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241 O viajante instruído: os manuais portugueses do Iluminismo sobre métodos de recolher, preparar, remeter, e conservar productos naturais Magnus Roberto de Mello Pereira Pequisador do CNPQ Ana Lúcia Rocha Barbalho da Cruz Universidade Federal do Paraná CEDOPE Linnæi O estágio de desenvolvimento da física, da matemática, da química, da astronomia e das ciências correlatas às ciências da natureza permitiu que, no século XVIII, a Europa se voltasse, em escala nunca dantes verificada, para o re-conhecimento do mundo a partir da perspectiva da, assim chamada, filosofia natural, na qual a taxonomia lineana ocupou um espaço central. Portugal não ficou alheio a esse movimento e desencadeou um esforço mo- numental para superar sua reconhecida defasagem em relação aos demais países da Europa. Neste contexto, a Universidade de Coimbra iria desempenhar um papel de extrema relevân- cia, uma vez que, a partir da Reforma de 1772, ela tornou-se o berço das novas ciências que seriam utilizadas com vistas a colocar Portugal no rumo da modernidade. * Este texto é resultado de pesquisas financiadas pelas seguintes agências de fomento: Fundación Carolina, CAPES, CNPq e Fundação Araucária.

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O viajante instruído: os manuais portuguesesdo Iluminismo sobre métodos de recolher,

preparar, remeter, e conservar productos naturais

Magnus Roberto de Mello PereiraPequisador do CNPQ

Ana Lúcia Rocha Barbalho da CruzUniversidade Federal do Paraná

CEDOPE

Linnæi

O estágio de desenvolvimento da física, da matemática, da química, da astronomia e das ciências correlatas às ciências da natureza permitiu que, no século XVIII, a Europa se voltasse, em escala nunca dantes verificada, para o re-conhecimento do mundo a partir da perspectiva da, assim chamada, filosofia natural, na qual a taxonomia lineana ocupou um espaço central. Portugal não ficou alheio a esse movimento e desencadeou um esforço mo-numental para superar sua reconhecida defasagem em relação aos demais países da Europa. Neste contexto, a Universidade de Coimbra iria desempenhar um papel de extrema relevân-cia, uma vez que, a partir da Reforma de 1772, ela tornou-se o berço das novas ciências que seriam utilizadas com vistas a colocar Portugal no rumo da modernidade.

* Este texto é resultado de pesquisas financiadas pelas seguintes agências de fomento: Fundación Carolina, CAPES, CNPq e Fundação Araucária.

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Estrategicamente, o governo português procurou colocar a ciência a serviço do reconhe-cimento das potencialidades econômicas dos seus territórios coloniais e, com esse intuito, patrocinaria uma série de expedições exploratórias aos quatro cantos do Império. Muitos dos protagonistas das viagens do século das Luzes foram recrutados junto à intelectualidade acadêmica de Coimbra. Fazendo parte dessa elite letrada, vamos encontrar, protagonizando as expedições exploratórias portuguesas do Século das Luzes, um número não desprezível de luso-brasileiros, cujos diários de viagens, narrativas, relatórios e memórias constituem rico e ainda pouco explorado acervo documental.1

A partir de 1778, o naturalista Domingos Vandelli e o Ministro do Ultramar Martinho de Melo e Castro, passaram a conduzir o processo de preparação de “Viagens Philosophi-cas” às colônias.

“Modelo paradigmático de expedição científica do Iluminismo, a viagem filosófica ca-racterizava-se pela pretensão enciclopedista de produzir um conhecimento extensivo e de-talhado sobre o território visitado. O levantamento minucioso e exaustivo a que devia pro-ceder o viajante naturalista não se restringia às produções do mundo natural; mas abarcava também a investigação sobre a “natureza humana” dos habitantes autóctones”.2

Os planos iniciais previam o envio de uma grande expedição para a América portuguesa, chefiada por Alexandre Rodrigues Ferreira, a qual não chegou a se concretizar. A equipe aca-baria por ser desmembrada e os seus integrantes enviados, simultaneamente, à Amazônia, a Angola, a Moçambique e a Cabo Verde. Havia, no período, quase que uma corrida pela clas-sificação de novas espécies minerais, vegetais e animais segundo a taxonomia de Lineu. O desmembramento da equipe pode ter sido uma forma de apressar a recolha de “produtos da natureza” das diversas partes do Império, de maneira a catalogá-los o mais breve possível, o que renderia dividendos acadêmicos e políticos, nesta corrida científica que se estabelecera entre as nações européias. Recolher e dar a conhecer o maior número possível de espécies tornara-se uma questão de orgulho nacional.

