oásis - brasil 24/7 · momento com o rumo e o tamanho que os desastres am- ... são seus parentes...

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#133 EDIÇÃO OÁSIS O MISTÉRIO DOS SERES HÍBRIDOS Quando a natureza desafia suas próprias leis INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL Todos temos um “Ponto de Deus” no cérebro MEU LAR NÃO É ONDE DURMO. É ONDE ESTOU DEZ COISAS QUE CONVÉM SABER SOBRE A ECONOMIA CHINESA UM NEGÓCIO DA CHINA

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#133

Edição OásisO MISTÉRIO DOS SERES HÍBRIDOSQuando a natureza desafia suas próprias leis

INTELIGÊNCIA ESPIRITUALTodos temos um “Ponto de deus” no cérebro

MEU LAR NÃO É ONDE DURMO. É ONDE ESTOU

dEz coisas QuE convém sabEr sobrE a Economia chinEsa

UM NEGÓCIO DA CHINA

2/38OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

N ossa matéria de capa é sobre a economia chinesa no momento atual. não se trata de uma análise profun-da do tema, mas apenas uma relação de dez pontos

muito interessantes que revelam a posição invejável da China no jogo mundial das economias. Entre outras coisas, essa ma-téria curta e direta revela que boa parte da economia norte--americana já está praticamente “comprada”pela China. até 2025 essa grande potência asiática ocupará o primeiro lugar na lista das maiores economias do mundo. o custo disso, no entanto, sobretudo em termos ambientais, é arrasador. as próprias autoridades chinesas estão muito preocupadas neste momento com o rumo e o tamanho que os desastres am-bientais no país estão tomando. Uma matéria que, em alguns aspectos, provoca arrepios.Em compensação, uma outra matéria deste número de oásis, “inteligência Espiritual”, dá esperança. trata-se de um tercei-ra inteligência (depois da intelectual e da emocional, das quais

Ter alTo quocienTe espiriTual (qs) implica ser capaz de usar o espiriTual

para Ter uma vida mais rica e mais cheia de senTido, adequado senso de

finalidade e direção pessoal

OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

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muito já se falou) que, segundo dana Zohar – cientista e uma das principais divulgadoras desse conceito coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando-os mais efetivos. ter alto quociente espiritual (QS) implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal. o QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos. É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor. o QS está ligado à necessidade humana de ter propósi-to na vida. É ele que usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações.recomendo vivamente a entrevista com dana Zohar que pu-blicamos neste número.

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RU

MO

SUM NEGÓCIO DA CHINADez coisas que convém saber sobre a economia chinesa

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pós mais de vinte anos em que seus índices de cresci-mento nunca desceram dos dois dígitos, a economia chi-nesa este ano poderá crescer “apenas”7,5%. Segundo os

analistas internacionais, esta não é uma boa notícia para ninguém: sozinho, o dé-bito público chinês (sobre o qual no dia 29 de julho último o governo ordenou uma auditoria) não sustentado pelo cres-cimento do PIB (produto interno bruto) seria capaz de desencadear uma crise financeira mundial. Claro, ninguém pode afirmar que isso ocorrerá. Mas nos pró-ximos meses os sobressaltos da econo-mia chinesa poderão ganhar as primeiras

páginas dos jornais desse país e tam-bém as dos nossos jornais.

Dez fatos que levam a reflexões

1. Um PIB multiplicado por dez

De 1978 a hoje o PIB da China aumen-tou dez vezes, tornando o país a segun-da maior economia do mundo depois dos Estados Unidos. Os especialistas estão convencidos de que até 2020 a potência econômica da nação asiática irá superar a norte-americana.

2. Os novos “proprietários” dos EUA são... chineses

A China possui 1.200 bilhões de dóla-res em T-bonds, os títulos do tesouro americano, o que corresponde a cerca de 10% do inteiro débito público dos Estados Unidos. Não apenas: são chine-ses cerca de 80% dos fornecedores da cadeia de supermercados Walmart, os mais apreciados pelos norte-america-nos.

3. Ricos e pobres

Mais de 135 milhões de chineses têm uma renda abaixo do nível da pobreza.

Ao ritmo de crescimento do país diminuiu e isso preocupa os economistas. mas a china ainda tem muito para se gabar em termos de produção

Por: EquiPE oásis

OáSIS . rUmoS

Trata-se de mais de 10% da inteira população do país.Segundo o Hurun Wealth Report um chinês de cada 1.300 possui mais de um milhão de dólares. No total nacional, existem 1 milhão e 20 mil ricos, e desses cerca de 63.500 são donos de um patrimô-nio pessoal superior a 13 milhões de dólares.

