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FEAD MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO MODALIDADE: PROFISSIONALIZANTE O USO DE INDICADORES CONTÁBEIS PARA ANÁLISE DE PREVISÃO DE INADIMPLÊNCIA DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS COMERCIAIS NUMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE MINAS GERAIS ALESSANDRO CALDEIRA PEREIRA Belo Horizonte 2007

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FEAD

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO MODALIDADE: PROFISSIONALIZANTE

O USO DE INDICADORES CONTÁBEIS PARA ANÁLISE DE PREVISÃO DE INADIMPLÊNCIA DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS COMERCIAIS

NUMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE MINAS GERAIS

ALESSANDRO CALDEIRA PEREIRA

Belo Horizonte 2007

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ALESSANDRO CALDEIRA PEREIRA

O USO DE INDICADORES CONTÁBEIS PARA ANÁLISE DE PREVISÃO DE INADIMPLÊNCIA DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS COMERCIAIS

NUMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE MINAS GERAIS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração: Modalidade Profissionalizante da FEAD, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de Concentração: Gestão Estratégica das Organizações Orientador: Prof. José Antônio de Sousa Neto, Dr.

Belo Horizonte FEAD 2007

“O tempo não espera por ninguém. Ontem é história. O amanhã é um mistério, o hoje uma dádiva, por isso é chamado de presente.”

Adalberto Godoy “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Fernando Pessoa

“A minha esposa Viviane, pelo incentivo, dedicação, tolerância, paciência e pela ajuda de todas as formas, sem as quais não teria sido possível realizar este trabalho.” “A minha filhinha Larissa, que aceitou bem a ausência do pai, apesar de seus três aninhos de vida, e pelos seus sorrisos e brincadeiras que me deram forças para vencer mais este desafio.” “Aos meus pais, Mozart e Rosa, por seus exemplos de dedicação, honestidade e amor ao próximo e por sempre estarem dispostos a me apoiar.”

AGRADECIMENTOS

Nestes últimos anos de minha vida, aprendi muito por meio da obtenção de

novos conhecimentos, porém, foi pelo conhecimento de pessoas amigas e

colaboradoras o maior avanço alcançado. Deixo registrado nesta página a gratidão e

o apreço a todos que, de alguma forma, contribuíram para que esta etapa de minha

vida fosse realizada.

Agradeço a Deus e à minha protetora Nossa Senhora de Aparecida, pela

imensa generosidade com que me acolhem nos momentos de dificuldade.

Ao Professor Doutor José Antônio de Sousa Neto, pelo incentivo e orientação,

desde a discussão da idéia inicial até a apresentação final deste trabalho.

À FEAD Minas – Centro de Gestão Empreendedora, instituição que, primando

pela excelência em qualidade de ensino, abriu-me suas portas, estendendo-me o

horizonte.

Aos professores da FEAD Minas – Centro de Gestão Empreendedora, pela

amizade e colaboração, que de forma segura e objetiva auxiliaram-me nos caminhos

percorridos ao longo deste trabalho.

Ao Banco do Brasil, meus sinceros agradecimentos pelas preciosas

informações e pela ajuda financeira, que permitiram a realização deste trabalho.

Aos amigos e colegas do Banco do Brasil, que me apoiaram na concretização

de mais um sonho, e do curso de mestrado, com os quais compartilhei o cotidiano

acadêmico e suas angústias. Conhecê-los foi estar um pouco em casa.

RESUMO

PEREIRA, Alessandro Caldeira. O uso de indicadores contábeis para análise de previsão de inadimplência de pequenas e médias empresas comerciais numa instituição financeira de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2007. 107 pp. Dissertação (Mestrado em Administração) – Curso de Mestrado Profissional da Faculdade de Estudos Administrativos, FEAD.

O foco desta dissertação foi verificar a aplicabilidade dos indicadores contábeis para análise de previsão de inadimplência de Pequenas e Médias Empresas (PME’s) comerciais localizadas no estado de Minas Gerais, particularmente analisadas pela unidade de crédito do Banco do Brasil (BB). A pesquisa caracterizou-se como descritiva e ex-post facto, com utilização da abordagem quantitativa. O universo selecionado compreendeu a classificação preventiva de 30 empresas adimplentes e 30 inadimplentes, selecionadas por amostragem não-probabilística, por tipicidade. A técnica estatística empregada foi a análise discriminante e os indicadores contábeis analisados foram selecionados com base: nas seis variáveis definidas no Modelo Pereira como relevantes para a classificação de empresas comerciais com vistas à concessão de crédito; em cinco variáveis que expressam a dinâmica do overtrading, discutidas por Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003); e em cinco variáveis da análise tradicional de balanços, escolhidas pelo pesquisador por sua convicção na relevância para este estudo. A análise discriminante desenvolvida utilizou uma série de dados contábeis de um, dois e três anos anteriores à inadimplência das empresas. Com base na análise dos dados, verificou-se que há uma melhora no grau de precisão da equação de previsão de inadimplência, desde que a análise das demonstrações contábeis se aproxime da ocorrência da inadimplência, revelando-se mais eficiente para mensurar a probabilidade de uma empresa vir a se tornar inadimplente. Concluiu-se que a aplicabilidade dos indicadores contábeis para análise de previsão de inadimplência de pequenas e médias empresas comerciais, apoiada na técnica de Análise Discriminante, apresentou resultados satisfatórios, podendo fornecer, ao BB e a outras instituições financeiras, parâmetros definidos e adequados para que se minimizem os riscos de inadimplência, possibilitando mais eficiência na gestão do risco de crédito. Palavras-chave: Indicadores Contábeis; Previsão de Inadimplência; Empresas Comerciais.

ABSTRACT

PEREIRA, Alessandro Caldeira. The use of accounting indicators in default forecast analyses carried out by a financial institution for small and mid-size commercial firms located in the state of Minas Gerais. Belo Horizonte, 2007. 107 pages. Dissertation (Master Degree in Business Administration) – Professional Master Degree of Faculdade de Estudos Administrativos, FEAD.

The purpose of this work was to verify the applicability of accounting indicators to default forecast analyses for small and mid-size commercial firms (PME’s) located in the state of Minas Gerais, mainly for those firms analyzed by the credit unit of Banco do Brasil – BB (Brazil Bank). The research was characterized as descriptive and ex-post facto, with the adoption of a quantitative approach. The sample selection was based on the pre-classification of 30 no defaulting and 30 defaulting firms, which were selected by non-probabilistic typification-based sampling. The statistic technique employed was the discriminating analysis and the analyzed accounting indicators were selected from: the six variables defined under Pereira Model as relevant in the classification of commercial firms for credit granting purposes; five variables that express the overtrading dynamics, as discussed by Fleuriet, Kehdy and Blanc (2003); and five variables of the traditional balance sheet analysis, which were chosen by the researcher due to his conviction in their relevance for this study. The conducted discriminating analysis utilized a series of accounting data from one, two and three years prior to the companies’ default. Based on the data analysis, it was found that the accuracy level of the default forecast equation is improved when the analysis of the financial statements is conducted closer to the time of occurrence of the default, thus making it more efficient in measuring the potential for a firm to become faulty. It was concluded that the application of accounting indicators to the default forecast analysis for small and mid-size commercial firms, supported by the Discriminating Analysis Approach, has yielded satisfactory results and can provide BB as well as other financial institutions with defined and adequate parameters towards minimizing default risks, while granting more efficiency to credit risk management. Key words: Accounting Indicators; Default Forecast; Commercial Firms.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Principais aspectos revelados pelos índices econômico-financeiros ..........32

Figura 2 - Ciclo operacional.........................................................................................40

Figura 3 - Ciclo Financeiro ..........................................................................................40

Figura 4 - Cálculo da Necessidade de Capital de Giro................................................47

Figura 5 - Cálculo do Capital de Giro ..........................................................................48

Figura 6 - Comparação do Capital de Giro com o Capital Circulante Líquido .............49

Figura 7 - Cálculo do Saldo de Tesouraria..................................................................50

Figura 8 - Efeito tesoura..............................................................................................55

Figura 9 - Erros e acertos das empresas inadimplentes e adimplentes ......................97

Figura 10 - Grau de precisão ......................................................................................97

Figura 11 - Termômetros de inadimplência .................................................................98

LISTA DE QUADROS E TABELA

Quadro 1 - Índices de liquidez.....................................................................................36

Quadro 2 - Índices de estrutura ou de endividamento.................................................37

Quadro 3 - Índices de prazos médios ou de atividade ................................................39

Quadro 4 - Índices de rentabilidade ou de retorno ......................................................42

Quadro 5 - Estrutura do balanço patrimonial para fins de análise dinâmica ...............45

Quadro 6 - Estruturas financeiras e níveis de risco.....................................................52

Quadro 7 - Estrutura financeira: Tipo I .......................................................................53

Quadro 8 - Estrutura financeira: Tipo II ......................................................................53

Quadro 9 - Estrutura financeira: Tipo III .....................................................................53

Quadro 10 - Estrutura financeira: Tipo VI...................................................................53

Quadro 11 - Fatores que aumentam ou diminuem as variáveis ..................................54

Quadro 12 - Principais sintomas do overtrading..........................................................57

Quadro 13 - Técnicas utilizadas para classificação e discriminação de empresas .....58

Quadro 14 - Trabalhos de previsão de insolvência (A) ..............................................59

Quadro 15 - Trabalhos de previsão de insolvência (B) ..............................................60

Quadro 16 - Trabalhos de previsão de insolvência (C) ..............................................61

Quadro 17 - Classificação das empresas quanto ao porte..........................................67

Quadro 18 - Parâmetros de análise de risco e estabelecimento de limite de crédito ..68

Quadro 19 - Principais rubricas contábeis analisadas ...............................................70

Quadro 20 - Balanço tradicional ..................................................................................71

Quadro 21 - Balanço ajustado.....................................................................................71

Quadro 22 - Segmentos utilizados na amostra ...........................................................74

Quadro 23 - Variáveis do Modelo Pereira ..................................................................80

Quadro 24 - Variáveis adotadas no estudo .................................................................81

Quadro 25 - Variáveis da dinâmica do overtrading .....................................................82

Quadro 26 - Valores de “F” na ANOVA Univariada .....................................................84

Quadro 27 - Modelo síntese: valores de “F” na ANOVA Univariada ..........................85

Quadro 28 - Grupo de variáveis explicativas da variável resposta..............................87

Quadro 29 - ANOVA Univariada versus Stepwise.......................................................88

Quadro 30 - Análise descritiva das empresas inadimplentes e adimplentes...............91

Quadro 31 - Equações discriminantes .......................................................................93

Quadro 32 - Escores discriminantes, ponto de corte e reclassificação das empresas95

Tabela 1 - Grau de precisão dos modelos ..................................................................96

LISTA DE ABREVIATURAS

ACC Ativo Circulante Cíclico. ACF Ativo Circulante Financeiro. ADL Análise Discriminante Linear. ADU Análise Discriminante Univariada. ANC Ativo Não Circulante. ANFIC Análise Financeira para o Crédito. ANOVA Análise de Variância AP Ativo Permanente. BACEN Banco Central do Brasil. BB Banco do Brasil. BIS Bank for International Settement. BP Balanço Patrimonial. BP’s Balanços Patrimoniais C Compras CADIN Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal. CC Ciclo de Caixa. CCL Capital Circulante Líquido. CDG Capital de Giro. CE Composição das Exigibilidades. CF Ciclo Financeiro. CMV Custo da Mercadoria Vendida. CO Ciclo Operacional. DAC’s Divisões de Análise de Crédito. DICRE Diretoria de Crédito. DRE Demonstração de Resultado do Exercício. DRE’s Demonstrações de Resultado do Exercício EDF Expected Default Frequency (Modelo de Probabilidade de Inadimplência). EF Estoque Final. EG Endividamento Geral. EI Estoque Inicial. ELP Passivo Exigível a Longo Prazo. FDC Fundação Dom Cabral. FIC Financiamentos e Empréstimos em Instituições de Crédito. GEARC Gerência de Acompanhamento e Gestão do Risco de Crédito. GECAC GECRE

Gerência Central de Análise de Crédito. Gerência de Análise de Crédito.

GEINV Gerência de Coordenação do Processo Operacional de Crédito para Investimento.

GEPRO Gerência de Análise e Acompanhamento de Projetos. GERIS Gerência de Cadastro, Padronização e Modelagem de Risco de Crédito. IOG Investimento Operacional em Giro. IPL Imobilização do Patrimônio Líquido. IR Imposto de Renda. LC Liquidez Corrente. LG Liquidez Geral. LS Liquidez Seca.

MLL Margem Líquida de Lucro. MOL Margem Operacional de Lucro. NCG Necessidade de Capital de Giro. PCC Passivo Circulante Cíclico. PCF Passivo Circulante Financeiro. PCT Participação de Capitais de Terceiros. PGE Poder de Ganho da Empresa. PL Patrimônio Líquido. PMC Prazo Médio de Compras. PME Prazo Médio de Estoques. PME’s Pequenas e Médias Empresas. PMR Prazo Médio de Recebimento. PNC Passivo Não Circulante. POSA Passivo Oneroso Sobre Ativo. RA Rotação do Ativo. REF Resultado de Exercícios Futuros. RI Rentabilidade dos Investimentos. RLP Ativo Realizável a Longo Prazo. RN Redes Neurais ROL Receita Operacional Líquida. RPL Rentabilidade do Patrimônio Líquido. SNF Sistema Financeiro Nacional. SPSS Statistical Package for The Social Sciences. ST Saldo de Tesouraria. TRI Taxa de Retorno dos Investimentos. VAR Valor em Risco VICRI Vice-Presidência de Crédito, Controladoria e Risco Global.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 1.1. Tema e problema de pesquisa .............................................................................14 1.2. Objetivos ..............................................................................................................15 1.3. Justificativa...........................................................................................................16 1.4. Estruturação do trabalho ......................................................................................18 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..............................................................................20 2.1. Pressupostos sobre o crédito ...............................................................................20 2.2. Risco de crédito ...................................................................................................23 2.3. Análise econômico-financeira...............................................................................27 2.3.1. Perspectivas teóricas da análise econômico-financeira ....................................27 2.3.2. Padronização das demonstrações contábeis ....................................................29 2.3.3. Análises horizontal e vertical .............................................................................30 2.3.3.1. Análise horizontal ...........................................................................................30 2.3.3.2. Análise vertical ..............................................................................................31 2.3.4. Análise por meio de índices econômico-financeiros .........................................31 2.3.4.1. Índices de liquidez..........................................................................................35 2.3.4.2. Índices de estrutura ou de endividamento......................................................36 2.3.4.3. Indicadores de prazos médios ou de atividade ..............................................38 2.3.4.4. Índices de rentabilidade ou de retorno ...........................................................41 2.3.5. Análise dinâmica do capital de giro ..................................................................42 2.3.5.1. Histórico da implementação do Modelo Fleuriet.............................................43 2.3.5.2. Necessidade de Capital de Giro.....................................................................46 2.3.5.3. Capital de Giro ...............................................................................................48 2.3.5.4. Saldo de Tesouraria ......................................................................................50 2.3.5.5. Estruturas financeiras e níveis de risco ..........................................................51 2.3.5.6. Efeito tesoura ou overtrading .........................................................................54 2.4. Modelos quantitativos de previsão de insolvência ...............................................57 3. CARACTERÍSTICAS DA INSTITUIÇÃO ESTUDADA ...........................................63 3.1. Apresentação do Banco do Brasil ........................................................................63 3.2. Processo de análise de crédito ..........................................................................65 3.3. Procedimentos específicos de análise de crédito.................................................68 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................72 4.1. Tipo de pesquisa ..................................................................................................72 4.2. Abordagem metodológica.....................................................................................72 4.3. Unidades de análise e observação ......................................................................73 4.4. Universo e amostra da pesquisa ..........................................................................74 4.5. Coleta dos dados .................................................................................................75 4.6. Análise dos dados ................................................................................................76 5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ...........................................78 5.1. Considerações iniciais..........................................................................................78 5.2. Obtenção dos dados contábeis para a amostra ...................................................78 5.3. Indicadores contábeis para análise de previsão...................................................79 5.3.1. Apresentação e análise das variáveis ...............................................................79

5.3.1.1. Variáveis do Modelo Pereira ..........................................................................79 5.3.1.2. Variáveis selecionadas pelo pesquisador.......................................................80 5.3.1.3. Variáveis da dinâmica do overtrading.............................................................81 5.4. Seleção das variáveis por técnicas estatísticas ...................................................82 5.4.1. Análise de Variância (ANOVA)..........................................................................82 5.4.1.1. Resultados da ANOVA Univariada.................................................................83 5.4.2. Stepwise............................................................................................................86 5.4.3. Determinação das variáveis para a regra de discriminação..............................87 5.5. Análise descritiva .................................................................................................89 5.6. Resultados da Análise Discriminante ...................................................................92 5.6.1. Equações discriminantes...................................................................................93 5.6.2. Escores discriminantes, ponto de corte e reclassificação das empresas..........94 5.6.3. Grau de precisão dos modelos..........................................................................96 5.6.4. Termômetros de inadimplência .........................................................................98 6. CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES DA PESQUISA E RECOMENDAÇÕES................99 6.1. Conclusões...........................................................................................................99 6.2. Limitações da pesquisa......................................................................................101 6.3. Recomendações ................................................................................................102 REFERÊNCIAS.........................................................................................................103

Excluído: Anexo E - Quadro de funcionários

Excluído: ¶

14

1. INTRODUÇÃO

1.1. Tema e problema de pesquisa

Desde o início da década de 90, o sistema financeiro brasileiro vem

atravessando dupla transição: do protecionismo à abertura externa e da mega-

inflação para a relativa estabilidade monetária.

Após a implementação do Plano Real, os juros básicos da economia têm

diminuído, podendo causar redução nas margens (spreads) das operações

realizadas pelas instituições financeiras, que passaram a aplicar mais volumes de

recursos em operações de crédito, em detrimento de se realizarem operações de

tesouraria (operações com títulos).

Diante disso, a concessão de crédito corporativo no Brasil, por um lado,

tornou-se importante instrumento para o desenvolvimento econômico e, por outro,

constituiu uma das principais atividades bancárias.

Para Assaf Neto (1999, p.91), “o mercado de crédito visa, fundamentalmente,

a suprir as necessidades de caixa de curtos e médios prazos dos vários agentes

econômicos, seja por meio da concessão de créditos às pessoas físicas ou

empréstimos e financiamentos às empresas.”

Depreende-se, portanto, que com a expansão das atividades comerciais e

industriais, o crédito está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, tanto

física quanto jurídica. A concessão de crédito tem sido um dos principais

componentes do crescimento do padrão de vida dos consumidores e do lucro das

empresas (SCHRICKEL, 1998). Isto ocorre porque a capacidade do crédito

representa um fator de alavancagem na capacidade de gastos dos indivíduos e

empresas, gerando na economia um efeito multiplicador na produção e na renda.

Assim, sendo o crédito fundamental para a sobrevivência dos bancos, uma

correta avaliação do risco existente na sua concessão torna-se muito importante,

visto que um crédito concedido que não retorne ao credor pode acarretar a perda do

ganho obtido em outras operações. É na análise de crédito para empresas que uma

instituição financeira pode minimizar os riscos associados, visando a assegurar sua

rentabilidade, principalmente quando tem como atividade principal operações de

crédito de médio e de longo prazo.

15

Apesar da existência da orientação da norma contábil, das regras

estabelecidas pela Lei nº 6.404/76 e das legislações fiscais, usualmente o analista

de crédito procede à readequação das demonstrações contábeis, criticando,

reclassificando e ajustando algumas rubricas. Com isso, procura atender aos

propósitos da análise e corrigir eventuais distorções, tanto do ponto de vista teórico

quanto em relação às diferenças de critérios que possam existir nos procedimentos

adotados pelas diversas empresas.

Alguns estudos sobre análise do risco de crédito já foram realizados, tendo

como principal foco a previsão de falência das empresas. Segundo Back et al.

(1996), duas principais linhas de pesquisa nessa área podem ser distinguidas: a

primeira, e mais freqüentemente usada, tem sido a investigação empírica de

indicadores que conduzam a taxas mais baixas de erro de classificação; a segunda

tem-se concentrado na busca pelos melhores métodos estatísticos que poderiam

aperfeiçoar a acurácia dos modelos de previsão de insolvência.

Nesse contexto, as características pertinentes ao risco de inadimplência em

uma instituição financeira é inerente ao seu negócio, por esse motivo mostra-se

necessário recorrer-se a subsídios que minimizem esse risco.

Reconhecida a importância do risco da inadimplência, tornou-se primordial

para o BB verificar as Pequenas e Médias Empresas (PME’s) comerciais que

tiveram suas análises de risco e o estabelecimento de limites de crédito. Para isso,

foi necessário abordar indicadores econômico-financeiros na análise de previsão de

inadimplência dessas empresas.

Diante do exposto, o problema de pesquisa que se apresenta é: Qual a

aplicabilidade dos indicadores contábeis para análise de previsão de inadimplência

de PME’s comerciais localizadas no estado de Minas Gerais, particularmente

analisadas pela unidade de crédito do Banco do Brasil?

1.2. Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é verificar a aplicabilidade dos indicadores

contábeis para análise de previsão de inadimplência de PME’s comerciais

localizadas no estado de Minas Gerais, particularmente analisadas pela unidade de

crédito do Banco do Brasil.

A partir do objetivo geral destacam-se os seguintes objetivos específicos:

16

• averiguar, por meio da aplicação da técnica estatística análise

discriminante, a possibilidade de prevenção da inadimplência na

instituição;

• verificar a viabilidade da aplicação de indicadores contábeis utilizados em

modelo de previsão de insolvência na determinação da inadimplência das

empresas pesquisadas;

• avaliar a importância dos indicadores da análise dinâmica incorporados no

desenvolvimento do trabalho.

1.3. Justificativa

Num mundo globalizado, onde as mudanças se processam em ritmo

acelerado, não é possível admitir que as empresas sejam ineficazes na gestão de

seus recursos. Um controle na concessão de créditos, por meio da aplicação de

índices contábeis, conduz a empresa a ser mais competitiva, prevenindo a

inadimplência.

No entanto, observa-se a importância da análise de indicadores contábeis

extraídos das demonstrações contábeis, no sentido de verificar de que forma eles

podem contribuir para prever a inadimplência das empresas com os bancos.

A análise econômico-financeira deve ser feita sob vários ângulos, ou seja, a

estrutura patrimonial, a liquidez, o ritmo das atividades, o desempenho operacional,

entre outros, e sempre de forma comparativa com números apresentados em

períodos anteriores e, também, com o setor de atuação.

De acordo com Zdanowicz (1998), a análise deve ser vista sob perspectiva

qualitativa e quantitativa, tendo-se em mente conhecer as distintas possibilidades e

as várias modalidades pelas quais as inversões se transformam em recursos

financeiros, indispensáveis à “alimentação” do processo operacional da empresa.

Sendo assim, a análise de crédito é um importante gerador de soluções para

prevenir inadimplência, ressaltando os indicadores contábeis mais adequados, para

que uma instituição financeira possa mensurar o risco de crédito.

As instituições financeiras estão cada vez mais se preocupando em reduzir as

taxas de insolvência e inadimplência, principalmente pelo fato de estarem

aumentando nos últimos anos o montante de crédito disponibilizado. Para isto, estão

desenvolvendo técnicas avançadas de avaliação de risco de crédito.

17

Conforme Eifert (2003, p.5), alguns “estudos sobre análise do risco de crédito

foram feitos tendo como principal foco a previsão de falência. A insolvência das

empresas devedoras sem dúvida é um problema para os concedentes de crédito, no

entanto, a inadimplência não é um fato exclusivo do processo falimentar.”

Assim, este estudo justifica-se pela importância da prevenção da

inadimplência como o aparato de informações disponíveis no momento da análise

de crédito, contribuindo para uma avaliação mais criteriosa e para que possa,

conseqüentemente, melhorar o resultado das instituições financeiras que trabalham

com a concessão de crédito corporativo.

Desta forma, o estudo se justifica na medida em que evidencia a necessidade

de se contribuir para vários segmentos interessados em auxiliar profissionais da área

de crédito na implementação de modelos de previsão de inadimplência.

