e outras observações.
Primeiramente foram instruídas a registrar sua alimentação por uma semana o
que constituiu a linha de base. Em seguida foi pedido que fizessem pausas nas três
refeições principais depois que passavam da metade do prato. Essas pausas não
deveriam durar mais que dois minutos. As participantes deveriam registrar se fizeram
ou não as pausas e a duração da refeição. O programa só continuaria para uma dada
participante se ela fizesse essas pausas, durante uma semana mesmo com intervalo
inferior a dois minutos.
A autora também sugeriu que as participantes aumentassem a cadeia de
respostas interrompendo a alimentação nas três refeições principais pelo período inicial
de dois minutos e depois aumentando essa interrupção até completar cinco minutos.
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Além disso, também foi pedido às participantes que fizessem garfadas espaçadas
(engolindo antes de uma nova garfada) com o objetivo de diminuir a frequência do
comer.
Em seguida foram fornecidas instruções para que as participantes aumentassem
ainda mais o espaçamento entre garfadas, pousando o garfo para diminuir a velocidade
da alimentação e aumentar a cadeia de respostas, pelo acréscimo de elos. Ao seguir
essas instruções, as participantes também apresentariam respostas incompatíveis com a
resposta de levar o garfo à boca. Também foram orientadas a servir-se de comida
durante as refeições e guardar as travessas em seguida, aumentando a cadeia de
respostas e seu custo se repetissem o prato.
Outra orientação dada foi a de fazer duas listas: (a) uma com atividades que
praticavam em alta frequência que poderiam funcionar como comportamentos
alternativos ao de alimentar-se e (b) outra de medos com o objetivo de se obter uma
lista de eventos que pudessem funcionar como consequências aversivas para o
comportamento de comer em excesso. Foi pedido que apresentassem respostas verbais
que salientassem as consequências aversivas de engordar quando estivessem diante de
alimentos calóricos ou em situações em que a resposta de alimentar-se em grande
quantidade fosse muito provável e que apenas se alimentassem em situações
específicas, não comendo realizando outras atividades. As participantes receberam
instruções de que se houvesse outras pessoas à mesa, poderiam conversar com elas,
mas apenas isto. Finalmente para as participantes atendidas individualmente e para o
primeiro grupo foi fornecida uma lista de alimentos com seus respectivos valores
calóricos.
Os atendimentos duraram em média 6,5 meses. A média de perda de peso
mensal de todas as participantes do estudo foi 1,157 kg e o desvio padrão 0,713 kg. De
modo geral, o procedimento mostrou-se eficaz para 75% das participantes. Apesar de a
autora discutir possíveis critérios de eficácia, não ficou claro qual foi o utilizado por ela.
A maioria das participantes (12) relatou não ter aplicado todas as técnicas sugeridas.
A autora discute que uma forma de avaliar a veracidade dos registros das
participantes é compara-los com os resultados alcançados, isto é, se uma participante
registrou que seguiu todas as instruções, mas não perdeu peso, é possível que o registro
não corresponda ao que ela fez. No entanto, salienta que a melhor forma de garantir que
a participante está aplicando as técnicas sugeridas é observar diretamente seu
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comportamento. Além disso, ela também discute que como as técnicas foram aplicadas
aos poucos e sempre se somavam, ou seja, a participante não deixava de aplicar uma
técnica para aplicar outra, não há como identificar quais delas produziram as maiores
alterações no comportamento das participantes.
Heller (1990) também avaliou, a partir do relato das participantes quais são as
variáveis críticas responsáveis pelo controle de peso em um grupo de mulheres obesas
(índice de excesso de peso maior que 20%, a autora não relata como esse índice foi
calculado) com idades entre 16 e 45 anos. As técnicas utilizadas pela pesquisadora
foram: (a) ficha de registro - em que a própria participante deveria registrar a qualidade
e a quantidade do alimento ingerido, tempo e a circunstância da alimentação e a prática
de atividades físicas, (b) aumento da cadeia de respostas de alimentar-se, inserindo
pausas, garfadas espaçadas e instruindo que elas se servissem na cozinha e se
alimentassem em outro local, (c) a emissão de comportamentos alternativos, (d) a
delimitação dos estímulos antecedentes às respostas de alimentar-se, (e) treino de
relaxamento, (f) orientação das nutricionistas, (g) prêmios para quem perdesse mais
peso, (h) treino de comportamentos que diminuíssem a frequência do comer em
situações sociais e (i) treino de falas que deveriam ser apresentadas de forma
contingente a algumas respostas das participantes. O procedimento foi dividido em duas
fases. A primeira envolvia o programa de autocontrole e durou oito meses (24 sessões).
Na segunda fase, que durou 12 meses, o objetivo era garantir a manutenção dos
desempenhos adquiridos.
Ao final da primeira fase, três das oito participantes deixaram de ser
consideradas obesas e ao final da segunda fase cinco participantes alcançaram este
objetivo. Na primeira fase, o comportamento alimentar das participantes mudou nos
seguintes aspectos: a velocidade da mastigação diminuiu e aumentaram as pausas
durante as refeições, as participantes passaram a ter horário e local para as refeições
(delimitação de estímulos antecedentes) e diminuíram o consumo de alimentos além de
adotarem uma dieta balanceada.
Tanto na pesquisa da Kerbauy quanto na da Heller a mudança do
comportamento das participantes foi medida indiretamente pelo auto-registro das
participantes. Apesar da preocupação de Kerbauy (1972) em avaliar a fidedignidade dos
registros comparando-os com a perda de peso das participantes, pode ter havido
mudança comportamental sem diminuição do peso.