4. Desejo de ar fresco, computadores e celulares

A China produz 80 equipamentos de ar condicio-nado a cada mil pessoas da sua população. A média no resto do mundo é de apenas 4,8 equipamentos a cada mil pessoas. Os computadores produzidos atualmente somam 283 a cada mil pessoas (contra

5,9 computadores no res-to do mundo). Também na produção de telefones ce-lulares o país permanece imbatível: a China Mobile é o maior provider de ser-viços de telefonia do mun-do, com um total de 558,9 milhões de assinantes. No país são produzidos 841 celulares a cada mil pes-soas (contra apenas 83,6 aparelhos a cada mil pes-soas no resto do mundo).

5. Viva o porco

O porco é um animal mui-to apreciado na China. Ele aparece estilizado em vários ideogramas, e faz parte inclusive do sistema de horóscopos chineses. Mas esse animal constitui sobretudo o ingrediente básico de muitas culiná-rias locais. Na China são produzidas anualmente 51,5 milhões de toneladas de carne de porco: cerca de 50% da inteira produção mundial.

6. A pátria do filho único

Apesar de sua força de trabalho ter sido capaz de produzir resultados surpreendentes ao longo dos últimos vinte anos, o governo chinês procura li-mitar o crescimento da população através de uma rígida política do filho único. As famílias chinesas

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OáSIS . rUmoS

não podem ter mais de um filho. A lei é muito se-vera a respeito e parece que – segundo informam as pesquisas – essa política é aprovada por 75% por cento da população.

7. O campo ganha da cidade

Segundo alguns estudos, até 2015 a população ur-bana chinesa deverá atingir 700 milhões de pesso-as. Mas isso representa, hoje, apenas 43% da intei-ra população do país. A maior parte dos habitantes da China continuam a viver no campo, onde com frequência subsistem situações de grande pobreza , de falta d’água e de transportes.

8. A febre do cimento

O boom imobiliário fez com que o país chegasse a produzir 60% do cimento mundial, modificando de

um dia para outro enormes áreas da paisagem ur-bana chinesa. Alguns arranha-céus que acabam de ser construídos já se encontram, no entanto, em situação de risco. Em março deste ano uma comis-são de investigação descobriu por exemplo que na cidade de Shenzen algumas empresas construtoras tinham usado cimento de má qualidade, vendido abaixo do custo, colocando em sério perigo a esta-bilidade de pelo menos 15 edifícios.

9. Uma bolha imobiliária gigante... de casas va-zias

Calcula-se que na China existam hoje 64 milhões

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de casas vazias. O acúmulo delas criou, em cer-tas áreas, verdadeiras cidades fantasmas. Mas as construções não param, e prevê-se que ao redor de 2025 existirá no país um número suficiente de edifícios capaz de conter as populações de 10 Nova York.

10. Natal na China

A China, hoje, é considerada a fábrica do mundo: entre as muitíssimas coisas que produz, estão as árvores e os enfeites de Natal. Calcula-se que 85% desses produtos são fabricados no país. E a quase totalidade deles é exportada, pois as tradições na-talinas não fazem parte da cultura chinesa...

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BIO

LOG

IAO MISTÉRIO DOS SERES HÍBRIDOSQuando a natureza desafia suas próprias leis

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odos já ouviram falar da mula. Não a mula-sem-cabeça ou a mula-manca do folclore popu-lar brasi leiro. A mula mesmo, f i lha de um jumento e uma égua. Bicho trabalhador, resis-tente e de temperamento tei-moso que há séculos colabora com a pequena agricultura no

Brasi l e no mundo.

Mas quem já ouviu falar de um ze-brasno (f i lho de zebra com asno), um l igre (de um leão com tigre), um pin-tagol (de canário com pintassi lgo) ou um pumapardo (de um puma com le-opardo)? Todos esses bichos existem e fazem parte de uma enorme l ista de animais chamados híbridos: frutos de

um cruzamento genético entre duas espécies distintas, que geralmente não poderiam ter f i lhos devido aos seus genes incompatíveis. Mas a na-tureza é pródiga em criar exceções para suas próprias regras: os híbri-dos são abundantes não apenas no reino animal mas também no vege-tal .

Algumas dessas novas espécies são inclusive produzidas intencio-nalmente pelo homem, através do cruzamento entre espécies, essen-cialmente para serem usadas como atrações de shows e locais turíst icos. Atualmente, os cientistas da genéti-ca estão tentando recriar o mamute, animal pré-histórico, através de in-seminação arti f icial de sêmen des-tes animais (que foram encontrados congelados em algumas partes do planeta) em fêmeas de elefante, que são seus parentes modernos. Se con-seguirem, este animal será um híbri-do de elefante com mamute, e prova-velmente também será estéri l . Mas. . . só depois de pronto o bicho é que vai se saber. Pois se a esteri l idade é

Tmãe-natureza tem regras genéticas rígidas. mas quando ela decide criar um novo ser, salta por cima das suas leis e cria um híbrido. eles podem ser animais, vegetais, e até mesmo seres que são ao mesmo tempo bicho e plantaPor: EquiPE oásis

regra para os híbridos, existem entre eles um grande número de exceções. No caso dos híbri-dos de javalis (porcos selvagens) com porcos domésticos, os f i lhos machos são estéreis, mas as fêmeas são perfeitamente férteis.

