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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA SILVIA BARBOSA DE MOURA O USO DA MÚSICA NA PASSAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL CAMPINA GRANDE PB MARÇO/2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

SILVIA BARBOSA DE MOURA

O USO DA MÚSICA NA PASSAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

CAMPINA GRANDE – PB MARÇO/2014

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SILVIA BARBOSA DE MOURA

O USO DA MÚSICA NA PASSAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual da Paraíba como um dos pré-requisitos para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia.

Orientadora: Professora Rosemary Alves de Melo

CAMPINA GRANDE – PB MARÇO/2014

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A educação, bem compreendida, não é apenas uma preparação para a vida; ela própria é uma manifestação permanente e harmoniosa da vida. Assim deveria ser com todos os estudos artísticos e, particularmente, com a educação musical, que recorre à maioria das principais faculdades de ser humano. (Willems apud Loureiro 2003, p.13).

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RESUMO

A música é uma manifestação artística, culturalmente construída, que está presente em todas as culturas e se manifesta em diferentes situações do cotidiano. Este trabalho intitulado “O uso da música na passagem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental” teve como objetivo investigar como acontecem as atividades educativas com música numa escola pública, localizada no município de Queimadas, PB. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa que se fundamentou em alguns teóricos que abordam os estudos sobre a música como ferramenta para a educação, dentre eles: Penna (2008); Brito (2003); Smole (2000); Coelho (2001); Teles (1990); Sobreira (2008). Para a realização desta pesquisa, entrevista-se quatro professoras, sendo duas que lecionam na educação infantil e duas no ensino fundamental, assim como, observa-se a prática de duas das professoras entrevistadas. A partir dos dados coletados chega-se à conclusão de que as professoras notadas realizam uma prática pedagógica em música baseada na tradição, ou seja, elas enfatizam as músicas que favorecem o desenvolvimento das atividades cotidianas e também as que contribuem para o processo de alfabetização, deixando assim, de realizar um trabalho com a música que tenha objetivos propriamente musicais, como sugerem os documentos oficiais. Palavras chave: Educação musical. Prática pedagógica. Alfabetização.

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1. Introdução

A educação é um direito de todos e garantida por lei (Constituição Federal de 1988) e

tendo como finalidade o pleno desenvolvimento do educando, esta precisa ser bem

compreendida por seus agentes transformadores e multiplicadores, que são os educadores,

uma vez que tendo consciência de sua função social, este agente buscará sempre os melhores

caminhos a fim de alcançar os objetivos esperados e assim contribuir com a aprendizagem de

seus alunos.

A música vem desempenhando um importante papel na educação brasileira e tem

objetivos específicos para cada momento histórico em que o nosso país vivencia. A educação

musical contribui para a formação do colegial em sua totalidade, pois de acordo com alguns

estudiosos, a música como ferramenta para a educação torna-se de grande relevância, seja em

relação à aprendizagem dos alunos, seja para a formação de hábitos, esta é sem dúvida a mais

comum de se concretizar nas instituições de ensino, visto que para que este ensino aconteça

de maneira adequada são necessários professores capacitados e este é um dos grandes

problemas que a maioria das escolas enfrenta atualmente.

Neste panorama, tem-se o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil,

no item “Ideias e práticas correntes” que mostra como a música vem sendo trabalhada na

Educação Infantil na maioria das instituições escolares ao longo da história. Neste documento

fica evidente que um dos aspectos mais trabalhados na educação musical infantil está

relacionado à formação de hábitos, atitudes e comportamentos, algumas vezes sendo

trabalhada de maneira mecânica e estereotipada, como se a música fosse um produto pronto,

que apenas se aprende a reproduzir.

O trabalho com música proposto por este documento fundamenta-se em estudiosos

que pesquisaram sobre o desenvolvimento infantil e o exercício da expressão musical. Assim

a música passa a ser compreendida como linguagem e forma de conhecimento, que está

presente no cotidiano das crianças. Desta maneira, o trabalho com música precisa:

Garantir a criança a possibilidade de refletir sobre questões musicais (...) e oferecer também condições para o desenvolvimento de habilidades, de formulação de hipóteses e de elaboração de conceitos” (BRASIL, 1998, p.47-48).

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Na citação supracitada vê-se que se torna indispensável o trabalho com música, tanto

na Educação infantil, quanto no Ensino fundamental, desde que se tenha clareza da grande

importância da educação musical, sendo para ampliar o repertório musical das crianças ou

mesmo para contribuir no processo de alfabetização.

Durante a realização de alguns estágios supervisionados no curso de Pedagogia da

Universidade Estadual da Paraíba, especificamente os estágios III, IV e V. Os mesmos

despertaram um interesse maior em estudar sobre o ensino da música e sua contribuição para

a aprendizagem das crianças.

Nos estágios III e IV referentes à observação e a prática docente na Educação

Infantil, a música sempre esteve presente no cotidiano das crianças, a pedido das professoras,

assim como de maneira espontânea por parte dos alunos, estes cantavam não só as músicas da

“escola”, mas também as músicas que costumavam ouvir em seu convívio familiar.

O estágio IV (Prática docente na Educação Infantil) foi uma oportunidade única de

vivenciar momentos tão gratificantes no que se refere à educação musical dos infantes, uma

vez que neste nível de ensino, essa prática de adotar a música é mais constante, porque se

concretiza no cotidiano escolar de uma maneira bem mais significativa, agradável, prazerosa e

além de acontecer de maneira espontânea por parte dos alunos.

No estágio V, presencia-se a música em diversas situações do cotidiano escolar,

nesta escola, os aprendizes eram recebidos com músicas religiosas, os mesmos ficavam a

espera de suas professoras em uma fila específica para cada ano escolar, era perceptível o

envolvimento dos educandos, pois estes cantavam as músicas e, de certa maneira, essa prática

favorecia para que eles pudessem apreciar as músicas, além de contribuir para a harmonia

durante esse momento na escola.

Além de essas vivências terem contribuído para a escolha deste trabalho, outro fator

importantíssimo é, sem dúvida, o fato de ser uma grande apreciadora de músicas e por ter tido

o privilégio de adotar a música em sala de aula com meus alunos, além de acreditar que a

mesma contribui para o desenvolvimento da aprendizagem dos discentes.

A oportunidade de atuar em uma escola particular no município de Queimadas

durante um ano, tendo esta a prática de adotar a música em seu cotidiano escolar e também

em algumas atividades festivas como o Dia das mães, Natal e outras, deixou claro o

envolvimento e o empenho dos discentes para aprender a cantar as músicas escolhidas para

que no dia da apresentação pudessem encantar as pessoas que ali estavam.

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Além disso, era costume iniciar a aula com uma música, seja por indicação própria

ou dos alunos, pois como a turma era de primeiro ano, era preciso trabalhar a questão da

oralidade para que eles pudessem relacionar com a escrita. Esta prática contribuiu muito para

a aprendizagem dos alunos uma vez que ao final do ano letivo a maioria da turma estava

lendo fluentemente, outros ainda com um pouco de dificuldade, mas conseguiam ler. Atribuo

esta conquista à metodologia adotada, é claro, e, sem dúvida, à música.

