o relacionamento entre o exército brasileiro e a base ...€¦ · major de artilharia valÉrio...
TRANSCRIPT
MAJOR DE ARTILHARIA VALÉRIO LUIZ LANGE
O relacionamento entre o Exército Brasileiro
e a Base Industrial de Defesa: um Modelo
para Auxiliar a sua Integração
VOLUME 1
Rio de Janeiro
2007
MAJOR DE ARTILHARIA VALÉRIO LUIZ LANGE
O relacionamento entre o Exército Brasileiro
e a Base Industrial de Defesa: um Modelo
para Auxiliar a sua Integração
VOLUME 2
Rio de Janeiro
2007
Major de Artilharia VALÉRIO LUIZ LANGE
O RELACIONAMENTO ENTRE O EXÉRCITO BRASILEIRO E A BASE
INDUSTRIAL DE DEFESA: UM MODELO PARA AUXILIAR A SUA
INTEGRAÇÃO
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito para obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Orientadores: Gen Bda João Camilo Pires de Campos
Cel QEM Hildo Vieira Prado Filho
Rio de Janeiro 2007
Major de Artilharia VALÉRIO LUIZ LANGE
O RELACIONAMENTO ENTRE O EXÉRCITO BRASILEIRO E A BASE
INDUSTRIAL DE DEFESA: UM MODELO PARA AUXILIAR A SUA
INTEGRAÇÃO
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito para obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Aprovado em ______/_________/________.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
General-de-Brigada João Camilo Pires de Campos – Dr Presidente Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Exército
____________________________________________
Cesar Lourenço Botti – Cel Art – Dr Membro Estado-Maior do Exército
__________________________________________________
Hildo Vieira Prado Filho – Cel QEM – Dr Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
______________________________________________________
João Alberto Neves dos Santos – Cel R1 – Prof Dr Membro Universidade do Estado do Rio de Janeiro
______________________________________________________
Jacintho Maia Neto – Ten Cel Art – Dr Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
A Deus,
À minha divina família,
Aos meus pais,
Aos meus amigos,
Ao Exército Brasileiro,
Enfim, a todos que ajudaram a transformar este desafio em realidade.
AGRADECIMENTOS
Ao Querido Deus, o Profundo, Conhecedor de nossos limites e capacidades e Do
qual somos instrumentos.
Ao Brasil e ao Exército Brasileiro, que jurei defender.
Aos orientadores e amigos, o General-de-Brigada João Camilo Pires de Campos e o
Coronel Hildo Vieira Prado Filho, pelo estímulo, confiança e exemplo.
Ao amigo Roberto Guimarães de Carvalho, tenente-coronel da reserva do Exército e
ex-presidente da ABIMDE, por ter me apresentado a este ‘mundo da indústria de
defesa’ e me orientado em várias etapas nesta busca constante do entendimento do
relacionamento entre o EB e da BID. Com certeza, pelo elevado grau de inteligência
e de competência, o “Coronel Carvalho” se constitui em “um híbrido fértil” desses
segmentos nacionais.
Aos amigos, antes de qualquer coisa, amigos: Major Reinaldo Costa de Almeida
Rego, Major Sylvio Pessoa da Silva e Major Marcelo Maia Chiesa, sem os quais o
trabalho perderia muito em qualidade e precisão.
Aos coronéis e doutores Mauro Guedes Ferreira Mosqueira Gomes e João Alberto
Neves dos Santos, pela referência de seus trabalhos e pelas orientações diversas
ao longo desta obra.
Ao Capitão-de-Mar-e-Guerra Intendente de Marinha Antonio Carlos Teixeira Martins
e ao Capitão-de-Fragata Intendente de Marinha André Luís Melo de Andrade pela
elevada consideração e apoio dispensados à pesquisa na Escola de Guerra Naval.
À Empresa AVIBRAS AEROESPACIAL, na pessoa de seu Diretor-Presidente, João
Verdi Carvalho Leite, e de todos os seus integrantes, com quem tive a oportunidade
de conviver e trabalhar, diuturnamente, durante os anos de 2003 e 2004, pelo apoio,
confiança, amizade e ensinamentos colhidos.
Ao Vice-Almirante Engenheiro Naval Marcílio Boavista da Cunha, pela conferência e
orientação em documento produzido ao longo do trabalho de pesquisa.
Ao Coronel Rodrigo Martins Prates, adido do Exército Brasileiro no Reino Unido,
pelo apoio ilimitado, lhaneza e camaradagem na viagem de estudos à Inglaterra
realizada em dezembro de 2006.
Ao Coronel César Lourenço Botti, da 4ª Subchefia do Estado-Maior do Exército, pelo
apoio proporcionado na pesquisa do tema Mobilização e pela oportunidade da
viagem de estudos às diversas unidades da IMBEL, EMGEPRON e VOLKSWAGEN
CAMINHÕES, acompanhando comitiva daquele Órgão de Direção Geral.
Ao Tenente-Coronel José Antonio de Sá Junior, pela amizade e pelo
compartilhamento de informações de seu trabalho de pesquisa e de modelos
utilizados.
Ao General-de-Brigada Eduardo Segundo Liberali Wizniewsky, Comandante,
Coronel Rafael Roberto Gomide e ao Tenente-Coronel Roberto Gueiros da Silva, do
Comando da 2ª Região Militar, pelo apoio proporcionado na redação final do
trabalho.
Ao Senhor Jairo Cândido, coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva das
Indústrias de Defesa e sua assistente Maura Curci, ambos da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo, pela consideração e apoio dispensados nas
pesquisas, cursos, atividades e reuniões ordinárias desse comitê que ora tenho a
oportunidade de participar em São Paulo.
Aos mestres em geral e aos companheiros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
que, direta ou indiretamente, proporcionaram elementos para este estudo, assim
como críticas, sugestões e esclarecimentos.
Ao General Gil Fiévet, do Exército da França, pela obra “Da Estratégia Militar à
Estratégia Empresarial”, cuja leitura e estudo foram fundamentais para a realização
deste trabalho.
Aos meus pais, Anselmo Luiz Lange e Jandyra Viégas Lange, pela vida e pela
educação recebidas.
Por fim, e em caráter fundamental, à minha amada família. Minha querida esposa
Joana Carla Pignataro Lange, meus filhos Jonatas Luiz Pignataro Lange, Carlos
Miguel Pignataro Lange, Maria Heloísa Pignataro Lange e Ana Júlia Pignataro
Lange, ainda no ventre materno, pelo amor manifestado e pela compreensão nesta
longa e árdua jornada de pesquisa. O meu carinho, respeito e profunda gratidão.
“Construir o presente a partir do futuro em vez de considerá-lo uma secreção do
passado"
Gaston Berger
RESUMO
Há pelo menos doze anos, o Exército Brasileiro (EB) sofre restrições
governamentais na obtenção de recursos para investimentos em reaparelhamento e
modernização de seus Materiais de Emprego Militar (MEM). A situação é crítica na
atualidade, com o sucateamento de muitos equipamentos e a redução constante no
consumo de munição. A Base Industrial de Defesa (BID), por sua vez, viveu um
período de apogeu entre a década de 1970 e 1980 que permitiu o fornecimento de
um grande número de equipamentos bélicos nacionais para o Exército e para as
demais Forças Armadas (FA). Havia, à época, um bom grau de integração entre o
Estado e as Expressões Econômica e Militar do Poder Nacional. A política estatal de
apoio ao desenvolvimento, produção e exportação de Produtos de Defesa (PD) não
sofria solução de continuidade ao longo dos governos que se sucediam, permitindo
ao EB valer-se da oportunidade para modernizar grande parte do seu acervo. Ao
longo dos últimos quinze anos, porém, a indústria bélica nacional vem sofrendo uma
crise marcada pelas baixas compras nacionais, dificuldades para vender seus
produtos no exterior e falta de investimentos. O ciclo atual é vicioso: poucos
investimentos, poucos produtos, reduzidas vendas, redução em Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) e o ciclo novamente se repete. Em função das
necessidades do EB e dos interesses da BID, este trabalho estuda a proposta de um
modelo para auxiliar o relacionamento entre esses dois importantes atores do
cenário nacional. Constata-se a necessidade de integração de vontades e esforços.
Busca-se alcançar, novamente, um grau de sinergia que já houve no passado
recente. Há que se considerar, entretanto, que o mundo evoluiu, as dificuldades para
o aparelhamento do EB e o desenvolvimento da BID usam outra roupagem e faz-se
difícil usar soluções antigas para novos desafios. Há que se conjugar pensamento à
ação. Para tanto, a organização de uma equipe multidisciplinar de trabalho integrada
em alto nível e composta, de forma balanceada, por representantes do EB e da BID
se apresenta como um passo inicial de uma estratégia de longo prazo que poderá
permitir o atendimento das necessidades de ambos, com elevado grau de
satisfação. Os principais objetivos de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT),
abordados ao longo do trabalho, são fortalecer o diálogo, a confiança e a integração,
proporcionando sinergia no relacionamento entre o EB e a BID para, em última
análise, realizar eficiente e eficazmente a Defesa Nacional.
Palavras-chave: Exército Brasileiro. Base Industrial de Defesa. Logística e
Mobilização. Sinergia e Integração.
ABSTRACT
For at least 12 years, the Brazilian Army (BA) has been suffering governmental
restrictions for obtaining resources to invest in buying new equipment and
modernizing its Materials for Military Use (MMU). Today, the situation is critical, with
the thrashing of a lot of equipment items and the constant reduction in using of
ammunition. The Defense Industrial Complex (DIC), on its turn, lived its heydays
between the 1970’s and 1980’s, which allowed the supply of a large quantity of
national military equipment to the Army and the other Armed Forces (AF). At that
time, there was a high degree of integration between the Nation and the Economic
and Military Expressions of the National Power. The state policy of support for the
development, production and exportation of Defense Products (DP) was not
interrupted by succeeding governments, allowing the BA to modernize a great portion
of its existing equipment. For the last fifteen years, however, the national arms
industry has been undergoing a crisis, represented by few national purchases,
difficulties for selling its products abroad and little investment. This is a vicious circle:
little investment, few products, few sales and reduction in Research and
Development (R&D) and the circle repeats itself. In response to the needs of the BA
and the interests of the DCI, this work aims at studying a proposal for a model to help
the relationship between these important players in the national state of affairs. It is
patent the need for integrating wills and efforts. We must seek to achieve, again, the
degree of synergy that once existed not along ago. It must be taken into account,
however, that the world has evolved, the difficulties for equipping the BA and
developing the DCI have acquired new aspects and it is difficult to use old solutions
to face new challenges. It is necessary to combine thoughts and actions. For such,
the organization of a multidisciplinary working team, integrated at a high level and
made up, in a balanced way, by representatives of the BA and DCI, is a first step of a
long term strategy that will allow the fulfillment of the needs of both, with a high
degree of satisfaction. The main objectives of a Integrated Working Team (IWT), to
be tackled with along the task, are to strengthen the dialog, the trust and integration,
thus providing synergy in the relationship between the BA and the DCI, in order to,
ultimately, carry out efficaciously and efficiently the National Defense.
Key-words: Brazilian Army. Defense Industrial Complex. Logistics and Mobilization.
Synergy and Integration.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Divisão do Orçamento – Ministério da Defesa..................................... 81
Gráfico 2 Orçamento do Exército......................................................................... 81
Gráfico 3 Fatia de Custeios e Investimentos....................................................... 82
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Principais PD brasileiros da época e seus fabricantes......................... 53
Tabela 2 Principais países exportadores de armas para o Terceiro Mundo....... 54
Tabela 3 Principais empresas da BID brasileira na atualidade........................... 61
Tabela 4 Orçamento do Ministério da Defesa..................................................... 80
Tabela 5 Principais MEM nacionais em uso pelo Exército Brasileiro.................. 85
Tabela 6 Situação de alguns MEM do Exército Brasileiro (2005)....................... 85
Tabela 7 Faturamento da BID.............................................................................. 204
Tabela 8 Volume de Negócios da BID................................................................. 205
Tabela 9 Gastos Militares SIPRI.......................................................................... 205
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Funcionamento do SIPLEX................................................................. 74
Figura 2 Estrutura de Recursos Humanos do Exército..................................... 77
Figura 3 Projeto de Força ................................................................................. 103
Figura 4 Critérios de Integração........................................................................ 104
Figura 5 Fases de um Projeto de Força............................................................ 105
Figura 6 Departamento Logístico...................................................................... 118
Figura 7 4ª Subchefia do EME.......................................................................... 118
Figura 8 SIMOBE (concepção lógica)............................................................... 121
Figura 9 SIMOBE (concepção geral) ............................................................... 121
Figura 10 Funcionamento do SIMOBE................................................................ 122
Figura 11 Relacionamento Governo – Indústria - Universidades........................ 131
Figura 12 Relacionamento Indústria – FA e seus Centros de Excelência.......... 132
Figura 13 Estrutura do DCT................................................................................. 133
Figura 14 Estrutura matricial do DCT.................................................................. 134
Figura 15 Situação atual do SCTEx.................................................................... 134
Figura 16 Prioridades em MEM definidas pelo PBCT......................................... 136
Figura 17 Representação esquemática do Ciclo de Vida de um MEM............... 141
Figura 18 Elaboração de Requisitos.................................................................... 142
Figura 19 Unidades Operacionais da EMGEPRON............................................ 147
Figura 20 OM Prestadoras de Serviço – MB...................................................... 148
Figura 21 Estrutura do COMGAP........................................................................ 150
Figura 22 Estrutura do CELOG........................................................................... 151
Figura 23 Nacionalização.................................................................................... 152
Figura 24 Divisão de Fomento e Coordenação Aeroespacial do IFI................... 156
Figura 25 DLO.................................................................................................... 164
Figura 26 DLO/DPA............................................................................................ 166
Figura 27 Atuação da IPT ao longo do Ciclo de Vida do MEM........................... 168
Figura 28 Exemplo de IPT.................................................................................. 170
Figura 29 SSM – Entre Filosofia e Técnica......................................................... 177
Figura 30 Estágios da Metodologia SSM............................................................ 177
Figura 31 ‘Fases da Vida do IPT’....................................................................... 180
Figura 32 ‘Apoio inicial às IPT no Reino Unido’.................................................. 188
Figura 33 Estrutura de um Icosaedro para o modelo de ‘Team Syntegrity’........ 190
Figura 35 EIT....................................................................................................... 234
Figura 36 Grupo 1 da EIT.................................................................................... 235
Figura 37 Grupo 6 da EIT.................................................................................... 236
Figura 38 Grupo 7 da EIT.................................................................................... 237
Figura 39 Grupo 2 da EIT.................................................................................... 238
Figura 40 Grupo 3 da EIT.................................................................................... 239
Figura 41 Grupo 4 da EIT.................................................................................... 240
Figura 42 Grupo 5 da EIT.................................................................................... 241
Figura 43 Grupo 8 da EIT.................................................................................... 242
Figura 44 Grupo 9 da EIT.................................................................................... 243
Figura 45 Processo de Funcionamento da EIT................................................... 250
Figura 46 Macroprojeto Mobilização EME........................................................... 255
LISTA DE ABREVIATURAS
Art. / Art Artigo / Artilharia
ASTROS Artillery Saturation Rocket System
Bda Brigada
CC Carro de Combate
CECAFA Centro de Catalogação das Forças Armadas
CTA Centro Tecnológico Aeroespacial
C Mil A Comando Militar de Área
COTER Comando de Operações Terrestres
CMID Comissão Militar da Indústria de Defesa
COMDEFESA Comitê da Cadeia Produtiva das Indústrias de Defesa
C&T Ciência e Tecnologia
CGERD Curso de Gestão em Recursos de Defesa
DQBN Defesa Química, Bacteriológica e Nuclear
D Log Departamento Logístico
D Mob Departamento de Mobilização
DTMOB Diretoria de Transporte e Mobilização
DMD Doutrina Militar de Defesa
ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
EGN Escola de Guerra Naval
ESG Escola Superior de Guerra
EE Estabelecimento de Ensino
EMD Estratégia Militar de Defesa
EME Estado-Maior do Exército
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FA Forças Armadas
F Ter Força Terrestre
FTB Força Terrestre Brasileira
FID Fórum da Indústria de Defesa
GETRAM Gerência Executiva de Transporte e Mobilização
HE Hipótese de Emprego
IMNB Indústria Militar Naval Brasileira
IPQM Instituto de Pesquisas da Marinha
IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
ITA Instituto Técnico Aeroespacial
IG Instruções Gerais
ILS Integrated Logistic Support – Suporte Logístico Integrado
LMF Lançador Múltiplo de Foguetes
LMN Lei de Mobilização Nacional
MB Marinha do Brasil
MEM Material de Emprego Militar
MCT Ministério da Ciência e Tecnologia
MD Ministério da Defesa
MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
MRE Ministério das Relações Exteriores
NATO North Atlantic Treaty Organisation
OAS Órgão de Apoio Setorial
ODS Órgão de Direção Setorial
OM Organização Militar
OMDS Organização Militar Diretamente Subordinada
ONU Organização das Nações Unidas
ONG Organização Não-Governamental
OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte
PEG - EB Programa Excelência Gerencial – Exército Brasileiro
PDMN Política e Diretrizes de Mobilização Nacionais
PDN Política de Defesa Nacional
PNEMEM Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar
PL Projeto de Lei
PLC Projeto de Lei Complementar
PNM Plano Nacional de Mobilização
PPA Programa Pluri-Anual
QEMA Quadro de Estado-Maior da Ativa
QSG Quadro Suplementar Geral
RH Recursos Humanos
RM Região Militar
RAN Requisitos de Alto Nível
R/1 Militar da Reserva remunerada no Exército Brasileiro
SACI Sistema de Material Civil
SE - EB Sistema de Excelência do Exército Brasileiro
SEC Ex Sistema Estratégico de Comando e Controle do Exército
SELOM Secretaria de Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia
SEORI Secretaria de Organização Institucional
SICAMOB Sistema de Cadastro de Mobilização
SILOG Sistema Logístico
SIMAERO Sistema de Mobilização Aeroespacial
SIMOBE Sistema de Mobilização do Exército
SIMOMAR Sistema de Mobilização da Marinha
SINAMOB Sistema Nacional de Mobilização
SIPLEx Sistema de Planejamento do Exército
SISMOMIL Sistema Setorial de Mobilização Militar
S Op Sistema Operacional
TO Teatro de Operações
TOT Teatro de Operações Terrestre
VANT Veículo Aéreo Não-Tripulado
VBTP Viatura Blindada de Transporte de Tropa
2
S U M Á R I O
1 INTRODUÇÃO E REFERENCIAL CONCEITUAL.................................................. 27
1.1 APRESENTAÇÃO INICIAL………………………………………………………………… 27
1.2 TEMA……………………………………………………………………….......................... 27
1.2.1 Razões da escolha do tema....…………………………………………………………… 28
1.3 PROBLEMA................................................................................................................. 30
1.4 QUESTIONAMENTOS................................................................................................. 30
1.5 OBJETIVO.................................................................................................................... 33
1.6 SUPOSIÇÕES.............................................................................................................. 33
1.7 JUSTIFICATIVAS......................................................................................................... 36
1.8 DELIMITAÇÃO.............................................................................................................. 37
1.9 ESTRUTURA DA TESE................................................................................................ 38
2 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................... 41
2.1 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NO BRASIL....................................................... 41
2.1.1 Inserção....................................................................................................................... 41
2.1.2 Segmento de Defesa................................................................................................... 43
2.1.3 Histórico....................................................................................................................... 44
2.1.3.1 Primórdios – 1500 a 1762............................................................................................ 44
2.1.3.2 Ciclo Imperial – 1762 a 1889....................................................................................... 45
2.1.3.3 República Velha – 1889 a 1926................................................................................... 47
2.1.3.4 Ciclo das Fábricas Militares – 1926 a 1952................................................................. 48
2.1.3.5 Acordo Militar Brasil/EUA – 1952 a 1976..................................................................... 50
2.1.3.6 Ciclo da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) – 1940 aos dias atuais......................... 51
2.1.3.7 Período Áureo – Década de 1970 até o início da década de 1990............................. 53
2.1.3.8 Declínio – 1990 a 2002................................................................................................ 56
2.1.4 Principais associações............................................................................................... 58
2.1.5 Principais empresas................................................................................................... 61
2.1.5.1 Agrale.......................................................................................................................... 62
2.1.5.2 ATECH Tecnologias Críticas....................................................................................... 62
2.1.5.3 AVIBRAS AEROESPACIAL S.A................................................................................. 63
2.1.5.4 CBC – Companhia Brasileira de Cartuchos................................................................ 64
2.1.5.5 Condor – Tecnologias Não-Letais............................................................................... 64
2.1.5.6 EMBRAER................................................................................................................... 65
2.1.5.7 EMGEPRON – Empresa Gerencial de Projetos Navais.............................................. 66
2.1.5.8 HELIBRAS................................................................................................................... 66
2.1.5.9 IMBEL – Indústria de Material Bélico do Brasil........................................................... 67
2.1.5.10 INACE.......................................................................................................................... 68
2.1.5.11 INBRAFILTRO............................................................................................................. 68
2.1.5.12 MECTRON – Engenharia, Indústria e Comércio S.A.................................................. 69
2.1.5.13 Orbisat da Amazônia S.A............................................................................................ 69
2.1.5.14 Rossi S.A..................................................................................................................... 70
2.1.5.15 Taurus......................................................................................................................... 70
2.1.5.16 Vertical do Ponto......................................................................................................... 71
2.2 EXÉRCITO BRASILEIRO............................................................................................ 71
2.2.1 Destinação Constitucional......................................................................................... 71
2.2.2 Missão......................................................................................................................... 72
2.2.3 Sistema de Planejamento do Exército...................................................................... 73
2.2.4 Orçamento do Exército............................................................................................... 80
2.2.5 MEM nacionais em uso............................................................................................... 84
2.3 O AMBIENTE DE RELACIONAMENTO EB-BID.......................................................... 86
2.3.1 O Relacionamento entre Civis e Militares................................................................. 87
2.3.2 O Papel do Governo Federal...................................................................................... 92
2.3.2.1 Estrutura do Poder Executivo...................................................................................... 94
2.3.3 O Ministério da Defesa................................................................................................ 96
2.3.3.1 Criação e Objetivo....................................................................................................... 96
2.3.3.2 Apoio à Reativação da BID.......................................................................................... 98
2.3.4 Projeto de Força.......................................................................................................... 101
2.3.5 Legislação................................................................................................................... 107
2.3.5.1 Brasileira...................................................................................................................... 107
2.3.5.2 Internacional................................................................................................................ 113
2.4 LOGÍSTICA E MOBILIZAÇÃO..................................................................................... 115
2.4.1 Logística...................................................................................................................... 116
2.4.1.1 Exército Brasileiro....................................................................................................... 117
2.4.2 Mobilização.................................................................................................................. 119
2.4.2.1 Sistema de Mobilização do Exército (SIMOBE).......................................................... 120
2.4.3 Interação entre EB e BID............................................................................................ 123
2.4.4 Macroprojeto Mobilização......................................................................................... 126
2.5 CIÊNCIA E TECNOLOGIA........................................................................................... 128
2.5.1 “Spin Off” e Emprego Dual........................................................................................ 128
2.5.2 O Papel das Universidades........................................................................................ 130
2.5.3 A C&T no Exército Brasileiro..................................................................................... 133
2.5.3.1 Plano Básico de C&T do Exército (PBCT) – 2007-2010............................................. 136
2.5.3.2 Instruções Gerais para a Gestão do Ciclo de Vida dos MEM..................................... 137
2.6 O RELACIONAMENTO DAS DEMAIS FORÇAS SINGULARES COM A BID..............143
2.6.1 Marinha do Brasil........................................................................................................ 143
2.6.2 Força Aérea Brasileira................................................................................................ 150
2.7 EXEMPLOS DE OUTROS PAÍSES............................................................................. 158
2.7.1 Exemplo Francês.........................................................................................................159
2.7.2 Uma Referência Norte-americana............................................................................. 161
2.7.3 A Experiência Britânica.............................................................................................. 162
2.7.3.1 Equipes Integradas de Projeto.................................................................................... 167
2.8 TEORIAS E MODELOS................................................................................................ 171
2.8.1 Teorias......................................................................................................................... 172
2.8.2 Modelos....................................................................................................................... 172
2.9 “SOFT SYSTEMS METHODOLOGY”........................................................................... 176
2.9.1 Conceito....................................................................................................................... 176
2.9.2 Estágios....................................................................................................................... 177
2.9.3 Aplicação..................................................................................................................... 179
2.10 DESENVOLVIMENTO DE EQUIPES........................................................................... 179
2.10.1 Grupo de Trabalho...................................................................................................... 179
2.10.2 Era Industrial e Era do Conhecimento...................................................................... 181
2.10.3 Equipes de Trabalho................................................................................................... 182
2.10.4 Estratégias e Ferramentas para a Formação e Desenvolvimento de
Equipes...................................................................................................................... 184
2.10.5 A Cultura Organizacional........................................................................................... 185
2.11 “TEAM SYNTEGRITY”................................................................................................. 188
2.11.1 Considerações.............................................................................................................188
2.11.2 Caracterização............................................................................................................. 190
2.11.3 Requisitos.................................................................................................................... 191
2.11.4 Aplicações................................................................................................................... 192
2.11.5 Processo...................................................................................................................... 194
3 METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................................. 196
3.1 VARIÁVEIS.................................................................................................................. 196
3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................... 197
3.2.1 Pesquisa Bibliográfica................................................................................................ 197
3.2.2 Entrevistas....................................................................................................................197
3.2.3 Questionários................................................................................................................198
3.2.4 Pesquisas.....................................................................................................................198
3.2.5 Viagens de Estudos......................................................................................................198
3.2.6 Experiência Profissional..............................................................................................199
3.2.7 Cursos adicionais realizados......................................................................................199
4 DISCUSSÃO DO RELACIONAMENTO ATUAL E RESULTADOS DO
LEVANTAMENTO DE DADOS.................................................................................... 201
4.1 ATUALIDADE............................................................................................................... 201
4.1.1 Forças Armadas.......................................................................................................... 201
4.1.2 Base Industrial de Defesa (BID)..................................................................................202
4.1.3 Governo Federal.......................................................................................................... 206
4.1.4 Lições Históricas.........................................................................................................207
4.1.5 Prospecção................................................................................................................. 209
4.1.6 Conclusão Parcial........................................................................................................211
4.2 O DIÁLOGO ENTRE O EB E A BID............................................................................ 212
4.3 NECESSIDADES DO EXÉRCITO............................................................................... 213
4.4 INTERESSES E CAPACIDADES DA BID................................................................... 216
4.5 SITUAÇÃO ATUAL....................................................................................................... 218
4.6 RESULTADOS DO LEVANTAMENTO DE DADOS................................................... 221
4.6.1 Pesquisa Exército........................................................................................................221
4.6.2 Pesquisa BID............................................................................................................... 223
4.6.3 Pesquisa Adidos Militares...........................................................................................226
4.7 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS................................................................................... 227
5 UM MODELO DE RELACIONAMENTO INTEGRADO EB – BID............................... 228
5.1 QUESTIONAMENTO AUXILIAR PROPOSTO............................................................ 228
5.2 EQUIPE INTEGRADA DE TRABALHO....................................................................... 230
5.2.1 Considerações.............................................................................................................230
5.2.2 Finalidade.................................................................................................................... 230
5.2.3 Objetivos...................................................................................................................... 230
5.2.4 Características.............................................................................................................231
5.2.5 Constituição e objetivos dos grupos.........................................................................233
5.2.6 Atribuições dos integrantes dos respectivos grupos...............................................244
5.2.7 Processo de Funcionamento da EIT...........................................................................250
5.2.8 Particularidades...........................................................................................................254
5.2.9 Local de Trabalho........................................................................................................254
5.2.10 Estudo inicial da matriz DOFA....................................................................................256
5.2.11 Gestão Ética................................................................................................................ 259
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES....................................................................... 261
6.1 ABORDAGEM PESSOAL............................................................................................ 261
6.1.1 Origem desta abordagem............................................................................................261
6.1.2 Fatores da Decisão......................................................................................................263
6.2 CONCLUSÕES DO TRABALHO.................................................................................. 264
6.3 CONTRIBUIÇÕES....................................................................................................... 269
6.4 RECOMENDAÇÕES.................................................................................................... 270
6.5 CONCLUSÃO FINAL.................................................................................................... 273
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 275
GLOSSÁRIO................................................................................................................. 293
APÊNDICE A............................................................................................................... 295
APÊNDICE B................................................................................................................ 313
APÊNDICE C................................................................................................................ 333
APÊNDICE D.............................................................................................................. 346
ANEXO A..................................................................................................................... 359
ANEXO B...................................................................................................................... 363
ANEXO C...................................................................................................................... 366
1
A INDÚSTRIA DE DEFESA NO BRASIL
Valério Luiz Lange
Major de Artilharia
RESUMO
O presente artigo apresenta um breve histórico da Indústria de Defesa no
Brasil. O autor descreve os principais períodos históricos que este segmento
produtivo viveu no país, procurando identificar os atores envolvidos, seu
interelacionamento e a inserção do país no contexto mundial. Em seguida, faz-se
uma abordagem do momento atual da Base Industrial de Defesa (BID), analisando
sua situação presente e perspectivas para o futuro. Ao concluir, evidencia-se a
necessidade de integração de esforços governamentais, institucionais e privados
para proporcionar sinergia e oportunidades de desenvolvimento às indústrias de
defesa, bem como o fortalecimento do Brasil no concerto das nações.
Palavras-chave: Indústria de defesa; Política Nacional da Indústria de Defesa;
logística e mobilização.
ABSTRACT
This paper presents a short retrospective about the historical development of
Brazilian Defense Industry. The author presents the main periods of that industrial
sector and its trajectory in order to identify the actors, the relationship among then
and how Brazil had been participating in the arms global market. Then, it shows a
briefing about Brazilian Defense Industrial Complex (Base Industrial de Defesa), a
small analysis of its present situation, and some perspectives for the future. To
conclude, the author indicates the way of institutional integration of efforts as a well
growth-oriented path. Government, Armed Forces, industrialists and Brazilian society
must to work together to provide good business opportunities to all of them. The final
goal of this integration is to provide synergy and an organized development of the
most of Brazilian defense industries and, enhancing Brazilian position among other
countries in the modern world.
Keywords: Defense industry, Defense Industry’s Brazilian National Policy; Logistics
and Mobilization.
2
1. INTRODUÇÃO
A Soberania e a Defesa de um país são garantidas, em último argumento,
pela existência e emprego de Forças Armadas (FA) com boa formação, adestradas e
dotadas de material bélico, capazes de sustentarem e imporem a sua vontade a um
oponente.
A Sociedade, por meio do Estado, é a responsável pela previsão e provisão
de pessoal e material para a Defesa de seu território, povo e riquezas. Além do
elemento humano, fundamental para o sucesso nas operações militares, os
materiais empregados devem ser adequados e suficientes para proporcionar a
vitória sobre o inimigo, objetivo fundamental de uma força armada.
Cada nação procura, por sua vez, dotar as suas FA com os Materiais de
Emprego Militar (MEM) necessários ao cumprimento de suas missões, quais sejam
armas, munições, eletrônicos, fardamentos, equipamentos, viaturas, carros de
combate, mísseis e foguetes, dentre outros tantos. Alguns países desenvolvem e
produzem os MEM necessários para suas FA, outros preferem adquirir no mercado
internacional, enquanto a grande maioria procura equilibrar a produção autóctone
com importações em grau variável, conforme o seu desenvolvimento econômico.
O Brasil, jovem nação sul-americana, não foge a regra dos conceitos acima
descritos. Em função disso e de suas necessidades de defesa, a sociedade
brasileira estabeleceu, ao longo da história, um segmento econômico voltado para o
desenvolvimento e produção de MEM para atender as suas FA e de países amigos.
Para tanto se fez (e se faz) necessário uma política com conseqüentes
estratégias de implantação. A atual Política de Defesa Nacional (PDN) brasileira foi
editada em 2005 e definiu a Estratégia da Dissuasão como prioritária. Para tal, torna-
se necessário a compreensão e desenvolvimento do Poder Nacional (PN) de forma
abrangente, não somente no campo militar, mas em estreita associação aos demais
campos – econômico, político, psicossocial e científico e tecnológico.
Neste conceito reside a importância estratégica da indústria de defesa para o
Brasil como Estado Nacional no concerto internacional. Ele associa as FA – campo
militar, o segmento nacional produtor de MEM – expressão econômica, os centros
de pesquisa em C&T – campo da C&T, a sociedade de forma geral – expressão
psicossocial – e o governo, expressão política.
3
1.1 INSERÇÃO HISTÓRICA
O descobrimento do Brasil em 1500 pelos portugueses evidenciou um
território com imenso potencial de riquezas materiais. Os brasileiros, em sua recente
formação histórica estão aprendendo a valorizar o imenso potencial existente, bem
como agregar valor, à medida que ocorre o fortalecimento dos valores nacionais e
de sua população, evidenciado pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 1.
As riquezas do território despertaram, por sua vez, a cobiça de muitos outros
povos no passado. A História nos mostra que ocorreram invasões holandesas e
francesas no Nordeste brasileiro e no Rio de Janeiro ao longo dos Séculos XVI e
XVII com o objetivo de estabelecerem colônias para aqueles países. Expedições
exploradoras inglesas e de outras nações estiveram no litoral brasileiro e, com
invulgar interesse, na região amazônica, ao longo de várias oportunidades. É lícito
supor que o interesse na preservação e na exploração econômica dos recursos
naturais brasileiros se constitui em um exemplo da atualização do interesse
internacional pelas riquezas nacionais por via indireta.
Em relação à atuação indireta, Cunha (2005) afirma que os grandes atores no
cenário internacional ainda são os Estados Nacionais, permanecendo assim por
muito tempo. Os demais atores influentes (empresas transnacionais, instituições
religiosas, associações de países, organizações não-governamentais – ONG) não
possuem território, população, estrutura política, judiciária e militar. Eles servem
como complemento ou intermediários no cenário montado pelos Estados.
Sob outro enfoque, o Brasil, como nação emergente, almeja o crescimento
econômico sustentável. Ao buscar este desenvolvimento sustentado, explorando as
suas riquezas e sua produção comercial, o país deverá ganhar novos mercados
mundiais, destacando-se entre os demais povos. Ocupa e ocupará espaços políticos
no cenário mundial (em especial, o sul-americano) que deslocarão outros países de
suas esferas de influência ou mercados. Apesar da crença brasileira na solução
pacífica dos conflitos2 expressa em sua Constituição Federal, esta “perturbação” 3 na
1 Brasil: 0,792 (69o lugar); valor considerado médio pela Organização das Nações Unidas (ONU). 2 PDN, 2005. 3 Cunha, 2005
4
ordem mundial poderá gerar reações, retaliações ou pressões estrangeiras sobre a
Vontade Nacional, atuando sobre os pontos fracos e vulnerabilidades nacionais.
Para fazer frente a essas ameaças que podem gerar um conflito militar, a
Defesa Nacional precisa estar atualizada, valendo-se de FA adestradas, com
equipamentos atualizados e com a menor dependência externa possível no
fornecimento de MEM. A Guerra das Malvinas/Falklands entre a Argentina e o
Reino Unido (RU), ocorrida na América do Sul em 1982, evidenciou a
vulnerabilidade do país platino ao suprimento internacional em MEM, favorecendo o
RU sobremaneira. Aquele conflito, além de outros tantos, próximos ou afastados no
espaço e/ou no tempo, servem de exemplo de que uma nação não deve confiar em
outras para garantir a sua segurança e/ou defesa.
1.2 SEGMENTO DE DEFESA
De acordo com Cunha (2005), este segmento nacional produtor de MEM é
atualmente conhecido como Base Industrial de Defesa (BID) no âmbito
governamental, enquanto no setor privado é denominado Indústria Brasileira de
Material de Defesa (IBMD). Essas denominações são válidas e se complementam. O
Ministério da Defesa (2005) conceitua a BID como o conjunto das empresas estatais
e privadas, bem como organizações civis e militares, que participam de uma ou mais
etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de
produtos estratégicos de defesa (bens e serviços) [acrescendo, portanto, a base
logística, científica e tecnológica].
1.3 OBJETIVO
Este artigo visa proporcionar ao leitor uma ambientação com a Indústria
Brasileira de Material de Defesa por meio de uma breve análise de seu
desenvolvimento histórico e da sua situação atual, concluindo-se sobre as
perspectivas para o futuro. O assunto é importante para a compreensão e
entendimento da atuação da sociedade brasileira por meio do segmento econômico
produtor de material militar (BID), das FA e do estágio de interação entre ambas.
A intenção do autor consiste em apresentar uma descrição dos pontos
históricos marcantes na Indústria de Defesa no Brasil a partir de uma pesquisa
5
bibliográfica sobre o assunto. Algumas conclusões parciais são emitidas para auxiliar
a compreensão dentro de uma perspectiva atualizada. Na conclusão, indica-se uma
possibilidade de prosseguimento para o setor em consonância com os objetivos do
Estado brasileiro, governo, FA, BID e da sociedade brasileira de forma geral.
2. HISTÓRICO
2.1 PRIMÓRDIOS – 1500 a 1762
Os primórdios da produção de MEM em terras brasileiras remontam à
construção naval conduzida de forma bastante incipiente por Portugal para proteger
a costa brasileira contra os ataques de piratas e cobiça estrangeira por novas terras
recém-descobertas. Segundo Cunha (2005), foram construídas embarcações
denominadas “caravelões” – pequenas caravelas, de 40 a 50 ton, 2 ou 3 mastros, 25
homens e 06 peças de artilharia em meados do Século XVI. Os portugueses
construíram embarcações costeiras em São Vicente enquanto Martim Afonso de
Souza, Capitão-Mor da Armada, construía pequenas embarcações de cabotagem no
Rio de Janeiro (RJ). A “Ribeira das Naus” foi criada em Salvador, Bahia, na mesma
época, sendo responsável pela produção de naus, fragatas, corvetas e bergantins
até o final do Século XIX.
Os colonos portugueses construíram fortificações para defesa do território,
bem como iniciaram expedições terrestres para exploração do interior, o Sertão. As
Entradas e Bandeiras, como vieram a ser conhecidas, incentivaram a produção de
mosquetes, pólvora e armas brancas4.
Esses mesmos colonizadores iniciaram também a instrução de artilharia,
dando origem ao ensino militar na colônia5. Aquele ensino viria a ser o embrião do
ensino técnico e científico brasileiro que, por sua vez, se tornaria o seio do qual
nasceria a atual tecnologia militar em meados do Século XX.
Constata-se a imensa preocupação dos primeiros colonizadores com a
defesa, especialmente em função do imenso litoral, variadas riquezas e dos
constantes ataques estrangeiros. Os portugueses foram eficientes exploradores e,
mesmo com os poucos recursos disponíveis à época, conseguiram preservar o
4 Cunha, 2005. 5 Pereira, 1994.
6
território em função de uma política bem planejada e de uma estratégia mundial bem
executada ao longo daquele período colonial. A União Ibérica – Portugal e Espanha,
entre 1580 e 1640 – também contribuiu em muito para a integridade territorial,
mantida com sucesso até a atualidade.
2.2 CICLO IMPERIAL – 1762 a 1889
Caracterizado como o ciclo dos Arsenais Militares6, inicia-se com a fundação
da “Casa do Trem de Artilharia” no Rio de Janeiro em 1762 pelo Vice-Rei de
Portugal Gomes Freire de Andrade. Em 1764, veio a receber a denominação de
“Arsenal do Trem”, agregando responsabilidades logísticas a sua finalidade primeira
de suprimento e reparação de material bélico para a defesa do sul do território em
constantes guerras e disputas territoriais entre Portugal e Espanha.
O “Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro” (AMRJ) foi organizado em 1763,
sendo que o primeiro navio de guerra produzido foi a Nau São Sebastião, com 1400
ton e 64 peças de artilharia, em 17677. Em 1765, foi inaugurada a “Fábrica de Armas
da Fortaleza da Conceição” e, em 1773, o “Trem de Guerra da Província do Rio
Grande do Sul”.
É importante ressaltar a criação da “Academia Real Militar” em 04 de
dezembro de 1810 pela corte real portuguesa, lançando os fundamentos do ensino
militar. Ela foi o primeiro centro difusor de ciências no Brasil, permitindo assim a
formação de engenheiros que viriam a trabalhar nos assuntos de defesa da nação.
A vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro e abertura dos
portos às nações amigas em 1808 marcou profundamente a história do Brasil.
Naquele ano, inaugurou-se a “Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas”, no
atual Jardim Botânico da cidade do Rio de Janeiro. Em 1824, ela foi transferida para
o distrito de Estrela, na Serra de Petrópolis, RJ. Esta unidade, hoje modernizada, é
denominada “Fábrica da Estrela” e está sob jurisdição do Exército Brasileiro (EB) por
meio da “Indústria Brasileira de Material Bélico” (IMBEL), empresa vinculada ao
Ministério da Defesa (MD) 8, produzindo compostos químicos e explosivos militares.
6 Amarante, 2004. 7 Telles apud Dagnino “A Indústria de Armamentos Brasileira: uma tentativa de avaliação”. Tese de doutoramento, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 1989. 8 Gabinete do Comandante do Exército (Gab Cmt Ex), 2003.
7
O “Arsenal do Trem”, por sua vez, foi transformado em “Arsenal de Guerra da
Corte” em 1811. Hoje é denominado “Arsenal de Guerra do Rio” (AGR), Organização
Militar (OM) do EB, com finalidade de fabricação de material bélico (armas e
munições) para as FA, notadamente o Exército.
A proclamação da independência em 1822 e o processo de sua consolidação
acentuaram a necessidade de defesa. O “Arsenal de Guerra de Porto Alegre” foi
criado em 1828 para aproximar o apoio logístico das operações militares que
ocorriam no sul do país em função dos conflitos na Província Cisplatina. Esta
organização foi transferida para o interior e denomina-se hoje “Arsenal de Guerra de
General Câmara”. Constitui-se em uma OM do Exército voltada para reparos de
pequena monta em equipamentos militares.
A Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), que reuniu Brasil, Argentina e
Uruguai contra o Governo do Paraguai, expandiu a produção de MEM,
especialmente pólvora, cartuchos, projéteis e belonaves. O Arsenal de Guerra da
Corte foi o “Centro Logístico” das tropas brasileiras. Muitos equipamentos foram
produzidos, porém não em quantidade suficiente, fazendo com que o país
recorresse às importações. O Exército se ressentia da falta de equipamentos e para
isso apelou para compras na Argentina durante o conflito, com pagamento em libras
esterlinas9.
A partir de 1857, segundo Pereira (1994), o AMRJ foi, praticamente, o único
centro de construção naval em território nacional. Neste período, o Brasil construiu
embarcações de guerra com base em projetos locais sofisticados e atualizados para
a época, sendo o segundo país, após os Estados Unidos da América (EUA), a
construir encouraçados10. Destacaram-se o encouraçado Sete de Setembro (1874),
o cruzador Almirante Barroso (1880) e o cruzador Tamandaré (1884).
Após a guerra e em função de seu elevado custo, o país viveu um período de
relativa estagnação na encomenda de material bélico. Vivia-se o auge da Revolução
Industrial no mundo e o Brasil, ao seu turno, uma tensa situação política e
econômica que culminaria na mudança na forma de Governo, com a adoção da
República em 1889. Segundo Cunha (2005), a ausência de uma base industrial
suficientemente ampla, bem como de investimentos, fizeram com que o Brasil
perdesse a corrida tecnológica e industrial daquele período histórico.
9 Pereira, 1994. 10 Dagnino, 1989.
8
À época, o Brasil estava atualizado no emprego de vários MEM, porém,
importados em sua maioria. O grande destaque foi a fabricação autóctone de
belonaves de combate. A produção era maciçamente governamental, pela própria
característica do período histórico e pela falta de uma estrutura produtiva adequada
em uma sociedade agrária, característica brasileira do Século XIX.
Conclui-se, parcialmente, que ao longo do ciclo real e imperial brasileiro, as
necessidades de defesa se fizeram sentir em função das ameaças à integridade
territorial e, em caráter especial, frente ao desafio da Guerra do Paraguai. A chegada
da família real foi o ponto de partida para uma série de organizações
governamentais militares produtoras de material bélico, algumas das quais existem
até os dias de hoje.
2.3 REPÚBLICA VELHA – 1889 a 1926
O ambiente político conturbado e uma reorganização profunda na Marinha e
no Exército inviabilizaram o crescimento da indústria de defesa neste período. A
diretriz básica inicial do governo era importar armamentos, especialmente da
Alemanha, estabelecendo-se oficinas locais para adaptação e manutenção11.
A proclamação da República veio a encerrar um período de desenvolvimento
da construção naval brasileira pela inexistência de uma programação industrial,
infra-estrutura adequada – principalmente siderurgia – e de operariado qualificado12.
Em 1898 foi fundada a “Fábrica do Realengo” que produzia munição para
armas portáteis, espoletas para granadas de mão, petardos, bem como
complementava o carregamento de granadas de artilharia e de morteiros. Em 1906,
fundou-se a “Fábrica de Pólvora sem Fumaça” em Piquete, no estado de São Paulo
(SP), com a finalidade de produzir explosivos (dinamite e TNT), propelentes e
pólvoras de base simples e dupla. Estes produtos atendiam, também, ao mercado
civil. Hoje esta última unidade fabril é denominada “Fábrica Presidente Vargas” e
está incorporada à IMBEL.
Em 1911 iniciou-se a construção de um avião na “Fábrica de Cartuchos e
Munições do Exército” no Rio de Janeiro. A iniciativa contou com pouco apoio,
levando cerca de seis anos para a construção do aparelho. Situação similar viria a
11 Gab Cmt Ex, 2003. 12 Pereira, 1994.
9
ocorrer cerca de meio século depois com a aeronave turbo-hélice de asa fixa
Bandeirante, porém com bastante sucesso.
A 1ª Guerra Mundial não trouxe benefícios ao setor13. Ocorreu o rompimento
do Brasil com a Alemanha e o alinhamento com a França, marcado pela presença
da Missão Militar Francesa, que muito influenciou o pensamento militar brasileiro,
especialmente no Exército.
Conclui-se que, para o setor de produção bélica, aquele foi um período de
transição entre o final do Império e o início do Estado Novo no país. A emergente
república enfrentava muitas dificuldades regionais no seu processo de afirmação e
as FA, principais clientes de material bélico, estavam envolvidas em processos de
afirmação e de reorganização importantes.
2.4 CICLO DAS FÁBRICAS MILITARES14
A década de 1930 assinalou o primeiro ciclo industrial militar brasileiro
utilizando tecnologias estrangeiras, sob licença ou adquiridas. Um grande programa
de nacionalização de produtos de defesa foi organizado. Nesta época, o Brasil não
fabricava MEM pesados, quais sejam canhões, obuseiros e metralhadoras. O país
não dispunha de indústria siderúrgica, fundamental para a fabricação de grandes
armas, bem como não estava envolvido em guerras de fronteira ou problemas
marítimos imperativos, que justificassem um elevado gasto em defesa a curto
prazo15.
O Exército procurou se adaptar ao surto de modernização da época. Para
isso, implantou uma série de fábricas sob sua administração direta: “Fábrica de
Andaraí” (1932), destinada à produção de granadas de artilharia e morteiros;
“Fábrica de Curitiba” (1933), com produção de trens de campanha hipomóveis,
cozinhas, pontões de engenharia e equipamento geral de transporte; “Fábrica de
Armas”, depois denominada “Fábrica de Juiz de Fora” (1933) e que se destinava à
fabricação de espoletas e estopilhas, granadas de artilharia e morteiro, assim como
estojos e tiros de artilharia – em operação junto a IMBEL; “Fábrica de Itajubá”
(1933), com produção de armamento leve e de uso pessoal, hoje integrada à IMBEL;
13 Pádua, 2005. 14 Amarante, 2004. 15 Gab Cmt Ex, 2003.
10
“Fábrica de Bonsucesso” (1933), que produzia gases de combate e máscaras contra
gases; e, “Fábrica de Material de Comunicações” (1939), a primeira do tipo no país,
suprindo o Exército com equipamento de telefonia de campanha, hoje denominada
“Fábrica de Material de Comunicações e Eletrônica” (FMCE) e incorporada à IMBEL.
O Ministério dos Transportes estabeleceu uma unidade montadora de aviões
em Lagoa Santa, estado de Minas Gerais (MG) ao final da década de 30, que depois
seria repassada a Força Aérea Brasileira (FAB), quando da formação do Ministério
da Aeronáutica em 1941. Esta organização chegou a produzir aviões Fairchild
PT19B Cornell e T-6 Texans durante a 2ª Guerra Mundial com bastante sucesso16.
O AMRJ também foi modernizado neste período.
De acordo com Conca (1997), interrupções nas linhas de financiamento e
limitação em pessoal técnico especializado continuaram a assombrar o setor de
defesa e a confiança nos fornecedores externos permaneceu como a norma para o
suprimento em material bélico pesado para as FA brasileiras ao longo do período.
Falta de capital de investimento e ausência de fornecedores também dificultaram a
expansão do setor produtivo de defesa. Entretanto, o surgimento da siderurgia
pesada (Volta Redonda) neste período viria a proporcionar a base para o
crescimento do setor em maior escala nos anos seguintes.
A participação da iniciativa privada na produção de armamentos apareceu
pela primeira vez em 1926, com a fundação da empresa “Amadeo Rossi & Cia” em
Caxias do Sul, estado do Rio Grande do Sul (RS), destinada a produzir espoletas
para cartuchos e espingardas de caça. No mesmo ano, ocorreu o surgimento da
“Companhia Brasileira de Cartuchos” (CBC) no município de Santo André, SP, para
a produção de munição leve. As “Forjas Taurus” surgiram no RS em 1939,
produzindo armas leves. Atualmente, a CBC e as Forjas Taurus são grandes
produtoras de armamento e munição leve no mercado nacional e internacional.
Conclui-se que este foi um período marcante para a indústria de defesa no
Brasil. Auxiliada pelos ventos modernizantes da época, a Base Industrial de Defesa
pode se estabelecer, apesar de se voltar basicamente para a fabricação, com a
formação de recursos humanos e a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ainda em
segundo plano.
16 Conca, 1997.
11
A 2ª Guerra Mundial, porém, apanhou o país desprevenido na produção
bélica nacional, fazendo-o buscar aliança com os EUA. Em 1944, a 1ª Divisão de
Infantaria Expedicionária (DIE) Brasileira combateu na Itália ao lado dos Aliados
contra os alemães, sendo basicamente organizada com MEM de origem norte-
americana, iniciando-se um período de dependência externa bastante elevada no
setor de defesa.
2.5 ACORDO MILITAR BRASIL / EUA – 1952 a 1976
Após o conflito mundial, aprofundou-se a vinculação brasileira ao apoio
logístico de MEM provindos dos EUA. Esta dependência foi oficializada mediante o
Acordo de Cooperação Militar (Military Assistance Program) estabelecido em 1952,
por meio do qual o Brasil receberia material bélico norte-americano a custo mínimo,
sujeitando-se a cláusulas restritivas no seu emprego. Segundo Conca (1997),
confirmado por Acocella (2006), isso provocou um forte desestímulo à produção
nacional de MEM para as FA brasileiras, acrescido da relutância do capital privado
em participar em iniciativas neste segmento de produção. A IBMD viveu um período
de estagnação e retrocesso17.
Conclui-se que a dependência bélica foi nefasta para o desenvolvimento
autóctone adequado do país no setor, pois provocou o acomodamento natural das
FA em receber o produto pronto.
Este acordo durou cerca de vinte e cinco anos, sendo denunciado pelo Brasil
durante o Governo Geisel em 1975. Naquele ano, o governo federal criou a IMBEL,
empresa que se encarregaria de produzir material de uso para o Exército,
procurando-se dependência mínima às importações no setor de defesa.
A Marinha e a Força Aérea procurariam tomar outros rumos, porém atrelados
a uma política governamental de apoio à indústria nativa, conforme será visto
adiante. A retomada da idéia da exportação de material bélico ocorreria em 1976.
O acordo militar foi válido durante o período visto a seguir. Observa-se,
porém, que ao longo dele, enquanto se recebia MEM diretamente dos EUA, ocorria,
também, a formação e a especialização dos engenheiros e técnicos que
trabalhariam na fase áurea das décadas de 1970 e 1980.
17 Cunha, 2005.
12
2.6 CICLO DA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P & D) – 1940 aos dias atuais
A participação na 2ª Guerra Mundial ao lado dos EUA mostrou aos militares
brasileiros a importância fundamental da tecnologia no desempenho vitorioso dos
Aliados. Com a finalidade de desenvolver a P&D no Brasil, as FA envidaram
diversos esforços, entre eles a criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
em 1947, da Escola Superior de Guerra (ESG) (1948) e do Conselho Nacional de
Pesquisa (1951). De acordo com Ribeiro (1994), estas organizações foram a base
do processo de criação das indústrias de defesa no país, dando início à capacitação
tecno-científica militar do Brasil.
Na ESG, surgiu o conceito de Segurança e Desenvolvimento, associado ao
aprimoramento da doutrina militar. Esta escola se mostrou como uma das primeiras
tentativas de associação de interesses entre as FA, bem como de esforço para
engajar as elites nacionais em assuntos de Defesa, segundo Conca (1997),
almejando, dentre muitos objetivos, o desenvolvimento da BID.
A Força Aérea Brasileira (FAB) se beneficiou do ITA, que deu origem ao
Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, em 1950. Atualmente,
ele recebe a denominação de Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial e é
responsável, dentre outros projetos de vulto, pelo Veículo Lançador de Satélites
(VLS) do Programa Espacial Brasileiro, em associação com a Agência Espacial
Brasileira (AEB). Em 1969, a FAB fundou a Empresa Brasileira de Aeronáutica
(EMBRAER) – hoje privatizada – para a produção de aeronaves, apoiando o projeto
de pesquisadores brasileiros que desenvolviam o avião Bandeirante anteriormente
referenciado.
A Marinha, por sua vez, tomou outro caminho. Estabeleceu convênio com a
Escola Politécnica de São Paulo para um curso de engenharia naval em 1955. Em
1959, ela ativou curso semelhante com a Universidade Federal do Rio de Janeiro,
assim como criou o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM). Em 1982, a Marinha
viria a criar a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), com a
finalidade de gerenciar projetos e promover a indústria militar naval.
A Marinha estabeleceu uma liderança ativa no desenvolvimento da energia
nuclear e dos programas eletrônicos no país. O Conselho Nacional de Pesquisas
13
(CNPq) foi fundado pelo Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva em 1951 para
consolidar o controle estatal sobre as atividades nucleares18.
O Exército, ao seu turno, realizou a fusão da Escola Técnica do Exército com
o Instituto Militar de Tecnologia em 1959, dando origem ao Instituto Militar de
Engenharia (IME), com sede na cidade do Rio de Janeiro. O Instituto de Pesquisa e
Desenvolvimento (IPD) foi estabelecido em 1970, o Centro Tecnológico do Exército
foi criado em 1982 e o Instituto de Projetos Especiais (IPE) ativado em 1986; todos
formadores, na atualidade, do Complexo Tecno-científico de Guaratiba, RJ.
O óbice da inexistência de mão-de-obra nacional qualificada em Defesa e de
corpo técnico especializado em P&D começava ser superado.
Em 1963, o governo brasileiro criou o Grupo Permanente de Mobilização
Industrial (GPMI), em articulação com o empresariado nacional, com o objetivo de
atuação em conjunto em prol dos interesses nacionais19. O empresário Vitório Ferraz
foi escolhido como primeiro presidente deste grupo, que tinha representantes da
Marinha, Exército, Aeronáutica e da principal associação industrial, a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
O GPMI estabeleceu comissões conjuntas das FA e das indústrias para o
desenvolvimento de veículos militares, aviação, equipamento naval, eletrônica,
comunicações, armamento, munição, equipamentos médicos, produtos
farmacêuticos, alimentação e fardamento. Segundo Silberfield, apud Conca (1997)20,
a importância do GPMI residia na sua condição de estrada de mão-dupla: as
empresas obteriam informações e oportunidades para se desenvolverem na área de
Defesa, enquanto o governo obteria informações da capacidade industrial instalada.
Este grupo atingiu sua máxima efetividade entre 1964 e 1967, facilitando a entrada
de empresas privadas nacionais no segmento de defesa e estabelecendo padrões
de relacionamento entre civis e militares. Infelizmente teve dificuldades para
demonstrar aos empresários da BID a integração existente entre modernização
tecnológica, mobilização industrial e segurança nacional.
Conca (1997) ressalta a importância de, ao se estudar a BID no período,
verificar três conjuntos de relacionamentos: a interação entre FA e as elites
econômicas (BID); a relação dos militares com a burocracia governamental, bem
18 Conca, 1997. 19 Pereira, 1994. 20 Jean-Claude Eduardo Silberfield, “Mobilização Industrial”, Política e Estratégia 5, p. 586-587, 1987.
14
como o relacionamento entre os diversos setores internos das FA [diferentes FA,
diferentes setores operacionais, técnicos (C&T), de pessoal e logísticos].
Segundo Amarante (2004), o acerto no planejamento e na execução de
políticas governamentais de fomento em Pesquisa & Desenvolvimento e de fomento
industrial no período de 1965 a 1985 foram fundamentais para o sucesso alcançado
pelo setor de Defesa na segunda metade da década de 1980.
Conclui-se evidenciando a preocupação acertada dos governantes da época
com o planejamento de longo prazo e visão de Estado para o setor de defesa. A
formação de pessoal especializado aproximou o país com o que havia de mais
moderno em tecnologia com aplicação bélica. A BID também se valeu das indústrias
de base que foram montadas nos anos anteriores para o fornecimento de insumos.
O setor iniciava o seu crescimento.
2.7 PERÍODO ÁUREO – Década de 1970 até o início da década de 1990
Ao longo destes anos, o Brasil procurou desenvolver uma tecnologia nativa
que atendesse as suas necessidades militares, bem como produzir MEM em larga
escala, gerando divisas pelas exportações e retro-alimentando o setor. Segundo
Franko-Jones apud Proença Júnior (1992)21, o país chegou a ser um dos principais
exportadores mundiais de armas convencionais, com vendas anuais de mais de
quinhentos milhões de dólares, em meados dos anos oitenta (ver Tabela 2). Além
das FA brasileiras, os principais compradores de MEM nacionais foram os países da
América do Sul, África e Oriente Médio.
A produção de MEM era feita por meio de empresas públicas, de economia
mista e privada, com predomínio das últimas. As empresas criadas ou que se
expandiram neste período foram, dentre outras, a EMBRAER, ENGESA, AVIBRAS,
BERNARDINI, MOTOPEÇAS, ENGESA-QUÍMICA, DF VASCONCELOS, CBV,
NOVATRAÇÃO, PRÓLOGO, SITELTRA, IMBEL, HELIBRAS, EMGEPRON,
VALPARAÍBA, CONDOR, BRITANITE, BEMESA, TEREX22 (ver Tabela 1).
A Marinha construiu duas fragatas (Classe Niterói) sob licença britânica em
um programa iniciado em 1972. Este programa permitiu a modernização do AMRJ,
21 Patrice Franko-Jones, “The Brazilian Defense Industry”, Boulder, Colorado, Westview Press, 1992, capítulo “The Brazilian Defense Industry in Crisis 22 Pereira, 1994.
15
que viria a abrigar outros programas de construção sob licença no Brasil. Foi o caso
da construção de corvetas brasileiras com assistência técnica alemã e,
principalmente, dos submarinos convencionais alemães da classe IKL-209-1400 –
cinco no total.
O período foi relativamente curto, com o ápice na segunda metade da década
de 1980. Destacaram-se as empresas ENGESA, AVIBRAS e EMBRAER. Os Carros
de Combate (CC) CASCAVEL e OSÓRIO, o Veículo Blindado de Transporte de
Tropas (VBTP) URUTU, o Lançador Múltiplo de Foguetes (LMF) ASTROS II, o avião
de treinamento militar T-27 TUCANO, bem como munição e armamento leve, foram
(e ainda o são) exemplos de sucesso criados por estes atores. Estes produtos de
elevada tecnologia, devidamente comprovados no combate moderno (Guerra Irã –
Iraque, Guerra do Golfo Pérsico), capacitaram e capacitam o parque industrial
brasileiro a prosseguir no desenvolvimento e produção de MEM modernos e
eficazes.
Enquanto as FA formavam recursos humanos e coordenavam atividades de
pesquisa tecnológica, as empresas investiam na produção e exportação, muitas
vezes com financiamento governamental e apoio do Ministério das Relações
Exteriores (MRE), por meio do Programa Nacional de Exportação de Material de
Emprego Militar (PNEMEM) estabelecido em 1976.
O êxito da IBMD foi fruto da continuidade [em todo o período considerado]
de ações governamentais de apoio ao setor e, especialmente, da confiança
mútua [grifo nosso] entre as FA brasileiras e as empresas nacionais produtoras de
MEM23.
Conca (1997) aponta algumas características gerais importantes para o setor
de defesa: crescimento conduzido pelo Estado; limitadas ligações entre as empresas
do setor com o setor de C&T nacional como um todo; mistura de funções e de
responsabilidades entre o setor público e o privado; lógica de produção comercial e
escolhas tecnológicas pragmáticas.
A conclusão parcial aponta para uma sinergia24 entre o governo, FA e
empresas da BID. Esta foi a chave do sucesso do período áureo da indústria de
defesa no Brasil.
23 Carvalho, 2006. 24 Ato ou esforço coordenado de vários órgãos na realização de uma função (Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, Ferreira, 2004).
16
2.8 DECLÍNIO – 1990 a 2002
No cenário internacional, o final da Guerra Fria e o término da Guerra do
Golfo Pérsico (1991) diminuíram as encomendas de armas. A oferta de MEM no
mercado foi aumentada pela presença de excedentes e de novos países produtores.
A conjunção daqueles fatores, em associação ao estabelecimento de barreiras
tecnológicas pelos países mais desenvolvidos – Missile Tecnology Control Regime
(MTCR), entre outros, impôs sérias dificuldades às empresas nacionais.
É interessante a observação da área de inteligência internacional à época,
transcrita a seguir:
OPERATIONS – Proliferation – The rule of the “8 D’s” – During preparatory meetings leading up to the NATO 10-11 January summit in Brussels, senior Pentagon officials visited major European capitals and attempted to explain the new American concept of the fight against arms proliferation. [...]. For the American DoD counter-proliferation is spelled out in “8 D’s”. [...] Dissuasion [...], Denial [...], Disarmament and arms control are to be carried out in the framework of the various international agreements such as the Non Proliferation Treaty, to establish nuclear free zones, to push for ‘roll back’ such as in the cases of the Brazilian ballistic missile (grifo nosso), the South African nuclear program and American-Soviet biological weapons; Diplomatic Pressure [...], Defusing [...], Deterrence [...], Destruction [...], Defense [...]. (Intelligence Newsletter, Paris – France, 13 January 1994 – Page 07).
Segundo Cunha (2005), os EUA passaram a defender que o emprego das FA
dos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, deveria ser voltado para
problemas internos, delegando a defesa externa à potência hegemônica. Essa
observação, associada à referência bibliográfica anterior, permite inferir a maneira
direta, objetiva e pragmática com que alguns dos países detentores de tecnologia
moderna e principais produtores de MEM no mercado mundial atuaram (e continuam
atuando) contra possíveis ou prováveis concorrentes neste disputado e fechado
mercado mundial.
Internamente, a situação também não foi favorável. Os reduzidos orçamentos
das FA brasileiras, os altos custos de produção e, principalmente, a falta de incentivo
governamental – por meio de políticas adequadas ou de sistemáticas aquisições de
MEM nacionais, foram os principais fatores determinantes para o declínio na
produção de MEM25. Esta situação provocou o fechamento de muitas empresas.
Outras tantas migraram para setores nos quais pudessem utilizar o conhecimento, a
25 Rodrigues, 2002.
17
mão-de-obra e o parque fabril (diversificação), sob pena de falência, o que ocorreria
de forma emblemática com a ENGESA.
No campo interno, Cunha (2005) acrescenta que o fim dos governos militares
no ano de 1985 e a conseqüente chegada ao poder de novas tendências políticas
criaram uma reação anti-militar, não da sociedade, mas dos novos governantes.
Segundo ele, a adoção de medidas para manter os militares afastados da
política interna levou o governo a subestimar conceitos militares essenciais à
defesa do país [grifo nosso].
Conca (1997) relata que as indústrias de defesa entraram em colapso porque,
resultado que eram de condições favoráveis de governos atuantes no setor e
mercado mundial receptivo durante a fase áurea, não se prepararam eficazmente
para enfrentar as turbulências advindas da mudança de orientação governamental e
da crescente competição no contexto internacional.
Ficou evidenciado, ao longo do período de declínio, um forte conflito de
interesses entre os principais atores do segmento de defesa que anteriormente
estavam bastante alinhados. Os reflexos desse “rompimento” se fazem sentir até os
dias de hoje. A BID, as FA, os centros de P&D, os órgãos governamentais, as
empresas multinacionais do setor que atuam no Brasil (e seus governos) buscam
uma nova trajetória de crescimento sustentado.
3. ATUALIDADE
3.1 FORÇAS ARMADAS
Nos últimos quatro anos, o investimento em MEM nacionais foi bastante
reduzido. O contingencionamento de verbas governamentais foi bastante grande no
investimento em reaparelhamento das FA.
O destaque na área naval ficou por conta do submarino convencional Tikuna
(S 34) produzido no AMRJ em 2005, seguindo a estratégia de aquisição do domínio
completo do ciclo “Projeto, Construção e Reparação”. A Marinha enfrenta,
entretanto, um processo crescente de obsolescência de seus meios, com uma
premente necessidade de modernização e aquisição de novas belonaves que
proporcionem a adequada defesa da Amazônia Azul brasileira. Afinal, esquadras
não se improvisam...
18
O Exército se encontra na definição de uma Nova Família de Blindados sobre
Rodas (NFBR). O programa teve início no alvorecer da década atual e sofreu várias
modificações. A empresa AVIBRAS chegou a produzir um protótipo denominado
Guará, mediante convênio estabelecido com o Estado-Maior do Exército (EME) e
com o IPD, porém uma reorientação nos requisitos operacionais do Exército
interrompeu o seguimento do projeto. O EB estabeleceu convênio, também, com o
Exército Argentino e desenvolveu uma viatura leve de emprego geral
aerotransportável denominado Gaúcho, atendendo diretriz governamental de
integração com a Argentina para o fortalecimento do MERCOSUL. Esta viatura se
encontra em fase de testes nos dois países.
Cumpre ressaltar a importante (e promissora) reorganização que o EB
promoveu na área de C&T por meio do estabelecimento do Departamento de
Ciência e Tecnologia (DCT), produto da fusão da Secretaria de Ciência e Tecnologia
com a Secretaria de Tecnologia da Informação. Espera-se que isso implique na
melhoria da interface desta instituição com a BID e a sociedade como um todo,
resultando na pesquisa, desenvolvimento e produção de novos MEM.
A Força Aérea Brasileira, por sua vez, enfrentou a interrupção do Programa
FX no qual buscava o desenvolvimento de um caça supersônico para a defesa
aérea. Contratos para modernização de aeronaves turbo-hélice Supertucano (AT-29)
e supersônicas F-5M ‘Northrop’ foram assinados com empresas nacionais. Outros
contratos para compras de aeronaves foram assinados, entre eles aquele para
fornecimento de doze aviões espanhóis CASA-C295.
O MD, ao seu turno, estabeleceu a Comissão Militar da Indústria de Defesa
(CMID) em 2005. Os objetivos desta comissão são coordenar os estudos relativos
ao fomento às atividades de pesquisa, desenvolvimento, produção e exportação de
produtos de defesa, integrando essas atividades; estabelecer um fluxo adequado de
informações entre o MD e os demais órgãos civis e governamentais envolvidos, bem
como capacitar os recursos humanos necessários para tal.
3.2 BASE INDUSTRIAL DE DEFESA
As empresas da BID estão organizadas em associações. Dentre elas se
destacam a Associação Brasileira das Indústrias de Defesa (ABIMDE) (44
empresas), a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) (28
19
empresas), o Sindicato Nacional da Indústria de Material de Defesa (SINDE) e o
Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa (COMDEFESA), este último com
o suporte da FIESP. A ABIMDE foi recentemente revigorada e tem procurado atuar
com realismo e efetividade (ver Tabela 3).
O faturamento das empresas [...] foi da ordem de 12 (doze) bilhões de reais [aproximadamente cinco bilhões de dólares norte-americanos (USD)] em 2004, do qual 12% no setor de defesa [cerca de 580 milhões USD]. As exportações foram em torno de 3,6 bilhões USD, com cerca de 14% em produtos de defesa [aproximadamente 500 milhões USD]. [Naquele ano] o número de empregos diretos [era da ordem] de aproximadamente 38.000, com 19% [cerca de 7200 pessoas] em atividades de defesa. O elevado número de empregos indiretos [...] não está calculado. (Cunha, Marcílio Boavista. Indústria Brasileira de Material de Defesa, 2005).
De acordo com Carvalho (2007), as empresas nacionais do segmento de
Defesa vivem grandes dificuldades decorrentes principalmente pela falta de
conscientização das autoridades governamentais em relação ao setor. Segundo ele,
os recursos destinados aos investimentos (reaparelhamento) das FA são reduzidos
ano após ano, diminuindo consideravelmente a capacidade de aquisição de novos
equipamentos, sendo que grande parcela do orçamento programado normalmente
vem a ser contigenciado antes de sua efetiva utilização. Complementa
acrescentando que o mais grave é que as poucas aquisições são feitas no exterior,
em detrimento das empresas brasileiras.
Segundo Pádua (2003), a BID demonstra potencial para, em se manifestando
a vontade nacional, colocar-se em um patamar compatível com a necessidade
brasileira.
3.3 APOIO GOVERNAMENTAL
A criação do MD em 1999 trouxe uma nova visão na coordenação de esforços
no nível governamental para o segmento de Defesa ao buscar englobar o
pensamento das FA brasileiras. Publicada em 2005, a Política de Defesa Nacional
(PDN) proporcionou a elaboração da Política Nacional da Indústria de Defesa
(PNID). Esta última deu origem às Ações Estratégicas para a PNID, editadas em
2006. Este arcabouço institucional pretende incentivar a retomada da produção
nacional de MEM em patamares mais elevados, buscando repetir e melhorar o
sucesso das décadas de 1970 e 1980.
20
De acordo com Carvalho (2007), Diretor-presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) no triênio 2003/2006, o
apoio governamental ao setor pode ser classificado em cinco setores:
• Militar – os integrantes das FA reconhecem e apóiam o setor nas suas
possibilidades, inclusive com o apoio e promoção às indústrias nacionais nas
aditâncias militares brasileiras no exterior;
• Promocional – o apoio à ABIMDE acontece por meio da Agência de
Promoção às Exportações do Brasil (APEX), do Ministério da Indústria e
Comércio (MDIC), evidenciado na Exposição de Eurosatory em 2006;
• Político – apoio [praticamente] inexistente junto aos governos estrangeiros de
possíveis clientes da indústria bélica nacional, ao contrário de outros países;
• Diplomático – Bastante reduzido, com raras exceções positivas, pois, de
maneira geral, os representantes do MRE não apreciam atividades
comerciais, muito menos em se tratando de MEM;
• Financeiro – Inexistente, pois as principais entidades financeiras do país
como o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) se recusam a
qualquer tipo de apoio em financiamento para vendas ao exterior ou
garantindo contratos eventualmente firmados no mercado internacional.
Em complemento, afirma que há necessidade de uma Política de Estado para
o setor, não de governos, com estabelecimento de normas. Para o mercado interno,
[deverá haver] orçamento real e impositivo para o investimento das FA,
proporcionando uma carga de trabalho programada para as indústrias.
3.4 LIÇÕES HISTÓRICAS A SEREM APRENDIDAS
Citando Cunha (2005), a primeira lição a ser elencada é a de que os produtos
de defesa que forem concebidos e desenvolvidos (C&T) somente cumprirão sua
função se vierem a ser produzidos (inovação e indústria, preferencialmente privada)
e tornados operacionais, bem como eficientemente distribuídos, instalados, aferidos,
mantidos e supridos de itens de consumo e de sobressalentes (logística das FA).
A segunda lição se refere à integração institucional. Os principais setores da
sociedade brasileira precisam ser envolvidos com o tema Defesa. Os atores
21
principais (FA, BID) necessitam de trabalho conjunto, harmônico e interdependente,
associados com maior ênfase à área de C&T das instituições educacionais.
Uma terceira lição está relacionada à importância da compreensão da
sociedade sobre Defesa, em particular sobre a necessidade fundamental da
existência de uma BID forte. Este autor entende que dois principais caminhos se
apresentam para alcançar a sociedade: a caracterização da ameaça à própria
sociedade (terrorismo, por exemplo) – bastante difusa no Brasil, porém ameaçadora
a longo prazo – ou por meio da educação. Quanto à educação, entende-se que o
aumento da integração dos estudos entre as escolas militares, congêneres civis,
centros de pesquisa em C&T e empresas privadas e governamentais é fundamental
e urgente para proporcionar massa crítica em especialistas e fomentar a discussão
do tema em ambiente acadêmico.
A lição seguinte se refere ao emprego do planejamento de longo prazo no
setor de Defesa. Felizmente, o momento é oportuno para se falar a respeito. O
incremento do Planejamento Estratégico (empresarial e/ou militar) e da Excelência
Gerencial são fundamentais para a sobrevivência das FA e das empresas, em
função de um processo de mundialização cada vez mais acelerado, onde as
ameaças difusas utilizam a estratégia indireta para alcançarem seus objetivos. A
realidade não admite amadorismos empresariais e/ou militares. Cunha (2005) relata
que é preciso padronizar, uniformizar, compatibilizar especificações, desenvolver
produtos similares para aplicações civis e selecionar o que deve ser atendido com
prioridade.
Outro ensinamento, atrelado ao anterior, afirma a necessidade de
continuidade no planejamento, ou melhor, liderança e constância de propósitos26,
estratégia adequada e um comprometimento na execução do que foi planejado. Este
é um óbice cultural de difícil superação no Brasil, notadamente em muitas de suas
instituições. A falta de continuidade conduziu, por exemplo, à perda de capacitações
(pessoal especializado, laboratórios, programas, documentos) conquistadas ao
longo dos anos com sacrifícios enormes. Conquistas e reconquistas foram feitas. A
tecnologia de construção naval é um exemplo dessa situação27.
Uma última lição, não menos importante: definir uma política especial de
aquisição de material de defesa à semelhança do que ocorre com outros países
26 Plano de Excelência Gerencial do Exército Brasileiro, 2006. 27 Cunha, 2005.
22
(Buy American Act, EUA, por exemplo). A legislação atual é perversa, pois privilegia
a importação de MEM com taxas próximas de zero, enquanto a incidência de
impostos em produtos nacionais é de mais 40%. Cunha (2005) nos indica outra
situação crítica: os órgãos do governo podem receber financiamentos externos para
importação, porém não podem receber financiamento interno para compra de
material nacional.
Estas lições estão em consonância com a opinião do Embaixador Samuel
Pinheiro Guimarães, do Ministério das Relações Exteriores:
[...] reconhecer a urgência da definição detalhada de uma estratégia militar própria para o Brasil e para a América do Sul. Essa estratégia de defesa deve ter natureza civil-militar, tendo como objetivo a indispensável autonomia de desenvolvimento tecnológico-militar e de suprimento de material bélico. No processo de sua elaboração doutrinária, os Estados-Maiores e as escolas tradicionais de elaboração de doutrina podem e devem se articular de forma eficaz com outros organismos da administração cuja competência tenha natureza estratégica global, interna e externa. [...] (Guimarães, Samuel Pinheiro. Desafios Brasileiros na Era de Gigantes, 2006, p. 336).
3.5 PROSPECÇÃO
Não obstante o difícil quadro da realidade, alguns indicadores se mostram
oportunos a uma reativação do setor, quais sejam:
• A necessidade premente do reequipamento das FA, pois o ciclo de vida de
vários MEM está muito próximo do fim;
• Permanência (continuidade) da mesma equipe política no governo federal em
função do resultado da última eleição presidencial, favorecendo a
continuidade dos esforços;
• Amadurecimento da estrutura e da atuação do MD junto aos setores
produtivos, governo e FA;
• Crescente interesse da sociedade nos assuntos de Defesa, como
demonstrado nos últimos Fóruns sobre Tecnologia Militar da empresa
“Dinheiro Vivo” em São Paulo (2005 e 2006);
• Crescente apoio político ao estudo dos assuntos de Defesa, exemplificado na
condução do Seminário sobre a Política de Defesa para o Século XXI,
conduzido pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
(CREDN) do Congresso Nacional em 2003;
23
Os indícios acima são tímidos, porém podem servir de pontos de partida para
um esforço coordenado de atuação, transformando problemas em desafios; crises,
em oportunidades de melhoria; sonhos em realidade.
Um aspecto, porém se considera fundamental: atenção na forma como a
guerra está sendo conduzida no presente e como ela poderá vir a ser conduzida no
futuro. Quais os MEM mais adequados para tanto?
A referência e respeito ao passado é fundamental, porém muitas guerras
foram perdidas porque se acreditava que os combates seriam conduzidos da mesma
forma com que haviam sido estudados. Smith28 (2006) nos relata uma tendência da
guerra moderna conduzida ‘entre as pessoas’ [among the people], com diminuição
do elevado consumo de munição [‘firepower’, característico do século XX] e aumento
considerável do valor da Informação [information] como arma, impondo
psicologicamente a sua vontade sobre o inimigo.
4. CONCLUSÃO
A BID possui um histórico respeitável, característico de um país em
construção como o Brasil. O segmento alternou períodos de expansão e retração em
função de conflitos em que o Brasil tomou parte e sofreu reflexos, frutos da
conjuntura nacional e internacional das diferentes condições históricas. O histórico é
de dificuldades com alguns pequenos períodos de bons resultados.
A base industrial instalada é bastante significativa, assim como a qualidade
dos pesquisadores e dos profissionais ligados às indústrias, empresas,
universidades e às FA brasileiras.
O elevado desempenho quantitativo e qualitativo da produção nos anos
oitenta foi o grande marco das indústrias de material de defesa no passado recente.
As políticas governamentais de incentivo à P&D, às indústrias de defesa e às
exportações foram bem planejadas, bem executadas e tiveram continuidade ao
longo daquela época. Somava-se a isto, a atuação coordenada e o espírito de
confiança entre as FA e a BID. Havia sinergia. O resultado se mostrou excelente.
Atualmente, a BID vive um momento de expectativa favorável a sua
expansão, especialmente no início de 2007. Espera-se que seja possível se
28 Comandante da Divisão Blindada Britânica na Guerra do Golfo Pérsico de 1990-1991.
24
caminhar do discurso à prática. Quer seja no reaparelhamento das FA brasileiras,
agregando-se valor aos produtos nacionais, quer seja exportando MEM de
reconhecido valor agregado para demais países. Em ambas as situações, este
segmento sairá fortalecido.
Uma pergunta. O quê e como fazer para que a BID não se torne vítima de um
passado de sucesso, não sendo capaz de repetir o êxito no presente?
Entende-se que o caminho passa pela superação dos interesses e práticas do
passado recente que permanecem em muitos, impedindo o aparecimento de novas
técnicas que poderiam facilitar o entendimento mútuo dos principais atores. Vencer
os personalismos ainda existentes e que foram resultados dos sucessos alcançados
– e também de fracassos – é outro ponto a ser considerado. Conca (1997) indica,
também, o estabelecimento de uma divisão nítida de responsabilidades entre o setor
público e o privado como facilitador dos processos.
Uma certeza: há necessidade do aprimoramento do relacionamento das FA
com a BID e vice-versa, em consonância com o fortalecimento natural do MD e o
aumento de sua participação no controle dos investimentos em aquisições de MEM
nacionais. É mister a integração de esforços institucionais e empresariais.
Conjugar o pensamento à ação. Esta é a principal dificuldade.
Este autor entende que para tanto, um primeiro passo. Acredita-se que a
organização de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT) entre cada Força Singular e
as respectivas empresas da BID, em caráter inicial, e com o MD em um futuro
mediato, seria um bom ponto de partida neste sentido.
Entende-se que seja necessário conduzir o trabalho em etapas, de uma forma
educativa (tanto para as FA, MD, quanto para a BID), evitando erros de interpretação
ocorridos no passado ou que eventuais sucessos isolados turvem a visão do todo.
Um processo conduzido em uma cadência lenta, mas constante, poderá vir a
permitir: a superação de possíveis (e saudáveis) mudanças de orientação
governamental; o adequado entendimento interno da crescente participação do MD;
assim como as pressões (políticas e econômicas) do exigente e restrito mercado
mundializado (leia-se, também, governos estrangeiros, ONG, organismos
25
internacionais, etc). Tudo isso em função da solidez e da sinergia dos atores
nacionais29.
Esta EIT teria por objetivos, dentre outros: estabelecer o diálogo de forma
aberta, evitando ao máximo a hierarquização dos atores e/ou interesses; definir
MEM prioritários – em função das necessidades operacionais de cada força e da
capacidade produtiva nacional – e, principalmente, aproximar as cadeias
operacionais, logísticas, de inteligência e de P&D de cada força singular com as
empresas da BID, integrando projetos de MEM desde a concepção até a alienação,
ao final do ciclo de sua vida útil.
Algumas certezas permanecem: o Brasil precisa voltar a desenvolver e
produzir material bélico, reaparelhar as Forças Armadas e proporcionar a efetiva
reativação da BID. De outra forma, em mais alguns anos, as “ameaças difusas” se
tornarão claras, o inimigo imporá sua vontade sem combater – a glória de um
general – e o “rei estará morto”.
Festina Lente!30
****
O autor é Major de Artilharia (AMAN, 1989) e do Quadro de Estado-Maior da Ativa do Exército Brasileiro. Serve atualmente no Comando da 2ª Região Militar (São Paulo – SP) e é doutorando pela ECEME em Ciências Militares, na área de estudos de Logística e Mobilização. Documento produzido em Fevereiro de 2007.
29 É válida, muitas vezes, a constatação de que o ser humano mais facilmente culpa outros pela sua própria falta de habilidade em lidar com um problema do que admite conduzir uma auto-reflexão, reveladora das verdadeiras causas e orientadora segura do caminho adequado. 30 Apressa-te devagar! Otávio Augusto (Imperador Romano, 27 A.C.)
26
APÊNDICE A
Empresas Produtos
ENGESA EE-11 (URUTU), EE-9 (CASCAVEL), EE-17
(SUCURI), EE-3 (JARARACA), EE-T1 (OSÓRIO) *.
EMBRAER Xavante, Bandeirante, Xingu, Tucano, Brasília, AM-X,
Vector* .
AVIBRAS SBAT-70, ASTROS II (SS30, SS40, SS60), Bombas
de Fragmentação.
AMRJ Submarinos convencionais da Classe TAMOIO.
Tabela 1 – Principais produtos de defesa brasileiros da época e seus fabricantes. (* protótipos) Fonte: o autor
País
exportador
1985 1986 1987 1988 1989 1985-
1989
1. União Soviética 8563 10327 10579 8238 8515 46402
2. Estados Unidos 4024 4925 6270 3649 2528 21396
3. França 3588 3355 2518 1312 1527 12300
4. China 1017 1193 1960 1781 718 6669
5. Reino Unido 903 1020 1530 1165 993 5611
6. Alemanha Ocidental 395 649 252 480 149 1925
7. Itália 578 398 319 360 30 1685
8. Holanda 38 132 263 402 572 1407
9. Brasil 172 134 491 338 182 1317
10. Israel 160 242 273 117 216 1008
11. Tchecoeslováquia 124 124 198 176 287 909
12. Suécia 35 141 298 240 134 848
13. Espanha 139 185 160 206 143 833
14. Egito 124 159 194 232 62 771
15. Coréia do Norte 95 48 98 123 - 364
Outros 621 528 587 437 371 2544
Total 20576 23560 26170 19256 16427 105989
Tabela 2 – Principais Países Exportadores de Armas para o Terceiro Mundo, 1985-1989 (em milhões de dólares norte-americanos – 1985). Fonte: Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), World Armaments and Disarmament: SIPRI Yearbook 1990 (Conca, 1997).
27
Agrupamento para estudo Empresas
Empresas e instituições públicas federais, estaduais e municipais.
IMBEL EMGEPRON
Empresas brasileiras privadas de capital majoritariamente nacional
EMBRAER, AVIBRAS, CBC, ATECH, CONDOR, INBRAFILTRO, MECTRON, TAURUS, AEROMOT, ROSSI, ATLANTIDE, BRITANITE, EQUIPAER, ETR, ÍNDIOS, RJC, TARGET, UNIVERSAL, DF VASCONCELLOS, PERISCÓPIO, ORBISAT, DIANA PAOLUCCI, UNIMIL, VERTICAL DO PONTO, OMNISYS, TROLLER, AGRALE.
Empresas brasileiras privadas de capital majoritariamente estrangeiro
HELIBRAS, CONSUB, DAIMLER CHRYSLER DO BRASIL, GE CELMA, MTU DO BRASIL, ROLLS ROYCE, PRATT&WHITNEY, ANCORATEK, BRASILSAT HARALD, HOBECO, INTERCARRIER,
Empresas que trabalham com produtos de interesse para a área de defesa e que não estão associadas à ABIMDE ou AIAB.
INACE, SATURNIA HAWKER, RENK ZANINI, ELUMA, CECIL LANGONE, TERMODINÂMICA.
Tabela 3 – Principais Empresas da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira na atualidade. Fonte: Marcílio Boavista da Cunha, Indústria Brasileira de Defesa, 2005 (adaptado pelo autor).
********
28
REFERÊNCIAS
Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa (ABIMDE). Indústria
Brasileira de Defesa e Segurança – Diretório ABIMDE 2005. Auction Comercial
Promotora. il. São Paulo, 74 p. 2005.
ACOCELLA, Emilio Carlos. A Postura Estratégica Dissuasória e os Objetivos para a
Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional. Programa de
Atualização dos Diplomados pela ECEME (PADECEME). Revista Científica da
ECEME. ISSN 1677-1885. Rio de Janeiro, Nr 11, p. 77-81, 1º quadrimestre, 2006.