Enquanto não partiram para as colônias, os naturalistas participantes, todos eles estu-dantes recém egressos da Universidade de Coimbra, ficaram concentrados em Lisboa, no Museu de História Natural e Jardim Botânico da Ajuda, instituição que centralizava o pro-cesso de recolha de produtos da natureza enviados de todo o Império. Além de contar com Alexandre Rodrigues Ferreira, a quem foi destinado o papel de chefia, a equipe era composta pelo carioca João da Silva Feijó,3 e por mais dois brasileiros: Joaquim José da Silva e Manuel Galvão da Silva.4 O grupo ficou sob supervisão de Julio Mattiazi, o jardineiro chefe da Ajuda.5 Durante este período de preparação, os integrantes da equipe foram incumbidos de peque-nas expedições científicas em Portugal, de modo a completar sua formação.6

Do complexo da Ajuda também fazia parte a Caso do Risco, onde um conjunto de artistas desenhava as pranchas das espécies vegetais e animais coletadas e enviadas para a Ajuda. Desta equipe faziam parte os desenhistas reinóis José Joaquim Freire e Joaquim José Codina, que acompanharam Ferreira ao Brasil, e o italiano Angelo Donatti, que foi com Joaquim José da Silva para Angola.

A partir da Secretaria da Marinha e Ultramar, Martinho de Mello e Castro já vinha, há bastante tempo, conduzindo um processo alargado, mas pouco profissionalizado, de recolha

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para a constituição do Museu de História Natural e do Jardim Botânico lisboeta. Estimulava todos os delegados da coroa, nas colônias dos quatro continentes, a coligirem exemplares animais, vegetais e minerais, além de artefatos típicos das culturas com as quais os portu-gueses estavam em contato, além de todas as “curiosidades”, e os mandassem para Lisboa. A partir de 1781, com o intuito de aprimorar estas recolhas feitas até então por leigos, a coroa passou a distribuir, em todas as colônias, um pequeno manual de instruções, editado pela Academia Real das Ciências.7 Assim, o envio de naturalistas às colônias pode ser encarado como mais um passo no aprimoramento da política científica em andamento, o qual buscava garantir a qualidade e a constância da recolha de espécimes, o que foi feito em detrimento da inovação que seria enviar uma grande expedição a uma única região do Império, como chegou a ser planejado.8

Portugal acompanhava uma tendência geral européia. Na tentativa de garantir a padro-nização dos processos de observações de campo dos naturalistas viajantes espalhados pelo mundo, por toda a Europa surgiram manuais destinados a orientar os procedimentos desses novos investigadores.9 A coleta e acondicionamento de espécimes a serem transportadas nas longas viagens marítimas era também um problema que os naturalistas e seus patroci-nadores tentavam contornar através da divulgação de manuais de instrução para os viajan-tes. Na Inglaterra, esses manuais apareceram ainda no século XVII. Nos primeiros números das Philosophical Transactions foram editados diversos artigos sob o título General heads for the natural history of a country, de autoria de Robert Boyle.10 Posteriormete, eles foram reunidos em um opúsculo, publicado em 1692, com o mesmo título.11 Tratava-se, no entanto, de uma compilação de instruções de viagem, observação e recolha pré-lineanas. Restavam nelas certas traços de quem ainda dialogava profundamente com o religioso e o mágico. Uma de suas preocupações era a comprovação científica da existência, ou não, do inferno, como se observa em um subtítulo do artigo dedicado aos coletores. Eles deveriam indagar “Se os que cavam minas alguma vez realmente se depararam com algum demônio subterrâneo; e, em caso afirmativo, como eles são; quais seus poderes e o que fazem eles”.

No século XVIII, os manuais tenderam a dividir-se em duas tradições complementares. Uma era a de elaborar obras de cunho mais geral, contendo também instruções básicas de recolha e conservação de espécimens. Elas costumavam começar por um elogio ao ato de viajar, inserindo-se, assim, na já antiga tradição dos livro de viagens. Peregrinação é o termo que trai a sua origem e estabelece a conexão com o passado. Em 1759, Eric Anders Nordblad, um orientando de Lineu na Universidade de Upsala, defendeu a tese Instructio peregrinato-ris, dando início a uma nova geração de manuais gerais que se pretendiam científicos. A ou-tra vertente era composta das obras específicas que aprofundavam assuntos como o trans-porte de espécies animais, vegetais e minerais, libretos sobre a conservação (desidratação, taxidermia, etc.), sobre o transplante e cultivo de vegetais, e assim por diante. Por vezes elas tinham caráter geral, por outras, monográfico.12

Na França, o naturalista amador Étienne-François Turgot, enviado como governador da colônia francesa na Guiana, escreveu, em 1758, uma memória instrutiva que ilustra bem o apetite pela História Natural que acometia toda a Europa: Memóire instrutif sur la manière de rassembler, de preparer, de conserver et d’envoyer les diverses curiosités d’histoire naturelle;

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auquel on a joint un mémoire intitulée: Avis pour le transport par mer, des Arbres, des Plants vivaces, de Semences, & de diverses autres Curiosités d’Histoire naturelle. Em 1788, no jardim de aclimatação das ilhas Maurício, o jardineiro Joseph Martin faria acompanhar suas coletas, enviadas à França, de um manual de procedimentos: Instructions pour servir aux 30 caisses et 105 Barriques d’arbres, plantes et graines remisses au M. Martin pour le jardin royal des plantes de Paris.13 Como estes, muitos outros manuais foram elaborados ou recompilados e correram pelas mãos dos naturalistas viajantes e amadores, funcionários coloniais, mar-chants e preparadores de “curiosidades”.

