o senhor desembargador silvÂnio barbosa dos santos...

27
Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Gabinete do Desembargador Sérgio Rocha 396695 Orgão : Câmara Criminal Classe : RPP – Representação para Perda de Graduação de Praças Nº. Processo : 2009 00 2 010977-7 Representante : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS Representado : ADIJAINE JOSÉ DE OLIVEIRA Relator Des. : SÉRGIO ROCHA EMENTA ADMINISTRATIVO - REPRESENTAÇÃO PARA PERDA DE GRADUAÇÃO DE PRAÇA - POLICIAL MILITAR - CONDENAÇÃO POR CRIME DE CORRUPÇÃO PASSIVA CIRCUNSTACIADA - TEMPO TRANSCORRIDO - PERSONALIDADE DO MILITAR - FAVORABILIDADE. 1. É conduta ofensiva ao pundonor da classe a dupla prática por Soldado da Polícia Militar do crime de corrupção passiva circunstanciada pela omissão na prática de dever de ofício contra duas vítimas (CPM 308, § 1º c/c 79). 2. Apesar da falha grave que maculou a imagem da Polícia Militar, não se decreta a perda da graduação do Soldado, se, transcorridos mais de 11 anos da conduta delitiva, ele não tornou a transgredir penal ou disciplinarmente, demonstrando realinhamento de sua conduta, não havendo indícios de que tenha personalidade voltada para a prática de crimes. 3. Julgou-se improcedente a Representação ajuizada pelo Ministério Público.

Upload: vunhu

Post on 09-Apr-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

Poder Judiciário da União

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Gabinete do Desembargador Sérgio Rocha

396695Orgão : Câmara CriminalClasse : RPP – Representação para Perda de Graduação de

PraçasNº. Processo : 2009 00 2 010977-7Representante : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E

TERRITÓRIOSRepresentado : ADIJAINE JOSÉ DE OLIVEIRARelator Des. : SÉRGIO ROCHA

EMENTA

ADMINISTRATIVO - REPRESENTAÇÃO PARA PERDA DE GRADUAÇÃO

DE PRAÇA - POLICIAL MILITAR - CONDENAÇÃO POR CRIME DE

CORRUPÇÃO PASSIVA CIRCUNSTACIADA - TEMPO TRANSCORRIDO -

PERSONALIDADE DO MILITAR - FAVORABILIDADE.

1. É conduta ofensiva ao pundonor da classe a dupla prática por

Soldado da Polícia Militar do crime de corrupção passiva

circunstanciada pela omissão na prática de dever de ofício contra

duas vítimas (CPM 308, § 1º c/c 79).

2. Apesar da falha grave que maculou a imagem da Polícia Militar,

não se decreta a perda da graduação do Soldado, se, transcorridos

mais de 11 anos da conduta delitiva, ele não tornou a transgredir

penal ou disciplinarmente, demonstrando realinhamento de sua

conduta, não havendo indícios de que tenha personalidade voltada

para a prática de crimes.

3. Julgou-se improcedente a Representação ajuizada pelo Ministério

Público.

Page 2: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da

CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos

Territórios, SÉRGIO ROCHA - Relator, ARNOLDO CAMANHO,

LUCIANO VASCONCELLOS, GEORGE LOPES LEITE, ROBERVAL

CASEMIRO BELINATI e SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS -

Vogais, sob a Presidência da Senhora Desembargadora SANDRA DE

SANTIS, em JULGAR IMPROCEDENTE. UNÂNIME, de acordo com

a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 09 de novembro de 2009.

SÉRGIO ROCHA

Relator

2

Page 3: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

R E L A T Ó R I O

SUMÁRIO

Crime: art. 308, § 1º (duas vezes) c/c 79 do Código Penal Militar1

(corrupção passiva circunstanciada pela omissão na prática de ato de

ofício).

Pena em abstrato – de 2 (dois) a 8 (oito) anos de reclusão.

Causa de Aumento de pena (§ 1º) – 1/3.

Representado: Soldado Adijaine José de Oliveira, nascido em

16/09/1965 (com 33 anos à época dos fatos). Registro no INI: 1)

art. 147 do CP (ameaça) – inquérito arquivado (fato posterior).

Pena fixada: 5 (cinco) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, em

regime inicial aberto (fls. 262/267 e 312/319 – cópias/apenso).