AMARANTE, José Carlos Albano do. Indústria de Defesa. A Defesa Nacional.
Revista de Assuntos Militares e Estudo de Problemas Brasileiros. BIBLIEX, Rio
de Janeiro, Nr 800, p.55-64, Set/Dez, 2004.
_______. A Política de Defesa e Segurança e a Indústria Brasileira. Palestra
proferida na Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói, RJ. 17 Nov 2006.
BRASIL. Exército. Gabinete do Comandante (Gab Cmt Ex) . Indústria Brasileira de
Defesa. Brasília, DF, 2003.
_______. Ministério da Defesa. Política de Defesa Nacional. Brasil. MD, 2005. 21p.
CARVALHO, Roberto Guimarães de. Diretor-presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) no triênio 2003/2006.
Entrevista em 07 Set 2006.
_______. Entrevista ao site especializado em assuntos de defesa
www.defesanet.com.br em 29 Jan 2007 – Indústria de Defesa, Mercado
Internacional, O Futuro. Acesso em 01 de fevereiro de 2007.
CONCA, Ken. Manufacturing insecurity: the rise and fall of Brazil’s military-
industrial complex. Lynne Rienner Publishers, Inc. Colorado, USA, ISBN 1-55587-
695-1, 1997, il. 282 p.
CUNHA, Marcílio Boavista da. Indústria Brasileira de Material de Defesa. Rio de
Janeiro, Clube Naval, 2005, il., 39p.
29
DAGNINO, Renato Peixoto. A Indústria de Armamentos Brasileira: uma tentativa
de avaliação. Tese de doutoramento, UNICAMP. Campinas, SP, 1989, 504 p.
DAY, Michael. “On a shoestring”. JANE’S DEFENCE WEEKLY, London, UK. p. 25,
issue No 16, Vol. 42. April, 20 2005.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
3ª ed. 2120 p. Editora Positivo, Curitiba, PR, 2004 ISBN 85-7472-414-9
FIÉVET, Gil. Da Estratégia Militar à Estratégia Empresarial. Editorial Inquérito,
Portugal, 1992. ISBN 972-670-193-7. 327 p.
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes. Editora
Contraponto, Rio de Janeiro, 2006, 455 p.
LOPES, Roberto. Rede de Intrigas - Os bastidores do fracasso da Indústria
Bélica no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1994, 360 p.
OPERATIONS – Proliferation – The Rule of the “8 D’s”. INTELLIGENCE
NEWSLETTER. Paris, France. 13 January, p. 07. 1994.
PÁDUA, Antônio de. A Base Industrial de Defesa (BID) e a atuação do Ministério da
Defesa (MD). 23º Fórum de debates Projeto Brasil Tecnologia Militar. São Paulo,
17 Nov 2005.
PESCE, Eduardo Ítalo. A indústria de defesa e o “tripé” do desenvolvimento. Monitor
Mercantil Digital. www.monitormercantil.com.br. Rio de Janeiro. Acesso em 25 de
setembro de 2004.
_______. Investimento em defesa é urgente. Monitor Mercantil Digital.
www.monitormercantil.com.br. Rio de Janeiro. Acesso em 02 de janeiro de 2007.
PEREIRA, Potiguara – Tecnologia Militar. História da Técnica e da Tecnologia no
Brasil. UNESP, São Paulo, 1994, p. 283-298.
PROENÇA Júnior, Domício (org.) Uma Avaliação da Indústria Bélica Brasileira –
Defesa, Indústria e Tecnologia. Rio de Janeiro: Grupo de Estudos Estratégicos –
UFRJ, 1993, 331 p.
30
RIBEIRO, Wagner Costa - A Indústria de Armamentos no Brasil. História da
Técnica e da Tecnologia no Brasil. UNESP, São Paulo, 1994, p. 299-314.
RODRIGUES, Marcelo Eschiletti Caldas. Propostas de reativação da indústria
bélica nacional. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Direção para
Engenheiros Militares) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 70p. , 30
cm, Rio de Janeiro, 2002.
SILVA, Iberê Mariano da. Armas sempre úteis. A Gazeta Mercantil. São Paulo. Pág.
08, 03 de dezembro de 2004.
SMITH, Rupert. The Utility of Force. The Art of War in the Modern World.
Penguin Books, London, 2006, 428 p.
********
293
GLOSSÁRIO
BASE INDUSTRIAL DE DEFESA (BID) – É o conjunto das empresas estatais e
privadas, bem como organizações civis e militares, que participam de uma ou
mais das etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e
manutenção de produtos estratégicos de defesa (bens e serviços). (Ministério
da Defesa, PNID, 2003)
DEFESA NACIONAL – É o conjunto de medidas e ações do Estado, com
ênfase na expressão militar, para a defesa do território, da soberania e dos
interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais
ou manifestas. (PDN, 2005)
FUNÇÃO LOGÍSTICA RECURSOS HUMANOS – É o conjunto de atividades
relacionadas com o gerenciamento do pessoal. (Manual de Logística para
Operações Combinadas – MD42-M-02)
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA – É um processo sistemático e ético de coleta,
análise e disseminação de informações que visa descobrir as forças que regem
os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir pró -
ativamente, bem como proteger o conhecimento sensível produzido. (ABRAIC,
2000)
MATERIAL DE EMPREGO MILITAR (MEM) – O armamento, a munição, os
equipamentos militares, inclusive indumentária e material logístico, e outros
materiais ou meios (navais, aéreos, terrestres e anfíbios), de uso privativo ou
característico das FA, bem como seus sobressalentes e acessórios. (Governo
Federal)
PESQUISA OPERACIONAL (PO) – É uma ciência aplicada voltada para a
resolução de problemas reais. Tendo como foco a tomada de decisões, aplica
conceitos e métodos de outras áreas científicas para concepção, planejamento
ou operação de sistemas para atingir seus objetivos. (Associação Brasileira de
Pesquisa Operacional).
294
PODER NACIONAL (PN) – É o conjunto integrado dos homens e dos meios
que constituem a nação, atuando na conformidade da vontade nacional, para
conquistar e manter os objetivos nacionais. São cinco as expressões do PN:
política, econômica, psicossocial, militar e científico-tecnológica. (ESG, 1993)
PRODUTO DE DEFESA (PD) – Qualquer mercadoria, material, inclusive o
material aplicado, ou serviço necessário ao cumprimento das missões de
defesa e segurança atribuídas às FA ou Forças de Segurança. (Projeto de Lei
Complementar em estudo no COMDEFESA, 2007)
PRODUTO ESTRATÉGICO DE DEFESA (PED) – São bens e serviços que
pelas peculiaridades de obtenção, produção, distribuição, armazenagem,
manutenção ou emprego possam comprometer, direta ou indiretamente, a
consecução de objetivos relacionados à segurança ou à defesa do País. (PNID,
2005). Existe outro conceito, em estudo, que convém ser exposto. Para este
autor, porém, o conceito válido é o evidenciado primeiramente. Segundo
conceito: Todo PD cujo uso ou disponibilidade seja entendido como crítico ou
essencial à consecução de objetivos relacionados à segurança ou à defesa do
País. (Projeto de Lei Complementar em estudo no COMDEFESA, 2007)
SEGURANÇA – É a condição que permite ao País a preservação da soberania
e da integridade territorial, a realização dos seus interesses nacionais, livre de
pressões e ameaças de qualquer natureza, e a garantia aos cidadãos do
exercício dos direitos e deveres constitucionais. (PDN, 2005)
SEGURANÇA NACIONAL – É o sentimento de garantia para a Nação da
conquista e manutenção dos seus Objetivos Fundamentais, proporcionadas
pela aplicação de seu Poder Nacional. (ESG, 1993)
1
A INDÚSTRIA DE DEFESA NO BRASIL
Valério Luiz Lange
Major de Artilharia
RESUMO
O presente artigo apresenta um breve histórico da Indústria de Defesa no
Brasil. O autor descreve os principais períodos históricos que este segmento
produtivo viveu no país, procurando identificar os atores envolvidos, seu
interelacionamento e a inserção do país no contexto mundial. Em seguida, faz-se
uma abordagem do momento atual da Base Industrial de Defesa (BID), analisando
sua situação presente e perspectivas para o futuro. Ao concluir, evidencia-se a
necessidade de integração de esforços governamentais, institucionais e privados
para proporcionar sinergia e oportunidades de desenvolvimento às indústrias de
defesa, bem como o fortalecimento do Brasil no concerto das nações.
Palavras-chave: Indústria de defesa; Política Nacional da Indústria de Defesa;
logística e mobilização.
ABSTRACT
This paper presents a short retrospective about the historical development of
Brazilian Defense Industry. The author presents the main periods of that industrial
sector and its trajectory in order to identify the actors, the relationship among then
and how Brazil had been participating in the arms global market. Then, it shows a
briefing about Brazilian Defense Industrial Complex (Base Industrial de Defesa), a
small analysis of its present situation, and some perspectives for the future. To
conclude, the author indicates the way of institutional integration of efforts as a well
growth-oriented path. Government, Armed Forces, industrialists and Brazilian society
must to work together to provide good business opportunities to all of them. The final
goal of this integration is to provide synergy and an organized development of the
most of Brazilian defense industries and, enhancing Brazilian position among other
countries in the modern world.
Keywords: Defense industry, Defense Industry’s Brazilian National Policy; Logistics
and Mobilization.
2
1. INTRODUÇÃO
A Soberania e a Defesa de um país são garantidas, em último argumento,
pela existência e emprego de Forças Armadas (FA) com boa formação, adestradas e
dotadas de material bélico, capazes de sustentarem e imporem a sua vontade a um
oponente.
A Sociedade, por meio do Estado, é a responsável pela previsão e provisão
de pessoal e material para a Defesa de seu território, povo e riquezas. Além do
elemento humano, fundamental para o sucesso nas operações militares, os
materiais empregados devem ser adequados e suficientes para proporcionar a
vitória sobre o inimigo, objetivo fundamental de uma força armada.
Cada nação procura, por sua vez, dotar as suas FA com os Materiais de
Emprego Militar (MEM) necessários ao cumprimento de suas missões, quais sejam
armas, munições, eletrônicos, fardamentos, equipamentos, viaturas, carros de
combate, mísseis e foguetes, dentre outros tantos. Alguns países desenvolvem e
produzem os MEM necessários para suas FA, outros preferem adquirir no mercado
internacional, enquanto a grande maioria procura equilibrar a produção autóctone
com importações em grau variável, conforme o seu desenvolvimento econômico.
O Brasil, jovem nação sul-americana, não foge a regra dos conceitos acima
descritos. Em função disso e de suas necessidades de defesa, a sociedade
brasileira estabeleceu, ao longo da história, um segmento econômico voltado para o
desenvolvimento e produção de MEM para atender as suas FA e de países amigos.
Para tanto se fez (e se faz) necessário uma política com conseqüentes
estratégias de implantação. A atual Política de Defesa Nacional (PDN) brasileira foi
editada em 2005 e definiu a Estratégia da Dissuasão como prioritária. Para tal, torna-
se necessário a compreensão e desenvolvimento do Poder Nacional (PN) de forma
abrangente, não somente no campo militar, mas em estreita associação aos demais
campos – econômico, político, psicossocial e científico e tecnológico.
Neste conceito reside a importância estratégica da indústria de defesa para o
Brasil como Estado Nacional no concerto internacional. Ele associa as FA – campo
militar, o segmento nacional produtor de MEM – expressão econômica, os centros
de pesquisa em C&T – campo da C&T, a sociedade de forma geral – expressão
psicossocial – e o governo, expressão política.
3
1.1 INSERÇÃO HISTÓRICA
O descobrimento do Brasil em 1500 pelos portugueses evidenciou um
território com imenso potencial de riquezas materiais. Os brasileiros, em sua recente
formação histórica estão aprendendo a valorizar o imenso potencial existente, bem
como agregar valor, à medida que ocorre o fortalecimento dos valores nacionais e
de sua população, evidenciado pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 1.
As riquezas do território despertaram, por sua vez, a cobiça de muitos outros
povos no passado. A História nos mostra que ocorreram invasões holandesas e
francesas no Nordeste brasileiro e no Rio de Janeiro ao longo dos Séculos XVI e
XVII com o objetivo de estabelecerem colônias para aqueles países. Expedições
exploradoras inglesas e de outras nações estiveram no litoral brasileiro e, com
invulgar interesse, na região amazônica, ao longo de várias oportunidades. É lícito
supor que o interesse na preservação e na exploração econômica dos recursos
naturais brasileiros se constitui em um exemplo da atualização do interesse
internacional pelas riquezas nacionais por via indireta.
Em relação à atuação indireta, Cunha (2005) afirma que os grandes atores no
cenário internacional ainda são os Estados Nacionais, permanecendo assim por
muito tempo. Os demais atores influentes (empresas transnacionais, instituições
religiosas, associações de países, organizações não-governamentais – ONG) não
possuem território, população, estrutura política, judiciária e militar. Eles servem
como complemento ou intermediários no cenário montado pelos Estados.
Sob outro enfoque, o Brasil, como nação emergente, almeja o crescimento
econômico sustentável. Ao buscar este desenvolvimento sustentado, explorando as
suas riquezas e sua produção comercial, o país deverá ganhar novos mercados
mundiais, destacando-se entre os demais povos. Ocupa e ocupará espaços políticos
no cenário mundial (em especial, o sul-americano) que deslocarão outros países de
suas esferas de influência ou mercados. Apesar da crença brasileira na solução
pacífica dos conflitos2 expressa em sua Constituição Federal, esta “perturbação” 3 na
1 Brasil: 0,792 (69o lugar); valor considerado médio pela Organização das Nações Unidas (ONU). 2 PDN, 2005. 3 Cunha, 2005
4
ordem mundial poderá gerar reações, retaliações ou pressões estrangeiras sobre a
Vontade Nacional, atuando sobre os pontos fracos e vulnerabilidades nacionais.
Para fazer frente a essas ameaças que podem gerar um conflito militar, a
Defesa Nacional precisa estar atualizada, valendo-se de FA adestradas, com
equipamentos atualizados e com a menor dependência externa possível no
fornecimento de MEM. A Guerra das Malvinas/Falklands entre a Argentina e o
Reino Unido (RU), ocorrida na América do Sul em 1982, evidenciou a
vulnerabilidade do país platino ao suprimento internacional em MEM, favorecendo o
RU sobremaneira. Aquele conflito, além de outros tantos, próximos ou afastados no
espaço e/ou no tempo, servem de exemplo de que uma nação não deve confiar em
outras para garantir a sua segurança e/ou defesa.
1.2 SEGMENTO DE DEFESA
De acordo com Cunha (2005), este segmento nacional produtor de MEM é
atualmente conhecido como Base Industrial de Defesa (BID) no âmbito
governamental, enquanto no setor privado é denominado Indústria Brasileira de
Material de Defesa (IBMD). Essas denominações são válidas e se complementam. O
Ministério da Defesa (2005) conceitua a BID como o conjunto das empresas estatais
e privadas, bem como organizações civis e militares, que participam de uma ou mais
etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de
produtos estratégicos de defesa (bens e serviços) [acrescendo, portanto, a base
logística, científica e tecnológica].
1.3 OBJETIVO
Este artigo visa proporcionar ao leitor uma ambientação com a Indústria
Brasileira de Material de Defesa por meio de uma breve análise de seu
desenvolvimento histórico e da sua situação atual, concluindo-se sobre as
perspectivas para o futuro. O assunto é importante para a compreensão e
entendimento da atuação da sociedade brasileira por meio do segmento econômico
produtor de material militar (BID), das FA e do estágio de interação entre ambas.
A intenção do autor consiste em apresentar uma descrição dos pontos
históricos marcantes na Indústria de Defesa no Brasil a partir de uma pesquisa
5
bibliográfica sobre o assunto. Algumas conclusões parciais são emitidas para auxiliar
a compreensão dentro de uma perspectiva atualizada. Na conclusão, indica-se uma
possibilidade de prosseguimento para o setor em consonância com os objetivos do
Estado brasileiro, governo, FA, BID e da sociedade brasileira de forma geral.
2. HISTÓRICO
2.1 PRIMÓRDIOS – 1500 a 1762
Os primórdios da produção de MEM em terras brasileiras remontam à
construção naval conduzida de forma bastante incipiente por Portugal para proteger
a costa brasileira contra os ataques de piratas e cobiça estrangeira por novas terras
recém-descobertas. Segundo Cunha (2005), foram construídas embarcações
denominadas “caravelões” – pequenas caravelas, de 40 a 50 ton, 2 ou 3 mastros, 25
homens e 06 peças de artilharia em meados do Século XVI. Os portugueses
construíram embarcações costeiras em São Vicente enquanto Martim Afonso de
Souza, Capitão-Mor da Armada, construía pequenas embarcações de cabotagem no
Rio de Janeiro (RJ). A “Ribeira das Naus” foi criada em Salvador, Bahia, na mesma
época, sendo responsável pela produção de naus, fragatas, corvetas e bergantins
até o final do Século XIX.
Os colonos portugueses construíram fortificações para defesa do território,
bem como iniciaram expedições terrestres para exploração do interior, o Sertão. As
Entradas e Bandeiras, como vieram a ser conhecidas, incentivaram a produção de
mosquetes, pólvora e armas brancas4.
Esses mesmos colonizadores iniciaram também a instrução de artilharia,
dando origem ao ensino militar na colônia5. Aquele ensino viria a ser o embrião do
ensino técnico e científico brasileiro que, por sua vez, se tornaria o seio do qual
nasceria a atual tecnologia militar em meados do Século XX.
Constata-se a imensa preocupação dos primeiros colonizadores com a
defesa, especialmente em função do imenso litoral, variadas riquezas e dos
constantes ataques estrangeiros. Os portugueses foram eficientes exploradores e,
mesmo com os poucos recursos disponíveis à época, conseguiram preservar o
4 Cunha, 2005. 5 Pereira, 1994.
6
território em função de uma política bem planejada e de uma estratégia mundial bem
executada ao longo daquele período colonial. A União Ibérica – Portugal e Espanha,
entre 1580 e 1640 – também contribuiu em muito para a integridade territorial,
mantida com sucesso até a atualidade.
2.2 CICLO IMPERIAL – 1762 a 1889
Caracterizado como o ciclo dos Arsenais Militares6, inicia-se com a fundação
da “Casa do Trem de Artilharia” no Rio de Janeiro em 1762 pelo Vice-Rei de
Portugal Gomes Freire de Andrade. Em 1764, veio a receber a denominação de
“Arsenal do Trem”, agregando responsabilidades logísticas a sua finalidade primeira
de suprimento e reparação de material bélico para a defesa do sul do território em
constantes guerras e disputas territoriais entre Portugal e Espanha.
O “Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro” (AMRJ) foi organizado em 1763,
sendo que o primeiro navio de guerra produzido foi a Nau São Sebastião, com 1400
ton e 64 peças de artilharia, em 17677. Em 1765, foi inaugurada a “Fábrica de Armas
da Fortaleza da Conceição” e, em 1773, o “Trem de Guerra da Província do Rio
Grande do Sul”.
É importante ressaltar a criação da “Academia Real Militar” em 04 de
dezembro de 1810 pela corte real portuguesa, lançando os fundamentos do ensino
militar. Ela foi o primeiro centro difusor de ciências no Brasil, permitindo assim a
formação de engenheiros que viriam a trabalhar nos assuntos de defesa da nação.
A vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro e abertura dos
portos às nações amigas em 1808 marcou profundamente a história do Brasil.
Naquele ano, inaugurou-se a “Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas”, no
atual Jardim Botânico da cidade do Rio de Janeiro. Em 1824, ela foi transferida para
o distrito de Estrela, na Serra de Petrópolis, RJ. Esta unidade, hoje modernizada, é
denominada “Fábrica da Estrela” e está sob jurisdição do Exército Brasileiro (EB) por
meio da “Indústria Brasileira de Material Bélico” (IMBEL), empresa vinculada ao
Ministério da Defesa (MD) 8, produzindo compostos químicos e explosivos militares.
6 Amarante, 2004. 7 Telles apud Dagnino “A Indústria de Armamentos Brasileira: uma tentativa de avaliação”. Tese de doutoramento, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 1989. 8 Gabinete do Comandante do Exército (Gab Cmt Ex), 2003.
7
O “Arsenal do Trem”, por sua vez, foi transformado em “Arsenal de Guerra da
Corte” em 1811. Hoje é denominado “Arsenal de Guerra do Rio” (AGR), Organização
Militar (OM) do EB, com finalidade de fabricação de material bélico (armas e
munições) para as FA, notadamente o Exército.
A proclamação da independência em 1822 e o processo de sua consolidação
acentuaram a necessidade de defesa. O “Arsenal de Guerra de Porto Alegre” foi
criado em 1828 para aproximar o apoio logístico das operações militares que
ocorriam no sul do país em função dos conflitos na Província Cisplatina. Esta
organização foi transferida para o interior e denomina-se hoje “Arsenal de Guerra de
General Câmara”. Constitui-se em uma OM do Exército voltada para reparos de
pequena monta em equipamentos militares.
A Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), que reuniu Brasil, Argentina e
Uruguai contra o Governo do Paraguai, expandiu a produção de MEM,
especialmente pólvora, cartuchos, projéteis e belonaves. O Arsenal de Guerra da
Corte foi o “Centro Logístico” das tropas brasileiras. Muitos equipamentos foram
produzidos, porém não em quantidade suficiente, fazendo com que o país
recorresse às importações. O Exército se ressentia da falta de equipamentos e para
isso apelou para compras na Argentina durante o conflito, com pagamento em libras
esterlinas9.
A partir de 1857, segundo Pereira (1994), o AMRJ foi, praticamente, o único
centro de construção naval em território nacional. Neste período, o Brasil construiu
embarcações de guerra com base em projetos locais sofisticados e atualizados para
a época, sendo o segundo país, após os Estados Unidos da América (EUA), a
construir encouraçados10. Destacaram-se o encouraçado Sete de Setembro (1874),
o cruzador Almirante Barroso (1880) e o cruzador Tamandaré (1884).
Após a guerra e em função de seu elevado custo, o país viveu um período de
relativa estagnação na encomenda de material bélico. Vivia-se o auge da Revolução
Industrial no mundo e o Brasil, ao seu turno, uma tensa situação política e
econômica que culminaria na mudança na forma de Governo, com a adoção da
República em 1889. Segundo Cunha (2005), a ausência de uma base industrial
suficientemente ampla, bem como de investimentos, fizeram com que o Brasil
perdesse a corrida tecnológica e industrial daquele período histórico.
9 Pereira, 1994. 10 Dagnino, 1989.
8
À época, o Brasil estava atualizado no emprego de vários MEM, porém,
importados em sua maioria. O grande destaque foi a fabricação autóctone de
belonaves de combate. A produção era maciçamente governamental, pela própria
característica do período histórico e pela falta de uma estrutura produtiva adequada
em uma sociedade agrária, característica brasileira do Século XIX.
Conclui-se, parcialmente, que ao longo do ciclo real e imperial brasileiro, as
necessidades de defesa se fizeram sentir em função das ameaças à integridade
territorial e, em caráter especial, frente ao desafio da Guerra do Paraguai. A chegada
da família real foi o ponto de partida para uma série de organizações
governamentais militares produtoras de material bélico, algumas das quais existem
até os dias de hoje.
2.3 REPÚBLICA VELHA – 1889 a 1926
O ambiente político conturbado e uma reorganização profunda na Marinha e
no Exército inviabilizaram o crescimento da indústria de defesa neste período. A
diretriz básica inicial do governo era importar armamentos, especialmente da
Alemanha, estabelecendo-se oficinas locais para adaptação e manutenção11.
A proclamação da República veio a encerrar um período de desenvolvimento
da construção naval brasileira pela inexistência de uma programação industrial,
infra-estrutura adequada – principalmente siderurgia – e de operariado qualificado12.
Em 1898 foi fundada a “Fábrica do Realengo” que produzia munição para
armas portáteis, espoletas para granadas de mão, petardos, bem como
complementava o carregamento de granadas de artilharia e de morteiros. Em 1906,
fundou-se a “Fábrica de Pólvora sem Fumaça” em Piquete, no estado de São Paulo
(SP), com a finalidade de produzir explosivos (dinamite e TNT), propelentes e
pólvoras de base simples e dupla. Estes produtos atendiam, também, ao mercado
civil. Hoje esta última unidade fabril é denominada “Fábrica Presidente Vargas” e
está incorporada à IMBEL.
Em 1911 iniciou-se a construção de um avião na “Fábrica de Cartuchos e
Munições do Exército” no Rio de Janeiro. A iniciativa contou com pouco apoio,
levando cerca de seis anos para a construção do aparelho. Situação similar viria a
11 Gab Cmt Ex, 2003. 12 Pereira, 1994.
9
ocorrer cerca de meio século depois com a aeronave turbo-hélice de asa fixa
Bandeirante, porém com bastante sucesso.
A 1ª Guerra Mundial não trouxe benefícios ao setor13. Ocorreu o rompimento
do Brasil com a Alemanha e o alinhamento com a França, marcado pela presença
da Missão Militar Francesa, que muito influenciou o pensamento militar brasileiro,
especialmente no Exército.
Conclui-se que, para o setor de produção bélica, aquele foi um período de
transição entre o final do Império e o início do Estado Novo no país. A emergente
república enfrentava muitas dificuldades regionais no seu processo de afirmação e
as FA, principais clientes de material bélico, estavam envolvidas em processos de
afirmação e de reorganização importantes.
2.4 CICLO DAS FÁBRICAS MILITARES14
A década de 1930 assinalou o primeiro ciclo industrial militar brasileiro
utilizando tecnologias estrangeiras, sob licença ou adquiridas. Um grande programa
de nacionalização de produtos de defesa foi organizado. Nesta época, o Brasil não
fabricava MEM pesados, quais sejam canhões, obuseiros e metralhadoras. O país
não dispunha de indústria siderúrgica, fundamental para a fabricação de grandes
armas, bem como não estava envolvido em guerras de fronteira ou problemas
marítimos imperativos, que justificassem um elevado gasto em defesa a curto
prazo15.
O Exército procurou se adaptar ao surto de modernização da época. Para
isso, implantou uma série de fábricas sob sua administração direta: “Fábrica de
Andaraí” (1932), destinada à produção de granadas de artilharia e morteiros;
“Fábrica de Curitiba” (1933), com produção de trens de campanha hipomóveis,
cozinhas, pontões de engenharia e equipamento geral de transporte; “Fábrica de
Armas”, depois denominada “Fábrica de Juiz de Fora” (1933) e que se destinava à
fabricação de espoletas e estopilhas, granadas de artilharia e morteiro, assim como
estojos e tiros de artilharia – em operação junto a IMBEL; “Fábrica de Itajubá”
(1933), com produção de armamento leve e de uso pessoal, hoje integrada à IMBEL;
13 Pádua, 2005. 14 Amarante, 2004. 15 Gab Cmt Ex, 2003.
10
“Fábrica de Bonsucesso” (1933), que produzia gases de combate e máscaras contra
gases; e, “Fábrica de Material de Comunicações” (1939), a primeira do tipo no país,
suprindo o Exército com equipamento de telefonia de campanha, hoje denominada
“Fábrica de Material de Comunicações e Eletrônica” (FMCE) e incorporada à IMBEL.
O Ministério dos Transportes estabeleceu uma unidade montadora de aviões
em Lagoa Santa, estado de Minas Gerais (MG) ao final da década de 30, que depois
seria repassada a Força Aérea Brasileira (FAB), quando da formação do Ministério
da Aeronáutica em 1941. Esta organização chegou a produzir aviões Fairchild
PT19B Cornell e T-6 Texans durante a 2ª Guerra Mundial com bastante sucesso16.
O AMRJ também foi modernizado neste período.
De acordo com Conca (1997), interrupções nas linhas de financiamento e
limitação em pessoal técnico especializado continuaram a assombrar o setor de
defesa e a confiança nos fornecedores externos permaneceu como a norma para o
suprimento em material bélico pesado para as FA brasileiras ao longo do período.
Falta de capital de investimento e ausência de fornecedores também dificultaram a
expansão do setor produtivo de defesa. Entretanto, o surgimento da siderurgia
pesada (Volta Redonda) neste período viria a proporcionar a base para o
crescimento do setor em maior escala nos anos seguintes.
A participação da iniciativa privada na produção de armamentos apareceu
pela primeira vez em 1926, com a fundação da empresa “Amadeo Rossi & Cia” em
Caxias do Sul, estado do Rio Grande do Sul (RS), destinada a produzir espoletas
para cartuchos e espingardas de caça. No mesmo ano, ocorreu o surgimento da
“Companhia Brasileira de Cartuchos” (CBC) no município de Santo André, SP, para
a produção de munição leve. As “Forjas Taurus” surgiram no RS em 1939,
produzindo armas leves. Atualmente, a CBC e as Forjas Taurus são grandes
produtoras de armamento e munição leve no mercado nacional e internacional.
Conclui-se que este foi um período marcante para a indústria de defesa no
Brasil. Auxiliada pelos ventos modernizantes da época, a Base Industrial de Defesa
pode se estabelecer, apesar de se voltar basicamente para a fabricação, com a
formação de recursos humanos e a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ainda em
segundo plano.
16 Conca, 1997.
11
A 2ª Guerra Mundial, porém, apanhou o país desprevenido na produção
bélica nacional, fazendo-o buscar aliança com os EUA. Em 1944, a 1ª Divisão de
Infantaria Expedicionária (DIE) Brasileira combateu na Itália ao lado dos Aliados
contra os alemães, sendo basicamente organizada com MEM de origem norte-
americana, iniciando-se um período de dependência externa bastante elevada no
setor de defesa.
2.5 ACORDO MILITAR BRASIL / EUA – 1952 a 1976
Após o conflito mundial, aprofundou-se a vinculação brasileira ao apoio
logístico de MEM provindos dos EUA. Esta dependência foi oficializada mediante o
Acordo de Cooperação Militar (Military Assistance Program) estabelecido em 1952,
por meio do qual o Brasil receberia material bélico norte-americano a custo mínimo,
sujeitando-se a cláusulas restritivas no seu emprego. Segundo Conca (1997),
confirmado por Acocella (2006), isso provocou um forte desestímulo à produção
nacional de MEM para as FA brasileiras, acrescido da relutância do capital privado
em participar em iniciativas neste segmento de produção. A IBMD viveu um período
de estagnação e retrocesso17.
Conclui-se que a dependência bélica foi nefasta para o desenvolvimento
autóctone adequado do país no setor, pois provocou o acomodamento natural das
FA em receber o produto pronto.
Este acordo durou cerca de vinte e cinco anos, sendo denunciado pelo Brasil
durante o Governo Geisel em 1975. Naquele ano, o governo federal criou a IMBEL,
empresa que se encarregaria de produzir material de uso para o Exército,
procurando-se dependência mínima às importações no setor de defesa.
A Marinha e a Força Aérea procurariam tomar outros rumos, porém atrelados
a uma política governamental de apoio à indústria nativa, conforme será visto
adiante. A retomada da idéia da exportação de material bélico ocorreria em 1976.
O acordo militar foi válido durante o período visto a seguir. Observa-se,
porém, que ao longo dele, enquanto se recebia MEM diretamente dos EUA, ocorria,
também, a formação e a especialização dos engenheiros e técnicos que
trabalhariam na fase áurea das décadas de 1970 e 1980.
17 Cunha, 2005.
12
2.6 CICLO DA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P & D) – 1940 aos dias atuais
A participação na 2ª Guerra Mundial ao lado dos EUA mostrou aos militares
brasileiros a importância fundamental da tecnologia no desempenho vitorioso dos
Aliados. Com a finalidade de desenvolver a P&D no Brasil, as FA envidaram
diversos esforços, entre eles a criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
em 1947, da Escola Superior de Guerra (ESG) (1948) e do Conselho Nacional de
Pesquisa (1951). De acordo com Ribeiro (1994), estas organizações foram a base
do processo de criação das indústrias de defesa no país, dando início à capacitação
tecno-científica militar do Brasil.
Na ESG, surgiu o conceito de Segurança e Desenvolvimento, associado ao
aprimoramento da doutrina militar. Esta escola se mostrou como uma das primeiras
tentativas de associação de interesses entre as FA, bem como de esforço para
engajar as elites nacionais em assuntos de Defesa, segundo Conca (1997),
almejando, dentre muitos objetivos, o desenvolvimento da BID.
A Força Aérea Brasileira (FAB) se beneficiou do ITA, que deu origem ao
Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, em 1950. Atualmente,
ele recebe a denominação de Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial e é
responsável, dentre outros projetos de vulto, pelo Veículo Lançador de Satélites
(VLS) do Programa Espacial Brasileiro, em associação com a Agência Espacial
Brasileira (AEB). Em 1969, a FAB fundou a Empresa Brasileira de Aeronáutica
(EMBRAER) – hoje privatizada – para a produção de aeronaves, apoiando o projeto
de pesquisadores brasileiros que desenvolviam o avião Bandeirante anteriormente
referenciado.
A Marinha, por sua vez, tomou outro caminho. Estabeleceu convênio com a
Escola Politécnica de São Paulo para um curso de engenharia naval em 1955. Em
1959, ela ativou curso semelhante com a Universidade Federal do Rio de Janeiro,
assim como criou o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM). Em 1982, a Marinha
viria a criar a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), com a
finalidade de gerenciar projetos e promover a indústria militar naval.
A Marinha estabeleceu uma liderança ativa no desenvolvimento da energia
nuclear e dos programas eletrônicos no país. O Conselho Nacional de Pesquisas
13
(CNPq) foi fundado pelo Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva em 1951 para
consolidar o controle estatal sobre as atividades nucleares18.
O Exército, ao seu turno, realizou a fusão da Escola Técnica do Exército com
o Instituto Militar de Tecnologia em 1959, dando origem ao Instituto Militar de
Engenharia (IME), com sede na cidade do Rio de Janeiro. O Instituto de Pesquisa e
Desenvolvimento (IPD) foi estabelecido em 1970, o Centro Tecnológico do Exército
foi criado em 1982 e o Instituto de Projetos Especiais (IPE) ativado em 1986; todos
formadores, na atualidade, do Complexo Tecno-científico de Guaratiba, RJ.
O óbice da inexistência de mão-de-obra nacional qualificada em Defesa e de
corpo técnico especializado em P&D começava ser superado.
Em 1963, o governo brasileiro criou o Grupo Permanente de Mobilização
Industrial (GPMI), em articulação com o empresariado nacional, com o objetivo de
atuação em conjunto em prol dos interesses nacionais19. O empresário Vitório Ferraz
foi escolhido como primeiro presidente deste grupo, que tinha representantes da
Marinha, Exército, Aeronáutica e da principal associação industrial, a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
O GPMI estabeleceu comissões conjuntas das FA e das indústrias para o
desenvolvimento de veículos militares, aviação, equipamento naval, eletrônica,
comunicações, armamento, munição, equipamentos médicos, produtos
farmacêuticos, alimentação e fardamento. Segundo Silberfield, apud Conca (1997)20,
a importância do GPMI residia na sua condição de estrada de mão-dupla: as
empresas obteriam informações e oportunidades para se desenvolverem na área de
Defesa, enquanto o governo obteria informações da capacidade industrial instalada.
Este grupo atingiu sua máxima efetividade entre 1964 e 1967, facilitando a entrada
de empresas privadas nacionais no segmento de defesa e estabelecendo padrões
de relacionamento entre civis e militares. Infelizmente teve dificuldades para
demonstrar aos empresários da BID a integração existente entre modernização
tecnológica, mobilização industrial e segurança nacional.
Conca (1997) ressalta a importância de, ao se estudar a BID no período,
verificar três conjuntos de relacionamentos: a interação entre FA e as elites
econômicas (BID); a relação dos militares com a burocracia governamental, bem
18 Conca, 1997. 19 Pereira, 1994. 20 Jean-Claude Eduardo Silberfield, “Mobilização Industrial”, Política e Estratégia 5, p. 586-587, 1987.
14
como o relacionamento entre os diversos setores internos das FA [diferentes FA,
diferentes setores operacionais, técnicos (C&T), de pessoal e logísticos].
Segundo Amarante (2004), o acerto no planejamento e na execução de
políticas governamentais de fomento em Pesquisa & Desenvolvimento e de fomento
industrial no período de 1965 a 1985 foram fundamentais para o sucesso alcançado
pelo setor de Defesa na segunda metade da década de 1980.
Conclui-se evidenciando a preocupação acertada dos governantes da época
com o planejamento de longo prazo e visão de Estado para o setor de defesa. A
formação de pessoal especializado aproximou o país com o que havia de mais
moderno em tecnologia com aplicação bélica. A BID também se valeu das indústrias
de base que foram montadas nos anos anteriores para o fornecimento de insumos.
O setor iniciava o seu crescimento.
2.7 PERÍODO ÁUREO – Década de 1970 até o início da década de 1990
Ao longo destes anos, o Brasil procurou desenvolver uma tecnologia nativa
que atendesse as suas necessidades militares, bem como produzir MEM em larga
escala, gerando divisas pelas exportações e retro-alimentando o setor. Segundo
Franko-Jones apud Proença Júnior (1992)21, o país chegou a ser um dos principais
exportadores mundiais de armas convencionais, com vendas anuais de mais de
quinhentos milhões de dólares, em meados dos anos oitenta (ver Tabela 2). Além
das FA brasileiras, os principais compradores de MEM nacionais foram os países da
América do Sul, África e Oriente Médio.
A produção de MEM era feita por meio de empresas públicas, de economia
mista e privada, com predomínio das últimas. As empresas criadas ou que se
expandiram neste período foram, dentre outras, a EMBRAER, ENGESA, AVIBRAS,
BERNARDINI, MOTOPEÇAS, ENGESA-QUÍMICA, DF VASCONCELOS, CBV,
NOVATRAÇÃO, PRÓLOGO, SITELTRA, IMBEL, HELIBRAS, EMGEPRON,
VALPARAÍBA, CONDOR, BRITANITE, BEMESA, TEREX22 (ver Tabela 1).
A Marinha construiu duas fragatas (Classe Niterói) sob licença britânica em
um programa iniciado em 1972. Este programa permitiu a modernização do AMRJ,
21 Patrice Franko-Jones, “The Brazilian Defense Industry”, Boulder, Colorado, Westview Press, 1992, capítulo “The Brazilian Defense Industry in Crisis 22 Pereira, 1994.
15
que viria a abrigar outros programas de construção sob licença no Brasil. Foi o caso
da construção de corvetas brasileiras com assistência técnica alemã e,
principalmente, dos submarinos convencionais alemães da classe IKL-209-1400 –
cinco no total.
O período foi relativamente curto, com o ápice na segunda metade da década
de 1980. Destacaram-se as empresas ENGESA, AVIBRAS e EMBRAER. Os Carros
de Combate (CC) CASCAVEL e OSÓRIO, o Veículo Blindado de Transporte de
Tropas (VBTP) URUTU, o Lançador Múltiplo de Foguetes (LMF) ASTROS II, o avião
de treinamento militar T-27 TUCANO, bem como munição e armamento leve, foram
(e ainda o são) exemplos de sucesso criados por estes atores. Estes produtos de
elevada tecnologia, devidamente comprovados no combate moderno (Guerra Irã –
Iraque, Guerra do Golfo Pérsico), capacitaram e capacitam o parque industrial
brasileiro a prosseguir no desenvolvimento e produção de MEM modernos e
eficazes.
Enquanto as FA formavam recursos humanos e coordenavam atividades de
pesquisa tecnológica, as empresas investiam na produção e exportação, muitas
vezes com financiamento governamental e apoio do Ministério das Relações
Exteriores (MRE), por meio do Programa Nacional de Exportação de Material de
Emprego Militar (PNEMEM) estabelecido em 1976.
O êxito da IBMD foi fruto da continuidade [em todo o período considerado]
de ações governamentais de apoio ao setor e, especialmente, da confiança
mútua [grifo nosso] entre as FA brasileiras e as empresas nacionais produtoras de
MEM23.
Conca (1997) aponta algumas características gerais importantes para o setor
de defesa: crescimento conduzido pelo Estado; limitadas ligações entre as empresas
do setor com o setor de C&T nacional como um todo; mistura de funções e de
responsabilidades entre o setor público e o privado; lógica de produção comercial e
escolhas tecnológicas pragmáticas.
A conclusão parcial aponta para uma sinergia24 entre o governo, FA e
empresas da BID. Esta foi a chave do sucesso do período áureo da indústria de
defesa no Brasil.
23 Carvalho, 2006. 24 Ato ou esforço coordenado de vários órgãos na realização de uma função (Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, Ferreira, 2004).
16
2.8 DECLÍNIO – 1990 a 2002
No cenário internacional, o final da Guerra Fria e o término da Guerra do
Golfo Pérsico (1991) diminuíram as encomendas de armas. A oferta de MEM no
mercado foi aumentada pela presença de excedentes e de novos países produtores.
A conjunção daqueles fatores, em associação ao estabelecimento de barreiras
tecnológicas pelos países mais desenvolvidos – Missile Tecnology Control Regime
(MTCR), entre outros, impôs sérias dificuldades às empresas nacionais.
É interessante a observação da área de inteligência internacional à época,
transcrita a seguir:
OPERATIONS – Proliferation – The rule of the “8 D’s” – During preparatory meetings leading up to the NATO 10-11 January summit in Brussels, senior Pentagon officials visited major European capitals and attempted to explain the new American concept of the fight against arms proliferation. [...]. For the American DoD counter-proliferation is spelled out in “8 D’s”. [...] Dissuasion [...], Denial [...], Disarmament and arms control are to be carried out in the framework of the various international agreements such as the Non Proliferation Treaty, to establish nuclear free zones, to push for ‘roll back’ such as in the cases of the Brazilian ballistic missile (grifo nosso), the South African nuclear program and American-Soviet biological weapons; Diplomatic Pressure [...], Defusing [...], Deterrence [...], Destruction [...], Defense [...]. (Intelligence Newsletter, Paris – France, 13 January 1994 – Page 07).
Segundo Cunha (2005), os EUA passaram a defender que o emprego das FA
dos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, deveria ser voltado para
problemas internos, delegando a defesa externa à potência hegemônica. Essa
observação, associada à referência bibliográfica anterior, permite inferir a maneira
direta, objetiva e pragmática com que alguns dos países detentores de tecnologia
moderna e principais produtores de MEM no mercado mundial atuaram (e continuam
atuando) contra possíveis ou prováveis concorrentes neste disputado e fechado
mercado mundial.
Internamente, a situação também não foi favorável. Os reduzidos orçamentos
das FA brasileiras, os altos custos de produção e, principalmente, a falta de incentivo
governamental – por meio de políticas adequadas ou de sistemáticas aquisições de
MEM nacionais, foram os principais fatores determinantes para o declínio na
produção de MEM25. Esta situação provocou o fechamento de muitas empresas.
Outras tantas migraram para setores nos quais pudessem utilizar o conhecimento, a
25 Rodrigues, 2002.
17
mão-de-obra e o parque fabril (diversificação), sob pena de falência, o que ocorreria
de forma emblemática com a ENGESA.
No campo interno, Cunha (2005) acrescenta que o fim dos governos militares
no ano de 1985 e a conseqüente chegada ao poder de novas tendências políticas
criaram uma reação anti-militar, não da sociedade, mas dos novos governantes.
Segundo ele, a adoção de medidas para manter os militares afastados da
política interna levou o governo a subestimar conceitos militares essenciais à
defesa do país [grifo nosso].
Conca (1997) relata que as indústrias de defesa entraram em colapso porque,
resultado que eram de condições favoráveis de governos atuantes no setor e
mercado mundial receptivo durante a fase áurea, não se prepararam eficazmente
para enfrentar as turbulências advindas da mudança de orientação governamental e
da crescente competição no contexto internacional.
Ficou evidenciado, ao longo do período de declínio, um forte conflito de
interesses entre os principais atores do segmento de defesa que anteriormente
estavam bastante alinhados. Os reflexos desse “rompimento” se fazem sentir até os
dias de hoje. A BID, as FA, os centros de P&D, os órgãos governamentais, as
empresas multinacionais do setor que atuam no Brasil (e seus governos) buscam
uma nova trajetória de crescimento sustentado.
3. ATUALIDADE
3.1 FORÇAS ARMADAS
Nos últimos quatro anos, o investimento em MEM nacionais foi bastante
reduzido. O contingencionamento de verbas governamentais foi bastante grande no
investimento em reaparelhamento das FA.
O destaque na área naval ficou por conta do submarino convencional Tikuna
(S 34) produzido no AMRJ em 2005, seguindo a estratégia de aquisição do domínio
completo do ciclo “Projeto, Construção e Reparação”. A Marinha enfrenta,
entretanto, um processo crescente de obsolescência de seus meios, com uma
premente necessidade de modernização e aquisição de novas belonaves que
proporcionem a adequada defesa da Amazônia Azul brasileira. Afinal, esquadras
não se improvisam...
18
O Exército se encontra na definição de uma Nova Família de Blindados sobre
Rodas (NFBR). O programa teve início no alvorecer da década atual e sofreu várias
modificações. A empresa AVIBRAS chegou a produzir um protótipo denominado
Guará, mediante convênio estabelecido com o Estado-Maior do Exército (EME) e
com o IPD, porém uma reorientação nos requisitos operacionais do Exército
interrompeu o seguimento do projeto. O EB estabeleceu convênio, também, com o
Exército Argentino e desenvolveu uma viatura leve de emprego geral
aerotransportável denominado Gaúcho, atendendo diretriz governamental de
integração com a Argentina para o fortalecimento do MERCOSUL. Esta viatura se
encontra em fase de testes nos dois países.
Cumpre ressaltar a importante (e promissora) reorganização que o EB
promoveu na área de C&T por meio do estabelecimento do Departamento de
Ciência e Tecnologia (DCT), produto da fusão da Secretaria de Ciência e Tecnologia
com a Secretaria de Tecnologia da Informação. Espera-se que isso implique na
melhoria da interface desta instituição com a BID e a sociedade como um todo,
resultando na pesquisa, desenvolvimento e produção de novos MEM.
A Força Aérea Brasileira, por sua vez, enfrentou a interrupção do Programa
FX no qual buscava o desenvolvimento de um caça supersônico para a defesa
aérea. Contratos para modernização de aeronaves turbo-hélice Supertucano (AT-29)
e supersônicas F-5M ‘Northrop’ foram assinados com empresas nacionais. Outros
contratos para compras de aeronaves foram assinados, entre eles aquele para
fornecimento de doze aviões espanhóis CASA-C295.
O MD, ao seu turno, estabeleceu a Comissão Militar da Indústria de Defesa
(CMID) em 2005. Os objetivos desta comissão são coordenar os estudos relativos
ao fomento às atividades de pesquisa, desenvolvimento, produção e exportação de
produtos de defesa, integrando essas atividades; estabelecer um fluxo adequado de
informações entre o MD e os demais órgãos civis e governamentais envolvidos, bem
como capacitar os recursos humanos necessários para tal.
3.2 BASE INDUSTRIAL DE DEFESA
As empresas da BID estão organizadas em associações. Dentre elas se
destacam a Associação Brasileira das Indústrias de Defesa (ABIMDE) (44
empresas), a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) (28
19
empresas), o Sindicato Nacional da Indústria de Material de Defesa (SINDE) e o
Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa (COMDEFESA), este último com
o suporte da FIESP. A ABIMDE foi recentemente revigorada e tem procurado atuar
com realismo e efetividade (ver Tabela 3).
O faturamento das empresas [...] foi da ordem de 12 (doze) bilhões de reais [aproximadamente cinco bilhões de dólares norte-americanos (USD)] em 2004, do qual 12% no setor de defesa [cerca de 580 milhões USD]. As exportações foram em torno de 3,6 bilhões USD, com cerca de 14% em produtos de defesa [aproximadamente 500 milhões USD]. [Naquele ano] o número de empregos diretos [era da ordem] de aproximadamente 38.000, com 19% [cerca de 7200 pessoas] em atividades de defesa. O elevado número de empregos indiretos [...] não está calculado. (Cunha, Marcílio Boavista. Indústria Brasileira de Material de Defesa, 2005).
De acordo com Carvalho (2007), as empresas nacionais do segmento de
Defesa vivem grandes dificuldades decorrentes principalmente pela falta de
conscientização das autoridades governamentais em relação ao setor. Segundo ele,
os recursos destinados aos investimentos (reaparelhamento) das FA são reduzidos
ano após ano, diminuindo consideravelmente a capacidade de aquisição de novos
equipamentos, sendo que grande parcela do orçamento programado normalmente
vem a ser contigenciado antes de sua efetiva utilização. Complementa
acrescentando que o mais grave é que as poucas aquisições são feitas no exterior,
em detrimento das empresas brasileiras.
Segundo Pádua (2003), a BID demonstra potencial para, em se manifestando
a vontade nacional, colocar-se em um patamar compatível com a necessidade
brasileira.
3.3 APOIO GOVERNAMENTAL
A criação do MD em 1999 trouxe uma nova visão na coordenação de esforços
no nível governamental para o segmento de Defesa ao buscar englobar o
pensamento das FA brasileiras. Publicada em 2005, a Política de Defesa Nacional
(PDN) proporcionou a elaboração da Política Nacional da Indústria de Defesa
(PNID). Esta última deu origem às Ações Estratégicas para a PNID, editadas em
2006. Este arcabouço institucional pretende incentivar a retomada da produção
nacional de MEM em patamares mais elevados, buscando repetir e melhorar o
sucesso das décadas de 1970 e 1980.
20
De acordo com Carvalho (2007), Diretor-presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) no triênio 2003/2006, o
apoio governamental ao setor pode ser classificado em cinco setores:
• Militar – os integrantes das FA reconhecem e apóiam o setor nas suas
possibilidades, inclusive com o apoio e promoção às indústrias nacionais nas
aditâncias militares brasileiras no exterior;
• Promocional – o apoio à ABIMDE acontece por meio da Agência de
Promoção às Exportações do Brasil (APEX), do Ministério da Indústria e
Comércio (MDIC), evidenciado na Exposição de Eurosatory em 2006;
• Político – apoio [praticamente] inexistente junto aos governos estrangeiros de
possíveis clientes da indústria bélica nacional, ao contrário de outros países;
• Diplomático – Bastante reduzido, com raras exceções positivas, pois, de
maneira geral, os representantes do MRE não apreciam atividades
comerciais, muito menos em se tratando de MEM;
• Financeiro – Inexistente, pois as principais entidades financeiras do país
como o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) se recusam a
qualquer tipo de apoio em financiamento para vendas ao exterior ou
garantindo contratos eventualmente firmados no mercado internacional.
Em complemento, afirma que há necessidade de uma Política de Estado para
o setor, não de governos, com estabelecimento de normas. Para o mercado interno,
[deverá haver] orçamento real e impositivo para o investimento das FA,
proporcionando uma carga de trabalho programada para as indústrias.
3.4 LIÇÕES HISTÓRICAS A SEREM APRENDIDAS
Citando Cunha (2005), a primeira lição a ser elencada é a de que os produtos
de defesa que forem concebidos e desenvolvidos (C&T) somente cumprirão sua
função se vierem a ser produzidos (inovação e indústria, preferencialmente privada)
e tornados operacionais, bem como eficientemente distribuídos, instalados, aferidos,
mantidos e supridos de itens de consumo e de sobressalentes (logística das FA).
A segunda lição se refere à integração institucional. Os principais setores da
sociedade brasileira precisam ser envolvidos com o tema Defesa. Os atores
21
principais (FA, BID) necessitam de trabalho conjunto, harmônico e interdependente,
associados com maior ênfase à área de C&T das instituições educacionais.
Uma terceira lição está relacionada à importância da compreensão da
sociedade sobre Defesa, em particular sobre a necessidade fundamental da
existência de uma BID forte. Este autor entende que dois principais caminhos se
apresentam para alcançar a sociedade: a caracterização da ameaça à própria
sociedade (terrorismo, por exemplo) – bastante difusa no Brasil, porém ameaçadora
a longo prazo – ou por meio da educação. Quanto à educação, entende-se que o
aumento da integração dos estudos entre as escolas militares, congêneres civis,
centros de pesquisa em C&T e empresas privadas e governamentais é fundamental
e urgente para proporcionar massa crítica em especialistas e fomentar a discussão
do tema em ambiente acadêmico.
A lição seguinte se refere ao emprego do planejamento de longo prazo no
setor de Defesa. Felizmente, o momento é oportuno para se falar a respeito. O
incremento do Planejamento Estratégico (empresarial e/ou militar) e da Excelência
Gerencial são fundamentais para a sobrevivência das FA e das empresas, em
função de um processo de mundialização cada vez mais acelerado, onde as
ameaças difusas utilizam a estratégia indireta para alcançarem seus objetivos. A
realidade não admite amadorismos empresariais e/ou militares. Cunha (2005) relata
que é preciso padronizar, uniformizar, compatibilizar especificações, desenvolver
produtos similares para aplicações civis e selecionar o que deve ser atendido com
prioridade.
Outro ensinamento, atrelado ao anterior, afirma a necessidade de
continuidade no planejamento, ou melhor, liderança e constância de propósitos26,
estratégia adequada e um comprometimento na execução do que foi planejado. Este
é um óbice cultural de difícil superação no Brasil, notadamente em muitas de suas
instituições. A falta de continuidade conduziu, por exemplo, à perda de capacitações
(pessoal especializado, laboratórios, programas, documentos) conquistadas ao
longo dos anos com sacrifícios enormes. Conquistas e reconquistas foram feitas. A
tecnologia de construção naval é um exemplo dessa situação27.
Uma última lição, não menos importante: definir uma política especial de
aquisição de material de defesa à semelhança do que ocorre com outros países
26 Plano de Excelência Gerencial do Exército Brasileiro, 2006. 27 Cunha, 2005.
22
(Buy American Act, EUA, por exemplo). A legislação atual é perversa, pois privilegia
a importação de MEM com taxas próximas de zero, enquanto a incidência de
impostos em produtos nacionais é de mais 40%. Cunha (2005) nos indica outra
situação crítica: os órgãos do governo podem receber financiamentos externos para
importação, porém não podem receber financiamento interno para compra de
material nacional.
Estas lições estão em consonância com a opinião do Embaixador Samuel
Pinheiro Guimarães, do Ministério das Relações Exteriores:
[...] reconhecer a urgência da definição detalhada de uma estratégia militar própria para o Brasil e para a América do Sul. Essa estratégia de defesa deve ter natureza civil-militar, tendo como objetivo a indispensável autonomia de desenvolvimento tecnológico-militar e de suprimento de material bélico. No processo de sua elaboração doutrinária, os Estados-Maiores e as escolas tradicionais de elaboração de doutrina podem e devem se articular de forma eficaz com outros organismos da administração cuja competência tenha natureza estratégica global, interna e externa. [...] (Guimarães, Samuel Pinheiro. Desafios Brasileiros na Era de Gigantes, 2006, p. 336).
3.5 PROSPECÇÃO
Não obstante o difícil quadro da realidade, alguns indicadores se mostram
oportunos a uma reativação do setor, quais sejam:
• A necessidade premente do reequipamento das FA, pois o ciclo de vida de
vários MEM está muito próximo do fim;
• Permanência (continuidade) da mesma equipe política no governo federal em
função do resultado da última eleição presidencial, favorecendo a
continuidade dos esforços;
• Amadurecimento da estrutura e da atuação do MD junto aos setores
produtivos, governo e FA;
• Crescente interesse da sociedade nos assuntos de Defesa, como
demonstrado nos últimos Fóruns sobre Tecnologia Militar da empresa
“Dinheiro Vivo” em São Paulo (2005 e 2006);
• Crescente apoio político ao estudo dos assuntos de Defesa, exemplificado na
condução do Seminário sobre a Política de Defesa para o Século XXI,
conduzido pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
(CREDN) do Congresso Nacional em 2003;
23
Os indícios acima são tímidos, porém podem servir de pontos de partida para
um esforço coordenado de atuação, transformando problemas em desafios; crises,
em oportunidades de melhoria; sonhos em realidade.
Um aspecto, porém se considera fundamental: atenção na forma como a
guerra está sendo conduzida no presente e como ela poderá vir a ser conduzida no
futuro. Quais os MEM mais adequados para tanto?
A referência e respeito ao passado é fundamental, porém muitas guerras
foram perdidas porque se acreditava que os combates seriam conduzidos da mesma
forma com que haviam sido estudados. Smith28 (2006) nos relata uma tendência da
guerra moderna conduzida ‘entre as pessoas’ [among the people], com diminuição
do elevado consumo de munição [‘firepower’, característico do século XX] e aumento
considerável do valor da Informação [information] como arma, impondo
psicologicamente a sua vontade sobre o inimigo.
4. CONCLUSÃO
A BID possui um histórico respeitável, característico de um país em
construção como o Brasil. O segmento alternou períodos de expansão e retração em
função de conflitos em que o Brasil tomou parte e sofreu reflexos, frutos da
conjuntura nacional e internacional das diferentes condições históricas. O histórico é
de dificuldades com alguns pequenos períodos de bons resultados.
A base industrial instalada é bastante significativa, assim como a qualidade
dos pesquisadores e dos profissionais ligados às indústrias, empresas,
universidades e às FA brasileiras.
O elevado desempenho quantitativo e qualitativo da produção nos anos
oitenta foi o grande marco das indústrias de material de defesa no passado recente.
As políticas governamentais de incentivo à P&D, às indústrias de defesa e às
exportações foram bem planejadas, bem executadas e tiveram continuidade ao
longo daquela época. Somava-se a isto, a atuação coordenada e o espírito de
confiança entre as FA e a BID. Havia sinergia. O resultado se mostrou excelente.
Atualmente, a BID vive um momento de expectativa favorável a sua
expansão, especialmente no início de 2007. Espera-se que seja possível se
28 Comandante da Divisão Blindada Britânica na Guerra do Golfo Pérsico de 1990-1991.
24
caminhar do discurso à prática. Quer seja no reaparelhamento das FA brasileiras,
agregando-se valor aos produtos nacionais, quer seja exportando MEM de
reconhecido valor agregado para demais países. Em ambas as situações, este
segmento sairá fortalecido.
Uma pergunta. O quê e como fazer para que a BID não se torne vítima de um
passado de sucesso, não sendo capaz de repetir o êxito no presente?
Entende-se que o caminho passa pela superação dos interesses e práticas do
passado recente que permanecem em muitos, impedindo o aparecimento de novas
técnicas que poderiam facilitar o entendimento mútuo dos principais atores. Vencer
os personalismos ainda existentes e que foram resultados dos sucessos alcançados
– e também de fracassos – é outro ponto a ser considerado. Conca (1997) indica,
também, o estabelecimento de uma divisão nítida de responsabilidades entre o setor
público e o privado como facilitador dos processos.
Uma certeza: há necessidade do aprimoramento do relacionamento das FA
com a BID e vice-versa, em consonância com o fortalecimento natural do MD e o
aumento de sua participação no controle dos investimentos em aquisições de MEM
nacionais. É mister a integração de esforços institucionais e empresariais.
Conjugar o pensamento à ação. Esta é a principal dificuldade.
Este autor entende que para tanto, um primeiro passo. Acredita-se que a
organização de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT) entre cada Força Singular e
as respectivas empresas da BID, em caráter inicial, e com o MD em um futuro
mediato, seria um bom ponto de partida neste sentido.
Entende-se que seja necessário conduzir o trabalho em etapas, de uma forma
educativa (tanto para as FA, MD, quanto para a BID), evitando erros de interpretação
ocorridos no passado ou que eventuais sucessos isolados turvem a visão do todo.
Um processo conduzido em uma cadência lenta, mas constante, poderá vir a
permitir: a superação de possíveis (e saudáveis) mudanças de orientação
governamental; o adequado entendimento interno da crescente participação do MD;
assim como as pressões (políticas e econômicas) do exigente e restrito mercado
mundializado (leia-se, também, governos estrangeiros, ONG, organismos
25
internacionais, etc). Tudo isso em função da solidez e da sinergia dos atores
nacionais29.
Esta EIT teria por objetivos, dentre outros: estabelecer o diálogo de forma
aberta, evitando ao máximo a hierarquização dos atores e/ou interesses; definir
MEM prioritários – em função das necessidades operacionais de cada força e da
capacidade produtiva nacional – e, principalmente, aproximar as cadeias
operacionais, logísticas, de inteligência e de P&D de cada força singular com as
empresas da BID, integrando projetos de MEM desde a concepção até a alienação,
ao final do ciclo de sua vida útil.
Algumas certezas permanecem: o Brasil precisa voltar a desenvolver e
produzir material bélico, reaparelhar as Forças Armadas e proporcionar a efetiva
reativação da BID. De outra forma, em mais alguns anos, as “ameaças difusas” se
tornarão claras, o inimigo imporá sua vontade sem combater – a glória de um
general – e o “rei estará morto”.
Festina Lente!30
****
O autor é Major de Artilharia (AMAN, 1989) e do Quadro de Estado-Maior da Ativa do Exército Brasileiro. Serve atualmente no Comando da 2ª Região Militar (São Paulo – SP) e é doutorando pela ECEME em Ciências Militares, na área de estudos de Logística e Mobilização. Documento produzido em Fevereiro de 2007.
29 É válida, muitas vezes, a constatação de que o ser humano mais facilmente culpa outros pela sua própria falta de habilidade em lidar com um problema do que admite conduzir uma auto-reflexão, reveladora das verdadeiras causas e orientadora segura do caminho adequado. 30 Apressa-te devagar! Otávio Augusto (Imperador Romano, 27 A.C.)
26
APÊNDICE A
Empresas Produtos
ENGESA EE-11 (URUTU), EE-9 (CASCAVEL), EE-17
(SUCURI), EE-3 (JARARACA), EE-T1 (OSÓRIO) *.
EMBRAER Xavante, Bandeirante, Xingu, Tucano, Brasília, AM-X,
Vector* .
AVIBRAS SBAT-70, ASTROS II (SS30, SS40, SS60), Bombas
de Fragmentação.
AMRJ Submarinos convencionais da Classe TAMOIO.
Tabela 1 – Principais produtos de defesa brasileiros da época e seus fabricantes. (* protótipos) Fonte: o autor
País
exportador
1985 1986 1987 1988 1989 1985-
1989
1. União Soviética 8563 10327 10579 8238 8515 46402
2. Estados Unidos 4024 4925 6270 3649 2528 21396
3. França 3588 3355 2518 1312 1527 12300
4. China 1017 1193 1960 1781 718 6669
5. Reino Unido 903 1020 1530 1165 993 5611
6. Alemanha Ocidental 395 649 252 480 149 1925
7. Itália 578 398 319 360 30 1685
8. Holanda 38 132 263 402 572 1407
9. Brasil 172 134 491 338 182 1317
10. Israel 160 242 273 117 216 1008
11. Tchecoeslováquia 124 124 198 176 287 909
12. Suécia 35 141 298 240 134 848
13. Espanha 139 185 160 206 143 833
14. Egito 124 159 194 232 62 771
15. Coréia do Norte 95 48 98 123 - 364
Outros 621 528 587 437 371 2544
Total 20576 23560 26170 19256 16427 105989
Tabela 2 – Principais Países Exportadores de Armas para o Terceiro Mundo, 1985-1989 (em milhões de dólares norte-americanos – 1985). Fonte: Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), World Armaments and Disarmament: SIPRI Yearbook 1990 (Conca, 1997).
27
Agrupamento para estudo Empresas
Empresas e instituições públicas federais, estaduais e municipais.
IMBEL EMGEPRON
Empresas brasileiras privadas de capital majoritariamente nacional
EMBRAER, AVIBRAS, CBC, ATECH, CONDOR, INBRAFILTRO, MECTRON, TAURUS, AEROMOT, ROSSI, ATLANTIDE, BRITANITE, EQUIPAER, ETR, ÍNDIOS, RJC, TARGET, UNIVERSAL, DF VASCONCELLOS, PERISCÓPIO, ORBISAT, DIANA PAOLUCCI, UNIMIL, VERTICAL DO PONTO, OMNISYS, TROLLER, AGRALE.
Empresas brasileiras privadas de capital majoritariamente estrangeiro
HELIBRAS, CONSUB, DAIMLER CHRYSLER DO BRASIL, GE CELMA, MTU DO BRASIL, ROLLS ROYCE, PRATT&WHITNEY, ANCORATEK, BRASILSAT HARALD, HOBECO, INTERCARRIER,
Empresas que trabalham com produtos de interesse para a área de defesa e que não estão associadas à ABIMDE ou AIAB.
INACE, SATURNIA HAWKER, RENK ZANINI, ELUMA, CECIL LANGONE, TERMODINÂMICA.
Tabela 3 – Principais Empresas da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira na atualidade. Fonte: Marcílio Boavista da Cunha, Indústria Brasileira de Defesa, 2005 (adaptado pelo autor).
********
28
REFERÊNCIAS
Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa (ABIMDE). Indústria
Brasileira de Defesa e Segurança – Diretório ABIMDE 2005. Auction Comercial
Promotora. il. São Paulo, 74 p. 2005.
ACOCELLA, Emilio Carlos. A Postura Estratégica Dissuasória e os Objetivos para a
Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional. Programa de
Atualização dos Diplomados pela ECEME (PADECEME). Revista Científica da
ECEME. ISSN 1677-1885. Rio de Janeiro, Nr 11, p. 77-81, 1º quadrimestre, 2006.
AMARANTE, José Carlos Albano do. Indústria de Defesa. A Defesa Nacional.
Revista de Assuntos Militares e Estudo de Problemas Brasileiros. BIBLIEX, Rio
de Janeiro, Nr 800, p.55-64, Set/Dez, 2004.
_______. A Política de Defesa e Segurança e a Indústria Brasileira. Palestra
proferida na Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói, RJ. 17 Nov 2006.
BRASIL. Exército. Gabinete do Comandante (Gab Cmt Ex) . Indústria Brasileira de
Defesa. Brasília, DF, 2003.
_______. Ministério da Defesa. Política de Defesa Nacional. Brasil. MD, 2005. 21p.
CARVALHO, Roberto Guimarães de. Diretor-presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) no triênio 2003/2006.
Entrevista em 07 Set 2006.
_______. Entrevista ao site especializado em assuntos de defesa
www.defesanet.com.br em 29 Jan 2007 – Indústria de Defesa, Mercado
Internacional, O Futuro. Acesso em 01 de fevereiro de 2007.
CONCA, Ken. Manufacturing insecurity: the rise and fall of Brazil’s military-
industrial complex. Lynne Rienner Publishers, Inc. Colorado, USA, ISBN 1-55587-
695-1, 1997, il. 282 p.
CUNHA, Marcílio Boavista da. Indústria Brasileira de Material de Defesa. Rio de
Janeiro, Clube Naval, 2005, il., 39p.
29
DAGNINO, Renato Peixoto. A Indústria de Armamentos Brasileira: uma tentativa
de avaliação. Tese de doutoramento, UNICAMP. Campinas, SP, 1989, 504 p.
DAY, Michael. “On a shoestring”. JANE’S DEFENCE WEEKLY, London, UK. p. 25,
issue No 16, Vol. 42. April, 20 2005.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
3ª ed. 2120 p. Editora Positivo, Curitiba, PR, 2004 ISBN 85-7472-414-9
FIÉVET, Gil. Da Estratégia Militar à Estratégia Empresarial. Editorial Inquérito,
Portugal, 1992. ISBN 972-670-193-7. 327 p.
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes. Editora
Contraponto, Rio de Janeiro, 2006, 455 p.
LOPES, Roberto. Rede de Intrigas - Os bastidores do fracasso da Indústria
Bélica no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1994, 360 p.
OPERATIONS – Proliferation – The Rule of the “8 D’s”. INTELLIGENCE
NEWSLETTER. Paris, France. 13 January, p. 07. 1994.
PÁDUA, Antônio de. A Base Industrial de Defesa (BID) e a atuação do Ministério da
Defesa (MD). 23º Fórum de debates Projeto Brasil Tecnologia Militar. São Paulo,
17 Nov 2005.
PESCE, Eduardo Ítalo. A indústria de defesa e o “tripé” do desenvolvimento. Monitor
Mercantil Digital. www.monitormercantil.com.br. Rio de Janeiro. Acesso em 25 de
setembro de 2004.
_______. Investimento em defesa é urgente. Monitor Mercantil Digital.
www.monitormercantil.com.br. Rio de Janeiro. Acesso em 02 de janeiro de 2007.
PEREIRA, Potiguara – Tecnologia Militar. História da Técnica e da Tecnologia no
Brasil. UNESP, São Paulo, 1994, p. 283-298.
PROENÇA Júnior, Domício (org.) Uma Avaliação da Indústria Bélica Brasileira –
Defesa, Indústria e Tecnologia. Rio de Janeiro: Grupo de Estudos Estratégicos –
UFRJ, 1993, 331 p.
30
RIBEIRO, Wagner Costa - A Indústria de Armamentos no Brasil. História da
Técnica e da Tecnologia no Brasil. UNESP, São Paulo, 1994, p. 299-314.
RODRIGUES, Marcelo Eschiletti Caldas. Propostas de reativação da indústria
bélica nacional. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Direção para
Engenheiros Militares) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 70p. , 30
cm, Rio de Janeiro, 2002.
SILVA, Iberê Mariano da. Armas sempre úteis. A Gazeta Mercantil. São Paulo. Pág.
08, 03 de dezembro de 2004.
SMITH, Rupert. The Utility of Force. The Art of War in the Modern World.
Penguin Books, London, 2006, 428 p.
********
27
INTRODUÇÃO E REFERENCIAL CONCEITUAL
1.1 APRESENTAÇÃO INICIAL
A Soberania e a Defesa de um país são garantidas, em último argumento,
pela existência e emprego de Forças Armadas (FA) com boa formação, adestradas e
dotadas de material bélico, capazes de sustentarem e imporem a sua vontade a um
oponente.
A Sociedade, por meio do Estado, é a responsável pela previsão e provisão
de pessoal e material para a Defesa de seu território, povo e riquezas. Além do
elemento humano, fundamental para o sucesso nas operações militares, os
materiais empregados devem ser adequados e suficientes para proporcionar a
vitória sobre o inimigo, objetivo fundamental de uma força armada.
Cada nação procura, por sua vez, dotar as suas FA com os Materiais de
Emprego Militar (MEM) necessários ao cumprimento de suas missões, quais sejam
armas, munições, eletrônicos, fardamentos, equipamentos, viaturas, carros de
combate, mísseis e foguetes, dentre outros tantos. Alguns países desenvolvem e
produzem os MEM necessários para suas FA, outros preferem adquirir no mercado
internacional, enquanto a grande maioria procura equilibrar a produção autóctone
com importações em grau variável, conforme o seu desenvolvimento econômico.
O Brasil, jovem nação sul-americana, não foge a regra dos conceitos acima
descritos. Em função disso e de suas necessidades de defesa, a sociedade
brasileira estabeleceu, ao longo da história, um segmento econômico voltado para o
desenvolvimento e produção de MEM para atender as suas FA e de países amigos.
O foco deste trabalho é propor um modelo de integração de esforços para a
consecução de objetivos comuns entre o Exército Brasileiro (EB) e a Base Industrial
de Defesa (BID). Entende-se que estes dois grandes atores nacionais precisam
trabalhar de forma harmônica e integrada para permitir a sobrevivência de ambos
em um cenário de grande incerteza, característico de um verdadeiro “campo de
batalha”.
1.2 TEMA
O tema desta tese de doutorado versa sobre o relacionamento entre o
Exército Brasileiro e a Base Industrial de Defesa. Dentro desse escopo, se estuda
28
um modelo de Equipe Integrada de Trabalho (EIT) para auxiliar a integração entre
estes dois atores do cenário brasileiro.
1.2.1 Razões da escolha do tema
A decisão da escolha do tema foi fruto da seqüência de experiências e de
conhecimentos adquiridos ao longo da vivência profissional deste oficial, investido
atualmente da condição de pesquisador militar.
As atividades pessoais e profissionais recentes que se destacam neste
sentido ocorreram a partir do desempenho da função de Comandante da 1ª Bateria
de Lançadores Múltiplos de Foguetes1, Brasília – DF, nos anos de 2001 e 2002.
Essa Organização Militar (OM) do EB era dotada do Lançador Múltiplo de Foguetes
(LMF) ASTROS II, MEM nacional de destaque internacional produzido pela Empresa
brasileira AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.
Após aquela comissão, este oficial foi designado pelo então Comandante do
Exército, General-de-Exército GLEUBER VIEIRA, para conduzir um trabalho de
assistência militar ao desenvolvimento operacional do Sistema ASTROS II na
condição de Oficial de Ligação (O Lig) do Exército Brasileiro junto à empresa
AVIBRAS em sua sede na cidade de São José dos Campos, São Paulo, no biênio
2003-20042. Naquele período este oficial ficou vinculado ao Comando da 12ª
Brigada de Infantaria Leve (Aeromóvel), Caçapava, São Paulo.
Ao longo daqueles quatro anos, foi possível perceber-se a importância da
Força Terrestre Brasileira (FTB) possuir um excelente sistema de armas, de
fabricação nacional, que garanta a dissuasão estratégica ao país. Este oficial se
deparou com dificuldades logísticas, técnicas e operacionais na administração de
diversos MEM relativos ao Sistema ASTROS II, tanto na função de Comandante de
Bateria (Cmt Bia), quanto no período de O Lig junto à empresa. Aspectos positivos e
negativos foram observados no relacionamento entre o EB e a BID, representada
pela AVIBRAS AEROESPACIAL naquela ocasião.
Além disso, ao longo dos mesmos quatro anos, este oficial teve a grata
oportunidade de conviver diuturnamente com um oficial da reserva do Exército,
1 Esta OM deu origem, no ano de 2004, ao 6º Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguetes (6º GLMF), que reuniu a totalidade do material do Sistema ASTROS II no Brasil na cidade de Formosa, GO. Nota do autor. 2 Atualmente, esta função é exercida pelo Major de Artilharia André Luís Maciel de Oliveira. Nota do autor.
29
então funcionário da AVIBRAS, o Tenente-Coronel de Artilharia e Estado-Maior
Reformado ROBERTO GUIMARÃES DE CARVALHO que, além de gerenciar os
assuntos operacionais e militares da empresa, estava investido da função de diretor-
presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa e
Segurança (ABIMDE), proporcionando facilidades no contato com diversos
fabricantes nacionais de MEM e de Produtos de Defesa (PD).
Ao se preparar para o ingresso na Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército (ECEME), este oficial chegou à conclusão de que deveria aproveitar aquela
experiência pessoal e repassá-la ao restante do Exército Brasileiro, para aumentar o
conhecimento da instituição naquela área. A maneira encontrada seria redigir um
trabalho monográfico de interesse da Força Terrestre.
Nos dois anos que se seguiram, 2005 e 2006, este oficial cursou
regularmente o Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM) na ECEME, na cidade
do Rio de Janeiro, RJ. Na oportunidade, aquele Estabelecimento de Ensino (EE)
aceitou a proposta de trabalho monográfico deste militar, selecionando-o e o pré-
qualificando para o programa de doutorado, permitindo-lhe o prosseguimento no seu
intento.
Ao final do curso regular, este oficial foi classificado no Comando da 2ª
Região Militar3, São Paulo, para que pudesse, de acordo com análise pessoal e dos
orientadores, estar sediado em um local que lhe permitisse uma aproximação,
investido da condição de pesquisador militar, junto ao maior parque fabril brasileiro,
estabelecido naquele estado da federação. O intento estabelecido foi o de obter um
aprofundamento das informações necessárias ao estudo em questão. Buscou-se,
também, a oportunidade de se travar contato direto com o meio acadêmico paulista,
bastante significativo na área de Ciência e Tecnologia (C&T), administração e na
discussão dos problemas nacionais relevantes.
A classificação no Comando da 2ª Região Militar proporcionou, efetivamente,
a aproximação deste oficial com o Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de
Defesa (COMDEFESA), estabelecido junto à Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (FIESP). Permitiu, também, a complementação de conhecimentos e
contatos pessoais e profissionais em dois cursos realizados: o primeiro feito na
3 Grande Comando Administrativo e Logístico do Exército Brasileiro, com área de abrangência em todo o estado de São Paulo. É comandado atualmente pelo General-de-Brigada Eduardo Segundo Liberali Wizniewsky. Nota do autor.
30
própria FIESP, em associação com a Escola Superior de Guerra (ESG) – o Curso de
Gestão em Recursos de Defesa (CGERD)4; e o segundo, conduzido na
Universidade de São Paulo (USP), junto ao Núcleo de Pesquisa em Relações
Internacionais (NUPRI), com o tema ‘Segurança Internacional e Defesa: uma
Abordagem na Perspectiva das Relações Internacionais para o Projeto de Força
Brasileiro’5.
1.3 PROBLEMA
Na abordagem inicial de estudo e nas primeiras discussões sobre o tema com
os orientadores, verificou-se a existência de dificuldades na integração das
necessidades do EB com os interesses da BID, principalmente em relação à
logística, aos recursos humanos e à mobilização.
Em função da evolução da pesquisa, ao serem constatadas aquelas
dificuldades de integração, muitas delas expostas no referencial teórico, a situação-
problema foi determinada da maneira que se segue:
• COMO ORGANIZAR UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR, COMPOSTA
POR ELEMENTOS DO EXÉRCITO BRASILEIRO E DA BASE INDUSTRIAL DE
DEFESA, E QUE TENHA A POSSIBILIDADE DE GERAR SINERGIA E
INTEGRAÇÃO NO RELACIONAMENTO ENTRE O EB E A BID?
1.4 QUESTIONAMENTOS
Os seguintes questionamentos correlatos foram estabelecidos durante a
elaboração do projeto de pesquisa e foram discutidos e apresentados ao longo do
estudo.
Primeiro questionamento:
4 O curso se destina a proporcionar conhecimentos sobre as tendências de modernização do setor de Defesa na atualidade e seu papel no Estado moderno, analisando a relevância de sua gestão, a especificidade da legislação, sua organização, cultura e os mecanismos de controle e responsabilidade, discutindo o orçamento consolidado com a justificativa de gasto em defesa e inversões. Destina-se, ainda, a estudar os marcos conceituais à governabilidade e à governança e a aprofundar os conhecimentos sobre as questões vinculadas às relações civis-militares. ESG – Sistema FIESP, 2007. 5 O curso desenvolve um panorama dos requisitos de segurança e das demandas de defesa do Brasil. Tem o objetivo de qualificar os participantes a uma discussão mais aprofundada sobre os desdobramentos políticos, conseqüências econômicas e requisitos tecnológicos de um Projeto de Força brasileiro como instrumento de política externa, bem como fornecer ao participante um instrumental adequado para compreender as mais variadas discussões no que diz respeito à Segurança Internacional. USP, NUPRI, 2007.
31
Quais são as principais dificuldades de integração do EB com os interesses
da BID para a consecução de programas de interesse comum?
Este questionamento é abordado principalmente ao longo do referencial
teórico, Seção Primária 2.
Como marco inicial aos questionamentos, partiu-se de uma série de trabalhos
monográficos que foi redigida ao longo dos últimos anos por pesquisadores civis e
militares. As principais referências foram buscadas em documentação da Escola
Superior de Guerra (ESG), Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
(ECEME), Escola de Guerra Naval (EGN), bem como em alguns autores brasileiros
e norte-americanos que estudaram o tema ao longo da década de 1990 e de 2000.
Esses autores e trabalhos são elencados nas referências bibliográficas ao final deste
trabalho.
A resposta básica ao questionamento enfoca um distanciamento na
associação entre o EB e a BID ao longo dos últimos 15 anos6, fruto de muitos
fatores.
Os principais fatores históricos observados foram:
• O gradual afastamento do Exército do poder político no Brasil ao final do
século XX, com a conseqüente perda de prioridade na alocação de
recursos financeiros;
• Internamente, ainda é possível acrescentar os reduzidos orçamentos para
investimentos das FA, os altos custos de produção e a falta de apoio
governamental às indústrias de material bélico;
• A retração na participação brasileira no mercado mundial de Produtos de
Defesa com o final da Guerra Fria e da 1ª Guerra do Golfo Pérsico (1991).
Nesse período, ocorreu um aumento da oferta de Materiais de Emprego
Militar (MEM) – excedentes de guerra – e surgimento de novos países
produtores e fornecedores;
• Externamente, cumpre ainda citar o estabelecimento de diversas barreiras
tecnológicas pelos países desenvolvidos – “Missile Technology Control
Regime (MTCR)7”, entre outras, que impuseram dificuldades à obtenção
6 O Referencial Teórico, seção seguinte, apresenta o estudo detalhado deste questionamento ao longo de suas partes. Nota do autor. 7 “Regime de Controle de Transferência de Tecnologia de Mísseis”. Nota do autor.
32
de tecnologia de emprego militar pelas empresas nacionais, bem como no
desenvolvimento de novas tecnologias próprias.
Aquelas dificuldades históricas afetam a realidade atual, marcada por um
baixíssimo poder de compra das FA brasileiras, em especial o Exército. A BID, em
que pese a sua recente e promissora rearticulação política, além desses fatores,
ainda enfrenta dificuldades na obtenção de financiamentos governamentais e na
participação nos projetos de reaparelhamento das FA no Brasil.
Segundo questionamento:
Como melhorar a integração das ações do EB com aquelas da BID
relacionadas à Logística, Recursos Humanos e Mobilização e a interação entre os
atores do EB e da BID, de forma a proporcionar o caráter dissuasório à expressão
militar do Poder Nacional (PN)?
A resposta a este questionamento passa pela necessidade da existência de
uma Estratégia comum entre o Exército e a BID, sendo, para tanto, necessário,
antes de qualquer outra coisa, que exista um ambiente de diálogo direto, objetivo e
honesto entre as partes e que seja estabelecida uma agenda conjunta de trabalho.
Entende-se que este seja um momento oportuno para tal empreitada.
Esta abordagem permite identificar uma resposta parcial à questão e que se
constitui no esforço principal desta tese de doutorado. Para a existência do diálogo,
o primeiro passo poderá ser dado na direção do estabelecimento de um grupo de
trabalho em comum. Esse grupo, doravante denominado Equipe Integrada de
Trabalho (EIT), se constituirá em um grupo multidisciplinar composto por
representantes do Exército Brasileiro e da Base Industrial de Defesa com o objetivo
de proporcionar sinergia e integração ao relacionamento entre ambos.
O estudo do modelo atual de relacionamento EB-BID, apresentado no capítulo
seguinte serve de base para a proposta do modelo de EIT que se descortina no
capítulo 5. No caso do estabelecimento de uma EIT, este autor entende que, ao ser
inserida em uma estratégia ampla, haverá conjugação do pensamento à ação neste
campo do conhecimento, pois assim a discussão dos objetivos, metas, óbices e
estratégias de trabalho comum poderá efetivamente ocorrer.
A resposta a este questionamento será ainda parcial; porém; acredita-se que
na direção correta, ou pelo menos, adequada.
Por quê?
33
Porque, a partir de pontos comuns que a EIT proporcione aos atores
envolvidos, o cenário identificado naquele momento apresentará os elementos que
permitirão o aprimoramento, reajuste e adequação da estratégia de longo prazo,
caracterizada justamente pelo estabelecimento inicial de uma equipe que congregue
o EB e BID.
1.5 OBJETIVO
Em função da definição do problema e do encaminhamento para a solução
apresentados anteriormente, foi possível estabelecer o seguinte objetivo para esta
tese de doutorado:
Desenvolver um modelo de Equipe Integrada de Trabalho (EIT), de cunho
multidisciplinar, que associe os esforços do Exército Brasileiro (EB) e da Base
Industrial de Defesa (BID) em programas e projetos comuns, principalmente em
relação à Logística, Recursos Humanos e Mobilização, proporcionando sinergia e
integração entre esses atores.
Em relação a isso, durante a elaboração do projeto, da pesquisa e da redação
desta tese, ficou estabelecido o que se segue:
• Considerar, durante os estudos, a escassez de recursos da estrutura e
da conjuntura nacional para atender as necessidades prementes de
MEM do Exército;
• Conduzir o objetivo definido com objetividade, simplicidade e
exeqüibilidade.
Ao concluir o trabalho, propor soluções adequadas e factíveis, em acordo com
a realidade brasileira; todavia, sem perder de vista a importância, as necessidades
prementes do EB e da BID, bem como a atualidade do tema.
1.6 SUPOSIÇÕES
Considerando as premissas já mencionadas na formulação do problema, a
investigação foi direcionada pelas seguintes suposições:
34
• O EB e a BID podem realizar, com grande possibilidade de êxito, uma
integração de esforços, de maneira complementar, para a produção e
fornecimento de MEM e itens de suprimento militar de forma geral.
• O estabelecimento de rotas razoavelmente seguras entre o EB e a BID
no estudo, definição, planejamento de aquisições, emprego de
recursos humanos, produção, aquisição, uso e substituição de MEM e
fornecimento de itens de suprimento em geral poderá ser feito pela
constituição de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT) entre esses
dois atores do cenário nacional.
Entende-se, fruto do estudo realizado e das pesquisas conduzidas, que a
primeira suposição foi confirmada ao longo deste trabalho em vários aspectos. Os
principais e mais relevantes são os seguintes:
• Existe a vontade manifesta da BID em diversos fóruns – Ministério da
Defesa (MD), COMDEFESA – em buscar uma associação com o
Exército e as demais FA para, em forma de parceria, desenvolver
Produtos de Defesa (PD) e MEM necessários para a Força Terrestre
Brasileira (FTB), proporcionando-lhe desenvolvimento tecnológico,
acesso ao mercado nacional e internacional e garantia de
sobrevivência;
• O Exército Brasileiro, ao seu turno, entende a necessidade de dispor
de PD e MEM nacionais para garantir um nível mínimo de capacidade
dissuasória para o País. Segundo se observa na FTB, a idéia da
aquisição de MEM no exterior8, mesmo que para manter o
adestramento, perde adeptos no âmbito do EB paulatinamente, em
função da compreensão do elevado custo futuro em logística, da
dependência externa e dos malefícios ao desenvolvimento nacional;
• O principal óbice, compreendido por ambos, é a baixíssima prioridade
governamental para o atendimento das necessidades de Defesa
Nacional, caracterizada pelo sucateamento das Forças Armadas e pela
falta de investimentos no setor produtivo nacional. A dúvida que
8 Tendência observada em pesquisa conduzida com oficiais superiores do Exército. Nota do autor.
35
persiste para este autor reside no campo político: ou a prioridade
estabelecida é baixa – justificada por objetivos sociais prioritários – ou
então, uma alternativa amarga, caracterizada pela decisão política,
velada ou não, de não apoiar as FA e a BID;
• Apesar do óbice acima, as possibilidades de êxito são muito boas em
função da mobilização ora reinante, tanto no EB quanto na BID para
sair do discurso à prática na produção de PD e MEM. A recente
reorganização do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) e a
reformulação do Plano Básico de Ciência e Tecnologia (PBCT) do
Exército são claros indicadores da percepção da FTB em se adaptar à
modernidade para poder estabelecer um diálogo produtivo com a BID.
