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IKASNABAR 2014 - OPEN EDUCATION AND TECHNOLOGY 260
O sucesso dos alunos nos cursos MOOC
João Augusto Ramos e Silva, UPV/EHU, Ronaldo Bernardo Junior, FGV/Ebape, Luciana
Mourão - Universo
IKASNABAR 2014 - OPEN EDUCATION AND TECHNOLOGY 261
Abstract
Several studies indicate a high rate of evasion in MOOC (Mackness, Mak & Williams,
2010; Scopeo, 2013; Poy & Gonzales-Aguilar, 2014; Zapata-Ros, 2014), which sets a challenge
to academic managers. Poy and Gonzales-Aguiar (2014) comment that these rates reach 75% to
95 %. From the challenges presented is that the proposed question emerges: what are the main
factors responsible for this new context dropout of students enrolled in MOOC? Seeking
satisfactory answers initially presents a literature review on the MOOC, and after the
methodological structure, secondary data on students of success in 170 MOOC, and makes a
brief analysis of the key variables that influence the permanence and circumvention of the
students. Anyway, the goal is to assess the conclusion rates of students enrolled in the type
MOOC, seeking to describe the context and point out the main variables that influence the
phenomenon. Thus, we seek to provide support to educational managers, stimulating further
discussion, because as envisioned Illich (1985, p 87): "What is needed are new networks, readily
available to the general public and developed to give equal opportunity for learning and
teaching".
Keywords: MOOC, success, dropout
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O sucesso dos alunos nos cursos mooc
Introdução
A revista brasileira Galileu de abril deste ano registra em matéria (foto e infografias), sob
o título de “Moocs: será que esse tipo de educação funciona?”, a entrega de certificados a
somente cinco alunos regulares, dos 10% que concluíram a disciplina Física Mecânica Básica,
ministrada para 15.000 inscritos em um curso MOOC da Universidade de São Paulo - USP
(Galastri, 2014). A disciplina faz parte dos currículos dos cursos de graduação da USP e foi
oferecida em junho de 2013 pelo portal Veduca, através de 25 aulas, onde se exigia ao final do
curso, a realização de uma prova presencial (dia, hora e local determinado), conforme estabelece
a legislação brasileira para os cursos realizados a distância (Decreto n. 5.622 de 19/12/2005). A
USP, criada em 1934, é a maior universidade pública (gratuita) brasileira, mantida pelo governo
estadual e é a primeira no ranking QS TopUniversity (2013) na América Latina. Veduca (2014) é
uma empresa brasileira que criou o primeiro portal de cursos MOOC e oferece 465 cursos de:
doze universidades americanas, uma inglesa, uma australiana e de cinco universidades públicas
brasileiras.
Notícias como essa fazem com que os gestores educacionais fiquem sob alerta em relação
aos parâmetros de avaliação, e imaginem como poderiam incrementar o número de alunos
aprovados em relação a reprovação, com seu consequente desdobramento quanto a permanência
destes (até a diplomação), em relação à evasão (em todos os seus aspectos). É interessante notar
que embora não se tenha dado a devida atenção a evasão nas disciplinas dos cursos universitários
presenciais (absorvida em parte pelo aspecto da retenção dos alunos que tardam em se diplomar),
sua importância tornou-se mais evidente no Brasil, quando foram consolidados os programas de
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educação a distância nas universidades públicas (Programa Universidade Aberta do Brasil,
2014). Assim é que poucos estudos se detiveram em buscar os aspecto positivos de permanência
dos alunos nos cursos a distância, como o de Silva (2012), e a ênfase sempre é dada para a
evasão, agora sob a forma de abandono dos alunos inscritos nos cursos MOOC (Massive Open
Online Course).
MOOC pode ser explicado pela conhecida infografia every letter is negotiable de Plourde
(2013), que resume o significado e duas possibilidades de tipos de MOOC. Massive é a
quantidade quase ilimitada de alunos situados em qualquer localidades. Open significa a
facilidade de inscrição e o uso de conteúdos gratuitos. Online diz respeito ao acesso aos
ambientes virtuais de aprendizagem situados em plataformas institucionais na Internet. Course,
ressalta as demais características variáveis dos cursos (modularidade, flexibilidade, avaliações,
interações docentes e discentes, créditos, certificados, etc.). Complementa a descrição,
distinguindo dois tipos principais de MOOC: xMOOC (a grande maioria dos cursos, com foco
no conteúdo e na escalabilidade) e cMOOC (a minoria, de base colaborativa e fundamentado no
Conectivismo).