De acordo com a historiadora Lorelai Kury, principal estudiosa das instruções de via-gens científicas em língua francesa, “Le Jardin du Roi, devenu Museum national d’histoire naturelle à partir de 1973, centralize une grande partie de la correspondance avec les voya-geurs que faisaient des envois d’objects d’histoire naturelle pour la France”, este processo de centralização levaria a que fosse publicada a primeira edição da Instruction pour les Voya-geurs, de autoria dos professores do Museu (1818). 14

Uma vez que, na Península Ibérica, a recolha científica de produtos da natureza já nas-cera centralizada e conduzida pelo estado, é natural que a preocupação em homogeneizar o processo tivesse ocorrido mais precocemente do que na França. Na década de 1770, Portu-gal e Espanha passaram a conduzir processos de estudo e recolha de fauna e flora na escala planetária de suas colônias. No entanto, tal processo é, ainda hoje, ignorado pela historiogra-fia da ciência, que continua excessivamenre fixada nas experiências conduzidas à partir da França, da Inglaterra e da Suécia, dado que Lineu não pode ser ignorado.15

Na mundo hispânico, o primeiro manual de instruções deve-se a Pedro Franco Dávila, naturalista crioulo, nascido no Vice-Reino de Nova Granada. Dávila viveu por duas décadas em Paris, onde reuniu um imenso gabinete de história natural. Arruinado financeiramente, propôs a venda de sua coleção ao monarca espanhol. Em 1771, Carlos III não só comprou o gabinete como adquiriu um imponente palacete para abrigá-lo, nomeando o próprio Dávila como seu diretor. A nova sede foi inaugurada em 1776, com o nome de Real Gabinete de História Natural. No mesmo ano, o naturalista publicou um livreto destinado aos Vice-reis e outros altos funcionários da coroa, em todo o império, com instruções básicas de recolha e conservação de “producciones curiosas de Naturaleza” que deveriam ser enviadas ao gabi-nete madrilenho.16

Em Portugal, a criação do complexo da Ajuda e a oficialização de uma política centraliza-da de recolha, conduziram a um processo semelhante. Para uso dos naturalistas coimbrões, seus alunos, Domingos Vandelli elaborou, em 1779, um rol de instruções às quais deu o título de Viagens Filosóficas ou Dissertação sobre as importantes regras que o Filósofo Natu-ralista nas suas peregrinações deve principalmente observar17, verdadeiro manual de campo do naturalista aprendiz, provavelmente utilizado em suas aulas e nas viagens de formação dos naturalistas de Coimbra. Essa dissertação jamais foi publicada.

A edição de um manual semelhante ao espanhol, destinado a estimular e homogeneizar a recolha em todo o império, demoraria mais uns anos. Somente em 1781, a Academia de Ciências de Lisboa publicaria um panfleto intitulado Breves Instrucçoens aos correspondentes da Academia das Sciencias de Lisboa sobre as remessas dos productos e noticias pertencentes a

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historia da Natureza para formar um Museo Nacional.18 Apesar de direcionado aos membros da academia, e, quem sabe, pensando na criação de um novo museu anexo a ela, o livreto foi distribuído a praticamente todos os governadores e altos funcinários régios dos territórios ultramarinos. O historiador W. J. Simon acredita que a elaboração destas instruções, indi-cando o modo de fazer as coletas e prepará-las para o envio a Portugal, tenha contado com contribuição dos ex-alunos de Vandelli que por essa época trabalhavam no Jardim Botânico da Ajuda.19

Também em 1781 foi elaborado um outro manual, que permaneceu inédito, intitulado Méthodo de Recolher, Preparar, Remeter, e Conservar os Productos Naturais. Segundo o plano que tem concebido, e publicado alguns Naturalistas, para o uso dos Curiosos que visitam os sertões, e costas do Mar. 20 O historiador Russel-Wood atribuiu-o aos “naturalistas do Real Museu e Jardim Botânico de Lisboa”, portanto, aos brasileiros que trabalhavam na Ajuda sob a orientação de Vandelli.21 Estas mesmas instruções para “curiosos” são mencionadas pelo historiador Migel Figueira Faria, que, contudo, as referencia como “manuscrito anôni-mo conservado no Museu Bocage”.22 Como o próprio subtítulo do manuscrito dá a entender, é mais provável que o Méthodo seja uma outra versão das Instruções publicadas pela Acade-mia.