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Com o objetivo de observar diretamente o comportamento dos participantes,
Coates e Thoresen (1981) observaram diretamente o comportamento de três
adolescentes em suas próprias casas e o ambiente em que viviam para avaliar se
mudanças no peso corporal eram resultantes de mudanças de comportamento. Um dos
participantes serviu como controle. Os observadores identificaram os alimentos
dispostos na primeira fileira do armário, geladeiras e congeladores e analisaram a
quantidade média de calorias dessa oferta. Além disso, registraram o tipo de alimento
preparado e como o mesmo era servido (frequência de itens não servidos na mesa
dividida pelo total de itens servidos), o quanto o indivíduo foi ajudado nas refeições por
outras pessoas presentes no horário da refeição (frequência de ajudas dividida pelo
número médio de vezes em que outros membros da família se serviam sozinhos),
horário em que a refeição era feita, posto da duração da refeição em relação aos outros
membros da família (se o participante terminava em primeiro, segundo,... último lugar),
número de mordidas mais número de goles por minuto, conversas (os autores não
definiram qual era a unidade de análise) por minuto, índice de comer atrasado (número
de mordidas mais número de goles que eram seguidos por outras mordidas ou goles
dividido pelo número de mordidas mais número de goles que eram seguidos por
descansar os talheres).
Coates e Thoresen (1981) também solicitaram aos participantes que fizessem
um registro antes de comer qualquer refeição, lanche ou antes de fazer exercício. No
caso da alimentação era pedido que eles registrassem hora, lugar, tipo de alimento,
quantidade de alimento (os autores não relataram como os adolescentes avaliavam a
qualidade e a quantidade), outras atividades que eles estariam realizando junto com a
alimentação e preenchessem uma escala de fome que variava de “0” (sem fome) a “3”
(extremamente faminto). Quanto à atividade física, os participantes deveriam registrar o
tipo e a quantidade. Este estudo durou 14 semanas, sendo as 4 primeiras de linha de
base e as 10 seguintes de intervenção com coleta de dados quatro vezes por semana em
dias escolhidos de forma aleatória, garantindo que uma vez ocorresse no fim-de-
semana. Os participantes eram pesados e medidos semanalmente. A intervenção tinha o
objetivo de ensinar para os participantes habilidades para controlar o comer e a prática
de atividades físicas e ensinar aos membros da família habilidades para dar apoio e
encorajar comportamentos alimentares apropriados.
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O sujeito controle encontrava com o terapeuta com a mesma periodicidade e na
mesma quantidade de vezes que os sujeitos do grupo experimental, além de passar pelo
mesmo procedimento de coleta de dados. Quanto ao tratamento, o sujeito controle
recebia resumos por escrito do mesmo tratamento que os sujeitos do grupo experimental
recebiam. Este procedimento foi utilizado para garantir que as mudanças de
comportamento dos participantes do grupo experimental deviam-se ao tratamento
recebido e não à presença do observador.
Os resultados mostraram que os participantes que passaram pela intervenção
perderam peso (20 e 11,5 libras1) enquanto o sujeito controle ganhou peso (5 libras2).
Ainda com o objetivo de avaliar o papel da mudança de comportamento para a
redução de peso, Westenhoefer (2001) estudou a alteração de algumas dimensões do
comportamento de comer, de praticar atividade física e formas de se lidar com o
estresse. O autor fez um estudo com 1359 participantes adultos (não especificando se
estes eram obesos ou estavam com sobrepeso). Em relação ao comportamento de
comer, duas das quantidades dimensionais especificadas foram “o ritmo e freqüência da
alimentação”. Além disso, avaliou o quanto o participante evitava alimentos gordurosos
e doces, substituindo-os por vegetais e frutas, se o participante sentava-se para comer e
evitava outras atividades na hora da refeição e se restringia a quantidade de alimentos
consumidos. Em relação à atividade física, avaliou a quantidade de exercício diário
praticado por cada participante. Quanto à forma de lidar com o estresse, avaliou a
“sensação subjetiva do estresse”, o “relaxamento consciente” e o manejo de
“alimentação induzida emocionalmente” (o autor não define essas categorias).
Nessa pesquisa, Westenhoefer (2001) também avaliou a categoria “controle
rígido”, nome dado à classe de respostas de alternar uma dieta extremamente restritiva
com uma dieta sem nenhum controle da alimentar e a categoria “controle flexível” para
a apresentação de mudanças graduais no comportamento de controlar a alimentação e o
peso, sendo isso entendido como uma tarefa permanente, como por exemplo, não
suprimir completamente os doces da dieta, mas selecionar aqueles menos calóricos e
comê-los numa freqüência menor.
Antes da intervenção Westenhoefer (2001) identificava quais comportamentos
cada indivíduo apresentava antes da intervenção através de um questionário respondido
1 9, 072 kg e 5,2164 kg, respectivamente 2 2,268 kg
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pelo próprio participante. A baixa pontuação obtida por um determinado item indicava
que aquele comportamento constituía uma dificuldade para a perda de peso. Após um
ano, o autor avaliou as mudanças comportamentais e nos pesos corporais, considerando
como sucesso uma perda de peso de pelo menos 5% do peso inicial. Vale ressaltar que o
autor não especificou qual foi o procedimento utilizado para alterar estes
comportamentos.
