o trabalho de conclusão de curso

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI HÉLCIO HENRIQUE VIEIRA CONVERGÊNCIA PELOS PROCESSOS E LINGUAGENS AUDIOVISUAIS São Paulo 2013

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  • UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

    HLCIO HENRIQUE VIEIRA

    CONVERGNCIA PELOS PROCESSOS

    E LINGUAGENS AUDIOVISUAIS

    So Paulo

    2013

  • HLCIO HENRIQUE VIEIRA

    CONVERGNCIA PELOS PROCESSOS

    E LINGUAGENS AUDIOVISUAIS

    Dissertao de Mestrado apresentada Banca

    Examinadora, como exigncia parcial para a

    obteno do ttulo de Mestre em Comunicao, rea

    de concentrao em Comunicao Audiovisual da

    Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientao

    do Prof. Rogrio Ferraraz.

    So Paulo

    2013

  • HLCIO HENRIQUE VIEIRA

    CONVERGNCIA PELOS PROCESSOS

    E LINGUAGENS AUDIOVISUAIS

    Dissertao de Mestrado apresentada Banca

    Examinadora, como exigncia parcial para a

    obteno do ttulo de Mestre em Comunicao, rea

    de concentrao em Comunicao Audiovisual da

    Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientao

    do Prof. Rogrio Ferraraz.

    Aprovada em

    Nome do orientador/titulao/IES

    Nome do convidado/ titulao/IES

    Nome do convidado/IES

  • RESUMO

    Convergncia pelos processos e linguagens audiovisuais se iniciou com passagens

    que demonstram como a indstria miditica foi a primeira a ser influenciada pelas novas

    tecnologias e por tudo aquilo que a internet ajudou na enorme transformao.

    Em seu ambiente de trabalho, o audiovisual adentrou as reas que constroem a

    linguagem que atinge o pblico e, quase automaticamente, influenciou as empresas de

    tecnologia a prepararem foras naquilo que tivesse como alvos transmissores a tela e os

    equipamentos que se completassem pela via das imagens e dos sons.

    No apenas na linguagem, mas utilizando as facilidades na produo que baratearam

    os preos dos equipamentos para distribuio, filmagens e edies, as empresas, em sua

    maioria, comearam a produzir totens e espaos, passando a disputar a preferncia do pblico

    e a audincia com os prprios sites, blogs, webtvs, telas nos shoppings, aeroportos,

    supermercados, comrcio e servios, e nas comunicaes mveis - os celulares - que, em

    poucos anos, tm sua principal ferramenta de comunicao na tela e se expandiram

    numericamente, atingindo praticamente todas as camadas da sociedade. Abriu-se um caminho

    editorial do produto ou servio com os mais diferentes contedos a interagir no prprio

    ambiente da indstria com o consumidor.

    Em um terceiro momento, demonstra o consumidor como produtor de contedo e

    usurio de diversos espaos do novo mundo tecnolgico da internet e do digital, a partir dos

    equipamentos de comunicao como computador, celular e seus similares, transformando-se

    no condutor intelectual de praticamente todos os assuntos, e do o tom da hipermodernidade,

    na qual todos produzem, distribuem e consomem contedos.

    Palavras-chave: Convergncia. Linguagem audiovisual. Mdias. Contedo. Digital.

  • ABSTRACT

    Convergence by processes and audiovisual languages was his first time with

    passages that show how the media industry was first to be influenced by new technologies and

    for all that the internet has helped this enormous transformation.

    In your work environment, the visual was entering areas that build the language that

    reaches the public and, almost as an automatic, influenced technology companies to prepare

    their forces in what had targeted transmitters fabric and equipment that should be fulfilled by

    way of images and sounds.

    Not only the language but also using the facilities in production decreased prices for

    distribution equipment, filming and editing. Companies mostly started producing their totems

    and spaces, passing disputing the preference of the audience and the audience with their

    websites, blogs, web TVs, screens in malls, airports, supermarkets, shops and services. And

    also in mobile communication, mobile phones, in a few years, now have their main

    communication tool on the screen and expanded numerically, reaching practically all layers of

    society. Opened up a path editorial of your product or service with many different content in

    their own environment to interact with the consumer industry.

    In a third step, demonstrates the consumer and the content producer and the user

    himself so many other areas of the new technological world of the internet and digital, with its

    new communications equipment such as computer, mobile phone and its similar, becoming

    the intellectual driver of virtually all issues that set the tone of hyper where all produce,

    distribute and consume content.

    Key-words: Convergence. Audiovisual language. Media. Content. Digital.

  • LISTA DE FIGURAS

    Grfico 1 Evoluo do nmero total de assinantes (mil) 2002 a 2012 ......................... 26

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Estatsticas sobre internautas no Brasil.............................................................. 39

    Tabela 2 Estatsticas de Aparelhos Mveis no Brasil....................................................... 41

    Tabela 3 Estatsticas de Investimentos em mdia no Brasil.............................................. 45

    Tabela 4 Estatsticas para redes sociais no Brasil............................................................. 49

  • SUMRIO

    INTRODUO ....................................................................................................................................... 8

    CAPTULO 1 OS MAIS RELACIONADOS INDSTRIA MIDITICA ................................... 10

    1.1 ASPECTOS POLTICOS E EMPRESARIAIS .......................................................................................... 11

    1.2 DADOS SOBRE O CRESCIMENTO DA INTERNET E CELULARES NO BRASIL E NO MUNDO ................... 11

    1.3 PODER NAS MOS DE POUCOS ........................................................................................................ 15

    1.4 CUSTOS NO AJUDAVAM GRANDES MUDANAS ............................................................................ 16

    1.5 PENSAMENTOS E NECESSIDADES .................................................................................................... 18

    1.6 FATORES CONTRIBUINTES .............................................................................................................. 19

    1.7. GNESE DA CONVERGNCIA ......................................................................................................... 22

    CAPTULO 2 MOMENTO DAS EMPRESAS E CORPORAES ............................................... 25

    2.1 PRIMEIROS IMPACTOS NAS CORPORAES ..................................................................................... 25

    2.2 NECESSIDADE DA SEGMENTAO .................................................................................................. 27

    2.3 ACESSO INFORMAO ................................................................................................................ 29

    2.4 MENOR DISTNCIA ENTRE EMPRESAS E CONSUMIDOR ................................................................... 31

    2.5 CORPORAES NO MIDITICAS ABRAAM A CAUSA SUSTENTVEL ............................................. 33

    2.6 REDES SOCIAIS MAIS REVERBERAES EM MEIO CONVERGNCIA MIDITICA .......................... 36

    CAPTULO 3 MOMENTO MAIS RELACIONADO SOCIEDADE ........................................... 40

    3.1 CRIANDO SEU HABITAT .................................................................................................................. 40

    3.2 SOCIEDADE DO CONTROLE ............................................................................................................. 43

    3.3 DIGITAL ENTRANDO EM CENA........................................................................................................ 44

    3.4 A SOCIEDADE ESTABELECE SUAS ASPIRAES ............................................................................... 47

    3.5 CHEGANDO AO FUTURO DO PASSADO ............................................................................................ 49

    3.6 REDES SOCIAIS NO BRASIL ............................................................................................................ 50

    CONCLUSO ....................................................................................................................................... 53

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................................ 55

  • 8

    INTRODUO

    Viver momentos inesquecveis disputando mercado e empregos foi muito importante

    na minha formao intelectual. Mas escutar outros profissionais, como professores,

    orientadores, palestrantes e os prprios companheiros em sala de aula discursando depois de

    terem vivido centenas de inovaes durante a vida de mercado teve outros significados, e me

    atingiu naquilo que procurava no meio acadmico.

    Sem hesitar, descrevo meu trabalho mirando uma das palestras de abertura de um

    semestre do curso, na qual foi apresentada a tcnica utilizada para produzir imagens, e

    desmistificada pela palestrante a diferena entre arte e tcnica. Diversas questes passaram a

    habitar meus pensamentos, demonstrando como foram importantes os mais distintos eventos

    dos quais participei nestes dois anos. Realizo em minha formao algo muito grandioso: a

    disposio de construir uma argumentao justificando a busca de interpretaes e

    conhecimentos dos termos novos, como convergncia, digital, internet, novas mdias, redes

    sociais, web e principalmente a hipermodernidade.

    Estar preparado para sobreviver velocidade da fotografia, como ocorreu em 1894

    usavam os irmos Lumire, que construram o aparelho com filmes de 35 mm. Era um

    mecanismo de alimentao intermitente, baseado nas mquinas de costura, que captavam

    imagens numa velocidade de 16 quadros por segundo, que foi o padro durante dcadas, em

    lugar dos 46 quadros por segundo ordenadas e compostas em frames, davam a impresso do

    exato movimento, o que significaria ter passado por esse planeta em um de seus momentos

    mais esplendorosos (COSTA apud MASCARELLO, 2006, p. 18). Mas sou de uma gerao

    que ainda experimenta aventuras. So imensos os desdobramentos quando pensamos no

    audiovisual, que aumentou sua velocidade nos frames nas telas e transmisses diferenciadas e

    na rapidez que a tcnica da produo exige. Fui premiado por viver a era digital que turbinou

    essa velocidade, e nos remeteu de seus 16 frames, ou aos quase 49 hoje, nas produes em

    4D, parecendo a 120 quilmetros por hora; em meio rapidez, saltamos para encontrar a

    forma de viver com nossos 7 bilhes de habitantes no planeta.

    pretensioso usar a stima arte, como chamamos o cinema, para exemplificar o novo

    momento na Terra? possvel, mas o que o audiovisual seno a prpria linguagem, com

    seus cdigos e sua organizao? Quem mudou toda a configurao do entendimento das

    massas em nossa nova forma de comunicar os acontecimentos e os entretenimentos?

  • 9

    Pode-se at dizer que a ordem natural das coisas nos levaria a essas descobertas e

    criaes. Pode-se dizer que somos controlados e comandados pelos governos e corporaes e

    principalmente pelo poder econmico.

    Fui buscar na universidade informao dos mestres, dos novos pensadores que

    escrevem a histria hoje em qualquer plataforma disponibilizada a ns pelas novas

    tecnologias, e descobri que minha escolha pela graduao em Comunicao, h 30 anos, me

    colocou onde passaria a modernidade, ou melhor, a hipermodernidade, assim chamada por

    aqueles que meus orientadores me indicaram estudar.

    Quero acreditar que com o que vou demonstrar nos captulos que escrevi para finalizar

    meu mestrado que somos privilegiados, pois passamos pela Terra em um, momento

    iluminado, em seu primeiro momento de liberdade de expresso real e sem limites.

