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1 O VIVER DO GRUPO VIVER: diálogos sobre idoso, envelhecimento e atividades físicas. Karina Geovana Santos do Nascimento 1 Discente Concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Richard dos Reis Costa 2 Discente Concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Vera Solange Pires Gomes de Sousa 3 Orientadora do CEDF/UEPA [email protected] Resumo O presente estudo busca analisar os benefícios que as atividades físicas realizadas no Projeto Grupo Viver, no Município de São Francisco do Pará, promove aos seus integrantes. O Grupo composto por cem idosos está sob a coordenação de um Professor de Educação Física que orienta atividades três vezes por semana e que vai ao encontro da prevenção do envelhecimento. A metodologia utilizada para o estudo explicativo teve abordagem qualitativa. Através da coleta de dados obtida por entrevista semiestruturada, constatou-se que as atividades físicas contribuem não somente para a prevenção do envelhecimento, mas também para a motivação da autoestima do idoso enquanto sujeito proativo, autônomo e independente. Palavras-chave: Idoso. Atividade Física. Envelhecimento. INTRODUÇÃO Este estudo tematiza uma investigação das atividades físicas para idosos desenvolvidas no Projeto Grupo Viver, no município de São Francisco do Pará (PA). O mesmo foi constituído por 20 sujeitos de um total de 100 que participam da unidade polo da Cidade. Estes idosos praticam atividades semanais que envolvem a dança, a ginástica, os jogos recreativos, as dramatizações, a caminhada, no período de três vezes por semana. São oriundos do campo, trabalhadores domésticos e aposentados provenientes da Capital. O Grupo Viver não se restringe somente a um espaço destinado à prática de atividades físicas, mas também é de referência social para os idosos. Os benefícios da atividade física para o nosso corpo são relevantes, todavia negligenciamos a sua importância também para a nossa mente. A prática do 1 Discente do oitavo semestre. Turma D ano 2013 2 Discente do oitavo semestre. Turma D ano 2013 3 Docente do Departamento de Artes Corporais do CEDF; Membro do Grupo de pesquisas RESSIGNIFICAR.

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O VIVER DO GRUPO VIVER: diálogos sobre idoso, envelhecimento e atividades físicas.

Karina Geovana Santos do Nascimento1

Discente Concluinte do CEDF/UEPA [email protected]

Richard dos Reis Costa2 Discente Concluinte do CEDF/UEPA

[email protected] Vera Solange Pires Gomes de Sousa3

Orientadora do CEDF/UEPA [email protected]

Resumo

O presente estudo busca analisar os benefícios que as atividades físicas realizadas no Projeto Grupo Viver, no Município de São Francisco do Pará, promove aos seus integrantes. O Grupo composto por cem idosos está sob a coordenação de um Professor de Educação Física que orienta atividades três vezes por semana e que vai ao encontro da prevenção do envelhecimento. A metodologia utilizada para o estudo explicativo teve abordagem qualitativa. Através da coleta de dados obtida por entrevista semiestruturada, constatou-se que as atividades físicas contribuem não somente para a prevenção do envelhecimento, mas também para a motivação da autoestima do idoso enquanto sujeito proativo, autônomo e independente. Palavras-chave: Idoso. Atividade Física. Envelhecimento.

INTRODUÇÃO

Este estudo tematiza uma investigação das atividades físicas para idosos

desenvolvidas no Projeto Grupo Viver, no município de São Francisco do Pará (PA).

O mesmo foi constituído por 20 sujeitos de um total de 100 que participam da

unidade polo da Cidade. Estes idosos praticam atividades semanais que envolvem a

dança, a ginástica, os jogos recreativos, as dramatizações, a caminhada, no período

de três vezes por semana. São oriundos do campo, trabalhadores domésticos e

aposentados provenientes da Capital. O Grupo Viver não se restringe somente a um

espaço destinado à prática de atividades físicas, mas também é de referência social

para os idosos.

Os benefícios da atividade física para o nosso corpo são relevantes, todavia

negligenciamos a sua importância também para a nossa mente. A prática do

1 Discente do oitavo semestre. Turma D ano 2013 2 Discente do oitavo semestre. Turma D ano 2013 3 Docente do Departamento de Artes Corporais do CEDF; Membro do Grupo de pesquisas RESSIGNIFICAR.

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exercício físico, principalmente, quando realizado em grupo, traz momentos de

alegria, de superação, descontração, socialização, proporcionando bem estar físico

e mental – o que é mais evidente ainda nos idosos praticantes.

A partir desse contexto é que entram as atividades físicas desenvolvidas no

lócus da presente pesquisa. O Grupo Viver é um projeto da Secretaria Municipal de

Assistência Social da cidade de São Francisco do Pará (PA), é coordenado por um

Professor de Educação Física e foi criado no ano de 2008, com o intuito de

proporcionar aos idosos praticantes, por meio da atividade em grupo, o retorno ao

convívio social. Por intermédio do Projeto, os mesmos retornam a uma rotina, a qual

é possível mostrá-los que a vida ainda não está no fim e, principalmente, que é

possível aproveitá-la.

Diante desses informes a respeito dos aspectos relacionados ao idoso e à

importância da prática regular de atividade física para um envelhecer ativo, com

saúde e com qualidade, torna-se relevante investigá-los no sentido de realizar

análises acadêmicas mais amplas sobre a questão acerca da importância dessa

prática para o desenvolvimento social e relacional do idoso, influenciadoras do

envelhecimento com saúde e qualidade de vida, no sentido de melhor compreensão

desse assunto na sua realidade. Neste sentido, o estudo buscou responder a

seguinte questão: Quais os benefícios da atividade física em grupo para a

concepção do idoso como um ser ativo no mundo e para a sua relação com o

outro?

A ideia de apresentar à sociedade acadêmica uma investigação

problematizando como a atividade física pode influenciar e especialmente beneficiar

as relações sociais do idoso em ambiente grupal, foi ratificada por dois fatores. O

primeiro foi a partir do envolvimento no Laboratório de Exercício Resistido e Saúde

(LERES) da Universidade do Estado do Pará (UEPA), espaço público de

treinamento resistido onde pesquisas são desenvolvidas com os mais diferentes

públicos.

A experiência adquirida no trato com os idosos se deu por intermédio das

práticas de treinamento resistido, planejado e direcionado às limitações de cada

idoso. O que nos instigou a entender como funciona o processo de envelhecimento

em relação aos seus aspectos físicos, psicológicos e mais precisamente, aos

aspectos sociais e relacionais.

3

O segundo fator determinante surgiu mediante ao conhecimento do Projeto

Grupo Viver desenvolvido por um Professor de Educação Física na cidade de São

Francisco do Pará (PA), onde se observou o quanto os idosos que participam do

Projeto sentiam-se dispostos, confiantes e acolhidos durante as atividades

desenvolvidas no Grupo, visto que os mesmos possuem um histórico de trabalho

físico sobrecarregado por conta de suas atividades rurais realizadas ao longo de

suas vidas.

O Grupo Viver é composto por aproximadamente 100 sujeitos de ambos os

sexos, que apresentam inúmeros casos de patologias consequentes do

envelhecimento. Em conversa com o professor responsável foi relatado que os

alunos apresentam melhoras frequentes no seu desenvolvimento físico e social.

Desta forma, despertou o interesse em investigar e analisar mais profundamente

estes resultados positivos, especificamente os seus aspectos sociais e relacionais,

ou seja, a sua concepção enquanto um ser biopsicossocial.

Para que esta pesquisa obtivesse um melhor desenvolvimento, apresentam-

se algumas questões que nortearam esta investigação, as quais contribuíram para a

análise da problemática traçada, são elas: Em que aspectos as atividades físicas

desenvolvidas no Grupo Viver beneficiam a interação social dos idosos

praticantes? De que forma o idoso considera a sua prática interrelacional em

Grupo? Como a atividade física contribui para a melhoria na autoestima dos

idosos praticantes?

