o uso de identidades étnicas na capital mundial da...

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1 1 IV ENEC – ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS DE CONSUMO Novos Rumos da Sociedade de Consumo? 24,25 e 26 de setembro de 2008 – Rio de Janeiro/RJ O uso de identidades étnicas na Capital Mundial da Gastronomia: O caso da cidade de São Paulo Janine Helfst Leicht Collaço 1 CET/UnB e PPGAS – USP [email protected] Resumo O fenômeno do comer fora de casa vem transformando profundamente as práticas alimentares e tem sido alvo de discussões recentes em torno das novas percepções que se criaram sobre o comer, atividade extremamente complexa e com distintas articulações conjugadas até a decisão final do comensal. Dentre os muitos enfoques que poderiam ser privilegiados, este texto se propõe a analisar a nomeação da cidade de São Paulo como “Capital Mundial da Gastronomia”, comumente capital gastronômica, para compreender como a cidade em seu projeto cosmopolita criou distintas teias para incorporar a pluralidade cultural e dentre elas privilegiar a comida e seu consumo. Esse enfoque será privilegiado a partir da experiência de campo realizada ao longo da pesquisa de doutorado sob o olhar da cozinha italiana, sua relação com a cidade e o grupo. Como apontou Van den Berghe (1984), a cidade plural abriga uma ampla variedade de cozinhas étnicas que vão sendo incorporadas à cena urbana articulando distintos planos. Se no início desse processo é comum valer a etnicidade, as cozinhas se adaptam e assumem novos papéis e não é raro perceber diversas justaposições de significados. 1 Doutoranda pelo PPGAS – USP e professora visitante do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília – CET/UnB.

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IV ENEC – ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS DE CONSUMO

Novos Rumos da Sociedade de Consumo?

24,25 e 26 de setembro de 2008 – Rio de Janeiro/RJ

O uso de identidades étnicas na Capital Mundial da Gastronomia:

O caso da cidade de São Paulo

Janine Helfst Leicht Collaço1

CET/UnB e PPGAS – USP

[email protected]

Resumo

O fenômeno do comer fora de casa vem transformando profundamente as

práticas alimentares e tem sido alvo de discussões recentes em torno das novas

percepções que se criaram sobre o comer, atividade extremamente complexa e com

distintas articulações conjugadas até a decisão final do comensal. Dentre os muitos

enfoques que poderiam ser privilegiados, este texto se propõe a analisar a nomeação da

cidade de São Paulo como “Capital Mundial da Gastronomia”, comumente capital

gastronômica, para compreender como a cidade em seu projeto cosmopolita criou

distintas teias para incorporar a pluralidade cultural e dentre elas privilegiar a comida e

seu consumo.

Esse enfoque será privilegiado a partir da experiência de campo realizada ao

longo da pesquisa de doutorado sob o olhar da cozinha italiana, sua relação com a

cidade e o grupo. Como apontou Van den Berghe (1984), a cidade plural abriga uma

ampla variedade de cozinhas étnicas que vão sendo incorporadas à cena urbana

articulando distintos planos. Se no início desse processo é comum valer a etnicidade, as

cozinhas se adaptam e assumem novos papéis e não é raro perceber diversas

justaposições de significados.

1 Doutoranda pelo PPGAS – USP e professora visitante do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília – CET/UnB.

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Nesse sentido, a diferença é aceita em alguma medida e recusada em outra,

negociada com elementos locais dos quais alguns sobressaem e outros permanecem

subjacentes, expondo então os encontros e desencontros das “culturas”. Esse caminho

da apropriação do diferente revela-se também através do crescente interesse no assunto

da gastronomia fomentado em parte pelo fenômeno da globalização e como forma de

estabelecer uma hierarquização entre cidades, sendo a vasta oferta culinária um dos

indicadores do ser cosmopolita.

Palavras-chave: identidades étnicas, gastronomia, consumo, cosmopolitismo,

cozinha italiana.

Introdução

O fenômeno do comer fora de casa vem transformando profundamente as

práticas alimentares e tem sido alvo de discussões recentes em torno das novas

percepções que se criaram sobre o comer, atividade extremamente complexa e com

distintas articulações conjugadas até a decisão final do comensal. Vale lembrar que o

consumo alimentar, segundo Warde (1997), ganhou peso pela velocidade com que

novas práticas e representações foram incorporadas nas últimas décadas e ultrapassou os

limites normalmente circunscritos pela etnia, pelo grupo, pela religião. Esse fenômeno

foi também discutido em Collaço (2003), abordando os usos de praças de alimentação e

novamente presente ao longo da pesquisa de doutorado sobre os diálogos entre cozinha

italiana, grupo e cidade e que irá nos fornecer dados para esta análise.

Dentre os muitos enfoques que poderiam ser privilegiados, este texto se propõe a

analisar os usos de identidades étnicas e cozinhas na Capital Mundial da Gastronomia,

nomeação obtida pela cidade em 1997. Bebendo da fonte do multiculturalismo, a

também chamada capital gastronômica é hoje uma metrópole cosmopolita composta por

distintos grupos que serviram para consolidar um imaginário de pluralidade cultural,

especialmente fortalecido pelo fluxo de imigrantes que aportou à cidade a partir do

início do século XX. Identidades étnicas, adaptação, assimilação foram distintas

justaposições que sustentaram uma delicada arquitetura de convívio entre grupos na

cidade em uma receita com muitos ingredientes que irão temperar a diversidade urbana.

Nesse sentido, é interessante notar que a construção da imagem de capital

gastronômica foi amparada na variedade de restaurantes com culinárias de “mais de 45

países”. No entanto, uma realidade que de fato só começou a se consolidar a partir dos

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anos 1980 em função da globalização e da abertura promovida pelo governo do então

presidente Collor que ao abrir as fronteiras a produtos importados, permitiu sua

circulação e acesso mais intensos.

Essa nova realidade se deparou com elementos locais, especialmente as cozinhas

já exercidas localmente pelas mãos de imigrantes e, com grande destaque, a cozinha

italiana, pois só alguns anos mais tarde é que de fato ocorreu a explosão de sabores na

cidade no vácuo da globalização. Até então, o hábito de comer fora de casa era

essencialmente observado em camadas favorecidas e tampouco era freqüente.