Apenas as mudanças nas categorias ritmo e frequência da alimentação,
qualidade da alimentação, situações das refeições, restrição da quantidade de alimento,
exercícios e atividades físicas e forma de lidar com o estresse mostraram-se
relacionadas com perda de peso. Os resultados indicaram que 80 a 85% dos
participantes que melhoraram sua pontuação em todos as categorias (consideradas
comportamentos-problema ou não) tiveram uma perda de peso de pelo menos 5% do
peso inicial. Cinquenta a 70% daqueles que só melhoraram a pontuação nos
comportamentos com pontuação baixa ou melhoraram sua pontuação em pelo menos
três das categorias cuja pontuação pré-intervenção não era baixa e um terço (30 a 40%)
dos participantes que não apresentaram qualquer mudança na pontuação dos
comportamentos especificados tiveram sucesso na diminuição do peso. Os participantes
que conseguiram manter as mudanças alcançadas nas pontuações durante o primeiro
ano tiveram maior sucesso na redução de peso. Esses dados sugerem que quanto mais
comportamentos relevantes, principalmente aqueles que ocorrem em uma quantidade
dimensional inadequada para a perda de peso, são mudados, maior é a probabilidade de
que o tratamento produza diminuição no peso. Portanto, a identificação dos
comportamentos que devem ser mudados deveria ser o primeiro passo numa
intervenção cujo objetivo é ajudar a pessoa a perder peso.
A manutenção ou melhora nas categorias de Westenhoefer (2001) com exceção
de “controle rígido” e “restrição da quantidade de alimento” após um ano da
intervenção mostraram-se associadas à manutenção da redução do peso depois de 3
anos (Westnhoefer, Falck, Stellfeldt & Fintelmann, 2004). Os dados obtidos sugerem
que quando o indivíduo mantém a mudança no seu comportamento relacionado ao
excesso de peso, a probabilidade de sucesso na manutenção do peso alcançado após 3
anos é maior.
Ainda com o objetivo de investigar o papel da mudança do comportamento
(medida pelo relato dos participantes) no momento da alimentação estavam
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relacionadas com a redução do IMC de adolescentes obesos, Hart et al. (2010)
avaliaram o comportamento de adolescentes com idades entre 13 e 16 anos no início do
tratamento e após quatro semanas de tratamento, enquanto este ainda estava em curso.
Para mudar o comportamento dos participantes os pesquisadores planejaram
sessões separadas para os adolescentes e para os pais. Os adolescentes recebiam uma
dieta de baixa caloria e eram orientados a praticar atividade física. Além disso, eles
recebiam informações sobre os grupos alimentares e eram encorajados a seguir dietas
balanceadas, com refeições distribuídas igualmente durante o dia, aumentar o consumo
de frutas e vegetais, além de reduzir o consumo de comidas com alto teor de gordura.
Após quatro semanas de tratamento os adolescentes que aumentaram o consumo
de frutas (avaliada pela comparação do registro de 7 dias do início do tratamento com o
registro após 4 semanas de tratamento) e que relataram aumento no consumo de versões
de alimentos altamente calóricos com calorias reduzidas (por exemplo, refrigerante diet)
tiveram uma maior redução do IMC.
Fuller, Perri, Leermakers e Guyer, (1998) avaliaram o papel de um treinamento
individualizado de novas respostas para o tratamento de pessoas com o peso 20 a 100%
acima do ideal. Os autores compararam três condições: (a) um programa de educação
alimentar (seis sessões mensais em que eram fornecidas informações sobre as melhores
formas para perder peso), (b) um tratamento comportamental (TC) com 25 sessões
semanais nas quais os participantes recebiam um dólar por participar das sessões e um
dólar por levar o registro alimentar completo para a mesma e (c) tratamento
comportamental personalizado (TCP) com 25 sessões semanais em que os participantes
passavam pelo mesmo procedimento que o grupo TC com a diferença de que os
recebiam o dinheiro por apresentar algumas respostas que se aproximavam
gradualmente dos objetivos finais de consumo calórico, consumo de gordura e prática
de exercícios (procedimento de modelagem dos comportamentos-alvo).
Os resultados mostraram não haver nenhuma diferença significativa entre os
grupos TC e TCP. No entanto, esses dois grupos foram significantemente mais eficazes
que o grupo de educação alimentar. Os autores não avaliaram quais seriam as respostas
que deveriam aumentar de freqüência e quais seriam as respostas que deveriam diminuir
de freqüência para em seguida aplicar o treinamento individualizado. Eles apenas
relataram que reforçaram algumas respostas que se aproximavam gradualmente dos
objetivos finais de consumo calórico, consumo de gordura e prática de exercícios, sendo
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que o que era individualizado era a velocidade em que os participantes adquiriam essas
habilidades.
Com o objetivo de produzir mudanças no peso corporal, IMC, composição
corporal, pressão sanguínea e parâmetros bioquímicos de crianças e adolescentes (entre
9 e 17 anos) obesas (percentil maior que 95 ou percentil maior que 90 e circunferência
da cintura maior que percentil 90), Díaz et al. (2010) avaliaram a contribuição da terapia
comportamental comparada com um grupo controle.
Os participantes foram divididos em grupo controle e grupo de intervenção,
sendo que para o último foi realizada uma adaptação do Shapedown Program (Mellin,
Slinkard & Irwin, 1987). De modo geral, o programa envolveu questões relacionadas à
auto-estima, às formas de lidar com as emoções, às habilidades de comunicação,
consumo de energia, nutrição, atividade física e o uso de técnicas comportamentais
(que não foram especificadas pelos autores).
Foram realizadas 12 sessões de 2 horas cada em semanas consecutivas em
grupos compostos por 10 participantes com idades semelhantes. Os pais participavam
de 6 sessões educacionais e eram incentivados a perder peso se fosse necessário. O
grupo controle participava de consulta mensal com o médico que durava de 10 a 15
minutos. Nessas consultas era registrado o IMC da criança e ela era encorajada (de
forma não especificada pelos autores) a realizar 30 minutos de atividade física na maior
parte dos dias da semana e a seguir uma dieta específica. Tanto as crianças quanto os
pais eram encorajados a fazer coisas que poderiam ajudar as crianças a perderem peso,
por exemplo, aumentar a proporção de alimentos saudáveis. Os resultados mostraram
que o IMC e o peso das crianças do grupo intervenção diminuíram significantemente
mais do que nas crianças do grupo controle.
