o trabalho filosÓfico - argumentaÇÃo

8/4/2019 O TRABALHO FILOSÓFICO - ARGUMENTAÇÃO.

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UNIDADE 1 – INICIAÇÃO À ACTIVIDADEFILOSÓFICA

Capítulo 2. Os instrumentos essenciais da actividade

filosófica.




Os argumentos são um dos elementos centrais daactividade a que chamamos filosofia.

Sem argumentos, as respostas às questões da

filosofia não passariam de opiniões semfundamento.

Estudar filosofia é, em parte, analisar, discutir e

avaliar os argumentos que os filósofos usam paradefender as suas teorias. Discutir ideias é discutir




Os argumentos não são apenas importantes emfilosofia. Argumentar é uma actividade frequente.

Os argumentos servem para justificar a verdade ou

a falsidade de uma afirmação.

E justificar uma afirmação consiste em apresentaras razões em que nos podemos basear para

concluir que essa afirmação é verdadeira ou falsa.




Se não tivermos razões para pensar que umadeterminada afirmação é verdadeira (ou falsa),não faz muito sentido considerá-la uma coisa ououtra.

É por isso que justificar racionalmente umaafirmação ou teoria é tão importante.

Só podemos considerar uma teoria verdadeira se




O objectivo dos argumentos é justificar o valor deverdade (verdadeiro, falso) de uma afirmação.

Justificar é um acto que consiste em apresentaras razões em que nos podemos basear paraconcluir que uma certa afirmação é verdadeira oufalsa.




As razões que um argumento tem para oferecersão as suas premissas.

A afirmação que as premissas pretendem justificar é a conclusão do argumento.




Uma pessoa que pretenda, por exemplo, defenderque Deus existe, tem de se justificar. Para isso, teráde apresentar as razões que a levaram a essa

conclusão.Um argumento possível seria o seguinte:

Se Deus não existe, a vida não tem qualquer

objectivo. Ora, eu acredito que a vida tem umob ectivo e ue não estamos cá a enas or acaso.




O primeiro passo para podermos avaliar omérito de um argumento é identificá-lo

correctamente.Temos, portanto, de saber qual das afirmaçõesque o compõem é a conclusão e quais as

premissas.




Identificar argumentos. Indicadores de Premissas.

porquedado que

como foi ditovisto quedevido a

a razão é queadmitindo que

sabendo-se que

se aceitarmos que




Identificar argumentos. Indicadores de Conclusão.

por issopor conseguinte

logo

portantodaí quesegue-se que

pode-se inferir queconsequentemente

assim




Premissas e conclusão. Identificar e discutir

argumentos.



Diálogo 1

Maria: É a primeira vez que aqui venho, mas julgo que oteu clube de ginástica tem uma direcção competente.Joana: Por que dizes isso? Estiveste no clube umamanhã, nada mais.Maria: Não há clubes bem organizados sem boasdirecções. Ora, o teu está bem organizado. Portanto…

Joana: Tens razão. Já quase me tinha esquecido dequão lógica consegues ser...





Premissas e conclusão

(1) Qualquer clube bem organizado tem uma

direcção competente.(2) O clube da Joana está bem organizado.

O clube da Joana tem uma direcçãocompetente.




Diálogo 2

Ana: O aborto levanta um difícil problema moral queme deixa insegura. Mas a minha impressão é queabortar é errado.Pedro: Achas? Porquê?Ana: Por um lado, parece-me que o feto tem o direito àvida. Por outro, violar um direito é sempre errado. Ora,o aborto viola o direito à vida do feto. Portanto… Pedro: Se o que dizes for verdade, é claro que abortaré errado. Onde está o problema?Ana: O problema é que o direito à vida do feto nãoreúne o consenso. Afinal, o feto não é uma pessoa.




Premissas e conclusão

(1) O feto tem o direito à vida.(2) Violar um direito é sempre errado.(3) Abortar viola o direito à vida do feto.

Abortar é errado.




Análise do argumento

O argumento proposto pela Ana tem uma característicaimportante: se aceitarmos as suas razões (i. e., se aspremissas do argumento forem verdadeiras), teremos deaceitar a conclusão.

Dito de outra maneira: a verdade das premissas dá-nos agarantia de que a conclusão é verdadeira.

Os argumentos que possuem esta característica dizem-seválidos. A validade é muito importante porque nos impedede chegar a conclusões falsas partindo de premissas




Definição de validade

Um argumento é válido quando: se as premissasforem todas verdadeiras, a conclusão é verdadeira.

As premissas não têm de ser verdadeiras para umargumento ser válido. A definição só diz o queacontece à conclusão na hipótese de as premissasserem verdadeiras.

