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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO RELATÓRIO TÉCNICO O Saneamento Básico da Área de Planejamento 4 (A.P.4): um estudo sobre a precariedade do serviço de coleta e tratamento de esgoto Evaldo Fialho de Lima Junior [email protected] UFF/ICHS Resumo O saneamento básico é indispensável para a saúde humana e pode ser compreendido como o controle e a manutenção de todos os meios físicos do homem que possam afetar prejudicialmente a sua saúde. O presente trabalho tem como objetivo expor a precariedade da coleta e tratamento de esgoto da A.P.4, que abrange a área da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá, e propor soluções que possam servir para a resolução do problema. Utilizaremos como principais referências a teoria de que a relação entre os usuários dos serviços de saneamento e o poder público deveria ser regida pelo Código de Defesa do Consumidor (C.D.C.) e, também, que a participação do cidadão é fundamental na formulação e no controle das políticas públicas. Como procedimento metodológico foram adotadas entrevistas de campo com moradores da região, onde foi possível notar a insatisfação com o serviço prestado, além disso realizamos pesquisas em profundidade em ambiente virtual e análise documental. Exibiremos dados do Censo, da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (CEDAE) e da Prefeitura do Rio de Janeiro e, por fim, respaldada em um embasamento teórico, será apresentada uma conclusão. Palavras-chave: Saneamento básico; Tratamento de esgoto; Jacarepaguá. 1 Introdução Com o objetivo de criar um elo de ligação entre o antigo centro histórico da cidade do Rio de Janeiro e o futuro centro que seria construído em Santa Cruz, foi elaborado pelo arquiteto Lúcio Costa, em 1969, o Plano Piloto para a urbanização e zoneamento da Baixada de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, uma das poucas áreas na cidade do Rio de Janeiro a sofrer um processo de planejamento e ocupação. Segundo Fernandes (2016), em seu artigo “Baixada de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Plano Piloto: O Projeto Lúcio Costa e suas alterações urbanísticas ao longo quase 45 anos”, logo nos primeiros anos, a urbanização já dava indícios de descumprimento às diretrizes traçadas por Costa, tendo em vista que o Centro do Rio e as Regiões Norte e Sul já estavam urbanizadas e empreendedores e imobiliárias viram na localidade uma grande possibilidade de lucro através da construção civil. Com a construção de shoppings, hipermercados e condomínios residenciais, o processo era focado na classe média e alta se consolidando como espaço elitizado, enquanto a população de baixa renda era deixada à margem, aglutinando-se nas mediações de córregos e

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

O Saneamento Básico da Área de Planejamento 4 (A.P.4): um estudo sobre

a precariedade do serviço de coleta e tratamento de esgoto

Evaldo Fialho de Lima Junior – [email protected] – UFF/ICHS

Resumo

O saneamento básico é indispensável para a saúde humana e pode ser compreendido como o

controle e a manutenção de todos os meios físicos do homem que possam afetar

prejudicialmente a sua saúde. O presente trabalho tem como objetivo expor a precariedade da

coleta e tratamento de esgoto da A.P.4, que abrange a área da Barra da Tijuca, Recreio dos

Bandeirantes e Jacarepaguá, e propor soluções que possam servir para a resolução do problema.

Utilizaremos como principais referências a teoria de que a relação entre os usuários dos serviços

de saneamento e o poder público deveria ser regida pelo Código de Defesa do Consumidor

(C.D.C.) e, também, que a participação do cidadão é fundamental na formulação e no controle

das políticas públicas. Como procedimento metodológico foram adotadas entrevistas de campo

com moradores da região, onde foi possível notar a insatisfação com o serviço prestado, além

disso realizamos pesquisas em profundidade em ambiente virtual e análise documental.

Exibiremos dados do Censo, da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (CEDAE) e da

Prefeitura do Rio de Janeiro e, por fim, respaldada em um embasamento teórico, será

apresentada uma conclusão.

Palavras-chave: Saneamento básico; Tratamento de esgoto; Jacarepaguá.

1 – Introdução

Com o objetivo de criar um elo de ligação entre o antigo centro histórico da cidade do

Rio de Janeiro e o futuro centro que seria construído em Santa Cruz, foi elaborado pelo arquiteto

Lúcio Costa, em 1969, o Plano Piloto para a urbanização e zoneamento da Baixada de

Jacarepaguá e Barra da Tijuca, uma das poucas áreas na cidade do Rio de Janeiro a sofrer um

processo de planejamento e ocupação.