Como contribuição prática do estudo, pode-se destacar que o BB, ao buscar

melhorias dos sistemas de análise de risco e estabelecimento de limite de crédito,

concilia os diversos interesses e necessidades das empresas comerciais,

participando como gerenciador dos recursos captados e aplicados nelas.

Adicionalmente, espera-se que o trabalho possa trazer também contribuições

a pesquisadores e profissionais que se interessem em estudos sobre a avaliação da

situação econômico-financeira de empresas.

No âmbito gerencial, o estudo irá contribuir para dar subsídios às empresas

em geral, uma vez que as conclusões do pesquisador poderão ser utilizadas em

situações semelhantes de avaliação de risco e estabelecimento de limite de crédito

de clientes e fornecedores. Importante ressaltar, ainda, a experiência do

pesquisador como analista de crédito do Banco do Brasil, onde atua há nove anos

na análise de risco de crédito de empresas.

O estudo se torna relevante pela importância empírica do tema proposto,

principalmente pelos indicadores contábeis selecionados do modelo de previsão de

insolvência de empresas comerciais desenvolvido por Silva (2006) e também os

baseados na dinâmica de overtrading (desequilíbrio econômico-financeiro) discutida

por Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), além de alguns indicadores tradicionais de

liquidez, estrutura e rentabilidade escolhidos pelo pesquisador com base na sua

relevância para este estudo. Considera-se que o modelo desenvolvido por esses

autores, centrados em diferenciação, relevância e conhecimento, proporcionem

grande parte das indicações relevantes para o trabalho empírico.

18

Diante das informações expostas, as principais etapas para o

desenvolvimento do estudo foram elaboradas levando-se em consideração questões

que abordavam: obtenção dos dados contábeis para a amostra; escolha dos

indicadores contábeis para prevenção da inadimplência; seleção das variáveis pelas

técnicas estatísticas; análise descritiva das variáveis selecionadas; definição da

função discriminante; obtenção dos escores discriminantes e definição do ponto de

corte; análise do grau de precisão dos modelos; e construção do termômetro de

inadimplência.

Assim sendo, neste trabalho buscou-se fazer um estudo importante na atual

conjuntura, diante da expansão do crédito realizada pelas instituições financeiras,

tornando-as mais suscetíveis ao risco de inadimplência dos créditos concedidos.

1.4. Estruturação do trabalho

Além do primeiro capítulo - introdução, a dissertação contém ainda mais cinco

capítulos.

No segundo capítulo encontra-se a fundamentação teórica, citada a partir de

abordagens de alguns autores. Em linhas gerais, descrevem-se alguns aspectos

considerados importantes para o entendimento do crédito. Na análise econômico-

financeira, são feitos: um resgate conceitual de demonstrações contábeis, análises

vertical e horizontal e, principalmente a análise por meio de índices econômico-

financeiros. Em seguida, descreve-se a análise dinâmica do capital de giro, com foco

no Modelo Fleuriet. Dando continuidade, evidenciam-se alguns aspectos dos

modelos quantitativos de previsão de insolvência.

O capítulo terceiro se destina ao histórico do Banco do Brasil (BB),

descrevendo a caracterização da instituição e suas diretrizes gerais e o processo de

análise de crédito adotado pela Diretoria de Crédito.

No quarto são apresentados os aspectos metodológicos norteadores deste

estudo, descrevendo-se o tipo de pesquisa, o método de estudo, o detalhamento da

coleta de dados e as variáveis analisadas.

A análise e a interpretação dos dados coletados junto à instituição avaliada

estão mostradas no quinto capítulo, os quais são comparados com as informações

da pesquisa bibliográfica, com a finalidade de atender aos objetivos do trabalho.

19

Para finalizar, o sexto capítulo compreende as conclusões deste estudo,

apontando as limitações da pesquisa e algumas recomendações para avanços de

novas investigações sobre o tema investigado.

20

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, apresenta-se a fundamentação teórica do estudo.

Inicialmente, descrevem-se abordagens sobre a importância do crédito. Na

seqüência, faz-se uma descrição da análise econômico-financeira com destaque

para as demonstrações contábeis, análises vertical e horizontal e análise por meio

de índices econômico-financeiros. Dando continuidade, procede-se à revisão da

análise dinâmica do capital de giro, com foco no Modelo Fleuriet. Finalmente,

evidenciam-se alguns aspectos dos modelos quantitativos de previsão de

insolvência.

2.1. Pressupostos sobre o crédito

A crescente expansão das atividades comerciais e industriais nos períodos

atuais e a globalização têm forçado a necessidade do desenvolvimento de novas

especializações e facilidades de crédito e cobrança. A utilização do crédito tem-se

tornado cada vez mais importante quando considera a necessidade de consumo em

massa, destacando-se ainda mais nos períodos de prosperidade, dado o maior

consumo de bens duráveis, de produção ou capital. (BLATT,1999).

Crédito deriva do latim credere, tendo como significado o ato de confiar,

acreditar. Classicamente, indica credibilidade, confiança depositada em alguém

quanto ao cumprimento de suas obrigações. Para uma instituição financeira, crédito

representa a ação de colocar uma quantia em dinheiro à disposição do cliente,

mediante promessa de pagamento em data e condições previamente pactuadas.

Nos bancos, o crédito é uma das pontas da intermediação, estando presente

também em operações em que a instituição financeira comparece oferecendo

garantia (aval ou fiança) ao beneficiário do crédito.

Berni (1999) concebe o conceito de crédito perpassando a mera e pura

concessão de empréstimos e a capacidade de quem o solicitou ter como quitá-lo, o

que possibilita a discussão da qualidade dos serviços bancários na perspectiva dos

critérios de análise, bem elaborados, para conduzir esse processo de maneira

segura, com liquidez e rentabilidade.

Assaf Neto (2000, p.91), no entanto, é bem mais objetivo, define crédito como

“o mercado de crédito que visa, fundamentalmente, a suprir as necessidades de

21

caixa de curtos e médios prazos dos vários agentes econômicos, seja por meio da

concessão de créditos a pessoas físicas ou empréstimos e financiamentos às

empresas.”

Complementando, Schrickel (1998, p.25) define crédito como “todo ato de

vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder temporariamente parte do

seu patrimônio a um terceiro, com expectativa de que essa parcela volte à sua posse

integralmente, depois de decorrido o tempo estipulado.”

Com respeito ao crédito, a confiança, segundo Tavares (1998), é um dos

fatores principais na determinação da extensão de análise para a concessão de

crédito. Inicialmente, o autor cita duas categorias de crédito: público e privado.

O crédito público caracteriza-se como aquele destinado à cobertura de gastos

governamentais com educação, transporte, saúde, segurança, aspectos sociais e

outras necessidades orçamentárias.

Quanto ao crédito privado, caracteriza-se como aquele utilizado por empresas

industriais, comerciais, de serviço, agrícolas e outras, para atendimento de suas

necessidades de investimento e capital de giro.

Nesse contexto, a análise de crédito torna-se um processo no qual as

pessoas responsáveis pela concessão de crédito devem atentar-se para a

determinação do grau de risco da inadimplência.

O analista de crédito poderá utilizar-se da combinação dos principais métodos

de avaliação da situação econômico-financeira de empresa, que são: análise vertical

e horizontal e análise de quocientes ou índices econômico-financeiros, por meio das

análises tradicional e dinâmica, para minimizar esses riscos.

Na opinião de Blatt (1999, p. 39), “um outro fundamento de uma boa prática

de crédito baseia-se na efetiva análise creditória.” A saúde financeira e a condição

de uma empresa podem freqüentemente ser apuradas mediante a efetiva análise de

suas demonstrações contábeis. A análise de coeficientes, fluxo de caixa e

endividamento é apenas uma das técnicas de análise que podem ser usadas para

fortalecer as decisões creditícias.

O principal objetivo da análise de crédito numa instituição financeira, segundo

Blatt (1999), é identificar os riscos nas situações de empréstimos, evidenciar

conclusões quanto à capacidade de pagamento do tomador e fazer recomendações

relativas à melhor estruturação e tipo de empréstimo a conceder, à luz das

necessidades financeiras do solicitante, dos riscos identificados e mantendo,

22

adicionalmente, sob perspectiva, a maximização dos resultados da instituição. De

fato, o sistema de crédito constitui elemento importante ao desenvolvimento de

qualquer nação e empresa, figurando como verdadeira ponte entre produção e

consumo.

Análise de crédito envolve a habilidade de fazer uma decisão de crédito, em

um cenário de incertezas e constantes mutações e informações incompletas. Para

Schrinckel (1997, p.27), essa habilidade depende da capacidade de analisar

logicamente situações, às vezes complexas, e chegar a uma conclusão clara, prática

e factível de ser implementada.

Ainda segundo Schrinckel (1997), para uma boa concessão de crédito é

necessário percorrer três etapas distintas:

a) analise retrospectiva - avaliação histórica do tomador procurando

identificar os maiores fatores de risco inerentes à sua atividade e se estes

foram atenuados e/ou contornados no passado. Essa análise histórica tem

como principal objetivo identificar fatores na atual condição do tomador

que possam denunciar eventuais dificuldades e/ou questionamentos

quanto ao almejado sucesso do mesmo em resgatar financiamentos

tomados junto a quem tenha emprestado;

b) análise de tendências - projeção da condição financeira futura do tomador,

associada à ponderação acerca de sua capacidade de suportar certo nível

de endividamento;

c) capacidade de crédito - depois de efetuadas as análises anteriores deve-

se chegar à conclusão sobre a capacidade de crédito do tomador e,

conseqüentemente, à estruturação de uma proposta de crédito, em que o

empréstimo pleiteado possa ser amortizado em consonância com certo

fluxo de caixa futuro.

Desta forma, a concessão de crédito envolve uma política estabelecida pela

empresa, que orienta o analista no momento da tomada de decisão. Silva (1998)

afirma que a política de crédito “é um guia para a decisão de crédito, porém não é a

decisão; rege a concessão de crédito, porém não concede o crédito; orienta a

concessão de crédito para o objetivo desejado, mas não é o objetivo em si”.

A política de crédito, então, é constituída de acordo com o objetivo desejado e

estabelece critérios na aprovação de um crédito, que diminuem o risco da operação.

23

O grau do risco é determinado na avaliação do crédito, em que se determina a

capacidade e disposição de um tomador pagar um empréstimo.

2.2. Risco de crédito

A palavra risco deriva do italiano antigo risicare, que significa “ousar”.

Bernstein (1997, p.8) afirma que “o risco é uma opção, e não um destino”. Assim, as

ações que as pessoas ousam tomar dependem do grau de liberdade de opção.

Gitman (2002, p.202) relata que “o risco, em seu sentido fundamental, é

definido como a possibilidade de um prejuízo financeiro.” Cita que o termo é usado

alternativamente como incerteza. No entanto, os estatísticos diferenciam risco de

incerteza ao afirmarem que o primeiro existe quando o tomador de decisões pode

estimar as probabilidades relativas a vários resultados; enquanto que a incerteza

ocorre quando o tomador de decisões não tem qualquer dado histórico e precisa

realizar estimativas aceitáveis, a fim de formular uma distribuição probabilística

subjetiva, isto é, baseado em sua sensibilidade pessoal.

As normas e resoluções editadas pelo Banco Central do Brasil (BACEN) têm

presente a preocupação em reduzir os riscos de crédito. A análise do risco de crédito

é considerada de fundamental importância na atividade bancária. Nesse sentido,

identificar e medir risco de crédito são importantes aos bancos para precificar um

empréstimo ou financiamento e para estabelecer limites de crédito concedido e a ser

liberado a um cliente.

Na administração da carteira de crédito, o profissional de crédito deve ter,

além de conhecimentos gerais de negócios, habilidade para identificar riscos,

cabendo a ele decidir se o risco é aceitável ou não.

O Bank for International Settement (BIS) definiu risco como todo fator interno

e externo que pode afetar adversamente o sucesso das operações de uma

instituição financeira, de seus objetivos de informação.

A gestão de riscos surgiu para disciplinar a identificação de sua origem e

mensuração, bem como para formular estratégias para gerenciá-los, implementando

conceitos de evitar, reter, reduzir, transferir e explorá-los, monitorando-os com um

nível aceitável de tolerância. (BRITO, 2003).

Assim, quando uma instituição financeira concede um crédito a um cliente, ela

corre o risco de não receber a quantia emprestada no futuro, assumindo riscos. No

24

entanto, o risco deve ser razoável e compatível com o negócio do banco e à sua

margem mínima almejada (receita).

O crédito consiste na entrega de um bem ou de um valor presente mediante

uma promessa de pagamento em data futura. A formalização do acordo de crédito

por meio de um contrato bem elaborado é:

uma condição fundamental para assegurar ao credor o direito de receber, independente da vontade do devedor de pagar. Nesse sentido, o auxílio do departamento jurídico é necessário. Entretanto, pouco adianta o credor ter assegurado o direito de receber se o devedor não dispuser de recursos para satisfazer o pagamento. A expectativa em relação à capacidade de pagamento poderá ou não ser confirmada. Apesar da possibilidade de que fatores inesperados e adversos possam ocorrer e inviabilizar o cumprimento da obrigação, não há dúvida de que a análise de crédito presta grande contribuição para a manutenção e gerenciamento de uma carteira de crédito saudável. (SILVA, 1998, p.63).

Segundo Silva (2006), o risco de crédito pode ser classificado em:

a) risco do cliente - deve-se conhecer muito bem o cliente tomador. Para

tanto é preciso estar de posse das informações mínimas e adequadas;

b) risco da operação - conhecer a operação: prazos e garantias. É importante

pedir o aval/fiança da pessoa que detém as finanças da empresa, pois terá

interesse em priorizar os pagamentos que avalizou;

c) risco de concentração - para evitar o risco de concentração deve-se tomar

o cuidado de pulverizar os clientes, produtos, ramo de atividade, região

geográfica, entre outros. Quanto maior a concentração de empréstimos

em determinado cliente, segmento, o risco de perda em que se incorre

quando há inadimplência de uma contraparte numa operação de crédito é

maior;

d) riscos externos à empresa - riscos que estão ligados a fatores políticos,

macroeconômicos e outros externos à empresa, que causam reflexos

diretos em sua performance. A atividade política assume relevância, pois

suas decisões têm influência direta na vida econômica do país;

e) riscos ligados aos fenômenos naturais e ecológicos - aspectos ligados ao

volume de chuvas ou de secas refletem nas safras agrícolas e isso influi

diretamente na oferta e demanda desses produtos. A proteção do meio

ambiente é um fator relevante na avaliação do risco de determinadas

atividades;

25

f) riscos ligados ao mercado - o mercado pode não absorver a produção

prevista, bem como os concorrentes poderão lançar produtos mais

competitivos, trazendo problemas à empresa. A globalização da economia

e os acordos internacionais poderão facilitar a entrada de produtos

estrangeiros de melhor qualidade e o menor preço, o que também eleva o

risco ligado ao mercado.

Complementando, Bergamini Júnior (1997) referencia que as atividades

voltadas para a classificação de risco não devem ser confundidas com as de

auditoria contábil ou operacional, exercidas por empresas de auditoria independente.

Observa-se que as agências de classificação de risco independentes estabelecem a

existência de demonstrativos contábeis auditados, como pré-condição para a

elaboração de classificações de risco.

Segundo esse autor, a avaliação de risco poderá ser dificultada por

deficiência das informações, na medida em que elas devem ser suficientes

(transparência) e ter um grau mínimo de confiabilidade (fidedignidade), de modo a

permitir a obtenção de inferências aceitáveis sobre o risco representado pelo

postulante.

No que diz respeito ao principal meio de controle do risco, ou pelo menos o

mais utilizado, conforme Guimarães (2000), é o sistema de escore. Esse sistema

consiste basicamente em avaliar características do novo cliente, atribuindo um

determinado valor a cada característica. Em seguida, os dados obtidos são usados

na elaboração de um escore. Com base no escore obtido pelo cliente, toma-se a

decisão de conceder ou não o crédito. Para tomar tal decisão, o escore é comparado

a um valor previamente estabelecido, chamado valor de corte. É na obtenção deste

último que reside a maior parte dos problemas enfrentados pelos profissionais

envolvidos.

Outros modelos mais avançados de avaliação do risco de crédito vêm sendo

utilizados pelas instituições financeiras como forma de reduzir as perdas financeiras

decorrentes da inadimplência. Segundo Saunders (2000), dentre as técnicas

utilizadas pelos credores com essa finalidade, destacam-se o:

a) Valor em Risco (VAR) - medida conhecida como Value-at-Risk,

representa a perda máxima esperada em carteiras de crédito e

investimentos, num horizonte de tempo definido, e dentro de um intervalo

26

de confiança. De acordo com Santos (2003), “o VAR produz um número

que é o máximo de dinheiro que uma carteira de crédito tem

possibilidade de perder, digamos, nas próximas 24 horas, com um nível

de confiança de 95%, por exemplo”. Com isso, possibilita a determinação

do volume de capital que uma instituição financeira deve reservar para

cobrir perdas inesperadas que excedam determinado nível crítico;

b) CreditMetrics - desenvolvido pelo banco americano J. P. Morgan, esse

modelo procura estabelecer qual será a perda de uma carteira de crédito

devido a alterações na classificação de crédito dos devedores e

eventuais ocorrências de default, ou seja, quando a contraparte deixa de

honrar o contrato, acarretando uma perda de valor de face do

empréstimo menos uma taxa de recuperação. Na implementação dessa

técnica, há a necessidade de simular possíveis mudanças na qualidade

de crédito, por meio da utilização de dados históricos dos clientes,

devendo calcular as correlações dessas mudanças a cada duas

transações de crédito. Ao capturar os efeitos de carteiras de crédito, o

CreditMetrics pode fornecer a base para a alocação racional do capital

necessário para cobrir perdas inesperadas de crédito (VAR);

c) Modelo KMV - foi criado pela KMV Corporation, empresa sediada em San

Francisco que vende software de análise de crédito e produtos de

informação a instituições financeiras, para estimar a probabilidade de

inadimplência de empresas de capital aberto, baseando-se no preço de

mercado das ações e informações extraídas de demonstrações

contábeis. Também identificado como Expected Default Frequency –

EDF (Modelo de Probabilidade de Inadimplência).1

1 Expected Default Frequency, baseia-se na hipótese de que o mercado é a fonte mais eficiente de informações acerca da saúde financeira de uma empresa, refletindo as expectativas de sua capacidade de geração de fluxo de caixa para pagar a totalidade de suas dívidas.

27

2.3. Análise econômico-financeira

2.3.1. Perspectivas teóricas da análise econômico-financeira

A análise econômico-financeira é utilizada para estimar as forças e fraquezas

financeiras do cliente, usando informação de suas demonstrações contábeis. Seu

objetivo é obter entendimento das condições econômica e financeira da empresa,

que servirá como base para a tomada de decisões.

É também um instrumento fundamental na análise e processo decisório das

empresas, as quais atuam em um mercado complexo e exigente. De acordo com

Zdanowicz (1998), tal análise deve ser vista sob uma perspectiva qualitativa e

quantitativa, tendo-se em mente conhecer as distintas possibilidades e as várias

modalidades pelas quais as inversões se transformam em recursos financeiros,

indispensáveis à “alimentação” do processo operacional da empresa.

Silva (2006, p.183) conceitua a análise econômico-financeira como:

o exame das informações obtidas por meio das demonstrações contábeis, com intuito de compreender e avaliar aspectos como: 1) a capacidade de pagamento da empresa por intermédio da geração de caixa; 2) capacidade de remunerar os investidores gerando lucro em níveis compatíveis com suas expectativas; 3) nível de endividamento, motivo e qualidade do endividamento; 4) políticas operacionais e seus impactos na necessidade de capital de giro da empresa; 5) diversos outros fatores que atendam ao propósito do objetivo da análise.

Uma análise deve dar indicações acerca da futura evolução dos negócios de

uma empresa, visando a auxiliar o processo de tomada de decisão. Entretanto, a

tomada de decisão correta do analista depende de como ele analisa os dados e

principalmente sua veracidade.

Braga (1989) afirma que a análise das demonstrações financeiras sempre

estará associada a um processo decisório. Cada agente abordará a empresa com

determinado objetivo e este determinará a profundidade e enfoque da análise. A

análise das demonstrações financeiras pode ajudar a avaliar a condição financeira e

rentabilidade da empresa, além de mostrar a capacidade de geração de fluxo de

caixa.

Complementando, Santos (2003, p.80) afirma que “a análise das

demonstrações financeiras é um procedimento indispensável na avaliação de riscos

28

em concessão de financiamentos às empresas.” Por meio desse mecanismo, as

instituições financeiras levantam informações históricas sobre a capacidade de

pagamento, endividamento, lucratividade e rentabilidade. Paralelamente, fazem

projeções de fluxos de caixa com o objetivo de verificar se a empresa tem

capacidade de cobrir empréstimos para financiar gastos com capital de giro e

imobilizações.

Matarazzo (2003, p.15) diz que as demonstrações financeiras fornecem uma

série de dados sobre a empresa, de acordo com regras contábeis:

a análise de balanços transforma esses dados em informações e será tanto mais eficiente quanto melhor informações produzir. As demonstrações financeiras precisam ser transformadas em informações que permitam concluir se a empresa merece ou não crédito, se vem sendo bem ou mal administrada, se tem ou não condições de pagar suas dívidas, se é ou não lucrativa, se vem evoluindo ou regredindo, se é eficiente ou ineficiente, se irá falir ou se continuará operando.

A análise econômico-financeira é peça fundamental na decisão das

empresas, apesar das limitações impostas pela Contabilidade, que só é capaz de

registrar fatos avaliáveis monetariamente. Em determinados segmentos, carece de

um conjunto coeso de princípios e procedimentos, facilitando a distorção das

informações às quais é facultado o uso de diferentes terminologias e enquadramento

em diferentes grupos de contas. (BARALDI, 1992).

As demonstrações utilizadas normalmente pelos analistas de crédito para a

averiguação da situação econômico-financeira das empresas de pequeno e médio

porte são o Balanço Patrimonial (BP) e a Demonstração de Resultado do Exercício

(DRE).

Segundo Schrickel (1999, p.52), “o BP é uma demonstração estática e

sintética dos registros contábeis que espelham o patrimônio da empresa, referindo-

se a determinado momento.” A análise atenta e prudente de uma série de balanços

de determinada empresa, em conjunto com outros demonstrativos e informações,

pode oferecer ao analista de crédito a percepção de uma tendência que lhe pode ser

valiosa na formulação de conclusões acerca de seu desempenho passado e futuro.

Para o autor, a análise de demonstrativos econômico-financeiros é apenas

uma parte da análise, que permite lidar com questões quantitativas objetivamente

verificáveis. As demonstrações são basicamente um substituto para o conhecimento

29

detalhado do cotidiano de uma empresa, suas operações e seu gerenciamento.

Constitui-se, na realidade, nos instrumentos de mais utilidade prática para os

gestores responsáveis pela análise econômico-financeira da empresa. A partir da

análise dos demonstrativos, torna-se possível certificar-se ou obter-se o

convencimento de quão bem sucedida tem sido a administração da empresa na

condução de seus negócios ao longo do tempo.

De acordo com Reis (2003, p. 71), “a DRE mostra, em seqüência lógica e

ordenada, todos os fatores que influenciaram, para mais ou para menos, o resultado

do período, tornando-se, assim, valioso instrumento de análise econômico-financeira

e preciosa fonte de informações para tomada de decisões.”

Logo, a análise das demonstrações contábeis ou análise de balanços é

utilizada como forma de acompanhamento aos clientes, como forma de se mapear

seu perfil e comportamento em relação à solvência dos compromissos assumidos,

apurando com maior aproximação da realidade o seu grau de liquidez e servindo de

base para tendências futuras.

2.3.2. Padronização das demonstrações contábeis

Antes de se começar uma análise, deve-se examinar detalhadamente as

demonstrações contábeis. O processo de padronização consiste numa crítica às

contas patrimoniais e de resultado, bem como na transcrição delas para um modelo

previamente definido.