Há também estudos que avaliam o quanto o medicamento pode contribuir para o
tratamento. Berkowitz, Wadden, Tershakovec e Cronquist (2003) compararam um
grupo de adolescentes obesos que recebia terapia comportamental e placebo com outro
grupo que recebia a mesma terapia comportamental e sibutramina.
Os resultados mostraram que o grupo que recebeu a sibutramina perdeu mais
peso aos seis meses do que o grupo que recebeu o placebo. Entretanto aos 12 meses os
resultados eram semelhantes para ambos os grupos.
Vários estudos desenvolveram programas para tratar a obesidade. O programa
SHAPEDOWN (Mellin et al. 1987) envolveu 14 sessões em que os adolescentes
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participavam sozinhos e duas sessões em que participavam junto com seus pais. As
sessões, que duravam 90 minutos, eram conduzidas por nutricionistas especialmente
treinadas e nelas as crianças eram pesadas, havia uma interação entre os membros do
grupo facilitada pelo profissional de saúde e ocorriam exercícios físicos. Além disso os
adolescentes e seus pais recebiam um livro de auto-ajuda para auxílio no
aconselhamento individual e na intervenção em grupo.
Para avaliar este programa um grupo submetido a ele (grupo experimental) foi
comparado com um grupo sem intervenção (grupo controle). Foram registrados antes
da intervenção, aos três, seis e 15 meses a partir do início da intervenção: (a) o peso
relativo (peso atual dividido pelo peso esperado e multiplicado por 100), (b) o auto-
relato da freqüência semanal de comportamentos relacionados ao peso, (c) o auto-
relato de afeto a partir de duas escalas desenvolvidas para medir auto-estima e
depressão e (d) o conhecimento de formas para lidar com o peso medido a partir de um
teste desenvolvido para o programa.
Verificou-se que aos seis meses, ocorreu uma redução média de 6,2% no peso
relativo dos participantes do grupo experimental e de 5,2% para o grupo controle. Nas
avaliações que ocorreram aos três e 15 meses o grupo experimental apresentou uma
melhora significativamente maior que o grupo controle em todas as medidas. As
crianças cuja porcentagem de sobrepeso era 125% do peso normal antes da pesquisa
diminuíram em média 3,93%; aquelas com uma porcentagem de sobrepeso entre 125%
e 149% perderam em média 7,5% e aquelas com uma porcentagem de sobrepeso maior
que 150% tiveram uma diminuição média de 24,25%. O grupo controle apresentou
melhora significativa apenas na auto-estima.
Um outro programa - o Commited to Kids (Sothern, et al., 2002) - foi
direcionado a 93 adolescentes entre 13 e 17 anos e a seus pais, envolvendo dieta,
exercícios físicos e técnicas cognitivo-comportamentais (auto-monitoramento e
formulação de objetivos e técnicas motivacionais). Os objetivos foram estabelecidos a
cada 12 semanas e foram avaliados nessa mesma freqüência.
Uma vez por semana, os adolescentes e seus familiares freqüentaram uma sessão
de duas horas em que ocorria a supervisão médica, instruções nutricionais,
aconselhamento para exercício físico, exercícios e aplicação de técnicas de modificação
do comportamento.
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Os adolescentes foram classificados de acordo com o nível de obesidade e o
programa foi dividido em quatro fases que somadas completaram um ano de
intervenção. Ao completar um ano, o adolescente que havia perdido peso ganhava
algumas regalias como freqüentar gratuitamente eventos. Caso o participante voltasse a
ganhar peso, ele deveria frequentar aulas do programa.
Os resultados da aplicação desse programa mostraram que 60,7% dos
adolescentes inscritos participaram das avaliações. Esses participantes tiveram seu IMC
reduzido de 32,3±1,3 para 29,35±1,9 no fim de 10 semanas e para 28,2±1,2 após um
ano.
Os autores atribuíram o sucesso do programa a cinco fatores: (a) sessões que
entretinham os participantes, com o uso de cozinha experimental, (b) treinamento de
pais curto (cerca de 15 min), interativo e educacional, envolvendo atividades lúdicas, (c)
para os adolescentes severamente obesos (percentil maior que 95) a dieta escolhida
resultou numa perda rápida de peso o que motivou o participante, além de facilitar os
exercícios físicos (d) o grupo de familiares serviu como apoio e modelo para todos os
participantes e (e) os participantes e suas famílias recebiam informações sobre as
mudanças a cada três meses, o que, segundo os autores, constituiu um feedback
consistente.
Outro programa multifatorial desenvolvido por Hipsky e Kirk (2002) para
jovens obesos de cinco a 17 anos de idade chamado HealthWorks! teve o objetivo de
promover adesão a um estilo de vida saudável, sendo que a perda de peso seria uma
consequência.
Os participantes fizeram avaliações iniciais que envolviam testes físicos e
médicos e uma avaliação da alimentação. Em seguida foram traçados objetivos
individuais para cada participante em contratos com duas semanas de duração e a
família era orientada em relação a esses contratos que envolviam objetivos, incentivos
e monitoramento diário.
Uma vez por mês os pais encontravam-se em grupos com o objetivo de melhorar
o comportamento alimentar da família, promover um estilo de vida com atividade física
para toda a família e criar um ambiente saudável no que concerne à alimentação. Os
pais também eram encorajados a dar incentivos (pequenos presentes) para seus filhos
quando estes cumpriam o que havia sido contratado, não necessariamente perda de
peso, isto é planejou-se o reforçamento para a adoção de um estilo de vida saudável.
