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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO O USO DE MEDIDORES MULTIFÁSICOS NA ALOCAÇÃO DA PRODUÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS DADOS PVT NA CONFIABILIDADE DAS MEDIÇÕES MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO CAIO PISSOLATO Niterói, 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

O USO DE MEDIDORES MULTIFÁSICOS NA ALOCAÇÃO DA

PRODUÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS DADOS PVT NA

CONFIABILIDADE DAS MEDIÇÕES

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO

CAIO PISSOLATO

Niterói, 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

CAIO PISSOLATO

O USO DE MEDIDORES MULTIFÁSICOS NA ALOCAÇÃO DA

PRODUÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS DADOS PVT NA

CONFIABILIDADE DAS MEDIÇÕES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de

Graduação em Engenharia de Petróleo da Escola de

Engenharia da Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em

Engenharia de Petróleo.

Orientador: Professor Alfredo Moisés Vallejos Carrasco

Niterói, 2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me ajudado a superar todos os desafios que

surgiram em minha vida.

Meus pais e familiares que sempre me motivaram e ajudaram nas escolhas mais

difíceis.

A minha namorada, Priscila, que sempre esteve disposta a ajudar e me apoiar nas

horas que pensei em desistir.

Ao meu orientador e a todos os professores que contribuíram na minha formação, e

eventual execução deste trabalho.

Aos meus amigos, que sempre estiveram presentes nas diversas madrugadas

executando o autodidatismo.

Aos amigos e companheiros de trabalho, Heitor e Carlos, que me auxiliaram e

apoiaram na escolha de um novo tema.

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EPÍGRAFE

“Então me diz qual é a graça; De já saber o

fim da estrada; Quando se parte rumo ao

nada?”

Paulinho Moska

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RESUMO

Com o início da exploração de petróleo no Brasil, iniciou-se juntamente o processo de

fiscalização dos volumes produzidos. Dentre as exigências da ANP, agência nacional do

petróleo, atual órgão regulador da produção e exploração de petróleo no Brasil, está à

necessidade de alocar a produção a cada campo, poço e reservatório. Para tal fim, o Brasil

utiliza os separadores de teste, vasos capazes de separar os fluidos e posteriormente fazer a

medida dos volumes através de diversos dispositivos de medição de vazão monofásicos.

Este trabalho busca analisar a viabilidade do uso de medidores capazes de medir a

vazão de cada fase produzida, sem a necessidade de separação prévia. Com foco na

importância dos dados de pressão, volume e temperatura, para a qualidade das medições.

Palavras-chave: alocação da Produção, medidor multifásico, separador de teste

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ABSTRACT

With the start of oil exploration in Brazil, began the process of monitoring of the

volumes produced. Among the demands of the ANP, the National Petroleum Agency, the

regulatory body of the current production and oil exploration in Brazil, there is the need to

allocate production to each field, well and reservoir. To this Brazil has been used in the test

separators, separator vessels capable of separating the fluids and subsequently used to

measure the volume through various flow measurement devices phase.

This study aims to analyze viability use meter capable of measuring the flow rate of

each phase produced without the need for prior separation. Focusing on the importance of the

PVT data, on the measurements quality.

Key words: production allocation, multiphase meter, test separator

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: INFLUENCIA DA VISCOSIDADE NA TEMPERATURA ............................. 18

FIGURA 2: PERFIS DE VELOCIDADE ............................................................................. 20

FIGURA 3: ESCOAMENTOS MULTIFÁSICOS – VERTICAIS ........................................ 22

FIGURA 4: ESCOAMENTOS MULTIFÁSICOS – HORIZONTAIS .................................. 23

FIGURA 5: ESCOAMENTO MULTIFÁSICO .................................................................... 24

FIGURA 6: DIAGRAMA DE CÁLCULO DO ESCOAMENTO MULTIFÁSICO .............. 25

FIGURA 7: EFEITO DE CORIOLIS ................................................................................... 26

FIGURA 8: SEPARADOR DE TESTE ................................................................................ 28

FIGURA 9: PLACA DE ORIFÍCIO ..................................................................................... 30

FIGURA 10: MEDIDOR CORIOLIS................................................................................... 32

FIGURA 11: MEDIDOR ULTRASSÔNICO DE EFEITO DOPPLER ................................. 33

FIGURA 12: MEDIDOR ULTRASSÔNICO DE TEMPO DE TRANSITO ......................... 33

FIGURA 13: MEDIDOR TURBINA ................................................................................... 34

FIGURA 14: MEDIDOR DO TIPO DESLOCAMENTO POSITIVO .................................. 35

FIGURA 15: NUMERO DE MPFM INSTALADOS ........................................................... 36

FIGURA 16: DENSÍMETRO GAMA .................................................................................. 38

FIGURA 17: PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO CAPACITIVO.................................... 39

FIGURA 18: CROSS CORRELATION ............................................................................... 42

FIGURA 19: VENTURI METER ........................................................................................ 43

FIGURA 20: MODELO DE TABELA PVT ........................................................................ 44

FIGURA 21. INFLUÊNCIA DA CONDUTIVIDADE ......................................................... 47

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: ORIGEM E DESTINO DAS RENDAS PETROLÍFERAS (BILHÕES R$) ..... 12

TABELA 2: ERRO MÁXIMO ACEITÁVEL NA MEDIÇÃO DE VAZÃO ........................ 13

TABELA 3: PRINCIPAIS MEDIDORES ............................................................................ 29

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11

1.1 APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 11

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO ................................................................................... 13

1.3 METODOLOGIA DO TRABALHO .......................................................................... 14

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................. 14

2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 15

2.1 ALOCAÇÃO DA PRODUÇÃO .................................................................................. 15

2.2 VAZÃO MÁSSICA ...................................................................................................... 15

2.3 AMPLITUDE DA FAIXA NOMINAL - SPAN .......................................................... 15

2.4 FAIXA DE MEDIDA OU RANGEABILIDADE ........................................................ 16

2.5 PRECISÃO ................................................................................................................... 16

2.6 ESCOAMENTOS ......................................................................................................... 17

2.6.1 PARÂMETROS DOS FLUIDOS E ESCOAMENTOS ............................................ 17

2.6.1.1 MASSA ESPECÍFICA ...................................................................................... 17

2.6.1.2 VISCOSIDADE ................................................................................................ 17

2.6.1.3 COMPRESSIBILIDADE .................................................................................. 18

2.6.1.4 PERMISSIVIDADE ELÉTRICA ...................................................................... 19

2.6.1.4 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA ...................................................................... 19

2.6.1.6 NÚMERO DE REYNOLDS ............................................................................. 19

2.6.2 ESCOAMENTO MULTIFÁSICO ........................................................................... 21

2.6.3 PERDA DE CARGA E ACIDENTES ..................................................................... 24

2.7 CORROSÃO ................................................................................................................ 25

2.8 FORÇA DE CORIOLIS .............................................................................................. 25

2.9 EFEITO DOPPLER ..................................................................................................... 27

