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O USO DA FOTOGRAFIA NO ENSINO DA GEOGRAFIA E A

TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO

Sandra Lucia Prudencio Santana1

Claudivan Sanches Lopes²

1 Professora de Geografia da Rede

Pública de Ensino, Estado do Paraná 2 Professor Doutor do Departamento de Geografia,

Universidade Estadual de Maringá

RESUMO

O presente estudo contempla o uso da fotografia no ensino da Geografia e sua importância

na análise da transformação do espaço geográfico. Objetivou desenvolver nos alunos o

hábito de observar a paisagem e os modos mais adequados de, numa perspectiva

geográfica, interpretá-la, como também entender a importância da fotografia para a

compreensão da transformação do espaço geográfico como fruto das práticas humanas em

um determinado momento histórico. O estudo desenvolveu-se mediante a observação e

análise de sequências de paisagens diversas em diferentes momentos, verificando as

transformações nelas ocorridas ao longo do tempo, bem como a análise de fotos antigas da

cidade de Maringá, especificamente da Zona Sete, comparando a evolução e a

modernização ocorridas nas imediações do Colégio Estadual Vital Brasil e, mais

especificamente, na Avenida São Paulo, área do antigo Viaduto do Café, no Estádio Willie

Davids, na Praça Raposo Tavares. Em trabalho de campo os alunos puderam observar e

analisar in loco, as transformações, ocorridas na paisagem e realizar eles próprios registros

fotográficos. O desenvolvimento das atividades propiciou aos alunos avaliarem como foi

realizado o trabalho do homem transformando a paisagem. Com o uso de fotografias os

alunos puderam analisar e compreender melhor as mudanças ocorridas nesta região da

cidade ao longo do tempo.

Palavras chave: Espaço geográfico; Fotografia; Transformação.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de reflexões que tem por base projeto de

implementação pedagógica desenvolvido com alunos da 6ª série A do Colégio

Estadual Vital Brasil – Ensino Fundamental e Médio, na cidade de Maringá, Paraná.

O objetivo foi desenvolver nos alunos o hábito de observar a paisagem e os modos

mais adequados de, numa perspectiva geográfica, interpretá-la, como também

entender a importância da fotografia para a compreensão da transformação do

espaço geográfico como fruto das práticas humanas em um determinado momento

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histórico. Visou, portanto, propiciar aos alunos maior entendimento e compreensão e

como o espaço geográfico pode ser modificado através dos tempos pelas ações dos

homens.

Metodologicamente o trabalho foi pautado na observação, descrição e análise

de fotos antigas e atuais da cidade de Maringá, Paraná, e particularmente da Zona

Sete, bairro em que se localiza o colégio no qual foi realizada a implementação

pedagógica e em trabalhos de campo. Neste trabalho de campo foi desenvolvida

uma trilha visando a leitura e a interpretação da paisagem nas imediações do

Colégio, como também em pontos estratégicos que confirmaram grande importância

que este tipo de atividade desempenha na aprendizagem dos alunos. Como parte da

atividade de campo os alunos realizaram uma entrevista, com uma senhora, antiga

moradora do bairro, que vive em uma casa de madeira, nas imediações do Colégio.

As casas de madeira, muito antigas e predominantes no passado em toda Zona

Sete encontram-se atualmente, em gradual processo de desaparecimento.

Considerando os objetivos do projeto foi realizada, ainda, uma palestra com

uma fotógrafa que explicou aos alunos as técnicas e a “arte de fotografar e de

revelar fotos”. Após as devidas explicações, como modo de exercitar aprendizagens

os alunos foram fotografar as dependências do Colégio, momento em que fizeram

comparações com as fotos antigas.

Além deste trabalho, e como parte das estratégias planejadas no projeto de

implementação foi realizada uma palestra com o Senhor Jeremias Puliquezi,

pioneiro e antigo morador da Zona Sete, com o objetivo de relatar e demonstrar para

os alunos, através de fotos, as transformações ocorridas no local. Após a palestra,

que deixou os alunos bastante interessados, foram os mesmos motivados a redigir

um texto sobre mesma.