Segundo Fernandes (2016), em seu artigo “Baixada de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e

Plano Piloto: O Projeto Lúcio Costa e suas alterações urbanísticas ao longo quase 45 anos”,

logo nos primeiros anos, a urbanização já dava indícios de descumprimento às diretrizes

traçadas por Costa, tendo em vista que o Centro do Rio e as Regiões Norte e Sul já estavam

urbanizadas e empreendedores e imobiliárias viram na localidade uma grande possibilidade de

lucro através da construção civil.

Com a construção de shoppings, hipermercados e condomínios residenciais, o

processo era focado na classe média e alta se consolidando como espaço elitizado, enquanto a

população de baixa renda era deixada à margem, aglutinando-se nas mediações de córregos e

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lagoas, iniciando-se o processo de favelização. A área sofreu um processo de densidade

populacional sem a devida infraestrutura que comprometeu o meio ambiente, gerou problemas

de assoreamento, destruição da vegetação e desmatamento. Diante do exposto, o problema de

pesquisa é: Quais as soluções para a questão da precariedade do saneamento básico de

Jacarepaguá?

Sendo assim, este relatório tem por objetivo, evidenciar a fragilidade do serviço de

esgotamento sanitário da região e indicar alternativas que possam contribuir para melhorar a

qualidade de vida dos moradores.

Para tanto, tem-se por objetivos específicos, conscientizar a população da importância

de sua participação nas decisões e no controle das políticas públicas, propor que o usuário do

serviço de saneamento deva ser tratado como cliente, levantar a questão da concessão como

uma alternativa para o atual modelo, coletar dados sobre a atual situação da área e traçar uma

projeção para o futuro.

2 – Apresentação do Caso

A CEDAE, constituída em 1º de agosto de 1975, é a responsável por operar e manter

a captação, tratamento, adução, distribuição das redes de águas, além de coletar, transportar,

tratar e promover o destino final dos esgotos gerados dos municípios conveniados do Estado do

Rio de Janeiro.

De acordo com a companhia, a Estação da Barra de Tijuca trata 1,4 mil litros de

esgotos por segundo, isso significa que atualmente, aproximadamente, 40% das residências da

A.P.4 não são atendidas por rede formal de esgoto. O crescimento imobiliário do bairro,

impulsionado desde 2006, sem a infraestrutura necessária, é a principal causa do problema. A

população da Freguesia (bairro de Jacarepaguá) obteve um crescimento de 30% entre 2000 e

2010, cujos números são embasados pelo Censo (IBGE 2010). O auge foi entre 2011 e 2012,

quando a Freguesia produzia mais unidades habitacionais que a Barra da Tijuca inteira, a

ocupação foi desordenada e existe muita ligação clandestina, o que agrava o problema.

Com a intenção de reverter o quadro, em julho de 2015 a Prefeitura do Rio iniciou o

processo de concessão do esgoto de Jacarepaguá. Foi publicado no Diário Oficial, autorização

para que as empresas Águas do Brasil e AEGEA desenvolvessem estudos de estruturação do

serviço de esgotamento sanitário na Área de planejamento 4, que compreende os bairros da

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Barra de Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Vargem Grande e Pequena, Anil, Cidade de Deus,

Curicica, Freguesia, Gardênia Azul, Jacarepaguá, Pechincha, Praça Seca, Tanque, Taquara e

Vila Valqueire.

O objetivo é reproduzir o modelo de concessão do serviço já aplicado na A.P.5, porém

este modelo se difere das demais Parcerias Público Privadas (PPPs) e concessões existentes.

Nele, o serviço é oferecido em parceria e se restringe à coleta e tratamento do esgoto. A CEDAE

permaneceria responsável pelo abastecimento de água.

A prefeitura alega que, a concessão do serviço se justificaria pela falta de capacidade

da CEDAE de investimentos deste porte e ainda por depender de linhas de crédito do Governo

Federal. Porém, o que se pretende provar neste trabalho é que os problemas de saneamento

básico da A.P.4 não serão resolvidos apenas com a adoção da concessão, para tal será necessário

considerar a relação consumerista entre os usuários dos serviços de saneamento e o poder

público, além de um maior envolvimento da sociedade nas causas coletivas.

Em sociedades predominantemente urbanas, as atividades de saneamento básico têm

evidente conteúdo econômico, de fato, se não fosse uma atividade atribuída ao poder público

certamente haveriam empresas com interesse em realizar essas atividades para aqueles que se

dispusessem a pagar. Outro fato é que não se discute que os serviços de saneamento são serviços

públicos, garantidos pela Constituição. Do ponto de vista social, no ambiente urbano, torna-se

imprescindível para a saúde pública, para a dignidade humana, para o meio ambiente e para a

ordenação urbanística que se assegure permanentemente a adequada prestação desses serviços.

