o risco ambiental provocado pelo derramamento de

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XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) UFRJ. E-mail: [email protected] 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) UFRJ. E-mail: [email protected] 1 MONITORAMENTO DO ENDOSULFAN NAS ÁGUAS DO RIO PARAÍBA DO SUL E SUA RELAÇÃO COM O ABASTECIMENTO HUMANO: UM ESTUDO DE CASO Pablo Jordão da Silva 1 & Shirlei Aparecida de Oliveira 2 RESUMO: O presente estudo analisa a ocorrência de um acidente no rio Paraíba do Sul. Em novembro de 2008, a empresa Servatis (indústria química) despejou uma substância orgânica denominada endosulfan (organoclorado) na calha fluvial causando grande mortandade de peixes e animais. Esta emergência ambiental teve repercussão nacional em virtude da localização desta bacia estar no principal eixo econômico brasileiro. O objetivo do presente artigo é discutir o impacto causado pela diluição do poluente analisando sua presença no decorrer do curso do rio. Os procedimentos adotados para esta análise foram: consulta a artigos científicos, teses e publicações que discutem os parâmetros de qualidade de água em função deste contaminante. Ao analisar os dados sobre a dispersão do poluente a partir de amostras coletadas ao longo da bacia, percebemos que existem diferenças entre os índices estabelecidos pela resolução CONAMA 357/05 e a portaria 518 do Ministério da Saúde. Os limites máximos para concentração deste contaminante foram valorados nestas duas normativas com pesos diferentes. Assim, concluímos que se fazem necessários: instrumentos eficientes e eficazes para identificar potenciais poluentes nas estações de tratamento de água bem como um diálogo mais aprofundado sobre os valores de concentração do contaminante nas águas destinadas para abastecimento humano. ABSTRACT: This study examines the occurrence of an accident on the river Paraíba do Sul. In November 2008, the company Servat (chemical industry) dumped an organic substance called endosulfan (organochlorine) in the pipeline causing great river killing fish and animals. This national environmental emergency has passed because of the location of this basin is the main Brazilian economic axis. The aim of this article is to discuss the impact of the dilution of pollutant analyzing its presence in the course of the River. The procedures adopted for this analysis were: the consultation papers, theses and publications that discuss the parameters of water quality according to the dispersion of the contaminant. In analyzing the data on the dispersion of pollutant from samples collected along the basin, we realize that there are differences between the rates established by CONAMA Resolution 357/05 and Decree 518 of Ministry of Health. The maximum concentration for this contaminant was assessed these two rules with different weights. Thus, we find that are needed: efficient and effective tools to identify potential pollutants in the water treatment plants as well as a deeper dialogue about the values of concentration of the contaminant in the water intended for human supply. Palavras-chave: poluição industrial, endosulfan, abastecimento público

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XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]

2Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]

1

MONITORAMENTO DO ENDOSULFAN NAS ÁGUAS DO RIO PARAÍBA

DO SUL E SUA RELAÇÃO COM O ABASTECIMENTO HUMANO: UM

ESTUDO DE CASO

Pablo Jordão da Silva1 & Shirlei Aparecida de Oliveira

2

RESUMO: O presente estudo analisa a ocorrência de um acidente no rio Paraíba do Sul. Em

novembro de 2008, a empresa Servatis (indústria química) despejou uma substância orgânica

denominada endosulfan (organoclorado) na calha fluvial causando grande mortandade de peixes e

animais. Esta emergência ambiental teve repercussão nacional em virtude da localização desta bacia

estar no principal eixo econômico brasileiro. O objetivo do presente artigo é discutir o impacto

causado pela diluição do poluente analisando sua presença no decorrer do curso do rio. Os

procedimentos adotados para esta análise foram: consulta a artigos científicos, teses e publicações

que discutem os parâmetros de qualidade de água em função deste contaminante. Ao analisar os

dados sobre a dispersão do poluente a partir de amostras coletadas ao longo da bacia, percebemos

que existem diferenças entre os índices estabelecidos pela resolução CONAMA 357/05 e a portaria

518 do Ministério da Saúde. Os limites máximos para concentração deste contaminante foram

valorados nestas duas normativas com pesos diferentes. Assim, concluímos que se fazem

necessários: instrumentos eficientes e eficazes para identificar potenciais poluentes nas estações de

tratamento de água bem como um diálogo mais aprofundado sobre os valores de concentração do

contaminante nas águas destinadas para abastecimento humano.