É verdade que já existiam algumas cozinhas de fora representadas em

restaurantes na cidade, no entanto, o crescente intercâmbio de produtos, pessoas e

informações foi um processo que colaborou para evidenciar os contrastes dos grupos e

suas trajetórias. Assim, se por um lado as particularidades começaram a ficar mais

nítidas, por outro São Paulo é definitivamente colocada no mapa do comer bem quando

nomeada Capital Mundial da Gastronomia2.

Essa nomeação é antes de tudo simbólica, pois marca a inserção da capital

paulista entre as cidades cosmopolitas do mundo. Além disso, a urbanização acelerada

também determina mudanças nos estilos de vida urbanos e o hábito de comer fora de

casa é definitivamente incorporado ao cotidiano. Nesse contexto, a pluralidade cultural

e seu convívio se fincam no horizonte e determinam o ser cosmopolita, neste caso pelo

convívio com a diferença cultural exposta pelas cozinhas dos restaurantes. Cozinha e

cultura parecem ser tomadas de maneira equivalente e degustar as diferenças é parte da

performance do habitante da metrópole. É claro que essa atitude implica em riscos e,

sobretudo, no esvaziamento do conteúdo cultural das cozinhas que desfilam no cenário

plural da cidade para serem devoradas pela avidez de consumir o Outro.

Diante desse amplo universo de sabores o território dos restaurantes urbanos é

um campo a ser explorado e o consumo de seus freqüentadores está sujeito a interações

matizadas pela imprevisibilidade. Formulando múltiplas identidades, esse novo

consumo alimentar perpassa por diferentes linguagens para tentar constituir escolhas

2 Vale lembrar que outras treze cidades dividem o mesmo epíteto. Segundo o relatório preparado para desenvolver um projeto na cidade de Lyon, “Lyon - Capital Mundiale de la Gastronomie?Rapport de Travail Lyon 2020”, gentilmente indicado por Julie Csergo, pesquisadora que participou dessa pesquisa e me falou da mesma no 1º Colóquio Saberes e Sabores ocorrido na cidade de Curitiba em agosto de 2007, seriam além de Lyon e São Paulo, Paris, Bolonha, Parma, Barcelona, Copenhague, Londres, Dijon, Genève, San Sebastian, Bruxelas, Nova York, Toulouse.

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coerentes entre os comensais que agora esbarram com uma infinidade de códigos que

não os isentam de conflitos.

Como apontou van den Berghe (1984), as cozinha étnicas possuem um papel

fundamental na consolidação de laços e criam uma consciência entre membros de uma

mesma comunidade, mas é também uma forma de cruzar fronteiras entre sabores e

grupos. Nesse sentido, as cozinhas étnicas existentes no cenário paulistano já tinham

superado os limites internos, no entanto, se deparam com outro tipo de cozinha que não

poderia nem ser definida étnica, mas com raízes em países e lugares distantes com o

intuito de reforçar a disponibilidade de sabores e paladares à altura para degustá-los.

Assim, velhos sentidos se justapõem a novos e acionam planos simbólicos e

sociais para compor um mosaico do comer próprios de um intenso encontro cultural. A

imigração determina um processo no qual é comum observar a valorização interna da

alimentação frente a uma sociedade indiferente e à medida que as cozinhas se adaptam,

assumem novos sentidos tanto para o grupo quanto para fora. Se os imigrantes tiveram

um papel central na constituição de um imaginário profícuo à capital gastronômica, sua

aceitação e visibilidade nem sempre foi fácil. Por anos passaram despercebidos e

ganharam nova luz em função de arranjos contemporâneos quando as novas cozinhas

chegam muitas vezes desligadas de sua sociedade ou grupo.

Nesse caso, a cidade de São Paulo vivenciou experiências variadas com relação

à incorporação dessas cozinhas e sua visibilidade. No início do século passado foi o

estranhamento, a cozinha não inspirava confiança da população local que tinha

verdadeira aversão aos imigrantes e suas comidas, conforme sugerem inúmeros relatos

de memorialistas. Ao largo dos anos 1950, as condições se alteram e emerge a cozinha

internacional, para nos anos 2000 presenciar o resgate das origens em bairros que foram

tradicionalmente ocupados por imigrantes e sua cozinha tradicional e patrimônio da

cidade junto a novas cozinhas mais exóticas e distantes.

Restaurantes e gastronomia: o palco privilegiado das cidades

As cidades contemporâneas são centros que incentivam o consumo de uma

ampla variedade de bens e serviços, entre os quais se insere a comida em várias formas

e apresentações. Na análise aqui apresentada, o que interessa observar é o consumo

praticado em restaurantes e cujo caráter público abre um espaço muito diferente daquele

praticado nos limites da casa, tendo que lidar não só com variedade de comidas, mas

também de espaços e tempos para comer.

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Diante dos novos arranjos que a cidade impõe aos seus habitantes, comer fora de

casa se transformou em hábito bastante recorrente entre a população urbana

condicionado por duas motivações básicas, necessidade e lazer3. Hoje conhecer pratos,

saber apreciar bebidas, comprar produtos importados, ler revistas indicam o

ressurgimento da cozinha como um instrumento de diferenciação em um universo em

que as forças da padronização se assentam na industrialização e nos sistemas de fast-

foods. No lapso de formas mais diretas de diferenciação, o consumo de bens culturais,

entre os quais a comida, transformou os restaurantes em uma cena contemporânea de

sociabilidades, trocas e performance, demarcando também o afastamento de uma

comida sem origem, homogeneizada em função das indústrias alimentícias e das redes

de comida rápida.

O convívio entre a padronização e a particularização parece ter induzido a essa

ampliação do papel do restaurante. São tantas as formas de acessar e degustar sabores

que os comensais criam seus próprios roteiros de estabelecimentos capazes de se

embrenhar pela selva do comer fora de casa e muitos não se isentam de consultar guias

e roteiros, assim como acompanhar todas as novidades que o universo da gastronomia

oferece genericamente definido como o comer e beber bem. Não somente cozinhas ditas

étnicas4, mas na variedade de preparos, ingredientes, cozinheiros que dificultam

escolhas.

Vale lembrar que a gastronomia é um conceito recente e depurado a partir de um

contexto específico, principalmente gerado na França do século XIX. Revel (1994)

analisou a consolidação da gastronomia a partir de uma perspectiva que a aborda como

um aperfeiçoamento da alimentação, que passou pelo estágio da cozinha e alcançou um

nível de especialização até então jamais visto, e muito em função da convivência cortesã

de Versailles que mais tarde se estendeu para as grandes cidades entre as classes sociais

ascendentes. A comida entendida como uma das passagens da natureza para cultura,

como já discutido por Lévi-Strauss (1967), adquire maior complexidade à medida que

reafirma nossa humanidade pela maior sofisticação e, portanto, afastamento da

selvageria e da barbárie proporcionada pelo mundo natural5.