3 MÉTODOS DE MEDIÇÃO ATUALMENTE UTILIZADOS NO BRASIL ................ 28

3.1 MEDIDORES DO TIPO PLACA DE ORIFÍCIO ...................................................... 29

3.2 MEDIDORES DO TIPO CORIOLIS.......................................................................... 31

3.3 MEDIDORES DO TIPO ULTRASÔNICO ................................................................ 32

3.4 MEDIDORES TURBINA ............................................................................................ 34

3.5 MEDIDORES DE DESLOCAMENTO POSITIVO ................................................... 35

4 MEDIDORES DE VAZÃO EM FLUXO MULTIFÁSICO .......................................... 36

4.1 INTRODUÇÃO AOS MEDIDORES MULTIFÁSICOS ............................................ 36

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4.2 TECNOLOGIAS DE MEDIÇÃO ................................................................................ 37

4.2.1 MEDIDORES DE FRAÇÃO VOLUMÉTRICA ...................................................... 37

4.2.1.1 DENSÍMETRO GAMA ...................................................................................... 37

4.2.1.2 MÉTODOS DE IMPEDÂNCIA ELÉTRICA (CAPACITIVO E INDUTIVO) .... 39

4.2.1.3 OUTROS ............................................................................................................ 40

4.2.2 MEDIDORES DE VELOCIDADE .......................................................................... 41

4.2.2.1 CORRELAÇÕES CRUZADAS .......................................................................... 41

4.2.2.2 VENTURI .......................................................................................................... 42

5 AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DOS DADOS PVT .............................................. 44

5.1 ALTERAÇÕES NA DENSIDADE .............................................................................. 45

5.2 ALTERAÇÒES NA SALINIDADE ............................................................................ 46

5.3 EFEITOS INDIRETOS ............................................................................................... 47

6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 48

6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS........................................................ 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 50

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1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

A indústria de petróleo, tal como conhecemos hoje, teve início em Titutsville,

Pensilvânia em 1859, quando Coronel Drake perfurou seu primeiro poço voltado à produção

de petróleo. Enquanto isso, ‘’o Brasil, deitado em berço esplendido, só acordou para o

petróleo, quase cem anos depois (CAMARGO, 2013)

Por volta de 1950 surgia no Brasil o movimento ‘O petróleo é nosso’, um movimento

com forte sentimento nacionalista que resultaria na criação de uma empresa estatal, voltada à

exploração e produção de petróleo: a Petrobras, e também na criação de um conselho

responsável por estruturar e regulamentar a exploração de petróleo no Brasil: o conselho

nacional do petróleo CNP.

Seguindo a mesma onda nacionalista, em 1953 a Lei Nº 2004 estabelece um

monopólio da união sobre todas as atividades referentes à exploração, produção, refino e

transporte de petróleo.

Juntamente com o início da exploração do óleo é iniciado o processo de cobrança de

Royalties, compensação financeira ao governo para a exploração de um recurso natural de

propriedade da união.

No caso brasileiro, o termo royalty – para designar as participações governamentais

sobre a renda petrolífera – foi empregado pela primeira vez na Lei do Petróleo de 1997, que

regulamentou a possibilidade de concessão das operações de exploração e produção de

petróleo, a partir da quebra do monopólio da Petrobras. Antes disso, esse tipo de participação

do governo nas rendas da atividade petrolífera já existia, mas era chamada de indenização,

numa primeira fase, ou compensação financeira, numa fase posterior (AFONSO &

GOBETTI, 2008)

Apesar de iniciada em 1953, apenas em 1997 com o fim do monopólio da Petrobras

sobre a exploração e produção é que os Royalties passaram a ser fiscalizados mais

rigorosamente.

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O montante dos royalties, como revela a Tabela 1, só passou a crescer depois de 1997,

com a regulamentação da Emenda Constitucional 9/1995, que pôs fim ao monopólio estatal

sobre a exploração do petróleo (AFONSO & GOBETTI, 2008)

Tabela 1: Origem e destino das rendas petrolíferas (Bilhões R$)

ESPECIFICAÇÃO 1997 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Royalties em Mar 979 1.268 2.386 3.648 4.115 5.184 6.609 6.584

Royalties em Terra 889 1.035 798 748 928 1.022 1.095 906

Participação

Especial

1.039 1.722 2.510 4.998 5.272 6.967 8.840 7.178

Total 190 2.906 4.025 5.694 9.394 10.315 13.173 16.544 14.668

União 29 1.010 1.470 2.114 3.685 3.991 5.183 6.543 5.662

Estados 70 1.039 1.451 2.025 1.412 3.727 4.771 5.916 5.170

Municípios 71 727 942 1.321 1.974 2.228 2.808 3.496 3.259

Fundo Especial 14 131 163 234 369 369 411 588 577

FPM (80%) 11 105 130 187 258 295 329 470 461

FPE (20%) 3 26 33 47 64 74 83 118 115

Fonte: elaboração própria com dados de Afonso & Gobetti (2008)

A Agência Nacional do Petróleo (ANP), criada pela lei do petróleo em 1997, atual

órgão regulador da exploração de petróleo no Brasil, exige para incidência dos Royalties,

além da medição da quantidade total de óleo produzido, que as empresas sejam capazes de

alocar sua produção, ou seja, descriminar quanto cada poço, campo, e reservatório estão

produzindo individualmente com uma precisão mínima como descrito na tabela 2.

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Tabela 2: Erro máximo aceitável na medição de vazão

Óleo Gás

Medição Fiscal 0.3 1.5%

Alocação da Produção 1% 2%

Fonte: Elaboração própria com dados de Agencia Nacional do Petróleo (2000)

Em 2010, com a mudança do modelo exploratório dos novos campos , de um modelo

de concessão para o de partilha, quando a Petrobras ficou responsável por operar todos os

campos, muitas vezes em parceria, fez com que a alocação da produção se tornasse um novo

desafio.

Além disso, o avanço das explorações em águas cada vez mais profundas, tem feito

com que os novos projetos de exploração adotem novas estratégias de produção. Umas das

principais estratégias adotadas é a adoção de um hub de produção, onde diversos poços são

centralizados através de manifolds de produção.

Quando este método de exploração é utilizado, a alocação da produção se realizada da

maneira que é atualmente realizada no Brasil, torna-se um processo moroso e muito

complicado, já que poço deve ser desviado do trem de produção para o separador de teste e

medido individualmente.

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO

O objetivo deste trabalho é analisar a viabilidade da aplicação de medidores

multifásicos para alocação de produção, com ênfase na importância da qualidade dos dados de

pessão temperatura e volume que são utilizados como entrada no medidorde vazão

multifásico.

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1.3 METODOLOGIA DO TRABALHO

No presente trabalho, será utilizada como metodologia a pesquisa bibliográfica e

estudo sistematizado com base em material publicado em livros, revistas, jornais, artigos,

teses, dissertações, monografias e redes eletrônicas.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

O primeiro capítulo apresenta uma série de conceitos que serão utilizados ao longo do

trabalho

No segundo capítulo, será feita uma analise dos métodos que atualmente são utilizados

na medição do fluxo multifásico, descrevendo os princípios de medições enfatizando em suas

vantagens e desvantagens.