Analisar a relação entre a teoria e a prática é fundamental para entender como a

educação musical vem acontecendo nas instituições escolares, uma vez que é indispensável

em todo ambiente e em sala de aula, especialmente, por deixar o ambiente mais feliz,

descontraído, prazeroso e o mais importante, a música é uma ferramenta metodológica

indispensável para o processo ensino-aprendizagem e para o desenvolvimento do educando.

Este trabalho teve como objetivo investigar como acontecem as atividades educativas

de música, na passagem da Educação Infantil para os anos iniciais do Ensino Fundamental,

em uma escola pública no município de Queimadas-PB.

Para referenciar este trabalho utilizar-se-á as leis referentes à Educação Infantil e

Fundamental e alguns teóricos que tratam a questão da música, dentre eles: Fusari (1993);

Penna (1998); Sobreira (2000) e Smole (2008), entre outros.

2. O que é música?

A música é uma manifestação artística, culturalmente construída, que tem como

material básico o som. Sendo uma manifestação artística, possui significados diferentes e

pode ser considerada, por quem não faz parte do mesmo grupo cultural, como uma atividade

não musical. A palavra “música” vem do grego mousiké e designava, juntamente com a

poesia e a dança, “arte das musas” (LOUREIRO, 2003, p.33).

O hábito de ouvir música é uma prática constante no cotidiano das pessoas. Esta

prática acontece, por exemplo, ao ligar-se um som, através do toque do celular, no mp3, ou

mesmo ouvindo o cantar dos pássaros e em diversas situações do dia a dia, não sentindo

dificuldades em reconhecer se é música ou não e até mesmo se ela faz parte da preferência

musical, se for, presta-se mais atenção para ouvi-la ou apreciá-la, caso contrário, faz-se de

tudo para não escutá-la, este fato é o que diferencia o gosto musical das pessoas. Neste

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sentido, “(...) a música é compreendida como uma atividade essencialmente humana, através

da qual o homem constrói significações na sua relação com o mundo.” (PENNA, 2008, p.18)

e ainda de acordo com a autora “a música é uma linguagem artística, culturalmente

construída, que tem como material básico o som.” (IBID, 2008, p.22).

A música é uma linguagem artística e culturalmente construída, isto é, esse

conhecimento precisa ser introduzido desde a primeira infância, pois é nesta fase que esta

habilidade tem uma maior probabilidade de ser desenvolvida e de uma maneira mais eficaz

contribuindo assim para o desenvolvimento das crianças.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil RCNEI

(1998):

A música é uma linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc. (BRASIL, 1998, p.45).

Sabendo que a música é uma das mais antigas manifestações da humanidade, que

está presente em todas as culturas e que é utilizada em diferentes situações e para fins

diversos, esta precisa fazer parte do cotidiano escolar das crianças, pois a educação musical

está presente na vida delas desde muito cedo e isto precisa ser levado em consideração no dia

a dia escolar.

Em uma de suas definições sobre o que é música, Penna (2008) nos diz que “a

música é uma atividade essencialmente humana”, assim precisamos lembrar que pássaros não

fazem músicas, muitas pessoas costumam dizer que gostam de apreciar o cantar dos pássaros,

mas pássaros fazem música? Para que o cantar do pássaro se torne música é preciso que

algum compositor a utilize em alguma de suas gravações, faça modificações para poder se

tornar de fato músicas.

Desmistificando esta ideia de que pássaros fazem música, Jardim (apud PENNA,

2008) esclarece que “Se os pássaros que cantam não cantassem como cantam não seriam

aqueles pássaros.(...) Quer dizer: os pássaros não sabem, nem precisam saber que cantam. Nós

sabemos que eles cantam, eles não. Eles são o seu canto, eles só são. “

Esta citação vem confirmar, que, realmente, o fazer musical é uma atividade humana,

por se tratar de uma manifestação que muda de acordo com o tempo e o espaço, cada povo se

manifesta musicalmente de acordo com seus costumes, assim sendo, os materiais utilizados

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para a produção da mesma podem ser diferenciados e isso não acontece com o cantar do

pássaro, que, dependendo da espécie, ele canta igual em todo lugar em que estiver e, com o

passar do tempo, o seu cantar não sofre nenhuma modificação, pois só o homem é capaz de se

utilizar de diferentes materiais para aprimorar a sua produção artística.

Esse conhecimento, se transmitido de uma forma clara aos educandos, fará com que

saibam, que o fazer musical é uma forma de expressão e comunicação, eminentemente

humana e que a sua presença em sala de aula se torna de suma importância, uma vez que a

música faz parte do cotidiano das pessoas e, consequentemente, não poderia deixar também

de ocupar o seu lugar de direito no ambiente escolar.

Existem músicas para várias ocasiões e ambientes, onde obtêm objetivos e propósitos

diferenciados. Há aquelas em que as mães costumam cantar para embalar o sono das crianças,

música para dançar, para chorar os mortos, para conclamar o povo a lutar, entre outras

situações em que a música é utilizada. Músicas que emocionam ou simplesmente fazem

felizes àqueles que a escutam, enfim, são inúmeras as situações em que a música está

presente.

Desta forma, não poderia deixar de permanecer também no ambiente escolar, pois se

a música é capaz de proporcionar tanto benefício, porque não utilizar a mesma para despertar

o interesse, a criatividade e a imaginação dos alunos? Considerando que uma das

possibilidades de uso da música no ambiente escolar seria trabalhar o sentido da música,

como destaca Coll e Teberosky (2004, p.100) em seu livro intitulado “Aprendendo Arte”,

seria indispensável um trabalho que levasse em consideração esses aspectos, pois, de acordo

com esses autores, esta seria uma forma de se trabalhar a música, dado que “o prazer físico e

emocional” é um dos prazeres que a música pode proporcionar a quem a ouve e acrescentam:

“O prazer físico e emocional é a reação mais natural diante da música e, talvez, a mais

poderosa”.

Acredita-se que esse prazer físico e emocional é o que de fato está precisando ser

despertado nos discentes de modo geral, o que poderia se concretizar por meio da realização

de oficinas como sugere o RCNEI, assim o professor poderá trabalhar a educação musical

como um todo, não só para acompanhar atividades cotidianas.

Além do sentido da música mencionado pelos autores, outra possibilidade que estes

destacam nesse mesmo livro é “os elementos da música” neste item é sugerido que seja

trabalhada a questão do ritmo, a melodia, a harmonia, a textura, o timbre e a dinâmica.

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Sabendo que muitos professores não têm uma formação específica em educação musical,

trabalhar com todos esses aspectos referentes aos elementos da música seria muito difícil, mas

os dois primeiros são, com certeza, algo possível de realizar no ambiente escolar, mesmo com

professores que não tenham muito conhecimento sobre a música, pois os autores deixam bem

claro o que é e como identificá-los, para ser trabalhado em sala de aula.