O presente estudo teve como objetivo geral analisar os benefícios que as

atividades físicas realizadas no Projeto Grupo Viver implicam nos aspectos sociais e

relacionais dos idosos praticantes. E tem como objetivos específicos os seguintes: a)

Abordar os aspectos do Processo de Envelhecimento; b) Destacar as atividades

desenvolvidas no Grupo Viver que mais motivam os idosos; c) Analisar as

contribuições da atividade física para a melhoria da autoestima e interação social do

idoso no Grupo Viver.

Este trabalho foi estruturado em três eixos temáticos, no primeiro a

abordagem foi direcionada para as questões metodológicas sobre o

desenvolvimento da pesquisa, destacando o tipo de método, a abordagem

escolhida, o tipo de pesquisa, o lócus para a pesquisa e, também, a técnica para

coleta e análise de dados.

4

A seção seguinte apresenta um panorama geral sobre o processo de

envelhecimento, elencada em quatro subseções.

A terceira e última seção destaca os resultados obtidos através das

entrevistas e a discussão acerca dos dados coletados com embasamento no

referencial teórico utilizado.

1 METODOLOGIA

A pesquisa tem o propósito de auxiliar o pesquisador na abstração dos

conhecimentos que parte de aspectos da realidade e que deverão servir para a

composição de superações aos problemas traçados, tornando-se necessário que os

procedimentos metodológicos da pesquisa estejam bem delineados.

Referente a esses procedimentos quanto aos objetivos da pesquisa, a mesma

foi desenvolvida a partir do método dialético, com uma abordagem qualitativa

caracterizando-se como uma pesquisa explicativa, a qual segundo Gil (1989):

São aquelas pesquisas que têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. (GIL, 1989, p. 46).

A pesquisa foi realizada no Projeto Grupo Viver localizado no município de

São Francisco do Pará4, Estado do Pará. O Grupo Viver é um projeto da Secretaria

Municipal de Assistência Social, desenvolvido no Centro de Referência de

Assistência Social (CRAS) e possui 100 idosos matriculados. Os sujeitos dessa

pesquisa foram os idosos participantes, sendo que para a coleta de dados foram

entrevistados 20 idosos no total, 10 homens e 10 mulheres com faixa etária de 65 a

80 anos.

Como instrumento, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas com 10

questões subjetivas. As entrevistas foram gravadas em áudio, no aplicativo Easy

Recorder, do aparelho celular da marca Motorola, modelo Moto G.

A coleta de dados foi realizada no próprio local destinado ao Projeto, situado

no CRAS em ambiente favorável e sem interrupção. As entrevistas duraram, em

4 São Francisco do Pará é um município brasileiro do Estado do Pará. Encontra-se a uma

latitude 01º10‟10” sul e a uma longitude 47º47‟43” oeste, estando a uma altitude de 46 metros. Possui uma área de 476, 1, 39 km². Sua população estimada em 2015 era de 15.380 habitantes. Possui uma área de 479,564 km² (SÃO FRANCISCO DO PARÁ, 2017).

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média, 15 minutos com cada sujeito. Posteriormente, foram transcritas na íntegra e

entregues aos sujeitos para validar as informações prestadas. Os sujeitos foram

submetidos à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

relatado pelos pesquisadores durante o processo de entrevista, atendendo às

recomendações da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 2013).

As análises dos dados foram feitas a partir da análise de conteúdo das

questões transcritas inspirada nos estudos de Franco (2008).

[...] Daí, é preciso destacar a importância que as interpretações latentes passam a ter no âmbito do processo da análise de conteúdo. São interpretações que não estão, estritamente, ancoradas nas mensagens emitidas. Mas, mesmo não estando presentes nas mensagens a serem analisadas, devem ser consideradas como informações extremamente relevantes uma vez que, além do recurso à dedução e, muitas vezes, à hermenêutica dos sentidos dos textos, concentram a possibilidade de fornecer interpretações complementares valiosas e na junção que se estabelece entre a dedução e os mecanismos de indução, passam a se constituir em elementos úteis para a experimentação

de novas hipóteses (FRANCO, 2008, p. 23). Nesse sentido, a análise se deu não pela exaustão da categoria, mas sim

pela fala significativa dos sujeitos intimamente relacionada aos objetivos,

constituindo uma análise em que o protagonista é revelado pela sua relação com o

objeto estudado. Para conservar o sigilo dos nomes dos participantes, estes foram

identificados com codinomes da música e da poesia.

2 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO: apontamentos necessários

2.1 AS MUDANÇAS NAS CONCEPÇÕES DE SAÚDE E ENVELHECIMENTO.

Para Shephard (2003) existem diferenças em relação ao limiar do

envelhecimento, variando entre os Países como, por exemplo, a idade de

aposentadoria tem sido algo comum nas regiões da América do Norte por volta dos

65 anos, mas em alguns Países do leste europeu a idade considerada é 55 anos.

Mesmo dentro de um País, existem diferenças no envelhecimento de sujeitos com

perfis socioeconômicos distintos, em alguns casos como nos subúrbios norte-

americanos o acesso limitado ao tratamento médico influenciam no envelhecimento.

Como é destacado a seguir:

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Tabela – A variação do envelhecimento entre a população feminina e masculina:

2000 2010 2020

Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Proporção de população idosa(60 e

mais)

7,8% 9,3% 8,4% 10,5% 11,1% 14,0%

Proporção da população Grupo de

idades

60-64 46,8% 53,2% 46,4% 53,6% 45,6% 54,4%

65-69 45,8% 54,2% 45,2% 54,8% 44,5% 55,5%

70-74 44,8% 55,2% 43,2% 56,8% 42,8% 57,2%

75-79 43,9% 56,1% 40,2% 59,8% 39,9% 60,1%

80 ou mais 39,9% 60,1% 34,7% 65,3% 33,8% 66,2%

População idosa

6.533.784 8.002.245 7.952.773 10.271.470 11.328.144 15.005.250

Fonte: Dados sobre o Envelhecimento no Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2015).

Conforme a tabela destaca, verifica-se a existência de uma larga variação na

proporção do envelhecimento feminino e masculino. Os dados retratam a variação

de até 2% de diferença e esse é um estudo registrado das Nações Unidas. Isto quer

dizer um ganho na qualidade de vida. No que se refere ao Brasil, há uma projeção

para daqui a 50 anos, demonstrado no gráfico abaixo.

Gráfico 01 – O aumento da população brasileira com mais de sessenta anos:

Fonte: Dados sobre o Envelhecimento no Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2015).

Em 2010, tem-se cerca de 10%, o que sofre uma variação de 30% em 2050

com pessoas acima de 64 anos, sabe-se que poderá haver contratempos como:

endemias, possíveis tragédias e/ou acidentes. Mas o fato é que a questão do

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envelhecimento está cada vez mais na crescente. E isto está também visível nos

dados relatados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 5

Gráfico 02 – Previsão para o aumento da população acima de 60 anos daqui a 10 anos

Fonte: Dados sobre o Envelhecimento no Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2015).

Foi possível destacar nos dados do IBGE expostos acima, que a questão do

envelhecimento está em crescimento como já fora supracitado. Entretanto, é

pertinente manter a compreensão de como ocorre a classificação para esta

temática, pois existem várias classificações de faixa etárias para o envelhecimento.

O presente estudo é fundamentado na Organização Mundial de Saúde (OMS). A

OMS classificou o processo de desenvolvimento e envelhecimento dos sujeitos,

definindo a idade do ser humano em:

a) Idade da pessoa mais velha ou terceira idade – de 61 a 75 anos;

b) Idade da pessoa velha ou quarta idade – de 76 a 90 anos;

c) Idade da pessoa muito velha ou anciã – mais de 90 anos.