É muito importante destacar que, ao contrário do que acontece com outros serviços

públicos como telefonia, energia elétrica, distribuição de gás e transporte coletivo em que o

usuário pode abrir mão do seu direito de utilizá-los, no caso do saneamento, a opção de não se

utilizar o serviço em um ambiente urbano pode trazer consequências graves para toda a

coletividade. O que faz o saneamento ser ao mesmo tempo uma atividade econômica organizada

como serviço público e uma política pública de adesão obrigatória para os indivíduos.

Considerando a relação entre os usuários do serviço de saneamento e o poder público,

o professor Azevedo (2009) expõe o seguinte:

Como consumidor, o usuário dos serviços possui todos os direitos assegurados pelo

Código de Defesa do Consumidor, apenas condicionados às peculiaridades de um

serviço público. Essa é a exata prescrição do artigo 22 do CDC, que obriga ao Poder

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Público e a seus delegatários fornecer aos cidadãos, em geral, serviços adequados,

eficientes, seguros e contínuos. (AZEVEDO, 2009)

Logo, o usuário do serviço público de saneamento, como consumidor que paga a taxa

de esgoto mensal, deve ter assegurado o direito a um serviço de qualidade.

3 – Referencial Teórico

3.1 – A participação do usuário na gestão dos recursos hídricos

Como consequência do fenômeno de explosão urbana, a qualidade das fontes

disponíveis de água vem se tornando cada vez mais comprometida ou correndo risco de

deterioração como resultado da concentração demográfica junto a rios, córregos, lagos e lagoas

que são usados para a diluição do esgoto doméstico e de efluentes industriais. O que agrava este

fato é a ausência do poder público no exercício de fiscalização e controle dos usos desses

recursos. Nesse contexto de degradação socioambiental, é digno de nota que, no Estado do Rio

de Janeiro, a bacia hidrográfica do rio Guandu (uma bacia de transposição das águas do rio

Paraíba do Sul), responsável pelo abastecimento de 8,5 milhões de pessoas da região

metropolitana do Rio de Janeiro, vem correndo o risco de atingir um nível tão alto de poluição

que sua água não possa ser mais economicamente tratada para torná-la potável nos próximos

anos (SALDANHA, 2006).

À medida que aumentam os efeitos da degradação ambiental sobre a disponibilidade

de recursos hídricos, a gestão de bacias hidrográficas assume crescente importância no Brasil.

Ocorreram importantes avanços no setor de recursos hídricos ao longo dos últimos anos, sendo

que o mais significativo é a mudança de uma gestão institucionalmente fragmentada para uma

legislação integrada e descentralizada, principalmente com a edição da Lei Federal n. 9.433,

em 8 de janeiro de 1997 (BRASIL, 2007), e a criação da Agência Nacional de Águas (ANA),

em 2000. Esta reorganização do sistema substitui práticas profundamente arraigadas de

planejamento tecnocrático e autoritário. Devolve-se o poder para as instituições

descentralizadas de bacia, e isto implica em promover processos de negociação entre os

diversos agentes públicos, usuários e sociedade civil organizada (JACOBI e BARBI, 2007).

A legislação de recursos hídricos reserva à sociedade civil uma responsabilidade

central na condução da política e da gestão desses recursos. Cabe aos usuários da água

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organizarem-se e participarem ativamente dos comitês, defenderem seus interesses quanto aos

preços a serem cobrados pelo uso, assim como sobre a aplicação dos recursos arrecadados e

sobre a concessão justa das outorgas dos direitos de uso. Convém observar que isto implica em

complexos processos de negociações e resolução de conflitos diversos (JACOBI, 2004, p. 272).

É digno de nota que, os Conselhos Municipais são espaços públicos que permitem a

interação entre a sociedade civil e o Estado, proporcionando uma maior proximidade entre os

cidadãos e seus gestores locais. Com o processo de democratização trazido pela promulgação

da Constituição Federal em 1988, ganha destaque o princípio da participação popular na gestão

pública, o qual afirma que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes

eleitos, ou diretamente. Logo, a participação é uma forma de se governar de modo interativo,

equilibrando forças e interesses, e de se promover a democratização (BRASIL, 1988).