A BID, por sua vez, com a reativação da Associação Brasileira das
Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) nos últimos
quatro anos, demonstra peculiar interesse em trabalhar de forma
coordenada e objetiva no atendimento de seus interesses, sendo
apoiada por estruturas de grande porte, como é o caso do
COMDEFESA, inserido na FIESP;
• O MD, ao seu turno, tem desempenhado o importante papel no
estabelecimento das políticas facilitadoras do relacionamento da
Expressão Militar com a Expressão Econômica do PN, quais sejam a
Política de Defesa Nacional (PDN), Política Logística de Defesa (PLD),
a Política de C, T&I de interesse para a Defesa Nacional, dentre outras.
Esse Ministério se ressente, porém, da falta de continuidade, falta de
liderança, conhecimento limitado e pouco tempo de permanência no
cargo dos últimos Ministros da Defesa9.
A segunda suposição, por sua vez, foi confirmada pela compreensão da
necessidade do estabelecimento de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT) entre o
EB e a BID durante o primeiro ano do CCEM, na fase de elaboração do projeto de
pesquisa10. Esta compreensão surgiu da observação da complexidade dos desafios
9 Essa idéia foi exposta com clareza pelo Secretário de Orçamento do MD em palestra na USP em junho de 2007. Nota do autor. 10 Naquela oportunidade, o estudo estava dirigido, inicialmente, para a Estratégia da Resistência. Quando da eliminação desse aspecto, a suposição foi corrigida e aperfeiçoada. Nota do autor.
36
impostos a um reaparelhamento do Exército dissociado de uma reativação da BID e
vice-versa.
Essa suposição orienta, de forma direta, o caráter inovador do tema desta
tese. A EIT, enquanto proposição central deste trabalho, será validada e testada em
função de vontade política do Exército Brasileiro e da BID para tal.
Constatou-se, ainda no escopo da segunda suposição, a necessidade do
estabelecimento do diálogo franco e direto entre ambos sobre necessidades e
interesses para que o resultado tivesse representatividade para ambos. Para o
estabelecimento do diálogo, entretanto, há necessidade de pessoas, que por sua
vez se organizam em grupos. Quando esses grupos se encontram e, ao seu turno,
encontram interesses e aspirações comuns, eles poderão se transformar em
equipes. Equipes multidisciplinares, com visão balanceada, de origem distinta é que
poderão ser capazes de trabalharem de forma integrada e sinérgica. Há
necessidade de vencer temores iniciais e desconfianças naturais11.
Considera-se, em função do estudo do relacionamento atual e da inexistência
de outros modelos similares a serem compulsados, que a constituição de uma EIT
entre o EB e a BID, seja uma rota razoavelmente segura no estudo, definição,
planejamento de aquisições, emprego de recursos humanos, produção, aquisição,
uso e substituição de MEM e fornecimento de itens de suprimento em geral.
A EIT poderá se constituir em um primeiro passo de uma estratégia de longo
prazo, que tem por finalidade o fortalecimento da Defesa Nacional. Esse primeiro
passo, talvez o mais importante, precisa ser dado devagar, porém com firmeza e
decisão política.
1.7 JUSTIFICATIVAS
Os motivos que valorizam a execução deste trabalho estão ligados a um
tratamento moderno (e pragmático) que se procura dar ao problema da carência
crônica (e histórica) de MEM na FTB. Em complemento, deseja-se indicar
possibilidades para a existência de uma BID segura e confiável, atuando
efetivamente em âmbito nacional e internacional.
11 Indica-se um pensamento, ainda que jocoso, para reflexão, revelado por um amigo certa vez, e que traduz uma faceta do senso comum sobre a realidade, qual seja: há necessidade dos militares entenderem que existem patriotas no meio civil e há necessidade dos civis compreenderem que existem militares inteligentes. Nota do autor.
37
É importante referenciar Cunha (2005), que apresenta a Defesa Nacional
como a parte superior (e, portanto, a mais importante) de uma pirâmide cuja base é
justamente formada pela Base Industrial, Logística, Científica e Tecnológica de
Defesa e na qual as Forças Armadas se apresentam como o elemento intermediário
deste símbolo. A leitura desta analogia bibliográfica é feita para indicar que sem uma
BID forte, a nação brasileira não disporá de FA que sejam garantes de sua
Soberania. Indica, também, que sem uma interação de esforços da BID e FA não se
alcançará o objetivo da Defesa Nacional.
Este esforço acadêmico encontra relevância porque se observa, na
atualidade, uma série de dificuldades, tanto nas FA, quanto nas iniciativas
governamental e privada, para caminhar do discurso à prática para a solução dos
problemas comuns. Na literatura pesquisada, as observações atuais relatam a
precariedade da estrutura da BID, a obsolescência dos MEM e dos PD, bem como a
limitação da capacidade operacional das FA por inexistência e/ou indisponibilidade
de seus materiais orgânicos.
A carência de recursos para investimento e a falta de encomendas são
apontadas como os grandes desafios a serem vencidos pelos atores envolvidos.
Além disso, os esforços do Exército e da BID, quando e se conduzidos em
direções e sentidos distintos, contribuem para diluir os (atualmente) reduzidos
recursos financeiros destinados a investimentos pela expressão militar do PN para o
reaparelhamento e atualização de seu poderio bélico.
1.8 DELIMITAÇÃO
Esta pesquisa diz respeito a um modelo de integração para melhorar o
relacionamento do EB com a BID.
Deseja-se mostrar que o modelo é eficaz e viável, contudo não há intenção de
afirmar que seja o único ou o melhor. Há necessidade de vontade política dos
principais atores envolvidos para que ele possa ser experimentado.
Não se deseja expressar que esse modelo possa ser expandido para outros
setores industriais, como alimentação, vestuário, etc. Alguns conceitos pesquisados
no referencial teórico abrem o campo de pesquisa para outras áreas do
conhecimento.
A abordagem proposta é de baixo para cima – “bottom-up” – ou seja,
buscar-se-á trabalhar em uma integração EB-BID por meio de um esforço
38
coordenado diretamente entre eles, apesar da ciência das dificuldades que este tipo
de abordagem enfrenta em relação à estrutura de poder ora existente. Entende-se
que o MD poderá atuar de forma cooperativa.
1.9 ESTRUTURA DA TESE
A dissertação consta desta primeira seção, na qual são feitas as
considerações iniciais sobre o trabalho e uma breve apresentação dos interesses
pessoais e profissionais do autor a respeito. Esta seção apresenta, também, o
referencial conceitual, com a caracterização do tema, do problema, das justificativas
para a execução da pesquisa, do foco estabelecido, bem como de sua delimitação.
O segundo capítulo, ou seção primária, apresenta o referencial teórico desta
tese. Ele procura enfocar que, ao se propor um modelo para auxiliar a integração EB
– BID, é preciso definir, inicialmente, quem são os principais atores envolvidos:
Exército Brasileiro e a Base Industrial de Defesa. Em seguida, relata-se como foi o
histórico conjunto de ambos e a sua interface atual, bem como uma série de outros
aspectos correlatos. Aborda, também, o entorno ao relacionamento EB – BID,
procurando-se apresentar, de forma sucinta, as relações entre civis e militares neste
campo, o contato de ambos com as universidades e o papel do Governo Federal no
relacionamento de ambos na atualidade. É feita, também, uma breve referência ao
aspecto “Projeto de Força”, por crença deste pesquisador na importância deste
assunto na abordagem global do problema.
A segunda seção primária se caracteriza, ainda, pela apresentação dos
aspectos de Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia na discussão do modelo
atual de relacionamento entre EB - BID. O relacionamento das bases industriais de
defesa de alguns países com as suas respectivas Forças Armadas também é,
brevemente, levantado. Os relacionamentos da Marinha do Brasil (MB) e da Força
Aérea Brasileira (FAB) com a BID são expostos. São apresentados referenciais
sobre o desenvolvimento de equipes, “Soft Systems Methodology” e “Team
Syntegrity”, importantes para a definição do modelo apresentado.
Cumpre destacar o elevado grau de importância que o estudo dos Recursos
Humanos (RH) passou a ter ao longo do período de elaboração desta dissertação.
Inicialmente, quando dos estudos para a delimitação do tema, buscava-se propor um
modelo que fosse capaz de representar todos os aspectos do inter-relacionamento
39
EB – BID. Esta intenção, entretanto, se mostrou por demais ambiciosa, em função
da complexidade desse problema12 e do necessário aprofundamento.
No período compreendido entre a apresentação do projeto de pesquisa (Maio
de 2005) e a apresentação para a banca de pré-qualificação (Setembro de 2006),
este pesquisador, auxiliado pelos orientadores, pôde constatar a necessidade do
estabelecimento de etapas graduais para o estudo de um problema bastante
complexo como este em questão. O passo seguinte, executado ao longo dos
exercícios mentais de elaboração do problema, pesquisas, viagens e redação da
tese, foi marcado pela constatação de que qualquer modelo passaria,
obrigatoriamente, pelo emprego de pessoas (RH) oriundas do EB e da BID, civis e
militares, ou seja, haveria necessidade de se propor um modelo anterior àquele de
maior envergadura.
Constatou-se que, para teorizar ou modelar este relacionamento com um grau
razoável de confiabilidade, se faz necessário um número maior de elementos
humanos participantes, pesquisadores e instituições. Dessa forma, elaborou-se, de
forma natural (e intuitiva), a idéia de conceber uma Equipe Integrada de Trabalho
(EIT) antes de qualquer coisa; algo como uma ‘tripulação de um barco’ que fosse
capaz de ‘navegar’ neste ambiente complexo, ambíguo, volátil e incerto13. Este
primeiro passo, no sentido de estabelecer um modelo para auxiliar a integração,
passou a ser, então, o foco do trabalho de pesquisa – compor (modelar) uma equipe
multidisciplinar que fosse capaz de traduzir as necessidades logísticas de Material
de Emprego Militar do Exército Brasileiro com os interesses e capacidades da Base
Industrial de Defesa nacional.
O Referencial Metodológico, ao seu turno, é apresentado no Capítulo 3.
Nesse capítulo, é feita a indicação das suposições e variáveis. Os procedimentos de
pesquisa, entrevistas, questionários, viagens de estudo, dentre outros, são
relacionados e explicados.
Na quarta seção primária do presente trabalho, é feita a discussão do
relacionamento atual entre o EB e a BID com enfoque para o diálogo entre esses 12 O tema inicial proposto era: “O Relacionamento entre a Indústria Brasileira de Material de Defesa e o Exército Brasileiro visando à Implementação da Estratégia de Resistência” – 04 de Maio de 2005. Nota do autor. 13 “... uma ordem de mundo onde as ameaças são difusas e indefinidas, onde o conflito é inerente e imprevisível e onde nossa capacidade para defender e promover nossos interesses nacionais podem ser restringidos por condicionantes materiais e pessoais. Resumindo, um ambiente marcado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambigüidade...” (Magge II, US Army War College, 1998, apud Yarger, 2006)
40
atores, as necessidades do Exército, os interesses da BID e uma análise da situação
atual. Além dessa discussão, esta seção apresenta os resultados dos levantamentos
de dados com a finalidade de permitir uma referência imediata à origem das fontes.
O Capítulo 5, principal contribuição inovadora desta tese, apresenta os
estudos do modelo de relacionamento integrado entre o EB – BID, oportunidade em
que é feita a apresentação da Equipe Integrada de Trabalho (EIT). Estudam-se a
sua composição, sua finalidade e seus objetivos, bem como outros tantos aspectos
característicos do modelo em questão.
O Capítulo 6, por sua vez, apresenta as contribuições que a obra pretende
dar ao aprimoramento da Ciência, ao Exército e à Sociedade brasileira. Em seguida,
enfoca as conclusões e recomendações do autor sobre o trabalho desenvolvido,
destacando-se a contribuição proposta com o estabelecimento de um modelo de EIT
para auxiliar a integração no relacionamento do Exército Brasileiro com a Base
Industrial de Defesa. No epílogo, ao caracterizar a abordagem pessoal deste autor
sobre o estudo, descortina-se a conclusão final desta tese.
41
REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NO BRASIL
2.1.1 Inserção
Em função de suas necessidades de defesa, a sociedade brasileira
estabeleceu, ao longo da história, um segmento econômico voltado para o
desenvolvimento e produção de MEM para atender suas FA e às FA de países que
negociam com o Brasil.
Para tanto, se fez (e se faz) necessário uma política com conseqüentes
estratégias de implantação e sustentação desse segmento da economia nacional. A
atual Política de Defesa Nacional (PDN) brasileira foi editada em 2005 e definiu a
Estratégia da Dissuasão como prioritária. Para tal, tornam-se necessários a
compreensão e o desenvolvimento do Poder Nacional de forma abrangente, não-
somente no campo militar, mas em estreita associação com os demais campos –
econômico, político, psicossocial e científico-tecnológico14.
Naquele conceito de Poder Nacional (PN), reside a importância estratégica da
indústria de defesa para o Brasil, como Estado no concerto internacional. Ele
associa as FA – campo militar, o segmento nacional produtor de MEM – Expressão
Econômica, os centros de pesquisa em C&T – campo da C&T, a sociedade de forma
geral – Expressão Psicossocial – e o governo, Expressão Política.
Segundo Barros (2004) apud Rodrigues, a falta de uma indústria bélica que
sustente as opções estratégicas de um país ficou evidenciada na Guerra das
Malvinas / Falklands que envolveu o Reino Unido e a Argentina no Atlântico Sul em
1982.
[...] A Guerra das Malvinas foi uma lição ilustrativa a respeito: por confrontar o Reino Unido, uma nação desenvolvida e aliada estratégica dos EUA, a Argentina teve seu acesso a peças de reposição, estoques de munição e novos armamentos completamente bloqueado [grifo nosso], o que acabou por gerar virtual paralisia no seu sistema de defesa, independentemente de outros fatores-
14 “Segundo Samuel P. Huntington, a ética profissional militar é realista e conservadora. [...] A ideologia pró-militar por excelência é denominada realismo conservador. Este realismo inspira-se em pensadores como Machiavelli e Clausewitz, enquanto que o conservadorismo assemelha-se ao de Edmund Burke. [...] Tal visão - inspirada nas idéias econômicas de Alexander Hamilton e Friedrich List - seria realista e conservadora. Desse modo, seria compatível com a ética profissional militar e o fortalecimento do Poder Nacional em todos os campos. O realismo conservador - cujos maiores expoentes, em nosso país, foram José Bonifácio e o Barão do Rio Branco - é uma ideologia pouco difundida, na sociedade brasileira.” (Pesce & Silva, “Ideologias antimilitares”, disponibilizado no Monitor Mercantil Digital em 22/02/2007, seção Opinião).
42
chave para seu insucesso naquela aventura de 74 dias nos idos de 1982. Mas a lição daquele conflito é inequívoca: é preciso fomentar senão a autonomia absoluta dos sistemas nacionais de segurança e defesa, mas a capacidade endógena de produção de saber e de bens. [...] (Barros, 2004)
O descobrimento do Brasil, em 1500, pelos portugueses evidenciou um
território com imenso potencial de riquezas materiais. Ao longo de sua evolução
histórica, os brasileiros estão aprendendo a valorizar o imenso potencial existente,
bem como agregar valor, à medida que ocorre o fortalecimento dos valores
nacionais, da economia e da população. Uma evidência disso é o crescimento do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH15).
As riquezas do território despertaram, por sua vez, a cobiça de muitos outros
povos no passado. A História nos mostra que ocorreram invasões holandesas e
francesas no Nordeste brasileiro e no Rio de Janeiro ao longo dos Séculos XVI e
XVII com o objetivo de estabelecerem colônias para aqueles países. Expedições
exploradoras inglesas e de outras nações estiveram no litoral brasileiro e, com
invulgar interesse, na região amazônica, ao longo de várias oportunidades.
Empregava-se a estratégia direta. É lícito supor que o interesse na preservação e na
exploração econômica dos recursos naturais brasileiros se constituiu em um
exemplo da atualização do interesse internacional pelas riquezas nacionais por meio
da estratégia indireta.
Em relação à atuação indireta, Cunha (2005) afirma que os grandes atores no
cenário internacional ainda são os Estados Nacionais, permanecendo assim por
muito tempo. Os demais atores influentes (empresas transnacionais, instituições
religiosas, associações de países, organizações não-governamentais – ONG) não
possuem território, população, estrutura política, judiciária e militar. Eles servem
como complemento ou intermediários no cenário montado pelos Estados, servindo
como elementos adequados para o emprego em uma estratégia indireta.
Sob outro enfoque, o Brasil, como nação emergente, almeja o
desenvolvimento econômico sustentável. Para sustentar o crescimento, explorando
as suas riquezas e sua produção comercial, o País deverá ganhar novos mercados
mundiais, destacando-se entre os demais povos. Hoje, ocupa e, no futuro, ocupará
espaços políticos no cenário mundial (em especial, o sul-americano) que deslocarão
outros países de suas esferas de influência ou mercados. Apesar da crença
15 Brasil: 0,792 (69º lugar); valor considerado médio pela Organização das Nações Unidas (ONU).
43
brasileira na solução pacífica dos conflitos (PDN, 2005), expressa em sua
Constituição Federal (CF), essa “perturbação16” na ordem mundial poderá gerar
reações, retaliações ou pressões estrangeiras sobre a Vontade Nacional, atuando
sobre os pontos fracos e vulnerabilidades nacionais.
Cumpre referenciar Pesce & Silva (2007):
[...] No Século XXI, os conflitos pela posse de recursos naturais escassos, localizados em paises periféricos, poderão tornar-se comuns. É por isso que os principais países ocidentais - fortemente dependentes de petróleo e outras matérias primas estratégicas - vêm investindo na ampliação da capacidade expedicionária de suas Forças Armadas. [...] (Pesce & Silva, “Ideologias antimilitares”, disponibilizado no Monitor Mercantil Digital em 22/02/2007, seção Opinião).
Para fazer frente a essas ameaças que podem gerar um conflito militar, a
Defesa Nacional precisa estar atualizada, valendo-se de FA adestradas, com
equipamentos atualizados e com a menor dependência externa possível no
fornecimento de MEM. A Guerra das Malvinas/Falklands entre a Argentina e o Reino
Unido (RU), ocorrida na América do Sul em 1982 e anteriormente referenciada,
evidenciou a vulnerabilidade do país platino ao suprimento internacional em MEM,
favorecendo o RU sobremaneira. Este conflito, além de outros tantos, próximos ou
afastados no espaço e/ou no tempo, servem de exemplo de que uma nação não
deve confiar em outras para garantir os meios que possibilitem a sua segurança e/ou
defesa.
2.1.2 Segmento de Defesa
De acordo com Cunha (2005), o segmento nacional produtor de MEM é
atualmente conhecido como Base Industrial de Defesa (BID) no âmbito
governamental, enquanto no setor privado é denominado Indústria Brasileira de
Material de Defesa (IBMD). Essas denominações são válidas e se complementam. O
Ministério da Defesa (2005) conceitua a BID como o conjunto das empresas estatais
e privadas, bem como organizações civis e militares, que participam de uma ou mais
etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de
produtos estratégicos de defesa (bens e serviços), acrescendo, portanto, a base
logística, científica e tecnológica.
Segundo Ravara (2001), uma indústria de defesa nacional apenas se justifica
por razões estratégicas, nas quais existe a prevalência da garantia do fornecimento
16 Cunha, 2005.
44
de material específico para o cumprimento das suas missões militares,
principalmente as armas e os equipamentos bélicos. Os principais argumentos que
explicam o interesse em se manter a indústria de defesa nacional são a manutenção
dos MEM (ao longo do ciclo de vida do material), a necessidade de ‘saber e
conhecer’ para melhor escolher os Produtos de Defesa (PD) necessários ao país, a
‘perspectiva de desenvolvimento nacional integrado’ pelo uso da tecnologia dual e,
fundamentalmente, para ser elemento garantidor de um ‘capacidade mínima’ de
fornecimento de MEM para as FA nacionais.
2.1.3 Histórico
2.1.3.1 Primórdios – 1500 a 1762
Os primórdios da produção de MEM, em terras brasileiras, remontam à
construção naval conduzida de forma bastante incipiente, por Portugal, para
proteger a costa brasileira contra os ataques de piratas e a cobiça estrangeira por
novas terras recém-descobertas. Segundo Cunha (2005), foram construídas
embarcações denominadas “caravelões” – pequenas caravelas, de 40 a 50 ton, dois
ou três mastros, 25 homens e 06 peças de artilharia em meados do Século XVI. Os
portugueses construíram embarcações costeiras em São Vicente, enquanto Martim
Afonso de Souza, Capitão-Mor da Armada, construía pequenas embarcações de
cabotagem no Rio de Janeiro (RJ). A “Ribeira das Naus” foi criada em Salvador,
Bahia, na mesma época, sendo responsável pela produção de naus, fragatas,
corvetas e bergantins, até o final do Século XIX.
Os colonos portugueses construíram fortificações para defesa do território;
bem como, iniciaram expedições terrestres para exploração do interior – o “Sertão”.
Segundo Cunha (2005), as “Entradas e Bandeiras”, como vieram a ser conhecidas,
incentivaram a produção de mosquetes, pólvora e armas brancas.
De acordo com Pereira (1994), esses mesmos colonizadores iniciaram
também a instrução de artilharia, dando origem ao ensino militar na colônia. Esse
ensino viria a ser o embrião do ensino técnico e científico brasileiro que, por sua vez,
se tornaria o ventre do qual nasceria a atual tecnologia militar em meados do Século
XX.
Constata-se a imensa preocupação dos primeiros colonizadores com a
defesa, especialmente em função do imenso litoral, variadas riquezas e dos
45
constantes ataques estrangeiros. Os portugueses foram eficientes exploradores e,
mesmo com os poucos recursos disponíveis à época, conseguiram preservar o
território em função de uma política bem planejada e de uma estratégia bem
executada ao longo daquele período colonial. A União Ibérica – Portugal e Espanha,
entre 1580 e 1640 – também contribuiu em muito para a integridade territorial,
mantida com sucesso até a atualidade.
2.1.3.2 Ciclo Imperial – 1762 a 1889
Caracterizado como o ciclo dos Arsenais Militares17, inicia-se em 1762 com a
fundação da “Casa do Trem de Artilharia”, no Rio de Janeiro, pelo Conde de
Bobadela18. Em 1764, veio a receber a denominação de “Arsenal do Trem”,
agregando responsabilidades logísticas a sua finalidade primeira de suprimento e
reparação de material bélico para a defesa do sul do território em constantes guerras
e disputas territoriais entre Portugal e Espanha.
O “Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro” (AMRJ) foi organizado em 1763,
sendo que o primeiro navio de guerra produzido foi a “Nau São Sebastião”, com
1400 toneladas e 64 peças de artilharia, em 176719. Em 1765, foi inaugurada a
“Fábrica de Armas da Fortaleza da Conceição” e, em 1773, o “Trem de Guerra da
Província do Rio Grande do Sul”.
Em 1808, a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro e a
abertura dos portos às nações amigas marcaram profundamente a história do Brasil.
Naquele ano, inaugurou-se a “Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas”, no
atual Jardim Botânico da cidade do Rio de Janeiro. Em 1824, ela foi transferida para
o distrito de Estrela, na Serra de Petrópolis, RJ. Essa unidade, hoje modernizada, é
denominada “Fábrica da Estrela” e está sob jurisdição do Exército por meio da
“Indústria Brasileira de Material Bélico” (IMBEL), empresa vinculada ao Ministério da
Defesa, produzindo compostos químicos e explosivos militares (Gabinete do
Comandante do Exército, 2003).
É importante ressaltar a criação da “Academia Real Militar”, em 04 de
dezembro de 1810, pela corte real portuguesa, lançando os fundamentos do ensino 17 Denominação empregada por Amarante, 2004. Nota do autor. 18 Gomes Freire de Andrade, Governador da Capitania do Rio de Janeiro, desde 1733. Morreu em 1763, sucedido pelo Conde da Cunha, Vice-Rei, que transferiu a capital de Salvador para o Rio. Nota do autor. 19 Telles apud Dagnino “A Indústria de Armamentos Brasileira: uma tentativa de avaliação”. Tese de doutoramento, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 1989.
46
militar. Ela foi o primeiro centro difusor de ciências no Brasil, permitindo assim a
formação de engenheiros que viriam a trabalhar nos assuntos de defesa da nação.
O “Arsenal do Trem”, por sua vez, foi transformado em “Arsenal de Guerra da
Corte” em 1811. Hoje, é denominado “Arsenal de Guerra do Rio” (AGR),
organização militar (OM) do EB, com finalidade de recuperação e fabricação de
material bélico (armas e munições) para as FA, notadamente o Exército.
A proclamação da independência, em 1822, e o processo de sua
consolidação acentuaram a necessidade de defesa. O “Arsenal de Guerra de Porto
Alegre” foi criado em 1828 para aproximar o apoio logístico das operações militares
que ocorriam no sul do país em função dos conflitos na Província Cisplatina (hoje,
Uruguai). Esta organização foi transferida para o interior e denomina-se hoje
“Arsenal de Guerra de General Câmara”. Constitui-se em uma OM do Exército
voltada para reparos de pequena monta em equipamentos militares.
A “Guerra da Tríplice Aliança” (1864-1870), que reuniu Brasil, Argentina e
Uruguai contra o Governo do Paraguai, expandiu a produção de MEM,
especialmente pólvora, cartuchos, projéteis e belonaves. O Arsenal de Guerra da
Corte foi o “Centro Logístico” das tropas brasileiras. Muitos equipamentos foram
produzidos, porém não em quantidade suficiente, fazendo com que o país
recorresse às importações. De acordo com Pereira (1994), o Exército se ressentia
da falta de equipamentos e para isso apelou para compras na Argentina durante o
conflito, com pagamento em libras esterlinas.
A partir de 1857, segundo Pereira (1994), o AMRJ foi, praticamente, o único
centro de construção naval em território nacional. Nesse período, o Brasil construiu
embarcações de guerra com base em projetos locais sofisticados e atualizados para
a época, sendo o segundo país, após os Estados Unidos da América (EUA), a
construir encouraçados, segundo Dagnino (1989). Destacaram-se o encouraçado
“Sete de Setembro” (1874) e os cruzadores “Almirante Barroso” (1880) e
“Tamandaré” (1884).
Após a Guerra da Tríplice Aliança e, em função de seu elevado custo, o país
viveu um período de relativa estagnação nas encomendas de material bélico. Vivia-
se o auge da Revolução Industrial no mundo e o Brasil, ao seu turno, passava por
uma tensa situação política e econômica que culminaria na mudança na forma de
Governo, com a adoção da República em 1889. Segundo Cunha (2005), a ausência
47
de uma base industrial suficientemente ampla, bem como de investimentos, fez com
que o Brasil perdesse a corrida tecnológica e industrial daquele período histórico.
Àquela época, o Brasil estava atualizado no emprego de vários MEM, porém,
importados em sua maioria. O grande destaque foi a fabricação autóctone de
belonaves de combate. A produção era maciçamente governamental, pela própria
característica do período histórico e pela falta de uma estrutura produtiva adequada
em uma sociedade agrária, característica brasileira do Século XIX.
Evidencia-se que ao longo do ciclo real e imperial brasileiro, as necessidades
de defesa e de produção de material bélico se fizeram sentir em função das
ameaças à integridade territorial e, em caráter especial, frente ao desafio da “Guerra
do Paraguai”. A chegada da família real em 1808, em fuga das forças napoleônicas
na Europa, foi o ponto de partida para uma série de organizações governamentais
militares produtoras de material bélico, algumas das quais existem até os dias de
hoje.
2.1.3.3 República Velha – 1889 a 1926
O ambiente político conturbado e uma reorganização profunda na Marinha e
no Exército inviabilizaram o crescimento da indústria de defesa nesse período. De
acordo com o Gabinete do Comandante do Exército (2003), a diretriz básica inicial
do governo era importar armamentos, especialmente da Alemanha, estabelecendo-
se oficinas locais para adaptação e manutenção.
A proclamação da República encerrou um período de desenvolvimento da
construção naval brasileira pela inexistência de uma programação industrial, de
infra-estrutura adequada – principalmente siderurgia – e de operariado qualificado
(Pereira, 1994).
Em 1898, foi fundada a “Fábrica do Realengo”, que produzia munição para
armas portáteis, espoletas para granadas de mão e petardos, bem como
complementava o carregamento de granadas de artilharia e de morteiros. Em 1906,
fundou-se a “Fábrica de Pólvora sem Fumaça” em Piquete, no estado de São Paulo
(SP), com a finalidade de produzir explosivos (dinamite e TNT), propelentes e
pólvoras de base simples e dupla. Estes produtos atendiam, também, ao mercado
civil. Hoje, esta última unidade fabril é denominada “Fábrica Presidente Vargas” e
está incorporada à IMBEL.
48
Em 1911, iniciou-se a construção de um avião na “Fábrica de Cartuchos e
Munições do Exército” no Rio de Janeiro. A iniciativa contou com pouco apoio,
levando cerca de seis anos para a construção do aparelho. Situação similar viria a
ocorrer com bastante sucesso, cerca de meio século depois, com a aeronave turbo-
hélice de asa fixa “Bandeirante” no interior de São Paulo.
Segundo Pádua (2005), a 1ª Guerra Mundial não trouxe benefícios ao setor.
Ocorreu o rompimento do Brasil com a Alemanha e o alinhamento com a França,
marcado pela presença da Missão Militar Francesa, que muito influenciou o
pensamento militar brasileiro, especialmente no Exército.
Para o setor de produção bélica, aquele foi um período de transição entre o
final do Império e o início do “Estado Novo” no país. A emergente república
enfrentava muitas dificuldades regionais no seu processo de afirmação e as FA,
principais clientes de material bélico, estavam envolvidas em processos de
afirmação e de reorganização importantes, com baixa prioridade em
reaparelhamento.
2.1.3.4 Ciclo das Fábricas Militares20
A década de 1930 assinalou o primeiro ciclo industrial militar brasileiro,
utilizando tecnologias estrangeiras, sob licença ou adquiridas. Um grande programa
de nacionalização de produtos de defesa foi organizado. Naquela época, o Brasil
não fabricava MEM pesados, quais sejam canhões, obuseiros e metralhadoras. O
País não dispunha de indústria siderúrgica, fundamental para a fabricação de
grandes armas, bem como não estava envolvido em guerras de fronteira ou
problemas marítimos imperativos, que justificassem um elevado gasto em defesa em
curto prazo (Gabinete do Comandante do Exército, 2003).
O Exército procurou se adaptar ao surto de modernização da época. Para
isso, implantou uma série de fábricas sob sua administração direta: “Fábrica de
Andaraí” (1932), destinada à produção de granadas de artilharia e morteiros;
“Fábrica de Curitiba” (1933), com produção de trens de campanha hipomóveis,
cozinhas, pontões de engenharia e equipamento geral de transporte; “Fábrica de
Armas”, depois denominada “Fábrica de Juiz de Fora” (1933), que se destinava à
fabricação de espoletas e estopilhas, granadas de artilharia e morteiro, assim como
20 Denominação empregada para o período de 1926-1952 por Amarante, 2004. Nota do autor.
49
estojos e tiros de artilharia – em operação junto a IMBEL; “Fábrica de Itajubá”
(1933), com produção de armamento leve e de uso pessoal, hoje integrada à IMBEL;
“Fábrica de Bonsucesso” (1933), que produzia gases de combate e máscaras contra
gases; e, “Fábrica de Material de Comunicações” (1939), a primeira do tipo no país,
suprindo o Exército com equipamento de telefonia de campanha, hoje denominada
“Fábrica de Material de Comunicações e Eletrônica” (FMCE) e incorporada à IMBEL.
O Ministério dos Transportes estabeleceu uma unidade montadora de aviões
em Lagoa Santa, estado de Minas Gerais (MG), ao final da década de 30, que
depois seria repassada à Força Aérea Brasileira (FAB), quando da formação do
Ministério da Aeronáutica em 1941. Conca (1997) indica que esta organização
chegou a produzir com bastante sucesso aviões “Fairchild PT19B Cornell” e “T-6
Texans” durante a 2ª Guerra Mundial. O AMRJ também foi modernizado neste
período.
De acordo com Conca (1997), interrupções nas linhas de financiamento e
limitações em pessoal técnico especializado continuaram a assombrar o setor de
defesa, permanecendo a confiança nos fornecedores externos como a norma para o
suprimento de material bélico pesado para as FA brasileiras ao longo do período.
Falta de capital de investimento e ausência de fornecedores também dificultaram a
expansão do setor produtivo de defesa. Entretanto, o surgimento da siderurgia
pesada (Volta Redonda, RJ) nesse período viria proporcionar a base para o
crescimento do setor em maior escala nos anos seguintes.
A participação da iniciativa privada na produção de armamentos apareceu,
pela primeira vez, em 1926, com a fundação da empresa “Amadeo Rossi & Cia.” em
Caxias do Sul, estado do Rio Grande do Sul (RS), que se destinava a produzir
espoletas para cartuchos e espingardas de caça. No mesmo ano, ocorreu o
surgimento da “Companhia Brasileira de Cartuchos” (CBC), no município de Santo
André, SP, para a produção de munição leve. As “Forjas Taurus” surgiram no RS em
1939, produzindo armas leves. Atualmente, a CBC e as Forjas Taurus são grandes
produtoras de armamento e munição leve para os mercados nacional e
internacional.
Aquele foi um período marcante para a indústria de defesa no Brasil.
Auxiliada pelos ventos modernizantes da época, a Base Industrial de Defesa pôde
se estabelecer, apesar de se voltar basicamente para a fabricação, com a formação
50
de recursos humanos e a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ainda em segundo
plano.
A 2ª Guerra Mundial, porém, apanhou o país desprevenido na produção
bélica nacional, fazendo-o buscar aliança com os EUA. Em 1944, a 1ª Divisão de
Infantaria Expedicionária (DIE) Brasileira combateu na Itália ao lado dos Aliados
contra os alemães, sendo basicamente organizada com MEM de origem norte-
americana, iniciando-se um período de dependência externa bastante elevada no
setor de defesa.
2.1.3.5 Acordo Militar Brasil/EUA – 1952 a 1976
Após o conflito mundial, aprofundou-se a vinculação brasileira ao apoio
logístico de MEM provindos dos EUA. Essa dependência foi oficializada mediante o
“Acordo de Cooperação Militar” (Military Assistance Program) estabelecido em 1952,
por meio do qual o Brasil receberia material bélico norte-americano a custo mínimo,
sujeitando-se a cláusulas restritivas no seu emprego. Segundo Conca (1997),
confirmado por Acocella (2006), isso provocou um forte desestímulo à produção
nacional de MEM para as FA brasileiras, acrescido da relutância do capital privado
em participar em iniciativas neste segmento de produção. A IBMD viveu um período
de estagnação e retrocesso (Cunha, 2005).
A dependência bélica foi nefasta para o desenvolvimento autóctone adequado
do país no setor, pois provocou o acomodamento natural das FA em receber o
produto pronto.
O Governo brasileiro (Ernesto Geisel) denunciou esse acordo em 1975,
encerrando um ciclo de cerca de vinte anos. Naquele ano, o governo federal criou a
IMBEL, empresa que se encarregaria de produzir material de uso para o Exército,
procurando dependência mínima às importações no setor de defesa.
A Marinha e a Força Aérea procurariam tomar outros rumos, porém atrelados
a uma política governamental de apoio à indústria nativa, conforme será visto
adiante. A concepção da idéia de exportação de material bélico ocorreria em 1976.
Observa-se, porém, que ao longo do período do acordo militar, enquanto se
recebia MEM diretamente dos EUA, ocorriam, também, a formação e a
especialização dos engenheiros e técnicos que trabalhariam na fase áurea da IBMD
nas décadas de 1970 e 1980.
51
2.1.3.6 Ciclo da Pesquisa e Desenvolvimento (P & D) – 1940 aos dias atuais
A participação na 2ª Guerra Mundial ao lado dos EUA mostrou aos militares
brasileiros a importância fundamental da tecnologia no desempenho vitorioso dos
Aliados. Com a finalidade de desenvolver a P&D no Brasil, as FA envidaram muitos
esforços, entre eles a criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em
1947, da Escola Superior de Guerra (ESG) (1948) e do Conselho Nacional de
Pesquisa (1951). De acordo com Ribeiro (1994), essas organizações foram a base
do processo de criação das indústrias de defesa no país, dando início à capacitação
tecno-científica militar do Brasil.
Na ESG, surgiu o conceito de “Segurança e Desenvolvimento”, associado ao
aprimoramento da doutrina militar. Essa escola se mostrou como uma das primeiras
tentativas de associação de interesses entre as FA, bem como de esforço para
engajar as elites nacionais em assuntos de Defesa, segundo Conca (1997),
almejando, dentre muitos objetivos, o desenvolvimento da BID.
A Força Aérea Brasileira (FAB) se beneficiou do ITA, que deu origem ao
Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, em 1950. Atualmente,
ele recebe a denominação de “Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial” e é
responsável, dentre outros projetos de vulto, pelo Veículo Lançador de Satélites
(VLS) do Programa Espacial Brasileiro (PEB), em associação com a Agência
Espacial Brasileira (AEB). Em 1969, a FAB fundou a Empresa Brasileira de
Aeronáutica (EMBRAER) – hoje privatizada – para a produção de aeronaves,
apoiando o projeto de pesquisadores brasileiros que desenvolviam o avião
Bandeirante, anteriormente referenciado.
A Marinha, por sua vez, tomou outro caminho. Estabeleceu convênio com a
Escola Politécnica de São Paulo para um curso de engenharia naval em 1955. Em
1959, ela ativou curso semelhante com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e
criou o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM). Em 1982, a Marinha criou a
Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), com a finalidade de gerenciar
projetos e promover a indústria militar naval.
A Marinha do Brasil estabeleceu uma liderança ativa no desenvolvimento da
energia nuclear e dos programas eletrônicos no país. Conca (1997), relata que o
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) foi fundado pelo Almirante Álvaro Alberto
da Mota e Silva, em 1951, para consolidar o controle estatal sobre as atividades
nucleares.
52
O Exército, ao seu turno, realizou a fusão da Escola Técnica do Exército com
o Instituto Militar de Tecnologia, em 1959, dando origem ao Instituto Militar de
Engenharia (IME), com sede na cidade do Rio de Janeiro. O Instituto de Pesquisa e
Desenvolvimento (IPD) foi estabelecido em 1970; o Centro Tecnológico do Exército
(CTEx) foi criado em 1982 e o Instituto de Projetos Especiais (IPE) foi ativado em
1986. Hoje, eles formam o Complexo Tecno-científico de Guaratiba, RJ.
O óbice da inexistência de mão-de-obra nacional qualificada em Defesa e de
corpo técnico especializado em P&D começava a ser superado.
Em 1963, o governo brasileiro criou o Grupo Permanente de Mobilização
Industrial (GPMI), em articulação com o empresariado nacional, com o objetivo de
atuação em conjunto em prol dos interesses nacionais (Pereira, 1994). O empresário
Vitório Ferraz foi escolhido como primeiro presidente deste grupo, que tinha
representantes da Marinha, Exército, Aeronáutica e da principal associação
industrial, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
O GPMI estabeleceu comissões conjuntas das FA e das indústrias para o
desenvolvimento de veículos militares, aviação, equipamento naval, eletrônica,
comunicações, armamento, munição, equipamentos médicos, produtos
farmacêuticos, alimentação e fardamento. De acordo com Silberfield, apud Conca
(1997)21, a importância do GPMI residia na sua condição de estrada de mão-dupla:
as empresas obteriam informações e oportunidades para se desenvolverem na área
de Defesa, enquanto o governo obteria informações da capacidade industrial
instalada. Este grupo atingiu sua máxima efetividade entre 1964 e 1967, facilitando a
entrada de empresas privadas nacionais no segmento de defesa e estabelecendo
padrões de relacionamento entre civis e militares. Infelizmente, teve dificuldades
para demonstrar aos empresários da BID a integração existente entre modernização
tecnológica, mobilização industrial e Segurança Nacional22.
Conca (1997) ressalta a importância de, ao se estudar a BID no período,
verificar três conjuntos de relacionamentos: a interação entre FA e as elites
econômicas (BID); a relação dos militares com a burocracia governamental, bem
como o relacionamento entre os diversos setores internos das FA [diferentes FA,
com diferentes setores operacionais, técnicos (C&T), de pessoal e logísticos].
21 Jean-Claude Eduardo Silberfield, “Mobilização Industrial”, Política e Estratégia 5, p. 586-587, 1987. 22 Hoje, ao contrário, o COMDEFESA mobiliza os empresários da BID para receber o apoio do governo em projetos associados de tecnologia e de defesa. Nota do autor.
53
Segundo Amarante (2004), o acerto no planejamento e na execução de
políticas governamentais de fomento em Pesquisa & Desenvolvimento e de fomento
industrial no período de 1965 a 1985 foi fundamental para o sucesso alcançado pelo
setor de Defesa na segunda metade da década de 1980.
Ficou evidenciada a preocupação acertada dos governantes da época com o
planejamento de longo prazo e visão de Estado para o setor de defesa. A formação
de pessoal especializado aproximou o país com o que havia de mais moderno em
tecnologia com aplicação bélica. A BID também se valeu das indústrias de base que
foram montadas nos anos anteriores para o fornecimento de insumos. O setor
iniciava o seu crescimento.
2.1.3.7 Período Áureo – Década de 1970 até o início da década de 1990
Ao longo destes anos, o Brasil procurou desenvolver uma tecnologia
autóctone que atendesse as suas necessidades militares, bem como produzir MEM
em larga escala, gerando divisas pelas exportações e retro-alimentando o setor.
A produção de MEM era feita por meio de empresas públicas, de economia
mista e privadas, com predomínio das últimas. As empresas criadas ou que se
expandiram neste período foram, dentre outras, EMBRAER, ENGESA, AVIBRAS,
BERNARDINI, MOTOPEÇAS, ENGESA-QUÍMICA, DF VASCONCELOS, CBV,
NOVATRAÇÃO, PRÓLOGO, SITELTRA, IMBEL, HELIBRAS, EMGEPRON,
VALPARAÍBA, CONDOR, BRITANITE, BEMESA, TEREX. (Pereira, 1994).
Empresas Produtos
ENGESA EE-11 (URUTU), EE-9 (CASCAVEL), EE-17
(SUCURI), EE-3 (JARARACA), EE-T1 (OSÓRIO)*.
EMBRAER Xavante, Bandeirante, Xingu, Tucano, Brasília, AM-X,
Vector* .
AVIBRAS SBAT-70, ASTROS II (SS30, SS40, SS60), Bombas
de Fragmentação.
AMRJ Corvetas e Submarinos convencionais da Classe
TAMOIO.
* protótipos
Tabela 1 – Principais produtos de defesa brasileiros da época e seus fabricantes
Fonte: o autor
54
Segundo Franko-Jones apud Proença Júnior (1992)23, o País chegou a ser
um dos principais exportadores mundiais de armas convencionais, com vendas
anuais de mais de quinhentos milhões de dólares, em meados dos anos oitenta (ver
Tabela 2). Além das FA brasileiras, os principais compradores de MEM nacionais
foram países amigos da América do Sul, África e Oriente Médio.
A Marinha construiu duas fragatas (Classe Niterói), sob licença britânica, em
um programa iniciado em 1972. Esse programa permitiu a modernização do AMRJ,
que viria abrigar outros programas de construção sob licença no Brasil. Esses
programas são exemplificados pela construção de corvetas projetadas e
desenvolvidas no país, bem como pela construção dos submarinos convencionais,
de projeto original alemão, da classe IKL-209-1400.
País
exportador
1985 1986 1987 1988 1989 1985-
1989
1. União Soviética 8563 10327 10579 8238 8515 46402
2. Estados Unidos 4024 4925 6270 3649 2528 21396
3. França 3588 3355 2518 1312 1527 12300
4. China 1017 1193 1960 1781 718 6669
5. Reino Unido 903 1020 1530 1165 993 5611
6. Alemanha
Ocidental
395 649 252 480 149 1925
7. Itália 578 398 319 360 30 1685
8. Holanda 38 132 263 402 572 1407
9. Brasil 172 134 491 338 182 1317
10. Israel 160 242 273 117 216 1008
11. Tchecoslováquia 124 124 198 176 287 909
12. Suécia 35 141 298 240 134 848
13. Espanha 139 185 160 206 143 833
14. Egito 124 159 194 232 62 771
15. Coréia do Norte 95 48 98 123 - 364
Outros 621 528 587 437 371 2544
Total 20576 23560 26170 19256 16427 105989
Tabela 2 – Principais Países Exportadores de Armas para o Terceiro Mundo, 1985-1989 (em milhões de dólares norte-americanos – 1985). Fonte: Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), World Armaments and Disarmament: SIPRI Yearbook 1990 (Conca, 1997). 23 Patrice Franko-Jones, “The Brazilian Defense Industry”, Boulder, Colorado, Westview Press, 1992, capítulo “The Brazilian Defense Industry in Crisis”.
55
O período foi relativamente curto, com o ápice na primeira metade da década
de 1980. Destacaram-se as empresas ENGESA, AVIBRAS e EMBRAER. Os Carros
de Combate (CC) “CASCAVEL”, o Veículo Blindado de Transporte de Tropas
(VBTP) “URUTU”, o Lançador Múltiplo de Foguetes (LMF) “ASTROS II”, o avião de
treinamento militar “T-27 TUCANO”, o caça subsônico “AMX” (em consórcio com a
Itália), bem como munição e armamento leve, foram (e ainda o são) exemplos de
sucesso criados por esses atores. Estes produtos de elevada tecnologia,
devidamente comprovados no combate moderno (Guerra Irã – Iraque, Guerra do
Golfo Pérsico, missões de Força de Paz), capacitaram e ainda capacitam o parque
industrial brasileiro a prosseguir no desenvolvimento e na produção de MEM
modernos e eficazes.
Enquanto as FA formavam recursos humanos e coordenavam atividades de
pesquisa tecnológica, as empresas investiam na produção e exportação, muitas
vezes com financiamento governamental e apoio do Ministério das Relações
Exteriores (MRE), por meio da Política (e Programa) Nacional de Exportação de
Material de Emprego Militar (PNEMEM) estabelecido em 1976.
O êxito da IBMD foi fruto da continuidade [em todo o período considerado]
de ações governamentais de apoio ao setor e, especialmente, da confiança
mútua entre o governo, as FA brasileiras e as empresas nacionais produtoras de
material bélico24.
Como referência, Conca (1997) aponta algumas características gerais
importantes para o setor de defesa: crescimento conduzido e apoiado pelo Estado;
limitadas ligações entre as empresas do setor com o setor de C&T nacional como
um todo; mistura de funções e de responsabilidades entre o setor público e o
privado; lógica de produção comercial e escolhas tecnológicas pragmáticas.
As observações anteriores permitem inferir uma interação bastante elevada
entre os diversos setores, com recursos financeiros disponíveis, pesquisa, produção
e venda de MEM. No período considerado, pode-se considerar que houve sinergia
entre o governo, FA e empresas da BID. Essa foi a chave do sucesso do período
áureo da indústria de defesa no Brasil.
24 Roberto Guimarães de Carvalho, então presidente da ABIMDE, em entrevista ao autor em 2006. Nota do autor.
56
2.1.3.8 Declínio – 1990 a 2002
No cenário internacional, o final da Guerra Fria e o término da Guerra do
Golfo Pérsico (1991) diminuíram as encomendas de armas. A oferta de MEM no
mercado foi aumentada pela presença de excedentes e de novos países produtores.
A conjunção daqueles fatores, em associação ao estabelecimento de barreiras
tecnológicas pelos países mais desenvolvidos – ‘Missile Tecnology Control Regime’
(MTCR), entre outros, impôs sérias dificuldades às empresas nacionais.
É interessante, para a montagem do quadro internacional, a observação de
área de inteligência à época, transcrita a seguir:
OPERAÇÕES – Proliferação – A regra dos “Oito D’s” – Durante os encontros preparatórios para o encontro de 10 e 11 de janeiro da OTAN, oficiais do Pentágono visitaram as principais capitais européias, buscando explicar o novo conceito norte-americano de luta contra a proliferação de armas [...] Para o Departamento de Defesa dos EUA, a ‘contra-proliferação’ pode ser indicada por “oito D’s”. [...] Persuasão (dissuasion, em inglês) [...] Negação (denial, em inglês) [...] Desarmamento e controle de armas podem ser colocados no quadro dos vários acordos internacionais tais como o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, para o estabelecimento de zonas livres de armas nucleares, [ou] para ‘reduzir’ e ‘frear’ o desenvolvimento de mísseis balísticos brasileiros (grifo nosso), o programa nuclear sul-africano e as armas biológicas soviéticas e norte-americanas; Pressão Diplomática [...], Redução da pressão (defusing, em inglês) [...], Dissuasão (deterrence, em inglês) [...], Destruição [...], Defesa [...].(Intelligence Newsletter, Paris – France, 13 January 1994 – Page 07). OPERATIONS – Proliferation – The rule of the “8 D’s” – During preparatory meetings leading up to the NATO 10-11 January summit in Brussels, senior Pentagon officials visited major European capitals and attempted to explain the new American concept of the fight against arms proliferation. [...]. For the American DoD counter-proliferation is spelled out in “8 D’s”. [...] Dissuasion [...], Denial [...], Disarmament and arms control are to be carried out in the framework of the various international agreements such as the Non Proliferation Treaty, to establish nuclear free zones, to push for ‘roll back’ such as in the cases of the Brazilian ballistic missile (grifo nosso), the South African nuclear program and American-Soviet biological weapons; Diplomatic Pressure [...], Defusing [...], Deterrence [...], Destruction [...], Defense [...]. (Intelligence Newsletter, Paris – France, 13 January 1994 – Page 07).
Segundo Cunha (2005), há indícios de que os EUA passaram a defender o
emprego das FA dos países em desenvolvimento, incluindo-se o Brasil, voltado
apenas para problemas internos, delegando a defesa externa à potência
hegemônica. Essa observação, associada à referência bibliográfica anterior, permite
inferir a maneira direta, objetiva e pragmática com que alguns dos países detentores
de tecnologia moderna e principais produtores de MEM no mercado mundial
atuaram (e, presumivelmente, continuam atuando em prol de seus interesses) contra
possíveis ou prováveis concorrentes neste disputado e fechado mercado mundial.
57
Internamente, a situação também não foi favorável. Os reduzidos orçamentos
das FA brasileiras, os altos custos de produção [e altas taxas de impostos] e,
principalmente, a falta de incentivo governamental – por meio de políticas
adequadas ou de sistemáticas aquisições de MEM nacionais, foram os principais
fatores determinantes para o declínio na produção de MEM, segundo Rodrigues
(2002). Esta situação provocou o fechamento de muitas empresas. Outras tantas
migraram para setores em que pudessem utilizar o conhecimento, a mão-de-obra e
o parque fabril (diversificação), sob pena de falência, o que ocorreria de forma
emblemática com a ENGESA.
No campo interno, Cunha (2005) acrescenta que o fim dos governos militares,
no ano de 1985, e a conseqüente chegada ao poder de novas tendências políticas
criaram uma reação anti-militar, não da sociedade, mas dos novos governantes.
Segundo esse autor, a adoção de medidas para manter os militares afastados
da política interna levou o governo a subestimar conceitos militares essenciais
à defesa do país.
Pesce & Silva (2007) afirmam:
[...] A elite política brasileira nunca viu os militares como servidores do Estado, mas como adversários na disputa pelo poder no campo interno. Por isso, investimentos na área de defesa foram sempre considerados "desperdício de recursos" - ou até mesmo "munição para o inimigo". No campo externo, a opção habitual para evitar problemas foi a submissão do país à potência hegemônica do momento. [...] (Pesce & Silva, “Ideologias antimilitares”, disponibilizado no Monitor Mercantil Digital em 22/02/2007, seção Opinião)
Conca (1997) relata que as indústrias de defesa entraram em colapso porque
não se prepararam eficazmente para enfrentar as turbulências advindas da mudança
de orientação governamental e da crescente competição no contexto internacional.
Comparativamente, no período anterior, elas haviam recebido condições favoráveis
dos governos atuantes no setor e o mercado externo era favorável.
Ficou evidenciado, ao longo do período de declínio, um forte conflito de
interesses entre os principais atores do segmento de defesa, que anteriormente
estavam bastante alinhados. Os reflexos desse “rompimento” se fazem sentir até os
dias de hoje pelo enfraquecimento do setor e sucateamento das Forças Armadas
brasileiras. A BID, as FA, os centros de P&D, os órgãos governamentais, as
empresas multinacionais do setor que atuam no Brasil (e seus governos) buscam
uma nova trajetória de crescimento sustentado.
58
2.1.4 Principais associações
As principais associações que congregam as empresas e indústrias da Base
Industrial de Defesa no Brasil são as seguintes:
• ABIMDE – Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa
e Segurança;
• SIMDE – Sindicato Nacional da Indústria de Material de Defesa;
• AIAB – Associação das Indústrias Aeroespaciais Brasileiras;
• COMDEFESA – Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa.
A ABIMDE possui sua sede em São Paulo, SP, e congrega as principais
empresas brasileiras do setor. É uma entidade civil, sem fins lucrativos e sua criação
ocorreu em 1986. A sua finalidade é patrocinar, promover e representar os
interesses comuns das empresas, visando ao engrandecimento social e econômico
do país. Ela atua no relacionamento entre as indústrias e os órgãos governamentais,
procurando agilizar e incentivar a comercialização, o desenvolvimento e a qualidade
dos produtos brasileiros deste segmento fabril25.
Na atualidade, representa aproximadamente 37 (trinta e sete) empresas26,
com destaque para a AGRALE, AVIBRAS, BRITANITE, CONDOR, DF
VASCONCELOS, EMGEPRON, MECTRON, SPACE IMAGING DO BRASIL, IMBEL,
INBRAFILTRO, TAURUS, HOBECO, CBC, ÍNDIOS, THALES, VERTICAL DO
PONTO, ATECH, ORBISAT, dentre outras tantas. Empresas privadas brasileiras de
capital majoritariamente estrangeiro podem se associar, como é o caso da THALES
e HOBECO.
O diretor-presidente atual é o Sr. Carlos Frederico Queiroz de Aguiar,
representante da “CONDOR ARMAS NÃO-LETAIS”, do Rio de Janeiro.
O SIMDE, por sua vez, foi criado em 1992. É uma entidade sindical que
trabalha na busca por políticas igualitárias para tornar possível a execução das
seguintes metas, consideradas fundamentais para o momento atual:
- Crescimento para posição de destaque no contexto industrial do país;
- Competição no mercado exterior;
25 Conforme ABIMDE. Endereço eletrônico: www.abimde.com.br. Nota do autor. 26 Este número é variável, fruto de novas associações, bem como da saída de algumas empresas. Nota do autor.
59
- Reafirmação do setor perante órgãos do governo e outras entidades.
Ele participa de convenções coletivas em parceria com demais sindicatos
patronais, representados pelas federações estaduais e pela confederação nacional.
Atua, desde a sua criação, como órgão negociador dos contratos de trabalho do
setor com a finalidade de influenciar o destino da indústria de defesa no Brasil,
superando “os números dos áureos tempos da década de 8027”.
O presidente atual do SIMDE é o Sr. Antonio Marcos Moraes Barros,
representante da ‘CBC’, de São Paulo.
A AIAB é a entidade de classe que congrega e representa as empresas
brasileiras do setor aeronáutico e aeroespacial, promovendo e defendendo seus
objetivos e interesses comuns, tanto no país, como no exterior. Ela foi fundada em
1993 e tem sua sede em São José dos Campos, SP, o maior pólo industrial nacional
do setor. As empresas associadas atuam em toda a gama de atividades
aeronáuticas e aeroespaciais, desde a concepção, desenvolvimento, produção,
comercialização e assistência pós-vendas, além de serviços técnicos especializados.
A AIAB articula a ação conjunta das empresas do setor junto ao governo
brasileiro, a sociedade do País e as entidades internacionais, sendo membro ativo
do ICCAIA – “International Coordinating Council of Aerospace Industries
Associations” – (Conselho de Coordenação Internacional da Associação das
Indústrias Aeroespaciais).
O diretor-presidente atual é o Sr. Walter Barthels.
Esta associação não está direcionada para o contato direto com o Exército
Brasileiro. Algumas de suas empresas, com interesse na área de Defesa, são
associadas também à ABIMDE, utilizando-se dessa entidade para aproximação com
o Exército.
O COMDEFESA, por seu turno, desempenha a função de fórum aglutinador
de entidades, indústrias de grande, médio e pequeno portes (presidentes),
associações de classe, órgãos governamentais, Câmara dos Deputados e Senado
Federal com interesse na cadeia produtiva da BID. Está localizado junto à
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e foi criado e organizado
27 Catálogo da ABIMDE, edição 2005, página 16. Nota do autor.
60
em 2004, no início da gestão do atual presidente dessa federação, o Sr. Paulo Skaf.
A ABIMDE, SIMDE, AIAB estão presentes no COMDEFESA, juntamente com o MD
(SELOM, SEORI, ESG), EGN, Departamento de Fiscalização de Produtos
Controlados do Exército Brasileiro (DFPC), Ministério da Justiça, dentre outros.
Apesar de sua criação recente, este comitê se constitui, de alguma forma, na
continuação do trabalho realizado pelo antigo Núcleo de Assuntos Estratégicos
(NAE) – extinto previamente à criação do COMDEFESA – e do remoto GPMI (Grupo
Permanente de Mobilização Industrial) da década de 1960, ainda que não tenha
herdado arquivos ou procedimentos operativos dos mesmos. Esse comitê tem dado
prosseguimento ao trabalho iniciado pelo MD com o estabelecimento do Fórum das
Indústrias de Defesa (FID) em 2002.
Atualmente, o principal objetivo do COMDEFESA é apresentação ao
Congresso Nacional, em coordenação com o MD, FA (por meio de seus Estados-
Maiores) e a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, do Congresso
Nacional (CREDEN), de um Projeto de Lei Complementar (PLC) que visa a
regulamentar o Art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, instituindo normas para
licitações e contratos da Administração Pública nos casos de aquisição de PED.
O coordenador deste comitê é o Sr. Jairo Cândido, Diretor Presidente do
Grupo ‘INBRAFILTRO’ e da FIESP, São Paulo.
Existem outras associações criadas por empresas específicas dentro do setor
de defesa. Exemplifica-se com a associação de empresas produtoras de armas e
munições leves que se congregaram nos últimos anos para fazer frente à
possibilidade do encerramento de suas atividades caso o resultado do “Plebiscito
sobre Desarmamento” ocorrido no Brasil em 2005 evidenciasse o desejo expresso
do povo neste sentido. A sua efetiva mobilização, frente ao Congresso Nacional e à
sociedade, por meio de uma inteligente campanha publicitária de conscientização,
permitiu a manutenção da produção e do comércio de armas, confirmada pela
manifestação clara do povo brasileiro em resultado significativo de aprovação ao
final daquela votação.
Esse aspecto, sem dúvida alguma, fortaleceu a BID. O povo brasileiro
manifestou, por maioria absoluta, que não abre mão do direito individual de ter
armas para a sua defesa. Em conseqüência, o direito coletivo à Defesa, por meio
das FA, está confirmado e assegurado, de forma inequívoca.
61
2.1.5 Principais Empresas
A seguir, são apresentadas as principais empresas componentes da Base
Industrial de Defesa brasileira. Não se pretende relatar as características completas
de cada uma das integrantes da BID. A finalidade é proporcionar uma visão geral
atualizada desse segmento industrial no país para dimensionar o seu relevo e
importância para o País. A particularização é feita para aquelas empresas de
interesse ao relacionamento com o Exército.
As informações foram retiradas, em sua maioria, de sítios das empresas na
rede mundial de computadores, assim como em folhetos e folders informativos28,
tendo caráter ilustrativo. Não há intenção de se fazer propaganda (ou marketing) da
empresa e/ou seus produtos.
A Tabela 3 é um pouco mais abrangente e destinada a elucidar a origem da
maioria do capital das empresas.
Agrupamento para estudo Empresas
Empresas e instituições públicas federais, estaduais e municipais.
IMBEL EMGEPRON
Empresas brasileiras privadas de capital majoritariamente nacional
EMBRAER, AVIBRAS, CBC, ATECH, CONDOR, INBRAFILTRO, MECTRON, TAURUS, AEROMOT, ROSSI, ATLANTIDE, BRITANITE, EQUIPAER, ETR, ÍNDIOS, RJC, TARGET, UNIVERSAL, DF VASCONCELLOS, PERISCÓPIO, DIANA PAOLUCCI, UNIMIL, ORBISAT, VERTICAL DO PONTO, OMNISYS, TROLLER, AGRALE.
Empresas brasileiras privadas de capital majoritariamente estrangeiro
HELIBRAS, CONSUB, DAIMLER CHRYSLER DO BRASIL, GE CELMA, MTU DO BRASIL, ROLLS ROYCE, PRATT&WHITNEY, ANCORATEK, BRASILSAT HARALD, HOBECO, INTERCARRIER, THALES, RHODE SCHWARTZ.
Empresas que trabalham com produtos de interesse para a área de defesa e que não estão associadas à ABIMDE ou AIAB.
INACE, SATURNIA HAWKER, RENK ZANINI, ELUMA, CECIL LANGONE, TERMODINÂMICA.
Tabela 3 – Principais Empresas da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira na atualidade
Fonte: O autor.
28 Obtidos, em sua maioria, na edição 2007 da LAAD, no Rio do Janeiro. Nota do autor.
62
2.1.5.1 Agrale
A Agrale é, atualmente, uma das maiores montadoras de veículos do País. A
sua sede está localizada em Caxias do Sul, RS. Com 40 anos de atuação no
mercado, 04 parques industriais, 400.000 m2 de área fabril e mais de 1000
colaboradores, a Agrale atua nos negócios de veículos, tratores, motores, geradores
e moto-bombas, de qualidade internacionalmente reconhecida.
No final da década de 1990, a Agrale estabeleceu um importante acordo com
a empresa MARCOPOLO S.A. (Caxias do Sul, RS), uma das maiores produtoras
mundiais de ônibus, para fornecer o chassi do mini-ônibus ‘Volare’. A Agrale iniciou,
também, a produção do caminhão ‘Internacional’ naquela cidade do interior do Rio
Grande do Sul. Em maio de 2002, a Agrale lançou o veículo ‘Furgovan’, entrando no
mercado de furgões de carga. No ano seguinte, lançou o caminhão 9200 e o ônibus
‘Agrale Green’ movido a Gás Natural Veicular (GNV).
Em 2004, a Agrale inovou ao lançar a linha ‘Midibus’, pioneira no segmento
de 12 toneladas, bem como o Veículo 4x4 militar ‘MARRUÁ’, desenvolvido
originalmente pela empresa “Columbus”, em homologação pelo Exército Brasileiro.
O MARRUÁ deverá apresentar versões que permitam a instalação de lançador de
mísseis Anti-Carro (AC), canhão 106 mm sem recuo, metralhadora pesada ou leve,
equipamentos de comunicação, transporte de feridos, entre outras. O EB adquiriu,
recentemente, cerca de 08 (oito) veículos MARRUÁ para avaliação de seu
desempenho operacional.
2.1.5.2 ATECH Tecnologias Críticas
A inovação e o conhecimento da ATECH em soluções de sucesso para o
controle do espaço aéreo e vigilância territorial são reconhecidos e respeitados
internacionalmente. Essas soluções foram desenvolvidas com tecnologia
predominantemente nacional e reúnem ferramentas estratégicas imprescindíveis
para a integração de forças no mar, na terra e no ar.
A empresa foi criada em 1997 em São José dos Campos, SP e teve como
missão inicial garantir ao Brasil uma resposta autônoma. Mantém-se perene e
confiável na operação, manutenção e atualização tecnológica da inteligência dos
63
Sistemas para Proteção e Vigilância da Amazônia (SIPAM e SIVAM,
respectivamente).
Além das atividades da ATECH no Brasil e da sua subsidiária norte-
americana – “Amazon Tech”, a instituição participa da ‘Esus Participações e
Investimentos S.A.’, veículo de incentivo ao empreendorismo de seus colaboradores
e de parcerias orientadas ao desenvolvimento de produtos e sistemas de alta
tecnologia para mercados específicos.
2.1.5.3 AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.
Empresa genuinamente nacional, está sediada em São José dos Campos,
SP. Foi fundada em 1961 por ex-alunos do ITA com o objetivo de fabricar aviões
leves (FALCÃO).
A AVIBRAS tem uma história de grandes êxitos e conquistas nas mais
diversas áreas tecnológicas: de pesquisa espacial a telecomunicações, de transporte
à defesa, de produtos civis a complexos sistemas militares.
Na área de defesa, a AVIBRAS tem uma larga tradição no desenvolvimento e
produção de sistemas inovadores e eficazes. De acordo com Albuquerque (1996), a
AVIBRAS começou a desenvolver os foguetes do sistema SONDA, com propelente
sólido, em 1965. Este foi o ponto de partida para outros artefatos bélicos
semelhantes de uso ar-terra, como o Foguete SBAT-70 (Sistema Brasileiro Ar-Terra
70 mm). Ao avançar em tecnologia, a empresa passou a produzir os foguetes da
família SS (solo-solo), de médio alcance (20, 40, 60 e atualmente 80 quilômetros),
adequados à saturação de áreas, e o Sistema ASTROS II (“Artillery SaTuration
ROcket System – Sistema de Saturação de Artilharia por Foguetes”). Desenvolveu,
também, o Sistema FILA (“Fighting Intruders at Low Altitude – Combate ao Intruso
em Baixa Altura”), para detecção de aeronaves à baixa altura. Ambos os sistemas
são empregados com muito sucesso pelo Exército Brasileiro desde o final da década
de 1980.
Nos últimos anos, a empresa desenvolveu o foguete 70 mm SKYFIRE, que
pode ser empregado em substituição ao SBAT-70 com grande vantagem em
desempenho (propelente tipo ‘composite’), bem como em versão solo-solo.
Atualmente, desenvolve um míssil guiado a fibra ótica de emprego múltiplo FOG-
MPM, bem como o míssil tático solo-solo 300 mm para equipar unidades ASTROS II.
64
A AVIBRAS participa, também, dos estudos do Veículo Aéreo Não-Tripulado
(VANT), coordenado pelo Ministério da Defesa e com participação direta dos centros
de P&D das FA.
A AVIBRAS é umas das principais produtoras de PED e MEM existentes na
atualidade no Brasil, com capital 100% nacional, fornecendo para todas as FA
nacionais e para muitos países estrangeiros amigos.
2.1.5.4 CBC – Companhia Brasileira de Cartuchos
A empresa foi fundada em 1926 e sua sede está localizada no município de
Ribeirão Pires, SP. A CBC acumulou, ao longo dos anos, conhecimento e
capacitação tecnológica que permitiram uma evolução e um aperfeiçoamento
constante em seus produtos e processos de fabricação.
A CBC oferece uma ampla variedade de produtos, incluindo munições de fogo
central, fogo circular, médios calibres, munições industriais, componentes de
munições, propelentes, espingardas, rifles, algemas e coletes à prova de balas.
Na área militar, a especialização da CBC abrange as munições desde o
calibre nove milímetros ‘parabellum’ até as sofisticadas 20 e 30 mm utilizadas nos
canhões do tipo ‘Vulcan’, ‘Oerlikon’ e ‘DEFA’ tipo 550. As munições CBC são
exportadas para as mais exigentes FA e policiais de todo o mundo, sendo utilizadas
em mais de 40 países. O Exército Brasileiro é cliente desta empresa.
2.1.5.5 Condor – Tecnologias Não-Letais
A Condor S.A. Indústria Química comercializa armas e munições não-letais
desde 1985, atuando no mercado brasileiro e mundial. Atualmente, ela é a mais
importante empresa latino-americana do setor, com sede no município de Nova
Iguaçu, RJ.
A empresa desenvolveu e homologou cerca de 100 produtos, de elevado grau
de aplicabilidade pelas FA em operações convencionais e/ou operações de paz sob
a égide da ONU, que requerem defesa passiva ou não-letal como solução imediata.
Os principais produtos são:
• Munições de impacto controlado;
• Granadas explosivas do tipo “indoor”;
65
• Granadas de impacto e explosivas;
• Granadas lacrimogêneas;
• Granadas fumígenas;
• Munições do tipo OC/CS calibre 12.
A Condor promove parcerias com fabricantes estrangeiros detentores de
reconhecida capacitação no ramo de desenvolvimento de novas tecnologias não-
letais, como é o caso da “Welser-Itage”, que se constitui no “braço comercial” da
empresa. Hoje, a Condor busca a sua inserção no mercado europeu.
Cabe destacar que a Condor tornou-se fornecedora regular do Exército
Brasileiro.
2.1.5.6 EMBRAER
Esta empresa possui elevado grau de conhecimento público de sua
capacidade empresarial e tecnológica no ramo aeronáutico mundial. Ela é citada por
diversas vezes ao longo deste trabalho como exemplo histórico de sucesso da BID
nacional, apesar das dificuldades financeiras e operacionais vividas ao longo de
alguns anos.
Ela foi fundada em 19 de agosto de 1969, pelo Decreto-Lei Nr 770, como
empresa de capital misto. A privatização ocorreu 07 de dezembro de 1994 e seu
controle é brasileiro. É a empresa líder mundial na fabricação de jatos comerciais de
até 110 assentos, com 37 anos de experiência em projeto, desenvolvimento,
fabricação, venda e suporte pós-vendas de aeronaves destinadas aos mercados
globais de aviação comercial, executiva, Defesa e governamentais.
Está sediada em São José dos Campos, SP. Mantém escritórios e bases de
serviços aos clientes nos EUA, França, Portugal, China e Cingapura. A EMBRAER
comercializa muitos produtos e soluções em assuntos de defesa com a FAB, da qual
se originou.
O Exército brasileiro recebe o fornecimento de alguns produtos da empresa
para a sua aviação de asa rotativa.
66
2.1.5.7 EMGEPRON – Empresa Gerencial de Projetos Navais
A EMGEPRON é uma empresa vinculada ao MD por intermédio do Comando
da Marinha e desenvolve atividades gerenciais e comerciais ligadas a projetos e
produtos oriundos da capacitação científico-tecnológica e industrial da MB. Desse
modo, atua em programas de alta complexidade tecnológica, tais como a
modernização de meios navais e a fabricação de munição naval.
Em 22 anos de existência, a EMGEPRON tem aumentado, ano após ano, a
quantidade de negócios no mercado externo, abrangendo a América do Sul, África,
Ásia e Europa, tendo exportado navios de guerra e outras embarcações, munição,
sistemas navais, sobressalentes de aeronaves, serviços de reparo, reaparelhamento
de bases navais, serviços hidrográficos e oceanográficos, serviços de engenharia
costeira, bem como provimento em treinamento de pessoal militar.
A EMGEPRON fornece munição de 105 mm para a Artilharia do Exército
Brasileiro, com boa aceitação do produto pela FTB.
Os aspectos particulares da atuação desta empresa serão abordados adiante,
na seção 2.6.1, destinada ao estudo do relacionamento da MB com a BID.
2.1.5.8 HELIBRAS
A HELIBRAS foi criada em 1978 em São José dos Campos, SP, mas
inaugurada em Itajubá, MG, em 1980.
A empresa é a única montadora de helicópteros da América Latina, sendo
responsável, também, pela montagem, venda e manutenção, no Brasil, dos
helicópteros da linha ‘Eurocopter’. Há 29 anos no país, a HELIBRAS comercializou
cerca de 500 helicópteros, registrando aumentos contínuos de participação no
mercado civil e militar. Atuando em vários segmentos, a empresa responde por 54%
da frota de helicópteros a turbina em operação no País.
Segundo informação da própria empresa, ela é líder no mercado militar com
67% de participação, líder no segmento executivo com 49% e também no de
segurança pública e defesa civil, com 84%. Possui variada gama de produtos: desde
a aeronave monoturbina de cinco lugares, até aqueles de mais de 30 assentos.
A empresa é grande fornecedora de aeronaves e peças de reposição para a
Aviação do Exército, sediada em Taubaté, SP.
67
3.1.5.9 IMBEL – Indústria de Material Bélico do Brasil
A IMBEL é uma empresa pública de direito privado vinculada ao MD –
Exército Brasileiro e foi constituída em julho de 1975, sendo uma das mais antigas
indústrias de material bélico da América Latina. A sua tradição e capacitação técnica
contribuíram para a manutenção da posição brasileira entre os tradicionais
fornecedores mundiais de MEM por vários anos.
Ela compõe-se de 05 complexos fabris29, a saber:
• Fábrica Presidente Vargas (FPV) – Piquete, SP – produz explosivos de
uso civil e militar, bem como insumos para as demais plantas;
• Fábrica de Itajubá (FI) – Itajubá, MG – produz fuzis, pistolas e armas
leves;
• Fábrica de Juiz de Fora (FJF) – Juiz de Fora, MG – produz granadas de
artilharia e morteiros;
• Fábrica de Estrela (FE) – Magé, RJ – produz espoletas e petardos de
TNT;
• Fábrica de Material de Comunicações e Eletrônica (FMCE) – Rio de
Janeiro, RJ – produz equipamentos rádios, telefones de campanha e
material eletrônico de emprego militar.
Esta empresa é considerada estratégica pelo Exército, sendo uma de suas
grandes fornecedoras de MEM. Passa, atualmente, por um longo período de crise
financeira ainda não completamente resolvida pelo Comando do Exército, MD e
Governo Federal.
29 Este autor teve a oportunidade de percorrer todas as unidades fabris dessa empresa em março de 2007, acompanhando comitiva da 4ª SCh do EME. A empresa vive um período de grave crise. Decidiu-se não aprofundar ou relatar esse aspecto em função de sua complexidade e por estar dissociado dos objetivos primeiros dessa tese. Entende-se, porém, que é necessário explorar esse assunto no futuro. Ou para apoiar uma recuperação da empresa, ou para colher lições. Nota do autor.
68
2.1.5.10 INACE
A Indústria Naval do Ceará S.A. (INACE) foi criada na cidade de Fortaleza,
CE, em 1969. Inicialmente, produzindo barcos pesqueiros, a INACE passou a
produzir uma gama diversificada de embarcações de pequeno e médio portes,
incluindo rebocadores e “off shores”, iates e embarcações militares.
Desde a sua fundação, o estaleiro mantém a tradição de bom atendimento à
Marinha do Brasil, construindo embarcações e reparando outras. Nos anos de 1996
a 2000, a INACE construiu e entregou os navios-patrulha “Guanabara” e “Guarujá”.
A MB dispõe de uma flotilha de doze embarcações construídas sob o mesmo
projeto.
É importante observar que, após a crise que afetou a construção naval
brasileira na década de 1990, a INACE foi um dos poucos estaleiros nacionais que
não fechou as portas, permanecendo 100% brasileira.
Apesar de não ser fornecedora do Exército, essa empresa foi elencada pela
importância que ela representa para a Marinha do Brasil. Não é associada da
ABIMDE.
2.1.5.11 INBRAFILTRO
Com mais de 25 anos de atuação e com cinco unidades industriais (Inbrafiltro,
Inbra Blindados, Inbra Têxtil, Inbra Glass e Inbra Aerospace), tem sua sede
localizada no município de Mauá, São Paulo.
O Grupo Inbrafiltro se orienta pela filosofia de promover a melhoria da
qualidade de vida, fabricando mais de 70 produtos diferentes e disponibilizando ao
mercado mais de 400 itens, além de prestar serviços em diversas outras áreas.
Possui uma gama de produtos que vai desde tecidos técnicos filtrantes até
blindagens de veículos civis, militares e aeronaves.
Entre os principais desenvolvimentos deste grupo empresarial, destaca-se o
Veículo Blindado Leve (VBL), destinado a operações especiais de segurança para
as FA, bem como para uso diverso pelas Polícias Militares estaduais e/ou outras
forças de segurança.
69
2.1.5.12 MECTRON – Engenharia, Indústria e Comércio S.A.
A MECTRON está sediada em São José dos Campos, SP. Foi formada pela
associação de engenheiros de aeronáutica, eletrônica e mecânica, tendo iniciado
suas atividades em fevereiro de 1991.
Ela atua nos mercados de defesa e aeroespacial, desenvolvendo produtos de
alta tecnologia para uso civil e militar. A empresa se destaca pela busca constante
na capacitação plena no desenvolvimento e fabricação de mísseis, sensores
eletrônicos, aviônicos e equipamentos para satélites.
A MECTRON participa da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB) por
meio do desenvolvimento de subsistemas para o suprimento de energia da
plataforma multi-missão, concebida para integrar os satélites de coleta de dados e
sensoriamento remoto construídos no Brasil pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE).
Os principais produtos são: o míssil ar-ar (MAA-1), o míssil superfície-
superfície (MSS-1.2), o radar SCP-01 e o “tailchute”.
A empresa desenvolveu com sucesso e, em parceria com o Exército
Brasileiro, o MSS-1.2. Esta FA aguarda recursos financeiros para a aquisição do
lote-piloto para testes finais deste MEM.
2.1.5.13 Orbisat da Amazônia S.A.
A Orbisat é uma empresa de base tecnológica especializada em
sensoriamento remoto, produtos eletrônicos e radares de vigilância aérea e terrestre.
Possui divisões em Campinas, SP e São José dos Campos, SP.
A divisão de sensoriamento remoto oferece soluções de mapeamento
topográfico de precisão para o setor privado e para agências governamentais,
atendendo à demanda nacional e internacional. No setor de segurança e defesa, a
empresa desenvolveu radares de vigilância aérea e terrestre para a defesa de
pontos.
A empresa desenvolveu o radar ORBISAR – RFP (Radar Interferométrico de
Abertura Sintética), pioneira no mundo ao operar no mundo nas bandas X e P,
utilizado em sensoriamento remoto.
70
Dentro da linha de radares da família ‘SABER’ (segurança, precisão,
mobilidade, baixo custo), o radar de vigilância SABER M-60 foi o primeiro a ficar
pronto por meio de uma associação com o Exército Brasileiro. O SABER M-60 vai
integrar o sistema de defesa antiaérea de baixa altitude e permitirá o monitoramento
de alvos aéreos por meio de radiofreqüência.
2.1.5.14 Rossi S.A.
A Amadeo Rossi S.A. Metalúrgica e Munições é a maior fabricante latino-
americana de armas para caça, porte e esporte, tendo ultrapassado a marca de
cinco milhões de armas produzidas e comercializadas no Brasil e em mais sessenta
países.
Ela foi fundada em 1889, em Caxias do Sul, RS, sendo uma das pioneiras no
setor metalúrgico da região sul do País e conquistando o reconhecimento
internacional pela excelência de seus produtos. Em 1926, iniciou a produção de
armas, que depois foi diversificada para munições, espoletas e algemas.
Hoje, a divisão de fundição e serviços da Rossi está presente em setores
diversificados da indústria, prestando apoio de alta qualidade em fundição de
precisão e fabricação de silicato de etila e ácido clorídrico.
2.1.5.15 Taurus
A Taurus foi fundada em 1939 em Porto Alegre, RS.
Desde a fundação, quando a primeira arma saiu do forno de gaseificação
construído pelos próprios funcionários, a Taurus mantém um compromisso com a
melhoria contínua de sua linha de produção, bem como mantém uma posição no
domínio da tecnologia e da técnica utilizada em seus produtos.
As empresas Taurus compõem-se de:
• Taurus Armas – fabrica armas, revólveres, pistolas, carabinas, armas
de pressão e armas policiais para o mercado interno e externo;
• Taurus Forjados – produz peças a partir de 05 kg para o mercado de
autopeças, agroindústria e eletro ferragens;
• Taurus Blindagens – produz coletes à prova de balas;
• Taurus – produz capacetes;
71
• Taurus Wotan – fabrica madrilhadoras e fresadoras;
• Taurusplast – produz contêineres e papeleiras;
• Famastil – produz ferramentas.
A empresa ainda possui uma subsidiária em Miami, EUA, que fornece armas
para várias organizações, entre elas, a polícia federal daquele país (“Federal Bureau
of Investigations – FBI). A Taurus é uma grande fornecedora de MEM do Exército
Brasileiro.
2.1.5.16 Vertical do Ponto
A Vertical do Ponto está no mercado da produção de pára-quedas desde
1990 e é importante fornecedora de MEM para o Exército Brasileiro. A sua sede fica
no Rio de Janeiro, RJ. A empresa produz, além de pára-quedas militares, materiais
aeronáuticos, materiais militares e esportivos, pára-quedas de carga, pára-quedas
de emergência, dentre outros.
2.2 EXÉRCITO BRASILEIRO
2.2.1 Destinação Constitucional
O artigo 142 da Constituição Federal de 1988 caracteriza o Exército como
uma das Forças Armadas brasileiras, juntamente com a Marinha e a Aeronáutica.
Segundo o mesmo artigo, o Exército é uma instituição nacional permanente e
regular, organizada com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República.
A destinação constitucional do Exército é a defesa da Pátria, a garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Sendo uma instituição nacional permanente e regular, o Exército necessita
planejar suas atividades com antecedência, executar as missões que lhe são
atribuídas com acerto, bem como gerir os recursos (financeiros ou não) capazes de
garantir a sua sobrevivência e o cumprimento de sua destinação constitucional de
forma oportuna e adequada. O Exército está inserido no sistema de administração
pública federal, sendo regido pelas normas e leis do serviço público federal.
72
2.2.2 Missão
As missões do Exército Brasileiro, de acordo com a Portaria Nr 65730, de 04
de Novembro de 2003, do Gabinete do Comandante do Exército (Gab Cmt Ex), são:
• A fim de assegurar a defesa da pátria: contribuir para a dissuasão de
ameaças aos interesses nacionais e realizar a campanha militar terrestre para
derrotar o inimigo que agredir ou ameaçar a soberania, a integridade territorial, o
patrimônio e os interesses vitais do Brasil;
• A fim de garantir os Poderes Constitucionais, a Lei e a Ordem: manter-se em
condições de ser empregado em qualquer ponto do território nacional, por
determinação do Presidente da República, de forma emergencial e temporária, após
esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, relacionados no artigo 144 da
Constituição;
• Participar de operações internacionais, de acordo com os interesses do País;
• Como ação subsidiária, participar do desenvolvimento nacional e da defesa
civil, na forma da lei.
Especialmente no escopo das três primeiras missões, é possível observar a
necessidade e a importância do Exército dispor não somente do elemento humano
altamente capacitado e adestrado, mas também, de MEM eficientes e atualizados
tecnologicamente para o eficaz cumprimento das imposições que a guerra moderna
exige de uma força terrestre.
No caso da Dissuasão, estratégia prioritária brasileira31, a existência de um
poder militar terrestre dotado de armamento moderno e sustentado por uma base
industrial autóctone e capacitada tecnologicamente se constitui em um dos principais
argumentos que dificultam ou dificultarão a execução de possíveis ataques aos
30 Esta portaria deu início ao Programa Excelência Gerencial do Exército (PEG), hoje estabelecido como Sistema de Excelência (SE) do Exército. Ela estabelece a Missão e a Visão de Futuro do Exército, a Síntese dos Deveres, Valores e da Ética do Exército e os Fatores Críticos para o Êxito da Missão. Ela foi elaborada baseada nas atribuições conferidas ao Cmt Ex e no Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEX). Nota do autor. 31 Definida pela PDN que estabelece em seu capítulo 6, item 6.2, que a vertente preventiva da Defesa Nacional reside na valorização da ação diplomática como instrumento primeiro de solução de conflitos e em postura estratégica baseada na existência de capacidade militar com credibilidade, apta a gerar efeito dissuasório. (PDN, 2005, Pág. 15). Nota do autor.
73
legítimos interesses nacionais, caracterizados pelos Objetivos Fundamentais32
brasileiros.
Dentre os fatores críticos para o êxito da missão do Exército33, ressaltam-se
aqueles que afetam diretamente o MEM em uso pela FTB, que são os seguintes:
• Tecnologia moderna e desenvolvida, buscando reduzir o hiato em
relação aos exércitos mais adiantados e à dependência bélica do exterior;
• Equipamento adequado em qualidade e quantidade para conferir,
no campo material, o desejado poder de dissuasão à Força Terrestre.
Verifica-se que o Sistema Exército, ao utilizar-se de ferramentas de
Excelência Gerencial, constatou, acertadamente, as dificuldades ora existentes para
um aparelhamento adequado da FTB e que permita o cumprimento de suas
missões, notadamente de cunho operacional-militar.
2.2.3 Sistema de Planejamento do Exército
O planejamento de uma instituição nacional do porte do Exército Brasileiro
não é uma tarefa simples. Para tal, o Estado Maior do Exército (EME) desenvolveu o
Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEX) ao final do século passado.
Aquele documento, bastante extenso, está em processo de aperfeiçoamento
e, nos últimos anos, perdeu, em grande parte, (e no entendimento deste autor,
acertadamente) o caráter secreto34 que o mantinha distante de um sem número de
discussões sobre a estrutura, o preparo e o emprego da FTB. Esta atitude permitiu
uma aproximação maior de ‘inputs’ da realidade, o que poderá proporcionar uma
maior aderência entre planejamento e a execução notadamente no processo de
revisão ora em curso.
O SIPLEX – 1 (Missão do Exército) caracteriza o EB, em conformidade com
o exposto na destinação constitucional, como uma instituição nacional, permanente,
regular e organizada com base na hierarquia e disciplina.
Cabe ao Exército defender a pátria, garantir os poderes constitucionais, a lei
e a ordem, cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil, bem como
participar de operações internacionais. Ele deve realizar ações essenciais de 32 Os objetivos fundamentais brasileiros, segundo a ESG, são: Democracia, Integração Nacional, Integridade do Patrimônio Nacional, Paz Social, Progresso e Soberania. (ESG, Manual Básico, 2005). Nota do autor. 33 Portaria Nr 657, Cmt Ex. Nota do autor. 34 Não perdeu o caráter secreto em sua totalidade, por compreensíveis motivos de segurança e de contra-inteligência. Nota do autor.