No terceiro capítulo, o processo de medição dos medidores multifásicos será analisado

com suas vantagens e desvantagens evidenciadas, para tornar possível uma comparação na

conclusão deste trabalho..

No quarto capítulo deste trabalho serão analisadas as influencias dos dados PVT nos

resultados obtidos pelo medidor.

O quinto e ultimo capítulo apresenta as conclusões sobre os questionamentos iniciais:

o uso de medidores multifásicos de vazão (MPFM) traz alguma vantagem? Qual a

importância dos dados PVT na qualidade das medições?

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste item apresentaremos uma série de conceitos e nomenclaturas que se tornam

necessárias para uma plena compreensão deste trabalho.

2.1 ALOCAÇÃO DA PRODUÇÃO

Uma das exigências da ANP, a alocação da produção, ou medição para apropriação da

produção, é definida por Carvalho (2011) como:

Medição a ser utilizada para determinar os volumes de produção a

serem apropriados a cada campo em um conjunto de campos com

medição compartilhada, ou a cada poço em um mesmo campo.

2.2 VAZÃO MÁSSICA

É a medida da quantidade de massa que passa através de uma seção em um

determinado intervalo de tempo.

(1.1)

2.3 AMPLITUDE DA FAIXA NOMINAL - SPAN

O termo Span está ligado ao sinal de saída dos medidores de vazão e caracteriza-se

pela diferença entre o os valores máximo e mínimo do sinal de saída (CRABTREE, 2009).

Exemplo: Em um medidor que apresenta um sinal de saída mínimo (LRL) igual a -

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10V para representar uma vazão de , e um sinal de saida máximo (URL) igual a 10V

para uma vazão máxima igual a , a amplitude da faixa nominal será igual a:

. (1.2)

2.4 FAIXA DE MEDIDA OU RANGEABILIDADE

Rangeabilidade é definida como a razão entre o valor máximo e mínimo de span para

um medidor, é a medida de quanto o range de um instrumento pode ser ajustado.

Exemplo: Para o medidor do exemplo anterior a faixa de medida seria calculada da

seguinte maneira:

(1.3)

2.5 PRECISÃO

A precisão de um medidor é o máximo desvio entre o valor medido e o real valor de

vazão do escoamento. No entanto existem erros combinados devido linearidade e

repetibilidade que podem ser expressos em uma das seguintes maneiras: span, valor medido, e

URL (CRABTREE, 2009).

Para ilustrar as diferenças tomemos três medidores iguais aos utilizados na definição

do conceito de span. O primeiro medidor apresenta uma precisão de 2% do span, o segundo

medidor uma precisão de 2% do valor medido, e o terceiro medidor apresenta precisão de 2%

do URL. Todos estão marcando uma vazão de .

Abaixo são apresentados os cálculos dos devios para os três tipos de precisões

apresentados:

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17

(1.4)

(1.5)

(1.6)

2.6 ESCOAMENTOS

2.6.1 PARÂMETROS DOS FLUIDOS E ESCOAMENTOS

2.6.1.1 MASSA ESPECÍFICA

Massa específica geralmente expressa pelo símbolo ρ, é a razão entre a massa do

fluido, e uma unidade de volume. Para fluidos incompressíveis, a massa especifica é constante

para qualquer temperatura e pressão.

Na prática não existem fluidos incompressíveis, mas como os líquidos apresentam um

comportamento bem próximo, normalmente são considerados como tais.

(1.7)

2.6.1.2 VISCOSIDADE

Uma das mais importantes propriedades de um fluido é a viscosidade, que representa a

resistência ao escoamento ou aos objetos passando através deste.

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18

Conceitualmente, viscosidade é uma força de atrito interno entre as inúmeras camadas

de fluido. Em um líquido a viscosidade está relacionada às forças intermoleculares e em um

gás a viscosidade se correlaciona com as colisões entre as moléculas (CRABTREE, 2009).

A unidade de medida da viscosidade é o centipoise (cP) para líquidos, e o micropoise

(μP) para gáses onde:

(1.8)

Como mostra a figura abaixo, a viscosidade sofre forte influencia da temperatura.

Geralmente para líquidos o aumento de temperatura leva a uma queda na viscosidade, já para

os gases a viscosidade aumenta devido a um aumento de temperatura.

Figura 1: Influencia da viscosidade na temperatura

Fonte: Crabtree (2009)

2.6.1.3 COMPRESSIBILIDADE

Quando um fluido não puder ser considerado incompressível, ou seja, seu volume é

função da pressão e da temperatura, este apresentará um fator e compressibilidade k. Fator

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19

este que irá depender de diversas outras propriedades do fluido, principalmente a composição,

no caso de gases.

(1.9)

2.6.1.4 PERMISSIVIDADE ELÉTRICA

A permissividade é a propriedade de um material ou meio dielétrico que representa o

valor da energia eletrostática que pode ser armazenada por unidade de volume, quando se

aplica uma unidade de tensão elétrica, expressa em Faraday por metro

.

Por exemplo, é a relação entre a capacitância de um capacitor, quando usa

determinado dielétrico e a capacitância do mesmo quando aquele é o vácuo.

2.6.1.4 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA

A qualidade de um material para conduzir eletricidade é medida pela intensidade de

corrente por unidade de tensão é a condutividade,expresa em siemens por metro

. Esta

indica a maior ou menor possibilidade de um meio permitir o deslocamento de cargas, este

depende das suas características intrínsecas. Se condutor perfeito, a condutividade tende ao

infinito. Ao contrário, num dielétrico perfeito, a condutividade tende a ser nula. Este

parâmetro deve ser considerado em termos de tempo no deslocamento de cargas, comparado

ao período do campo eletromagnético aplicado.

2.6.1.6 NÚMERO DE REYNOLDS

Sabemos que em um duto o fluido pode apresentar três perfis de velocidade: o

escoamento laminar, o escoamento de transição e o turbulento (Figura 2). O perfil de

velocidade de um escoamento está relacionado com uma série de fatores do fluido, do

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escoamento e da tubulação.

Figura 2: Perfis de Velocidade

Fonte: Crabtree (2009)

O numero adimensional de Reynolds prevê o tipo de escoamento presente em um duto

para qualquer aplicação. Relacionando a massa específica do fluido (ρ), a velocidade do

escoamento (v), a viscosidade do fluido (μ) e o diâmetro do escoamento (d) como mostra a

equação 1.10.

(1.10)

Experimentos mostraram que para todo tipo de escoamento com número de Reynolds

menores que 2000 o perfil laminar é esperado. O perfil de transição é caracterizado por um

numero de Reynolds entre 2000 e 4000. Escoamentos com Reynolds acima de 4000 são

turbulentos.