ABSTRACT: This study examines the occurrence of an accident on the river Paraíba do Sul. In

November 2008, the company Servat (chemical industry) dumped an organic substance called

endosulfan (organochlorine) in the pipeline causing great river killing fish and animals. This

national environmental emergency has passed because of the location of this basin is the main

Brazilian economic axis. The aim of this article is to discuss the impact of the dilution of pollutant

analyzing its presence in the course of the River. The procedures adopted for this analysis were: the

consultation papers, theses and publications that discuss the parameters of water quality according

to the dispersion of the contaminant. In analyzing the data on the dispersion of pollutant from

samples collected along the basin, we realize that there are differences between the rates established

by CONAMA Resolution 357/05 and Decree 518 of Ministry of Health. The maximum

concentration for this contaminant was assessed these two rules with different weights. Thus, we

find that are needed: efficient and effective tools to identify potential pollutants in the water

treatment plants as well as a deeper dialogue about the values of concentration of the contaminant in

the water intended for human supply.

Palavras-chave: poluição industrial, endosulfan, abastecimento público

XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]

2Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A poluição de origem industrial é apontada, por diversos estudos de impactos ambientais,

como um dos principais responsáveis pela degradação dos corpos hídricos. Certamente, algumas

bacias possuem elevada concentração de indústrias, fato que torna uma unidade hidrográfica

vulnerável a impactos, seja por contaminação por metais pesados ou até mesmo despejos de ordem

doméstica. No presente estudo, analisamos a bacia do Paraíba do Sul onde as condições ambientais

estão diretamente associadas ao monitoramento da atividade industrial que faz uso dos recursos

hídricos. Cumpre destacar que a lei 6938 de 31 de agosto de 1981 conceitua a poluição como um

estado de degradação ambiental resultante de atividades, que direta ou indiretamente, provoquem

uma alteração adversa das características do meio ambiente. Todavia, o entendimento da poluição

como a adição de substâncias ou de formas de energia que alterem um corpo d’água, prejudicando

os usos que dele são feitos é o mais apropriado para relacionar os impactos à vida humana (VON

SPERLING, 2005).

As atividades industriais são potencialmente usuárias das águas do rio Paraíba do Sul e entre

os municípios de Resende e Barra do Piraí ocorre uma captação significativa de água a partir das

estações de tratamento. As estações de tratamento são definidas como conjuntos de unidades

destinadas a adequar as características da água aos padrões de potabilidade (NBR 12216, 1992). A

construção de uma estação de tratamento de água deve considerar uma série de medidas e entre

elas, destacamos: a preocupação com o funcionamento e a capacidade, a área em que se implantará

a estação e os processos que ali serão empregados. Estas funções nos permitem vislumbrar quais os

padrões de qualidade de água desejáveis e que medidas poderão ser adotadas para alcançá-los.

O fato de não haver uma tecnologia que identifique os potenciais poluentes orgânicos

evidencia o risco de contaminação por substâncias, como o endosulfan, que podem continuar

presentes na água e colocar em risco as populações consumidoras (NETO et al, 2009). É necessário

discutir a eficiência das Estações de Tratamento de água no sentido de resolver ou mesmo mitigar

as reações provocadas pelos contaminantes e para que isso ocorra, novas técnicas podem ser

desenvolvidas. Cabe ressaltar que a eficácia é outro condicionante para uma gestão adequada dos

recursos hídricos. O tempo de resposta no caso de diluição de substância orgânica tóxica no rio

Paraíba do Sul ajudaria a conter os problemas ocasionados tanto na saúde pública como no

tratamento próprio da água. Desta forma, o objetivo deste artigo é analisar os reflexos do

endosulfan nas águas do rio Paraíba do Sul e a influência deste no sistema de abastecimento de água

(em sintonia com a portaria 518/04 do Ministério da Saúde e resolução CONAMA 357/05).