Portanto, mesmo sem indicação de autoria, ambos os trabalhos foram elaborados pelos pupilos de Vandelli alocados no Jardim Botânico da Ajuda. Dois fatos reforçam esta atri-buição. O manuscrito era acompanhado das mesmas gravuras da versão impresa, as quais foram assinadas por José Codina e Angelo Donati, desenhadores que fizeram parte da equipe de naturalistas da Ajuda. Quando Martinho de Mello e Castro passou a distribuir as Breves Instruções da Academia para os agentes coloniais, por vezes referia-se a elas como as ins-truções feitas pelos “nossos naturalistas”. Queria, com isto, designar os jovens naturalistas luso-brasileiros, concentrados na Ajuda preparando-se para iniciar as viagens filosóficas às colônias.

A expedição científica à Amazônia foi a principal viagem filosófica organizada pelo go-verno português. Foi a mais dispendiosa e sua equipe de integrantes foi a maior enviada às colônias. Confirmando sua importância, ela foi objeto de diversos textos de instruções com-plementares, que não ocorreria com as demais. Não parece, no entanto, que tais instruções tenham sido concebidas como obras a editar.23 A respeito da Memória sobre a viagem do Pará, diz, no entanto, Miriam Leite:

“A minúcia das instruções relativas à geografia e à astronomia, a atenção com os produ-tos encontrados, ao condicionamento desses produtos e à elaboração dos alimentos diários, bem como ao asseio e saúde e aos cuidados com os instrumentos, denotam um conhecimen-to prévio das circunstâncias da viagem e de seu cotidiano. Não se destinam diretamente ao dr. Alexandre, mas aos naturalistas em geral, permitindo supor que se tratasse de uma espécie de circular”.24

Em 1783, mesmo ano em que as expedições comandadas pelos naturalistas luso-bra-sileiros partiram para as diversas colônias, José Antonio de Sá publicou Compêndio de Ob-servações que formam o plano da Viagem Política e Filosófica que se deve fazer dentro da Pátria.25 Como o título indica, havia a preocupação de que o esforço da empreitada filosófica

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não fosse todo canalizado para as colônias e que fossem planejadas expedições ao território metropolitano. Sá dividiu o seu manual em duas seções, uma destinada à Filosofia Natural, que se apoiou muito nas Instruções da Academia de Ciências, e outra à política, que hoje dirí-amos ser de cunho mais institucional, econômico e antropológico. A filiação dessa instrução revela-se em seu próprio título, que é uma tradução de uma obra de Lineu, de 1741, Oratio de Necessitate Peregrinationum intra Patriam.26

Em data posterior às Breves instrucçoens, Vandelli incumbiu Agostinho José Martins Vidi-gal, estudante de História Natural em Coimbra, de fazer uma compilação de diversas memórias instrutivas “ilustradas com os melhores métodos de haver, conservar e examinar os diversos objetos da História Natural, e com instruções sobre os meios de recolher utilidade das via-gens, principalmente no que respeita às Ciências da Natureza”.27 A referência aos textos que serviram de base para a elaboração desse trabalho de compilação, provavelmente indicações do próprio Vandelli, mesmo não constituindo bibliografia exaustiva sobre o assunto, dá uma mostra da produção internacional da literatura instrutiva para o viajante naturalista. Entre as obras que o autor relacionou, além das do próprio Vandelli, e das instruções publicadas pela Academia de Ciências de Lisboa, são referenciadas diversas memória de autores europeus, o que nos dá uma noção dos tratados e memórias sobre a temática lidos em Portugal. Henri-Louis Duhamel du Monceau era a principal referência sobre o transporte por mar de árvores e plantas, preservação de sementes e “outras coisas pertencentes ao objeto da História Na-tural”.28 Tratava-se de um engenheiro e botânico francês que se notabilizou pelo estudo das árvores e de seu uso econômico. Teve grande influência entre os ilustrados luso-brasileiros. A sua memória sobre a produção de carvão vegetal foi traduzida e impressa na Tipografia do Arco do Cego, dirigida pelo frei Mariano da Conceição Veloso.29 A sua noção de física das árvores, ou de física vegetal, foi largamente explorada por Baltazar da Silva Lisboa, em seus tratados sobre árvores e madeiras da Bahia. Também são mencionados diversos trabalhos de autoria de Reaumur. Aparecem menções, ainda, a dois trabalhos publicados que costumam ser atribuídos a Lineu mas que são teses defendidas por seus orientandos. Vidigal tem consciência disso e as menciona como obras dos “discípulos de Lineu”, David Hultman e Henrique Andre Nordblad. O trabalho de Hultman, Instructio musei rerum naturalium, foi defendido em 1753 e tratava das principais coleções de história natural da Suécia, inclusive a do rei, e os melhores meios de lidar com elas. A obra tornou-se um manual básico para gabinetes, discutindo quais os espécimes deveriam ser coletados e como preservá-los e exibi-los. Nordeblad, como já vi-mos, é o autor das clássicas Instructio peregrinatoris.30