    Esta pesquisa aborda a convergncia miditica e os novos paradigmas da comunicao

    audiovisual no Brasil. Penso nessa convergncia em trs fases divididas nos trs captulos da

    dissertao. A primeira parte dessa convergncia comeou a ser instalada na indstria

    miditica brasileira no incio dos anos 1990, com o enxugamento das redaes e o

    fortalecimento das assessorias de comunicao, as quais investiram na produo de contedo

    para os diversos meios e grupos de veculos. Esse processo aglutinou a produo, pois a

    economia de escala com uma nica fonte produtora diminuiria custos. Nos EUA, a indstria

    digital para os meios de comunicao j estava em franca ascenso, justificando ainda mais

    essa tendncia. Com a proliferao e a popularizao de equipamentos, principalmente do

    computador, e em seguida da internet, as organizaes, no apenas miditicas, comearam a

    ter os prprios meios para conversar com seu pblico sites, blogs, redes sociais e,

    recentemente, as prprias web tvs. Em poucos anos, o processo alcanou as massas e as

    pessoas comearam a ter a oportunidade de produzir e distribuir contedo prprio, alcanando

    audincias s vezes superiores s das maiores organizaes comunicacionais. Esta pesquisa,

    portanto, procurar compreender como essa convergncia miditica ocorre no Brasil, com

    especial ateno ao desenvolvimento de produtos e de linguagens audiovisuais dela

    decorrentes. Para tanto, termos como interatividade, conectividade, digital, telas, entre outros,

    so fundamentais, e devero ser trabalhados no decorrer das anlises.

  • 10

    CAPTULO 1 OS MAIS RELACIONADOS INDSTRIA MIDITICA

    Indstria da qual fazem parte os meios e os veculos de comunicao que so seu

    objeto para atingir o pblico. As ferramentas que dispomos no Brasil a partir de 1978

    contriburam para a formao de uma nova linguagem e consequentemente de novos

    equipamentos e solues. A tecnologia tem papel fundamental e desenhou novos caminhos

    para a comunicao das mdias, indstrias e a sociedade. Comeou uma era em que as formas

    de expor ideias, at ento pela escrita, imagens e sons, passaram a ser formatadas com os

    elementos fundidos e em tamanhos cada vez menores, direcionados a segmentos por

    tecnologias com grau de sofisticao e encaminhamento detalhista. Novos termos apareceram

    e se firmaram nos dicionrios e no dia a dia para definir os equipamentos, hardwares e os

    sistemas que o fazem funcionar; softwares e os que nos conectam aos outros cidados; web,

    internet e redes sociais.

    O que possibilitou a chegada da internet ao Brasil foi outra

    predecessora da rede: a Bitnet, uma rede de universidades fundada em 1981

    e que ligava a Universidade da Cidade de Nova York (CUNY)

    Universidade Yale, em Connecticut. Em solo brasileiro, a Bitnet conectava a

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp) ao

    Fermilab, laboratrio de fsica especializado no estudo de partculas

    atmicas, que ficava em Illinois, nos Estados Unidos. As duas instituies

    eram ligadas via linha telefnica, por meio de um fio de cobre dentro de um

    cabo submarino. Bastante rudimentar se compararmos com as fibras pticas

    de hoje. Como a conexo era do tipo ponto a ponto, ela tambm dispensava a

    discagem: a Fapesp estava sempre conectada ao Fermilab. Em 1990 foi

    criada a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), pelo Ministrio da Cincia e

    Tecnologia, com o objetivo de implantar uma infraestrutura com

    abrangncia nacional para os servios de internet. Que comea a ficar mais

    interessante com o surgimento da word wide web (www) em 1990. Timothy

    Bemers Lee foi o responsvel por escrever o protocolo http e seu criador,

    possibilitando a transferncia de pginas web para navegadores. Em 1994 a

    internet sai do nicho acadmico e passa a ser disponibilizada ao pblico pela

    empresa ainda estatal Embratel Empresa Brasileira de Telecomunicaes.

    Com o servio ainda experimental (). Em maio de 1995, o servio

    comeou a funcionar de forma definitiva e, para evitar o monoplio estatal

    da internet no Brasil, o Ministrio das Comunicaes tornou pblica a sua

    posio a favor da explorao comercial da rede mundial no pas (). A

    internet passou a ser capa de revistas e at assunto de novela, se

    popularizando cada vez mais, crescendo de maneira espantosa. Em 1996

    foram lanados grandes portais e provedores de conexo rede no Brasil, e

    em 1998 o pas j ocupava o 19 lugar em nmero de hosts no mundo e

  • 11

    liderava o pdio na Amrica do Sul. No continente americano ficava atrs

    apenas dos Estados Unidos e Canad. (ARRUDA, 2001, Online)

    A indstria miditica, por ser a que interagia com os mesmos caminhos, foi a primeira

    a se aventurar, se capacitar com os novos termos e suas ferramentas, contribuindo para sua

    distribuio e o entendimento das corporaes e da sociedade em uma velocidade nunca vista

    pela humanidade, se comparadas ao surgimento de outras mdias, como o jornal, rdio ou

    televiso, sujeitos a dcadas de caminhar para serem inseridos na vida das pessoas. Isso em

    detrimento das novas ferramentas que rapidamente e com velocidade meterica se instalaram

    em boa parte da sociedade no Brasil e praticamente no mundo inteiro, conforme se ver a

    seguir.

    1.1 Aspectos polticos e empresariais

    Diversos fatores levaram as indstrias miditicas a reordenar modelos de

    atitudes/negcios nos anos 1990. Enquanto parte do mundo amargava profunda crise

    econmica, ocasionada pelo colapso da Unio Sovitica com seu modelo de governo

    comunista, os americanos festejavam a ascenso do democrata Bill Clinton presidncia,

    pondo fim a doze anos de gesto republicana. No campo da tecnologia, esses anos trouxeram

    um alinhamento mundial, popularizando e aperfeioando muito do que foi inventado na

    dcada anterior, alm do crescimento vertiginoso da internet, impulsionado pelo barateamento

    de computadores e softwares e suas simplificaes em tamanho e utilizao. E determinaram

    o que se chama hoje de globalizao, que comeou com um discurso de liberdade de

    comrcio, mas caminhou para as discusses sobre a liberdade da informao:

    [...] em 2007, o Brasil movimentava cerca de 114 bilhes de dlares em

    comrcio eletrnico e possua uma base de 40 milhes de computadores

    instalados no pas. De acordo com o Ibope/NetRatings, tnhamos cerca de 18

    milhes de internautas residenciais. (Ibid.)

    1.2 Dados sobre o crescimento da internet e celulares no Brasil e no mundo

    Segundo o que se pesquisou em diversas fontes, o Ibope Net Ratings informa que

    somos 83,4 milhes de internautas (setembro de 2012), o quinto pas mais conectado no

    mundo. De acordo com a Fecomrcio RJ/Ipsos, o percentual de brasileiros conectados

    internet aumentou de 27% para 48%, entre 2007 e 2011. O principal local de acesso a lan

    house (31%), seguido da prpria casa (27%) e da casa de parente de amigos, com 25%

  • 12

    (abril/2010); 50,7 milhes de usurios acessam regularmente a internet, 38% das pessoas

    acessam a web diariamente, 10% de quatro a seis vezes por semana, 21% de duas a trs vezes

    por semana, 18% uma vez por semana. Somando, 87% dos internautas brasileiros entram na

    internet semanalmente.

    Conceito de globalizao So mudanas na ordem poltica e na economia mundial

    que tiveram seu incio perto do ano 2000. E o processo de integrao econmica, social,

    cultural e poltica, que tornou o mundo interligado.

    O computador j estava presente nas empresas desde 1978, em hardwares gigantescos

    alugados s corporaes, mas em seus modelos pessoais e conectados significavam um novo

    modo de vida, primeiramente no trabalho e aos poucos avanando em todas as direes.

    Segue relato da minha experincia profissional e pessoal, que reflete parte desse avano e faz

    parte de publicaes do blog Semsura888; reunidas, constituem parte de histrias reais sobre a

    minha trajetria:

    Em 1978 entrei na Globo So Paulo, na equipe de Andr Barroso (na poca gerente

    de operaes comerciais), para implantar as reservas dos comerciais por sistemas digitais nos

    breaks (intervalos) da empresa, a exemplo do que as companhias areas faziam para reservas

    de passagens. Eram dois setores da economia que precisavam colocar no ar seus produtos

    usando esse tipo de tecnologia: os computadores. (VIEIRA, 2012, Online)1

    Nesse ambiente, as indstrias miditicas comearam a estreitar relaes com o digital;

    as intranets proliferavam nas corporaes de mdia; as barreiras das distncias fsicas caam

    por terra, aproximando operaes existentes em diversos pases e, consequentemente,

    propiciando maior troca de informaes entre os profissionais. Os computadores pessoais

    entravam na mesa dos jornalistas e demais executivos dos grandes grupos. No Brasil, aos

    poucos, as barreiras existentes entre departamentos comerciais e redaes ficavam mais

    tnues. bem verdade que ainda com grande resistncia, sobretudo dos jornalistas, pois havia

    o discurso, um tanto precipitado, de que as mquinas substituiriam os profissionais.

    Parecia evidente que o aspecto poltico e a comunicao estavam to lineares que

    praticamente ocupavam o mesmo espao. Ao mesmo tempo em que a crise financeira dava

    pouca trgua ao mundo, outra crise se instalava nas redaes: um grande grupo de

    profissionais pensadores e clebres optava pelas assessorias de comunicao, que ganhavam

    1 VIEIRA, H.H. No ar. Disponvel em: .

    Acesso em: 01 ago. 2013.

  • 13

    espao nos meios (televiso, rdio, jornal, revista, internet) e veculos (Globo, Eldorado,

    Folha de So Paulo, Veja, Terra) de comunicao, como nunca na histria.

    Deve-se destacar o papel da Aberje Associao Brasileira de Comunicao

    Empresarial , que agrega mais de 15 mil empresas associadas no Brasil e tem poder, do

    ponto de vista econmico e poltico, to importante quanto a indstria miditica. H hoje um

    mercado de trabalho com milhares de jornalistas em seus quadros, nas agncias de relaes

    pblicas e assessorias de comunicao e imprensa e nos departamentos das empresas em

    todos os setores da economia. E que ter papel importante em nosso segundo captulo.

    Conforme ressalta Henry Jenkins, os grupos miditicos eram estticos em sua grande

    maioria; quem trabalhava em jornal fazia apenas jornal e assim por diante, concentrando-se,

    portanto, em um nico meio. Henry Jenkins, Cultura da Convergncia.

    Fluxo de contedo atravs de mltiplas plataformas de mdias,

    cooperao dos pblicos pelos meios de comunicao, que vo a quase

    qualquer parte em busca de experincias de entretenimento que desejam.

    Envolve transformaes tecnolgicas, mercadolgicas, culturais e sociais.