Trânsito em julgado do acórdão: 02/02/09 (fl. 321, cópia/apenso)

Fatos – 28/02/98 e 20/03/98 (fls. 02/03, cópia/apenso)

DOS FATOS

O Ministério Público do Distrito Federal ofereceu

Representação para Perda de graduação do Soldado ADIJAINE JOSÉ

1 Código Penal Militar (Decreto-lei nº 1.001/69).Corrupção passiva Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da fun-ção, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Aumento de pena § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o agente retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever fun-cional.

3

Page 4: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695DE OLIVEIRA, Matrícula nº 14.249/2, lotado na 14ª CPMInd2, com

base no art. 125, § 4º da CF/883, art. 2º, I, “c” da Lei nº 6.477/774 e

arts. 195/196 do Regimento Interno deste E. TJDFT5.

Narra a representação que:

“(...) I – SÍNTESE DOS FATOS:

2 Companhia de Polícia Militar Independente.3 Constituição Federal/88. Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os prin-cípios estabelecidos nesta Constituição. (...)§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos cri-mes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressal-vada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.4 Dispõe sobre o Conselho de Disciplina na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, e dá outras providências.Art. 2º É submetida a Conselho de Disciplina, ex-officio, a praça referida no artigo 1º, e seu parágrafo único, desta Lei:I - acusada oficialmente ou por qualquer meio lícito de comunicação social de ter: (...)c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor ou o decoro da classe. Art. 1º. O Conselho de Disciplina é destinado a julgar da incapacidade do Aspirante-a-Oficial PM ou BM e das demais praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal com estabilidade assegurada, para permanecerem na ativa, criando-lhes, ao mesmo tempo, condições para se defenderem.Parágrafo único - O Conselho de Disciplina pode, também, ser aplicado ao Aspirante-a-Oficial PM ou BM e às demais praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, da reserva remunerada ou reformados, presumivelmente incapazes de permanecerem na si-tuação de inatividade em que se encontram.5 Atuais arts. 197 e 198/RITJDFT. Art. 197. Os procedimentos oriundos do Conselho de Disciplina, para exame da perda da graduação das praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal ou das praças dessas corporações nos Territórios Federais, serão julgados pela Câmara Cri-minal. Art. 198. Quanto ao procedimento para julgamento da representação de que trata o artigo anterior, serão observadas as disposições dos arts. 195 e 196 deste Regimento. Art. 195. Distribuída a representação, os autos serão conclusos ao relator, que determinará a citação do representado para oferecer alegações em cinco dias. §1º A citação será efetuada na forma estabelecida nos arts. 277 a 293 do Código de Proces-so Penal Militar (Decreto-lei 1.002, de 21 de outubro de 1969). §2º Decorrido o prazo sem manifestação do representado, o relator designar-lhe-á defensor dativo. §3º Oferecidas as alegações de defesa ou expirado o respectivo prazo, os autos serão reme-tidos à Procuradoria-Geral de Justiça para emissão de parecer em cinco dias. §4º Devolvidos, os autos serão conclusos ao relator, que, no prazo de dez dias, pedirá a in-clusão do processo em pauta de julgamento. Art. 196. No julgamento, a sustentação oral, pelo prazo de quinze minutos individuais, será facultada ao advogado do representado e à Procuradoria-Geral de Justiça, e o Conselho deli-berará em sessão, sem a presença do público.

4

Page 5: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695O representado em duas oportunidades

diferentes (28.02.98 e 20.03.98) teria recebido,

em proveito pessoal e em razão da função que

exercia (em barreira policial realizada na BR –

290, próximo à entrada de Santa Maria/DF),

indevida vantagem econômica (de JURANDIR DE

OLIVEIRA SOUZA, cinquenta reais; de CRISTIAN

CORREIRA COELHO, vinte reais). Em razão da

vantagem indevida, teria deixado de praticar ato

de ofício ‘consistente em multar e recolher os

carros ao depósito’.

Em razão de tais fatos, à denúncia serviu

de base o incluso inquérito policial, iniciado por

portaria.

Após o devido processo legal, o

representado foi submetido a julgamento pelo

Conselho de Justiça Militar, sentença às fls.

262/267, restou condenado à pena de 05 (cinco)

anos e 04 (quatro) meses de reclusão, a ser

cumprida em regime inicialmente aberto, por

dupla violação ao art. 308, § 1º do Código Penal

Militar6.