Para finalizar as atividades, previstas em nosso projeto, foi montada uma

exposição, na sala de aula do 6º ano “A”, apresentando uma síntese das atividades

pedagógicas desenvolvidas, ilustradas com as fotos antigas e as atuais, com a

finalidade de, socializando a experiência e os conhecimentos adquiridos, demonstrar

as modificações ocorridas no espaço geográfico pela observação da paisagem no

entorno do Colégio Estadual Vital Brasil e na Zona Sete.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Breve discussão teórica

Estudar Geografia se constitui em um modo particular de compreender o

mundo em que vivemos e visa possibilitar aos alunos e a todos nós entender melhor,

tanto o local em que moramos, seja a cidade, o campo, o nosso país, como também

os demais países da superfície terrestre. Visto que o campo próprio da Geografia é o

estudo do espaço produzido pelas sociedades humanas é salutar que

compreendamos, criticamente, as modificações que nele se sucedem ao longo do

tempo. O espaço geográfico não é apenas o local da moradia, mas principalmente

uma realidade que é, a cada momento, (re) construída pelas atividades e

necessidades do ser humano. Segundo Vesentini (2000), “[...] a geografia é um

instrumento indispensável para empreendermos essa reflexão, reflexão que deve

ser a base de nossa atuação no mundo”.

Durante a sua existência, o homem realiza atividades e ações que possuem

uma dimensão pedagógica. A Geografia, auxiliada pela arte de fotografar pode nos

indicar de que maneira podemos “olhar a paisagem” e incentivar o aluno a desbravar

o mundo na e para além da sala de aula. Além de se tornar uma lembrança de

lugares por onde passamos, ela representa uma fonte incalculável de dados, fatos e

informações de espaços que foram transformados pelo homem através dos tempos,

de acordo com seus interesses e necessidades.

O registro das informações, através de desenhos e fotografias, é fundamental

para a compreensão do espaço geográfico. Segundo Santos (1996), a imagem

ultrapassa o código da escrita e se instaura no seio do processo educativo, nos

possibilitando ver e comparar como era o espaço e como se tornou no decorrer dos

tempos, pela mão do homem. A fotografia se apresenta como uma revelação do que

anteriormente foi e o quê é na atualidade. Pode-se dizer que o espaço, o tempo, a

razão e a emoção se conjugam para nos mostrar o presente, pois a fotografia, nesse

sentido, revela experiências diversificadas no tempo e no espaço.

Se compararmos as fotografias de épocas anteriores com as atuais é possível

ver as transformações da paisagem que hoje se agregam àquelas do passado. No

que diz respeito ao uso da fotografia como recurso de análise para a elaboração do

trabalho, busca-se superá-la como mera ilustração que apenas complementa o

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trabalho de pesquisa. No presente trabalho, a fotografia é a base da observação, um

instrumento de ensino e, ao mesmo tempo, de pesquisa. A este respeito Achutti

(1997) diz que a fotografia deve ser valorizada enquanto técnica de pesquisa, que

vai ao encontro da técnica narrativa.

Portanto, a fotografia é uma preciosa ferramenta no ensino de Geografia,

principalmente no que tange ao estudo da transformação da paisagem. Neste caso,

fotografias antigas podem ser comparadas a registros fotográficos atuais realizados

pelos próprios alunos, seja em atividades individuais, seja em trabalhos coletivos

orientados de campo. Trata-se, sem dúvida de uma prática de educação geográfica,

ao mesmo tempo lúdica e altamente formativa do espírito crítico.

A paisagem pode ser entendida como um conjunto de objetos naturais ou

construídos, que se relaciona com o campo visível, onde se juntam objetos do

passado e do presente. As paisagens são, assim, expressões técnicas, funcionais e

estéticas da sociedade (SANTOS,1988).

Segundo Cavalcanti (2006), as paisagens são também entendidas como

dinâmicas e históricas, já que elas revelam expressões de movimentos da

sociedade, havendo uma associação entre paisagem e natureza, sendo que os

aspectos objetivos captados na paisagem quanto os aspectos subjetivos dos

sujeitos que dão significado e sentidos aos elementos dessa paisagem.