Pode haver argumentos válidos com premissasfalsas. Isto sucede quando se verifica que, no casode as premissas serem verdadeiras, a conclusão é




Como se discute um argumento (válido):

O argumento proposto pela Ana é válido. Se for verdade queo feto tem o direito à vida, que abortar tira a vida ao feto eque violar um direito é sempre errado, segue-se que abortaré errado.

No entanto, embora a Ana se incline para pensar que aconclusão é verdadeira, não está segura disso.

O problema é que as premissas não podem ser todasverdadeiras e a conclusão falsa. Se a conclusão for falsa (ouduvidosa), pelo menos uma das premissas tem de ser falsa





Quando encontramos um argumento como o da Ana, emque se as premissas forem todas verdadeiras, a conclusãotambém tem de o ser, mas não concordamos com aconclusão (ou ela nos parece duvidosa), temos de discordarde pelo menos uma das premissas.

É a própria Ana quem sugere que um dos aspectos quemais dúvidas levanta no seu argumento é a premissa (2).

Se houver boas razões para pensar que o feto não tem odireito à vida, o argumento perde a sua força.





Quando temos razões para pensar que uma ou maispremissas de um argumento com que discordamos sãofalsas, compete-nos apresentá-las. Ao fazê-lo, estamos acontra-argumentar.

Estamos, portanto, a criar uma oportunidade para que asnossas razões possam ser avaliadas e discutidas.

Não basta pensar que temos boas razões. É necessário queessas razões resistam à crítica.




O processo argumentativo. Um estudo de caso (I).




Diálogo 3.1

Manuel: Olá, Luísa! Comprei dois bilhetes para a touradaesta noite. Espero que estejas de acordo. Luísa: Nem pensar! As touradas são moralmenteerradas. Manuel: Erradas? Porquê? Luísa: Bem, suponho que sabes que as touradas fazemsofrer os animais de um modo intencional edesnecessário. Manuel: E depois?Luísa: Ora essa! Fazer sofrer os animais de




Diálogo 3.2

Manuel: Ora, ora. São apenas animais.Luísa: Como podes ser tão insensível? Não achas osofrimento desnecessário um mal?Manuel: Se for uma pessoa a sofrer

desnecessariamente, sim. É claro.Luísa: Bem, não me digas que pensas que só os sereshumanos têm direitos. Isso seria inaceitável. Manuel: É evidente que os animais não têm direitos. Eisto, naturalmente, porque não têm deveres.Luísa: És mesmo insensível. Como tens coragem de ser




Diálogo 3.3

Manuel: Acusar-me de insensibilidade pode ser muitointeressante, mas não quer dizer que eu não tenha razão.Luísa: Deixa-me, então, mostrar-te que estás enganado.Manuel: Estou a ouvir com toda a atenção.

Luísa: Ao contrário de ti, não penso que só tem direitosquem tem deveres. Manuel: Não? Para mim, isso é óbvio: nem valia a penadizê-lo explicitamente no meu argumento.Luísa: Se for como dizes, os bebés não têm direitos. Os

bebés, como sabes, não têm deveres. Ainda não




Argumento 3.1 Premissas e conclusão

(1) As touradas fazem sofrer os animais de formaintencional e desnecessária.

(2) Fazer sofrer os animais de forma intencional edesnecessária é moralmente errado.

As touradas são moralmente erradas.





(1) Os animais não têm deveres.(2) Quem não tem deveres não temdireitos. (Premissa implícita)

Os animais não têm direitos.





(1) Se apenas tivesse direitos quem tem deveres,os bebés não teriam direitos.(2) Os bebés têm direitos.

Há direitos sem deveres. (Implícito: é o caso dos

animais não humanos.)




O fio condutor do debate (I):

1. Se o Manuel tivesse aceite ambas as premissas doargumento 3.1 proposto pela Luísa, teria de aceitar aconclusão. Para negar a conclusão, tem de rejeitar umadas premissas.

2. A premissa em causa é a segunda: fazer sofrer osanimais de modo intencional e desnecessário émoralmente errado.

3. Note-se que esta premissa baseia-se na ideia de queos animais têm direitos: fazê-los sofrer




O fio condutor do debate (II):

4. O Manuel, para negar a segunda premissa doargumento 3.1, argumenta que os animais não têmdireitos. Se for assim, não existe a obrigação moral denão os usar em touradas, não sendo, portanto,moralmente errado fazê-lo, como afirma a Luísa.

5. O argumento 3.2 destina-se, pois, a defender a ideia deque os animais não têm direitos.

6. O Manuel usa uma premissa que não chega a

explicitar: quem não tem deveres não tem direitos. Elepensa que a premissa é obviamente verdadeira e que




O fio condutor do debate (III):

7. Mas o Manuel está enganado. Não só não é óbvio quequem não tem deveres não tem direitos, como é falso.

8. O argumento 3.3, proposto pela Luísa, destina-se a

defender a ideia de que não ter deveres não implica nãoter direitos: é o caso dos bebés. E o mesmo poderáacontecer com os animais.