Infografia ou visualização de informação, segundo Cairo (2011, p. 38), “é aquela
tecnologia plural que consiste em transformar dados em informação semântica [...]”. Uma
infografia serviu para despertar o interesse de estudar o tema, descrito no primeiro parágrafo
desta introdução, ajudou a explicar o conceito do que seja um MOOC e vai ilustrar ainda o
sucesso dos alunos nos cursos.
Conectivismo (Connectivism) é uma proposta de teoria de aprendizagem desenvolvida por
Siemens (2005) e Downes (2012). Para Siemens (2005), a principal diferença entre o
Conectivismo e as demais teorias de aprendizagem reside no fato de que o conhecimento
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encontra-se distribuído em redes de conexões e que a aprendizagem consiste em construir e
circular nessas redes. O Conectivismo é de certo modo corroborado por Bloom (1984), quando
este desenvolve a premissa de que na educação, o ensino de um a um é melhor forma de educar.
E também já havia sido vislumbrado por Illich (1985, p. 88), nos idos da década de 1970:
“Alguém que deseja aprender sabe que precisa da informação e da crítica dos outros. A
informação pode ser armazenada nas coisas e nas pessoas”.
Diversos estudos apontam para uma elevada taxa de evasão nos MOOC (Mackness, Mak
& Williams, 2010; Scopeo, 2013; Poy & Gonzales-Aguilar, 2014; Zapata-Ros, 2014), o que
configura um desafio para os gestores acadêmicos. Poy e Gonzales-Aguiar (2014) comentam que
essas taxas alcançam de 75% a 95%.
Embora se perceba que evasão (abandono) e permanência (sucesso) sejam as duas faces
complementares da mesma moeda, neste estudo, sob a ótica da Psicologia Positiva, pretende-se
abordar os aspectos positivos relacionados ao sucesso dos alunos que concluem um curso
MOOC, embora os aspectos negativos do abandono estejam sempre subjacentes.
A Psicologia Positiva nasceu da necessidade dos estudiosos de buscar nos seres humanos
aspectos “virtuosos”, tendo em vista os potenciais, motivações e capacidades humanas de
superação de conflitos frente aos desafios que se apresentavam. O principal pesquisador é Martin
Seligman (2009), quando então presidente da American Psychology Association (APA). Antes da
Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos, a Psicologia tinha três objetivos: tratar os doentes
mentais, trazer satisfação para os indivíduos e identificar e incentivar talentos superiores. No
pós-guerra, em 1946, foi criada a Veterans Administration e, em 1947, foi instalado o National
Institute of Mental Health. Essas duas instituições possibilitaram mudanças na prática da
Psicologia, dado que naquele momento os psicólogos passaram a trabalhar tratando dos doentes
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de guerra e as universidades começam a obter financiamento para estudos na área de saúde
mental. A Psicologia considerava o indivíduo um ser essencialmente passivo, exposto a situações
que lhe geravam sofrimento ou mesmo fruto de uma infância problemática. Seligman (2009), na
contramão dessa perspectiva negativa, observou que a Psicologia não deveria se ocupar apenas
das fraquezas e dos danos impostos, mas também, das virtudes e das potencialidades humanas. A
Psicologia Positiva trouxe um novo desmembramento, que é o da prevenção e da promoção da
saúde mental, quando objetiva ressaltar e estimular qualidades humanas, como o otimismo,
habilidade interpessoal, coragem, ética, esperança, perseverança e honestidade das famílias,
comunidades, escolas e empresas. Essa nova vertente da Psicologia se consolidou e ganhou
destaque na edição especial do American Psychologist de 2001.
Portanto se pode ressaltar que há uma dimensão da evasão associada ao próprio processo
de escolha profissional do aluno e de seu amadurecimento pessoal. Refletindo a esse respeito,
Ristoff (1995) procura diferenciar a evasão, onde haveria o abandono dos estudos, da
mobilidade, que significaria a migração do aluno para outro curso ou interesse:
Parcela significativa do que chamamos de evasão [...] não é exclusão mas
mobilidade, não é fuga, mas busca, não é desperdício mas investimento, não é
fracasso – nem do aluno nem do professor, nem do curso ou da instituição, -
mas tentativa de buscar o sucesso ou a felicidade, aproveitando as revelações
que o processo natural de crescimento dos indivíduos faz sobre suas reais
potencialidades (Ristoff, 1995, p. 56).