3.2 - O cidadão enquanto consumidor

As disposições trazidas pelo Código de Defesa do Consumidor deixam claro que tanto

as concessionárias de serviço público devem ser consideradas como fornecedores, quanto os

usuários devem ser considerados consumidores, de modo que a relação estabelecida entre eles

deva ser regida pelas normas protetivas consumeristas. O CDC (lei Federal de nº 8.078/1990)

foi elaborado partindo do princípio de que o consumidor é a parte mais fraca da relação de

consumo, sendo interpretado de modo a garantir o equilíbrio nas relações consumidores e

fornecedores (BRASIL, 1990).

Conforme previsão do art. 22, o serviço público essencial está à disposição do

consumidor, porque somente quando este comparece na condição de consumidor, de um lado,

do outro surge o prestador do serviço público, consolidando-se a relação jurídica de consumo,

protegida pela Lei n. 8.078/90.

Logo, não há alternativa: se, na relação jurídica estabelecida, de um lado estiver o

consumidor, que recebe um serviço (público ou privado), e de outro o fornecedor do serviço,

que o presta, a relação é típica de consumo e está protegida pelas regras do CDC.

De acordo com o autor Denari (2010, p.601) o art. 22 do CDC não se aplica apenas às

empresas concessionárias de serviços públicos, mas também às sociedades de economia mista,

fundações e autarquias, sempre que estas prestarem serviços públicos.

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Sobre a relação entre os serviços públicos e a legislação consumerista, Benjamin

(2011) advoga que a igualdade entre a administração pública e a iniciativa privada é total, de

modo que esta também deve responder pelos vícios do serviço de acordo com as normas do

CDC, tendo ela delegado a sua prestação ou não.

Apesar do que foi exposto, não podemos afirmar que somente com a promulgação do

Código de Defesa do Consumidor os abusos cometidos pela iniciativa privada ou pelos agentes

públicos poderá ser combatido, porém, essa interpretação legal traz uma nova visão sobre o

problema, maior notoriedade e, principalmente, equipa os cidadãos com meios jurídicos mais

eficazes, já que reconhece a hipossuficiência e vulnerabilidade dos cidadãos enquanto

consumidores, além de ampliar a responsabilidade civil do Estado trazida pela constituição.

4 – Diagnóstico

4.1 – A Cidade do Rio de Janeiro

De acordo com o Instituto Pereira Passos (IPP), a expectativa do crescimento

populacional da cidade do Rio de Janeiro, até 2016 seria de 3,73%, enquanto que na Barra seria

de 21,4% e em Jacarepaguá de 9,15%. A população da Região Administrativa (RA) da Barra,

passaria de 300.823 para 365.241 em 2016. Na RA de Jacarepaguá o número de habitantes

pularia de 572.617 para 625.047. Dados extraídos do CENSO 2010. Outra informação

importante, fornecida pela Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário

(ADEMI, 2012), nos mostra que 68,5% do total de unidades habitacionais lançadas no

município, entre 2005 e 2010, estavam concentradas na A.P.4.

Não bastasse o crescimento natural, impulsionados pelas obras de infraestrutura de

transportes e de instalações esportivas para a Olimpíada de 2016, na última década os bairros

da zona oeste cresceram até 150%, concentrando os nove bairros com maior crescimento

absoluto de 2000 a 2010, totalizando 278.000 moradores, (CENSO, 2010).

Conforme Cavalcante (2011), professor da Universidade Federal Fluminense (UFF),

em entrevista ao site “g1.globo.com”, o crescimento em direção à Zona Oeste era previsível

pela oferta de espaços vazios, o que alavancou o mercado imobiliário. Ainda segundo o

professor, a falta de planejamento trouxe um crescimento desordenado, provocando a carência

de um transporte público eficiente e problemas graves de saneamento.

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Em março de 2016, a ONG Trata Brasil, divulgou o ranking onde avalia a qualidade

dos serviços de saneamento nas cem cidades mais populosas do país, e o Rio de Janeiro ocupou

a 50ª posição, ficando em último entre as capitais do Sudeste.

Besserman (2016) aponta a fragilidade do modelo atual de gestão do saneamento

básico no município:

A maior tragédia social do Brasil é o saneamento básico. São muitos problemas. O

desafio é gigante. A CEDAE não tem, nem terá capacidade de investimento para fazer

frente a esse desafio. O único caminho possível é o das parcerias público-privadas,

atraindo investimentos do setor privado, oferecendo a necessária segurança jurídica,

criando modelos de governança diferentes dos atuais. A CEDAE deve abandonar a

pretensão de ser a única ou a maior gestora dos serviços e inverter esse quadro, se

preparando para ser a nossa agência reguladora. Quanto mais regulador e menos

operador, mais forte ficará a CEDAE. (BESSERMAN, 2016)

A Prefeitura do Rio vem trabalhando para pressionar o governo do estado e acelerar a

universalização dos serviços de saneamento básico na cidade. Em 2015, deu início a um

processo para conceder o sistema de coleta e tratamento de esgoto da A.P.4 à iniciativa privada,

atualmente a cargo da CEDAE. E ainda promoveu edital para realização de estudos de

viabilidade técnica e econômica do projeto, feitos por duas grandes do setor no país: AEGEA

e Água do Brasil.

