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18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia O SATÉLITE VIROU PINCEL – O GPS DRAWING COMO MAIS UMA FERRAMENTA DO FAZER ARTÍSTICO Marilei Fiorelli Professora da FIB, Centro Universitário da Bahia e IBES – Instituto Baiano de Ensino Superior Resumo: De ferramenta militar, o GPS - Sistema de Posicionamento Global, assim como outros aparatos tecnológicos, passa a ser utilizado pela comunidade artística como mais uma possibilidade do criar. Desenhos criados no espaço físico, com sua utilização através dos percursos percorridos, podem ser visualizados no próprio aparelho ou na rede Internet, através de mapas interativos. Este artigo propõe fazer um estudo de algumas práticas de intervenções artísticas no espaço urbano que se utilizam das mídias locativas, apresentando alguns exemplos de GPS drawings, e construindo reflexões sobre esta pratica da experiência de percepção das obras. Palavras-chave: arte, tecnologia, internet, GPS drawing Abstract: From military tool, the GPS - Global Positioning System, like other technological devices, can be used by the artistic community as another means of artistic creation. Drawings created with its use can be viewed on the Internet, through interactive maps. This article aims to show some examples and build on ideas of art with such this locative media art. Key words: art, technology, internet, GPS drawing Introdução Arte e tecnologia tem andado juntas desde a própria história do homem. O fazer artístico se utiliza destas tecnologias para novas formas do criar. Os computadores e aparatos eletrônicos hoje são mais do que ferramentas, são uma espécie de “atelier” móvel de criação. Dentro desse contexto, a arte eletrônica cria mais uma vertente, com o uso, além do universo digital, das mídias locativas. “Arte com mídias locativas (locative media art) pode ser definida como processos artísticos que usam tecnologias e serviços baseados em localização. (LEMOS). Assim, a localização no espaço físico, passa a fazer parte do processo. O principal dispositivo de localização utilizado hoje é o GPS. 998

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18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia

O SATÉLITE VIROU PINCEL – O GPS DRAWING COMO MAIS UMA FERRAMENTA DO FAZER ARTÍSTICO

Marilei Fiorelli

Professora da FIB, Centro Universitário da Bahia e IBES – Instituto Baiano de Ensino Superior

Resumo: De ferramenta militar, o GPS - Sistema de Posicionamento Global, assim como outros aparatos tecnológicos, passa a ser utilizado pela comunidade artística como mais uma possibilidade do criar. Desenhos criados no espaço físico, com sua utilização através dos percursos percorridos, podem ser visualizados no próprio aparelho ou na rede Internet, através de mapas interativos. Este artigo propõe fazer um estudo de algumas práticas de intervenções artísticas no espaço urbano que se utilizam das mídias locativas, apresentando alguns exemplos de GPS drawings, e construindo reflexões sobre esta pratica da experiência de percepção das obras. Palavras-chave: arte, tecnologia, internet, GPS drawing Abstract: From military tool, the GPS - Global Positioning System, like other technological devices, can be used by the artistic community as another means of artistic creation. Drawings created with its use can be viewed on the Internet, through interactive maps. This article aims to show some examples and build on ideas of art with such this locative media art. Key words: art, technology, internet, GPS drawing Introdução Arte e tecnologia tem andado juntas desde a própria história do homem. O fazer

artístico se utiliza destas tecnologias para novas formas do criar. Os computadores

e aparatos eletrônicos hoje são mais do que ferramentas, são uma espécie de

“atelier” móvel de criação. Dentro desse contexto, a arte eletrônica cria mais uma

vertente, com o uso, além do universo digital, das mídias locativas.

“Arte com mídias locativas (locative media art) pode ser definida como processos

artísticos que usam tecnologias e serviços baseados em localização. (LEMOS).

Assim, a localização no espaço físico, passa a fazer parte do processo. O principal

dispositivo de localização utilizado hoje é o GPS.