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21

2.6.2 ESCOAMENTO MULTIFÁSICO

Escoamentos multifásicos são muito importantes e estão presentes em diversos

processos naturais e industriais, com as mais variadas configurações. São considerados

multifásicos os escoamentos que apresentam duas ou mais fases, normalmente encontrados na

forma de misturas.

Escoamentos multifásicos são um fenômeno complexo, difícil de entender, prever e

modelar. As usuais características de escoamentos monofásicos como perfil de velocidade,

turbulência e camada limite, são, portanto inapropriados para descrever a natureza de tais

escoamentos (TENIOU & MERIBOUT, 2011).

As diversas fases do escoamento podem assumir uma série de perfis quando escoando

através de um duto, seja ele vertical ou horizontal. Porém, em sistemas de medição

envolvendo óleo, água e gás, a medição da vazão é normalmente realizada distinguindo

apenas duas velocidades, a da fase líquida, incluindo água e óleo e a do gás (PALADINO,

2005).

Sendo assim, as principais configurações encontradas em escoamentos bifásicos em

dutos verticais, como mostradas na figura 3 são:

Escoamento de bolhas e bolhas dispersas: Segundo Paladino (2005) é caracterizado

por uma fase gasosa distribuída em bolhas dentro da fase continua líquida, podendo ser estas

de pequenos diâmetros com forma esférica ou até de diâmetros maiores apresentando formas

mais alongadas.

Escoamento pistonado: Quando se aumenta a quantidade de gás no escoamento, as

pequenas bolhas tendem a coalescer formando bolhas de um tamanho da ordem do diâmetro

do duto. A parte superior da bolha possui forma esférica e o gás é separado da parede do duto

por um fino filme líquido descendo de forma lenta. Duas bolhas sucessivas são separadas por

partes líquidas (slugs), que podem conter bolhas de menor diâmetro em forma dispersa

(PALADINO, 2005).

Escoamento agitado: O escoamento agitado é fruto de um escoamento pistonado,

onde as grandes bolhas se tornaram instáveis e se dividem em diversas outras dando lugar a

um escoamento caótico. Este escoamento possui uma característica oscilatória entre

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escoamento pistonado e anular (PALADINO, 2005).

Escoamento anular: Neste padrão, o líquido escoa pelas paredes formando um anel

fino, e o gás escoa pelo centro do duto. As fases apresentam menor presença da outra fase

entranhada. Em alguns casos o anel de líquido pode desestabilizar dando lugar à penetração

de gotas de líquido no núcleo gasoso (PALADINO, 2005).

Figura 3: Escoamentos Multifásicos – Verticais

Fonte: Corneliussen, et al. (2005)

Para escoamentos bifásicos em dutos horizontais, os perfis mais comuns são

mostrados pela figura 4:

Escoamento de bolhas: É bem similar ao descrito para dutos verticais, porém, a fase

gasosa tende a escoar na parte superior do duto devido efeitos gravitacionais.

Escoamento pistonado: É bem similar ao escoamento pistonado em dutos verticais,

porém, novamente as bolhas tendem a escoar pela metade superior do duto. Neste caso, esta

condição assimétrica é mantida independentemente da velocidade de escoamento devido ao

maior tamanho das bolhas (PALADINO, 2005).

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Escoamento estratificado: Escoamento onde uma fase contínua líquida ocupa a parte

inferior do duto e uma fase contínua gasosa ocupa a parte superior do duto. Este tipo de

escoamento é geralmente observado quando ambas as fases estão escoando com baixa

velocidade.

Figura 4: Escoamentos Multifásicos – Horizontais

Fonte: Corneliussen et al. (2005)

Escoamento ondulatório: Em um escoamento estratificado onde a velocidade do gás

é muito superior à do óleo, o escoamento tende a se configurar como um escoamento do tipo

ondulatório, pois aparecem oscilações na interface liquido gás.

Escoamento anular: Este tipo de escoamento é caracterizado por um núcleo de gás

com pequenas gotas dispersas e um filme líquido cobrindo a região anular. Normalmente

observado em escoamentos com alta vazão de gás e um baixo teor de líquidos.

Escoamento névoa: Escoamentos do tipo névoa geralmente ocorrem quando um

baixo volume de líquido está escoando juntamente com gás em altas velocidades. Neste tipo

de escoamento pequenas gotas de líquido estão dispersas na fase gás.

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Como veremos adiante, geralmente os medidores de fluxo multifásico apresentam um

melhor resultado em escoamentos verticais com o padrão do tipo bolha, pois a partir da

homogeneização da mistura, a velocidade de deslizamento entre as fases do fluido torna-se

negligível facilitando assim os cálculos realizados (TENIOU & MERIBOUT, 2011).

Para facilitar o entendimento de como é feita a medição de um escoamento

multifásico, assumiremos que cada fase ocupa uma fração da área de seção transversal, como

é mostrado na figura abaixo:

Figura 5: Escoamento Multifásico Fonte: Corneliussen, et al. (2005)

Medindo a fração ocupada por cada fase e a velocidade que elas estão escoando,

obtemos as vazões volumétricas. A vazão mássica de cada componente pode ser obtida

combinando sua vazão volumétrica e sua densidade. Ver diagrama da Figura 6.

2.6.3 PERDA DE CARGA E ACIDENTES

A perda de carga é a energia perdida pela unidade de peso do fluido quando este

escoa. A perda de carga pode ser classificada de duas maneiras, perda de carga distribuída e

perda de carga local. As perdas de carga distribuídas estão relacionadas com o atrito entre as

partículas do fluido e o atrito entre o fluido e a tubulação quando está é muito extensa. A

perda de carga local, ou pontual, é a perda de carga causada em trechos curtos da tubulação,

conhecidos também como acidentes de tubulação, geralmente associados a válvulas,

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mudanças de direção, obstruções parciais etc. (BRUNETTI, 2008).

A perda de carga total em uma tubulação é o somatório das perdas de cargas, locais e

distribuídas.

Figura 6: Diagrama de Cálculo do Escoamento Multifásico

Fonte: Teniou & Meribout (2011)

2.7 CORROSÃO

Pode se definir corrosão como a deterioração de um material, geralmente metálico, por

ação química ou eletroquímica do meio ambiente aliada ou não a esforços mecânicos. A

deterioração causada pela interação físico-química entre o material e seu meio operacional

representa alterações prejudiciais indesejáveis, sofridas pelo material, tais como desgaste,

variações químicas ou modificações estruturais, tornando-o inadequado para o uso (GENTIL,

1994).

2.8 FORÇA DE CORIOLIS

A força de Coriolis foi descoberta em 1835 pelo físico e matemático Gaspard Gustave

de Coriolis e pode ser ilustrada da seguinte maneira:

Imagine duas crianças, João e Maria, em uma plataforma girando a uma velocidade ω

como mostra a Figura 7. Caso João tente arremessar uma bola para Maria, ela não será capaz

de pegar a bola. Isto se deve ao efeito de Coriolis.

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Ao jogar a bola João ignorou que apesar de ele e Maria estarem girando na mesma

velocidade angular, suas velocidades circulares são diferentes. Como mostra a equação 1.11

quanto maior é sua distância do eixo de rotação, maior é sua velocidade.