Contudo, é importante ressaltar também a classe precedente à terceira idade

(idade de transição, de 46 a 60 anos), a qual não pode ser definida como uma fase

de declínio da capacidade funcional do organismo, denominada “hipoforma”, na qual

5 A tendência de envelhecimento da população brasileira cristalizou-se mais uma vez na nova

pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os idosos - pessoas com mais de 60 anos - somam 23,5 milhões dos brasileiros, mais que o dobro do registrado em 1991, quando a faixa etária contabilizava 10,7 milhões de pessoas. Na comparação entre 2009 (última pesquisa divulgada) e 2011, o grupo aumentou 7,6%, ou seja, mais 1,8 milhão de pessoas. Há dois anos, eram 21,7 milhões de pessoas.

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já ocorrem modificações intensas nos mecanismos de regulação biológico-funcional

(LOVECCHIO, 2011).

Quando o sujeito é denominado “adulto maior”, conforme o Relatório da

Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015) é importante evidenciar os estereótipos

criados em torno do processo de envelhecimento, os quais em grande parte são

considerados ultrapassados, a partir de limitações que surgem para um melhor

entendimento dos problemas gerados nessa fase, das possíveis mudanças e

soluções que visam à melhoria e/ou manutenção da qualidade de vida nessa idade.

Para Okuma (1998), o envelhecimento é um processo biológico que provoca

alterações estruturais no corpo, modificando suas funções, assim o envelhecer é

inerente a todo ser vivente. Envelhecer é algo tão natural quanto nascer, crescer e

mudar. Mudar no sentido de sofrer transformações acompanhadas das alterações

que vão desde a aparência física, comportamentais, funcionais, fisiológicas, sexuais

e sociais. Entretanto, no mundo contemporâneo, a idade avançada é vista como

algo anormal, ou seja, é como se as pessoas se negassem a aceitar o processo

natural de envelhecimento.

Segundo Pont Geis (2003), a velhice é mais uma etapa da vida, e devemos

nos preparar para viver essa fase da melhor forma possível. O Envelhecimento é

percebido quando exteriormente há a manifestação de determinados aspectos

como: cabelos brancos, rugas nas mãos e no rosto, flacidez, e internamente os

órgãos começam a dar sinais de cansaço por meio das dores musculares ou

articulares, ocasionando também problemas respiratórios e circulatórios.

Pont Geis (2003), afirma que socialmente a velhice ocorre quando os sujeitos

atingem a idade dos 60 a 65 anos, apesar de cada organismo, cada tecido,

envelhecer por conta própria, com velocidade e ritmos próprios. As causas do

envelhecimento ainda continuam sendo desconhecidas, embora numerosos

trabalhos de pesquisa a respeito tenham sido realizados, esses estudos indicam que

o programa de vida inscrito nos nossos genes é desenvolvido de uma forma distinta

e de acordo com cada sujeito, sendo influenciado pelo meio em que vivemos.

Baseado nos autores Okuma (2004) e Voser (2013) constata-se que com o

passar do tempo, o ser humano obtém uma perda significativa de todas as

capacidades motoras, tais como: a flexibilidade, o equilíbrio, a coordenação motora

e a força. Além disso, há uma grande perda da massa muscular e óssea, resultando

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assim em um aumento da gordura corporal. Portanto, torna-se importante relatar os

aspectos fisiológicos decorrentes do processo de envelhecimento.

2.2 O ENVELHECIMENTO E A SUA INFLUÊNCIA NA COMPOSIÇÃO CORPORAL

Após uma abordagem geral sobre os efeitos do envelhecimento nas principais

variáveis relacionadas à aptidão física, nesta seção, particularmente, será feita uma

dissertação sucinta baseada nas alterações ocorridas na composição corporal dos

sujeitos em fase de envelhecimento, pela necessidade que a pesquisa exige.

Sabe-se que na terceira idade, é necessário um olhar mais cauteloso

referente à recomposição de nutrientes para o corpo, dentre os quais se destacam o

cálcio e as proteínas. Assim como, é importante relatar os efeitos antropométricos

nesse período, por isso, há persistência em tratar do assunto envelhecimento.

Do ponto de vista fisiológico, o envelhecimento é um processo que não ocorre

necessariamente em paralelo ao avanço da idade cronológica, apresentando

considerável variação individual; este processo surge acompanhado por uma série

de modificações nos diferentes sistemas do organismo, seja a nível antropométrico,

muscular, cardiovascular, pulmonar, neural ou de outras funções orgânicas que

sofrem efeitos, além do declínio das capacidades funcionais e modificações no

funcionamento fisiológico. (MATSUDO; MATSUDO 1993, apud DANERES; VOSER,

2013).

Dantas e Oliveira (2003) afirmam que no período do envelhecimento ocorrem

alterações anatômicas na coluna vertebral causando uma redução na estatura,

principalmente, no sexo feminino. O pico de estatura ocorre aos 40 anos de idade,

iniciando a perda de um centímetro a cada década, com acentuação a partir dos 70

anos de idade, nos sujeitos ativos, bem alimentados essa redução dos centímetros é

menor.

A principal causa da perda de estatura são as lesões osteoporóticas e

discoartrósicas das vértebras e lesões dos espaços intercostais, com curvatura na

coluna. Outro fator é a perda do arco dos pés, o que contribui também para a

redução da estatura e comumente pode ocorrer hipercifose na parte superior da

coluna, região cervicodorsal, que reduz a distância entre a nuca e os ombros. O

tórax tem a tendência a aumentar em ambos os diâmetros, a distância de ombro a

ombro, o diâmetro bicromial, são reduzidos com a idade. Nas mulheres, acontecem

10

maiores perda da densidade óssea, sobretudo na fase de pós-menopausa, podendo

causar a Osteoporose.

Ainda segundo os autores, durante o processo de envelhecimento todas as

estruturas do aparelho locomotor são atingidas, podendo desenvolver alterações na

estrutura óssea das articulações e nos músculos. O envelhecimento está associado

a outras variações estruturais cardíacas e respiratórias, alterações estas que tendem

a ser individualizadas, mas muitas delas fisiológicas podendo levar o idoso a não ter

uma vida independente ou autônoma (DANTAS; OLIVEIRA, 2003).

Quadro - Efeitos fisiológicos do Envelhecimento

Sistema Nervoso

Sistema Muscular

Sistema Circulatório Sistema

Respiratório Sistema

Esquelético

Perdas celulares cerebrais,

chegando a 2% ao ano.

Aumento do tecido

conjuntivo no organismo e

perda gradual de sua

propriedade elástica;

acúmulo maior de massa

gorda e perda de massa

magra.

Diminuição da quantidade de sangue

que o coração bombeia em seu

estado de repouso (braquicardia); rigidez

das paredes dos vasos; hipertensão

arterial; diminuição do consumo de O2; perdas hídricas e redução da água

corporal.

Diminuição da mobilidade da caixa torácica;

menor elasticidade pulmonar;

diminuição no número de alvéolos e capilares

pulmonares; capacidade pulmonar diminuída.

Degeneração discal;

incidência de osteoporose e osteoartrite

sinovial; diminuição

da amplitude dos

movimentos.

Fonte: Adaptado de Dantas e Oliveira (2003).

Raso (2007) descreve a palavra Sarcopenia como as alterações

neuromusculares ocasionadas pelo processo de envelhecimento e que podem ser

definidas como a perda de força muscular e decréscimo da massa muscular. A

Sarcopenia pode ser considerada uma síndrome neuromuscular progressiva, a qual

exerce implicação de modo significativo na capacidade do indivíduo idoso para

realizar de forma efetiva muitas das atividades diárias e pode interferir no consumo

máximo de oxigênio, na sensibilidade periférica à insulina, na taxa metabólica basal,

no dispêndio energético total e na manutenção do nível energético e nitrogenado.

