o retorno do sagrado

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O Retorno do Sagrado Venho através desde expressar os meus sentimentos e com certeza o de muitos irmãos que estarão comigo lendo essa carta. Venho expressar um sentimento de perda, de falta de identidade, de desequilíbrio, mas principalmente de perda do Sagrado. Vivemos em uma época em que o homem se vangloria de suas conquistas como um deus, sem se lembrar de que o conhecimento já existia muito antes dele. Vivemos um tempo em que os prazeres carnais e profanos são elevados a patamares de desequilíbrio, tornando o corpo um local de profanação incessante dos vícios mundanos criados pelo homem- ego com a intenção de deturbar a consciência sã.

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O Retorno do Sagrado

Venho através desde expressar os meus sentimentos e com certeza o de muitos irmãos que estarão comigo lendo essa carta. Venho expressar um sentimento de perda, de falta de identidade, de desequilíbrio, mas principalmente de perda do Sagrado.

Vivemos em uma época em que o homem se vangloria de suas conquistas como um deus, sem se lembrar de que o conhecimento já existia muito antes dele.

Vivemos um tempo em que os prazeres carnais e profanos são elevados a patamares de desequilíbrio, tornando o corpo um local de profanação incessante dos vícios mundanos criados pelo homem-ego com a intenção de deturbar a consciência sã.

Vivemos em um mundo sagrado, mas que pela ganância do próprio homem, caminha a passos largos para o abismo profundo. Afastamo-nos do Divino e eliminando o principio ordenador superior, tudo se reduz a proporção puramente humana, ou seja, tudo se torna uma

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busca para a realização material e não mais espiritual.

Vivemos em um mundo sem mais equilíbrio, onde o homem trava suas guerras sem qualquer honra ou caráter. Perdemos a total noção de sociedade, comunidade, coletivo, irmandade. Há muito tempo deixamos de honrar o Sagrado e hoje nem o conhecemos mais, estamos afastados da consciência de que somos todos um, de que tudo que afeta ao outra também nos afeta.

O homem se esqueceu de cultuar o Divino na natureza, nos céus e até nele próprio. O conhecimento e a sabedoria deviam caminhar juntos para construir, cada vez mais uma visão de unificação e totalidade, e não de separação delas.

O seu ego passou a ser essência do seu ser, deixando de elevar a consciência para o Sagrado, tornando o homem dito moderno um ser vazio, medroso, materialista e sem conteúdo filosófico e consequentemente com a falta de total sentimento de existência. Perdeu-se a ligação com Deus Interior em algum momento viu-se perdido entre a luz e a escuridão, não

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encontrando mais o seu caminho, nem com o Divino e nem consigo mesmo. Pois todo aquele que perde o sentido da busca perde-se a si próprio. O sentimento do Sagrado perdeu-se na vida cotidiana, na modernidade das coisas. Não se consagra mais a natureza nem mesmo os templos ou igrejas, onde a vivencia do Sagrado deveria ser eterna. Foi-se diluindo ou então já desapareceu.

Na maioria das vezes os rituais se tornam mecanizados e sem sentido, totalmente automatizados. O significado espiritual ficou obscurecido ou alienado na vida das pessoas. Deixamos de entender por completo o significado de datas que deveriam servir de meditação e reflexão e as tornamos datas meramente de significados comerciais e capitalistas. A natureza não é mais uma manifestação de Deus, a terra não é mais Sagrada, deixou de ser a fonte da própria vida e até de descanso. A terra perdeu seu contato com o céu, não enxergamos mais a nossa escada de ligação. No passado a vida era considerada Sagrada, ela refletia o céu na terra. O que estava acima era como abaixo. Todos os

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locais eram santos e os rituais eram praticados ao ar livre.

A religião estava ligada a busca do conhecimento essencial das coisas. A ciência buscava a compreensão da ordem natural da vida. Ambas viviam em perfeita harmonia, não havia separação entre sabedoria e espiritualidade. Desde que o homem assumiu uma forma Dualista de pensar, ele vem se desispiritualizando pelo caminho. O que era sabedoria totalizada tornou-se algo fragmentado e que temos juntado ao longo dos anos, para tentar entender. O pensamento dualista divide o homem em matéria-espirito, bem-mal, santo-profano, quando na verdade tudo está em um só, tudo é único, a fonte é única. Estamos vivendo o sentimento de separação, de que estamos separados do Sagrado, do Divino, quando na verdade somos o que procuramos. O pensamento de dualidade faz o homem pensar mais por uma coisa do que por outra, se esquecendo do equilíbrio natural das coisas.