Figura 7: Efeito de Coriolis

Fonte: Crabtree (2009)

(1.11)

Onde:

Assim, no momento do lançamento a bola possui além da velocidade angular, uma

velocidade circular que é menor que a velocidade angular que se encontra Maria

.Consequentemente, para que Maria seja capaz de pegar a bola, João precisará acelerar a

bola de para . Esta aceleração é o resultado da força de Coriolis e é proporcional ao

produto massa em movimento(m), da velocidade angular e da velocidade circular.

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(1.12)

2.9 EFEITO DOPPLER

O efeito Doppler proposto por Johann Christian Doppler em 1842 é observado em

ondas sonoras e magnéticas e caracteriza por variações na frequência da onda devido ao

movimento. O efeito Doppler é descrito pela seguinte equação para ondas sonoras.

(1.13)

Onde:

= Velocidade do som no ar

= Velocidade do detector em relação ao ar

= Velocidade da fonte em relação ao ar.

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3 MÉTODOS DE MEDIÇÃO ATUALMENTE UTILIZADOS NO

BRASIL

Atualmente no Brasil, o meio de medição de vazão mais utilizado para alocação da

produção é o separador de teste.

Um vaso onde as fases água, óleo e gás são separadas por meio de diversos

dispositivos que usam como principal mecanismo de separação a diferença entre a densidade

das fases.

Figura 8: Separador de teste Fonte: Theuveny et al. (2005)

Depois de separadas, as fases são medidas individualmente por meios de

equipamentos de medição de escoamento monofásicos. Porém, condições de operações

algumas vezes impedem uma completa separação das fases do fluido.

Algum óleo permanece na água, alguma água permanece no óleo, algum gás

permanece no líquido e algum líquido permanece no gás. Estas condições causam erros nos

instrumentos do separador, os quais são desenvolvidos para medir escoamentos de uma única

fase, gás, óleo ou água (THEUVENY, et al., 2005).

Os principais medidores utilizados nas saídas dos separadores de teste são mostrados

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na tabela abaixo e a seguir seu funcionamento será explicado individualmente:

Tabela 3: Principais medidores

Tipos Características Gás Óleo

Medidores

indiretos

Perda de carga variável

Placa de orifício

Perda de carga constante

Medidores diretos

Deslocamento positivo

Deslocamento

positivo

Velocidade de impacto do

fluido

Turbina

Turbina

Medidores

especiais

Ultrassônico

Coriolis

Fonte: Elaboração própria com dados de Agencia Nacional do Petróleo (ANP)

3.1 MEDIDORES DO TIPO PLACA DE ORIFÍCIO

Na indústria do petróleo os medidores placa de orifício são utilizados principalmente

para medir a vazão de gás que sai do separador. Este tipo de medidor obtém vazão através da

queda de pressão sofrida pelo fluido, quando o este passa por uma região de estrangulamento

de fluxo. Ver figura 9.

Um dos dispositivos mais simples e mais utilizados para medição de vazão, a placa de

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orifício, é um equipamento relativamente simples para fluidos homogêneos, com propriedades

físicas conhecidas. No entanto, sérios erros nos resultados medidos são obtidos quando este

simples dispositivo é usado para medir escoamentos que contenham duas ou mais fases

(NANGEA, et al, 1965).

A queda de pressão no dispositivo é proporcional ao quadrado da vazão como mostra a

formula a seguir:

(2.1)

Onde:

k= Fator de proporcionalidade

= Pressão a jusante da placa

= Pressão a montante da placa

Figura 9: Placa de orifício Fonte: Crabtree (2009)

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O fator de proporcionalidade k representa parâmetros do escoamento, do fluido e do

próprio medidor. De tal maneira que a alteração em qualquer um destes parâmetros ocasiona

erro na vazão calculada.

O baixo custo e a facilidade na instalação e operação fazem com que este tipo de

medidor seja largamente utilizado em diversos processos industriais. Porém, sua precisão (até

±0.6%) depende de diversos parâmetros do fluido e do escoamento como: densidade, pressão,

viscosidade e de parâmetros da própria placa. Devido a constante exposição da placa ao

escoamento esta tende a ter suas dimensões alteradas por incrustações e processos erosivos

(CRABTREE, 2009).

3.2 MEDIDORES DO TIPO CORIOLIS

Dentre as propriedades medidas em um escoamento, a vazão mássica é a única que

independe de parâmetros do escoamento como pressão, temperatura, viscosidade,

condutividade, etc. Este fator, faz dos medidores de vazão mássica uma ótima opção para

praticamente todas as indústrias (CRABTREE, 2009).

Os medidores do tipo coriolis operam segundo a lei de Coriolis de forma que, no

interior do equipamento, parte do fluxo é dividida em dois tubos iguais em formato de U com

diâmetros inferiores ao da tubulação de processo. Estes tubos vibram devido a uma fonte

externa - geralmente um dispositivo magnético.

Devido à vibração, o fluido ao passar pelos conduites sofre a atuação das forças de

coriolis, o que gera uma deformação elástica nos conduites. A partir destas deformações é

possível inferir a vazão mássica.

A frequência de vibração do duto também é um importante dado de saída deste tipo de

medidor, uma vez que a partir dela é possível aferir a densidade do fluido que escoa através

da linha.

Este tipo de medidor além de muito versátil (vazão mássica, densidade), apresenta

uma alta precisão (±0,2 a 0,4% do valor medido). Entretanto, o alto custo e a influência das

vibrações da linha nos resultados obtidos são alguns fatores negativos ao uso deste medidor.

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Figura 10: Medidor Coriolis

Fonte: Crabtree (2009)

3.3 MEDIDORES DO TIPO ULTRASÔNICO

Essencialmente existem dois tipos de medidores ultrassônicos: os medidores de vazão

por tempo de trânsito e os medidores por efeito doppler. Os medidores por efeito doppler se

baseiam na alteração de frequência de uma onda sonora, quando a fonte e receptor estão se

movendo um em relação ao outro.

Para que os medidores de efeito doppler sejam capazes de aferir o escoamento é

necessário a existência de um receptor capaz de refletir as ondas emitidas pela fonte. Esta

premissa, impede que este tipo de medidor ultrassônico seja utilizado para fluidos limpos.

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Figura 11: Medidor Ultrassônico de efeito Doppler

Fonte: Crabtree (2009)

Já os medidores baseados no tempo de trânsito, usam a velocidade de propagação dos

pulsos através do fluxo para obter a velocidade do escoamento. Como mostra a figura 12,

duas fontes emitem pulsos, contra e a favor do fluxo, e através da diferença entre o tempo das

duas ondas é calculada a vazão, como mostra a equação 2.2.

(2.2)

Os medidores ultrassônicos são geralmente baratos, entretanto, a necessidade de

múltiplos conjuntos de transdutores aumenta o custo da instalação. Isto, agregado a

dependência de um fluxo estável, tem feito diminuir o número de instalações de medidores

ultrassônicos. (THORN, et al, 2012).