O autor refere-se ainda a uma obra intitulada “o Viajante Naturalista”, de João Coakley Lettsom.31 Provavelmente trata-se de The Naturalist’s and Traveller’s Companion, um manual escrito por Lettson, que foi um dos fundadores da Medical Society of London e, em 1812, tornou-se presidente da Philosophical Society of London.32

Por último, são mencionadas as instruções sobre o transporte de plantas por mar, de D. Casimiro Gómez Ortega.33 Este estudioso era o equivalente espanhol de Vandelli, tendo, inclu-sive, estudado História Natural na Itália. Foi o primeiro diretor do novo Real Jardim Botânico de Madri e principal responsável pelas expedições espanholas que se dedicaram à recolha e estudo da fauna e da flora das três Américas e das Filipinas. Não esqueçamos que, no campo

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deste tipo de manual específico, Reis Veloso publicou, em co-autoria com José Veloso Xavier uma memória de conteúdo semelhante com Instrucções para o transporte por mar de arvores.34

Conforme mencionava Agostinho José Martins Vidigal, aluno de Vandelli, seu trabalho destinava-se a orientar os naturalistas curiosos, principalmente aqueles que viajassem para os remotos territórios da Índia e da China, da América e da África. Este documento é um in-dicativo do esforço de Vandelli em disseminar também entre os viajantes leigos o interesse pelas coletas naturalistas, como estratégia para aumentar as coleções de História Natural sob sua responsabilidade.

A orientação utilitarista, presente nas instruções vandellianas, constam também do já mencionado Compêndio de Observações que formam o plano da Viagem Política e Filosófica que se deve fazer dentro da Pátria, “cujo capítulo de abertura é justamente intitulado: Da uti-lidade da Viagem: necessidade que tem Portugal de ser viajado: e da economia”.35 “Este livro, verdadeiro elogio da curiosidade [...] é composto por um questionário e insere quadros para o leitor preencher com dados que qualquer um podia recolher na sua localidade ou na região que visitasse, acerca da política e da natureza”.36 A disseminação desse tipo de instrumento, que tornava acessível a um público mais amplo conhecer sistematicamente a sociedade e seus recursos naturais, conforme salienta João Luís Lisboa, tinha a ver com a convicção de que os progressos da economia dependiam do fomento ao saber. Evidentemente, esse públi-co alargado ainda inscrevia-se no restrito círculo daqueles que sabiam ler. O estágio de de-senvolvimento da física, da matemática, da química, da astronomia e das ciências correlatas às ciências da natureza, como a botânica, a zoologia e a mineralogia, instituindo novos cam-pos de saber, acabou por operar mudanças na forma de ver o mundo e, consequentemente, de organizar o conhecimento sobre ele.

Se, para o naturalista do século XVIII, a viagem se impunha como experiência indissoci-ável da prática científica, por outro lado, a idéia da viagem instrutiva arrebanhava inúmeros adeptos entre os europeus cultos. O mundo natural, decodificado pelas ciências da natureza, parecia excitar a curiosidade de homens e mulheres instruídos. Aqueles que dispunham de recursos, viajavam, os que se deixavam ficar, deliciavam-se em colecionar “exotismos” da natureza transformados em índices de atualização cultural e erudição.

Muitos anos depois de ter retornado de seu périplo instrutivo pela Europa, José Bonifácio de Andrada e Silva, em discurso proferido em 1819, como secretário da Academia de Ciências de Lisboa, lembraria sua experiência itinerante. Fazendo o elogio da viagem como motivadora de um despertar dos sentidos, o naturalista brasileiro questionava: “Por ventura podem os usos caseiros e a lição dos livros excitar com a mesma força nossos sentidos, ou engravidar-nos a mente, como faz a intuição de mil objectos novos?”; e concluía: “Não por certo, senhores. A alma do viajante observador dilata-se, e extasia-se, a cada passo que dá pelo Universo. Outras leis, ou-tros costumes, outros céus, outras línguas, outra indústria e produções excitam de contínuo sua atenção, e fecundam-lhe o espírito com mil idéias novas e atrevidas”.37

Os manuais de instrução para o viajante naturalista oferecem um repertório especial-mente ilustrativo de como os cientistas acreditavam que o mundo deveria ser observado por esse novo profissional. A proliferação de publicações instrutivas para o viajante naturalista por toda a Europa do século XVIII, assim como a circulação internacional desse material,

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atesta o interesse da comunidade científica européia em orientar, sob uma ótica minima-mente uniforme, a visão do explorador da natureza, fosse ele amador ou profissional.