Segundo Silva (1995), a padronização das demonstrações financeiras para

fins de análise de crédito tem por objetivos levar as peças contábeis das empresas a

um padrão que atenda às diretrizes técnicas internas de determinada instituição

financeira e propiciar mais segurança ao analista responsável pela análise da

situação econômico-financeira. O analista tem como responsabilidade profissional

interpretar as informações disponíveis e emitir seu parecer sobre determinada

empresa, cabendo-lhe assumir posição conservadora diante de situações duvidosas.

De acordo com Matarazzo (2003), a padronização é realizada pelos seguintes

motivos:

a) simplificação - visa a redução da quantidade de contas ou a

consolidação em determinados grupamentos, facilitando a visualização

das demonstrações a serem analisadas;

30

b) comparabilidade - enquadramento das demonstrações contábeis num

modelo que permita comparação com outros balanços e demonstrações

de resultado;

c) precisão nas classificações de contas - consiste na reclassificação de

contas indevidamente lançadas em grupamentos dos balanços;

d) descoberta de erros - há casos de erros, intencionais ou não, que devem

ser ajustados ou deduzidos das demonstrações contábeis, devendo,

inclusive, o analista desconfiar da veracidade de tais relatórios.

2.3.3. Análises horizontal e vertical

2.3.3.1. Análise horizontal

As técnicas das análises horizontal e vertical são as mais simples de

aplicação e, ao mesmo tempo, as mais importantes no que se referem à riqueza das

informações geradas para a avaliação do desempenho econômico-financeiro das

empresas. Prestam importantes contribuições na interpretação da estrutura e da

tendência dos números de uma empresa, podendo auxiliar na análise dos índices

financeiros e em outros métodos de análise.

De acordo com Silva (1995, p.187), “o propósito da análise horizontal é

permitir o exame da evolução histórica de uma série de valores.” Esse método,

tomando-se por base dois ou mais exercícios financeiros, preferentemente

expressos em moeda constante e em valores monetários da mesma data, tem a

finalidade de observar a evolução ou involução dos seus componentes.

Matarazzo (2003, p.250) diz que a análise horizontal procura “mostrar a

evolução de cada conta das demonstrações financeiras e, pela comparação entre si,

permitir tirar conclusões sobre a evolução da empresa.”

Segundo Braga (1995, p.147), quando a análise horizontal revela grande

expansão de determinado elemento patrimonial, é conveniente verificar a sua

participação através da análise vertical, pois isoladamente, essas duas técnicas

poderão levar a erros de avaliação ou encobrir fatos importantes. Matarazzo (2003,

p.248-249) recomenda que “as análises horizontal e vertical sejam usadas

conjuntamente como uma só técnica de análise, pois considera desejável que as

31

conclusões baseadas na análise vertical sejam complementadas pelas da análise

horizontal.”

2.3.3.2. Análise vertical

Para Assaf Neto (2003, p.104), “a análise vertical constitui identicamente um

processo comparativo e é desenvolvida por meio de comparações relativas entre

valores afins ou relacionáveis identificados numa mesma demonstração contábil.”

Ainda, por trabalhar com valores relativos, ou seja, considerar percentualmente as

proporções existentes entre as diversas contas, a análise vertical dispensa qualquer

processo de indexação dos valores e produz as mesmas interpretações, quer se

trabalhe em bases nominais, quer em bases reais. Nessa colocação afirmativa

também está implícita a hipótese de que os vários elementos contábeis estejam

expressos em moeda da data de levantamento das demonstrações.

Matarazzo (2003, p.249) menciona que a análise vertical procura:

mostrar a importância de cada conta em relação à demonstração financeira a que pertence e, através da comparação com padrões do ramo ou com percentuais da própria empresa em anos anteriores, permitir inferir se há itens fora das proporções normais.

Com esse método, pode-se visualizar de modo objetivo e direto a

representatividade de cada componente das demonstrações contábeis, identificando

aqueles que mais contribuem para a formação do conjunto objeto da análise.

No BP, quando se aplica a análise vertical, é possível verificar o percentual

que representa cada conta, ou grupo de contas, em relação ao Ativo ou Passivo

Total e, principalmente na DRE, permite detectar a composição percentual das

receitas, custos e despesas, evidenciando aquelas que mais influenciaram na

formação do lucro ou prejuízo.

2.3.4. Análise por meio de índices econômico-financeiros

Os índices são os principais instrumentos utilizados para análise da situação

econômico-financeira de uma empresa. De acordo com Marion (2002, p.455), “os

índices são relações que se estabelecem entre duas grandezas: facilitam

32

sensivelmente o trabalho do analista, uma vez que a apreciação de certas relações

ou percentuais é mais significativa que a observação de montantes por si só.”

Os índices financeiros indicam como está a situação financeira da empresa e

a capacidade de honrar seus compromissos no prazo. A análise por meio de índices

é também um instrumental utilizado na concessão de crédito e “surgiu por motivos

eminentemente práticos e mostrou-se desde logo instrumento de grande utilidade”

(MATARAZZO, 2003, p.23).

Para Gitman (2002, p.102), “a análise por meio de índices é usada para

comparar o desempenho e a situação de uma empresa com outras empresas ou

consigo mesma ao longo do tempo.”

Gitman (2002) cita quatro grupos de indicadores: liquidez, atividade,

endividamento e lucratividade. Esses índices são calculados a partir dos itens do

balanço patrimonial e da demonstração do resultado. (FIGURA 1).

PRINCIPAIS ASPECTOS REVELADOS PELOS ÍNDICES ECONÔMICO-FINANCEIROS

LIQUIDEZ Situação Financeira ESTRUTURA Situação Econômica RENTABILIDADE

Figura 1 - Principais aspectos revelados pelos índices econômico-financeiros Fonte: Adaptado de Matarazzo (2003).

A liquidez de uma empresa é mensurada por sua capacidade de atender suas

obrigações em curto prazo, no vencimento. A liquidez diz respeito à solvência

financeira global da empresa, ou seja, a facilidade com que ela pode pagar suas

contas.

Os índices de atividade, segundo Gitman (2002, p.136), “mensuram a rapidez

com que várias contas são convertidas em vendas ou caixa.” Com relação às contas

circulantes, medidas de liquidez são geralmente inadequadas, pois diferenças na

composição das contas circulantes da empresa podem afetar de forma significativa

sua real liquidez.

33

Marion (2002) preconiza que a posição de endividamento de uma empresa

indica o montante de recursos de terceiros, sendo usado com o intuito de gerar

lucros.

Os índices de endividamento mensuram a proporção do total de ativos

financiados pelos credores da empresa. Quanto mais alto for esse índice, maior será

o montante de dinheiro de outras pessoas sendo usado em uma tentativa de gerar

lucros.Tendo em vista que as reivindicações dos credores devem ser satisfeitas

antes que os lucros possam ser distribuídos, os acionistas potenciais e os atuais

prestam atenção na capacidade da empresa de ressarcir dívidas. Financiadores

também estão preocupados com o endividamento da empresa, pois quanto mais

endividada ela for, maior a possibilidade de não atender às reivindicações de todos

seus credores. A alta administração, obviamente, deve se preocupar com o

endividamento devido à atenção dada à questão por outras partes, assim como para

manter a empresa solvente. (MARION, 2002).

Os índices financeiros de análise fornecem informações sobre o estado em

que a empresa se encontra, assim como sua capacidade de operacionalidade e

rentabilidade.

É importante destacar que esse tipo de índice aborda aspectos de liquidez,

endividamento, atividade e rentabilidade. Como todo sistema de análise, não deve

ser o único a ser utilizado no processo decisório, pois se limita apenas a valores

atuais e passados.

Portanto, na análise do desempenho econômico-financeiro de uma empresa,

com vistas à avaliação da sua capacidade, em termos de segurança, liquidez e

rentabilidade, o analista de crédito deve valer-se de demonstrações contábeis de

pelo menos três exercícios sucessivos e deles extrair os diversos indicadores que

lhe forneçam as informações desejadas.

Num empréstimo de capital de giro de curto prazo, por exemplo, os credores

– interessados basicamente no retorno seguro dos capitais emprestados –

privilegiarão os aspectos de liquidez e segurança. Tratando-se de empréstimos de

longo prazo, a ênfase estará na capacidade de geração de lucro e na eficiência

operacional da empresa, ou seja, no enfoque da rentabilidade.

Silva (1995) alerta que é necessária a comparação, em determinado

momento ou período, do índice de uma empresa com o mesmo índice relativo a

outras de mesma atividade, para identificar como ela está em relação a seus

34

principais concorrentes ou mesmo em relação aos padrões de seu segmento de

atuação. Atenta, também, para que os índices econômico-financeiros sejam

calculados após a padronização das demonstrações contábeis procedida pelo

analista de crédito.

Matarazzo (2003) relata que a quantidade de índices que deve ser utilizada

na análise depende exclusivamente da profundidade que se deseja dela e da

experiência do analista. O analista precisa dimensionar a amplitude de sua análise

para não ficar a todo momento querendo acrescentar índices, muitas vezes sem

saber a contribuição que cada um acrescenta à sua análise.

Silva (1995) acredita que o número de índices a ser utilizado deve levar em

consideração os seguintes pontos

a) utilidade dos índices - aqueles que forem importantes devem ser utilizados;

b) contribuição - consta em uma análise do número de índices versus o

benefício adicional na avaliação das empresas que com 6 índices, o grau de

acerto na classificação das empresas foi de 87,45% e com 31 índices foi de

94,11%. Portanto, aumentando o número de índices em 416,7%, obteve-se

melhora de apenas 7,6%;

c) praticidade - o processo de cálculo de índices tornou-se fácil a partir do uso

do computador. Calcular 5 ou 50 índices, talvez não faça diferença. Interpretar

50 índices, um a um, bem como o impacto de um sobre os outros, poderá ser

um processo trabalhoso e que não traz contribuição expressiva à avaliação do

risco da empresa. A questão principal reside, conforme a necessidade do

usuário, em identificar os pontos que efetivamente são relevantes;

d) segurança - o número de índices utilizados deve propiciar ao analista razoável

grau de tranqüilidade quanto à eficácia da avaliação do risco.

Silva (1995) ainda sugere que um dos processos de seleção mais utilizados é

o uso da análise discriminante, que é tida como a metodologia mais avançada para

a avaliação e ponderação dos índices.

35

2.3.4.1. Índices de liquidez

Os índices de liquidez avaliam a posição financeira da empresa, em termos

de capacidade de pagamento, a partir da comparação entre os direitos realizáveis e

as exigibilidades.

Matarazzo (2003, p.163-164) explica que:

muitas pessoas confundem índices de liquidez com índices de capacidade de pagamento. Os índices de liquidez não são índices extraídos do fluxo de caixa que comparam as entradas com as saídas de dinheiro. São índices que, a partir do confronto de Ativos Circulantes com as Dívidas, procuram medir quão sólida é a base financeira da empresa. Uma empresa com bons índices de liquidez tem condições de ter boa capacidade de pagar suas dívidas, mas não estará, obrigatoriamente, pagando suas dívidas em dia em função de outras variáveis como prazo, renovação de dívidas, entre outros.

Portanto, uma empresa que possui altos índices de liquidez, mas mantém

estoques elevados, que recebe com atraso suas vendas ou mantém duplicatas

incobráveis poderá ter problemas de liquidez, ou seja, poderá ter dificuldades para

honrar seus compromissos nos vencimentos.

Os índices de liquidez são interessantes para os credores, pois se referem à

solvência da situação financeira da empresa. Os principais índices que medem a

liquidez da empresa estão classificados de acordo com o Quadro 1. Para efeito de

concessão de crédito, o resultado desses índices será considerado quanto maior

melhor para a segurança do credor.

Segundo Silva (1995), o índice de liquidez corrente é o mais utilizado como

medidor da saúde financeira das empresas e tem sua validade como instrumento

comparativo entre empresas do mesmo porte e da mesma atividade, porém, como

medida isolada, não se pode afirmar que a liquidez de curto prazo é boa ou ruim.

36

Quadro 1 – Índices de liquidez Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

2.3.4.2. Índices de estrutura ou de endividamento

Segundo Ross, Westerfield e Jaffe (2002, p.48), “os índices de endividamento

fornecem informação referente à proteção dos credores contra insolvência e à

capacidade de obtenção de financiamento adicional pelas empresas, tendo em vista

o aproveitamento de oportunidade de investimento potencialmente atraentes.”

Alerta, ainda, que algumas dívidas da empresa podem não aparecer no balanço, tal

como as obrigações provenientes de contratos de leasing, devendo o analista

ponderar esses compromissos na apuração dos índices de estrutura.

Esses indicadores, conforme Assaf Neto (2003, p.110-111), são utilizados

basicamente para:

aferir a composição (estrutura) das fontes passivas de recursos de uma empresa. Ilustram, com isso, a forma pela qual os recursos de terceiros são usados pela empresa e sua participação relativa em relação ao capital próprio. Fornecem, ainda, elementos para avaliar o grau de comprometimento financeiro de uma empresa perante seus credores (principalmente instituições financeiras) e sua capacidade de cumprir os compromissos assumidos em longo prazo.

Os principais índices de estrutura e endividamento são descritos no Quadro 2.

ÍNDICE SÍMBOLO FÓRMULA OBJETIVO

LIQUIDEZ CORRENTE

LC

Ativo Circulante Passivo Circulante

Indica a relação entre o ativo conversível em dinheiro em curto prazo, e a totalidade de obrigações também de curto prazo, demonstrando a capacidade de pagamento das dívidas vencíveis no exercício seguinte ao do balanço.

LIQUIDEZ SECA

LS

Ativo Circulante – Estoques Passivo Circulante

Indica o quanto à empresa dispõe de recursos circulantes, sem vender seus estoques, para pagamento de todos os compromissos existentes no passivo circulante. Cuidado, pois, nem sempre um índice de LS baixo indica sintoma de situação financeira apertada. Como exemplo, cita-se um supermercado, cujo investimento em estoques é elevado, o que poderá prejudicar a sua avaliação de crédito quanto à LS.

LIQUIDEZ GERAL

LG

Ativo Circulante + RLP Passivo Circulante + ELP

Indica o quanto a empresa possui em dinheiro, bens e direitos realizáveis a curto e longo prazo, para fazer face as dívidas totais. Como os demais índices, a LG não deve ser analisada isoladamente, pois pode ocorrer, num ano em que a empresa adquira um vultoso financiamento, investindo-o totalmente no Ativo Permanente, reduza sensivelmente sua LG.

37

Quadro 2 – Índices de estrutura ou de endividamento Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006). Nota: (*) Passivo Circulante mais o Exigível a Longo Prazo ou são as dívidas com terceiros, vencíveis no curto e longo prazos.

ÍNDICE SÍMB. FÓRMULA OBJETIVO

PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE

TERCEIROS

PCT

Capitais de Terceiros* X 100 Patrimônio Líquido

Indica quanto a empresa recorreu a capitais de terceiros, para cada unidade de capital próprio. A análise deste indicador por diversos exercícios mostra a política de obtenção de recursos da empresa, permitindo a uma instituição financeira avaliar se a empresa tem maior dependência de recursos de terceiros ou se está utilizando predominantemente recursos próprios.

ENDIVIDAMENTO GERAL

EG

Capitais de Terceiros X 100

Ativo Total

Indica a proporção de recursos de terceiros financiando o Ativo da empresa e, complementarmente, a fração do Ativo que está sendo financiada pelos recursos próprios. A adequada análise deste índice dependerá, entre outros aspectos, de comparações com os índices de outras empresas do mesmo setor econômico, da tendência demonstrada na análise de diversos exercícios, da composição do endividamento (curto ou longo prazo) e, ainda, do custo financeiro dessas dívidas.

COMPOSIÇÃO DAS EXIGIBILI

DADES

CE

Passivo Circulante X 100 Capitais de Terceiros

Indica a qualidade das dívidas com terceiros em termos de prazo, comparando o montante de obrigações vencíveis no curto prazo com o endividamento total. Admite-se que, quanto mais curto o vencimento das obrigações, maior será o risco oferecido pela empresa, enquanto que o endividamento concentrado no longo prazo, principalmente decorrente de investimentos efetuados, sugere situação mais tranqüila no curto prazo.

IMOBILIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO

LÍQUIDO

IPL

Ativo Permanente X 100 Patrimônio Líquido

Indica quanto do Ativo Permanente da empresa é financiado pelo seu Patrimônio Líquido, evidenciando a maior ou menor dependência de aporte de recursos de terceiros para manutenção dos negócios. A análise deste índice permite ao analista conhecer as decisões estratégicas da empresa, quanto a expansão, compra, aluguel ou leasing de equipamentos, pois são investimentos que caracterizam o risco da atividade empresarial.

PASSIVO ONEROSO

SOBRE ATIVO

POSA

PCF + ELP X 100

Ativo Total

Indica a participação das fontes onerosas de capital no financiamento dos investimentos totais da empresa, revelando sua dependência, principalmente, a instituições financeiras. Supõe-se que todo Exigível a Longo Prazo seja oneroso, caso contrário, deverá ser feita exclusão da parcela não-onerosa.

38

De maneira geral, seu resultado para efeito de concessão de crédito será

considerado quanto menor melhor para a segurança do credor.

De acordo com Braga (1995), não se pode concluir que uma empresa esteja

em melhor situação do que outra apenas porque apresentou menores percentuais

nesses índices. Contudo, se ela exibir elevada participação de recursos de terceiros

em relação ao capital próprio, predominância de dívidas de curto prazo, alta

imobilização de seus recursos próprios e forte dependência de fontes onerosas no

financiamento do ativo, o analista deverá tomar cautela na avaliação da situação

financeira da mesma.

2.3.4.3. Indicadores de prazos médios ou de atividade

Os índices de atividade revelam a política de compra, fabricação, estocagem,

venda e recebimento da empresa, constituindo-se em categoria de extrema

importância para o analista de crédito, pois a partir deles pode-se constatar a

eficiência com que os recursos aplicados na atividade operacional estão sendo

administrados. Esses indicadores, também conhecidos como índices de rotação,

indicam em quantos dias, em média, levam para girar durante o exercício, não

devendo ser analisados individualmente, mas sempre em conjunto.

Para Silva (1995), os índices de atividade contribuem muito na interpretação

da liquidez e da rentabilidade da empresa, na medida em que servem de indicadores

dos prazos médios de estoques, recebimento das vendas e pagamento das

compras.

Os índices de prazos médios comumente utilizados estão descritos no

Quadro 3. Do ponto de vista de análise de risco, quanto maior a velocidade de

recebimento de vendas e de renovação dos estoques, melhor. Por outro lado,

quanto maior o prazo médio de pagamento das compras, desde que não

corresponda a atrasos, melhor.

No cálculo do Prazo Médio de Compras (PMC) para as empresas comerciais,

caso não informado o montante de compras, o valor deverá ser estimado a partir da

tradicional Fórmula 1 do cálculo do Custo da Mercadoria Vendida (CMV):

CMV = EI + C – EF =>C = CMV – EI + EF (Fórmula 1)

39

Onde: EI = Estoque inicial EF = Estoque final C = Compras

ÍNDICE SÍMBOLO FÓRMULA OBJETIVO

PRAZO MÉDIO DE COMPRAS

PMC

Fornecedores Médios X 360

Compras

Indica quantos dias, em média, a empresa vem obtendo de seus fornecedores para pagamento das compras de matérias-primas e/ou mercadorias.

PRAZO MÉDIO DE ESTOQUES

PME

Estoques Médios X 360

CMV

Indica quantos dias, em média, a empresa renova seus estoques. A forma como ela vem financiando seus estoques, seja com recursos próprios ou com endividamento bancário, é fundamental para o analista de crédito.

PRAZO MÉDIO DE

RECEBIMENTO

PMR

Duplicatas a Receber Médias X 360

Receita Operacional Bruta

Indica quantos dias, em média, a empresa leva para o efetivo recebimento das vendas de seus produtos. O volume de duplicatas a receber decorre do montante de vendas a prazo e do prazo concedido aos clientes para pagamento.

Quadro 3 – Índices de prazos médios ou de atividade Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

Na fórmula de cálculo do PME, o analista de crédito deverá atentar caso a

empresa tenha algum tipo de sazonalidade em suas atividades, pois o resultado

obtido poderá carregar alguma distorção, tendo em conta a utilização dos estoques

de datas de encerramento dos exercícios.

No caso da receita operacional bruta, usada como denominador para o

cálculo do Prazo Médio de Recebimento (PMR), deverão ser descontados os valores

referentes às “devoluções e abatimentos sobre vendas” ocorridas no período.

Matarazzo (2003, p.318) relata que a análise dos indicadores de atividade só

é útil quando os três prazos são analisados conjuntamente. Conjugando os índices

de PME e PMR, apura-se o Ciclo operacional (CO) e, subtraindo-se deste o PMC,

tem-se a idéia do “ciclo financeiro” da empresa.

O CO indica o tempo decorrido entre o momento em que a empresa compra

as matérias-primas/mercadorias e o momento em que recebe o dinheiro relativo às

vendas. Assim, pode ser representado conforme a Figura 2.

40

Figura 2 – Ciclo operacional Fonte: Elaborada Pelo Pesquisador (2006).

O CO é tratado como um período em que são investidos recursos nas

operações sem que ocorram necessariamente as entradas de caixa

correspondentes. Isso significa que parte do capital de giro é financiada pelos

fornecedores que concederam prazo para pagamento.

Fato importante a ser observado da análise de balanços é que o CO da

empresa pode variar em função do setor de suas atividades. As empresas com ciclo

inferior a um ano evidenciam maior giro para os investimentos operacionais. Por

outro lado, as atividades como construtoras, por exemplo, exigem a presença de

volume maior de financiamento de capital de giro. A partir do ciclo operacional pode

ser identificado o Ciclo Financeiro (CF) da empresa.

Quanto ao CF, também é conhecido como ciclo de caixa. Trata-se do tempo

decorrido entre o instante do pagamento aos fornecedores pelas mercadorias

adquiridas e o recebimento pelas vendas efetuadas. É o período em que a empresa

necessita ou não de financiamento complementar para cobertura do seu ciclo

operacional. (FIGURA 3).

Figura 3 – Ciclo Financeiro Fonte: Elaborada Pelo Pesquisador (2006).

compra vende recebe

PME PMR

CICLO OPERACIONAL

compra vende recebe

CICLO OPERACIONAL

PME

PMP CICLO FINANCEIRO

PMR

paga

41

De acordo com Assaf Neto e Silva (1997, p.22), “o ciclo financeiro mede

exclusivamente as movimentações de caixa, abrangendo o período compreendido

entre o desembolso inicial de caixa (pagamento de materiais a fornecedores) e o

recebimento da venda do produto.“

Quanto maior o ciclo financeiro, mais recursos próprios e de terceiros,

onerosos, serão necessários para serem aplicados nas operações, provocando

custos financeiros mais altos e afetando a rentabilidade.

2.3.4.4. Índices de rentabilidade ou de retorno

Os índices de rentabilidade têm por objetivo avaliar o desempenho global da

empresa, em termos de capacidade de gerar lucros de todo o capital investido nos

negócios (próprios e de terceiros).

Na avaliação desses indicadores a atenção do analista de crédito deverá

estar voltada para a rentabilidade da empresa, o seu potencial de vendas, a sua

habilidade em gerar resultados e para a evolução dos custos e despesas.

De acordo com Silva (2006), antes da análise da rentabilidade é importante o

conhecimento sobre o desempenho comercial da empresa, dando ênfase às vendas

da companhia no período, comparativamente aos períodos anteriores e à

performance de seus concorrentes, utilizando também estudos setoriais como forma

de comparação.

A partir da confrontação de contas da Demonstração do Resultado do

Exercício e do grupamento de contas do Balanço Patrimonial são obtidos os índices

relacionados no Quadro 4, tendo em vista que os investimentos realizados no Ativo

da empresa geram Receita e, por conseguinte, Lucro.

É importante destacar que os indicadores de retorno são estruturados de

diferentes formas por diversos autores, encontrando-se divergências nas

considerações e na quantidade de índices analisados. No entanto, é relevante

estabelecer um critério e analisar cada empresa de acordo com o seu porte e ramo

de atividade.

42

ÍNDICE SÍMB. FÓRMULA OBJETIVO

RENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO

LÍQUIDO

RPL

Lucro Líquido X 100 PL Médio

Indica quanto os proprietários da empresa estão obtendo de retorno em relação aos seus capitais investidos no negócio. Permite ainda, além de avaliar a remuneração do capital próprio, analisar se esse rendimento é compatível com outras alternativas de aplicação.