Aqui vai a l ista de alguns híbridos que receberam nomes: Abelha africa-nizada – produto do cruzamento de várias espécies de abelhas; bardoto - cruzamento entre um cavalo e uma jumenta; cama - dromedário com lha-ma; jagleão - cruzamento entre um jaguar e uma leoa; leopon - cruza-mento entre um leopardo e uma leoa; l igre - cruzamento entre um leão e uma tigresa; cayuga - é descendente de cruzamentos de marrecos rouen (Anas platyrhynchos domesticus) e marreco preto americano Anas ru-bripes; mula - cruzamento entre um jumento e uma égua; pintagol - pin-tassi lgo com canário; dzo - yak com vaca; pumapardo - cruzamento entre um puma e um leopardo; tambacu - pacu-caranha com tambaqui; tarta-rugas marinhas híbridas - já foram encontradas e em algumas espécies 40% delas tem ascendência híbrida; t igreão - cruzamento entre um tigre e uma leoa; Tursiops truncatus x Pseu-dorca crassidens - cruzamento de golf inho e falsa-orca; zebralo - cruza-

mento de uma zebra com uma égua; zebrasno - cruzamento entre uma zebra e um jumento.

Exemplos de híbridos vegetais : tr icale – híbrido entre trigo e centeio; azálea - híbridos de várias espécies do gênero Rhododendron;

Belíssimo exemplar de liger, híbrido de leão com tigre

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Híbrido de cavalo com zebra 16/38

bananeira - híbridos e poli íbridos; laranjeira - híbrido de pomelo com tangerina; l ima - hí-brido de várias espécies; l imão – é também um híbrido; orquídeas - muitas das vendidas em floriculturas, variedades comerciais, são híbri-das e poli íbridas; tangelo - híbrido de uma tan-gerina com uma toranja; toronja - híbrido de um pomelo com uma laranja; tr it icale - híbrido de trigo com centeio.

Existem híbridos entre animais e plan-tas?

Há pelo menos um exemplo bem conhecido: a Elysia chlorotica é uma lesma, portanto um animal, que aprendeu a “nutrir-se com o sol” , como fazem os vegetais. Seu corpo tem a forma de uma folha e quando essa lesma ainda é jo-vem ela “rouba” os cloroplastos – ou seja, os pequenos órgãos em cujo interior acontece a fotos-síntese – e alguns genes perten-centes a algas com as quais vive em simbiose nos leitos marinhos costeiros. Desse modo, esse ani-mal consegue produzir açúcares a

partir da água, do anidrido carbônico e do sol . Tal capacidade permite que ela supere incólu-me períodos prolongados de falta de al imento e sobreviva por mais de um ano produzindo o seu próprio al imento, assim como fazem as plantas.

Uma vida ambivalente

A Elysia vive principalmente nas áreas de água muito salgada ou em zonas costeiras atlânticas batidas por fortes marés, principalmente nos

A lesma Elysia Chlorotica é um raríssimo exemplo de híbrido de um animal com uma

planta (no caso uma alga marinha)

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Híbrido de leão com leopardo 18/38

Estados Unidos e no Canadá. Na realidade são conhecidas também várias outras lesmas que “emprestam” cloroplas-tos das algas com as quais vivem em simbiose, mas, di-ferente da Elysia, o fenôme-no é l imitado no tempo. A Elysia é o único exemplo co-nhecido de um ser que pode viver toda a sua vida como animal ou como vegetal .

Os híbridos de todos os t ipos constituem hoje objeto de estudos intensos, sobretudo por parte de engenheiros ge-néticos. Nos seus mecanis-mos de sobrevivência podem existir segredos que, uma vez descobertos, serão de grande valia para a pesquisa médica e farmacológica.

19/38OáSIS . biologia Híbrido de papagaio com cacatua

A hibridação às vezes produz animais muito bonitos, como este gato-da-savana, um híbrido de serval com gato doméstico

Bicho estranho este híbrido de galinha-de-angola com faisão. A

galinha-de-angola produz híbridos com quase todos os galináceos,

inclusive o pavao

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OR

TA

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TOINTELIGÊNCIA

ESPIRITUALTodos temos um “Ponto de Deus” no cérebro

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o livro QS - Inteligência Espiri-tual, a física e filósofa americana Dana Zohar aborda um tema tão novo quanto polêmico: a existên-cia de um terceiro tipo de inteli-gência que aumenta os horizon-tes das pessoas, torna-as mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um sig-nificado para a vida. Ela baseia seu trabalho sobre o “quociente

espiritual” (QS) em pesquisas só há pouco divulgadas de cientistas de várias partes

do mundo que descobriram o que está sendo chamado “Ponto de Deus” no cé-rebro, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pesso-as. O assunto foi abordado em reporta-gens de capa pelas revistas americanas Neewsweek e Fortune. Afirma Dana: “A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quocien-te espiritual”.