A observação dos objetos que compõem a paisagem, como se depreende da

análise da figura 1, comporta elementos objetivos, subjetivos e sempre é seletiva.

Por meio da observação e análise da paisagem geográfica podemos perceber e

identificar as ações e as contradições sociais, bem como o resultado das ações

humanas passadas em tempos distintos.

O estudo da paisagem nos leva ao domínio do visível, ou seja, ela é a

expressão visível de um espaço, aquilo que nossa visão é capaz de alcançar.

Entretanto, todos os nossos sentidos, tais como, a audição, o olfato, o tato, podem

ser mobilizados para captá-la. A paisagem, portanto, revela a dimensão das formas

que às compõe (CAVALCANTI, 2006).

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Figura 1: Sistematização do conceito de paisagem. Fonte: Cavalcanti, 2006, p. 38.

É através da observação e descrição que começamos a compreender as

formas que compõem as paisagens. Elas, portanto, nos servem de caminhos de

análise do espaço. Sendo as paisagens expressões de movimentos da sociedade,

elas são ao mesmo tempo, como já foi afirmado, dinâmicas e históricas.

A paisagem nos revela as relações de produção da sociedade, suas crenças,

seus valores, seus sentimentos, pois é através dela que as demais pessoas buscam

entender as ações realizadas em tempos distintos, ou seja, no passado e no

presente momento.

De acordo com Santos (1988, p.61), paisagem pode ser entendida como “o

domínio do visível aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volume, mas

também de cores, movimentos, odores, sons etc”. No que diz respeito ao espaço,

são dotadas de formas e objetos que se transformam, em função da sociedade, que

trabalha na sua construção:

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A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais-concretos. Neste sentido a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, numa construção transversal. O espaço é sempre presente, uma construção horizontal, uma situação única. Cada paisagem se caracteriza por uma dada distribuição de formas-objetos, providos de um conteúdo técnico específico. Já o espaço resulta da intrusão da sociedade nestas formas e objetos (SANTOS, 1996, p.83).

Nesta perspectiva de análise do espaço construído, juntamente com a

observação da paisagem se insere a fotografia, como “um recurso de excelência” na

análise das transformações que se deram ao longo do tempo em uma determinada

região ou lugar.

Com relação ao uso da fotografia no ensino da Geografia e a transformação

do espaço geográfico, relativo ao GTR - Grupo de Trabalho em Rede, ou seja, um

curso on-line, ministrado pelo professor PDE aos professores da Rede Pública da

Secretaria de Estado da Educação, detectou-se, mediante atividades desenvolvidas

pelos professores, que a fotografia constitui-se em uma importante base de

observação, um instrumento de ensino e, ao mesmo tempo, de pesquisa. Pode-se

afirmar que este recurso é sem dúvida coerente com os temas ministrados no 6º Ano

do Ensino Fundamental, pois o aluno aprenderá com maior facilidade, além de se

sentir mais envolvido com o conteúdo que está sendo ensinado, como também

propiciar a “saída da rotina” de livros e textos. O aluno vive, deste modo, a

experiência de sujeito ativo da pesquisa, compreendendo conceitos e

acontecimentos, muitas vezes abstratos e complexos.

A prática da fotografia pode contribuir para que o aluno se sinta estimulado a

modificar suas atitudes em relação ao meio, buscando uma sociedade sustentável,

ciente de seus direitos e deveres. Tornar as aulas mais interessantes, é um bom

começo para incentivar os alunos a tornarem-se mais participativos e envolvidos

com as mesmas e, consequentemente, com o conteúdo, como também auxilia o

aluno a reconhecer mais facilmente as mudanças ocorridas através da visualização

de diversas imagens de determinada localidade, percebendo de forma concreta a

transformação do espaço.

Para a compreensão do espaço geográfico, constitui elemento fundamental a

paisagem, pois o ser humano constrói e reconstrói a paisagem cultural, buscando

melhorias, como também é possível verificar mudanças ocorridas, suas motivações

e consequências, ou seja, é o ponto de partida para que a mesma permita que se

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detecte as alterações naturais e humanas ocorridas em determinado lugar em

diferentes épocas.