    As velhas mdias no morreram. Nossa relao com elas que morreu.

    Estamos numa poca de grandes transformaes e todos ns temos trs

    opes: tem-las, ignor-las ou aceit-las. (JERKINS, 2009, p. 29)

    Durante os anos 90 perceberam a imperiosa necessidade de modernizar os quadros e

    fluxos de trabalho. Era questo de sobrevivncia: deviam melhorar as qualificaes

    competitivas e preparar as corporaes para um novo momento de mercado. Ainda assim, a

    concentrao da mdia na mo de jornalistas e empresrios com interesses divergentes exclua

    qualquer iniciativa que se encontrasse fora de seus padres e, por isso, a partir da, as

    instituies miditicas vivem a crise financeira e a crise de seus prprios valores. At ento, a

    comunicao se apresentava como um mercado da economia como outro qualquer. J havia o

    experimento de novas modalidades de aproximao do popular com o sofisticado, quase

    esbarrando no grotesco, porm no com tanta evidncia como se v hoje. E chamava a

    ateno dos mais sensveis s mudanas de rumo.

    Ainda no era claro que rumo tomaria, aonde iria. A internet iniciou seu caminho

    somente a partir de 1998; o celular engatinhava, a mdia tradicional dava espao ao

    infotenimento, reunio em doses variveis de cada elemento de jornalismo e entretenimento

    e o jornalismo corporativo ganhava espaos em todos os setores empresariais. Esse

    movimento frequentemente identificado com a degenerao da prtica jornalstica e a

    decadncia cultural, que, de certa maneira, mostra os efeitos da sua globalizao.

  • 14

    O IBGE organiza pesquisas no intuito de conhecer quais as ferramentas de

    comunicao mais utilizadas, as regies e, principalmente, o perfil dos usurios.

    Segundo os dados de 2008, 56 milhes de pessoas de 10 anos ou

    mais de idade acessaram a internet, por meio de um microcomputador, pelo

    menos uma vez, no perodo de referncia dos ltimos trs meses. Essas

    pessoas representavam 34,8% dessa populao; houve aumento expressivo

    nos ltimos trs anos, uma vez que, em 2005, esse nmero ficou em 20,9%.

    As Regies Sudeste (40,3%), Centro-Oeste (39,4%) e Sul (38,7%)

    foram as que registram os maiores percentuais, enquanto as Regies Norte

    (27,5%) e Nordeste (25,1%) os menores, e em patamar bastante inferior. Em

    relao s Unidades da Federao, o Distrito Federal destacou-se como o

    que apresentou o maior percentual de pessoas que acessaram a internet,

    56,1%, o Estado com o segundo maior percentual, So Paulo, com 43,9%,

    apresentou proporo 12,2 pontos percentuais abaixo. O Estado com o

    menor percentual de acesso foi Alagoas, com 17,8% das pessoas. Em relao

    a 2005, todas as Unidades da Federao registraram aumento significativo.

    Em 2008, a finalidade do acesso com maior nmero de declaraes

    foi a comunicao com outras pessoas, 83,2% das pessoas declaram ter

    usado a rede por este motivo; em 2005, este era o terceiro maior motivo. O

    acesso para atividades de lazer foi outro motivo que ganhou importncia nos

    ltimos anos, em 2008, 68,6% das pessoas acessaram com essa finalidade,

    em 2005 foram 54,3% das pessoas. O percentual de pessoas que acessaram

    com a finalidade de educao e aprendizado reduziu neste perodo, de 71,7%

    para 65,9%. A leitura de jornais e revistas tambm foi motivo bastante

    citado, por 48,6% das pessoas. O ordenamento das finalidades foi observado

    em todas as Grandes Regies. Em todas as Unidades da Federao a

    comunicao com outras pessoas foi o motivo mais declarado [...]. Posse

    de telefone mvel celular para uso pessoal. Em 2008, a partir da PNAD se

    estimou que mais da metade (53,8%) da populao de 10 anos ou mais de

    idade, ou seja, cerca de 86 milhes de pessoas, tinham telefone celular para

    uso pessoal. H trs anos a pesquisa mostrou que pouco mais de um tero

    tinha celular (36,6%), o que correspondia a 56 milhes de pessoas. Cabe

    destacar que de 2005 para 2008, enquanto a populao de 10 anos ou mais

    de idade cresceu 5,4%, o contingente daqueles que possuam teve aumento

    de 54,9%. (CAVARRARO, 2008, Online)

    A reunio da informao com o entretenimento, ainda que em doses homeopticas,

    podia ser observada como tendncia que, nos dias de hoje, mais evidente e quase modelo de

    mercantilismo. Os espaos antes somente do pessoal do editorial passa a ser ocupado com

    assuntos comercias, alcanando um percentual bem significativo dentro do produto, em todos

    os meios e em todos os veculos de comunicao, no mais gerando um conflito entre

    jornalistas e publicitrios, to comum em passado ainda recente.

  • 15

    1.3 Poder nas mos de poucos

    No Brasil, existem leis que restringem em aproximadas sete emissoras para um nico

    indivduo como proprietrio, mas so facilmente burladas pela maioria dos empresrios da

    indstria miditica, ao registrar um nmero maior em nome de parentes, filhos e irmos. Os

    maiores grupos miditicos do pas so empresas familiares, como a famlia Marinho nas

    Organizaes Globo, Mesquita no Grupo O Estado de S. Paulo, Frias no Grupo Folha, Saad

    no Grupo Rdio e Televiso Bandeirantes, e em muitos grupos regionais, Fernando Collor de

    Mello, Jos Sarney, Famlia Magalhes e Famlia Sirotsky, por exemplo.

    Na Itlia, um nico empresrio o dono de todas as redes de televiso, revistas e

    principais jornais do pas, e est prestes a voltar ao poder, num desastroso episdio, presente

    na poltica italiana h dcadas. Trata-se de Silvio Berlusconi, que at anos atrs ocupava o

    mais alto cargo do governo italiano. Na Argentina, existe atualmente disputa com o grupo

    Clarn (com atuao em todos os meios jornal, revistas, canais de televiso abertas e pagos,

    radio e internet), que domina at a distribuio do papel jornal, no dando espao para a

    concorrncia da informao. Sem a imprensa livre, o povo torna-se mera marionete da

    informao. Quem mais perigoso e poderoso, afinal: o poltico ou o miditico absoluto na

    comunicao de um pas, um estado ou um simples municpio? Vrias vezes, essas figuras

    caminham juntas ou se fundem.

    Jayme Sirotsky, do grupo familiar RBS Rede Brasil Sul Rio Grande do Sul,

    quando presidente da ANJ Associao Brasileira de Jornais, ratificou, em um discurso sobre

    o poder das comunicaes, que o poltico e o religioso nas mos de um grupo ou famlia era

    algo muito perigoso, uma grande concentrao de poder.

    Os monoplios e oligoplios so discutidos, pois um nico grupo gerir televises,

    rdios, revistas, jornais e internet significa poder concentrado. Mas, ao mesmo tempo, um

    modelo de negcio que tem como aliada a economia de escala na produo de contedos

    igualmente importantes para todas as mdias. Mesmo antes de esses grupos se formarem, o

    produtor de contedo era chamado de quarto poder, aps o Executivo, Legislativo e

    Judicirio. Essas mudanas foram escritas, em boa parte, pelo prprio corporativismo dos

    patres e de seus sditos; so cofres nos pores, e mesmo em sua denominao poltica se

    assemelham no poder.

    Diz-se sempre, em nome do credo liberal, que o monoplio uniformiza e que a

    concorrncia diversifica, mas observo apenas que, quando ela se exerce entre jornalistas ou

    jornais que esto sujeitos s mesmas restries, ela homogeneiza. (BOURDIEU, 1997, p. 31)

  • 16

    O entretenimento ganha espao na audincia do chamado canal 3 em um perodo em

    que existiam somente canais abertos (no preciso pagar para t-los no aparelho de

    televiso), se media o que no era televiso, como games e vdeos, com relevante pontuao

    nas pesquisas do Ibope. Fazem frente informao nas produes e se misturam o real e a

    fico, caminhando rapidamente o quanto a vida hipermoderna se prope nos ltimos anos.

    O cinema como entretenimento o precursor, o primeiro na ateno da populao, do

    proletariado, com as estripulias mirabolantes e de um cmico quase agressivo.

    Nos grandes grupos da indstria do entretenimento ou miditica, as barreiras, h pouco

    tempo to slidas em seus feudos, do lugar pulverizao da informao interna, chamada

    de intranet ou at o videotexto, precursor da internet, aproximando o jornalismo da

    publicidade e do financeiro; as barreiras corporativistas caem no gosto dos construtores de

    contedo. O que no aconteceu to rapidamente, mas solidificou novos modelos de fazer

    contedo.

    Como o caso da Gazeta Mercantil. A credibilidade do jornal, at seu desaparecimento,

    era indiscutvel; caminhou quase at seu fim no modelo antigo o gestor no mandava no

    editorial, no contedo, mas os jornalistas. Mas no caminhava mais nessas bases, encerrando

    suas atividades em 2009. De acordo com a revista poca, em matria de Joo Caminoto.

    A Gazeta alcanou seu auge nas dcadas de 1970 e 1980. O projeto

    editorial era inspirado nos grandes dirios financeiros do planeta, como o

    americano The Wall Street Journal ou o ingls Financial Times. Suas

    pginas eram recheadas de anncios e balanos, e o nmero de assinantes

    superava os 130 mil. O jornal tornou-se um tradicional reduto de jornalistas

    econmicos competentes. No fim da dcada de 1990, comearam a emergir

    os problemas financeiros. Eles foram acentuados pela criao de 21 edies

    regionais, uma latino-americana e um programa de televiso. Nesse perodo,

    vrios grupos de comunicao, do Brasil e do exterior, tentaram comprar a

    Gazeta, mas esbarraram na resistncia dos Levy de abrir mo do controle

    editorial. (CAMINOTO, 2009, Online)

    1.4 Custos no ajudavam grandes mudanas

    De 1998 a 2001 os equipamentos no eram acessveis s pequenas empresas de

    comunicao. Em 2001, havia cerca de 17 milhes de celulares, e em 2000 a indstria

    fabricante de aparelhos de televiso comemorou a marca de dez milhes de aparelhos

    vendidos. A indstria dava sinais de queda de preos aos consumidores finais.

    Mas seus preos para a indstria miditica ainda eram altos e, a partir da, em escala,

    caram. Uma cmera profissional Beta Cam Sony com os principais recursos custava perto de

    R$ 100 mil; hoje, uma 3D Sony, com os mesmos recursos, custa perto de R$ 30 mil; uma 5D,

  • 17

    no formato cmera fotogrfica, usada pelos principais profissionais do mercado, custa R$ 20

    mil, segundo a BCTV, empresa especializada em equipamentos para emissoras de televiso.