Quais os principais fatores responsáveis por este novo contexto de abandono dos alunos
inscritos nos cursos MOOC? Na busca de respostas satisfatórias a esta questão, apresenta-se
inicialmente uma revisão da literatura sobre os MOOC, em seguida o método utilizado para
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tratamento dos dados secundários sobre a taxa de conclusão dos estudantes em dados públicos de
170 MOOC.
O movimento mooc
Os MOOC seriam melhor compreendidos por meio da teoria do Conectivismo, porque de
acordo com a argumentação de Siemens (2005), as principais teorias do aprendizado, que são
fundamentalmente utilizadas na criação de ambientes instrucionais, foram elaboradas em uma
época em que a tecnologia ainda não causava impacto na educação, mas que, ao longo dos
últimos vinte anos, a tecnologia reorganizou a vida social e a dinâmica de aprendizagem das
pessoas.
De acordo com Barnes (2013, p. 163) os MOOC possuem como principais características:
serem entregues totalmente online, disponibilizar participação gratuita, ter requisitos não formais
de admissão, e serem altamente escaláveis, sendo projetados para milhares de usuários.
O movimento MOOC inicia em 2008, decorrente de um processo de inovação no campo
da formação geral e difusão universal do conhecimento universitário aberto, orientado pelos
princípios da difusão massiva e gratuita de conteúdos, e intermediado por modelos de aplicação
online, interativos e colaborativos (Cano, Meneses, Sánchez-Serrano, 2013).
O despertar do problema do abandono por parte dos alunos dos cursos MOOC foi
registrado inicialmente e aconteceu no curso de “Bioelectricity: a quantitative approach”, da
Duke University, ministrado através da plataforma Coursera em setembro de 2012. Segundo
Belenger e Thornton (2013), dos 12.725 alunos inscritos, menos de 8.000 viram algum vídeo,
346 participaram do exame final e somente 261 alunos obtiveram a certificação (2%). Só não se
destaca neste fato é que apesar desse número ser baixo, representa dez vezes a quantidade de
matrícula regular no curso (Clark, 2014).
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Outro exemplo citado por Scopeo (2013, p. 82) é referente ao curso de “Circuits and
electronics”, ministrado pelo Massachusetts Institute of Technology, onde 155.000 alunos de
mais de 160 países, se inscreveram, dos quais 23.000 estudantes fizeram o primeiro módulo,
9.000 conseguiram chegar a metade do curso, 7.157 chegaram até ao final do curso e somente
340 alunos foram aprovados no exame final. Percebe-se então que de alguma forma, da mesma
maneira que nos cursos a distância tradicionais, a taxa de evasão também vai depender de outras
varáveis, como a natureza do curso, duração, tipo de avaliação, etc.
O fato de ser massivo, gratuito e permitir ascender a cursos de afamados professores das
mais prestigiosas universidades, confere aos MOOC uma nova proposta de democratização de
acesso a educação superior e um poder relevante na formação e na difusão do conhecimento.
Entretanto essa facilidade na tomada de decisão para a inscrição, a participação em um ambiente
onde predomina a cultura anglo-saxônica e a não obrigatoriedade de requisitos, formam um
contexto que favorece mais a falta de compromissos e ao abandono (Cano, Meneses & Sánchez-
Serrano, 2013).
Phil Hill (2013) com base em observações dos alunos inscritos em cursos do tipo xMOOC
do Coursera, e apoiado por opiniões dos professores e de discussões nas redes sociais, propõe
uma explicação para este contexto de abandono, pois acredita que os alunos dos cursos MOOC
podem apresentar cinco tipos de comportamentos distintos:
1. Inscritos (no-show): são a maioria dos alunos, que se inscrevem no curso, mas só entram
no curso depois que ele acaba;
2. Observadores: são os alunos que acessam os conteúdos, participam das discussões, mas
não participam da avaliação;
3. Visitantes (drop-ins): estes alunos realizam algumas atividades dos temas que lhes
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interessam, mas não concluem o curso;
4. Participantes passivos: parte dos alunos que apesar de usufruírem dos conteúdos, não
participam das atividades;
5. Participantes ativos: são os alunos que de fato realizam todas as atividades e avaliações
propostas pelo curso.