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O Sistema de Posicionamento Global - GPS - teve sua origem em um programa

militar americano. É um sistema constituído por uma rede de satélites, colocados

em órbita ao redor da Terra em posições estratégicas e por receptores no solo

(aparelhos que recebem o sinal e calculam a distância entre o receptor e o

satélite). Através desse cálculo, é possível determinar uma posição no globo

terrestre (latitude/longitude). Estes dados são captados a todo o instante e

analisados pelo aparelho receptor, que através de uma relação de tempo-distância-

deslocamento, devolve informações como coordenadas, velocidade e altitude. É

comum vermos sua utilização como ferramenta de localização, acopladas a carros,

para guiar e traçar os caminhos para se chegar a determinado local. Através de

satélites, as informações das ruas e locais chegam ao aparelho que fornece a

direção e melhor maneira de percorrer a distância, desde o ponto de partida ao de

chegada. Alguns modelos de aparelhos celulares mais modernos já vêm com essa

ferramenta acoplada, o que tem popularizado seu uso. Essas direções são

mostradas na interface do dispositivo como desenhos de linhas e pontos. E estas

marcas gráficas inspiram artistas a as utilizarem como ferramentas artísticas.

Elizabeth Coulter-Smith e Graham Coulter-Smith no artigo chamado “Mapping the

Frame: Locative Media and Interactive Art Environments” fazem uma análise de

trabalhos interativos que utilizam o GPS e outras mídias digitais como ferramenta

artística, e citam diversos trabalhos artísticos que o utilizam, principalmente

esculturas GPS (GPS sculptures) e os chamados desenhos GPS (GPS drawings).

GPS drawings são desenhos virtuais criados a partir dos traçados/rastros gravados

através de GPS. A partir dos pontos definidos pela coordenadas latitude/longitude

alinha-se um desenho, ponto a ponto, de grandes dimensões. Como uma grande

tela de bordado, os pontos são percorridos, criando formas. Porém, ao invés de

tela, temos a paisagem como suporte. A visualização do desenho é feita graças

aos satélites de telecomunicação e a dispositivos de leitura digitais ou o meio web.

Este tipo de criação acontece desde o começo dos anos 2000, quando os artistas

ingleses Jeremy Wood e Hugh Pryor cunharam o termo de “GPS drawing” para

designar estas linhas “gravadas” como traços digitais a partir dos satélites de

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comunicação, que podem ser visualizadas em mapas (como o Google maps, por

exemplo) na rede internet. No site dos artistas há vários exemplos desses projetos.

http://www.gpsdrawing.com/

Imagem 1 - obra “Mowing the Lawn” – 2005

http://www.gpsdrawing.com/gallery/experiments/lawn/lawn05.htm

Com a popularização dos aparelhos GPS (sobretudo em celulares que já possuem

este dispositivo) esta prática artística vem acontecendo com mais freqüência. Em

várias cidades do mundo este tipo de intervenção começa a acontecer, resultando

em percepções diferentes - flanar em uma cidade pós-moderna ainda pode resultar

em percepções artísticas absolutamente novas, gerando novas formas de

pensarmos as relações das paisagens urbanas/espaços com os meios digitais.

O uso do GPS drawing

Podemos relacionar a prática do GPS drawing com os movimentos dos

situacionistas, que buscavam e propunham o andar como forma de arte, para uma

diferente apreensão e percepção dos espaços. Ao traçar o percurso, pode-se

adicionar informações “sensíveis”, mapear os momentos do processo do traçado

do desenho no mapa virtual, que ficará disponível na Internet.

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Outra relação pode ser traçada com a Land arte, onde as obras de grandes

dimensões só podem ser observadas, visualizadas como um todo a partir de uma

grande distancia ou por meio de fotografias e filmes. Há a possibilidade de

“experimentá-las”, para isso é preciso que nos coloquemos dentro delas,

percorrendo seus caminhos passagens e paisagens. Na Land arte as obras

acompanham os passos e o olhar do sujeito apreciador da obra, assim, através da

experimentação, interagindo com a obra. Da mesma forma, o GPS drawing, só

pode ser visualizado como um todo (seu traçado) a partir de um ponto de vista que

perpassa as interfaces gráficas – a visualização dos dados via um mapa na rede

internet (e não no local físico onde ocorre). No espaço físico, como na Land arte, o

apreciador pode percorrer e experimentar parte da obra.

Mas é dentro das chamadas Arte com mídias locativas (locative media art) que o

GPS drawing melhor se enquadra. Para Lemos, o objetivo da arte com mídias

locativas é “criar autoria no espaço público questionando e tensionando questões

como mobilidade, lugar, espaço, público, vigilância, controle e

monitoramento”(LEMOS, 2009). Pode-se assim questionar o uso dos espaços

públicos, dos espaços privados e relaciona-los com o ciberespaço, na rede

Internet.