Mas não bastava saber olhar. Era necessário registrar o momento do olhar e, nesse sen-tido, acentuava-se a importância dos diários de viagem. Vandelli reiterava as recomendações que apareciam nas Instructio peregrinatoris, de Nordblad, e advertia que “Não há hoje uma só pessoa que não esteja persuadida da necessidade do diário. Não basta que o naturalis-ta conheça os produtos da natureza, também é necessário que ele assine [sic] os diversos lugares do seu nascimento, os caminhos e as jornadas que fez nas suas peregrinações”.38 O diário, tal como foi imaginado por Vandelli, era constituído por uma sucessão de quadros sinópticos correspondentes a cada um dos dias da viagem.39 Assim, para uma viagem de um mês, resultaria um diário com tantas páginas quantos os dias do mês, “divididas em oito co-lunas perpendiculares”. Na primeira destas “casinhas”, deveria estar escrito com tinta preta as circunstâncias do dia; na segunda, “produtos”, na terceira, “lugares”, na quarta, “latitude”, a seguir, “longitude”; “depois, riqueza ou pobreza do produto; logo, rumo; na oitava, final-mente, vizinhança e circunstâncias do lugar; e assim por diante nas demais folhas, e livros”. Enaltecendo a comodidade do método, pela brevidade e facilidade com que se fariam os apontamentos diários a serem posteriormente desenvolvidos, Vandelli exemplificava:

“[...]seguindo o meu caminho, vou recolhendo os produtos, que se me oferecem, os quais se são minas, pedras, rios, plantas, etc., assim vou notando (sic) ou com papéis fixados com alfine-tes, ou com goma [...] (nos quais) escrevo uns sinais arbitrários, que também noto na coluna dos produtos [...] porque depois, nas horas do descanço; não temos mais que desenvolver as idéias, que temos figurado no diário, e descrever mais exatamente o que tivermos visto”.40

Havia, ainda, que discernir, na diversidade do mundo visível, aquilo que merecia ser exemplarmente coletado, “como todas as plantas com as suas flores, as minas despegadas do seu lugar de nascimento e os animais que se podem remeter [...] para se descreverem conforme o sistema da natureza” e aqueles elementos que, não podendo ser transportados, como “as habitações, montes, rios, fontes, árvores grandes, animais ferozes e ainda algumas plantas com suas flores de que haja receio que se não possam conservar perfeitas”, deveriam ser “debuxados e, se possível, iluminados com toda a exatidão”.41 Muito embora Vandelli en-tendesse que a realização de uma viagem filosófica fosse trabalho de equipe, a reunir habi-lidades de profissionais como engenheiros e pintores, ele sabia que nem sempre isso era factível. E, a despeito do auxílio que estes outros profissionais poderiam prestar, Vandelli advertia que era indispensável ao naturalista dominar a “trigonometria plana, e risco das plantas e pintura”, porque que “as plantas que há mais exatas são as que nos deram os que ao mesmo tempo eram Filósofos e Pintores”.42

Notas

1 Ver PEREIRA, Magnus Roberto de M. e CRUZ, Ana Lúcia R. B. da. “A história de uma ausência: os colonos cientistas da América portuguesa na historiografia brasileira”. In: FRAGOSO, João et ali. Nas rotas do Império. Vitória-Lisboa: Edufes-IICT, 2006, pp.357-390.2 CRUZ, Ana Lúcia R. B. da. Verdades por mim vistas e observadas Oxalá foram fábulas sonhadas; cientistas