Por outro lado, segundo a CEDAE, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, com

recursos orçamentários do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento

Urbano (FECAM), e tendo como executora a CEDAE, está implantando o Programa de

Saneamento da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá (PSBJ). Ainda de

acordo com a mesma, o Programa visa implantar sistemas completos de esgotamento sanitário.

O PSBJ está projetado para o horizonte de 30 anos no que tange a macro situação de coleta,

tratamento e destinação final de 5,3 mil litros por segundo de esgoto, o que representaria uma

capacidade instalada para atender o desenvolvimento urbano da região pelos próximos

decênios. As obras tiveram início em 10 de abril de 2001 e, desde 2007, a cobertura em esgoto

nessa área teria subido de zero para 90% na Barra, 70% no Recreio e 60% em Jacarepaguá.

Porém, em um seminário sobre sustentabilidade promovido no Rio de Janeiro pela

Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2013, o argumento principal dos empresários

era que sem a participação do setor privado não se atingiria a meta do Plano Nacional de

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Saneamento Básico de levar água e esgoto para todos os brasileiros até 2030 apenas com

recursos públicos.

Arraes (2016), à frente da Secretaria de Concessões e Parcerias Público-privadas do

Rio (Secpar), acredita que a concessão da A.P.4 é viável técnica e economicamente, e continua

afirmando que os estudos comprovaram que o nível de investimento na região, diante do

potencial verificado, poderia ser maior para alcançar a universalização. O plano seria reproduzir

na A.P.4 o modelo de concessão da A.P.5, que reúne 21 bairros da Zona Oeste do Rio, como

Bangu, Campo Grande e Deodoro. Desde 2012, os serviços de coleta e tratamento de esgoto

estão a cargo da Foz Águas 5, enquanto a distribuição de água continua sendo feita pela

CEDAE. De lá para cá, a cobertura em esgoto saiu de 5% para uma estimativa de 55% no fim

de 2016.

A grande verdade é que Barra, Recreio e Jacarepaguá têm enorme relevância

econômica e são parte fundamental da arrecadação da CEDAE, o que dificulta o negócio,

mesmo com os estudos de viabilidade apontando para a concessão como o melhor caminho a

ser seguido. Conforme aponta a Secpar, que com a concessão, a cobertura avançaria de 61%

em 2015 para até 98% em 2030.

4.2 – Metodologia da Pesquisa de Campo

Com o objetivo de melhor explicar a questão levantada neste trabalho, foi realizada

uma entrevista com moradores da região, coletando informações a respeito das impressões dos

usuários do serviço de Saneamento Básico, com foco na coleta e tratamento de esgoto, da Área

de Planejamento 4.

Tal pesquisa foi desenvolvida com uma abordagem quantitativa, ficou disponível no

Sítio Eletrônico “onlinepesquisa.com” no período de junho a agosto de 2017 e contou com 78

participantes representantes de todos os bairros da A.P.4. Optamos pelo questionário online

pois consegue-se cobrir uma área maior, em menos tempo e contar com a participação de mais

pessoas, diferente das pesquisas tradicionais porta a porta, além da facilidade da divulgação

através das redes sociais.

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4.3 – Resultados e Análise de Dados

Na sequência, encontram-se relacionadas todas as questões da entrevista de campo,

seus resultados e uma apreciação dos dados constantes nos gráficos e tabelas.

Gráfico 1 – Em qual bairro fica sua residência?

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Neste primeiro gráfico podemos perceber a distribuição geográfica dos participantes

do questionário. Apesar de a região conter 15 bairros, 50% das pessoas que se dispuseram a

responder a pesquisa se encontram em apenas dois deles, que são a Freguesia e o Anil. De certa

forma, este detalhe pode influenciar nos resultados da pesquisa, já que bairros mais carentes

como a Gardênia Azul e a Cidade de Deus tiveram menos representantes e apresentam mais

problemas de Saneamento Básico.

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Gráfico 2 – Há quanto tempo é morador da região?