Seria ideal que todas as escolas tivessem sua história registrada em

fotografias, retratando todas as suas modificações, pois através de imagens o ensino

de Geografia torna-se mais concreto, facilitando o entendimento do aluno e também

o trabalho do professor, propiciando melhor compreensão das transformações

ocorridas no ambiente a ser estudado e perceber os pontos positivos e negativos

dessas transformações.

É necessário levar em consideração, também, que as atividades pedagógicas

planejadas pelo professor não necessitam ser realizadas somente dentro da sala de

aula, ou seja, as mesmas devem ser bem diversificadas, assim, uma atividade

desenvolvida fora da sala de aula, mas dentro do próprio recinto da escola, propicia

maior integração entre alunos e principalmente, com a professora, pois os interesses

demonstrados pela nova experiência já os deixa mais incentivados.

O trabalho envolvendo paisagem e fotografia, além de ser rico material

didático, constitui um conteúdo que pode ser incluído em planejamentos

interdisciplinares, envolvendo, além da Geografia, disciplinas como a Língua

Portuguesa, História, Arte entre outras, que daria um excelente projeto.

2.2 Análise das atividades desenvolvidas

Para fundamentar o estudo sobre o uso da fotografia no ensino da Geografia,

e sua relação com o estudo da transformação da paisagem realizaram-se várias

atividades com os alunos da 6º Ano “A”. Buscou-se, portanto, favorecer aos alunos

melhor compreensão do espaço geográfico e seu processo de transformação

através dos tempos.

Entre as estratégias selecionadas foram apresentadas várias figuras (Figuras

01; 02; 03; 04; 05 e 06) configurando uma sequência de paisagens, representando

um mesmo lugar (fictício) em diferentes momentos históricos. Trata-se de uma

atividade típica do ensino de Geografia e que permite ao professor mostrar, num

processo gradativo, o decurso de transformação da paisagem natural em paisagem

humanizada ou cultural.

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Figura 02. Fonte: Pereira, D; Santos, D.; Carvalho (1993. p. 59).

Figura 03. Fonte: Pereira, D; Santos, D.; Carvalho (1993, p. 61).

Figura 04. Fonte: Pereira, D; Santos, D.; Carvalho (1993, p. 62).

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Figura 05. Fonte: Pereira, D; Santos, D.; Carvalho, (1993, p. 63).

Figura 06. Fonte: Pereira, D; Santos, D.; Carvalho, 1993. p. 65

Foram destacadas na análise das figuras as formas naturais e as formas

construídas ou culturais que, em cada momento, compunham as paisagens e sua

relação com o tamanho do poder tecnológico dos seres humanos, naquele período,

utilizados para transformar a natureza.

Após a observação e análise das paisagens, os alunos elaboraram um texto

intitulado: “A atividade humana, constrói continuamente o espaço geográfico”. Com

esta atividade os alunos compreenderam que o espaço geográfico é transformado

através da ação do homem.

A aluna F., a este respeito relatou que “achei muito interessante ver a

sequencia de paisagens, pois através delas pude observar como o espaço

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geográfico se modifica com a ação do homem, domesticando animais, construindo

cidades, fábricas, estradas, cultivando lavouras, com o uso de novas tecnologias”.

Para que os alunos entendessem a importância do uso da fotografia para a

compreensão das transformações que ocorrem no espaço geográfico, realizou-se

uma palestra sobre a “Arte de fotografar”, com a professora Raquel Dias, que lhes

falou sobre a história da fotografia e as técnicas para tirar fotos e como as mesmas

eram reveladas.

Figura 7: Palestra sobre a arte de fotografar. Fonte: Santana, S .L. P.

A Professora, para ilustrar a palestra, utilizou fotos antigas do Colégio

Estadual Vital Brasil e, em seguida, orientou os alunos para que, de posse de

máquinas fotográficas, percorressem os espaços internos e externos do Colégio e

fotografassem os mesmos lugares, vistos por eles nas fotos antigas. A seguir,

fizeram a comparação das mesmas, e redigiram um texto sobre “A arte de

fotografar”.