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MATERIAIS E MÉTODOS

Para discutir o comportamento da diluição do endosulfan nas águas do rio Paraíba do Sul,

alguns procedimentos foram adotados. Foi preciso compreender o conceito de poluição industrial

para assim, associarmos esta importante atividade econômica e compreendermos a dispersão desta

substância a partir da amostragem retirada das estações de tratamento de água ou proximidades.

Todavia, a Divisão de Laboratórios do Instituto Estadual do Ambiente (responsável pela análise e

elaboração do relatório) utilizou a metodologia analítica baseada no Standard Methods for the

Examination of Water and Waste Water (2005, 6630B). Coletaram-se amostras de água distribuída,

água das ETAs, água bruta dos reservatórios e água bruta dos rios no trecho Resende – Santa

Cecília – Guandu.

Estas amostras, assim como, os resultados analíticos estão expostos em relatório emitido

pelo Instituto Estadual do Ambiente, órgão do Governo do Estado do Rio de Janeiro que cuida da

questão ambiental. Para dar cabo das informações necessárias, foram feitas consultas a teses, artigos

e publicações que destacassem as influências do poluente e o risco conferido no contato deste com a

água destinada para abastecimento humano.

Os resultados obtidos das análises das águas foram comparados aos padrões estabelecidos

pela Resolução CONAMA n° 357/2005, Classe 2 e 3 para a avaliação das concentrações obtidas

frente aos padrões preconizadas pelas legislações vigentes (Tabela 1). Utilizou-se também a

determinação da Portaria nº. 518/2004 para subsidiar as manobras de captação de água bruta para

tratamento nas estações de água para distribuição à população.

Tabela 1: Valores de endosulfan estabelecidos pela Resolução CONAMA N° 357/2005 e a Portaria

N° 518 do Ministério da Saúde.

Organoclorado

Endosulfan

(+ Sulfato)

Resolução CONAMA N° 357/2005

Valor Máximo

Classe 2 Classe 3

0,056 µg/L 0,22 µg/L

Portaria N°518 Min. Saúde

VMP

20,0 µg/L

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Resolução CONAMA 357 de março de 2005

Em sua Seção I, Artigo 4º determina a classificação das águas doces, e respectivo tipo de

tratamento necessário para que possam ser destinadas ao abastecimento para consumo humano. Esta

resolução define os padrões de qualidade destas águas, estabelecendo limites individuais para

substâncias químicas, e determina entre os parâmetros orgânicos os valores máximos permitidos

para algumas substâncias tóxicas.

Portaria nº. 518 do Ministério da Saúde de março de 2004

Esta Portaria ressalta a responsabilidade dos órgãos de controle ambiental no que se refere

ao monitoramento e ao controle das águas brutas de acordo com os mais diversos usos, incluindo o

de fonte de abastecimento de água destinada ao consumo humano. Em seu artigo 14, a portaria em

questão, define o padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúde.

O monitoramento químico da água para consumo humano é, portanto, uma ferramenta

primordial para prevenção de doenças e bem estar humano, além de ser um indicativo de poluição

ambiental, já as que as águas de consumo provêm das águas superficiais e em alguns casos de águas

subterrâneas.

ÁREA EM ESTUDO: O CASO DA POLUIÇÃO INDUSTRIAL NO PARAÍBA DO SUL

Um exemplo de poluição de origem industrial ocorreu no lançamento do composto químico

endosulfan, no dia 18 de novembro de 2008, nas águas do Rio Paraíba do Sul. A empresa Servatis

(localizada no município de Resende – Estado do Rio de Janeiro) despejou uma quantidade

significativa de tal substância nos rios Piratininga e Paraíba do Sul. De acordo com as informações

repassadas, estima-se que dos 8000L vazados de endosulfan 20%, o volume de 1600L representa o

produto puro que foi derramado nas águas dos rios Pirapetinga e Paraíba do Sul.