Dana vive na Inglaterra com o marido, o psiquiatra Ian Marshall, co-autor do livro, e com dois filhos adolescentes. Formada em fí¬sica pela Universidade de Harvard, com pós-graduação no Mas-sachusetts Institute of Tecnology (MIT), ela atualmente leciona na universidade inglesa de Oxford. É autora de outros oito livros, entre eles, O Ser Quântico e A Sociedade Quântica, já traduzidos para português. QS – Inteligência Es-piritual já foi editado em 27 idiomas, incluindo o português (no Brasil, pela Record). Dana tem sido procurada por grandes companhias interessadas em desenvolver o quociente espiritual de

N

no início do século 20, o qi era a medida definitiva da inteligência humana. só em meados da década de 90, a descoberta da inteligência emocional mostrou que não bastava a pessoa ser um gênio se não soubesse lidar com as emoções. hoje, novas descobertas apontam para um terceiro quociente, o da inteligência espiritual. ela nos ajudaria a lidar com questões essenciais e pode ser a chave para uma nova era no mundo dos negócios

EntrEvistA A suzAnA nAiditCH. FontE: rEvistA ExAmE

seus funcionários e dar mais sentido ao seu traba-lho. Dana Zohar concedeu esta entrevista à Revista exame em Porto Alegre, durante o 30º Congresso Mundial de Treinamento e Desenvolvimento da In-ternational Federation of Training and Develop-ment Organization (IFTDO), organização fundada

na Suécia, em 1971, que representa 1 mi-lhão de especialistas em treinamento em todo o mundo. Eis os principais trechos da entrevista:

O que é inteligência espiritual?

É uma terceira inteligência, que coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando--os mais efetivos. Ter alto quociente es-piritual (QS) implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado sen-so de finalidade e direção pessoal. O QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos. É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que aborda-mos e solucionamos problemas de sen-tido e valor. O QS está ligado à necessi-dade humana de ter propósito na vida. É ele que usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações.

De que modo essas pesquisas con-firmam suas ideias sobre a terceira

inteligência?

Os cientistas descobriram que temos um “ponto de Deus” no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas. É uma área ligada à experiência espi

dana zohar

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ritual. Tudo que influencia a inteligência passa pelo cérebro e seus prolongamentos neurais. Um tipo de organização neural permite ao homem realizar um pensamento racional, lógico. Dá a ele seu QI, ou in-teligência intelectual. Outro tipo permite realizar o pensamento associativo, afetado por hábitos, reco-nhecedor de padrões, emotivo. É o responsável pelo QE, ou inteligência emocional. Um terceiro tipo permite o pensamento criativo, capaz de insights, formulador e revogador de regras. É o pensamento com que se formulam e se transformam os tipos an-teriores de pensamento. Esse tipo lhe dá o QS, ou inteligência espiritual.

Qual a diferença entre QE e QS?

É o poder transformador. A inteli-gência emocional me permite julgar em que situação eu me encontro e me comportar apropriadamente dentro dos limites da situação. A inteligên-cia espiritual me permite perguntar se quero estar nessa situação particular. Implica trabalhar com os limites da situação. Daniel Goleman, o teórico do Quociente Emocional, fala das emo-ções. Inteligência espiritual fala da alma. O quociente espiritual tem a ver com o que algo significa para mim, e não apenas como as coisas afetam mi-nha emoção e como eu reajo a isso. A espiritualidade sempre esteve presente na história da humanidade.

Por que somente agora o mundo corporativo se preocupa com isso?

O mundo dos negócios atravessa uma crise de sus-tentabilidade. Suas atitudes e práticas atuais, cen-tradas apenas em dinheiro, estão devastando o meio ambiente, consumindo recursos finitos, crian-do desigualdade global, conduzindo a uma crise de liderança nas empresas e destruindo a saúde e o moral das pessoas que trabalham ou cujas vidas são afetadas por elas. Espiritualidade nos negócios sig

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nifica simplesmente trabalhar com um sentido mais profundo de significado e propósito na comunidade e no mundo, tendo uma perspectiva mais ampla, inspirando seus funcionários. Nós não sabemos mais o que é realmente a vida. Não sabe-mos qual é o jogo que jogamos nem quais são as regras. Falta--nos um sentido profundo de objetivos e valores fundamen-tais. Essa crise de significado é a causa principal do estresse na vida moderna e também das doenças.

A busca de sentido é a principal motivação do homem. Quan-do essa necessidade deixa de ser satisfeita, a vida nos pare-ce vazia. No mundo moderno, a maioria das pessoas não está atendendo a essa necessidade.