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Para avaliar o programa HealthWorks! e o impacto do tratamento na saúde dos
participantes, Kirk, Zeller, Claytor, Santangelo, Khoury e Daniels (2005), o aplicaram
em crianças e adolescentes com idades entre 5 e 19 anos e percentil de IMC acima de
95. As medidas utilizadas foram altura, peso, IMC, IMC z score, porcentagem de
gordura corporal, massa magra, insulina, colesterol total, triglicérides, HDL, LDL,
pressão sanguínea sistólica e diastólica, insulina e preparo físico.
Cento e setenta e sete crianças e adolescentes completaram o programa. Os
resultados mostraram que as crianças de 5 a 10 anos de idade não tiveram perda
significativa de peso (-0,8 Kg ± 3,9). No entanto, a altura aumentou (2,7 cm ± 1,2), o
que levou a uma diminuição significativa do IMC (-1,5 Kg/m2 ± 1,7). Já para os
adolescentes com idades entre 11 e 19 anos houve uma diminuição significativa no peso
(-3,1 Kg ± 5,5) e no IMC (-1,8 Kg/m2 ± 2,0). Também foi observada uma melhora
significativa na insulina, colesterol total, triglicérides, LDL, pressão sanguínea sistólica
e diastólica e preparo físico. É importante ressaltar que apesar do programa objetivar a
mudança de comportamento, tendo as mudanças no peso e em outras medidas
antropométricas como consequência, os pesquisadores não avaliaram as mudanças no
comportamento.
O grupo The Look AHEAD Research Group (2006) criou outro programa de
intervenção dirigido para adultos com sobrepeso e portadores de diabetes envolvendo
atividade física, dieta e modificação do estilo de vida.
Este programa foi testado em 5145 indivíduos (de 16 centros em hospitais e
clínicas universitárias dos Estados Unidos da América, envolvendo participantes que só
falavam espanhol ou eram de um tribo indígena) com sobrepeso e diabetes tipo 2 com o
objetivo de examinar a morbidade e a mortalidade em 12 anos.
O teste do programa compreendeu três fases. Nos primeiros seis meses os
encontros foram semanais, sendo que três desses encontros foram realizados em grupos
(10 a 20 pessoas) e no quarto encontro foram realizadas sessões individuais com o
objetivo de discutir questões e problemas específicos.
Os principais objetivos dos encontros em grupo eram discutir questões
alimentares e relacionadas à prática de atividade física assim como mudança de
comportamento. As técnicas de mudança de comportamento utilizadas foram registro de
alimentação e de atividade física, controle de estímulos e enfrentamento de sentimentos
negativos relacionados com o comer em excesso. Para os participantes que
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apresentavam maiores dificuldades também eram usadas técnicas de entrevista
motivacional e treino de habilidades para resolução de problemas.
A segunda fase durou do segundo ao quarto anos, quando as reuniões do grupo
foram suspensas e os participantes deviam participar das sessões individuais duas vezes
por mês, sendo que em uma delas de forma presencial e na outra por e-mail, carta ou
telefone.
A terceira e última fase estendeu-se do quinto ano em diante, quando os
participantes eram encorajados a ter pelo menos uma sessão mensal individual. O grupo
The Look AHEAD Research Group (2003) avaliou os efeitos do programa, comparando
um grupo que foi submetido a ele com outro em que os participantes freqüentavam três
sessões educacionais por ano nos primeiros quatro anos.
Foi observada uma diferença de 18% a favor do grupo de intervenção no que
concerne ao tempo da ocorrência do primeiro infarto do miocárdio ou derrame, assim
como derrame ou infarto miocardial não fatais em 11,5 anos de seguimento.
Outro programa voltado para crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos
portadoras de diabetes é o TODAY (The TODAY Study Group, 2010). Este programa
une a proposta de mudança de estilo de vida ao tratamento medicamentoso para diabetes
com o objetivo de reduzir entre sete e 10% do peso corporal ou o equivalente para os
jovens que ainda estão crescendo.
Assim como os programas anteriores que envolviam crianças, a intervenção
compreende dieta alimentar, modificação da atividade física e envolvimento dos pais. A
dieta alimentar reduz o consumo de doces e gorduras, a atividade física deve atingir
uma duração de 200 a 300 minutos por semana e os pais são ensinados a usar
reforçamento positivo para a adesão ao tratamento pela criança.
O programa tem uma duração total de dois anos, sendo esse tempo dividido em
três fases. Na primeira fase são realizadas conversas com as crianças e com os pais
sobre alimentação saudável, prática de atividade física e apoio familiar, além de ocorrer
um treino em técnicas cognitivo-comportamentais direcionado para as crianças. Na
segunda fase, são ensinadas técnicas para a manutenção do peso e na última fase são
fornecidas instruções para as crianças identificarem as barreiras que podem impedir a
manutenção do peso e para estas usarem as técnicas de resolução de problemas. O artigo
que descreve o programa não apresenta os resultados de sua aplicação.
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A análise desses programas mostra que há muito em comum entre os
tratamentos usados em adultos e crianças. Todos empregam uma intervenção
multifatorial com orientações nutricional e para a prática de atividade física e técnicas
de modificação do comportamento. Nos programas direcionados para
crianças/adolescentes os pais estão sempre presentes, enquanto que o programa
direcionado para os adultos não faz menção da presença de nenhum parente, amigo ou
cônjuge.
A relevância da presença dos pais no tratamento da obesidade das crianças é
bastante discutida na literatura. Sargent, Pilotto e Baur (2010) apresentaram uma revisão
sistemática de 17 estudos que avaliaram tratamentos para obesidade e sobrepeso infantis
e concluíram que o agente da mudança (apenas a criança, apenas os pais e ambos) era
indiferente. No entanto, a forma de tratamento empregado nos vários estudos foi
bastante diferente, em alguns casos os pais estando presentes apenas durante a prática
de atividade física, em outros os pais participando das orientações nutricionais.