9. Assim, mesmo que os animais não tenham direitos,

não pode ser pelas razões que o Manuel apresentou. Mas, uma vez que não apresentou outras mais fortes, a




O processo argumentativo. Um estudo de

caso (II).




Argumento 4

A oposição atacou o caso TVI com uma avalanche decríticas ao Governo e a José Sócrates. O PS, último afalar num debate peculiar, sem direito a réplica, nacomissão permanente do Parlamento, respondeu com

uma "arma" pesada: Cavaco Silva. Se a "asfixiademocrática" fosse como o PSD a tem descrito, "estariaem causa o regular funcionamento das instituiçõesdemocráticas" e o Presidente da República teria deintervir. "O Presidente, ao não agir, desmente-o", atirou

Alberto Martins, líder parlamentar do PS, em resposta aMontalvão Machado do PSD.




1. Identificar um argumento, mesmo numanotícia de jornal, pode ser uma tarefa difícil.

2. Lendo o texto da notícia com atenção,apercebemo-nos de que ele contém duaspartes: uma parte descritiva e uma parte ondeestá o argumento.




A parte descritiva é:A oposição atacou o caso TVI com uma avalanche decríticas ao Governo e a José Sócrates. O PS, último a falarnum debate peculiar, sem direito a réplica, na comissãopermanente do Parlamento, respondeu com uma "arma"pesada: Cavaco Silva.

Nesta passagem fala-se apenas do que aconteceu noParlamento. Não estão a ser dadas razões nem sepretende justificar o que quer que seja. Não há aqui

qualquer argumento.




A parte descritiva é:A oposição atacou o caso TVI com uma avalanche decríticas ao Governo e a José Sócrates. O PS, último a falarnum debate peculiar, sem direito a réplica, na comissãopermanente do Parlamento, respondeu com uma "arma"pesada: Cavaco Silva.

O leitor apenas é informado de que o caso TVI geroubastantes críticas ao governo e que o governo, pararesponder às críticas, socorreu-se da figura do Presidente

da República. Nesta passagem, o texto apenas descreve




A parte que contém o argumento é:

Se a "asfixia democrática" fosse como o PSD a temdescrito, "estaria em causa o regular funcionamento dasinstituições democráticas" e o Presidente da Repúblicateria de intervir. "O Presidente, ao não agir, desmente-o",

atirou Alberto Martins, líder parlamentar do PS, emresposta a Montalvão Machado, do PSD.

Esta passagem, além do argumento, ainda contém umabreve descrição: o texto diz-nos que o argumento foiapresentado por Alberto Martins, líder parlamentar do PS,em resposta a uma crítica de Montalvão Machado, do




O que é dito:Se a "asfixia democrática" fosse como o PSD a temdescrito, "estaria em causa o regular funcionamento dasinstituições democráticas" e o Presidente da Repúblicateria de intervir.

Simplificando:

Se a democracia estivesse em perigo, como diz o PSD, oEstado democrático estaria a ser atacado e o Presidente

da República já teria sido obrigado a agir em sua defesa.




O que é dito:

«O Presidente, ao não agir, desmente-o.»

Nesta passagem faz-se um desmentido: i. e., diz-se serfalso que a democracia está em perigo.

Diz-se que a democracia não está em perigo porque oPresidente da República não teve ainda de agir em suadefesa.

O argumento tem como objectivo fazer o desmentido ejustificar a primeira destas afirmações.




O argumento. Premissas e conclusão.

(1) Se a democracia estivesse em perigo, o Estadodemocrático estaria a ser posto em causa e oPresidente da República já teria sido obrigado a agir em

sua defesa.(2) O Presidente da República ainda não teve de agirem defesa do Estado democrático.

A democracia não está em perigo.



CAPÍTULO 1 – O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM

OS ARGUMENTOS

Argumentação. Exercícios.

Í Ã



CAPÍTULO 1 – O QUE SÃO E PARA QUE SERVEMOS ARGUMENTOS

Exercícios

Identifique o argumento:

1. No Irão, os adúlteros de ambos os sexos são punidoscom a lapidação pública. Os homens que cometerem

adultério são enterrados até à cintura e apedrejados; asmulheres adúlteras também, só que são enterradas atéaos sovacos. Quem conseguir libertar-se é ilibado.

2. O adultério é errado visto que quem o pratica está a

violar uma obrigação. Ora, violar uma obrigação é sempreerrado.