Cabe ressaltar, que a empresa Servatis (figura 1) tem suas atividades direcionadas às

especialidades químicas e agroquímicas, sínteses e formulações. Presta, ainda, serviços de

incineração de resíduos químicos líquidos, tratamento de efluentes e recuperação de solventes

industriais.

A partir de informações obtidas no relatório final (Acidente Indústria Servatis Ambiental:

“Endosulfan”) emitido pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA), se teve o conhecimento de que,

em decorrência do acidente e como medida preventiva, as concessionárias de água suspenderam a

captação da água bruta, ao longo do rio Paraíba do Sul, nas cidades a jusante do local do acidente.

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Figura 1: Água bruta dos rios no trecho que compreende Resende – Santa Cecília - Guandu.

Fonte: INEA (2009)

Por outro lado, neste caso particular, há uma incongruência entre os valores máximos

emitidos, estabelecidos por esses dois instrumentos legais, no que tange ao abastecimento para uso

humano após tratamento convencional (Classe 2) e ao abastecimento para uso humano após

tratamento convencional e avançado (Classe 3)

Endosulfan

O endosulfan (C9H6Cl6O3S), é uma substância do grupo dos organoclorados registrado no

Brasil para uso agrícola e como preservante de madeira. O seu estado físico é líquido e possui

coloração amarelo-claro e exala um odor característico. Quanto ao potencial hidrogeniônico (pH) é

de aproximadamente 6,5 e sua densidade é de 1,0530g/cm³ a 20ºC, portanto, próxima da densidade

da água, e em termos de solubilidade e miscibilidade o produto é emulsionável na água. A meia-

vida do endosulfan na água é estimada em 4 dias, mas em condições anaeróbias e/ou em baixo pH

sua meia-vida pode se prolongar (WHO, 1984-A).

Embora apresente baixa solubilidade em água, cerca de 0,3 mg/L, o endosulfan contamina

ecossistemas aquáticos em virtude, principalmente, da lixiviação de campos agrícolas e pelo

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despejo em rios próximos a áreas industrializadas onde ocorrem a fabricação e a formulação do

inseticida (WHO, 1984-A).

Dentre as principais formas do endosulfan podemos destacar os isômeros Endosulfan I () e

Endosulfan II (), onde a partir da degradação destes se tem a formação do Endosulfan sulfato e

Endosulfan diol. O Endosulfan I () é três vezes mais tóxico que o Endosulfan II (e o

Endosulfan sulfato, porém apresenta uma forma menos persistente. O Endosulfan II é tóxico e

um pouco mais persistente do que o Endosulfan I Endosulfan sulfato é tóxico, formado por

oxidação biológica e muito mais persistente que qualquer um dos isômeros e . O Endosulfan

diol não é tóxico, sendo formado por hidrólise química ou biológica.

O inseticida isômeros e e sulfato, apresenta toxicologia para organismos aquáticos

e pode causar, por longos períodos, efeitos adversos ao meio aquático. Frisa-se que os peixes são

extremamente sensíveis ao endosulfan, morrendo com facilidade quando o mesmo está presente em

seu habitat (WHO 1984-B).

Essa substância apresenta sérios ricos para a saúde humana, sendo facilmente absorvido pelo

estômago e pulmões. Os principais sintomas quanto à exposição ao endosulfan são: perturbações no

sistema nervoso central, tonturas, vômito, diarréia, dificuldades respiratórias, convulsões e perda de

consciência. Em casos extremos pode resultar na morte (SHANAHAN, 2003).

No Brasil, o endosulfan é classificado como “extremamente tóxico” pelo Ministério da

Saúde e como “altamente perigoso para o meio ambiente” pelo IBAMA. Pela United Nations

Environment Programme (UNEP) é reconhecido como uma Substância Tóxica Persistente (STP),

sendo também considerado um potencial candidato a Poluente Orgânico Persistente (POP).