Figura 12: Medidor ultrassônico de tempo de transito Fonte: Crabtree (2009)

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3.4 MEDIDORES TURBINA

Os medidores de turbina são largamente utilizados na medição de vazão volumétrica

de líquidos e gases limpos, devido seu excelente desempenho obtido a partir de altíssima

precisão, linearidade e receptibilidade.

Figura 13: Medidor Turbina

Fonte: Crabtree (2009)

Ao passar pelo medidor, o fluido impulsiona o rotor da turbina fazendo com que ele

gire a certa velocidade angular que é então medida e a partir dela é obtida a vazão do fluido

que esta escoando, já que velocidade angular em que a turbina ira girar depende da velocidade

de impacto do fluido passando através das pás do medidor.

Quando instaladas corretamente, este tipo de medidor apresenta uma alta precisão

(±0.5% do escoamento), uma ótima repetibilidade (±0.05%) e elevada faixa de medida (a

cima de 20:1) (CRABTREE, 2009).

A principal desvantagem dos medidores do tipo turbina está ligada as partes expostas

ao fluxo, que impedem sua aplicação para fluidos sujos e requerem manutenções constantes

para manter a precisão das medições.

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3.5 MEDIDORES DE DESLOCAMENTO POSITIVO

Existem diversos modelos de medidores de deslocamento positivo, mas todos operam

segundo o mesmo princípio. Volumes definidos do escoamento são separados e transportados

através de cavidades com volume conhecido, Figura 14. Totalizando o número de cavidades é

possível obter o volume total de fluido que atravessou o medidor em uma determinada fração

de tempo (CRABTREE, 2009).

Figura 14: Medidor do tipo deslocamento positivo

Fonte: Crabtree (2009)

Devido à elevada precisão (±0.25%) e a alta repetibilidade (±0.05%), este tipo de

medidor é amplamente utilizado na transferência de custódia, onde existem taxas envolvidas

ao fluido, como é o caso do petróleo (CRABTREE, 2009).

No entanto, uma série de fatores devem ser observados quanto à utilização deste tipo

de medidor: Alta taxa de manutenção, devido ao grande número de peças expostas ao fluido,

necessidade de um fluido limpo e lubrificante e a perda de carga irrecuperável ao escoamento

(CRABTREE, 2009).

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4 MEDIDORES DE VAZÃO EM FLUXO MULTIFÁSICO

4.1 INTRODUÇÃO AOS MEDIDORES MULTIFÁSICOS

Diferentemente dos separadores de teste convencionais, os medidores multifásicos

são capazes de medir as vazões de água, óleo e gás sem a necessidade de separar fisicamente

cada fase. Os medidores recebem as três fases do fluido diretamente da linha de produção,

fazem as medições e imediatamente retorna os resultados.

Os primeiros medidores multifásicos foram desenvolvidos na década de noventa, e

deste então vem sendo usados em grande escala por todo o mundo, devido a sua flexibilidade

como mostra a figura abaixo.

Figura 15: Numero de MPFM instalados

Fonte: Falcone et al, (2002)

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4.2 TECNOLOGIAS DE MEDIÇÃO

Infelizmente não existe um único instrumento, que irá medir a vazão das diferentes

fases diretamente, então se torna necessário combinar diversos dispositivos em um

equipamento para calcular as vazões específicas através da combinação das leituras (TENIOU

& MERIBOUT, 2011).

Neste item serão apresentadas as características dos diversos instrumentos que

compõem os medidores multifásicos.

4.2.1 MEDIDORES DE FRAÇÃO VOLUMÉTRICA

4.2.1.1 DENSÍMETRO GAMA

O principal proposito do densímetro gama em um medidor multifásico é identificar a

fração de gás presente no escoamento. Para tal objetivo, uma fonte emite raios gama que

atravessam o fluido e então as atenuações deste sinal são medidas.

Como a densidade do óleo e da água são relativamente parecidas quando comparadas

à densidade do gás, e a atenuação do sinal emitido pela fonte de raios gama está intimamente

relacionada com a densidade, é possível estimar através dos valores de absorção de raios

gama a quantidade de gás presente no escoamento.

Existem diversos modelos de densímetros gama utilizados na medição de vazão. As

principais diferenças entre os modelos são o numero de fontes e sua disposição espacial.

O modelo com uma única fonte emissora de raios gama não é capaz de diferenciar o

óleo da água, reconhecendo esta mistura como uma única fase líquida. O medidor instalado

em um duto com diâmetro d é descrito pela seguinte equação:

Onde N é o valor mensurado, é o valor mensurado quando o duto está em

condições de vácuo, d é o diâmetro do duto, representa o coeficiente de atenuação linear

para a fase líquida composta por uma mistura de água e óleo, e é o componente de

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atenuação linear da fase gasosa. As frações das fases líquidas e gasosas e ,

respectivamente e os coeficientes de atenuação para todos os fases são inicialmente

desconhecidos. No entanto, através de uma calibração com cada fase separadamente

=1, obtemos os valor de µi, e assim é possível obter as frações líquidas e gasosas quando o

equipamento é instalado na linha.

Figura 16: Densímetro Gama Fonte: Corneliussen, et al, (2005)

(3.1)

(3.2)

Os medidores que possuem duas fontes de raios gama, apresentam funcionamento

muito semelhante aos com apenas uma fonte, porém devido ao segundo sinal, este tipo de

medidor é capaz de fornecer as frações de cada fase da mistura (água, óleo e gás) a partir da

resolução do sistemas abaixo.

(3.3)

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(3.4)

(3.5)

O uso de raios gama para medir escoamentos é algo bastante comum em diversas

indústrias, algo que garante uma grande confiabilidade nos resultados, além disso, os

medidores gama são capazes de medir praticamente todos os tipos de escoamentos, de 0 –

100% de BSW a até 0 – 100% de GVF.

4.2.1.2 MÉTODOS DE IMPEDÂNCIA ELÉTRICA (CAPACITIVO E INDUTIVO)

Os princípios básicos de funcionamento dos medidores de impedância elétrica são

mostrados na Figura 17 e se baseiam nos circuitos elétricos, onde o fluido funciona como uma

resistência, ou como um capacitor, dependendo de sua condutividade.

Figura 17: Princípio de funcionamento Capacitivo

Fonte: Meribout & Teniou (2011)

A resistência (Rm) e a capacitância (Cm) da mistura que escoa entre os eletrodos

dependem da condutividade e da permissividade das fases óleo, água e gás, do regime de

fluxo e da fração de cada frase presente no fluido.

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As equações a seguir mostram que os valor de resistência (Re) e capacitância (Ce)

medidos serão dependentes da resistência e da capacitância do fluido que está escoando, da

frequência de excitação dos detectores eletrônicos (ω) e da capacitância da parede do

duto.(NESSAREDDIN et al, 2010 apud THORN et al,2012).