MARGEM OPERACIONAL

DE LUCRO

MOL

Lucro Operacional X 100 ROL

Indica o ganho operacional da empresa (resultado antes das receitas e despesas não operacionais) em relação ao seu faturamento. É uma medida de lucratividade, que representa a capacidade da companhia em gerar resultado com suas vendas.

MARGEM LÍQUIDA DE

LUCRO

ML Lucro Líquido X 100 ROL

Indica o ganho líquido da empresa em cada unidade de venda.

ROTAÇÃO DO ATIVO

RA

Receita Operacional Líquida

Ativo Total Médio

Indica quantas vezes o Ativo Total da empresa girou durante o período, ou seja, comparando o faturamento do período com o investimento total, indica quantas vezes a empresa conseguiu “vender o seu Ativo”. Avalia o nível de eficiência com que são utilizados os investimentos na empresa, isto é, o Ativo Total.

RENTABILIDADE

DOS INVESTIMENTOS

RI

Lucro Operacional X 100 Ativo Total Médio

Indica o resultado obtido pela empresa em relação aos seus investimentos totais (ativo total). É também conhecida como Taxa de Retorno dos Investimentos (TRI) ou Poder de Ganho da Empresa (PGE).

Quadro 4 – Índices de rentabilidade ou de retorno Fonte: Elaborada Pelo Pesquisador (2006).

2.3.5. Análise dinâmica do capital de giro

A análise dinâmica é uma metodologia de análise de balanço utilizada com

relevância pelos analistas de crédito de bancos no diagnóstico sobre a situação

econômico-financeira de seus clientes pessoas jurídicas. Neste trabalho ganha

ainda mais importância pelo fato de que na análise de dados, realizada por meio da

análise discriminante, algumas variáveis independentes são compostas de

grupamentos de contas criadas da reclassificação do balanço patrimonial proposta

pelo Modelo Fleuriet. (FLEURIET; KEHDY e BLANC, 2003).

43

2.3.5.1. Histórico da implementação do Modelo Fleuriet

O Modelo Fleuriet, também conhecido como método de análise dinâmica

financeira das empresas, análise dinâmica do capital de giro ou necessidade de

capital de giro, surgiu no Brasil no final dos anos 70, a partir de um estudo elaborado

pelo professor francês Michel Fleuriet em conjunto com uma equipe de profissionais

da Fundação Dom Cabral (FDC). O intuito era identificar um modelo de análise para

as estruturas financeiras das empresas brasileiras, até então focado nos parâmetros

da análise tradicional, ou seja, nos indicadores convencionais de liquidez e

endividamento extraídos do balanço patrimonial.

Os parâmetros de análise tradicional de balanço foram criticados por Fleuriet,

principalmente quanto às limitações dos índices de liquidez, pois esses não

costumam fornecer informações mais conclusivas a respeito de determinada

evolução na posição financeira corrente e esperada da empresa, omitindo

principalmente as efetivas necessidades de investimento em capital de giro. Em sua

opinião, a interpretação da situação financeira de uma empresa, quando baseada no

balanço, tende a ser uma visão estática incompatível com o dinamismo do cotidiano

empresarial, sendo seu principal norteador a construção de um método que se

adaptasse a um cenário sob constante mutação e imprevisibilidade e não uma

simples importação de modelos exógenos à nossa realidade.

Silva (1995) relata que a análise dinâmica é uma metodologia de relativa

simplicidade e de muita utilidade no auxílio da determinação da saúde financeira de

uma empresa, fornecendo uma visão sistêmica do impacto das diversas áreas de

decisão na empresa e de suas interações.

A análise dinâmica procura evidenciar a capacidade da empresa em liquidar

seus compromissos, operando normalmente. Dessa forma, procura determinar o

montante da necessidade de capital de giro, sua variação e sua forma de

financiamento.

Ao contrário da análise tradicional, que pressupõe o fechamento da empresa,

a nova abordagem preocupa-se com a manutenção do empreendimento a partir da

obtenção de lucro para alavancagem do giro, para a remuneração dos capitais

próprios e pagamento das despesas financeiras dos empréstimos onerosos de

terceiros.

44

Para compreensão do modelo, as contas do ativo e do passivo do balanço

tradicional são reorganizadas da maneira indicada no Quadro 1, consideradas em

relação à realidade dinâmica das empresas, em que as contas são classificadas de

acordo com a velocidade com que se movimentam.

Como resultado, têm-se, numa análise de curto prazo, aquelas contas que

apresentam movimento contínuo ou cíclico, as que podem ser consideradas

permanentes e não cíclicas e, por último, as que possuem rotação descontínua e

errática.

Segundo Assaf Neto e Silva (1997, p. 53):

uma importante metodologia de estudo da posição de equilíbrio de uma empresa é aquela baseada na distinção de seus ativos e passivos circulantes em itens operacionais (ou cíclicos) e financeiros (ou erráticos). Além de proporcionar uma avaliação mais analítica da posição financeira da empresa, o critério permite, ainda, de maneira relativamente simples e dinâmica, que se identifiquem as efetivas necessidades de capital de giro da empresa, ou seja, o volume de investimento operacional em giro adequado a seu equilíbrio financeiro.

À medida que o envolvimento da instituição financeira aumenta por meio dos

créditos concedidos, faz-se necessário ampliar a análise e a visão da situação

econômico-financeira do cliente, principalmente quanto à sua capacidade de

assegurar condições de liquidação aos compromissos financeiros. Daí a relevância

da análise dinâmica, focada na capacidade financeira de uma empresa em liquidar

suas diversas obrigações nos prazos pactuados.

Dessa maneira, numa primeira etapa, os Ativos Realizáveis a Longo Prazo e

Permanente são abrangidos no Ativo Não Circulante (ANC), ao Passivo que o

Exigível a Longo Prazo, resultado de exercícios futuros e Patrimônio Líquido (PL)

incluídos no Passivo Não Circulante (PNC).

Na segunda etapa desmembram-se os elementos de curto prazo em seus

componentes financeiro (ou errático) e cíclico (operacional), sendo que as contas

cíclicas mantêm estreita relação com a atividade operacional da empresa.

45

Quadro 5 – Estrutura do balanço patrimonial para fins de análise dinâmica Fonte: Adaptado de Silva (1995).

As duplicatas a receber, estoques, adiantamentos a fornecedores, despesas

antecipadas, impostos a recuperar, fornecedores, salários e encargos sociais,

impostos a pagar e adiantamentos de clientes possuem natureza cíclica, renovando-

se de maneira constante no decorrer das operações normais do negócio. Nesse

aspecto, os elementos cíclicos do ativo integram o ativo circulante cíclico (ACC),

enquanto os do passivo o passivo circulante cíclico (PCC).

Importante ressaltar que vários trabalhos destacam-se as contas “Estoques” e

“Clientes” na composição do ACC, em função da representatividade destas nas

atividades operacionais das empresas comerciais, foco deste estudo. No entanto, a

conta “Tributos a recuperar ou a compensar”, constituída de créditos fiscais, muitas

vezes apresenta saldo significativo, tornando-se ainda mais relevante no contexto

atual com a edição das leis 10.637/02, 10.833/03 e 10.865/04, instituidoras da não-

cumulatividade do PIS e da COFINS. Dessa forma, faz-se necessário que o analista

de crédito apure o saldo dessa rubrica corretamente, a fim de avaliar o impacto dos

valores na análise dinâmica do capital de giro.

ATIVO PASSIVO

Ativo Circulante Financeiro (ACF) • Caixas e bancos • Aplicações financeiras • Títulos e valores mobiliários

Passivo Circulante Financeiro (PCF) • Duplicatas e cambiais descontadas • Empréstimos/Financiamentos

Bancários • Empréstimos Coligadas/Sócios • Dividendos a pagar • Provisão IR/C. Social

CIR

CU

LA

NT

E

Ativo Circulante Cíclico (ACC) • Clientes ou Duplicatas a receber • (-)Provisão para devedores duvidosos • Estoques • Adiantamento a fornecedores • Impostos a recuperar • Despesas antecipadas • Outros valores a receber

Passivo Circulante Cíclico (PCC) • Fornecedores • Encargos trabalhistas e sociais • Tributos a pagar • Adiantamento de clientes • Outros valores a pagar

CIR

CU

LA

NT

E

O C

IRC

UL

AN

TE

Ativo Realizável a Longo Prazo (RLP) • Clientes • Sócios/Ligadas/Grupo Empresarial • Impostos a recuperar • Outros valores a receber Ativo Permanente (AP) • Investimentos • Imobilizado • Diferido

Passivo Exigível a Longo Prazo (ELP) • Financiamentos Bancários • Fornecedores • Debêntures • Impostos parcelados • Outros valores a pagar Resultado de Exercícios Futuros (REF) Patrimônio Líquido (PL) • Capital Realizado • Reservas • Lucros/Prejuízos acumulados

O C

IRC

UL

AN

TE

46

Em contrapartida, nos grupos circulantes existem aquelas outras contas cujos

níveis não sofrem efeitos diretos em decorrência do volume de atividade

desenvolvido. Em geral, surgem de decisões administrativas ou negociadas, alheias

às atividades de produção e vendas. O Ativo Circulante Financeiro (ACF), de

natureza errática, compõe-se dos itens disponibilidades (caixa, bancos, aplicações

financeiras, títulos e valores mobiliários). Já o Passivo Circulante Financeiro (PCF)

abrange as duplicatas descontadas, adiantamentos de contratos de câmbio,

empréstimos e financiamentos, provisão para Imposto de Renda (IR) e contribuição

social e dívidas não provenientes das atividades normais do empreendimento.

A partir da reclassificação do balanço patrimonial em operacional, financeiro e

não circulante, Fleuriet isolou e combinou três variáveis (Necessidade de Capital de

Giro, Capital de Giro e Saldo de Tesouraria), permitindo interpretar as decisões dos

gestores, identificar suas conseqüências e nortear os rumos para o futuro. Essa

ordenação (padronização) das contas facilitou a estruturação dos conceitos básicos

da Análise Dinâmica.

2.3.5.2. Necessidade de Capital de Giro

Também conhecida como investimento operacional em giro (IOG), a análise

da Necessidade de Capital de Giro (NCG) enfoca o ciclo operacional da empresa,

sendo calculada pela diferença entre as aplicações operacionais (Ativo Circulante

Cíclico) e as fontes operacionais (Passivo Circulante Cíclico), que se renovam

automaticamente no dia-a-dia e estão ligadas às atividades da empresa, ocorrendo

de forma espontânea e natural.

Complementando, Brasil e Brasil (2002, p.7) colocam que a NCG é a

“diferença entre as contas cíclicas do Ativo e as contas cíclicas do Passivo. Esse

conceito irá medir a defasagem do tempo e valor entre as operações que as contas

representam." (FIGURA 4).

47

Figura 4 – Cálculo da Necessidade de Capital de Giro Fonte: Elaborada Pelo Pesquisador (2006).

De acordo com Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003 p. 9), “a NCG é muito sensível

às modificações que ocorrem no ambiente econômico em que a empresa opera.

Assim, modificações como redução de crédito de fornecedores, aumento de

estoques, entre outros, alteram, em curto prazo, a NCG da empresa”.

Assaf e Silva (1997 p. 56) complementam dizendo que:

a necessidade de investimento em capital de giro depende fundamentalmente do volume de atividade (produção e venda) da empresa e de seu ciclo financeiro, definido pelas características da natureza de seus negócios e sazonalidades, que determinam os giros (rotações) das fases operacionais e os valores das contas cíclicas.

Considerando que a NCG é apurada pela diferença entre as aplicações

cíclicas e as origens de recursos cíclicos, seu valor pode ser tanto positivo quanto

negativo, como mostra a Fórmula 2.

ACC > PCC = NCG POSITIVA (Fórmula 2)

É a situação normal na maioria das empresas, evidenciando que precisam

obter recursos para financiar o giro dos negócios. Para complementar tais

necessidades contam normalmente com três tipos de financiamentos: capital de giro

próprio (lucros gerados pela atividade); empréstimos e financiamentos bancários de

longo prazo; e empréstimos bancários de curto prazo. (FÓRMULA 3).

ACC < PCC = NCG NEGATIVA (Fórmula 3)

Nesse caso as operações da empresa são geradoras de recursos disponíveis

para aplicação. A sobra de recursos das atividades operacionais pode ser utilizada

para financiar o ativo permanente ou aplicada no mercado financeiro.

PASSIVO CIRCULANTE

CÍCLICO

ATIVO CIRCULANTE

CÍCLICO

NECESSIDADE DE CAPITAL DE

GIRO

APLICAÇÕES OPERACIONAIS

FONTES OPERACIONAIS

NCG

-

-

=

=

48

A NCG ou IOG também pode apresentar-se de maneira permanente ou

sazonal:

a) NCG ou IOG Permanente - próprio de empresas cujo nível de atividade de

produção e vendas é distribuído com certa homogeneidade ao longo do

ano.

b) NCG ou IOG Sazonal - característico das empresas com forte concentração de atividades em certas épocas do ano. É o caso das empresas que produzem brinquedos, artigos juninos, natalinos, etc.

De certo modo, o perfil da necessidade de capital de giro é “um importante

fator de definição da estrutura financeira da empresa, porque representa uma

aplicação permanente de recursos no giro das operações e condiciona o leque de

alternativas estratégicas de investimento e financiamento à sua disposição” (VIEIRA,

2005, p.80).

2.3.5.3. Capital de Giro

O Capital de Giro (CDG) é outra variável importante do modelo Fleuriet,

sendo determinada pela diferença entre o PNC e o ANC, contemplando as contas de

longo prazo que parecem estacionárias se comparadas com as cíclicas

(operacionais). De modo geral, os recursos permanentes da empresa são utilizados

para financiar as aplicações permanentes, ou seja, o patrimônio líquido e certas

contas do exigível a longo prazo vão financiar os ativos realizável a longo prazo e

permanente da empresa.

Vieira (2005) salienta que a NCG, quando positiva, representa uma aplicação

de recursos permanente e de longo prazo que deve ser financiada com a utilização

dos fundos de longo prazo à disposição da empresa, ou seja, pelo CDG.

Figura 5 – Cálculo do Capital de Giro Fonte: Elaborada Pelo Pesquisador (2006).

ATIVO NÃO CIRCULANTE

PASSIVO NÃO CIRCULANTE

CAPITAL DE GIRO

FONTES DE LONGO PRAZO

APLICAÇÕES DE LONGO PRAZO

CDG

-

- =

=

49

A Figura 6 mostra a comparação do CDG com o Capital Circulante Líquido

(CCL), sendo este definido no sentido clássico como a diferença entre o ativo e o

passivo circulantes. Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 11) afirmam que “possuem o

mesmo valor.”

Figura 6 – Comparação do Capital de Giro com o Capital Circulante Líquido Fonte: Elaborada Pelo Pesquisador (2006).

No entanto, segundo Vieira (2005), a base de interpretação das variáveis é

muito diferente. Enquanto o CCL representa um excedente de bens e direitos

disponíveis em curto prazo (Ativo Circulante) em relação às obrigações de curto

prazo (Passivo Circulante), o CDG significa um excedente de fontes de longo (PL +

Exigível a Longo Prazo ) em relação às aplicações de longo prazo (Realizável a

Longo Prazo + Ativo Permanente ).

O CDG pode assumir tanto valores positivos quanto negativos, considerando-

se o montante das fontes de longo prazo disponíveis e das aplicações também de

longo prazo realizadas pela empresa. (FÓRMULA 4).

PNC > ANC = CDG POSITIVO (Fórmula 4)

Quando positivo, significa que o CDG é uma fonte de recursos de longo

prazo, disponível para financiar a NCG, caso positiva, e outras aplicações.

(FÓRMULA 5).

PNC < ANC = CDG NEGATIVO (Fórmula 5)

Caso o CDG seja negativo, significa que a empresa pode estar imobilizando

recursos operacionais (NCG negativa) ou recursos onerosos de curto prazo, o que

poderá ocasionar aumento no risco de inadimplência da empresa.

CCL = ATIVO CIRCULANTE - PASSIVO CIRCULANTE

CDG = (EXIGÍVEL A LONGO PRAZO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO) – (REALIZÁVEL

A LONGO PRAZO + ATIVO PERMANENTE)

50

2.3.5.4. Saldo de Tesouraria

O Saldo de Tesouraria (ST) é a terceira medida abordada por Fleuriet na

análise dinâmica, sendo obtido pela diferença entre as contas de ativo e passivo

circulantes que não guardam relação com a atividade operacional da empresa, ou

seja, os grupamentos de contas denominados ACF e PCF. Também representa um

valor residual correspondente à diferença entre o CDG e a NCG, como mostra a

Figura 7.

Caso o CDG não seja suficiente para financiar a NCG, o ST apresentará

negativo. (FÓRMULA 6).

CDG < NCG = CDG NEGATIVO (Formula 6)

Neste caso, o PCF será maior que o ACF, significando que a empresa utiliza

recursos onerosos de curto prazo para o financiamento da NCG e/ou parte do ativo

não circulante.

Figura 7 – Cálculo do Saldo de Tesouraria Fonte: Elaborada Pelo Pesquisador (2006).

Quando o ST, período após período, se revelar crescentemente negativo é

sinal que a empresa caminha para a insolvência ou overtrade, não sendo

preocupante o fato isolado do ST ser negativo.

Se o ST for positivo, isto significa que a empresa tem disponibilidade de

recursos que poderão ser aplicados no mercado financeiro e utilizados a qualquer

momento no aproveitamento de oportunidades negociais. (FÓRMULA 7).

PASSIVO CIRCULANTE FINANCEIRO

ATIVO CIRCULANTE FINANCEIRO

SALDO DE TESOURARIA

APLICAÇÕES DE CURTO PRAZO

FONTES DE CURTO PRAZO

ST

CDG

NCG

ST -

-

-

=

=

=

51

CDG > NCG = CDG POSITIVO (Fórmula 7)

De acordo com Fleuriet, Kehdy, Blanc (2003, p.14) é importante observar que

um ST positivo e elevado não significa necessariamente condição desejável para a

empresa; pelo contrário, pode significar o não aproveitamento das oportunidades de

investimentos propiciadas por sua estrutura financeira, caso em que o ST “engorda”

por falta de uma estratégia dinâmica de investimentos.

2.3.5.5. Estruturas financeiras e níveis de risco

A integração das três variáveis do Modelo Fleuriet (CDG, NCG e ST) fornece

um modelo sobre a situação econômico-financeira da empresa, sendo possível

detectar os principais problemas que afetam o equilíbrio empresarial, auxiliando os

analistas de crédito na análise de risco e no estabelecimento do limite de crédito a

ser concedido a determinada empresa. As principais questões a serem respondidas

pelos analistas a partir desse modelo são:

a) A empresa possui capital de giro para suas necessidades cíclicas?

b) À medida que não possui recursos próprios para giro dos negócios, quais

as fontes utilizadas para suprir a falta?

c) Se a empresa possui capital de giro mais do que suficiente para suas

necessidades, o que está sendo feito com o excesso?

d) Quais os fatores que estão acarretando a falta de recursos para o giro?

e) A empresa está caminhando para um desequilíbrio econômico-financeiro?

f) As políticas financeiras de curto prazo - política de estoques, política de

crédito, política de compras, dentre outras - estão adequadas à estrutura

de capitais da empresa?

g) O capital de giro disponível vem acompanhando o crescimento das

necessidades imprimidas pelo nível dos negócios?

h) Os investimentos no Ativo Permanente estão pressionando a situação

financeira?

i) A distribuição dos lucros sob a forma de dividendos está compatível com

as necessidades de retenção?

j) A rentabilidade é adequada?

52

De acordo com Vieira (2005), pesquisas indicam que para a grande parte das

empresas brasileiras, a NCG representa uma demanda operacional de recursos que

precisa ser financiada. Esse financiamento é realizado pelas fontes de longo prazo à

disposição da empresa por meio do CDG complementadas, caso necessário, pelos

recursos de curto prazo do ST. Dessa forma, os recursos de longo prazo do CDG

(CDG > 0) se somam aos recursos financeiros de curto prazo contidos no ST (ST <

0), para o financiamento da demanda originada pela dinâmica das atividades

representada pela NCG (NCG > 0).

Neste sentido, a equação básica que demonstra a integração das três

variáveis pode ser descrita por ST = CDG – NCG, significando que as fontes

onerosas de curto prazo utilizadas (ST) serão sempre um saldo residual resultante

da diferença entre o volume das fontes de longo prazo disponíveis (CDG) e o

montante de aplicações operacionais a serem financiadas (NCG).

Considerando-se que as variáveis CDG, NCG e ST podem assumir valores

positivos ou negativos, constituindo-se em fontes ou aplicações de recursos, Fleuriet

diagnosticou alguns tipos de estruturas financeiras (QUADRO 6) a partir da

combinação das três variáveis.

Quadro 6 – Estruturas financeiras e níveis de risco

Fonte: Adaptado de Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003).

Na realidade, Fleuriet identificou seis tipos de estruturas financeiras das

empresas. Contudo, na prática, os tipos I, II, III e VI citados no QUADRO 2

aparecem com mais freqüência, sendo comentados nos Quadros 7, 8, 9 e 10

adaptados pelo pesquisador a partir de apostila elaborada por analistas de crédito

do Banco do Brasil S/A (2005) e comentários de Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) e

Vieira (2005).

TIPOS CDG NCG ST INTERPRETAÇÃO I Positivo Negativa Positivo Situação de excelente liquidez II Positivo Positiva Positivo Situação financeira sólida III Positivo Positiva Negativo Situação financeira insatisfatória IV Negativo Negativa Positivo Alto risco de insolvência V Negativo Negativa Negativo Situação financeira muito ruim VI Negativo Positiva Negativo Péssima situação financeira

53

CDG > 0 NCG < 0 ST > 0

NCG < 0

ST > 0 CDG > 0

Situação típica de empresas que vendem à vista e compram a prazo (ex.: supermercados). É uma estrutura sólida, decorrente, em geral, de uma gestão financeira voltada para a manutenção de baixos níveis de risco financeiro. Quando as vendas aumentam sua posição financeira é excelente, mas no caso de queda acentuada pode indicar elevação de risco.

Quadro 7 – Estrutura financeira: Tipo I Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

CDG > 0 NCG > 0 ST > 0

ST > 0

NCG > 0

CDG > 0

Revelam de forma geral estrutura financeira sólida em que sobram recursos financeiros (Saldo de Tesouraria) em curto prazo para fazer face a aumentos temporários da NCG. É uma estrutura confortável, pois existe disponibilidade de recursos de longo prazo aplicados ao curto prazo.

Quadro 8 – Estrutura financeira: Tipo II Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

CDG > 0 NCG > 0 ST < 0

ST < 0 NCG > 0

CDG > 0

É a situação encontrada com mais freqüência nas empresas brasileiras. A NCG positiva evidencia uma demanda operacional que é suprida por meio por meio da composição de recursos de longo prazo oriundos do CDG e de curto prazo originários do ST. Desta forma, a empresa financia parte de seu giro com recursos onerosos de curto prazo. Cuidado especial em saber se os créditos de curto prazo serão renovados.

Quadro 9 – Estrutura financeira: Tipo III Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

CDG < 0 NCG > 0 ST < 0

NCG > 0

CDG < 0

ST < 0

Situação financeira precária com elevado risco de insolvência/liquidez. Empresas desse tipo financiam seu giro e parte do Ativo Permanente com créditos onerosos de curto prazo, ou seja, o ST é responsável por financiar a NCG e o CDG, ocasionando uma situação de alto risco financeiro por causa da elevada dependência dos empréstimos bancários de curto prazo. Embora seja difícil obter a informação, o analista deve dispensar cuidado especial em avaliar se os créditos de curto prazo serão renovados.

Quadro 10 – Estrutura financeira: Tipo VI Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

O acompanhamento do comportamento dessas variáveis e a relação entre

elas podem representar a diferença entre o fracasso e o sucesso da gestão

financeira de uma empresa. Para tanto, há necessidade que essa ação seja

preventiva e dinâmica, como o próprio modelo propõe.

54

Silva (1995) demonstra os fatores que contribuem para a modificação das

variáveis. (QUADRO 11).