    No caso dos celulares, em 1998 o nico modelo da poca era um tijolo da empresa Motorola,

    que custava perto de R$ 3 mil; hoje, h modelos por at R$ 150, com todas as funes,

    inclusive mquina fotogrfica e filmadora. Os televisores custavam perto de quatro salrios

    mnimos em 1986 (modelo bem simples); hoje, por dois salrios compramos um modelo com

    todas as funes, tela plana ou mesmo led.

    Um fato novo ronda os noticirios: a China entrou no mercado e joga no time

    industrial mundial com o conceito de preo e baixa qualidade, como o Japo fez no ps-

    guerra. O Japo se rendeu em 1945, e em 1970 havia alcanado um nvel tecnolgico

    semelhante ao dos Estados Unidos. Os saltos da indstria chinesa impressionam: em menos

    de 20 anos conseguiram colocar sua produo industrial com capacidade para competir com

    os principais exportadores mundiais, a partir das empresas com tecnologia de ponta.

    No princpio do ano 2000 a rapidez causou um susto: no se tinha ideia do que viria a

    acontecer, em uma dcada, com a indstria miditica, e logo em seguida com todo o mundo

    corporativo. A velocidade das mudanas impressionou mesmo os mais cticos. Com a queda

    vertiginosa dos preos dos equipamentos, a competio brotava de todos os cantos,

    proporcionando a pequenas empresas terem acesso ao mundo da mdia em condies de

    competio com a grande indstria. Os miditicos percebem um novo mundo, pois a

    globalizao parecia que somente se demonstrava para esse mercado, mas a informao era

    uma realidade - a televiso a cabo, a internet, o mundo digital avanavam na Europa e EUA,

    enquanto no Brasil poucos empresrios conduziam as empresas nessa direo.

    Relato experincia pessoal, vivida em 1995 e 1996 e de 2002 a 2010, no texto a seguir,

    publicado no blog Semsura888, sobre as duas primeiras aes globalizadas em veculos de

    comunicao no Brasil:

    Tive duas experincias internacionais. Uma me levou a conhecer o mercado de revistas nos

    EUA e na Amrica Latina nos anos de 1995 e 1996; e depois, de 2002 a 2010, na revista Amrica

    Economia. A outra, no Grupo Bandeirantes de Rdio e Televiso, que me enviou para conhecer e

    mapear a CityTV canadense, do grupo Dawissonn; sua origem de negcios era a distribuio de

    remdios; receberam uma rdio como pagamento de uma dvida e montaram um imprio em

    comunicao no Canad; em 1997 produziam, em um prdio pequeno de uns seis andares, seis canais

    de TV. E a CityTV foi o modelo adotado pelo Canal 21 por quatro anos no Brasil. J em Toronto,

    fomos muito bem recebidos pelo pessoal do grupo Dawissonn, que tinha um cronograma de trabalho

    que nos fez mergulhar nas reas afins naqueles seis andares que respiravam televiso (na velocidade

  • 18

    canadense, lgico). O trabalho na TV foi cansativo, principalmente para mim, que no falava ingls

    ainda e tinha um tradutor ao meu lado em todas as reunies. Mas o que vou contar uma histria de

    gastronomia em Toronto, com o VP de criao da emissora o Moses Znaimer; no uma histria do

    marketing, nem das duas visitas a que fui com os executivos deles l, ou que o assunto do diretor

    comercial era tudo menos o quanto eles faturavam, nem do pessoal dos outros pases que estavam l

    com os mesmos propsitos nossos. Vi o site da CityTV antes de escrever esta crnica e eles esto

    super bem, exportaram seu modelo de negcio para diversos pases da Europa, AL, Oriente Mdio e

    sia. (VIEIRA, 2012, Online) 2

    Entretanto, nas empresas de comunicao o computador j era presente em todos os

    departamentos fazia algum tempo. A convergncia se instalava para quem trabalhava na

    indstria miditica e usvamos este termo; em abril de 2001 estive na feira de equipamentos

    em Las Vegas, e um dos maiores stands era o de equipamentos de produo de audiovisual

    digitais de segunda mo; judeus ortodoxos negociavam com o pblico uma quantidade

    enorme para venda direta ao consumidor: cmeras, ilhas de edio, entre outros (no padro

    digital americano).

    1.5 Pensamentos e necessidades

    No mundo ps-moderno se delineava uma dificuldade em sua organizao, levando as

    pessoas a um vazio em diversos cenrios de comportamento, atitudes, natureza, logstica,

    convivncia, tica, moral, espiritualidade e tudo aquilo que compunha o cotidiano. O termo

    hipermoderno surge em nova fase da modernidade, que foi do ps ao hiper: A ps-

    modernidade no ter sido mais que um estgio de transio, um momento de curta durao

    (LIPOVETSKY, 2004, p. 58). A obsesso moderna com o tempo se apossou de todos os

    aspectos da vida, no mais se restringindo esfera do trabalho, segundo Lipovetsky. A

    sociedade hipermoderna se apresenta como a sociedade em que o tempo cada vez mais

    vivido como preocupao maior, a sociedade em que se exerce e se generaliza uma presso

    temporal crescente [...] (LIPOVETSKY, 2004, p. 75).

    A sociedade centrada nas satisfaes de um crescente individualismo hedonista e

    hiperconsumista [...] (LIPOVETSKY, 2004, p. 37, 53), composta e produtora de indivduos

    profundamente imersos na instabilidade cotidiana, na ansiedade e permanente crise de

    urgncia e de intensidade do momento presente, exige cada vez mais um movimento de fuso.

    O que antes era slido agora se liquefaz, tornando-se fluido [...] (BAUMAN, 2001, p. 7,

    2 VIEIRA, H.H. Toronto de certo para o Johnny Saad. Disponvel em: . Acesso em: 01 ago. 2013.

  • 19

    22). O indivduo contemporneo no consegue se contentar com a mera convivncia passiva

    como acontecia diante dos meios de comunicao.

    A indstria miditica tem papel importante em todo o processo de conhecimento dos

    protocolos que delineiam as consagradas mudanas e as que ainda viro. Diminuir as

    diferenas sociais com coisas simples que tm serventia ao rico e ao pobre, e desmistificar o

    consumismo, fazendo com que todos tenham a sensao do poder de ter e consumir sem

    vergonha de sua condio.

    1.6 Fatores contribuintes

    Desde a revoluo industrial teve-se que dar vazo s produes, e da se originou a

    necessidade de se aplicar novas tcnicas de convencimento das massas. A partir de conceitos

    simples de persuaso, utilizam-se os sentidos e sentimentos para o consumo da produo em

    srie, sob fatores importantssimos como sustentabilidade, conectividade e incluso social.

    Tcnicas de experimentao, manusear, degustar, olhar e sentir aromas h muito so usadas e

    definem sentimentos de captao para a valorizao e aquisio de produtos e servios,

    fazendo delas uma forma pioneira e emprica de interatividade. Paladar, olfato, tato, audio,

    viso, amor e paixo mexem significativamente com as pessoas, penetram nas pessoas e do

    novo sentido vida. Interferem no consumo e nas relaes. Fazer sentir por meio das

    comunicaes passou a ser a ferramenta primordial para se alcanar a pessoa. Novos rumos da

    publicidade: provocar e/ou promover lembranas da marca, do consumo, a sensaes e no ao

    produto simplesmente, associar sentimentos ao consumo. O ponto de vendas (PDV) foi o

    primeiro a experimentar ou fazer o pblico sentir para aproximar o produto do consumidor.

    Tudo hoje se desenha para um horizonte interativo. Diversas so as formas de se

    atingir, com penetrao e interatividade. No s a internet, mas os aparelhos de toque, o

    apertar dos botes da televiso, a passagem por uma vitrine que faz a ateno aflorar so

    mecanismos da convergncia e interatividade. A cada dia isso impactar e trar criatividade

    aos pensadores, em engenhocas que ajudaro as mensagens a atingir seu objetivo, sem

    imposies de qualquer ordem. Um mundo novo est instalado no dia a dia, e a revoluo

    digital contribui significativamente para a mudana, mas em carter definitivo. A nova era,

    com capacidade infinita de exposio, criou a chamada caUda longa; pela facilidade de

    logstica, h oportunidades de se ter qualquer obra na prateleira virtual. Em um passado no

    to longnquo, os espaos e as mecnicas disponibilizavam apenas aqueles produtos de maior

    visibilidade, o que foi desenvolvido no livro Cauda longa, conceito popularizado por Chris

    Anderson, assim explicitado:

  • 20

    O conjunto das vendas desta grande quantidade de produtos no

    populares, os baixos custos de distribuio e armazenamento de empresas

    que aplicam essa estratgia com sucesso (por exemplo, com a distribuio

    digital), as permitem obter uma quantidade significativa de lucro vendendo

    produtos incomuns para vrias pessoas, ao invs de se limitar aos poucos

    produtos populares que vendem em maior quantidade (ANDERSON, 2002,

    p. 36)

    Capturar smbolos, ou melhor, expor as pessoas sua captura, significar novas

    disciplinas nas escolas e cursos de ps-graduao. Viro desafios, oportunidades de trabalho e

    profissionais mais capacitados tecnologicamente; quem sabe, no futuro, mais cibernticos.

    Explorar o consciente do pblico requer suavidade, perspiccia, atitudes legais subliminares,

    humanidade, bom gosto e vontade. Com a distribuio da informao, tudo tende a ficar mais

    claro s pessoas e aos grupos.

    Durante muitos anos o jornal impresso atingiu milhes de leitores. Nos Estados

    Unidos, a primeira estao de rdio foi instalada em 1916, em Nova Iorque; no Brasil, a

    primeira transmisso oficial se deu em 1922. Nas dcadas de 1920 e 1930 o rdio

    experimentou seu boom em todos os cantos do mundo.

    As primeiras imagens de televiso foram vistas em 1926 e 1927. Entretanto, a

    exploso da televiso se deu a partir de 1950. J a internet mais ou menos como se conhece

    - foi criada em 1990 pelo ingls Tim Berners-Lee. Em dez anos, atingia nmeros

    impressionantes, na rapidez da vida, na velocidade da competio. Quantas empresas entram

    no mercado atrs de seu filo, quantos fabricantes de qualquer gnero disputam espao na

    mente ou no carrinho de supermercado? Todos tero que encontrar um caminho para chamar

    a ateno, e a surge o horizonte que se est delineando, que hoje perturba os melhores

    executivos e governantes, que questionam: aonde vamos, como vamos atingi-lo?