3 Essa discussão está abordada em Collaço (2003). Ver também Abdala (2003); Warde & Martens (2000). 4 Os sentidos de cozinhas étnicas serão revisados em outro momento, o uso aqui será relacionado à maneira como prevalece o imaginário que relaciona a cozinha estrangeira ao país e não necessariamente a um grupo e suas fronteiras étnicas. 5 Como disse van den Berghe (1984), em parte essa questão foi evitada por muitos anos pela antropologia justamente porque o alimento tem a capacidade de expor as raízes naturais da cultura, mas sem dúvida, o que fazemos com certos produtos é profundamente social.

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Segundo Mennell (1996), embora a palavra gastronomia derive do grego, o

termo parece que foi inventado por Joseph Berchoux em 18016, que usou esse nome

para o título de um poema, termo que rapidamente foi associado na França e Inglaterra,

como “a arte e ciência do comer delicado”, mesmo que em alguns momentos fosse

utilizado como “julgamento do bem comer” 7. De qualquer modo, inaugura-se um

espaço antes inexistente à alimentação e firma-se um gênero literário específico a partir

de obras pioneiras.

A circulação de textos se aproveita de um novo espírito urbano e de novas

classes sociais ascendentes, a gastronomia entra em cena como referência do bom gosto.

Esse estilo fundador é, em parte, tributário a Grimod de la Reynière e seu Almanachs

des Gourmands (1803 a 1812), inspiração até hoje para os guias de restaurantes

contemporâneos. Ali era oferecido um rico panorama sobre a alimentação em uma

publicação em formato de almanaque que desde seu primeiro número discutiu a

qualidade dos produtos alimentícios mês a mês, posteriormente incorporando o

“calendário nutritivo” de ingredientes. Trazia, também, indicações de cada pequeno

comércio de alimentos existentes em Paris, além de comentar as mesas e os pratos dos

restaurantes pela cidade.

Na esteira da consolidação da gastronomia, outro autor renomado é Brillat-

Savarin, que escreve sobre o comer e beber bem no livro denominado A Fisiologia do

Gosto. Nessa obra é retratada em linguagem divertida a importância da alimentação em

diferentes momentos, adotando um estilo mais próximo ao de um ensaio8. Na Inglaterra,

ainda segundo Mennell (1996), esse tipo de escrita registrou-se apenas como uma

imitação dos modelos franceses e só mais tarde ganhou maior consistência.

Contudo, independentemente do lugar, a gastronomia como estilo literário tinha

seus assuntos prediletos: a preocupação em torno do correto, mostrando receitas,

técnicas, cardápios, serviços e comportamentos à mesa; a dietética, com indicações dos

alimentos que devem ser utilizados e de que maneira devem ser preparados; também há

as passagens que tratam sobre a origem de um prato, normalmente uma invenção

6 Poulain (2002) aponta que a disciplina gastronômica já possui alguma independência desde a metade do século XVII, em que se complicam os nomes de receitas e as maneiras à mesa e tendo aparecido bem antes em uma obra grega já perdida Arkhestratos: “gastronomie ou gastrologie”. 7 Traduções minhas. 8 Algumas publicações seguiram esse modelo: Eugène Briffaut, Paris à table de 1846; Charles Monselet que reeditou o Almanachs des Gourmands de 1860 a 1864; Alexandre Dumas (pai) com o Grand Dictiionnaire de cuisine (1873) entre outros.

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acidental de algum cozinheiro distraído sob forma de uma pequena história quase

sempre mítica e; finalmente, a evocação de refeições inesquecíveis.

Rapidamente a gastronomia foi ganhando novos significados e, possivelmente,

pela maior visibilidade que o comer fora adquiriu ao longo dos anos. Segundo Poulain

(2002) a gastronomia hoje seria “uma estetização da cozinha e das maneiras à mesa,

um desvio hedonista dos ímpetos biológicos da alimentação, uma atividade amplamente

moldada pelas regras sociais(...)” (Apud: 201) e que no seu entender pode ser avaliada

como um fato social, já que permite entrever os horizontes da cultura em que existe,

refletindo o espaço e o tempo que a conceberam.

A sistematização de um conhecimento que ao longo dos séculos foi

predominantemente mantido no universo da oralidade, pela sofisticação encarnada nas

cortes européias, em especial a francesa, o incentivo da urbanização e circulação de

informações foram bases férteis para o desenvolvimento da gastronomia que ganhou,

nos anos de globalização, uma visibilidade ainda maior. Disso resultou uma engenharia

complexa em que os estilos de vida se abrem a novas combinações, caracterizando um

processo eminentemente das sociedades pós-industriais.

O restaurante, nesse sentido, foi um espaço que se adequou perfeitamente ao

espírito urbano e acompanhou suas mudanças. De origem relacionada às novas

sociabilidades geradas pelas intervenções urbanas em cidades européias, especialmente

a partir do século XIX, os restaurantes são as novas vitrines do consumo cultural ao

lado dos teatros, cinemas, música, galerias de arte, museus etc9. Foram espaços que

acolheram comensais que compartilhavam sentimentos e percepções que até então não

existiam10, no entanto, rapidamente assimilados e difundidos.

Essas origens parecem resumir, em concordância com Finkelstein (1989), que o

restaurante se tornou um lugar de diversão e nos dias de hoje também lugares para ver e

ser visto, além de permitir o consumo de alimentos envolvidos em performances

complicadas. Saber conversar sobre comida11, saber escolhê-la, saber comê-la diz

respeito à maneira como desejamos ser vistos, mesmo que estes momentos evaporem

9 Consultar Zukin (1998). 10 Segundo Simmel (1976), começa a ser modelada uma atitude indiferente ao outro em função do convívio entre pessoas desconhecidas, uma espécie de entorpecimento emocional necessário nas grandes cidades, o chamado ar blasé. 11 Para uma análise do “falar sobre comida” e sua importância nas relações contemporâneas, consultar Falk (1994).

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rapidamente frente aos olhos de desconhecidos, mas contribui para um sentimento de

segurança interno em um mundo repleto de informações sobre comer12.

A forte exposição de diferenças foi crescendo na vitrine urbana e contribuiu para

o uso do alimento e, por extensão da gastronomia, como fator de inclusão e exclusão.