Para Manidi e Michel (2001), o sistema locomotor de um indivíduo durante a

fase de envelhecimento é transformado paulatinamente. Nesse período é comum a

diminuição dos volumes dos músculos, o endurecimento dos ligamentos, as

articulações se anquilosam e há declínio na velocidade de transmissão do sistema

nervoso.

11

Os estudiosos supracitados afirmam que o controle motor participa na

regulação de movimentos, na representação dos gestos e na capacidade de

antecipação frente ao perigo e que a partir dos 40 anos há uma considerável

diminuição da força muscular. A força do tríceps sural, diminui em 28% entre os 40 a

70 anos. (MANIDI; MICHEL, 2001).

Fleck e Kraemer (1999) sugerem que as mulheres apresentam um declínio

mais acentuado de força em relação aos homens, sendo expressa por uma

diminuição na força de preensão manual em cerca de 3% ao ano em homens e 5%

em mulheres, após um estudo longitudinal de quatro anos.

De acordo com Dantas e Vales (2008), nas estruturas como tendões

ligamentos e cartilagens articulares ocorrem redução do conteúdo de água desses

compartimentos, o aumento da rigidez e a diminuição de suas propriedades

elásticas. O Turnover do colágeno corporal e o ritmo de reconstrução dos tendões e

ligamentos também reduzem com o avançar da idade. Ocorrem transformações

significativas nas cartilagens articulares, comprometendo o nível mineral ósseo. Isto

ocasiona uma redução da resistência elástica, além de uma perda gradativa da

mobilidade articular e propiciando riscos ao aparecimento da Osteoporose.

Não obstante, consideramos válida a discussão traçada sobre os fatores

físico-motores do processo de envelhecimento. No entanto, é indispensável um

relato baseado em dados acerca do trato social e suas implicações para a vida do

sujeito idoso.

2.3 O ENVELHECIMENTO SOCIAL

Nesta seção, discorrem-se acerca do envelhecimento social, suas nuances na

Sociedade e de como este vem sendo elaborado no decorrer dos estudos referentes

ao processo de envelhecimento.

O estudo do envelhecimento biológico se caracteriza pela análise do declínio

e das perdas de potencialidades morfofuncionais do homem. O estudo do

envelhecimento psicológico tem como foco de atenção não as perdas, mas as

mudanças que podem ser descritas em termos de ganhos e perdas (OKUMA, 2004).

A partir dos estudos de Camarano (2004) foi traçado o perfil sociodemográfico

da população idosa brasileira, o que tornou possível aferir as seguintes conclusões:

1. Houve um alongamento do tempo vivido; 2. As doenças cardiovasculares são as

principais causadoras de morte; 3. Uma parcela significativa da população idosa

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possui dificuldade em ouvir, enxergar, subir escadas e lidar com atividades básicas

do cotidiano; 4. A grande maioria desses idosos mora em casas de parentes; 5. Em

média possuem um acúmulo patrimonial destacando-se pela aposentadoria

provocada pela universalização da aposentadoria; 6. Muitos idosos participam do

mercado de trabalho mesmo com idade avançada.

Scortegagna (2012) ao analisar o envelhecimento humano, não permite

considerá-lo apenas pelo viés cronológico, mas também pelo seu aspecto social.

Nas sociedades caracterizadas nos tempos atuais pelo lucro, o idoso em muitos

casos aparece como um obstáculo no desenvolvimento, não levando em

consideração a contribuição social deles no que se refere à produção de bens,

serviços e conhecimentos.

Ainda segundo a autora, pelos problemas enfrentados na realidade social,

muitos idosos começam a negar a sua idade, com o intuito de ser aceito nos grupos

mais jovens. Essa é uma atitude de não aceitação da velhice. A velhice deveria ser

encarada com uma etapa do desenvolvimento humano e não estar associada à

doença ou à incapacidade, pois as limitações e os problemas de saúde não se

restringem somente aos idosos – acometem a todos os indivíduos independentes da

idade (SCORTEGAGNA, 2012).

Dentro dessa perspectiva, a velhice é um problema social não apenas

relacionado à atualidade, mas no presente esse segmento populacional está

crescendo de uma forma muito rápida, necessitando de mais recursos, atingindo

diretamente o Estado que precisa ofertar determinadas condições para a

sobrevivência dessa população.

Outro problema enfrentado pelos idosos é a dificuldade para acompanhar o

desenvolvimento dos mais jovens, pelo fato de não conseguirem aceitar o

comportamento ou valores desse grupo, provocam uma restrição no seu convívio

social. Porém, por outro lado, a estrutura social gira em torno da população mais

jovem, considerando uma ideia de que o envelhecimento é algo aversivo e

indesejado.

A competitividade, a capacidade para o trabalho, a independência e a

autonomia, muitas vezes, não conseguem ser mantidas pelos idosos. Essas

mudanças estão relacionadas à velhice. Nessa fase, pode-se considerar que os

idosos perdem parte do seu ritmo de trabalho e também em virtude disso, são

13

colocados em segundo plano quanto à vida social (VELOZ et al., 1999; RAMOS,

2002, apud DANERES; VOSER, 2013).

O envelhecimento social da população traz uma modificação no status do

idoso e no relacionamento dele com outras pessoas em função de:

a) Crise de identidade: provocada pela falta de papel social, que leva o

idoso a uma perda de autoestima;

b) Mudanças de papéis na família: no trabalho e na sociedade, com o

aumento de seu tempo de vida, ele deverá se adequar a novos papéis (VELOZ et

al., 1999; RAMOS, 2002, apud DANERES; VOSER, 2013).

A aposentadoria pode ser vista como a transformação de sonho em duro

pesadelo de pessoas “sem função”, quando se veem sem o seu “papel produtivo”. É

fácil entender essa situação, uma vez que as pessoas de modo geral, são

valorizadas durante toda sua vida, principalmente pela sua atividade profissional

desenvolvida.

De acordo com Pitanga (2006), na contemporaneidade a obsessão pelo corpo

jovem e a tentativa de “apagar” as marcas do tempo em evidência, podem possuir

significado como o desejo de evitar ou a vontade de camuflar a finitude, pois existe

uma sensação de impotência diante da morte, a qual se subentende estar mais

próxima da velhice. Mas o confronto com a morte torna-se inevitável, fazendo surgir

o temor, a impotência, a insegurança, a angústia que podem ser entendidas como

expressões de um estado afetivo de desprazer, um sinal de reação ao perigo, sendo

por meio da angústia que os indivíduos se deparam com a realidade de seus limites.

É possível para o idoso, validar a sua existência, avaliando o que foi

planejado, os aprendizados, as conquistas e realizações. Esses feitos podem trazer

alegria e sentimento de felicidade possibilitando uma relação ativa, afetiva e

dinâmica. O passado não deve ser visto somente como acúmulo de recordações

com lembranças agradáveis ou saudosistas, porém mediante ao significado do que

já foi vivido e vislumbrando novos projetos. Colocando em marcha novas

possibilidades para o desafio de viver. (PITANGA, 2006).

Caldas e Thomaz (2010) acreditam que a formação da identidade e

subjetividade do idoso e também a forma tal qual ele se põe na Sociedade é algo

referente a ele e a todos os atores sociais, que de alguma forma contribui e interfere

para a ideia de envelhecimentos existentes, por serem sujeitos multideterminados

ativos e históricos. Por isso, é importante relatar sobre o envelhecimento para uma

14

construção mais ampla diante desse período, contribuindo para uma Sociedade

mais inclusiva e acolhedora.

É essencial fomentar discussões criando espaços adequados para que o

envelhecimento seja debatido envolvendo todos os entes da sociedade, para que

enxerguem os idosos de uma forma menos preconceituosa, pautado na realidade e

necessidades dos sujeitos, ajudando-os a lidar melhor com as questões que

permeiam o envelhecimento (CALDAS; THOMAZ, 2010).