Quadro 11 - Fatores que aumentam ou diminuem as variáveis Fonte: Adaptado de Silva (1995).

2.3.5.6. Efeito tesoura ou overtrading

O efeito tesoura é outro importante conceito tratado pelo Modelo Fleuriet,

sendo um indicador que evidencia o descontrole no crescimento da dependência de

fontes onerosas de curto prazo, tornando-se essa excessiva dependência um

problema de liquidez.

Fleuriet e Brasil (1979) caracterizam o efeito tesoura como conseqüência de

um "ST" crescentemente negativo, ou seja, a empresa está operando com CDG

insuficiente para financiar a NCG. Desta forma, o efeito tesoura é decorrente de um

VARIÁVEL CARACTERÍSTICAS AUMENTA COM DIMINUI COM

NC

G =

AC

C -

PC

C

De natureza operacional • quando positiva - o ciclo operacional é mais longo que o prazo médio de pagamento, necessitando de investimento em giro

• quando negativa - o ciclo operacional é menor que o prazo médio de pagamento, representando recursos financiados por terceiros (não onerosos)

• crescimento no volume de vendas

• aumento da estocagem

• aumento do processo de produção

• políticas de crédito agressivas, com aumento do prazo de recebimento

• redução do prazo de pagamento

• redução das vendas • velocidade no giro dos

estoques • velocidade no

processo produtivo • políticas de crédito

mais conservadoras • aumento do prazo

com fornecedores

CD

G =

PN

C -

AN

C De natureza estratégica e

operacional • quando positivo - fonte líquida de recursos permanentes

• quando negativo - aplicação líquida em itens permanentes. incapacidade da empresa de ter giro com capital próprio ou de longo prazo

• geração de lucros • aporte de capital • captação de recursos onerosos de longo prazo

• diminuição de investimentos em ativos não circulantes

• ocorrência de prejuízo retirada de capital

• distribuição de lucros • amortização de

financiamentos • aumento de

investimentos em ativos não circulantes

ST

= A

CF

- P

CF

De natureza errática Dependente da NCG e do CDG

• quando positivo - empresa com sobra de recursos financeiros de curto prazo

• quando negativo - empresa dependente de recursos financeiros de curto prazo

• aumento do CDG • redução da NCG

• redução do CDG • aumento da NCG

55

desequilíbrio entre o comportamento da NCG e do CDG, provocando um

crescimento significativo do "ST".

De acordo com Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), a maioria das empresas que

operam com ST crescentemente negativo apresenta estrutura financeira

inadequada, revelando dependência excessiva de empréstimos de curto prazo, que

poderá levá-las, até mesmo, ao estado de insolvência.

Na avaliação da situação de liquidez da empresa, Vieira (2005) comenta que

esta deve ser acompanhada pela análise da tendência da evolução do ST em

relação à NCG e do cálculo do indicador ST/|NCG| ao longo de diversos períodos.

Na ocorrência de piora significativa e persistente desse indicador, em decorrência do

crescimento relativo do ST como uma fonte de recursos (ST < 0), pode-se identificar

a deterioração da situação financeira da empresa num processo denominado “efeito

tesoura”.

Silva (1995) complementa que a análise de tendência da NCG e do CDG ao

longo de um período igual ou superior a dois anos permite melhor entendimento dos

fatores que estão interferindo na deterioração da saúde financeira da empresa.

Destaca, ainda, que o efeito tesoura (FIGURA 8) só é alerta de tendência para

insolvência quando ocorre em níveis expressivos comparativamente às vendas da

empresa.

Figura 8 – Efeito tesoura Fonte: Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p.39).

A denominação “efeito tesoura” decorre do fato de que, elaborado por meio

da Figura 8 o processo que provoca o distanciamento das curvas da NCG

(aplicações operacionais) e do CDG (fontes de longo prazo) revela o efeito visual

semelhante ao obtido pelas duas partes de uma tesoura.

• •

NCG

ST

CDG

Tempo

R$

56

O espaço aberto entre as duas curvas representa a participação dos recursos

onerosos de curto prazo contidos no ST, utilizados para a cobertura da demanda

operacional de recursos (NCG).

O conceito de overtrading, segundo Assaf Neto e Silva (1997, p.72), refere-se

a uma forte expansão no volume de atividade de uma empresa, sem o devido lastro

de recursos disponíveis para financiar as necessidades adicionais de giro.

Sanvicente e Minardi (1998) destacam, conforme recomendado por Assaf Neto e

Silva, que uma análise dinâmica do overtrading é a mais apropriada para identificar

problemas futuros de inadimplência.

Ainda segundo Assaf Neto e Silva (1997), normalmente a empresa possui

limite financeiro capaz de suportar determinado volume de negócios. Quando o

volume de vendas exceder esse limite, ou quando a capacidade de financiar os

negócios se reduzir, tem-se uma conseqüente redução na margem de segurança da

empresa, verificando-se o que se denomina overtrading.

Silva (2006) atribui à palavra overtrade o significado de um ato de uma

empresa fazer negócios superiores aos seus recursos financeiros. Daí, overtrade

indica que uma empresa vem efetuando grande volume de negócios sem dispor de

recursos adequados e suficientes para financiar suas necessidades de capital de

giro, ou seja, a variação de seu CDG vem correndo em proporções inferiores à

variação da NCG.

Conforme apostila do curso Análise Financeira para o Crédito (ANFIC), do

BB, os principais sintomas que podem provocar o desequilíbrio econômico-financeiro

(overtrading) são de ordem interna e externa à empresa (QUADRO 12), devendo ser

observados não isoladamente pelo analista de crédito, mas sim de acordo com o

setor de atuação da analisada.

57

FATORES INTERNOS FATORES EXTERNOS • sistemática queda nos índices de liquidez • estado crônico de escassez de disponibilidades • lucro líquido muito baixo em relação ao

movimento dos negócios • declínio acentuado nas vendas reais • excesso de produção ou de estocagem não

absorvidos pelo mercado • obsoletismo do produto • ciclo financeiro crescente • elevado nível de participação das despesas

financeiras em relação às vendas • distribuição excessiva de lucros • ausência de preocupações com o processo

sucessório • dificuldades em pagar os débitos de

funcionamento • capacidade ociosa interferindo negativamente no

desempenho global da empresa • despreparo para atingir o estágio seguinte (de

pequeno porte para médio e de médio para grande)

• localização inadequada, por decisão empresarial • volume alto de devolução de vendas • envolvimento excessivo em atividades político-

partidárias

• globalização da economia • novas tecnologias • taxas alfandegárias • risco país • empresa operando sob efeito

“sanduíche”: adquire insumos/produtos de fornecedores oligopolizados que ditam abusivamente os preços e, na outra ponta, vende para poucos clientes de alto poder de barganha

• carga tributária excessiva • dificuldades na contratação de mão-de-

obra • sazonalidade do produto • intervenção governamental, via política

econômica • gastos forçados de adaptação para

atender a exigências de entidades de controle do meio ambiente

• desemprego • perda de fornecedor essencial,

mercado, etc. • aumento da concorrência • taxa de câmbio

Quadro 12 – Principais sintomas do overtrading Fonte: Adaptado da apostila do curso ANFIC (BB, 1998).

2.4. Modelos quantitativos de previsão de insolvência

Os modelos quantitativos de previsão de insolvência de empresas, utilizando-

se índices contábeis, têm sido discutidos e desenvolvidos amplamente nos últimos

33 anos no Brasil, com as mais variadas técnicas de análises de dados, despertando

o interesse do meio acadêmico pelo assunto, tendo em vista a grande importância

para as instituições financeiras e empresas em geral. De acordo com Atiya (2001), o

principal impacto dessas pesquisas tem sido na área de crédito bancário, visto que

os bancos poderiam evitar grandes perdas com um prognóstico correto sobre a

possibilidade de falência de um possível tomador.

Silva (2006) destaca que o uso de métodos quantitativos tem sido muito

divulgado nos últimos tempos, o que tem levado alguns bancos em busca desses

recursos para avaliação de risco de crédito de clientes. Vale ressaltar que os

referidos métodos podem prestar grande contribuição ao processo de análise, mas

58

não podem ser entendidos como uma receita milagrosa capaz de resolver todos os

problemas de análise de risco em todas as circunstâncias.

A utilização dos modelos de previsão de insolvência, segundo Horta e

Carvalho (2002), serve para medir e prever a “saúde financeira” de empresas,

minorando incertezas e dúvidas nas decisões tomadas, sendo construídos com

apoio em técnicas estatísticas (QUADRO 13) e aplicadas para analisar índices

econômico-financeiros selecionados obtidos a partir das demonstrações contábeis.

TÉCNICAS CONCEITO

ANÁLISE DISCRIMINANTE LINEAR (ADL)

Empregada para descobrir as características que distinguem os membros de um grupo dos de outro, de modo que, conhecidas as características de um novo indivíduo, se possa prever a que grupo pertence.

REGRESSÃO LOGÍSTICA

(LOGIT)

O modelo logit assume que a probabilidade cumulativa de perda de um crédito esteja situada entre 0 e 1 e que a probabilidade de perda seja logisticamente distribuída.

REDES NEURAIS (RN)

Sistemas computacionais empregados para tentar imitar o funcionamento do cérebro humano por meio do estímulo de uma rede de neurônios interligados que usam os mesmos dados empregados nas técnicas econométricas, mas chegam a um modelo de decisão por meio de implementações alternativas de um método de tentativa e erro.

Quadro 13 - Técnicas utilizadas para classificação e discriminação de empresas Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

A contribuição proporcionada pelos vários estudos de previsão de insolvência

é a identificação de variáveis ou índices que sejam significativos para discriminar

empresas que estejam em boa ou má situação financeira.

Os QUADROS 14, 15 e 16 apresentam uma análise-síntese dos primeiros

modelos desenvolvidos no exterior, predominantemente nos Estados Unidos. No

Brasil, são apontados os mais recentes trabalhos realizados por pesquisadores,

podendo-se observar as principais ferramentas estatísticas empregadas, o tamanho

da amostra e os indicadores mais significativos.

Cabe ressaltar que o Modelo Pereira2, desenvolvido por Silva (2006) será

apresentado detalhadamente no capítulo 6 na subseção 6.3.1.1.

2 O modelo ficou conhecido como “Modelo Pereira”, cujo objetivo básico era mostrar aos analistas e aos gestores de crédito uma ferramenta avançada que possibilitasse obter uma classificação quanto à saúde financeira das empresas.

59

AUTORES ESTUDO

MÉTODOS UTILIZADOS

AMOSTRA INDICADORES MAIS SIGNIFICATIVOS

FITZ PATRICK (1932)*

ADU (1)

Dezenove empresas que faliram entre 1920 e 1929, comparadas com outras 19 empresas bem sucedidas.

• PL/Passivo • Lucro Líquido/ PL

WINAKOR E SMITH (1935)*

ADU

Cento e oitenta e três empresas que faliram entre 1923 e 1931. Foram analisados os 10 anos que antecederam a falência, sendo observado que, à medida que se aproximava o ano da falência, os índices deterioravam-se

• Capital de Giro/Ativo Total

MERWIN (1942)*

ADU

Pequenas Sociedades Anônimas Manufatureiras. Examinou apenas três tipos de índices.

• Capital de Giro/Ativo Total

BEAVER (1966)*

ADU

Dados sobre falência, não pagamento de dividendos e inadimplência com debenturistas de 79 empresas, entre 1954 e 1964,comparados com dados de empresas com boa saúde financeira. Iniciou os estudos com 30 índices, concluindo que os mais significativos foram seis.

• Geração de Caixa/ Dívida Total

• Lucro Líquido/Ativo Total • Exigível Total/Ativo Total • Capital de Giro/Ativo Total • Liquidez Corrente Capital Circulante Líquido (Estoques)/ Desembolsos Operacionais Previstos

ALTMAN (1968)*

ADL

Utilizou 66 empresas americanas, sendo 33 concordatárias e 33 não concordatárias. Pioneiro no uso da análise discriminante múltipla, que ficou conhecido por Z-score.

Obteve uma equação para mensuração do risco, com informações sobre ativo e passivo circulante, lucros retidos, lucros antes dos juros e impostos, valor de mercado da empresa e vendas.

STEPHEN C.

KANITZ (1974)*

ADL

As 500 Melhores e Maiores empresas editada pela revista Exame. Pioneiro no uso da análise discriminante no Brasil. Modelo baseado na liquidez.

Desenvolveu uma equação considerando: retorno sobre PL,liquidez geral, seca, e corrente, e, por fim, o endividamento.

ELIZABETSKY

(1976)*

ADL

Trezentos e setenta e três empresas, sendo 99 ruins e 274 boas do setor de confecções, que apresentaram mais problemas de liquidez na época.

Utilizou um grupo de 38 índices, testando modelos com cinco, dez e quinze variáveis.

Quadro 14 - Trabalhos de previsão de insolvência (A) Fonte: Adaptado de Silva (2006*) e Eifert (2003**). Nota: (1) Análise Discriminante Univariada (ADU) - técnica que utilizava uma variável de cada vez, não levando em conta a interdependência que pode existir entre os indicadores de uma empresa.

60

Quadro 15 - Trabalhos de previsão de insolvência (B) Fonte: Adaptado de Silva (2006*) e Eifert (2003**).

AUTORES ESTUDO

MÉTODOS UTILIZADOS

AMOSTRA INDICADORES MAIS SIGNIFICATIVOS

ALBERTO MATIAS (1978)*

ADL

Cem empresas de diversos ramos de atividade, sendo 50 solventes e 50 insolventes.

Testou seis variáveis: PL/ativo total, financiamentos e empréstimos bancários (ativo circulante), fornecedores (ativo total), ativo circulante (passivo circulante), lucro operacional (lucro bruto) e disponível/ativo total

ALTMAN, BAIDYIA e

DIAS (1979)**

ADL

Adaptaram o modelo original de Altman (1968) para o caso brasileiro, utilizando 53 empresas nacionais, sendo que 23 estavam com problemas financeiros.

• PL– Capital Subscrito/Ativo Total

• Lucro antes de juros e impostos/Ativo Total

• PL/Passivo Circulante – Exigível a Longo Prazo

• Vendas/Ativo Total

SILVA (1982)*

ADL

Desenvolveu modelos para empresas industriais e comerciais, compostos respectivamente por 255 e 58 empresas.

Para empresas industriais criou os modelos Z1i e Z2i e para as comerciais Z1c e Z2c, com seis variáveis cada um.

ALMEIDA e SIQUEIRA

(1996)**

Logit e RN

Cinqüenta e quatro instituições bancárias, sendo 27 insolventes, definidas pelos autores como aquelas que sofreram processos de liquidação ou intervenção do Bacen.

Na classificação final das variáveis o modelo logit obteve melhor desempenho.

SANVICENT e MINARDI

(1998)

ADL

Noventa e duas empresas industriais com ações negociadas na Bovespa, dentre as quais 46 foram negociadas como concordatárias no período de 1986 a 1998.

Testaram 14 variáveis independentes, sendo a variável (ativo circulante -passivo total)/ativo total que apresentou maior poder de previsão de concordata.

HORTA E CARVALHO

(2002)

ADL e Logit

Setenta e seis empresas comercias e industriais com dados do período de 1996 a 2000, sendo 55 solventes e 21 insolventes.

Empregaram 36 indicadores econômico-financeiros refs. aos três últimos exercícios antes da concordata, com a inclusão de indicadores de fluxos de fundos, tais como: capital de giro líquido, necessidade de capital de giro e a relação entre o saldo de tesouraria e o ativo total.

MINUSSI, DAMACENA E NESS JR.

(2001)

Logit

Trezentos e setenta e três empresas industriais clientes de um determinado banco, sendo 168 solventes e 155 com pendências ou inadimplentes. A amostra foi separada em duas partes: uma utilizada para estimação do modelo (194 empresas) e, outra para testar a eficiência da classificação (129 empresas).

• Estoques/Custo das Mercadorias Vendidas

• Saldo de Tesouraria/ • Venda Líquida • Obrigações Tributárias e

Previdenciárias / Venda Média Mensal

• Passivo Circulante/PL/ Mediana do Setor

• IOG/Venda Líquida • Dívidas Bancárias / Ativo

Circulante

61

Quadro 16 - Trabalhos de previsão de insolvência (C) Fonte: Adaptado de Silva (2006*) e Eifert (2003**).

Na aplicação de um modelo de previsão de insolvência, cada autor direciona

seu estudo para um determinado setor e porte de empresas, ajustando, desta forma,

individualmente, cada índice com a finalidade de chegar à maior margem de

aproximação do grau de certeza.

De acordo com Minussi et al. (2002), ao aplicar um modelo preditivo de

insolvência, trabalha-se com a hipótese de que os problemas podem ser

identificados antecipadamente, pois a situação financeira de uma empresa tende a

sofrer um processo de deterioração progressiva até atingir o estágio de concordata

AUTORES ESTUDO

MÉTODOS UTILIZADOS

AMOSTRA INDICADORES MAIS SIGNIFICATIVOS

NARCISO AMÉRICO FRANZIN

(2002)

ADL

Quarenta micros e pequenas empresas da indústria e comércio localizadas nos municípios de Apucarana e Astorga, sendo 20 solventes e 20 insolventes.

Lucro Líquido/PL Ativo Circulante/Passivo Circulante Ativo Circulante –(Estoque)/Passivo Circulante PL/Estoques + Contas a Receber PL/Exigível Total

BERTUCCI et al. (2003)

ADL e Logit

Setecentos e cinqüenta e três micros e pequenas empresas do Estado de Minas Gerais atendidas pelo BDMG, sendo 301 empresas inadimplentes e 452 adimplentes, compreendendo o período de janeiro de 1998 a fevereiro de 2001.

Embora seus resultados não tenham sido significativos quanto à classificação das empresas, concluíram que quanto maiores a proporção de aplicação de recursos em investimento fixo e a de recursos próprios no financiamento, maiores serão as chances de inadimplência.

EIFERT (2003)

ADL e Logit

Constituída de 51 empresas industriais, especificamente da indústria de transformação, clientes de uma instituição financeira que receberam financiamento durante o período de 1996 a 1997, sendo 30 adimplentes e 21 inadimplentes.

• Lucro Bruto/Ativo Total • Receita Financeira/Ativo

Total • Resultado Financeiro/Ativo

Total • Despesa

Financeira/Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo

• Valor Total Financiado/Ativo Total

• Saldo de Tesouraria/Receita Operacional Líquida

• Lucro Líquido/Ativo Total • Ativo Circulante Financeiro/

Passivo Circulante • PL – Ativo Permanente/

Necessidade de Capital de Giro

62

ou falência. A eficácia dos modelos preditivos poderá representar a própria reversão

da insolvência, à medida que é admitida uma intervenção e são tomadas as

decisões necessárias visando à correção do problema.

Cabe ressaltar, conforme enfatiza Kassai e Kassai (1998), que todos esses

modelos de previsão de insolvência foram desenvolvidos a partir de uma

determinada amostra colhida em suas respectivas épocas. Desta forma, os modelos

podem não ter no momento atual o mesmo grau de precisão previsto na época do

seu desenvolvimento.

Na seqüência, apresentam-se as características da instituição financeira

estudada.

63

3. CARACTERÍSTICAS DA INSTITUIÇÃO ESTUDADA

Este capítulo evidencia as principais características da instituição, objeto de

estudo desta pesquisa. Contemplam-se, ainda a Diretoria de Crédito, processos de

análise de crédito e procedimentos específicos de análise.

As informações sobre o histórico do Banco do Brasil estão baseadas nas

informações dos Relatórios Internos da instituição.

3.1. Apresentação do Banco do Brasil

O BB é uma instituição financeira integrante do Sistema Financeiro Nacional

(SNF), que sempre participou da história, da cultura e do desenvolvimento

econômico e social do país.

Na história do Brasil, destaca-se seu papel no fortalecimento da economia

nacional, notadamente como principal financiador da agricultura e da pecuária, e sua

atuação como agente financeiro do Governo Federal na aplicação dos recursos do

Tesouro Nacional por meio de programas especiais. Também é reconhecida sua

posição como fomentador e principal parceiro do segmento das micro e pequenas

empresas e a destacada atuação como banco de varejo, no atendimento a pessoas

físicas, oferecendo vários produtos e serviços bancários aos seus clientes, em todos

os segmentos da sociedade.

Especificamente na área de crédito, o BB ocupa posição de vanguarda no

processo de análise de risco e estabelecimento de limite de crédito, sendo referência

para diversas instituições financeiras acerca das ferramentas e metodologias

desenvolvidas.

Em meados da década de 90, o BB registrou prejuízos que reduziram

drasticamente seu Patrimônio Líquido. Entre as principais razões para a ocorrência

desses resultados, destacaram-se a elevação das provisões para créditos de

liquidação duvidosa e a dificuldade em recuperar créditos contabilizados como

prejuízos. Razões essas, sem dúvida, frutos da inexistência de uma política de

crédito claramente definida e que fosse efetivamente cumprida.

Em maio de 1996, o Governo Federal, sócio majoritário do BB, realizou um

aporte de capital em torno de R$8 bilhões, destinados a ajustar o patrimônio líquido

64

do banco aos parâmetros determinados pelo Acordo de Basiléia3. Em contrapartida,

o BB se comprometeu, entre outras coisas, a definir uma nova política de crédito,

que implicasse, sobretudo, a redução do nível de inadimplência das operações de

crédito para níveis aceitáveis no mercado financeiro.

Dessa reestruturação houve a criação da Diretoria de Crédito (DICRE),

unidade organizacional pertencente ao nível estratégico do conglomerado BB,

atualmente vinculada à Vice-Presidência de Crédito, Controladoria e Risco Global

(VICRI).

Responsável por todo o processo de crédito no BB, a Diretoria de Crédito

exerce diversas atividades, como a normatização dos assuntos relativos a cadastro,

análise de risco, limite de crédito, estudo e formalização de operações; a construção

de modelos para análise de risco; a gestão dos sistemas relacionados ao cadastro e

ao processo de crédito; a análise de risco e estabelecimento de limite de crédito para

clientes; a análise de projetos de investimento e o gerenciamento da carteira de

crédito do Banco.

Na mesma estratégia foram criadas seis gerências, integrantes da Diretoria

de Crédito.

a) Gerência de Cadastro, Padronização e Modelagem de Risco de Crédito

(GERIS) - sediada em Brasília, cuida das diretrizes, parâmetros e normas

gerais de crédito e de cadastro, do desenvolvimento e manutenção de

metodologias para análise de risco de clientes, limite de crédito e de risco

de operações.

b) Gerência Central de Análise de Crédito (GECAC) - sediada em São Paulo,

tem como funções básicas a análise de risco e o estabelecimento de

limites de crédito para empresas com receita operacional líquida superior a

R$ 120 milhões e para instituições financeiras.

c) Gerência de Análise de Crédito (GECRE) - sediada em Brasília, possui

sete divisões de análise de crédito, sendo duas em Curitiba (Sul I e Sul II),

duas em São Paulo (Sudeste II e Sudeste III), e as demais em Belo

Horizonte (Sudeste I), Recife (Norte-Nordeste) e Brasília (Centro-Oeste),

visando dar mais celeridade às decisões e incorporação das

3 O Comitê da Basiléia tem por finalidade elaborar propostas, em discussão com a comunidade financeira, para

estabelecer padrões de capital mínimo exigido de instituições financeiras, levando em consideração o risco de mercado.

65

peculiaridades regionais. A GECRE tem como função básica analisar o

risco de crédito e estabelecer limite para empresas com receita

operacional líquida de até R$120 milhões.

d) Gerência de Análise e Acompanhamento de Projetos (GEPRO) - sediada

em Brasília, tem a função básica de analisar e acompanhar a implantação,

expansão, modernização e relocalização de projetos de investimento e

operações de longo prazo.

e) Gerência de Acompanhamento e Gestão do Risco de Crédito (GEARC) -

sediada em Brasília, é responsável pela gestão da carteira de crédito e

pelo controle do risco de crédito do Banco.

f) Gerência de Coordenação do Processo Operacional de Crédito para

Investimento (GEINV) - sediada em Brasília, exerce a função de gerir e

coordenar o processo operacional de crédito para investimento.