Não é apenas uma questão relacionada ao status, mas também de que maneira ser

reconhecido ao som de uma dança cultural cada vez mais evidente nas grandes cidades.

Nesse sentido, as classes médias urbanas demarcaram usos que evidenciavam a

distinção, tal como amplamente discutido por Bourdieu (1979), definindo espaços

específicos e disputas de campo que buscavam se sobrepor uns aos outros. Porém, a

diferença banalizada no contexto cosmopolita dificulta escolhas que nos mostrem

distintos.

Nesse sentido, o cardápio repleto de opções tateia por sabores inexplorados e

revela embates em que emergem o exótico, o autêntico, o étnico em distintas

sobreposições e sentidos. Em certa medida, a pergunta que paira é como os símbolos

que antes marcavam as fronteiras de classes, tal como analisado extensamente por

Bourdieu (1979), hoje circulam com maior liberdade entre grupos e permitem perceber

hierarquias? Se algum tempo atrás seguir certos modelos do comer era a passagem para

o conforto das classes favorecidas, o que está em jogo hoje é ter o domínio de códigos

culturais estranhos à cultura nativa e garantir sua leitura pública como diferencial

hierárquico. No fundo, esse é o grande desafio do cosmopolita13, embora com custos

para as cozinhas por ele experimentadas.

Hannerz (1992) afirmou que esse consumo de elementos culturais é sintomático

de uma sensibilidade cosmopolita forjada nos grandes centros urbanos. A cidade

cosmopolita é transformada em uma imensa sala de jantar repleta de distintas cozinhas

distribuídas de maneira desigual pelo espaço urbano e a busca pelo capital culinário é,

utilizando o trocadilho de Bell (2005) com o conceito de Bourdieu (1979), evidenciado

pela correta manipulação de códigos culturais distanciados do cotidiano do habitante

cosmopolita.

A fonte da vitalidade contemporânea dos restaurantes e de suas cozinhas

depende do expurgo das origens duvidosas das cozinhas, pois se representam países ou

se são denominadas étnicas, de alguma forma já receberam um tratamento que as tornou

mais palatáveis ao contexto em que agem. Dessa forma, emerge a questão do autêntico,

12 Consultar Fischler (1990) a respeito deste aspecto. 13 Para aprofundar esta discussão, consultar Hannerz (1990).

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do tradicional, abordada adiante com maior detalhamento, mas é fato, conforme sugeriu

van den Berghe (1984) que a identidade étnica que marca as cozinhas, sobretudo de

imigrantes, acaba sendo diluída frente a outros manejos. A cozinha italiana na capital

paulista fornece um bom exemplo.

Nesse ir e vir de sentidos, pratos e comidas que passaram tempos sem qualquer

interesse das camadas médias urbanas encontram um novo fôlego, especialmente

quando forças econômicas de calibres distintos acionam mecanismos culturais de

resistência e adaptação, assim como de exclusão e inclusão. O restaurante como um

espaço de novas sociabilidades hoje representa um espaço de convergência entre as

forças ditas globais e os encontros locais, levando a uma substancial revisão da relação

entre identidade étnica, restaurantes e consumo.

Comer fora oscila entre a necessidade e o lazer, mas nem sempre foi assim. Se

hoje os restaurantes são vitrines do narcisismo alimentado pelo caráter cosmopolita ou

fonte de energia para trabalhadores apressados, foram por muito tempo espaços de

trocas internas de comunidades étnicas. Restaurantes italianos na cidade de São Paulo,

assim como restaurantes associados a outros grupos como os japoneses, serviram como

locais de encontro de membros das comunidades especialmente quando recém

aportados na cidade.

Por outro lado, se os restaurantes podem ser as novas vitrines performáticas da

distinção, o argumento de Warde (1997) envereda por uma reflexão interessante ao

mostrar que esses espaços não só distinguem, mas também revelam semelhanças. Os

restaurantes atraem comensais com interesses próximos e se reconhecem no universo da

pluralidade cultural. A comensalidade do restaurante não só restringe, mas também abre

um sentido de igualdade entre pessoas desconhecidas, revelando um duplo sentido na

experiência do comer fora, se por um lado excluem, por outro aglutinam.

De qualquer modo, os restaurantes traduzem o desespero onívoro de

experimentar a cultura pela cozinha para construir o próprio eu. No fundo, diante de

tanta variedade, o que está em jogo é criar combinações condizentes com biografias

legíveis e compreensíveis ao outro para poder ser reconhecido socialmente. No entanto,

o restaurante teve um papel importante como fronteira étnica em vários contextos.

Algo similar foi observado por Anneke van Otterloo (2002) quando analisou a

gênese de um gosto pelo “exótico” em Amsterdam. Durante os anos 1930 e 1940 a

cidade recebeu uma intensa imigração asiática que se concentrou em bairros da capital

holandesa, inicialmente servindo membros do grupo e lentamente foram descobertos

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por outros habitantes da cidade, expandindo suas fronteiras para além dos bairros

étnicos e reformulando as noções de gosto.

Contudo, fartura e a abundância de cozinhas são decorrentes da movediça

diversidade que compõe o ambiente das cidades que abrigam indistintamente filhos da

homogeneização, como as redes internacionais de fast-foods, mas também um amplo

leque de culinárias aninhadas nos mais variados tipos de restaurantes. O cenário mudou,

assim como os usos das identidades étnicas que serão analisadas, sobretudo, à luz da

cozinha italiana na cidade, principal fonte de dados de minha pesquisa atual, comparada

quando possível a outras trajetórias culinárias da cidade.

Restaurantes e o uso das identidades étnicas

O fato de que a cozinha italiana hoje não é considerada do Outro revela um

processo já observado por Goody (1982) de domesticação do diferente. No caso da

cozinha italiana, um exemplo que aparece de maneira recorrente pelo mundo, mostrou

que o significado da “italianidade” despertou desde um reforço da nacionalidade à sua

contribuição no progresso. Endossar a culinária do outro e consumi-la é aceitar o

multiculturalismo, mas nem toda a diferença é bem-vinda.

Os restaurantes também oferecem uma realidade distinta da cozinha cotidiana,

experiência essa que também é comum quando se pensam os deslocamentos, sobretudos

estimulados pelo turismo. Novos sabores experimentados e exibidos é uma explicitação,

conforme Hannerz (1992), da estetização das práticas cotidianas no sentido de demarcar

posições normalmente assimétricas.