Parágrafo único. Se o Tribunal reconhecer que o representado é indigno para o oficialato, de-cretará a perda do posto e da patente, e a cópia do acórdão será remetida ao Governador do Distrito Federal ou ao Governador do Território Federal. 6 Código Penal Militar (Decreto-lei nº 1.001/69).Corrupção passiva Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da fun-ção, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de dois a oito anos.

5

Page 6: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

Não se conformando com a condenação

retromencionada, o representado interpôs recurso

de apelação à folha 269. (...)

O Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito

Federal e Territórios, por sua 2ª Turma Criminal,

ao julgar o recurso, de relatoria do eminente

Desembargador Romão C. de Oliveira, negou

provimento ao apelo, à unanimidade (fls.

312/318).

Certidão de trânsito em julgado da

sentença à folha 321 (02.02.09), operado o

trânsito em julgado. (...)

III – O CASO CONCRETO

No caso concreto destes autos, verifica-se

que o representado foi condenado a pena de 05

(cinco) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, pela

dupla prática, de ter recebido, em proveito pessoal

e em razão da função que exercia (em barreira

policial), indevida vantagem econômica, de

pessoas comuns, e em razão de tal vantagem

indevida, deixou de praticar ato de ofício,

consistente em multar e recolher os carros ao

depósito do DETRAN; sentença já transitada em

6

Page 7: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695julgado, já expedida Carta de Sentença para

Execução da pena.

Tenho, ainda, que a conduta do

representado mostra-se de extrema gravidade,

feriu de forma profunda a ética, o pundonor e as

regras de conduta impostas aos policiais militares,

atingindo, diretamente a imagem de sua própria

corporação (Polícia Militar), bem como a sociedade

a que o representado jurou defender, a qual não

pode permanecer sob tal ameaça.

As circunstâncias dos fatos, em que policial

militar, homem treinado e preparado para exercer

a defesa de cidadãos na linha de frente do

combate ao crime, desviou-se frontalmente de

todos os princípios para os quais o Estado o

preparou, demonstrou despreparo pessoal para o

exercício do cargo, envolveu-se em crime de

vantagem econômica indevida, para deixar de

praticar ato de ofício, contra dois cidadãos comuns

do povo, em razão de dinheiro.

Com tal conduta, o representado

demonstrou despreparo para a função, desrespeito

a princípios éticos fundamentais, em especial à

sociedade, a que, por dever funcional, cabia-lhe

orientar e proteger e não pô-la a mercê de tal

ameaça. (...)

7

Page 8: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

Circunstância do crime que esta

Procuradoria considera como grave violação do

dever do cargo ocupado pelo representado e de

relevante importância para a avaliação da conduta

do militar sob o ponto de vista da ética, da moral e

dos valores que devem imperar na conduta dos

policiais, reside no fato de o representado colocar

cidadãos comuns do povo, sob ameaças para obter

vantagens econômicas indevidas. E com tal

conduta deixou de praticar o dever de ato de ofício

inerente a sua função de policial militar. Condutas

como estas não podem ser toleradas. Violam a

honra, o pundonor, a ética e a moral de todo o

funcionário público que tem como dever de ofício

proteger e respeitar os cidadãos, e, ainda

desmerece e envergonha a Corporação a que

pertence. (...).” (Representação, fls. 03/10)

O representado, Soldado Adijaine José de Oliveira,

foi citado em 10/09/09 (fl. 30).

DAS ALEGAÇÕES DE DEFESA DO REPRESENTADO – SOLDADO

ADIJAINE JOSÉ DE OLIVEIRA (FLS. 21/23)

Em sua defesa, o representado, Soldado Adijaine

José de Oliveira, pleiteia que lhe seja permitido continuar nas fileiras

da Polícia Militar do Distrito Federal ou, alternativamente, que seja

8

Page 9: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695decretada sua reforma, alegando que: 1) o crime pelo qual foi

condenado, ocorrido há 11 anos, tratou-se de caso isolado em sua

vida profissional e privada; 2) serve à Instituição há 21 anos e nunca

foi punido, apesar de seu envolvimento no crime em epígrafe; 3) no

presente caso, devem ser observados aspectos de oportunidade e

conveniência, tendo em vista que já foi suficientemente punido pela

condenação e pelos dissabores pelos quais passou em sua vida

profissional; 4) atualmente, tem comportamento excepcional e

observa os limites da lei, por não querer, jamais, passar pelo que

passou; 5) requer sejam ouvidas as vítimas e as testemunhas

arroladas na ação penal que resultou em sua condenação.