    H quanto tempo se fala no one to one?!* Aliado ou no ao digital, ser complexo ou

    muitas vezes simples. Estar entre o consumidor, seu discurso e a criatividade de quem

    expuser servio ou qualquer bem em que o fundamental ser a forma de colocar seu

    interlocutor diretamente em contato com ele, com total absoro e compreenso, nos

    ambientes mais diferentes e inusitados. O imediatismo da informao ir gerar a conscincia

    do desejo, da segurana ao atingido.

    Krugnan, diretor de Pesquisa da GE - General Electric (empresa oriunda da famlia de

    Thomas Edison), miditico da era televisiva, criou uma frmula por meio da qual o indivduo,

    para ser impactado por um comercial de trinta segundos, teria que assisti-lo pelo menos trs

  • 21

    vezes, ou noventa segundos (frmula conhecida como lei de Krugnan), utilizada por dcadas

    para se entender a absoro das aes publicitrias pelos indivduos. Quando se interage em

    trs segundos, h total absoro da mensagem que estamos capturando; ento, a interatividade

    valeria pelo menos trinta vezes mais do que os processos de precificao miditica hoje

    existentes.

    Grande nmero de pessoas j experimentaram algo num ponto de venda, que h

    tempos ganha espao, pois alm de colocar o assunto sua frente, no momento de sua deciso

    de compreenso muitas vezes o atinge com sua forma, cores etc., o que interatividade.

    Empresas e Estados tero de experimentar esses cdigos para atingir pessoas e grupos. Estar

    em um ambiente que tem a ver com sua informao, seu produto, seu habitat, de certa forma

    induz interatividade. O que se fazia h tempos, porm no se chamava assim.

    A Tecnologia da Informao (TI) no imprescindvel para a interao. preciso

    haver pessoas que entendam de seu negcio, dos negcios dos consumidores e dos negcios

    de quem vende seus produtos ou servios. Mas em tempos de convergncia miditica e

    digitalizao da informao, a TI possibilita encontros antes impensveis.

    Todos esses fatores que se relacionaram com a interatividade durante bom tempo

    estavam instalados em setores da comunicao chamados de produtores de contedo:

    publicidade, relaes pblicas, marketing, PDV e promoes, como descrevemos acima; o

    jornalismo no enxergava a necessidade de chegar ao pblico com esses artifcios, mas os

    empresrios e o pblico rapidamente fizeram presso, que significou o j exposto

    infotenimento. O que se tornou fundamental em toda a indstria do audiovisual, com os

    games, celulares, telas com toques e uma infinidade de aparelhos que pelos processos e

    linguagens de comunicao passaram a ser ferramentas para fidelizar ainda mais os

    espectadores/consumidores. Ou melhor, a introduo das pessoas na hipermodernidade. Nesse

    contexto a primeira ao de internet na TV brasileira se deu. Dirigia ento o Canal 21

    estao UHF de TV, pertencente ao Grupo Bandeirantes, e o texto que segue foi publicado no

    blog Semsura:

    O ano era 1998 e tnhamos acabado de realizar um projeto chamado Circular um

    nibus que andava pela cidade com seus entrevistados, sob o patrocnio do recm-lanado

    carto de dbito da Visa (Visa Electron). Tnhamos um laptop da Apple que estava parado em

    minha sala fazia uns quatro meses, e um de meus funcionrios descobriu que ele podia enviar,

    via internet, contedo de TV (udio e vdeo); em cinco minutos podamos ter um link no ar.

    Da saiu o projeto SP Online do jornalismo. Mandamos desenhar trs ou quatro Paratis, com

    um layout maravilhoso do Mosca o mesmo cara que fazia os capacetes do Ayrton Senna e

  • 22

    nossos reprteres saam com o laptop e enviavam notcias pela internet para a redao.

    (VIEIRA, 2012, Online) 3

    Como ramos um time, o mesmo projeto virou comercial. Fazamos um crossmdia,

    assinando os carros e nibus com a logomarca dos clientes, usando essa tecnologia para os

    clientes enviarem comerciais diretamente de seu escritrio.

    1.7. Gnese da convergncia

    A convergncia sempre existiu na mdia; os jornais trazem textos e fotos; a televiso

    rene imagem, som, texto. A internet chegou e, em pouqussimo tempo, tornou-se um bero

    perfeito para o desenvolvimento da convergncia miditica. Nossa sociedade vive a

    virtualizao dos meios de comunicao. O fenmeno proporciona uma anlise complexa no

    s na medida em que gera aumento das interaes, como pelo nmero de seus efeitos. As

    distncias so cada vez mais virtuais e as conexes so permanentes.

    Um dos fatores que Gilles Lipovetsky indica como relevante em seus pensamentos, na

    obra O luxo sagrado da idade do sagrado ao tempo das marcas, o relaxamento entre

    todos os habitantes desse novo mundo; no h mais a culpa pelo luxo ou produtos at ento s

    consumidos pelo que chamamos de classes abastadas. Isso fez com que, em todas as camadas

    da sociedade, no mais fosse visto como pecado capital, mas meta a alcanar.

    Pulverizando um novo desejo de consumo, igualou todos como se estivssemos na

    praia: h o mesmo status quando se deita na areia para tomar sol, ou quando se bebe

    determinado refrigerante. A televiso ganhou mais fora e poder na nova sociedade para partir

    de diferentes paradigmas. Os canais abertos/tradicionais esto em crise faz alguns anos; desse

    processo vieram os produtos com a mesma formatao na vedete das comunicaes,

    redefinindo os protocolos de aproximao entre indivduo e sociedade.

    Difcil imaginar a comunicao sem as ferramentas que a transio miditica agregou

    na construo dos paradigmas e inovaes tecnolgicas. A prpria viso do real e da fico

    questionada e analisada a partir de pesquisas que determinam o que ser exposto pela mdia.

    O digital ofereceu s redaes o clipping, quase em tempo real, do que est sendo exposto, e

    determinando um parmetro futurista para a discusso das pautas.

    3 VIEIRA, H. H. Primeira ao de internet na TV 1998. Disponvel em: < http://semsura888.

    blogspot.com.br /2012/07/primeira-acao-de-internet-na-tv-1998.html> Acesso em: 01 ago. 2013.

  • 23

    A inverso dos valores no se deu apenas por influncias econmicas e intelectuais; o

    volume das anlises possvel de ser visualizado dava luz a uma forma diferente de se priorizar

    assuntos e aes imediatamente. As medies instantneas do Ibope instituto cuja

    metodologia foi criada no Brasil e hoje exportada mundo afora em real time aproximam o

    exibidor do espectador e fazem da televiso um instantneo instrumento dos desejos da

    sociedade. possvel mudar o caminho de seu contedo em um piscar de olhos, ao pleno

    gosto daquilo que tem maior impacto no pblico. A indstria miditica, como a prpria

    globalizao, sups que poderia continuar a manobrar. Mas no imaginou que o volume, a

    imensido e o nmero de pessoas seriam dogmas to importantes quanto se alimentar, e que

    sinalizariam um novo comportamento. Alimentar de informao quase sem critrio pela

    informatizao de ainda h pouco, durante a convergncia miditica, fez grande diferena na

    sociedade, teve seu caminho encurtado de certa forma, e concretizou elementos que

    facilitaram outros setores da sociedade s mudanas que vieram a ocorrer.

    A interatividade aguou mentes brilhantes s invenes para serem mais profundas,

    mais intensas. Abriu caminho para o pensamento. Como se denominam os primeiros a

    entender esse novo mundo, os pioneiros nos experimentos que nos levaram

    hipermodernidade? Foram os miditicos, com sua necessidade sempre crescente de atingir o

    pblico, perseguindo a segmentao, fatiando o bolo. Quanto mais globalizado, mais fatiado

    analisado e entendido pelas digitalizaes.

    Pode-se chamar a ateno para alguns cidados que fizeram a diferena no caminhar

    de todo o aparato tecnolgico, com alicerces e conceitos to distantes como tecnologia e

    sustentabilidade social. Nos ltimos 45 anos, o mundo vivenciou boa parte de todas as

    grandes invenes; ainda assim, foi possvel assistir saltos quase qunticos por pessoas

    como Tim Berners-Lee, Steve Jobs, Bill Gates, que turbinaram, com as mirabolantes

    descobertas e invenes, a rapidez que se v hoje. Ao mesmo tempo, pensadores se

    interessaram pela vigilncia hierrquica, sanes para normatizar, exames de avaliao, como

    em diversas obras desenvolvidas por Foucault.

    Em Os tempos hipermodernos e o prprio Lipovetsky alinhavando os caminhos da

    sociedade e determinando um novo estado de conscincia a partir do que eu chamo de a

    revoluo da mdia [...]. (LIPOVETSKY, 2008, p. 16).

    Outro efeito a ser considerado diante desses conceitos e inovaes o da

    interatividade. Aclamada e percebida como a possibilidade de o pblico soltar-se das amarras

    da manipulao dos meios, oferece a oportunidade para o consumidor se tornar ator no

    processo de comunicao em que o consumidor passa a ser tratado de prossumidor ativo

  • 24

    /interativo - ele consome e produz contedo. Um exemplo bem-sucedido o da Rdio Sul

    Amrica Trnsito, em So Paulo. Trata-se de parceria entre o Grupo Bandeirantes de

    Comunicao e a Companhia de Seguros Sul Amrica, criada com a proposta de fornecer, em

    tempo real, a situao das principais vias de trfego da capital paulista.

    No incio, no imaginvamos que a interatividade com o

    pblico chegaria a esse patamar. Recebemos um volume to grande de

    mensagens que, por muitas vezes, no possvel dar conta.

    Conseguimos montar uma emissora totalmente interativa e que, com

    as redes sociais e mdias mveis, j est provando que a comunicao

    de uma rdio no precisa ficar restrita ao dial, comenta o diretor de

    jornalismo da Rdio Sulamrica Trnsito, Felipe Bueno. Diariamente,

    a emissora recebe uma mdia de 2 mil mensagens de texto (via

    celular), 4 mil ligaes telefnicas e 1500 e-mails. (BUENO, 2013,

    Programa de Rdio)

  • 25

    CAPTULO 2 MOMENTO DAS EMPRESAS E CORPORAES

    2.1 Primeiros impactos nas corporaes

    Perceber e avaliar todos os impactos e consequncias da convergncia miditica nas

    empresas e corporaes no tarefa fcil, pois, aparentemente, se identificam vrios deles,

    procurando formas de nos situarmos diante disso. De toda forma, para quase todo cidado no

    mundo atual, interagir com as empresas que fabricam seus produtos preferidos uma

    realidade. No basta assistir ao comercial na TV ou ver o anncio publicado na revista para o

    consumidor decidir pelo consumo deste ou daquele produto ou servio. Ele quer mais. Quer

    saber como produzido, quanta energia consome, dificuldades de instalao, diversidade de

    modelos, possibilidades de customizao, enfim, quer saber tudo ou ao menos o que lhe

    parece tudo.