A reconstituição desses fragmentos sugere que há um hiato entre a percepção da

comida italiana que se praticava no princípio do século XX e aquela que hoje pulula o

imaginário paulistano. Na verdade, a comida italiana que se vê hoje associada à mãe,

aos domingos, às cantinas barulhentas ou ao turismo são justaposições de uma trajetória

inaugurada em uma situação de confronto e insegurança. A combinação de farinha e

água resultando em pães e massas foi uma forma de uniformizar as profundas diferenças

entre italianos de origens variadas.

Nesse sentido, é curioso pensar como os primeiros restaurantes italianos na

cidade de São Paulo diferem do cenário contemporâneo. Inicialmente, o envolvimento

com a cozinha italiana foi decorrente de uma experiência iniciada pelo processo de

imigração. Uma nova vida em uma sociedade diferente, às vezes sem trabalho e sob

condições precárias, moldou uma cozinha nesses primeiros tempos basicamente

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composta de poucos ingredientes e técnicas de preparo simples, uma vez que era uma

“comida de pobres” e de mammas.

O distanciamento dessa cozinha com a sociedade local era evidente, pois são

vários os relatos que contam o estranhamento dos habitantes com relação aos cheiros e

aspecto da cozinha italiana, considerada estranha e própria de uma população desvalida.

No entanto, a comida desses primeiros italianos tampouco era homogênea, uma vez que

as fronteiras internas do grupo delimitavam distintos pertencimentos, especialmente

pelas origens regionais. Na verdade, não se sentiam italianos, mas napolitanos, bareses,

calabreses etc. uma vez que a Itália não era nem mesmo uma nação consolidada,

fenômeno que só foi consolidado mais tarde e que teve ampla influência na percepção

do ser italiano das gerações seguintes.

A incipiente italianidade era uma massa ainda sem forma e forjada sob

condições precárias de famílias que ainda procuravam um lugar na sociedade que os

acolheu. No entanto, encontrar meios de reconhecimento não necessariamente

abandonava as diferenças regionais, alçadas à luz nas festas organizadas pelos grupos

em bairros em que se instalaram e, assim, o bairro do Brás festejava São Vito, Bexiga

Nossa Senhora da Achiropita, Mooca San Gennaro.

Essa incipiente italianidade teve, então, inspiração em uma experiência de

imigração e nos limites da casa, pois foi a partir dos conhecimentos das mulheres que os

primeiros pratos da cozinha italiana circularam pelos comensais da comunidade, em

geral homens, que buscavam nos modestos estabelecimentos onde eram servidas essas

refeições um espaço de convívio.

Era o início de uma profícua rede de trocas que permitiu que inúmeros italianos

sem qualquer instrução ou habilidade profissional conquistassem um espaço na nova

sociedade. Apesar de muitos passarem fome, pequenas produções domésticas,

estabelecimentos montados de maneira rústica à frente da casa trouxeram uma

oportunidade de se lançar no comércio e ter condições de manter a família.

No caso da cozinha, os conflitos se notam em diferentes momentos, mas

segundo constam nos relatos levantados, novos ingredientes e técnicas foram

necessários para adaptar o conhecimento culinário trazido na bagagem à realidade

encontrada por aqui. A inserção de novos produtos e técnicas em uma lógica culinária já

esquematizada não abandonou de imediato a importância de alguns elementos, entre os

quais, a farinha de trigo e sua transformação em massas e pão. Considerados a base da

alimentação italiana, especialmente dos pobres como sugeriram Helstolski (2004) e

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Capatti (2004), ao lado da sopa, os novos habitantes procuraram organizar um

fornecimento desses produtos.

Foi a partir das trocas e na comensalidade dos paisani que a cozinha italiana

estreou na capital paulista e, curiosamente, é uma trajetória que raramente é mencionada

pelos interlocutores da pesquisa. Fome, pobreza, dificuldades extremas não são

elementos que inspiram as memórias dos entrevistados, na verdade, o que revela certo

orgulho é a forma pela qual conquistaram um espaço diferenciado na sociedade

paulistana, associando sua chegada ao progresso.

As mammas e sua cozinha doméstica ficaram apagadas das lembranças, mesmo

porque não se pode nem mesmo dizer que seu trabalho era em restaurantes. Servir aos

italianos, muitos trabalhadores, alguns sem emprego, uma refeição igual àquela servida

para os membros da família em mesas precariamente distribuídas em um espaço exíguo,

normalmente uma extensão da casa, se diferencia profundamente da noção

contemporânea de restaurante.

A cozinha então adquire um sentido étnico, já que era feita por italianas para

servir aos paisani, em uma situação em que as esferas públicas e privadas não tinham

suas fronteiras claras. No fundo, como sugeriu van den Berghe (1984), a cozinha étnica

emerge em função do novo contexto em que opera, e evidencia seu lado instrumental

para definir os limites étnicos do grupo. Desse modo, aciona mecanismos em que as

diferenças regionais dos inúmeros italianos foram varridas para baixo do tapete a favor

da valorização de uma experiência em comum compartilhada em uma sociedade

estranha.

Essa razão instrumental articulou também a importância da família como um

núcleo econômico em que a união garantiria a sobrevivência, herança do sistema rural

que organizava o uso da terra, especialmente nas regiões meridionais da Itália. A

cozinha caseira se mostrou, então, um meio de vida e um instrumento étnico,

comercializada no espaço da casa, mas com caráter público. Restaurantes e produção de

pães e massas em casa foram maneiras de encontrar caminhos para garantir o sustento,

em atividades que requisitavam pouca ou nenhuma instrução.

Esses novos habitantes expuseram diferenças profundas para uma população

ainda presa ao universo rural, causando certo incômodo, especialmente porque sua

existência era praticamente ignorada pelas elites e o poder público14. É um momento de

14 Ver Paoli & Duarte (2004); Santos (2003); Koguruma (1999).

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dicotomias marcantes, contudo pouco exploradas pela memória. A cidade estava sendo

submetida a novas cadências que opunham um espaço do progresso associado a um

projeto modernista e outro espaço que abrigava desordem, sujeira, miséria e

representadas de modo mais evidente nas moradias coletivas dos imigrantes, os

“cortiços”. Diante disso, os ritmos da cidade se fragmentaram e a comida desses novos

habitantes foi uma resposta ao contexto local.