(3.6)

(3.7)

Se a configuração do sensor, a frequência de excitação e os parâmetros do

escoamento e do fluido são constantes, a resistência ( e a capacitância ( serão função

direta das frações dos componentes. A princípio, os métodos de impedância são simples,

oferecendo a possibilidade de um sensor com uma resposta dinâmica rápida, sem a

necessidade de tantos parâmetros de segurança como os sensores baseados na radiação

(THORN et.al, 2012).

Contudo, para as aplicações no campo, nem sempre os parâmetros do fluido e do

escoamento são constantes, o que pode levar a erros nas medições. Para tal, algumas

estratégias são adotadas, como homogeneizadores de fluxo e correção dos parâmetros do

fluido através amostragens e correlações.

4.2.1.3 OUTROS

Os modelos de medidores mais usados na medição das frações pelos medidores

multifásicos existentes no mercado são baseados na atenuação dos raios gama e na

impedância elétrica, porém existem algumas técnicas alternativas com base na absorção de

raios infravermelhos, e na atenuação de micro-ondas.

Modelos baseados na absorção de infravermelho vêm sendo comercialmente usadas

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para medir o corte de água. Testes de campo tem mostrado que esta técnica pode ser usada

para medir quantidade de água presente no escoamento com uma incerteza melhor que ±2%

na escala completa (NESSAREDDIN et al, 2010 apud THORN et al,2012).

Inúmeros medidores multifásicos com separação parcial das fases usam os sensores de

micro ondas para medir o corte de água. Estas incluem medidas de mudanças na frequência

ressonante de micro-onda em uma cavidade através da qual a mistura está a fluir, e medindo

as mudanças na atenuação da amplitude do deslocamento de fase e de um sinal de micro-

ondas dirigida através do tubo. (XIE et al, 2010 apud THORN et al,2012).

Resultados de campo tem mostrado uma divergência de ±1% dos valores obtidos

através dos separadores de teste com óleos com baixo teor de gás. (MEHDIZADEH et al,

2009 apud THORN et al,2012).

4.2.2 MEDIDORES DE VELOCIDADE

4.2.2.1 CORRELAÇÕES CRUZADAS

Apesar da homogeneização do fluxo, diversos fabricantes, introduzem em seus

medidores, dispositivos capazes de identificar uma eventual diferença na velocidade de

escoamento entre as fazes liquida e gasosa. Estes dispositivos são conhecidos como

correlações cruzadas.

Dois sensores idênticos separados por uma distância conhecida são utilizados para

medir certa propriedade do fluido, que tenha relação com a fase dispersa (bolhas), que escoam

a uma velocidade diferente a do resto do escoamento. Basicamente, os valores da variação da

propriedade no tempo são então comparados e assim é possível calcular a velocidade da fase

em questão.

A precisão do modelo de cross correlation depende da precisão utilizada para conectar

os perfis dos dois medidores. Esta relação dependerá do medidor , do volume de sensores e as

mudanças que ocorram no espaço de distribuição da fase dispersa enquanto viaja entre os dois

sensores.

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Figura 18: Cross Correlation Fonte: Corneliussen, et al, (2005)

4.2.2.2 VENTURI

Os medidores do tipo Venturi são comumente utilizados para medir a vazão em

escoamento de com uma única fase. A vazão pode Q pode ser determinado através da

medição da queda de pressão atravez da restrição na tubulação.

Para o medidor mostrado na figura 19 a vazão pode ser calculada através da equação

3.8, derivada da lei de Bernouli. Onde é a seção reta de entrada que possui um diâmetro D

e é a seção reta de saida do medidor que possui um diâmetro d.

Quando um medidor Venturi é utilizado para medir um escoamento multifásico, este

sempre assume que o escoamento esta bem misturado, e que todas as fases estão viajando na

mesma velocidade. Na teoria isto aproxima o escoamento a um de uma única fase, assim se a

densidade da mistura é conhecida, é possível determinar a velocidade da mistura

(FALCIMAIGNE & DECARRE, 2008 apud THORN et al,2012).

Na pratica tanto faz se esta condição ideal existe. Um fator de correção é utilizado para

compensá-la os devi-os do escoamento de um escoamento homogêneo sem deslizamento

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entre as fases. Toda via correlações para escoamentos trifásicos são raras, pois a maioria das

estratégias de correção deste tipo de escoamento são segredos comerciais (THORN et.al

2012).

Figura 19: Venturi Meter Fonte: Crabtree (2009)

(3.8)

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5 AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DOS DADOS PVT

Devido ao fato que o petróleo é um fluido não ideal, suas propriedades se alteram com

as variações de pressão, temperatura. Os dados PVT obtidos através de testes em laboratórios

são fundamentais para prever as propriedades dos fluidos em diversas condições.

Diversas propriedades são analisadas nestes tipos de teste, inclusive a composição do

fluido. Existem diversos modelos de relatórios para os testes PVT, a figura abaixo mostra um

modelo teórico contendo as principais informações obtidas por este tipo de experimentos.

Dentre elas estão: Temperaturas e pressão de referência da amostragem, densidades das fases

em diversas condições (P,T) inclusive na de referencia, a composição, e a salinidade da água.

Figura 20: Modelo de tabela PVT Fonte: elaboração própria

Tref=

Pref=

Formato da Tabela

T1 T2 T3 T4 T5

P1

P2

P3

P4

P5

Densidade das fases

Densidade da fase óleo (g/cm3)

T1 T2 T3 T4 T5

P1 D(P1;T1)

P2 D(P2;T1)

P3 D(P3;T1)

P4 D(P4;T1)

P5 D(P5;T1)

Densidade da fase gás (g/cm3)

T1 T2 T3 T4 T5

P1 D(P1;T1)

P2 D(P2;T1)

P3 D(P3;T1)

P4 D(P4;T1)

P5 D(P5;T1)

Densidade da fase agua (g/cm3)

T1 T2 T3 T4 T5

P1 D(P1;T1)

P2 D(P2;T1)

P3 D(P3;T1)

P4 D(P4;T1)

P5 D(P5;T1)

Densidade da fase óleo nas condições de referencia(g/cm3)

D(Pref;Tref)

Densidade da fase gás nas condições de referencia(g/cm3)

D(Pref;Tref)

Densidade da fase água nas condições de referencia(g/cm3)

D(Pref;Tref)

Composição do óleo

Componentes %mol

C8

CO2

N2

C1

C2

C3

IC4

NC4

IC5

NC5

C6

C7

C15

C16

C9

C10

C11

C12

C13

C14

Massa C20+

Densidade C20+

C17

C18

C19

C20+

Massa total

Salinidade da água

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Em praticamente todas as áreas da exploração de petróleo os dados PVT tem uma

grande importância. Na medição do que é produzido, os dados PVT são indispensáveis, tanto

quando tratamos de medidores monofásicos ou multifásicos.

Os dados PVT fornecem informações vitais para vários engenheiros de reservatório e

de processo, mas a importância fundamental de se ter amostras significativas por diversas

vezes é negligenciada durante a preparação dos estudos laboratoriais e totalmente ignorada

quando os resultados são interpretados (WILLIAMS, 1994).