74
preparo e emprego decorrentes da PDN e da Estratégia Militar de Defesa (EMD),
tanto no âmbito interno, quanto externo, permitindo se concluir que precisa estar
ajustado à estatura político-estratégica do País (elevado potencial) e no contexto do
desenvolvimento harmônico com as demais expressões do PN35.
Figura 1 – Funcionamento do SIPLEX (metodologia da época)
Fonte: 3ª Subchefia do EME. Palestra na ECEME em 20/06/2006.
No extrato36 do SIPLEX – 2 (Avaliação do Exército), a análise da conjuntura
nacional indica a dependência externa do EB na aquisição de MEM, expressa
anteriormente. Na elaboração de cenários e no estudo dos reflexos para as FA
(prospectiva), cumpre referenciar alguns aspectos identificados que orientam o
estudo deste tema, quais sejam:
• Prevalência da necessidade de preparo baseado em capacidades,
fruto da indefinição das ameaças;
35 Em particular, a expressão econômica, representada, neste estudo pela BID. Nota do autor. 36 Extrato do SIPLEX, EME, Brasília – DF, 22 Nov 02. Nota do autor.
SIPLEx- 4
CCoonncceepp EEssttrrtt ddoo
EExxéérrcciittoo
SIPLEx-5
DDttzz EEssttrrtt
SIPLEx-6
PPllaannooss BBáássiiccooss
SIPLEx-7
PPllaannooss OOpp
3ª Fase
EESSTTRRAATTÉÉGGIICCAA
SIPLEx -2
AAvvaalliiaaççããoo ddoo
EExxéérrcciittoo
1ª Fase
AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO
SIPLEx-3
PPoollííttiiccaa MMiilliittaarr
TTeerrrreessttrree
2ª Fase
PPOOLLÍÍTTIICCAA
SIPLEx-1
MISSÃO DO
EXÉRCITO
PPlljj PPooll -- EEssttrrtt PPlljj EEssttrrtt -- AAddmm
EE XX EE CC UU ÇÇ ÃÃ
OO
AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO // RREEAALLIIMMEENNTTAAÇÇÃÃOO
SIPAEx
33 22 PPDDEE 11
75
• Presença maciça da C&T como fator de desequilíbrio nos conflitos
modernos;
• Altos custos das operações militares e das plataformas e sistemas de
armas;
• Dependência marcante das operações militares a aspectos logísticos;
• Deficiência no preparo das FA, fruto de restrições orçamentárias;
• Ampliação do hiato tecnológico em relação aos países desenvolvidos,
particularmente quanto ao MEM.
O estudo do segundo e do terceiro itens acima listados deve suscitar a
necessidade de um planejamento para a obtenção de novos meios em acordo com a
Instrução Geral (IG) 20-12 – Modelo Administrativo do Ciclo de Vida dos MEM
(Edição 1994). Para se evitar uma dependência tecnológica externa inaceitável e
evitar que o hiato tecnológico se transforme em um “abismo” ou “fosso
intransponível”, a FTB precisa indicar suas necessidades em MEM de forma
adequada para proporcionar, em médio prazo (sete anos37, na consideração deste
autor) um dimensionamento adequado da BID, de interesse para a logística e
mobilização.
Ainda no estudo do SIPLEX – 2, o EB tem como necessidades básicas a
busca constante da modernização de MEM38 para ampliar a capacidade de
dissuasão, bem como o desenvolvimento dos mesmos no Brasil. Porém, adiante,
constata-se que a FTB está com elevado grau de dependência externa em MEM,
que são insuficientes e obsoletos, indicando uma defasagem tecnológica em relação
a exércitos de países desenvolvidos e quanto às exigências do combate moderno39.
O SIPLEX – 3, ao conceber a Política Militar Terrestre, retoma o exposto
anteriormente, definindo o objetivo síntese do Exército, qual seja capacitar a
instituição – em forma permanentemente ajustada à estatura político-estratégica da
nação – para atuar eficazmente no cumprimento de suas missões. O documento
define objetivos gerais, sendo de interesse para estudo os seguintes:
• Reduzir o hiato tecnológico em relação aos exércitos mais modernos e
a dependência bélica do exterior;
37 Estimativa conduzida pelo Gen Ex José Benedito de Barros Moreira, Assessor Especial Militar do Ministro de Estado da Defesa em palestra proferida na FIESP em junho de 2007. Nota do autor. 38 São passíveis de discussão, dentro de um escopo de Projeto de Força (Raza, 2000), os termos adaptação, modernização e transformação. Nota do autor. 39 Extrato do SIPLEX, EME, 2002, página 21/52. Nota do autor.
76
• Capacitar a F Ter para atuar como eficaz instrumento de combate.
Políticas específicas40 são estabelecidas, com destaque para Ciência e
Tecnologia, Logística, Pessoal (RH) e Ensino, áreas de interesse deste trabalho
acadêmico.
Essas políticas definem como um objetivo comum a integração às demais
políticas. Este se constitui em um grande desafio para o Estado-Maior do Exército
(EME), Órgão de Direção Geral da Instituição, pois esta integração de que é o
principal responsável, deverá existir entre a política específica (Pessoal, por
exemplo), executada por um Órgão de Direção Setorial (ODS) com as demais
políticas41 específicas dos demais ODS, dentro do sistema Exército Brasileiro.
Acredita-se que a integração será tanto mais fácil à medida que seja estabelecido (e
seguido) um Projeto de Força, pois políticas executadas de forma dissociada das
demais existentes conduzem a individualismos, na maioria das vezes, inadequados
e inoportunos.
Para fins deste estudo, cumpre explorar o aspecto dos RH, peça-chave para a
elaboração desta tese, simbolizado na Figura 2, a seguir.
Ao estudar a Política de Pessoal exposta no SIPLEX, este oficial encontrou
dificuldades para estabelecer um vínculo imediato e direto, que integre os objetivos
desta política com as demais políticas, em especial C&T, Ensino e de Logística.
Entende-se que o Pessoal, na condição de função logística precisa prover RH para
os ramos de Logística, C&T e Ensino de forma coordenada. Ou seja, ainda que de
forma não-mensurada nesta pesquisa, entende-se que existe uma dissociação entre
as soluções para as necessidades em pessoal para as áreas de C&T (e P&D) e
logística, que não estão sendo coerentemente satisfeitas pela área de ensino e pela
área de pessoal. Segundo Botti (2007), a estrutura de RH do Exército é sistêmica e
a abordagem, departamental, existindo Reuniões de Integração Sistêmicas (RIS)
para integração de sistemas.
Acredita-se que há uma demanda por uma nova abordagem dos problemas
de logística e de C&T na FTB, que privilegie a formação e o aperfeiçoamento
constante de RH (operacionais e técnicos, oficiais e praças) e que os mantenha
constantemente atrelados as suas especialidades, evitando ‘fluxos de carreira
40 O detalhamento dessas políticas recebe o caráter confidencial no SIPLEX. Os comentários atinentes são feitos com as ressalvas necessárias. Nota do autor. 41 Notadamente por meio de estratégias coordenadas. Nota do autor.
77
normais’, responsáveis por quebras na continuidade de incontáveis projetos
tecnológicos, operacionais e/ou logísticos.
Em se traçando um paralelo com uma empresa civil, a área de RH
normalmente é a responsável pelo levantamento das necessidades, obtenção e
distribuição do pessoal, incluindo, muitas vezes a atividade de formação e/ou
aperfeiçoamento. Isso não ocorre, normalmente e/ou completamente, no Exército,
pois existe formação, aperfeiçoamento de pessoal e estabelecimento de
necessidades dentro do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT42) por meio do
Instituto Militar de Engenharia (IME), com reduzido (ou talvez, pouco perceptível)
intercâmbio de dados com o DEP e o DGP, para proporcionar sinergia e agilidade
nas ações do Exército.
17/09/2007 ECEME 27
Estrutura RH do Exército
COMANDANTEEB
DEP DGP D Log DCT
EMEODG
ODS
Figura 2 – Estrutura de Recursos Humanos do Exército
Fonte: o autor.
A Política de Ensino (1ª Subchefia EME), por sua vez, busca qualificar os RH
para as atividades de pesquisa, educação e instrução. Isto pode gerar dificuldades
de coordenação com o sistema de C&T que, ao seu turno, tem como objetivo 42 ODS responsável pela implantação da Política de C&T do Exército. Nota do autor.
78
capacitar (em C&T) os RH do EB, bem como realizar pesquisa nas áreas de
pessoal, de saúde e de meio ambiente. Quando a política não é bem conduzida,
gera conflito entre o DCT e o Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP) – ODS
responsável pela implantação da Política de Ensino do Exército.
Outro ponto que pode evidenciar uma sobreposição de esforços pode ocorrer
no momento em que a Política de C&T impõe o objetivo do desenvolvimento de
parcerias com institutos civis de pesquisa e universidades, área esta que precisa ser
compartilhada com o DEP.
Em se tratando da Política de Logística, convém ressaltar o objetivo de
privilegiar, sempre que vantajoso, a indústria nacional, quando da aquisição de
MEM. Há necessidade de clarificar o conceito ‘vantajoso’, pois poderá proporcionar,
muitas vezes, o respaldo para ‘compras de oportunidade’ de MEM, entrando em
conflito com o objetivo de C&T expresso pela Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na
área de material, com prioridade para o desenvolvimento nacional e autóctone de
MEM de difícil obtenção.
Quanto ao aspecto dos RH, a Política de Logística expressa as suas
necessidades com limitações. A complexidade e a especificidade que a Logística
assume nos dias de hoje requer profissionais com formação e aperfeiçoamento
específicos, que proporcionem o adequado e oportuno funcionamento deste Sistema
Operacional (S Op). Há necessidade desta compreensão por parte do sistema de
ensino e de pessoal; porém, não é o objeto de estudo atual43.
A Concepção Estratégica do Exército é mostrada no SIPLEX – 4, sendo
importante ressaltar a definição da estratégia de emprego da dissuasão, prevista
pela Doutrina Militar de Defesa (DMD).
O modo de ação e a finalidade da Estratégia da Dissuasão visam a impedir a
guerra. Para tanto, a FTB precisa manter forças suficientemente poderosas e
prontas para emprego imediato, capazes de desencorajar qualquer agressão militar.
Este grau de prontidão, em termos de alguns MEM, será visto no Capítulo 4 desta
obra, quando da discussão do modelo atual de relacionamento entre o EB e a BID.
43 Deixa-se de explorar a fundo este aspecto estrutural do EB em função do escopo do trabalho, servindo como referencial teórico para ajudar a evidenciar as dificuldades na obtenção de recursos humanos com habilitação específica em logística e com conhecimento em C&T dentro do Sistema Exército Brasileiro. Nota do autor.
79
O SIPLEX – 5, ao seu turno, apresenta as Diretrizes Estratégicas que
contemplam, dentre outras, as seguintes áreas: ensino; mobilização de material;
ciência e tecnologia; e logística.
O livro do SIPLEX – 6 é destinado a apresentação dos Planos Básicos, que
são planos de preparo elaborados pelo EME na condição de ODG e pelos ODS
específicos, detalhando as ações estratégicas contidas no livro anterior. Este livro
contempla também o Plano de Estruturação do Exército (PEEX) organizado em duas
partes: tomo I – Estruturação da Força Terrestre; e tomo II – Organização Básica do
Exército (OBE), detalhando a Concepção Estratégica do Exército. Este documento
serve de base para a atualização do Plano Diretor do Exército (PDE) e para as
propostas orçamentárias, que compõem o Sistema de Planejamento Administrativo
do Exército (SIPAEX). Em última análise, o PEEX possibilita incrementar a
capacidade dissuasória da FTB44.
Os Planos Operacionais do Exército são apresentados no SIPLEX – 7 e se
constituem em planos de emprego elaborados pelos Comandos Militares de Área (C
Mil A) e aprovados pelo Comando de Operações Terrestres (COTER). Contemplam
a defesa externa, a defesa territorial e a Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
O estudo do SIPLEX, neste referencial teórico, teve por finalidade evidenciar
a maneira pela qual o EB modela sua estrutura de sistemas e realiza seus
planejamentos nos diversos níveis. Isto é fundamental para o entendimento e
discussão do modelo atual de relacionamento entre ele e a BID.
Os principais sistemas do Exército em contato mais aproximado com a BID
são o Sistema Logístico e o Sistema de Ciência e Tecnologia45. Entende-se que há
necessidade de aperfeiçoamento no trabalho de estabelecimento de objetivos e
estratégias em áreas de interesse comum entre os respectivos ODS. Este autor
ressalta, também, a necessidade de aprimoramento no relacionamento de ambos
com o Sistema de Pessoal e com o Sistema de Ensino, a fim de permitir a alocação
de RH adequados para as tarefas que proporcionem uma integração, em melhores
condições, com a BID.
44 Objetivo que precisa ser alcançado, em parte, pela existência de MEM nacionais, oriundos da BID. Nota do autor. 45 Conforme IG 20-12, Ciclo de Vida de MEM no Exército Brasileiro, a ser apresentada no item 2.7 deste referencial teórico. Nota do autor.
80
2.2.4 Orçamento do Exército
Referencia-se, de forma breve, os orçamentos do Ministério da Defesa e do
Exército Brasileiro com o objetivo de caracterizar, segundo palavras do então
“Secretário de Defesa, Orçamento e Força Armadas”, da Secretaria de Relações
Organizacionais (SEORI) do Ministério da Defesa, Antonio Carlos Ayrosa Rosière, a
baixíssima prioridade recebida pelas FA no atual governo (grifo nosso).
(Palestra USP, 2007).
Algumas referências são apresentadas nas tabelas e gráficos apresentados
pelo então SEORI e mostrados a seguir:
Ministério da Defesa
Orçamento 2007
GRUPO DE DESPESALEI
ORÇAMENTÁRIA%
VALOR
LIBERADO %
PESSOAL 30.503,6 77,7 30.503,6 80,2
AMORTIZAÇÃO E JUROS DA DÍVIDA 1.608,4 4,1 1.608,4 4,2
CUSTEIO 4.345,4 11,1 4.003,2 10,5
INVESTIMENTOS E INVERSÕES 2.785,6 7,1 1.895,7 5,0
SUBTOTAL 39.242,9 100,0 38.010,9 100,0
RESERVA DE CONTINGÊNCIA 879,6 879,6
T O T A L 40.122,7 38.890,5
R$ milhões
Tabela 4 – Orçamento do Ministério da Defesa
Fonte: Rosière, SEORI MD, palestra USP, 30 de junho de 2007.
81
Ministério da DefesaOrçamento 2007
Lei Orçamentária: R$ 39.243,0 milhões
Gráfico 1 – Divisão do Orçamento – MD
Fonte: Rosière, SEORI MD, palestra USP, 30 de junho de 2007.
Ministério da Defesa
Comando do ExércitoLei Orçamentária - 2007
Gráfico 2 – Orçamento do Exército
Fonte: Rosière, SEORI MD, palestra USP, 30 de junho de 2007.
82
Ministério da Defesa
Desp. de Custeio e Investimentos – ExércitoLei Orçamentária - 2007
Gráfico 3 – Fatia de Custeio e Investimentos
Fonte: Rosière, SEORI MD, palestra USP, 30 de junho de 2007.
Verifica-se que existem cerca de 100 milhões de reais disponíveis para o
reaparelhamento de todo o Exército no corrente ano, quantia considerada ínfima por
aquela autoridade para a dimensão do Exército e do País.
Rosière (2007) indica as conseqüências para o EB desse baixo orçamento
como sendo as seguintes:
• A limitação do efetivo de 50.000 militares para a incorporação de
recrutas em 2007, aquém da necessidade de 70.000 homens;
• Inviabilidade de um Programa de Reaparelhamento da Força;
• O limite fixado para atender as despesas administrativas só será
suficiente até o mês de setembro do corrente ano (2007). Com isso, para reduzir as
despesas com energia elétrica, as OM estão utilizando “apagões”, reduzindo a
iluminação com prejuízo para a segurança do pessoal e das instalações, e
desligando câmaras frigoríficas;
• As restrições orçamentárias impossibilitam a manutenção das
instalações de cerca de 650 OM e têm causado descontentamento nos seus 230 mil
integrantes;
83
• Interrupção na realização da maioria dos projetos e atividades na
área de Ciência e Tecnologia;
• Aquisição de 12% da Dotação de Munição Anual (DMA)
necessária; os recursos destinados à munição, sequer permitem a aquisição de
cartuchos de fuzil (102 tiros por homem) para a instrução do efetivo incorporado no
corrente ano;
• Os recursos para Alimentação de Pessoal só permitem, por ora, a
realização de duas refeições (café e almoço) de segunda à quinta-feira e com a
sexta-feira sem almoço. Haverá necessidade de antecipação do meio-expediente,
em virtude das restrições na alimentação de pessoal;
• Aquisição de apenas 33 (15%) dos 225 itens de fardamento
necessários;
• Combustíveis e Lubrificantes com atendimento de apenas 52% das
necessidades;
• Não-cumprimento do Plano de Construção, o que prejudicará as obras
necessárias à implantação da Brigada de Operações Especiais, das Brigadas da
Amazônia e adequações das Brigadas na Região Sul;
• Não existem coletes à prova de balas e capacetes em quantidade
suficiente para atuação da tropa em missões de risco;
• A indisponibilidade dos MEM está atingindo índices nunca
registrados;
• As viaturas blindadas destinadas ao emprego operacional do tipo M-41
atingiram meio século desde a respectiva fabricação e as viaturas sobre rodas não-
blindadas estão com idade-média acima dos 22 anos;
• As dotações orçamentárias consignadas aos benefícios sociais não
atendem às necessidades para o pagamento do Auxílio-transporte e da Assistência
Pré-escolar aos militares até o final do ano;
• Desmotivação dos quadros, oficiais e praças, que antes aceitavam
possuir um Exército menor que outros países desenvolvidos, mas que hoje
observam que estão ficando mais fracos do que países da própria América do Sul;
A deterioração nominal e real do orçamento da defesa vem comprometendo o
grau de operacionalidade das FA, dependente de fluxos regulares de recursos, bem
84
como, a ausência de recursos vinculados à função defesa acaba, também, por
comprometer a interface que se faz necessária entre a política externa,
conduzida pelo MRE, e a política de defesa.
Para evitar uma situação caótica e desastrosa para o País, as seguintes
ações, segundo o mesmo Secretário, são necessárias e fazem parte de sua
conclusão:
• Enfatizar a negociação político-técnica do Orçamento do MD
(Contingenciamento e Enfoque no tema “Defesa”);
• Obter, tempestivamente, recursos para as Operações da Garantia da
Lei e da Ordem (GLO);
• Consolidar o Reaparelhamento das Forças (Planejamento e metas de
longo prazo);
• Buscar fontes permanentes de recursos para as Forças Armadas
(Defesa associada ao desenvolvimento do País);
• Transformar em impositiva a parcela do orçamento anual do Ministério
de Defesa, destinada a investimentos, como percentual fixo da arrecadação prevista;
e
• Fixar a dotação orçamentária de recursos para as Forças Armadas
para aquisição de Produtos Estratégicos de Defesa (PED), alocando-os de modo
impositivo e com estimativa permanente.
Constata-se, sem dúvida, a extrema gravidade da situação atual do Exército,
expressa pelo próprio MD.
2.2.5 MEM nacionais em uso
Atualmente, o Exército possui uma parcela considerável de MEM de origem
efetivamente nacional em seu inventário. A maioria deles, porém, se constitui em
equipamento bélico de média complexidade tecnológica e com elevado tempo médio
de uso. Carros de Combate (CC) sobre lagartas, mísseis Anti-Carro (AC), aparelhos
de navegação inercial, armas leves de última geração e rádios portáteis do acervo
do Exército são, em sua grande maioria, importados.
85
MEM Quantidade Aproximada
CC sobre rodas (Cascavel) VBTP sobre rodas (Urutu)
400 220
LMF ASTROS II 20
EDT FILA 12
FAL Pistola 9 mm
Metralhadora de mão 9 mm
138.000 73.000 15.000
Tabela 5 – Principais MEM nacionais em uso pelo Exército
Fonte: EME, 4ª Subchefia, adaptado pelo autor.
MEM Existentes Indisponíveis
‘Urutu’ 218 98 M60 91 39
M113B 584 321 ‘Cascavel’ 408 171 ‘Leopard’ 131 92
Situação dos Blindados – Totais 1.432 721
Blindados
Idade média = 34 anos (78%) Até 1,5 t 3.153 1.324 2,5 – 5 t 3.523 1.233
Situação das Viaturas sobre Rodas – Totais
6.676 2.557
Viaturas sobre Rodas
Idade média = 20 anos (58%) ‘Black Hawk’ 4
‘Cougar’ 8 ‘Esquilo’ 35 ‘Pantera’ 34
Helicópteros
Situação dos Helicópteros – Totais 81
Informação não-disponível
Rebocados 373 Auto Propulsados 109
Situação dos Obuseiros e Canhões – Totais
482
Obuseiros e Canhões
52% do tipo da 2ª Guerra Mundial
Informação não-disponível
Tabela 6 – Situação de alguns MEM do Exército Brasileiro (2005)
Fonte: Dr. Antônio Carlos Ayrosa Rosiére, SEORI, Agosto 2006, adaptado pelo autor.
Os principais materiais nacionais foram adquiridos pelo Exército ao longo das
décadas de 1970 e 1980, quando a BID viveu um momento favorável e o governo
brasileiro de então dispunha de vontade política e visão estratégica de longo prazo,
86
apesar das crises internacionais e de problemas inerentes ao desenvolvimento de
uma tecnologia autóctone na produção de material bélico.
A Tabela 5 indica a pouca quantidade dos principais MEM nacionais em uso
pela FTB nos dias de hoje. As quantidades são aproximadas, podendo ocorrer
pequenas variações. Considera-se, para fins de estudo, a capacidade de produção
nacional de um amplo espectro de munições leves e pesadas que são normalmente
adquiridas no mercado nacional e disponibilizadas em função de necessidades da
Força Terrestre.
A Tabela 6, ao seu turno, apresenta uma melhor definição dos principais MEM
do EB na atualidade, indicando, por si só, a necessidade do reaparelhamento da
FTB, sob pena dela perder completamente a sua capacidade operacional em breve
espaço de tempo.
2.3 O AMBIENTE DO RELACIONAMENTO EB-BID
O arcabouço teórico proporcionado pelo estudo da doutrina da ESG,
referenciado por Brandão (2005), define a PDN como o conjunto de Objetivos de
Governo, bem como a orientação do Poder Nacional no sentido de conquistá-los e
mantê-los, superando ameaças e agressões de qualquer natureza que se
manifestem ou possam manifestar-se contra a Segurança e o Desenvolvimento da
Nação.
Segundo ele, embora este modelo confira ênfase à Expressão Militar na
execução das ações de Defesa Nacional, esta expressão não pode ter êxito sem o
concurso das demais. Após a Expressão Política definir o que precisa ser feito (PDN,
PNID, dentre outras), a Expressão Militar deve planejar as FA, dimensionar os meios
e definir as necessidades de emprego, especificações e requisitos dos diversos
sistemas de armas a serem empregados nas ações militares. Seqüencialmente, a
Expressão Científica e Tecnológica deve conceber e coordenar, junto aos centros de
pesquisa e à indústria, o desenvolvimento desses sistemas. Fechando o ciclo, a
Expressão Econômica (representada pela BID) deve produzir, manter e atualizar os
sistemas de armas, mantendo-se alerta para eventuais necessidades de
mobilização. Por fim, cabe à Expressão Psicossocial usufruir o sentimento de
segurança provido pelo preparo e emprego das ‘Ações de Defesa’ preconizadas na
PDN.
87
O relacionamento entre EB e BID é bastante complexo porque permeia
praticamente todas as expressões do Poder Nacional dentro de um ambiente de
Defesa, orientado que deve ser pela Expressão Política. Assim sendo, a Defesa
Nacional não é atribuição exclusiva da Expressão Militar, requerendo participação da
Expressão Científica e Tecnológica, Econômica e Psicossocial. Há necessidade,
pois, do apoio e participação de todos os meios em C&T, logística e mobilização
disponíveis na sociedade para garantir uma Defesa Nacional de forma soberana e
independente.
Para tanto, cumpre desenvolver referências que permitam entender o
ambiente em que ocorre a interação entre o Exército e a BID nos dias de hoje com a
finalidade de proporcionar elementos para a melhor compreensão da situação atual46
e do caráter inovador que representa a possibilidade do estabelecimento de um
processo de integração e sinergia entre esses dois segmentos da sociedade
brasileira.
2.3.1 O Relacionamento entre Civis e Militares
Este se constitui em um aspecto importante e fundamental no tratamento do
problema. Ele permeia por todo o ambiente de defesa na atualidade, não-somente
nas discussões internas das FA, universidades, partidos políticos, governo, MD ou
mesmo no convívio social diuturno de militares e civis.
Stepan (1974), ao estudar os modelos de relações entre civis e militares,
afirma que, em países como o Brasil, há elementos dos modelos liberal e
profissional. Contudo, para o modelo liberal faltam as instituições de controle e o
empenho sistemático de manter os militares fora da política: o resultado é uma luta
das elites civis para ver quem pode cooptar os militares; para o modelo profissional
falta o sistema político forte o suficiente para que as elites civis não precisem fazer
alianças com os militares.
O mesmo autor considera, também, o modelo moderador no Brasil, ou seja,
os militares são politizados e todos os grupos tentam cooptar os militares. Há uma
coexistência difícil entre a crença na ilegitimidade da intervenção militar e o uso dos
militares na política. Os militares são chamados com freqüência para atuar como
46 O capítulo 4 proporcionará a discussão da situação atual, ainda que não esteja focado no aspecto central desta tese, qual seja definir uma possível configuração para uma equipe multidisciplinar entre o EB e a BID. Nota do autor.
88
“moderadores”. Os militares, ao seu turno, aceitam esse papel porque reconhecem
sua baixa capacidade para governar. O resultado é que se aceita militares altamente
politizados, mas com atuação dentro de certos limites.
De acordo com Hunter (1997), aumentou o controle do Congresso Nacional
sobre o orçamento das FA brasileiras a partir de 1988. A democracia, por sua vez,
desencadeia incentivos aos políticos civis no sentido de reduzir a parcela militar nos
gastos públicos para atender aos interesses [pessoais] e partidários. O declínio nos
gastos militares, segundo a autora, é o resultado sistemático da dinâmica competitiva
da democracia e, na atualidade, os militares podem ser considerados um “tigre de
papel”47.
Pesce & Silva (2006), anteriormente referenciados, indicam que, segundo
Samuel P. Huntington, a ética profissional militar é realista e conservadora. O
liberalismo, o marxismo e o nazifascismo, por diferentes razões, são ideologias
antimilitares. A ideologia pró-militar por excelência é denominada realismo
conservador. Este realismo inspira-se em pensadores como Machiavelli e
Clausewitz, enquanto que o conservadorismo assemelha-se ao de Edmund Burke.
Tal visão - inspirada nas idéias econômicas de Alexander Hamilton e Friedrich List -
seria realista e conservadora. Desse modo, seria compatível com a ética profissional
militar e o fortalecimento do Poder Nacional (brasileiro) em todos os campos. O
realismo conservador - cujos maiores expoentes, em nosso país, foram José
Bonifácio e o Barão do Rio Branco - é uma ideologia pouco difundida, na sociedade
brasileira.
Os mesmos autores relatam que as ideologias antimilitares têm predominado,
ao longo da história política brasileira, sendo esta principal razão pela qual a defesa
nacional jamais recebeu a devida atenção por parte dos governantes - nem mesmo
em períodos de conflito externo. Até mesmo os presidentes militares (no inicio da
República e no período 1964-85) foram comedidos com relação à modernização das
Forças Armadas. A elite política brasileira nunca viu os militares como servidores do
Estado, mas como adversários na disputa pelo poder no campo interno. Por isso,
investimentos na área de defesa foram sempre considerados "desperdício de
recursos" - ou até mesmo "munição para o inimigo".
47 As observações sobre Hunter e Stepan foram recebidas inicialmente no Curso sobre ‘Segurança Internacional e Defesa’, conduzido no NUPRI/USP, em 2007, pelo Professor Doutor João Martins Filho, da Universidade Federal de São Carlos. Nota do autor.
89
No campo externo, segundo aqueles autores, a opção habitual para evitar
problemas foi a submissão do país à potência hegemônica do momento. No final do
Século XX, as políticas de Estado-mínimo adotadas durante a "década neoliberal"
resultaram no sucateamento de componentes vitais do aparelho estatal - inclusive as
Forças Armadas. A persistência da visão econômica ultra-ortodoxa, apesar do estéril
debate político-ideológico entre os liberais e a esquerda, tem condenado o Brasil à
semi-estagnação.
Segundo Guimarães48 (2006) apud Pereira, existe hoje no Brasil uma questão
essencial que precisa ser resolvida, qual seja a reconciliação entre certos segmentos
da sociedade civil e as Forças Armadas.
Citando Ferreira (2007) apud Cortês (2007):
[...] Na verdade, o EB (assim como as demais FA) está diante de uma situação curiosa. O jogo constitucional, para não dizer a correlação de forças que se estabeleceu na sociedade política a partir de 1979, quando os Atos Institucionais perderam eficácia, coloca-o diante de um dilema de escolha que definirá o que ele é e representará para a Nação e o Estado Brasileiros. Precisa decidir se aceita passivamente (ou não aceita) ser excluído como Instituição das decisões concernentes ao futuro do Estado Brasileiro. O desafio com que hoje o Brasil se defronta é escolher entre ser uma potência que corresponda à geografia que a história até hoje garantiu, ou não ser potência, não tendo o que oferecer às gerações futuras e arriscando-se a nada ser. [...] (Obstáculos à Modernização do Exército: relatório de simpósio. EME, 2007)
Ferreira (2007) indica, na mesma obra citada anteriormente, que um obstáculo
exógeno a ser vencido na “modernização do Exército”, no que diz respeito ao
relacionamento civis-militares, está situado no plano ideológico. Ele diz respeito ao
entendimento da função das FA no conjunto das instituições políticas. Segundo este
autor, existe, hoje, no Brasil, quem esteja buscando elaborar uma doutrina vazia com
a intenção de diminuir a presença das FA no Estado. Com isso, essas pessoas (ou
grupos) julgam estar evitando intervenções militares na política, isto é, prevenindo a
repetição de 1964. Por detrás dessa doutrina, empenham-se em mostrar “urbi et
orbi” que as FA não têm mais função no conjunto das instituições políticas, vale
dizer, no Estado, tal como têm tido desde 1840, quando elas sustentaram o Golpe da
Maioridade.
De acordo com Pereira (2002), a presença do Estamento Militar no
cenário político brasileiro ocorreu de forma eventual e sempre no vácuo deixado
pelas elites políticas. O envolvimento, em particular do Exército, na vida política
nacional tem sido historicamente inevitável. Questiona-se, muitas e 48 Samuel Pinheiros Guimarães, Secretário Geral de Relações Exteriores do Brasil (MRE).
90
equivocadamente vezes, o papel das Forças Armadas e das Forças Singulares, e os
debates são conduzidos com a visão imediatista dos resultados eleitoreiros e
demagógicos, e no viés revanchista, sem qualquer perspectiva positiva quanto ao
futuro nacional, o que poderá ser funesto para o Brasil e para as demais nações sul -
americanas, caso o processo da nova fase de relacionamento que se prenuncia não
seja conduzido com isenção por parte das variáveis civil e militar, as quais têm por
missão projetar o Poder Militar do presente e do futuro, o que retratará o grau de
integração e compreensão obtidos no referido enlace.
O autor relata:
[...] A lacuna entre os setores civil e militar foi sendo cristalizada por falta exclusiva de diálogo franco, com os militares confinando-se nos quartéis, encastelando-se nos seus propósitos, apoiados em sólidos princípios e valores éticos transmitidos religiosamente aos novos contingentes militares, formando um circulo de proteção contra a influência de determinados setores da sociedade civil. Quanto aos civis, afastaram-se das chamadas questões militares, estabelecendo com os mesmos uma relação de coexistência no máximo afável, embora, oportunamente, buscassem o seu apoio para levar a cabo seus interesses políticos. [...] (Pereira, Valmir Fonseca Azevedo. “As Relações entre Civis e Militares no Brasil e Suas Implicações na Futura Dimensão do Poder Militar na Região”, REDES, Brasília, 2002)
Dentro desse estudo, o mesmo autor referencia que o Poder Militar encontra-
se, hoje, enfraquecido por vários fatores:
• A perda de importância do Poder Militar para o Poder Econômico (que
virá a afetar o jogo de forças no relacionamento entre a BID e o EB);
• A dificuldade de serem percebidas ameaças, em especial, oriundas do
campo externo;
• A existência de uma única potência com Poder Militar muito superior ao
das demais;
• A relevância atual das questões internas, como o crime organizado, a
disseminação do tráfico de drogas;
• As dificuldades econômicas vivenciadas por todos os países;
• A necessidade de recursos orçamentários que poderiam ser alocados
para outros setores, em especial da área social;
• A falta de visão política das elites quanto ao futuro nacional, porque
usualmente voltadas para soluções de resultados imediatistas;
• O retraimento das Instituições Militares, com postura defensiva, e
escassa difusão na sociedade;
91
• O desinteresse e o desconhecimento, em especial das elites, em
relação aos assuntos de natureza ou conotação militares e ao papel dos militares na
vida nacional;
• O fim do ciclo que concedeu proeminência ao autoritarismo na região;
• A desconfiança e os preconceitos mútuos entre os militares e
segmentos da sociedade;
• A incerteza quanto à capacidade de adaptação do Estamento Militar e
de seus integrantes às novas realidades;
• A incerteza quanto à capacitação e à isenção dos civis no trato
daqueles assuntos.
Segundo pesquisa conduzida por Castro49 (2007), no sentido de avaliar o
relacionamento entre civis-militares, de acordo com a opinião de pesquisadores e
professores civis, todos doutores, que estudam FA, em especial o Exército, a
investigação:
[...] Apontou ainda que os pesquisadores consideram que o maior empecilho ao relacionamento civil-militar é a pouca importância que os partidos políticos e parlamentares atribuem às questões militares. Há outros fatores que obstam melhor qualidade desse relacionamento. Em ordem decrescente de importância, podem ainda ser citados os seguintes: a pouca compreensão da sociedade acerca da importância e das funções das FA; o sentimento de superioridade militar, como fruto de valores de superioridade moral inculcados pelo sistema de formação profissional militar; e a desconfiança ou o desinteresse do meio acadêmico civil em relação a se estudar os militares. [...] Ainda em relação aos obstáculos à melhoria das relações civis-militares, foram considerados como elementos pouco relevantes: o sentimento revanchista da parte de setores civis que se julgam prejudicados durante o regime militar; a atuação politizada de grupos de militares da reserva; a falta de equivalência entre os sistemas de pós-graduação civis e militares; e, finalmente, a queda do nível sócio-econômico dos jovens que ingressam na Academia Militar das Agulhas Negras. [...] Quanto à avaliação das medidas que contribuem para melhorar as relações civis-militares, a pesquisa apontou que o maior intercâmbio acadêmico entre civis e militares seria a ação capaz de causar maior impacto positivo na melhoria do relacionamento [grifo nosso], seguindo-se em ordem decrescente: a abertura de arquivos históricos ao público civil; e a implementação de mudanças no sistema de educação militar. Foram consideradas pouco relevantes, para a melhoria das relações civis-militares, a realização de campanhas de comunicação social, para divulgar e esclarecer o papel das FA, e o aumento dos salários dos militares, o que ensejaria maior procura dos civis pela carreira de Oficial. [...] (Castro, 2007)
49 Pesquisa apresentada pelo Professor Doutor Celso Castro, FGV, durante o “Ciclo de Estudos Estratégicos – Obstáculos à Modernização do Exército”, conduzido no EME, Brasília, DF, de 26 a 28 de março de 2007. Nota do autor.
92
O EME, ao concluir o relatório sobre o simpósio sobre obstáculos à
modernização do Exército, realizado em Brasília, em março de 2007, assim se
expressa:
[...] A mudança do quadro político nacional, a partir da década de 80, afastou as FA do centro do poder, advindo dessa situação reflexos negativos, a reboque da perda de espaço político da organização. Com isso, fica patente que o relacionamento civil–militar precisa ser melhorado, pois trará benefícios ao processo de modernização (do Exército) em estudo. [...] (EME, 2007)
Evitando-se discutir assuntos de caráter político-partidário, revisionismos
históricos ou revanchismos, por este não se constituir no fórum adequado, é
importante considerar-se o aspecto do relacionamento entre civis e militares como
componente do integrante das discussões sobre Defesa. Isso contribui para o
entendimento de dificuldades que naturalmente ocorrem no relacionamento entre o
EB e a BID que, certamente, são parcela ponderável e atuante da sociedade
brasileira.
2.3.2 O Papel do Governo Federal
O papel do Governo Federal é fundamental para o adequado relacionamento
entre o Exército e a Base Industrial de Defesa. A participação efetiva é louvável,
enquanto a ausência (ou afastamento) neste processo é bastante prejudicial para a
Defesa Nacional. Cumpre a ele conduzir as ações políticas que permitam criar as
condições necessárias de diálogo e intercâmbio entre a Expressão Militar e a
Expressão Econômica do Poder Nacional dentro de um processo maior de
construção da Nação brasileira, assumindo as conseqüências dos acertos e
eventuais erros das estratégias utilizadas para tal.
O Presidente da República é o Comandante Supremo das FA, cabendo-lhe
planejar e gerir o seu preparo e emprego em última instância. Na estrutura do Poder
Executivo, este papel é destinado ao Ministério da Defesa.
É importante salientar que o Governo Federal, por meio das FA (ainda em
processo de integração no âmbito do MD), se constitui no principal comprador de PD
e/ou MEM da BID. A exceção é feita aos equipamentos com características similares
aos MEM e que são adquiridos pelas Polícias Militares estaduais, também adquiridos
da BID.
Em função do governo federal e dos governos estaduais serem, muitas vezes,
os únicos e/ou os principais clientes e, em várias oportunidades, serem, também, os
93
proprietários de empresas componentes da BID (EMGEPRON, IMBEL), o mercado
difere da maioria de outros setores da economia nacional.
Nesse contexto de relacionamentos, Ravara (2001) faz algumas
considerações:
• A produção e o comércio de MEM estão sujeitos à autorização
governamental;
• Na condição de comprador nacional único50, o governo federal é,
também, o único a definir os requisitos operacionais e as especificações técnicas.
Nesta condição, o governo federal determina a procura por produtos da BID;
• O governo federal não garante a procura em longo prazo e ela não
pode ser prevista com fidedignidade porque depende da evolução das ameaças51
que, por sua vez, influencia a percepção das necessidades e o planejamento
orçamentário;
• A relação qualidade-preço não se constitui no único critério a
determinar a política de obtenção de MEM. Contrapartidas, incluindo acordos de
cooperação industrial, bem como considerações estratégicas de ordem política,
econômica e de segurança são fatores a serem considerados;
• O interesse nacional de defesa requer fontes de abastecimento
garantidas, o que impõe ao Estado a existência de uma capacidade própria de
obtenção de MEM como essencial para a manutenção desse interesse nacional.
Ainda, segundo aquele autor, ao estudar a BID portuguesa e os planos de
ação das autoridades daquele País, ele indica os principais objetivos que um
governo deve buscar em uma política de armamento. Os mesmos objetivos52 foram
relativamente observados quando da elaboração da PNID brasileira, quais sejam
eles: reforçar a competitividade da BID (com aporte de novas tecnologias); preservar
a base tecnológica já existente; favorecer a integração desta base tecnológica e
industrial com o conjunto da economia; e criar condições prévias de identidade
européia de segurança e defesa (no Brasil, substituída por uma mentalidade nacional
de defesa, ainda incipiente).
50 Para fins de estudo, considera-se somente o governo federal. Nota do autor. 51 Importante estudo que deve ser conduzido com objetividade, atualidade e parcimônia sob pena de prejudicar a capacidade operacional de uma FA. Opinião e nota do autor. 52 Segundo Carvalho (2007), um dos elaboradores da PNID brasileira, não se cogitou a respeito do modelo português, tendo sido mera coincidência. Nota do autor.
94
Atualmente, o Brasil vive um período de transição nos assuntos de defesa. A
análise do tema é complexa quando se estuda um grande número de variáveis
associadas, tais como o papel regulador do MD, integração das FA, orçamento de
defesa, segurança pública, defesa internacional, globalização, BID, dentre tantas
outras.
Para fins deste estudo, caracterizando o ambiente de defesa nacional, é
importante referenciar, principalmente os aspectos relacionados ao apoio
governamental ao reaparelhamento das FA (necessidade urgente), mecanismos de
incentivo à obtenção de MEM nacionais (C&T), o apoio à exportação de produtos
oriundos da BID, bem como políticas e estratégias em curso.
Segundo Barbosa (2007), não é possível um país da dimensão do Brasil, que
pretende ser alçado à condição de potência nas próximas décadas, com um território
e riquezas extensas, fronteiras com dez países, litoral onde são explorados os
recursos vitais para a Segurança Nacional, como petróleo e gás, deixe de dar o
tratamento adequado às Forças Armadas, como tem ocorrido nos últimos anos.
2.3.2.1 Estrutura do Poder Executivo
Além do MD, ressalta-se o necessário envolvimento de diversos ministérios no
atendimento as necessidades de defesa do País53. Os principais são os Ministérios
da Fazenda, do Planejamento, das Relações Exteriores, do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio, da Ciência e Tecnologia, dentre outros órgãos governamentais
de financiamento e de pesquisa científica.
No Brasil, é praticamente inexistente o incentivo em financiamentos para a
produção de material bélico. Segundo Carvalho (2007) e confirmado por Cândido
(2007), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o
Banco do Brasil se recusam (alegando condições técnicas) a qualquer tipo de apoio
e/ou financiamento à produção de materiais de defesa pelas empresas, quer seja
apresentando condições favoráveis de financiamento para promover vendas ao
exterior ou, até, eventualmente, proporcionando garantias aos contratos
eventualmente firmados no mercado internacional54.
O Ministério das Relações Exteriores (MRE), por sua vez, desenvolveu, a
partir da década de 1970, a Política Nacional de Exportação de Material Emprego
53 Não significa que isso ocorra na atualidade. Nota do autor. 54 Este assunto será mais bem explorado no capítulo 4, discussão do modelo atual.
95
Militar (PNEMEM) que tinha por finalidade incentivar a exportação de material bélico
nacional, notadamente, para países do Oriente Médio, América Latina e África. Os
programas desenvolvidos a partir dessa política obtiveram êxito por vários anos.
Essa política sofreu, entretanto, um natural arrefecimento com a mudança de
orientação governamental, com a retração do mercado internacional e com o declínio
da BID em meados dos anos 90. Na atualidade, observa-se um descompasso entre
a Política Externa e a Política de Defesa, que deveriam, para o bem do País, estar
balanceadas55.
O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por sua vez, avocou para si, nos
últimos anos, a competência legal para o fomento de P&D. No que diz respeito à
Defesa, esse ministério estabeleceu uma parceria/associação bastante promissora
com o MD. Ela está consubstanciada em um documento denominado ‘Concepção
Estratégica – Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse para a Defesa Nacional’
produzido pelos dois ministérios em 200356.
Segundo Fernandes57 (2006), o MCT busca o domínio de tecnologias críticas
para o Brasil, entre elas as desenvolvidas no Programa Espacial Brasileiro (PEB) e
no Programa Nuclear, em função das restrições impostas pelos tratados
internacionais e na limitação da transferência de tecnologias em compras
governamentais, como foi o caso da interferência cerceadora norte-americana na
venda de aviões militares da EMBRAER para a Venezuela em 2006. Ressalta,
também, o interesse brasileiro em tecnologias para sistemas inerciais (de difícil
obtenção externa após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA) e
atreladas ao PEB, bem como para satélites de imageamento, radares e VANT.
A destinação de recursos para o reaparelhamento das FA tem sido um
assunto constante na pauta do MD, especialmente ao longo dos últimos quatro anos.
Os programas específicos de cada força singular não foram adiante. Segundo
Cândido (2007), coordenador do COMDEFESA, o governo federal estuda a
possibilidade de estabelecer um programa de aparelhamento que esteja inserido no
55 Observação de Prof. Dr. Alexandre Fuccille, da UNICAMP, em palestra na USP, julho de 2007. ‘Punhos de aço e punhos de seda’.Nota do autor. 56 Documento fundamental para o entendimento do inter-relacionamento entre esses dois ministérios. Nota do autor. 57 Luís Rebelo Fernandes. Secretário Executivo do MCT. Palestra no 38º Fórum Dinheiro Vivo sobre Tecnologia Militar, São Paulo, novembro de 2006. Nota do autor.
96
Programa Pluri-Anual (PPA) – [2008-2011], contemplando as FA com cerca de dez
bilhões de reais ao longo desse período58.
No âmbito do MDIC, existe a APEX BRASIL – Agência de Promoção de
Exportações e Investimentos do Brasil. No momento, esta tem sido uma das
principais participações desse ministério junto ao setor de defesa.
A APEX foi criada em novembro de 1997, contribuindo para o
desenvolvimento de empresas, em especial as de pequeno e médio porte. Seus
objetivos são, dentre outros: identificação de setores estratégicos para ações
governamentais coordenadas (no caso, Defesa); aumento sustentado das
exportações; ampliação do número de empresas e produtos brasileiros no mercado
internacional; parcerias em projetos com organizações públicas e privadas (parceria
com a ABIMDE); treinamento e capacitação em gestão de comércio exterior;
adequação de produtos e processos; ação direta no mercado internacional;
promoção de produtos brasileiros em feiras e exposições (apoio a ABIMDE na
participação em feiras internacionais de material de defesa, como foi o caso da
Eurosatory 2006) e o estudo para a organização de missões empresariais e
encontros de negócios no exterior e no Brasil.
Em relação a políticas governamentais de incentivo e respectivas estratégias,
cumpre citar Ravara (2001), que indica o exemplo de Portugal:
[...] somente em meados dos anos oitenta, com a primeira Lei de Programação Militar (LPM), foi que se encarou, de forma institucional, o reequipamento das FA, e também a reestruturação das ‘indústrias de defesa’. [...] (Ravara, 2001)
O governo federal brasileiro vem adotando políticas e ações estratégicas de
interesse para a defesa notadamente pelo Ministério da Defesa, criado em um
passado ainda recente.
2.3.3 O Ministério da Defesa
2.3.3.1 Criação e Objetivo
O Ministério da Defesa (MD) é o órgão do Governo Federal incumbido de
exercer a direção superior das Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
Exército e pela Aeronáutica. Uma de suas principais tarefas é o estabelecimento de
políticas ligadas à Defesa e à Segurança do País, como é o caso da Política de 58 Essas suposições são pouco confiáveis, no entendimento deste autor, sendo suscetíveis a mudanças políticas do Governo Federal que ocorrem com muita freqüência. Nota do autor.
97
Defesa Nacional (PDN), atualizada em julho de 2005. Criado em 10 de junho de
1999, o MD é o principal articulador de ações que envolvam mais de uma Força
Singular.
Atualmente, ele sofre um processo natural de estruturação, conscientização,
consolidação e amadurecimento institucional. Este processo passa pela integração
das FA, ocupação de seu espaço decisório e executivo junto ao Governo Federal e o
Congresso Nacional, bem como na intensificação de seu relacionamento com a
sociedade, por meio de campanhas de conscientização para a importância dos
assuntos de defesa no Brasil.
O MD desempenha um papel de extrema relevância no estudo do ambiente
do relacionamento entre o Exército e a BID por integrar o EB no âmbito do Governo
Federal e das demais forças singulares, bem como se constituir em regulador e
normatizador da atuação da BID junto às FA.
Em relação ao estabelecimento de políticas, o Presidente da República
aprovou a atual ‘Política de Defesa Nacional’ (PDN) por meio do Decreto Nr 5.484,
de 30 de junho de 2005 e que orienta o trabalho do MD.
A partir disso, o MD estabeleceu a “Política Nacional da Indústria de Defesa”
(PNID) (Portaria Normativa Nr 899/MD, de 19 de julho de 2005), seguida de outra
portaria normativa, a de Nr 586/MD, de 24 de abril de 2006, que aprovava as “Ações
Estratégicas para a PNID”.
Anteriormente, o ministério já havia publicado a Portaria Normativa Nr
740/MD, de 26 novembro de 2001, estabelecendo a “Política de C&T das Forças
Armadas”. Seguiu-se outra portaria normativa, a de Nr 1317/MD, de 04 de novembro
de 2004, criando a “Política de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I) para a
Defesa Nacional.
A Política de Compensação Industrial, Comercial e Tecnológica, por sua vez,
foi aprovada pela Portaria Normativa Nr 764/MD, de 27 de dezembro de 2002, tendo
como objetivo coordenar as atividades que envolvem a utilização da ferramenta “Off
Set” em benefício do desenvolvimento industrial, tecnológico e de comércio exterior
da Base Industrial de Defesa brasileira, a partir da utilização do poder de compra e o
poder concedente do Estado, quando das importações de produtos de defesa.
Recentemente, em 29 de dezembro de 2006, o MD publicou a ‘Política de
Logística de Defesa’ (PLD) por meio da Portaria Normativa Nr 1890, daquela data.
Ela é conseqüência da PDN e da Política Militar de Defesa (PMD).
98
Aquelas portarias, em conjunto, são documentos importantes para a
compreensão deste estudo por relacionarem BID, C&T e Logística no âmbito de
defesa. Este autor não tem interesse de aprofundar a abordagem dessas políticas. O
seu objetivo é referenciá-las para caracterizar o campo de estudo, bem como para
indicar os esforços governamentais para regulamentar a atuação dos diversos atores
no âmbito da Defesa.
No estudo de relacionamentos de governo com BID, cita-se Ravara (2001)
que exemplifica, uma vez mais, o caso de Portugal. Segundo ele, a harmonização
entre os interesses da defesa nacional, os constrangimentos impostos pela política
orçamentária do governo federal e as exigências de racionalidade empresarial
(acrescenta-se necessidades operacionais das FA) são garantidos por um “conselho
estratégico” que reúne o Diretor Nacional de Armamento, representantes das FA e
dos Ministérios das Finanças e da Economia.
O MD tem procurado seguir um caminho semelhante a este modelo português
por meio da criação de fóruns e comissões que reúnam elementos das FA e da BID,
como será visto a seguir.
2.3.3.2 Apoio à Reativação da BID
Nos últimos anos, o MD vem tomando uma série de medidas e iniciativas no
sentido de reativar a BID. Elas tomaram forma especialmente a partir da publicação
da Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID) em 2005, bem como das Ações
Estratégicas para a PNID em 2006.
A Comissão Militar da Indústria de Defesa (CMID), ao seu turno, foi instituída
por intermédio da Portaria Nr 611/MD, de 12 de maio de 2005, reunindo oficiais-
generais das FA com funções de relacionamento com a BID.
A comissão tem as seguintes atribuições:
I - propor e coordenar os estudos relativos ao fomento às atividades de
pesquisa, de desenvolvimento, de produção e de exportação de produtos de defesa;
II – promover a integração dessas atividades;
III - estabelecer um fluxo adequado de informações entre o Ministério
da Defesa e as entidades civis e governamentais envolvidas; e
IV - propor medidas com vistas a incentivar a capacitação dos recursos
humanos necessários.
99
Outro instrumento estabelecido foi a criação do Fórum da Indústria de Defesa
(FID) por meio da mesma portaria (Nr 611/MD, de 12 de maio de 2005). Este fórum
deveria reunir-se periodicamente, sob os auspícios do Ministério, para discutir temas
de interesse comum. Ele ainda não se reuniu no corrente ano de 2007,
presumivelmente pelo sucesso do COMDEFESA nesta empreitada, especialmente a
partir de 2006.
O MD estabeleceu, também, o Comitê Técnico da Indústria de Defesa (CTID)
cuja composição é variável, de caráter interministerial, e com o objetivo de viabilizar
no âmbito do governo as propostas do FID e da CMID.
Além do CTID, foi criado o Comitê de Logística (COLOG), constituído, por sua
vez, de participantes do MD e das FA com o objetivo de agilizar a demanda de MEM
(logística militar) de interesse da BID.
Segundo Ravara (2001), o esforço para a reestruturação de uma indústria de
defesa nacional precisa ser validado primariamente em função da sua contribuição
para a melhoria das condições (qualidade, preço e oportunidade) em que as FA
(no caso particular, o Exército) obterão o armamento e os equipamentos de que
necessitam. O referido autor considera muito difícil obter a autonomia nacional
(completa) no fornecimento de MEM para as FA. Hoje, isto está ao alcance de
pouquíssimos países, cabendo aos demais atores do cenário internacional obter o
grau de autonomia possível em face das suas capacidades científicas, industriais e
financeiras.
Ravara (2001) afirma ainda que o MD (exemplificando Portugal) precisará
levar em conta uma abordagem simultânea da vertente da procura / utilizador (FA) e
da vertente da oferta / fornecedor (BID), sob pena de suas ações políticas e
estratégicas se tornarem desequilibradas.
Ao Exército interessa que o MEM fornecido seja:
• Da melhor qualidade, de acordo com a especificação técnica por ele
estabelecida59;
• Do menor preço (considerando-se os custos estimados de operação e
sustentação ao longo do ciclo de vida útil, embora exista uma
diferenciação na taxação dos impostos)60;
59 Recorda-se que para isto existe a IG 20-12, que na observação deste autor é, muitas vezes, desrespeitada neste aspecto, isto é, o EB adquire, muitas vezes, material fora de especificações, em função da imposição de ‘compras de oportunidade’; prazos de licitação; etc. Nota do autor.
100
• Entregue com oportunidade, nos prazos estabelecidos;
• Com garantia de continuidade de fornecimento ao longo do ciclo de vida.
A BID, por sua vez, tem interesse primário:
• Na existência de um mercado nacional. Em função da necessidade de
exportar, este mercado é fundamental, pois dificilmente um país comprará
PD de outro se aquele país-fornecedor não o emprega em suas FA;
• No volume de procura adequado à capacidade de produção;
• Na manutenção da procura pelo PD por um período considerável de tempo
que favoreça os investimentos;
• Na confiança da liquidação financeira dos encargos, permitindo conhecer,
com oportunidade, o que se vai procurar, com que características e em
que condições.
• Isonomia fiscal em relação aos produtos importados.
A partir dessa abordagem adaptada ao EB, Ravara (2001) permite inferir que
o elo primário de relação entre o EB e a BID está no mútuo conhecimento, pelo
primeiro, do que se procura (necessidades), e da segunda, do que se oferece
(capacidades).
Silva (2004), ao abordar o tema, listando estratégias para o reequipamento do
Exército Brasileiro, coloca como primeira delas a criação de um grupo de alto nível
para enfrentar os problemas da BID com medidas pró-ativas.
As demais são as seguintes:
• Retomada da política de fomento industrial das décadas de 1970 e 1980;
• Incentivo à realização de trabalhos conjuntos por institutos de pesquisa,
faculdades (ensino) e indústria (produção);
• Reformulação do sistema contábil da IMBEL, empresa estatal com dívidas
para com o Estado e que necessita vender para o Estado;
• Realização de ações políticas amplas e permanentes de esclarecimento
para não permitir o sucateamento das FA;
60 Uma grande parte dos MEM estrangeiros adquiridos recentemente pelo EB já estavam ao final do ciclo de vida útil (exemplo do CC LEOPARD M1A5), necessitando pesados investimentos em manutenção e futura alienação. Segundo este autor, a FTB ainda se ressente, por motivos culturais, de estudos apropriados sobre o ciclo de vida útil de seus principais equipamentos. Nota do autor.
101
• Aumento do orçamento de investimento das FA, gerando mais empregos,
novos mercados e recompondo os MEM desatualizados existentes nos
acervos.
A formação deste grupo de alto nível que busca o mútuo conhecimento
por meio de uma abordagem contemporânea é o elemento motivador desta
tese de doutorado e o problema que se busca uma proposta de solução.
Considera-se, como pressuposto, que a abordagem pode ser feita a partir do
Exército e não do MD por este não estar ‘amadurecido’ o suficiente para realizar uma
tarefa complexa como essa. Haveria necessidade de mais alguns anos para tal, o
que, na opinião desse pesquisador, é maléfico para a sobrevivência da BID e para o
reaparelhamento do EB. Partindo-se de uma solução que atenda o Exército, será
possível congregá-la no futuro com as demais FA no âmbito do MD. É lícito afirmar
que seria uma abordagem ‘de baixo para cima’ e não que venha a ser determinada
pelo MD, do tipo ‘de cima para baixo’.
Carvalho (2007), por sua vez, discorda do pressuposto deste autor. Segundo
ele, um dos maiores obstáculos para a efetivação do MD é a posição de cada FA
querendo viver isolada, sem compartilhar esse aspecto com as demais. Entende
que, embora sendo uma tarefa difícil, o MD deveria capitanear esta atividade,
congregando as FA, sistematizando as normas e padronizando procedimentos e
materiais. Esta reunião permitiria uma melhor utilização dos orçamentos, bem como
aumentar o volume dos pedidos às indústrias, com incremento na sua escala de
produção para materiais padronizados.
2.3.4 Projeto de Força
O estudo e a referência ao tema ‘Projeto de Força’ são essenciais quando se
procura uma visão moderna no tratamento das FA de um país. O presente trabalho
tem a pretensão de ‘lançar luzes’ sobre ele, pois o assunto tem merecido destaque
no ambiente acadêmico nacional e internacional na atualidade.
Em 2002 (Brasília – DF) e 2003 (Santiago do Chile), seminários sobre estudos
em pesquisa e educação sobre Defesa e Segurança, sob os auspícios do “Center for
Hemispheric Defense Studies (CHDS) – Centro Hemisfério para Estudos de Defesa”
da “National Defense University (NDU) – Universidade de Defesa Nacional” dos
EUA, apresentaram o tema no ambiente sul-americano. Esses seminários receberam
a denominação de REDES – “Research and Education in Defense and Security
102
Studies Seminars – Seminários de Estudos de Pesquisa e Ensino em Defesa e
Segurança”.
Segundo Raza (2002) apud Gomes, “Projeto de Força (Figura 3) pode ser
definido como a sistemática de planejamento de defesa que permite a concepção e
justificação das demandas de capacidades militares, sob uma ponderação de custos
e riscos. Essa sistemática integra um conjunto articulado de decisões visando a
instruir a análise do ambiente de defesa sob três perspectivas: adaptação,
modernização e transformação [grifo nosso] (Figura 4). O produto que ela gera –
um projeto integrado de defesa – atua como elo entre as atribuições ministeriais de
defesa e as ações práticas dedicadas à formulação de alternativas de defesa”.
No quadro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Ravara
(2001) indica a necessidade de cada país-membro (no caso, Portugal) definir, dentro
de um planejamento61 que leva em conta missão e estratégia para cada Comando
da organização, “objetivos de forças62” a serem obtidos ou mantidos em um período
considerado para se conseguir as “capacidades militares” requeridas para o
cumprimento dessas missões. Os “objetivos de armamentos” são estabelecidos em
seqüência e em consonância com os ‘objetivos das forças’.
[...] Objetivos de Armamentos são os sistemas de armas e equipamentos necessários às FA para atingir os objetivos de forças fixados e as capacidades militares necessárias para cumprir as missões atribuídas. [...] “O Reequipamento e a Indústria de Defesa – Subsídios para uma Política de Armamento”. (Ravara, 2001)
Em Portugal, segundo o mesmo autor, o estabelecimento dos programas de
armamento e de equipamento das FA não considera os “objetivos de armamento”,
tampouco sua definição para longo prazo. Em função disso, torna-se inviável a
desejável participação do sistema de P&D de universidades, centros de pesquisa e
da BID no processo de reequipamento das FA.
61 Ciclo Bienal de Planejamento de Forças (CBPF), segundo Ravara. Nota do autor. 62 A OTAN define um horizonte de seis anos para alcançar esses objetivos. Define, também, requisitos de longo prazo (“long term requirements”) para assegurar a indispensável antecipação e avanço tecnológico sobre potenciais adversários. Nota do autor.
103
2
Alistamiento (grado de
disponibilidad)
Reglas de Empeñamiento
Elem. Habilitadores
Equipos
Personal
Protocolos de Operación
Medios Militares
Combate
Apoyo
Estruc.Operacionales
C4
Tareas
Objetivos
Interoperabilidad
Estructura de FuerzasFactores de Regulación
Concepto de Empleo
DoctrinaElem.
Condicionantes
Operaciones
IVR
Figura 3 – Projeto de Força (em espanhol)
Fonte: Raza, USP, maio de 2007.
Observa-se, ao comparar Portugal e Brasil, um elevado grau de semelhança
no tocante a esse último aspecto. Exemplifica-se – com notação negativa, no caso
do Exército, pelo “Projeto da Nova Família de Blindados sobre Rodas (NFBR)”:
iniciado ao alvorecer deste milênio com grande expectativa, ele atingiu o ano de
2006, sem sequer a definição de requisitos em forma definitiva, tampouco
estabeleceu a escolha de uma empresa nacional que fosse capaz de estar à frente
da empreitada. No encerramento da fase de escrituração desta tese, setembro de
2007, o EB escolheu uma empresa estrangeira, a IVECO-FIAT para capitanear o
projeto no setor empresarial63.
Cumpre referenciar outro exemplo que ajuda a elucidar comportamentos
discutíveis no relacionamento entre uma FA e sua BID; porém, com viés diferente: a
atuação do Exército dos EUA com o complexo militar norte-americano e vice-versa
no desenvolvimento do VBTP “Bradley” na década de 1980 – comprometimento
ético, técnico e operacional entre esses atores no desenvolvimento daquele MEM.
Esta situação é estudada pelo então Major James G. Burton, coronel da reserva da
Força Aérea dos EUA, no livro “The Pentagon Wars – Reformers Challenge the Old 63 O autor não tem a intenção de fazer uma crítica negativa aos condutores e planejadores deste projeto específico – a maioria composta por abnegados e competentes militares (técnicos e operacionais). A constatação, porém, precisa ser feita: o Exército não conseguiu conjugar (até momento da elaboração desta tese) o pensamento à ação – sete preciosos anos. Nota do autor.
104
Guard”. A obra foi transformada em filme por Hollywood (HBO Films) com o nome
‘The Pentagon Wars’, tendo sido lançado no Brasil com o título ‘A Máquina de
Guerra’ (CIC Vídeo) em 1998. A relevância deste caso justificou sua abordagem em
aulas sobre o comportamento ético entre FA e empresas fornecedoras no Instituto de
Logística da Aeronáutica (ILA), São Paulo64.
Entende-se que não se deve pensar em conduzir uma integração mediata
ou imediata entre o EB e a BID, sem uma adequada e oportuna abordagem do
tema ‘Projeto de Força’ no âmbito do MD, FA (em especial, o Exército) e BID. O
seu estudo proporcionará elementos científicos (muitos deles oriundos da Pesquisa
Operacional – PO) que auxiliarão no dimensionamento do Exército como um todo,
influindo sensivelmente no estabelecimento dos requisitos necessários para a
compra de MEM. A BID, por sua vez, sofrerá um natural assédio no sentido do
conhecimento de seus interesses e de sua real capacidade no atendimento às
necessidades da F Ter.
T2T0 Tiempo
IncertidumbreAgregada
T1 T3
Modernización
Adaptación
TransformaciónCrear nuevos
marcos de efectividad
Actualizar eficácia
de capacidades existentes
Aumentar eficiencia de capacidades
actuales
11Horizontes de planeamiento
Critérios de IntegraciónDeseable-Posible
Ruptura
Moldeador
Tendencia
Figura 4 – Critérios de Integração (em espanhol)
Fonte: Salvador Raza, USP, maio de 2007.
A figura 4 indica horizontes de planejamento e o que normalmente pode ser
alcançado quando se busca uma adaptação (o que senso comum indica ocorrer
64 Segundo afirmação do Diretor de Ensino do ILA a este oficial em Abril de 2007 em visita àquele EE. Nota do autor.
105
hoje no seio do Exército), uma modernização (médio prazo) e uma transformação
(longo prazo).
FORÇA DE
OPOSIÇÃO
Fase Preliminar
Fase Operativa
Informações e
Previsõe s
Tecnológicas
Missões e tarefas para
a Força Terrestre, no
contexto de um
ambiente integrado
Análise do
Teatro
Novos
Conceitos
Operacionais
Fase Estrutural
PROJETO DA ORGANIZAÇÃO E DA DOUTRINA
Fase Conceitual
MATERIAL
(AQUISIÇÃO/DESENVOLVIMENTO/REPOTENCIALIAÇÃO )
PESSOAL
(FORMAÇÃO, LIDERANÇA
TREINAMENTO)
PRONTIDÃO
FORÇA PRONTA
“DTLOMS”
FASES DO PROJETO DE FORÇA
Figura 5 – Fases de um Projeto de Força
Fonte: GOMES, Mosqueira, DCT, palestra ECEME, em 18 de maio de 2006.
O esforço inovador conduzido nesta tese pretende caminhar em companhia
de um estudo de Projeto de Força. O estabelecimento de uma equipe de alto nível,
que possa aproximar o EB e a BID em um projeto de integração e sinergia65, poderá
auxiliar a compreensão desse moderno conceito científico, como apresentado na
Figura 5.
O Brasil e o EB, em especial, ainda se ressentem de uma adequada
sistematização do conhecimento das capacidades da BID66 e quais PED ou
MEM eventualmente podem obter no exterior.
Não parece ser o caso de Portugal. Segundo Ravara (2001), estudos
conduzidos em 1997 e 1999 pelo governo português e pela associação de empresas
de defesa daquele país, confirmaram o diagnóstico prévio do setor, e que se entende
como bastante similar a situação brasileira ora vivida (notadamente exemplificada
65 Objetivo que poderá ser alcançado a partir do estudo e implementação da EIT proposta nesta tese. Nota do autor. 66 Acredita-se que este seja um campo fértil para pesquisa. Dentre os principais (e relativamente poucos) estudos conduzidos nas décadas de 1980 e 1990, alguns apresentavam um viés ideológico anti-militar, o que normalmente limitava o campo de aceitação de algumas assertivas. Este, porém, não é o foco do presente trabalho. Nota do autor.
106
pela crise por que passa a IMBEL67), servindo como ponto de partida para
posteriores estudos.
As empresas da BID68 foram caracterizadas naquela oportunidade por:
• Baixa produtividade – evidente em tecnologias, PD e processos utilizados
e no [elevado] ‘peso’ de suas estruturas;
• Desajustamento entre o perfil e a qualidade da oferta (PD, tecnologia) e o
perfil da procura (expresso na necessidade de MEM para as FA);
• Número considerável de PD desatualizados e linhas de produção inviáveis,
apenas mantidas por razões ditas “estratégicas”;
• Isolamento ou marginalidade, quer relativamente aos centros de
desenvolvimento de novas tecnologias e PD, quer em mercados mais
exigentes;
• Grande dificuldade ou incapacidade para competir no mercado
internacional;
• Ausência de preocupações na área de marketing e no uso eficiente de
recursos financeiros;
• Gestão nem sempre adequada às reconfigurações e reposicionamento dos
negócios;
• Ausência de ligações à iniciativa empresarial privada; e
• Caixas (ou balanços) fortemente negativos.
Ressalta-se, fruto de discussões em reuniões de coordenação diversas,
muitas delas ocorridas em alto nível decisório, a importância do Exército ter o seu
projeto estratégico, que deve ir além de um simples projeto de reaparelhamento.
Qual o grande projeto (em P&D de MEM) mobilizador do Exército?
Entende-se que o assunto precisa ser discutido e definido sem temor à quebra
de paradigmas e com o objetivo de modernizar a FTB.
Há necessidade de ser avaliada a situação futura desejada com o
reaparelhamento da Força, sendo mister saber as necessidades reais dos diversos
itens do EB em termos numéricos.
Para tanto, um “Projeto de Força”.
67 O autor visitou as unidades de Piquete, Itajubá, Juiz de Fora e Estrela desta empresa em março de 2007. Havia visitado a unidade do Caju, RJ, em julho de 2004. Nota do autor. 68 Segundo Ravara (2001), a quase totalidade das empresas ligadas ao setor é constituída por pequenas ou micro-empresas. Nota do autor.
107
2.3.5 Legislação
2.3.5.1 Brasileira
A legislação brasileira referente a este campo do conhecimento vem sendo
atualizada constantemente nos últimos anos. O enfoque é conduzido sobre aspectos
gerais do EB e da BID, bem como alguns outros que norteiam interação de ambos.
A finalidade dessa breve referência é indicar os parâmetros legais do
ambiente de defesa que atuam direta ou indiretamente sobre o relacionamento entre
a BID e o EB.
Para tal, inicia-se com o estudo e a referência da Constituição Brasileira.
[...] Art. 21 – Compete à União: [...] III – assegurar a defesa nacional; [...] VI – autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico. [...] Art. 218 – O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas. Art 219 – O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos da lei federal [...]. (CF, 1988)
A Lei Complementar (LC) Nr 97, de 09 de junho de 1999, indica, por sua vez:
Art. 9º – O Ministro de Estado da Defesa exerce a direção superior das Forças Armadas, assessorado pelo Conselho Militar de Defesa, pelo Estado-Maior de Defesa, pelas Secretarias e demais órgãos, conforme definido em lei. [...] Art. 14º – O preparo das Forças Armadas é orientado pelos seguintes parâmetros básicos: I – permanente eficiência operacional [...]; II – procura de autonomia nacional crescente, mediante contínua nacionalização de seus meios, nela incluídas pesquisa e desenvolvimento e o fortalecimento da indústria nacional; e III – [...] mobilização criteriosamente preparada. Art. 15º – O emprego das Forças Armadas [...] é de responsabilidade do Presidente da República, que determinará ao Ministro de Estado da Defesa a ativação de órgãos operacionais [...] § 7° O emprego e o preparo das Forças Armadas na Garantia da Lei e da Ordem são considerados atividade militar para fins de aplicação do art. 9, inciso II, alínea c, do Decreto-Lei n 1.001, de 21 de outubro de 1969 – Código Penal Militar. [Incluído pela Lei Complementar n 117, de 2004] (LC Nr 97, 1999)
No estudo do caso brasileiro, a Política de Defesa Nacional (PDN), editada em
2005, revela que a persistência de entraves à paz mundial requer a atualização
permanente e o reaparelhamento progressivo das nossas FA, com ênfase no
desenvolvimento da indústria de defesa, visando à redução da dependência
tecnológica (grifo nosso) e à superação das restrições unilaterais de acesso às
tecnologias sensíveis.
108
Em suas orientações estratégicas, ela observa os seguintes pressupostos
básicos de interesse para o tema em questão:
VI – Existência de FA modernas, balanceadas e aprestadas; e
VII – Capacidade de mobilização nacional.
Ela considera que “o fortalecimento da capacitação do País no campo da
defesa é essencial e deve ser obtido com o envolvimento permanente dos setores
governamental [MD e FA], industrial e acadêmico, voltados à produção científica e
tecnológica e para a inovação. O desenvolvimento da indústria de defesa (grifo
nosso), incluindo o domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para alcançar
o abastecimento seguro e previsível de materiais e serviços de defesa”.
Considera, também, que “a integração regional da indústria de defesa, a
exemplo do MERCOSUL, deve ser objeto de medidas que propiciem o
desenvolvimento mútuo, a ampliação de mercados e a obtenção de autonomia
estratégica”.
As seguintes diretrizes estratégicas, expressas naquele documento, afetam
esse campo do conhecimento:
[...] XVII – estimular a pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico e a capacidade de produção de materiais e serviços de interesse de defesa; XVIII – intensificar o intercâmbio das FA entre si e com as universidades, instituições de pesquisa e indústrias, nas áreas de interesse de defesa (grifo nosso); [...] XXI – contribuir ativamente para o fortalecimento, a expansão e a consolidação da integração regional com ênfase no desenvolvimento da BID; [...] XXIII – dispor de capacidade de projeção de poder, visando à eventual participação em operações estabelecidas ou autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU [precisará, para tanto, de MEM e PD modernos e eficientes]; XXIV – criar novas parcerias com países que possam contribuir para o desenvolvimento de tecnologias de interesse da defesa. [...] (PDN, 2005)
A Política de C&T das Forças Armadas:
A finalidade da “Política de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T&I)” é, no
interesse da defesa:
• Orientar as instituições para as atividades de C, T&I;
• Estimular a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) do conhecimento
científico;
• Fomentar o desenvolvimento industrial; e
• Gerar produtos inovadores para as FA.
Ela está dividida em temas e objetivos. São eles:
109
[...] Tema 1 – Domínio de tecnologias que atendam às necessidades da defesa nacional. Objetivos: ampliação do conteúdo tecnológico dos produtos e serviços de interesse da defesa nacional; Elevação do nível de capacitação dos recursos humanos; e Aprimoramento da infra-estrutura de C&T de apoio a programas e projetos de interesse da defesa nacional. [...] Tema 2 – Contribuição para o fortalecimento da indústria nacional. Objetivos: Criação de um ambiente favorável à inovação e à competitividade industrial; e Implantação de mecanismos de financiamento das atividades de C, T&I de interesse da defesa nacional. [...] Tema 3 – Reconhecimento institucional, no Brasil e no exterior. Objetivos: Ampliação do interesse dos diversos segmentos da sociedade pelas iniciativas nas áreas de C, T&I voltadas para a defesa nacional; e Aprimoramento da imagem de excelência institucional. [...] Tema 4 – Gestão eficiente e eficaz. Objetivos: Integração das iniciativas de C,T&I de interesse da defesa nacional, conduzidas nas organizações militares de P&D, nos institutos, nas universidades e na indústria; Estabelecimento de política para a valorização de recursos humanos, baseada em resultados; e Implantação de sistemática que integre o planejamento estratégico, o ciclo de desenvolvimento de produtos e serviços de interesse da defesa e a avaliação de resultados. [...] O MD considera a obtenção de conhecimentos científicos e tecnologias negadas pelas nações desenvolvidas como um ponto crucial a ser superado. “Política de C, T&I no interesse da Defesa” (MD, 2003)
A Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID), editada em 2005:
A PNID, explorada em vários aspectos ao longo do estudo, foi aprovada pela
Portaria Normativa Nr 899/MD, de 19 de julho de 2005, com o objetivo geral de
fortalecimento da BID. Ela foi elaborada pelo MD com a colaboração da ABIMDE e
AIAB.
Segundo Pádua (2005), as premissas que norteiam a PNID são:
• caráter indutivo;
• a sua inserção em um contexto de ações que favorecem a Defesa
Nacional;
• a Inovação de produtos e processos, exigência de contrapartidas aos
benefícios concedidos;
• caracterização da complementaridade das empresas estatais em relação
às demais na produção de bens e serviços de defesa;
• visão prospectiva consolidada das FA e de sua demanda em MEM;
• frentes de ação rápida [necessidades urgentes] e frente de maturação
lenta, com expansão por meio do fomento;
• incremento das exportações e busca da diversificação.
Quanto à eficiência dessa Política, Carvalho (2006) relata que pelo fato de ser
uma Portaria Normativa do MD, sua atuação está restrita a esse ministério, o que
dificulta o trabalho coordenado no âmbito do Governo Federal.
110
Em função disso, o MD caracteriza como segundo passo a necessidade da
aprovação desse instrumento por meio de uma Portaria Interministerial, seguido
pela aprovação de um Decreto ou Projeto de Lei.
As “Ações Estratégicas para PNID”, ao seu turno, foram aprovadas pela
Portaria Normativa Nr 586/MD, de 24 de abril de 2006 e são apresentadas junto aos
objetivos definidos pela PNID.
[...] Os objetivos específicos e as ações estratégicas são: I - conscientização da sociedade em geral quanto à necessidade de o País dispor de uma forte Base Industrial de Defesa (BID): a) realizar campanha de divulgação e conscientização da importância de uma BID forte, em trabalho conjugado de empresas e suas associações, direcionada aos órgãos governamentais, à imprensa, ao Congresso Nacional, aos pesquisadores, aos Centros de Estudos Estratégicos, aos corpos docentes e discentes dos níveis de ensino médio e superior, à Comunidade Acadêmica e ao público em geral; b) propor a participação da Presidência da República, dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, das Relações Exteriores, da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Gestão, bem como da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), das Federações das Indústrias, da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa (ABIMDE), do Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa (SIMDE) e outras instituições; c) ampliar a atuação da Assessoria Parlamentar do Ministério da Defesa (MD) junto ao Congresso Nacional, nos assuntos de interesse da BID, buscando o apoio das empresas e entidades de classe ligadas à indústria de defesa; d) utilizar o Fórum das Indústrias de Defesa (FID), de que trata a Portaria no- 611/MD, de 12 de maio de 2005, como instrumento de articulação entre o MD, os demais órgãos do Governo e as empresas, quando oportuno; II - diminuição progressiva da dependência externa em produtos estratégicos de defesa, desenvolvendo-os e produzindo-os internamente: a) identificar e listar os produtos estratégicos de defesa, criando uma Relação de Produtos Estratégicos de Defesa; b) listar tecnologias estratégicas de interesse do MD, relacionadas com os produtos estratégicos de defesa; c) priorizar as ações para o desenvolvimento de produtos de defesa pela indústria nacional; d) compatibilizar o tempo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) às necessidades da defesa nacional; e) incrementar ações voltadas para a inovação de produtos e processos, com foco nas demandas das Forças Armadas (FA); f) incentivar o intercâmbio entre as indústrias de defesa e as FA para a P&D e a produção de produtos de defesa; g) identificar os projetos estratégicos de defesa para proposição aos Comitês Gestores dos Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia; h) identificar os projetos estratégicos de defesa tendo em vista a inserção no Orçamento da União; i) propor que a parcela do orçamento anual do MD destinada a investimentos para P&D seja considerada impositiva, com percentual fixo da arrecadação prevista, permitindo a sustentabilidade da indústria e o desenvolvimento dessa área voltada para P&D; e j) propor dispositivo legal que estimule as aquisições internas de produtos de defesa como forma de incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias pela indústria nacional; III - redução da carga tributária incidente sobre a BID, com especial atenção às distorções relativas aos produtos importados:
111
a) propor dispositivo legal que promova a redução ou a isenção de tributos incidentes sobre os produtos estratégicos de defesa e sobre os insumos necessários a todo o ciclo de sua cadeia produtiva; e b) sugerir legislação para regular as contrapartidas a serem oferecidas pelas empresas beneficiadas com isenção ou redução de tributos; IV - ampliação da capacidade de aquisição de produtos estratégicos de defesa da indústria nacional pelas FA: a) padronizar o material utilizado ou consumido pelas FA em ações militares combinadas, de combate ou logísticas, de modo a obter escala para aquisição centralizada; b) compatibilizar, em consonância com os critérios de padronização, o programa de reaparelhamento das FA de modo a obter escala para aquisição centralizada; c) propor dispositivo legal que imponha a alocação de um valor mínimo, ajustado anualmente, como dotação orçamentária de recursos para as FA, destinados à aquisição de produtos (materiais e serviços) estratégicos de defesa; d) estabelecer a prioridade de aquisição de bens e serviços constantes da Relação de Produtos Estratégicos de Defesa, por parte das FA, estimulando a aquisição na indústria nacional; e e) propor a inserção, na Lei de Licitações e Contratos Administrativos, de dispositivos adequados às características das aquisições, para as FA, de produtos da indústria de defesa nacional; V - melhoria da qualidade tecnológica dos produtos estratégicos de defesa: a) propor mecanismos de capacitação tecnológica das empresas nacionais, com recursos governamentais ou de outras fontes, para o desenvolvimento final de produtos de defesa que envolvam alta complexidade tecnológica e que sejam estratégicos para o País; b) listar os centros e pólos de excelência para pesquisa na área de produtos e tecnologias estratégicos de defesa; c) propor a instituição do MD como órgão central de coordenação do sistema de ciência, tecnologia e inovação na área de interesse da Defesa Nacional; d) direcionar investimentos para a melhoria da qualidade nas empresas nacionais, nas universidades e nos institutos de pesquisa selecionados, coordenando-os com os interesses das FA; e) manter a continuidade de projetos de interesse das FA que permitam a inovação; f) estimular o estabelecimento de instrumentos jurídicos entre as empresas privadas de produtos de defesa, centros tecnológicos, institutos de pesquisa e laboratórios militares para domínio de tecnologias, desenvolvimento e certificação da qualidade; g) estimular a realização de parcerias das indústrias nacionais com indústrias estrangeiras para desenvolvimento e produção conjunta de produtos de defesa com conteúdo tecnológico não disponível no País; h) buscar a adoção de contrapartidas de transferências tecnológicas nos acordos de compensação especialmente destinados à área de defesa; i) incentivar a concessão de financiamentos para projetos de P&D de produtos de defesa; e j) apoiar políticas voltadas para ciência, tecnologia e inovação, intensificando a aliança da universidade com a empresa e o MD, identificando necessidades e assegurando a formação de massa crítica para o apoio à BID; VI - aumento da competitividade da BID brasileira para expandir as exportações: a) propor incentivos e financiamentos a estudos, projetos, pesquisas, desenvolvimento e inovações destinados a superar deficiências e limitações tecnológicas; b) orientar os futuros adidos militares brasileiros quanto à divulgação do produto de defesa nacional, bem como institucionalizar o apoio por eles prestado às iniciativas dos empresários da BID nos países junto aos quais estiverem acreditados;
112
c) intensificar a divulgação, junto aos adidos militares estrangeiros no Brasil, das possibilidades da BID e da qualidade do produto de defesa brasileiro; d) propor a compatibilização das normas nacionais referentes aos requisitos de embalagem, transporte e armazenagem de produtos de defesa com a normatização internacional correspondente; e) intensificar a participação do MD no acompanhamento e na divulgação do desempenho dos produtos nacionais exportados, em apoio à BID; f) subsidiar o Ministério das Relações Exteriores e os órgãos de exportação quanto aos países de interesse da BID; g) atuar junto aos demais órgãos do Governo para agilizar linhas de crédito para financiamentos, avais, garantias, dentre outros, para transações de produtos de defesa; h) coordenar ações visando à certificação de produtos de defesa existentes, adequando-a às normas regionais e internacionais, tendo em vista o seu reconhecimento; i) propor medidas para a redução das dificuldades de ordem burocrática e da infra-estrutura de transporte de produtos controlados; j) propor a simplificação dos procedimentos de exportação de produtos de defesa, bem como da prestação de serviços a eles inerentes; e l) propor a regulamentação do uso dos contratos das empresas da BID com as FA como garantia de operações financeiras junto aos bancos e às organizações oficiais de crédito; VII - melhoria da capacidade de mobilização industrial na BID: a) em conjunto com a BID, elaborar um instrumento legal que defina a participação das indústrias na preparação da mobilização e na sua execução; e b) propor instrumentos legais que regulem as contrapartidas a serem oferecidas pela União às empresas participantes de um plano de capacitação de produtos para as ações de execução da mobilização. [...] PNID e Ações Estratégicas. (MD, 2005 e 2006)
O MD considera os meios de financiamento e de comércio que permitam o
desenvolvimento sustentável da BID como o principal ponto crucial a ser superado
pela PNID. A implementação dessa Política e das respectivas Ações Estratégicas
representam um desafio ao Ministério, que se espera seja superado, contribuindo
para o fortalecimento da Indústria bélica do País.
Referencia-se, também, a criação do Centro de Certificação, de Metrologia, de
Normalização e de Fomento Industrial (CCEMEFA)
De acordo com o MD69, o Centro de Certificação, de Metrologia, de
Normalização e de Fomento Industrial (CCEMEFA) foi instituído pela Portaria
Normativa Nr 75/MD, de 10 de fevereiro de 2005, possui os seguintes objetivos para
a sua implantação no âmbito do Ministério da Defesa:
I - a contribuição para assegurar o atendimento dos requisitos estabelecidos
para produtos e para sistemas de gestão da qualidade e, quando aplicável, das
exigências impostas por agências reguladoras nacionais e internacionais;
69 Informação obtida junto ao sítio do MD na rede mundial de computadores em junho de 2007. (www.defesa.gov.br/industria_defesa/index.php?page=ccemefa). Nota do autor.
113
II - a otimização dos meios empregados pelas Forças Armadas nas atividades
de certificação, de metrologia, de normalização e de fomento industrial;
III - a melhoria contínua da qualidade dos sistemas instituídos e da indústria
de defesa;
IV - a progressiva diminuição da dependência das Forças Armadas de
fornecimentos do exterior;
V - a maior eficiência nas aquisições de produtos importados;
VI - a contribuição para a aceitação dos produtos nacionais no mercado
internacional;
VII - a harmonização dos processos de comprovação de requisitos e de
seleção de produtos e de fornecedores, promovendo a cooperação entre as Forças
Armadas; e
VIII - a viabilização do gerenciamento das informações referentes aos
produtos, órgãos, organizações e empresas da Base Industrial de Defesa, por meio
de certificados que auxiliem as atividades de catalogação, de padronização e de
mobilização, dentre outras.
Cumpre citar ainda, as seguintes leis federais:
• Lei de Inovações Tecnológicas (10.973/04);
• Lei das Fundações de Apoio (8.958/94);
• Lei das Licitações (8.666/93);
• Lei de Patentes (9.279/96).
O estudo aprimorado das legislações acima está afastado, em caráter inicial,
do escopo deste trabalho.
2.3.5.2 Internacional
De acordo com Alves (2005), a análise da indústria de material de defesa nos
contextos nacional e internacional passa, necessariamente, pela identificação da
evolução das barreiras internacionais.
[...] Seguindo este raciocínio, pode ser afirmado que restrições ao desenvolvimento não são recentes, e baseiam-se em tratados e convenções que, embora sustentadas em um arcabouço ético e moral, são garantidores do status-quo. Esse conjunto torna-se ainda mais completo quando substancia os comportamentos relacionados com a área de defesa. Sua imposição é sustentada por formas de pressão baseadas na diplomacia, na economia, na sabotagem, e na denominada “cirurgia”. [...] (Rex Nazaret Alves, V Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, ECEME, 2005)
114
Para tanto, os principais tratados internacionais e arranjos multilaterais
relevantes, de acordo com o mesmo autor, são:
• TNP – Tratado de Não-Proliferação – 1968, que obriga os países que não
possuem arma nuclear a renunciar à sua produção ou aquisição. Março de
2003. (188 países, inclusive o Brasil).