Tais circunstâncias permitem abordagens relacionadas às possibilidades de

vivências sociais destinadas a grupos de idosos, por exemplo, as práticas que a

atividade física proporciona nesse período da vida. Essa relação será discutida com

maior ênfase no tópico seguinte.

2.4 O ENVELHECER E A ATIVIDADE FÍSICA

Mahecha (2001) destaca a relação entre atividade física, saúde, qualidade de

vida e envelhecimento como uma das análises mais discutidas cientificamente. Nos

dias atuais, é praticamente um consenso entre os profissionais da área da saúde

que a atividade física é um fator determinante no sucesso do processo do

envelhecimento. Os benefícios permeiam entre as melhorias para um estilo de vida

ativo na prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, na redução dos riscos

de mortalidade e à manutenção da capacidade funcional durante esse processo.

Caspersen, Powell e Christensen (1985) definiram a atividade física como

qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta

em gasto energético maior do que os níveis de repouso, por exemplo: a caminhada,

a dança, a jardinagem, subir escadas, dentre outras atividades. Esses mesmos

autores conceituaram o exercício físico como toda atividade física planejada,

estruturada e repetitiva que tem como objetivo a melhoria e a manutenção de um ou

mais componentes da aptidão física.

O exercício físico, por sua vez, pode ser definido em duas vertentes:

relacionada à saúde e ao desempenho (NAHAS, 2006). Segundo esse autor, a

primeira contempla atributos biológicos (força e resistência muscular, flexibilidade,

capacidade aeróbica, controle ponderal) que oferecem alguma proteção ao

aparecimento de distúrbios orgânicos provocados pelo estilo de vida sedentário; a

segunda relacionada ao desempenho envolve uma série de componentes

relacionados ao desempenho esportivo ou laboral, como a agilidade, o equilíbrio, a

15

coordenação, a potência e as velocidades de deslocamento e de reação muscular.

Sendo assim, deve-se estimular a população idosa à prática de atividades capazes

de promover a melhoria da aptidão física relacionada à saúde. De acordo com

estudos epidemiológicos, a prática das atividades físicas proporciona benefícios nas

áreas psicológicas e fisiológicas.

As publicações literárias acerca da prática de atividades físicas para os idosos

evidenciam os efeitos positivos que uma atividade motora regular promove ao

organismo. Tais benefícios se refletem não somente ao nível fisiológico e biológico

do sujeito, em relação à prevenção e tratamento das doenças próprias desta idade

(hipertensão arterial, enfermidade coronariana, ou seja, na melhoria da saúde física,

mas também nas capacidades intelectuais, no bem-estar individual e em grupo, nas

interrelações pessoais, o que possibilita definir que “o estar bem consigo é estar

bem com o outro” (OKUMA, 1998).

Dentro dessa perspectiva, a atividade física é uma ferramenta crucial para o

envelhecimento com qualidade de vida. É indubitavelmente a melhor receita para a

prevenção de patologias bem como a promoção de saúde para uma vida ativa, ou

seja, a manutenção das capacidades funcionais por intermédio das práticas

corporais contribui diretamente à conservação e/ou estimulação da autoestima,

autonomia e proatividade do idoso.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO JUNTO AO GRUPO VIVER.

Nesse item dialogamos com Voser (2013) a partir da análise feita diante dos

trabalhos desenvolvidos com os idosos no Grupo Viver. É perceptível a capacidade

dos sujeitos praticantes das atividades em manter a sua autonomia, a sua

independência, a sua proatividade. Assim como, é necessário relatar uma melhor

compreensão do processo de envelhecimento – por parte dos idosos – quando se

tem o auxílio de um profissional, no caso, o Professor de Educação Física.

O professor de Educação Física torna-se fundamental por meio da promoção

de atividades diversificadas para um público de pessoas idosas, o que nos

possibilita relembrar os estudos de Voser (2013), que retrata as consequências para

os idosos desde a sua inserção no processo de envelhecimento, quando perdem

sua visibilidade social e são colocados em segundo plano. Porém, quando se tem

16

um olhar voltado para o social e para o cuidado com os sujeitos, têm-se um valioso

reconhecimento, como enfatiza Açucena:

[...] Lá no Grupo, eles dão força pra gente. Quando a gente chega lá e encontra com as outras pessoas é aquela alegria né. Eu me sinto feliz lá, principalmente pela força que o professor dá pra gente sabe. Ele não deixa a gente desistir, ele tá sempre botando a gente pra cima. Ele pra nós é tudo. Quando ele manda a gente dançar é uma alegria, a gente lembra da nossa juventude [...] (Informação verbal, abril/2017).

Baseado nas entrevistas realizadas com os idosos participantes do Grupo

Viver pode-se concluir que os mesmos passaram a sentirem-se ativos após a sua

introdução nas atividades do Grupo, pois afirmam que as práticas desenvolvidas no

Projeto os ajudaram a recuperar a funcionalidade perdida por problemas de saúde

ou pelo estado de sedentarismo anterior às práticas no Grupo.

Conforme as ponderações de Cora, um dos sujeitos do Grupo Viver, a mesma

apresenta uma patologia denominada Miastenia grave6, porém essa limitação não

lhe impediu de participar das atividades do Grupo.

[...] Pra mim, antes de eu caminhar com o Grupo Viver eu vivia só

dentro de casa, não saía pra canto nenhum. Eu tenho uma doença chamada Miastenia grave, é problema de motora e não tem cura, só remédio. Antes de ir pro Grupo eu não andava, tinha até medo, Deus o livre, mesmo com as pessoa me segurano eu tinha medo de atravessar a rua, agora não, eu vou na mamãe, vou até lá na rua no dia da nossa atividade [...] (Informação verbal, abril/2017).

Consoante ao depoimento de Cora foi verificado que o processo de

envelhecimento ocorre como já fora destacado pelos estudos da OMS (2015), mas

há também uma relação de cuidado, um elo para a promoção de saúde e também

um estímulo para viver com qualidade de vida e bem-estar. Isso demonstra que o

Grupo Viver traz atividades não somente para a promoção da saúde, mas também

para a interação social, o que promove um diferencial no trato com o idoso.

Para enfatizar esta ideia, é importante relatar o quanto o “envelhecer no

Grupo Viver” tornou-se essencial para a manutenção da felicidade e bem-estar de

Cordolina, que nos afirma a significância do Grupo para a sua vida: [...] O Viver para

6 A Miastenia grave é uma doença neuromuscular autoimune em que os anticorpos atacam

os receptores localizados no lado muscular da junção neuromuscular, acarretando episódios de fraqueza e fadiga muscular anormalmente rápida, causada por um defeito na transmissão dos impulsos nervosos para os músculos. Os receptores lesados são aqueles que recebem um sinal nervoso através da acetilcolina (ABCMED, 2013).

17

mim é uma vida, é uma alegria só quando tô lá, quando tô em casa é só uma

tristeza, eu vivo só aqui [...] (Informação verbal, abril/2017).

Os momentos de atividade no Grupo são considerados momentos de

acolhimento, de respeito, de escuta e união. Os idosos se sentem importantes e

alegres, elementos que os mesmos dizem não encontrar em outro lugar da

Sociedade, em alguns casos nem mesmo no âmbito familiar. Alguns sujeitos

relataram que desde sua introdução no Grupo Viver as suas relações sociais

evoluíram, pois reforçaram amizades antigas e fizeram novas amizades com outros

integrantes do Grupo, os idosos ressaltaram que o Grupo Viver tornou – se uma

segunda família para eles. Raquel de Queiroz ilustra especialmente essa ideia:

[...] O meu entrosamento lá no Viver foi muito importante né, porque

pra mim é assim, lá eu não me sinto de canto por causa de ser velha sabe. Quando eu to lá eu me sinto reunida, pra mim lá é uma famía, tenho muitos amigo e a gente se sente bem animado né. Lá a gente se respeita e é respeitada. Lá a gente conhece as pessoas que a gente não conhecia antes, entendeu? E também fica melhor das amizade de antes. A gente se dá bem com todo mundo [...]