Neste capítulo serão analisadass como pequenas alterações nas propriedades do óleo e

nos dados obtidos através dos experimentos em células PVT, tem uma grande interferência

nos resultados obtidos pelos medidores multifásicos.

5.1 ALTERAÇÕES NA DENSIDADE

Dentre os fatores que alteram a qualidade das medições vazão, a densidade é o que

apresenta uma maior influencia nos resultados.

Nos medidores multifásicos, a densidade é utilizada com dado de entrada em todas as

etapas da medição. Ver Figura 6.

Nos cálculos da velocidade das fases, a densidade é um importante dado de entrada

como mostra a equação 3.8 que descreve o cálculo de vazão realizado por um medidor do tipo

Venturi.

Na determinação das frações das fases, a densidade exerce um papel fundamental nos

medidores do tipo raio gama e de impedância.

Nos medidores gama onde a fração de gás é obtida com base relação entre a

dependência da densidade do fluido com a absorção dos raios gama emitidos, caso os dados

obtidos para a densidade de cada fase não sejam representativos, haverá grande erro nas

frações medidas. Ver descrição dos cálculos na seção 3.2.1.

Nos medidores de impedância, o efeito da densidade está intimamente relacionado

com a salinidade da fase aquosa, que será abordada no próximo item deste capítulo.

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5.2 ALTERAÇÒES NA SALINIDADE

Devido aos processos de formação do petróleo, a água produzida tende a apresentar

uma elevada salinidade, que pode a variar durante a vida produtiva do campo. As variações na

salinidade geralmente são ocasionadas devido à produção de diversas zonas do reservatório e

principalmente pela produção da água injetada nos métodos de recuperação.

Como os medidores de impedância se baseiam nas propriedades elétricas do fluido

produzido, alterações na salinidade, ou seja, na condutividade do fluido produzido irão afetar

diretamente os valores medidos, sendo assim, os medidores de impedância elétrica irão

apresentar um valor percentual das fases liquidas diferente do real.

Segundo Zaid & Elkanzi (1994), uma série de equações foram propostas para

relacionar as frações das fases com a condutividade. As equações são divididas em duas

classes, as que consideram a condutividade da fase continua muito maior que a da fase

dispersa, ou seja, para o caso de escoamentos compostos por óleo e água, sendo a água a fase

continua. A outra parte das equações propostas trata de um escoamento onde a fase continua é

o óleo, ou seja, a fase continua apresenta uma condutividade muito menor que a da fase

dispersa.

A equação 4.1 proposta por Mackay (1976) citada por Zaid & Elkanzi (1994)

apresenta uma relação entre K condutividade da água oleosa, kc condutividade da água,

percentual de óleo presente na mistura e um parâmetro de correção a, experimentalmente

mostrado ser próximo a 1.2.

(4.1)

Observando a figura 21 obtida pela plotagem dos gráficos obtidos através da equação

4.1, quando utilizados valores observados em campo para a condutividade da água produzida,

é possível observar que para um valor de condutividade medido, o percentual de óleo

calculado é significativamente alterado quando o valor o valor da condutividade da água

produzida é alterado.

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5.3 EFEITOS INDIRETOS

Além da influencia direta nos medidores, os dados PVT influenciam indiretamente as

medições. Devido grande versatilidade dos medidores multifásicos que possibilita a instalação

em diversas posições da cadeia produtiva, quando um medidor é instalado em condições

diferentes das padrões, os resultados obtidos precisam ser convertidos. Para estas conversões

são utilizadas equações conhecidas como equações de estado, que são capazes de descrever o

comportamento da mistura em diferentes condições de pressão e temperatura.

Figura 21. Influência da condutividade Fonte: elaboração própria

Existem inúmeras equações de estado, cada uma com sua faixa de aplicabilidade,

porém todas as equações são alimentadas por dados obtidos pelos testes PVT realizados com

o fluido produzido, desta maneira o resultado obtido seria indiretamente afetado por valores

não representativos.

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6 CONCLUSÃO

Após analisar e comparar os diversos tipos de medidores utilizados nas saídas dos

separadores, com os sensores utilizados nos medidores multifásicos, é possível notar que o

fluido e o escoamento interferem em ambos os tipos de medidores, necessitando que os

mesmos sejam recalibrados sempre que estas propriedades sofrerem uma alteração

significativa. Em alguns casos, onde o separador se torna incapaz de separar completamente

as 3 fases, é necessário limitar o escoamento pra alcançar uma total separação das fases.

Outro aspecto importante na comparação dos tipos de medidores é ligado à

manutenção. Devido a grande quantidade de partes expostas ao escoamento, os medidores

instalados nas saídas dos separadores de teste requerem uma elevada taxa de manutenção,

enquanto os medidores multifásicos, onde somente o tubo Venturi fica exposto ao

escoamento, praticamente não precisa de manutenções devido ao desgaste de peças.

O baixo custo, o tamanho reduzido, e a versatilidade dos medidores multifásicos

também contribuem para que estes sejam utilizados na alocação da produção, e em tantas

outras aplicações. Porém, os operadores que optarem por utilizar os MPFM devem estar

cientes que devido ao alto grau de tecnologia destes medidores deveram investir em

treinamento para seus funcionários e suporte técnico operacional, a fim de garantir um melhor

resultado do equipamento

Além de aprender a operar corretamente os medidores multifásicos, os operadores

também devem estar cientes da extrema importância dos dados PVT nos resultados das

medições, como foi mostrado no capítulo 4 deste trabalho. Sendo assim é necessário que estes

tenham planejados os investimentos em amostragem e testes laboratoriais para fornecer os

dados que melhor representam o fluido, e que entendam a necessidade de atualizar os dados

ao longo da vida produtiva do campo.

Como foi mostrado no capítulo 3, se bem calibrados os medidores multifásicos

apresentam uma boa precisão na medição das vazões, o que possibilita sua aplicação para fins

de alocação fiscal. Quando utilizados com esta finalidade, os MPFM apresentam uma série de

vantagens quando comparados aos separadores de teste.

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Dentre as vantagens se destacam a medição em tempo real sem a necessidade de

fluxos estáveis, quando instalados na cabeça do poço a não necessidade de desvios da

produção, e o baixo custo inicial que possibilita o desenvolvimento de campos marginais.

Por fim, é possível concluir que os medidores multifásicos são uma excelente

alternativa aos vasos separadores quando tratamos de alocação da produção, principalmente

quando tratamos de campos marginais ou campas de diferentes proprietários produzindo

através de uma estrutura única de produção

6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Desenvolver um programa semelhante ao apresentado por Feria (2010) utilizando as

equações disponíveis na literatura a fim de possibilitar analises numéricas da influencia dos

dados PVT nas medições realizadas pelos medidores multifásicos. Pois apesar de já existirem

no mercado uma série de simuladores para este tipo de medidor, muitas vezes devido ao alto

custo e a uma série de segredos comerciais não é possível aos estudantes e profissionais da

área ter contato com estes equipamentos.

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