    Para viabilizar a interao, as empresas so obrigadas a investir cada vez mais em

    produo de contedo, solicitando e considerando a opinio do comprador, em uma relao de

    troca que envolve mais do que moedas, conforme observado por Jenkins:

    [...] consumidor ideal ativo, comprometido emocionalmente e

    parte de uma rede social. Ver o anncio ou comprar o produto j no basta; a

    empresa convida o pblico para entrar na comunidade da marca. No entanto,

    se tais afiliaes incentivam um consumo mais ativo, essas mesmas

    comunidades podem tambm tornar-se protetoras da integridade das marcas

    e, portanto, crticas das empresas que solicitam sua fidelidade.

    Surpreendentemente, em ambos os casos, as relaes entre produtores e

    consumidores esto sendo rompidas medida que os consumidores

    procuram agir ao serem convidados a participar da vida das franquias.

    (JERKINS, 2008, p. 47)

    Em poucos anos, as corporaes abraaram as novas ferramentas da internet com o

    mesmo profissionalismo que a indstria miditica sempre se orgulhou de produzir. Por

    caminhos prximos a um sincronismo, grandes profissionais dos meios de comunicao na

    dcada de 90 migraram para as assessorias de comunicao. Algum tempo depois, para os

    departamentos de comunicao das indstrias e corporaes.

    Criada nos idos de 1967, a Aberje exemplifica o poder nas comunicaes das

    indstrias, com aproximadamente 15 mil empresas associadas, que tem em seus quadros

  • 26

    milhares de jornalistas, publicitrios, relaes pblicas e recentemente os que manejam as

    redes sociais e a internet.

    A Associao, com papel importante na esfera decisria nesse mundo que se forma a

    partir do que publica nos principais meios e veculos de comunicao do pas, responsvel

    nos ltimos anos por boa parte do que se veicula, articulado por jornalistas e profissionais de

    comunicao que entendem como se trabalha uma redao e seus pares empregados das

    mdias tradicionais.

    As corporaes concorrem com os contedos produzidos at ento somente pela

    indstria miditica; hoje, uma indstria tem seu site, Facebook, TwiTter, blogs e mesmo as

    prprias web tvs. Por essas ferramentas so transmitidos assuntos especficos que interessam

    aos consumidores e vendedores de produtos.

    H linguagens sendo mudadas. Para facilitar o entendimento do novo espectador;

    foram contratados milhares de profissionais para a ele falar diretamente. Aos poucos se

    percebe que a audincia dos canais de contedo de qualquer segmento de mercado cresceu,

    concorrendo significativamente com os produzidos pela indstria miditica. A audincia

    sucumbe nas chamadas velhas mdias: rdios, jornais e revistas em papel, televises VHF e

    UHF.

    No Brasil, h a ascenso da televiso paga, pois demorou muitos anos para ampliar seu

    raio de atuao em razo de limitaes geogrficas e de seus preos, que eram, at pouco

    tempo atrs, os maiores do mundo. Nos ltimos anos uma srie de fatores impulsionou o

    crescimento da TV paga de forma contundente: o governo brasileiro teve papel importante

    nesse processo quando sancionou lei que permitia a entrada de empresas de telecomunicaes

    no setor de TV por assinatura; os preos deixaram de ser um problema e caram

    vertiginosamente. Segundo estudos da Fipe (Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas), os

    preos praticados pelas empresas no Brasil esto abaixo da mdia mundial, considerando 53

    pases avaliados; de certa maneira, isso aconteceu na mesma proporo em que percebamos o

    aumento do acesso da Classe C ao sistema que hoje representa 28% de todo o universo de

    assinantes do pas, segundo o Ibope Mdia; outro facilitador foi a criao dos combos

    pacotes que, alm de canais de programao, oferecem servios de telefonia e internet por

    banda larga. No final de 2012 o setor contava com 16,2 milhes de domiclios em sua base de

    assinantes, consolidando-se como o stimo mercado de TV por assinatura do mundo. A

    previso de que at 2015 o sistema atinja a marca de 30 milhes de assinantes. A TV paga

    hoje a vedete da mdia, o nico e derradeiro veculo de comunicao das velhas mdias a

    enfrentar as chamadas novas mdias, que tm na web seu alicerce em inovao e resultados.

  • 27

    Grfico 1 Evoluo do nmero total de assinantes (mil) 2002 a 2012

    Fonte: Associao Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) / Agncia Nacional de Telecomunicaes

    (ANATEL/IBGE).

    Ao olhar por esse ngulo, pode-se pensar nas palavras de talo Calvino, um dos mais

    importantes escritores do sculo XX. Nascido em Cuba, de pais italianos, sua famlia retornou

    Itlia logo aps seu nascimento. Em A cidade Invisvel, disse que o cidado quando

    conhecedor de um s totem ele se espelha em tudo por estas vias, sendo a nica e exclusiva

    forma de conhecimento. Os profissionais das redaes pensam as assessorias de maneira

    arcaica. Porm, a nova forma de se comunicar, juntamente com as ferramentas tecnolgicas

    que possibilitam seu uso nas mais diversas esferas, faz com os profissionais se adequarem ao

    mercado; caso contrrio, estaro fora dele, pois a cada dia as organizaes que investem nesse

    contato mais direto com o pblico colhem benefcios comprovados por fontes especializadas e

    pesquisas especficas (CALVINO, 1972, p. 36).

    Dados de uma pesquisa realizada pela revista Business Week

    mostram que os empreendimentos que investem em mdias sociais

    apresentam melhores resultados e receitas cada vez mais satisfatrias. Em

    mdia, empresas que investiram em mdias sociais cresceram 18% em um

    ano, enquanto aquelas que investiram pouco nas redes tiveram queda de 6%,

    em mdia, em suas receitas no mesmo perodo. (RISSO, 2013, Online)

    2.2 Necessidade da segmentao

    Nem se falava em internet e o entendimento de pensadores como Marshall Mcluhan

    deixava transparecer que o mundo teria que ser mais dividido para se alcanar resultados mais

    objetivos.

  • 28

    Usavam-se nas pesquisas os agrupamentos por targets (perfis por qualificao e

    quantificao de classes sociais e faixas etrias) para alcanar os objetivos nas poucas

    segmentaes que conhecamos. As necessidades das empresas eram maiores, mas ainda no

    existiam ferramentas que pudessem dividir e subdividir em milhares e milhes de grupos.

    Comunicar, abastecer, criar, desenvolver, produzir e entregar para todo esse mar de

    pessoas era agora a preocupao das corporaes. A mdia, atenta s suas ferramentas,

    produzia contedos mais segmentados, ainda suficientes para se chegar sofisticao de

    atingir os milhares de grupos existentes.

    A exigncia de se atingir com mais eficincia os consumidores pressionava as

    indstrias e as empresas pblicas e privadas. Durante muitos anos sabia-se que quanto mais se

    fatiassem os desejos mais eficientes seriam; ento, houve um hiato que durou anos, pois havia

    demanda, mas no se imaginava como chegar sofisticao que os computadores alcanavam

    quando entravam em ao.

    No princpio dos anos 90 algumas empresas brasileiras consideraram novas

    possibilidades para segmentar consumidores. A principal delas foi a segmentao psicogrfica

    que propunha a criao de perfis que consideravam o estilo de vida, composto por suas

    atividades, interesses, opinies, sentimentos etc. A nova prtica deixou marcas no mercado

    miditico nacional e ocasionou grandes mudanas e adequaes de produtos em funo do

    que se verificava.

    Na verdade, usamos um modelo hbrido, que combinava dados demogrficos com

    caractersticas de estilos de vida. Um bom exemplo de sua utilizao se deu no segmento

    editorial do pas; grandes editoras promoveram profundos estudos sobre seus leitores e

    conseguiram formatar grupos bem definidos de consumidores; com isto, adequaram as linhas

    editoriais e identidades visuais para melhor atender aos grupos identificados, gerando

    excelentes resultados.

    O passo seguinte foi contrapor as matrizes identificadas aos anunciantes/produtos,

    elaborando materiais de venda de publicidade a partir do novo conceito. Novamente o

    resultado foi positivo e, durante alguns anos, acompanhamos a evoluo das receitas

    publicitrias e a consolidao dos produtos editoriais. Na outra ponta, parte da indstria fez

    uso do mesmo ferramental, adequando suas linhas de produtos aos conceitos de segmentao

    mais detalhados. Como resultado, colheram dividendos positivos do ponto de vista financeiro

    e na percepo dos consumidores. O processo foi acompanhado e possibilitado pela invaso

    dos microcomputadores que vieram facilitar a disseminao de informaes, cruzamento de

    dados e aferimento de resultados.

  • 29

    O entendimento sobre a segmentao foi extremamente importante para o universo

    corporativo e para toda a sociedade. Permitiu que fossem desenvolvidas ferramentas capazes

    de alcanar os mais diversos grupos, presentes em todos os setores da economia. Centrando-

    nos em um grupo especfico de consumidores semelhantes, nos tornamos especialistas sobre

    ele e suas necessidades; isto d s empresas a possibilidade de direcionar esforos e

    investimentos com mais eficcia, otimizando os resultados da relao empresa/produto com o

    consumidor.

    2.3 Acesso informao

    A convergncia tecnolgica e miditica tornou possvel o acesso s mais variadas

    formas de informao sobre qualquer assunto em uma simples consulta desde um dado

    sobre a padaria da esquina at os balanos dos maiores bancos.

    Evidentemente as informaes de origem administrativa em caso de empresas

    privadas ainda tm o acesso restrito aos proprietrios, mas o avano da tecnologia e o

    barateamento dos computadores, aliados a um novo cenrio sociocultural, deram ao

    consumidor o perfil de querer saber mais sobre aquilo que consome e possibilidades reais de

    ver se concretizar. As corporaes e a mdia precisaram ento acompanhar e responder nova

    exigncia. A partir de ento, as empresas deviam se voltar no somente para a fabricao ou

    vendas de seus produtos ou servios, mas para a aproximao construda com os clientes,

    utilizando os mais diversos meios para adquiri-la, o que muitas vezes quer dizer produzir

    contedo para mostrar-se como fornecedora ativa e no apenas fabricante ou intermediria.

    A chave para entender o novo contexto perceber que a base sobre a qual o segmento

    de mdia estava alicerado mudou, afirma Marcelo Coutinho, professor da Fundao Getlio

    Vargas e um dos principais estudiosos brasileiros do mercado de comunicao. Conforme ele

    explica, toda a economia do setor de broadcast tradicional se sustentava a partir da capacidade

    tecnolgica das empresas de entregar um contedo que despertava ateno, presa a uma

    grade. Hoje, o cenrio outro: o consumidor dedica sua ateno ao que est fora da grade dos

    veculos de comunicao, como as redes sociais. Coutinho insiste em se investir em meios

    miditicos diferentes porque h convergncia entre eles:

    [...] necessrio estar em todas as mdias porque elas se

    conversam o tempo todo. No uma mdia contra a outra, como se

    imaginava h dez anos ou mais. H um consumo simultneo muito grande.