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brasileiros do Setecentos, uma leitura auto-etnográfica. Tese de Doutorado. PPGHIS-UFPR, Curitiba, 2004, p. 123. Ver, também, CRUZ, Ana Lúcia R. B. da. “As viajens são os viajantes: dimensões identitárias dos viajantes naturalistas brasileiros do século XVIII”. In: História: Questões & Debates, n. 36, 2002, p.61-98.3 Sobre Feijó, ver PEREIRA, Magnus Roberto de M. “Um jovem naturalista num ninho de cobras, a trajetória de João da Silva Feijó em cabo Verde em finais do século XVIII”. In: História: Questões & Debates, n. 36, 2002, pp. 29-60.4 A documentação é silenciosa sobre os motivos que levaram a coroa portuguesa a privilegiar os naturais do Brasil. Após a revolta mineira, fica claro que se instituiu uma política de cooptação da elite americana instruída, com quem se procurou compartilhar a gestão do Império. Todavia, a presença marcante de brasi-leiros nas colônias africanas é anterior a isso. É provável que a coroa levasse em conta a menor mortalidade dos nascidos no Brasil, quando expostos às agruras do clima africano. Para uma percentagem muito grande de europeus, um cargo na África era quase uma sentença de morte, e assim era encarado. Já os brasileiros costumavam sobreviver. Isto é empiricamente observável na documentação da época e não é provável que o fenômeno escapasse aos olhares atentos dos altos escalões administrativos.5 Mattiazi foi levado de Pádua para Lisboa por Vandelli e, na prática, acabou assumindo o comando do Real Gabinete de História Natural e do jardim anexo, uma vez que o naturalista-chefe permanecia, na maior parte do tempo, em Coimbra. Ver CARVALHO, Rómulo de. A história natural em Portugal no século XVIII. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1987, pp. 64-5.6 SIMON, Willian Joel. Scientific expeditions in the Portuguese Overseas Territories. 1783-1808. Lisboa: IICT, 1983, pp. 9, 17 e 79.7 Breves instrucções aos correspondentes da Academia das Sciencias de Lisboa sobre as remessas dos produtos e notícias pertencentes a historia da natureza para formar um Museo Nacional. Lisboa: Tipografia da Academia, 1781.8 Sobre a presença destes e de outros brasileiros no continente africano, ver PEREIRA, Magnus R. M. e CRUZ, Ana Lúcia R. B. do. “Brasileiros a serviço do Império”. In: Revista Portuguesa de História. Lisboa, v. 33, 2000.9 As primeiras abordagens mais sistemáticas do tema, no Brasil, são LEITE, Miriam L. Moreira. “Naturalistas viajantes”. In: História, Ciências, Saúde. Manguinhos, vol.1, n.2, 1995, pp. 7-19 e PATACA, Ermelinda Moutinho e PINHEIRO, Rachel. “Instruções de viagem para a investigação científica do território brasileiro”. In: Revista da SBHC, v.3, n.1, 2005, pp. 58-79.10 HOGDEN, Margaret T. Early anthopology in the sixteenth and seventeenth centuries. Philadelphia: Univer-sity of Pennsylvania Press, 1971, p.188.11 BOYLE, Robert. General heads for the natural history of a country, great or small: drawn out for the use of travellers and navigators. London: printed for John Taylor and S. Holford, 1692.12 Um bom apanhado dessas instruções foi recentemente compilado e publicado em COLLINI, Sylvia e VAN-NONI, Antonella. Les instructions scientifiques pour les voyageurs; XVII-XIXeme siècle. Paris: Harmattan, 2005. Ver também BOSSI, Maurizio e GREPPI, Cláudio (orgs.). Viaggi e scienza; Le istruzioni scientifiche per i viaggia-tori nei secoli XVII-XIX. Firenze: Gabinetto scientifico-letterario G.P. Vieusseux, 2005.13 HEURTEL, Pascale e SERRE, Françoise. “Les grands livres de la Nature”. In: SCHAER, Roland (dir.). Tous les savoirs du monde, Enciclopédies et bibliothèques, de Sumer au XX e. siècle. Paris: Bibliothèque Nationale de France, 1996, p. 243.14 KURY, Lorelai. Histoire Naturelle et voyages scientifiques. (1780 – 1830). Paris: l’Harmatann, 2001, p. 91 e 94. Ver, também, BOURGUET, Marie-Noëlle. “O explorador”. In: VOVELLE, Michel, (org.). O homem do iluminis-mo. Lisboa: Editorial Presença, 1997. 15 Veja-se, por exemplo, a obra já mencionada das historiadoras italianas Sylvia COLLINI e Antonella VAN-NONI, que se propõe a fazer uma abordagem geral das instruções de viagens, mas continua a insistir nessa omissão e ignorar os países ibéricos e suas colônias.

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Magnus Roberto de Mello Pereira, Ana Lúcia Rocha Barbalho da Cruz