Em contrapartida, no estudo de Golan (2006) que comparou o tratamento
oferecido apenas para as crianças com o tratamento oferecido apenas para os pais a
presença dos pais mostrou-se mais importante que a presença das crianças no
tratamento da obesidade infantil, sendo que a taxa de desistência foi 10 vezes maior no
grupo em que participavam apenas as crianças.
Quando apenas a criança estava presente, esta era solicitada a aumentar a
atividade física e a diminuir comportamentos sedentários e o consumo de alimento.
Quando apenas os pais estavam presentes, estes eram ensinados a criar um estilo de vida
mais saudável para a família. A intervenção com os pais teve o objetivo de promover
uma mudança no ambiente da criança a partir da mudança da “cognição” e das práticas
dos pais, assim como tornar os pais um modelo de comportamentos relacionados com o
alimento para as crianças.
Os pais foram ensinados a diminuir a quantidade de alimentos muito calóricos
disponíveis, manter um horário para a refeição em família e fazer companhia para os
filhos durante as refeições.
Em um segundo momento do estudo de Golan (2006) a autora comparou a
intervenção dirigida apenas para os pais que participavam de sessões nas quais eram
sugeridas mudanças para toda a família com o tratamento em que pais e crianças
frequentavam as sessões juntos.
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Em ambas condições houve uma diminuição na porcentagem de sobrepeso, no
entanto a porcentagem de crianças que tiveram essa diminuição foi maior no grupo em
que apenas os pais estavam presentes. As crianças que participaram das sessões, com ou
sem os pais tiveram menos alterações no peso e no comportamento e uma menor
alteração no ambiente obesogênico em casa do que aquelas que não participaram.
A revisão realizada por Kitzmann et al. (2010) também analisou o papel dos pais
incluídos no tratamento da obesidade de seus filhos. Os critérios para incluir um artigo
nesta revisão foram: (a) ter o objetivo de produzir perda ou manutenção de peso em
crianças ou adolescentes que já estavam acima do peso, tendo como medida principal o
peso, (b) a diminuição no peso deveria ocorrer a partir da mudança no comportamento
dos participantes ao invés de dietas controladas ou métodos cirúrgicos, (c) o
delineamento dos estudos deveria envolver uma comparação entre um grupo submetido
ao tratamento e um grupo sem tratamento ou com uma forma alternativa de tratamento.
Nessa revisão foram incluídos estudos que comparavam um programa de tratamento
para sobrepeso ou obesidade infantis em que o envolvimento dos pais era alto (quando
os pais estavam envolvidos em todos os aspectos do tratamento) com um programa em
que o envolvimento dos pais era baixo (quando a criança era a principal responsável
pelo tratamento) ou com grupo controle.
Tais estudos mostraram que o alto envolvimento dos pais apresentou melhores
resultados do que o grupo controle ou o baixo envolvimento. A revisão evidenciou que
o envolvimento dos pais no tratamento variou nos diferentes estudos, em alguns casos
participando de sessões separados dos filhos, em outros junto com os filhos ou ainda
sendo submetidos a sessões com e sem seus filhos.
Uma parte dos estudos analisados comparou os tratamentos com o envolvimento
apenas das crianças com tratamentos que envolviam as crianças e os pais ou apenas os
pais. A análise desses estudos mostrou que os grupos que envolviam apenas os pais ou
os pais com as crianças apresentaram melhores resultados do que aqueles em que
apenas a criança participava.
Quanto à função dos pais no tratamento dos seus filhos, os resultados mostraram
que não houve diferença significativa na comparação de estudos em que o tratamento
focava apenas o controle do peso da criança, quando focava o controle de peso dos pais
e da criança, mantendo um registro do peso dos pais. No entanto, quando os pais eram
treinados em manejo do comportamento em geral ou quando os programas ensinavam
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os pais sobre nutrição e preparação de alimento, a participação dos pais pareceu
relevante. Esses dados complementam os dados de Golan (2006), mostrando que o
treinamento dos pais como agentes que podem promover mudanças no comportamento
das crianças produz resultados melhores do que programas em que os pais estão
ausentes.
Após ensinarem pais de crianças com sobrepeso e obesidade a apresentar
diretrizes claras sobre alimentação e prática de atividade física, reforçar
comportamentos saudáveis e prestar atenção nos comportamentos de seus filhos, West,
Sanders, Cleghorn e Davies (2010) apresentaram dados confirmando que a presença dos
pais no tratamento da obesidade infantil é importante.
O procedimento que empregaram resultou em uma diminuição do tamanho do
corpo da criança, dos comportamentos-problema relacionados com a alimentação e do
uso de técnicas ineficazes por parte dos pais para educar as crianças (medidas através do
The Parenting Scale). Assim como nos estudos de Kitzman et al (2010) e de Golan
(2006) os pais foram considerados parte importante do ambiente das crianças. No
estudo de West et al. (2010) fica claro que após o treino, as regras apresentadas pelos
pais tornaram-se estímulos antecedentes para a apresentação de respostas apropriadas da
criança e as ações dos pais funcionaram como estímulos reforçadores para as respostas
das crianças.
Seria possível dizer que os pais têm um papel importante como eventos
ambientais que promovem e mantêm mudanças no comportamento das crianças no
tratamento da obesidade infantil. Sato et al. (2010) em um procedimento que envolvia
os pais, mas que não tinha como objetivo a redução de peso dos pais observaram que
houve uma relação significativa entre a perda de peso dos pais e dos adolescentes e que
quanto mais os pais faziam registro de sua própria alimentação, mais os adolescentes
perdiam peso e faziam registro também.