O sentido da música, seus elementos, ritmo, melodia, harmonia, duração, intensidade,

o som e o silêncio, cantar alto, cantar baixo, confeccionar instrumentos musicais, também são

maneiras eficientes para se trabalhar com os alunos, para isto, podem ser utilizados matérias

dos mais diversos, como sucatas, objetos que possam ser aproveitados dentre tantas

possibilidades que se tem para trabalhar com a educação musical que Brito (2003, p.26) chega

à conclusão que:

Música não é melodia, ritmo ou harmonia, ainda que estes elementos estejam muito presentes na produção musical com a qual nos relacionamos cotidianamente. Música é também melodia, ritmo e harmonia, dentre outras possibilidades de organização do material sonoro

Melodia, ritmo e harmonia são apenas os elementos básicos da música, muito

importantes, mas para que estes se tornem uma obra musical, depende de que muitas outras

ações sejam realizadas para que estas se configurem como uma música, que transmita

informação e que possa emocionar e ou despertar em quem a ouve algum sentimento. Por isto,

o autor ainda revelará que música não é apenas melodia, ritmo e harmonia.

2.1. Um breve percurso histórico do ensino da música no Brasil

Sabe-se que a música faz parte do currículo escolar brasileiro desde o período da

colonização, com a vinda dos jesuítas, que teve objetivos específicos para determinado

período histórico. Para conhecer um pouco mais sobre como se deu o ensino da música no

Brasil, recorre-se-rá ao estudo das leis e dos documentos legais que regem o sistema

educacional brasileiro, pois só assim se entenderá melhor o porquê da música ter saído e

depois voltado a fazer parte novamente do currículo escolar assegurada por lei.

De acordo com Fusari e Ferraz (1993, p.128) ”A música brasileira é reflexo de nossa

própria formação social, onde o branco, o índio e o negro como habitantes do Brasil-Colônia,

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determinavam em seu modus vivendi o grau de influência que iriam exercer. Uns mais, outros

menos.”

As autoras consideram que a música do índio fazia parte de seu cotidiano, ou seja,

em todos os momentos a música era inserida. Os colonizadores ocuparam as terras brasileiras

realizando seus rituais e a música também estava incluída e para os negros, a música teve um

caráter de resistência, foi através da música e de outras formas de resistência que eles

conseguiram preservar a sua cultura (IBID, 1993, p.129).

Na primeira metade do século XX, as disciplinas Desenho, Trabalhos Manuais,

Música e Canto Orfeônico faziam parte dos programas das escolas primárias e secundárias,

concentrando o conhecimento na transmissão de padrões e modelos das culturas

predominantes (BRASIL, 2001, p.25,).

Em se tratando da prática pedagógica em música, que é o objeto de estudo aqui, faz-

se necessário falar primeiro sobre a tendência tradicionalista que teve seu representante

máximo no Canto Orfeônico, projeto preparado pelo compositor Heitor Villa-Lobos, na

década de 30 (BRASIL, p. 26, 2001). Esse projeto constitui referência importante por ter

pretendido levar a linguagem musical de maneira consistente e sistemática em todo o país. O

Canto Orfeônico difundia ideias de coletividade e civismo, princípios condizentes com o

momento político de então.

A primeira lei de alcance nacional foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, Lei. 4024 promulgada em 1961 (PENNA, 2008, p.120). O Canto Orfeônico em

1960 foi substituído pela Educação Musical, criada pela lei de Diretrizes e Bases da Educação

Brasileira de 1961.

Com a Educação Musical, incorporaram-se nas escolas também os novos métodos que estavam sendo disseminados na Europa. Contrapondo-se ao Canto Orfeônico, passa a existir no ensino de música um outro enfoque, quando a música pode ser sentida, tocada, dançada, além de cantada. (BRASIL, 2001, p. 27)

Nas décadas de 60 e 70, houve tentativa de aproximar as manifestações artísticas que

ocorriam fora da escola com o que era ensinado na escola, quando as escolas promoviam

festivais de música e teatro com a participação dos alunos (BRASIL, p.28).

Em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a arte é incluída no currículo escolar com o título de Educação Artística, mas é considerada “atividade educativa” e não disciplina. Pode-se dizer que nos anos 70, do ponto de vista da arte, em seu ensino e aprendizagem foram

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mantidas as decisões curriculares oriundas do ideário do início do século 20 (marcadamente tradicional e escolanovista). (BRASIL, p.28-29).

Comparando-se esta lei de 1971com a lei de 61, percebe-se que ela não avançou no

que diz respeito ao ensino da música, pelo contrário, houve um retrocesso.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, sancionada pelo

Presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo então ministro da educação, Paulo Renato, em

20 de dezembro de 96, a lei em seu artigo 26, é alterada e acrescida à lei referente ao ensino

de música.

Também no mesmo artigo traz sobre a obrigatoriedade do ensino da música em toda

a educação básica por meio da lei nº 11.769 de 2008, a mesma teve o prazo de três anos para

ser colocada em prática no cotidiano escolar.

Atualmente, sabe-se que a presença da música nas escolas, se resume à prática do

cantar, sendo na maioria das vezes de forma mecânica sem levar em consideração a realidade

do aluno e com objetivos não musicais.

2.2. A importância da música para o desenvolvimento da aprendizagem das crianças

Considerando que a música traz uma grande contribuição para o processo ensino-

aprendizagem das crianças, faz-se necessário trazer algumas definições que consideramos

pertinentes destacar nesse item: A inteligência e a aprendizagem.

A Inteligência, segundo Tomlinson (1991) “é uma capacidade singular e inovável,

uma propriedade especial dos seres humanos”.

Para Gardner e seus colaboradores (apud SMOLE, 2000, p.25) “uma inteligência

implica na capacidade de criar, resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes

num determinado ambiente ou comunidade cultural”.

Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo,

que se expressa, diante de uma situação problema, sob a forma de uma mudança de

comportamento em função da experiência (COELHO, 2001, p. 11).

Tendo definido inteligência e aprendizagem na visão dos autores, mais uma vez tem-

se a certeza de que essa estimulação precisa acontecer no cotidiano escolar, quer por meio da

música, quer por meio de atividades variadas que façam com que as crianças reflitam sobre

algo proposto, pois desta forma os alunos se sentirão mais motivados a aprender, saberão se

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expressar, refletir sobre algum acontecimento cotidiano, conhecimento esse que o seguirá por

toda a sua vida.

De acordo com Howard Gardner , autor da teoria das inteligências múltiplas, que

juntamente com uma equipe de pesquisadores identificou a existência de oito tipos de

inteligência: a linguística, a lógico-matemática, musical, espacial, corporal, sinestésica,

interpessoal e intrapessoal. No entanto, esta pesquisa deter-se-á ao estudo da inteligência

musical e como ela pode contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem das crianças.

Segundo Gardner ( apud SMOLE, 2000, p.28).

Para considerar a competência musical como uma das dimensões básicas da inteligência, Gardner partiu de numerosas observações empíricas e de dados da realidade. Ele analisou o papel da música em sociedades primitivas, em diferentes culturas, em diferentes épocas, bem como no desenvolvimento infantil, e parece ter se convencido de que a habilidade musical representa uma manifestação da inteligência.

Levando em consideração os estudos deste autor, uma criança independente de sua

cultura, se desde cedo for familiarizada com situações que favoreçam para o desenvolvimento

de suas habilidades, conseguirá um êxito bem maior se comparada com crianças de mesma

idade que não tenha a mesma oportunidade de vivenciar situações de aprendizagem

significativa. Neste sentido, Weiguel (1988) afirma que “a riqueza de estímulos que a criança

recebe por meio das diversas experiências musicais contribui para o seu desenvolvimento

intelectual.” Assim é importante que não só a escola, mas também em casa os pais envolvam

as crianças em situações diferenciadas o que contribuirá para o desenvolvimento da

aprendizagem das mesmas.