Desde 1997, o BB mantém em seu fluxo de processos a preocupação com a

excelência e melhoria contínua, por meio da sintonia com os princípios da qualidade.

Nesse contexto, já naquele ano a Diretoria de Crédito obteve a certificação pela

norma ISO 9002 para a Central de Análise de Crédito conquista estendida às sete

divisões de análise de crédito em 1998, sendo o primeiro banco a ganhar o

certificado de qualidade em análise de crédito.

3.2. Processo de análise de crédito

O processo de análise, acompanhamento e gestão de crédito do

conglomerado BB, de competência da Diretoria de Crédito, é norteado pelas

políticas de crédito às quais asseguram assunção de risco em níveis adequados,

garantem decisões de crédito com elevado padrão de qualidade e criam valor para

os acionistas.

Nesse contexto, as políticas de crédito ocupam o primeiro nível na hierarquia

dos normativos voltados para a área de crédito, derivando delas todas as demais

normas de crédito, gerais e específicas.

No banco, as políticas de crédito são as grandes linhas de orientação que

norteiam o processo decisório de crédito em todos os níveis hierárquicos, sendo

66

formuladas com perspectiva de longo prazo e visando assegurar coerência de

propósito nas decisões do conglomerado.

Apesar de configurarem como permanentes, as políticas não podem ser tidas

como imutáveis. Deve-se estipular periodicidade de revisão que seja compatível com

as necessidades de rápida adequação ao mercado e, ao mesmo tempo, não

desfigure a estabilidade, tão necessária às políticas de crédito.

Em linhas gerais, as políticas de crédito do BB abordam os seguintes

aspectos:

a) administração do crédito - as políticas de crédito devem definir os

responsáveis pela condução dos assuntos relativos à aplicação dos ativos

do conglomerado;

b) gerenciamento da carteira de ativos - compreende a definição de critérios

de gestão de risco, que vão desde os princípios que serão observados na

priorização de clientes e negócios, até aqueles relativos à composição e

ao acompanhamento da carteira;

c) critérios de riscos - considerando que a atitude frente ao risco é inerente à

pessoa e mutável com o tempo, a instituição não pode gerenciar risco de

acordo com critérios pessoais. Por isso, deve traçar diretrizes e definir

parâmetros para as aplicações de seus recursos, a fim de que produzam a

lucratividade esperada, garantam o retorno dos capitais e mantenham sua

credibilidade;

d) limites de crédito - a apuração de limites de crédito tem por finalidade

definir o valor máximo que um banco admite emprestar para determinado

cliente;

e) garantias nas operações de crédito – de forma geral as garantias devem

ser acessórias às decisões de crédito face ao caráter técnico da análise da

situação econômico-financeira das empresas;

f) precificação - diz respeito à estruturação dos encargos financeiros da

operação. Seus critérios devem ser diferenciados por classe de risco,

modalidades operacionais e condições de mercado;

g) estrutura e documentação dos empréstimos - as normas e contratos de

operações de crédito devem atender a requisitos legais e de segurança,

obedecendo aos requisitos de confidencialidade.

67

h) alçadas decisórias - as políticas de crédito devem prever a

responsabilidade de cada escalão decisório e os critérios que nortearão os

limites de sua competência.

Consoante o que determina as políticas de crédito, os clientes proponentes de

operações de crédito junto ao BB têm obrigatoriamente seu risco calculado e seu

limite de crédito estabelecido por meio de sistemas de análise de crédito

desenvolvidos pela Diretoria de Crédito.

Nas políticas de crédito do BB, os clientes pessoas jurídicas são

segmentados quanto ao porte4, segundo o faturamento bruto anual (QUADRO 17),

sendo de competência da Gerência Central de Análise de Crédito (GECAC/SP) e

das Divisões de Análise de Crédito (DAC’s), quando não passíveis de análise pela

instância negocial (agências do BB), a análise de risco e o estabelecimento de limite

de crédito dessas empresas, cumprindo o preceito da segregação entre o crédito e o

negócio.

PORTE/SEGMENTO SEGMENTO VALORES (R$ mil) Microempresa - Até 500

Pequena empresa Indústria Acima de 500 e até

10.000

Pequena empresa Comércio e Serviço Acima de 500 e até

15.000 Média empresa Indústria Entre 10.000 e 20.000 Grande empresa Indústria Entre 20.000 e 90.000 Corporate Indústria Acima de 90.000 Média empresa Comércio Entre 15.000 e 45.000 Grande empresa Comércio Entre 45.000 e 150.000 Corporate Comércio Acima de 150.000 Média empresa Serviço Entre 15.000 e 25.000 Grande empresa Serviço Entre 25.000 e 150.000 Corporate Serviço Acima de 150.000

Quadro 17 – Classificação das empresas quanto ao porte Fonte: Elaborado pelo Pesquisador (2006).

4 Apesar da amostra ter trabalhado com o porte de faturamento praticado pelo BB, nas empresas selecionadas

para a pesquisa não houve muita disparidade de nível de faturamento. A média, no nível de faturamento das empresas adimplentes foi de R$ 9.003 mil (faturamento mínimo = R$ 1.459 mil e máximo R$ 29.424 mil) e das empresas inadimplentes foi de R$ 8.475 mil (faturamento mínimo = R$ 1.166 mil e máximo R$ 37.144 mil).

68

Para esses clientes a classificação de risco e o cálculo do limite de crédito

são determinados a partir da ponderação entre as análises técnica e qualitativa

(QUADRO 18), com utilização de ferramental próprio, desenvolvido para atender as

especificidades dos diversos segmentos econômicos.

Analisados esses dois parâmetros (análises técnica e qualitativa) por

combinação, classifica-se o risco do cliente em cinco níveis: mínimo, aceitável,

médio, considerável e alto, fundamentais na definição do nível máximo de exposição

do banco em operações ativas com determinadas empresas. Caso apresente um

nível de risco mais elevado, a instituição apresentará menos disposição para

emprestar recursos e, por outro lado, o cliente cujo escore apontar para um risco

mais baixo, desfrutará de mais confiança do banco.

ANÁLISE

TÉCNICA

Contempla a conjugação dos indicadores econômico-financeiros apurados das demonstrações contábeis, incorporando os conceitos da Análise Dinâmica, e a comparação desses indicadores com as medianas de empresas que atuem em um mesmo segmento e na mesma região.

ANÁLISE

QUALITATIVA

Abrange os aspectos inerentes aos C’s do crédito caráter, capacidade e condições, sendo de atribuição das agências do Banco o preenchimento de um questionário padronizado contendo informações sobre a idoneidade da empresa e de seus sócios, o histórico operacional no Banco, concentração de negócios, a experiência no ramo de atuação, facilidade na obtenção de matérias-primas e mão-de-obra, atualização do processo produtivo, nível de ociosidade e outras informações. Esse questionário é criticado pelos analistas de crédito, sendo confrontado com pesquisas realizadas em aplicativos próprios do Banco e adquiridos de fontes externas: Serasa, Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal – CADIN e Sistema de Informações de Crédito do Banco Central – SCR/Sisbacen.

Quadro 18 – Parâmetros de análise de risco e estabelecimento de limite de crédito Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

De posse do escore de risco, dois parâmetros são utilizados para a apuração

do limite de crédito da empresa, um com base no PL e outro com base na ROL.

De se ressaltar que o limite a ser estabelecido para o cliente poderá ser

inferior ao limite deferível e, em casos excepcionais e justificados, até mesmo ser

mais alto que o valor calculado.

3.3. Procedimentos específicos de análise de crédito

No caso específico das análises de crédito de empresas realizadas pela

unidade de crédito do BB, os documentos contábeis, depois de criticados quanto à

suficiência e à qualidade dos dados, e depois de reestruturados, suas contas

69

passam pelos ajustes e reclassificações, para adequação aos padrões internos da

instituição e, principalmente, para tornar a análise mais confiável. Assim, após

análise e crítica a cada conta, além das reclassificações para grupamentos que

melhor representem o valor contabilizado, são feitos alguns ajustes, que podem

implicar contrapartidas para manter o equilíbrio entre o Ativo e o Passivo.

Nos balanços fornecidos para análise, é comum identificarem-se lançamentos

em contas do ativo de alguns valores considerados não realizáveis ou de realização

duvidosa. Para evitar distorções na análise, esses valores são excluídos, devendo a

cada exclusão corresponder igual procedimento no passivo. Entretanto, e para que

fiquem claros os valores envolvidos, há no grupamento do PL uma conta retificadora

chamada "deduções do ativo" (como é retificadora, aparece no balanço com o sinal

trocado). Com esse procedimento, restabelece-se o equilíbrio entre ativo e passivo e

deixam-se declarados no balanço os valores que foram objeto de ajuste.

As principais rubricas contábeis das demonstrações contábeis enviadas para

serem analisadas e criticadas pelos analistas da Divisão de Crédito do BB são

apresentadas no Quadro 19.

70

CONTA DISCRIMINAÇÃO CAIXA Verifica-se sua compatibilidade com o total do Ativo e com o nível de

faturamento da empresa e os prazos praticados. CLIENTES OU

DUPLICATAS A RECEBER

Compara-se o saldo com a política de vendas da empresa.

DUPLICATAS DESCONTADAS

Trata-se de títulos de vendas a prazo cujos valores foram adiantados para a empresa. Refere-se a uma modalidade de empréstimo bancário e aparece no Ativo como conta retificadora.

ESTOQUES

Verifica-se a compatibilidade dos valores classificados nessa conta, considerando o volume de negócios da empresa, política de estoques, mercado em que atua, concorrência, sazonalidade, dentre outros.

DÉBITOS DE DIRETORES, COTISTAS E SOLIDÁRIOS

Constituem normalmente retiradas feitas pelos sócios, não contabilizadas como despesa. Exclui-se do Ativo em contrapartida da conta Deduções do Ativo.

EMPRÉSTIMOS A INTERLIGADAS

Quando aparecerem no Ativo Circulante, remove-se para o Realizável a Longo Prazo.

DEPÓSITOS JUDICIAIS Referem-se a valores depositados em juízo enquanto a empresa discute uma dívida fiscal, trabalhista ou outra.

OUTROS VALORES A RECEBER

Quando contiver valor expressivo (superior a 2% do Ativo), pede-se composição discriminada.

IMOBILIZADO Analisa-se a evolução do saldo das contas do Ativo Permanente nos três últimos exercícios.

EMPRÉSTIMOS

Nos empréstimos comparam-se as dívidas constantes dos demonstrativos contábeis com os saldos obtidos em consulta aos sistemas do Banco do Brasil e do Bacen (SCR/Sisbacen5)

FORNECEDORES Compara-se o saldo da conta com a política de compras a prazo da empresa. TRIBUTOS E

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

Saldo de encargos sociais e trabalhistas (exceto salários) superiores a 40% do valor da folha de pagamento pode significar contribuições em atraso ou parceladas.

EMPRÉSTIMOS DE DIRETORES OU INTERLIGADAS

Quando aparecerem no Passivo Exigível a Longo Prazo são redirecionados para o Passivo Circulante Financeiro.

OUTROS VALORES A PAGAR

Quando superiores a 2% do Passivo a composição da conta é discriminada, pois poderão englobar dívidas da empresa com sócios, bancos, dentre outros. Os ajustes irão variar de acordo com o caso.

LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS

Algumas vezes os lucros acumulados do exercício anterior, acrescidos ao lucro do exercício atual, revelam-se bem superiores ao valor contabilizado nessa rubrica, indicando inconsistência no balanço.

DEDUÇÔES DO ATIVO São a contrapartida de valores excluídos do Ativo por representarem valores não realizáveis ou de realização duvidosa, como mencionadas nos ajustes anteriores.

Quadro 19 - Principais rubricas contábeis analisadas Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2006).

Concluídas as observações sobre reclassificações e ajustes, retrata-se nos

Quadros 20 e 21, as composições do BP antes e depois da reestruturação, de

reclassificações e de ajustes realizados. É importante ressaltar que as contas

reclassificadas estão destacadas com os números correspondentes em cada figura.

5 É um aplicativo disponibilizado pelo Bacen para pesquisas das dívidas de empresas com o SFN. A consulta somente pode ser feita no caso de haver autorização assinada pelos representantes da empresa. Inclui todos os empréstimos de capital de giro como cheque especial, conta garantida, desconto de duplicatas e de cheques, entre outras, e financiamentos de investimentos. Além destes, inclui outras dívidas, como vendor, dívidas com concessionárias quando estas forem fornecedoras da empresa, dentre outros. O valor informado refere-se ao saldo devedor do empréstimo e não o teto disponibilizado/contratado.

71

Quadro 20 – Balanço tradicional Fonte: Banco do Brasil (2005).

Quadro 21 – Balanço ajustado Fonte: Banco do Brasil (2005).

A partir deste ponto, faz-se necessário abordar a metodologia da pesquisa,

onde se reúnem o tipo e a técnica de pesquisa, as unidades de análise e observação

e a coleta e análise dos dados.

BALANÇO TRADICIONAL ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE Caixa/Bancos Empréstimos/Financiamentos Aplicações Fornecedores Clientes Salários (-) Duplicatas descontadas (1) Encargos sociais e tributos Estoques Adiantamentos de clientes Adiantamentos a fornecedores Provisão p/ IR e contribuição Débitos de diretores (2) Dividendos a pagar Empréstimos a interligadas (3) Outras obrigações a pagar Despesas antecipadas Tributos a recuperar

ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO Outros valores a receber Empréstimos/Financiamentos Depósitos judiciais (2) Tributos a recuperar

Empréstimos de diretores e interligadas (4) Impostos parcelados

RESULTADO DE EXERCÍCIOS FUTUROS ATIVO PERMANENTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO Investimentos ligadas/grupo empresarial Capital social Investimentos Reservas de capital Imobilizado Reservas de reavaliação Diferido Lucros/Prejuízos acumulados

BALANÇO AJUSTADO ATIVO CIRCULANTE FINANCEIRO PASSIVO CIRCULANTE FINANCEIRO Caixa/Bancos Duplicatas descontadas (1) Aplicações Empréstimos/Financiamentos Empréstimos de diretores e interligadas (4) Provisão p/ IR e contribuição Dividendos a pagar ATIVO CIRCULANTE CÍCLICO PASSIVO CIRCULANTE CÍCLICO Clientes Fornecedores (-) Provisão para devedores duvidosos (2) Salários Estoques Encargos sociais e tributos Adiantamentos a fornecedores Adiantamentos de clientes Despesas antecipadas Tributos a recuperar

Outras obrigações a pagar

ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO Empréstimos a interligadas (3) Empréstimos/Financiamentos Outros valores a receber Tributos a recuperar

Impostos parcelados

ATIVO PERMANENTE RESULTADO DE EXERCÍCIOS FUTUROS Investimentos ligadas/grupo empresarial PATRIMÔNIO LÍQUIDO Investimentos Capital social Imobilizado Reservas de capital Diferido Reservas de reavaliação Lucros/Prejuízos acumulados (-) Deduções do Ativo (2)

72

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os capítulos anteriores tiveram como objetivo fornecer as referências teóricas

nas quais se baseia o desenvolvimento deste trabalho. Este capítulo aborda a

metodologia da pesquisa, apresenta o tipo de pesquisa e método de estudo, as

unidades de análise e observação, universo e amostra e a coleta e análise de

dados.

4.1. Tipo de pesquisa

O presente trabalho foi caracterizado pelas pesquisas descritiva e ex-post

facto. De acordo com Gil (1996), as pesquisas descritivas têm como objetivo

primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno

ou, então, o estabelecimento de relações variáveis. No presente estudo, a pesquisa

apresentou a atuação de uma instituição financeira em relação às medidas adotadas

para evitar-se a inadimplência.

Por sua vez, foi utilizado também estudo ex-post facto, tendo em vista que os

fatos já ocorreram e as informações difundidas. Vergara (1998, p.48) menciona que

“as pesquisas ex-post facto aplicam-se quando o pesquisador não pode controlar ou

manipular variáveis, seja porque suas manifestações já ocorreram, seja porque as

variáveis não são controláveis.”

4.2. Abordagem metodológica

A pesquisa foi de natureza quantitativa, pois a técnica estatística da análise

discriminante, enquadrada na classe de métodos estatísticos multivariados, tem

ampla aplicação em situações nas quais o principal objetivo é identificar o grupo ao

qual um objeto, neste caso, algumas empresas, pertence. É a técnica apropriada

quando a variável dependente é do tipo categórica e as variáveis independentes são

numéricas. (HAIR et al, 1998).

De forma geral, as técnicas de discriminação procuram encontrar uma função

ou um conjunto de funções que discrimine os grupos definidos pela variável

categórica visando minimizar erros de classificação.

73

Destaca ainda sua importância ao ter a intenção de garantir a precisão dos

resultados, evitar distorções, análise e interpretação, possibilitando uma margem de

segurança quanto às inferências feitas.

No que interessa aos propósitos deste estudo, o uso dessa técnica busca

determinar quais as características pertinentes à previsão de adimplência ou de

inadimplência de crédito de pequenas e médias empresas que demandam crédito

junto a uma específica instituição financeira oficial.

4.3. Unidades de análise e observação

As empresas selecionadas para a consecução da pesquisa foram analisadas

na Divisão de Análise de Crédito Sudeste I, sediada em Belo Horizonte (MG), cuja

jurisdição abrange os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

A unidade de análise foi composta de empresas privadas de pequeno e médio

porte comercial, com faturamento bruto anual de R$500 mil até R$45 milhões

(classificação adotada pelo conglomerado BB), localizadas no estado de Minas

Gerais, tendo em vista apresentarem os maiores limites de crédito e as maiores

inadimplências, respectivamente, em relação às empresas comerciais inadimplentes

localizadas nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Por questões

estratégicas e de sigilo bancário, não foram divulgados os nomes das empresas

escolhidas. Essas regiões foram escolhidas pelo fato de o pesquisador ter mais

acessibilidade às informações.

Os outros estados não foram selecionados devido à dificuldade encontrada

pelo pesquisador na obtenção dos dados, principalmente em relação ao acesso ao

banco de dados das outras Unidades de Crédito responsáveis pelas análises das

empresas.

Os elementos de observação compreenderam os BP’s e as DRE’s6 dessas

empresas dos três exercícios anteriores ao período em que se verificou a

inadimplência.

6 Apesar dos BP’s e as DRE’s das empresas não serem auditados, possibilitam mensurar a exatidão dos registros que deles decorrem, além de serem assinados pela empresa e contador, exigência das normas de crédito do BB. Os dados disponibilizados são de fonte fidedigna, o que servirá como subsídio para o relatório da pesquisa, assim como possibilitará aprofundar a discussão. É importante destacar também que estes demonstrativos são criticados pelos analistas de crédito do BB, que por meio de reclassificações e ajustes baseados nas técnicas de análise adotadas pela instituição, procuram retratar da melhor maneira possível a realidade das empresas analisadas.

74

4.4. Universo e amostra da pesquisa

O universo selecionado compreendeu a classificação preventiva de empresas

adimplentes e inadimplentes, num total de 60 empresas (QUADRO 22), utilizando

como base a carteira de clientes pessoas jurídicas do BB que opera com crédito

corporativo.

COMÉRCIO VAREJISTA SEGMENTOS QUANTIDADE

COMBUSTÍVEIS E LUBRIFICANTES 20 AUTOPEÇAS 8 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 6 PRODUTOS VETERINÁRIOS 6 VEÍCULOS LEVES E PESADOS 4 MATERIAL ELÉTRICO 2 MÓVEIS 2 MÉDICAMENTOS 2 PRODUTOS DE INFORMÁTICA 2 SUB-TOTAL 52

COMERCIO ATACADISTA SEGMENTOS QUANTIDADE

PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL 2 TECIDOS 2 BEBIDAS 2 COMBUSTÍVEIS 2 SUB-TOTAL 8 TOTAL GERAL 60

Quadro 22 – Segmentos utilizados na amostra Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

A amostra contou com 30 empresas adimplentes. Servindo de suporte

empírico a esta pesquisa, foram selecionadas aleatoriamente com base na carteira

de empresas de pequeno e médio porte, analisadas pela Divisão de Análise de

Crédito Sudeste I, respeitando-se os segmentos de atuação das empresas

inadimplentes.

Um total de 30 empresas inadimplentes que não efetuaram os pagamentos de

empréstimos contraídos na instituição, ou seja, entraram na base de inadimplência

da Divisão de Análise de Crédito Sudeste I com dívidas em atraso há mais de 60

dias ou transferidas para prejuízo, foram selecionadas por amostragem não-

75

probabilística, por tipicidade. A tipicidade ocorre na medida em que se exige cautela

para generalizar conclusões. De acordo com Beuren (2004, p.126), esse tipo de

amostragem consiste em “selecionar amostras com base em informações

disponíveis e que sejam consideradas representativas da população”.

O estudo esteve circunscrito às empresas pesquisadas e aos dados contábeis

fornecidos por elas, bem como ao espaço temporal abrangido, não se pretendendo,

com isso, construir um modelo de previsão à inadimplência aplicável a outras

classificadas em segmento e porte divergentes.

Assim, buscou-se aprofundar o conhecimento a respeito da análise dos

indicadores contábeis apresentados com o fim de prevenir eventuais falhas na

concessão de crédito.

A complexidade dos aspectos econômicos, sociais e políticos, externos às

empresas, mas que podem produzir reflexos no desempenho das mesmas, não

foram abrangidos neste estudo, contudo, não podem ser descartados.

4.5. Coleta dos dados

Os dados utilizados neste estudo foram coletados inicialmente a partir de

documentos bibliográficos, relatórios e registros da Divisão de Análise de Crédito

Sudeste I, situada em Minas Gerais. Para Richardson (1999), a análise documental

pode ser entendida como uma observação que tem como objeto não os fenômenos

sociais, quando e como se produzem, mas manifestações que registram esses

fenômenos e as idéias elaboradas a partir delas.

As demonstrações contábeis foram obtidas do banco de dados da carteira de

clientes pessoa jurídica da Divisão de Análise de Crédito Sudeste I, setor de análise

de crédito do BB no qual o pesquisador trabalha. Foram utilizadas demonstrações

contábeis de 2002, 2003 e 2004, anteriores ao ano de 2005, período em que se

detectou a situação de inadimplência das empresas. Assim, para atender aos objetivos propostos nesta pesquisa, utilizaram-se as

seguintes fontes de consultas:

a) indicadores contábeis selecionados com a finalidade de prevenção da

inadimplência de empresas comerciais;

b) empresas adimplentes e inadimplentes para geração da amostra;

76

c) balanços patrimoniais reclassificados de acordo com o modelo da análise

dinâmica;

d) variáveis calculadas a partir dos dados das três demonstrações contábeis.

Os dados foram coletados de fontes secundárias (documental) no período de

agosto a outubro de 2006, nos BP’s, bem como nas DRE’s, pelo próprio

pesquisador.

4.6. Análise de dados

A análise de dados efetivou-se pela avaliação quantitativa das empresas,

mediante o uso do método estatístico Análise Discriminante, já consolidado em

estudos envolvendo a previsão da inadimplência, insolvência e o risco de crédito,

com utilização de variáveis originárias de quocientes financeiros obtidos a partir das

demonstrações contábeis.

Análise discriminante, conforme Malhotra (2001, p.483), “é uma técnica de

análise de dados em que a variável dependente é explícita e as variáveis

prognosticadoras ou independentes têm natureza intervelar.”

Conforme Securato (2002), a análise quantitativa procura obter indicadores de

desempenho e da situação financeira da empresa com base em demonstrativos

financeiros passados; indica a tendência da empresa e a adequação das estratégias

financeiras, permitindo vislumbrar, em condições ceteris paribus, qual a perspectiva

em futuro próximo do desempenho da empresa.

Na análise dos dados foi dada ênfase aos indicadores contábeis utilizados do

modelo de previsão de insolvência de empresas comerciais desenvolvido por Silva

(2006) e da dinâmica de overtrading (desequilíbrio econômico-financeiro) discutida

por Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003). Além disso, abordaram-se alguns tradicionais

indicadores de liquidez, estrutura e rentabilidade escolhidos pelo pesquisador, por

acreditar na sua relevância para este estudo.

A tabulação foi feita no software Statistical Package for The Social Sciences

(SPSS), versão 13.0, e para a análise dos dados foram feitos diversos cruzamentos

entre as variáveis, com o objetivo de levantar respostas para a questão problema da

pesquisa.