Ainda segundo Lemos, as mídias locativas “indicam uma nova relação entre mídia,

espaço urbano e ciberespaço”. Este tipo de arte não acontece só no espaço, e

nem só no ciberespaço. As propostas de artes com mídias locativas englobam

ambos. Os projetos de GPS Drawing normalmente se utilizam da internet,

especialmente da web, para divulgar, desenvolver, documentar e visualizar as

ações.

A criação dos gps drawings

O traçado do GPS pode ser visualizado em mapas na rede internet. Esses

traçados podem formar desenhos, palavras ou formas abstratas. Tudo vai

depender da proposta artística desenvolvida. Há dois caminhos para um projeto de

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GPS drawing: pode desenhar, primeiro, a forma (figura, desenho, letras) em um

mapa (virtual ou analógico). Nesse caso o desenho precisa respeitar os limites de

ruas, avenidas acessos do espaço urbano, caso contrário, percorrer este percurso

físico se tornaria inviável. No caso de ações em espaços menores, como um

parque ou outra área com menor número de obstáculos que impossibilitem o livre

deslocamento, a liberdade de criação do desenho/forma é mais ampla já que as

restrições de acesso do espaço são bem menores.

Essa forma/desenho é parte fundamental do conceito e da poética proposta para a

obra. A partir dessa definição diferentes propostas podem ser elaboradas: 1.letras

formando palavras que funcionem como uma mensagem a ser dita; 2.desenhos

identificados através da visualização desses mapas através da percepção do

artista (formados pelas próprias linhas urbanas de avenidas, ruas e relevo das

cidades); 3. desenhos e conceito criados anteriormente, e partir destes, procurar

através dos mapas das cidades, locais onde possa ser executado.

Os percursos para esse traçado podem ser feitos a pé, como a caminhada

situacionista, ou via algum meio de transporte – carro, trem, ônibus, bicicleta etc., a

depender da dimensão e escala que se deseja criar o projeto. Pode se usar um

espaço de uma quadra, de várias quadras, um bairro, de uma cidade inteira ou até

em escalas maiores (via continentes, de avião ou navio). Nestas escalas grandes,

há a necessidade de um planejamento mais detalhado e minucioso – o grau de

complexidade para a execução da obra requer uma logística maior.

A partir da etapa das definições da obra, inicia-se a gravação dos dados do

percurso. Percorre-se o caminho pré-definido, com um aparelho GPS ligado e

conectado aos satélites (é possível ocorrer pontos com perda desse sinal, o que

causa uma falha no traçado).

Apos finalizado o caminho, estes dados gravados em um arquivo no dispositivo são

baixados e visualizados no computador em um mapa digital, como o Google maps

e outros. Uma vez disponibilizados na rede, esses mapas desenhados podem ser

acessíveis a todos os usuários da rede. O artista também pode optar por criar

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apenas uma imagem desse desenho criado e finalizar a obra com este conteúdo

visual – o desenho traçado finalizado.

Alem dessa possibilidade, pode-se criar também outro tipo de conteúdo visual. Há

projetos onde o artista gera, além do traçado, uma documentação visual do

percurso – gravação de vídeos da paisagem urbana, com detalhes do espaço –

arquitetura, ambiente, clima, vegetação, pessoas; dos sons, provenientes de cada

local ou gerados pelo artista para a composição da obra ou de fotografias.

Nesse caso, o acesso via internet ao mapa trás toda essa experiência sensorial do

artista ao fruidor, já que esse material todo pode continuar sendo acessado.

Normalmente, a partir do traçado são criados pontos visuais que linkam à estes

materiais (abrindo novas janelas, como pop-ups) ou direcionando para links de

sites que hospedam essas fotos e vídeos.