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Dos respondentes, observa-se que 42,67% vivem na localidade há mais de 20 anos, o

que dá credibilidade a nossa pesquisa, pois estes moradores presenciaram as mudanças

ocorridas em seus bairros e puderam perceber o crescimento desgovernado e sem planejamento

da região nas últimas décadas, como também a degradação do meio ambiente.

Tabela 1 - Sua casa é atendida por rede formal de esgoto? Respostas

Sim 78,67%

Não 13,33%

Não tenho certeza 8,00%

Fonte: Elaborada pelo autor (2017).

Analisando a Tabela 1, fica claro que a maioria dos entrevistados acredita possuir rede

formal de esgoto, porém conforme dados extraídos da própria CEDAE, 40% dos resíduos das

residências da A.P.4 não recebem o destino correto e tão pouco são tratados, vindo a poluir rios

e lagos e prejudicando a saúde e a qualidade de vida da população.

Tabela 2 - Você notou a degradação do meio ambiente no seu bairro, como a destruição da

vegetação e a poluição de rios? Respostas

Sim 89,04%

Não 10,96%

Fonte: Elaborada pelo autor (2017).

Percebe-se a partir das informações da Tabela 2, que quase 90% dos moradores

notaram a degradação da vegetação ou a poluição dos rios da região, o que demonstra a urgência

em reverter esse quadro. As famílias de baixa renda que se acumulam nas margens de córregos

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

e lagoas, seriam as principais prejudicadas, já que a água é o principal agente de doenças

infectocontagiosas.

Gráfico 3 – Em relação ao planejamento e à infraestrutura, como você avalia o crescimento

imobiliário e populacional da região?

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

O Gráfico 3 aponta que 63,51% dos entrevistados não veem com bons olhos o

crescimento imobiliário e populacional da área, apesar de trazer o desenvolvimento da região e

a valorização dos imóveis. Este fato confirma as informações já apresentadas neste trabalho, no

que diz respeito ao abandono do projeto apresentado por Lúcio Costa, que ocasionou diversos

problemas de falta de planejamento como, por exemplo, o trânsito caótico, a ocupação de áreas

irregulares por famílias pobres e, é claro, a deficiência no serviço de Saneamento Básico.

Tabela 3 - Você é a favor da intenção da prefeitura em conceder o serviço, de coleta e

tratamento de esgoto, à iniciativa privada? Respostas

Sim 51,36%

Não 33,78%

Não sei opinar 14,86%

Fonte: Elaborada pelo autor (2017).

51,35% dos respondentes se declararam a favor da concessão do serviço,

demonstrando o alinhamento da vontade do povo com a intenção da prefeitura, dando

legitimidade ao ato. Porém, quase 15% dos entrevistados não souberam opinar, o que demonstra

a falta de informação e esclarecimento da sociedade sobre o fato, provando a importância de

mais estudos como esse.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

Tabela 4 - Você considera que, como usuário do serviço de Saneamento Básico, está tendo

seus direitos assegurados, como prevê o Código de Defesa do Consumidor? Respostas

Sim 25,68%

Não 60,81%

Não sei opinar 13,51%

Fonte: Elaborada pelo autor (2017).

De acordo com a Tabela 4, mais de 60% do público-alvo entende que seus direitos,

garantidos pelo CDC, não estão sendo preservados. Como já foi mencionado neste trabalho,

existe relação jurídica entre o usuário e prestadora CEDAE, porém, apesar de pagar pelo

serviço, muitas vezes o cidadão não obtém o retorno esperado. Acredita-se que a concessão do

serviço à iniciativa privada e a transformação da CEDAE em uma espécie de Agência

Reguladora, poderia representar uma alternativa a esse modelo e trazer resultados satisfatórios.

Gráfico 4 – Você participa ou já participou do conselho municipal ou de algum comitê, para

defender seus interesses como cidadão?

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Sendo responsabilidade da sociedade civil a participação na condução da política e da

gestão dos recursos hídricos, o gráfico acima expõe um dado preocupante. Apenas 5,56% dos

entrevistados exercem seus deveres, como cidadãos, de participar ativamente das decisões do

governo, ou de fiscalizar os atos dos gestores públicos. Outra informação importante é que

23,62% dos moradores desconhecem ou não sabiam que poderiam participar das políticas

públicas, o que mais uma vez demonstra a ignorância da população quanto aos seus direitos e

deveres como cidadão.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

Os dois últimos resultados revelaram a massa de pessoas que desconhecem sobre

assuntos tão pertinentes à vida em coletividade. O que ratifica a relevância desta obra e, por

outro lado, indica a necessidade de mais produções sobre essas temáticas.