A tentativa de associar a imigração, especialmente italiana, ao progresso da

cidade e, em especial, pela sua crescente industrialização e especialização do setor

terciário, pode nos levar a explorar essa relação, uma pista oferecida pela análise da

comida mexicana feita por Pilcher (1998). Em seu estudo sobre as diferentes

identidades dessa cozinha, o autor notou que o avanço econômico emerge como uma

forma distintiva de civilização. Nesse sentido, a comida italiana adquiriu uma faceta

civilizadora por meio das comidas sofisticadas e um caráter domesticado pela sua

adaptação local. A comida de imigrantes italianos irá ocupar espaço e reconhecimento,

sobretudo nas gerações seguintes que contam com alguma prosperidade social e

econômica.

É também neste momento que emerge uma elite italiana, e embora tenha orgulho

de suas raízes, quer mostrar à cidade, em diversas intervenções, a forma como

contribuiu para seu progresso. No entanto, nem todos se incluem em categorias

extremamente favorecidas, e dessa maneira os discursos em torno da cozinha italiana

começam a se multiplicar e se abre um abismo entre o erudito e o popular, distintas

italianidades para uma mesma cozinha, um aspecto que pode ser pensado a partir da

idéia sugerida por Pereira (2003).

As novas gerações deixam transparecer algumas tensões nesse processo, em

especial, um distanciamento com relação a experiências difíceis pelas quais seus pais ou

avós passaram. A evolução econômica proporcionada pelo café e o surgimento de

possibilidades de incentivar a indústria, rapidamente multiplicou as ocupações ligadas a

esse setor, permitindo que vários imigrantes, boa parte italianos, pudessem ser

absorvidos pelo trabalho formal.

Os filhos desses primeiros imigrantes sem dúvida usufruíram das benesses dessa

estabilidade, expandindo seus horizontes e conseguindo construir uma noção de

prosperidade para o futuro. As comemorações do IV centenário da cidade foram em boa

medida uma tradução do espírito dominante nesse momento, sobretudo, entre os

italianos que tiveram avanços econômicos e sociais.

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No plano urbano houve um esvaziamento dos bairros étnicos, muitas famílias

mais prósperas procuraram novas regiões para residir. Um processo que dá indicações

das novas relações que estavam sendo constituídas pelo grupo na cidade, afastando-se

do convívio entre membros da comunidade. A nostalgia do bairro residencial, das

pessoas conhecidas, dos vínculos estreitos é evidente nas memórias relatadas, contudo

outras mudanças conjunturais afetaram os interesses das novas gerações. As

possibilidades de ascensão social em função das ocupações em fábricas e no comércio

foram decisivas, pois possibilitaram os degraus necessários para que as famílias

melhorassem de vida e procurassem regiões consideradas mais nobres para sua moradia.

Nesse ambiente fértil, a velha idéia do cosmopolitismo é retomada como um projeto a

ser perseguido, segundo apontou Arruda (2001).

Sem dúvida, a valorização do modernismo perpassou o imaginário da época e se

revelou nas obras do Parque do Ibirapuera idealizadas por Oscar Niemeyer para o IV

Centenário da cidade, contando com a participação de mecenas italianos que desejavam

marcar sua presença no cenário urbano com o evidente intuito de reforçar um vínculo

entre modernidade, prosperidade e comunidade italiana. Se na Itália a situação estava

complicada devido aos anos de fome passados na 2ª Guerra, em São Paulo as relações

em torno da comida vão sendo trabalhadas no sentido de reafirmar a presença do grupo

e sua contribuição na prosperidade paulistana.

Com novas feições, esse grupo começou a circular com maior desenvoltura e

muitos se ligaram ao universo artístico, intelectual e cultural fazendo dos bares, cafés e

restaurantes pontos de encontro e sociabilidade, um fenômeno que se acentuou nos anos

1950 na configuração da velha Paulicéia, segundo Deaecto (2002).

Realizar refeições fora de casa também adquire um novo papel. Se antes de

notava uma concentração de estabelecimentos em bairros étnicos, especialmente

destinados a servir membros de uma mesma comunidade, ao lado de alguns cafés que

costumavam atender classes mais favorecidas, especialmente pelas atrações que

ofereciam como os filmes, os anos 1950 revelam novas disposições dos restaurantes e

da comida italiana. Neste momento, sair e freqüentar bares e restaurantes era um novo

tipo de lazer, especialmente nas novas camadas favorecidas, fenômeno distinto daquele

observado nas primeiras cantinas e pensões que serviam como espaços de solidariedade.

É também quando se observa uma ruptura definitiva entre trabalho e lazer, antes

atividades menos marcadas pelas diferenças de tempos e espaços. Surgiam restaurantes

sofisticados e outros mais simples no centro da cidade, muitos de proprietários italianos.

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Os mais boêmios serviam a eminente intelectualidade da cidade que ocupava

cargos em jornais, na recente TV Tupi, em rádios, em faculdades. Por outro lado, ver e

ser visto em ambientes de restaurantes passou a ser diversão das camadas favorecidas e

muitos desses novos estabelecimentos trouxeram novos figurantes, os chefs de cozinha,

assim como profissionais para atender o público, muitos com experiência anterior em

restaurantes na Europa.

No plano da comida se verificaram também diferenças marcantes. As cantinas

dos bairros étnicos, inicialmente conduzidas pelas mãos familiares – mammas na

cozinha, filhos e marido no atendimento – se vêem frente aos novos restaurantes com

cozinheiros e garçons profissionais. Entraram em cena os pratos de uma cozinha pouco

conhecida na cidade, embora presente no sul do país pela mão dos vênetos, mas alçada à

novidade local, é a introdução de uma cozinha do norte da Itália, com o uso de

ingredientes pouco associados à cozinha italiana daquele momento. Manteiga, creme de

leite, risoto, polenta, carnes de caça expandem o leque da cozinha italiana, longe de

representar um conjunto homogêneo.

Vale lembrar que os primeiros italianos instalados na paulicéia eram

predominantemente da região meridional e, mesmo aqueles que prosperaram,

mantiveram o gosto pela cozinha que conheciam desde quando aportaram. Foi com a

nova leva de imigrantes vindos após a 2ª Guerra que a cisão se evidenciou. A comida de

cantina era familiar, doméstica, simples, feminina; a comida dos novos restaurantes, em

geral mais sofisticados que as rústicas cantinas familiares eram espaços de diversão,

cuja comida era preparada e servida por profissionais, em geral homens.