A visualização desses dados captados pelo GPS, são divididos, então, em dois

tipos de conteúdo visual. Segundo BRUNET, no artigo Mídia locativa, práticas

artísticas de intervenção urbana e colaboração, “Bowman (2008) divide a

visualização de dados de localização em dois tipos de conteúdo visual: primeiramente, os dados do GPS e segundo, dados contextuais coletados pelo caminho (fotos, anotações pessoais, sons, etc.). O primeiro é uma transcrição literal – uma representação estática, unidimensional renderizada em um formato gráfico simples como coordenadas XY e Z e/ou um mapeamento ponto-a-ponto que rastreia a jornada. O último, sendo conteúdo interpretativo, é representativo do local e do viajante, e por extensão, dos aspectos socioculturais da comunidade ou ambiente’. (BOWMAN, 2008, p. 70)”.

Alguns projetos artísticos com GPS Drawing São vários os projetos de desenhos criados com o GPS. Não cabe aqui fazer um

apanhado abrangente ou uma classificação apurada dos mesmos. Apenas citarei

como recorte alguns exemplos.

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Alguns projetos sem caráter artístico, de cunho publicitário ou promocional foram

criados. Aqui no Brasil, por exemplo, em 2008, uma agência criou uma ação

publicitária que viralizou na internet com o uso dos desenhos em GPS.

Contrataram duas patinadoras, amarraram uma espécie de alegoria em formato de

caneta, e as muniram com celulares com GPS. Escreveram, na cidade de Porto

Alegre, a palavra “inércia”, que era o titulo da campanha. Os percursos dos

caminhos foram registrados em um blog, com fotos, vídeos e relatos.

Outro exemplo, a empresa Nokia criou o http://www.theworldismycanvas.com/ - o

mundo é minha tela. Criaram uma personagem que seria o artista criando a “maior

obra de arte do mundo de todos os tempos”. Em um site há dezenas de GPS

drawings atribuídos a este artista, assim como entrevistas com o mesmo. Mas é

apenas uma ação promocional bem humorada. Os desenhos não foram sequer

executados. Só servem para divulgar o produto, no caso, o aparelho celular munido

com GPS.

Já no campo artístico, também em 2008, o designer sueco Erik Nordenankar

divulgou na internet seu auto-retrato como o maior desenho do mundo,

supostamente feito com o GPS. O aparelho teria viajado dentro de uma mala

passando por 62 países em seis continentes e os registros gravados por ele

formariam o desenho gigante. A repercussão foi tanta, que o artista resolveu

admitir que era apenas um projeto fictício feito para seu projeto final de graduação

e publicou em seu site um esclarecimento sobre o assunto.

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Imagem 2 - Auto-retrato em GPS - projeto fictício - Erik Nordenankar

Outro projeto, este sim artístico, Kandinsky by perdizes (http://marcusbastos.net/lat-23/) foi criado em 2008.

O trabalho 4nós4 de Marcus Bastus e Nacho Durán pinta um quadro de Kandinsky

nas ruas do bairro de Perdizes, na cidade de São Paulo, com o GPS.

"um quadro de kandinsky, dois gps, dois tracksticks, câmeras e celulares.

ao contrário da maioria dos trabalhos em que textos ou desenhos são

construídos a partir de percursos pela cidade, em kandinsky by perdizes, o

quadro abstrato serve como ponto-de-partida para o percurso.” (memorial

da obra).

O projeto se apropriou do desenho do quadro de Kandisky, e o recriou/redesenhou

pelas ruas para gerar então, uma nova imagem, a partir do traçado gerado pelo

GPS.

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Imagem 3 – Perdizes by Kandisky

Survivall http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/survivall/

Projeto que escreveu com GPS sobre a cidade de Edmonton, no Canadá, a

palavra “Survivall”. Participi deste projeto como autora, juntamente com André

Lemos e Rob Shields.

No percurso dos caminhos para a escrita de Survivall foram gravados vídeos, e

capturadas fotos. Realizado em pleno inverno canadense, as paisagens captadas

são cobertas de neve, e são imagens representativas da cidade.

A área percorrida foi de aproximadamente 45 km, e a primeira letra, o “S” foi

desenhado a partir das curvas do rio que corta a cidade. Depois desta letra,

escolheu-se a direção de maneira a complementar a palavra. Todas as etapas da

realização foram documentadas no site do projeto. Survivall, o titulo do projeto,

vêm de um livro da literatura canadense que descreve seu povo, a luta pela

sobrevivência, em um clima inóspito por conta do frio rigoroso.