• CBTP – Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares – 1995,
adesão de 170 países. Os EUA estão entre os que se recusam a confirmar
sua adesão.
• CPAB – Convenção para a Proibição das Armas Biológicas – 1972,
adesão de 146 países. Os EUA bloqueiam a adoção de um mecanismo
eficaz de controle.
• CPAQ – Convenção para a Proibição das Armas Químicas – 1993, adesão
de 158 países. Os EUA e a Federação Russa permanecem à margem
dessa convenção.
• MTCR – Tratado de Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis – 1987,
visa restringir a proliferação de mísseis com capacidade nuclear.
• Resolução 1540 do Conselho de Segurança da ONU - Adotada em 28 de
abril de 2004, com voto favorável do Brasil, membro não-permanente do
Conselho, estabelece preceitos a serem implementados pelos países
membros, com o objetivo de prevenir a proliferação de armas nucleares,
químicas, biológicas, seus meios de lançamento e materiais
relacionados70.
Alves (2005) complementa:
[...] Considera, portanto, como tecnologias sob controle de exportação as relacionadas nas listas destes tratados, bem como as da Comunidade Européia, dos Estados Unidos da América, do “Nuclear Suppliers Group” (NSG) (INFCIR/290), e de Wassenaar. Assim, as tecnologias relacionadas são: • materiais e instalações de uso nuclear; • materiais, insumos químicos, microorganismos e toxinas; • processamento de materiais; • eletrônica;
70 MATERIAIS RELACIONADOS: materiais, equipamentos e tecnologias protegidos por tratados e arranjos multilaterais relevantes, ou incluídos em listas nacionais de controle, os quais podem ser usados para projetar, desenvolver, produzir ou empregar armas nucleares, químicas e biológicas e seus meios de lançamento. MEIOS DE LANÇAMENTO: mísseis, foguetes e outros sistemas remotos de lançamento de armas nucleares, químicas e biológicas, especialmente projetados. ATORES NÃO-ESTATAIS: indivíduos ou instituições que não atuam sob a autoridade legal de um Estado, mas realizam atividades as quais estão no escopo da Resolução. (Rex Nazaret Alves, V Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, ECEME, 2005)
115
• computadores; • telecomunicações e segurança de informações; • sensores e lasers; • navegação e aviônica; • naval; e • sistema de propulsão, veículos espaciais e equipamentos relacionados. [...] Em seu escopo de restrições, incluem: pesquisa científica fundamental, tecnologia, desenvolvimento, instalações de produção e segurança da informação. [...] (Alves, 2005)
Segundo Acocella (2006), os necessários conhecimentos científico-
tecnológicos continuarão sendo crescentemente negados pelos países
desenvolvidos, por meio de barreiras técnicas, comerciais ou diplomáticas e pelos
regimes de controle. Em função disso, o único caminho, estabelecidos os objetivos
concernentes aos conhecimentos a dominar, é o da solução autóctone, pela
mobilização e valorização das potencialidades nacionais de pesquisa,
desenvolvimento, inovação e produção dos materiais e serviços de defesa
pretendidos. Cabe, aqui, ressaltar o importante papel do MD de integrador e
coordenador daquelas potencialidades, evitando converter-se apenas em moderador
de disputas por recursos entre as Forças Armadas.
[...] A vertente militar da capacidade dissuasória nacional somente poderá ser implementada pela efetiva dinâmica de geração de inovações [grifo nosso]. Introduzidas na indústria nacional de defesa, possibilitarão o suprimento de materiais críticos para as Forças Armadas nacionais e a conquista de mercados externos que garantam o indispensável ganho de escala. [...] (Acocella, 2006)
A conclusão a que chegam os autores referenciados é praticamente a mesma
e podem ser resumidas no contexto de Alves (2005) que afirma que “países como
Brasil, detentores de elevado índice de poder potencial, vêem suas vulnerabilidades
crescerem, devido aos efeitos das dificuldades crescentes de acesso às tecnologias
com suas conseqüentes implicações no comércio e no sistema monetário financeiro.
Tal poder potencial, respeitados a Constituição brasileira e os acordos
internacionais, necessita de uma BID adequada às condições brasileiras para poder
ser transformado em fonte de poder e riquezas”.
2.4 LOGÍSTICA E MOBILIZAÇÃO
Esses dois aspectos são de extrema relevância para a compreensão do tema
deste trabalho.
116
A Logística é encarregada, em última análise, de fornecer os MEM para o
Exército. Há necessidade de um perfeito ajustamento entre o fornecedor e o usuário,
sob pena de riscos desnecessários às operações militares planejadas ou em curso,
se constituindo assim em um relacionamento de primeira ordem entre a BID
(fornecedor) e o Exército (usuário).
A Mobilização, por sua vez, complementa a Logística e serve para preparar
qualquer país que se encontre frente à ameaça de um conflito armado ou que esteja
se preparando para tal. Existe, também, outro conceito que indica mobilização como
movimentação, ou ainda, arregimentação para uma ação política71.
2.4.1 Logística
“A Logística é tudo, ou quase tudo, no campo das atividades militares, exceto
o combate”. Partindo-se dessa constatação de domínio público feita por Jomini no
século XIX, é possível verificar a importância do estudo e da compreensão básica
daquilo que lhe afeta direta ou indiretamente. O fornecimento de MEM pela BID
afeta a logística do Exército diretamente.
Não é possível pensar no conceito de Exército, sem pensar nos Materiais de
Emprego Militar (MEM) que aparelham todas as FA. E para mobiliar um exército
existe a Logística que necessita, sem sombra de dúvida, da obtenção de
equipamentos na indústria que produz materiais bélicos e de defesa.
Segundo Bergo (2005), a “Logística é a função de prever e prover, no local e
momento adequados, com os menores custos, os meios materiais e os serviços
necessários a uma organização, para que esta atinja seus objetivos com eficiência”.
De acordo com o “Manual de Campanha C 100-10 – Logística Militar
Terrestre”, a Logística Militar “é o conjunto de atividades relativas à previsão e à
provisão de RH, materiais e animais, quando aplicável, e dos serviços necessários à
execução das missões das FA. A Logística Militar Terrestre é, por sua vez, o
conjunto de atividades relativas à previsão e à provisão de meios necessários ao
funcionamento organizacional do Exército e às operações da F Ter”.
Existem sete funções logísticas consideradas para o Exército e as FA
brasileiras, quais sejam: Recursos Humanos (RH), Saúde, Suprimento, Manutenção,
Transporte, Engenharia e Salvamento.
71 Segundo Ferreira, 2004. Novo dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. Nota do autor.
117
Todas elas são importantes, porém, destaca-se a função RH, tanto na
estrutura militar, quanto na BID, como de fundamental importância para o adequado
funcionamento das demais e das próprias organizações72.
As fases da Logística são:
• Determinação das necessidades;
• Obtenção;
• Distribuição.
O relacionamento atual entre uma FA e a respectiva BID pode ocorrer, na
atualidade, em todas as três fases em função do avanço da arte da guerra,
tornando-se fundamental para as operações militares. No Brasil, e para fins de
estudo, considera-se a principal participação da BID junto ao Exército na obtenção
de MEM necessários a sua existência.
2.4.1.1 Exército Brasileiro
O EME é o ODG do Exército encarregado da Política de Logística. O EB se
utiliza do Departamento Logístico (D Log) – ODS – para executar a logística, como o
próprio nome desse departamento indica.
O D Log foi organizado no ano de 2000, pela associação do antigo
Departamento de Material Bélico (DMB) com o Departamento Geral de Serviços
(DGS). A sua estrutura é bastante simples e sua missão é prever e prover, nos
campos das funções logísticas de suprimento, manutenção e transporte, os recursos
e serviços necessários ao Exército e as necessidades de mobilização nesta
atividade.
As diretorias subordinadas são em número de cinco e podem ser vistas na
Figura 6. São elas: Diretoria de Suprimento (DS), Diretoria de Transporte e
Mobilização (DTMob), Diretoria de Manutenção (DMnt), Diretoria de Material de
Aviação do Exército (DMAvEx), e Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados
(DFPC). A antiga Diretoria de Fabricação e Recuperação (DFR), que ainda aparece
na figura, foi transferida para o DCT, com a denominação de Diretoria de Fabricação
(DF) (aparece com raios cruzados em amarelo).
72 Não se pretende explorar o conceito de RH a fundo. Entende-se que deve permanecer o conceito de que RH bem qualificados são fundamentais para o objeto de estudo desta tese, tanto no seio do Exército, quanto na BID. Nota do autor.
118
Figura 6 – Departamento Logístico
Fonte: Sítio D Log na rede mundial de computadores em junho de 2007.
Estrutura Organizacional – 4ª SChEstrutura Organizacional Estrutura Organizacional –– 44ªª SChSCh
TSA
Tu Infor
Logística MobilizaçãoGerenciamento eAcompanhamento
de Projetos
Ciência &Tecnologia
4º Subchefe
Assistente
EMP
SLM1 SLM2 SLM3 SLM4
Figura 7 – 4ª Subchefia do EME
Fonte: 4ª SCh do EME, ECEME, 2007.
A 4ª Subchefia do EME, por sua vez, é a estrutura interna àquele ODG
responsável pelo planejamento das atividades de logística, mobilização, projetos e
C&T, conforme a Figura 7.
Esta subchefia é responsável, no âmbito do Exército, pela definição de
requisitos para os diversos MEM da F Ter, em associação com a 3ª Subchefia,
119
voltada, principalmente, para a vertente operacional73. A compreensão desse
conceito facilita o entendimento do local na estrutura organizacional do Exército
responsável por ‘pensar’ Logística, C&T e Mobilização.
2.4.2 Mobilização
A Mobilização Nacional é o conjunto de atividades planejadas, orientadas e
empreendidas pelo Estado, complementando a Logística Nacional, destinadas a
capacitar o País a realizar ações estratégicas, no campo da Defesa Nacional, diante
de agressão estrangeira74.
De acordo com Sá (2006), a atuação da Mobilização Nacional pode ser
dividida em duas situações distintas: em tempos de normalidade, funciona por meio
da integração do governo e toda a sociedade, procurando aplicar os recursos
financeiros dos Programas de Desenvolvimento Nacional em setores que também
atendam aos interesses da Defesa Nacional e durante um conflito, funciona por meio
de um sistema entre órgãos do governo – o SINAMOB – de modo a canalizar todos
os recursos do País (humanos, financeiros e materiais) para atender aos esforços
contra agressão estrangeira.
A Mobilização Nacional, segundo preconiza o MD, possui os seguintes
propósitos:
• Garantir a defesa e a soberania brasileira;
• Desencorajar outros países na aplicação de forças contra os interesses
nacionais brasileiros;
• Minimizar os efeitos de uma agressão estrangeira à população do
Brasil;
• Dotar o Brasil de uma base industrial (e de defesa), a fim de
atender às necessidades da nação, para o caso de ser envolvida em
conflito internacional;
• Promover conhecimento e inovações no campo de produtos de defesa,
de forma a evitar dependência externa;
73 A finalidade da apresentação dessa estruturas é a composição de um quadro que permita o entendimento da estrutura do EB voltada para o planejamento da logística e sua interface com a C&T e mobilização. Nota do autor. 74 Sítio do MD na rede mundial de computadores. (www.defesa.gov.br/mobilizacao/index.php). Acesso em 18 de setembro de 2007. Nota do autor.
120
• Aumentar postos de trabalho, evitar a evasão de divisas e fomentar o
mercado interno de itens de produtos de defesa, incentivando a
pesquisa e o desenvolvimento de ciência e tecnologia, particularmente,
em produtos de defesa; e
• Ganhar espaço na competição pelo mercado de material de
defesa.
O Sistema Nacional de Mobilização (SINAMOB) consiste no conjunto de
órgãos que atuam de modo ordenado e integrado, a fim de planejar e realizar todas
as fases da Mobilização e da Desmobilização Nacionais. O mesmo, tendo como
órgão central o MD, encontra-se sob a forma de direções setoriais que responderão
pelas necessidades da Mobilização Nacional nas áreas política, econômica, social,
segurança e inteligência, defesa civil, científico-tecnológica e militar.
O Sistema de Mobilização Militar (SISMOMIL), cujo órgão central é o MD, é a
parcela do SINAMOB, referente à Expressão Militar do Poder Nacional. Constitui-se
na principal ferramenta de aplicação da Mobilização Militar.
O SISMOMIL foi criado pela Portaria Normativa Nr 97375, de 24 de julho de
2007, estabelecido na Diretriz Setorial de Mobilização Militar (MD41-D-02).
O funcionamento do SISMOMIL fundamenta-se em ligações sistêmicas entre
seus elementos, quais sejam: o Sistema de Mobilização da Marinha (SIMOMAR),
Sistema de Mobilização do Exército (SIMOBE) e o Sistema de Mobilização
Aeroespacial (SIMAERO). O SISMOMIL tem por objetivo alcançar capacidade e
condição permanentes para absorver e empregar oportunamente, os recursos e
materiais advindos das demais Expressões do Poder Nacional, a fim de atender às
necessidades das Forças Armadas.
2.4.2.1 Sistema de Mobilização do Exército (SIMOBE)
O SIMOBE (Figura 8) é um sistema integrante, no campo da Defesa Nacional,
do Sistema de Mobilização Militar (SISMOMIL) componente do Sistema Nacional de
Mobilização (SINAMOB), e no âmbito do EB é considerado um dos Sistemas de
Atividades que busca, por meio da utilização de recursos de tecnologia da
informação, integrar processos, metodologias, procedimentos, rotinas e técnicas,
75 Boletim do Exército Nr 31, de 3 de agosto de 2007, páginas 7-15. Nota do autor.
121
destinadas a produção de conhecimentos com qualidade e oportunidade
necessárias ao gerenciamento eficiente, eficaz e efetivo de todas as atividades
relativas à mobilização militar terrestre, assim como as de desmobilização.
ConcepConcepçção Lão Lóógicagica
8
LogLogíí sticostico
4 5
3
PessoalPessoal
SISTEMA DEFESA NACIONALSISTEMA DEFESA NACIONALS I N A M O BS I N A M O B
S I S M O M I LS I S M O M I L
1 2
6
SIMOBESIMOBE
7
9
C & TC & T
OperaOpera ççõesões
SISTEMA EXSISTEMA EXÉÉRCITO BRASILEIRORCITO BRASILEIRO
SISTEMAS DE ATIVIDADESSISTEMAS DE ATIVIDADES
Figura 8 – SIMOBE (concepção lógica)
Fonte: 4ª SCh EME, ECEME, 2007.
ConcepConcepçção Geralão Geral
SIMOBESIMOBE
Sistema de MobilizaSistema de Mobilizaççãoãodede
Recursos HumanosRecursos Humanos
Sistema de MobilizaSistema de Mobilizaççãoãodede
Recursos LogRecursos Logíísticossticos
Figura 9 – SIMOBE (concepção geral)
Fonte: 4ª SCh EME, ECEME, 2007.
122
O SIMOBE é composto por dois subsistemas (Figura 9), os quais permitem a
realização, de forma permanente, estruturada, constantemente atualizada, eficiente,
eficaz e efetiva, de todas as atividades relativas à mobilização militar terrestre, bem
como de desmobilização, dos recursos humanos e logísticos, obtidos do Poder e do
Potencial Nacionais, necessários e indispensáveis à rápida capacitação do Exército
para enfrentar, com êxito, uma situação de emergência, decorrente de ameaça à
soberania nacional e à integridade territorial.
O Sistema de Mobilização de Recursos Humanos (S Mob R H) tem o
Estado-Maior do Exército (1ª Subchefia) como órgão orientador, supervisor,
coordenador e controlador, no nível de direção geral, das atividades referentes ao
funcionamento do sistema, e o Departamento Geral do Pessoal (DGP) como órgão
central, e competência de gerir as atividades de mobilização e desmobilização no
campo dos Recursos Humanos.
O Sistema de Mobilização de Recursos Logísticos tem o Estado-Maior do
Exército (4ª Subchefia) como órgão orientador, supervisor, coordenador e
controlador, no nível de direção geral, das atividades referente ao funcionamento do
sistema, e o Departamento Logístico (D Log) como órgão central, com a
competência de gerir as atividades de mobilização e desmobilização dos bens e
serviços nos campos do Material, Indústrias, Transportes, Telecomunicações,
Ciência & Tecnologia, Serviços e Instalações. Na gestão das atividades de
mobilização e desmobilização dos bens e serviços no campo dos Transportes e de
Ciência & Tecnologia, o D Log é apoiado pelo DEC e DCT, respectivamente.
Lista de Carências Lista de Carências
de Recursos Logde Recursos Logíísticossticos
�� MateriaisMateriais
�� IndIndúústriasstrias
�� TransportesTransportes
�� TelecomunicaTelecomunicaççõesões
�� ServiServiççosos
�� InstalaInstalaççõesões
�� Recursos FinanceirosRecursos Financeiros
�� Ciência & TecnologiaCiência & Tecnologia
Lista de Carências Lista de Carências
de Recursos Humanosde Recursos Humanos
�� OficiaisOficiais
�� PraPraççasas
�� Mão de Obra CivilMão de Obra Civil
O QUE, QUANDO E ONDE FALTA ?
O QUE, QUANDO E ONDE FALTA ?
Modelo de FuncionamentoModelo de Funcionamento
Figura 10 – Funcionamento do SIMOBE
Fonte: 4ª SCh EME, ECEME, 2007.
123
2.4.3 Interação entre EB e BID
O MD realizou, em março de 2002, o Encontro Nacional de Logística Militar,
oportunidade em que foi inaugurado o Fórum das Indústrias de Defesa (FID). Aquele
encontro tinha os objetivos de discutir o potencial e as perspectivas de
desenvolvimento da BID, a obtenção de subsídios para o planejamento estratégico
da logística militar, bem como a identificação de temas para o FID.
O FID, por sua vez, tem a finalidade de promover a interação e a cooperação
entre o governo e a iniciativa privada no setor de defesa.
Segundo Silva (2004), as principais conclusões daquele encontro foram as
seguintes:
• As ações de preparo e emprego do poder militar são intrinsecamente
dependentes e não podem ser dissociadas da capacitação nacional da
BID e dos serviços de defesa;
• O desenvolvimento e a manutenção de um parque industrial nacional,
tecnologicamente evolutivo e com capacidade de minimizar a dependência
externa são objetivos estratégicos e prioritários da logística militar.
Segundo o mesmo autor, há outra interação significativa da logística militar
com a indústria e ela ocorre por meio do Centro de Catalogação das Forças
Armadas (CECAFA). Este centro coordena as atividades de catalogação em âmbito
nacional, divulgando as informações sobre os itens de suprimento militares para o
setor privado por meio de convênio com a FIESP, à época.
Braga76 (2001) apud Silva informa que até a 3ª edição daquele catálogo,
apenas 873 itens haviam sido comprados no Brasil em um total de 287.899 itens
identificados, caracterizando uma pequena participação da indústria brasileira em
artigos de emprego militar.
A BID sofre com as restrições orçamentárias do setor público. Apesar disso,
as FA têm procurado, por meio do MD ou mesmo diretamente e na medida do
possível, interagir com o setor privado, buscando soluções que atendam ambas as
partes e fortaleçam a participação da BID na produção de PD/MEM.
A valorização crescente do estudo da logística no planejamento estratégico
de empresas ou das FA, segundo Silva (2004), é uma mostra de sua importância na
76 Braga, J. “Forças Armadas Unificam Catalogação de Suprimentos”. ‘Tecnologística’, São Paulo, ano 7, Nr 71, p. 74-76, Out. 2001. Nota do autor.
124
obtenção da constante melhoria da competitividade da organização empresarial ou
militar. Esta constatação pode ser associada a necessidade de integração constante
entre as diversas políticas setoriais previstas no SIPLEx e, anteriormente,
referenciadas.
Recentemente, o MD editou a “Política de Logística de Defesa” (PLD) que traz
importantes conceitos (auto-explicativos) e extremamente válidos para este objeto
de estudo. Ela foi editada pela Portaria Normativa Nr 1.890/MD, de 29 de dezembro
de 2006. Esta Política se constitui no documento de mais alto nível do planejamento
logístico do MD e tem por finalidade orientar os planejamentos estratégicos dos
demais escalões, no que tange à logística necessária ao cumprimento da destinação
constitucional e das atribuições subsidiárias das Forças Armadas.
Segundo a PLD, cresce de importância a existência de Forças Armadas
modernas, ágeis, aprestadas para o pronto emprego e com características de
flexibilidade, mobilidade, permanência, resistência e versatilidade. A demanda por
forças militares com essas características exige uma logística eficaz, com
capacidade de rápida e correta determinação de necessidades, obtenção e
distribuição dos produtos de defesa disponíveis e passíveis de serem mobilizados.
Além disso, as Forças Armadas devem ser portadoras de PD que incorporem
modernas tecnologias, sempre que possível autóctones (BID), que elevem a
eficiência operacional e, por conseguinte, as qualifiquem para a obtenção do poder
de combate necessário, resultando em suficiente capacidade de dissuasão, como
estratégia de defesa prioritária.
A análise dos aspectos conjunturais é precisa:
[...] 2.1 As novas tecnologias vêm ocasionando profundas modificações nos padrões de produção e nas estruturas produtivas, com reflexos na formação do pessoal e na indústria da área de defesa [grifo nosso], fonte de obtenção de meios para a logística militar. Nos países onde são aplicados recursos de forma constante e planejada para a pesquisa, desenvolvimento e inovações de produtos de defesa, verificam-se avanços tecnológicos em velocidade muito superior à capacidade de absorção dos países em desenvolvimento, ocasionando verdadeiros hiatos tecnológicos. Tendo em vista a tecnologia aplicada, esses produtos agregam, cada vez mais, maior valor estratégico e financeiro, o que dificulta sobremaneira a sua obtenção, implica a falta de garantia de fornecimento em qualquer situação e a negação do repasse do conhecimento tecnológico. Essa situação desfavorece o fortalecimento da base industrial de defesa para o aparelhamento e apoio logístico às Forças Armadas nacionais. 2.2 As Forças Armadas se deparam hoje com uma demanda crescente por produtos de defesa mais eficientes e eficazes, que empreguem tecnologias cada vez mais complexas, para a satisfação de suas necessidades [grifo nosso]. A padronização, consideradas as especificidades de cada Força Singular, como requisito da interoperabilidade, o fortalecimento da indústria de defesa, a sustentabilidade operacional dos produtos de defesa, os programas de
125
nacionalização e de aparelhamento e o exercício das funções e atividades da logística militar exigem da administração, em todos os níveis, uma visão de gerenciamento adequada à realidade dos tempos modernos, onde a máxima de "integrar para potencializar" passa a ser vista como uma condição para se maximizar resultados. [...] 2.5 As políticas externas dos últimos governos do Brasil têm apontado para o objetivo de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, bem como de exercer um papel mais relevante no cenário internacional. Para atingir tais metas, é determinante que as Forças Armadas estejam devidamente equipadas com meios, de combate e de logística, em grau de aprestamento capazes de atender à demanda decorrente das responsabilidades que a posição conquistada lhes conferirá. 2.6 Por outro lado, o País sofre com desigualdades sociais que demandam fortes investimentos que busquem atenuar a discrepante distribuição de renda. Adicionalmente, observa-se o crescimento das ações do crime organizado, do narcotráfico e do contrabando. Ao mesmo tempo, ajustes na economia têm provocado restrições nos gastos governamentais, em busca da diminuição da vulnerabilidade econômica externa e da preparação das bases para o desejado e esperado desenvolvimento sustentável. Essas condicionantes têm resultado em uma crescente redução da alocação de recursos governamentais para as Forças Armadas, com reflexos sob a forma de obsolescência dos meios materiais operacionais e degradação da infra-estrutura logística militar [grifo nosso]. 2.7 Os recursos naturais do País, tão sobejamente conhecidos e decantados, conferem-lhe um potencial que o faculta ser elevado à condição de potência econômica mundial, o que poderá despertar a cobiça internacional. Por isso, o País deve arcar com os encargos gerados pela necessidade de uma bem dimensionada capacidade de defesa, sendo mister dispor de Forças Armadas modernas e de infra-estrutura logística adequada ao seu emprego [grifo nosso].[...] (PLD, Boletim do Exército Nr 03, de 19 de janeiro de 2007)
O objetivo macro a ser buscado pela PLD é proporcionar à Expressão Militar
do Poder Nacional um sistema de apoio logístico adequado e contínuo desde a
situação de normalidade até a de guerra. Esta é uma importante constatação, que
serve como elemento-motor para inserir uma equipe de trabalho que integre as FA
(em especial, o Exército) com a BID.
Para tanto e no relacionamento com a BID, destaca-se o Objetivo Nr 3, qual
seja, a “Independência progressiva na obtenção de produtos de defesa”.
[...] As Ações estratégicas que permitirão alcançá-lo, segundo a PLD, são as seguintes: • Priorizar as aquisições de produtos de defesa na Base Industrial de Defesa nacional; • Aperfeiçoar o gerenciamento e a capacitação técnica das instalações industriais das Forças Armadas; • Incrementar a nacionalização de produtos de defesa e seus componentes; • Estimular a transferência de conhecimentos e tecnologias para as empresas da Base Industrial de Defesa; • Atuar junto às esferas do Governo Federal e do setor produtivo, na busca de apoio aos esforços de nacionalização de produtos de defesa; e • Incentivar o desenvolvimento conjunto de produtos estratégicos de defesa pelos órgãos de ciência e tecnologia e industriais das três Forças Singulares. [...] PLD, MD, 2007.
126
Verifica-se, no escopo desse instrumento, a vontade manifesta do MD em não
medir esforços para apoiar o reaparelhamento das FA e a reativação da BID.
Constata-se, porém, a necessidade de sair-se do discurso à prática para a
efetivação real dos anseios desses atores.
2.4.4 Macroprojeto Mobilização
O antigo Programa Excelência Gerencial do Exército (PEG-EB), hoje Sistema
de Excelência (SE) do Exército, tem por finalidade melhorar a capacidade de gestão
administrativa dos recursos humanos da F Ter, racionalizando recursos de toda
ordem, pela judiciosa aplicação dos mesmos, evitando desperdícios e obtendo
melhores resultados.
Neste sentido, o Cmt Ex determinou ao EME que gerenciasse o Macroprojeto
Mobilização com a finalidade de inovar e melhorar o processo de mobilização do
Exército, com enfoque sobre as atividades concernentes a material, serviços,
instalações e industrial, elevando o nível operacional da Força Terrestre e
integrando-o às demais FA e aos outros órgãos do Governo Federal, participantes
do SINAMOB77.
De acordo com a 4ª Subchefia do EME, o macroprojeto Mobilização tem
como objetivos:
• Inserir no SIPLEX uma Política Específica de Mobilização referente a
parte das atividades logísticas da Força Terrestre;
• Adequar o SIMOBE às exigências dos conflitos modernos e dos
cenários prospectivos referentes a cada HE, prioritariamente as que
apresentarem a possibilidade de agressão externa;
• Integrar as atividades de mobilização da Força Terrestre; e
• Criar condições para o aproveitamento do potencial industrial do
País, particularmente no Núcleo Central.
Segundo Sá Junior (2006), as justificativas para o macroprojeto são:
• por atender ao Objetivo Estratégico ‘Operacionalidade’, uma vez que
contribui, de forma significativa;
• para capacitar a Força Terrestre para atuar como eficaz instrumento
de combate, uma vez que a melhoria do atual processo de 77 “O papel do Exército na Lei de Mobilização Nacional”. Sá Junior, José Antonio, ECEME, 2006. Nota do autor.
127
mobilização exige a reformulação dos conceitos existentes,
particularmente os constantes do SIPLEX, a integração de atividades
e a atualização da documentação em vigor; e
• atender as Diretrizes Gerais do Cmt Ex que determinam a adoção de
providências, no sentido de operacionalizar bancos de dados que
possibilitem uma mobilização logística eficiente e adequada às
necessidades dos conflitos modernos.
Os projetos componentes são os seguintes (com destaque para o Nr 4, por
atender a um possível local para o estabelecimento físico da EIT):
1) Projeto de criação de uma política de mobilização logística.
Concluído com a edição 2007 da IG 20-07 – Sistema de Mobilização do Exército
(SIMOBE);
2) Projeto de atualização da legislação específica em vigor (em
andamento);
3) Projeto de identificação do potencial de mobilização logístico das
RM;
4) Projeto de criação de um órgão em São Paulo para o
aproveitamento do potencial do parque industrial instalado no Núcleo Central do
país.
O objetivo específico do último projeto é estabelecer uma estrutura
organizacional, baseada em São Paulo, para explorar a capacidade industrial
instalada. A justificativa de priorização é de que a região abriga o mais importante
complexo industrial do país e o Exército carece de uma presença mais efetiva
naquela área que lhe permita programar atividades de mobilização logística.
Os resultados esperados buscam permitir uma maior aproximação da Força
Terrestre com o segmento industrial visando a identificar a capacidade produtiva
deste último e, numa segunda fase, estabelecer um banco de dados adequado às
necessidades da Mobilização Militar. As ligações necessárias deverão ser feitas com
o D Log, DGP, DEC, DCT, CMSE e EME (3ª SCh).
A diretriz do gerente-executivo, o Chefe do EME, é estabelecer um órgão,
sediado em São Paulo, para explorar adequadamente o potencial industrial do
Núcleo Central, preferencialmente por intermédio do aproveitamento de estrutura
militar já existente.
128
Esse aspecto poderá facilitar sobremaneira a inserção de uma equipe de
trabalho integrado em um futuro próximo.
2.5 CIÊNCIA E TECNOLOGIA
A abordagem deste aspecto importante para o estudo do relacionamento
entre o EB e a BID se faz necessário pela importância do desenvolvimento de novas
tecnologias para aplicação no campo militar em um contexto de guerra moderna.
Nos dias atuais, este autor observa, fruto de estudos conduzidos ao longo do
Curso de Comando e Estado-Maior do Exército, que a guerra não é feita sem a
presença maciça de alta tecnologia. Os conflitos bélicos de alta intensidade que
ocorreram no Golfo Pérsico (1991 e 2003) foram exemplos marcantes dessa
afirmação. O diferencial tecnológico, notadamente das tropas norte-americanas, foi o
que permitiu um desenlace relativamente rápido e favorável do conflito para os
Aliados, notadamente na 1ª Guerra do Golfo Pérsico (1991).
2.5.1 “Spin Off” e Emprego Dual
Um aspecto que merece destaque no estudo da indústria de materiais de
defesa, destacando a sua necessidade e importância, é a aplicabilidade de
tecnologias desenvolvidas para fins militares em produtos e serviços civis,
contribuindo para o desenvolvimento industrial como um todo e incrementando o
desenvolvimento do País. Esse conceito recebe o nome de “Spin Off”. Para tanto,
cumpre citar Alves (2004) apud Rodrigues:
[...] A Indústria de Defesa Nacional de modo insofismável, impulsiona o desenvolvimento tecnológico de um país. São conhecidas as aplicações da tecnologia nuclear [...]; da tecnologia espacial com aplicações nas comunicações, na meteorologia e na observação do universo [...]; e da tecnologia da criptologia, sem dúvida, do ramo da indústria de defesa nacional, e agora, mais do que nunca, de aplicação dual, num mundo dependente de comunicações rápidas num mercado globalizado. [...] (Alves, 2004)
Exemplos característicos de ‘spin off’ são o forno de microondas, a cobertura do
tipo TEFLON, o GPS78, o raio-laser medicinal, a rede mundial de computadores -
internet, o telefone celular, dentre outros.
78 GPS – “Global Positioning System” – Sistema de Posicionamento Global e navegação por satélites. Nota do autor.
129
Alguns exemplos brasileiros, recentes e atuais, foram referenciados por
Cardoso (2004) apud Rodrigues:
[...] Historicamente, as inovações tecnológicas militares, no mundo todo, têm sido geradas por pesquisas científicas (básicas e aplicadas) produtoras de conhecimentos aplicáveis a desenvolvimentos experimentais com aplicabilidade civil. Esse cruzamento dual tem sido impulsionador de projetos civis-militares que, desde a origem, trazem a marca da bi-destinação e criam clima favorável à capacitação de recursos em fontes não especificamente destinadas ao fomento em P&D militares. [...] (no Brasil), podemos citar casos de dualidade como: 1969-1971 – criação e implantação da EMBRAER. Projetos do IPANEMA e XAVANTE, bases da indústria aeronáutica brasileira; década de 70 – viaturas blindadas sobre rodas URUTU e CASCAVEL – suspensão (do tipo) “boomerang” utilizadas também em veículos “Off Road” de emprego civil. [...] (Cardoso, 2004)
É possível verificar a mesma lógica de desenvolvimento sendo aplicada,
porém em sentido inverso, como relata Ferris (1997) ao afirmar que, além da
anexação de tecnologia e da capacidade da produção civil no aprestamento logístico
do Departamento de Defesa (“DoD” dos EUA) – conceito de emprego dual – também
existe o conceito de “Spin On”. Segundo ele, o termo mais comum, “Spin Off”, refere-
se ao emprego ou à modificação, para uso civil, de tecnologias originalmente
desenvolvidas pelos militares. “Spin on” refere-se à aplicação militar de uma
tecnologia originariamente desenvolvida para o uso civil. Esta abordagem apresenta
a possibilidade de grande economia por eliminar uma desnecessária
superespecificação, pequenas linhas de produção, e o alto custo da pesquisa e
desenvolvimento geralmente associados aos contratos governamentais de Defesa.
A EMBRAER está aplicando um caso de “spin on” no desenvolvimento de
uma aeronave militar de transporte de carga e tropas militares (até 19 toneladas)
denominada C-390 e baseada no modelo de avião a jato regional civil C-190,
conforme apresentação na edição 2007 da LAAD.
Outro exemplo brasileiro é o desenvolvimento de Viatura de Transporte
Não-Especializado (VTNE) 4x4 pela VOLKSWAGEN CAMINHÕES em atendimento
a uma solicitação recente do EB. Ela partiu para o desenvolvimento de veículo militar
(ou militarizado) baseado em requisitos e chassi de uso civil.
Ferris (1997) define ‘emprego dual’:
[...] significa mais do que simples emprego de peças e equipamentos comerciais no lugar de componentes militares específicos, embora isto represente um aspecto importante. Envolve também, a integração da fabricação para atender pequenos pedidos militares e grandes contratos de caráter civil. Esta versatilidade de fabricação permite o compartilhamento de despesas gerais, resultando no barateamento do custo por unidade para o consumidor e, subseqüentemente, no custo dos sistemas de armas. Além do mais, as linhas de produção permanecem
130
produtivas no setor comercial, encontrando-se, portanto, disponíveis em caso de uma eventual crise internacional para produção imediata. [...] (Ferris, 1997)
Segundo Pesce79 (2004), as tecnologias militares são consideradas
“tecnologias de arrasto”, capazes de gerar o nível de inovação tecnológica
necessário à criação ou manutenção de uma capacidade industrial moderna e
atualizada. O papel do Estado no financiamento a projetos de pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias com aplicação militar é fundamental. Entretanto,
para elevar o nível de capacitação tecnológica do País, baseado nas “tecnologias de
arrasto”, será preciso construir uma parceria integrada entre FA, comunidade
acadêmica e o empresariado nacional [BID].
Brandão (2005), ao seu turno, observa:
[...] Os sistemas de armas empregados em Ações de Defesa são normalmente produtos de alto valor agregado, de longo prazo de desenvolvimento, de baixa escala de produção e que demandam intensivo uso de tecnologias inovadoras. Além disso, eles requerem tratamento diferenciado quanto a sigilo e exportação, sendo justamente por estas razões, regulados por tratados internacionais. Assim, eles só podem ser concebidos, desenvolvidos e produzidos por países tecnologicamente avançados, com poder de embargo sobre potenciais interessados nestes produtos. [...] (Brandão, 2005)
2.5.2 O Papel das Universidades
De acordo com Mattei, Benedetti & Ferreira (2006), os sistemas de inovação
colocam lado a lado instituições com missões bem definidas e diferentes entre si.
Historicamente, as relações entre o governo, a universidade e a indústria evoluíram
conforme o esquema da Figura 11. Inicialmente, havia um controle forte do governo,
definindo as relações internas. Conhecido como Hélice Tripla I, este modelo faliu
devido, principalmente, à inibição das iniciativas do tipo “bottom-up”. Como reação
ao controle excessivo do Estado, surgiu o modelo da Hélice Tripla II. As relações
neste modelo são do tipo “laissez-faire” e mantêm os limites institucionais dos atores
bem estabelecidos. Suas missões permanecem inalteradas. Contudo, o modelo que
tem sido adotado pela maioria dos países é o seguinte. Naquele, o governo participa
e incentiva a inovação e, não obstante, a diluição dos limites das instituições
constitui a principal diferença do modelo da Hélice Tripla II (Etzkowitz e Leydesdorff,
2000).
79 Eduardo Ítalo Pesce é Professor Doutor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Relações Internacionais. Nota do autor.
131
Segundo os referidos autores, no modelo da Hélice Tripla III, a universidade
assume o papel principal na geração de inovação tecnológica. Este modelo força a
alteração da missão tradicional da Universidade (ensino e pesquisa básica) por
adicionar nesta o fomento à formação de empresas e o desenvolvimento tecnológico
e regional. Este modelo tem sido usado no Brasil e resultados podem ser verificados
em locais como São José dos Campos (SP), através do ITA, e em Santa Rita do
Sapucaí (MG), através do INATEL, entre outros.
Figura 11 – Relacionamento Governo – Universidade – Indústria
Fonte: Mattei, Benedetti & Ferreira – Inovação Tecnológica de Ruptura no MD. (UFJF, 2006)
Cândido (2007), coordenador do COMDEFESA, por sua vez, afirma como
princípio fundamental, que a política de C, T&I no que diz respeito à Defesa, deve
ser orientada para a satisfação das necessidades reais das Forças Armadas, para
que elas reúnam condições de bem cumprir a missão constitucional que lhes é
atribuída.
Segundo ele, a concentração dos esforços tecnológicos em P & D deverá
ser feita na geração de protótipos e tecnologia pontual, em acordo com as diretrizes
da política econômica e industrial, de forma que esses esforços se convertam em
capacidade de defesa. O modelo esquemático apresentado por ele aparece na
Figura 12.
O papel das universidades, contudo, será sempre muito importante, quer na
formação e na pesquisa, quer no fomento industrial. Para fins de consideração neste
estudo, cumpre ressaltar o aspecto importante das universidades formarem futuros
profissionais que estejam voltados para a produção técnica e não-somente para a
produção de artigos científicos.
132
Princípios Fundamentais
Essa Política será mais facilmente entendida se houver uma integração dos diversos segmentos da sociedade.
FA Centros de Excelência
Universidades
Indústria
CO
MIT
Ê D
A C
AD
EIA
PR
OD
UT
IVA
DA
IND
ÚS
TR
IA D
E D
EF
ES
AC
OM
DE
FE
SA
Figura 12 – Relacionamento Universidades – Indústria – FA e seus centros de excelência
Fonte: Cândido, Jairo. Palestra COMDEFESA, USP, 2007.
Segundo Rodrigues80 (2006), existe falta de foco para a C&T no Brasil,
afirmando que, infelizmente, o único indicador para medir a capacidade do cientista
brasileiro é a quantidade de artigos científicos publicados ao invés da produção de
artigos técnicos ou mesmo a produção de patentes em ligação com empresas e/ou
indústrias.
Um aspecto a ser considerado quanto ao estudo de P&D militar, embora
não sendo foco do presente trabalho, diz respeito à afirmação de Ferris (1997) de
que são os lucros, e não a política, que vem determinando o rumo do comércio
internacional de tecnologia militar avançada. Ou seja, há necessidade de considerar
um mercado globalizado e a necessidade de comercializar insumos e produtos
atualizados tecnologicamente para garantir a produção, existência e a manutenção
de um MEM por uma FA, no caso o Exército Brasileiro. Caso isso não aconteça,
dificilmente esta FA avançará além do estágio de um protótipo.
A constatação expressa no parágrafo anterior deverá provocar uma
modificação profunda na abordagem da concepção, desenvolvimento e fabricação
de MEM pelo Exército, cuja atuação nesse campo, atualmente, é percebida por este
autor como fortemente centrada em si mesmo, ou seja, com baixo nível de
80 Cláudio Rodrigues, Superintendente do IPEN, em painel conduzido no 38º Fórum sobre Tecnologia Militar. São Paulo, 2006. Nota do autor.
133
preocupação em atuar de forma integrada com as empresas da BID e suas
necessidades (fundamentais) de busca de mercados e obtenção de lucros na
exploração de MEM.
2.5.3 A C&T no Exército Brasileiro
Este tema é bastante amplo, representando por si só, um estudo
aprofundado que não se constitui no objetivo da presente abordagem. O esforço
desse referencial se conduz em mostrar a maneira de pela qual o EB trata a C&T
além do anteriormente abordado no estudo do SIPLEX.
A missão do Sistema de Ciência e Tecnologia no Exército (SCTEx) é
planejar, executar, controlar e aperfeiçoar os macroprocessos de Ciência e
Tecnologia do Exército, bem como fomentar a Base Industrial de Defesa nacional.
A estrutura do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), ODS
responsável pelo SCTEx é apresentada na figura 13.
Vinculação da IMBEL ao novo DCT
Figura 13 – Estrutura do DCT – Exército Brasileiro
Fonte: Gen Bda Menicelli, DCT, palestra LAAD, 2007.
O departamento está organizado segundo uma estrutura matricial, inovadora
no âmbito do Exército, conforme é demonstrado na figura 14.
134
Departamento de Ciência e Tecnologia
Estrutura Matricial (P&D)
Resultados
Gu
err
a
Ele
trô
nic
a
Lo
gís
tica
, C
on
str
uçã
o
e
Me
io A
mb
ien
te
Se
gu
ran
ça
da
Info
rma
çã
o
Co
man
do
e
Co
ntr
ole
Bli
nd
ad
os
e
Ve
ícu
los
Mil
ita
res
DQ
BN
Avia
çã
o d
o
Ex
érc
ito
Op
trô
nic
os
Mís
se
is
Fo
gu
ete
s
Arm
am
en
to e
M
un
ição
DIRETRIZES ESTRATÉGICAS DE C&T
GRUPOS FINALÍSTICOS DE C&T
PBCT 2007-2010
Pro
jeto
sE
sp
ecia
is
Figura 14 – Estrutura matricial do DCT
Fonte: DCT, palestra na ECEME, 2006.
Segundo Gomes (2006), o planejamento e a meta de curto prazo são
equilibrar as perspectivas acima da linha crítica mostrada na Figura 15.
Departamento de Ciência e Tecnologia
SITUAÇÃO ATUAL – SCTEx – Perspectivas
Pesso al Relacion amento
Institucion al
Infra-
estrutura
Plan ejamento
e GestãoRecu rsos
Finan ceiro s
Integração
Organ izacional
Serviços
Técnicos
Engen haria
100%
0
LinhaCrítica
Ensino
C&T
Pesquisa
Desenvolvimento
Tendência Situação Atual LEGENDA Acelerado
NormalLento
Ritmo
ResultadosComponentes
Figura 15 – Situação atual SCTEx
Fonte: Gomes, Mosqueira. DCT, ECEME, 2006.
135
Segundo o mesmo autor, a situação atual na captação de recursos
financeiros pelo DCT, por sua vez, é a seguinte:
• Financiamento de projetos (FINEP/MCT):
o Radar de Defesa Antiaérea (R$ 33,5 milhões);
o Rádio Definido por Software (R$ 2 milhões);
o Participação no Projeto VANT (coordenação MD) – (R$ 1,4
milhões);
o CDEV – Centro de Desenvolvimento em Energia e Veículos –
parceria c/ PUC-RJ – (R$ 7 milhões);
o Revitalização da infra-estrutura de C&T do EB (R$ 7,2 milhões).
• PETROBRAS – Projeto da Fibra de Carbono – CTEx (R$ 30 milhões);
• Programa Fronteiras (R$ 8 milhões - BNDES);
• CAPES81 (MEC) – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Apoio a pós-graduação IME (R$ 1 milhão);
• Projetos diversos da Diretoria de Serviços Geográficos (DSG) em parceria
com os Estados Bahia/Goiás/Tocantins, INCRA e Vale do Rio Doce (R$
4,5 milhões);
• DNIT – IME (R$ 4 milhões);
• Capitalização de Empresas da Base Industrial de Defesa (Orbisat, Opto e
Mectron) - aproximadamente R$ 15 milhões – BNDES – para “Fomento
Industrial”.
De acordo com De Sordi, Silva Neto & Gomes (2003), embora a C&T seja
considerada essencial para o sucesso de qualquer força armada contemporânea,
observa-se que ela não está efetivamente incorporada ao dia-a-dia do Exército
Brasileiro. Os autores ressaltam que a C&T não se restringe ao desenvolvimento de
MEM, mas abrange diversas atividades, tais como Logística (meios e pessoal),
Comando e Controle, Análise Operacional, Simulação, Inteligência, Guerra
Eletrônica, Tecnologias Críticas, dentre muitos outros campos. A qualificação em
C&T se constitui em um processo lento e cumulativo de conhecimentos e deve ser
iniciada na graduação do militar, estendendo-se até o curso de altos estudos.
81 CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, entidade do Ministério da Educação. Nota do autor.
136
Zampieri (2006), ao propor soluções para incrementar o fomento industrial no
Exército, indica que deve haver um maior grau na interação entre as áreas bélica e
técnica, dentre outras razões, porque:
• a evolução das tecnologias determina novas doutrinas de emprego;
• o avanço acelerado do emprego de tecnologias exige interação mais efetiva
entre essa duas linhas para compreender o moderno ‘espaço de batalha’;
• há necessidade dos oficiais-combatentes capacitarem-se tecnicamente em
alto nível (pós-graduação) para compreender conceitos técnicos;
• há necessidade, também, do aumento de trabalhos conjuntos entre oficiais-
combatentes e técnicos, com um maior nível de interação entre as escolas
militares para proporcionar eficiência tecnológica à FTB;
• o EB se ressente de pouco quantidade de oficiais do QEM (e combatentes)
capacitados em Inteligência Tecnológica.
2.5.3.1 Plano Básico de Ciência e Tecnologia do Exército (PBCT) – 2007-2010
O Plano Básico de Ciência e Tecnologia (PBCT) é o plano de ação do
Sistema de Ciência e Tecnologia do Exército (SCTEx).
A Figura 16 indica, de forma pormenorizada, as prioridades de MEM definidas
pelo PBCT, em acordo com diretrizes do EME, por meio da sua 4ª Subchefia.
Centro Tecnológico do Exército
13- Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT)
12- Sistema Tático de Guerra Eletrônica
11- Míssil Anticarro (Míssil MSS 1.2)
10- Morteiro Pesado 120 mm e Munições
9 - Equipamentos de Visão Noturna
8 - Morteiro Médio e Munições
7 - Arma Leve Anticarro (ALAC), com simulador
6 - Fuzil 5,56mm c/ Luneta Tiro Noturno, Mira Laser, Mira Visada Rápida Diurna e Lç Gr 40 mm
5 - Sistema de Pagamento de Pessoal do Exército
4 - Integração das Bases de Dados
3 - Sistema de Comando e Controle
2 - Sistema de Artilharia Antiaérea (Radar + Míssil)
1 - Veículo Blindado de Rodas URUTU III
ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA
Figura 16 – Prioridades em MEM definidas pelo PBCT
Fonte: Gen Bda Ribeiro Souto, CTEx, 38º Fórum Dinheiro Vivo sobre Tecnologia
Militar, São Paulo, 2006.
137
Segundo Gomes (2006), o PBCT consubstancia a estratégia elaborada e as
ações planejadas que visam ao cumprimento da missão e a consecução da visão de
futuro do SCTEx, prevendo o emprego simultâneo dos recursos humanos,
financeiros, gerenciais e patrimoniais do EB em prol da eficácia, eficiência e
modernização do SCTEx.
2.5.3.2 Instruções Gerais para a Gestão do Ciclo de Vida dos MEM
As Instruções Gerais 20-12, Modelo Administrativo do Ciclo de Vida dos
Materiais de Emprego Militar, em vigor foram editadas em Portaria Ministerial Nr 271,
do então Ministro do Exército, de 13 de junho de 1994. Elas ordenam e descrevem
as principais atividades e eventos que ocorrem durante o Ciclo de Vida do Material
de Emprego Militar, fixando a ordem e os órgãos responsáveis pela sua execução.
Os objetivos do modelo administrativo do Ciclo de Vida são estabelecer uma
sistemática para as atividades e os eventos que ocorrem durante o ciclo de vida dos
MEM, bem como atribuir responsabilidades aos diversos órgãos envolvidos nas
atividades e nos eventos do referido ciclo.
Os seguintes MEM são abrangidos por este modelo:
• Tipo A – material novo a ser pesquisado e/ou desenvolvido, no País
ou no exterior, pelo Exército ou por empresa nacional ou por empresa
estrangeira ou por conjunto dessas organizações, mediante
convênios, contratos ou acordos de cooperação com o Exército;
• Tipo B – material em uso corrente no Exército em processo de
modernização ou aperfeiçoamento;
• Tipo C – material em uso corrente no Exército, de origem estrangeira;
• Tipo D – material em uso corrente, no País ou no exterior, em
processo de nacionalização;
• Tipo E – material em pesquisa ou desenvolvimento ou já
desenvolvido, por empresa nacional ou estrangeira, por iniciativa
própria, de interesse do Exército;
• Tipo F – material em pesquisa ou desenvolvimento ou já
desenvolvido, por empresa nacional ou estrangeira, por iniciativa
própria, sem interesse imediato do Exército.
138
A IG 20-12 indica:
[...] Art 4o - O Modelo Administrativo do Ciclo de Vida dos MEM [...] é formado por Blocos de atividades e eventos que devem ser executados pelos diferentes Órgãos do Sistema de C&T. Esquematiza as diferentes fases do MEM, desde o levantamento da sua necessidade até a sua alienação. Art 5o – [...] Os órgãos envolvidos no Modelo Administrativo do Ciclo de Vida foram grupados da seguinte forma: 1) Órgão de Direção Geral - Estado-Maior do Exército (EME), responsável pelas diretrizes gerais, normas orientadoras, supervisão, controle e funcionamento do Modelo; 2) Órgão de Ciência e Tecnologia - Secretaria de Ciência e Tecnologia (SCT) [hoje DCT] e seus órgãos subordinados, que exercem atividades de pesquisa fundamental e aplicada, desenvolvimento, capacitação tecnológica e de recursos humanos, avaliação, normalização técnica e certificação da qualidade, bem como outras atividades científico-tecnológicas que, dentro do Modelo, concorrem para a concretização do MEM; 3) Órgãos de Produção - as empresas responsáveis pela produção industrial de MEM; 4) Órgãos de Provisão - os Departamentos Provedores e seus órgãos subordinados, responsáveis pelo suprimento e manutenção dos MEM; 5) Órgãos Usuários - as Organizações Militares (OM) que utilizam os MEM e opinam sobre sua operacionalidade, eficiência, conformidade com a finalidade para eles estabelecidas e adequação ao pessoal que os empregará. Art 6o – [...] Os Blocos correspondentes às suas atividades estão agrupados nas seguintes fases e subfases: 1ª Fase - Levantamento das Necessidades e Formulação Conceitual. 2ª Fase - Planejamento e Programação. 3ª Fase - Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): Subfase a - Pesquisa e Desenvolvimento do Protótipo Subfase b - Avaliação do Protótipo Subfase c - Produção do Lote-Piloto Subfase d - Avaliação do Lote-Piloto 4ª Fase - Produção ou Aquisição 5ª Fase - Utilização 6ª Fase – Alienação [grifo nosso] Art 7º - Levantamento das Necessidades e Formulação Conceitual - Nesta fase se procura identificar, da forma mais ampla possível, as necessidades do Exército em MEM (Lista de Necessidades), quantitativa e conceitualmente e se procura definir, para cada material da Lista, o seu emprego doutrinário através das Condicionantes Doutrinárias e Operacionais (CONDOP). São verificadas as necessidades correntes de MEM e as necessidades operacionais futuras, tendo por base o Planejamento Estratégico de Emprego da Força Terrestre, os quadros de Dotação de Material e a Previsão Tecnológica. Essas necessidades são fixadas em termos operacionais e quantitativos, sendo cada MEM definido conceitualmente por Requisitos Operacionais Básicos (ROB), Requisitos Técnicos Básicos (RTB), Anteprojeto e Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica (EVTE) que, juntos, formam os chamados Elementos de Definição do Material. Art 8º - Planejamento e Programação - Esta fase tem início com os preparativos da Primeira Reunião Decisória e se concretiza com a inclusão do projeto do MEM no Programa Interno de Trabalho (PIT) da SCT ou do Departamento Provedor, conforme decisão da 1ª RD quanto ao processo de obtenção do MEM. Diz respeito, basicamente, à inclusão do MEM a ser pesquisado, desenvolvido, modernizado, aperfeiçoado, nacionalizado ou adquirido, no Sistema de Planejamento do Exército (Política de C&T, Diretrizes Estratégicas de C&T e Plano Básico de C&T), no Plano Diretor do Exército (Objetivos e Metas de C&T, Plano Setorial de C&T e Programa Plurianual de C&T), na Proposta Orçamentária do Ministério do Exército, no Programa de Trabalho do Ministério do Exército e no Programa de Trabalho dos Órgãos Setoriais. Art 9º - Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) - Nesta fase se procura obter um protótipo e depois um lote piloto com as características técnicas e operacionais
139
desejadas e determinadas nos ROB e nos RTB ou, quando for o caso, nas Diretrizes para Modernização, Aperfeiçoamento ou Nacionalização e suas respectivas Complementações Técnicas ou, eventualmente, nas Especificações Técnicas do fabricante. Esta fase é conduzida pela SCT e compreende quatro subfases: - P&D do protótipo; - Avaliação do protótipo; - Produção do lote-piloto; - Avaliação do lote-piloto. § 1º - A Subfase de P&D do Protótipo pode ser efetivada no âmbito da SCT ou da empresa. Os contratos de P&D de protótipos deverão seguir normas do EME, adequadas à legislação vigente para licitação e contratos no âmbito do Governo Federal, e modelo SCT com cláusulas de participação técnica e de certificação da qualidade, ambas a cargo do Centro Tecnológico do Exército (CTEx). Nesta subfase são tomadas, pelo Gerente do Projeto, as providências iniciais com vistas à elaboração de manuais técnicos. A Subfase termina com a obtenção do protótipo. § 2º - A Subfase de Avaliação do Protótipo é aquela em que se procura verificar, preponderantemente, em que medida o protótipo realmente está de acordo com as características técnicas pré-fixadas nos RTB ou, conforme o caso, nas Complementações Técnicas às Diretrizes para Modernização, Aperfeiçoamento, Nacionalização ou, ainda, nas Especificações Técnicas do fabricante, e se responde adequadamente aos ROB ou às Diretrizes para Modernização, Aperfeiçoamento ou Nacionalização. Termina com o Ato de Aprovação do Protótipo, que certifica a conformidade do protótipo com os padrões e as exigências técnicas e operacionais estabelecidas pelo Exército. § 3º - A Subfase de Produção do Lote Piloto é aquela na qual se procura preparar o MEM anteriormente obtido em protótipo, para a produção industrial. A produção do lote-piloto servirá para testar e ajustar a linha de produção e possibilitar a efetiva avaliação operacional do lote-piloto nas condições mais próximas possíveis de sua real utilização. A execução desta subfase deve corresponder a um manifesto interesse do Exército em adotar o MEM; em conseqüência, também, nesta subfase se iniciam os preparativos e providências referentes a esta possível decisão, nos campos de manutenção, suprimento, instrução, quadro de organização, manual de campanha, previsão de aquisição e continuação das providências relativas aos manuais técnicos. § 4º - A Subfase de Avaliação do Lote-Piloto é aquela em que se procura confirmar se as características técnicas, obtidas e aprovadas no protótipo, estão também presentes no produto industrializado e se o MEM efetivamente responde aos ROB e RTB ou, conforme o caso, às Diretrizes para Modernização, Aperfeiçoamento ou Nacionalização e respectivas Complementações Técnicas ou, eventualmente às Especificações Técnicas do fabricante. Termina com a expedição do Ato de Adoção, que declara que o MEM será adotado pelo Exército. Art 10 - Produção ou Aquisição - Nesta fase se procura obter o MEM em qualidade e em quantidade adequadas à satisfação da necessidade original levantada pelo EME ou pelo Departamento Provedor. É conduzida pelo Departamento Provedor. Tem início com a licitação e com o contrato de produção ou de aquisição conforme normas do EME adequadas à legislação vigente para licitação e contratos no âmbito do Governo Federal, e modelo DMB com cláusulas referentes à suprimento, manutenção e garantias, e termina com o recebimento, a estocagem e a distribuição do MEM produzido ou adquirido. Coincide com o início desta fase a execução das providências paralelas nos campos da manutenção, suprimento, instrução, quadros de organização, manual de campanha e manuais técnicos, concretizando a meta de que o MEM, ao ser entregue à tropa, o seja em condições de perfeita utilização e manutenção. No caso de produção, o Gerente do Projeto acompanha o processo industrial até a cabeça de série e a Certificação da Qualidade, acompanhando todo o processo industrial. Art 11- Utilização - Nesta fase as OM equipadas com o MEM que lhe foi distribuído devem, sempre que for o caso, fornecer espontaneamente indicações de suas deficiências. Entretanto, cabe ao Departamento Provedor, por intermédio de suas
140
Diretorias, a implementação de procedimentos sistemáticos de busca e possível detecção de deficiências significativas, com a periodicidade exigida para cada tipo de MEM. Após a análise e a consolidação das deficiências, poderá resultar a necessidade de reciclar o MEM, a fim de aperfeiçoá-lo. Quando tais aperfeiçoamentos não forem mais viáveis, técnica ou economicamente, quando a conjuntura militar justificar mudanças da doutrina ou do MEM, ou quando o MEM apresentar sinais de envelhecimento, será submetido à 4ª Reunião Decisória a fim de se concluir sobre o seu destino: modernização, aperfeiçoamento, nacionalização ou alienação. Se a decisão sobre o MEM for a de modernizar, aperfeiçoar ou nacionalizar, o mesmo retornará à Fase de Levantamento das Necessidades e Formulação Conceitual (Bloco nº 9); se for de alienar, o MEM ingressa na Fase de Alienação seguinte. Art 12 - Alienação - Esta fase tem início com o Ato de Desativação seguido da descarga, recolhimento e alienação do MEM. [...] IG 20-12, Exército, 1994.
Durante o desenvolvimento da pesquisa deste trabalho, este autor foi
apresentado a uma edição nova e experimental, oficialmente não-empregada pelo
Estado-Maior do Exército, segundo informações recebidas diretamente da 4ª
Subchefia daquele ODG.
Não se constitui escopo deste trabalho verificar qual a IG empregada na
prática, reiterando-se a afirmação anterior de que a IG editada em 1994 é aquela
oficialmente válida. Indica-se, porém, a necessidade de estudos que evitem mal-
entendidos porventura existentes ou que indiquem a oportunidade de
aperfeiçoamentos na legislação ora vigente.
Em relação a isto, este autor conduziu um breve estudo sobre a versão
experimental.
Segundo a versão experimental, as Instruções Gerais (IG) 20-12 têm por
finalidade definir o modelo de gestão do ciclo de vida dos MEM do Exército, sendo
aplicáveis aos seguintes MEM:
• Materiais novos obtidos por intermédio de pesquisa, desenvolvimento e
produção;
• Materiais prontos e acabados adquiridos no mercado nacional ou
internacional; e
• Materiais em uso no Exército, incluindo aqueles a serem submetidos à
modernização e nacionalização.
A pesquisa, o desenvolvimento e a produção de MEM podem ser realizadas
pelo Exército, em suas Organizações Militares ou em seus estabelecimentos fabris;
encomendadas pelo Exército à organização externa, do setor público ou da iniciativa
privada; realizadas em conjunto pelo Exército e organização externa, do setor
público ou da iniciativa privada; ou realizadas pela combinação dessas formas.
141
Nos processos de aquisição de MEM no mercado nacional ou internacional,
cabe ao DCT:
I - gerenciar os processos de avaliação de MEM a ser adquirido, em apoio ao
Órgão de Direção Setorial (ODS) responsável pela aquisição.
II - nas aquisições de material estrangeiro, propor:
a) áreas de interesse para compor cláusulas contratuais
compensatórias (“off-set”); e
b) procedimentos voltados para a transferência de tecnologia.
Toda aquisição de MEM, no mercado nacional ou internacional, que não
tenha o ato de adoção deve ser precedida de consulta ao DCT.
O DCT deverá opinar quanto aos interesses do Exército de sua atribuição,
tais como: pesquisa e desenvolvimento e absorção e autonomia tecnológica.
O processo de “Elaboração dos Requisitos Básicos” tem por objetivo
determinar as características técnicas e operacionais do MEM. Para isso o EME
determina simultaneamente a elaboração dos Requisitos Básicos e do Estudo de
Viabilidade. Os Requisitos Básicos são elaborados de conformidade com as bases
doutrinárias e operacionais constantes das CONDOP e contêm os subsídios
essenciais para a elaboração do Estudo de Viabilidade.
Figura 17 – Representação esquemática do Ciclo de Vida de um MEM
Fonte: IG 20-12 (2005), versão experimental, página 5.
142
A elaboração dos Requisitos Básicos leva em conta aspectos tecnológicos,
operacionais, logísticos, organizacionais, bem como peculiaridades da sistemática
de avaliação de MEM.
Na “Elaboração dos Requisitos Básicos”, compete:
I – a 4ª SCh/EME:
a) conduzir o processo;
b) diligenciar para obter o apoio, ouvindo e obtendo as colaborações do
DCT quanto à viabilidade técnica e às peculiaridades da sistemática de avaliação e,
nos casos de produção do MEM no Brasil, possibilidades nacionais de pesquisa e
desenvolvimento e potencial industrial do Brasil; do COTER, quanto aos aspectos
operacionais; do D Log, quanto aos aspectos logísticos; e da 3ª SCh/EME –
aspectos doutrinários e organizacionais;
II – ao DCT, COTER e D Log, prestar o apoio requerido pela 4ª SCh/EME
para a elaboração dos Requisitos Básicos; e
III – à 3ª SCh/EME, prestar o apoio requerido quanto aos aspectos
doutrinários e organizacionais e remeter as CONDOP à 4ª SCh/EME.
Figura 18 – Elaboração de Requisitos Básicos
Fonte: IG 20-12, versão experimental, 2005.
Existe, ainda, uma série de aspectos interessantes e inerentes ao tema, como
a definição dos Requisitos Técnicos, porém que excedem o escopo de
estabelecimento de contato com o instrumento de C&T do Exército, representado
pela IG 20-12, na versão experimental (2005) e em sua versão de 1994.
143
2.6 O RELACIONAMENTO DAS DEMAIS FORÇAS SINGULARES COM A BID
2.6.1 Marinha do Brasil
O estudo desse relacionamento foi conduzido por meio de entrevistas
conduzidas com instrutores da EGN (Referencial Metodológico) e fruto das
observações pessoais obtidas em visita à Fábrica de Munições da Marinha do Brasil
– “Almirante Jurandyr” (FAJ), Campo Grande, RJ, acompanhando comitiva da 4ª
Subchefia do EME82, oportunidade em que a EMGEPRON – Empresa de
Gerenciamento de Projetos Navais (controlada pela MB) – apresentou-se como a
interface utilizada por essa FA no contato com a BID, fazendo parte inclusive dessa
base industrial.
A EGN, por meio do CMG (IM) (RM1) Teixeira Martins e pelo CF André Luís,
manifestou-se com clareza e profundidade a respeito do assunto. Aspectos da
Logística, Mobilização, RH e Ciência e Tecnologia da Marinha foram apresentados e
discutidos em setembro de 2006 em três entrevistas conduzidas naquele EE.
Primeiramente, os instrutores esclareceram que o apogeu da BID na década
de 1970 no Brasil não atingiu a Marinha do Brasil da mesma maneira que às demais
FA. Ele foi bem mais reduzido pelas características específicas de uma marinha de
guerra e sua natural associação com navios militares que exigiam (e exigem cada
vez mais) elevados volumes de investimentos financeiros e tecnológicos83. Isto
dificultou a aproximação de empresas nacionais com capacidades tão elevadas.
Segundo ambos, é muito difícil ‘nacionalizar’ um navio de guerra pelo elevado grau
de complexidade dos vários sistemas componentes. A abordagem é diferenciada em
relação ao desenvolvimento de PD/MEM teoricamente mais simples e que poderiam
atender as demais FA.
As principais indústrias de MEM na época – ENGESA, AVIBRAS e
EMBRAER – tinham seu foco no Exército e na Aeronáutica, sendo que a principal
motivação se encontrava em exportar sua produção (e não vender para as FA
brasileiras), contando, para isso, com apoio das próprias FA e do Governo Federal.
82 Março de 2007. Nota do autor. 83 Uma rápida estimativa feita naquela oportunidade: 300 milhões de Dólares Norte-Americanos (USD) por uma fragata nos dias de hoje. Nota do autor.
144
Segundo eles, a MB poderia ter investido, seguindo outra estratégia, na
construção de navios de patrulha costeira no início da década de 1970.
A Marinha, apesar da excelente formação de seus quadros, se ressente de
não possuir um ‘CTA84’, termo utilizado pelos entrevistados e que, segundo este
autor, define a necessidade de centralização do conhecimento tecnológico de
interesse para a MB, utilizando o exemplo de sucesso conduzido pela FAB em São
José dos Campos, SP, como forma de alavancar a capacidade técnico-operacional
daquela FA. Acrescentou-se que a Marinha ainda não possui uma mentalidade
própria em C&T, até mesmo por não formar os seus quadros específicos nesta área.
Voltando-se para a BID, constatou-se que ela não possui foco na Marinha.
Não existe um estaleiro militar no Brasil atualmente. O INACE (Ceará) é um estaleiro
civil que recebe projetos militares da EMGEPRON e os executa. No período áureo
da BID, os estaleiros nacionais apoiavam a clientela da marinha mercante
(Superintendência da Marinha Mercante). A MB tentou produzir navios em Itajaí, SC,
e uma corveta com o Estaleiro VEROLME, porém sem sucesso.
O CMG R/1 Teixeira Martins foi sintético em determinado ponto: faltou apoio
político para o adequado desenvolvimento da BID nos anos 9085. Chegou-se a
pensar em cancelar a disciplina Mobilização na EGN pela falta de perspectiva de sua
efetiva ocorrência. As dificuldades existentes para nacionalização de equipamentos,
segundo ele, são enormes: desconhecimento da capacidade industrial do País neste
campo, produtos de baixo nível tecnológico em geral e, principalmente, baixíssimo
volume de compras. Além desses, é possível acrescentar um baixo nível de
padronização de itens86, falta de aquisições centralizadas (pelo atrativo da redução
de custos) e baixa compreensão do conceito de Suporte Logístico Integrado (ILS –
Integrated Logistic Suport) em todas as três FA no Brasil.
Quanto ao relacionamento entre a MB e a BID, o CMG Teixeira caracterizou a
existência de dois blocos: o primeiro que tenta desenvolver no Brasil algo que já
existe dentro de um navio (por meio de engenharia reversa) e outro que busca
desenvolver (ciclo completo) novos PED para a Armada (um novo míssil, por
exemplo). Este segundo bloco necessita de maior P&D e está associado ao
84 Centro Tecnológico Aeroespacial, da FAB, um dos principais responsáveis pelo grande avanço da atividade aeronáutica no Brasil. Nota do autor. 85 Corroborando Carvalho, Cunha e outros autores. Nota do autor. 86 Bastante minimizada, segundo ele, pelo criação e funcionamento do Centro de Catalogação da Forças Armadas (CECAFA).
145
atendimento a Requisitos de Alto Nível (RAN) estabelecidos pela própria Marinha.
Há necessidade de comprometimento e apoio governamental de longo prazo
mediante aporte continuado de recursos financeiros. A dúvida que persiste em seu
entendimento é como fazer isso, pois as FA não possuem um orçamento digno em
investimentos, assim como a falta de percepção de ameaças imediatas ao Brasil,
não mobiliza a atenção da sociedade para o problema.
Outra constatação: não bastará um aumento de recursos em investimentos na
mão das FA para aquisição de MEM na BID, se não houver, em contrapartida, o
incremento da base de tecnologia das empresas, aumentando o valor agregado da
mesma e de seus produtos. As empresas precisarão desempenhar um papel de
parceria com os centros de excelência das FA e não serem vistas como “inimigas”
pelos militares.
No nível do pensamento estratégico, destacou-se a necessidade de
investimentos em pesquisa pura e aplicada para tentar quebrar o “gap” que separa o
Brasil de países mais avançados na área de tecnologia militar.
Hoje, a Marinha do Brasil precisa ser capaz de cumprir as suas missões (um
enorme desafio) com navios projetados e construídos no Brasil. A realidade da
necessidade de meios navais impôs, porém outra realidade, baseada em compras
de oportunidade para manter um mínimo de capacidade operacional. Isso provocou
uma aproximação com a França (citou-se o exemplo do porta-aviões ‘São Paulo’).
Atualmente, a Marinha produz submarinos em seus estaleiros, assim como
corvetas. O Centro de Projetos de Navios da Diretoria de Engenharia Naval
coordena as atividades. Há dependência externa para o complemento de sistemas
de armas internos dos meios navais.
Constatou-se, também, que o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM)
realiza o fomento industrial em suas instalações.
Os parágrafos anteriores resumem as entrevistas concedidas, trazendo
algumas conclusões, quais sejam: especificidade da atividade naval (problemas e
soluções), distanciamento entre BID e MB (em relação ao EB e à FAB), altos custos
envolvidos nos projetos navais, falta de um centro de excelência e de formação de
RH no âmbito da Marinha, dentre outros.
As entrevistas trouxeram um principal reflexo para este trabalho: reforço à
concepção de se buscar soluções específicas para cada FA no relacionamento com
a BID para materiais específicos de cada Força, pois os contextos são bastante
146
distintos, mesmo que estejam integrados em um ambiente de Defesa. A partir do
encaminhamento das soluções, poderá ser interessante integrá-las no âmbito do
MD, ganhando escala e proporcionando ‘liberdade de manobra’ para as FA,
notadamente em materiais de uso padronizado.
Quanto ao conhecimento obtido na EMGEPRON, representada pelo CMG R/1
Edmilson de Queiroz Matos, diretor dessa empresa, na oportunidade da visita às
instalações da Fábrica ‘Almirante Jurandyr da Costa Muller de Campos’ (FAJ) em
março de 2007, foi possível compreender, ainda em caráter inicial, o funcionamento
da Empresa Gerenciadora de Projetos Navais (EMGEPRON) e o papel que ela
desempenha como interface da MB com a Expressão Econômica do PN e com o
exterior.
A empresa foi criada por lei em 09 de junho de 1982 e sua sede está
localizada no centro do Rio de Janeiro, com filiais em Iperó, SP, e Campo Grande,
RJ. Possui 2000 empregados e um faturamento anual de cerca de 60 milhões de
dólares norte-americanos. Atualmente, existem 200 contratos em vigor. A mão-de-
obra é regida pela CLT87, com planos de cargos e salários e concursos públicos de
admissão terceirizados.
A EMGEPRON é uma empresa pública de direito privado, com capital 100%
da União, com autonomia financeira e patrimônio próprio. Os fundamentos legais a
colocam como entidade da administração indireta, vinculada ao MD, por meio do
Comando da Marinha. Possui vínculos indiretos com o Ministério do Planejamento;
Orçamento e Gestão (MPOG); Fazenda (MF); Desenvolvimento, Indústria e
Comércio (MDIC) e Relações Exteriores (MRE).
A EMGEPRON tem por finalidade88 gerenciar os projetos de interesse da
Marinha, executar atividades vinculadas à obtenção e manutenção do material militar
naval, bem como promover a Indústria Militar Naval Brasileira (IMNB) e atividades de
P&D. Ela está organizada em unidades operacionais conforme a Figura Nr 19.
As atividades de gerência de projetos são as seguintes, dentre outras:
• Modernização das fragatas, submarinos e integração do SISCOMBAR;
• Fabricação de Munição Naval;
• Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear; 87 Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), 1943. Nota do autor. 88 CMG R/1 Edmilson de Queiroz Matos, diretor da EMGEPRON, em palestra à 4ª SCh EME. Nota do autor.
147
• Construção e Reparo naval (inclusive de submarinos);
• Catalogação;
• Vistoria de navios.
Quanto às atividades ligadas a processos de obtenção, a empresa participa
da captação de recursos financeiros para construção naval e para projetos de C&T,
bem com nas negociações que envolvem a MB em programas de parceria e “Off
Set”.
APOIO
LOGÍSTICO
CONSTRUÇÃO
NAVAL
SISTEMAS
NAVAIS
ARMASE
MUNIÇÃO
CONSULTORIA
ESPECIALIZADA
UNIDADES
OPERACIONAIS
ESTUDOS DO MAR
(FIN)
Figura 19 – Unidades Operacionais da EMGEPRON
Fonte: EMGEPRON, Palestra ao EME (4ª Subchefia), março de 2007.
Nas atividades de promoção da IMNB89, a EMGEPRON atua na promoção
comercial das empresas (fomento industrial), no auxílio ao relacionamento
institucional e na comercialização de produtos. Para tanto, ela participa de feiras,
exposições e congressos, realiza o cadastro de empresas e prepara material de
divulgação. No aspecto institucional, recebe os adidos militares brasileiros que
seguem para o exterior, bem como os adidos estrangeiros em visitas. Atende,
também, comissões do MD, BNDES, dentre outros organismos. Ela estabeleceu
parcerias com empresas como a PETROBRAS, ATECH, IMBEL, CBC, DENEL,
THALES, dentre outras, em projetos de interesse comum.
89 Segundo, Comandante Edmilson, existem cerca de 300 empresas catalogadas pela EMGEPRON. Nota do autor.
148
A empresa comercializa no País: munição, carregamento de bombas de
aviação e artefatos bélicos, monitoramento de baías, dados oceanográficos, criação
de recifes artificiais, catalogação, destinação de excessos (navios e máquinas),
embarcações, reparos navais, sistemas de apoio à decisão, fabricação de peças e
estruturas, bem como fornecimento de materiais especiais. Ela se destaca na
exportação de navios-patrulha, reparos navais, lanchas-patrulha, aparelhamento de
bases navais, sobressalentes, navios retirados de serviço, munição de artilharia,
carga de artefatos bélicos, estopilhas, treinamento de pessoal, equipamentos e
estudos do mar.
ORGANIZAÇÕES MILITARES PRESTADORAS DE SERVIÇOSORGANIZAÇÕES MILITARES PRESTADORAS DE SERVIÇOS
BASES E ESTAÇÕES NAVAISBASES E ESTAÇÕES NAVAIS
Figura 20 – OM prestadoras de serviços MB
Fonte: EMGEPRON, palestra ao EME em março de 2007.
Um aspecto histórico interessante, relatado durante a visita à FAJ. Em 1995,
ocorreu uma explosão nos paióis da MB no Rio de Janeiro, com perda da maior
parte da munição estocada. Aquele incidente motivou a retomada da EMGEPRON,
que estava, à época, em processo de latência e, em fevereiro de 1996, a empresa
viria a fechar o primeiro contrato com a Marinha para o fornecimento de munição. A
EMGEPRON se constituiu em uma ‘solução de sobrevivência’ para a Marinha na
ocasião, nas palavras do CMG R/1 Edmilson, diretor da empresa.
Constatou-se que a MB organizou a EMGEPRON, dentre muitos motivos,
para vencer a falta de continuidade de seus quadros na administração de
149
contratos caros e de longa duração, facilitando a logística de pessoal e material.
Ela se constitui, por assim dizer, o ‘braço comercial’ da Marinha. Possui uma boa
integração com o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPQM), pois compra e vende
serviços de P&D com este instituto, bem como com outras OM da MB, conforme
visto na Figura 20.
Segundo expresso pelo CMG R/1 Edmilson, a empresa encontra dificuldades
para gerenciar, de forma simultânea, empresarialmente e com êxito, o mercado
externo competitivo e o mercado nacional, de baixa demanda. Necessita manter um
bom relacionamento com os demais setores da Marinha sob pena do modelo
proposto não funcionar, causando prejuízos para todo o sistema.
A EMGEPRON utiliza a técnica de contrato de objetivos com a Marinha. A
FA possui as suas necessidades e a empresa possui uma capacidade que é
contratada para atendê-las. A MB compra os insumos para o MEM de que necessita,
fornece-os à EMGEPRON, que retorna com o PD/MEM pronto. Esta ação ‘força’ o
comprometimento da FA no andamento do projeto em que ela colocou recursos
financeiros em uma fase inicial90. Considera-se, segundo este autor, uma prática que
convém ser estudada e aprimorada para posterior disseminação em outros locais.
Concluindo, a MB possui um relacionamento bastante característico com a
BID. Primeiramente, pela pouca expressividade do parque fabril fornecedor de PD
no setor náutico. Segundo, a Marinha conduziu muitos projetos navais em seu
próprio AMRJ, notadamente nos anos 70, 80 e 90, conforme estudo conduzido no
histórico da BID. Terceiro, pela limitação constatada de um pensamento autóctone
em C&T (pela falta de um centro próprio formador e disseminador de P&D) que
dificulta, muitas vezes, a unidade de pensamento indispensável para o sucesso de
um projeto naval de MEM. Quarta, e não menos importante, a necessidade de
produzir munição naval em uma crise91 foi o ‘estopim’ para a efetivação de uma
‘solução de sobrevivência’ denominada EMGEPRON, que provou ser bastante
acertada, visto o prestígio e sucesso que esta empresa possui, na atualidade, em
termos nacionais e internacionais.
90 O processo não é tão simples que possa ser explicado em um parágrafo. Este tema vale, por si só, um aprofundamento adequado. Nota do autor. 91 Condição histórica. Nota do autor.
150
2.6.2 Força Aérea Brasileira
A FAB possui, à semelhança da Marinha, um relacionamento peculiar com a
BID. A aeronáutica é uma atividade relativamente recente no histórico mundial e o
Brasil é um dos países de destaque nesse setor.
A EMBRAER, uma das principais empresas da BID, surgiu dentro da Força
Aérea Brasileira, conforme ficou evidenciado no histórico levantado anteriormente.
Para fins desse estudo referencial, cumpre citar algumas estruturas da FAB
que a aproximam da BID. Elas estão normalmente ligadas à área de logística e de
C&T e estão localizadas majoritariamente em São Paulo.
No campo da logística (Figura 21 – COMGAP), destacam-se o CELOG e o
ILA. Na área de C&T, O CTA, Centro Técnico Aeroespacial (CTA) que, por meio do
Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI) atende as necessidades da FAB
nesse setor.
COMGAPCOMGAP
COMANDO DACOMANDO DAAERONAERONÁÁUTICAUTICA
DIRMABDIRMAB CELOGCELOG DIRENGDIRENG ILAILA
CABW DARJCABE CECAN
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
Figura 21– Estrutura do COMGAP
Fonte: CELOG, palestra do Maj Venturini, abril 2007.
O Centro Logístico da Aeronáutica (CELOG) está localizado no Campo de
Marte em São Paulo, SP. Ele foi estabelecido em 2004 e tem por finalidade precípua
apoiar a logística da FAB, estando inserido no COMGAP, conforme figura 21. A sua
origem, entretanto, remonta ao ano de 1941, com a criação do Parque de Material
151
Aeronáutico de São Paulo (PAMA), em um projeto ousado que criaria o maior
complexo industrial aeronáutico brasileiro da época.
Compete-lhe obter e distribuir, nacionalizar, certificar, garantir a qualidade,
bem como cadastrar, fomentar e preparar para a mobilização.
O regulamento do CELOG indica que ele deve realizar as atividades
necessárias à nacionalização do material aeroespacial e bélico, de forma a
assegurar a operação e o emprego das aeronaves da FAB, seus componentes,
acessórios e equipamentos, executando-as em coordenação com a DIRMAB.
Os seus objetivos são:
a) Reduzir os gastos de aquisição de material aeronáutico no exterior,
economizando divisas para a nação;
b) Garantir a aquisição de material para:
- reduzir dependência do fornecimento do exterior;
- obter o produto a qualquer momento sem interferência política;
- ter o controle da cadeia de ressuprimento.
c) Reduzir o tempo no processo de aquisição de material;
d) Desenvolver a capacidade de fabricantes nacionais;
e) Suprir deficiências na obtenção de peças obsoletas; e
f) Corrigir deficiências do projeto original para melhorar o desempenho
do componente ou sistema.
DireDireççãoão
Divisão Divisão
AdministrativaAdministrativa
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
Divisão Divisão
de Obtende ObtenççãoãoDivisão Divisão
TTéé cnicacnicaDivisão Divisão
de Certificade Certifica ççãoão
Assessoria de Assessoria de
Gestão da Gestão da
QualidadeQualidade
Assessoria Assessoria
JurJur íídicadica
SeSeçção ão
ComercialComercial
Assessoria de Assessoria de
Controle Controle
InternoInterno
SecretariaSecretaria
Figura 22 – Estrutura do CELOG Fonte: CELOG, palestra Maj Venturini, abril 2007.
152
Quanto ao aspecto nacionalização (Figura 23), os critérios críticos são:
• Viabilidade Técnica
• Viabilidade Econômica
• Respaldo Legal
Os dois primeiros são de fácil compreensão. Na viabilidade técnica cabe-lhe a
avaliação da matéria-prima disponível, da capacitação para produção (recursos
materiais e humanos) e da capacidade de controle de qualidade. Na viabilidade
econômica importa ao CELOG a avaliação do Custo-Benefício e avaliação da
‘Economicidade-Impacto Logístico’ em relação ao cumprimento da missão.
Quanto ao terceiro, cumpre salientar a importante contribuição da FAB pelo
levantamento de questões legais neste processo que podem ser estudadas e, até
mesmo, disseminadas para as demais FA, quais sejam: a patente é o direito de
explorar comercialmente uma invenção, com exclusividade, por tempo determinado.
A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 anos e a de modelo de utilidade
pelo prazo de 15 anos. A reprodução do item está autorizada quando é feita para
uso próprio, sem interesse comercial92.
Análise crítica doprocesso
Elaboração do RequisitoTécnico - Projeto
Embalagem eDistribuição
AssistênciaTécnica
Recebimento eCont role de Qualidade Acompanhamento
da Produção
Acompanhamento dociclo de vida
Contrato de Aquisição
Processo deCertificação
Contrato de AquisiçãoProtótipo
NacionalizaNacionalizaççãoão
A NecessidadeA Necessidade
EngenhariaEngenharia
ReversaReversa
Figura 23 – Nacionalização Fonte: CELOG, palestra Maj Venturini, abril 2007.
92 CELOG, palestra proferida pelo Maj Eng Venturini ao autor em abril de 2006. Nota do autor.
153
A Marinha do Brasil estabeleceu um termo de cooperação93 para o
treinamento de mão-de-obra na atividade de nacionalização, visando ao futuro
atendimento de suas necessidades técnicas e logísticas. Quanto ao EB, existe,
atualmente, uma demanda reprimida na Aviação do Exército por ferramental
aeronáutico simples que poderia ser atendida por meio de um entendimento entre o
Exército94 e a FAB para tanto.
O Instituto de Logística da Aeronáutica (ILA), por sua vez, está localizado
junto à Base Aérea de São Paulo (BASP), no município de Guarulhos, SP. Ele foi
estabelecido em 1984 e suas principais atribuições são as seguintes:
• Atualização e elevação de nível dos RH da área da logística militar;
• Proposição de modificações dos currículos das escolas de
formação;
• Promoção de intercâmbio cultural;
• Assessoramento na indicação de militares para o exercício de
funções específicas na área da logística militar; e
• Realização de pesquisas visando ao aprimoramento dos processos
logísticos do COMAER.
O instituto atua, também, na área de P&D por meio das seguintes atividades:
• Pesquisa Operacional:
- Otimização de Processos;
- Modelagem Matemática de Processos.
• Planejamento, Programação e Controle da Produção:
- Previsão de Demanda;
- Administração de Suprimento.
• Simulação de Processos:
- Seqüência de Produção Intermitente;
- Modelagem e Simulação de Processos.
• Logística de Aquisição e Desenvolvimento de Sistemas de Armas:
- Análise do ciclo de vida;
93 Este termo de cooperação não se encontra em anexo porque possui um grau de sigilo incompatível com o presente estudo. Nota do autor. 94 Informação obtida junto ao Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), por meio da Seção de Mobilização Industrial do Comando da 2ª Região Militar, SP, local de trabalho do autor. Nota do autor.
154
- Análise do custo do ciclo de vida;
- Engenharia da confiabilidade.
O ILA presta consultoria para a FAB em:
• Programas de Aquisição de Aeronaves (Programas F-X, CL-X, P-X,
CH-X, entre outros);
• Programas de Reestruturação Organizacional no Sistema de
Material Aeronáutico e Bélico (SISMA/SISMAB);
• Manutenção Centrada na Confiabilidade;
• Planejamento Estratégico da Diretoria de Material Aeronáutico e
Bélico para 2020 (DIRMAB 2020); e
• Sistema de Cooperação das Forças Aéreas Americanas
(SICOFAA) – “Web” / Bolsa de Mercadorias e Serviços.
Observa-se a importância que a FAB atribui a este instituto pelas missões
recebidas. De história recente, este órgão demonstra uma versatilidade muito grande
notadamente por uma característica que o distingue de outras “escolas” da FAB: a
sua subordinação ao Comando Geral de Apoio (COMGAP), fazendo que seja um
órgão capaz de formar e aperfeiçoar RH como função logística, atendendo, quase
que de imediato, necessidades em pessoal especializado ou informações de cunho
de inteligência comercial. Considera-se um avanço considerável no gerenciamento
da Logística Militar, que poderia ser “copiado” para as demais FA ou, em um futuro
mediato, constituir um ‘instituto de logística das FA’.
O Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), por sua vez, é o
órgão dentro da estrutura do CTA, diretamente responsável pelo fomento,
coordenação e apoio ao desenvolvimento industrial, no setor aeroespacial. Ele está
localizado em São José dos Campos, SP, no interior do próprio CTA. Realiza a sua
missão institucional atuando principalmente nas áreas de certificação de Produto
Aeroespacial, certificação de Organização Aeroespacial, confiabilidade
Metrológica Aeroespacial e coordenação e Fomento Aeroespacial.
Segundo informações obtidas no sítio do IFI na rede mundial de
computadores95, a atividade de Confiabilidade Metrológica Aeroespacial tem como
objetivo a implantação do Sistema de Metrologia Aeroespacial - SISMETRA, dentro
do Comando da Aeronáutica. Cabe-lhe difundir a filosofia de confiabilidade, através
95 Em função da exigüidade de tempo e recursos financeiros para uma pesquisa mais aprofundada. Acesso em 26 de junho de 2007. Nota do autor.
155
dos preceitos da qualidade, para os laboratórios e Parques de Material Aeronáutico
do Comando da Aeronáutica e para as empresas pertencentes ao Catálogo de
Empresas do Setor Aeroespacial (CESAER), que prestam ou venham prestar
serviços à Aeronáutica nesta área.
O CTA é o órgão central do Sistema de Metrologia Aeroespacial
(SISMETRA), e o IFI, o encarregado da consecução desses objetivos, através da
confecção de diretrizes, normas técnicas, avaliações, levantamento de
necessidades, apoio metrológico, cadastramento, etc. Para apoiar esta implantação,
o IFI conta com o Laboratório Central de Calibração (LCC), que é o conjunto dos
laboratórios mais capacitados, dentro da estrutura funcional do CTA, nas grandezas
metrológicas de interesse do Comando da Aeronáutica. O LCC detém padrões
primários rastreados junto ao Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (INMETRO) e à USAF (United States Air Force), e está apto a prestar, sob
consulta, serviços de calibração nas áreas de: Corrente Contínua (DC); Corrente
Alternada (AC); Resistência (AC); Força; Massa; Pressão; Temperatura e
Dimensional de Comprimento.
A Certificação de Produto Aeroespacial tem por atribuição verificar a
adequação de produtos aeroespaciais de emprego militar para os fins previstos,
tanto do ponto-de-vista da segurança como da sua eficácia no cumprimento da
missão.
As atividades relacionadas com as empresas da indústria aeroespacial podem
ser descritas como: análises técnico-administrativas; auditorias dos sistemas de
qualidade implantados para a produção; estruturação dos bancos de dados
cadastrais para produtos aeroespaciais e seus fornecedores; qualificação e
certificação de operadores em ensaios não-destrutivos; aperfeiçoamento e
certificação de profissionais nas áreas de sistemas e auditorias da qualidade.
Entre tantas outras tarefas, paralelamente, surge a Certificação de Sistemas
de Gestão, que fornece a base para várias ações da iniciativa privada ou
governamental, elaborando, atualizando e divulgando normas técnicas para o setor
aeroespacial, e, ainda, realizando o assessoramento normativo. Os serviços
prestados visam promover a qualidade no Comando da Aeronáutica e nas empresas
por meio dos seguintes recursos: Sistema da qualidade; Preparação de Auditores;
Metrologia Linear e Qualificação para ensaios não-destrutivos.
156
Para cumprir sua missão, o Instituto conta ainda com uma Vice-Direção,
composta pelas Coordenadorias de Planejamento e Controle, Recursos Humanos,
Informática, Organização e Métodos, Ciência e Tecnologia, Coordenadoria Espacial,
Divisão de Administração, Assessoria de Comunicação Social e Assessoria Jurídica.
Por sua vez, a Divisão de Fomento Industrial foi, no passado, responsável
pela nacionalização de produtos de suma importância para que a Indústria
Aeroespacial Brasileira atingisse o estágio atual de desenvolvimento. Para
exemplificar, citamos a seguir alguns dos projetos que foram conduzidos pela antiga
Divisão de Fomento:
• Nacionalização de motores aeronáuticos;
• Pontes de embarque dos aeroportos;
• Moto-planador;
• Guincho para lançamento de planadores.
Com as restrições orçamentárias aplicadas pelo Governo Federal, ao longo
dos anos, houve uma quebra no ciclo das atividades, até o desaparecimento da
Divisão e a absorção das principais atividades por outros setores do IFI (Instituto de
Fomento e Coordenação Industrial). Com o passar do tempo, tais atividades foram
perdendo prioridade, até que se chegou a uma condição em que era muito difícil
manter informações confiáveis sobre a Indústria Aeroespacial Brasileira.
Figura 25 – Divisão de Fomento e Coordenação Aeroespacial do IFI
Fonte: IFI, 2007.
157
Conhecedora do problema, e devido às necessidades de informações para
fazer frente às atividades sob a responsabilidade do Instituto, a Direção do então
Centro Técnico Aeroespacial recriou, a partir de 1999 a Divisão de Desenvolvimento
Industrial (FDI), e as atividades sob responsabilidade da antiga Divisão de Fomento
Industrial foram adequadas para atender às atuais necessidades do mercado.
Em 2005, a FDI passou a chamar-se Divisão de Coordenação e Fomento
Aeroespacial (CFA), com atuação nas áreas de:
• Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica, por meio da
Subdivisão de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica
(CFA.ST) , que tem por atribuição a execução de ações, em benefício
do setor Aeroespacial, decorrentes de acordos de compensação
industrial e tecnológica, e a atuação no levantamento de necessidades,
na negociação de acordos, na verificação de seu cumprimento e na
validação dos créditos decorrentes.
• Fomento Industrial, por meio da Subdivisão de Coordenação e
Fomento Industrial (CFA.SF), que tem por atribuição a execução da
análise e o cadastramento de empresas e órgãos que compõem o
Setor Aeroespacial, bem como de seus produtos e serviços, com a
finalidade de apoiar o desenvolvimento industrial, visando, ainda, a
análise de pertinência de empresas, produtos e serviços quanto a
incentivos fiscais.
• Mobilização Industrial, por meio da Subdivisão de Mobilização
Industrial e Catalogação (CFA.SI), que tem por atribuição a execução
de ações que possibilitem a adequação da capacidade industrial para o
atendimento das necessidades de mobilização do Comando da
Aeronáutica, bem como a atualização e a catalogação de empresas do
Setor Aeroespacial. Visando a sua constante atualização para um
eficaz apoio ao desenvolvimento tecnológico do setor aeroespacial, a
Divisão conta, também, com o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT),
responsável pelo apoio às atividades de proteção da propriedade
industrial e a transferência de tecnologias desenvolvidas no âmbito do
Comando da Aeronáutica, dessa forma, ao cumprimento da
recentemente aprovada Lei de Inovação (Lei Nr 10.973/2004).
158
Segundo a mesma fonte, a FAB acredita que as empresas do Setor
Aeroespacial venham a somar esforços de forma a que o IFI possa manter
atualizados seus cadastros, com vistas a atender às necessidades do Governo, bem
como possibilitar novos negócios às empresas brasileiras do ramo aeroespacial.
Cumpre salientar, por fim, um aspecto comum a esses centros de excelência
da FAB, qual seja a proximidade física uns dos outros, nas cidades de São Paulo e
São José dos Campos. Sem dúvida, um aspecto facilitador, não só pela pequena
distância, mas também por estarem localizados junto ao Núcleo Central brasileiro,
onde estão localizados os principais centros de C&T, P&D e logística, favorecendo o
ensino e as atividades operacionais e de apoio.
2.7 EXEMPLOS DE OUTROS PAÍSES
De acordo com a pesquisa conduzida junto aos adidos militares brasileiros em
alguns países amigos, realizou-se um levantamento sobre aspectos no
relacionamento das FA daqueles países com as respectivas BID.
Os países96 estudados foram Espanha, Alemanha, Rússia, Itália, Portugal,
França, Reino Unido, Polônia, EUA, Argentina, Chile, Venezuela, China, Israel, Irã e
África do Sul. O foco de estudo, pela vasta quantidade de informações e diferentes
abordagens e respostas dos diferentes países, foi o Reino Unido.
Os aspectos extraídos daquela pesquisa97 que foram considerados relevantes
para estudo no momento da escrituração desta tese são os seguintes:
O MD daqueles países coordena diretamente a obtenção de PD e MEM para
as FA daqueles países e, em alguns casos, para as Forças de Segurança por meio
de departamentos ou diretorias ministeriais que regulam as aquisições e pesquisas
das FA. Esta constatação permite indicar uma tendência natural (por semelhança e
intercâmbio com os demais países) do MD brasileiro assumir esta tarefa em médio
prazo.
96 Muitas informações foram obtidas nesta pesquisa. O autor destaca as principais, suscitando a outros pesquisadores militares que prossigam no tema em função do vasto campo de pesquisa que se apresenta nesta área. Nota do autor. 97 O levantamento de informações da pesquisa se encontra parcialmente colocado como apêndice a esta dissertação, sendo mais bem referenciado no referencial metodológico. Aquela pesquisa foi conduzida em um período inicial do trabalho, vindo a abrangir um espectro muito amplo de informações para o tema desta tese. As respostas obtidas, e não-incluídas no presente estudo, estão à disposição para novos estudos de pesquisadores civis e militares. Nota do autor.
159
Partindo daquele pressuposto, cabe discutir se a provável integração no
modelo brasileiro deverá ser feita desde o MD para as forças ou, partindo-se da
solução de cada força singular, encontrar aquela que melhor atenda aos anseios do
setor de defesa do Estado e adaptando-a para o todo do ministério e para as demais
forças singulares posteriormente.
O caminho escolhido na redação desta dissertação parte da idéia (ou
pressuposto) da possibilidade de se encontrar uma solução que contemple o
relacionamento entre o EB e a BID em caráter inicial, atendendo as necessidades
específicas de ambos os atores. Justifica-se esta escolha pela especificidade da F
Ter (Força de maior penetração no território nacional e que exigiria um menor grau
de investimento inicial para o desenvolvimento de MEM nacional), pelo médio grau
de avanço tecnológico da maioria da BID na atualidade (que a aproxima do
Exército), bem como pela não-exigência da criação de novas estruturas no âmbito
do MD, que enfrentariam dificuldades naturais para o seu estabelecimento e
afirmação por mais alguns anos.
As informações recebidas não contemplam os detalhes de “como” cada país
relaciona as necessidades de suas FA com as capacidades e interesses específicos
e naturalmente variáveis de suas indústrias. São assuntos complexos, a maioria das
vezes revestida por um compreensível elevado grau de sigilo para não revelar as
intenções e/ou limitações na composição das estruturas e equipes de trabalho98.
2.7.1 Exemplo Francês
A França contempla o estudo desse campo com uma estrutura denominada
‘Departamento Geral de Armamento’ (DGA). Ela está estruturada ao mesmo nível
hierárquico das forças singulares francesas, sendo o organismo responsável pela
obtenção de PD ou MEM para as FA francesas. Desempenha um papel fundamental
na interface entre a indústria, centros de pesquisa, governo e as forças militares,
facilitando e agilizando os processos que envolvem orçamento, desenvolvimento,
suprimento e RH, dentre outros.
Segundo Souto99 (2006), a decisão da criação do DGA pode ser considerada
como histórica e de sucesso para o governo francês, pois foi feita para vencer as
98 Esta foi uma conclusão do estudo das respostas recebidas dos adidos militares. Nota do autor. 99 Palestra do CTEx, Painel sobre Tecnologia Militar realizado no 38º Fórum Dinheiro Vivo – Projeto Brasil, São Paulo, novembro de 2006. Nota do autor.
160
imposições dos EUA quanto ao comércio de PD ao longo do século XX e na
atualidade.
Robins100 (2006) destaca o papel do DGA em proporcionar sinergia entre as
atividades combatentes e as atividades civis, entre a tecnologia civil e a militar,
evidenciando o caráter dual. Os programas civis buscam focar o controle, a
administração e engenharias concorrentes, enquanto aqueles de natureza militar
exigem alto desempenho, tecnologia avançada, arquitetura de sistemas complexos,
privilegiando a interface homem/máquina, exemplificando com a aeronave ‘Rafale’.
O DGA possui atualmente alguns campos de ‘fertilização’ em que realiza
atividades de P&D, tais como: informática, robótica, mecatrônica, fotônica, química e
biologia. O departamento se liga com grandes escolas que se constituem muito mais
do que universidades e centros de pesquisa, destacando-se a “Escola Politécnica” e
a Escola de Toulouse. Os programas de estudo são determinados pelo DGA,
buscando-se demonstradores tecnológicos, envolvendo pesquisas exploratórias e
inovação.
O DGA, complementa Robins, participa do esforço europeu para fazer frente
à Ásia e aos EUA no contexto mundial. A participação ocorre em um programa-
quadro de longa duração, de esforço em P&D, com emprego de tecnologia dual. Os
principais esforços são conduzidos para o estudo do genoma, informática,
nanotecnologia, aeronáutica e espaço, e desenvolvimento sustentável. Existe,
também, um programa de parceria com instituições francesas com foco em
transferência de tecnologia para o desenvolvimento coordenado das diversas
regiões geográficas do país.
A “Escola Politécnica de Louzanne”, ao seu turno, coordena um programa de
recepção de pequenas tecnologias de grande risco, pois as indústrias européias
apóiam ‘nichos tecnológicos’.
O exemplo francês, como visto, é bastante fértil não só pela sua estrutura,
mas também pelos resultados alcançados, como por exemplo, o sucesso da
empresa “AIRBUS”, consórcio europeu na aeronáutica. Considera-se interessante
um aprofundamento posterior no estudo da composição das suas equipes
multidisciplinares e como elas conduzem os trabalhos rotineiramente, com o intuito
100 Yves Robins, vice-presidente da “Dassault Aviation” durante painel sobre Tecnologia Militar realizado no 38º Fórum Dinheiro Vivo – Projeto Brasil, São Paulo, novembro de 2006. Nota do autor.
161
da confirmação de padrões de trabalho e de pensamento que possam ser adaptados
para a realidade brasileira.
Acredita-se que o custo de criação e manutenção de uma estrutura como o
DGA seja elevado e de longo prazo, porém, este autor entende que não há valor que
pague Soberania e Independência Nacional.
2.7.2 Uma Referência Norte-americana
O exemplo da atuação dos EUA nessa área é amplo e profundo demais para
uma análise sumária. Para tanto, cumpre referenciar tão somente um aspecto, que
se considera importante para o raciocínio do presente estudo.
Entende-se que a iniciativa norte-americana no estabelecimento do “Industrial
College of Armed Forces” (ICAF), em 1924, se constituiu em um dos principais
elementos que proporcionaram sucesso na aproximação entre o mundo civil e o
mundo militar em busca de soluções logísticas, operacionais e de P&D para o
atendimento das necessidades de Defesa daquela nação. A participação vitoriosa
dos EUA em grandes conflitos mundiais e a liderança que exercem no mundo
globalizado são reflexos dessa assertiva.
Segundo o estudo realizado, a missão do ICAF é preparar militares e civis
selecionados para a condução de estratégias de liderança e de sucesso no
desenvolvimento da estratégia de segurança nacional e sua evolução, organizando
e gerenciando recursos na execução daquela estratégia.
[…] “Mission – The Industrial College of the Armed Forces mission is to prepare selected military and civilians for strategic leadership and success in developing our national security strategy and in evaluating, marshalling, and managing resources in the execution of that strategy. […] (sítio do ICAF na rede mundial de computadores, acesso em 28 de junho de 2007)
O ICAF está inserido no contexto da “National Defense University” (NDU) e,
sob a direção do Subsecretário de Defesa para Aquisições e Tecnologia, funciona
como o curso preparatório em RH para o ingresso na área de aquisições de PD do
Departamento de Defesa em associação com a “Defense Acquisition University”
(DAU).
[…] “ICAF awards its graduates a Master of Science degree in National Resource Strategy. In addition, at the direction of the Under Secretary of Defense for Acquisition and Technology [USD (A&T)], ICAF serves as the course provider for the Senior Acquisition Course directed by the Defense Acquisition Workforce Improvement Act. In this capacity, ICAF acts as a consortium college of the Defense Acquisition University (DAU). Both the USD (A&T) and DAU provide oversight of the Senior Acquisition Course to ensure its relevance to acquisition personnel as the highest level acquisition course in the Department of Defense”
162
[…] (sítio do ICAF na rede mundial de computadores, acesso em 28 de junho de 2007)
Atualmente, reflexo de uma perspectiva de integração entre entidades civis e
militares, aproximadamente 58% do corpo de alunos é composto por militares das
FA, 22% são oriundos do Departamento de Estado e Defesa, 10% provêm de outras
agências governamentais, 8% são militares estrangeiros e 2% são oriundos do setor
privado.
A adaptação desse “modelo” norte-americano para a realidade nacional
poderia ser um primeiro passo na formação balanceada (civis e militares) de RH
para tão relevante tarefa de integrar FA, no caso particular, o Exército, com o meio
governamental e empresarial sob o “guarda-chuva” do estudo de estratégias
logísticas de aquisição e P&D em PD e MEM. Entende-se que poderia se constituir
em um espaço adequado para a formação e o aperfeiçoamento de RH para uma
futura equipe de trabalho integrada do EB com a BID, bem como atender às
necessidades do MD nesse setor.
A junção da experiência acadêmica da ESG com a capacidade empresarial
da FIESP101 (e outras associações congêneres) poderia proporcionar os elementos
fundamentais para o estabelecimento de um “Colégio Industrial de Defesa” nacional.
2.7.3 A Experiência Britânica
Em visita de estudos ao Reino Unido (RU), em dezembro de 2006102, bem
como se usando dados obtidos na pesquisa com adidos militares, foi possível colher
subsídios para uma análise inicial do modelo inglês, utilizado como referência neste
trabalho. O estudo desse modelo não tem intenção de esgotar o assunto, ao
contrário, abordá-lo com cautela em função de sua complexidade, suas
particularidades e seu constante aperfeiçoamento.
O Ministério da Defesa ou “Ministery of Defence” (MoD) se constitui na
instituição estatal encarregada da coordenação do relacionamento entre as FA e a
BID. Atualmente, os principais órgãos subordinados passam por uma reestruturação
que tem por objetivo aproximar a estrutura logística com a estrutura de aquisições.
101 Referencia-se a FIESP por esta federação sediar o COMDEFESA, iniciativa louvável na busca de soluções integradoras para os temas de defesa no País, bem como pela condução do curso de gestão de recursos de defesa, em associação com a ESG, nos anos de 2006 e 2007. Nota do autor. 102 O adido do EB no RU naquela oportunidade era o Coronel Rodrigo Martins Prates. Nota do autor.
163
O desenvolvimento e aquisição de MEM pelo exército (FA) são coordenados
pelo MoD. Em alguns casos, o exército participa nos testes e avaliação técnica do
material. A aquisição de MEM para todas as Forças Armadas é feita,
exclusivamente, por meio da “Agência de Aquisições de Defesa (DPA)”, subordinada
ao MoD.
De acordo com informações da pesquisa realizada103, o MoD controla e
centraliza todas as ações entre as FA e a BID britânica. O Secretário de Defesa
(MoD) é responsável por suas ações junto ao Parlamento Britânico, que aprova e
fiscaliza os recursos destinados ao MoD.
O Ministro da DPA possui os seguintes encargos:
• Aquisições: a Política de Aquisições do MoD; o Programa de
Dotação de Material das Forças Armadas; o Programa de Alienação
de MEM das Forças Armadas; a aprovação de projetos de
Equipamentos e de Apoio Logístico; a aquisição e a alienação de
Material Nuclear (inclusive armamento); a Agência de Aquisições de
Defesa (DPA); as aquisições destinadas à Organização Logística
de Defesa (DLO); as questões e assuntos relacionados com a
Indústria de Defesa; a colaboração internacional na área de
aquisições.
• Ciência e Tecnologia de Defesa: a Política de Ciência e Tecnologia
de Defesa; a colaboração internacional na área de C&T de Defesa;
os Laboratórios de C&T de Defesa (DSTL); a empresa ‘QinetiQ’.
• Exportações: Política de Exportação de Material de Defesa; a
Organização de Serviços de Exportações de Defesa (DESO);
campanhas de Marketing para exportação de Material de Defesa.
O ministro da DPA possui três ministros subordinados: FA, Aquisições e
Assuntos de Veteranos (os dois últimos são subsecretários de defesa). Todos eles
são civis, escolhidos pelo Primeiro-Ministro entre os parlamentares de seu partido.
A “Organização de Exportação de Serviços de Defesa” – “Defence Export
Services Organisation” (DESO) é a responsável pelo relacionamento entre FA e BID,
especialmente para exportações, enquanto a DPA adquire, centralizadamente, os
MEM requeridos pelas distintas FA.
103 Respondida pelo então adido do EB no RU, Cel Hélio Bessa de Almeida Filho. Nota do autor.
164
A “Organização de Logística de Defesa (Defence Logistics Organisation –
DLO)” provê o apoio logístico para as três FA britânicas (Figura 25). Foi criada em
2000 e está sob um comando de um oficial-general do último posto, nomeado para
um período de cinco anos, sendo que ele possui o mesmo grau hierárquico e
funcional que os Chefes de Estado-maior das três Forças (Comandantes, no Brasil).
Cada FA, por sua vez, possui um diretor de logística, cargo exercido por um
oficial-general (nível divisão). Suas principais missões, além de assegurar a
capacidade logística corrente e futura, são: o planejamento logístico nacional
relacionado com a segurança e a defesa do país; o gerenciamento de recursos e de
equipamentos; o suporte contratual e político de vendas e aquisições internas e
externas de material de defesa; o gerenciamento dos sistemas de transportes,
comunicações e informações; a coordenação de transportes e movimentos de
pessoal e material; a aquisição e fornecimento de alimentação, munição,
combustíveis, óleos e lubrificantes; o fornecimento e a armazenagem de material
bélico e de intendência; serviços postais.
Confidence in Logistics
CommanderJoint Operations
CinC Fleet CinC Land CinC Strike
DG Logistics(Supply Chain)
DG Logistics
(Fleet)
DG Logistics
(Land)
DG Logistics
(Strike)
Defence
Communications
Services
Agency
Requirementsspecified in
Customer-SupplierAgreements
DLO Delivery Units
(Integrated Project Teams, Naval Bases, etc)
DLO Enabling Services
(Finance, Procurement, Personnel, Infrastructure,
Technical Services, Supply Chain Support, etc)
Figura 25 – DLO
Fonte: DLO, palestra aos adidos militares brasileiros no RU, Set 2006.
O Reino Unido, segundo informações da pesquisa conduzida com o adido
militar brasileiro, encontrou soluções políticas e economicamente viáveis no
equilíbrio às suas ações estratégicas e operacionais no que diz respeito aos
165
mecanismos que regulam o relacionamento entre as FA e a BID. O desafio se
encontra no gerenciamento logístico dentro do País, entre o que pertence ao
governo e o que cabe à iniciativa privada. O MoD exerce papel relevante, ao lado do
Parlamento Britânico, na coordenação e controle da Logística Nacional,
especialmente entre as FA e os fabricantes de material de defesa.
No que diz respeito aos principais aspectos legais e jurídicos que
impulsionam e/ou dinamizam a indústria britânica, a BID britânica conta com total
apoio e incentivo governamental. Além deste respaldo político, ocorre um efetivo
apoio direcionado para a indústria de defesa pela liberação de volumes
consideráveis de recursos financeiros para a P & D. Observa-se que ocorre um
direcionamento – ainda que velado – para aquisição e dotação de MEM
prioritariamente britânicos ou produzidos em consórcios internacionais com
indústrias locais, considerando-se as legislações vigentes nos acordos com a União
Européia (EU) e com os EUA.
O governo tem incentivado o estabelecimento de Parcerias Público-Privadas
(PPP) entre agências, órgãos governamentais e iniciativa privada no sentido de
dinamizar e desenvolver as melhores condições de investimentos no setor de
defesa. O MoD emprega o termo “The Public Private Partnership in the Ministry
of Defence”104, algo como ‘Parcerias Público-Privadas no Ministério da Defesa’.
Em relação ao apoio do povo aos assuntos relacionados à indústria de
defesa, constatou-se que população compreende muito bem os assuntos de defesa,
fruto do passado histórico de guerras do RU. A existência e a magnitude de sua
indústria de defesa são fruto do seu engajamento nos conflitos regionais e mundiais
ao longo da sua história, a qual conta com expressivo apoio da população britânica
em geral. Os pacifistas e as vozes discordantes não encontram eco no país. Há
várias associações e entidades civis e universitárias voltadas para o estudo e a
divulgação de temas relacionados com a Defesa e os assuntos Estratégicos,
inclusive no tocante à indústria de defesa, tais como a “Royal United Services
Institute” (RUSI).
Atualmente, registra-se o aumento expressivo do número de fusões e
associações de empresas produtoras de MEM, não só no Reino Unido, mas em toda
104 Links interessantes: http://www.ndi.org.uk/ http://jdin.janes.com/public/jdin/index.shtmlh http://www.dti.gov.uk/sectors_aerospace.html http://www.the-dma.org.uk/. Nota do autor.
166
a União Européia. No momento, a empresa ‘Thales’, a segunda maior contratada do
país no setor de defesa, constitui, na realidade, um conglomerado de empresas que
inclui: a antiga Avimo; a Pilkington Optronics; a Racal; a Shorts Missiles Systems; a
Thomson Marconi Sonar e a Thorn. O Ministério da Defesa britânico mantém estreita
ligação com a BID, particularmente por intermédio da DPA, a qual coordena as
Equipes Integradas de Projetos (EIP), em inglês, “Integrated Project Teams (IPT)”.
Como referenciado, as FA britânicas adquirem seu material da “Defense
Procurement Agency” (DPA) por meio da “Defense Logistics Organisation” (DLO).
Este modelo mostrou-se limitado, no entendimento deste autor, por separar o
planejamento e a execução das fases da logística (determinação das necessidades,
obtenção e distribuição). O relatório da revisão da estratégia industrial de defesa
ocorrida em dezembro de 2005 recomendou a combinação (ou junção) entre a DPA
e a DLO para formar uma nova e integrada organização (Figura 26) de obtenção e
de apoio logístico, uma única entidade responsável (ainda em processo de
definição) pela obtenção, manutenção e controle das capacidades militares.
Confidence in Logistics
Joint Working with theJoint Working with theDefence Procurement AgencyDefence Procurement Agency
IPTs accountable to both organisations, for the whole acquisition cycle
IPTs managing common groups of equipment now clustered together
Where possible, common support processes or functions, for example:
» Single Technical Director
» Joint enabling services
» Common reporting templates
» Common working processes
Figura 26 – DLO/DPA
Fonte: DLO, palestra aos adidos militares brasileiros no RU, Set 2006
É interessante verificar a informação que segue: o DLO e a DPA se unem nas
aquisições (3 Jul 06) – um novo caminho para assegurar que as FA britânicas
tenham o melhor equipamento pelo preço justo foi revelado pelo Secretário de
167
Estado para a Defesa, Des Browne. No mês de dezembro de 2005, a Estratégia
Industrial de Defesa estabeleceu desafios para a BID e para o Ministério da Defesa.
Na oportunidade, o MoD responde pela publicação do relatório de modificações para
aquisições (de MEM). O relatório conduz uma revisão das estruturas atuais,
organizações e processos, para maximizar a habilidade do MoD no objetivo-chave
daquela estratégia, qual seja – gerenciamento das capacidades do MEM durante
todo o ciclo de vida – com foco nos custos e capacidades do equipamento durante
toda sua vida, não somente nos custos da oportunidade de sua aquisição. O
relatório recomenda a ‘união’ dessas organizações para formar uma nova e única
entidade responsável pela compra, manutenção e preservação das capacidades
militares.
[…] “DLO and DPA to merge in acquisition shake up (3 Jul 06) – A new blueprint to ensure the UK’s Armed Forces get the best equipment at the right price was unveiled today, 3 July 2006 by Secretary of State for Defence, Des Browne. In December, the Defence Industrial Strategy (DIS) set challenges for both industry and the MoD. Today, as its response to that challenge the MoD is publishing its 'Enabling Acquisition Change Report'. The report reviews current structures, organisations and processes in order to maximise the MoD’s ability to deliver a key objective of the DIS - Through Life Capability Management – which focuses of the costs and capabilities of equipment throughout its life, not just purchase price. The report recommends the merger of Defence Procurement Agency and Defence Logistics Organisation to form a new integrated procurement and support organisation a single entity responsible for the procurement, maintenance and containment of military capability”. […] (Sítio da Defence news na rede mundial de computadores, acesso em 28 de junho de 2007).
2.7.3.1 Equipes Integradas de Projeto
Conhecidas em inglês pela sigla IPT (Integrated Project Teams), essas
equipes funcionam como as células que permitem a concepção e o desenvolvimento
(matricial) de programas e projetos de PD e MEM no Reino Unido. O seu conceito
serviu de inspiração inicial na busca de uma solução nacional para efetivar a
necessária e urgente integração entre o Exército e BID para o fornecimento de MEM.
As IPT estão voltadas para o acompanhamento de projetos de aquisição de
MEM pelo MoD desde a sua concepção quando da Revisão da Estratégia de Defesa
do Reino Unido em 1998. Naquela oportunidade, necessitava-se de um elemento
que fosse capaz de acelerar o processo de aquisição e integração de um
determinado MEM às FA.
Para tanto, as IPT foram criadas.
[…] A key concept underlying the Ministry of Defence's (the Department's) 1998 Strategic Defence Review was to establish a seamless through-life system for
168
acquiring defence equipment - Smart Acquisition. Integrated Project Teams (IPTs) are a key enabler of Smart Acquisition. The introduction of IPTs has involved the reallocation of around 10,000 personnel into some 130 teams within 18 months. […] (Implementation of Integrated Project Teams, REPORT BY THE COMPTROLLER AND AUDITOR GENERAL – HC 671 Session 2001-2002: 14 March 2002)
A referência obtida em documentação do “National Audit Office” britânico
sobre a implementação das IPT permite verificar alguns conceitos importantes para
a apresentação desse assunto.
Figura 27 – Atuação da IPT ao longo do Ciclo de Vida do MEM
Fonte: Implementation of Integrated Project Teams, REPORT BY THE COMPTROLLER AND
AUDITOR GENERAL – HC 671 Session 2001-2002: 14 March 2002.
As principais tarefas (ou atribuições) de uma IPT são as seguintes:
A liderança tem a responsabilidade pela organização de uma equipe que
contenha os especialistas e o conhecimento necessário para gerenciar o projeto de
MEM. O equilíbrio de habilidades poderá variar de acordo com o andamento do
projeto em questão. A partir disso, determinam-se as funções e as
responsabilidades, quais sejam:
o Gerenciamento de requisitos: assegurar que os projetos preencham
os requisitos operacionais conforme foram definidos pelo ‘Diretor de
Requisitos de MEM’ em documentos de requisitos operacionais (‘User
Requirement Document’ – URD) e requisitos técnicos (‘Systems
Requirement Document’ – SRD);
o Gerenciamento de projeto: controlar o programa como um todo e
coordenar a remessa de relatórios ao líder da equipe;
169
o Engenharia do projeto: assegurar que o MEM entregue pela BID
preencha os requisitos de desempenho conforme estabelecidos no
USD e no SRD e se responsabilizar pelo monitoramento do
desempenho técnico do MEM enquanto estiver em uso na FA;
o Gerenciamento de apoio logístico: assegurar que o apoio logístico
esteja dimensionado para atender todos os estágios do ciclo de vida do
MEM;
o Gerenciamento comercial: assegurar que os interesses dos
departamentos das FA envolvidos sejam protegidos e que o contrato
com a indústria seja realizado pelo melhor custo-benefício em acordo
com os requisitos definidos previamente;
o Gerenciamento financeiro: assegurar a regularidade e a correção do
negócio comercial conduzido pela equipe e sua consistência com os
requisitos contábeis do governo e das regras financeiras do MoD;
o Membros da BID: como membros-chave da equipe pela maior parte
do ciclo de vida do MEM, espera-se que estejam plenamente
conscientes e engajados em reduzir os custos durante todo o ciclo e
aprimorar o tempo de resposta às eventuais necessidades.
[…] Integrated Project Team core roles: The IPT Leader is responsible for constructing a team that contains the specialist core skills and knowledge to manage the project. The balance of skills will vary according to the project's stage in its life-cycle. Requirements Management - Ensuring that the projects take proper account of the Director of Equipment Capability (DEC)'s operational requirements as recorded in the User Requirement Document (URD) and Systems Requirement Document (SRD). Project Management - Managing the overall programme and co-ordination between those reporting directly to the IPT Leader. For example co-ordination of production of the Through Life Management Plan, defining the optimum procurement strategy, risk management across the project and performance monitoring. Project Engineering - Ensuring that the equipment delivered by industry fulfils the performance requirement as laid down in the URD and SRD and for technical monitoring of equipment performance while in service. Support Management - Ensuring that logistic support functions are addressed to cover all stages of a project's life. Commercial Management - Ensuring that the Department's interests are safeguarded and that its contract with industry secures best value-for-money in meeting the Customer's requirement. Financial Management - Ensuring the regularity and propriety of the business conducted by the IPT and its consistency with the requirements of Government Accounting and Ministry of Defence financial regulations. Industry IPT members - As a core member of the IPT for most of the project's life, Industry is expected to be fully engaged in reducing whole-life costs and improving timescales.
170
[…] (Implementation of Integrated Project Teams, REPORT BY THE COMPTROLLER AND AUDITOR GENERAL – HC 671 Session 2001-2002: 14 March 2002)
A atuação do líder da IPT é fundamental e para tanto recebe uma declaração
de delegação de autoridade delineando as suas responsabilidades e limites de
atuação. Uma ‘Delegação de Autoridade’ atribuída a um líder de uma IPT inclui,
normalmente: direção do negócio, fontes de orientação, autoridade pessoal
delegada, autoridade comercial delegada, autoridade financeira delegada,
permissão governamental para gastos, gerenciamento de materiais, autoridade de
segurança delegada e autoridade de proteção delegada.
[…]The IPT Leader's Delegated Authority - The IPT Leader receives a letter of delegation outlining his responsibilities and boundaries of empowerment. The IPT Leader's Letter of Delegation includes: Conduct of Business Sources of Advice Delegated Personnel Authority Delegated Commercial Authority Delegated Financial Authority Government Procurement Card Inventory Management Delegated Security Authority Delegated Safety Authority […] (Implementation of Integrated Project Teams, REPORT BY THE COMPTROLLER AND AUDITOR GENERAL – HC 671 Session 2001-2002: 14 March 2002
Figura 28 – Exemplo de IPT (Join Integrated Project Team)
Fonte: “Future Artillery Weapon Systems”, Londres, 2004.
171
Cada IPT possui uma constituição específica em função do MEM, dos seus
objetivos e da atividade que desempenha. Verifica-se pelo exemplo da Figura 28,
que diz respeito a produção de novas armas para a Artilharia.
O modelo inglês de IPT é bastante complexo, porém segundo os relatórios
apresentados tem se mostrado eficiente, permanecendo na estrutura do MoD após a
reorganização que agregará DPA e DLO conforme pôde ser observado na figura 26.
Uma possível definição para IPT, retirada de outro contexto, com caráter
ilustrativo, é a seguinte:
[…] 'Integrated Project Team' is […] term for a fully integrated collaborative team: a single team focused on a common set of goals and objectives delivering benefit for all concerned; a team so seamless, that it appears to operate as if it were a company in its own right; a team, with no apparent boundaries, in which all the members have the same opportunity to contribute and all the skills and capabilities on offer can be utilised to maximum effect. This IPT removes the barriers between design and implementation, enabling all parties to be involved in discussion on the principles which will affect them, enabling high-quality decisions to be made on the basis of all the implications throughout the lifetime of the facility in question. […] (Sítio ‘Strategic Forum for Construction Integration Toolkit’ na rede mundial de computadores, acesso em 28 de junho de 2007)
Ou seja, o IPT é um time integrado e colaborativo, focado em objetivos
comuns e que pretende beneficiar a todos os envolvidos; uma equipe praticamente
sem hierarquia, que aparenta operar como se fosse uma companhia pessoal; uma
equipe, aparentemente sem fronteiras, na qual todos os membros têm a mesma
oportunidade de contribuir e todas as habilidades e capacidades são oferecidas e
podem ser utilizadas para produzir o efeito máximo. Esta equipe sobrepõe as
barreiras entre a concepção e a implementação, permitindo a todas as partes estar
envolvidas na discussão dos princípios que afetarão a todos, proporcionando
decisões de alta qualidade baseadas em todas as implicações que poderão ocorrer
durante o período do ciclo de vida do assunto/tema (MEM, no caso deste estudo) em
questão.
2.8 TEORIAS E MODELOS
Na busca do entendimento e do significado desses aspectos, cumpre
conduzir uma breve revisão conceitual em ambos.
172
2.8.1 Teorias
A teoria, segundo Martins (2003), pode ser entendida como um conjunto de
conhecimentos com graus diversos de sistematização e credibilidade que se propõe
a explicar, elucidar, interpretar e unificar um dado domínio de fenômenos sociais.
O mesmo autor complementa:
[...] “A busca da compreensão e de explicações mais abrangentes a respeito da realidade, conduzida por um processo de investigação científica, pode conduzir à formulação de leis e teorias. [...] O objetivo da teoria é o da reconstrução conceitual das estruturas objetivas dos fenômenos, a fim de compreendê-los e explicá-los. Dentro do contexto da pesquisa, as teorias orientam a busca dos fatos, estabelecem critérios para a observação, selecionando o que deve ser observado como pertinente para se testar hipóteses e buscar respostas às questões de uma dada pesquisa. As teorias não apenas servem de instrumento que orienta a observação empírica, como também de “modelização que fornece um quadro heurístico à pesquisa” (Bruyne et al, 1977, p.109), habilitando o pesquisador a perceber os problemas e suas possíveis explicações. As teorias apresentam-se como um quadro de referência, metodicamente sistematizado, que sustenta e orienta a pesquisa. [...] (Martins, Teorias e Modelos nas Ciências Administrativas, pág. 3, 2003)
A função mais importante de uma teoria é explicar o por que, como e quando
os fenômenos ocorrem, sistematizando e dando ordem ao conhecimento sobre um
fenômeno da realidade. Também, uma função da teoria – associada com a função
de explicar – é a da predição. Predição significa fazer inferências sobre o futuro,
orientar como um fenômeno vai se manifestar ou ocorrer, dadas certas condições.
2.8.2 Modelos
O conceito de modelo, por sua vez, é apresentado como sendo o conjunto de
conhecimentos sobre a estrutura e/ou comportamento de um sistema com a
finalidade de explicar e prever, de acordo com teorias científicas bem formuladas, as
propriedades do sistema. É lícito, segundo Martins (2003), afirmar que um modelo
representa a teoria de um sistema.
Cumpre, para o entendimento do objeto de estudo, fazer-se uma distinção
entre modelos científicos e não científicos. De acordo com Vera (1983) apud Martins:
[...] Um modelo não-científico é uma miniatura – mais ou menos escalarmente relacionada – de um objeto real ou imaginário. Exemplos deste tipo de modelos são as representações tridimensionais de barcos em agências de viagem, das bonecas de uma menina; avião que constrói um menino com seu ‘Mécano’. O uso vulgar do termo encerra mais duas significações: o modelo como arquétipo digno de ser imitado e o modelo como cópia da realidade. Um exemplo do primeiro pode ser o vestido da moda e do segundo, o quadro de um pintor. [...] (Vera, Armando Asti. Metodologia da Pesquisa Científica, 1983)
173
Martins (2003) relata que não pode ser considerado um modelo científico tudo
o que pode ou deve ser imitado, ou um exemplo, por mais complexo que se
apresente. Modelo e exemplo são sinônimos apenas na linguagem comum. A
utilização de modelos na pesquisa apresenta característica um pouco diferente, em
acordo com o plano científico adotado. No campo das ciências fáticas, por
exemplo, os modelos só são considerados válidos se resistirem ao confronto
com os fatos, isto é, se forem verificados. A história das ciências naturais oferece
uma dialética constante entre os dados e os modelos formais.
Segundo Vera (1983) apud Martins:
[...] Nas ciências biológicas possuem-se muitos dados, mas poucos modelos teóricos (esta desproporção é ainda mais notória na medicina). Na economia verifica-se a relação inversa: bons modelos teóricos, mas falta de dados que os corroborem. Nas ciências de fatos, o êxito depende de uma boa relação entre modelos e dados. [...] (Vera, Armando Asti. Metodologia da Pesquisa Científica, 1983)
Martins (2003) complementa relatando que o entendimento do referido autor
pode ser, com propriedade, estendido a outras disciplinas das ciências factuais
como a Administração, Educação, Contabilidade etc. Constantes aproximações
entre os dados e os modelos constituem o mote da investigação científica dessas
áreas do conhecimento social. O sentido pedagógico do uso dos modelos é comum.
O mesmo autor relata que a validade de um modelo no campo das ciências
fáticas deve ocorrer pela verificabilidade – confronto com os fatos. A verificação não
converte o modelo em ‘verdadeiro’ ou ‘falso’. Os modelos não são nem
verdadeiros nem falsos, são apenas mais ou menos adequados para certos
usos. O valor e a significância de um modelo não são dados por algo intrínseco:
dependerão do campo no qual vai ser aplicado, isto é, não será verdadeiro nem
falso, mas sim útil ou inútil.
Conforme Vera (1983) apud Martins:
[...] A drástica diferença entre um modelo e uma teoria, ou entre um modelo e a realidade, pode-se destacar mediante um par de expressões: o modelo não é a realidade nem a teoria, deve-se entendê-lo como se fosse essa realidade ou essa teoria. O modelo se parece com aquilo do qual é um modelo apenas em sua estrutura: todas aquelas características do sistema alheias à sua estrutura também o são com relação ao modelo. (Vera, 1983)
Entende-se, fruto do estudo e da pesquisa ao longo da preparação desta
tese, o cuidado que deve haver na construção de um modelo simbólico para evitar a
supervalorização da ‘matematização’ e da ‘tecnificação’, que poderá conferir um
prestígio excessivo ao modelo. Busca-se evitar isso, neste trabalho em curso.
174
Segundo Mazzon (1978), modelo pode receber vários significados, tais como:
• Uma forma de obtenção de conhecimento;
• Utilizado com objetivo de analisar, explicar ou prever comportamento
de fenômenos;
• Uma estruturação simplificada da realidade que supostamente
apresenta, de forma generalizada, características ou relações
importantes;
• Uma aproximação subjetiva, já que não inclui todas as observações, de
elementos da realidade;
• A compreensão de características do mundo real de forma mais
simples, acessível, observável, relativamente fácil de serem
formuladas ou controladas, da qual se podem extrair conclusões
que, por sua vez, podem ser reaplicadas ao mundo real.
Esse autor elucida as funções e etapas que um modelo pode desempenhar,
quais sejam: SELETIVA, permitindo que fenômenos complexos sejam visualizados e
compreendidos; ORGANIZACIONAL, que corresponde à classificação dos
elementos da realidade segundo um esquema que: (a) especifique adequadamente
as propriedades ou características do fenômeno; (b) que tenha categorias
mutuamente exclusivas e exaustivas; FERTILIDADE, evidenciando outras
aplicações em distintas situações evidenciando eficiência; LÓGICA, permitindo
explicar como acontece determinado fenômeno – poder de explicação;
NORMATIVA, permitindo prescrições e SISTÊMICA.
As etapas, ao seu turno, são:
• CONCEITUALIZAÇÃO - busca de teorias que possam ajudar a
explicar o fenômeno que está sendo representado.
• MODELAGEM, que se constitui em um processo de lapidação e
enriquecimento através da elaboração de representações mais simples
e eficazes ou de um processo de estabelecimento de associações ou
analogias com estruturas teóricas previamente desenvolvidas;
• SOLUÇÃO DO MODELO OPERACIONAL – Refere-se à
interdependência entre o modelo operacional do sistema e a solução
obtida ou desejável;
175
• IMPLEMENTAÇÃO – Adoção dos resultados obtidos pela solução do
modelo operacional. Evidencia um processo de transição, mudança
organizacional, exigindo adaptação. Deve ser um processo contínuo ao
longo de todas as fases do fluxo de trabalho;
• VALIDAÇÃO – Capacidade de explicação e de previsão do modelo.
Indicadores de eficácia das etapas de conceitualização, modelagem,
solução e implementação.
Para se trabalhar a conceitualização, no que cabe ao entendimento do
relacionamento entre o Exército e a BID, buscando-se desenvolver uma proposta de
equipe integrada de trabalho, entende-se que ela dependerá da visão de mundo do
pesquisador (cosmovisão – entendimento sobre o homem, a sociedade, a
organização), do nível de abstração requerido, da capacidade de pensamento em
termos globais e intuitivos – ‘pensamentos divergentes’, da capacidade de formular
conceitos, definições, constructos, postulados, problemas relevantes ao
conhecimento da realidade sob investigação.
Este autor considera importantíssimas para esta tese as considerações que
Mazzon (1978) apud Martins faz sobre modelagem e solução do sistema
operacional, que são as seguintes:
• Não há um padrão a ser seguido para construção de modelos;
• O processo de enriquecimento ou de elaboração começa com modelos
bastante simples, procurando-se mover em sentido evolutivo para
modelos mais elaborados;
• A atividade de modelagem não pode ser entendida como um processo
intuitivo ainda que contenha uma forte componente de arte. O processo
de modelagem deve ser entendido dinamicamente em termos de uma
compatibilidade tempo-espaço e de um processo contínuo de
enriquecimento – aprendizagem;
• Habilidades analíticas, minuciosas e formais;
• Capacidade de ‘pensamento convergente’;
• Trabalho engenhoso com categorias que auxiliam explicações,
particularmente, análise-síntese e indução-dedução.
176
2.9 “SOFT SYSTEMS METHODOLOGY”
2.9.1 Conceito
A metodologia “Soft Systems Methodology” (SSM) foi proposta por Peter
Checkland na Universidade de Lancaster, Inglaterra, em 1981, para uma
problemática organizacional. Ela surgiu como alternativa à discussão de problemas
‘soft’, que são mal definidos e que envolvem variáveis comportamentais que não
podem ser tratados adequadamente por metodologias ‘hard’, como a Pesquisa
Operacional (PO). Ela busca analisar, sob um enfoque sistêmico, uma problemática
organizacional real e extrair disso ações de melhoria para o próprio ‘mundo real’105.
Segundo Ferrari et al (2001), as metodologias “hard” são orientadas para os
problemas e objetivos estruturados, enquanto os problemas “soft” dos sistemas
sociais, muitas vezes, apresentam objetivos obscuros e mal definidos, que podem
ser analisados, de forma alternativa, com as metodologias do tipo “soft”. Algumas
práticas sistêmicas podem ser inseridas nessas metodologias.
As práticas sistêmicas são as aplicações do pensamento sistêmico para
iniciar e guiar ações do ‘mundo real’. Essas práticas são essenciais, pois a disciplina
de sistemas tem realmente este caráter de instrumento de análise de outros
assuntos e disciplinas. O estudo de sistemas não tem um fim em si mesmo, as suas
aplicações são seus objetivos maiores e também são fonte de renovação para este
pensamento.
Segundo Checkland (1981) apud Ferrari e outros, a SSM está posicionada em
um nível intermediário entre uma filosofia e uma técnica (Figura 29). A filosofia
contém guias amplos e não-específicos para as ações, normalmente tratando da
questão ‘o quê’ da situação. As técnicas, por sua vez, abrangem programas
específicos de ações, que irão produzir resultados padronizados, tratando ‘o como’
da situação. Essa metodologia possui elementos de ambos, não tão vaga a ponto de
não promover um direcionamento, nem tão específica, a ponto de limitar as ações de
aplicação.
105Necessita-se, na opinião deste autor, um imediato estudo do relacionamento entre o EB e a BID usando-se essa metodologia, com a finalidade de dar prosseguimento nesta linha de pesquisa. Nota do autor.
177
Figura 29 – SSM: entre filosofia e técnica
Fonte: Ferrari et al (2001).
2.9.2 Estágios
De acordo com a Figura 30 (Ferrari et al), nos dois primeiros estágios, faz-se
uma ‘fotografia’ ou ‘pintura’ da situação real em que ocorre a percepção do
problema. Deve ser feita minimizando-se a influência de estruturas pré-concebidas.
Busca-se verificar a estrutura, o processo e o relacionamento entre ambos.
Figura 30 – Estágios da metodologia SSM
Fonte: Ferrari et al (2001).
Examina-se a estrutura levando-se em conta o ‘layout’ físico, a hierarquia do
poder, os padrões de comunicação formais e informais. O processo, ao seu turno, se
refere às atividades básicas de decidir, fazer, monitorar e agir corretivamente,
178
quando necessário. Segundo os autores acima referenciados, o relacionamento
entre estrutura e processo indica o ‘clima da situação’, sendo uma característica
essencial na percepção dos problemas.
O terceiro estágio destaca alguns sistemas da situação descrita nos estágios
anteriores, que são considerados relevantes para o problema, bem como prepara
definições concisas sobre a natureza do(s) sistema(s). Nesse momento, a SSM
entra no âmbito do pensamento sistêmico. Os elementos destacados devem ser:
• Clientes: beneficiários ou vítimas, afetados pelas atividades;
• Atores: elementos que desempenham as principais atividades;
• Processo de transformação: os meios pelos quais as entradas são
transformadas em saídas;
• Visão de mundo que permeia os sistemas;
• Donos: aqueles com poder de criar os sistemas e de fazê-los cessar;
• Restrições do ambiente.
O quarto estágio é o responsável pela elaboração do modelo conceitual
capaz de atingir a transformação descrita no estágio anterior. Situado no ambiente
sistêmico, ele procura descrever como deveriam ser os sistemas relevantes para
a situação, hierarquizando os sistemas.
A partir da elaboração dos modelos conceituais, ocorre a necessidade de
validá-los através da comparação com um sistema formal e/ou outras conceituações
sistêmicas106.
O quinto estágio envolve a comparação da situação real (estágio dois) com os
modelos conceituais (estágio quatro). A comparação pode ser feita no nível ‘o quê’
e/ou no nível ‘como’, destacando-se, para tal, a aplicação da hierarquia dos
sistemas. Checkland destaca a importância da participação dos envolvidos no
problema com o objetivo de gerar debates sobre as possíveis mudanças que
possam ocorrer para minimizar a condição-problema.
Nos dois últimos estágios, faz-se a proposta de mudanças nos processos,
estruturas e atitudes, baseada nas comparações do estágio cinco. Entende-se que
as mudanças devem ser sistemicamente desejáveis e culturalmente viáveis para
106 Um sistema formal possui os seguintes elementos: missão, medida de desempenho, processo de tomada de decisão, subsistemas conectados, interação com o ambiente, recursos físicos e humanos e continuidade. (Ferrari et al, 2001). Nota do autor.
179
terem sucesso na sua implementação. Elas precisam ser advindas de uma boa
análise da situação real e do modelo conceitual elaborado.
Ressalta-se, porém, que o uso de estágios é apenas uma forma de
elucidação da SSM. O mais importante é o entendimento do relacionamento
entre eles107.
2.9.3 Aplicação
A SSM pode ser aplicada, segundo seu criador, em:
• Desenho de sistemas;
• Melhoria de situações com problemas mal definidos;
• Análise de eventos passados;
• Estruturação de avaliações – “SURVEY” – em determinada área de
atuação;
• Elucidação de conceitos.
Entende-se, segundo Checkland (1981) apud Ferrari et al, que a metodologia
se constitui em um processo contínuo, cujo principal resultado é a APRENDIZAGEM.
O papel da SSM é prover uma estrutura para a solução de problemas, pois o mundo
real entende que ela deve se tornar um meio para organizar as discussões, debates
e argumentos, melhor do que um meio de criar soluções eficientes.
Finalizando, cumpre citar que este referencial teórico surgiu no último terço do
presente estudo. Dessa maneira, uma das primeiras tarefas a ser proposta para a
equipe de trabalho integrada EB-BID deverá ser, na opinião deste autor, justamente,
a aplicação dessa metodologia com a finalidade de compreensão dos problemas em
comum desses atores e que carecem de uma melhor definição, mapeando-se o
sistema, analisando os eventos históricos e elucidando-se conceitos obscuros.
2.10 DESENVOLVIMENTO DE EQUIPES
2.10.1 Grupo de Trabalho
De acordo com Machado (1998) apud Reis et al, grupo de trabalho se
constitui em um sistema de relações entre pessoas que interagem e compartilham
107 Ferrari et al, ‘Uma aplicação da SSM à realidade de uma empresa brasileira’, V SEMEAD, FEA-USP, 2001. Nota do autor.
180
responsabilidades, procedimentos e normas na execução de tarefas, visando
objetivos que possuem em comum.
Existem ao menos três espécies de grupos formais de trabalho, conforme a
sua origem: grupo, força-tarefa e tripulação108.
Para o objetivo desta tese, conceitua-se tripulação, que ocorre, segundo Reis
(2005), quando a organização tem como foco uma tecnologia (ou capacidade) a ser
desenvolvida ou disseminada e para isso ela organiza (estrutura) um sistema
tecnológico ou projeto que precisa de pessoas para ser ‘operacionalizado’ ou
melhor, ‘tripulado’.
Os grupos podem ser permanentes e temporários em relação à vigência no
tempo. Entre os primeiros estão os comitês, as equipes gerenciais (como poderá vir
a ser o entendimento da EIT EB-BID) e os grupos que sobrevivem ao longo do
tempo nas organizações.
Figura 31 – ‘Fases da vida’ do IPT
Fonte: National Audit Office, IPT, UK, 2002.
108 McGrath et al, apud Reis, ‘Diversity in work teams – research paradigms for a changing workplace’, USA, 2002. Nota do autor.
181
Existem muitas variáveis que organizam o funcionamento dos grupos, quais
sejam: limite ou enquadramento, tamanho, dimensões de tempo e espaço,
realização de uma tarefa, finalidade, mecanismos de interação e papéis dos
integrantes.
Os grupos passam por vários estágios até que se transformem em
verdadeiras equipes (Figura 31). Esse conceito é fundamental para o entendimento
de uma proposta de integração entre o EB e a BID: ela deverá ser lenta e contínua,
inserida em um contexto de boa-vontade e apoio mútuo entre os atores.
Quanto ao aspecto comunicação, é importante o estudo dessa variável para o
entendimento de quanto a evolução e o desenvolvimento de equipes contribuem
para o seu fortalecimento. Algumas perguntas que podem ser feitas: qual o nível de
verdade em que as organizações operam? Como esta questão influencia o processo
de comunicação nas organizações?
2.10.2 Era Industrial e Era do Conhecimento
A Era Industrial caracterizou-se pela especialização. O pensamento analítico,
principal influenciador daquela era, reduzia tudo, criando um mundo limitado em
possibilidades. Segundo Reis e outros (2005), a empresa era dividida em
departamentos, estes em cargos que, por sua vez, eram divididos em tarefas. Criou-
se um ambiente de trabalho no qual as pessoas pouco aproveitavam seus potenciais
de inteligência. O baixo nível de comprometimento e de motivação encontrado em
várias empresas se dá porque as pessoas não vêem significado para os seus
trabalhos, fruto de uma abordagem ainda da Era Industrial.
[...] A principal prática para migrar para a ‘Era do Conhecimento’ é pensar sistemicamente. (grifo nosso) [...] (Reis et al, 2005)
A referência na Era do Conhecimento são as idéias. Trata-se de observação
contínua, questionamento constante, provocações inteligentes, enfim, a mente em
funcionamento. Segundo aqueles autores, o especialista não deve dar lugar ao
generalista, que sabe pouco de muito. Ele deve dar lugar ao ‘especialista sistêmico’,
aquele que consegue correlacionar a sua área de competência às outras áreas, ao
todo. O gerente dessa era é um ‘gerente cenarista’, que aprendeu a fazer leituras de
ambientes e a construir cenários109.
109 Esse gerente troca problemas por soluções, ameaças por oportunidades, sentimentos derrotistas por sentimentos otimistas, desespero por fé, ou seja, aprendeu a ‘voar alto’. (Reis et al, 2005).
182
A questão-chave dos problemas na Era do Conhecimento não está no
processo, mas nos ‘modelos mentais’ de quem lidera as empresas. Considera-
se, assim, aproveitar as práticas da Era Industrial nesta Era do Conhecimento. O
desafio desta era não está na modificação dos processos, mas antes em uma nova
maneira de perceber o mundo, novos modelos mentais.
2.10.3 Equipes de Trabalho
Segundo Reis et al (2005), as equipes são conjuntos de indivíduos reunidos
com o propósito (explícito ou não) de gerar sinergia, que ao seu turno, levará a
resultados melhores do que aqueles obtidos por meio da soma ou simples
agregação de resultados individuais.
A criação e o desenvolvimento de equipes de trabalho exigem grande esforço,
porque a formação atual dos profissionais contemporâneos focalizou, via de regra,
as responsabilidades e os desempenhos individuais, dificultando o reconhecimento
da necessidade de se trabalhar em equipe e a manifestação das atitudes e
habilidades para tal. Em uma equipe, embora exista distribuição de tarefas e cada
indivíduo deva ter responsabilidades diante de uma parcela do todo, a
responsabilidade pelos resultados e pelo alcance das metas é de todos os
componentes.
Por outro lado, Moscovici (1995), explica que equipes de trabalho são grupos
com objetivos comuns e compartilhados, nos quais os membros possuem
habilidades complementares, relacionando-se de forma aberta, comunicativa e
cooperativa para o alcance dos objetivos e resultados. Segundo Hackman (1987), a
verdadeira equipe é um sistema social complexo, com fronteiras definidas entre seus
membros, que operam dentro de um contexto organizacional e são responsáveis
pela execução de tarefas que resultam em produtos mensuráveis.
Existem algumas condições individuais e de contexto para que uma equipe
possa apresentar o resultado esperado pela organização e pelos próprios
componentes. No aspecto individual, surge a competência para trabalhar com outras
pessoas, para trabalhar em equipe e, particularmente, para trabalhar em uma
determinada equipe. No contexto, a condição básica para o surgimento de uma
equipe é a existência de um desafio significativo para todos os seus integrantes
– a sinergia entre o EB e a BID – ou seja, algo que desperte o potencial que existe
183
em cada indivíduo e polarize emoções e competência em sentido desejado, uma
meta.
Cita-se, uma vez mais, Reis et al (2005):
[...] A clareza dos objetivos, a comunicação aberta e o comportamento transparente, a busca de metas significativas, a informação clara e a exigência no cumprimento dos padrões acertados, o direcionamento dos esforços de todos para os objetivos, a confiança recíproca e a cooperação mutua [camaradagem, no meio militar], o compartilhamento de oportunidades e responsabilidades, a posse do conhecimento, a disposição para estabelecer alianças, o respeito às pessoas e a interação sinérgica fazem com que as equipes se tornem coesas e fortes. [...] (Reis et al, Desenvolvimento de Equipes, 2005, pág. 69)
As equipes, ao seu turno, sofrem influência de variáveis estruturais e
organizacionais pelo tamanho da equipe, organização (relações de dependência),
interações entre os integrantes, coesão grupal, competências, estrutura da tarefa,
políticas de valorização e recompensa, bem como os recursos disponíveis.
Segundo Parker (1995), existem equipes permanentes e equipes temporárias.
As equipes permanentes, enfoque de uma EIT EB-BID, têm objetivos duradouros e
normalmente fazem parte do organograma da empresa110, estando relacionadas
com os processos operacionais. Em relação à titularidade, existem equipes
funcionais e interfuncionais. Nas equipes interfuncionais, modelo buscado, os
membros possuem especialidades profissionais diversas e provêm de áreas ou
departamentos diferentes (EB, BID). Essas equipes são constituídas para formar um
conjunto de habilidades que nenhum indivíduo da equipe possui de forma isolada,
conferindo-lhe o caráter multidisciplinar. A equipe interfuncional é um grupo de
pessoas com um propósito claro representativo das mais diversas funções ou
especialidades da empresa – associação EB-BID – cujos esforços conjuntos são
necessários à consecução do objetivo da equipe.
As equipes de alto desempenho são aquelas que superam os padrões e
limites convencionais e surpreendem pelos resultados que conseguem obter. Partem
de expectativas elevadas, que funcionam como estímulos poderosos para a
motivação que possuem e servem como balizadores do desempenho que
apresentam. O que diferencia essas equipes é o comprometimento acentuado dos
elementos da equipe com seus pares (Katzenbach e Smith, 1994, apud Reis et al).
Equipes autogerenciadas, ao seu turno, são aquelas em que os membros
são responsáveis pelo cumprimento dos objetivos definidos para a equipe, fazendo
110 Há necessidade de estudar este aspecto na eventualidade da organização de uma equipe EB-BID pelos reflexos que existem na Lei para criação de cargos. Nota do autor.
184
eles mesmos os controles necessários para atingir os resultados esperados. Nesse
caos, a liderança não é de uma pessoa, um chefe, mas passa a ser exercida de
forma contingencial: quem domina mais o assunto que está sendo discutido poderá
ser o líder naquele momento; ou então, aquele mantém a melhor rede de relações
com possíveis parceiros em um determinado projeto poderá assumir a liderança. A
liderança, nessas equipes, tem a função de aglutinar os esforços, não visa controlar
os processos, pois isso é feito pelos próprios executores. Há necessidade, porém,
de maturidade pessoal e profissional, caracterizada por atitudes e habilidades que
levem a uma visão compartilhada da missão e que a equipe deve realizar ações
individuais convergentes para os objetivos comuns, acentuado espírito de
cooperação e, principalmente, competência para o gerenciamento de conflitos.
2.10.4 Estratégias e Ferramentas para a Formação e Desenvolvimento de
Equipes
De acordo com Amarú (1986) apud Reis et al, o desenvolvimento de equipes
compreende técnicas, ações e processos. O primeiro passo é a definição do perfil de
competências a ser adquirido pela equipe, para, então, serem escolhidas as
estratégias e as ferramentas que poderão levar a esse perfil.
As principais estratégias e ferramentas para dar suporte ao desenvolvimento
de equipes são:
• ‘Empowerment’;
• ‘Coaching’ (aconselhamento, ensinamento, monitoria, confrontação);
• Portfólio de desempenho (ferramenta de ‘feedback’).
A atribuição planejada de desafios – empowerment – é uma evolução do
conceito de delegação de autoridade (competência), segundo Reis e outros (2005).
Este termo é utilizado para designar o processo de delegação e atribuição de
tarefas, acrescido do poder para decidir sobre elas. O conceito traz, em si, as
mesmas características, exigências e dificuldades inerentes ao antigo e conhecido
processo de delegação, com a diferença que enfatiza a tomada de decisão do
indivíduo sobre as coisas que interferem diretamente sobre o seu
desempenho111, ou seja, enfatiza a autogestão.
111 Reis et al, 2005. Nota do autor.
185
Ressalta-se, porém, que as decisões estratégicas continuam a ser
tomadas pelos respectivos níveis estratégicos. O entendimento desse último
aspecto é fundamental para o funcionamento de uma equipe que reúne o EB e a
BID.
Segundo Reis et al (2005), o empowerment se constitui em uma prática que
decorre do processo de busca de competitividade que, ao forçar as organizações
a se transformarem112 para se adequar às exigências dos mercados externos, que
são complexos e dinâmicos – a guerra é um processo dinâmico – força-as também a
se voltarem para o seu público interno, em busca de agilidade, rapidez e inovações.
Ele se manifesta como um processo que oferece aos empregados a oportunidade de
decidirem sobre os seus próprios processos de trabalho e de participarem e
influenciarem o processo decisório de uma forma geral, mas que ainda reserva para
os níveis estratégicos as decisões estratégicas.
2.10.5 A Cultura Organizacional
A formação e o desenvolvimento de equipes de trabalho supõem a existência
de um processo, com ações planejadas, executadas de forma sistematizada,
acompanhadas e avaliadas periodicamente. Equipes bem formadas não surgem do
acaso, surgem de um processo longo, com planejamento adequado, direcionamento
e sabedoria na escolha dos procedimentos e na disponibilização do apoio adequado
para a sua formação e desenvolvimento.
A cultura organizacional pode estimular a formação e o desenvolvimento de
equipes ou funcionar como um entrave a elas. Em relação à proposta deste estudo,
espera-se algumas colocações do tipo, elencadas por Reis et al:
• ‘Isso é muito interessante, mas aqui não funciona’;
• ‘Deixa pra lá, você vai dar murro em ponta de faca’;
• ‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo’;
• ‘Cesteiro que faz um cesto, faz um cento’.
Segundo Reis et al (2005), há enorme dificuldade de mudar a cultura
organizacional que decorre da resistência das pessoas em abandonar seus
paradigmas, suas áreas de conforto, e enfrentarem o processo de mudança, que
112 Volta-se a pensar sobre ‘Projeto de Força’. Nota do autor.
186
deveria começar a partir delas. Dentro desse enfoque, entre as muitas condições
desejáveis para formar e desenvolver equipes, duas são essenciais:
• Adotar um modelo de equipe compatível com a cultura preexistente;
• Criar um clima de confiança na organização toda.
Entende-se que não seja fácil mudar a cultura de uma organização, por isso
há necessidade de cautela diante de acreditar que, de uma hora para outra, existirá
uma cultura propícia ao trabalho em equipe entre o Exército Brasileiro e a Base
Industrial de Defesa nacional, até mesmo pelas eventuais dificuldades do passado e
do presente.
Para tanto, convém observar a conclusão a que chegou o Centro de Estudos
Estratégicos (CEE) do EME em recente simpósio sobre obstáculos à modernização
do Exército Brasileiro:
[...] A questão da cultura organizacional merece atenção especial, pois se processa entre os muros do quartel, ou seja, é uma variável que pode ser muito bem trabalhada pelo próprio Exército, apesar de que os resultados transformadores não surjam em curto prazo. Quanto a isso, convém assinalar que as desejadas mudanças modernizadoras não visam a abalar os fundamentos basilares da instituição militar (hierarquia e disciplina); pelo contrário, preservando-os e reforçando valores que mantêm vivo o espírito militar, é perfeitamente exeqüível inovar a organização sem deformá-la quanto à destinação constitucional, válida em todos os sentidos. Para isso é imprescindível ficar claro que a liderança estratégica se apresenta como o principal fator para amalgamar a capacidade técnica da organização e para mobilizar a vontade de superação aos desafios, pois ação exigida é de longa duração. O empreendimento não se resolve somente com apelos à firme liderança. Destacadamente ainda é preciso o seguinte: visão de longo prazo, pensamento sistêmico (percepção das conexões organizacionais e suas articulações com o ambiente externo); compreensão da complexidade do todo; definição incisiva do que seja essencial à organização (em meios materiais e valores anímicos); mobilização do pessoal para sacrifícios; e foco nas hipóteses de emprego. [...] (Obstáculos à Modernização do Exército. Relatório de Simpósio. 26 a 28 de março de 2007, Brasília, DF. EME, 2007)
Naquele mesmo simpósio, Ferreira (2007) indica um importante aspecto a ser
mais bem explorado no Exército:
[...] Os estados-maiores realizam o planejamento estratégico. Para que ele seja coerente com os dados da realidade, é indispensável que o grupo encarregado de elaborá-lo não esteja enquadrado no “princípio do chefe” (Führerprinzip): “Não duvidar, não discutir, não divergir” do chefe [grifo nosso]. Este é um dos riscos por que passa o EB, a exemplo do que ora padece o Exército dos EUA. Esse mal remonta ao tempo do Ato Institucional Nr 17 (AI-17), quando se estabeleceram normas para a renovação do quadro de Oficiais (organizacionalmente, “isto é um mal, mais que um erro”). Essas ações consolidaram o “princípio do chefe”, desestimularam a crítica construtiva e reforçaram o caráter burocrático das Armas. Com isso, feneceu aquilo que até então era conhecido como disciplina intelectual [grifo nosso], que consistia na possibilidade de, no quadro de Oficiais, os subordinados colocarem em dúvida a exatidão das ordens, embora as cumprissem. A prevalência do “Führerprinzip” talvez seja o traço cultural que mais esteja dificultando a impulsão modernizadora necessária ao Exército. [...] (Ferreira, 2007)
187
Há necessidade de planos de ação que justifiquem e aperfeiçoem os
investimentos que serão feitos na realização do intento de mudança da cultura
organizacional.
Cumpre citar, também, as variáveis que interferem no desenvolvimento das
equipes:
• Condições existentes na cultura das organizações;
• Análise contínua de cenários;
• Autoconhecimento do ser humano;
• Habilidade na proposição da equipe por parte do gestor;
• Realização do ser humano por meio da educação continuada.
Esse é o enfoque inicial para a integração entre o Exército e a BID. Enquanto
os autores referenciados falam muitas vezes em indivíduos, busca-se, de certa
forma, um grau acima, envolvendo-se instituições distintas e heterogêneas por meio
de seus integrantes: o EB e um grupo de empresas nacionais produtoras e
fornecedoras de MEM associadas em uma base industrial de defesa. Será um
trabalho lento.
A sinergia, como ação simultânea de vários fatores que contribuem para uma
ação coordenada, aparece como uma conseqüência de uma integração paulatina de
objetivos e estratégias conjuntas, tornando-se meio para alcançar o objetivo comum
final da Defesa Nacional.
Há necessidade de planos de ação que justifiquem e aperfeiçoem os
investimentos que serão feitos na realização de tal intento.
Cumpre citar, também, as variáveis que interferem no desenvolvimento das
equipes:
• Condições existentes na cultura das organizações;
• Análise contínua de cenários;
• Autoconhecimento do ser humano;
• Habilidade na proposição da equipe por parte do gestor;
• Realização do ser humano por meio da educação continuada.
Esse é o enfoque inicial para a integração entre o Exército e a BID. Enquanto
os autores referenciados falam muitas vezes em indivíduos, busca-se, de certa
forma, um grau acima, envolvendo-se instituições distintas e heterogêneas por meio
de seus integrantes: o EB e um grupo de empresas nacionais produtoras e
188
fornecedoras de MEM associadas em uma base industrial de defesa. Será um
trabalho lento.
Figura 32 – Apoio inicial às IPT no Reino Unido
Fonte: National Audit Office, IPT, MoD, UK, 2002.
A sinergia, como ação simultânea de vários fatores que contribuem para uma
ação coordenada, aparece como uma conseqüência de uma integração paulatina de
objetivos e estratégias conjuntas, tornando-se meio para alcançar o objetivo final
comum da Defesa Nacional.
2.11 “TEAM SYNTEGRITY”
2.11.1 Considerações
O estudo referencial de pequena parte da obra do pesquisador britânico
Anthony Stafford Beer (1926-2002) constitui-se em parcela inicial de um desejável
aprofundamento posterior em sua obra, que possa garantir o entendimento completo
de suas idéias e de seu trabalho acadêmico.
189
Para tanto, buscou-se compreender uma maneira pela qual fosse possível
incrementar, sensivelmente, o desempenho de uma equipe integrada de trabalho. A
escolha recaiu sobre o conceito de “Syntegration” que, em realidade é um acrônimo,
em Língua Inglesa, dos termos ‘Synergy’ e ‘Integration’. Alguma coisa como juntar
Sinergia e Integração, formando “Sintegração”.
De acordo com Beer (1994), ‘Syntegration’ constitui-se em um conjunto de
poderosos processos cientificamente baseados, que otimizam a interação em
grandes grupos. Esses processos são uma descoberta, sem precedentes, por
buscarem desafios complexos na área social e de negócios. Eles aceleram e
radicalizam, incrivelmente, o planejamento, a tomada de decisão e a construção de
alinhamento, bem como obtêm mudanças no comportamento que são extremamente
necessárias para se constituírem em um impacto real na estrutura. A Ciência –
‘Syntegration’ constitui-se em uma importante descoberta que ajuda a prover uma
resposta a um problema pelo aperfeiçoamento da distribuição e integração do
conhecimento tácito com o objetivo maior de resolver problemas e desafios.
No original:
[…] “Syntegration is a suite of powerful, science-based processes that optimize large group interaction. These processes are an unprecedented breakthrough for addressing complex business and social challenges. They greatly accelerate and radically improve planning, decision making and alignment-building, and they elicit changes in behavior that are necessary for real impact.” […]“The Science - Syntegration is a science-based breakthrough for optimally surfacing and integrating distributed tacit knowledge in order to solve major problems and challenges. […] (Beer, Stafford. ‘ Beyond Dispute’, 1994)
De acordo com Schwaninger (1997), a idéia de ‘Team Syntegrity’ constitui-se
em uma abordagem orientada para o futuro para a modelagem do gerenciamento
democrático, buscando aumentar o grau variável de participação de distintos níveis
hierárquicos nas organizações. Ele pode ser visto como um modelo holográfico para
a organização de processos de comunicação, particularmente para o
autogerenciamento de sistemas sociais. Ele é baseado na estrutura de um poliedro,
sendo feito especialmente para a percepção da estrutura de equipes-orientadas, de
tal forma que apóie os processos de planejamento, geração do conhecimento e
inovação em ambientes turbulentos.
A sua estrutura pode ser verificada na Figura 33, apresentada a seguir:
190
Figura 33 – Estrutura de um icosaedro (30 lados) para o modelo de “Team Syntegrity”
Fonte: Stafford Beer, Beyond the Dispute, 1994
2.11.2 Caracterização
Segundo Schwaninger (1997), a formação de redes de indivíduos que estão
conectados por interesses mútuos é uma manifestação da sociedade da informação
vivida nos dias de hoje e uma resposta bem estruturada para os desafios atuais. O
modelo ‘Team Syntegrity’ proporciona o enquadramento estrutural para proporcionar
interação sinérgica em um ambiente de relacionamento que pretenda conduzir uma
integração de múltiplos tópicos e perspectivas.
O mundo atual é extremamente especializado. As pessoas sabem mais e
mais sobre menos e menos. Esta crescente especialização nos locais de trabalho
estimula aproximações e interdependências não-somente dentro das organizações,
mas também entre organizações. A tomada de decisões e a construção de
alinhamentos não são mais responsabilidade de um pequeno grupo de pessoas.
Torna-se freqüente e absolutamente necessário envolver muitas pessoas na
formação e na tomada de uma decisão, bem como no estabelecimento e
manutenção de importantes relacionamentos.
De acordo Beer (1994), um especialista normalmente vê o mundo através das
suas lentes que abrangem o seu campo de conhecimento, avaliando e julgando de
acordo com essa visão. Os problemas e as oportunidades, porém, não têm a
conformação da estrutura das empresas, divisões, departamentos, repartições ou
seções. Os sintomas de um problema (ou sinais de oportunidade) podem,
191
inicialmente, vir de uma área específica, embora o problema não deva, realmente,
ser solucionado naquela área específica. A recepção de informações oriundas de
vários especialistas deve ser integrada para resolver os principais problemas e
dimensionar as maiores oportunidades.
O conhecimento tácito é mais bem integrado por meio de trocas diretas –
através do diálogo. O desafio apresentado por Beer é como organizar (estruturar) e
maximizar SINERGIA de muitas ‘mentes’, de tal modo que elas sejam mais
produtivas do que somente ‘uma’. O autor questiona qual o tipo de rede ou estrutura
de comunicação que poderia, eficientemente, disseminar e integrar diversos
conhecimentos, experiências e especialidades em soluções criativas e focadas na
solução dos problemas.
Segundo o autor, um princípio científico é necessário para permitir um
trabalho produtivo e eficiente em grandes grupos de pessoas. Permitir,
simplesmente, que todos entrem no debate diretamente resultaria no
estabelecimento do caos. A proposta de Beer de ‘Syntegration’ indica uma
possibilidade de caminho entre uma ditadura unilateral e o caos da
democracia, baseado em um princípio matemático estabelecido e confiável.
2.11.3 Requisitos
Para tanto, considera-se, um grupo inicial de trabalho, com os seguintes
requisitos de estrutura e ‘arquitetura’:
1. Equipe de Trabalho: quando grupos se reúnem para tratar de questões
complexas, as discussões freqüentemente andam em círculos e não seguem para
lugar algum. Não há tempo para discussões sem fim e, normalmente, não se
consegue orientar a todos dentro de um mesmo ambiente. Os critérios para uma boa
equipe de trabalho são:
• Uma divisão de trabalhos ou de tópicos bem pensada, definida e
orientada;
• Disciplina severa, caracterizada por tempos de intervalo bem definidos,
definição de regras, protocolos de participação, dentre outros
mecanismos;
• Grupos dinâmicos não devem ser persuadidos para entregar
resultados concretos.
192
2. Otimização de ‘encontros cruzados’ ou ‘fertilizações cruzadas’: um
grupo de 30 participantes tem um total de n(n-1), ou 870, possibilidades de
relacionamentos, assumindo-se que o relacionamento de A para B é diferente do
relacionamento de B para A. Esses relacionamentos distintos devem ser
organizados de tal maneira que cada pessoa tenha uma troca altamente produtiva
com cada uma das outras pessoas do grupo. O ‘desenho’ e a arquitetura de trabalho
do grupo/equipe devem procurar particularizar as diferentes visões, informações,
especialidades e experiências para produzir a melhor solução possível, com
resultados positivos divididos entre todos conforme prometidos inicialmente.
3. Colaboração efetiva: Pessoas-chave em uma organização são pessoas
de custo elevado e cujo tempo disponível não é fácil de ser encontrado em suas
agendas, devendo ser destinado eficiente e eficazmente. Elas devem ser capazes
de focar a atenção tão rapidamente quanto possível para a parte fundamental de
suas questões e ‘encontrar’ a SINERGIA com a mesma rapidez do foco.
Dessa maneira, há necessidade de princípios matemáticos113 que assegurem
disciplina, um máximo de ‘encontros cruzados’ e ‘polinizações cruzadas’, com a
aquisição de um elevado grau de sinergia tão rápida quanto possível.
2.11.4 Aplicações
O conceito de ‘Syntegration’ pode ser aplicado em:
• No processo de elaboração e aperfeiçoamento de um planejamento
de uma organização;
• Situações complexas ou específicas que requerem respostas
efetivas e ação sobre o problema;
• Tipos diferentes de interações-chave em busca de soluções a
problemas;
• Transformação de empreendimentos e negócios em larga escala.
Quanto ao planejamento de uma organização, usa-se para a definição da
estratégia da corporação, planejamento estratégico, elaboração de planos
operacionais, departamentais e de vendas, bem como no gerenciamento de
113 O estudo desses princípios matemáticos, pela sua extensão e complexidade, foge ao escopo deste trabalho. Nota do autor.
193
processos de inovação. As organizações conseguem colocar ‘Sinergia + Integração’
no planejamento de suas atividades para: envolver produtivamente e
especializadamente um número maior de pessoas, de perspectivas, assim como
uma maior variedade de ambos; acelerar consideravelmente o planejamento;
incrementar a qualidade e o alcance do planejamento para atingir um melhor nível;
descobrir procedimentos e soluções únicas e de propriedade da organização; gerar
entusiasmo, confiança futura e alinhamento durante o planejamento, ao invés do
esquecimento desses elementos essenciais após a elaboração dos planos; e
consumir menos tempo para planejar, destinando-se mais tempo à execução.
Em relação às situações específicas, as empresas podem usar o conceito de
‘Syntegration’ para solucionar desafios complexos que se apresentam, muitas vezes
de forma específica, pressionando a organização por uma resposta. Quais sejam:
formulação de planos de contingência emergenciais; resposta para questionamentos
levantados junto aos integrantes (ou funcionários) da empresa; formulação de
modelos de negócios; resolução de conflitos e disputas internas e/ou externas; e
consultas ou orientações especiais.
Nas interações-chave de grande vulto114, as organizações / empresas podem
usar o conceito para estabelecer e fortalecer suas relevâncias e seus
relacionamentos com clientes e parceiros, tipicamente pelo envolvimento daquelas
pessoas-chave responsáveis pelo planejamento dos processos organizacionais ou
por meio de graus elevados de interação e de consultas mútuas. Quais sejam:
conselho de clientes e programas de integração; conselhos de parceiros e
programas de integração; comitês de aconselhamento e consultas; e sistemas de
saúde e educação continuados.
Na transformação dos negócios em grande escala, o conceito de
‘Syntegration’ lida com executivos seniores para priorizar elementos no
planejamento e acompanhar o processo total de transformação das organizações.
Procura-se aumentar a experiência e a especialização desses executivos na ajuda a
organizações para se moverem de um pensamento voltado para o produto para uma
visão voltada para o cliente.
114 Como poderá se apresentar o relacionamento EB-BID. Nota do autor.
194
2.11.5 Processo
Um grupo de doze pessoas, por exemplo, pode se organizar usando uma
estrutura de um octaedro (poliedro de oito faces) – para diferentes números de
pessoas existem soluções por meio de outros poliedros. Cada membro da equipe
integrada é representado por uma das arestas (doze) do octaedro. Cada vértice
corresponde a um grupo, sendo seis, no caso do octaedro. Quatro arestas
conduzem para cada vértice, conformando assim quatro elementos participantes
em cada grupo; entretanto cada aresta termina em dois vértices, fazendo com que
os participantes (arestas) participem de dois diferentes grupos, justamente aqueles
que estão ligados pela aresta representada pelo integrante/participante. Dessa
maneira, um elemento participante está atuando criticamente em dois grupos,
significando que cada grupo possui quatro integrantes e quatro críticos.
O processo de uma ‘Sinergia Integrada’ poderá ocorrer da seguinte maneira
(representação simplificada):
1. Abertura: a ‘syntegration’ se apresenta sob a conformação de um tópico
geral que busca focar todos os esforços mútuos, sendo explicada por uma questão
introdutória. Por exemplo: ‘de que maneira deveria ser conduzido o treinamento
gerencial no Futuro?’
2. Geração de uma agenda (programa de trabalho): cada participante
coloca as contribuições que considera importante para ele – denominadas de
‘declarações de importância/prioridade’. No seguimento, essas declarações são
discutidas e combinadas por meio de uma ‘declaração de importância acordada’.
Então, em um processo de sucessivas sínteses e priorizações, a agenda de trabalho
real do tópico geral ou problema é estabelecida (redução). Ela deve, então, ser
redigida em seis tópicos (número de vértices do octaedro e de grupos) e passa a ser
chamada ‘declaração consolidada de (ordem) de importância’.
3. Designação para grupos: cada membro da equipe decide (ou pode ser
previamente atribuído) em quais tópicos dos selecionados anteriormente ele
preferiria contribuir. Uma lista correspondente de preferências individuais forma a
base de formação para os vários grupos, com a ajuda de um algoritmo de
195
otimização. Uma alternativa possível é a escolha aleatória da determinação dos
grupos.
4. Trabalho nos tópicos: os pequenos grupos anteriormente organizados
(quatro participantes cada) discutem os respectivos tópicos. Esses grupos se
encontram muitas vezes (por exemplo, três ou mais vezes). O importante é que o
mesmo problema estabelecido seja continuamente processado pela mesma equipe
geral, porém com diferentes composições, ganhando contribuições em cada
alternância de grupo de trabalho. Isso conduz a um processo de auto-organização
com um alto efeito de integração: por meio da reverberação, a informação e os
conceitos resultantes são compartilhados progressivamente, a cada vez que os
grupos se reúnem.
5. Conclusão: entende-se que a coordenação final é feita por meio de uma
apresentação em plenário por cada um dos grupos e tópicos
Retiram-se alguns aspectos do trabalho de Beer para a aplicação na proposta
de EIT EB-BID, especialmente o aspecto da escolha de subgrupos de trabalho e o
conceito de reverberação.
Como conclusão, ainda que parcial, indica-se a necessidade de
aprofundamento (necessário e esclarecedor) no estudo do tema ‘Syntegrity’. Embora
seja algo difícil à primeira vista, entende-se que se tornará um desafio para aqueles
interessados na proposta de Stafford Beer e em trabalhos semelhantes.
196
METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1 VARIÁVEIS
As circunstâncias passíveis de medição e que influenciaram a condução
desta dissertação foram as seguintes:
Variável I – Interesse e grau de conhecimento do EB sobre o tema
Buscou-se a mensuração desta variável por meio de diversos procedimentos
metodológicos, dentre eles, uma pesquisa qualitativa conduzida junto aos oficiais
(alunos e instrutores) da ECEME dos cursos de Comando e Comando e Estado-
Maior (CCEM), Direção para Engenheiros Militares (CDEM) e de Política, Estratégia
e Alta Administração do Exército (CPEAEX), bem como a oficiais da 4ª Subchefia do
EME ao final do ano de 2006. Uma cópia da pesquisa original pode ser encontrada
nos apêndices a este trabalho.
Outros procedimentos metodológicos adiante listados foram conduzidos para
compor o quadro de estudo deste trabalho, com destaque para uma visita à 4ª
Subchefia do EME, em setembro de 2006, participação no Curso de Gestão de
Recursos de Defesa (CGERD) – 2007, junto à FIESP, e um recorrido pelas unidades
fabris da IMBEL, EMGEPRON e VOLSKWAGEM CAMINHÕES, em março de 2007,
acompanhando comitiva da 4ª Sch EME.
Variável II – Interesse, Conhecimento e Capacitação da BID sobre o tema
A medição desta variável foi de difícil execução, mesmo com a realização de
entrevistas, visitas a empresas e associações da BID, pesquisa qualitativa com
elementos das diretorias de empresas, participação em duas edições da Feira
Latino-americana de Defesa (LAAD) nos anos de 2005 e 2007, pesquisa
bibliográfica, participação como membro-ouvinte do COMDEFESA, junto a FIESP,
dentre outros procedimentos metodológicos adiante explicitados.
Variável III – Papel do MD, por meio de uma Política Nacional da Indústria de
Defesa (PNID), inserida na Política Nacional de Defesa (PND)
197
A discussão desta variável foi baseada no estudo principal da PNID e de
ações estratégicas que o MD estabeleceu para a consecução dos objetivos
propostos na política definida para a BID, notadamente na Seção 3 deste trabalho.
Estudou-se, também, o papel do MD de outros países e o seu relacionamento
com as respectivas BID. Uma pesquisa qualitativa foi elaborada e enviada aos
adidos militares brasileiros em países amigos.
3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.2.1 Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica se estendeu a um grande número de publicações e
fontes, tanto nacionais, quanto estrangeiras. Uma grande quantidade de livros foi
adquirida, outros tantos pesquisados, principalmente nas bibliotecas da ECEME,
ESG e EGN.