Durante a Idade Média os irmãos operativos conseguiram resgatar uma grande síntese da concepção da divindade da natureza e humana.

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A combinação da antiguidade clássica do verdadeiro Cristianismo Medieval e do paganismo foi refletida na arte Gótica das Catedrais. Construídas em locais sagrados e com medidas Sagradas, estavam sempre voltadas para o oriente e expressavam as mais diferentes formas de divindade. Mas em algum momento perdemos esse elo com Sagrado e hoje o que sobrou tornou-se apenas teoria difundida nos antigos locais sagrados, onde muitas vezes nem mesmo nesses momentos conseguimos elevar nossos pensamentos no Divino Arquiteto.

Gostaria de propor um resgate a tudo isso que se perdeu pelo caminho, proponho uma força única pra voltarmos aos tempos de virtudes reais, uma busca pela essência perdida, a essência do Sagrado. Quando as pessoas deixam de vivenciar Deus interiormente, são forçadas a crer Nele. O homem deve existir para conhecer Deus, devemos voltar à visão de um mundo onde a razão e o conhecimento estavam unidos em uma experiência mística e em êxtase. Precisamos trazer ao mundo novamente o sentido espiritual antes que percamos por completo nossa divindade interior. Devemos

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deixar de cultuar o objetivo externo de adoração para não perdemos nossa misteriosa relação com o ser humano interior. A palavra foi perdida, não deixemos que também percamos a essência do Sagrado.

Quando a ciência lutou para que houvesse uma separação entre ela e a religião, através de pensadores livres como Galileu, Kepler, Copérnico, Giordano Bruno, Pico de Mirandola, Paracelso entre muitos outros estudiosos que viam a Santa Igreja como um empecilho para o desenvolvimento da ciência, ela também não se esqueceu de que mais importante que a religião era a espiritualidade. Por isso, a ciência antiga jamais deixou de lado a essência divina, elas sempre caminharam juntas nas mentes desses Mestres. O mundo de hoje vive um momento crucial, onde a ciência prova a cada dia que, sem a espiritualidade é impossível provar a existência da própria ciência. A ciência caminha para provar que o homem não pode viver sem sua essência pura e divina, mas nós “homens livres” parecemos caminhar no sentido contrário ao da ciência e estamos nos tornando inquisidores daquilo que tanto defendíamos.

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Cada vez mais a ciência busca os pilares do Oriente para entender o que antes parecia incompreensível. Por tanto, a ciência esta buscando seu resgate, o resgate da sua espiritualidade. O que proponho é que nossa Ordem faça o mesmo, um resgate a suas origens, ao misticismo oculto, puro e verdadeiro, a sua espiritualidade, a sua essência Sagrada. Muitos diriam que a Ordem evoluiu, mas eu digo que evolução sem a essência do Sagrado é retrocesso. O resgate do Sagrado deve ser feito pela observação do próprio Sagrado, do estudo do espirito, das leis universais, do misticismo, do silencio da alma, mas não da palavra, do estudo da própria Maçonaria. Proponho isso porque esse não é um sentimento único, mas compartilhado por todos que ainda tem esperança de um retorno do que já fomos um dia.

Durante os séculos lutamos por independências, pelo fim da escravidão, pela descoberta de novos mundos, pelo resgate da dignidade humana, fomos contra todos os pensamentos contrários aos nossos, acreditávamos em um ideal que ao longo do tempo vem se perdendo. Acredito que chegou a

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hora de lutar, pelo nosso próprio resgate, de levantarmos novamente a bandeira dos novos ideais dos nossos antigos ideais. Retornemos meus irmãos ao místico, ao silêncio de palavras, mas não de atos, ao estudo do Sagrado, ao respeito ao templo do espirito, ao respeito ao templo da natureza nossa mãe terra, nosso templo sagrado de origem da vida. Retornemos aos estudos místicos simbólicos, retornemos a essência do Sagrado.

Ap.´.M.´. Andrey Sartori

Cuiabá-MT, 19/12/2011.