Como se pode detectar os sintomas dessa crise na vida corporativa?

Desde o surgimento do capita-lismo, há 200 anos, tudo que importa no mundo dos negó-cios é o lucro imediato. Isso

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criou uma cultura corporativa destituída de signifi-cado e de valores mais profundos. Nós apenas que-remos mais dinheiro. Mas para quê? Para quem? Trabalhamos para consumir. É uma vida sem senti-do. Isso afeta o moral, tanto dos dirigentes quanto dos empregados, sua produtividade e criatividade.

E também afasta dos negócios preocupa-ções mais amplas com o meio ambiente, a comunidade, o planeta e a sustentabili-dade. O mundo corporativo é um mons-tro que se autodestrói porque lhe falta uma estrutura mais ampla de significa-do, valores e propósitos fundamentais. Há uma profunda relação entre a crise da sociedade moderna e o baixo desenvolvi-mento da nossa inteligência espiritual.

Quais companhias a têm chama-do para desenvolver trabalhos que busquem elevar o quociente espiri-tual de dirigentes e empregados?

Não posso citar seus nomes, mas tenho atendido a bancos, financeiras, empre-sas de telecomunicações, de petróleo e montadoras de automóveis. Trabalha-mos juntos para adquirir a compreensão de que as atitudes e práticas existentes são insustentáveis e como as empresas podem desenvolver tanto a sustentabili-dade como os serviços cultivando as dez qualidades do quociente espiritual.

A senhora poderia citar exemplos de compa-nhias ou empresários que estejam buscando mais sentido em seu trabalho?

Há muitos exemplos. Mats Lederhausen, o vice

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-presidente de estratégia global do McDonald s, é um deles. Sua função na empresa é ser a voz de pro-testo e consciência, sacudindo as pessoas, agitando o barco. Ele iniciou projetos como a distribuição gratuita de vacinas antipólio na África, a luta con-tra plantações geneticamente modificadas, o uso de gaiolas maiores para galinhas e um trabalho para restaurar ecossistemas danificados.

Outro exemplo é a Amul, empresa da Índia que dis-tribui para o Estado de Gujarat o leite de 10 000 cooperativas. A Amul compra todos os dias o leite de camponeses que possuem apenas uma vaca, permitindo que indivíduos pobres possam competir com grandes fazendeiros. O Banco de Desenvolvi-mento da Ásia se dedica à erradicação da pobreza com programas de micro--crédito para pessoas muito pobres.

A British Petroleum adotou um novo slogan, “Além do Petróleo”, e está co-locando o grosso de seus fundos de pesquisa no desenvolvimento de tec-nologias energéticas alternativas, me-nos agressivas ao meio ambiente. John Browne, o CEO da companhia, conse-guiu aumentar o valor das ações enfa-tizando relações de longo prazo entre sua empresa e a sociedade.

Como é o líder espiritualmente inteligente?

É um líder inspirado pelo desejo de servir, uma pessoa responsável por trazer visão e valores mais altos aos demais e por lhes mostrar como usá-los. É uma pessoa que inspira as outras. Gente como o Dalai Lama, Nelson Mandela, Mahatma Gandhi. No mundo dos negócios, Richard Branson, da Virgin, é um líder espiritualmente inteligente. Ele está muito preocupado com o meio ambiente e a comunidade. É muito espontâneo, tem visão e valores, tem pers-pectivas amplas.

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Como se pode desenvolver a inteligência espiritual?

Tomando consciência das dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes e trabalhando para desenvolvê--las. Procurando mais o porquê e as conexões entre as coisas, trazendo para a superfície as suposições que fazemos sobre o sentido delas, tornando-nos mais reflexivos, assumindo res-ponsabilidades, sendo honestos conosco mesmos e mais cora-josos. Tornado-nos conscien-tes de onde estamos, quais são nossas motivações mais pro-fundas. Identificando e elimi-nando obstáculos. Examinando as numerosas possibilidades, comprometendo-nos com um caminho e permanecendo cons-cientes de que são muitos os caminhos.

De que forma as pessoas espiritualmente inteligen-tes podem beneficiar as corporações?

As pessoas com QS elevado

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querem sempre fazer mais do que se espera delas. Algo para além da empresa. Quem trabalha unica-mente por dinheiro não faz o melhor que pode. Nas empresas em que se busca desenvolver espiritual-mente os funcionários, a produtividade aumenta porque eles ficam mais motivados, mais criativos

e menos estressados. As pessoas dão tudo de si quando se procura um objeti-vo mais elevado. Se as organizações de-rem espaço para as pessoas fazerem algo mais, se souberem desenvolver em cada indivíduo sua inteligência espiritual, te-rão mais resultados e mais rapidamente.