Foi nessa época que outro bairro tradicionalmente ligado à imigração italiana, o

Bexiga, ficou conhecido como o “bairro das cantinas”, tendo seu ápice nos fim dos anos

1970 e começo dos 1980. Predominante no imaginário do bairro, o Bexiga é italiano,

mas desde que se constituiu foi um espaço de convívio entre diferenças, pois além dos

italianos, negros moravam nessa região desde o início do século XX. A dicotomia dos

sabores mostrava a cisão dessa comunidade e as novas apropriações na cidade, uma vez

que os novos restaurantes de comida italiana surgiam na região do centro da cidade, na

época pujante.

Mas é a partir dos anos 1990 que novas configurações se consolidam nesse

universo, uma vez que a cozinha italiana foi difundida globalmente pelo mundo,

sobretudo o duo composto de massas e pizzas, alcançando lugares remotos e

intensificando novos diálogos entre local e global.

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Autenticidade e patrimônio cultural – a cozinha italiana sob novas luzes

O fenômeno da globalização econômica teve como um de seus desdobramentos

mais consistentes a retomada do debate em torno dos encontros culturais. A cozinha

italiana praticada na cidade de São Paulo por muitos permaneceu operando sob a chave

local, mesmo porque a imigração foi escasseando e por muitos anos o Brasil fechou

suas fronteiras ao comércio de produtos alimentícios importados. As viagens

internacionais, ao contrário de hoje, eram caras e esporádicas.

Os restaurantes tradicionais de cozinha italiana na capital paulista se deparam a

partir dos anos 1990 com um intenso fluxo de novas concepções e surgem

estabelecimentos que servem cozinha italiana verdadeira, cuja percepção é assim

concebida pelo fato de ser fiel à culinária exercida na Itália contemporânea. Alguns

pratos e ingredientes adquirem furor, como massas com frutos do mar e azeite de oliva,

justapondo novos sentidos à cozinha local que passou a ser vista como antiquada, “de

carregação”, uma má adaptação da cozinha verdadeira praticada no país de origem.

Nesse caso, a noção de autenticidade emerge com força e nos depara com uma

série de dificuldades. Tal como observou Appadurai (1996), ser autêntico é uma questão

de imaginar a forma como alguma coisa deve ser. E nessa questão a disputa está como

saber o que é autêntico e quem legitima? Entram as percepções do espaço, do tempo,

pois simplesmente a comida é construída social e simbolicamente que se estende à

maneira como se interpretam os restaurantes e pensar no exemplo da capital paulista.

A colisão entre sabores edifica distintas justaposições, o que não deixa de gerar

uma profunda insegurança acerca do que está sendo consumido, avançando os limites

do exagero e criando sensibilidade forçadas. O sentido do autêntico conquista espaço e

orienta as escolhas com maior segurança, embora atualmente tenhamos que nos deparar

com distintas produções de autenticidade que praticamente dialogam em duas chaves

distintas. Por um lado, se assentam naquele autêntico gerado pela associação ao

geográfico, ao solo e predomina então a cozinha feita na Itália contemporânea. Mas há

também o autêntico que se liga às raízes e particularidades da cidade e que se valoriza

em função dessa trajetória, o tempo permite um novo arranjo e se vale da apropriação de

discursos em torno de patrimônio imaterial estendidos aos restaurantes tradicionais de

cozinha italiana, principalmente as cantinas.

“A cidade dos mil povos”, slogan adotado pela prefeitura para a comemoração

do 450º aniversário da cidade convive agora com uma variedade muito maior de

cozinhas italianas e distintas das primeiras refeições servidas pelos imigrantes

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modestos. E diante desse novo contexto era preciso sobreviver, de modo que as antigas

cantinas buscaram uma forma de garantir sua continuidade e sair do ostracismo a que

foram relegadas ao longo dos anos 1990.

A cozinha italiana na cidade cosmopolita é percebida como um produto nativo,

mas foi também parte de um projeto em que a cidade progrediu em função da

contribuição dos imigrantes. A comida responde aos novos arranjos e o bairro do

Bexiga, conhecido como um bairro tradicional da comunidade italiana e famoso pelas

suas cantinas, renovou sua imagem ao se colocar como patrimônio cultural da cidade,

embora um discurso com pouco apelo interno e mais direcionado aos turistas que

trafegam pela dita riqueza cultural da cidade, normalmente vindos do interior ou outras

capitais do Brasil.

De repente um novo uso étnico da cozinha emerge de maneira instrumental a fim

de reverter uma condição desfavorável em função da pluralidade de cozinhas

disponíveis na cidade. Não se trata mais de valorizar uma comida exótica como

instrumento de etnicidade aos olhos locais, mas ao contrário, fortalecer a presença de

uma cozinha de fora apropriada com elementos que a construíram com uma aparência

fortemente paulistana.

Mais do que uma identidade inspirada em fronteiras já bastante diluídas de uma

etnia há muito incorporada à cidade, reaparece a questão de sua contribuição, embora a

visão não dispense a vista para a Itália moderna. Se há um resgate de pratos tradicionais

e das origens, esse comportamento não esconde seu paradoxo, já que inúmeros netos e

bisnetos de italianos buscam nos consulados italianos resgatar uma nacionalidade que

por direito é transmitida pelos avôs e, quem sabe talvez, empreender uma nova vida na

Itália.

Esse novo cenário foi incentivado em boa medida pela globalização recente,

uma vez que a cozinha italiana hoje nos oferece um extenso tapete para pensar relações

entre cidade, comida e grupo. Se nos anos 1950 a cisão mais evidente estava marcada

pela prosperidade interna de membros da comunidade italiana, hoje temos uma diluição

das fronteiras embora uma busca pelas origens para tentar, também melhorar de vida,

mas não mais como família, mas como iniciativa individual.

Surgem novos diálogos, as tradicionais cantinas tentam resgatar seu passado

étnico retomado sob outro olhar, os restaurantes que sofisticaram a cozinha italiana nos

anos 1950 e que ainda estão trabalhando, lutam pela sobrevivência com enorme

dificuldade, pois sentem com peso ainda maior o fato de serem vistos como antiquados

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e menos convincentes como tradicionais. Ao lado destes, novos estabelecimentos que

servem cozinha italiana especializada por região, por pratos, por preparos, alguns

restaurantes evidentemente praticando uma alta gastronomia, ao lado da propalada

cozinha mediterrânea15 e que, nesse caso, surgiu em função do diálogo com o saudável.