Estes cinco grupos característicos de alunos são o que compõem a totalidade dos alunos
dos cursos MOOC, muito embora somente o quinto grupo esteja engajado e tenha possibilidade
de conclusão, mas a dificuldade em distingui-los pelos sistemas de gestão acadêmica, faz com
que sejam computados no cálculo das taxas de abandono, o que penaliza e mascara em demasia o
verdadeiro número de abandonos. Por exemplo, Clark (2014) deixa claro que não se deva
confundir o simples visitante (drop-ins), com os que abandonam os cursos de MOOC, e chama
isso de erro de categoria, pois não se pode transpor este conceito da educação regular para
aplicar aos MOOC, o que converge com o pensamento de Ristoff (1995). Para ele a decisão de
concluir ou abandonar os MOOC não é uma decisão de mudança de vida em termos de dinheiro,
tempo ou compromisso. A evasão escolar é um termo pejorativo, oriundo do ensino presencial e
totalmente incompatível com o aprendizado dos MOOC (curso gratuito, não regulado e não
obrigatório).
Cano, Meneses y Sánchez-Serrano (2013) propugnam as seguintes razões para o
abandono dos alunos: não ter tempo, não ter conhecimentos previos, avaliarem os cursos como
demasiado básico, sentir cansaço de ver os vídeos, ter um ambiente de aprendizagem pobre ou
confuso, a ausencia de trabalho colaborativo e participativo, falta de feedback do professor e dos
colegas, existirem custos embutidos inesperados, estar participando de mais de um curso, e os
custos da certificação.
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Zapata-Ros (2013, pp. 109-110), ao analisar o trabalho final de um MOOC sobre
Infografia elaborado pela pesquisadora Katy Jordan, do Institute of Educational Technology da
The Open University, composto por uma infografia interativa cujo gráfico na abicissa está o
número de inscritos e o na ordenada a percentagem dos concluintes, concluiu:
Todos os cursos que estão com taxas de conclusão superior a 10,8% utilizaram somente a
autoavaliação (exceto o curso de Inteligência Artificial da Stanford University);
Os cursos que utilizaram a avaliação por pares não superaram a taxa de conclusão de
3,21%;
Os cursos que utilizaram tanto a autoevaliação quanto a avaliação por pares não
ultrapassam a taxa de conclusão de 10,72%;
O curso de Inteligência Artificial, conforme sua metodologfia, não utilizou somente a
autoavaliação como avaliação;
A nuvem de pontos permite uma correlação dos valores com coeficiente de correlação
proximo de 1, para cursos de até 110.000 alunos.
Nota-se, portanto, que além do mais, o tipo e formato de avaliação influe na taxa de
conclusão dos cursos.
Procedimentos metodológicos
Pela taxonomia proposta por Vergara (2010), quanto aos objetivos, esta é uma pesquisa
descritiva e explicativa. É descritiva porque busca descrever as características de determinado
grupo; e é explicativa porque visa identificar os elementos que contribuem para a ocorrência dos
fenômenos. Com base nos procedimentos esta é uma pesquisa bibliográfica, pois é desenvolvida
a partir de material já elaborado sobre determinado tema por outros autores.
A amostra foi composta por 170 cursos MOOC (incluídos nas mais populares plataformas
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MOOC), configurando uma coleta de dados secundários, relacionados em uma infografia
interativa no site da Dra. Katy Jordan (Jordan, 2014).
Esta infografia foi construída para permitir a visualização de dados (Infografia interativa),
fazendo-se alterações nos parâmetros dos cursos MOOC e atualmente mantem dados de 170
cursos, possibilitando que eles possam ser filtrados por: universidade, plataforma, critério de
conclusão e tipo de avaliação. Além do mais, separa os dados de avaliação em quatro tipos: auto
avaliação e avaliação por pares, auto avaliação, avaliação por pares, e desconhecido. Permite
ainda que possam ser exportado os dados em uma planilha onde constam os dados do: nome do
curso, plataforma, data de início, data de término, número de inscritos, número de diplomados,
percentagem dos concluintes, tipo de avaliação e a fonte dos dados.
A pesquisadora ressalta que a coleta contínua dos dados só foi possível devido a um árduo
trabalho de pesquisa, auxiliada pelas comunidades de redes sociais, que informam os dados
oficiais e extraoficiais de cada curso, pois estes dados, até mesmo pela sua própria natureza,
estão sujeitos a avaliação e críticas, por isso não são facilmente fornecidos nem pelas instituições
e nem pelas plataformas.
Desta forma, e abstraindo-se quanto ao tipo de curso, a universidade, a plataforma, a
época em que os cursos ocorreram, o tipo de avaliação e o número de alunos concluintes,
montou-se uma planilha onde constaram somente os pares de dados compostos pelo número de
alunos inscritos e pelo percentual dos concluintes. Na planilha original de dados exportado, estas
eram as variáveis que mais se adequavam para analise, o que já haviam sido feitas anteriormente
por Zapata-Ros (2013) e pela própria Jordan (2014).