Ao se envolverem em atividades musicais, as crianças melhoram sua acuidade auditiva, aprimoram e ampliam a coordenação viso-motora, suas capacidades de compreensão, interpretação e raciocínio, descobrem sua relação com o meio em que vivem, desenvolvem a expressão corporal e a linguagem oral. Quanto mais ela tem oportunidade de comparar as ações executadas e as sensações obtidas através da música, mais a sua inteligência, o seu conhecimento vão se desenvolvendo (WEIGEL apud SMOLE. 2000, p.145).

Nesta acepção, entende-se que a música é de grande relevância para o processo

ensino-aprendizagem, pois, é por meio desta linguagem artística que várias outras habilidades

são desenvolvidas, como destaca Weiguel. Por isto faz-se necessário que todo educador tenha

ciência da imensa importância da música, e comece a incluí-la em sua prática pedagógica.

De acordo com Rudolf Steiner (apud SMOLE, 2000, p.146),

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(...) até na organização física a criança é permeada pelo musical. É a música inerente à criança que a leva a fazer estrela, dar cambalhotas, correr e saltar. Bater palmas e pular em sequência rítmica são movimentações das manifestações vitais do musical dentro do corpo físico. Por seu poder criador, socializador e psicomotor, a música torna-se um poderoso recurso educativo a ser utilizado na educação infantil.

O fato de a música estar presente na vida das crianças mesmo antes de seu

nascimento, quando as mães costumam cantar para seus bebês, faz com que o gosto musical

seja despertado nelas, e que só tende a aumentar pelo contato diário com situações musicais.

Esta prática precisa ser inserida e constantemente acompanhada pelo desenvolvimento dos

garotos com músicas adequadas a cada faixa etária.

Sua importância é tão grandiosa para o processo ensino-aprendizagem que a música

deixa de ser um conteúdo específico da educação infantil e passa a integrar toda a educação

básica, sendo assegurada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que em seu art.

26 traz “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da

educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” e mais

especificamente pela lei 11.769 que se refere diretamente ao ensino de música.

Vale lembrar, que para que o ensino de música saia da teoria e se torne uma prática

na sala de aula é preciso de professores com formação específica, e isso, é um dos mais

difíceis problemas a serem resolvidos, pois como nos diz Penna (2008, p. 141) “a maioria dos

professores que tem alguma formação em arte escolhem outras linguagens artísticas, e poucos

são os que se especializam no ensino de música”. Mais adiante traz: “Nas escolas de ensino

fundamental, 86%(160) dos professores; no entanto, foram encontrados apenas 9 com

habilitação em música, ou seja, 4,8% do total de 186 professores”

Compreende-se que a falta de profissionais especializados é um dos enclaves que

impossibilita que o ensino de música seja transmitido de maneira correta, e que impedem que

os professores realizem um trabalho de qualidade com seus alunos. Em se tratando da

formação de professores, e em especial aos professores de música lê-se que:

[...] embora haja um considerável aumento de iniciativas e bons projetos, ainda não há uma política nacional firmemente sedimentada que ampare o retorno da música às escolas, e nem profissionais habilitados em número suficiente para levar adiante esse projeto. (FONTERRADA, 2007, p.29 apud SOBREIRA, 2008, p.50).

Vale lembrar que, em se tratando da formação de professores, sabemos da

importância da formação não só do professor musical, mas de todo educador que consciente

de sua função social ele sempre buscará conhecimentos, pois como dizia Freire (2000) “o

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professor deve ser um pesquisador”, pois cada estudante tem sua individualidade, carência, ou

seja, se um aluno apresenta tanta dificuldade que precisa sempre de um olhar atento do

professor, imagine uma turma, quantas diferenças não estão ali, esperando que o professor lhe

dê atenção maior? Sobre a formação do professor, o autor diz que “Faz parte da natureza da

prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua formação

permanente, o professor se perceba e se assuma, como professor, como pesquisador”

(FREIRE, 2000, p.32 apud BARRETO p.224). Tudo isso faz com que durante a formação o

educador busque sempre o conhecimento necessário para que possa adotar no dia a dia

escolar.

Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário a reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. (FREIRE, 1996, p. 39).

Percebemos que a educação musical, durante o seu percurso histórico, sempre foi

tida como uma área do conhecimento que não tivesse tanta importância para o currículo

escolar dos educandos quanto às demais. O que sempre prevaleceu, foi à soberania dos

componentes considerados mais importantes como língua portuguesa e matemática, como está

explícito nos documentos legais e, mais especificamente, na nossa Constituição Federal de

1988. Enquanto essa realidade não mudar, a educação musical continuará sendo ensinada nas

escolas pelos professores de forma errônea e inadequada, uma vez que dessa forma não

contribuirá para a formação dos alunos. Sobre isso, Lima (apud SOBREIRA, 2008, P.49) diz

que:

Enquanto a linguagem musical não for pensada como uma das formas de conhecimento que integra a formação da personalidade humana, o ensino musical será visto como ensinamento acessório não incorporado à totalidade curricular, quando comparado a áreas bem mais estruturadas, o que inviabiliza uma atuação funcional eficiente.

Além do predomínio dos componentes considerados hegemônicos, outra coisa que

influenciou negativamente para a concretização do ensino da música nas instituições escolares

foi o fato dela estar por muito tempo associada ao campo da Arte, garantindo uma presença

frágil e, na maioria das vezes, sendo ensinada por professores sem uma devida formação.

Para Loureiro (2003, p. 194) “A questão que se coloca hoje para a formação do

profissional do magistério e, no nosso caso, do profissional de música, não é apenas a busca

do conhecimento, mas como selecioná-lo e administrá-lo dentro do contexto escolar.”

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Tendo este como direcionamento, cabe ao educador não só estar sempre buscando

novos conhecimentos, mas ainda saber como colocá-los em prática. Para que o educador

musical desenvolva um bom trabalho, Swanwick (1993, p. 29 apud LOUREIRO, 2003, p.

201) elenca cinco requisitos básicos para tal prática, a saber:

1.O professor de música não tem que ser um virtuoso musical, porém será um crítico sensível; 2. As músicas que as crianças tocam, cantam e escutam será música real- não “música da escola” especialmente manufaturada; 3. A proporção de música para discussão será alta; 4. Os alunos terão espaço para tomar decisões musicais, e; 5. Todos são musicais

A esse respeito, “se o educador acreditar que a questão da sensibilidade é dada ou

não de berço, ou que, em termos de música, ‘não há nada para entender, basta escutar’, então

tornará inútil o seu próprio trabalho” (PENNA, 2008, p. 29) há de se pensar com maturidade e

perspicácia para uma atuação benéfica a todos.

3. O que nos diz a lei para o ensino de música nas escolas?

De acordo com as leis e documentos legais que tratam da educação brasileira,

aprofundar-se-á um pouco mais os estudos, no que se referem à Educação Infantil e aos anos

iniciais do Ensino Fundamental, por se tratar diretamente do objeto de estudo. A começar pela

lei maior que é a Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 29 diz que a finalidade da

educação infantil é o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, intelectual

e social.