DO PARECER DA PROCURADORIA DE JUSTIÇA (FLS. 25/26)

O d. Procurador de Justiça, Amarilio Tadeu Freesz

de Almeida, manifestou-se pelo prosseguimento do feito e pelo

indeferimento do pedido de oitiva das testemunhas formulado pelo

representado, Soldado Adijaine, sob o argumento de que: 1) as

testemunhas não foram nominadas pelo representado; 2) os

depoimentos de aludidas testemunhas já foram judicializados nos

autos da ação penal, em anexo; 3) essa Instância apenas julgará se

a conduta do representado violou os deveres militares e afetou a

honra, o pundonor e o decoro exigido aos profissionais da caserna7.

É o relatório.

7 Habitação de soldados, dentro do quartel ou de uma praça fortificada. (Dicionário Aurélio).9

Page 10: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

VOTOS

O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA –

Relator.

PRELIMINAR DE INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE OITIVA DE

TESTEMUNHAS

O representado, Soldado Adijaine José de Oliveira,

em suas alegações, requereu nova oitiva das vítimas e das

testemunhas arroladas na ação penal que resultou em sua

condenação.

Entretanto, a meu sentir, é desnecessária a

providência requerida.

Isso porque, em apenso a esta Representação

estão as cópias do processo originário, do qual constam os

depoimentos extrajudiciais e judiciais das vítimas e das testemunhas

(fls. 230/233 e 242/244, cópias/apenso).

De outro lado, na Representação para perda da

graduação, analisam-se as circunstâncias do evento criminoso e o

comportamento do representado, não mais se discutindo o mérito da

10

Page 11: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695ação penal que resultou em sua condenação, razão pela qual, as

declarações das vítimas e das testemunhas pouco importam no

presente procedimento.

Ademais, os fatos que deram origem à ação penal

contra o representado, Soldado Adijaine, ocorreram há mais de 11

anos, sendo certo que, pelo longo tempo, pouco se lembrariam as

vítimas e as testemunhas acerca do ocorrido.

Assim, indefiro o pedido de nova oitiva das vítimas

e das testemunhas formulado pelo Representado Adijaine José de

Oliveira.

DA MANUTENÇÃO DA GRADUAÇÃO DO REPRESENTADO – SOLDADO

ADIJAINE JOSÉ DE OLIVEIRA

Consoante relatado, o Ministério Público do Distrito

Federal e Territórios, ofereceu Representação para Perda da

Graduação do Soldado Adijaine José de Oliveira, em razão da

condenação deste a 05 anos e 04 meses de reclusão pela dupla

prática do crime de corrupção passiva, circunstanciada pela omissão

na prática de ato de ofício, em concurso material (Código Penal

Militar, art. 308, § 1º (duas vezes) c/c 79) – (fls. 262/267 – cópia da

sentença/apenso).

Aludidos crimes ocorreram em 28/02/1998 contra

Jurandir de Oliveira Souza e, em 20/03/98, contra Cristian Corrêia

Coêlho.

11

Page 12: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

Apesar de, nesta sede, não se rediscutir o mérito

da ação penal, cuja sentença, in casu, já transitou em julgado em

02/02/09, penso ser importante tomar conhecimento dos fatos para

melhor análise da questão, razão pela qual, transcrevo a denúncia

ofertada pelo Ministério Público (fls. 02/03, cópias/apenso):

“(...) No dia 28 de fevereiro de 1998, por volta

das 16:00 hs, em uma barreira policial realizada na BR-

290, próximo à entrada de Santa Maria/DF, o

denunciado abordou o veículo GM/Chevette de cor

branca, conduzido pelo Sr. Jurandir de Oliveira Souza

(qualificado às fls. 19 e 43 ) e, após constatar que o

motorista estava com a habilitação vencida, além de

outras irregularidades, informou ao motorista que o

veículo seria notificado e recolhido ao depósito do

DETRAN. Em seguida, o denunciado passou a insinuar

que liberaria o carro, dizendo que sábado era dia da

cervejinha e que estava terminando o serviço. Face a

estas insinuações o Sr. Jurandir pediu ao denunciado

que lhe ‘quebrasse o galho e passasse depois em sua

oficina, pois não dispunha de dinheiro naquele

momento, sendo-lhe respondido que sem dinheiro não

havia como liberar. Jurandir ofereceu R$ 10,00, mas o

denunciado disse que a quantia era pouca, mas por R$

50,00 seria possível liberar o veículo e a multa, mas

que deveria andar rápido pois um Tenente estava para

chegar. Assim, o Sr. Jurandir resolveu pagar a quantia

pedida, sendo que o denunciado pediu que Jurandir

entrasse dentro do carro e colocasse o valor solicitado

12

Page 13: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695dentro do talão de multa. Em seguida o denunciado

devolveu os documentos a Jurandir e liberou o veículo.