Os assuntos referentes à BID (histórico recente) foram buscados em
publicações estrangeiras, notadamente norte-americanas, sendo algumas adquiridas
por meio da livraria virtual “Amazon Books”. Outras obras que estavam esgotadas
foram recebidas do exterior por meio dos adidos militares nos EUA e em Portugal.
Muitos termos e consultas foram conduzidos pelo acesso à rede mundial de
computadores, especialmente quanto a dados ‘atualizados115’ de empresas,
associações e projetos de PD e MEM em curso no Brasil e no exterior.
Em relação ao foco desta tese, a organização de uma EIT EB-BID, este autor
encontrou elevado grau de dificuldade para encontrar exemplos similares no
contexto mundial em toda a bibliografia consultada.
3.2.2 Entrevistas
Várias entrevistas foram conduzidas buscando-se referências pessoais e
profissionais para o estudo do tema. É possível acrescentar, com menor grau de
cientificidade, conversas e discussões ocorridas em seminários, simpósios e
encontros diversos que permitiram um melhor entendimento do relacionamento dos
115 O autor possui o entendimento do limite na confiabilidade de alguns dados, em função de estarem inseridos em material publicitário disponibilizado pelas empresas. Entende-se, porém, que neste ramo do Conhecimento Humano, muitas informações são negadas e/ou distorcidas. As poucas informações (ou informes) devem ser aproveitadas judiciosamente. Nota do autor.
198
atores (EB e BID) e a compreensão do seu entorno, oportunidade e óbices
existentes.
Apesar de, na maioria das vezes apresentarem um caráter despretensioso,
aquelas conversas informais com profissionais, civis e militares, proporcionaram o
encaminhamento de um sem número de conclusões parciais para o trabalho em
questão.
3.2.3 Questionários
Foi conduzido um questionário exploratório com a Seção de Logística da
ECEME, em junho de 2006, com a finalidade de preparação de pesquisas
qualitativas e elaboração de perguntas para entrevistas.
3.2.4 Pesquisas
As pesquisas qualitativas, referenciadas no estudo das variáveis, serão
analisadas posteriormente, quando da apresentação dos resultados dos
levantamentos de dados, junto ao Capítulo 4, onde foram abordados os itens que
mais se destacaram na oportunidade da realização daqueles trabalhos.
3.2.5 Viagens de Estudos
Algumas viagens foram realizadas com a finalidade de aprofundamento dos
conhecimentos necessários, quais sejam:
• Estado-Maior do Exército (4ª Subchefia) (Brasília, DF), em outubro de
2006, junto com a viagem de estudos do CCEM/ECEME;
• Empresas da BID (IMBEL116, VOLKSWAGEN CAMINHÕES,
EMGEPRON, AVIBRAS117, MECTRON, CBC118), em março de 2007;
• Feira Latino-americana de Defesa (LAAD) (Rio de Janeiro) nas edições
de 2003, 2005 e 2007;
• Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Instituto de Logística da
Aeronáutica (ILA) e do Centro Logístico da Aeronáutica (CELOG),
ambos em abril de 2007; 116 Nas instalações de Piquete – SP, Itajubá – MG, Juiz de Fora – MG e Magé – RJ. A unidade do bairro do Caju, RJ, foi visitada em 2004. Nota do autor. 117 Julho de 2005 e experiências profissionais lá obtidas durante os anos de 2003 e 2004. Nota do autor. 118 MECTRON e CBC imediatamente antes do início desse trabalho, ao final do ano de 2004. Nota do autor.
199
• Marinha do Brasil (MB), por meio da Escola de Guerra Naval (EGN)119
e da EMGEPRON junto à Fábrica de Munições Almirante Jurandyr
(Campo Grande, RJ), em março de 2007;
• Reino Unido (Inglaterra), em coordenação e com o apoio do Adido do
Exército Brasileiro ao Reino Unido, em dezembro de 2006.
3.2.6 Experiência profissional
Informações foram colhidas junto ao Major André Luís Maciel de Oliveira,
atual oficial de ligação do Exército junto à AVIBRAS, em substituição a este
pesquisador militar que cumpriu esta missão no biênio 2003-2004. O trabalho
iniciado em 2003 se prolonga até os dias de hoje120, com excelentes resultados,
tanto para o Exército, quanto para a empresa. Entende-se que esta experiência
merece a elaboração de um Estudo de Caso específico sobre a sua condução, com
a finalidade de colher dados específicos da atuação de um profissional da ativa do
EB na condição aproximada de assistente militar e dos reflexos disso para a FTB e
para a BID na atualidade e para o futuro.
3.2.7 Cursos adicionais realizados
Participou-se de um curso de aperfeiçoamento da Língua Inglesa conduzido
nas duas primeiras semanas de dezembro de 2006 no Reino Unido, de caráter
individual, e que proporcionou visitas breves à “Escola de Artilharia do Exército
Inglês” (Larkhill) e ao Colégio de Defesa “Joint Services Command and Staff
College”, em Swindon (UK), sob coordenação do Adido Militar do EB no Reino
Unido.
Participou-se, também, em mais dois cursos que permitiram um
aprofundamento bastante interessante no conhecimento de temas pertinentes ao
escopo do trabalho, quais sejam:
• Curso de Gestão em Recursos de Defesa
Conduzido nas instalações da FIESP, sob orientação da ESG, entre os
meses de maio e julho de 2007, este curso destinou-se a proporcionar
conhecimentos sobre as tendências de modernização do setor de Defesa na
atualidade e seu papel no Estado moderno, analisando a relevância de sua gestão,
119 Durante a realização do CAEM, junto à ECEME. Nota do autor. 120 Com boas perspectivas de prosseguimento. Nota do autor.
200
a especificidade da legislação, sua organização, cultura e os mecanismos de
controle e responsabilidade, discutindo o orçamento consolidado com a justificativa
de gasto em defesa e inversões. Destinou-se, ainda, a estudar os marcos
conceituais à governabilidade e à governança e a aprofundar os conhecimentos
sobre as questões vinculadas às relações civis-militares.
• Curso sobre Segurança e Defesa Internacional
Realizado nas instalações do Núcleo de Pesquisa em Relações
Internacionais (NUPRI) na USP, no período de abril a julho de 2007, este curso
desenvolveu um panorama dos requisitos de segurança e das demandas de defesa
do Brasil. Teve o objetivo de qualificar os participantes a uma discussão mais
aprofundada sobre os desdobramentos políticos, conseqüências econômicas e
requisitos tecnológicos de um projeto de força brasileiro como instrumento de política
externa, bem como forneceu ao participante um instrumental adequado para
compreender as mais variadas discussões no que diz respeito à Segurança
Internacional.
201
DISCUSSÃO DO RELACIONAMENTO ATUAL E RESULTADOS DO
LEVANTAMENTO DE DADOS
4.1 ATUALIDADE
4.1.1 Forças Armadas
Nos últimos quatro anos, o investimento em MEM nacionais vem sendo
constantemente reduzido. O contingencionamento de verbas governamentais dos
pequenos orçamentos aprovados tem sido uma constante todos os anos.
O destaque positivo na área naval ficou por conta do submarino convencional
“Tikuna” (S 34) produzido no AMRJ em 2005, seguindo a estratégia de aquisição do
domínio completo do ciclo “Projeto, Construção e Reparação”. A Marinha enfrenta,
entretanto, um processo crescente de obsolescência de seus meios, com uma
premente necessidade de modernização e aquisição de novas belonaves que
proporcionem a adequada defesa da Amazônia Azul121 brasileira. Afinal, esquadras
não se improvisam...
O Exército se encontra na definição de uma Nova Família de Blindados sobre
Rodas (NFBR). O programa teve início no alvorecer da década atual e sofreu várias
modificações. A empresa AVIBRAS produziu um protótipo denominado Guará,
mediante convênio estabelecido com o Estado-Maior do Exército (EME) e com o
IPD; porém, uma reorientação nos requisitos operacionais do Exército interrompeu o
seguimento do projeto. Em agosto de 2007, o Exército, por meio do DCT, indicou a
empresa IVECO-FIAT, de origem italiana, para conduzir este projeto. O EB
estabeleceu convênio, também, com o Exército Argentino e desenvolveu uma viatura
leve de emprego geral aerotransportável denominado Gaúcho, atendendo diretriz
governamental de integração com a Argentina para o fortalecimento do MERCOSUL.
Essa viatura se encontra em fase de testes nos dois países. O CTEx desenvolveu,
recentemente, um Sensor Radar de Defesa Antiaérea de Baixa Altura (Radar
SABER X60) em parceria com uma rede de organizações militares, universidades e
121 Expressão utilizada com freqüência pela MB para caracterizar a extensão e a importância das águas territoriais brasileiras no Oceano Atlântico e que devem ser guarnecidos pela Armada. Nota do autor.
202
com a empresa ORBISAT, projeto este financiado pela Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP)122.
Cumpre ressaltar a importante (e promissora) reorganização que o EB
promoveu na área de C&T por meio do estabelecimento do Departamento de
Ciência e Tecnologia (DCT), produto da fusão da Secretaria de Ciência e Tecnologia
com a Secretaria de Tecnologia da Informação. Espera-se que isso implique na
melhoria da interface desta instituição com a BID e a sociedade como um todo,
resultando na pesquisa, desenvolvimento e produção de novos MEM.
A Força Aérea Brasileira, por sua vez, enfrentou a interrupção do Programa
FX no qual buscava a aquisição (e tecnologia) de um caça supersônico para a
defesa aérea. Contratos para modernização de aeronaves turbo-hélice Supertucano
(AT-29) e supersônicas F-5BR ‘Northrop’ foram assinados com empresas nacionais.
Outros contratos para compras de aeronaves foram firmados, entre eles aquele para
o recebimento de doze aviões espanhóis CASA-C295.
O MD, ao seu turno, estabeleceu a Comissão Militar da Indústria de Defesa
(CMID), em 2001, pela Portaria Nr 778. Os objetivos desta comissão são coordenar
os estudos relativos ao fomento às atividades de pesquisa, desenvolvimento,
produção e exportação de produtos de defesa, integrando essas atividades;
estabelecer um fluxo adequado de informações entre o MD e os demais órgãos civis
e governamentais envolvidos; bem como, capacitar os recursos humanos
necessários para tal.
4.1.2 Base Industrial de Defesa (BID)
Nos últimos anos, a EMBRAER se destacou no cenário nacional e
internacional com o desenvolvimento e produção de versões militares da sua
aeronave de transporte regional ‘Embraer Regional Jet – 145’ (ERJ-145), com
integração de múltiplos sensores. As Forças Aéreas do Brasil, México e Grécia
empregam versões desta aeronave para o sensoriamento remoto, reconhecimento,
patrulha marítima e controle e alerta aéreo. A EMBRAER realizou investimentos em
tecnologia de mais de duzentos milhões de dólares em 2005123, que permitiram,
inclusive, o lançamento recente uma nova aeronave regional ERJ-190, de maior
desempenho, voltada, porém, para o mercado civil.
122 Revista CTEx P&D, Ano I, Número 1, 2º Semestre de 2006, página 3. 123 Palestra da EMBRAER, 38º Fórum de Tecnologia Militar Dinheiro Vivo, SP, novembro de 2006.
203
Em 2002, a AVIBRAS realizou a venda e a entrega de um regimento completo
de lançadores múltiplos de foguetes ASTROS II124 para a Malásia, incluindo foguetes
com alcance de mais de 80 quilômetros para emprego na artilharia de campanha e
na defesa do litoral. Na atualidade, a empresa trabalha em conjunto com o EB na
implantação do novo Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguetes (6º GLMF) em
Formosa, Goiás, próximo à Brasília.
A MECTRON, outra empresa de São José dos Campos125, desenvolveu o
míssil Ar-Ar MAA-1 para a FAB; bem como, conduziu o reprojeto do míssil Solo-Solo
Anti-Carro MSS 2.2 AC (originário da Oto Melara) para o EB com sucesso.
Desenvolve, hoje, o míssil Ar-Solo anti-radiação.
A empresa CONDOR, do Rio de Janeiro, vem alcançando destaque no
mercado, com o desenvolvimento e produção de armas não-letais, tanto para FA,
quanto para polícias militares.
As empresas da BID estão organizadas em associações. Dentre elas, se
destacam a Associação Brasileira das Indústrias de Defesa e Segurança (ABIMDE)
(37 empresas), a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) (28
empresas), o Sindicato Nacional das Indústrias de Material de Defesa (SIMDE) e o
Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa (COMDEFESA). Esse último,
com o suporte da FIESP. A ABIMDE foi recentemente revigorada e tem procurado
atuar com realismo e efetividade (ver Tabela 3).
Observa-se, fruto do acompanhamento pessoal do tema ao longo dos últimos
cinco anos, que existe, neste segundo semestre de 2007, uma (ainda não
mensurada ou corretamente avaliada) divisão de ‘forças políticas’ dentro da BID.
Este autor entende, em caráter preliminar, que essa presumível divisão se origina
por diferenças de posicionamento e orientação entre os principais condutores da
ABIMDE, do SIMDE e do COMDEFESA, em função de aspectos econômicos e
culturais das distintas regiões brasileiras (São Paulo e Rio de Janeiro,
principalmente), de origem do segmento fabril das empresas (volume de vendas e
posicionamento no mercado) e, não menos importante, pelo relevo político que o
setor começa a ter no cenário nacional. Entende-se, também, que isso não tem
124 Versão atualizada, com eletrônica moderna, segurança na transmissão de dados e munição com dispositivo de segurança para evitar a ocorrência de munições não-explodidas no campo de batalha, “Unexploded Ordenance, UXO” (orientação da ONU). Nota do autor. 125 Cidade situada no Vale do Paraíba, interior do estado de São Paulo, principal centro da indústria de defesa no Brasil. Nota do autor.
204
prejudicado o segmento na atualidade, porém poderá gerar divergências prejudiciais
em um futuro mediato. Apesar dessas possíveis e, muitas vezes saudáveis
divergências, esse segmento está buscando uma melhoria contínua de sua
organização126 e se apresenta bastante bem articulado; uma evolução positiva de
um passado (ainda influente) de disputas, vaidades e intrigas127.
Os dados em faturamento e volume do setor de defesa128 foram,
recentemente, apresentados pelo presidente da ABIMDE. Segundo Aguiar129 (2007),
eles são os seguintes (tabela 7 e tabela 8):
Em Milhões de Dólares22 empresas – Abimde/Simde
507385332230192Total do Setor de
Defesa
3.4052.0432.4362.9272.733Exportações
Total
20042003200220012000Faturamento
FATURAMENTO DA BIDFATURAMENTO DA BID
Tabela 7 – Faturamento da BID
Fonte: ABIMDE, palestra USP, junho, 2007.
De acordo com Carvalho (2007), as empresas nacionais do segmento de
Defesa vivem grandes dificuldades decorrentes principalmente pela falta de
conscientização das autoridades governamentais em relação ao setor. Segundo ele,
os recursos destinados aos investimentos (reaparelhamento) das FA são reduzidos
ano após ano, diminuindo consideravelmente a capacidade de aquisição de novos
126 A ABIMDE, por meio de seu diretor-presidente, manifestou a este pesquisador a intenção de aumentar a estrutura de seus quadros profissionais no sentido de proporcionar uma interface mais adequada e moderna no trato com as FA. Nota do autor. 127 Conforme Roberto Lopes manifesta em sua obra “Rede de Intrigas”. Nota do autor. 128 Não foi possível verificar se as empresas são as mesmas constantes da Tabela 3. Nota do autor. 129 Carlos Frederico Queiroz de Aguiar, Diretor-Presidente da ABIMDE em palestra na USP em junho de 2007. Nota do autor.
205
equipamentos, sendo que grande parcela do orçamento programado normalmente
vem a ser contingenciado antes de sua efetiva utilização. Complementa
acrescentando que o mais grave é que as poucas aquisições são feitas no exterior,
em detrimento das empresas brasileiras.
Em Milhões de Dólares22 empresas – Abimde/Simde
288251280299215Investimentos
498300349420392Compras no Brasil
1.9991.2251.8481.3851.184Importação
20042003200220012000Volume
VOLUME DA BIDVOLUME DA BID
Tabela 8 – Volume de negócios da BID
Fonte: ABIMDE, palestra USP, junho, 2007.
Relatório SIPRI - Suécia
Tabela 9 – Gastos militares SIPRI
Fonte: ABIMDE, palestra USP, junho, 2007.
206
Segundo Pádua (2003), a BID demonstra potencial para, em se
manifestando a vontade nacional, colocar-se em um patamar compatível com a
necessidade brasileira.
4.1.3 Governo Federal
A criação do MD, em 1999, buscando englobar e orientar o pensamento das
FA brasileiras, trouxe uma nova visão para a coordenação de esforços no nível
governamental na área de Defesa. Publicada em 2005, a Política de Defesa
Nacional (PDN) proporcionou a elaboração da Política Nacional da Indústria de
Defesa (PNID) com seus Objetivos Estratégicos. Esta última deu origem às Ações
Estratégicas para a PNID, editadas em 2006. Este arcabouço institucional pretende
incentivar a retomada da produção nacional de MEM em patamares mais elevados,
buscando repetir e melhorar o sucesso das décadas de 1970 e 1980.
De acordo com Carvalho (2007), Diretor-presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) no quadriênio
2003/2006, o apoio governamental ao setor pode ser classificado em cinco setores:
• Militar – os integrantes das FA reconhecem e apóiam o setor nas suas
possibilidades, inclusive com o apoio e promoção às indústrias nacionais por
meio do trabalho das aditâncias militares brasileiras no exterior;
• Promocional – o apoio à ABIMDE acontece por meio da Agência de
Promoção às Exportações do Brasil (APEX), do Ministério da Indústria e
Comércio (MDIC), evidenciado na Exposição de Eurosatory em 2006;
• Político – apoio (político governamental) praticamente inexistente junto aos
governos estrangeiros de possíveis clientes da indústria bélica nacional, ao
contrário de outros países;
• Diplomático – Bastante reduzido, com raras exceções positivas, pois, de
maneira geral, os representantes do MRE não apreciam atividades
comerciais, muito menos em se tratando de MEM;
• Financeiro – Inexistente, pois as principais entidades financeiras do país
como o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e a FINEP se recusam a qualquer tipo de apoio em
207
financiamento para vendas ao exterior ou garantindo contratos eventualmente
firmados no mercado internacional.
Em complemento, Carvalho (2007) afirma que há necessidade de uma
Política de Estado, não de governo, para o setor, com estabelecimento de normas.
Para o mercado interno, deverá haver um orçamento real e impositivo para
investimento pelas FA, proporcionando uma carga de trabalho programada em longo
prazo para as indústrias.
4.1.4 Lições históricas
Antes das lições, porém, cumpre referenciar o trabalho de Rodrigues (2002),
que indica as causas do sucesso da indústria de defesa no passado recente:
• Conjuntura internacional favorável;
• Capacidade industrial instalada no Brasil nas décadas de 70 e 80;
• Geração de tecnologia própria;
• Exploração de nichos de mercado;
• Apoio às exportações.
O mesmo autor relaciona as seguintes causas para o fracasso que se seguiu
ao período áureo da BID, quais sejam:
• Forte dependência em relação às exportações;
• Altos custos envolvidos para o desenvolvimento de novos produtos;
• Grande concentração da produção;
• Baixa rentabilidade das empresas produtoras de armas;
• Problemas macroeconômicos internos;
• Reduzidos orçamentos para as Forças Armadas;
• Levantamento de barreiras pelos países mais desenvolvidos;
• Surgimento de equipamentos mais sofisticados;
• Fim da Guerra Fria;
• Entrada no mercado internacional de outros fornecedores;
• Falta de peso político do Brasil.
Citando Cunha (2005), a primeira lição a ser elencada é a de que os produtos
de defesa que forem concebidos e desenvolvidos (C&T) somente cumprirão sua
função se vierem a ser produzidos (inovação e indústria, preferencialmente privada)
208
e tornados operacionais, bem como eficientemente distribuídos, instalados, aferidos,
mantidos e supridos de itens de consumo e de sobressalentes (logística das FA).
A segunda lição se refere à integração institucional. Os principais setores
da sociedade brasileira precisam estar envolvidos com o tema Defesa. Os atores
principais (FA, BID) necessitam de trabalho conjunto, harmônico e
interdependente, associados com maior ênfase à área de C&T das instituições
educacionais.
Uma terceira lição está relacionada à importância da compreensão da
sociedade sobre Defesa; em particular, sobre a necessidade fundamental da
existência de uma BID forte. Este autor entende, em caráter pessoal, que dois
principais caminhos se apresentam para alcançar o comprometimento da sociedade:
a caracterização da ameaça à própria sociedade (terrorismo, por exemplo) –
bastante difusa no Brasil; porém, possivelmente ameaçadora em longo prazo – ou
por meio da educação. Quanto à educação, entende-se que o aumento da
integração dos estudos entre as escolas militares, congêneres civis, centros de
pesquisa em C&T e empresas privadas e governamentais é fundamental e urgente
para proporcionar massa crítica em especialistas e fomentar a discussão do tema
em ambiente acadêmico.
A lição seguinte se refere ao emprego do planejamento de longo prazo no
setor de Defesa. Felizmente, o momento é oportuno para se falar a respeito. O
incremento do Planejamento Estratégico (empresarial e/ou militar) e da Excelência
Gerencial é fundamental para a sobrevivência das FA e das empresas, em função
de um processo de mundialização cada vez mais acelerado, onde as ameaças
difusas utilizam a estratégia indireta para alcançarem seus objetivos. A realidade não
admite amadorismos empresarias e/ou militares. Cunha (2005) relata que é preciso
padronizar, uniformizar, compatibilizar especificações, desenvolver produtos
similares para aplicações civis e selecionar o que deve ser atendido com prioridade.
Outro ensinamento, atrelado ao anterior, afirma a necessidade de
continuidade no planejamento, ou melhor, a liderança e constância de propósitos130,
estratégia adequada e um comprometimento na execução do que foi planejado.
Esse é um óbice cultural de difícil superação no Brasil, notadamente em muitas de
suas instituições. A falta de continuidade conduziu, por exemplo, à perda de
130 Plano de Excelência Gerencial do Exército Brasileiro, 2006. Nota do autor.
209
capacitações (pessoal especializado131, laboratórios, programas, documentos)
conquistadas ao longo dos anos com sacrifícios enormes. Conquistas e reconquistas
foram feitas. A tecnologia de construção naval é um exemplo (marcante) dessa falta
de continuidade132.
Cumpre referenciar Pesce (2004) que indica a ironia que foi o apogeu da
indústria de defesa brasileira, pois as FA nacionais não eram os clientes
preferenciais, preteridas em relação às exportações, principalmente para os países
do Oriente Médio. Segundo esse autor, havia uma crônica escassez de recursos dos
ministérios militares, antecessores do MD, que inviabilizou a construção de uma
capacidade crível de dissuasão e defesa no Brasil. Ao contrário do senso comum, o
Brasil “sempre” foi um dos países que menos investiu em suas Forças Armadas.
Uma última lição, não menos importante, é definir uma política especial de
aquisição de material de defesa à semelhança do que ocorre com outros países
(Buy American Act, EUA, por exemplo133). A legislação atual é perversa, pois
privilegia a importação de MEM com taxas próximas de zero, enquanto a incidência
de impostos em produtos nacionais é de mais 40%. Cunha (2005) nos indica outra
situação crítica: os órgãos do governo podem receber financiamentos externos para
importação, porém não podem receber financiamentos internos para compra de
material nacional.
Estas lições estão em consonância com a opinião do Embaixador Samuel
Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral das Relações Exteriores:
[...] reconhecer a urgência da definição detalhada de uma estratégia militar própria para o Brasil e para a América do Sul. Essa estratégia de defesa deve ter natureza civil-militar, tendo como objetivo a indispensável autonomia de desenvolvimento tecnológico-militar e de suprimento de material bélico. No processo de sua elaboração doutrinária, os Estados-Maiores e as escolas tradicionais de elaboração de doutrina podem e devem se articular de forma eficaz com outros organismos da administração cuja competência tenha natureza estratégica global, interna e externa. [...] (Guimarães, Samuel Pinheiro. Desafios Brasileiros na Era de Gigantes, 2006, p. 336).
4.1.5 Prospecção
Não obstante o difícil quadro da realidade, alguns indicadores se mostram
oportunos a uma reativação do setor, quais sejam:
131 Existem indícios não-confirmados (2007) que apontam dificuldades em pessoal especializado em aeronáutica para o atendimento das necessidades em P&D da EMBRAER. Nota do autor. 132 Cunha, 2005. 133 Conforme indicação do General-de-Exército R/1 Alberto Mendes Cardoso em recente simpósio sobre obstáculos à modernização do Exército, conduzido pelo EME. Nota do autor.
210
• A necessidade premente do reequipamento das FA, pois o ciclo de vida de
vários MEM está muito próximo do fim;
• Permanência (continuidade) da mesma equipe política no governo federal
em função do resultado da última eleição presidencial (2006), favorecendo
a continuidade dos esforços;
• Amadurecimento da estrutura e da atuação do MD junto aos setores
produtivos, governo e FA, notadamente ao longo do ano de 2007;
• Crescente interesse da sociedade nos assuntos de Defesa, como
demonstrado nos últimos Fóruns sobre Tecnologia Militar, da empresa
“Dinheiro Vivo” em São Paulo (2005 e 2006);
• Crescente apoio político ao estudo dos assuntos de Defesa, exemplificado
na condução do Seminário sobre a Política de Defesa para o Século XXI,
conduzido pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
(CREDEN) do Congresso Nacional em 2003;
• Retomada dos estudos de Defesa em um número maior de universidades
brasileiras, com destaque para o curso sobre Defesa e Segurança
Internacional realizado no primeiro semestre de 2007 na USP;
• Manifesto interesse do EME em estabelecer um diálogo direto com a BID
por meio da realização de um Simpósio134 sobre ‘Investimentos na
Indústria de Produtos de Defesa’ em julho de 2007, com a participação da
ABIMDE, CREDEN, MD e do DCT; assim como pela condução do
Simpósio sobre ‘Obstáculos à Modernização do Exército’, que trouxe uma
boa quantidade de subsídios para a compreensão de dificuldades da FTB.
Os indícios acima são tímidos; porém, podem servir de pontos de partida para
um esforço coordenado de atuação, transformando problemas em desafios, crises,
em oportunidades de melhoria, sonhos, em realidade.
Um aspecto, porém, se considera fundamental – atenção na forma como a
guerra está sendo conduzida no presente e como ela poderá vir a ser conduzida no
futuro135. Quais os MEM mais adequados para tanto? Não seria interessante o
desenvolvimento da Defesa e de novos MEM em função das capacidades próprias,
134 A programação e os questionamentos propostos constam de anexo a este trabalho. Nota do autor. 135 Um ataque com agentes biológicos contra as plantações de soja no Brasil é uma alternativa possível. Nota do autor.
211
adequadamente dimensionadas por um Projeto de Força, e em função das
capacidades dos inimigos em potencial? Como conduzir esse Projeto de Força?
A referência e o respeito ao passado são fundamentais; todavia, muitas
guerras foram perdidas porque se acreditava que os combates seriam conduzidos
da mesma forma com que haviam sido estudados nos exemplos das guerras
anteriores. Smith136 (2006) nos relata uma tendência da guerra moderna conduzida
‘entre as pessoas’ [among the people], com diminuição do elevado consumo de
munição [‘firepower’, característico do século XX] e aumento considerável do valor
da Informação [information] como arma, impondo psicologicamente a sua vontade
sobre o inimigo137.
4.1.6 Conclusão Parcial
A BID possui um histórico respeitável verificada na segunda seção primária,
característico de um país em construção como o Brasil. O segmento alternou
períodos de expansão e retração em função de conflitos em que o Brasil tomou
parte, sofrendo reflexos da conjuntura nacional e internacional das diferentes
condições históricas.
A base industrial instalada é bastante significativa, assim como a qualidade
dos pesquisadores e dos profissionais ligados às indústrias, empresas,
universidades e às FA brasileiras.
O elevado desempenho quantitativo e qualitativo da produção nos anos
oitenta foi o grande marco das indústrias de material de defesa no passado recente.
Naquele período, as políticas governamentais de incentivo à P&D, às indústrias de
defesa e às exportações foram bem planejadas, bem executadas e tiveram
continuidade ao longo do tempo. Somava-se a isto, a atuação coordenada e o
espírito de confiança entre as FA e a BID. Havia sinergia. O resultado se mostrou
excelente.
Atualmente, a BID passa por um momento de expectativa favorável a sua
expansão, especialmente ao longo do ano de 2007. Espera-se que seja possível
caminhar do discurso à prática, quer seja no reaparelhamento das FA brasileiras por
meio de apoio governamental, agregando-se valor aos produtos nacionais; quer seja
136 Comandante da Divisão Blindada Britânica na Guerra do Golfo Pérsico de 1990-1991. Nota do autor. 137 Ressalta-se que este comentário é válido, notadamente, quando se dispõe de uma capacidade dissuasória (nuclear, no caso do Reino Unido) elevada. Nota do autor.
212
exportando MEM de reconhecido valor para os países amigos. Em ambas as
situações, este segmento sairá fortalecido.
4.2 O DIÁLOGO ENTRE O EB E A BID
O diálogo atual é incipiente. A falta de recursos para investimentos no
Exército e a crise vivida pela BID138 ao longo dos últimos vinte anos proporcionaram
um natural afastamento entre esses dois atores.
A BID detinha poucos PED / MEM para oferecer e com custos elevados em
função de pesados impostos (ordem de 40%), comparativamente com similares
estrangeiros. O Exército, por sua vez, recebia (e ainda recebe) parcos recursos que
eram destinados, muitas vezes, para a compra de munição, sem o respectivo
desenvolvimento e manutenção do grau de conhecimento da tecnologia e da técnica
necessária para a sua produção139. Outros recursos, de maior vulto e notadamente
originários de Operações de Crédito Externo (OCE), foram destinados para a
aquisição de PD no exterior, desprezando a indústria nacional.
Segundo Wizniewsky140 (2006), o relacionamento entre o EB e a BID,
atualmente, tem se dado mais intensamente na área de C&T. Na área do D Log, as
iniciativas têm sido bem mais modestas e se resumem, no presente, a materiais de
menor valor agregado (uniformes, equipamentos individuais e alguns equipamentos
de saúde em campanha).
O recente processo de reestruturação do DCT provocou uma natural reação
de acomodação da estrutura interna do EB, provocando naturais dúvidas nas
relações de funcionalidade deste ODS, em função do caráter matricial colocado para
o desenvolvimento e funcionamento do departamento. Essa reação provoca retardos
no atendimento a muitas e justas necessidades da BID nessa interface com o EB141.
A postura, porém, de ambos os atores, é positiva. Ressalta-se, como
exemplo, a busca no estreitamento do contato por meio da realização do simpósio
138 Essa crise quase provocou o encerramento de suas atividades. Nota do autor. 139 Hoje, o Exército está sofrendo uma séria restrição em munição de todos os calibres, conforme exposição do SEORI, MD, em junho de 2007, na USP. Nota do autor. 140 General-de-Brigada Eduardo Segundo Liberali Wizniewsky, então Diretor de Suprimento do Exército. Nota do autor. 141 Em diversas reuniões ordinárias do COMDEFESA, no corrente ano de 2007, com a presença deste autor, o coordenador desse comitê manifestou descontentamento com o atendimento recebido pelas empresas especialmente em testes no CTEx e/ou Campo de Provas da Marambaia. Nota do autor.
213
sobre ‘Investimentos na Indústria de Produtos de Defesa’, conduzido pelo EME em
julho de 2007. A BID, por seu turno, tem buscado ouvir a opinião das FA sobre os
assuntos de seu interesse em reuniões, tanto por meio do MD, quanto junto ao
COMDEFESA, onde se reúne com representantes do Exército e das demais forças.
Outro ponto de diálogo vem ocorrendo no estudo conjunto da BID com o
Exército e demais forças (por meio do MD) de um Projeto de Lei Complementar
(PLC) elaborado no COMDEFESA142 sobre normas para licitações e contratos da
Administração Pública nos casos de aquisição de PED. O trabalho é lento; porém,
na observação direta deste autor, constante e integrado. Esse projeto tem por
finalidade normatizar e facilitar as compras nacionais de MEM e de PED, com
caracterização de empresas nacionais estratégicas para o setor. A situação atual
desse PLC é caracterizada pelo esforço de redação final no COMDEFESA/MD, com
as sugestões dos estados-maiores das forças que foram encaminhadas ao MD
recentemente.
Ressalta-se a importante participação política da FIESP, na qual o
COMDEFESA está inserido. A atuação dessa federação junto ao Poder Legislativo e
Executivo federal é bastante intensa, o que poderá indicar um trâmite favorável para
a aprovação daquele PLC.
4.3 NECESSIDADES DO EXÉRCITO
Segundo Teixeira (2006) apud Pereira143, os diversos cenários internacionais
mostram a “necessidade de haver uma política de equipamento do Exército”.
Segundo este autor, o Programa de Reaparelhamento e Adequação do Exército
prevê a necessidade de cinco Sistemas Operacionais (S Op) e duas inovações
básicas. Os S Op que precisam ser absolutamente atualizados e reequipados são os
seguintes:
• Sistema de Comando e Controle (C2), que organiza todas as unidades
espalhadas pelo território nacional. O investimento está ligado a modernos
meios de comunicação;
• Sistema de Inteligência;
142 Uma minuta desse PLC está colocada em anexo a este trabalho. Nota do autor. 143 Merval Pereira, jornalista, em edição do Jornal “O Globo” de 12 de agosto de 2006.
214
• Sistema de Manobra, por meio do qual efetivos militares (batalhão, grupo,
regimento, brigada) podem ser deslocados com oportunidade para combater
uma ameaça terrorista (seqüestro a atletas estrangeiros nos Jogos Pan-
americanos do Rio de Janeiro) ou enfrentar um grupo guerrilheiro que entre
em território nacional (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC,
em Roraima);
• Sistema de Apoio de Fogo para enfrentar uma ameaça direta;
• Artilharia “de terra”144 dotada de um (moderno) sistema de mísseis que seja
capaz de impedir [ou melhor, dissuadir] uma força-tarefa estrangeira de se
aproximar do território brasileiro com intenção hostil.
Outra necessidade relatada surge da apreciação de Proença Júnior (2006),
citado por Pereira, que afirma a prioridade do discurso (e das ações) do Exército na
Região Amazônica, com o deslocamento de mais uma brigada de infantaria para
aquela região, totalizando quatro grandes unidades operacionais em um futuro
próximo.
Bastos (2006), por sua vez, reitera a necessidade do fortalecimento da BID
por meio da condução das ações estratégicas previstas para a PNID e que visam à
diminuição progressiva da dependência externa em PED, desenvolvendo-os e
produzindo-os internamente.
O EB indicou as suas necessidades em MEM de forma direta por meio dos 13
(treze) projetos considerados prioritários no desenvolvimento de MEM:
• Veículo Blindado de Rodas URUTU III;
• Sistema de Artilharia Antiaérea (Radar + Míssil);
• Sistema de Comando e Controle;
• Integração das Bases de Dados;
• Sistema de Pagamento de Pessoal do Exército;
144 O Professor Francisco Carlos Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, se refere, possivelmente, a uma artilharia baseada (em solo) no território nacional que tenha capacidade operacional de bater alvos marítimos, o desembarque anfíbio de tropas e participar em combates terrestres. É lícito supor que seja uma provável evolução dos conceitos de Artilharia de Campanha e Artilharia de Costa existentes no EB associados ao conceito de ‘Defesa do Litoral’ ou “Litoral Warfare”, utilizado pelos norte-americanos. O Exército possui o Sistema ASTROS II produzido pela AVIBRAS, com capacidade para cumprir esta missão, ainda que em quantidade insuficiente para o todo o litoral brasileiro. Este valioso sistema de armas dispõe de excelentes condições para ser aprimorado, atualizado e aperfeiçoado com a finalidade de incrementar seu excelente desempenho comprovado na Guerra Irã-Iraque (1982) e na 1ª Guerra do Golfo Pérsico (1991). Nota do autor.
215
• Fuzil 5,56 mm com luneta de tiro noturno, mira laser, mira de visada
rápida diurna e lançador de granadas de 40 mm;
• Arma Leve Anti-Carro145 (ALAC), com simulador;
• Morteiro médio e munições;
• Equipamentos de visão noturna;
• Morteiro Pesado 120 mm e Munições;
• Míssil Anti-Carro (MSS 1.2);
• Sistema Tático de Guerra Eletrônica;
• Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT).
A exposição da lista anterior em palestra no 38º Fórum sobre Tecnologia
Militar ocorrido em São Paulo, em novembro de 2006, provocou naturais
questionamentos junto à assistência composta essencialmente por especialistas e
jornalistas. O principal questionamento se referiu à maneira pela qual aqueles
projetos foram definidos no âmbito do Exército, ou seja, a pergunta dirigida ao
palestrante tinha por objetivo saber quais as ameaças ou capacidades foram
levadas em conta pelo EME quando do seu estabelecimento. O entendimento geral
da platéia, na avaliação deste autor naquela oportunidade, é de que a percepção de
necessidades básicas, capacidades futuras e/ou ameaças da assistência era
bastante diferente daquelas que presumivelmente foram levadas em conta pelo
Exército quando do estabelecimento da lista de projetos.
Outro aspecto, abordado anteriormente no início desta seção, diz respeito à
modificação, por parte do EB, na prioridade ou na especificação de determinado
MEM durante o processo de desenvolvimento do projeto. Exemplifica-se, ainda que
superficialmente, com o caso da Nova Família de Blindados sobre Rodas (NFBR). O
programa teve início no alvorecer da década atual e sofreu várias modificações. A
empresa AVIBRAS chegou a produzir um protótipo denominado ‘Guará’, mediante
convênio estabelecido com o EME e com o IPD, porém uma reorientação nos
requisitos operacionais do Exército interrompeu o seguimento do projeto. Como
resultado, o EB permanece, até hoje, sem Viaturas Blindadas Sobre Rodas (VBSR)
modernas e atualizadas tecnologicamente, afetando sensivelmente sua capacidade
operacional. Esse tipo de conduta, ainda que não-intencional, provoca na BID, via de
145 O pesquisador Expedito Bastos, UFJF, em entrevista a este autor, faz restrições a capacidade efetiva desse MEM em particular por considerá-lo de produção artesanal. Nota do autor
216
regra, o descrédito e temor de fracasso em novas parcerias entre ambos, observado
por este autor, de forma direta, em várias reuniões do COMDEFESA em 2007.
Recentemente, O Cmt Ex aprovou a Diretriz para o Reaparelhamento do
Exército (Portaria Nr 346, Cmt Ex, de 29 de maio de 2007), que em suas premissas
básicas indica que o reaparelhamento do Exército deverá (grifo nosso) privilegiar a
BID nacional quando da compra de MEM, como estímulo e no intuito de reduzir a
dependência externa. Esse posicionamento do Cmt Ex é bastante significativo e
serve de compromisso de seu Comando nessa direção junto à BID.
4.4 INTERESSES E CAPACIDADES DA BID
A BID tem demonstrado claramente seus interesses por meio da participação
em fóruns, congressos, reuniões com o Exército, FA, MD e o Governo Federal, onde
procura expressar a sua vontade e suas aspirações.
Em recente palestra na USP, o presidente da ABIMDE expôs, claramente, a
preparação para o futuro (intenções) dessa associação organizada, qual seja:
• Participação efetiva no Planejamento Estratégico do MD e das FFAA;
• Garantia de Continuidade para os Programas de Defesa (por meio de
gestões junto a CREDEN e às bancadas dos partidos políticos no
Congresso Nacional);
• Financiamento à Pesquisa, ao Desenvolvimento de Protótipos e à
Fabricação de Pré-Séries (por meio da solicitação de financiamentos
principalmente junto a FINEP);
• Programa “COMPRE BRASIL” (incentivo à compra de MEM somente
de empresas brasileiras146);
• Apoio à Exportação de Produtos de Defesa (gestões no aprimoramento
do PNEMEM);
• Apoio à integração interna entre as FA (busca-se diminuir ou, pelo
menos, atenuar as diferenças nos processos de obtenção de MEM
existentes entre as três forças);
• Integração Regional na América Latina (dentro de um contexto
favorável de negócios147); 146 Baseado no estudo da legislação norte-americana denominada “Buy American Act”, 1933, que impõe às FA dos EUA compras domésticas em PD e MEM, de forma exclusiva. Nota do autor.
217
• Atender ao estabelecido na Política Nacional da Indústria de Defesa
(PNID).
Segundo Aguiar (2007), os objetivos da BID, de acordo com a ABIMDE e, em
coincidência com a PNID, são:
• Conscientização Gradual da Sociedade quanto à Importância da BID;
• Diminuição Progressiva da Dependência Externa;
• Eliminação das Distorções Tributárias e Redução da Carga Tributária
para Produtos Estratégicos;
• Ampliação da Capacidade de Aquisição das FFAA;
• Melhoria da Qualidade Tecnológica dos Produtos de Defesa;
• Aumento da Competitividade para Expandir Exportações;
• Melhoria da Capacidade de Mobilização Industrial.
Os pleitos estratégicos da BID, ao seu turno, são:
• Retomada da atuação conjunta com o MD, utilizando os seus
mecanismos – FID, CMID, CTID, COLOG;
• Dar seguimento à implantação e consolidação da PNID;
• Consolidação de legislação federal que suporte uma política
nacional de “Compre Brasil” para os segmentos industriais
estratégicos;
• Desoneração fiscal para os segmentos industriais estratégicos de
base tecnológica (eliminação das assimetrias);
• Aprovação de legislação federal instituindo o caráter “impositivo” ao
OGU para os segmentos industriais estratégicos de base
tecnológica;
• Levar ao Congresso Nacional e votar o PLC148 que conceitua
“produtos estratégicos” e “empresas estratégicas” e estabelece
regras para a aquisição desses produtos e atribui diretrizes para a
capacitação e competitividade dessas empresas. (Encaminhado
pela FIESP, em 2006, ora em estudos no MD e nas FFAA).
147 Entende-se de difícil atendimento em um futuro imediato. Nota do autor. 148 Em anexo a este trabalho. Nota do autor.
218
As capacidades da BID relacionadas149 são as seguintes: aeronaves turbo-
jato e turbo-hélice de ataque, interceptação, C2 e sensoriamento remoto; aeronaves
de asa rotativa (Helibras); mísseis e foguetes; sistemas de C2; veículos especiais;
artilharia de saturação de área; munições e armas leves; munições navais e de
artilharia; tecnologias não-letais; sistemas de comunicações de campanha (rádio e
fio); sistemas de GE; sistemas de controle de tráfego aéreo; equipamentos
aeroespaciais; sistemas de radar de vigilância terrestre e à baixa altura; submarinos;
corvetas; material de intendência; pirotécnicos; blindagens; dentre outros.
De acordo com a ABIMDE, a BID se caracteriza, na atualidade, por:
• Alta tecnologia (ainda que em setores restritos);
• Pessoal qualificado (em que pese as necessidades crescentes em RH
para atender a EMBRAER);
• Intensidade de capital (localizado);
• Flexibilidade (marcante, sem dúvida, pela sobrevivência a continuadas
crises); e
• Atuação global (exemplificada pela EMBRAER, AVIBRAS, CBC, IMBEL,
dentre outras).
Há, porém, necessidade fundamental de um estudo aprofundado na área de
inteligência comercial, bem como na área acadêmica, sobre a tecnologia militar
empregada, potencial de mercado, projeto de dimensionamento de forças armadas,
dentre outros, que proporcionem uma mensuração mais apurada da capacidade
industrial da BID e como ela pode responder às necessidades do Exército e
das demais FA.
4.5 SITUAÇÃO ATUAL
A situação atual do relacionamento EB – BID é, ainda, pouco definida. O
desejo de ambas as partes é de que ele possa ser melhorado e aprimorado. Para
tanto, se espera um aporte de recursos substancial por parte do Governo Federal no
reaparelhamento das FA, porém, o senso comum indica que as promessas deste
último ator não, normalmente, pouco confiáveis.
149 Conforme apresentação do Diretor-Presidente da ABIMDE em palestra na USP em junho de 2007. Nota do autor.
219
Este autor entende que o Exército, em particular, se ressente de um
‘treinamento adequado’ para realizar compras nacionais de vulto pelo simples fato
de não fazê-las há muito tempo. A falta continuada de aquisições nos últimos anos
provocou um sentimento de descrença em novas compras num futuro próximo,
percepção interna geral aos militares. Essa percepção negativa afasta,
naturalmente, a F Ter da BID. A expressão utilizada, segundo muitos militares do
convívio pessoal deste autor, é simples e direta: “o MEM é excelente, atende às
necessidades, mas o Exército não tem recursos para comprá-lo”.
Sem a sinalização clara de recursos e de um cronograma de desembolso
financeiro que ultrapasse o ano fiscal150, as encomendas não poderão ser feitas. A
BID não poderá vender e o EB, tampouco, adquirir. As dificuldades impostas pela Lei
das Licitações (Lei 8.666/1993) são grandes para compras das FA que excedam o
exercício anual.
Jairo Cândido, coordenador do COMDEFESA, manifestou a orientação
seguida pela FIESP de buscar junto ao Poder Executivo elementos para o
estabelecimento de programa de compras para as FA, algo como um ‘PAC militar’,
em referência ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo
Federal. Para tanto, esse programa deveria estar inserido no Programa Plurianual do
Governo Federal 2008-2011151.
A discussão da situação atual direciona o tema em questão para o
estabelecimento de uma postura pró-ativa, qual seja a preparação de um grupo de
alto nível para dar o tratamento adequado aos recursos – humanos152, materiais e
financeiros – para o reaparelhamento do EB através de PD e MEM oriundos da BID.
Este autor entende preliminarmente que, fruto da proeminência da Expressão
Econômica sobre a Expressão Militar na atualidade, os recursos financeiros
governamentais para aquisição de novos MEM serão aportados, preferencialmente,
de forma direta na BID. Possivelmente com pouca capacidade de gerenciamento da
F Ter sobre os referidos recursos. A efetiva ocorrência dessa possibilidade indicará,
de forma contundente ao Exército, a necessidade de diálogo e negociação direta
entre a Instituição e a BID, para que a F Ter seja adequadamente atendida em suas
necessidades de material bélico. Uma comparação, ainda que sumária, com o que o
150 O desenvolvimento de um projeto de MEM excede normalmente o ano fiscal. Nota do autor. 151 Estima-se um valor aproximado de 10 bilhões de reais para as FA ao longo de quatro anos. Já referenciado e sujeito a mudanças. Nota do autor. 152 O foco do trabalho é definir a equipe e suas atribuições, ou seja, RH. Nota do autor.
220
ocorreu nas décadas de 1970 e 1980 é pertinente. Naquela ocasião, os governos
militares privilegiaram o mercado externo, em detrimento das FA. Situação similar
poderá vir a se repetir agora, porém no sentido das FA não disporem do controle
total no atendimento de seus anseios em MEM, pela prioridade a ser dispensada a
BID, segmento econômico nacional.
No estudo desta tese, busca-se um modelo de equipe que seja capaz de
proporcionar a interface entre a F Ter e a BID. Não somente isso, que seja capaz de
integrá-los em um nível que provoque sinergia, trazendo ganhos e benefícios
expressivos para ambos.
No momento aquele grupo não existe; tampouco, modelos próximos podem
ser encontrados. Existe pouca bibliografia a respeito, bem como as pesquisas e
questionários enviados ao exterior foram pouco elucidativos a respeito, com ressalva
para o esforço direcionado para a experiência inglesa. O conhecimento sobre o
tema, mensurado indiretamente pelas pesquisas feitas no Brasil indicaram, de forma
geral, tendências do EB e da BID. Entende-se a necessidade de esforço criador na
organização de um modelo de equipe integrada de trabalho, foco desta tese.
Em relação ao tema, a MB encontrou uma solução que se aproxima do meio
empresarial, a EMGEPRON. A FAB, por sua vez, possui uma estrutura avantajada e
historicamente consolidada para o tratamento do tema do desenvolvimento e
aquisição de MEM, que são o CELOG e o CTA. Hoje, o EB manifesta, pelo
Macroprojeto Mobilização – Projeto Nr 4, a intenção da criação de um órgão em São
Paulo para o aproveitamento do potencial do parque industrial instalado no Núcleo
Central do País (junto ao principal centro da BID nacional).
O estudo da interface com a BID dentro do Exército é importante e vem sendo
conduzida na 4ª Subchefia do EME. O que se busca, porém, é definir uma melhor
interface entre os atores, não somente nas “equipes-células” que, espera-se, devem
conduzir os projetos comuns de MEM específicos, de forma integrada, mas também
outra equipe, de alto nível, que estabeleça a comunicação, a confiança e a sinergia
nos trabalhos entre o EB e a BID.
221
4.6 RESULTADOS DO LEVANTAMENTO DE DADOS
4.6.1 Pesquisa Exército
A pesquisa conduzida junto ao pessoal do Exército buscou perceber a opinião
dos militares em um universo de alto nível dentro da FTB, caracterizado pela
oficialidade que freqüenta os diversos cursos da ECEME, bem como seus
instrutores. Esse universo possui, em tese, alto grau de representatividade na
estrutura do Exército por agregar militares de diversas origens, especialidades e com
bom conhecimento da Força Armada.
As respostas recebidas e as idéias levantadas indicaram tendências já
observadas e são válidas partindo-se da premissa principal da seriedade e
responsabilidade dos oficiais ao responderem tal pesquisa153. A não-observância
desse aspecto poderia vir acarretar ‘achismos’ ou um caráter tendencioso nos
resultados verificados.
O interesse sobre o relacionamento EB-BID nos profissionais do EB,
entrevistados ou que responderam as pesquisas qualitativas, confirmou uma
percepção prévia, indicadora de uma tendência: que a maior parte do universo
procura estar atenta aos assuntos sobre a BID porque busca entender de que
maneira as empresas nacionais poderão contribuir para a manutenção de um
Exército forte pelo fornecimento de MEM adequados para a F Ter.
O grau de conhecimento sobre o tema é bastante variável em função da
origem distinta e do período da carreira militar, pois a maioria (alunos da ECEME,
com exceção daqueles do CDEM) começou recentemente a lidar de forma mais
direta com assuntos de logística, mobilização e C&T que afetam o desenvolvimento
de MEM e sua incorporação ao Exército.
A maioria dos militares, todavia, possui um grau mínimo de conhecimento da
BID, caracterizado pela referência às principais empresas e MEM nacionais. O
conhecimento sobre o relacionamento entre o EB-BID é limitado porque, no
entendimento das respostas, observou-se falta de experiência direta no assunto,
bem como de referenciais mais específicos. O tratamento dispensado às pesquisas
foi qualitativo e não quantitativo, porém indica, a priori, um limitado conhecimento
das capacidades da BID por parte daquele universo.
153 Um questionário com uma resposta considerada inconsistente por incoerência lógica foi desprezada. Nota do autor.
222
As principais empresas referenciadas naquele instrumento foram: IMBEL,
AVIBRAS, EMBRAER, HELIBRAS, CBC, TAURUS, CONDOR, DF
VASCONCELLOS, TROLLER (pertencente, hoje, à empresa ‘Land Rover’),
MECTRON, EMGEPRON, DAIMLER-BENZ, dentre outras.
O Gab Cmt Ex, o EME (3ª e 4ª subchefias), o DCT, o D Log e o COTER são,
segundo a pesquisa conduzida, as principais macroestruturas, internas ao Exército,
que deveriam fazer parte de uma interação de esforços com a BID, segundo
tendência indicada nos levantamentos conduzidos.
O MD, as universidades, o BNDES, o MDIC, os parques tecnológicos e o
Congresso Nacional se constituem nas principais referências da sociedade que
poderiam participar do processo de associação EB-BID.
Quanto ao tratamento considerado prioritário no emprego dos recursos para
aquisição de MEM para proporcionar poder de combate ao Exército Brasileiro,
considerando um quadro atual de limitadas ameaças externas imediatas à
Soberania nacional, as principais indicações obtidas na referida pesquisa foram:
• 1ª Prioridade: Realizar um planejamento de aquisição de MEM a médio
e longo prazo, obtendo o rigoroso comprometimento da BID no sentido
de efetivá-lo;
• 2ª Prioridade: Realizar compras de MEM nacionais, desenvolvendo a
BID em médio prazo; porém, sem obter o comprometimento desta
Base Industrial de Defesa no fornecimento continuado ao Exército;
• 3ª Prioridade: “Montar”, no Brasil, MEM oriundos de países
estrangeiros;
• 4ª Prioridade: Realizar preferencialmente “compras de oportunidade”
de MEM em países estrangeiros, por meio de representantes
comerciais no Brasil, para manter um nível mínimo de adestramento do
Exército.
Em outro questionamento daquela pesquisa e que diz respeito à participação
de militares da ativa – de diferentes postos ou graduações (operacionais, técnicos
e/ou engenheiros militares) – isolados ou em grupos – em atividades de
desenvolvimento de MEM de interesse para o EB, ficando adidos a uma OM e junto
a empresas da BID no Brasil por um prazo determinado, foi constatado que a
maioria das respostas indicou a validade dessa proposta.
223
Segundo entendimento deste autor, com objetivos diferentes para cada
situação particular, a finalidade desse tipo de missão é realizar o fomento industrial
da BID.
Na busca do entendimento de novas tecnologias que poderão vir a serem
estudadas, verificou-se, por meio daquele instrumento, que a ordem de prioridade
considerada adequada, naquele universo militar em estudo e na atualidade, para o
desenvolvimento de tecnologias de interesse para a BID por meio de programas
mobilizadores154 no Brasil é a seguinte:
• 1ª Prioridade: Veículo Blindado de Transporte de Pessoal (VBTP)
(carros de combate e transporte de tropa);
• 2ª Prioridade: Veículo Lançador de Satélites (VLS) (mísseis e foguetes
de artilharia);
• 3ª Prioridade: Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) (sensoriamento
remoto, reconhecimento, apoio de fogo);
• 4ª Prioridade: Informática (guerra cibernética);
• 5ª Prioridade: Ciclo do Combustível Nuclear (energia controlada);
• 6ª Prioridade: Eletromagnetismo (armas de pulso eletromagnético,
interferências, guerra eletrônica);
• 7ª Prioridade: Hidrogênio e célula de combustível (energia);
• 8ª Prioridade: Nanotecnologia (emprego diversificado, espionagem,
sensoriamento, etc.);
• 9ª Prioridade: Biomassa / Biodiesel (energia); e
• 10ª Prioridade: Biotecnologia (Defesa Biológica).
4.6.2 Pesquisa BID
A pesquisa155 conduzida junto às empresas (presidências e diretorias) da BID
apresentou, em caráter preliminar, e considerando-se a premissa fundamental da
responsabilidade no preenchimento156, os seguintes resultados:
154 “Programa Mobilizador é um programa capaz de arregimentar, aglutinar, organizar e pôr em movimento, ou criar, o potencial nacional necessário para uma ação política que vise ao desenvolvimento social, econômico e/ou militar, através do domínio, uso, aperfeiçoamento, geração de conhecimentos empíricos, intuitivos, científicos, tecnológicos, inovações, que resultem em produtos, processos, sistemas ou serviços novos ou substancialmente melhorados”. (Wladimir Pirró e Longo, PHD). Nota do autor. 155 Da mesma maneira que a pesquisa conduzida no âmbito do EB, este procedimento metodológico pode ser encontrado ao final deste trabalho, junto aos apêndices. Nota do autor.
224
Primeiramente; as empresas acreditam ter um bom conhecimento do Exército
Brasileiro. Os principais órgãos da estrutura do Exército que são conhecidos pelas
empresas são o D Log, EME, CTEx, CAEx, DMAvEx, DFPC, IME e ECEME.
Quanto às associações da BID que efetivamente deveriam participar em uma
integração de esforços com o Exército Brasileiro para a produção de MEM, a
indicação prioritária das empresas recaiu sobre a ABIMDE (Associação Brasileira
das Indústrias de Material de Defesa e Segurança), porém com participação
associada do COMDEFESA (Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa),
SIMDE (Sindicato das Indústrias de Defesa) e AIAB (Associação das Indústrias
Aeroespaciais do Brasil).
Entende-se o posicionamento das empresas pela importância da ABIMDE
para o setor e, propriamente, pelos objetivos da mesma. O COMDEFESA, segundo
expresso por sua supervisora157, tem a finalidade de apoiar a ABIMDE na esfera da
FIESP e junto aos demais órgãos com os quais estabelece relacionamento – este
comitê representa o auxílio do peso político dessa associação de indústrias no
âmbito nacional. O SIMDE, por sua vez, como sindicato patronal, acaba por associar
o interesse dos empresários da BID nessa área, interessante para o controle das
atividades e dos negócios. A AIAB, por sua vez, é a congênere da ABIMDE no setor
aeroespacial. Tendo em vista a evolução tecnológica acelerada neste campo, ela
compartilha muitos interesses na área de informática e eletrônica com a ABIMDE,
notadamente junto à FAB.
As empresas componentes da BID entendem, ao responderem a referida
pesquisa, que o MD, o BNDES, o MDIC, os pesquisadores e universidades civis,
bem como o Congresso Nacional, se constituem nas principais referências da
sociedade brasileira que poderiam auxiliar no processo de associação EB-BID.
Quanto ao tratamento considerado prioritário no emprego dos recursos para
aquisição de MEM para proporcionar poder de combate ao Exército Brasileiro,
considerando um quadro atual de limitadas ameaças externas imediatas à
Soberania nacional, a opinião das empresas expressa na pesquisa foi, de forma
geral, semelhante àquela do segmento militar, acrescida de mais algumas idéias que
foram levantadas.
156 A resposta aos questionários foi feita, em sua maioria, pelos presidentes e pela diretoria das empresas. Nota do autor. 157 Maura Curci. Nota do autor.
225
• 1ª Prioridade: Realizar um planejamento de aquisição de MEM a médio
e longo prazo, obtendo o rigoroso comprometimento da BID no sentido
de efetivá-lo;
• 2ª Prioridade: Realizar compras de MEM nacionais, desenvolvendo a
BID em médio prazo; porém, sem obter o comprometimento desta
Base Industrial de Defesa no fornecimento continuado ao Exército;
• 3ª Prioridade: “Montar”, no Brasil, MEM oriundos de países
estrangeiros;
• 4ª Prioridade: Realizar preferencialmente “compras de oportunidade”
de MEM em países estrangeiros, por meio de representantes
comerciais no Brasil, para manter um nível mínimo de adestramento do
Exército.
Outras idéias levantadas pelas empresas foram: envolver a BID na
determinação de necessidades, oportunidades e definição de programas de
aparelhamento e adestramento da FTB, assim como o estabelecimento de uma
‘parceria’ entre o EB/iniciativa privada para o desenvolvimento de aquisição de MEM
nacional. Esta idéia, exposta por uma empresa, enseja em si mesma, o cerne para o
estabelecimento de uma equipe comum de trabalho.
Entende-se, fruto de entrevistas, pesquisas e contatos e de forma
praticamente conclusiva, a necessidade do estabelecimento de um programa
comum de trabalho e integração de esforços entre o EB e a BID como a maneira de
garantir o reaparelhamento da FTB, o desenvolvimento da BID e, principalmente, a
SOBREVIVÊNCIA DE AMBOS em um cenário volátil, indefinido, complexo e
ambíguo, vivido na atualidade.
Em se tratando da participação de militares da ativa em atividades de
desenvolvimento de MEM de interesse para o EB junto a empresas da BID no Brasil
por um prazo determinado, observa-se a concordância praticamente total das
empresas participantes da pesquisa com a validade dessa proposta e com o
pensamento do segmento militar anteriormente ouvido.
Quanto ao conceito de programas mobilizadores, a tendência apresentada
pela BID é semelhante à tendência apresentada no meio militar, com alterações a
partir da sexta prioridade, bem como a inclusão do estudo de armas não-letais,
dinâmica dos fluidos, dentre outros. Observou-se a seguinte tendência das
empresas da BID que responderam ao questionário:
226
• 1ª Prioridade: Veículo Blindado de Transporte de Pessoal (VBTP)
(carros de combate e transporte de tropa);
• 2ª Prioridade: Veículo Lançador de Satélites (VLS) (mísseis e foguetes
de artilharia);
• 3ª Prioridade: Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) (sensoriamento
remoto, reconhecimento, apoio de fogo);
• 4ª Prioridade: Informática (guerra cibernética);
• 5ª Prioridade: Ciclo do Combustível Nuclear (energia controlada);
• 6ª Prioridade: Biomassa / Biodiesel (energia);
• 7ª Prioridade: Hidrogênio e célula de combustível (energia);
• 8ª Prioridade: Eletromagnetismo (armas de pulso eletromagnético,
interferências, guerra eletrônica);
• 9ª Prioridade: Nanotecnologia (emprego diversificado, espionagem,
sensoriamento, etc.); e
• 10ª Prioridade: Biotecnologia (Defesa Biológica).
4.6.3 Pesquisa Adidos Militares
A análise dos dados obtidos foi parcial e orientada para a compreensão geral
do papel do MD naqueles países, assim como o estudo do Reino Unido, em
particular. Isto ocorreu pelo fato daquela pesquisa ter sido remetida aos adidos
militares em uma fase inicial de estudos, em que as definições eram pouco claras
sobre o objetivo e o foco da tese. Entende-se que existe, ainda, uma grande
quantidade de informações atuais a serem processadas em futuros trabalhos de
pesquisa. Este autor coloca o conteúdo obtido à disposição de pesquisadores que
tenham interesse no assunto.
Em relação ao material que foi estudado, a principal conclusão no estudo
parcial das respostas recebidas em relação ao objetivo deste trabalho é que os
países conduzem a obtenção de PED e MEM por meio dos respectivos ministérios
de defesa, que coordenam e controlam a maioria das fases desse processo junto a
BID ou a fornecedores estrangeiros.
As FA se enquadram na estrutura do respectivo ministério e, em função de
suas necessidades, se adaptam às regras e procedimentos estabelecidos pelos
órgãos normalmente encarregados da obtenção de material de interesse militar. Os
227
destaques são para o DGA francês e a estrutura associada DPA/DLO inglesa como
órgãos responsáveis pelas fases de desenvolvimento, obtenção e acompanhamento
do MEM durante o ciclo de vida, dentre outras.
4.7 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
O momento atual é de expectativa em função da possibilidade da execução
de um programa de reaparelhamento das FA, em especial do Exército, ao longo dos
próximos anos. Uma excelente oportunidade de crescimento para a BID. Este autor,
entende que o Exército, por força de necessidades operacionais prementes, não
pode esperar que seja criado um ‘DGA’ brasileiro, por meio do MD, para encontrar
uma forma ideal de se relacionar com a BID. Há necessidade, desde já, na
coordenação e, preferencialmente, na integração de esforços com a indústria bélica
nacional.
Em havendo destinação de recursos158, bem como projetos de PED ou MEM
nacionais com viabilidade operacional (definidos capacidades, cenários e ameaças
que os justifiquem), viabilidade técnica (estudos e tecnologia) e viabilidade
econômica (financiamento e perspectiva de lucro), surge a necessidade de uma
estratégia bem elaborada entre o Exército e a BID para se conjugar o pensamento à
ação. Para executar essa estratégia, há, sem dúvida alguma, necessidade de uma
interface adequada que não privilegie nenhuma das partes na elaboração dos
planos e na execução das tarefas, sob pena de não haver continuidade no tempo,
pela quebra da confiança.
Assim, como postura pró-ativa e inserida em uma estratégia maior de
integração entre o EB a BID de longo prazo e com vistas ao fortalecimento da
Defesa Nacional, sugere-se, pela inexistência de modelo atual, o estabelecimento de
uma equipe de trabalho de alto nível, de caráter multidisciplinar e balanceado, que
associe e integre as necessidades do Exército em MEM com os interesses e as
capacidades da Base Industrial de Defesa nacional.
Essa equipe será estudada na Seção Primária 5.
158 A não-destinação de recursos financeiros não inviabiliza a formação de uma equipe, ao contrário, estimula, pois, os dois atores nacionais, unidos, possuem, em tese, maior força política junto ao Governo Federal. Nota do autor.
228
UM MODELO DE RELACIONAMENTO INTEGRADO EB - BID
O modelo de relacionamento a ser proposto está baseado, dentre outros, nos
trabalhos abordados sobre desenvolvimento de equipes, no conceito de “Team
Syntegrity” proposto por Stafford Beer nas décadas de 1980 e 1990, bem como no
estudo da “Soft Systems Methodology”, todos apresentados no Referencial Teórico.
A referência inicial do autor, ainda em 2004, e que despertou o interesse para
o tema foi a experiência britânica conduzida pelas ‘Equipes Integradas de Projeto’
(IPT).
5.1 QUESTIONAMENTO AUXILIAR PROPOSTO
Em relação ao referencial teórico apresentado na Seção 3 e da discussão da
situação atual do relacionamento EB – BID, apresentada na Seção 4, cumpre fazer
um questionamento159, auxiliar e motivador, que possa proporcionar o enlace das
informações apresentadas com o estudo elaborado nesta tese:
• O que e, principalmente, como fazer, para que o relacionamento entre o
EB e a BID possa repetir o sucesso alcançado no passado recente
(décadas de 1970 e 1980)?160
Entende-se que o caminho passa pela superação dos interesses e práticas do
passado recente que permanecem em muitos civis e militares, impedindo o
aparecimento de novas técnicas que poderiam facilitar o entendimento mútuo dos
principais atores. Um ponto importante a ser considerado é vencer os personalismos
ainda existentes e que foram resultados dos sucessos alcançados – e também de
muitos fracassos. Conca (1997) indica, ainda, o estabelecimento de uma divisão
nítida de responsabilidades, entre o setor público e o setor privado, como facilitadora
dos processos.
159 Sem entrar em considerações de caráter metodológico. Nota do autor. 160 Considerar que há necessidade de se evitar que esses atores se tornem vítimas daquele período histórico, por não serem capazes de repetir o êxito então obtido, bem como, vencerem os atuais desafios. Nota do autor.
229
Há certeza da necessidade do aprimoramento do relacionamento do Exército
com a BID e vice-versa, em consonância com o fortalecimento natural do MD e o
aumento de sua participação no controle dos investimentos em aquisições de PD e
ou MEM nacionais em médio e longo prazo. É mister a integração de esforços
institucionais e empresariais nos diversos níveis.
Conjugar o pensamento à ação161. Esta é a principal dificuldade ora
encontrada. Para tanto, um primeiro passo. Acredita-se que a organização de uma
Equipe Integrada de Trabalho (EIT) entre o Exército e as respectivas empresas da
BID por meio da ABIMDE, em caráter inicial, e por meio do MD em um futuro
mediato, seria um bom ponto de partida nesse sentido.
Entende-se que seja necessário conduzir o trabalho em etapas, de uma forma
educativa (tanto para o Exército e MD, quanto para a BID), evitando erros de
interpretação ocorridos no passado ou que eventuais sucessos isolados turvem a
visão do todo162.
Um processo conduzido em uma cadência lenta, mas constante, poderá vir a
permitir: a superação de possíveis (e saudáveis) mudanças de orientação
governamental; o adequado entendimento interno da crescente participação do MD
nos assuntos das FA; assim como as pressões (políticas e econômicas) do exigente
e restrito mercado mundializado (leia-se, também, pressões de governos
estrangeiros, ONG, organismos internacionais). Tudo isso em função da solidez e da
sinergia dos atores nacionais.
Entende-se, em um esforço de retórica, que o Brasil precisa voltar a
desenvolver e produzir material bélico em volumes maiores, reaparelhar o Exército,
e proporcionar a efetiva reativação da BID. De outra forma, em mais alguns anos,
as atuais “ameaças difusas” poderão se tornar claras, o inimigo imporá sua vontade
sem combater – a glória de um general – e o “rei estará morto163”.
Para tanto, vislumbra-se união de esforços e trabalho conjunto, buscando o
bem-comum e o fortalecimento do Brasil. Surge, desta maneira, o conceito de uma
Equipe Integrada de Trabalho (EIT), associando EB e BID.
161 Estabelecer a estratégia e executá-la. ‘Da Estratégia Militar à Estratégia Empresarial’. Fiévet, Gil. Portugal, 1992. 162 Por exemplo: o desenvolvimento de um VBSR conduzido com eficiência nos anos vindouros poderiam obscurecer os demais S Op. Pergunta-se: e os sistemas de armas? E a navegação inercial? Nota do autor. 163 Expressão do jogo de xadrez para a vitória. Nota do autor.
230
5.2 EQUIPE INTEGRADA DE TRABALHO (EIT)
5.2.1 Considerações
No âmbito individual, a condição primeira para participação, pessoal e
institucional, em uma equipe multidisciplinar que pretende integrar esforços, deve ser
a crença na Soberania Nacional e nos elevados destinos da Nação Brasileira164.
Este pensamento, mais elevado, busca caracterizar o idealismo para alcançar tão
complexo objetivo, procurando fortalecer o espírito dos participantes e evitar
comportamentos não-éticos de beneficiamento pessoal e/ou institucional que
possam vir a ocorrer em um ambiente em que existe um forte apelo ao comércio de
riquezas e que afeta os interesses nacionais e estrangeiros, nem sempre legítimos
e/ou declarados.
O estabelecimento de uma equipe de trabalho de alto nível, de caráter
multidisciplinar e balanceado, que associe e integre as necessidades do Exército em
MEM com os interesses e as capacidades da Base Industrial de Defesa nacional,
não é uma tarefa simples, tão pouco de execução imediata. Necessita de
determinação e vontade, requisitos fundamentais para a execução de uma
estratégia de sucesso em qualquer ramo de atividade. Inicia-se com os votos de
diálogo franco e objetivo.
5.2.2 Finalidade
A finalidade da EIT é proporcionar sinergia na integração do Exército
Brasileiro com a Base Industrial de Defesa, em um ambiente não-hierárquico165 das
expressões do Poder Nacional, bem como, de confiança mútua, tendo por meta o
fortalecimento da Defesa Nacional.
5.2.3 Objetivos
O principal objetivo da Equipe Integrada de Trabalho (EIT) será conjugar as
necessidades em MEM do Exército Brasileiro com os interesses e as capacidades
produtivas da Base Industrial de Defesa nacional.
A EIT terá outros objetivos, que concorrerão para a consecução do principal:
164 Essa colocação poderá parecer piegas, ao contrário, tem um caráter idealista e mobilizador, sem o qual o País não alcançará a condição de verdadeira Nação. Nota do autor. 165 Um aspecto de difícil superação para ambos os atores em função da CULTURA de cada um deles, em especial, para o Exército. Nota do autor.
231
• Estabelecimento do diálogo de forma aberta, evitando ao máximo a
hierarquização166 dos atores e/ou interesses. Esta é uma característica
marcante de equipes de alto desempenho e do modelo de Stafford Beer
que deverá ser buscada ao longo de todas as atividades sob pena da
proposta de sinergia e integração sofrer solução de continuidade;
• Definição e estudo de PD / MEM prioritários para o trabalho conjunto. O
Estado-Maior do Exército indicará a prioridade de PD / MEM para o
Exército. A ABIMDE indicará o interesse da BID, de forma conjunta ou
individual, por meio da capacidade da empresa. O estudo e a associação
de interesses mostrarão a prioridade do MEM no trabalho integrado;
• Aproximação da cadeia operacional, logística, de inteligência e de P&D do
Exército com as empresas da BID, integrando projetos de MEM desde a
concepção até a alienação, ao final do ciclo de sua vida útil.
5.2.4 Características
A equipe de trabalho deverá ser de alto nível, ligada diretamente ao
Comandante do Exército e ao presidente da ABIMDE.
Ela deverá ligar-se ao Cmt Ex, por este ser a mais alta autoridade militar na
FTB e a quem cabe a decisão final em assuntos de interesse geral da Instituição,
particularmente na coordenação da atuação conjunta do ODG e dos ODS e no seu
interelacionamento. A obtenção de MEM se constitui em um processo167 que
permeia o EME, COTER, DLOG, DCT, dentre outros órgãos.
Ela deverá estar ligada à ABIMDE, porque esta é a associação que
representa legal e juridicamente os interesses da BID. É necessário, entretanto, que
esta associação tenha reconhecimento público, organização primorosa, corpo e
atuação profissionais, e que zele, igualmente, pelos interesses de todas as
empresas, evitando que individualismos e, porventura, casuísmos venham a permitir
que algumas delas possam usufruir vantagens e facilidades indevidas. Dentro desse
166 Não significa, de forma alguma, atentar contra a Hierarquia e Disciplina do Exército. Ao contrário, há necessidade de relacionamento aprimorado e no mesmo patamar de importância e responsabilidade entre a Expressão Econômica (BID) e a Expressão Militar (EB) do Poder Nacional para a conjugação de esforços quanto à Defesa Nacional. Nota do autor. 167 Este processo se encontra em estudo no Sistema de Excelência do Exército. Nota do autor.
232
enfoque, entende-se, como mandatório, a profissionalização dos quadros da
ABIMDE como preceito básico para a continuidade das ações168.
Há necessidade do estabelecimento de um ‘Memorando de Entendimentos’
inicial entre o EB e a ABIMDE ou outro documento que indique as intenções, os
entendimentos e os acertos. Entende-se que, a partir disso, deverá ser celebrado um
convênio entre as partes envolvidas.
Os oficiais e praças do Exército, bem como os representantes da ABIMDE,
devem ser nomeados por 03 (três) anos. Esta ação tem por finalidade proporcionar
continuidade de esforços e fortalecimento das estratégias conjuntas169. A
substituição constante de militares e civis em funções-chave é prejudicial ao bom
andamento dos trabalhos. As naturais ou eventuais substituições não devem ensejar
solução de continuidade aos trabalhos.
Será mandatório o estabelecimento de um ‘Termo de Confidencialidade’,
assinado por todos os integrantes e eventuais participantes, dentro de parâmetros
de confiança e respeito. Deverá haver transparência nas ações internas das equipes
e um zelo esmerado no relacionamento com o público interno e externo para evitar o
vazamento de informações confidenciais que possam colocar em risco as ações em
planejamento ou em curso.
Os integrantes deverão receber orientações sobre um significativo número de
assuntos. Em caráter prioritário, alguns temas se apresentam, tais como:
gerenciamento de projetos, desenvolvimento de equipes, negociação, inteligência
competitiva, dentre outros.
Os salários e soldos deverão ser pagos pelas instituições de origem. Entende-
se, como mandatório, o recebimento de uma indenização de representação pelos
militares participantes da equipe, como forma de equivalência salarial aos elementos
oriundos do meio civil. Considera-se, na atualidade e historicamente, uma
defasagem salarial dos militares que, exposta em um ambiente de trabalho conjunto,
poderia, facilmente, colocar em risco o desempenho profissional por desestímulo,
assim como, sugerir um afastamento antecipado daquele profissional dos quadros
da ativa do Exército.
168 Este processo, segundo informação do Presidente da ABIMDE, deverá iniciar-se em 2007. Nota do autor. 169 Esta idéia guarda certo grau de semelhança com a concepção da EMGEPRON. Nota do autor.
233
Destaca-se, entretanto, que as decisões estratégicas relativas aos temas
tratados na EIT continuam e continuarão a ser tomadas pelos respectivos
níveis estratégicos do Exército Brasileiro e da Base Industrial de Defesa. O
entendimento desse último aspecto por todos os militares e civis é fundamental para
o funcionamento adequado da equipe.
5.2.5 Constituição e objetivos dos grupos
Na proposta de organização de uma EIT, diversos aspectos foram levados em
conta. Primeiramente, a experiência pessoal no trabalho com equipes
multidisciplinares adquirida, notadamente, durante o período de Comando da 1ª Bia
LMF, da missão junto à AVIBRAS170 e também no CCEM/ECEME.
Os estudos para o desenvolvimento de equipes, o modelo inglês de equipe
integrada de projeto (IPT), o ‘team syntegrity’ e o resultado das pesquisas
conduzidas e das entrevistas contribuíram, sobremaneira, para a elaboração da lista
de integrantes.
Os resultados das pesquisas, em especial, indicaram tendências para as
principais especialidades desejadas em uma EIT no âmbito de componentes
militares, quais sejam: experiência no âmbito operacional (usuário), logística,
engenharia militar, administração de/por projetos, jurídico-financeira, tecnologia da
informação e controle dos recursos humanos. No âmbito de componentes oriundos
da BID, verificou-se como importante a presença de representantes da área de
engenharia de sistemas, comercial, logística, jurídica, financeira e de pesquisa
acadêmica.
Na proposta britânica, verificada no referencial teórico, a estrutura de uma IPT
é composta, normalmente por representantes da área de requisitos (usuário),
gerência de projetos, engenharia de projetos, logística, comercial, financeira, bem
como representantes diretos da BID daquele país.
A constituição da equipe multidisciplinar de trabalho EB-BID proposta é a
seguinte, conforme pode ser visto na figura 35:
170 Adquirida em várias ‘campanhas de tiro’ conjuntas e em reuniões de coordenação para o desenvolvimento e aprimoramento do Sistema ASTROS II. Nota do autor.
234
• [a] General-de-Brigada Combatente representante direto do Cmt Ex171;
• [b] Oficial superior QEMA172 – Área Operacional;
• [c] Oficial superior QEMA – Área Logística;
• [d] Oficial superior QEM QEMA – Área de P&D;
• [e] Executivo representante direto da presidência da ABIMDE;
• [f] Representante sênior da área comercial/marketing;
• [g] Representante sênior da área de logística/projetos;
• [h] Representante sênior da área de engenharia de sistemas/P&D;
• [i] Gerência Geral Executiva e de Projetos – (EB e BID);
• [j] Representante da área jurídica e de finanças;
• [k] Representante da área de Inteligência (Militar, Comercial e
Competitiva173);
• [l] Representante da área de Recursos Humanos (RH);
Representante BID da área
de engenharia
Executivorepresentante da
ABIMDE
Representante BID da área
Logística
RepresentanteBID da área comercial
Oficial da áreaLogística
Oficial da áreaoperacional
Oficial da área de P&D
Gen Bdarepresentante
Cmt Ex
Representante da Inteligência
Representante da área jurídica
e finanças
Representante da área de RH
Gerência Geral e Executiva
EQUIPEINTEGRADA
DE TRABALHO
Figura 35 – Equipe Integrada de Trabalho (EIT) Fonte: o autor.
171 Preferencialmente, um oficial-general do Gabinete do Cmt Ex. Nota do autor. 172 Quadro de Estado-Maior da Ativa do Exército Brasileiro. Nota do autor. 173 Inteligência comercial ou competitiva. ‘Inteligência competitiva é um processo sistemático e ético de coleta, análise e disseminação de informações que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir pró - ativamente, bem como proteger o conhecimento sensível produzido’. (Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC), 2000. Professor Doutor Hélio Gomes de Carvalho, São Paulo, 2003).
235
Os grupos174 e respectivas constituições da EIT proposta são os seguintes:
• Grupo 01 – Grupo do Exército Brasileiro (GEB) [a – b – c – d]
o [a] General-de-Brigada Combatente representante direto do Cmt
Ex;
o [b] Oficial superior QEMA – Área Operacional;
o [c] Oficial superior QEMA – Área Logística;
o [d] Oficial superior QEM QEMA – Área de P&D;
o Este grupo tem origem no Exército e tem por objetivo representar
os interesses desta Instituição no relacionamento com a BID,
demonstrando claramente suas necessidades operacionais em
MEM e se comprometendo com a BID ao longo do ciclo de vida do
referido PD/MEM, desde o estudo inicial de suas Condicionantes
Operacionais (CONDOP) até a sua retirada por obsolescência;
o O grupo pode ser identificado na figura 36.
Figura 36 – Grupo 1 da EIT (GEB)
Fonte: o autor.
174 Os grupos são apresentados fora da ordem numérica para facilitar o entendimento posterior. Nota do autor.
Oficial Superior da Área Operacional
Oficial Superior da
Área Logística
Gen Bda
Combatente representante do
Cmt Ex
Oficial Superior da
Área de P&D (técnica)
236
• Grupo 06 – Grupo da Base Industrial de Defesa (GBID) [e – f – g – h]
o [e] Executivo representante direto da presidência da ABIMDE;
o [f] Representante sênior da área comercial/marketing;
o [g] Representante sênior da área de logística/projetos;
o [h] Representante sênior da área de engenharia de sistemas/P&D;
o Este grupo tem origem, por sua vez, na BID, por meio de sua
principal associação, a ABIMDE, entendida como coordenadora dos
esforços do setor nacional da área de Defesa175. Sua finalidade
principal é indicar a capacidade produtiva das empresas,
comprometendo-se junto ao Exército, com o cumprimento dos
requisitos operacionais, técnicos e de qualidade ao longo do ciclo
de vida dos PD/MEM;
o O grupo pode ser identificado na figura 37.
Figura 37 – Grupo 6 da EIT (GBID)
Fonte: o autor
175 Esta conclusão ocorreu por meio da participação constante deste autor nas reuniões do COMDEFESA no corrente ano. A ABIMDE se apresenta hoje como a entidade adequada para tal e possui reconhecimento do MD para o relacionamento com a Forças Armadas. Nota do autor.
Representante sênior da área comercial e de
marketing
Representante
sênior da área de logística e projetos
Executivo Sênior representante da presidência da
ABIMDE
Representante
sênior da área de engenharia de
sistemas e P&D
237
• Grupo 07 – Grupo de Interface, Controle e Coordenação (GICC) [i – j – k –
l]
o [i] Gerência Geral Executiva e de Projetos – (EB e BID);
o [j] Representante da área jurídica e de finanças;
o [k] Representante da área de Inteligência (Militar, Comercial e
Competitiva);
o [l] Representante da área de Recursos Humanos (RH);
o Objetivo: Conduzir a aproximação entre o EB e a BID, controlar o
processo de integração e Coordenar a EIT.
o Este grupo misto tem por finalidade controlar o processo de
integração entre o EB e a BID, buscando estabelecer a sinergia
necessária para levar a cabo as ações propostas pelas instituições
envolvidas. Este grupo se constitui no cerne176 do processo de ação
conjunta entre o Exército e a BID
o O grupo pode ser identificado na figura 38.
Figura 38 – Grupo 7 da EIT (GICC)
Fonte: o autor
176 Em inglês, poderia ser usado o termo “core”. Nota do autor.
Representante da área jurídica e de
finanças
Representante da
área de Inteligência (militar e
competitiva)
Gerência geral executiva e de
projetos
Representante da
área de Recursos Humanos
(EB e BID)
238
Nesse grupo de Interface, Controle e Coordenação, doravante denominado
GICC, prevê-se, no mínimo, dois elementos por função: um do EB e outro da BID. É
um grupo misto, onde os dois principais atores se encontram, controlam a integração
e coordenam a equipe (e grupos), bem como, as principais áreas comuns. Ele se
reúne, à medida que se reúnam os grupos ‘puros’ (1 e 6), constituídos somente por
elementos do EB ou BID.
• Grupo 02 – Grupo Político Estratégico (GPE) [a – e – i – k]
o [a] General-de-Brigada Combatente representante direto do Cmt Ex;
o [e] Executivo representante direto da presidência da ABIMDE;
o [i] Gerência Geral Executiva e de Projetos – (EB e BID);
o [k] Representante da área de Inteligência (Militar, Comercial e
Competitiva) do GICC;
o Objetivo: Coordenar o entendimento conjunto das orientações político-
estratégicas do EB e da BID, caracterizando as necessidades do
Exército, interesses da BID, a inteligência envolvida no ambiente de
defesa, bem como a gerência executiva da EIT, responsável pelo
controle da EIT;
o O grupo pode ser identificado na figura 39.
Figura 39 – Grupo 2 da EIT (GPE)
Fonte: o autor
Executivo Sênior representante da presidência da
ABIMDE
Gerência geral executiva e de
projetos
Gen Bda
Combatente representante do
Cmt Ex
Representante da área de
Inteligência (militar e competitiva)
239
• Grupo 03 – Grupo de Requisitos Operacionais e Comerciais (GROC) [b – f – i
– j]
o [b] Oficial superior QEMA – Área Operacional;
o [f] Representante sênior da área comercial/marketing;
o [i] Gerência Geral Executiva e de Projetos – (EB e BID);
o [j] Representante da área jurídica e de finanças do GICC;
o Objetivo: Determinar as necessidades (requisitos) operacionais e
comerciais (o que se quer), ou seja, definir/delimitar o PD ou MEM em
questão em termos militares e empresariais. A presença do elemento
jurídico e de finanças do GICC tem por finalidade se constituir em um
dos primeiros elementos auxiliares a colaborar na integração de
esforços na abordagem deste campo do conhecimento;
o O grupo pode ser identificado na figura 40.
Figura 40 – Grupo 3 da EIT (GROC)
Fonte: o autor
• Grupo 04 – Grupo de Engenharia e P&D (GEPD) [d – h – k – l]
o [d] Oficial superior QEM QEMA – Área de P&D;
o [h] Representante sênior da área de engenharia de sistemas/P&D;
Representante da área jurídica e de
finanças
Representante sênior da área comercial e de
marketing
Gerência geral executiva e de
projetos
Oficial Superior da Área Operacional
240
o [k] Representante da área de Inteligência (Militar, Comercial e
Competitiva) (GICC);
o [l] Representante da área de Recursos Humanos (RH) (GICC);
o Objetivo: Estudar os aspectos inerentes à P&D dos PD/MEM em pauta
e o seu interelacionamento com os demais aspectos. Utiliza-se,
também, dos conhecimentos em Inteligência, bem como o
assessoramento em RH na identificação de especialistas no tema
tratado, tanto no âmbito do EB, quanto da BID;
o O grupo pode ser identificado na figura 41.
Figura 41 – Grupo 4 da EIT (GEPD)
Fonte: o autor
• Grupo 05 – Grupo de Logística Integrada (GLI) [c – g – j – l]
o [c] Oficial superior QEMA – Área Logística;
o [g] Representante sênior da área de logística/projetos;
o [j] Representante da área jurídica e de finanças do GICC;
o [l] Representante da área de Recursos Humanos (RH) (GICC);
o Objetivo: Estudar os aspectos relativos à Logística (e eventual
Mobilização Industrial) envolvidos aos PD/MEM, considerando-se, em
particular, o ciclo de vida útil e o suporte logístico integrado. O auxílio
da área jurídica e financeira é fundamental na condução dos trabalhos.