A senhora diz que o capitalismo como se conhece hoje está com os dias contados, mas que um novo capitalismo está nascendo. Como ficam as empresas com essa nova perspectiva?

Está surgindo um novo tipo de empre-sa. É uma empresa responsável. No novo capitalismo sobreviverão as companhias que têm visão de longo prazo, que se pre-ocupam com o planeta, em desenvolver as pessoas que nelas trabalham. Que se preocupam, sim, com o lucro, mas que querem ganhar dinheiro para desenvol-ver as comunidades em que atuam, pro-teger o meio ambiente, propagar educa-ção e saúde.

Dana Zohar identificou dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes. Segundo ela, essas pessoas:

1. Praticam e estimulam o autoconhecimento pro-fundo.

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2. São conduzidas por valores humanos. São idea-listas e creem na vida.

3. Têm capacidade de encarar desafios e utilizar a adversidade a seu favor.

4. São holísticas - têm a visão do todo integrado e a percepção da unidade.

5. Celebram a diversidade como fonte de beleza e aprendizado.

6. Têm independência de pensamento e comporta-mento.

7. Perguntam sempre “por quê?” e “para que”. São agentes de transformações.

8. Têm capacidade de colocar as coisas e os temas num contexto mais amplo.

9. Têm espontaneidade de gestos e atitudes, e são equilibradas emocionalmente.

10. São sensíveis, fraternas e compassivas.

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ref

lex

ãoMEU LAR NÃO É ONDE

DURMO. É ONDE ESTOU

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ico Iyer é um escritor itinerante muito apreciado por sua crônicas e artigos nos quais dá exemplos de miscigenação cultural. Nesta con-ferência ele explica como a viagem pode nos resgatar das distrações tecnológicas que, hoje, muitas ve-zes nos têm transformado em sim-ples apêndices das máquinas que inventamos.

P mais e mais pessoas mundo afora estão vivendo em países que não são considerados os seus. o escritor pico iyer -- que tem três ou quatro ‘origens’ -- medita sobre o significado de lar, a alegria de viajar e a serenidade de estar quieto

vídEo: tEd – idEAs WortH sPrEAdingtrAdução: WAndErlEy JEsus. rEvisão: nAdJA nAtHAn

Tradução integral da palestra de Pico Iyer

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“De onde você é? É uma pergunta tão simples, mas hoje, c laro, perguntas simples trazem respostas cada vez mais complicadas.

As pessoas sempre me perguntam de onde venho, e elas esperam que eu diga Índia, e elas estão absolu-tamente corretas já que 100% de meu sangue e an-cestrais realmente vêm da Índia. Exceto que nunca vivi um dia de minha vida lá. Não consigo falar se-quer uma palavra de seus mais de 22.000 dialetos. Portanto não acho que tenha o direito de dizer que sou indiano. E se “De onde você é?” signif ica “Onde você nasceu, cresceu e foi educado?” então sou to-talmente daquele país pequeno engraçado chamado Inglaterra, exceto pelo fato de ter deixado a Ingla-terra assim que completei a faculdade, e enquanto eu crescia, eu era o único garoto de minha classe que não se parecia com os clássicos heróis ingle-ses representados em nossos l ivros didáticos. E se “De onde você é?” signif ica “Onde você paga seus impostos?” Onde você faz suas consultas ao médico e ao dentista?’ então eu sou dos Estados Unidos, e vivo lá há 48 anos, desde que eu era uma criança. Exceto, que por muitos anos, em que eu carreguei este cartão rosa com l inhas verdes sobre minha foto identif icando-me como um estrangeiro residente. Na verdade me sinto cada vez mais estrangeiro vi-vendo lá.

E se “De onde você é?” signif ica “Qual o lugar que mais te toca e onde você tenta passar a maior par-te do seu tempo?” então sou japonês, pois eu vivi o mais que pude nos últ imos 25 anos no Japão. Exce-

to, pelo fato que em todos estes anos eu estive lá com visto de turista, e tenho certeza que não muitos japoneses iam querer me considerar um deles.

Digo tudo isto só para enfatizar como antiqua-do e direto meu passado é, pois quando eu vou a Hong Kong ou Sydney ou Vancouver, a maio-ria das crianças que encontro é muito mais in-ternacional e multicultural que eu. Elas têm um lar l igado aos seus pais, mas um outro l i-gado aos seus companheiros, e um terceiro ao lugar onde eles estão no momento, um quarto l igado ao lugar que eles sonham estar, e mui-tos outros. E a vida delas será vivida juntando

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Tradução integral da palestra de Pico Iyer

pedaços de diferente locais e colocando-os juntos em um único vitral . Lar para elas é realmente um trabalho em progresso. É como um projeto no qual eles estão constantemente incluindo melhorias e correções.