Gráfico 5 - Avalie o serviço de coleta e tratamento de esgoto, fornecido pela CEDAE:

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

De acordo com os dados extraídos no Gráfico 5, menos de 20% dos participantes

considera o serviço prestado pela CEDAE bom ou ótimo. Fato que demonstra a insatisfação do

cliente, o que pode servir de embasamento para a prefeitura em uma possível concessão do

serviço. Por outro lado, cerca de 45% dos moradores considera o serviço regular, o que pode

indicar uma indiferença, ou um conformismo, da população quanto à situação, não desejando

mudanças.

Tabela 5 - Você acredita que a prefeitura tem dado a devida importância à questão do

Saneamento Básico da sua região? Respostas

Sim 8,45%

Não 81,69%

Não sei opinar 9,86%

Fonte: Elaborada pelo autor (2017).

Por fim, verificou-se que 81,69% dos entrevistados acreditam que a prefeitura não tem

dado a devida importância à questão do Saneamento Básico da região, logo é dever do cidadão

cobrar do prefeito uma solução e acompanhar as decisões políticas para saber se alguma atitude

está sendo tomada.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

5 – Ações e Intervenções

Com o objetivo de facilitar a compreensão e promover a análise do cenário interno e

externo da CEDAE em sua atuação na A.P.4, utilizou-se a ferramenta SWOT, de forma a

conduzir o leitor a uma visão estratégica da situação:

Tabela 6 - Análise SWOT da CEDAE em sua atuação na A.P.4

SWOT Positivos Negativos

Inte

rno

s

Pontos Fortes Pontos Fracos

- Em relação à arrecadação, a A.P.4, tem grande

relevância econômica;

- O governo do estado, com recursos do FECAM,

tendo como executora a CEDAE, está

implantando o PSBJ, que em um horizonte de 30

anos, visa implantar sistemas completos de

esgotamento sanitário;

- A concessão seria apenas para a coleta e

tratamento do esgoto, enquanto que o

fornecimento de água continuaria a cargo da

CEDAE.

- Falta de capacidade de investimento de tamanha

grandeza;

- Dependência de linhas de crédito do governo;

- Sem a participação do setor privado, a CEDAE

não atingirá a meta do Plano Nacional de

Saneamento Básico, que é de levar água e esgoto

a todos os brasileiros até 2030.

Ex

tern

os

Oportunidades Ameaças

- Os serviços de saneamento básico são

garantidos pela Constituição Federal;

- A relação estabelecida entre as concessionárias

e os consumidores, deve ser regida pelas normas

do CDC, e neste caso o consumidor seria a parte

mais fraca da relação de consumo;

- A lei federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 e

a criação da ANA, em 2000, transformaram uma

gestão institucionalmente fragmentada em uma

legislação integrada e descentralizada;

- Uma participação ativa dos usuários para

defenderem seus interesses, desde o preço

cobrado pelas concessionárias, até a aplicação

desses recursos;

- A aplicação do CDC não seria apenas às

concessionárias, mas sim a todos os órgãos que

prestassem serviços públicos;

- A Secpar acredita que a concessão é viável

técnica e economicamente, e que o nível de

investimento na região, diante do potencial

verificado, é suficiente para alcançar a

universalização da coleta e do tratamento de

esgoto.

- O Crescimento sem planejamento e

desgovernado da A.P.4;

- É a área com maior crescimento absoluto do Rio

de Janeiro;

- O saneamento básico é uma política pública de

adesão obrigatória, pois se o usuário abrir mão de

utilizá-lo, poderá trazer consequências graves

para toda a coletividade;

- A concentração demográfica junto a rios e lagos,

que são utilizados para a diluição de esgoto

doméstico e de efluentes industriais;

- A ausência do poder público no exercício da

fiscalização dos recursos hídricos;

- O nível de poluição corre o risco de atingir um

nível tão alto que não possa ser mais

economicamente tratado.

Fonte: Elaborada pelo autor (2016).

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

Após a análise dos ambientes interno e externo da CEDAE, no que tange o serviço de

coleta e tratamento de esgoto da região de Jacarepaguá, foi utilizado o modelo de plano de ação

5W2H, para o planejamento e o acompanhamento de um conjunto de tarefas e, desta forma,

clarificar todas as informações já mencionadas:

Tabela 7 - Plano de ação 5W2H

5W2H

What

Conceder o sistema de coleta e tratamento de esgoto da A.P.4 à iniciativa privada, já que os estudos

da AEGEA e Águas do Brasil comprovam a viabilidade técnica e econômica. Tal concessão se

basearia no padrão adotado na A.P.5 e, desta forma, transformar a CEDAE em uma agência

reguladora.