Em relação ao Ensino Fundamental, a Constituição traz em seu artigo 32 o objetivo

para essa modalidade de ensino que é a formação básica do cidadão, mediante: I- o

desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da

leitura, da escrita e do cálculo; e II- a compreensão do ambiente natural e social, do sistema

político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de 2001-vol.06 (PCNs), referente às quatro

primeiras séries da Educação Fundamental, em especial o volume seis, específico de arte, traz

as quatro linguagens artísticas (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro) como conteúdos a

serem trabalhados com os alunos de primeira a quarta série, bem como, objetivos gerais e

conteúdos específicos para cada uma dessas linguagens. Dentre os objetivos gerais, que os

PCN’s propõem para o ensino de arte, no ensino fundamental, os alunos terão que ser capazes

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de “Expressar e saber comunicar-se em artes mantendo uma atitude de busca pessoal e ou

coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilidade e a reflexão ao

realizar e fruir produções artísticas; “(BRASIL, 2001, p. 55).

Dentre os conteúdos que os PCN’s sugerem para o ensino de música, no ensino

fundamental, destacaremos os seguintes:

Interpretação de músicas existentes vivenciando um processo de expressão individual ou grupal, dentro e fora da escola; experimentação e criação de técnicas relativas à interpretação, à improvisação e à composição. E, brincadeiras, jogos, danças, atividades diversas de movimento e suas articulações com os elementos da linguagem musical (BRASIL,2001, p.78-79).

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil de 1998 (RCNEI)

vol.03- tem a música como conteúdo específico para esse público, com objetivos específicos

de acordo com a faixa etária. Para as crianças de zero a três anos os objetivos são: “ouvir,

perceber e discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais; além

de brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir canções musicais”. Em relação às

crianças de quatro a seis anos os objetivos são: “explorar e identificar elementos da música

para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento de mundo; e perceber e

expressar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio de improvisações, composições e

interpretações musicais (BRASIL, 1998, p.55).

Os objetivos musicais propostos pelos PCN’s e pelo RCNEI não foram contemplados

pelas professoras pesquisadas, pois suas práticas estavam voltadas para a transmissão de

conteúdos, utilizando assim a música como um acessório, e antecipando a escolaridade das

crianças. Conclui-se que estas privilegiam a “tradição assistencialista das creches” quanto à

“marca da antecipação da escolaridade das pré-escolas” (BRASIL, 1998, p.47). Esse

acontecimento foi confirmado quando foi entregue a cada criança um livro didático, e ao

folhear o mesmo constatou-se que algo mais grave ainda estava acontecendo, estes são

escritos todo em letras cursivas, pouco se via uma letra bastão. A professora falou que iria ter

muita dificuldade, porque até então só vinha trabalhando com seus alunos a letra bastão. Essa

mudança iria confundir a cabeça das crianças.

De acordo com os estudos em psicologia, estas crianças não têm maturação

suficiente para acompanharem atividades de alto nível, igual as que são sugeridas pelo livro

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didático que elas receberam. Sabe-se que maturação é um processo biológico comum a todas

as pessoas, a não ser que ela tenha alguma patologia.

Maturação e aprendizagem estão intimamente ligadas. É praticamente impossível isolar a influência de um fator sobre o outro. Maturação significa o desenvolvimento do organismo como função do tempo ou idade. É o estágio de desenvolvimento estrutural necessário para o aparecimento de determinado comportamento (TELES 1990, p. 26).

Com base em Teles (1990), apreende-se que ter esse conhecimento se torna

necessário a todo educador para que assim possa compreender que mesmo as crianças tendo a

mesma idade ou estando no mesmo ano escolar, elas podem não apresentar o mesmo nível de

aprendizagem dos demais alunos.

Em se tratando das demais modalidades de ensino, em especial aos anos iniciais do

Ensino Fundamental, acontece algo um tanto curioso, pois, o ensino da música que, de acordo

com a lei, é conteúdo obrigatório, porém, não exclusivo, não é utilizado, visto que muitos

profissionais envolvidos com a educação, ainda sentem muita dificuldade em trabalhar essa

linguagem artística com seus alunos. Assim resta os seguintes questionamentos: O que

impede que os professores adotem a música como metodologia em seu cotidiano escolar?

Quais as dificuldades enfrentadas por estes? E aqueles que adotam, será que estão realizando

um trabalho adequado a faixa etária, a cultura, a vivência e as carências dos alunos, além de

contribuir para que os alunos ampliem o seu repertório musical ou estão só usando músicas

que as crianças já conhecem e, portanto, não se sentem motivados a cantar, participar, nem tão

pouco contribuir para despertar o gosto musical das crianças?

No entanto, estas respostas serão distribuídas no decorrer deste trabalho, mais

especificamente, nas análises e discussões.

Se os professores possuem esse conhecimento, ou não, não se sabe, o que se sabe é

que a educação musical existe, porém, na maioria das vezes ocorre de uma maneira

inadequada, o que acaba sendo uma prática constante dos profissionais que atuam nesses

níveis de ensino, devido à falta de uma qualificação profissional.

4. Procedimentos Metodológicos

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Esta pesquisa compõe-se através do método bibliográfico, de modo qualitativo, de

natureza exploratória, descritiva e de campo, uma vez que sobre o tema de estudo ainda há

uma carência muito grande no que diz respeito a materiais referentes ao ensino de música nas

escolas. Sobre pesquisa bibliográfica Severino (2007, p.122) diz que “é aquela que se realiza a

partir do registro disponível, (...) em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc.”

Quanto aos objetivos propostos, esta pesquisa é do tipo exploratória, pois “busca

apenas levantar informações sobre um determinado objeto”. (SEVERINO, 2007, p. 123).

Para tanto, realizar-se-á a pesquisa tendo como campo uma escola municipal de

Queimadas- PB. Os dados foram obtidos por meio de observações e de questionários

realizados com quatro professoras, sendo duas que lecionam na Educação Infantil com as

turmas pré I e pré II e duas no Ensino Fundamental com as turmas de primeiro e segundo ano.

Os instrumentos utilizados para a realização da coleta dos dados foram a observação

registradas em diário de campo e o questionário com questões abertas com as professoras. A

escolha destes instrumentos tem como finalidade saber se as professoras têm conhecimento da

lei que garante o ensino da música nos níveis de ensino em que elas são docentes e de que

maneira trabalham com essa linguagem artística em sala de aula com seus alunos, pois de

acordo com Severino (2007, p.125) “Questionário é um conjunto de questões,

sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos

sujeitos pesquisados, com vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em

estudo.”

Sabendo das limitações ou das lacunas que os questionários podem deixar, opta-se

também em realizar algumas observações, pois de acordo com Barros (2007.p.74) “observar é

aplicar atentamente os sentidos a um objeto para dele adquirir um conhecimento claro e

conciso”. Por meio das observações poderá ser comprovado se realmente o que as professoras

responderam nos questionários são condizentes com a realidade de sala de aula.

As observações aconteceram durante dez dias consecutivos, sendo cinco dias

destinados para observação na educação infantil e cinco para o ensino fundamental, em

especial a turma do segundo ano.