No dia 20 de março de 1998, por volta das

18:00 hs, em uma barreira policial localizada na

entrada de Santa Maria/DF, na Av. dos Alagados, o

denunciado abordou o veículo VW/Sedan, placa JKQ

3683-DF, conduzido pelo Sr. Cristian Corrêia Coêlho

(qualificado às fls. 47), tendo como passageiro o Sr.

Afonso Joaquim de Morais (qualificado às fls. 51),

proprietário do veículo, e verificou que o IPVA

encontrava-se atrasado. Diante disto, o denunciado

informou que o carro seria apreendido e passou a

perguntar o que poderia fazer, dizendo, também, que

era 6ª-feira e que o motorista poderia dar-lhe uma

cervejinha, uns R$ 50,00 ou R$ 20,00. O denunciado

entregou ao Sr. Afonso um papel, e este foi até o carro,

pegou R$ 20,00, embrulhou no papel que havia

recebido e devolveu o dinheiro ao denunciado, que em

seguida liberou o veículo.

Assim agindo, o denunciado, recebeu, para si,

diretamente, indevida vantagem econômica em razão

da função que exercia e, em consequência, deixou de

praticar atos de ofício consistente em multar e recolher

os carros ao depósito. (...).” (Denúncia, fls. 02/03,

cópia/apenso)

Esses os fatos pelos quais foi condenado.

13

Page 14: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695Na análise desta Representação, compete a esta

Egrégia Corte verificar se o representado, Soldado Adijaine José de

Oliveira, deve ou não permanecer nas fileiras da Polícia Militar.

Para tanto, a meu ver, deve-se levar em

consideração não apenas sua condenação e o quantum da pena

imposta8, mas também, sua vida funcional, seu comportamento

anterior e posterior à prática dos delitos e o reflexo de sua conduta

junto à sociedade e à Instituição a que serve (Polícia Militar).

Nesse sentido, peço vênia para transcrever excerto

da sentença proferida pelo d. Juiz, Paulo Prazak, do Tribunal de

Justiça Militar de São Paulo, citado pelo E. Des. Silvânio Barbosa dos

Santos, em precedente deste E. Tribunal de Justiça (acórdão nº

351040):

“(...) No presente processo, remanesce a

exame a análise de ordem ético-disciplinar, apurando-

se a responsabilidade administrativa do representado.

Ressalta-se que a responsabilidade

administrativa é independente da penal. A condenação

8 Código Penal Militar.Exclusão das forças armadas Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por tempo superior a dois anos, importa sua exclusão das forças armadas. Constituição Federal/88. Art. 125. (...). § 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais con-tra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, ca-bendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Grifei)STJ. “(...) 4. Esta Corte já firmou compreensão de que o art. 102 do Código Penal Militar foi derrogado pela parte final do art. 125, § 4º, da Constituição Federal. Exige-se, desde então, para a decretação da perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças, procedimento específico perante o Tribunal competente. (...).” (STJ, HC 37.260/MS, Rel. Mi-nistro Paulo Gallotti, 6ª Turma, julgado em 06/11/08, DJe de 24/11/08)

14

Page 15: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695penal, por si só não pode fundamentar a decretação da

perda da graduação ou vincular a decisão do juiz.

Há que se aferir a natureza dos fatos cometidos

pelo representado, ou seja, se moralmente

reprováveis, afetando a ética, o pundonor militar e o

decoro da classe, tornando-o indigno ou, ainda, se tais

atos demonstraram a incompatibilidade para o

exercício da função policial militar.