77

Na seqüência, são apresentadas a análise e a interpretação dos dados

coletados junto à instituição financeira objeto de estudo.

78

5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo refere-se à forma de obtenção dos dados coletados junto ao

Banco do Brasil, da apresentação dos indicadores contábeis utilizados na pesquisa

e discussão de seus resultados, após aplicação da técnica estatística da análise

discriminante, face ao referencial teórico, considerando o objetivo da pesquisa.

5.1. Considerações iniciais

A análise dos resultados da pesquisa foi empreendida com base na

compilação de dados de 30 empresas adimplentes e 30 inadimplentes, conforme

esclarecido no capítulo 5 deste estudo, sendo realizadas três análises discriminantes

para as empresas da amostra, utilizando-se as variáveis selecionadas. A primeira

empregou dados das demonstrações contábeis elaboradas no ano imediatamente

anterior ao evento da inadimplência, a segunda dados do segundo ano, e a terceira

do terceiro ano anterior ao evento.

Quando se considera a análise discriminante, é necessário medir, nos

elementos amostrais, variáveis que possam realmente distinguir os dois grupos,

caso contrário, a qualidade e o ajuste da regra de discriminação construída não

serão satisfatórios.

Neste trabalho foram usados os procedimentos estatísticos Análise de

Variância (ANOVA) Univariada e Stepwise para auxiliar no estudo de quais seriam

as variáveis mais importantes na construção da regra discriminante.

O detalhamento dos elementos que contribuem para o desenvolvimento

deste trabalho possui algumas etapas, tendo sido necessário que vários aspectos

fossem observados, incluindo desde a obtenção dos dados contábeis até o

tratamento estatístico da amostra.

5.2. Obtenção dos dados contábeis para a amostra

Os dados contábeis das empresas adimplentes e inadimplentes foram obtidos

por meio da análise e tratamento das demonstrações contábeis - BP e DRE dos

anos de 2002, 2003 e 2004, produzidas pelas empresas pertencentes à carteira de

79

clientes pessoas jurídicas do BB, após o tratamento dado pelos analistas de crédito

quando da análise de risco e do estabelecimento do limite de crédito.

Uma vez obtidos os dados iniciou-se a estruturação da pesquisa. Desta forma

as variáveis “não numéricas” (inadimplente e adimplente) devem ser substituídas por

números, para realização dos cálculos estatísticos. Assim, atribuiu-se o número “0”

para as empresas inadimplentes e o número “1” para as adimplentes.

5.3. Indicadores contábeis para análise de previsão

5.3.1. Apresentação e análise das variáveis

Este item apresenta o significado das variáveis que serão utilizadas para

análise de previsão de inadimplência das empresas comerciais.

5.3.1.1. Variáveis do Modelo Pereira

O estudo desenvolvido por Silva (2006) foi realizado a partir da análise de um

conjunto de 85 índices financeiros com o propósito de selecionar o melhor conjunto

de variáveis para classificação de empresas comerciais e industriais, com

probabilidade de serem boas ou insolventes.

O autor apresentou alguns modelos, considerando-se o ramo de atividade, o

fator tempo em relação à data do demonstrativo utilizado, características regionais e

características dos índices.

O Quadro 23 descreve as variáveis utilizadas neste trabalho, pertencentes ao

modelo para empresas comerciais “Z1c”, que foram aplicadas por Silva (2006) aos

dados dos demonstrativos contábeis do último exercício analisado.

80

VARIÁVEL FÓRMULA DESCRIÇÃO DO INDICADOR

IND1

Reservas + Lucros Suspensos Ativo Total

Indicador de estrutura que demonstra a relação existente entre as fontes de recursos próprias (PL) utilizadas no financiamento das aplicações feitas no Ativo de uma empresa.

IND2

Disponível Ativo Total

Indicador de estrutura que revela a participação das disponibilidades (Caixa, Bancos e Aplicações Financeiras) no Ativo Total.

IND3

AC – Disponibilidades – PC + FIC + Dup. Desc.

Vendas

Indicador de liquidez que indica a relação existente entre a NCG sobre as vendas. Revela quanto a empresa precisa vender para obter os recursos complementares necessários ao seu capital de giro.

IND4

Lucro Operacional + Despesas Financeiras

AT médio – Investimento médio (*)

Indicador de rentabilidade que reflete quanto uma empresa está obtendo de resultado operacional, desprezando as despesas financeiras, em relação às aplicações realizadas no Ativo Total deduzido dos investimentos.

IND5

Lucro Operacional Lucro Bruto

Indicador de rentabilidade que exprime a relação existente entre o resultado operacional da empresa e seu lucro bruto.

IND6

PL/Capitais de Terceiros

MargemBruta/Ciclo Financeiro

Indicador de rentabilidade que revela a relação entre as fontes de recursos sobre o lucro bruto ajustado ao ciclo financeiro. Quando a soma dos prazos médios que compõem o ciclo financeiro der resultado negativo, considerar o módulo de todo o denominador de “IND6”.

Quadro 23 – Variáveis do Modelo Pereira Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006). Nota: (*) Ativo Total médio = (Ativo Total do ano + Ativo Total do ano anterior)/2; Investimento médio = (saldo de investimentos do ano + saldo de investimentos do ano anterior)/2. 5.3.1.2. Variáveis selecionadas pelo pesquisador

O pesquisador deste trabalho utilizou as variáveis descritas no Quadro 24

devido à sua experiência como analista de crédito no BB, uma vez que os

indicadores tradicionais de liquidez, estrutura e rentabilidade sempre contribuíram

para a decisão no momento da análise de risco e do estabelecimento de limite de

crédito para as PME’s, que são o foco deste trabalho.

81

VARIÁVEL FÓRMULA DESCRIÇÃO DO INDICADOR

IND7

Lucro Líquido Patrimônio Líquido

Indicador de rentabilidade do patrimônio líquido que mede a remuneração dos capitais próprios investidos na empresa.

IND8

Ativo Circulante

Passivo Circulante

Indicador de liquidez corrente que revela quanto à empresa poderá dispor em recursos de curto prazo para pagar suas dívidas circulantes.

IND9

Ativo Circulante - Estoques Passivo Circulante

Indicador de liquidez seca que revela quanto uma empresa poderá dispor de recursos circulantes, sem vender seus estoques, para fazer frente às obrigações de curto prazo.

IND10

Patrimônio Líquido Estoque + Clientes

Indicador de estrutura que mede a participação de capitais próprios no financiamento das atividades cíclicas.

IND11

Patrimônio Líquido Passivo Circulante + ELP

Indicador de estrutura que estabelece a relação percentual entre os recursos próprios e os recursos de terceiros aplicados na empresa.

Quadro 24 – Variáveis adotadas no estudo Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

5.3.1.3. Variáveis da dinâmica do overtrading

As variáveis apresentadas no Quadro 25 referem-se a medidas de liquidez

que controlam o fenômeno de overtrading discutido por Fleuriet, Kehdy e Blanc

(2003) e Assaf Neto e Silva (1997).

Embora possuindo elevado grau de identificação de problemas futuros de

desequilíbrio econômico-financeiro, não se encontram no Brasil trabalhos de análise

de risco de crédito de PME’s comerciais que tenham utilizado a técnica da análise

discriminante nos quais algumas variáveis independentes representam a dinâmica

do overtrading, que permite a análise mais precisa em se tratando do

comportamento de uma empresa ao longo de determinado período.

82

VARIÁVEL FÓRMULA DESCRIÇÃO DO INDICADOR

IND12

ST

| NCG |

Indicador que ajuda determinar a condição do efeito tesoura, quando o ST apresenta-se cada vez mais negativo a cada exercício, variando em níveis superiores ao crescimento da NCG.

IND13

ST ROL

Indicador importante do denominado “Modelo Fleuriet”. Quando o Saldo de Tesouraria for negativo é fundamental estabelecer uma relação com o nível de vendas, pois a expressividade do índice pode evidenciar dificuldades financeiras iminentes, em especial, por ocasião da manutenção de saldos negativos sucessivos e crescentes.

IND14

NCG Ativo Total

Indicador de liquidez que expressa a relação existente entre os Ativos e Passivos circulantes operacionais com o total das aplicações de recursos, retratando a necessidade de capital de giro da empresa.

IND15

. ST .

Ativo Total

Indicador que demonstra a relação existente entre os Ativos e Passivos circulantes financeiros com o total do Ativo, retratando o saldo de tesouraria da empresa.

IND16

PL – AP

NCG

Indicador que mensura a proporção da necessidade de capital de giro financiada com recursos próprios, após a cobertura do ativo fixo da empresa.

Quadro 25 – Variáveis da dinâmica do overtrading Fonte: Elaborado Pelo Pesquisador (2006).

5.4. Seleção das variáveis por técnicas estatísticas

A fim de selecionar as variáveis que compõem a análise discriminante com

vistas à classificação dos casos estudados entre empresas em situação de

adimplência e empresas em situação de inadimplência foram adotados os

procedimentos estatísticos da Análise de Variância (ANOVA) Univariada e Stepwise,

descritos a seguir.

5.4.1. Análise de Variância (ANOVA)

A ANOVA é utilizada quando se deseja comparar duas ou mais populações

(ou grupos) segundo alguma variável. Neste caso, as hipóteses testadas são:

• H0 - “a média do indicador das empresas adimplentes é igual à média do

mesmo indicador das empresas inadimplentes para a variável em

questão.”

• H1 - “as duas médias são diferentes”.

83

Os dados provenientes da análise demonstram que uma parte importante do

teste de hipóteses é controlar a probabilidade do erro tipo “I” – rejeitar a primeira

hipótese (chamada hipótese nula) dado que ela é verdadeira – por isso fixa-se o

nível de significância, ou seja, determina-se o valor máximo para o “valor-p”.

(MAGALHÃES e LIMA, 2004).

O valor “p”, denominado por nível descritivo, indica se há probabilidade de se

obterem estimativas favoráveis à hipótese nula supondo que ela seja verdadeira.

Dessa forma, valores pequenos desse nível descritivo sugerem que a hipótese nula

é falsa, existindo evidências para rejeitá-la, isto é, as médias das populações são

diferentes segundo o indicador em teste. Assim, tal variável diferencia as populações

ou grupos e deve, então, fazer parte do modelo discriminante.

Neste trabalho o nível de significância definido pelo pesquisador foi de 20%.

Cabe, portanto, ressaltar, que a literatura especializada em estatística determina

níveis de significância mais altos numa pré-seleção de variáveis do que comumente

é definido em testes de hipótese (2, 5 e 10%). Isto porque, se for determinado um

nível de significância um pouco mais elevado, a variável será excluída do modelo

apenas se houver alta evidência de que ela não é capaz de diferenciar as

populações do estudo.

5.4.1.1. Resultados da ANOVA Univariada

A significância estatística das variáveis pré-selecionadas a serem

consideradas na análise discriminante foi avaliada inicialmente por um teste "F"

univariado, no qual os dois grupos (adimplentes e inadimplentes) foram comparados

separadamente para cada variável. Os resultados demonstraram (QUADRO 26) que,

para um nível de significância de 20%, aquelas variáveis que apresentaram valores

“F” mais significativos (valor-p inferior a 0,2) conseguiram distinguir os dois grupos.

84

2004

VARIÁVEIS IND1 IND2 IND3 IND4 IND5 IND6 IND7 IND8

Estatística de Teste (F) 24,619 0,438 0,685 4,439 0,132 4,546 0,986 3,004

Valor - p 0,000 0,511 0,411 0,039 0,718 0,037 0,325 0,088

VARIÁVEIS IND9 IND10 IND11 IND12 IND13 IND14 IND15 IND16

Estatística de Teste (F) 1,554 3,614 3,487 2,378 12,230 0,725 17,777 10,815

Valor - p 0,218 0,062 0,067 0,129 0,001 0,398 0,000 0,002

2003

VARIÁVEIS IND1 IND2 IND3 IND4 IND5 IND6 IND7 IND8

Estatística de Teste (F) 14,380 0,007 2,713 1,434 15,299 9,347 0,826 12,119

Valor - p 0,000 0,934 0,105 0,236 0,000 0,003 0,367 0,001

VARIÁVEIS IND9 IND10 IND11 IND12 IND13 IND14 IND15 IND16

Estatística de Teste (F) 4,938 6,641 12,310 0,932 1,403 4,212 8,066 1,127

Valor - p 0,030 0,013 0,001 0,338 0,241 0,045 0,006 0,293

2002

VARIÁVEIS IND1 IND2 IND3 IND4 IND5 IND6 IND7 IND8

Estatística de Teste (F) 9,654 0,783 0,417 3,929 6,853 7,745 0,118 7,639

Valor - p 0,003 0,380 0,521 0,052 0,011 0,007 0,732 0,008

VARIÁVEIS IND9 IND10 IND11 IND1 IND13 IND14 IND15 IND16

Estatística de Teste (F) 1,778 4,993 9,105 0,015 0,176 3,650 0,947 1,705

Valor - p 0,188 0,029 0,004 0,903 0,677 0,061 0,335 0,197

Quadro 26 – Valores de “F” na ANOVA Univariada Fonte: Dados da Pesquisa (2006). Nota: IND = Indicador.

No Quadro 27 são apresentados os indicadores relevantes na distinção das

empresas adimplentes e inadimplentes, como forma de melhor visualizar os

resultados da aplicação do método utilizado.

Dos 10 indicadores pré-selecionados para cada período, no ano de 2004

constata-se a predominância das variáveis da dinâmica do overtrading (indicadores

12, 13, 15 e 16). As variáveis do Modelo Pereira predominaram em 2003 (1, 3, 5 e 6)

e 2002 (1, 4, 5 e 6), bem como as adotadas pelo pesquisador, sendo os indicadores

“8”, “9”, “10” e “11” pré-selecionados para os dois períodos, respectivamente.

85

Quadro 27 – Modelo síntese: valores de “F” na ANOVA Univariada Fonte: Dados da Pesquisa (2006). Nota: IND = Indicador.

VARIÁVEIS

ANOS IND VALOR

P

IND VALOR p

IND VALOR p

IND VALOR p

IND VALOR p

IND VALOR p

IND VALOR p

IND VALOR p

IND VALOR p

IND VALOR p

2004 1 0,000 4 0,039 6 0,037 8 0,088 10 0,062 11 0,067 12 0,129 13 0,001 15 0,000 16 0,002

2003 1 0,000 3 0,105 5 0,000 6 0,003 8 0,001 9 0,030 10 0,013 11 0,001 14 0,045 15 0,006

2002 1 0,003 4 0,052 5 0,011 6 0,007 8 0,008 9 0,188 10 0,029 11 0,004 14 0,061 16 0,197

86

5.4.2. Stepwise

O Stepwise é um procedimento iterativo que tem como objetivo identificar o

melhor grupo de variáveis explicativas da variável resposta, baseando-se nas suas

capacidades de discriminação.

Nesse método as variáveis dão entrada, uma a uma, no modelo de acordo

com o “valor-p”. Cabe destacar que esses “valores-p” calculados são comparados

com o nível de significância, definido a priori para determinar a entrada ou não de

variáveis.

O processo inicia-se selecionando a variável que apresenta valor mais alto de

discriminação. Essa variável é combinada com as demais, uma de cada vez, e o

critério de seleção é novamente comparado. A variável que, em conjunto com a

primeira selecionada, produzir o melhor valor para o critério, é a segunda escolhida

para entrar na análise. Essas duas selecionadas são combinadas com as demais

remanescentes e a combinação que apresentar o valor mais alto para o critério de

seleção determinará a terceira variável a entrar na equação. Do mesmo modo, todas

as demais variáveis são testadas a partir do critério de seleção, até que todas sejam

ordenadas pelas suas capacidades de discriminação.

Para este estudo, o nível de significância utilizado tanto para entrada quanto

saída de variáveis também foi de 20%, já que esta etapa é uma pré-seleção de

variáveis a serem utilizadas na análise discriminante, não justificando, portanto,

adotar nível de significância muito rigoroso.

Adicionalmente, em cada estágio é feito o teste para saída dessas variáveis.

Dessa forma, testam-se aquelas que, conjuntamente, seriam capazes de diferenciar

os grupos de índices selecionados para este estudo. É importante, destacar que o

procedimento termina no momento em que não houver mais variáveis significativas

para dar entrada ou saída no modelo. (MINGOTI, 2005).

No Quadro 28 é apresentado o melhor conjunto de indicadores para cada ano

segundo o método Stepwise.

87

ANO VARIÁVEIS 2004 IND1, IND3, IND4, IND5, IND13, IND16 2003 IND5, IND7, IND8, IND9 2002 IND1, IND3, IND5, IND6

Quadro 28 – Grupo de variáveis explicativas da variável resposta Fonte: Dados da Pesquisa (2006).

5.4.3. Determinação das variáveis para a regra de discriminação

Com o objetivo de agrupar as variáveis mais importantes para o modelo

segundo os métodos ANOVA Univariada e Stepwise, procedeu-se à análise com

base nos períodos de 2002, 2003 e 2004, como demonstrado no Quadro 29, sendo

selecionadas as variáveis que se mostraram significativas em pelo menos uma

técnica estatística.

88

2004 2003 2002

MODELO MODELO MODELO

VARIÁVEL ANÁLISE

UNIVARIADA

STEPWISE

ESCOLHA

VARIÁVEL ANÁLISE

UNIVARIADA

STEPWISE

ESCOLHA

VARIÁVEL ANÁLISE

UNIVARIADA

STEPWISE

ESCOLHA

IND1 X X X IND1 X X IND1 X X X

IND2 IND2 IND2

IND3 X X IND3 X X IND3 X X

IND4 X X X IND4 IND4 X X

IND5 X X IND5 X X X IND5 X X X

IND6 X X IND6 X X IND6 X X X

IND7 IND7 X X IND7

IND8 X X IND8 X X X IND8 X X

IND9 IND9 X X X IND9 X X

IND10 X X IND10 X X IND10 X X

IND11 X X IND11 X X IND11 X X

IND12 X X IND12 IND12

IND13 X X X IND13 IND13

IND14 IND14 X X IND14 X X

IND15 X X IND15 X X IND15

IND16 X X X IND16 IND16 X X

Quadro 29 – ANOVA Univariada versus Stepwise Fonte: Dados da Pesquisa (2006).

89

Finalmente, optou-se pelas variáveis que foram selecionadas nos três anos

simultaneamente: “IND1, IND3, IND5, IND6, IND8, IND10 e IND11”.

Foram identificadas predominâncias das variáveis do Modelo Pereira (1, 3, 5

e 6), ficando de fora todas as variáveis da dinâmica do overtrading, apesar do “IND3”

ser um índice da análise dinâmica, importante na definição do desequilíbrio

econômico-financeiro de empresas. O pesquisador deste estudo optou por incluir

ainda a variável “IND15”, tendo em conta ser um indicador da dinâmica do

overtrading que mais se destacou na ANOVA univariada nos últimos dois anos antes

de detectada a inadimplência das empresas e também por ser um índice relevante

na determinação da situação financeira das companhias.

5.5. Análise descritiva

O Quadro 30 apresenta as estatísticas descritivas “média, desvio-padrão e

valores mínimo e máximo” das oito variáveis selecionadas para as 60 empresas que

fazem parte da amostra.

As diferenças encontradas entre as empresas adimplentes e inadimplentes

são substanciais quanto às variáveis selecionadas para fazer parte do modelo

discriminante, destacando-se principalmente os indicadores “1”, “8” e “15”.

Analisando a tendência da “média” dos indicadores durante os três anos,

verifica-se, exceção do “IND5”, melhora substancial em todos os índices das

empresas adimplentes e substancial piora nos das empresas inadimplentes,

considerando-se o significado de cada indicador contábil descrito neste capítulo,

subitem 6.3.

Observou-se na variável “IND1”, que indica a participação dos capitais

próprios no financiamento do ativo total, em 2004, “média negativa” (-0,002). Isto se

deu pelo fato de ter havido aumento da quantidade de empresas inadimplentes com

patrimônio líquido negativo.

Quanto à variável “IND8” (Índice de Liquidez Corrente), percebeu-se que as

empresas adimplentes são bem mais sólidas que as inadimplentes, apesar da

“média” desse indicador em todos os anos para estas últimas empresas revelar

capacidade de pagamento de curto prazo.

90

Pode-se dizer, também, que a tendência da variável “IND15” (Saldo de

Tesouraria sobre Ativo Total), no grupo das inadimplentes, é coerente com a

situação de empresas em desequilíbrio financeiro, uma vez que suas médias

distanciam-se negativamente durante os períodos precedentes à inadimplência. A

empresa nessa situação apresenta dificuldade para gerenciar sua tesouraria,

revelando forte dependência de recursos onerosos para complementar o

financiamento das atividades operacionais.

91

INDICES EMPRESAS n MÉDIA DESVIO PADRÃO

MÍNIMO MÁXIMO INDICES EMPRESAS n MÉDIA DESVIO PADRÃO

MÍNIMO MÁXIMOINDICES EMPRESAS n MÉDIA

DESVIO PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO

INADIMPLENTE 30 -0,002 0,383 -1,349 0,62 INADIMPLENTE 30 0,099 0,385 -1,465 0,679 INADIMPLENTE 30 0,132 0,378 -1,205 0,801ADIMPLENTE 30 0,418 0,26 -0,059 0,945 ADIMPLENTE 30 0,434 0,294 -0,1 0,903 ADIMPLENTE 30 0,405 0,298 -0,304 0,862TOTAL 60 0,208 0,387 -1,349 0,945 TOTAL 60 0,267 0,38 -1,465 0,903 TOTAL 60 0,269 0,365 -1,205 0,862INADIMPLENTE 30 0,185 0,201 -0,069 0,924 INADIMPLENTE 30 0,146 0,173 -0,034 0,844 INADIMPLENTE 30 0,172 0,238 -0,079 1,044ADIMPLENTE 30 0,233 0,244 -0,027 0,952 ADIMPLENTE 30 0,231 0,226 -0,007 0,769 ADIMPLENTE 30 0,214 0,259 -0,274 1,097TOTAL 60 0,209 0,223 -0,069 0,952 TOTAL 60 0,188 0,204 -0,034 0,844 TOTAL 60 0,193 0,247 -0,274 1,097INADIMPLENTE 30 0,488 2,489 -0,68 13,591 INADIMPLENTE 30 0,093 0,185 -0,367 0,442 INADIMPLENTE 30 0,039 0,297 -1,223 0,364ADIMPLENTE 30 0,322 0,246 -0,006 0,838 ADIMPLENTE 30 0,332 0,278 0,005 0,942 ADIMPLENTE 30 0,271 0,384 -1,017 0,912TOTAL 60 0,405 1,755 -0,68 13,591 TOTAL 60 0,212 0,263 -0,367 0,942 TOTAL 60 0,155 0,36 -1,223 0,912INADIMPLENTE 30 0,432 3,809 -16,852 7,54 INADIMPLENTE 30 2,088 4,367 -0,246 21,873 INADIMPLENTE 30 2,934 5,792 -0,287 22,808ADIMPLENTE 30 15,54 38,623 0,121 209,055 ADIMPLENTE 30 14,753 22,265 0,023 78,208 ADIMPLENTE 30 11,241 15,29 0,049 57,487TOTAL 60 7,986 28,256 -16,852 209,055 TOTAL 60 8,42 17,141 -0,246 78,208 TOTAL 60 7,088 12,204 -0,287 57,487INADIMPLENTE 30 1,18 0,464 0,194 2,471 INADIMPLENTE 30 1,305 0,477 0,118 2,304 INADIMPLENTE 30 1,542 0,845 0,104 4,094ADIMPLENTE 30 3,742 8,081 0,103 46,028 ADIMPLENTE 30 3,281 3,072 0,138 13,879 ADIMPLENTE 30 2,553 1,816 0,105 6,223TOTAL 60 2,461 5,82 0,103 46,028 TOTAL 60 2,293 2,397 0,118 13,879 TOTAL 60 2,048 1,494 0,104 6,223INADIMPLENTE 30 0,213 0,727 -2,875 1,297 INADIMPLENTE 30 0,268 1,153 -5,523 1,196 INADIMPLENTE 30 0,289 1,495 -7,28 1,409ADIMPLENTE 30 2,614 6,879 0,07 30,548 ADIMPLENTE 30 1,402 2,115 0,033 9,262 ADIMPLENTE 30 1,078 1,227 0,05 5,961TOTAL 60 1,413 4,998 -2,875 30,548 TOTAL 60 0,835 1,783 -5,523 9,262 TOTAL 60 0,683 1,413 -7,28 5,961INADIMPLENTE 30 0,339 0,47 -0,553 1,853 INADIMPLENTE 30 0,529 0,624 -0,572 2,477 INADIMPLENTE 30 0,783 1,05 -0,541 4,133ADIMPLENTE 30 3,157 8,251 0,06 46,439 ADIMPLENTE 30 2,85 3,569 0,028 12,974 ADIMPLENTE 30 1,879 1,689 0,043 6,378TOTAL 60 1,748 5,966 -0,553 46,439 TOTAL 60 1,69 2,797 -0,572 12,974 TOTAL 60 1,331 1,5 -0,541 6,378INADIMPLENTE 30 -0,381 0,384 -2,146 -0,054 INADIMPLENTE 30 -0,259 0,33 -1,833 0,053 INADIMPLENTE 30 -0,168 0,365 -1,784 0,619ADIMPLENTE 30 -0,066 0,14 -0,331 0,255 ADIMPLENTE 30 -0,074 0,138 -0,427 0,306 ADIMPLENTE 30 -0,098 0,148 -0,595 0,109TOTAL 60 -0,224 0,328 -2,146 0,255 TOTAL 60 -0,167 0,268 -1,833 0,306 TOTAL 60 -0,133 0,278 -1,784 0,619

IND10

IND11

IND15

IND1

IND3

IND5

IND6

IND10

IND11

IND15

IND1

IND3

IND5

IND6

IND10

IND11

IND15

IND1

IND3

IND5

IND6

2004 2003 2002

IND8IND8IND8

Quadro 30 – Análise descritiva das empresas inadimplentes e adimplentes Fonte: Dados da Pesquisa (2006).