A contaminação em ambientes aquáticos, principalmente das águas superficiais, por essas

substâncias tem sido documentada em diversos países e constitui uma das maiores preocupações

que tem surgido no que diz respeito à escala local, regional, nacional e global (KONSTANTINOU

et al., 2006).

O endosulfan foi introduzido no mundo em um momento de pouca sensibilização ambiental,

onde o conhecimento sobre os efeitos toxicológicos e o destino ambiental desses produtos não

estavam prescritos nas legislações nacionais. Atualmente, este importante inseticida vem sendo

detectado em muitos países como uma das causas de envenenamento. Logo, seu uso foi proibido em

países como: Cingapura, Alemanha, Suécia, Holanda, Colômbia, Camboja, Emirados Árabes

Unidos, Sri Lanka.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir dos resultados observados na Tabela 2, no que se refere às concentrações de

endosulfan 20% presente nas águas distribuídas após o acidente, se constatou que quantidades da

substância endosulfan I, endosulfan II e endosulfan sulfato, em alguns pontos coletados, exibiram

valores superiores aos estabelecidos pela resolução CONAMA 357/05, no que tange ao destino da

água para consumo humano. A água coletada no ponto DP de Barra Mansa foi a que apresentou

uma maior quantidade da substância endosulfan I 20% (7,09 g/L). A verificação de altos índices

do contaminante nas águas distribuídas pode ser um indicativo da vulnerabilidade das Estações de

Tratamento de Água (ETAs) da região.

De acordo com a portaria Nº 518/04, os valores encontrados do composto endosulfan nas

águas distribuídas atendem os índices de potabilidade estabelecidos, devido apresentarem valores

abaixo de 20g/L.

Tabela 2: Concentrações de endosulfan 20% na Água Distribuída

Fonte: Adaptado do INEA, 2009.

De acordo com a Tabela 3, observa-se que foram encontrados teores significativos da

substância (endosulfan I, endosulfan II, endosulfan sulfato e endosulfan Total) nas águas das

Estações de Tratamento de Água (ETAs) de Belmonte e Barra Mansa, assim como, no Floculador

da Estação de Tratamento de Água de Volta Redonda. Os maiores teores do contaminante

verificados estão presentes no floculador da Estação de Tratamento de Água de Volta Redonda,

Município Local da Coleta Data da Coleta

Hora da Coleta

Endosulfan g/L

Endosulfan I

Endosulfan II

Endosulfan Sulfato

Porto Real

Dona Betina 20/nov 21h58 min 0,66 0,73 0,39

Und. Mista Hosp. S. Fran de Assis 20/nov 22h08min n.d n.d n.d

Bebedouro da DP 20/nov 22h24min 0,24 n.d n.d

Cantina da Tia Zefa 20/nov 22h32min 0,68 0,33 n.d

Quatis Posto Piloto 20/nov 22h50mim 1,71 1,31 n.d

Quatis - Praça Teixeira Brandão 20/nov 22h58mim 0,25 n.d n.d

Secretaria de Desenvolvimento 20/nov 23h13min 1,29 n.d n.d

Barra Mansa

Posto Bocaininha 20/nov 23h11min n.d n.d n.d

DP Barra Mansa 20/nov 23h55mim 7,09 3,65 n.d

Tips Lanches 21/nov 00h06min 1,36 0,92 n.d

Auto Posto Andressa Center 21/nov 00h13min 2,45 2,02 0,46

Posto BR Habib'S 21/nov 00h26min n.d n.d n.d

Volta Redonda

Posto de Saúde 21/nov 00h46min 5,42 3,86 0,53

Jaburu Burger (Pça Brasil) 21/nov 00h48min 4,24 2,65 0,32

Mc Donald's 21/nov 01h06min n.d n.d n.d

Rodoviária Volta Redonda 21/nov 01h24min 5,21 2,61 n.d

93° DP 21/nov 01h33min n.d n.d n.d

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com valores de 106 g/L, 60 g/L 167 g/L para endosulfan I (), endosulfan II () e endosulfan

Total, respectivamente. Cumpre ainda ressaltar, que os valores encontrados de endosulfan, cerca de

1,17 g/L, na Estação de Tratamento de Água de Barra Mansa estão abaixo dos valores encontrados

na água distribuída no dia 20/11/2008, cujo valores exibidos foram relativamente mais altos,

conforme consta na Tabela 2.