16 FRANCO DÁVILA, Pedro. Instrucción hecha de órden del Rei N. S. para que los Virreyes, Gobernadores, Corregidores, Alcaldes Mayores é Intendentes de Provincias en todos los Dominios de S. M. puedan hacer escoger, preparar y enviar á Madrid todas las producciones curiosas de Naturaleza que se encontraren en las Tierras y Pueblos de sus distritos, á fin de que se coloquen en el Real Gabinete de Historia Natural que S. M. ha establecido en esta corte para beneficio é instrucción pública. Madrid: 1776.17 Academia de Ciências de Lisboa (ACL), série vermelha, 405. Ver transcrição completa deste documento em CRUZ, op. cit. Anexos. 18 Consta da série de manuscritos da ACL o manuscrito de Domingos Vandelli intitulado Memória sobre a utilidade dos Museus d’História Natural. ACL, série vermelha, 143. Esta memória foi recentemente publicada em VANDELLI, Domingos. Memórias de História Natural. Porto: Porto Editora, 2002, pp. 59-65.19 SIMON, Willian Joel. Scientific expeditions in the portuguese overseas territories. 1783-1808. Lisboa: IICT, 1983, p. 15. 20 Publicada em Lisboa, 1781. O documento é assinado coletivamente: “Os Naturalistas”. A grafia é de Ale-xandre Rodrigues Ferreira. As ilustrações são da autoria de Codina e de Donatti, desenhistas que participaram das Viagens Filosóficas à Amazônia e a Angola. Manuscrito original que integra o acervo do Museu Bocage, da Universidade de Lisboa.21 RUSSELL-WOOD, A. J. R. Um mundo em movimento: os portugueses na África, Ásia e América (1415-1808). Algés: Difel, 1998, p. 127. 22 FARIA, Miguel Figueira. A imagem útil. Lisboa: Universidade Autônoma Editora, 2001, p. 154.23 “Instruções relativas à viagem philosophica efetuada pelo naturalista Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira, nos anos de 1783-92”. In: Revista Brasileira de Geografia, v.3, 1946, pp. 46-52. Memória sobre a viagem do Pará para o Rio das Amazonas, Madeira até Mato Grosso, voltando pelo Rio dos Tocantins para o Pará. Sem data e sem assinatura. Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros/USP, Biblioteca Lamego, Códice 101-A8. Veja-se, ainda, na mesma coleção XAVIER, João Francisco. Exposição da Conduta e da utilide. de um naturalista peregri-no no Brasil, 26 de março de 1774. Códice 16 (381-426)24 LEITE, op. cit., p. 8.25 SÁ, José Antonio de. Compêndio de Observações que formam o plano da Viagem Política e Filosófica que se deve fazer dentro da Pátria. Lisboa: Officina de Francisco Borges de Sousa, 1783.26 LINNÆI, Caroli. Oratio de Necessitate Peregrinationum intra Patriam. Leiden: Lugduni Batavorum apud C. Haak, 1743. Sobre o caráter nacionalista sueco do pensamento de Lineu, ver KOERNER, Lisbet. Linnaeus: Nature and nation. Cambridge: Harvard University Press, 2000.27 VIDIGAL, Agostinho José Martins. Methodo de fazer observaçoens e exames necessarios para o augmento da Historia Natural, com os meios de preparar, conservar, e dispor nos Museos os diversos productos da Nature-za. Biblioteca Nacional de Lisboa (BNL), cód. 8520.28 Provavelmente refere-se ao, já na época, clássico DUHAMEL DU MONCEAU, Henri-Louis. Des Semis et plantations des arbres et de leur culture. Paris: Vve Desaint, 1780.29 DUHAMEL DU MONCEAU, Henri-Louis. Arte do carvoeiro: ou Methodo de fazer carvão de madeira. Lisboa: Typographia Chalcographica e Litteraria do Arco do Cego, 1801. Traduzida por Paulo Rodrigues de Sousa.30 NORDBLAD, Ericus. Instructio peregrinatoris. Upsala, 1759. In: LINNÆI, Caroli. Amænitates academica. v. 5. Holmiæ: Laurentii Salvii, 1760. É freqüente ainda na história da ciência a atribuição destas instruções a Lineu, como acontece na já mencionada obra de COLLINI & VANNONI.31 LETTSOM, John Coakley. The Naturalist’s and Traveller’s Companion. London, 1772.32 Ele se refere, também, a um “método para recolher as curiosidades da História Natural, de M. Mariyers”. Todavia, não foi possível identificar este autor.33 GÓMEZ ORTEGA, Casimiro. Instrucción sobre el modo más seguro y económico de transportar plantas vivas. Madrid: Joaquín Ibarra, 1779.

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34 VELOSO, José Mariano da Conceição e XAVIER, José Veloso. Instrucções para o transporte por mar de arvo-res, plantas vivas, sementes e de outras diversas curiosidades naturais. Lisboa: Imprensa Régia, 1805.35 FARIA, op. cit. p. 38.36 LISBOA, João Luís. Ciência e política: ler nos finais do Antigo Regime. Lisboa: IICT, 1991, p. 159. O autor esclarece que por “política” de uma região entendia-se “saber as formas de organização de seus povos, os seus costumes, a sua cultura, a sua economia”.37 SILVA, José Bonifácio de Andrada e. “Discurso Histórico. Historia e Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa. tomo 4, parte 2, 1820. p. 2. In: Obras científicas, políticas e sociais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1963, p. 446.38 VANDELLI, Domingos. Viagens filosóficas ou Dissertação sobre as importantes regras que o filósofo natura-lista nas suas peregrinações deve principalmente observar. 1779. ACL, série vermelha, 405.39 Vandelli incluía o diário entre os instrumentos indispensáveis ao naturalista. O detalhamento a que che-gavam as instruções relativas ao diário de campo é digno de nota. “a respeito dos Diários muitos usam de um livrinho cujas folhas são de marfim, outros de outros métodos: mas os diários de papel além de serem mais cômodos, por se poderem antecedentemente ter dividido em tábuas à vontade de cada um, tem de mais a co-modidade de poderem ter no fim as tábuas destinadas para os borrões das plantas. Em quanto [sic] à umidade de que é mais suscetível o papel, pode-se-lhe obstar fazendo aos ditos livros capas de encerado, que resiste muito bem à chuva, e umidade”.40 VANDELLI, op. cit., p. 5.41 Idem, p. 2.42 Idem, pp. 2-3.