(Informação verbal, abril/2017).

Outro ponto importante para reforçar essa concepção, no que diz respeito aos

relatos dos sujeitos entrevistados em relação ao envelhecer e sua inserção no

Grupo Viver pode-se aferir de acordo com Ariano:

[...] o Grupo Viver significa muita coisa né, quando a gente vai pra lá e com a atividade né, a gente se sente melhor. Quando a gente fica sem fazer e vai pra lá fazer, já se sente melhor. Significa união, alegria pra gente né e também quando eu tô lá eu não sinto dor no corpo. Na hora da física eu fico me sentino bem melhor dos meu braço, das minha perna, da minha coluna e quando eu não tô lá eu fico me sentino mais acabronhado, mais acabado e preguiçoso [...] (Informação verbal, abril/2017).

Em harmonia com Ariano é notório que as atividades físicas são intrínsecas

para a evolução do ser humano e quando estas estão dentro de uma relação grupal,

se tornam mais envolventes porque nessa faixa etária, onde o sujeito é denominado

idoso, é importante a interação social desse sujeito e que isso está diretamente

relacionado à melhoria da saúde e qualidade de vida na velhice.

Segundo Camarano (2004), a nossa população vai muito além dos 60 anos,

portanto, para isso é essencial que hajam ações diferenciadas proporcionadas pelo

Governo e destinadas ao público idoso. É necessária a promoção de políticas

públicas para o atendimento a essa faixa etária, para garantir não obstante a

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promoção da saúde, mas, principalmente, o desenvolvimento da autonomia e a

validação do “ser sujeito”, como podemos validar pelo relato de Dorival Caymmi:

[...] Pra mim, um outro ponto positivo do Grupo é a melhoria para nossa saúde. As pessoas que participam do Viver tem mais saúde, melhoram muito a qualidade de vida delas e socializam mais. Mais do que ficarem na casa delas sem fazer nada. Lá no Viver, quando a gente faz a educação física, a gente interage com as outras pessoas e isso estimula a gente a viver mais um pouco né [...] (Informação verbal, abril/2017).

3.2 O GRUPO VIVER E AS MOTIVAÇÕES PARA O “SER IDOSO”.

Neste tópico dialogamos com Camarano (2004) que descreve em seus

estudos o perfil sociodemográfico da população idosa do Brasil, tornando possível

uma analogia com os relatos de Açucena e Raquel de Queiroz descrito,

respectivamente, abaixo e comprovando as conclusões que o autor levanta em suas

análises.

[...] A dor era tudo em que era canto, não andava, não subia em nenhuma calçada, não mudava roupa, não penteava meu cabelo, quem me dava banho era minhas filhas, essa foi uma época muito da ruim na minha vida, eu sempre sentia vontade de chorar [...] (Informação verbal, abril/2017); [...] Quando me aposentei, eu acabei indo pra capital morar com uma filha minha, mas era bastante estranho, ela achava que eu era criança, eu nem podia chegar muito perto da rua que ela já vinha chamar minha atenção. Não me acostumei e voltei aqui pra São Francisco [...] (Informação verbal, abril/2017).

Em contrapartida a Camarano (2004), Açucena e Raquel de Queiroz citam,

concomitantemente, a influência do Grupo Viver para que as mesmas se tornassem

sujeitos ativos e independentes de parentes.

[...] Depois que entrei pro Grupo mudou tanta coisa, foi como uma graça de Deus ter botado o professor no meu caminho, agora faço tudo sozinha que não podia fazer antes, essa física do Grupo foi a melhor coisa que eu podia conhecer, agora tô mais de com força [...] (Informação verbal, abril/2017); [...] Eu moro sozinha em São Francisco, eu gosto, as vezes não tenho pra quem reclamar da vida, mas eu gosto de poder fazer minha comida, limpar as folhas que caem das árvores no meu quintal e ainda posso ir pro Viver e encontrar meus amigos e me divertir junto deles [...] (Informação verbal, abril/2017).

19

Portanto, mediante ao perfil sociodemográfico da população idosa do Brasil

retratado por Camarano (2004), pode-se concluir que os idosos inseridos em suas

conclusões, normalmente, são sujeitos que não mantêm a prática de atividades

físicas de forma regular. No instante em que os mesmos iniciam alguma prática para

a aderência de uma vida ativa, consequentemente, estimulam o ganho de

autonomia. Estes benefícios, podem se tornar a base para a motivação aos idosos

participantes assíduos do Grupo Viver e, em contraposição às conclusões do autor

já citado.

Okuma (1998) afirma sendo o envelhecimento um processo biológico que

causa alterações no corpo do indivíduo, a autora diz que envelhecer é tão natural

quanto nascer, crescer e morrer, ou seja, o envelhecimento nada mais que é um

grande ciclo da vida. Entretanto, destacamos duas maneiras para envelhecer: a

primeira onde o sujeito se submete a tais alterações, desta forma acaba tendo

mudanças em seu humor e socialização, fazendo do envelhecimento uma fase

sofrível; a segunda seria de forma ativa, praticando atividades, desta forma

chegando a retardar o envelhecimento, na esfera biológica, psicológica e social,

considerando assim a idade cronológica como um simples detalhe. Dorival Caymmi

nos permite uma relação com essa concepção, quando diz:

[...] Eu desde quando entrei no Viver fiquei me sentindo mais jovem, lá é muita animação, a gente tá sempre em movimento, eu gosto muito de lá, fico mais disposto pra fazer minhas coisas em casa, acabo me sentindo como um rapazinho com toda força e disposição, isso faz eu esquecer da velhice e de outros aperreios. Lá é só animação, a gente se sente mais feliz mesmo sendo velho, lá eles dão força pra gente, não deixam a gente ficar triste. Assim, quando a gente chega lá e encontra com as outras pessoas é uma alegria só, me sinto acolhida. Lá a gente faz física, dança e brinca o que deixa a gente mais dispostos [...] (Informação verbal, abril/2017).

Os laços afetivos desenvolvidos a partir das atividades no Grupo Viver foi um

ponto muito destacado pelos sujeitos entrevistados, quando questionados sobre a

motivação para ir com frequência ao Grupo, pois estas atividades ajudaram os

mesmos a se relacionarem de melhor forma, tanto com os integrantes do Grupo

quanto com os demais sujeitos de suas vidas sociais. A família é um outro elemento

que teve relevância no aspecto da motivação. Por meio do incentivo familiar, os

idosos passaram a se envolver com o Grupo Viver, além dos incentivos recebidos

20

pelo professor responsável pelo Projeto, para chegar a esta conclusão destacamos

de forma respectiva a fala de Dorival Caymmi e Cora:

[...] O que motiva é a relação com os amigos do grupo, é também os estímulos do professor, deus o livre se tirarem esse homem de lá, nós vai tudo embora. O principal motivo é ele, é ele a alegria de todos. Ele pra nós é o que nos motiva, pra mim principalmente. Foi que nem quando eu quase perdi minha visão, ele que me motivou a estudar. O acolhimento lá também é importante, é tanto que começamos com 9 e agora somos 100 [...] (Informação verbal, abril/2017); [...] Eu fui pro Viver quando minha mãe me convidou, eu tinha medo e vergonha, mas meu filho deu força e eu fui, agora não quero mais parar [...] (Informação verbal, abril/2017).

3.3 AS CONTRIBUIÇÕES DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO PARA A

AUTOESTIMA E INTERAÇÃO SOCIAL DO IDOSO NO GRUPO VIVER.