A dieta antes considerada pobre e pouco nutritiva, como lembrou Levenstein

(2003) foi alçada ao tipo de dieta recomendada e se espalhou ao redor de modo

espetacular. Por outro lado, emerge outro caminho para pensar a imagem do italiano, as

pizzarias. Além das antigas cantinas, as pizzarias foram restaurantes que se expandiram

rapidamente nas duas últimas décadas e apesar de sua origem italiana16, parecem ter

sido recriadas localmente. Em uma enquête realizada por um sítio da Internet, SP Na

Mesa, em 2004, inúmeros internautas responderam à pergunta “Qual é o prato que

melhor representa a cara de São Paulo?” com a singela pizza, apesar de toda a

parafernália em torno da capital gastronômica.

A pizza reúne famílias, amigos, podendo ser dividida, além de ser acessível e

circular pela cidade toda. Gera proximidade e, segundo Sanchez (2002), a pizza revela

de maneira preciosa os processos de apropriação promovidos pelos grupos de

imigrantes que a fizeram circulam de maneira mais intensa a partir do fim do século

XIX. E dialoga bem com os novos ritmos da cidade, pois atende ao lazer familiar de

várias camadas em distintos espaços da cidade.

Em resposta a processos locais, a pizza tampouco se rendeu às investidas das

grandes redes de pizza padronizada que se instalaram no país, algumas com tão pouca

aceitação que acabaram abandonando suas atividades por aqui. Como se vê, a

industrialização, o comércio, as viagens, os meios eletrônicos influenciam em certa

medida o gosto e o interesse, mas os arranjos locais não deixam de dialogar com esse

contexto. Diante disso, é interessante também pensar a popularização de outras cozinhas

que também estavam presentes na cidade de São Paulo, mas só conquistaram paladares

fora de sua circunscrição movidos pelo motor cosmopolita.

Um exemplo é a cozinha japonesa. Menos domesticada que a cozinha italiana,

até porque o grupo se manteve bastante restrito aos seus limites com uma cozinha de

padrões muito distantes da cozinha ocidental. Sua visibilidade, no entanto, ganhou 15 Cozinha mediterrânea levanta outra questão, pois se formos pensar por sua ligação regional seria necessário definir de que país se fala, pois dezessete países são banhados pelo Mediterrâneo: Espanha, Gibraltar, França, Mônaco, Malta, Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro, Albânia, Grécia, Turquia, Síria, Líbano, Israel, Palestina, Egito, Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos. 16 Consultar Capatti (1989).

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maior dimensão quando impulsionados pela gulodice cosmopolita dos anos de

globalização. Nesse caso, a revelação de um Outro muito distanciado com padrões

alimentares pouco reveladores aos olhos locais, instigaria a busca por novos

experimentos com o intuito de revelar competências capazes de lidar com culturas

estanhas e garantir uma diferenciação social pelo seu manejo adequado, segundo

Hannerz (1998) sugeriu.

Restaurantes japoneses hoje são comuns e aceitos de maneira mais ampla,

embora ainda causem estranhamento para muitos comensais e mais ainda se

comparados aos estabelecimentos mais populares da capital gastronômica como as

pizzarias. Dessa maneira, a capital gastronômica com suas cozinhas do mundo todo,

aprecia sabores domesticados e, em parte, produzidos localmente. Ao contrário de

outras capitais gastronômicas, não é sua cozinha local que se destaca, mas a variedade, a

quantidade e a novidade de restaurantes que surgem na cidade. Alguns sabores são mais

bem aceitos que outros, mas nem toda diferença circula de maneira equivalente.

O novo causa certo desconforto, mas é necessário para fortalecer o caráter

cosmopolita e a resposta das cantinas foi tentar, assim como nas festas, reafirmar sua

qualidade de tradição. Nesse sentido, são novas italianidades jogadas em campo em

função de novas experiências, como bem mostrou di Leonardo (1984) em função dos

arranjos que manipulam as percepções em distintos planos.

O passado étnico é agora revitalizado na capital gastronômica, a comida não é

do sul ou do norte, mas várias cozinhas italianas que manifestam italianidades não mais

condicionadas ao erudito e popular, mas plural: pratos italianos em restaurantes fast-

foods, restaurantes elegantes, bistrôs, restaurantes típicos como as cantinas; além do

conhecimento que é trazido pelos deslocamentos dos comensais que criam também suas

percepções. Diante desse quadro, a estratégia das velhas cantinas para sobreviver na

selva onívora da capital gastronômica foi resgatar sua autenticidade por meio de suas

raízes históricas. Muitos não conseguiram sobreviver frente aos novos desafios, mas

aqueles que estão conseguindo levar seus negócios adiante mostram um passado mítico

em que família, trabalho e progresso conversam entre si.

As cozinhas se transformaram em produtos a serem consumidos e como meios

de ingerir a cultura do Outro, embora nem todo exotismo seja bem-vindo e alguns

possam ser domesticados. As comidas como formas de diferenciação nos conduzem a

novas reflexões em torno das relações entre cozinha, cidade e grupo.

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Sem dúvida que a noção de autenticidade é polêmica, mas é ativamente engajada

ao imaginário social em que foi produzida. Os deslocamentos, o estar lá e ver a forma

como a comida é em seu lugar de origem parece soar mais autêntico17 de maneira que

organiza uma espécie de hierarquia de cozinhas que, no entanto, não se limitam aos

contornos geográficos.

As estratégias para tentar legitimar a comida servida nos restaurantes de cozinha

ficaram claras à medida que se soltam as amarras das memórias e das articulações

locais. É evidente que o espaço e tempo jogam papéis importantíssimos nesse contexto,

se a geografia pode alçar a legitimidade de uma cozinha, foi observado que essa não é a

única estratégia. As cantinas se valeram de sua trajetória ao longo do tempo para se

diferenciar como um bem imaterial de consistência para a cidade e deixam uma porta

entreaberta para resgatar vestígios de uma identidade étnica puída pelas lembranças,

mas acionada para reforçar sua nova posição.

A cozinha italiana desdobrada em vários sentidos inverteu a relação de

desconfiança que se observou com a chegada dos primeiros imigrantes. Ao contrário,

criou reconhecimento entre comensais e é particularmente próxima. Essa constatação

não deixa de ser instigante pela própria noção de cosmopolitismo que transborda na

idéia de capital gastronômica e que reverbera em distintos discursos e imaginários, pois

esconde sob esse epíteto a própria dificuldade em lidar com essa questão.

17 Essa percepção parece também permear a construção do conhecimento antropológico, pois foi a partir desse deslocamento que a etnografia ganhou visibilidade pelas mãos de Malinowski.

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