Para a maioria de nós, lar tem menos a ver com um pedaço de solo do que, poder-se-ia dizer, com um pedaço da alma. Se alguém de repente me pergunta: “Onde é seu lar?” Penso a respeito de minha amada e meus amigos mais próximos ou da música que via-ja comigo onde quer que eu esteja.

E sempre me sinto assim, mas eu entendi, como era

esperado, há alguns anos quando eu subia as escadas da casa de meus pais na Califórnia, e olhei através da janela da sala de estar e vi que estávamos cercados por chamas de 23 metros de altura, um daqueles incêndios que regular-mente destroem as montanhas da Califórnia e muitos outros lugares assim. Três horas de-pois, aquele fogo t inha reduzido meu lar e tudo que estava dentro, exceto eu, a cinzas. Quan-do acordei no dia seguinte, eu dormia no chão da casa de um amigo, a única coisa que t inha no mundo era uma escova de dentes que t inha acabado de comprar em um supermercado 24 horas. Claro, se alguém me perguntasse naque-la hora, “Onde é seu lar?” Literalmente não po-deria apontar nenhuma construção f ísica. Meu lar seria aquilo que eu levasse comigo.

De algum modo, acho que é muito l ibertador. Pois quando meus avós nasceram, eles t inham o seu sentido de lar, seu sentido de comuni-dade, e mesmo seu sentido de inimizade, dado a eles ao nascer, e não t inham muita chance de escapar disso. Hoje em dia, pelo menos al-guns de nós podem escolher nosso sentido de lar, criar nosso sentido de comunidade, moldar nosso sentido de eu, e ao fazer isso podem dar um pequeno passo além de algumas divisões preto no branco da era de nossos avós. Não é coincidência que o presidente da mais forte nação da terra seja meio queniano, crescido

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Tradução integral da palestra de Pico Iyer

parte na Indonésia, e tenha um cunhado sino-cana-dense.

O número de pessoas morando em países que não o seu soma hoje 220 milhões, e esse é um número inimaginável , mas signif ica que se tomarmos toda a população do Canadá e toda a população da Aus-trál ia e novamente toda a população da Austrál ia e toda a população do Canadá e dobrar esse número, ainda terá menos pessoas do que esta grande tribo f lutuante. O número de pessoas que vive fora do ve-lho conceito de nação-estado está aumentando mui-to rapidamente, em 64 milhões só nos últ imos 12 anos, que em breve haverá mais pessoas como nós do que americanos. Já representamos a quinta na-ção mais populosa da terra. De fato, na maior cida-de canadense, Toronto, a média de moradores hoje que costumavam ser chamados de estrangeiros, al-guém que nasceu em um país diferente.

Sempre senti que a beleza de ser cercado por es-trangeiros é que isso é que o mantém acordado. Não podemos tomar nada por óbvio. Viajar, para mim, é quase como estar apaixonado, pois de repente to-dos os seus sentidos estão l igados. De repente você está atento aos padrões secretos do mundo. A real viagem da descoberta, como disse Marcel Proust, não consiste em ver lugares novos, mas em ver com novos olhos. E claro, assim que você tenha novos olhos, mesmo os lugares antigos, mesmo seu lar tornam-se algo diferente.

Muitas das pessoas vivendo em paises estrangeiros

são refugiados que não queriam nunca dei-xar seus países e anseiam retornar para o seu país. Mas para os afortunados entre nós,acho que a era do movimento trás novas possibi l i-dades estimulantes. Certamente quando via-jo, especialmente para as principais cidades do mundo, a pessoa t ípica que encontro hoje será, por exemplo, uma mulher meio coreana, meio alemã morando em Paris. E assim que ela encontra um jovem meio tai landês, meio ca-nadense de Edimburgo, ela o reconhece como companheiro. Ela descobre que provavelmente tem muito mais em comum com ele do que com qualquer coreano ou alemão puro. Se tornam amigos. Se apaixonam. E se mudam para Nova Iorque. Ou Edimburgo. E a garotinha que nas-ce da união deles não será nem coreana, nem alemã nem francesa, nem tai landesa, nem es-cocesa, nem canadense ou mesmo americana, mas uma maravilhosa mistura em constante evolução de todos esses lugares. E potencial-mente, sobre todo o jeito que a jovem sonha com o mundo, escreve sobre o mundo, pensa sobre o mundo, que poderia ser algo diferente, pois vem desta quase sem precedente mistu-ra de culturas. De onde você é agora é muito menos importante do que para onde você vai . Mais e mais pessoas têm raízes no tempo futu-ro ou presente tanto quanto no passado. E lar, sabemos, não é o lugar em que aconteceu de nascermos. É o lugar no qual nos tornamos nós mesmos.

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E ainda há um grande problema com o movimento: é muto dif íci l se orientar quando se está em transi-ção. Há alguns anos, notei que t inha acumulado um milhão de milhas só na United Airl ines. Todos co-nhecem aquele sistema louco, seis dias no inferno, e você recebe o sétimo de graça.