Tal interpretação advém da própria legislação

pátria. A submissão da matéria ao crivo da Justiça

Militar denota a vontade do legislador constitucional em

garantir a apreciação dos fatos sob a ótica

administrativa, firmando o juízo de mérito quanto à

conveniência ou não da presença do militar na

Corporação.” (Perda de Graduação de Praça n. 719/04,

Processo n. 44.944/91, 4ª Auditoria) – (Grifei)

Nessa linha de raciocínio, o recente julgado do

Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais:

“Prevalece, nesta Corte Castrense, o

entendimento de que a presente representação possui

como finalidade a avaliação se o militar possui

condições ou não de continuar integrando as fileiras da

Corporação. Para tanto, além da gravidade do delito,

deverão ser considerados seu histórico funcional, o

comportamento antes e após a conduta delituosa e a

repercussão do crime perante a tropa e a sociedade.

(...).” (TJMMG, Processo de Perda da Graduação Nº

15

Page 16: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695166, Rel. Juiz Cel PM Sócrates Edgard dos Anjos,

julgado em 19/08/09, publicado em 11/09/08)

No caso em tela, é indiscutível que a conduta do

representado, Adijaine José de Oliveira, foi gravíssima e maculou a

imagem da Corporação à qual pertence (Polícia Militar).

Além disso, é incontestável que a prática de delitos

por policiais militares repercutem negativamente no seio da

sociedade, já que se espera deles que promovam a segurança dos

cidadãos e não que adentrem à marginalidade.

No entanto, neste caso em específico, verifica-se

pela ficha funcional do representado, Adijaine José de Oliveira (fl. 88,

cópia/autos em anexo), que antes dos delitos em epígrafe, ocorridos

em 1998, ele não sofreu qualquer tipo de punição e não há notícia

nos autos de que, após tais ilícitos, tenha sofrido alguma punição

penal ou disciplinar.

Em consulta ao Instituto Nacional de Identificação,

encontrei 01 registro contra o representado, referindo-se à

instauração de 01 inquérito, no ano de 2000, para apuração da

suposta prática, por ele, do crime de ameaça (CP 147), mas, aludido

inquérito foi arquivado.

Também realizei consulta ao site deste E. TJDFT

não encontrando registros de inquéritos ou ações penais em

andamento contra o Soldado Adijaine, nem antes e nem após os fatos

em comento.16

Page 17: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

Noutro giro, de acordo com a dosimetria da pena,

nada se verificou que desabone a personalidade do representado,

sendo que a pena-base foi fixada no mínimo legal (fl. 266,

cópia/apenso).

Ainda, a meu ver, deve ser considerado o fato de

que o representado já serve à Polícia Militar do Distrito Federal há 21

anos (fl. 88, cópia/apenso); de que já se passaram mais de 11 anos

da prática dos ilícitos (28/02/98 e 20/03/98 - fls. 02/03 –

cópias/apenso) e de que, nesse período, não há notícia de novas

transgressões penais ou disciplinares pelo mesmo, tudo indicando

que a conduta que o levou à condenação, foi um caso isolado em sua

vida.

Desse modo, tenho que a pena aplicada na r.

sentença já é suficiente para puni-lo.

Nesse sentido, confira-se a ementa do seguinte

julgado desta E. Corte de Justiça:

“(...) 1. Malgrado tenha o militar falhado em

sua conduta, não é pessoa de má índole, tanto que a

pena foi fixada no mínimo legal, e, além do mais, os

juízes militares não vislumbraram agressão ao

pundonor militar.

2. Se após doze anos do evento delituoso, o

militar não cometeu nenhum outro ilícito penal ou

17

Page 18: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695transgressão funcional, torna-se excessivamente

severa a perda da graduação.

3. Portanto, ao se analisar os fatos, o tempo

decorrido e a sua personalidade, torna-se o

representado digno de permanecer na Organização

Militar.

4. Representação improcedente. (TJDFT, RPP nº

2008.00.2.015098-5, Rel. Des. Silvânio Barbosa dos

Santos, Câmara Criminal, acórdão nº 351040, julgado

em 09/03/09, DJ de 16/04/09, p. 56)

Assim, não se afigurando o representado, Soldado

Adijaine José de Oliveira, pessoa de má índole, tendo ele

demonstrado realinhamento de sua conduta, considero exacerbada a

perda do cargo.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo improcedente a presente

Representação apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal

e Territórios.

É como voto.

O Senhor Desembargador ARNOLDO

CAMANHO – Vogal.

Peço vista.

18

Page 19: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

O Senhor Desembargador LUCIANO

VASCONCELLOS – Vogal.

Aguardo.

O Senhor Desembargador GEORGE LOPES

LEITE – Vogal.

Aguardo.

O Senhor Desembargador ROBERVAL

CASEMIRO BELINATI – Vogal.