5. A concepção das professoras em relação ao ensino de música

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Para consolidar a pesquisa foram entrevistadas quatro professoras diretamente

envolvidas com a realidade de sala de aula: sendo duas professoras que lecionam na educação

infantil e duas no ensino fundamental. Assim como, se realizou algumas observações na sala

de duas dessas professoras. O resultado das entrevistas será apresentado a seguir em linhas

gerais ou sistematizado. Para um melhor entendimento, as perguntas serão escritas em itálico,

e às professoras dar-se-á o nome de flores com suas respectivas respostas logo em seguida.

Ao serem questionadas sobre: Se trabalha com música em sua sala de aula? Em que

momentos? E como trabalha? As professoras assim responderam:

Profª. Angélica- “Sim, no momento inicial da aula. Cantando a letra inicial do seu

nome, das frutas, dos animais.”

Atribui-se à resposta da professora Angélica, uma ida por caminhos diferentes do que

os estudiosos e os documentos nos orientam em relação à educação musical, já que ela

enfatiza um trabalho com música nesse direcionamento.

Profª. Rosa - “Trabalho com música no início da aula, cantamos algumas canções do

cotidiano escolar das crianças. Em algumas situações, procuro contextualizar as músicas com

os temas trabalhados.”

A professora diz que utiliza canções do cotidiano escolar das crianças, o que se

configuraria em algo positivo, mais adiante ela entra em dissonância com o que é proposto

pelo RCNEI, pois ao contextualizar as músicas com os temas trabalhados, ela está se

utilizando da música apenas para acompanhar atividades escolares.

Seguindo as orientações do Referencial Curricular Nacional para a Educação infantil

(p.68), a professora poderia realizar “atividades que buscam valorizar a linguagem musical e

que destacam sua autonomia, valor expressivo e cultural”. (BRASIL, 1998).

Profª. Margarida- “Sim, em vários momentos, pois a música é capaz de combater a

agressividade infantil e os problemas de rejeição. Há várias formas de se trabalhar a música

na escola, por exemplo, de forma lúdica e coletiva utilizando jogos e brincadeiras de roda

etc.”

Durante nossas observações, não tivemos a oportunidade de presenciar nenhuma

atividade musical como a professora diz trabalhar, mas ao mencionar que trabalha a música de

forma lúdica e coletiva utilizando jogos e brincadeiras de roda, a mesma está de acordo com

alguns dos conteúdos propostos pelo RCNEI e pelos PCN’s.

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Profª. Dália- “Às vezes, no momento da acolhida e também através de algumas

músicas trabalho o conteúdo do dia. Diante do som da música, a criança deve observar a letra

da mesma e cantar e logo após relatar o que a música relata naquele momento.”

Diante das respostas dadas pelas professoras e o que se vê durante as observações

atenta-se, que, pelo fato das mesmas não terem uma formação adequada (inicial ou

continuada), estas realizam;

Atividades musicais, baseando-se em grande parte na “tradição” das práticas pedagógicas deste nível de ensino. Desse modo, as atividades musicais não estão voltadas para objetivos propriamente musicais, pois visam, principalmente, (a) acompanhar as atividades cotidianas (lanche, oração, recreio, fila, etc.); auxiliar o processo de alfabetização; (c) acalmar e relaxar, através da audição ou canto; (d) preparar apresentações para os pais, relacionadas ao calendário de eventos comemorativos da escola. (PENNA; MELLO, 2006, p.2-3).

De acordo com as respostas dadas pelas educadoras e tendo como base as leituras

realizadas e principalmente o que traz o RCNEI, conclui-se durante as observações que as

práticas que prevaleciam no cotidiano escolar eram a música de boa tarde, a única que

presenciamos as crianças cantarem diariamente, pois em outros momentos poucas foram as

práticas relacionadas à música.

Em relação à pergunta: Qual é o comportamento dos alunos diante de uma situação

de aprendizagem que envolve a música?

Profª. Angélica- “Ficam empolgados envolvidos, ficam estimulados para aprender, se

interessam mais.”

Profª. Rosa- “As crianças adoram vivenciar esse tipo de situação, ficam animados e

fixam melhor o conteúdo.”

Tal como a professora Angélica, a professora Rosa partilha da mesma opinião, pois,

ao responderem a pergunta referiram-se ao ensino da música, como se a mesma fosse

utilizada por elas apenas como um ensinamento acessório, e que a educação musical não

tivesse tanta importância, esquecendo-se de que para ensinar música é preciso musicalizar os

alunos de uma forma mais ampla como nos diz Penna (2008). E ainda, diante das respostas

das professoras, abrange-se que estas realizam um trabalho baseado na tradição das práticas

pedagógicas (PENNA, 2008. p. 132).

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Profª. Margarida- “Eles se envolvem completamente e conseguem absorver com

mais facilidade os conteúdos propostos.”

Em uma das observações, presencia-se a professora Margarida, ao apresentar um

fantoche para as crianças, estas começaram a cantar uma musiquinha que tinham aprendido

em uma aula anterior, pois, esta havia realizado uma atividade com eles com a utilização

desse fantoche. “Eles gostaram tanto, que ao ver o fantoche começam a cantar essa música”

(Disse a professora).

Profª. Dália- “Alguns participam com entusiasmo e prestam atenção em cada detalhe,

porém têm outros que não dão importância a música”.

Diante das observações fica uma provável questão que pode ser a grande

responsável porque alguns alunos da turma do segundo ano não dão importância à música.

Por exemplo, em uma das observações a professora escreveu no quadro a letra da cantiga

popular “SE ESSA RUA FOSSE MINHA”:

“Se essa rua Se essa rua fosse minha Eu mandava Eu mandava ladrilhar Com pedrinhas Com pedrinhas de brilhante Só pra ver Só pra ver meu bem passar

Nessa rua Nessa rua tem um bosque Que se chama Que se chama solidão Dentro dele Dentro dele mora um anjo Que roubou Que roubou meu coração

Se eu roubei Se eu roubei teu coração Tu roubaste Tu roubaste o meu também Se eu roubei Se eu roubei teu coração Foi porque Só porque te quero bem.”

(Cantiga popular)

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Sem motivar os alunos a pelo menos cantar, a mesma se deteve apenas ao estudo da

letra “r” e dos sinais de pontuação. Essa falta de inovação está diretamente relacionada com a

formação da educadora, pois se ela não teve acesso a certas inovações durante a sua formação,

essa carência se manifestará na sua prática diária em sala de aula. Sobre isso, Libâneo (2001,

p.87 apud BARRETO, 2011, p.236) diz, “Parece claro que as inovações introduzidas no

ensino das crianças e jovens correspondem à mudança na formação inicial e continuada de

professores”.

Mesmo tendo uma formação seja ela inicial ou continuada, todo educador precisa ter

clareza de que esse conhecimento será sempre insuficiente devido às mudanças constantes

com as quais vivemos na contemporaneidade. Sobre esse pensamento, Weisz e Sanchez

(2001, p. 118 apud BARRETO, 2011, p. 243) acrescentam ainda que “a formação do

professor necessita mais do que um curso preparatório, pois os conhecimentos com que ele sai

do curso de formação inicial serão sempre insuficientes para desempenhar sua tarefa em sala

de aula”.