92

5.6. Resultados da Análise Discriminante

Segundo Hair et al (1998), a análise discriminante é uma técnica estatística

multivariada utilizada quando se deseja estabelecer relações entre uma variável

dependente não métrica e variáveis independentes métricas. Envolve a obtenção de

uma função, que é a combinação linear de duas ou mais variáveis independentes, e

que discriminará melhor entre os grupos definidos a priori. Na Equação 1 é

demonstrada esta combinação linear, conhecida como função discriminante.

Z = a + W1X1 + W2X2 + ... + WnXn (Equação 1)

Onde:

Z = escore discriminante (variável dependente);

a = constante;

Wi = coeficiente ou peso discriminante para a variável independente “i”;

Xi = variável independente “i”

Porém uma ressalva: a discriminação é obtida pela ponderação das variáveis

de forma a maximizar a variância entre os grupos e minimizar a variância

intragrupos.

É importante enfatizar, entretanto, que neste trabalho a análise discriminante

foi processada sobre a amostra de empresas para os anos de 2002, 2003 e 2004.

Como variáveis dependentes utilizaram-se as categorias inadimplentes e

adimplentes. Já como variáveis independentes foram utilizados os setes indicadores

pré-selecionados anteriormente pelos métodos ANOVA univariada e Stepwise mais

o indicador “15” escolhido pelo pesquisador, sendo apresentados para cada ano as

funções discriminantes, escores discriminantes, ponto de corte, reclassificação das

empresas, grau de precisão dos modelos e termômetros de inadimplência.

93

5.6.1. Equações discriminantes

As equações discriminantes apresentadas no Quadro 31 foram estimadas

para descrever as diferenças entre os grupos inadimplentes e adimplentes para cada

ano da pesquisa, construídas a partir das 60 empresas da amostra.

A equação representada pela média dos indicadores obtidos nos três anos

não foi elaborada pelo pesquisador, uma vez que não se usa este procedimento na

análise de crédito pela instituição financeira estudada.

ANO EQUAÇÕES DISCRIMINANTES

2004 Z= 0,012 + 1,493 IND1 + 0,169 IND3 + 0,017 IND5 + 0,036 IND6 - 0,164 IND8 + 0,060 IND10 + 0,018 IND11 + 1,631 IND15

2003

Z= - 1,088 + 0,077 IND1 + 0,544 IND3 + 2,122 IND5 + 0,012 IND6 + 0,258 IND8 + 0,173 IND 10 – 0,107 IND11 + 0,829 IND15

2002

Z= - 0,996 + 0,773 IND1 – 2,431 IND3 + 1,120 IND5 + 0,081 IND6 + 0,178 IND8 + 0,228 IND 10 – 0,134 IND11 – 1,283 IND15

Quadro 31 - Equações discriminantes Fonte: Dados da Pesquisa (2006).

Evidenciou-se que o valor absoluto dos pesos padronizados dos coeficientes

de discriminação fornece a informação de quais variáveis possuem mais capacidade

contributiva em termos de poder de discriminação entre os dois grupos. Foi possível

detectar também que os sinais desses coeficientes indicam se a contribuição das

variáveis para o modelo é positiva ou negativa.

Consideração feita sobre o ano de 2004 é que os indicadores “1” e “15”

apresentaram coeficientes mais altos, logo, seus pesos são relevantes para

diferenciar as empresas inadimplentes das adimplentes. Ao contrário, o “IND5”

apresentou o menor poder de discriminação entre as variáveis. Para a variável

“IND1”, quanto maior o PL, desde que este não seja negativo, maior a probabilidade

da empresa ser classificada como adimplente. Já para a variável “IND15”, vai

depender se o mesmo apresentar-se negativo ou positivo. Caso negativo, quanto

maior o déficit de tesouraria, maior a probabilidade da empresa tornar-se

inadimplente.

Um outro ponto importante a ser considerado para o ano de 2004 é que das

oito variáveis, “uma” apresentou coeficiente negativo, a “IND8” (Índice de Liquidez

Corrente), indicando quanto melhor a situação financeira, mais a empresa se

94

candidata à inadimplência, o que é inconsistente. Uma possível explicação para o

sinal negativo pode ser a alta correlação que essa variável apresenta em relação às

outras. Verificou-se que no ano de 2003, o indicador “5” foi o de maior

representatividade, sinalizando a importância na obtenção de expressivo lucro

operacional para classificação da empresa como adimplente. Já em 2002, os

indicadores mais importantes foram “3”, “5” e “15”, devendo atentar-se para o sinal

negativo dos coeficientes das variáveis “IND3” e “IND15” quando da classificação

das empresas.

5.6.2. Escores discriminantes, ponto de corte e reclassificação das empresas

Depois de definidas as equações discriminantes, faz-se necessário analisar o

grau de precisão dos modelos que foram construídos por meio do cálculo e análise

do escore discriminante e do ponto de corte.

A partir dos dados coletados para essa pesquisa e aqui analisados, definiu-se

escore discriminante como o resultado obtido com base na função discriminante

para cada uma das empresas objeto da análise. Nessa perspectiva, Sanvicente e

Minard (1998) relata que uma vez estimada a equação, ao serem inseridos valores

para as variáveis discriminantes e sendo feitas as contas indicadas (multiplicação

pelos valores dos coeficientes e adição dos resultados), são encontrados diversos

valores, chamados de escore discriminante.

Uma outra análise importante na pesquisa é o ponto de corte que é obtido a

partir da média aritmética das médias dos escores discriminantes de cada grupo de

empresas: adimplentes e inadimplentes. Constatou-se que as empresas que

apresentaram escore discriminante abaixo do ponto de corte foram classificadas

pelo modelo como do grupo “0” (inadimplentes). Por outro lado, as empresas que

apresentaram escore discriminante acima do ponto de corte foram classificadas

como do grupo “1” (adimplentes).

Procurou também observar a capacidade de predição das equações

discriminantes (QUADRO 32), que contempla os escores discriminantes de cada

empresa da amostra original, o ponto de corte apurado para cada ano e a

reclassificação das empresas.

95

REAL RECLASSIF. ESCORE REAL RECLASSIF. ESCORE REAL RECLASSIF. ESCORE

1 0 0 -0,247 0 0 -0,293 0 0 -1,088

2 0 0 -0,506 0 0 -0,779 0 0 -0,902

3 0 0 -0,282 0 0 -0,259 0 0 -0,0544 0 0 -0,151 0 0 -0,502 0 1 0,138

5 0 0 -0,241 0 0 -0,647 0 0 -0,542

6 0 0 -1,565 0 0 -0,543 0 0 -1,177 0 0 -0,453 0 0 -0,121 0 0 -0,128

8 0 0 -0,353 0 1 0,154 0 0 -1,307

9 0 0 -5,713 0 0 -4,386 0 0 -2,557

10 0 1 0,082 0 0 -0,262 0 0 -0,76311 0 0 -0,925 0 0 -0,976 0 0 -0,67

12 0 0 -0,371 0 0 -0,833 0 0 -0,469

13 0 0 -0,418 0 0 -1,67 0 0 -1,272

14 0 0 -1,406 0 0 -0,379 0 0 -0,78315 0 0 -0,38 0 0 -0,557 0 0 -0,785

16 0 0 -1,076 0 0 -1,438 0 0 -0,318

17 0 0 -1,157 0 0 -1,248 0 0 -0,145

18 0 0 -1,075 0 0 -1,143 0 0 -0,856

19 0 0 -1,382 0 0 -0,745 0 0 -0,941

20 0 0 -1,524 0 1 0,647 0 0 -0,67

21 0 0 -0,138 0 0 -0,641 0 1 0,10922 0 1 0,325 0 0 -0,518 0 1 0,857

23 0 0 -0,049 0 0 -0,244 0 0 -0,449

24 0 0 -0,766 0 1 0,2 0 1 0,574

25 0 1 0,969 0 1 0,51 0 1 0,25226 0 0 -2,087 0 0 -1,107 0 0 -0,752

27 0 0 -0,568 0 0 -1,069 0 0 -1,451

28 0 0 -0,2 0 0 -0,356 0 0 -0,048

29 0 0 -0,348 0 0 -0,061 0 0 -1,20130 0 1 0,071 0 0 -0,777 0 0 -0,075

31 1 1 0,69 1 1 1,58 1 0 -0,287

32 1 0 -0,102 1 1 0,358 1 0 -0,42333 1 1 1,199 1 1 0,55 1 1 2,779

34 1 1 0,787 1 1 3,408 1 1 1,777

35 1 0 -0,182 1 1 0,143 1 0 -1,012

36 1 1 2,045 1 1 1,526 1 1 0,73237 1 1 1,581 1 1 1,672 1 1 2,915

38 1 0 -0,163 1 0 -0,91 1 0 -0,176

39 1 0 -0,045 1 0 -0,747 1 0 -2,088

40 1 1 0,357 1 1 1,468 1 1 0,33141 1 1 1,002 1 1 0,519 1 0 -0,093

42 1 1 0,852 1 1 0,253 1 1 0,918

43 1 1 1,127 1 1 3,219 1 1 2,758

44 1 1 2,521 1 1 0,761 1 1 2,0945 1 1 0,24 1 1 0,022 1 0 -0,184

46 1 1 0,535 1 0 -0,133 1 0 -0,356

47 1 1 0,177 1 1 0,883 1 1 1,49248 1 1 0,318 1 0 -0,275 1 0 -0,116

49 1 1 1,387 1 1 1,806 1 1 2,542

50 1 1 2,615 1 1 2,132 1 1 1,69

51 1 1 0,558 1 1 0,195 1 0 -0,152 1 1 0,627 1 1 0,35 1 1 0,092

53 1 1 0,222 1 0 -0,61 1 0 -0,068

54 1 1 0,186 1 0 -0,478 1 0 -0,333

55 1 1 0,053 1 1 0,191 1 0 -0,3656 1 1 0,529 1 0 -0,067 1 1 0,378

57 1 1 2,535 1 1 2,008 1 1 1,724

58 1 1 0,862 1 1 0,524 1 1 0,4

59 1 0 -0,069 1 1 0,314 1 1 0,8460 1 0 -0,507 1 0 -0,621 1 0 -0,395

0,000 0,000 0,000PONTO DE CORTE

2004 2003 2002EMPRESA

Quadro 32 – Escores discriminantes, ponto de corte e reclassificação das empresas Fonte: Dados da Pesquisa (2006).

96

5.6.3. Grau de precisão dos modelos

Foi considerado e discutido na pesquisa o grau de precisão dos modelos,

que, neste sentido, é a probabilidade de se classificar uma empresa no grupo “A”,

dado que ela é do grupo ”A”, ou seja, é a acurácia da regra de classificação

encontrada.

Na Tabela 1 são apresentados os resultados do grau de precisão das

equações discriminantes, para cada ano, considerando isoladamente as categorias

adimplentes e inadimplentes e o total.

Tabela 1 – Grau de precisão dos modelos

ERROS ACERTOS PRECISÃO ERROS ACERTOS PRECISÃO ERROS ACERTOS PRECISÃOINADIMPLENTES 4 26 86,67% 4 26 86,67% 5 25 83,33%ADIMPLENTES 6 24 80,00% 8 22 73,33% 14 16 53,33%TOTAL 10 50 83,34% 12 48 80,00% 19 41 68,33%

2002EMPRESAS 2004 2003

Fonte: Dados da Pesquisa (2006)

Os resultados mostram que em todos os anos houve mais probabilidade de

acerto de classificação para as empresas inadimplentes. Já em relação às empresas

adimplentes, a precisão no ano de 2002 (53,33%) foi mais baixa se comparada com

os anos de 2003 (73,33%) e 2004 (80%).

Quanto ao resultado geral, percebe-se que em 2002 o desempenho

(68,33%) ficou aquém dos demais anos no tocante ao grau de precisão. A precisão

do modelo em 2003 (80%) revelou comportamento semelhante ao de 2004, sendo

inferior em “3,34 p.p.”

Já o modelo de discriminação em 2004 apresentou maior poder de predição

de classificações corretas (83,34%), classificando corretamente 50 das 60 empresas

utilizadas no estudo, revelando a importância dos dados das demonstrações

contábeis do ano anterior ao evento da inadimplência, que nesta pesquisa

correspondeu ao ano de 2005.

Na Figura 9 percebe-se que a análise discriminante das empresas

inadimplentes revelou estabilidade nos níveis de erros e acertos nos três anos. Já na

análise das empresas adimplentes nota-se uma tendência de melhora no nível de

97

erros e acertos no grau de precisão dos modelos. Isto também pode ser observado

na Figura 10.

16

2626

25

22

24

445

68

14

0

5

10

15

20

25

30

2002 2003 2004

Inandimplentes acertos Adimplentes acertos

Inandimplentes erros Adimplentes erros

Figura 9 – Erros e acertos das empresas inadimplentes e adimplentes Fonte: Dados da Pesquisa (2006).

83,33% 86,67% 86,67%

53,33%

73,33%80,00%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

2002 2003 2004

INADIMPLENTES ADIMPLENTES

Figura 10 – Grau de precisão Fonte: Dados da Pesquisa (2006).

98

5.6.4. Termômetros de inadimplência

A partir dos escores discriminantes calculados nesta pesquisa foram

estruturados os Termômetros de Inadimplência. Evidenciou-se que é necessário

calcular o desvio-padrão dos escores discriminantes de cada grupo, e em seguida,

somar e subtrair o valor encontrado da média de cada grupo, criando-se um

intervalo. A partir desses dados gerados verificou-se que é possível classificar as

empresas em três áreas distintas: adimplente, penumbra e inadimplente, conforme

demonstrado na Figura 11.

2004 2003 2002

1,236 1,199 1,152

-1,236 -1,199 -1,152

ADIMPLENTE

PENUMBRA

INADIMPLENTE

ADIMPLENTE

PENUMBRA

INADIMPLENTE

ADIMPLENTE

PENUMBRA

INADIMPLENTE

Figura 11 – Termômetros de inadimplência Fonte: Dados da Pesquisa (2006). No conjunto analisado, na área “adimplente” classifica-se a empresa que

provavelmente não apresentará problemas financeiros. Já a empresa classificada na

área “inadimplente”, poderá apresentar alto risco de se tornar inadimplente. Por fim,

na área “penumbra”, intervalo em que a situação da empresa está indefinida,

cuidados na análise para concessão de crédito deverão ser requeridos pelas

instituições financeiras.

Analisando o ano de 2004, que apresentou o melhor poder preditivo (83,34%),

nota-se que uma empresa será classificada adimplente se o resultado da equação

discriminante for positivo e inadimplente caso contrário. Se o resultado da equação

for superior a “1,236”, a certeza de que ela é adimplente aumenta; se tal resultado

estiver entre “-1,236” e “1,236” (Penumbra), a afirmação de adimplente ou

inadimplente se torna duvidosa; mas se o resultado for inferior a “-1,236”, a certeza

de que ela é inadimplente aumenta.

99

6. CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES DA PESQUISA E RECOMENDAÇÕES

Este capítulo apresenta as conclusões do presente trabalho de pesquisa, as

limitações e recomendações pertinentes para o avanço das pesquisas na área de

previsão de inadimplência de empresas comerciais.

6.1. Conclusões

Mudanças ocorridas no cenário financeiro mundial, a partir dos anos 90, tais

como desregulamentação das taxas de juros e câmbio, aumento de liquidez e

aumento da competição bancária, fizeram com que as instituições financeiras se

preocupassem cada vez mais com o risco de crédito.

A necessidade de controle e gerenciamento eficaz do risco fez com que as

instituições financeiras passassem a primar pelo aperfeiçoamento das técnicas

utilizadas para essa função, com o desenvolvimento de inúmeros modelos

quantitativos pelas próprias instituições financeiras.

Nas últimas décadas diversos modelos estatísticos de probabilidade foram

desenvolvidos, especialmente aplicados para as pessoas jurídicas com a finalidade

de prevenção e controle da inadimplência. Nesta perspectiva, o trabalho propôs

como objetivo geral verificar a aplicabilidade dos indicadores contábeis para análise

de previsão de inadimplência de pequenas e médias (PME’s) empresas comerciais.

Quanto ao primeiro objetivo específico - averiguar, por meio da aplicação da

técnica estatística análise discriminante a possibilidade de prevenção da

inadimplência na instituição objeto de estudo - comprovou-se tratar de uma

ferramenta útil e de eficácia na discriminação de adimplentes e inadimplentes da

amostra de pequenas e médias empresas comerciais clientes da instituição

financeira estudada. Os resultados obtidos com a aplicação da análise discriminante

foram satisfatórios, alcançando, em 2004, ano anterior ao evento da inadimplência,

poder de predição de classificações corretas da ordem de 83,34%, classificando

corretamente 50 das 60 empresas utilizadas no estudo.

Ressalta-se que na etapa de pré-seleção das variáveis preditivas que

compuseram as equações discriminantes foram utilizadas, diferentemente de

trabalhos desenvolvidos anteriormente, dois procedimentos estatísticos – a Análise

de Variância Univariada e o Stepwise.

100

Em relação ao segundo objetivo específico - verificar a viabilidade da

aplicação de indicadores contábeis utilizados em modelo de previsão de insolvência

na determinação da inadimplência das empresas pesquisadas - o estudo mostrou

que das seis variáveis do “Modelo Pereira”, quatro foram selecionadas para compor

as funções discriminantes. Verificou-se que em todos os anos foi apresentado pelo

menos uma com elevado coeficiente discriminante destacando-se na previsão da

“inadimplência” das pequenas e médias empresas comerciais analisadas.

No que concerne ao terceiro objetivo específico - avaliar a importância dos

indicadores da análise dinâmica incorporados no desenvolvimento do trabalho -

concluiu-se que, mesmo não tendo sido escolhidos simultaneamente em todos os

anos pelos procedimentos estatísticos ANOVA Univariada e Stepwise, a introdução

desses indicadores no estudo, pouco utilizados em trabalhos desta natureza, foi de

grande importância. O indicador 15 (saldo de tesouraria sobre ativo total), importante

variável da dinâmica do overtrading e escolhido pelo pesquisador para compor as

equações discriminantes, apresentou peso significativo de discriminação em todos

os anos, com destaque para o último ano, quando foi o mais significante na

classificação das empresas em adimplentes e inadimplentes.

Além disto, é importante ressaltar que o indicador “3” (necessidade de capital

de giro sobre vendas), apresentado nos modelos discriminantes desenvolvidos,

apesar de ser uma variável utilizada no “Modelo Pereira”, também é um indicador

relevante da análise dinâmica.

Neste trabalho, percebeu-se a importância da utilização de indicadores

contábeis na construção das equações discriminantes que têm como objetivo medir

o risco de inadimplência das empresas. É importante destacar que a natureza das

variáveis, presentes nessas equações, é estruturada por diferentes indicadores

capazes de explicar a diferença entre empresas adimplentes e inadimplentes, tais

como os de rentabilidade, endividamento, liquidez e saldo de tesouraria sobre ativo

total.

Verificou-se, ainda, melhora do grau de precisão da equação de previsão de

inadimplência à medida que o momento da análise dos dados contábeis se

aproximava da ocorrência da inadimplência, revelando-os mais eficientes para

mensurar a probabilidade de uma empresa vir a se tornar inadimplente.

101

Desta forma, este estudo revela que se deve averiguar os indicadores

contábeis do ano imediatamente anterior à análise de risco e estabelecimento de

limite de crédito, uma vez que estes podem traduzir melhor o risco oferecido.

Entretanto, deve-se registrar que o conhecimento e a experiência do analista

de crédito, consolidadas num sistema de informação (SI) aliado às metodologias de

avaliação e risco e acompanhamento das empresas, são importantes para o controle

do crédito, com a finalidade de evitar-se a inadimplência.

Por fim, conclui-se que a aplicabilidade dos indicadores contábeis para a

análise de previsão de inadimplência de pequenas e médias empresas comerciais

apoiada na técnica de análise discriminante apresentou resultados satisfatórios,

podendo fornecer à instituição objeto de estudo e a outras instituições financeiras

parâmetros definidos e adequados para que se minimizem os riscos de

inadimplência, possibilitando mais eficiência na gestão do risco de crédito.

6.2. Limitações da pesquisa

Esta pesquisa é de natureza descritiva. Assim sendo, é compreensível que

alguns fatores restritivos se evidenciem, sem, contudo, comprometer o alcance dos

objetivos estabelecidos.

Um dos limites que se circunscrevem neste estudo está associado à

confiabilidade das demonstrações contábeis produzidas pelas pequenas e médias

empresas brasileiras. No entanto, essa limitação não impediu o alcance dos

objetivos estabelecidos no presente estudo, pois, sendo as informações contidas

nas demonstrações fidedignas ou não, foram obtidos resultados bastante

satisfatórios de acerto. É importante destacar, também, que esses demonstrativos

são criticados pelos analistas de crédito do BB que, por meio de reclassificações e

ajustes baseados nas técnicas de análise adotadas pela instituição, procuram

retratar da melhor maneira possível a realidade das empresas analisadas.

Como limitação deste estudo, destaca-se também a dificuldade do

pesquisador de acessibilidade às informações de empresas comerciais situadas em

outros estados brasileiros e de outras instituições financeiras. Desse modo, os

resultados da pesquisa se restringem ao caso estudado, não se permitindo

generalizações.

102

6.3. Recomendações

Como possibilidade de trabalhos futuros, espera-se que este estudo possa

servir de estímulo sobre o tema, em pesquisas com características semelhantes ou

mesmo que utilizem metodologias diferenciadas.

Diante dessas considerações, pode-se elencar algumas recomendações para

futuras pesquisas sobre o tema investigado:

a) aplicar as funções discriminantes elaboradas neste trabalho em uma

amostra de validação composta de outras empresas comerciais;

b) um estudo que compare outras técnicas estatísticas, tais como Redes

Neurais e Regressão Logística, com a Análise Discriminante utilizada

nesta dissertação, bem como novos critérios de seleção de variáveis;

c) inclusão de outros indicadores contábeis não utilizados nesta pesquisa,

com o objetivo de aumentar o grau de precisão dos modelos;

d) ampliar a aplicação do estudo realizado para empresas industriais e

prestadoras de serviços, localizadas até em outros estados do país.

103

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ZDANOWICZ, José Eduardo. Fluxo de caixa: uma decisão de planejamento e controle financeiros. 7 ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998.

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