    Se voc observar a pesquisa Terra Digital, feita pelo portal, um meio

    alimenta o outro. Percebe-se que 64% dos brasileiros j consomem TV e

    internet sempre ou frequentemente. Desses, apenas 7% dizem que seu foco

    de ateno a TV, enquanto 49% dizem que o foco est na internet e 44%

  • 30

    nos dois. Mas quando se pergunta o que elas fazem enquanto assistem TV

    e usam a internet ao mesmo tempo, 38% dos brasileiros afirmam que

    comentam nas redes sociais o que veem na TV. E 34% pesquisam ou

    procuram produtos que aparecerem nos programas de televiso.

    (COUTINHO, 2013) 4

    O que, sem dvida, demonstra que os consumidores mudaram a forma como se

    relacionam com os meios de comunicao. Alm de fragmentarem a ateno entre vrios

    meios simultaneamente, agora protagonizam com os mesmos. Basta uma manifestao

    macia por uma rede social e/ou um grupo de pesquisa para a emissora de televiso sugerir

    ao autor de determinada pea de dramaturgia uma modificao na trama. Da mesma forma, se

    um consumidor tem um problema com determinado produto h uma voz ativa para discorrer

    sobre o fato e as possveis providncias tomadas pelo fabricante para sanar o problema.

    Percebemos nos dias atuais o fortalecimento do poder do consumidor, e isso requer uma

    resposta imediata por parte de fabricantes, prestadores de servios e indstria miditica.

    A velocidade dos acontecimentos, suas reaes e impactos seguem em franca

    acelerao. Novos conceitos e experimentos so empreendidos diariamente, com ajustes de

    curso mesmo durante sua execuo. Tudo isso requer maior infraestrutura, acesso a

    ferramentas e tecnologia, mas, ao mesmo tempo, agilidade. Parece um paradoxo, mas a

    realidade vivida pelas corporaes. Como forma de atenuar seus efeitos, a necessidade de

    promover o aculturamento de seus empregados sobre uma gama muito maior de

    conhecimentos acerca da empresa e seus produtos e/ou servios torna-se vital; mais pessoas

    compartilhando mais informaes, tornando-se mais aptas para responder sobre o universo

    daquela corporao.

    No a toa vrias empresas comeam a criar grupos de consumidores em redes sociais;

    esses indivduos acabam servindo como mediadores e amplificadores de posies das

    corporaes com relao a seus produtos e/ou servios. De certa forma, esses grupos

    funcionam como exrcitos arregimentados para entrar em ao sempre; se as coisas vo bem,

    eles so mais vozes a compor elogios, dividir experincias e propor utilizaes; se o vento,

    por qualquer razo, traz uma tempestade, eles funcionam como guardies, procurando

    minimizar os danos, at que tudo volte calmaria.

    Um ponto importante a ser considerado que a velocidade foi alterada. A gerao de

    novas informaes, dados e fatos tamanha e to rpida que da mesma forma que crises

    4 COUTINHO, Marcelo. Convergncia Miditica. So Paulo: FGV (Fundao Getlio Vargas), 20

    set. 2013. Depoimento.

  • 31

    acontecem, so verificadas e esquecidas; no necessariamente por falta de interesse ou

    motivao, mas porque um novo fato bate porta. Entretanto, tudo fica registrado para

    pesquisas futuras; toda vez que algumas combinaes de palavras-chave forem digitadas,

    situaes sero revisitadas pelos consumidores; se forem positivas, estaro funcionando como

    aval para o consumo daquele bem ou servio; se, por outro lado, forem negativas, pesaro

    decisivamente na mente do consumidor.

    Por isso, por tamanha liberdade e facilidade no acesso informao, tornou-se

    imprescindvel s corporaes um trabalho minucioso com seus quadros no sentido de

    trabalhar todo e qualquer fato de forma precisa. A publicidade no mais resolver os

    arranhes na imagem de produtos, servios e marcas. Ela poder compor o batalho de

    choque que ir a campo, mas sem os geradores e mediadores de informaes os que fazem

    parte dos quadros operativos e os consumidores seduzidos a fazer parte de grupos nas redes

    sociais dificilmente se chegar a bons resultados.

    2.4 Menor distncia entre empresas e consumidor

    Ao se estudar geometria, uma das primeiras lies que a menor distncia entre um

    ponto e outro uma reta.

    Na comunicao, at a chegada da internet, o caminho para se chegar ao consumidor

    eram a publicidade, a propaganda e os releases. Sempre se tinha que usar um intermedirio

    que chamamos de veculo de comunicao, nome quase bvio para se determinar o caminho

    para encontrar quem consumisse os produtos da indstria e os servios oferecidos por todos

    os tipos de empresas.

    Com a chegada da web e internet, aproximamo-nos dos ensinamentos de geometria e

    diminumos a distncia entre o produto e o consumidor. A comunicao passa a ser direta, no

    somente disponibilizando contedo para o consumidor, mas produzindo-o. Os novos canais de

    divulgao permitem ao consumidor escolher como, quando e onde acessar as informaes

    publicadas pela empresa da qual j consome o produto/servio ou que passa a conhecer diante

    de tamanha facilidade de acesso.

    Isto no quer dizer que no existe mais a exigncia dos veculos. Conforme passam

    por essas transformaes, boa parte das empresas miditicas no est esttica; muitas vezes,

    departamentos distintos de uma mesma empresa procuram estratgias extremamente

    diferentes, o que d a exata proporo sobre a incerteza sobre como se posicionar. A

    convergncia pode ser vista como oportunidade para conglomerados de mdia; alcanando

    sucesso de um contedo, ele poder ser disseminado em inmeras outras plataformas. Mas

  • 32

    isto representa um risco, pois reflete a fragmentao dos mercados. Deslocar um consumidor

    de um meio para outro poder significar perd-lo para sempre. Entretanto, quanto mais

    adaptados nova ordem os meios e veculos estiverem, maiores sero as chances de

    integrarem estratgias miditicas elaboradas pelas corporaes; se todas as mdias se

    conversam, como afirma Marcelo Coutinho, os veculos que melhor interpretarem esse

    conceito e adequarem suas plataformas de comunicao tero oportunidade de fortalecimento

    diante das empresas que compram seus espaos e dos consumidores em geral. Talvez um bom

    caminho a ser considerado seja afinar os contedos transmidiatcos, procurando a

    complementaridade entre eles, o que possibilitaria agradar mais aos consumidores, agregando

    informao e valores distintos aos contedos miditicos e, consequentemente, levando mais

    empresas a considerarem as diversas plataformas dos grupos de comunicao.

    A ser levado em conta que a aproximao entre produtos e consumidores traz

    vantagens para as empresas, mas expe fraquezas, e as possveis falhas estaro to prximas

    quanto seus acertos, o que demanda maior ateno e cuidado no trato com o cliente, porque o

    formato da relao fornecedor-comprador influencia diretamente as escolhas do novo perfil de

    consumidor.

    Os produtos esto mais expostos do que acontecia a tanta tecnologia; as formas de

    pagamento so inmeras o que os torna mais acessveis, as ofertas so variadas e o

    transporte das mercadorias facilitado. No entanto, isso no quer dizer que vender seja mais

    fcil hoje em dia. O cenrio econmico mudou, mas, mais do que isso, as pessoas mudaram.

    Elas esto mais conscientes dos seus direitos como consumidores e no desejam apenas o

    artigo comprado; assim como a publicidade, fazem relao entre produto e marca, empresa e

    imagem.

    Nunca a tendncia foi de tanta transparncia, nem tampouco de tantas variveis a

    compor na mente dos consumidores sobre a imagem do que esto consumindo. A chance de

    observarmos somente um produto, vantagens e desvantagens em nossa vida cai a cada dia na

    proporo inversa dos impactos que o fabricante causa com sua produo, nas relaes das

    empresas com seus empregados, nos eventuais fatos que envolvem integrantes de sua

    diretoria, em suas aes sociais, enfim, em todos os setores de relacionamento abrangidos por

    sua existncia.

    As empresas tm que se reestruturar para responder a tais demandas de forma clara,

    objetiva e rpida.

    A convergncia exige que empresas reconsiderem antigas premissas sobre o consumo

    das mdias, que serviam de orientao para tomadas de deciso. O que vale para a indstria

  • 33

    miditica quando se pensa em grades de programao e contedos, e para a indstria em geral

    e prestadores de servio, quando consideramos as estratgias de marketing. Se os

    consumidores eram previsveis e estticos, hoje migram e deixam claro que h que se esperar

    lealdade a veculos de comunicao. Se eram passivos, hoje so ativos. Antes eram isolados,

    mas hoje querem conectar-se socialmente. H consequncias diretas no volume de sua voz,

    antes quase inaudveis, mas hoje retumbam no ouvido dos executivos.

    Por outro lado, o consumidor pode passar, ele mesmo, a ser mais um canal de

    divulgao de sua marca ou produto preferido. Vejamos um exemplo simples.

    A Brastemp possui um canal no Youtube; por meio dele, veicula filmes publicitrios e

    vdeos sobre sua linha - funcionamento, mitos etc. Esse canal possui 128 vdeos postados. Se

    digitarmos, na linha de pesquisa do Youtube, a pesquisa lava-louas Brastemp, receberemos

    cerca de 1.250 resultados aproximadamente, variando entre 60 e 60 mil visualizaes,

    dependendo do vdeo. Encontraremos tudo nessa lista, a comear pelos materiais postados

    pela prpria indstria e que, claro, tm maior nmero de visualizaes. As lojas que

    distribuem o produto so grandes colaboradores de contedo dos fabricantes; produzem

    inmeros vdeos demonstrativos dos produtos que vendem pelas suas unidades virtuais. E a

    chegamos aos consumidores finais grandes produtores de material audiovisual; mas aqui,

    alm de pessoas contando experincias positivas, com dicas para instalao, filmando

    mquinas em funcionamento com a porta aberta, enfim, encontraremos aqueles que utilizam a

    ferramenta para denunciar mau funcionamento, falta de assistncia do fabricante, defeitos

    nunca solucionados e recomendando que outros consumidores no comprem tais produtos de

    determinada marca.

    Na situao descrita, h a proximidade, mas a depender das aes da empresa o fato

    poder propiciar melhores ou piores dividendos s marcas/produtos. De qualquer maneira,

    como j dissemos, tudo ficar registrado. O arquivo da humanidade no tem mais dimenso

    espacial e, portanto, tudo cabe.