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Em diversos pontos das letras, há imagens e vídeos tentando mostrar a

“sobrevivência”, a ocupação dos espaços urbanos seja pelos habitantes, ou pela

vegetação resistente. Partimos do desenho prévio da palavra em um mapa

analógico. Depois, fizemos uma simulação digital para então partir à campo para

sua execução.

A obra foi desenhada com o GPS em uma manhã de tempestade de neve, o que

tornou o percurso de carro difícil, e resultou em poucas pessoas circulando pelos

pontos. Foi uma forma de apropriação/conhecimento e imersão pela cidade, até

então desconhecida. O espaço urbano foi assim, percebido e registrado na rede

internet, como uma memória.

Imagem 4 - Sur-viv-all - 2008

Considerações finais Interessa à comunidade artística todas os tipos de experimentações que podem se

traduzir em arte. Exemplo de arte com mídias locativas, como os GPS drawings

nos trazem uma nova percepção das paisagens urbanas, além da introdução de

mais um aparato tecnológico, desenvolvido para outros fins, como ferramenta

artística. Da mesma forma que a Land arte, o planeta e suas paisagens são

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tratados como grandes telas de desenho. E mesclam mais uma vez o espaço e o

ciberespaço, já que o desenho em si só pode ser visualizado via rede internet. E é

na internet também que são visualizados os vídeos, fotos e outras percepções que

os criadores colheram no processo sensível, enquanto percorreram os caminhos,

passo a passo, ponto a ponto.

Assim, que tipo de arte é o GPS drawing? É intervenção urbana, web arte, land

arte? Ou a hibridização desses processos todos? Não cabe e não há necessidade

de fazermos essa classificação. O interessante, para nós, artistas, é mais uma

potencial possibilidade - utilizar os satélites como pincel (mesmo que com uma

“tinta invisível”) para a criação.

1- O GPS teve sua origem num programa militar americano. É um Sistema constituído por uma rede de satélites, colocados em órbita ao redor da Terra em posições estratégicas e por Receptores no solo (aparelhos que recebem o sinal e calculam a distância entre o receptor e o satélite). Através desse cálculo de triangulação de distâncias entre vários satélites e o receptor, é possível determinar uma posição no globo terrestre (Latitude e Longitude). Estes dados são captados a todo o instante e posteriormente são analisados pelo processador do receptor, que através de uma relação de tempo-distância-deslocamento, poderá devolver muitas informações tais como: velocidade, altitude, etc. Referências: COULTER-SMITH, E. e COULTER-SMITH, G. Mapping the Frame: Locative Media and Interactive Art Environments. iDMAa. Acessado 2008. Disponível em www.units.muohio.edu/codeconference/papers/papers/Locative5a.pdf 2006. BRUNET, K. FIORELLI, M. Mídia locativa e narrativa audioviusual - Um estudo de caso do filme GPS “Nine Lives”. Trabalho apresentado no Simpósio ABCiber, 2008. BRUNET, K. Mídia locativa, práticas artísticas de intervenção urbana e colaboração. Disponível em: arte.unb.br/7art/textos/karlabrunet.pdf Enciclopédia de Artes Visuais Itaú Cultural NUNES, Helio. Tecnologia e paisagem distante. Disponível em: http://www.dedalu.art.br/artigos/200503.php LEMOS, A., FIORELLI. M., SHIELDS, R. Survivall Locative Art. Disponível em: http://wi.hexagram.ca/?p=47

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LEMOS, A. Arte Com Mídias Locativas (Locative Media Art). Enciclopédia Itaú Cultural Arte e Tecnologia. Disponível em: http://www.cibercultura.org.br/ tikiwiki/tiki-index.php? page=locative+media+art&highlight=andre%20lemos FIORELLI, M. Espaço (ciber) espaço: novas tecnologias de comunicação colando arte nos espaços urbanos. In: Revistas Artes Visuais UFPB. SANTAELLA. L. A estética política das mídias locativas. In: Revista Nómadas. Disponível em: www.ucentral.edu.co/NOMADAS/nunme-ante/26-30/28/12-A%20ESTETICA%20LUCIA.pdf

Marilei Fiorelli

Mestre em Artes Visuais (UFBA), Especialista (UNEB) e graduada (UFSM) em

Design. Professora da FIB, Centro Universitário da Bahia e da IBES – Instituto

Baiano de Ensino Superior. E-mail: [email protected]