Aguardo.

O Senhor Desembargador SILVÂNIO

BARBOSA DOS SANTOS – Vogal.

Aguardo.

D E C I S Ã O

Após o voto do Relator, pediu vista o

Desembargador Arnoldo Camanho.

O Senhor Desembargador ARNOLDO

CAMANHO – Vogal.

19

Page 20: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695Cuida-se de representação formulada pelo

Ministério Público do Distrito Federal e Territórios para que o soldado

Adijaine José de Oliveira perca a sua graduação. Segundo a

representação, o representado, em duas oportunidades (28.02.98 e

20.03.98) teria recebido indevida vantagem econômica, na medida

em que, atuando em barreira policial próxima à entrada de Santa

Maria, recebera setenta reais (cinquenta de Jurandir de Oliveira

Souza; vinte de Cristian Correia Coelho) para, em razão disso, deixar

de praticar ato de ofício (aplicação de multa e recolhimento dos

veículos ao depósito).

À conta de tais fatos, foi processado e punido

criminalmente, nas penas do art. 308, § 1º, do Código Penal Militar

(por duas vezes). A sentença restou confirmada, à unanimidade, por

este egrégio Tribunal de Justiça, em acórdão que transitou em

julgado.

Por meio da presente representação, o

Ministério Público pede a perda da graduação do praça.

Na sessão passada, o eminente Relator, Des.

Sérgio Rocha, indeferiu, em preliminar, pedido formulado pelo

representado, no sentido de serem ouvidas testemunhas, e, no

mérito, julgou improcedente a representação.

Pedi vista, então, para melhor analisar os

fatos.

20

Page 21: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695

Ao exame dos autos, tenho que procedeu com

inexcedível acerto, o eminente Relator.

No que se refere ao pedido de oitiva de

testemunhas, destaque-se que, em apenso aos autos da presente

representação, estão as cópias do processo originário, do qual

constam os depoimentos extrajudiciais e judiciais das vítimas e das

testemunhas (fls. 230/233 e 242/244 ― cópias nos autos em

apenso), sendo certo, ademais, que, na representação para a perda

da graduação, cabe analisar apenas o comportamento do

representado e as circunstâncias do evento criminoso, daí porque

seriam de pouca valia os depoimentos pretendidos.

Assim, indefiro o pedido de nova oitiva de

vítimas e testemunhas.

Quanto ao mérito da representação em si,

note-se que o só fato de o militar ter sido punido criminalmente, por

decisão transitada em julgado, não é suficiente para impor-lhe a

perda da graduação. Isso porque a perda do cargo, após a

Constituição de 88, deixou de constituir-se em pena acessória da

condenação criminal. Esta egrégia Câmara Criminal já se debruçou

sobre o tema, em hipótese em que se prestigiou voto do digno Des.

Silvanio Barbosa dos Santos, litteris:

21

Page 22: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695“De fato, esta orientação apontada

por tão eminente magistrado encontra apoio no

magistério jurisprudencial do excelso SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL no sentido de que, no

pertinente aos POLICIAIS MILITARES ESTADUAIS,

com o advento da Constituição Federal de 1988

(art. 125, §4º), não mais subsiste a pena

acessória da condenação criminal de perda do

posto ou da graduação, nos termos do art. 102,

do Código Penal, devendo tal exclusão ser

procedida mediante procedimento adequado

perante o segundo grau (v.g., RE N. 121.533 MG,

relator Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE – RTJ

133/1342).

E este ‘procedimento’ se caracteriza

como sendo de natureza administrativa. Confira-

se precedente do excelso STF:

‘Natureza administrativa

do procedimento de perda do posto e

da patente, em virtude de

indignidade ou incompatibilidade

com o oficialato: STF – ‘Policial

Militar: - Praça. Perda da Graduação.

Exclusão da Polícia Militar.

Procedimento de caráter

administrativo. Instaurado perante o

Tribunal de Justiça local (CF, art.

125, §4º). Não-configuração de

causa, para fins de recurso

extraordinário. Descabimento do

apelo extremo. Agravo improvido. 22

Page 23: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695Por não se achar configurada a

existência de ‘causa’, revela-se

incabível a interposição de recurso

extraordinário contra decisão, que,

embora emanada de Tribunal

judiciário, foi proferida e,

procedimento de caráter

materialmente administrativo,

instaurado com o objetivo de

viabilizar a decretação da perda da

graduação de praça por razão de

incompatibilidade de seu

comportamento com o exercício da

função policial militar. Precedentes’

(SRT – Pleno – Ag. Instr nº 252.391-

3/AC – Rel. Min. Celso de Mello,

Diário da Justiça, Seção 1, 7 jun.