Í Ã




Solução

1. No Irão, os adúlteros de ambos os sexos são punidoscom a lapidação pública. Os homens que cometeremadultério são enterrados até à cintura e apedrejados; as

mulheres adúlteras também, só que são enterradas atéaos sovacos. Quem conseguir libertar-se é ilibado.

O texto 1. não é um argumento. É uma descrição do que

passa no Irão a respeito do adultério.

Í Ã




Solução

2. O adultério é errado visto que quem o pratica está aviolar uma obrigação. Ora, violar uma obrigação é sempreerrado.

O texto 2. é um argumento. O seu objectivo é justificar aideia de que o adultério é errado.

Oferece-nos, para isso, duas razões:

(1) Quem pratica adultério viola uma obrigação; (2) Violaruma obrigação é sempre errado.

Í Ã




Exercícios

Identifique premissas e conclusão:

3. Se Deus existir, a vida tem um sentido que já estádefinido por Deus. Mas, se Deus não existir, a vida tem osentido que cada pessoa decidir dar-lhe. Portanto, ou a

vida tem um sentido que já está definido por Deus ou teráo sentido que cada um quiser dar-lhe.

4. Todos os estudantes aplicados têm bons resultados.Acontece, no entanto, que há estudantes que não são

aplicados. Consequentemente, há estudantes que têmmaus resultados.

Í Ã




Solução

Argumento 3

(1) Se Deus existir, a vida tem um sentido que já está definido por Deus.

(2) Se Deus não existir, a vida tem o sentidoque cada pessoa decidir dar-lhe.

A vida tem um sentido definido por Deus ouo sentido que cada um quiser dar-lhe.

Í Ã




Solução

Argumento 4

(1) Todos os estudantes aplicados tem

bons resultados.(2) Alguns estudantes não são aplicados.

Alguns estudantes têm maus resultados.

C Í O O Q SÃO Q S




Exercícios


5. Se os seres humanos são livres, faz sentido censurá-lospelos maus actos que praticam. Isto porque se são livres,devem de ser responsabilizados pelos seus actos. E se

são responsáveis pelos seus actos, faz sentido seremcensurados ao agirem mal.

6. Não foi o mordomo que cometeu o crime. A razão é quese tivesse sido o mordomo, ninguém o podia ter visto na

cidade a fazer compras. Ora, há várias testemunhas que oconfirmam.

CAPÍTULO 1 O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM




Solução

Argumento 5

(1) Se os seres humanos são livres, devem de serresponsabilizados pelos seus actos.

(2) Se os seres humanos são responsáveis, faz sentidocensurá-los pelos maus actos que pratiquem.

Se os seres humanos são livres, faz sentido censurá-lospelos maus actos que praticam.





Solução

Argumento 6

(1) Se tivesse sido o mordomo a cometer o crime,ninguém o podia ter visto na cidade a fazer

compras.(2) Há várias testemunhas que viram o mordomo nacidade a fazer compras.

Não foi o mordomo que cometeu o crime.





Exercícios


7. Não há muitos alunos inscritos para o exame defilosofia. Portanto, ou a filosofia é difícil ou não é precisofazer o exame para entrar na faculdade. Pois, se o exame

fosse fácil ou necessário para a admissão à faculdade,haveria um maior número de inscrições.

8. Se Deus é omnipotente, omnisciente e bom, o mal nãoexiste. Logo, ou Deus não é omnipotente, ou não é

omnisciente ou não é bom. O mal, infelizmente, está em





Solução

Argumento 7

(1) Se o exame de filosofia fosse fácil ounecessário para a admissão à faculdade, haveria

muitas inscrições.(2) Não há muitos alunos inscritos para o examede filosofia.

O exame de filosofia é difícil ou não é

necessário para a admissão na faculdade





Solução

Argumento 8

(1) Se Deus é omnipotente, omnisciente e

bom, o mal não existe.(2) O mal existe.

Deus não é omnipotente, ou não éomnisciente ou não é bom.





Exercícios


9. Sabemos que, se a inflação baixa, o consumoaumenta. Dado que a inflação está a baixar, podemosconcluir que o consumo vai aumentar.

10. Há estudantes de lógica preguiçosos. Isto porque, hápessoas preguiçosas que são estudantes de lógica.

11. Se Deus é perfeito, tudo o que criou é perfeito. Assim,

ou Deus não é perfeito ou não criou o mundo, dado que omundo é im erfeito.





Solução

Argumento 9

(1) Se a inflação baixa, o consumo

aumenta.(2) A inflação está a baixar.

O consumo vai aumentar.





Solução

Argumento 10

(1) Há pessoas preguiçosas que

estudam lógica. Há estudantes de lógicapreguiçosos.





Solução

Argumento 11

(1) Se Deus é perfeito, tudo o que

criou é perfeito.(2) O mundo é imperfeito.

Deus não é perfeito ou não criou omundo.

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