No caso do estudo de Sato et al (2010), é possível pensar em duas funções para
os pais: eles poderiam ter a função de modelo da resposta de registrar e/ou fornecer
estímulos reforçadores para a essa resposta. Em ambos os casos, o comportamento dos
pais poderia aumentar a probabilidade de ocorrência da resposta da criança de registrar
sua alimentação. Vale ressaltar que este estudo não manipulou variáveis com o objetivo
de mudar a frequência do auto-registro, uma vez que tinha o objetivo de avaliar
atividade física de crianças.
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Os dados que dispomos até o presente não nos permitem afirmar qual aspecto
da participação dos pais é relevante para o tratamento da obesidade infantil.
Aparentemente há uma contradição na literatura no que se refere à relevância da
participação dos pais, no entanto, o estudo de Sargent et al. (2010) avaliou artigos que
mostram diferentes formas de participação dos pais, de modo que a conclusão dos
autores pode não ser aplicável para todas as formas de inclusão dos pais no tratamento.
Quando os pais são treinados para oferecer estímulos antecedentes ou estímulos
reforçadores para os comportamentos saudáveis de crianças e adolescentes passam a ter
um papel fundamental no tratamento da obesidade infantil. É isso o que mostram os
estudos de Golan (2006), Hart et al. (2010), West et al. (2010).
Apenas o artigo de Kitzmann et al (2010) mostra uma forma de participação dos
pais que, em comparação com a não participação, não produziu diferenças de resultados
em termos da diminuição da obesidade de seus filhos. Isso aconteceu quando os pais
também recebiam orientação para perder peso. No entanto, esse estudo não conseguiu
esclarecer qual seria o papel dos pais como agentes de mudança do comportamento de
seus filhos.
Apesar de muitas pesquisas mostrarem a eficácia da modificação do estilo de
vida no tratamento da obesidade, pouco se sabe sobre o papel de cada uma
manipulações comportamentais utilizadas nesses programas. Ford, Bergh, Södersten,
Hollinghurst e Shield (2010) interviram especificamente na velocidade da alimentação,
desenvolvendo um aparelho com o objetivo de alterar a velocidade com que os
indivíduos se alimentam e aprimorar a auto-observação da saciedade.
O aparelho indica a velocidade com a qual a pessoa se alimenta, podendo ser
calibrado de modo a criar uma linha comparável à taxa ideal. Quando o participante se
alimenta rápido demais ou devagar demais uma voz sugere que ele diminua ou aumente
a velocidade. Enquanto o participante se alimenta, de tempos em tempos o computador
também pede para que ele registre seu grau de saciedade, criando uma segunda curva
que também pode ser comparada com uma pré-estabelecida.
A comparação de um grupo que usou este aparelho com um grupo que manteve
o tratamento padrão de modificação de estilo de vida mostrou que os participantes do
grupo que usou o aparelho tiveram o IMC significativamente menor do que o grupo
controle aos 12 meses, vantagem esta mantida seis meses após o término da
intervenção. O tamanho da porção de alimento no prato também diminuiu
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significativamente apenas para o grupo submetido à intervenção aos 12 meses. Os
participantes do grupo de intervenção também relataram maior saciedade que os do
grupo de controle aos 12 meses. No entanto, não foi observada manutenção da alteração
do tamanho da porção aos 18 meses, mas o relato de saciedade se manteve. Os
participantes do grupo que usou o aparelho reduziram em 11% a velocidade de
alimentação (diferença não significativa) enquanto o grupo controle aumentou 4%. Os
dados desse estudo confirmaram que a velocidade da alimentação influencia a mudança
no peso dos participantes.
Como foi mostrado a mudança de alguns comportamentos diretamente
associados com a alimentação e a prática de atividade pode produzir diminuição no peso
corporal. No entanto, os programas para tratamento de obesidade e sobrepeso
geralmente envolvem um conjunto de técnicas sem uma identificação do que
exatamente foi responsável pelos resultados obtidos.
Nota-se que grande parte das pesquisas que avaliam tratamentos para a
obesidade envolvem comparação entre grupos, principalmente aquelas que avaliam os
programas (Hipsky & Kirk, 2002; Mellin, Slinkard, Irwin, 1987; Sothern, Shumacher,
Von Almen, Carlisle & Udall, 2002; The Look AHEAD Research Group, 2006).
Anderson e Gross (1988) criticaram o uso de comparação entre grupos nas pesquisas
que avaliam métodos comportamentais afirmando que a comparação entre grupos
esconde resultados específicos para cada sujeito e ignora a variabilidade entre os
sujeitos.
Apesar de nenhum dos procedimentos descritos nas pesquisas de tratamento de
obesidade da criança e do adolescente descrever claramente o uso do sistema de
economia de fichas pesquisas que envolvem adesão a outros tipos de tratamento citam
este procedimento. É o caso do procedimento descrito por Carton e Schweitzer, 1996
para aumentar a frequência de comportamentos que permitissem o andamento adequado
das sessões de hemodiálise de um menino de 10 anos. A média de intervalos em que foi
observado comportamento inadequado por sessão caiu de 7,3 na linha de base para um
após a intervenção, mantendo essa média no follow-up de seis meses.
Outra pesquisa sobre adesão ao tratamento em que foi aplicado o sistema de
economia de fichas foi a de Bernard, Cohen e Moffett (2009) da qual participaram três
meninas com o diagnóstico de fibrose cística e que deveriam participar de um programa
de atividades físicas. Para todas as participantes houve aumento do número de dias na
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semana em que praticavam a atividade física assim como do tempo que passaram
praticando.