2000, p. 08). Como destacou o

Ministro-Relator Celso de Mello:

‘Sendo assim, ainda que judiciária a

autoridade de que emanou o

pronunciamento impugnado, não

terá pertinência o recurso

extraordinário, se a decisão houver

sido proferida em sede estritamente

administrativa, como ocorre, por

exemplo, com os atos judiciais

praticados em procedimento

destinado a viabilizar a decretação

da perda do posto e da patente dos

oficiais e da graduação das praças,

23

Page 24: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695por razão de indignidade ou de

incompatibilidade de seu

comportamento com o exercício da

função militar ou com o desempenho

de atividade policial-militar’ (RTJ

94/1188 – RTJ 102/440 – RTJ

127/669).’ (‘CONSTITUIÇÃO DO

BRASIL INTERPRETADA E

LEGISLAÇÃO CONSTITUCIONAL’,

Alexandre de Morais, Editora Atlas,

2007, pág. 1796)” (TJDFT, Câmara

Criminal, RPP nº 2008.00.2.015098-

5, Relator designado SILVANIO

BARBOSA DOS SANTOS, julgado em

09/03/2009, DJ 16/04/2009 p. 56).

No caso ora em exame, e sem desconsiderar a

gravidade do delito praticado, bem como a mácula que tal conduta

trouxe ao seio da corporação, há de se ponderar, como bem fez o

eminente Relator, Des. Sérgio Rocha, que, do exame da ficha

funcional do representado, não consta qualquer ato desabonador que

tenha sido praticado antes ou depois de tais condutas. Mesmo por

ocasião do exame de sua personalidade, ao ensejo da análise das

circunstâncias judiciais para efeito de aplicação da sanção penal, à

época dos fatos, a personalidade do representado foi valorada

positivamente (fls. 266).

Assim, é correta a conclusão a que chegou o

eminente Relator, no sentido de que “deve ser considerado o fato de

que o representado já serve à Polícia Militar do Distrito Federal há 21

24

Page 25: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695anos (fl. 8, cópia/apenso); de que já se passaram mais de 11 anos

da prática dos ilícitos (28/02/09 e 20/03/98 – fls. 02/03 –

cópias/apenso) e de que, nesse período, não há notícia de novas

transgressões penais e disciplinares pelo mesmo, tudo indicando que

a conduta que o levou à condenação foi um caso isolado em sua

vida”.

Não se pode concluir, pois, e após analisar os

fatos, o tempo decorrido e a personalidade do representado, que este

seja indigno de permanecer nas fileiras da Polícia Militar. A pena

aplicada no processo penal, por si, já terá sido suficiente para puni-

lo.

Dessa forma, peço venia para subscrever as

considerações e conclusões do douto voto do eminente Relator, para

indeferir o pedido de oitiva de testemunhas e, no mérito, julgar

improcedente a representação.

É como voto.

O Senhor Desembargador LUCIANO

VASCONCELLOS – Vogal.

Com o Relator.

25

Page 26: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695O Senhor Desembargador MARIO MACHADO –

Vogal.

Senhora Presidente, considero que a natureza do

ilícito cometido, no caso, justifica a perda do cargo por si só. Ocorre

que há um fato importante, que é o decurso do prazo de onze anos

desde que praticada a falta, e, como explicitado, de lá até hoje não

se registra qualquer outra falta cometida. Então, o requisito da

atualidade não está presente para que se acolha o pedido.

Acompanho o eminente Relator, por esses

fundamentos.

O Senhor Desembargador GEORGE LOPES

LEITE – Vogal.

Com o Relator.

O Senhor Desembargador ROBERVAL

CASEMIRO BELINATI – Vogal.

Com o Relator.

O Senhor Desembargador SILVÂNIO

BARBOSA DOS SANTOS – Vogal.

Com o Relator.

26

Page 27: O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS …portal.pm.df.gov.br/site/atjgcg/Acord/396695.pdfRPP 2009.00.2.010977-7 396695 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores

____________________________________________________________________ RPP 2009.00.2.010977-7

396695D E C I S Ã O

Improcedente. Unânime.

27