Tabela 3: Concentrações de endosulfan Obtidas na Água.

Fonte: Adaptado de INEA, 2009.

Os dados referentes às concentrações do endosulfan na água bruta do reservatório indicaram

um comportamento diferenciado de local para local no decorrer do tempo. A Barragem de Vigário

(Figura 2) foi a região onde se encontrou um maior teor do contaminante, 17,41g/L, no dia

21/11/2008 às 08h40m. De acordo com os dados do INEA (2009), a previsão da chegada da pluma

tóxica do endosulfan nessa área era de no mínimo dia 19/11/08 às 10h27m e de no máximo, o dia

20/11/08 às 01h33m. Conforme pode ser observado no gráfico abaixo (Figura 2), durante

praticamente todo o dia 21/11/08, exceto às 13h30m e às 16h15m, a concentração do contaminante

na água bruta do reservatório apresentou desconformidade em relação aos índices estabelecidos pela

CONAMA 357/05 que são de 0,056 g/L. Nota-se também, que mesmo após decorridos oito dias

do acidente, o contaminante ainda esteve presente em concentrações acima do permitido (0,54g/L

- dia 27/11/08 às 09h05m) pela resolução CONAMA 357/05.

A captação do Guandu no dia 21/11/2008 não apresentou níveis de contaminação, porém,

entre os dias 25 e 27 de novembro de 2008 (Figura 3), ou seja, sete dias após o desastre ocasoniado

pela Servatis, foram constatadas concentrações altas do endosulfan na água bruta do reservatório.

Vale destacar, que o reservatório do Guandu é de extrema importância para o estado do Rio de

Janeiro, uma vez que, esta Estação de Tratamento da Água abastece significativa parcela da

população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Água Unidade Data ETA Beltonte

ETA B. Mansa

Floculador da ETA

V. Redonda

Endosulfan I (alfa) g/L 19/11/08 - 11h00min 10,18 1,17 106,42

Endosulfan II (Beta) g/L n.d n.d 60,3

Endosulfan (sulfato) g/L n.d n.d 0,56

Endosulfan Total g/L 10,18 1,17 167,28

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CAPTAÇÃO DO GUANDUy = 0,1023x + 0,0086

R2 = 0,3639

0

0,4

0,8

1,2

1,6

2

21

/11

/08

- 1

1:5

0

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/11

/08

- 2

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0

24

/11

/08

- 0

2:3

0

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/11

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7:1

0

24

/11

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- 2

1:5

5

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: 1

3:0

5

27

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/08

- 1

3:2

5

27

/11

/08

- 1

4:1

0

DIA - HORA

CO

NC

EN

TR

ÃO

g

/L ENDOSULFAN

Linear (ENDOSULFAN)

VIGÁRIO BARRAGEM - PS426y = -0,7943x + 10,441

R2 = 0,4722

-5

0

5

10

15

20

21

/11

/08

- 0

8:4

0

21

/11

/08

- 1

0:5

0

21

/11

/08

- 1

1:5

0

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/11

/08

- 1

3:0

0

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/11

/08

- 1

3:3

0

21

/11

/08

- 1

4:0

0

21

/11

/08

- 1

5:1

0

21

/11

/08

- 1

6:1

5

21

/11

/08

- 2

0:2

0

21

/11

/08

- 2

1:4

0

24

/11

/08

- 1

5:3

2

24

/11

/08

- 2

0:0

0

25

/11

/08

-0

9:0

0

26

/11

/08

- 0

9:0

0

27

/11

/08

- 0

9:0

5

DIA - HORA

CO

NC

EN

TR

ÃO

g

/L

ENDOSULFAN

Linear (ENDOSULFAN)

Figura 2: Concentrações de endosulfan na Água Bruta – Reservatórios – Vigário Barragem. Fonte:

Adaptado de INEA, 2009.