Kazdin e Bootzin (1972) fizeram uma revisão na qual avaliaram o sistema de
economia de fichas e apontaram alguns aspectos importantes para que ele seja eficaz. O
primeiro dele é o treino das pessoas que aplicarão o procedimento, apontando que o
mais eficaz é aquele em que o comportamento adequado dessas pessoas é diretamente
reforçado e outro é a importância dos itens pelos quais as fichas serão trocadas sejam
escolhidos por aqueles que receberão as fichas.
A presente pesquisa teve como objetivo avaliar uma intervenção utilizando o
sistema de economia de fichas para modificar o comportamento de crianças obesas, que
frequentam uma ONG voltada para a prevenção da obesidade infantil com delineamento
de Linha de Base Múltipla
A ONG Instituto Movere de Ações Comunitárias tem o objetivo de estimular a
atividade física, promover reeducação alimentar e modificar o comportamento de
crianças e adolescentes obesas ou com sobrepeso de baixa renda. Uma equipe
multidisciplinar procura prevenir a obesidade infantil e fornecer tratamento quando
necessário. As crianças frequentam o Instituto de duas a três vezes por semana, onde
tem avaliação e orientação nutricionais individualmente e em grupo, prática de
atividade física em grupo e acompanhamento psicológico.
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Método
Participantes
Foram convidados para participar da presente pesquisa três jovens que
frequentavam a ONG Instituto Movere, sendo que dois deles (P2 e P3) eram irmãos e
suas mães.
P1 do sexo masculino com 10 anos e 5 meses no início do estudo apresentava
peso inicial de 69,0 Kg, altura 155 cm, o que resultava em um IMC de 28,9
correspondente a um z escore maior que três.
A família de P1 era constituída de quatro pessoas: pai, mãe, P1 e uma irmã
mais nova (6 anos 8 meses). Essa família frequentava a instituição desde agosto de
2010, sendo a mãe a responsável mais presente.
O pai trabalhava com vendas e a mãe era dona de casa. Por questões financeiras
eles moravam com o avô paterno da criança. Moravam numa casa com dois quartos,
sendo que em um deles dormia o avô e no outro os pais e as crianças. P1 e sua irmã
frequentavam uma escola particular próxima da casa em que eles moravam.
Os dados médicos de P1 mostraram que ele não apresentava nenhuma doença
que poderia influenciar no seu peso.
P2 do sexo feminino tinha 15 anos e 11 meses no início do estudo. A última
avaliação de seu peso antes do início do estudo foi feita quando ela tinha 15 anos e 7
meses. Seu peso era de 69,6Kg e sua altura 148 cm, o que resulta em um IMC de 31,8 (z
maior que 2). Ela havia participado das atividades da ONG por oito meses antes de ser
incluída no estudo.
P2 morava com os pais e dois irmãos, sendo a filha do meio. A mãe trabalhava
como agente de saúde e o pai estava desempregado no início da pesquisa. Os três
irmãos estudavam em escolas da rede pública e P2 e sua irmã trabalhavam no contra
turno.
Como a mãe muitas vezes não podia preparar o almoço, P2 e sua irmã ficavam
responsáveis pelo preparo da alimentação e algumas vezes pelas compras de
supermercado.
As avaliações médicas de P2 mostraram que ela tinha hipotireoidismo e que
recebeu a orientação médica para tomar medicação (Puran T4, 100mg uma vez ao dia
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de jejum na parte da manhã). Antes do início do estudo ela relatou não tomar os
remédios de maneira adequada.
P3, do sexo masculino tinha 11 anos e 8 meses no início do estudo e era irmão
de P2. A última avaliação de seu peso antes do início do estudo foi feita quando ele
tinha 11 anos e 4 meses Seu peso era de 70,2 Kg, sua altura 166,3 cm e o IMC de 25,5
(z maior que 2). Assim como P2, participou das atividade da ONG por oito meses antes
de participar da pesquisa.
Considerações Éticas
Antes de se iniciarem as observações foi entregue o termo de consentimento
(Apêndice A) para os responsáveis da criança assinarem.
Local de Coleta de Dados
O estudo foi realizado nas casas dos participantes e nas dependências da ONG.
No caso de P1, na maior parte das vezes, por ocasião da coleta de dados,
estavam presentes o participante e sua mãe, sendo que a irmã mais nova do participante
esteve presente durante as férias. Os encontros na casa do participante com a
pesquisadora eram semanais, ocorrendo sempre no mesmo dia da semana e no mesmo
horário (almoços às terças-feiras) que havia sido previamente combinado com o
participante e sua família. Nestes encontros P1 relatava o que havia comido no dia
anterior na sala da sua residência. As filmagens da adesão ao plano alimentar no almoço
e no jantar eram realizadas na cozinha na presença de sua mãe, com a criança sentada à
mesa. P1 recebeu instruções de filmar os almoços e jantares cinco vezes por semana (de
segunda a sexta-feira).
Duas vezes por semana a pesquisadora encontrava-se com P1 na ONG em uma
sala fechada quando estava disponível e em caso contrário em um espaço aberto
próximo à quadra de esportes. Lá o participante relatava o que tinha comido no dia
anterior. Esse relato era feito entre as atividades oferecidas pela instituição.
No caso de P1 e P2, que eram mais velhos e tinham uma mãe que trabalhava
fora de casa, não foi exigido que a mãe estivesse sempre presente na coleta de dados. Os
encontros na casa dos participantes ocorriam semanalmente, sempre no mesmo horário
(almoços às terças-feiras) que havia sido previamente combinado com os participantes e
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sua família. Quando a pesquisadora ia à casa dos participantes, frequentemente a mãe
estava presente. A filmagem das refeições era feita na cozinha da casa dos participantes
e antes disso, enquanto eles se preparavam para comer, a pesquisadora pedia que eles
relatassem, um de cada vez, o que haviam comido no dia anterior. Como os
pa