    2.5 Corporaes no miditicas abraam a causa sustentvel

    Nesse cenrio, boa parte das empresas despertou sobre a necessidade de conhecer os

    interesses dos seus clientes, no apenas no que se refere ao consumo, mas s causas que

    acreditam e defendem. Perceberam que aqui se encontrava mais uma forma de criar

    identificao e fidelizao com a marca.

  • 34

    Dentro da gama de interesses esto a sustentabilidade/responsabilidade

    socioambiental, conceituada ainda na dcada de 70 na Conferncia das Naes Unidas em

    Estolcomo, consolidando-se no Brasil na ECO 92, realizada no Rio de Janeiro.

    Segundo a Revista Brasilis, desde a ltima dcada o tema faz parte da agenda das

    principais empresas brasileiras (pblicas e privadas). O fato nem sempre se d porque a

    empresa se preocupa, de fato, com a causa ambiental; na maioria das vezes, as empresas

    apenas procuram adequar-se aos novos consumidores que exigem solues para os impactos

    que causam na produo das mercadorias. De acordo com a fonte, duas em cada trs pessoas

    cobram pelo menos uma contrapartida para os danos causados pela produo, o que torna o

    mercado sustentvel absolutamente promissor e, ainda que as organizaes ofeream servios

    e no mercadorias, todas esto atentas fatia de clientes e aderem s polticas socioambientais

    para sua imagem ser vinculada ao tema que conquista cada vez mais adeptos.

    A sociedade se conscientizou que o consumo desenfreado trazia consequncias, gerava

    produo proporcional de mercadorias na maioria das vezes suprfluas e, em igual

    medida, fazia uso indiscriminado dos recursos naturais. Organizaes no governamentais

    questionavam os empresrios chamados de exploradores sobre o mau comportamento.

    Com a cobrana foram obrigados a assumir uma nova postura que modificou, talvez para

    sempre, a forma de gerir os negcios.

    Agora, passvel de uma espcie de fiscalizao popular, o investidor precisava rever

    sua posio de fornecedor e dar satisfaes no apenas quanto qualidade do produto, mas

    maneira como era feito, qual o impacto socioambiental que sua produo traria para a

    coletividade e, principalmente, o que faria para amenizar esse efeito. A verdade que, mesmo

    com a questo sendo tratada de forma mais sria no pas desde 92, a concretizao ocorre

    paulatinamente. Como lidar com essa situao? Surgiram as empresas de consultorias

    especializadas no assunto, como a Associao Brasileira das Empresas de Consultoria e

    Engenharia Ambiental (Aesas), fundada em 2002, e a Associao Portuguesa de Empresas de

    Tecnologias Ambientais (Apemeta), sua parceira.

    Congregar empresas que exeram atividades na rea de consultoria

    e prestao de servios para estudos de contaminao e remediao de solos

    e guas subterrneas, inscritas no CREA - Conselho Regional de

    Engenharia, Arquitetura e Agronomia. (AESAS, Online)

    De acordo com o Instituto Ethos, duas pesquisas internacionais foram empreendidas

    no ltimo ano:

  • 35

    [...] uma delas, feita pela consultoria britnica Verdantix com 250

    lderes de sustentabilidade em empresas globais de 13 pases, e a outra pelo

    consrcio Massachusetts Technology Institute (MIT) e Boston Consulting

    Group (BCG), com 2.300 executivos de grandes corporaes. A primeira

    disse que sustentabilidade importante, mas no agora, enquanto a

    segunda afirma que sustentabilidade cada vez mais importante. De

    qualquer forma, o cenrio est mudando rapidamente, e ambas as pesquisas

    concordam que diminuio de custos e aumento de lucros atraem as

    empresas para a sustentabilidade. O Brasil esteve entre os pases

    pesquisados, e onde as empresas tm a maior despesa mdia em

    consultoria de sustentabilidade R$ 6,1 milhes por empresa. Os setores que

    mais investem em iniciativas de sustentabilidade so minerao, papel e

    celulose, petrleo e gs, alimentao e bebidas e distribuio de energia e

    gua. Nosso pas apresenta a segunda maior despesa em consultorias de

    gesto, atrs apenas dos Estados Unidos. (ITACARAMBI, 2013, Online)

    Sob qualquer tica, h resposta por parte das corporaes aos anseios dos

    consumidores. Entretanto, sempre por razes diversas daquelas esperadas por eles. Ao que

    parece, as empresas que acrescentaram o tema da sustentabilidade em sua agenda o fizeram

    pela tentativa de aproximar-se dos anseios dos consumidores ou pela busca de rentabilidade,

    ou seja, longe de um compromisso com a preocupao socioambiental. De qualquer forma,

    ganharam mais um argumento em seu cabedal de fatos e informaes que podem ser

    utilizados em sua comunicao pelos canais da convergncia miditica que vivemos.

    O audiovisual/contedo faz parte dos afazeres de profissionais de qualquer atividade,

    no s para entreter, mas como forma de ensinar a fazer, entender, produzir, reciclar,

    denunciar, em uma infinidade de utilizaes para o bem comum da humanidade.

    Produzir audiovisual est em qualquer atividade pblica ou privada, de carter

    informativo ou de entretenimento.

    Como exemplo as escolas particulares que, nos ltimos anos, ao divulgar a imagem do

    estabelecimento, adicionaram estrutura fsica, aos ttulos do corpo docente e aos programas

    didticos, a preocupao com o meio ambiente, retratando anseios e desejos por intermdio de

    vdeos e filmes muitas vezes produzidos ainda amadoristicamente por seus funcionrios, mas

    ganhando espao nas agendas de todos que trabalham em qualquer ramo de atividade.

    A adeso de instituies educativas causa sustentvel em sua pedagogia demonstra

    ao pblico sua capacidade de inovar o ensino de acordo com as necessidades atuais, o que no

    deixa de ser uma estratgia para conquist-lo, pois uma boa escola investe em todo tipo de

    educao e no deve ser diferente ao tratar da educao ambiental.

    Outro exemplo que pode ser citado sobre empresas sem ligao direta com fabricao,

    compra e venda de produtos, so aquelas pertencentes rea de sade. Hospitais, clnicas e

  • 36

    laboratrios se viram obrigados a adequar sua gesto realidade ambiental. Eram cobrados

    basicamente por descarte adequado de remdios e materiais que contaminassem o solo e com

    a preocupao de disseminar doenas entre pessoas e animais. A partir de ento, esse cuidado

    exigido em relao ao ambiente, com participao da Agncia Nacional de Vigilncia

    Sanitria (Anvisa), que incorporou o tema no 1 Encontro dos municpios com

    desenvolvimento sustentvel: pequenos negcios, qualidade ambiental, urbana e erradicao

    da misria, em Braslia.

    A tecnologia avanou, as pessoas mudaram e o reflexo na economia foi evidente. O

    conceito de estabilidade entrou em xeque, fazendo os empreendedores entenderem que a

    qualidade do produto por si s no garantia mais sua supremacia no mundo dos negcios,

    ainda que tivessem anos de mercado e se imaginassem consolidados. O aumento da

    associao do produto imagem se fortaleceu com o advento da internet, que coloca em

    evidncia os atributos e as falhas da organizao.

    2.6 Redes sociais mais reverberaes em meio convergncia miditica

    Com a inteno de promover seus artigos e servios, organizaes aderiram rede

    mundial de comunicao e promoveram contedos dos quais acreditavam ter total controle do

    que era divulgado. Sites e comrcio eletrnico j faziam parte do dia a dia das empresas, que

    se sentiam mais vontade diante de tantas mudanas de ordem e assdio de consumidores.

    Mas a aparente calmaria durou pouco, indo somente at a chegada e popularizao das redes

    sociais: Facebook, Orkut, MySpace, Twitter, Badoo, LinkedIn, entre outras. Essas estruturas,

    compostas por pessoas e organizaes, tm como principais caractersticas a acessibilidade,

    falta de hierarquia e liberdade dos usurios, o que lhes permite, como principais atividades,

    citar, comentar, discutir, sugerir, mostrar, opinar e compartilhar qualquer assunto (sendo

    censurados somente aqueles que atentam contra a vida).

    Os empresrios, atentos ao novo cenrio, aderiram s redes, especialmente o

    Facebook, aquela que conquistou o maior pblico. Segundo a Revista Veja, da Editora Abril,

    somente no Brasil a Rede contava em maro de 2013 com 73 milhes de usurios,

    consolidando um crescimento de 630% desde fevereiro de 2011. Criada em 2004 pelo

    estudante americano Mark Zuckerberg, seu uso era limitado s faculdades e para fins

    acadmicos; trs anos depois, ao inserir anncios classificados, o Facebook mostrou seu

    potencial de divulgao de servios, indo alm das meras publicaes de informaes

    pessoais. No se sabe precisar em que momento o pblico percebeu que assim como

    compartilhava msicas e fotos, podia compartilhar opinies sobre empresas e produtos, ainda

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    que a princpio nem as empresas nem os internautas tivessem noo dos impactos nova

    forma de relacionamento mais direto entre fornecedor e comprador.

    Mas aderir s redes no significava estar preparadas para lidar com essa relao, e,

    ainda assim, tinham que lidar com alguns nus oriundos dessa ferramenta. Procurando

    adaptar-se rapidamente, empresas buscaram assessorias especficas sobre como monitorar e

    gerenciar os contedos gerados por elas mesmas e, principalmente, as reaes do seu pblico.

    Acompanhar e administrar aas redes fez que as faculdades de Comunicao reverem sua

    grade curricular e se adaptarem ao mercado promissor, gerando disciplinas, cursos e ps-

    graduaes que atendessem nova realidade mercadolgica. A problemtica pode tornar-se

    ainda maior se considerarmos que cada um dos empregados das corporaes est acessando as

    redes de relacionamento, e muitas vezes isso acontece de dentro das prprias empresas.

    Durante um perodo e ainda hoje, muitas empresas proibiram o uso das redes de

    relacionamento durante o perodo de trabalho de seus empregados; o medo de divulgao de

    dados confidenciais ou mesmo imagens que poderiam ser constrangedoras, captadas no

    mbito de trabalho, foram algumas motivaes para as proibies. Mas isso pode ser tarefa

    inglria; diversas corporaes perceberam que muito mais importante do que proibies so

    treinamentos e seminrios nos quais dividem preocupaes com seus funcionrios e norteiam

    atitudes comportamentais aceitveis quando a situao abranger redes sociais e empresa

    empregadora.

    A influncia dos contedos gerados pelos internautas nas redes notria. Mesmo

    aquelas instituies ditas consolidadas so atingidas de alguma forma e nem sempre

    conseguem ignorar os clamores virtuais. O consumidor aprendeu no somente a reclamar seus

    direitos, mas mobilizar ou