Haja vista a pertinência em tratar a relação da atividade física com o idoso,

portanto, é cabível neste item uma abordagem destinada, especialmente, para a

relevância social que o Grupo Viver possibilita aos idosos praticantes.

Consoante aos estudos de Matsudo (2001) em que se expõe a inerência do

envelhecimento ao ser humano e, por conseguinte, cada um de nós passará por

essa fase independente da faixa etária. Não podemos considerar apenas o caráter

cronológico, paralelamente, a relação da atividade física com o idoso possibilita a

garantia de um bom funcionamento do nosso corpo. De modo geral, destaca-se

desta forma a contribuição para a autoestima, proatividade e a interação social a

partir do bem-estar físico e mental, ou seja, a melhoria do organismo em seus

aspectos físicos, mentais, sociais e relacionais.

A mobilidade, considerada como a habilidade para mover-se independentemente, foi considerada como uma variável importante associada à independência, à qualidade de vida e à longevidade na terceira idade (MATSUDO, 2001 p. 143 apud PATLA e SHUMWAY-COOK, 1999).

Desta forma, atrelado aos aspectos destacados na entrevista de Dorival

Caymmi, relatada abaixo, correlacionou-se à concepção de melhorias na sua

aptidão física e aperfeiçoamento de habilidades à sua melhoria enquanto um sujeito

ativo no meio social.

21

[...] Pra mim, a física lá no Viver é a principal coisa pra minha vida depois que envelheci. Eu ficava em casa sem fazer nada depois que a aposentadoria chegou, mas aí quando eu fui pro Grupo eu melhorei bastante o meu corpo, antes eu me sentia mais cansado, sentia muito mais dor, nos meus quartos, no meu joelho. Agora eu to bem melhor, me sinto mais disposto e feliz comigo mesmo. Eu gosto muito da dança que a gente faz lá, porque mexe com o corpo todo, isso me deixa mais alegre e faz eu me enturmar mais né [...] (Informação verbal, abril/2017).

Okuma (2003) revela muitos estudos que evidenciam a atividade física como

um recurso importante para minimizar a degeneração causada pelo envelhecimento,

proporcionando ao idoso a manutenção e/ou promoção de uma qualidade de vida

ativa. A atividade física tem a capacidade de estimular diversas funções essenciais

do organismo, como já fora relatado, controlando doenças crônico-degenerativas.

Auxilia na manutenção de funções do aparelho locomotor, o qual é o principal

responsável pelo desempenho das atividades da vida cotidiana e pelo grau de

independência e autonomia do idoso.

Deste modo, observamos o quanto as asserções da referida autora são

válidas quando direcionamos para a realidade do Grupo e, principalmente, para os

relatos prestados ao presente estudo. Os idosos em seus pronunciamentos

expuseram as melhoras obtidas ao ingressarem no Grupo Viver, o quanto isso

proporcionou aos mesmos um sentimento satisfatório individualmente, ou seja, para

eles a vivência no Grupo faz com que se sintam felizes consigo mesmo. Desta forma

elevando sua autoestima e interação social, frisado nos relatos de Cordolina e Cora,

respectivamente:

[...] Depois que melhorei eu comecei a me vestir, a pentear meu cabelo, faço minha comida [...] (Informação verbal, abril/2017); [...] Sou de me dar com poucas pessoas, mas no Viver conheci novas e de lá já venho conversando com quem mais gosto [...] (Informação verbal, abril/2017).

Embasado nos depoimentos acima se compreende que as atividades

desenvolvidas no Grupo proporcionaram aos idosos um recomeço, tanto na questão

física, quanto no aspecto social, vide os ganhos de autonomia, os laços de amizade

que foram reforçados e criados entre os mesmos.

O Grupo Viver é uma política pública social e promove estímulos aos seus

participantes quanto ao desenvolvimento de suas personalidades no meio social,

tornando-os seres ativos e sujeitos mais conhecidas no Município, fator

determinante para a melhoria na interrelação grupal, conjuntamente, ao

22

aprimoramento de sua autoestima, como relata Dorival Caymmi: [...] Pra mim, o Grupo

Viver, ele fez assim, eu me integrar com a sociedade franciscana. Foi através do Grupo

Viver que eu consegui socializar com as pessoas que moram nesse município [...]

(Informação verbal, abril/2017).

E para reforçar esta ideia, Graciliano Ramos enfatiza:

[...] Ah, lá no Viver a gente se sente muito melhor. Nós se sente melhor lá do que aqui, porque nós lá tamo prosando, no meio dos amigo, se mexendo na física, nas dança. A gente fica se sentino muito bem. Lá é muita animação, aí quando a gente acorda no dia de ir pra lá, já acorda feliz, por causa de que lá tem união e amizade [...] (Informação verbal, abril/2017).

É pertinente a influência do Grupo Viver na melhoria da autoestima destes

idosos, o quanto a atividade física torna-se de fundamental importância para a vida

do sujeito, o qual possui como direito o acesso à cultura, ao esporte e ao lazer,

assegurado pela Constituição Brasileira de 1988. No entanto, reconhecer a

existência de projetos destinados ao atendimento deste público é de extrema

importância, no caso, o projeto Grupo Viver pode ser considerado um grande

exemplo de política pública social para a terceira idade.

Ressalta-se ainda que, alguns sujeitos referiram-se à sua entrada no Grupo

como um recomeço para a sua vida social, pois devido ao período de aposentadoria

os mesmos não participavam de atividades que fossem realizadas em Grupo,

privando-se exclusivamente para a vida doméstica e ao sedentarismo, conforme

visualizamos no trecho da entrevista de Elis Regina:

[...] Antes de eu chegar no Viver, eu vivia esmurecida em casa, não tinha vontade de sair pra canto nenhum. Eu me sentia meio triste por tá sem trabaiar né, depois que eu me aposentei, fiquei sem serventia. Só ficava fazeno as coisa dentro de casa, mas aí começou a doer em tudo enquanto era canto, aí tem dia que eu faço as coisa e dia que eu não aguento, porque ficava muito cansada né [...] (Informação verbal, abril/2017).

As contribuições para a melhoria da autoestima dos idosos e sua interação

social estão intimamente relacionadas à manutenção da capacidade funcional dos

sujeitos quando submetidos à prática de atividade física, proporcionando grandes

benefícios para essa população. Nesse sentido, cabe destacar o bem-estar físico e

mental que o envelhecer no Grupo Viver promove a Ariano e a Gregório de Matos,

baseado em seus relatos abaixo, concomitantemente:

23

[...] Ah a gente lá no Viver fazemo tudo com melhoridade, mesmo sendo véi acabado, nós se sente muito bem lá. Eu depois que comecei a ir pro Viver, não andei mais corcunda que nem um véi de 115 anos, agora eu me olho no espelho e não me enxergo com essa idade, parece que eu to novin cherando a leite ainda [...] (Informação verbal, abril/2017); [...] eu consigo fazer muita coisa lá que eu não conseguia antes, com certeza, pode confiar. Eu me sinto muito bem lá, mais alegre, porque lá a gente se diverte né, dança um xotezin, faz uma física. A gente faz coisa que nem jove consegue mais. O professor manda a gente se esticar todo. Óia, eu me sinto um jovem de 25 anos, eu só me acho véio mesmo quando tô na frente do espelho. Aí eu falo pra mim: “égua, é eu mesmo é? Olha lá que não é eu!”. Eu me acho um cabra novo [...] (Informação verbal, abril/2017).

POR MENORES...

Além das informações relacionadas aos objetivos deste estudo, pode-se

elencar outras expressões que nos remetem a uma reflexão sobre tudo que permeia

neste universo dos idosos de São Francisco do Pará matriculados no Grupo Viver.