Portanto, a professora não foi feliz quando propôs assa situação de atividade com o

uso da música seria interessante que a professora adotasse outras metodologias, necessitando

apenas de um pouco de esforço, carinho e dedicação, pois de acordo com Penna, para se

ensinar música, não precisa ser um músico, com esse pensamento fica evidente que para

ensinar música, basta um pouco de esforço e realmente querer e ainda, sobre como ensinar

música, Loureiro (2003, p. 194) afirma:

A questão que se coloca hoje para a formação do profissional do magistério e, no nosso caso, do profissional de música, não é apenas a busca do conhecimento, mas como selecioná-lo e administrá-lo dentro do contexto escolar.

Mais uma vez, constata-se que a falta de um planejamento e de uma formação

adequada por parte da maioria dos profissionais envolvidos com a educação, contribui

negativamente para a efetivação do ensino de música nas escolas.

Uma das funções do ensino da música é ampliar o repertório musical dos alunos. Em

relação aos objetivos específicos da educação musical, Gainza (apud PENNA, 2008, p.46)

esclarece que:

(...) o objetivo específico da educação musical consiste em colocar o homem em contato com seu ambiente musical e sonoro, descobrir e ampliar os meios de expressão musical, em suma, “musicalizá-lo” de uma forma mais ampla (...)

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Espera-se que esses objetivos citados acima possam realmente ser alcançados um

dia, fazendo com que a educação musical possa realmente perpetrar no cotidiano das crianças

e jovens, uma vez que a música já está presente em seu dia a dia, então que se faça presente

também no cotidiano escolar.

Ao serem indagadas sobre: Terem o conhecimento da lei que garante o ensino da

música na educação básica? Elas responderam:

Profª. Angélica- “Sim!”

A resposta da professora Angélica não nos oferece dados suficientes em relação ao seu

conhecimento da lei 11.769 que garante o ensino da música em toda a educação básica.

Profª. Rosa –“Tenho o conhecimento de que música é obrigatório, e deve está inserido

no currículo escolar.”

Profª. Margarida – “Sim, um conhecimento não muito aprofundado, mas sim.”

Tal como a professora Rosa, a professora Margarida diz ter conhecimento sobre a

lei, porém suas respostas não nos dão dados suficientes que comprovem suas afirmações.

Profª. Dália – “Não tenho conhecimento desta lei, porém, às vezes, trabalho os

conteúdos através de uma música, pois desta forma a aula fica mais dinâmica.”

Das quatro professoras apenas uma falou não ter conhecimento da lei que garante o

ensino da música na educação básica, as demais que afirmaram possuir esse conhecimento,

contudo, as demais que falaram possuir esse conhecimento, não demonstraram isso nem nas

suas respostas, nem mesmo nas observações realizadas.

Quando foram interrogadas sobre: Como você vê a questão do ensino da música

diante da obrigatoriedade?

Profª. Angélica- “Não tem que ser por obrigação e sim por vontade própria, por amor

ao ensino e ver os alunos alegres e estimulados a aprender”.

Profª. Rosa -“Entendo que imposições não são o caminho para a efetivação do

ensino, mas sim capacitações e aprimoramentos quanto à didática utilizada para o ensino

desse tema, pois não temos conhecimento teórico.”

A professora Rosa diz não possuir o conhecimento teórico, mas sabemos que o

RCNEI e os PCN’s trazem uma grande contribuição no que diz respeito ao ensino de música,

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basta o educador ser um constante pesquisador como nos diz Paulo Freire, além disso, estes

materiais encontram-se em muitas escolas porque foram distribuidos pelas secretarias de

educação. O que se torna desnecessário dizer que não tem conhecimento teórico.

Profª. Margarida- “O ensino da música é de uma importância muito grande, pois a

música atinge a alma, a mente e o coração. Mesmo antes da lei, a maioria dos educadores já

usava a música em suas aulas”.

Na resposta da professora Margarida, ela deixa transparecer que possui um

conhecimento sobre a importância de se trabalhar com a educação musical na escola.

Profª. Dália- “Eu acho que nem sempre a lei prevalece, pois às vezes fica somente no

papel”.

As respostas das professoras, Angélica e Dália estão de acordo com Saviani (apud

PENNA, 2008) “como já indicado, a legislação constitui uma mediação entre a situação real e

aquela que é proclamada como desejável”, havendo a probabilidade de contradições e

defasagens entre elas.

Diante dessa citação e depois de ter realizado este trabalho, percebemos que

realmente o que está acontecendo com a educação musical, pelo menos com a prática das

professoras pesquisadas é exatamente isso, o que está na lei vir a ser uma prática na sala de

aula.

Quando perguntadas sobre: “Se consideram a música uma importante aliada para o

processo ensino-aprendizagem? Por quê?

Profª. Angélica- “Com certeza, estimula a aprendizagem e o conhecimento, e deixa o

aluno mais envolvido com a aula.”

Profª. Rosa- “Considero, pois tudo que chame a atenção dos alunos é válido, mas é

preciso solidez em sua implementação e essa só virá quando os professores tiverem segurança

para trabalhar de tal forma.”

Profª. Margarida- “Por seu poder criador e libertador, a música torna-se um poderoso

recurso educativo a ser utilizado na Pré- Escola. É preciso que a criança seja habituada a

expressar-se musicalmente desde os primeiros anos de sua vida, para que a música venha a se

constituir numa faculdade permanente do seu ser. A música representa uma importante fonte

de estímulos, equilíbrio e felicidade para a criança.”

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Pelo fato da professora Margarida lecionar com alunos da educação infantil, alcança-

se em sua resposta, que ela só relaciona a importância da música para o seu público alvo. E

esquece que a música deve estar presente em toda a educação básica, e não só na Educação

Infantil.

Na resposta dada pela professora Margarida, avalia-se que a música é utilizada como

um acessório para o desenvolvimento de determinadas atividades. Além disso, nas

observações viu-se exposto um bonito trabalho “uma flor”, tendo em cada pétala o nome de

um aluno, escrito, então com a nossa chegada, esta pediu que as crianças cantassem a música

que ela (professora) havia lhes ensinado. Elas então cantaram:

“Sou uma florzinha de Jesus,

Sou uma florzinha de Jesus,

Abro a boquinha para cantar,

Fecho os olhinhos para orar.”

A professora falou que não recordava de onde vinha aquela música, só a partir da

necessidade é que ela lembrou, e acrescentou “Acho que foi da escola Normal, pois fizemos

um trabalho parecido, não sei se foi a professora que levou o CD ou não, mas deve ter sido de

algum CD infantil.”

Esse foi, sem dúvida, um dos dias de observação em que se pode ver a música ser

melhor trabalhada.

Em outra observação, presencia-se que para introduzir o conteúdo “numerais”, a

professora questionou aos alunos se eles sabiam de alguma música que falava de motorista,

eles então cantaram a música “Motorista, motorista”. Foi entregue a cada aluno uma atividade

xerocopiada, com o numeral oito e sua representação com desenhos de carros, além da escrita

da letra da música. Mais uma vez, a música sendo usada apenas para o desenvolvimento de

atividades. Letra da música infantil motorista:

“Motorista, motorista Olha o poste Olha o poste Não é de borracha Não é de borracha Não é não Não é não Motorista, motorista Olha a pista

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Olha a pista Não é de salsicha Não é de salsicha Não é não Não é não.”