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Figura 8: Alunos do 6º ano A, fotografando o Colégio. Fonte: Santana, S. L. P.

Foi um momento de intensa aprendizagem. A aluna D., por exemplo, afirmou:

“[...] eu gosto muito de fotografar, com um bom enquadramento, as fotografias

podem mostrar as diferenças do passado para o presente e as modificações

realizadas pelo homem”.

O aluno T., afirmou que: “[...] a importância da fotografia do passado para o

presente é que nos mostra fatos e feitos históricos”.

A seguir, os alunos observaram uma sequência de fotografias antigas e atuais

da Zona sete (Figuras 09, 10, 11, 12 13 e 14), atentando para os detalhes que

compunham as mesmas, com a finalidade de descrevê-las minuciosamente,

comparando as modificações ocorridas através do tempo no mesmo espaço

geográfico.

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Figura 9. Vista aérea de Maringá, PR – Década de 60. Fonte Museu da Bacia do Paraná

Figura 10. Vista aérea de Maringá, PR – Atual. Fonte: Museu da Bacia do Paraná.

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Figura 11. Avenida São Paulo – Viaduto do Café. Fonte: Museu da Bacia do Paraná.

Figura 12. Avenida São Paulo. Fonte: Lopes, C. S. 2012.

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Figura 13. Estádio Willie Davids. Fonte: Museu da Bacia do Paraná

Figura 14. Estádio Willie Davids, 2012. Fonte: Dias, R. P.

Algumas falas dos alunos são significativas para evidenciar as aprendizagens

adquiridas por eles ao longo do projeto e, particularmente, nesta atividade.

O aluno A., por exemplo, afirmou: “[...] antigamente tudo era mais difícil, mas

com o passar dos tempos e com o uso da tecnologia o homem foi modificando o

espaço em que vivia”.

Para o aluno B.: “[...] no início, o homem utilizava o cavalo, o arado, a enxada,

o machado e a foice para desbravar a mata e preparar a terra, para a plantação.

Hoje, é utilizada a tecnologia mais moderna”.

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Para o aluno C.: “[...] antigamente as casas eram construídas com pau a

pique, depois com madeira, e, com o passar do tempo as construções passaram a

ser de tijolos, com água encanada e já com a energia elétrica e as ruas foram sendo

asfaltadas”.

Uma importante estratégia adotada no desenvolvimento do projeto constitui

na realização de um trabalho de campo. Os alunos, orientados pela professora,

observaram e fotografaram as casas de madeira ainda existentes nas imediações do

Colégio Estadual Vital Brasil, verificando as modificações ocorridas na paisagem, no

mesmo espaço geográfico. O trajeto e os pontos de observação, como se pode

observar no mapa a seguir (figura 18), foram os seguintes: casa de madeira da D.

Ottília, área do antigo Viaduto do Café, e o Estádio Willie Davids.

Figura 15. Trajeto e localização do pontos de observação do trabalho de campo.

No ponto de observação da casa de madeira de propriedade da D. Ottília, os

alunos perceberam que havia ocorrido várias modificações no mesmo, o que ficou

confirmado pela fala da D. Ottília - “[...] nos anos de 1950, só havia 50 casas e o

resto do bairro era “mato”, as estradas eram de barro, e quando chovia os poucos

carros que insistiam em circular atolavam. Só usavam carroça, cavalo e carros de

boi para o transporte. A casa não possuía energia elétrica, nem água encanada,

usávamos lamparina e lampião e não tinha banheiro no corpo da casa. O mesmo era

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no fundo da data e, ao lado, tinha um pequeno cômodo com um fogão econômico

utilizado para aquecer a água que era colocada no balde, que servia de chuveiro e

era levantado por uma corda e era chamado de “Tiradentes”. O sanitário também

ficava separado do corpo da casa, longe do poço, de onde era retirado a água para

todo o trabalho caseiro, para que a mesma não fosse contaminada”.