Comecei a pensar que realmente, o movimento era tão bom quando o sentimento de quietude que você pode trazer para poder analisar.

E oito meses depois que minha casa pegou fogo, pedi ajuda a um amigo que ensina no colégio da re-gião, ele disse: “Tenho o lugar perfeito para você.”“Verdade?” eu disse. Sempre fui um tanto cético quando as pessoas dizem coisas assim.“Não, sério”, ele continuou, “são apenas três horas de carro daqui, e não é muito caro, e provavelmente diferente de tudo que já morou.”“Humm”. Comecei a f icar intrigado. “O que é?”“Bem.. .” Meu amigo t itubeou “Bem, na verdade é um mosteiro católico.”

Esta era a resposta errada. Eu passei 15 anos em es-colas anglicanas, daí eu t inha hinos e cruzes o sufi-ciente para o resto de minha vida. Várias vidas, na verdade. Mas meu amigo me assegurou que ele não era católico e nem a maioria dos seus alunos, mas levava turmas lá todas as primaveras. E quando o fazia, mesmo o mais inquieto, distraído, testoste-ronado garoto cal i forniano de 15 anos só t inha de passar três dias em si lêncio e algo nele se acalmava e esclarecia. Ele se encontrava.

Pensei: “Qualquer coisa que dê certo para uma garoto de 15 anos há de funcionar comigo.”Daí peguei o carro, e dirigi três horas para o nor-te pela costa, as estradas se tornavam vazias e estreitas, e daí entrei em um caminho ainda mais estreito, mal pavimentado, que serpente-ava por 3 quilômetros até o topo de uma mon-tanha. Quando saí do carro, o ar pulsava. O lugar todo era um si lêncio absoluto, mas o si lêncio não era a ausência de barulho. Na rea-l idade era a presença de um tipo de energia ou movimento. E aos meus pés o plácido azul do oceano Pacíf ico. À minha volta 3,2 quilômetros quadrados de arbustos secos e selvagens. Fui para o cômodo no qual podia dormir. Peque-no mas bem confortável . t inha uma cama, uma cadeira de balanço, uma grande escrivaninha e uma janela panorâmica ainda maior dando para um jardim pequeno, particular e murado, e dai 400 metros de grama dourada dos pam-pas descendo até o mar. Sentei-me, e comecei a escrever, escrever, escrever, apesar de ter ido para lá para me l ivrar de minha escrivani-nha.

Quando me levantei , t inham se passado quatro horas. Tinha caído a noite, e caminhei sob um céu estrelado e pude ver as lanternas traseiras dos carros desaparecendo 20 quilômetros ao sul . E realmente parecia que minhas preocupa-ções do dia anterior t inham sumido.No dia seguinte, quando acordei sem telefones,

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TVs e laptops, os dias pareciam se arrastar por mi-lhares de horas. Era toda a l iberdade que conheço de quando estou viajando, mas também senti pro-fundamente como se chegasse em casa.E não sou uma pessoa rel igiosa, portanto não ia à missa. Não pedi orientação aos monges. Só fazia ca-minhadas pela estrada do mosteiro e mandava car-tões postais aos que amo. Olhava as nuvens, e fazia aquilo que é mais dif íci l para eu fazer normalmen-te, que é fazer nada.

Comecei a voltar a este lugar, e notei que estava fazendo meu trabalho mais importante lás ó por sentar-se quieto, e certamente tomando minhas de-cisões mais crít icas de um modo que nunca pude quando estava correndo do últ imo e-mail para o próximo compromisso.

Comecei a pensar que algo em mim estava gritan-do pela quietude, mas claro eu não podia escutá-la, pois estava correndo tanto. Eu era como um cara louco que coloca uma venda nos olhos e reclama que não pode ver nada. E ref leti sobre aquela frase maravilhosa de Sêneca que aprendi quando menino, que diz: “Pobre não é aquele que tem pouco, mas antes aquele que muito deseja.”

E, claro, não estou sugerindo que ninguém aqui entre em um mosteiro. Não é este o ponto. Mas re-almente acho que é só parando o movimento que você pode ver para onde ir . E é só saindo da roti-na e do mundo que você pode ver o que realmente lhe importa e encontre um lar. Notei que muitas

pessoas agora tomam medidas de consciência de sentar-se em si lêncio por 30 minutos toda as manhãs só para se centrar em um canto do cômodo sem seus aparelhos, ou correr todas as tardinhas, ou deixar seu celular para trás quando batem um longo papo com um amigo.Movimento é um privi légio fantástico, e per-mite-nos fazer muito do que nossos avós nunca teriam pensado em fazer. Mas movimento, no f inal , só tem um signif icado se você tem um lar para retornar. E lar, af inal , c laro que não é só o lugar em que você dorme. É o lugar em que você está.Obrigado.”

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