Profª. Dália – “Sim, é muito importante utilizar-se de diversos tipos de músicas para

incentivar o aprendizado do aluno. Por que através da música e dos movimentos as crianças

aprendem diversas coisas sobre o seu corpo, sobre hábitos saudáveis de higiene e saúde, além

de trabalhar o lado emotivo e harmonioso entre os colegas.”

É perceptível que a professora se contradiz, porque quando questionada sobre

comportamentos dos alunos, ela diz que alguns participam e outros não dão importância a

música, no entanto, nessa questão diz que trabalha o lado emotivo e harmonioso, muito

diferente do que foi visualizado durante as observações.

6. Considerações Finais

A música é uma atividade essencialmente humana que está presente na vida das

pessoas diariamente em diversas situações. Sendo assim, a Educação Musical torna-se eficaz

para o processo ensino-aprendizagem, uma vez que é por meio desta habilidade musical, que

muitas outras poderão ser desenvolvidas. Habilidades estas, denominadas por Gardner (apud

SMOLE, 2000) como sendo: linguística, lógico- matemática, espacial, corporal, sinestésica,

interpessoal e intrapessoal.

Este trabalho trouxe a possibilidade de relacionar o que alguns teóricos trazem em

relação à educação musical com o que realmente é concretizado nas instituições de ensino, em

especial a escola objeto de estudo, localizada no município de Queimadas, PB.

Neste sentido, constata-se que a pesquisa realizada, com as professoras, confirmou

algo que, de certa maneira, esperava-se encontrar: a falta de formação adequada e de um

embasamento teórico que lhes possibilitem realizar um trabalho de acordo com o que sugere

as leis e documentos legais.

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As atividades educativas com música, desenvolvidas pelas professoras pesquisadas,

encontram-se recheadas de práticas voltadas para o ensino tradicional com música, pois suas

respostas e suas práticas confirmam isto, ou seja, são atividades cotidianas em que a música

aparece apenas para acompanhar a acolhida, o lanche, a fila e outros momentos, sendo assim,

a música é utilizada, pelas professoras, como uma ferramenta facilitadora de aprendizagem e

não com fins propriamente musicais.

Percebemos, durante nossas observações, que as práticas pedagógicas com o uso da

música, desenvolvidas pelas professoras pesquisadas, encontram-se com uma maior

frequência na Educação Infantil, mesmo que de forma inadequada, a música esteve presente

todos os dias na sala de aula. O que não presenciamos foi as crianças cantarem as músicas que

escutam em casa, ou que cantassem livremente. Estas só costumavam cantar a pedido da

professora, as “músicas da escola”.

Em relação ao Ensino Fundamental, o que presenciamos diariamente foi a prática de

cantar uma música de acolhida (de boa tarde). Pareceu-nos que eles tinham ensaiado tanto

aquela música, só para cantar bonito, enquanto estávamos observando. Além disso, a música

cantada por eles parecia mais com uma música que faz parte do repertório musical da

educação infantil, pois não tinha muito a ver com a realidade deles. As poucas vezes que

presenciamos a professora trabalhar com a música foi simplesmente como um acessório para

a transmissão de conteúdos.

Nesse sentido, constatamos que a educação musical ainda continua sendo uma prática

mais comum na educação infantil do que no ensino fundamental, que de acordo com a lei nº

11.769-2008, esta deveria fazer parte de toda a educação básica, e não somente um conteúdo

exclusivo da educação infantil. Lei esta que teve o prazo de três anos para se tornar uma

prática no cotidiano escolar, e cinco anos após a sua implementação, vemos que ainda falta

muito para que ela não seja apenas mais uma lei, mas que de fato se concretize no ambiente

escolar, com objetivos musicais e não só cantar por cantar.

Diante dos resultados obtidos por meio do questionário e das observações, chegar-se-á

à conclusão de que uma das dificuldades enfrentadas, pelas professoras pesquisadas, para

utilizar a música em seu cotidiano escolar é, sem dúvida, a falta de uma formação adequada.

Outro aspecto de fundamental importância que tem contribuído ao longo da história para a

desvalorização da educação musical é o predomínio dos componentes considerados mais

importantes como língua portuguesa, matemática e outras.

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Percebe-se também que as professoras que dizem trabalhar com música no seu dia a

dia escolar, na maioria das vezes, adotam uma prática baseada no tradicionalismo em que as

músicas de “boa tarde”, as que antecedem a hora do lanche, na fila , são as que realmente

acontecem e, portanto, não pode se dizer que desta forma está trabalhando música com seus

alunos, pois práticas como estas, não têm objetivos musicais, mas sim, apenas para o

desenvolvimento de atividades diárias.

Este descompasso entre teoria e prática que se verifica a partir desta pesquisa deverá

servir como exemplo para que todos os educadores que acreditam que a música precisa sim,

estar inserida de uma maneira adequada no cotidiano escolar dos alunos, não se deixem levar

pelo fazer tradicional do ensino de música, todavia fazer como, sempre na medida do

possível, o que está prescrito nas leis e documentos, que se possa proporcionar aos aprendizes

essa forma de comunicação tão bela e grandiosa, que eles tenham a oportunidade de

interpretar, improvisar, apreciar, enfim, para que os educandos possam despertar o prazer

físico e emocional que a música proporciona.

Diante do exposto, assim como Penna (2008) menciona, a falta de uma formação em

música é um dos grandes problemas que impede que as docentes realizem uma prática

pedagógica eficiente, que realmente contribua para a formação do aluno em si, que leve em

consideração a cultura, a vivência dos alunos, suas carências e necessidades em se expressar e

comunicarem-se através da música, pois sabe-se que a música permite que se desenvolva

também a linguagem oral das crianças e sua motricidade, por isto, a relevância de trabalhar

com a educação musical não só na educação infantil, como também em toda a vida escolar do

educando.

Com base no que foi exposto, torna-se de suma estima que seja oferecido aos

profissionais da educação, uma formação que garanta o desenvolvimento do estudante em sua

totalidade e que a educação musical tenha o devido reconhecimento, uma vez que esta se

apresenta como uma forma de comunicação, expressão e apreciação, algo indispensável para

a formação de todo ser humano.

ABSTRACT

The music is an artistic expression, culturally constructed, that is present in every cultures and manifest itself in everyday situations. This work, entitled "The use of music in the passage of the Infant Education to the Elementary Teaching" has had as objective to investigate how

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educational activities happen with music in a public school, located in Queimadas City, PB. For this, a qualitative study has been carried out based on some theorists who approach the studies about music as a tool for education, among them: Penna (2008), Brito (2003); Smole (2000), Rabbit (2001); Teles (1990); Sobreira (2008). For this study, four teachers were interviewed, two who teach in the infant education and two other in the elementary teaching, as well as, observing the practice of two interviewed teachers. From the collected data we have reached the conclusion that the quoted teachers perform a pedagogical practice in music based on tradition, in other words, they emphasize the songs that favor the development of daily activities and also the ones which contribute to the process of literacy, thus leaving, to perform a work with music that has proper musical goals, as suggest the official documents.

Keywords: Music Education. Pedagogical practice. Literacy.

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