Informações essas que apresentam um risco à presença dos mesmos no Grupo e

ideias que confirmam o quanto o professor de educação física possui

representatividade frente os sujeitos entrevistados, para exemplificar os riscos da

presença dos idosos no Projeto, destacam-se as pronúncias de Açucena e

Cordolina, respectivamente:

[...] Meu médico falava pra mim só ficar em casa, não fazer nada e meus filhos escutavam ele, mas eu não gostava, eu não queria ficar só na minha casa, nem passear na rua eu podia, ainda bem que conheci o professor na igreja e conheci o Viver, agora só quero isso [...] (Informação verbal, abril/2017); [...] Se meu marido não morre primeiro de que eu, se eu não fico, eu não tava lá não, ele não deixava eu sair para nenhum canto [...] (Informação verbal, abril/2017).

Estas afirmações só nos remetem aos casos que já fazem parte do cotidiano

da educação física, onde ainda há uma desconfiança sobre a prática de atividades

físicas de forma regular por parte da Sociedade e de outros profissionais, além do

machismo destacado por Cordolina, elemento que infelizmente faz parte do

cotidiano do meio social, machismo esse que é um fruto do conservadorismo no

interior do Estado, onde a mulher deve se privar às atividades domésticas.

Ainda nestas informações “apêndices” destaca-se a história de Dorival

Caymmi, o qual a partir da sua inserção no Grupo Viver foi incentivado pelo

professor a retornar aos estudos após 30 anos sem pisar em uma sala de aula,

24

tomou este incentivo como um grande desafio adentrou ao Ensino Superior por meio

de processo seletivo realizado pelo Governo Federal e se graduou na Licenciatura

em Pedagogia. Mediante a descoberta de um glaucoma, Dorival teve grandes

perdas de visão, o mesmo resolveu iniciar os estudos de Braile e se especializou em

Educação Especial, como o mesmo destaca no seguinte relato:

[...] Quando conheci esse professor ele falou pra eu voltar a estudar naquela feira de ciências e eu fiquei pensando na ideia, então fui fazer minha matrícula e a mulher da escola disse que eu só ia roubar vaga porque iria parar no meio do ano, aí que eu me empolguei. Acabei meu segundo grau e fui fazer vestibular, acabei ganhando uma bolsa e hoje sou pedagogo, e a culpa é do professor, se não fosse ele ainda tava em casa sem fazer nada. Ele que não deixou eu parar quando descobri o glaucoma, o professor é o maior incentivo que eu tenho [...] (Informação verbal, abril/2017).

Deste modo nos é confirmado o quanto os idosos se sentem bem ao

participar do Grupo Viver e o quanto que a Educação Física pode fazer a diferença

na vida de qualquer sujeito da Sociedade.

O Grupo Viver possui suas exclusividades como, por exemplo, um novo

significado à expressão “fazer amor”. Onde “fazer amor” é estar em sintonia com

tudo ao seu redor, família, amigos, vizinhos e consigo mesmo, assim destaca

Açucena: [...] No Viver eu aprendi que fazer amor é abraçar, é falar bom dia, é sempre tá

feliz, todo dia faço isso, agora trato todo mundo muito melhor que antes [...] (Informação

verbal, abril/2017).

Esse “fazer amor” é enfatizado pelas cantigas que são ferramentas de

integração utilizadas pelo professor, para recepcionar um sujeito do Grupo Viver,

entre as cantigas Dorival destacou duas:

[...] Bom dia, bom dia, bom dia, hoje eu estou tão feliz, bom dia, bom dia, bom dia, meu coração é quem diz. Bom dia, bom dia, bom dia, vamos sorrir e cantar, a natureza é tão bela, que nos ensina a amar![...] (Informação verbal, abril/2017); [...] Seja bem vindo olê lê, seja bem vindo olá lá (bis) Paz e bem a você, que veio para participar! Paz e bem a você , que veio para ficar![...] (Informação verbal, abril/2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa procurou realizar diálogos acerca das concepções de idoso; os

aspectos do processo de envelhecimento; as contribuições da atividade física para

um envelhecer ativo e com qualidade de vida no Grupo Viver. Dentre as principais

25

vertentes discorridas neste estudo, destacam-se os benefícios das atividades físicas

desenvolvidas no Grupo Viver para os idosos do Município de São Francisco do

Pará, a partir da concepção do sujeito praticante.

Os resultados obtidos, associados à literatura específica sobre o tema,

propiciam uma validação significativa para a nossa formação enquanto Professores

de Educação Física na possibilidade de atuação em campos informais, em espaços

destinados à promoção de políticas públicas sociais ao público idoso no Estado do

Pará, especificamente, no Município de São Francisco do Pará.

Tais circunstâncias demonstraram o quão vasto pode se tornar nossa

intervenção no mundo de trabalho, não se limitando apenas ao espaço escolar ou

em academias de ginástica. Contudo, há que se considerarem os limites da

intervenção na sociedade de classes, e perspectivar a transformação radical da

sociedade com vistas a construir elementos suficientes para uma Educação Física

transformadora.

Um aspecto de suma importância é o reconhecimento de quanto é

gratificante o trabalho desenvolvido pelo Professor de Educação Física no Grupo

Viver. Levanta-se a bandeira de o quão é essencial a presença de um Professor

qualificado e comprometido com seus alunos, sem levar em consideração a faixa

etária ou o ambiente, desta forma o resultado do trabalho, com certeza, será

recompensador, o que passará a ser uma motivação para o Professor continuar a

desenvolver o seu trabalho da maneira correta e dedicada. O Professor passa a ser

como um espelho para os seus alunos e torna-se mais que um educador,

executando diferentes funções, por consequência aproximando-se e reforçando os

laços afetivos entre os mesmos.

A experiência adquirida durante o período para efetuação desta pesquisa,

principalmente, a partir da vivência possibilitada na coleta de dados pela visita ao

Grupo Viver, nos permitiu aferir que o Professor de Educação Física é parte

essencial no desenvolvimento do Grupo, pois a partir da organização de aulas

fundamentadas no objeto de estudo da Educação Física, é cabível desenvolver

ações individuais e coletivas buscando trabalhar a autoestima dos idosos, e

combater o segregacionismo.

A pesquisa nos possibilitou vislumbrar do olhar enfático para a compreensão

do trato com o idoso e que é necessário entender o idoso não como uma “criança

adulta”, mas sim como um sujeito proativo, independente e autônomo. É importante

26

que este estudo seja somente uma porta aberta para tratar da Educação Física em

um espaço não-formal, com uma população diferenciada, a qual necessita do

comprometimento do Professor de Educação Física.

Tais circunstâncias nos trouxeram a conclusão de que a pesquisa atingiu os

objetivos traçados de forma completa, onde ao mesmo tempo foram instigadas

novas questões acerca do tema abordado. Desta forma, é indispensável, a

investigação de tais questionamentos no que diz respeito ao envelhecer ativo e em

ambiente grupal, conforme o Grupo Viver nos remete à interpretação de que a

atividade física é uma ferramenta transformadora e essencial para o envelhecimento

saudável do ser idoso, ou seja, para o reconhecimento do sujeito enquanto um ser

idoso feliz, um ser idoso saudável e um ser idoso autoconfiante para caminhar

adiante independente da idade cronológica.

ABSTRACT

The present study aimed to analyze what were the benefits brought to the members of the Project called “Grupo Viver” in the municipality of „São Francisco do Pará‟ by the physical activities performed with them. The group of hundred elderly people is under the coordination of a physical education teacher, who guides activities three times a week, and that seeks the prevention of aging. The methodology used for the explanatory study had a qualitative approach. Through the data collection obtained by semi-structured interview, it was observed that physical activities contribute not only to the prevention of aging, but, also for the motivation of the elderly self-esteem as a proactive, autonomous and independent subject. Keywords: Elderly. Physical Activity. Aging.

REFERÊNCIAS

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