Why A CEDAE não tem capacidade de investimentos para alcançar a universalização do saneamento

básico na região, além de depender de linhas de crédito do governo.

Where

A concessão deverá abranger a A.P.4, que compreende os bairros da Barra da Tijuca, Recreio dos

Bandeirantes, Vargem Grande, Vargem Pequena, Anil, Cidade de Deus, Curicica, Freguesia,

Gardênia Azul, Jacarepaguá, Pechincha, Praça Seca, Tanque, Taquara e Vila Valqueire.

When

De acordo com a meta do Plano Nacional de Saneamento Básico, todos os brasileiros deverão

desfrutar dos serviços de fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, até o ano de 2030.

Isso significa que, a concessão deste serviço à iniciativa privada, deverá começar o quanto antes.

Who

O poder concedente do saneamento é municipal. É uma decisão que extrapola a CEDAE ou o

governo do estado. Segundo a Lei do Saneamento Básico, Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007,

em seu Capítulo III, Art. 16, a prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento básico,

poderá ser realizada por empresa a que se tenha concedido os serviços. Desta forma, o serviço deverá

ser prestado pela iniciativa privada.

How

O modelo deverá seguir os mesmos moldes da A.P.5, sob o comando da Foz Águas 5, que é

encarregada da coleta e tratamento do esgoto, enquanto que a distribuição da água continua sob

responsabilidade da CEDAE.

How much

Segundo o Instituto Trata Brasil, em seu Relatório de Pesquisa “Benefícios econômicos da expansão

do saneamento na Baía de Guanabara”, seria necessário um investimento de R$ 17,4 bilhões, de

2014 até 2043, para se alcançar a universalização do saneamento na região. O balanço é positivo, ou

seja, os benefícios da expansão do saneamento superariam os custos da universalização em trinta

anos. O valor do aumento da riqueza alcançaria R$ 31,3 bilhões, diante de um investimento de 17,5

bilhões.

Fonte: Elaborada pelo autor (2016).

6 – Conclusão

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise da precariedade do

serviço de saneamento básico da A.P.4, como também expôs a falta de planejamento no

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desenvolvimento da região. Além disso, permitiu verificar que o usuário deve estar mais

presente quanto a fiscalização e a participação nas políticas públicas, pois tais atitudes

influenciam diretamente na qualidade do serviço. Este trabalho, ainda, propôs que a relação

estabelecida, entre a prestadora do serviço e o usuário, deve ser regida pelo Código de Defesa

do Consumidor. Por fim, sugere que o serviço de coleta e tratamento de esgoto da localidade

seja concedido à iniciativa privada.

De um modo geral, a CEDAE, que hoje opera o serviço, não teria capacidade de

investimentos para cumprir a meta do Plano Nacional de Saneamento Básico, que seria a

universalização até 2030. Desta forma, e por ser viável técnica e economicamente, esta

atividade deveria ser conferida a uma empresa, conforme fora feito com a A.P.5 sob a

coordenação da Foz Águas 5.

Ao longo deste projeto, e de acordo com as informações extraídas das pesquisas

realizadas, demonstrou-se a situação do saneamento básico da região e propôs-se uma solução

que se mostrou viável pelos exemplos apresentados. Sendo assim, pode-se concluir, que este

estudo alcançou os objetivos propostos.

O principal recurso utilizado neste trabalho foi a pesquisa de campo, realizada com

moradores da região. Através dessa entrevista, foi possível obter diversas informações quanto

à percepção dos usuários em relação ao serviço prestado e coletar dados que podem embasar

decisões sobre políticas públicas na área de Saneamento Básico.

Dada a importância do assunto, torna-se necessário um aprofundamento nas pesquisas

no que diz respeito aos benefícios econômicos advindos da universalização do saneamento

básico na região. E, desta forma, verificar se a expansão deste serviço traria vantagens à

população como, por exemplo, o aumento da expectativa de vida, a diminuição da mortalidade

infantil, o aumento da frequência escolar de crianças e adolescentes e, também, se elevaria a

renda do trabalhador.

De acordo com o que foi exposto, podemos concluir que a concessão da coleta e do

tratamento de esgoto da A.P.4 à iniciativa privada, promoveria uma gama de benefícios aos

moradores da região, e que somente desta forma, pautados na relação de consumo regida pelo

C.D.C., poderemos alcançar a universalização deste serviço.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

7 - Referências

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