O conjunto de dados foi simulados através da utilização de um aplicativo para desenho de
Infografias online chamado Plot.ly, para o qual se buscou a melhor adequação dos pares de
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dados (número de alunos inscritos x percentagem de alunos concluintes) dos 170 cursos MOOC.
Apresentação e discussão dos resultados
Foram selecionadas duas variáveis da infografia de Jordan: o número de alunos inscritos e
o percentual de alunos concluintes dos cursos MOOC; e para tratamento dos dados utilizou-se
então a página Plot.ly, onde foi feita a análise de correlação entre as variáveis. O resultado
apresenta-se na Figura 1, na forma de um infográfico, com uma curva de regressão exponencial
com R2 = 0,6193 (valor aceitável na estatística) e de uma equação, que mais se aproxima da
totalidade dos dados:
Y = 6,5394 + 20,7933e-0,00008054.X
Fazendo-se uma simulação com os dados fornecidos anteriormente pela revista Galileu,
para um número de inscritos de 15.000 alunos, o percentual previsto pela curva seria de 12,75%,
um valor bem próximo ao percentual de 10% informado, o que corresponderia a um quantitativo
de cerca de 1.912 alunos concluintes, o que não estaria também nada distante da realidade global
dos cursos MOOC, assim como também se apresentaria com um quantitativo em nada reduzido
de alunos, que provavelmente poderiam ter se certificado, caso as regras adotadas não fossem tão
rígidas e tão dispares para um MOOC.
Por fim, depois de fazer-se uma revisão da bibliografia que aborda a evasão e a
permanência dos MOOC (Mackness; Mak; Williams, 2010; Scopeo, 2013; Poy; Gonzales-
Aguilar, 2014; Zapata-Ros, 2014) é possível apontar-se para algumas variáveis, como sendo as
principais motivadoras desse fenômeno. De acordo com essas pesquisas encontram-se destacadas
na figura 2, oito variáveis relacionadas ao estímulo à evasão (abandono) e oito variáveis
relacionadas com a opção de permanência (sucesso) dos alunos nos MOOC.
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Variáveis da Abandono Variáveis de Sucesso Curiosidade Aumento da aprendizagem divergente Interesse em apenas uma parte do curso Benefícios da oferta educativa em si Baixa motivação Automotivação do estudante Despreocupação econômica se não completar o curso
Aquisição e/ou desenvolvimento de competências
Desinteresse pela metodologia e/ou temática
Percepção das oportunidades oferecidas e dos ganhos competitivos
Duração do curso e estimativa de esforço Sentimento do estudante de estar sendo acompanhado
Maior massificação Aprendizagem colaborativa Baixa interatividade discente Alta interação com os colegas
Figura 2. Variáveis explicativas da Evasão ou da Permanência
Fonte: Mackness; Mak; Williams, 2010; Scopeo, 2013; Poy; Gonzales-Aguilar, 2014; Zapata-Ros,
2014
Considerações finais
Um bom sistema educacional deve ter três propósitos: dar a todos que queiram aprender
acesso aos recursos disponíveis, em qualquer época de sua vida; capacitar a todos os que queiram
partilhar o que sabem a encontrar os que queiram aprender algo deles e, finalmente, dar
oportunidade a todos os que queiram tornar público um assunto a que tenham possibilidade de
que seu desafio seja conhecido (Illich, 1985, p. 86).
Os MOOC estão em uma fase inicial e ainda há um longo caminho a percorrer para
consolidar seu modelo educativo e de negócio, mas por acaso não estariam realizando os
propósitos educacionais que Ivan Illich vislumbrou na década de 1970 para uma Sociedade sem
escolas? Pois embora o número de diplomados representem um valor percentual baixo, se
comparado ao número de inscritos nos cursos MOOC, há de se convir que mesmo assim, esse
quantitativo corresponde uma número considerável de alunos, muito maior do que é atendido
regularmente em uma matrícula em qualquer disciplina ministrada de forma presencial (espaço e
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tempo), de qualquer curso, e em qualquer instituição educacional. Além do que, para os demais
alunos participantes, quer por suas próprias razões, estariam também sendo atendidos todos os
benefícios dos preceitos universais da educação continuada ao longo de suas vidas (lifelong
learning).
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