Na visita na casa de D. Ottília, e pelo exposto por ela, os alunos perceberam

as várias modificações ocorridas através do tempo. Modificações estas que fizeram

com que eles ficassem admirados e se conscientizassem das dificuldades pelas

quais os primeiros habitantes passaram.

Figura 16. Aula de campo com alunos 6º ano A – Casa de madeira nas imediações do Colégio. Fonte: Dias, R. P.

As fotografias tiradas pelos alunos foram impressas para que os mesmos as

descrevessem e as comparassem com as antigas, fazendo um paralelo entre as

mesmas, observando e relatando as mudanças ocorridas no espaço geográfico.

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Figura 17. Alunos do 6º ano A – Passando pela área do antigo Viaduto do Café. Fonte: Dias, R. P.

Figura 18: Alunos do 6º ano A – Nas arquibancadas do Estádio Willie Davids. Fonte: Dias, R.P.

Com o objetivo de aquisição de maiores conhecimentos e esclarecimentos do

tempo em ocorreu a fundação da cidade de Maringá, foi realizada uma palestra com

o Pioneiro, Senhor Jeremias Puliquezi, ainda residente neste município, na Zona

Sete.

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Figura 19. Palestra com Sr. Jeremias Puliquezi. Fonte: Dias, R. P.

Fala do Sr. Jeremias Puliquezi - “Eu nasci aqui em Maringá. Os primeiros

imigrantes que aqui chegaram foram os japoneses, que começaram a desmatar e

construir. As escolas eram simples e as professoras eram leigas e jovens de apenas

15 anos”.

O que provocou admiração nos alunos foi o fato do senhor Jeremias Puliquezi

relatar que a casa onde ele havia nascido tinha sido demolida para dar lugar a

construção de um prédio e ele para ilustrar trouxe uma amostra da madeira que era

de sua casa, a “Peroba Rosa” que segundo ele era muito resistente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho visou compreender a importância e as possibilidades do uso da

fotografia no ensino da Geografia, possibilitando haver pelos alunos maior

compreensão da transformação do espaço geográfico como fruto das práticas

humanas em um determinado momento histórico, como também entender a

importância da fotografia para o resgate e compreensão de fatos verificados na

paisagem, avaliando sua evolução ao longo do tempo.

Mediante atividades desenvolvidas não só dentro de sala de aula, como

também através de aula de campo, oportunizou aos alunos conhecer as

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modificações ocorridas no espaço através dos tempos e da ação do homem, nas

imediações do Colégio Estadual Vital Brasil e da Zona Sete.

Atividades diferentes usando materiais simples foram suficientes para

despertar o interesse e a motivação dos alunos, facilitando, assim, a compreensão

do estudo realizado, visto que o mesmo foi relativo ao seu meio e ao seu espaço de

vivência e de conhecimento.

O trabalho foi desenvolvido a contento, pois o mesmo trouxe-me

conhecimentos de como utilizar a fotografia no ensino da Geografia de maneira

prazerosa, de forma a verificar nos alunos, maior entrosamento e motivação em

realizar as atividades propostas, as quais foram desempenhadas com muito

interesse, por ser para eles uma novidade.

Durante a exposição dos trabalhos os alunos fizeram empenho em mostrar

para a comunidade escolar e familiares tudo que realizaram e explicaram com

detalhes para que houvesse maior entendimento e compreensão das atividades

desenvolvidas, demonstrando através da sequência de paisagens (fictícias), as

transformações ocorridas no espaço geográfico em um grande período de tempo.

Foram expostas, também, fotos antigas e atuais da cidade de Maringá, mais

especificamente da Zona Sete, com a finalidade de mostrar as transformações

ocorridas ao longo do tempo.

Propiciar aos alunos uma atividade prazerosa, pertinente ao uso da fotografia

no ensino da Geografia, saindo da rotina de sala de aula, será atividade sempre

lembrada pelos alunos, principalmente quando se verifica que os objetivos foram

alcançados. Apesar de ser trabalhoso, o resultado final recompensa todo o esforço

dispendido.

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