Figura 3: Concentrações de endosulfan na Água Bruta – Reservatórios – Captação do Guandu.

Fonte: Adaptado de INEA, 2009.

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TRÊS RIOS - PS430

y = -4,7743x + 40,884

R2 = 0,0657

0

20

40

60

80

100

120

140

21

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/08

-

07

:30

21

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-

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- 1

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0

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5

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- 1

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5

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0

26

/11

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- 0

9:2

0

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- 0

9:2

0

DATA - HORA

CO

NC

EN

TR

ÃO

g

/L

ENDOSULFAN

Linear (ENDOSULFAN)

Teores do endosulfan na água bruta dos rios da região foram averiguados entre os dias 19 e

22/11/2008 (Figura 4). Com base nos dados examinados, constatou-se que dentre as amostras de

água analisadas, a Estação de Tratamento de Água de Três Rios foi a que apresentou o maior nível

do contaminante (131,35 g/L) no dia 21/08/2008. Porém, no dia subseqüente, ocorreu um

decaimento nos teores encontrados (17,60 g/L), fato este, que pode estar relacionado a dinâmica

natural dos rios. Devido às altas concentrações do endosulfan nas águas brutas dos rios, ocorreu

uma mortandade de peixes, visto que, essa substância apresenta uma toxicologia para organismos

aquáticos. Convém mencionar, que a resolução CONAMA 357/05 estabelece que as águas

enquadradas na classe II devem ser destinadas à proteção das comunidades aquáticas.

Figura 4: Concentrações de endosulfan na Água Bruta – Rios

Fonte: Adaptado de INEA, 2009.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar os dados sobre a dispersão do poluente ao longo do curso do rio Paraíba do Sul e

proximidades, percebemos que existem diferenças entre os índices estabelecidos pela resolução

CONAMA 357/05 e a portaria 518/04 do Ministério da Saúde. Os limites máximos para

concentração deste contaminante foram valorados nestas duas normativas com índices diferentes.

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1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]

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A CONAMA 357/05 define que as concentrações de endosulfan devem ser inferiores a

0,056 g/L ao passo que a portaria 518/04 define como limite o valor de 20 g/L. Isso provoca uma

falta de sintonia entre as normativas que regem os padrões de qualidade de água para abastecimento

humano. Por outro lado, os valores estabelecidos carecem de comprovação acerca dos efeitos

ocasionados pelo contato dessa substância química orgânica (o endosulfan) com os seres humanos.

Assim, a verificação dos potenciais poluentes é uma urgência quando a água coletada é

destinada ao abastecimento e consumo humanos. Portanto, cumpre destacar que as técnicas

necessárias para a remoção de contaminantes orgânicos em água, embora correspondam a

tecnologias pouco comuns na maioria das Estações de Tratamento de Água, são relevantes para o

caso de bacias hidrográficas que apresentam distintos usos da água e nela despejam seus efluentes.

É preciso destacar que a presente área possui uma atividade industrial intensa e complexa

conferindo às estações de tratamento de água o desafio da eficácia na detecção de eventuais

poluentes que alteram as propriedades químicas, físicas e biológicas da água e que possam vir a

acarretar um maior custo no tratamento desta.

Um compromisso comum da sociedade civil deve ser traçado quanto à responsabilidade

ambiental e o manejo adequado deste recurso tão necessário à manutenção da vida. Por isso,

mecanismos legais como a disponibilização e o monitoramento constante da água do rio Paraíba do

Sul, captada em diversas estações de tratamento pode mitigar e responsabilizar as indústrias

poluidoras por eventuais danos.

Concluímos que se fazem necessários: instrumentos eficientes e eficazes para identificar

potenciais poluentes nas estações de tratamento de água bem como um diálogo mais aprofundado

sobre os valores de concentração do contaminante nas águas destinadas para abastecimento

humano.

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