Representante
sênior da área de engenharia de
sistemas e P&D
Representante da
área de Inteligência (militar e comercial)
Oficial Superior da
Área de P&D (técnica)
Representante da
área de Recursos Humanos
(EB e BID)
241
A participação do elemento de RH facilitará a busca por elementos
especializados que se fizerem necessários para a área logística;
o O grupo pode ser verificado na figura 42.
Figura 42 – Grupo 5 da EIT
Fonte: o autor
• Grupo 08 – Grupo de Logística EB/BID [a – c – e – g]
o [a] General-de-Brigada Combatente representante direto do Cmt Ex;
o [c] Oficial superior QEMA – Área Logística;
o [e] Executivo representante direto da presidência da ABIMDE;
o [g] Representante sênior da área de logística/projetos;
o Objetivo: Estudar os aspectos logísticos existentes entre EB e BID no
trato com MEM de forma direta. Este grupo não tem a participação
direta de elementos do GICC.177 Ele deverá se reunir na mesma
oportunidade em que se reúnem os grupos 3 e 4;
o O grupo pode ser verificado na figura 43.
177 Essa situação poderá acarretar dificuldade na interface. Entende-se, porém, que a sua reunião ocorrerá em uma fase do processo de trabalho da EIT em que isso é possível e desejável. Nota do autor.
Representante
sênior da área de logística e projetos
Representante da área jurídica e de
finanças
Oficial Superior da
Área Logística
Representante da
área de Recursos Humanos
(EB e BID)
242
Figura 43 – Grupo 8 da EIT
Fonte: o autor
• Grupo 09 – Grupo de Requisitos EB/BID [b – d – f – h]
o [b] Oficial superior QEMA – Área Operacional;
o [d] Oficial superior QEM QEMA – Área de P&D;
o [f] Representante sênior da área comercial/marketing;
o [h] Representante sênior da área de engenharia de sistemas/P&D;
o Objetivo: Estudar os aspectos relativos aos requisitos operacionais e
técnicos dos PD/MEM em questão de forma direta. Não há
representantes do GICC. Este grupo se reúne na oportunidade da
reunião dos grupos 2 e 5;
o O grupo pode ser verificado na figura 44.
Oficial Superior da
Área Logística
Executivo Sênior representante da presidência da
ABIMDE
Gen Bda
Combatente representante do
Cmt Ex
Representante
sênior da área de logística e projetos
243
Figura 44 – Grupo 9 da EIT
Fonte: o autor
• Grupo ‘DEZ’178 – Grupo de Suporte (GS) à EIT
o Durante o estudo, verificou-se a necessidade de um Grupo de
Suporte ou Grupo de Apoio para os trabalhos da EIT.
o Para tal, apresenta-se, a seguir a sua constituição (por times):
� Comunicação Social:
• Relações públicas;
• Assessoria de imprensa;
• Operações psicológicas179.
� Administrativo;
� Contabilidade;
� Segurança Orgânica:
• Contra-Inteligência;
• Proteção às instalações.
178 Este grupo, cuja função principal é prestar o apoio aos trabalhos dos demais grupos, poderá evoluir para uma condição associada em função da relevância e da quantidade de ações distintas da qual estará incumbido. Nota do Autor. 179 A colocação dessa assessoria é de fundamental importância para o tratamento adequado da associação entre o EB e a BID. Uma análise inicial sobre o tema foi conduzida em conjunto pelo autor e pelo Major de Artilharia QEMA Marcelo Maia CHIESA, do Comando da AD/5 (Curitiba, PR), como contribuição ao presente estudo. Nota do autor.
Oficial Superior da
Área de P&D (técnica)
Oficial Superior da Área Operacional
Representante
sênior da área de engenharia de
sistemas e P&D
Representante sênior da área comercial e de
marketing
244
Além disso, a estrutura espera receber ou entrar em contato constante outras
estruturas menores associadas180, que seriam as ‘Equipes Integradas de Projetos’
(EIP), que poderão vir atender as seguintes áreas:
� Aviação, Veículos Blindados, Artilharia de Campanha, Defesa
Antiaérea, Veículos motorizados, Armas Leves, Munição de
Artilharia, Guerra Eletrônica, Comando e Controle, Engenharia
(MCP), Logística (intendência), VANT, Comunicações, DQBN,
Especiais;
� Representantes do EB e representantes da BID para cada área
estabelecida são esperados na composição de cada equipe,
além de outros, seguindo-se, como referência inicial, a estrutura
britânica, visualizada no referencial teórico.
O estudo dessas áreas de desenvolvimento de PD/MEM (‘clusters’, em inglês)
deverá ser um dos primeiros temas de trabalho. Estabelecer quais são, realmente,
as áreas a serem trabalhadas, a constituição das EIP e o esforço a ser conduzido
sobre cada uma delas são definições extremamente necessárias e que deverão
obtidas pela EIT.
5.2.6 Atribuições dos integrantes dos respectivos grupos
• [a] General-de-Brigada Combatente, representante direto do Cmt Ex
Este integrante deverá estar subordinado diretamente ao Cmt Ex,
presumivelmente em assessoria especial de seu gabinete. Esta subordinação
proporcionará o livre trânsito desta autoridade no âmbito do Exército, bem como os
contatos necessários com a BID, permitindo adequação e oportunidade no trato dos
assuntos sensíveis.
Entende-se que deva ser um Oficial-General Combatente para caracterizar,
nitidamente, a intenção do Exército no desenvolvimento e aquisição de um MEM,
com esforço principal na área bélica, bem como facilitar o trato com temas de caráter
operacional dos MEM.
Este oficial-general necessita ter a compreensão dos recursos financeiros
vultosos envolvidos, dos interesses do Exército e da BID. Em caráter interno à F Ter,
180 A serem definidas em função dos primeiros estudos a serem elaborados pela EIT. Nota do autor.
245
ele precisa conduzir ações181 que possibilitem o andamento dos programas e
projetos, minimizando eventuais disputas por prioridade entre Sistemas
Operacionais concorrentes182. A idiossincrasia dos militares do Exército e a cultura
interna183 são obstáculos de difícil transposição.
Um exercício intelectual para este elemento: como atender às necessidades
(justificadas) de todos os sistemas operacionais com a (provável) escassez de
recursos? O desenvolvimento de um sistema de armas complexo é muito mais caro
do que o desenvolvimento de uma arma leve e uma maior quantidade de recursos
seria alocado para este último programa. Isto posto, como justificar perante a F Ter,
um ‘eventual desprestígio’ para a maioria daqueles que empregam armas leves,
veículos militarizados e não irão operar sistemas de C2 e sistemas de armas
sofisticados considerados fundamentais em uma ‘Estratégia de Dissuasão’?
Este oficial-general precisa ter representatividade no EME, COTER, D Log, e
DCT e, fundamentalmente, no DGP, para receber os RH necessários sem os quais
dificilmente ‘romperá a linha de partida184’. É lícito supor, que sem a subordinação
direta ao Cmt Ex, sua tarefa dificilmente será executada a contento pelo natural jogo
de forças existentes entre o ODG e os demais ODS.
A sua contraparte na EIT é o executivo representante da presidência da
ABIMDE.
• [b] Oficial superior QEMA – Operacional
Este oficial possui a atribuição principal de conjugar os distintos enfoques
operacionais da FTB na EIT. Não é uma tarefa simples e requer do mesmo,
experiência significativa na compreensão dos S Op existentes no EB, nas demais FA
e no mundo.
181 Ele precisa conquistar e manter o ‘espaço de manobra’ para a condução de sua estratégia. Nota do autor. 182 Exemplifica-se, didaticamente, com o filme “A Máquina de Guerra” (HBO, 1998), no qual generais norte-americanos de origem de infantaria e cavalaria discutiam a primazia de seus interesses em detrimento do adequado desenvolvimento do VBTP Bradley, enfraquecendo o projeto e aumentando os custos. Nota do autor. 183 Os militares são extremamente ciosos de seus deveres, obrigações e área de responsabilidades e não gostam de ‘interferências’. São conservadores e, normalmente, avessos às mudanças abruptas. Nota do autor. 184 Este é um jargão militar que indica iniciar uma atividade importante. Nota do autor.
246
Ele é o principal responsável, na condição de futuro usuário, pela defesa das
características de emprego (requisitos) operacionais necessárias e desejadas para o
MEM em questão, sob o ângulo do Exército.
A sua contraparte na EIT é o representante comercial da BID.
• [c] Oficial superior QEMA – Logístico
Este oficial, por sua vez, deverá observar os aspectos logísticos do MEM em
questão. Notadamente, o estudo e mensuração (qualitativa e quantitativa) do ciclo
de vida do MEM e do suporte logístico integrado185 (ILS).
Deverá verificar a inserção do referido MEM nos diversos sistemas
operacionais da Força Terrestre sob o ponto de vista logístico, com o entendimento
das necessárias modificações da cadeia logística e dos sistemas quando da sua
inserção na FTB. O passado recente do EB indica um baixo nível de preocupação
com o acompanhamento logístico dos MEM ao longo de seus ciclos de vida186, o que
acaba acarretando funcionamento incorreto e o não-cumprimento dos requisitos
desejados.
A sua contraparte é o representante logístico/projetos da BID.
• [d] Oficial superior QEM QEMA – C&T e P&D
Cabe a este oficial, a interface da EIT com o SCTEx e o entendimento dos
aspectos de P&D relativos aos projetos em discussão ou em curso.
Ele será o responsável pela visão do EB na área técnica dos estudos e
projetos de PD/MEM. Necessita ter uma visão bastante ampla do setor no Brasil e
acompanhar os avanços tecnológicos mundiais.
A sua contraparte é o representante da engenharia de sistemas/P&D da BID.
• [e] Executivo representante direto da Presidência da ABIMDE
Este elemento será a contraparte do General-de-Brigada Combatente no
âmbito da EIT. À semelhança daquele, ele responde pela orientação política de sua
associação de origem nos trabalhos conjuntos desenvolvidos pela equipe.
185 Em inglês, a terminologia empregada é ‘Integrated Logistic Support’ (ILS). Nota do autor. 186 Exemplificado, em caráter pessoal, pelo material de levantamento topográfico da Artilharia de Campanha que, por muito tempo, ficou inoperante por falta de um adequado dimensionamento logístico. Nota do autor.
247
Deverá ser um executivo sênior com relativa experiência nesse tema, bem
como, ser dotado de capacidade de diálogo e entendimento das peculiaridades do
Exército Brasileiro, ao qual deve conhecer o funcionamento da estrutura e das
relações de mando e subordinação.
Deverá se constituir em uma pessoa com bom trânsito nas diversas empresas
da BID, bem como no COMDEFESA, na AIAB, no SIMDE e no MD.
É condição mandatória que este representante não seja militar, da ativa ou da
reserva de nenhuma FA, sob pena de comprometer o equilíbrio da visão de conjunto
da EIT. Manifesta-se esse cuidado pela existência de muitos bons quadros da
reserva que, em tese, poderiam desempenhar essa função, porém contribuiriam
para uma visão desbalanceada da EIT sobre os desafios propostos.
• [f] Representante sênior da área comercial/marketing
Esta pessoa desempenhará uma função importante na equipe, pois terá a
incumbência de caracterizar o aspecto comercial da agenda, mais especificamente,
a influência do âmbito comercial, nacional e internacional, sobre determinado
PD/MEM e vice-versa.
Ele deverá procurar transmitir ao EB a visão comercial do projeto em estudo,
para a compreensão e associação de interesses no campo estratégico e como
‘possíveis lucros’ poderão financiar desenvolvimentos futuros de novos MEM. A
compreensão do efetivo emprego de uma estratégia de marketing é fundamental
para o desempenho das tarefas a serem impostas pela EIT.
A sua contraparte será o oficial da área operacional do Exército.
• [g] Representante sênior da área de logística/projetos
O representante da área de logística e de projetos da BID deverá ser a
contraparte ao oficial de logística do Exército, buscando integrar os interesses da
BID nos estudos de ciclo de vida e ILS dos projetos de PD/MEM.
Entende-se, que à semelhança dos demais, deverá possuir elevado grau de
conhecimento e experiência na sua área de atuação, especialmente no trato com
sistemas de armas, comunicações, eletrônica, dentre outros.
248
• [h] Representante sênior da área de engenharia de sistemas/P&D
Este representante da BID, sendo um especialista na área de engenharia da
BID, tem por missão principal coordenar o conhecimento necessário para o
desenvolvimento técnico-científico do PD/MEM entre a BID e o EB.
Deverá ser um elemento com conhecimento do funcionamento do SCTEx.
A sua contraparte no EB é o oficial superior responsável pela área de P&D.
• [i] Gerência Geral Executiva e de Projetos – (EB e BID)
Entende-se que esta se constitui na função-chave da EIT.
A gerência executiva da EIT deverá ser composta por dois elementos (um do
EB e outro da BID) que, alternamente e de forma equilibrada, exercerão a
‘liderança’/coordenação na integração de esforços.
Esta função não deverá ter ascendência hierárquica sobre os demais, porém
estará incumbida de proporcionar os elementos necessários para o funcionamento
adequado da EIT, responsabilizando-se pelo alcance de metas e objetivos
integrados e pelo controle gerencial e executivo de sua atuação.
A função poderá ser considerada um ‘algodão entre cristais’.
Cabe-lhe coordenar, também, as ações do GICC, bem como a atuação do
Grupo de Suporte.
Ele atuará, principalmente, na interface entre o General, representante do
Exército, e o Executivo, representante da ABIMDE.
• [j] Representante da área jurídica e de finanças
Este elemento possui dupla atribuição. Possui, também, no mínimo, dois
integrantes, um oriundo da BID e outro do EB.
Ele deverá atuar na área jurídica que permeia o relacionamento entre o EB e
a BID, buscando adequar as necessidades de integração entre esses atores com os
aspectos legais e jurídicos existente no país e no exterior.
No aspecto financeiro, outra dimensão de elevada importância, cabe-lhe atuar
no entendimento dos recursos existentes e colocados à disposição para os trabalhos
gerais e específicos da EIT. Deverá compreender os aspectos orçamentários
relacionados, atuando pró – ativamente no sentido de buscar formas de incrementar
o desenvolvimento de PD e MEM.
249
Deverá manter estreito contato com o área de contabilidade do Grupo de
Suporte, valendo-se de assessoria desse elemento nos assuntos que se fizerem
necessários.
• [k] Representante da área de Inteligência (Militar, Comercial e
Competitiva)
Caracteriza-se esse elemento como de importância fundamental para o
sucesso da EIT, pois a área de inteligência permite a orientação adequada dos
estudos dos PD e MEM, sua inserção nas FA, mercados de defesa, dentre outros.
Possui, também, no mínimo, dois integrantes, um oriundo da BID e outro do EB.
Os objetivos187, dentre outros, são os seguintes:
o Apoiar com informação estratégica em tempo hábil o processo de
planejamento estratégico e processos decisórios chaves da EIT;
o Avaliar os impactos das mudanças de políticas regulatórias,
tecnológicas e sócio-econômicas sobre a estratégia da EIT;
o Antecipar-se às possíveis ações de concorrentes internacionais;
o Promover a mobilização das redes de inteligência em função dos
desafios militares e empresariais e de outras questões estratégicas
associadas;
o Contribuir para o processo de aprendizagem organizacional
(disseminação da cultura estratégica e de inteligência).
O elemento estará centralizado no GIC, dentre outros motivos, para garantir a
unidade de inteligência entre o EB e a BID, evitando assim desconfianças
desnecessárias e improdutivas que poderiam surgir entre o EB e a BID em uma área
sensível e de operação conjunta.
• [l] Representante da área de Recursos Humanos (RH)
Este elemento tem a função de referenciar (e buscar) RH para a EIT no
âmbito do Exército Brasileiro, BID, centros de pesquisas civis e outros locais
julgados apropriados. Possui, também, no mínimo, dois integrantes, um oriundo da
BID e outro do EB.
187 ‘Inteligência Competitiva’, palestra do Professor Doutor Hélio Gomes de Carvalho, do Núcleo de Gestão Tecnológico do Paraná, São Paulo, 2003.
250
Deverá manter um estreito contato com o DGP do Exército, bem como a área
de RH da ABIMDE.
Considera-se muito importante a função logística RH e o seu correto
gerenciamento. Encontrar pessoas capacitadas e dispostas a realizar um trabalho de
associação e desenvolvimento, como este proposto para a EIT, não se constitui em
tarefa simples e de rápida solução. Requer planejamento, acompanhamento e ações
constantes e oportunas.
5.2.7 Processo de Funcionamento da EIT
A EIT deverá conduzir as suas discussões por um processo que associe as
suas características de grupo permanente, interfuncional, de alto desempenho,
funcionando como ‘uma tripulação’ e com a atribuição planejada de desafios188.
Além disso, a EIT, pela própria organização dos grupos anteriormente descritos,
buscará utilizar uma proposta de funcionamento adaptada aos conceitos gerais de
SSM e “Team Syntegrity”, expostos no Referencial Teórico.
Figura 45 – Diagrama do Processo de Funcionamento da EIT Fonte: o autor.
1. Abertura: o tópico inicial para estudos será normalmente imposto pelo
nível estratégico do EB-BID. Entende-se que os primeiros tópicos a serem
desenvolvidos na implantação da EIT deverão tratar do estudo da “Soft Systems
188 Desenvolvimento de Equipes, Seção 3, Referencial Teórico. Nota do autor.
1. Abertura 2. Estabelecimento de um Programa de
Trabalho
3. Designação de grupos
4. Trabalho nos tópicos
propostos
5. Conclusão
Processo de Funcionamento da EIT
251
Methodology (SSM)”, “Team Syntegrity”, estrutura do EB e da BID e
desenvolvimento de Produtos de Defesa / MEM.
Um exemplo pertinente de tópico inicial poderia ser: “Desenvolvimento de um
míssil Solo-Solo para a Artilharia de Campanha do Exército Brasileiro com alcance
nominal de 300 km e cabeças-explosivas múltiplas com ‘payload’ de 500 kg”.
2. Estabelecimento de um Programa de Trabalho: à semelhança da
proposta de Beer (1994), cada elemento da EIT colocará as contribuições
consideradas importantes para os demais. A partir de um estudo conjunto (e existem
um número grande de referências para o trabalho de desenvolvimento de um MEM,
um míssil no exemplo utilizado), discute-se e combina-se a importância e o relevo de
cada contribuição, por meio de sínteses e priorizações. Determina-se, então, um
programa de trabalho com seis tópicos189 (a serem discutidos pelos grupos de Nr 1 a
Nr 6). Esse tópicos podem e, na maioria das vezes, devem estar associados aos
objetivos de cada um dos grupos previamente organizados. Denomina-se
“Declaração de Importância Consolidada”.
3. Designação de grupos: Diferentemente do “Team Syntegrity”, a escolha
dos grupos já está definida, como visto anteriormente, em função de especialidades
e resultados esperados de cada grupo de trabalho. Cada integrante dirige-se
inicialmente aos grupos ‘puros’ (1,6 e 7). A finalidade é dispor de um entendimento
‘formal’ dos interesses do EB, BID e do GICC, que responde, em última análise,
pelos interesses da EIT.
4. Trabalho nos tópicos propostos: Cada grupo de quatro elementos se
reunirá para discutir os tópicos propostos, em sucessivas oportunidades e em
grupos com distintas constituições.
A primeira rodada190 de grupos (já descrita) deverá ser de aproximadamente
duas horas, permitindo uma primeira aproximação do problema. Após essa rodada
inicial, poderá haver um intervalo para refeições (almoço ou lanche, por exemplo).
A segunda rodada será caracterizada pela reunião dos grupos 3, 4 e 8.
Buscar-se-á um primeiro entendimento dos aspectos operacionais e comerciais
189 Eventualmente, um número maior. Nota do Autor. 190 Considerando-se um ciclo semanal. Nota do autor.
252
(grupo 3), aspectos técnicos relativos à área de C,T&I e P&D (grupo 4), bem como
contatos iniciais entre EB-BID na área político-estratégica e de logística (grupo 8).
Deverá ter uma duração aproximada de 1h30min.
A terceira rodada, conduzida em seqüência à anterior, reunirá os grupos 2, 5
e 9. Buscar-se-á, nessa oportunidade, um tratamento aprimorado no ambiente
político-estratégico com apoio de Inteligência (grupo 2), no estabelecimento de
condutas iniciais em Logística, RH e possibilidades e limitações jurídico-financeiras
(grupo 5), assim como contatos entre as áreas operacional, P&D e comercial (grupo
9), melhorando a compreensão obtida anteriormente. Deverá ter uma duração
aproximada de 1h30min.
Entende-se que essas (três) rodadas encerram uma jornada de atividades. É
lícito, em função de prazos apertados e/ou necessidades urgentes, acrescentar uma
reunião extra no período noturno ou outro julgado conveniente. Essa reunião não
deverá exceder 1h30min, sob pena de provocar um desgaste prematuro e
desnecessário na abordagem do desafio proposto, tampouco permitir que os
integrantes dos grupos desempenhem outras tarefas julgadas necessárias.
Na jornada seguinte, repete-se a seqüência de reuniões, ou seja, o segundo
dia é semelhante ao primeiro. Esta medida tem por finalidade permitir a referência
mútua dos elementos em si, do EB e da BID. Considera-se fundamental esta
repetição de ‘agenda’ para aprofundamento do conhecimento, reverberação de
idéias, integração e busca da sinergia.
Em função da complexidade do tema e, muitas vezes, de novos ‘inputs’
recebidos, julga-se necessário um terceiro dia, semelhante aos anteriores, para
aprimoramento do tema e busca de uma compreensão ‘quase completa’ das
constantes e variáveis envolvidas no problema e nas soluções encaminhadas.
Essa repetição sucessiva de encontros dos elementos componentes, em
grupos distintos, sob tópicos distintos, conduz a um processo de auto-organização
com um alto efeito de integração proporcionado pela reverberação de conceitos e
informações compartilhadas.
No quarto dia de trabalho, a primeira reunião integrará todos os elementos.
Os grupos 1, 6 e 7 apresentarão, cada um, o resultado de um tópico da lista
apresentada no primeiro dia, normalmente a visão do EB e BID, preferencialmente
integradas. O grupo 7 (GICC) possui um tópico fixo, extra àqueles da ‘Declaração de
Importância Consolidada’, qual seja: a visão da EIT como um todo em relação ao
253
desafio proposto. Essa primeira reunião deverá ter uma duração de cerca de duas
horas, presumivelmente no período da manhã.
A segunda reunião do dia, conduzida após o almoço, será coordenada pelos
grupos 2 e 5, oportunidade em que buscar-se-á uma continuação da apresentação
dos tópicos, com destaque para a consolidação do entendimento do campo político-
estratégico (grupo 2) e logístico (grupo 5). Essa reunião deverá ter uma duração
média de 1h30min.
A terceira reunião, a ser realizada em seqüência, colocará a frente das
exposições, os grupos 3 e 4, com a apresentação dos tópicos restantes. O grupo 3
abordará os aspectos dos requisitos operacionais e comerciais, enquanto o grupo 4,
apresentará o enfoque técnico. A duração será de 1h30min.
Com isso, encerra-se o quarto dia de trabalho, no qual, praticamente um ciclo
de apresentação, discussão e solução (por meio de apresentação ao plenário) ao
desafio proposto terá sido completado pela equipe. Nesse momento, a EIT deverá
ter concluído o processo de tratamento integrado do problema. A conclusão da EIT
deverá ser exposta na próxima atividade centralizada.
5. Conclusão: Esta atividade será conduzida pelo GICC, ao longo do quinto
dia de atividades referente ao tema, por meio de uma apresentação aos demais
grupos em plenário e, caso necessário, a convidados julgados importantes que
necessitem ter o entendimento adequado da questão proposta. Neste momento, a
EIT poderá ‘tocar’ o nível político-estratégico, assessorando de forma adequada e
oportuna, a solução de um desafio.
Entende-se como sendo este um cronograma balanceado para o tratamento
(inicial, complementar ou final) de um tema como aquele exemplificado. É lícito
supor, uma série de adaptações a este modelo, ora diminuindo, ora aumentando a
extensão do período total. É possível diminuir-se o tempo das reuniões, porém, com
decréscimo de qualidade, que poderá ser compensado pela colocação de uma
rodada a mais na repetição dos grupos. Ou seja, o modelo pretende ser flexível,
desde que os condutores do processo tenham uma visão global e conheçam o
objetivo do desafio proposto, bem como, a capacidade de que a EIT poderá dispor
para fazer frente à situação.
254
5.2.8 Particularidades
O trabalho será diário e em conjunto, com dedicação exclusiva. Deverá haver
reuniões semanais conjuntas e uma reunião mensal plenária com convidados. O
projeto contempla uma sala de reunião plenária do tipo ‘Mesa Redonda’ com 12
lugares para as discussões de trabalho, com um assento à retaguarda para o
assistente de cada um dos representantes.
Salas menores de reunião para os grupos de trabalho deverão estar
associadas fisicamente ao ambiente, bem como um anfiteatro, salas de apoio para a
administração, para o GICC e para convidados.
Na composição dos elementos representantes do EB e da BID, julga-se
fundamental a participação de praças do Exército191 com experiência nas funções,
bem como técnicos da ABIMDE em situação semelhante. A finalidade é permitir um
amplo espectro de atuação e complementaridade de esforços na realização de
tarefas.
Periodicamente, instituições e/ou pessoas devem ser convidadas para
assistirem reuniões (ou palestrarem sobre algum tema) com agenda de interesse
comum. Representantes de outras áreas do próprio Exército, Governo Federal, MD,
Congresso Nacional, Marinha, Aeronáutica, Federações e Associações,
Universidades, Imprensa, dentre outros, são bem-vindos.
Destaca-se, como fundamental e necessária, a participação de elementos do
ambiente acadêmico nacional em reuniões e grupos de trabalho especiais em que a
contribuição desse setor seja importante para os desafios propostos.
5.2.9 Local de trabalho
No escopo e ao longo do estudo da EIT, considerou-se a exeqüibilidade da
organização dessa equipe na realidade atual do EB e da ABIMDE.
A ABIMDE, como relatado anteriormente, está em um processo crescente de
organização e profissionalização.
O projeto Nr 4 do Macroprojeto Mobilização, conduzido pelo EME, contempla
a criação de um órgão do Exército com a finalidade de proporcionar uma
aproximação ao parque industrial instalado no Núcleo Central do País.
191 Preferencialmente, Subtenentes e Primeiros-Sargentos indicados pelo Gab Cmt Ex. Técnicos especializados indicados pela presidência da ABIMDE. Nota do autor.
255
Criação de um órgão em São Paulo
para o aproveitamento do
potencial do parque industrial instalado no
Núcleo Central do país
Projetos ComponentesProjetos Componentes
Declaração do Escopo MP – 2005 / 2007
Figura 46 – Macroprojeto Mobilização EME
Fonte: 4ª SCh EME, palestra ECEME, 2007
Entende-se que a EIT poderá estar associada a este oportuno esforço
institucional do Exército em aproximação do núcleo geográfico da BID nacional.
A EIT deverá possuir instalações próprias para a condução das atividades.
Deverão ser afastadas fisicamente de outros órgãos do Exército ou da ABIMDE com
a finalidade de proporcionar identidade própria à equipe. Sugere-se que o EB faça a
cessão do terreno, enquanto a ABIMDE colaboraria com a construção das
edificações. Inicialmente e, para demonstrar um caráter transitório e experimental às
primeiras fases de implantação da equipe, indica-se a construção de uma casa
grande tipo de campo, de madeira, com dois pisos-tipo.
As instalações físicas previstas para a EIT deverão estar localizadas,
preferencialmente, na cidade de São Paulo, SP, próximo ao QG do Comando Militar
do Sudeste (CMSE), no bairro do Ibirapuera e próximo à ABIMDE, localizada na
Avenida Paulista192.
Uma segunda linha de ação poderá contemplar a cidade de Campinas, SP,
próximo às atuais instalações do Exército naquela cidade do interior paulista.
192 E também próximos ao COMDEFESA. Nota do autor.
256
5.2.10 Estudo inicial para uma matriz DOFA
A condução de pesquisas qualitativas com elementos do EB e da BID permitiu
estabelecer elementos que favoreçam um futuro planejamento estratégico para essa
EIT por meio da elaboração de uma matriz do tipo DOFA (SWOT)193, na qual foram
analisadas as oportunidades (atuais e futuras), as ameaças (atuais e futuras), as
fortalezas e debilidades para uma associação desse tipo entre o EB e a BID. Não
houve intenção de se fazer um estudo aprofundado194 da matriz, mas levantar idéias
que pudessem ser empregadas na composição da referida equipe, indicando um
modelo viável e útil.
O objetivo (Missão) proposto como exemplo foi desenvolver um MEM de
interesse comum para o EB e para a BID por meio de uma Equipe Integrada de
Trabalho (EIT). Os resultados alcançados na ‘tempestade de idéias’ estão descritos
a seguir.
No ambiente externo à associação EB/BID:
A. Oportunidades (atuais e futuras) – Tendências sociais, econômicas,
comerciais, mercadológicas e políticas com conseqüências potencialmente positivas
para a organização (EB/BID).
Atuais:
• Necessidade de reaparelhamento do EB;
• Afirmação do emprego de tecnologia dual (civil/militar) no âmbito nacional;
• Integração do EB com a sociedade brasileira;
• Obtenção de recursos oriundos de Parcerias Público–Privada (PPP) entre
EB/BID no âmbito do Governo Federal;
• Venda de MEM para países da América do Sul/Central, África e Ásia;
• Aprendizado da gestão pela excelência (SEG);
• Formação de RH (civis) na área de Defesa;
• Desenvolvimento da Indústria Nacional e geração de empregos; e outras.
193 Metodologia do Planejamento Estratégico: matriz DOFA – Debilidades, Oportunidades, Fortalezas
e Ameaças, ou em inglês, SWOT – Strenghts, Weakness, Opportunitties, Threats. Nota do autor.
194 O passo seguinte a ser executado deveria ser uma análise pormenorizada da capacidade ofensiva e defensiva da equipe, o que foge ao escopo atual deste trabalho. Nota do autor.
257
Futuras:
• Incremento da mentalidade de Defesa no Brasil;
• Desenvolvimento de MEM de caráter estratégico;
• Incremento tecnológico dos MEM nacionais;
• Venda de MEM para países da OTAN;
• Projeção de uma imagem favorável ao EB no exterior;
• Ampliação do universo de candidatos para cursos na ESG; e outras.
B. Ameaças (atuais e futuras) – Tendências sociais, econômicas,
comerciais, mercadológicas e políticas, com conseqüências potencialmente
negativas para a organização (EB/BID).
Atuais:
• Desinformação da Sociedade Brasileira sobre o assunto;
• Restrição à produção de MEM por meio de imposições de protocolos
internacionais assinados pelo Brasil (Regime de Controle de Tecnologia
de Mísseis, Não-Proliferação de Armas Nucleares, Proibição do uso de
Minas Anti-Pessoal, Proibição do uso Armas Químicas, dentre outros).
• Oferta de MEM estrangeiros por custos mais baixos ao EB para impedir o
desenvolvimento autóctone;
• Desconhecimento sobre o trabalho desenvolvido pela BID, EB e vice-
versa;
• Pressão de ONG nacionais e/ou internacionais para evitar uma “corrida
armamentista” no Brasil ou patrocinando o ‘desarmamento’;
• Inexistência de tecnologia nacional em determinadas áreas de interesse;
• Mudanças de mentalidade e/ou prioridade no MD;
• Falta de representatividade militar nos centros decisórios nacionais;
• Ênfase de ações governamentais atuais na área social em detrimento das
Forças Armadas e da Defesa Nacional;
• Cenários voláteis, incertos, complexos e ambíguos.
Futuras:
• Pressões internacionais sobre fornecedores de produtos para BID ou MEM
para o EB para “quebrar” empresas brasileiras;
258
• Acusações de comportamentos não-éticos na integração EB/BID;
• Aumento de restrições de todo tipo ao país para impedir o
desenvolvimento tecnológico e a competição brasileira em outros
mercados mundiais;
• Políticas governamentais prejudiciais à associação EB-BID.
Quanto ao ambiente interno à associação EB/BID:
C. Fortalezas (Forças) – Recursos e competências superiores de que se
dispõe para explorar / alavancar oportunidades e minimizar ameaças.
• Profissionais operacionais, engenheiros e técnicos de alto nível existentes
no EB e na BID;
• Sucesso de MEM nacionais no passado recente (Cascavel, Urutu,
ASTROS II, FAL, pistolas, dentre outros);
• Laboratórios e Campos de Provas Militares em boas condições;
• BID com capacidade de crescimento;
• MEM voltados para a realidade brasileira e com penetração no mercado
internacional;
• Uma Equipe Integrada de Trabalho com visão balanceada entre o EB/BID
e a sociedade;
• Comprometimento com a satisfação de ambas as partes (EB/BID);
• Elevado padrão ético de relacionamento EB/BID;
• Orçamento impositivo para as FA;
• Fortalecimento da Força Terrestre, diminuindo sua dependência aos
interesses externos; dentre outras.
D. Debilidades (Fraquezas) – Deficiências que inibem a capacidade de
desempenho e que devem ser superadas para explorar / alavancar oportunidades e
minimizar ameaças.
• Falta de recursos para investimento em MEM no EB;
• Alta rotatividade de oficiais em funções decisórias para o estabelecimento
de Requisitos Operacionais Básicos (ROB) e Requisitos Técnicos Básicos
(RTB)195;
195 Termos ainda empregados no momento. Nota do autor.
259
• Atuação limitada do Ministério da Defesa nesse setor;
• Pouca integração no desenvolvimento de projetos comuns entre EB/BID
• Influência limitadora do MD no orçamento do EB e das demais forças;
• Estrutura compartimentada do EB;
• Limitação no fluxo interno das Informações organizacionais no EB;
• Preconceito negativo de militares do EB em relação à capacidade
BID/MEM nacionais e vice-versa;
• Dificuldade no trabalho em uma equipe composta por civis e militares;
• Falta de uma política de pessoal adequada em setores do EB que
privilegie o desenvolvimento de MEM;
• Falta de apoio institucional a projetos desenvolvidos pelo pessoal militar;
dentre outras.
5.2.11 Gestão Ética
A condução das atividades de uma EIT deverá ser baseada nos mais
elevados padrões éticos. Caso contrário, toda a estrutura ficará comprometida pela
perda da necessária confiança entre os elementos participantes.
Em caráter inicial de estudo, sugere-se a adoção dos preceitos éticos do
Exército Brasileiro, fundamentados na Hierarquia e Disciplina e em seus estatutos,
bem como aqueles emanados do MD, conforme aparecem descritos a seguir:
Os Dez Mandamentos da Gestão Ética196:
• PRIMEIRO: “Amar a verdade, a lealdade, a probidade e a
responsabilidade como fundamentos de dignidade pessoal.”
• SEGUNDO: “Respeitar a dignidade da pessoa humana.”
• TERCEIRO: “Ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação
do mérito dos subordinados.”
• QUARTO: “Zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e, também, pelo
dos subordinados, tendo em vista o cumprimento da missão institucional.”
196 Sítio do Ministério da Defesa na rede mundial de computadores. Nota do autor.
260
• QUINTO: “Acatar as ordens legais, não ser negligente e trabalhar em
harmonia com a estrutura do órgão, respeitando a hierarquia, seus
colegas e cada concidadão, colaborando e aceitando colaboração.”
• SEXTO: “Agir, na vida pessoal e funcional, com dignidade, decoro, zelo,
eficácia e moralidade.”
• SÉTIMO: “Jamais tratar mal ou deixar à espera de solução uma pessoa
que busca perante a Administração Pública satisfazer um direito que
acredita ser legítimo.”
• OITAVO: “Cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções
e as ordens das autoridades a que estiver subordinado.”
• NONO: “Agir dentro da lei e da sua competência, atento à finalidade do
serviço público.”
• DÉCIMO: “Buscar o bem-comum, extraído do equilíbrio entre a legalidade
e finalidade do ato administrativo a ser praticado.”
Acredita-se, salvo outro juízo, que sejam estes os principais aspectos que
podem ser abordados no presente momento para a proposta de um modelo auxiliar
na integração de esforços entre o EB e a BID por meio do estabelecimento de um
Equipe Integrada de Trabalho (EIT).
261
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
6.1 ABORDAGEM PESSOAL DO AUTOR
Entende-se como necessária uma explicação da abordagem deste autor no
tratamento do tema.
Como na trama de um enredo sufista197, pretendeu-se provocar uma
“mudança de pensamento e de comportamento” positiva e evolutiva ao longo do
desenvolvimento do trabalho desta tese de doutoramento. Mudança esta não
somente pessoal, porém dos principais elementos estudados, principalmente do
componente humano do EB e BID, que, na realidade, são as pessoas que dão vida
e forma às instituições públicas, organizações e empresas.
Existe uma estratégia pessoal que tem por objetivo o fortalecimento da
associação entre o EB e a BID, bem como uma atitude pró-ativa do pesquisador na
condução de seu trabalho. Há necessidade, porém, de elucidar o leitor para não
confundir o entendimento da estratégia para a integração (como fazer), proposta ao
longo do estudo e identificada como a EIT, com a própria estratégia pessoal do autor
ao longo das pesquisas e da elaboração da tese.
6.1.1 Origem desta abordagem
Entende-se que esta abordagem ocorreu fruto da formação operacional militar
deste oficial na Artilharia de Campanha (Art Cmp) do EB e do pensamento e atitude
oriundos da linha militar combatente, forjados na Academia Militar das Agulhas
Negras (AMAN), Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), na Escola de
Comando e Estado-Maior de Oficiais (ECEME) e ao longo da vida militar198.
Entende-se que a oportunidade para a elaboração de uma tese de doutorado
na área de operações militares não deverá ser restrita tão somente ao campo da
pesquisa teórica, mas predominante prática, ou seja, na pesquisa aplicada199.
197O autor não enxerga o Sufismo como uma ideologia que modela as pessoas para acreditar na coisa "certa" ou para executar a ação "certa", mas como uma arte ou uma ciência que pode exercer uma influência benéfica sobre os indivíduos ou as sociedades, de acordo com as necessidades destes indivíduos ou destas sociedades... estudos sufis e em desenvolvimento geram capacidades que não existiam antes de começar os estudos." Idries Shah. (www.sufis.org). Acesso em 16 de setembro de 2007. Nota do autor. 198 Estratégia militar é ação. Nota do autor. 199 “Tendo em vista a grande gama de interesses, principalmente econômicos, a maioria das pesquisas é feita a partir de objetivos que visam a sua utilização prática. Valem-se essas pesquisas
262
Acredita-se que este foi um objetivo subjacente quando do estabelecimento
do programa de doutorado na ECEME em 2005. Afirma-se, por conseguinte, que, ao
longo da pesquisa e da elaboração do trabalho monográfico, o ‘esforço principal da
manobra200’ foi trabalhar, de forma coordenada com a ECEME, em prol da melhoria
da interface entre o EB e a BID, utilizando-se um modelo pessoal adaptado de
planejamento estratégico de ações sucessivas201.
A atuação pessoal, revestida na figura de pesquisador militar – por meio de
entrevistas, participação em seminários, simpósios, discussões, reuniões de trabalho
e questionários entregues – obteve resultados diretos para a parte escrita e na
proposta de um modelo auxiliar, notadamente a EIT.
De forma indireta, buscou-se propor a reflexão às organizações e pessoas
envolvidas sobre o tema e sua importância para a sobrevivência dos personagens
envolvidos e à Logística e Mobilização Nacional. Esta ‘manobra’ permitiu uma
evolução no pensamento e no comportamento deste autor, bem como de uma
parcela daqueles envolvidos no estudo. Procurou-se mobilizar a todos para o estudo
das ameaças presentes e futuras ao Estado brasileiro quanto à necessidade de
integração EB – BID, chamando-os para uma SINERGIA202 de esforços em prol do
bem-comum.
Tudo sem esquecer que a liberdade de ação (espaço de manobra) para um
pesquisador no âmbito militar é significativamente reduzida pelas características
próprias de um meio conservador e fechado (fruto de sua natureza e missão). Há
necessidade de apoio de muitos outros companheiros. Mobilizá-los é mister203.
Entende-se, por fim, que esta se constitui em uma das primeiras e principais funções
de um oficial recém-egresso de um curso de estado-maior.
das contribuições das teorias e leis já existentes. Em função de o objetivo ser mais imediatista, o investidor tem pressa no retorno do recurso aplicado.” (Parra & Santos, 1998) 200 Jargão militar que indica prioridade em uma ação. Nota do autor. 201 “O objetivo é importante, valorizado pelos oponentes (internos e externos), a margem de liberdade de ação é pequena (pesquisador acadêmico) e os meios são limitados. A “decisão” será buscada pelo emprego de uma série de ações sucessivas, diretas ou indiretas, com limitadas ‘ações em força’. É uma combinação de atitudes políticas, diplomáticas, psicológicas (e militares).” (C 124-1, Estratégia, EME, 2001, adaptado pelo autor). 202 “Associação simultânea de vários fatores que contribuem para uma ação coordenada.” (Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, 2004) 203 “Solve et Coagula” – “Dispersa e Concentra” – “Aureus Tractatus de Philosophorum Lapide” (Tratado de Ouro da Pedra Filosofal) (Frankfurt, 1677) m
263
6.1.2 Fatores da Decisão
Aprendeu-se, desde cedo na vida militar, os fatores que um Comandante
(Cmt) precisa avaliar para tomar a sua decisão em combate (ou mesmo nas
atividades rotineiras): missão, terreno, inimigo, meios e tempo.
Hoje, felizmente, o Brasil não está em guerra, porém enfrenta oponentes que
procuram restringir sua soberania, na maioria das vezes, de forma velada e escusa.
As riquezas nacionais e o seu elevado potencial nas diversas expressões do Poder
Nacional são alvos de cobiça de nações e/ou grupos poderosos.
É lícito afirmar que a Nação enfrenta uma guerra diferente, uma ‘nova guerra’
(ou as antigas disputas internacionais, sob novo disfarce). Entende-se que, para
isso, os fatores de decisão precisam ser analisados sob um enfoque geopolítico e
geoeconômico para serem proporcionadas linhas de ação factíveis que alcancem o
sucesso e a vitória.
Os fatores de decisão foram inicialmente focados nos Objetivos
Fundamentais (OF), dentre os quais se destacam a Soberania e a Integridade
Territorial do solo pátrio, assim como na autonomia das ações nacionais no concerto
internacional.
A abordagem pessoal, quanto aos fatores de decisão, se apresentou da
seguinte forma:
� Missão: auxiliar no estabelecimento de um Exército forte, baseado em
indústria de defesa nacional também forte, garantidora dos interesses
brasileiros. Visão deste oficial desde a posição de militar do Exército e na
condição primeira de brasileiro, cidadão de um país forte e soberano, dotado
de expressão militar que proporcione dissuasão;
� Terreno: Nacional e Internacional, principalmente nos campos da Ciência e
Tecnologia, Logística, Mobilização, Administração e Estratégia. Além disso, é
necessário acrescentar os naturais óbices estruturais e conjunturais que o
Brasil, nação jovem e em desenvolvimento, enfrenta no caminho para o
amadurecimento. Faz-se a ressalva que a atuação imediata e efetiva foi feita,
obviamente, em campo mais restrito e delimitado pela proposta de trabalho do
Exército e da ECEME, que busca atingir o “pensar o Exército” por meio de
uma tese de doutorado;
� Inimigo: Não declarado, difuso. Definido como o conjunto das forças adversas
nacionais e/ou estrangeiras, que, direta ou indiretamente, dificultam ou
264
impedem a existência de uma BID forte e competitiva, mantenedora de um
Exército Brasileiro realmente garante da nação;
� Meios: Oficiais e praças do EB, na condição de Recursos Humanos (RH)
habilitados em Operações Militares de largo espectro (campanha, logística,
mobilização), Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P, D & I), bem como
cooperadores da BID, das universidades nacionais e demais indivíduos
comprometidos com o Brasil;
� Tempo: Escasso, fruto da espiral tecnológica vivida na atualidade. No caráter
imediato, entende-se o período da defesa de tese, até Novembro de 2007.
Ao longo do estudo, os fatores foram trabalhados indiretamente por meio do
método científico (origem dos mesmos) para justificar o que o modelo pretende
indicar.
Procurou-se escrever em uma linguagem simples e com o uso freqüente de
terminologias militares, pois esta é biblioteca de mais fácil acesso no momento.
Houve necessidade de aprimoramento constante no emprego da terminologia
científica para proporcionar a penetração oportuna nos fóruns julgados adequados.
Este aprimoramento pôde ser obtido pela continuidade dos estudos em uma linha de
pesquisa específica.
Entende-se que a linguagem militar deve ser simples também para o leitor
não especializado, pois não sendo clara e simples na concepção e na comunicação,
a estratégia de trabalho adotada está fadada ao insucesso204 (e à morte).
Ao abordar-se o problema desta maneira, faz-se referência aos princípios de
guerra tradicionalmente aceitos no Exército, bem como à estratégia indireta de Sun
Tzu, a qual se acredita ser oportuna para alcançar o êxito na indicação de caminhos
possíveis na associação sinérgica entre o EB e a BID. Uma abordagem direta
poderia ser facilmente combatida pelos oponentes, como em muitas ocasiões no
passado recente da interação do Exército com a Base Industrial de Defesa.
6.2 CONCLUSÕES DO TRABALHO
A Base Industrial de Defesa (BID) se constitui em um segmento industrial
pequeno, porém consolidado, no Brasil. Assim como as demais áreas do setor
204 “Tudo em uma estratégia é muito simples, mas isto não significa que tudo é muito fácil.” (Clausewitz)
265
produtivo industrial se ressente de uma política industrial que favoreça investimentos
e desenvolvimento de novas tecnologias. Ela vive um momento atual de expectativa
em função da retomada de investimentos necessários ao reaparelhamento das
Forças Armadas (FA) brasileiras.
Na década de 1970 e 1980, a BID viveu o seu apogeu histórico no País.
Muitos Produtos de Defesa (PD) e Materiais de Emprego Militar (MEM) nacionais
foram exportados ou entregues às FA, em especial, ao Exército Brasileiro (EB). Os
principais exemplos foram os veículos blindados CASCAVEL e URUTU, bem como o
lançador de foguetes de artilharia ASTROS II. A partir de então, o setor viveu uma
crise da qual lentamente demonstra sinais de enfraquecimento. A retomada pujante
da EMBRAER nos últimos dez anos, a manutenção da AVIBRAS, TAURUS, CBC,
bem como o surgimento de empresas como a ATECH, CONDOR, EMGEPRON,
MECTRON e ORBISAT, indicam possibilidades de crescimento e saudável
sobrevivência da indústria de defesa no País.
Nos últimos cinco anos, as empresas retomaram a iniciativa e a participação
em ações conjuntas por meio da Associação Brasileira das Indústrias de Defesa e
Segurança (ABIMDE). A BID estabeleceu contatos e intercâmbios com o Ministério
da Defesa (MD), um dos responsáveis pelo estímulo à reativação da ABIMDE, por
meio do Fórum das Indústrias de Defesa (FID), com o objetivo de associar a
Expressão Econômica à Expressão Militar do Poder Nacional (PN) no âmbito da
Defesa.
A BID encontra, porém, muitas dificuldades para realizar o desenvolvimento e
o fornecimento de MEM para o Exército e demais FA na atualidade. Além da
limitação governamental em investimentos militares, os encargos tributários são
excessivos (da ordem de mais de 40%) frente às importações facilitadas, sem taxas,
de produtos estrangeiros, o planejamento de longo prazo é limitado nas aquisições
(e quando existe, sofre contingências orçamentárias), bem como existem as naturais
dificuldades de participação no mercado externo competitivo e globalizado, com
pouquíssimo apoio das instituições governamentais de âmbito político e financeiro.
O Exército, por sua vez, vem enfrentando uma longa e pesada crise na
reposição de MEM para a Força Terrestre Brasileira (FTB) nos últimos 12 (doze)
anos. A falta de investimentos governamentais no EB, especialmente na área de
Ciência e Tecnologia (C&T), logística e no reaparelhamento mínimo de seu
equipamento provocaram o sucateamento de seu material bélico. Hoje, a FTB se
266
ressente da falta de veículos blindados, material de artilharia de campanha, fuzis
leves de assalto, mísseis anti-carro, material de comunicações e, principalmente de
munição, em especial, da produção daquelas de maior calibre, fundamentais na
ocorrência de um conflito armado. Além disso, o Exército carece de armas
estratégicas, capazes de provocar a Dissuasão no âmbito internacional.
Essas dificuldades atingem, nos dias de hoje, a motivação de oficiais e
praças, o que poderá acarretar problemas de qualidade em Recursos Humanos (RH)
no futuro da FTB. Os oficiais normalmente aceitam uma natural defasagem
tecnológica brasileira em relação aos exércitos de países mais desenvolvidos. O que
é de difícil aceitação é a diminuição, paulatina e constante, da perda da capacidade
bélica e tecnológica dissuasória frente a países sul-americanos de menor expressão
internacional no entorno regional. A situação é semelhante na Marinha do Brasil
(MB) e na Força Aérea Brasileira (FAB).
As dificuldades comuns vividas pelo EB e pela BID podem ser transformadas
em uma oportunidade histórica de conjugação de esforços em prol da Defesa
Nacional por meio do estabelecimento de uma estratégia de longo prazo. Esta
estratégia, se bem conduzida pelos atores interessados, poderá atender as
necessidades do Exército no recebimento de MEM modernos, bem como aos
interesses da BID, em desenvolvimento tecnológico e vendas de PD para as FA
nacionais e mercado externo.
O ambiente de relacionamento entre esses dois importantes atores é volátil,
incerto, complexo e ambíguo, bastante característico de um conflito (armado ou não)
que envolve disputas governamentais, comerciais e políticas de caráter nacional e
estrangeiro. Os interesses são de grande monta e envolvem decisões estratégicas e
comerciais de custo muito elevado.
Conforme apresentado na Seção 2, há necessidade da compreensão de
diversos pontos de contato no ambiente que congrega o EB e a BID. Eles não
esgotam o tema, ao contrário, indicam o ambiente em que deve ser executada uma
estratégia de relacionamento entre os dois. É o ‘espaço de batalha’, que deve ser
bem conhecido, juntamente com os atores associados, os obstáculos e as forças
adversas, de grande e pequena monta, velados ou identificados, que poderão
decidir a sorte do empreendimento.
O estudo dos aspectos da Logística e da Mobilização são importantes para a
compreensão cada vez mais clara da interdependência desses dois elementos na
267
evolução da arte da guerra. Praticamente não há mais limites nítidos ou fronteiras
bem definidas que indiquem onde acaba a Logística e onde começa a Mobilização
sinalizadora da iminência de um conflito armado. E nessa área pouco definida, a
mobilização tecnológica é aquela que associa os dois atores, fazendo-se hoje
extremamente útil e necessária.
A espiral tecnológica de muitos produtos mundiais tem início, normalmente,
em descobertas oriundas das tecnologias militares, que acabam por apresentar uma
dualidade, caracterizada pelo imediato repasse comercial para o mundo civil, com
enorme ganho de escala. Atualmente, os principais países ‘subsidiam’ suas
indústrias de diferentes setores por meio de largos investimentos, a fundo perdido,
em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na área militar, como é o caso dos Estados
Unidos da América (EUA), Reino Unido (RU), Japão, França e Alemanha.
Aqueles países, e também outros, buscaram, ao longo de sua história, a
associação dos interesses das suas FA e de suas indústrias de defesa na defesa
dos respectivos interesses nacionais. As nações desenvolvidas conseguiram
alcançar este intento, em um grau variável, mesmo em associação ou bloco de
países, porém de uma forma considerada segura para elas. O Brasil, um país dotado
de imenso potencial nacional (território, população e economia), não logrou, ainda,
realizar esta importante tarefa.
No estudo do entorno do relacionamento EB-BID, é necessário considerar o
aspecto do relacionamento entre civis e militares. O período dos governos militares
entre 1964 e 1985 associou, de forma equivocada, no imaginário brasileiro, o
Exército à indústria de defesa. Os governos militares, ao contrário, privilegiaram a
infra-estrutura nacional, de forma acertada. O que houve foi a continuidade de
políticas de governo para a BID, inseridas em uma política de Estado. Em
acréscimo, os assuntos de Defesa Nacional são mal vistos por segmentos da
sociedade civil brasileira que necessita, com urgência, se reconciliar com as FA e
vice-versa. A dificuldade de diálogo nesse campo, apesar de estar em declínio,
poderá prejudicar o Poder Militar no futuro de forma irreversível.
O estudo das formas de relacionamento que as demais forças singulares
brasileiras mantêm com a BID indica uma diversidade de atuação. A MB encontrou
parte da solução para as suas necessidades por meio da constituição da
EMGEPRON, uma empresa que representa ‘o braço comercial’ dela, realizando a
interface com a Expressão Econômica. A FAB, por sua vez, mostrou ao País uma
268
solução considerada histórica e referencial para a atividade aeronáutica no Brasil. A
criação e o estabelecimento do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) associou
Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I), aproximando esta FA do conhecimento
tecnológico e do fomento industrial, importantíssimo para a louvável evolução do
setor aeronáutico brasileiro nos últimos quarenta anos.
Quanto à associação entre o EB e a BID, há necessidade do estabelecimento
de um diálogo inicial para o estudo de uma estratégia de longo prazo que os
associe, de forma segura e continuada, na busca de objetivos comuns e de caráter
nacional. Nesse ponto, insere-se o estudo desta tese, qual seja o de proporcionar
elementos para a constituição de uma equipe que estabeleça e desenvolva a
integração e a sinergia entre o segmento militar e o segmento industrial de defesa.
Para tanto, as pesquisas conduzidas indicaram a necessidade de uma
abordagem no estudo de teorias e modelos, no desenvolvimento de equipes e em
metodologias inovadoras na solução de problemas, desafios e no trabalho em grupo.
Entende-se que existe uma grande dificuldade natural na interação e na
integração das ações de instituições do porte do EB e da BID. Os problemas são
antigos, porém revestidos por uma nova roupagem, atualizada e caracterizada por
desconhecimento mútuo, barreiras tecnológicas, precariedade de recursos
financeiros, campanhas de desarmamento mundiais, operações psicológicas
conduzidas por oponentes internos e externos aos quais não interessa o
fortalecimento do Exército, das FA e da BID.
A discussão do relacionamento atual entre o EB e a BID contribuiu para
confirmar a timidez e a limitação no diálogo entre ambos. Os motivos são diversos,
tais como a falta de conhecimento das necessidades e capacidades mútuas,
resquícios históricos de desconfianças oriundas de práticas inadequadas de
trabalho, falta de sensibilização dos temas de defesa na sociedade brasileira que se
considera, erroneamente, afastada de ameaças à Soberania Nacional.
O MD sofre um processo de amadurecimento lento, patrocinado pelo Governo
Federal que o mantém pouco efetivo, intencionalmente ou não. Apesar disso, esse
Ministério preparou uma base de políticas que, devidamente implementadas,
poderão auxiliar sobremaneira a integração de esforços das FA com a BID.
As pesquisas de toda ordem realizadas ao longo do trabalho, tendo como
referência inicial a abordagem britânica de problema semelhante, caracterizaram o
emprego da ‘Soft Systems Methodology’ e do ‘Team Syntegrity’ como importantes
269
ferramentas que proporcionaram elementos para a organização de uma Equipe
Integrada de Trabalho (EIT) entre o Exército e a BID.
Inserida em uma estratégia maior de integração entre o EB a BID em longo
prazo com finalidade do fortalecimento da Defesa Nacional e, em função de poucos
referenciais semelhantes encontrados no relacionamento atual desses atores,
SUGERE-SE o estabelecimento de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT) de
alto nível, permanente, de caráter multifuncional e balanceado, de alto desempenho
e que tenha como desafio proporcionar SINERGIA no relacionamento entre o
Exército Brasileiro e a Base Industrial de Defesa nacional.
A constituição da EIT, sua finalidade e objetivos, suas características e
peculiaridades, bem como o processo de funcionamento foram descritos de forma
pormenorizada na Seção Primária 5 deste documento.
6.3 CONTRIBUIÇÕES
Este trabalho de pesquisa pretende trazer benefícios para o EB, FA, BID e
para o avanço da sociedade brasileira como um todo. A sociedade será beneficiada,
entre outras maneiras, pela melhor compreensão do conceito de emprego dual de
materiais e de “spin-off” – desenvolvimento de tecnologias militares que trazem
benefícios ao meio civil – e sua evolução para a denominada tecnologia de caráter
dual.
A tese, ao propor um modelo de integração de esforços que auxilie o
relacionamento entre o EB a BID, pretende indicar soluções logísticas na condução
de RH para a implantação de estratégias confiáveis para a Mobilização por meio de
uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT). Nesta equipe, a sociedade por meio do
segmento civil e militar poderá, efetivamente, participar da empreitada.
Inicialmente no âmbito do Exército, esta proposta de EIT poderá seguir para
as demais forças singulares por meio do MD, desde que julgado conveniente pelos
formuladores responsáveis, com oportunidade, naturais adequações e dentro de
uma estratégia de fortalecimento do MD em longo prazo. Esse entendimento
proposto poderá indicar uma alternativa de caminho possível para o
amadurecimento do MD, pois permitirá que uma parte interna da estrutura do
270
Exército – interface com a BID – possa constituir uma estrutura maior no
organograma do ministério. Vislumbra-se uma abordagem lógica que permita o
crescimento “de baixo para cima”, ou seja, que o Exército ajude a organizar o MD,
ao contrário de, recebendo uma imposição política, ter que modificar/adaptar a sua
estrutura para o cumprimento da mesma. Entende-se como uma atitude pró-ativa no
sentido amplo de fortalecimento da Instituição e do Estado brasileiro.
Em função da divulgação desta tese nos fóruns adequados – institucional
empresarial e acadêmico – e, ao buscar-se ouvir os anseios da BID, de
pesquisadores civis e militares, procurou-se indicar caminhos e ferramentas para um
possível trabalho em conjunto entre o Exército e as diversas empresas nacionais
fornecedoras de MEM e/ ou PD, componentes da BID, por meio de suas
associações.
O estabelecimento de uma EIT poderá indicar uma rota razoavelmente segura
no estudo, definição, produção, aquisição, uso e substituição de MEM e PD entre o
EB e a BID, por meio do emprego judicioso dos RH envolvidos nos ambientes
Operacional, de Logística e Mobilização e de Ciência e Tecnologia.
6.4 RECOMENDAÇÕES
Com a finalidade de permitir a organização de uma Equipe Integrada de
Trabalho (EIT), bem como proporcionar elementos facilitadores para a sua
manutenção futura, são feitas algumas recomendações de caráter geral. São elas:
• Propor ao Exército Brasileiro que considere a integração da EIT nos estudos
sobre a estrutura a ser estabelecida na cidade de São Paulo, SP, para
permitir a aproximação do EB da cadeia produtiva nacional do Núcleo Central,
conforme apresentado no Projeto Nr 4 do Macroprojeto Mobilização
conduzido pelo Estado-Maior do Exército (EME) por meio da 4ª Subchefia em
2007;
• Indicar ao EB a aproximação efetiva da Força Terrestre com o Centro
Logístico da Força Aérea Brasileira (CELOG) e com o Instituto de Logística da
Aeronáutica (ILA), localizados em São Paulo, por meio do Comando Militar do
271
Sudeste (CMSE), com a finalidade de colher subsídios do trabalho integrado
desses órgãos com a BID;
• Indicar ao Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP) a organização de um
curso sobre Logística Estratégica e Operacional na Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército (ECEME) voltado para os oficiais intendentes que
hoje freqüentam o Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM) como forma
de uma maior aproximação de modernos conceitos hoje existentes;
• Indicar ao DEP considerar, em seus estudos, a possibilidade do
estabelecimento de cursos de difusão cultural, semelhantes àquele realizado
pelo NUPRI/USP e referenciado nesta obra, preferencialmente na ECEME e
com a participação de civis, com a finalidade de aproximação do meio militar
com o meio acadêmico brasileiro de forma geral. Esse poderia ser um
primeiro passo, pequeno e seguro, para que civis pudessem freqüentar, no
futuro mediato, os cursos regulares de Altos Estudos Militares, bem como o
CPEAEx, proporcionando intercâmbio de idéias e experiências em Ciências
Militares.
• Indicar ao Departamento Geral de Pessoal do Exército, a necessidade de
aproximar, efetivamente, as funções operacionais e de engenharia militar na
FTB não-somente nas diversas escolas, mas também em locais específicos
como o Centro de Instrução de Blindados, o 6º Grupo de Lançadores
Múltiplos de Foguetes, o Centro de Instrução de Forças de Paz, dentre outros,
para permitir o aprimoramento e o acompanhamento contínuo dos diversos
MEM postos à disposição;
• Confirmar, junto ao Comando do Exército, a adequação e a oportunidade de
permitir, ao DCT e ao D Log, por meio do DGP, o recebimento de recursos
humanos oriundos da área operacional e da área técnica para desenvolverem
atividades de interesse da FTB junto a estabelecimentos fabris e de pesquisa,
tanto do Exército, quanto da BID na condição de assistentes militares, com
dedicação exclusiva e por prazo determinado, para o desenvolvimento de
PD/MEM de interesse;
272
• Propor ao Exército a produção de conhecimentos de Inteligência sobre a BID
e em associação com a mesma, com enfoque sobre comércio, tecnologia e
Inteligência Competitiva de PD/MEM no âmbito nacional e internacional;
• Estabelecer um plano para a formação contínua e continuada de RH para o
preenchimento das vagas que serão abertas na composição da EIT. Para tal,
o Exército e a BID poderão se valer de suas próprias experiências e
estruturas, bem como aquela proporcionada pelo ILA. Para tal, há
necessidade do estabelecimento de cursos com a participação de elementos
da BID e da própria FTB, de forma conjunta;
• Estimular a participação de militares da reserva e de civis, com notório
conhecimento no setor, na formação e constituição da EIT. Ressalva-se,
porém, a inadequação do uso de Prestadores de Tarefa por Tempo Certo
(PTTC) ou de militares designados para o serviço ativo nesta atividade. O
emprego dessas soluções no dia-a-dia da caserna tem se mostrado, no
entendimento deste oficial, bastante prejudicial ao desenvolvimento de novos
talentos dentro do Exército, ao funcionamento normal do plano de carreira e,
muitas vezes, acaba expondo oficiais da reserva a situações constrangedoras
de obediência a oficiais mais modernos investidos de cargos de chefia, ou
pior, sendo alijados de decisões cotidianas e da qual deveriam participar pela
condição de serem oficiais;
• Indicar ao EB, a preparação de quadros em todos os níveis para o tratamento
com assuntos orçamentários e financeiros para que tenham a capacidade de,
no futuro, ajudarem a gerenciar o trâmite de recursos para o desenvolvimento
de PD/MEM de interesse da FTB;
• Estimular os estudos sobre Pesquisa Operacional (PO) em todas as escolas
militares, especialmente na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN),
como forma de associação entre o ambiente operacional e o ambiente
técnico;
273
• Solicitar o envio de militares do Exército, bem como civis da BID, para
conduzirem estudos das experiências e modelos existentes nos EUA, Reino
Unido e França sobre associação de interesses entre as FA e a Indústria de
Defesa daqueles países;
• Indicar ao Exército e à BID o estudo, em associação com o MD, sobre a
criação de um ‘Colégio Industrial de Defesa’, que integraria as FA e a BID
nacionais. O ponto de partida poderá ser o Curso de Gestão sobre Recursos
de Defesa (CGERD), conduzido pela Escola Superior de Guerra (ESG) e pela
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). A participação
desses dois atores específicos poderá patrocinar os elementos necessários
para o estabelecimento de tal instituição de ensino em médio prazo;
• Indicar à Base Industrial de Defesa a necessidade da profissionalização
crescente da ABIMDE, com a finalidade de permitir a existência mínima de
quadros especializados e o funcionamento de uma estrutura que permita uma
interface adequada com o Exército nas áreas de P&D, logística e operacional;
• Mostrar ao Exército a necessidade do mapeamento dos processos de
aquisição de MEM em sua estrutura interna, por meio do Sistema de
Excelência do Exército, para proporcionar um correto e oportuno
entendimento das possibilidades e limitações atuais da FTB;
• Caracterizar a importância da continuidade e da permanência dos civis e
militares nas funções da EIT por um prazo mínimo de três anos para
proporcionar integração, solidez e sinergia na solução dos desafios propostos.
6.5 CONCLUSÃO FINAL
Conjugar o pensamento à ação significa, em outras palavras, conceber e
aplicar uma estratégia. Os elementos existem: atores, meios, espaço, tempo,
oponentes, inteligência e forças morais. Há necessidade de Vontade.
274
O EB e a BID são capazes de realizar uma integração de esforços com
grande possibilidade de êxito.
O estabelecimento de uma EIT, por meio de vontade política dos atores, pode
ser considerada uma rota razoavelmente segura entre o EB e a BID no estudo,
definição, planejamento de aquisições, emprego de recursos humanos, produção,
aquisição, uso e substituição de MEM e fornecimento de itens de suprimento em
geral.
A criação de uma equipe integrada ou, carinhosamente, uma ‘tripulação’ que
ajude no diálogo do Exército com a BID, é um primeiro e fundamental passo que
poderá ser dado sem riscos maiores, tendo como prêmio o comprometimento
dessas duas instituições em uma associação sinérgica e sólida de longa duração.
A inércia, a aparente demora em decisões ou na firme expressão de posições
históricas do Exército Brasileiro e da Indústria de Defesa em prol da Soberania
Nacional poderá significar a derrota por envolvimento ou a morte lenta no ambiente
veladamente hostil da atualidade.
Entendo, como muitos companheiros e amigos, civis e militares, que o
Exército, a Indústria de Defesa e o Brasil não nos foram dados de presente por
nossos antepassados, mas nos foram emprestados pelos nossos filhos e netos.
Qual Instituição, Indústria e País o senhor gostaria de devolver-lhes?
*****
275
REFERÊNCIAS
ACOCELLA, Emílio Carlos. A Postura estratégica Dissuasória e os Objetivos para a
Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional. Programa de
Atualização dos Diplomados pela ECEME (PADECEME), p. 76-81, 1º
quadrimestre, 23 cm, ECEME, Rio de Janeiro, RJ, 2006. ISSN 1667-1885.
AGUIAR, Carlos Frederico. Apresentação: A Base Industrial de Defesa. São Paulo:
16 de junho de 2007. CD Rom. Palestra no Núcleo de Pesquisa em Relações
Internacionais da Universidade de São Paulo.
ALBUQUERQUE, Newton Mousinho. A Indústria de Material de Defesa:
Principais Óbices. Rio de Janeiro, Escola Superior de Guerra, 1996. 32 p. (TE-96,
DALMob, Tema L-07).
ALEXANDER, Bevin. A Guerra do Futuro. 1 ed. Rio de Janeiro, Biblioteca do
Exército, Rio de Janeiro, 1999. Tradução de: “The Future of Warfare”, 224 p.
ALMEIDA, Carlos Wellington Leite de. Economia e Orçamento para a Defesa. A
Defesa Nacional. Revista de Assuntos Militares e Estudo de Problemas
Brasileiros. Rio de Janeiro, Nr 797, p.80-99, Set/Dez, 2003.
ALVES, Rex Nazaré. A Indústria de Material de Defesa nos Contextos Nacional e
Internacional: as barreiras internacionais. PADECEME ESPECIAL, p. 46-51, 3º
quadrimestre, 23 cm. ECEME, Rio de Janeiro, RJ, 2005. ISSN 1677-1885
ALVES, Rubens. Filosofia da Ciência. Introdução ao Jogo e as suas Regras.
Edições Loyola, São Paulo,Brasil, 2000, 223 p. ISBN 85-15-01969-8
AMARANTE, José Carlos Albano do. Indústria de Defesa. A Defesa Nacional.
Revista de Assuntos Militares e Estudo de Problemas Brasileiros. Rio de
Janeiro, Nr 800, p.55-64, Set/Dez, 2004.
_______. A Política de Defesa e Segurança e a Indústria Brasileira. Palestra
proferida na Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói, RJ. 17 Nov 2006.
276
AMORIM, José Carlos César. Ciência e Tecnologia para a Defesa e o
Desenvolvimento da Amazônia. Revista da Associação Brasileira de Engenharia
Militar. Rio de Janeiro, Ano LXVI, Nr 95, Dez 2003, p. 26-31.
AMORIM, Wanderley Ferreira de Amorim Júnior. Indústria Bélica Brasileira:
Subsídios para uma Avaliação. Revista Militar de Ciência e Tecnologia. Rio de
Janeiro, Nr 03, Volume XVIII, p. 103-117, 3º quadrimestre de 2001.
ANDRADE, Cyro. Ninguém diz Adeus às Armas. VALOR ECONÔMICO & EU.
Edição final de semana. Rio de Janeiro, 25,26 e 27 de agosto de 2006, ano 7, Nr
309, p. 04-09.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE MATERIAIS DE DEFESA -
ABIMDE. Folder Institucional da ABIMDE. São Paulo, 2003.
________. DIRETÓRIO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE DEFESA E
SEGURANÇA – 2005. ABIMDE, São Paulo, 2005.
_________. Indústria Brasileira de Defesa e Segurança - Diretório ABIMDE
2005. Auction Comercial Promotora. il. São Paulo, 74 p. 2005.
BASTOS, Expedito Carlos Stephani. Uma Realidade Brasileira – Desenvolvimento
de Blindados sobre Lagartas 1967-1978. Revista DACULTURA. Fundação Cultural
Exército Brasileiro. Rio de Janeiro, Ano V, Nr 8, p. 54-63, junho 2005.
BASTOS, Expedito Carlos Stephani (organizador). Artigos. Site “UFJF – DEFESA”
http://www.defesa.ufjf.br/index.php?page=madeInBrasil . Universidade Federal de
Juiz de Fora, MG – UFJF – Centro de Pesquisas em tecnologia militar. Acesso em 5
de setembro de 2006.
BEER, Stafford. Beyond dispute: the invention of team syntegrity. (The
Managerial cybernetics of organization). 1ª ed., West Sussex, England, il, 367 p.
1994 ISBN 0-471-94451-3.
BERGO, Marcio Tadeu Bettega. Apoio Logístico: Considerações e Propostas: Um
Estudo. Revista da Intendência. Edição Semestral Nr 1. Rio de Janeiro, 2005. p 27-
34.
277
BLANCHARD, Benjamin S. Logistics Engineering and Management. 6th edition,
New Jersey, USA. Pearson Prentice Hall. 546 p. 2004.
BLOCK, Peter. Comportamento Organizacional. 1ª Edição. São Paulo. M Brooks
do Brasil 175 p. 2004.
BONFADINI, José Armando Gomes. Política de Nacionalização de Material de
Defesa no Brasil – Pesquisa Científica x Desenvolvimento Tecnológico-Industrial.
Revista Marítima Brasileira. Rio de Janeiro, V. 113 Nr 4/6, p. 193-206, Abr/Jun
1993.
BOSSODY, Larry; CHARAN, Ram. Execução – A disciplina para atingir
resultados. 6ª Edição. São Paulo. Editora Campus, 249 p. 2004.
BOTTI, Cesar Lourenço. Apresentação: Sistema de Mobilização do Exército
(SIMOBE) – 4ª Subchefia do Estado-Maior do Exército. Rio de Janeiro: 11 de abril
de 2007. CD Rom. Palestra na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
BRANDÃO, Maurício Pazini. Ciência, Tecnologia, Inovação e a Defesa Nacional.
Artigo para o Seminário Preparatório da 3ª Conferência Nacional de Ciência e
Tecnologia de Outubro de 2005. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) –
Ciência, Tecnologia e Inovação. Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica
(ECEMAR). 20 p. Rio de Janeiro, Brasil.
BRASIL. Exército. Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx). Revista
Verde-Oliva, Brasília, DF, Nr 184 (Ano XXXII), p. 20-22, Abr/Mai/Jun 2005.
BRASIL. Exército. Assessoria Especial do Gabinete do Comandante do Exército.
Instruções Provisórias Planejamento Estratégico Operacional – IP PEO – PEG.
76p., il., Estabelecimento General Gustavo Cordeiro de Farias (EGGCF), Brasília,
DF, 2006.
__________. Instruções Provisórias Elaboração e Gerenciamento de Projetos –
IG EGP – PEG. 68p., il., Estabelecimento General Gustavo Cordeiro de Farias
(EGGCF), Brasília, DF, 2006.
278
BRASIL. Exército. Estado-Maior (EME). História do Estado-Maior do Exército.
Trabalho de pesquisa. Paulo da Mota Banha (coordenador). 327 p., il, BIBLIEX, Rio
de Janeiro, 1984. ISBN 85-7011-087-1
__________. C 45-4 – Operações Psicológicas. 3. ed. Brasília, DF, 1999.
__________. C 100-5 – Operações. 3. ed. Brasília, DF, 1997.
__________. C 100-10 – Logística Militar Terrestre. 2. ed. Brasília, DF, 2003.
__________. C 124-1 – Estratégia. 4. ed. Brasília, DF, 2004.
__________. IG 20-11 – Sistema de Ciência e Tecnologia do Exército (SCTEx).
1. ed. Brasília, DF, 1994.
__________. IG 20-12 – Modelo Administrativo do Ciclo de Vida dos Materiais
de Emprego Militar. 1ª ed. Brasília, DF, 1994.
__________. IG 20-12 – Instruções Gerais para a Gestão do Ciclo de Vida do
Materiais de Emprego Militar. 3ª ed. Brasília, DF, 2005 (experimental).
__________. SIPLEX. Brasília, DF, 2002.
__________. SIPLEX (EXTRATO). Brasília, DF, 2002.
__________. 3ª Subchefia. Apresentação: O Sistema de Planejamento do
Exército. SIPLEX. Rio de Janeiro: 20 de junho de 2006. CD Rom. Palestra na
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
__________. Centro de Estudos Estratégicos. Obstáculos à Modernização do
Exército. Relatório de Simpósio. George Luiz Coelho Cortês (Org.). Brasília, 2007.
CD Rom.
BRASIL. Exército. Departamento de Ciência e Tecnologia. Apresentação: O
Departamento de Ciência e Tecnologia. Rio de Janeiro: 18 de maio de 2006. CD
Rom. Palestra na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
BRASIL. Exército. Gabinete do Comandante do Exército. Indústria Brasileira de
Defesa. Brasília, DF, 2003.
279
__________. Gabinete do Comandante do Exército. Programa Excelência
Gerencial do Exército Brasileiro – Portaria Nr 657, de 4 de novembro de 2003.
Brasília, DF, 2003. Acesso ao site www.exercito.gov.br em 09/09/2006.
BRASIL. Marinha. Revista Marítima Brasileira – separata 2004. Serviço de
Documentação Geral da Marinha. 95 p. il. Rio de Janeiro, 2004.
BRASIL. Ministério da Defesa; Ministério da Ciência e Tecnologia. Concepção
Estratégica: Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional.
Brasília: MD; MCT, 2003, 56 p.
_______. Política de Defesa Nacional. Brasil. MD, 2005. 21 p.
_______. Política Nacional da Indústria de Defesa. Brasil. MD, 2005. 14 p.
_______. Política de Logística de Defesa. Brasil, MD, 2006. 6 p.
_______. Ações Estratégicas para a Política Nacional da Indústria de Defesa.
Portaria Normativa No – 586/MD, 24 de Abril de 2006. Brasil. MD, 2006. 03 p.
BRASIL. Ministério da Defesa. Estado-Maior de Defesa. Doutrina Militar de Defesa
– 1ª Edição. Brasil. MD, 2001. 36
BRASIL. Ministério da Defesa. Secretaria de Logística e Mobilização. MD 42-M-02 –
Doutrina de Logística Militar. 2ª ed. Brasília, DF, 2002.
BRASIL. Ministério da Defesa. Secretaria de Logística e Mobilização. Divisão de
Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento. Gerenciando Projetos no Sistema de
Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional (SisCTID).
Brasil: MD / Divisão de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento, 2003. 56 p.
BRASIL. Ministério da Defesa. Secretaria de Logística e Mobilização. Departamento
de Logística. Política Nacional da Indústria de Defesa – PNID. Brasil: MD /
Departamento de Logística, 2005. 14 p.
BRASIL. Ministério da Defesa. Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos
Internacionais. Estratégia Militar de Defesa – 1ª Edição – MD 50-D-01. Brasil. MD,
2002. 36 p.
280
BRASIL. Ministério da Defesa. Classificação de OM Industriais – Portaria Normativa
Nr 577/MD 06 Mai 05 - Revista Jurídica do Ministério da Defesa. Brasil. MD, Nr 3,
2005.
BRYAN JÚNIOR, Elpídio. Mobilização Nacional: medidas visando à formação de
uma mentalidade de Mobilização atuando-se, principalmente, junto à escola, à
juventude e à iniciativa privada. Trabalho de Conclusão de Curso. Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), Rio de Janeiro, 70p. 1985.
BUENO, Francisco da Silveira – Minidicionário da Língua Portuguesa. FTD, São
Paulo, 2000, 830 p.
BURTON, James G. The Pentagon Wars: Reformers Challenge the Old Guard.
The Naval Institute Press, Baltimore, Maryland, USA, 1993, 306 p. il. ISBN 1-55750-
081-9.
CABRAL FILHO, Djalma Alves. Mobilização Industrial: óbices para a sua
implantação definitiva. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em
Ciências Militares) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), Rio
de Janeiro, 42p. 1997.
CÂNDIDO, Jairo. Apresentação: Ciência, Tecnologia e Inovação como Fator de
Desenvolvimento. São Paulo: 16 de junho de 2007. CD Rom. Palestra no Núcleo
de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo.
CARDOSO, Alberto Mendes. Os 13 Momentos da Arte da Guerra. Rio de Janeiro:
Editora Record, 2005, 321 p.
CARVALHO, Hélio Gomes de. Apresentação: Inteligência Competitiva. São Paulo:
28 de outubro de 2003. CD Rom. Palestra do Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná. Núcleo de Gestão Tecnológica.
CARVALHO, L. P. Macedo. Rio Branco e o Exército. A Defesa Nacional. Revista
de Assuntos Militares e Estudo de Problemas Brasileiros. Rio de Janeiro, Nr
797, p. 4-12, Set/Dez, 2003.
281
CARVALHO, Roberto Guimarães de. Diretor-presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) no triênio 2003/2006.
Entrevista em 07 Set 2006.
_______. Entrevista ao site especializado em assuntos de defesa
www.defesanet.com.br em 29 Jan 2007 – Indústria de Defesa, Mercado
Internacional, o Futuro. Acesso em 01 de fevereiro de 2007.
CAVAS, CHRISTOPHER P. Latin American Defense – Special Report. DEFENSE
NEWS, Springfield, VA, USA, p. 11. April, 25 2005.
CICLO DE DEBATES SOBRE O PENSAMENTO BRASILEIRO EM MATÉRIA DE
DEFESA E SEGURANÇA. Coletânea. Ministério da Defesa, Brasília, DF, 2004.
CHIESORIN, Paulo Henrique. A indústria brasileira de material de defesa.
Conjuntura atual e seus reflexos para a defesa nacional. 2000. 43 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Política, Estratégia e Alta Administração do Exército) – Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2000.
CHRISTMANN, Luís Fernando. A Mobilização de Material de Emprego Militar – Uma
Reflexão. Programa de Atualização dos Diplomados pela ECEME (PADECEME).
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Rio de Janeiro, Nr 10, p.
36-39, 1º quadrimestre 2005.
COHEN, Eliot A. Um conto de dois secretários. Política Externa, pág. 23-34, Vol.
11, Nr 2, Set/Out/Nov 2002. Editora Paz e Terra, São Paulo, SP. ISSN 1518-6660.
COLLINS, John M. Military Strategy. Principles, practices, and historical
perspectives. 1st edition, Virginia, USA. Brassey’s Inc. 333 p. 2002.
CONCA, Ken. Manufacturing insecurity: the rise and fall of Brazil’s military-
industrial complex. Lynne Rienner Publishers, Inc. Colorado, USA, ISBN 1-55587-
695-1, 1997, il. 282 p.
CONCEIÇÃO, Jorge da. Dificuldades interpostas à modernização da Força
Terrestre brasileira: óbices à constituição de uma base industrial de defesa.
282
2000. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares)
– Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2000.
CORT, Paul. Apresentação: Defence Logistics Organisation Overview. Londres,
Reino Unido: 20 de setembro de 2006. CD Rom. Palestra proferida ao adido do
Exército Brasileiro no Reino Unido.
CUNHA, Marcílio Boavista da. Indústria Brasileira de Material de Defesa. Rio de
Janeiro, Clube Naval, 2005, il., 39p.
DAGNINO, Renato Peixoto. A Indústria de Armamentos Brasileira: uma tentativa
de avaliação. Tese de doutoramento, UNICAMP. Campinas, SP, 1989, 504 p.
DAY, Michael. “On a shoestring”. JANE’S DEFENCE WEEKLY, London, UK. p. 25,
issue No 16, Vol. 42. il. 20 April 2005.
DE SORDI, A.; SILVA NETO, P.; GOMES, M. Gestão de Ciência e Tecnologia para
a Força Terrestre: Desafio Singular de Estado-Maior. A DEFESA NACIONAL.
Revista de Assuntos Militares e Estudo de Problemas Brasileiros. Rio de
Janeiro, No 796, p. 63-77, Mai/Ago 2003.
DUGGAN, Willian R. O Estalo de Napoleão: o segredo da estratégia. 317 p.
Editora Francis. São Paulo, 2005. ISBN 85-89380-12-2, CDD – 355.40722.
DURING, Nelson (editor). Energia Nuclear – O pai da bomba está na ativa.
DEFESANET (extraído do jornal Correio Braziliense de 20/09/2005)
www.defesanet.com.br , acesso em 16 de agosto de 2006.
__________. Exército Retoma Programa URUTU 3. DEFESANET.
www.defesanet.com.br , acesso em 16 de agosto de 2006.
ECCLES, Henry Effinghan. Logistics in the National Defense. 1st edition, 1959 –
The Stackpole Company). Reprint, Greenwood Press, Westport, Connecticut, USA,
1981. ISBN 0-313-22716-0.
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (Brasil). Evolução da
Arte da Guerra e do Pensamento Militar – Coletânea de Notas Suplementares.
Atualização 18 Nov 03. Rio de Janeiro, 2003.
283
_________. ME 21-253 - Formatação de Trabalhos Acadêmicos, Dissertações e
Teses. Rio de Janeiro, 2004.
_________. ME 21-259 – Trabalhos Acadêmicos na ECEME - Manual. Rio de
Janeiro, 2004.
_________. ME 320-5 - Vocabulário da ECEME. Rio de Janeiro, 2002.
_________. Programa de Excelência Gerencial – Plano de Gestão da ECEME.
Rio de Janeiro, 2004.
Escola Superior de Guerra (Brasil). Manual Básico. Rio de Janeiro, 2005.
FELÍCIO, César. Esquerda lida mal com segurança. O Valor Econômico, São
Paulo, 31 de Outubro de 2005. Caderno A, p. A12.
FERRARI, F. M.; FARES, C. B.; MARTINELLI, D. P. Uma Aplicação da Soft Systems
Methodology à Realidade de uma Empresa Brasileira – Ensaio. V Seminário de
Administração da FEA – USP, São Paulo, 2001, 9 p.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
3ª ed. 2120 p. Editora Positivo, Curitiba, PR, 2004 ISBN 85-7472-414-9
FERREIRA, Oliveiros S. Vida e Morte do Partido Fardado. 128 p. Editora SENAC,
São Paulo, 2000. ISBN 85-7359-142-0
_____________. Obstáculos à modernização do Exército: conferência. São
Paulo: 25 mar. 2007. CD Rom. 71 KB, 12 p. Última modificação em: 25 mar. 2007.
Palestra em: 27 mar. 2007. Disponível em folhas avulsas.
FERRIS, Stephen. Administrando a Base Industrial de Defesa. MILITARY REVIEW.
Edição Brasileira. 1º Trimestre, 1997. pág. 44-58. Fort Leavenworth USA, 1997.
FIÉVET, Gil. Da Estratégia Militar à Estratégia Empresarial. Editorial Inquérito,
Portugal, 1992. ISBN 972-670-193-7. 327 p.
FLORES, Mário César. Defesa Nacional na Ordem do Século XXI. A Defesa
Nacional. Revista de Assuntos Militares e Estudo de Problemas Brasileiros. Rio
de Janeiro, Nr 797, p. 67-79, Set/Dez, 2003.
284
FOSTER, Richard W. Brazil’s Defense Industry Finds a World Market. Defense &
Foreign Affairs. The Perth Corporation. Washington, DC, USA. Vol. XIV, Nr 03, p. 8-
11. March 1986.
FRANÇA, Paulo. Captação de Recursos para Projetos e Investimentos. Brasília,
DF. Editora SENAC, 167 p. 2005.
FRANKO-JONES, Patrice. The Brazilian Defense Industry. Westview Press,
Colorado, USA, ISBN 0-8133-7771-4, 262 p. 1992.
FREEMAN, Sam Perlo. Offsets and the development of the Brazilian arms
industry. Artigo científico (versão preliminar) Middlesex University for International
Conference on Offsets and International Development, University of Cape Town,
South Africa, September 25-27,2002. 25 p. England.
FUTURE ARTILLERY – 2004, Defence IQ, a division of IQPC. CD-ROM. The Cafe
Royal London, UK, March, 2004.
GAJ, Luis. O Estrategista. 1. ed. São Paulo: Pearson Education, 2002.
GOMES, Mauro Guedes Ferreira Mosqueira. Gestão de Ciência e Tecnologia para
o Projeto de Força – um diferencial qualitativo. Center for Hemispheric Defense
Studies, REDES 2003, Research and Education in Defense and Security Studies
October 28-30, 2003, Santiago, Chile Panel: Strategic Studies Epistemology.
HAYES, Robert Ames. Nação armada: a mística militar brasileira. Biblioteca do
Exército, 266 p. il. , Rio de Janeiro, 1991. ISBN 85-7011-158-4
HERRERA, Amílcar O. et al. O Armamentismo e o Brasil – A guerra deles. São
Paulo: editora brasiliense, 1985, 200 p.
HINDLE, Tim. Como Conduzir Negociações. Série sucesso profissional: seu guia
de estratégia pessoal. 72 p. il., 18 cm, 3ª ed. (4ª reimpressão) Publifolha, São Paulo,
2001. ISBN 85-7402-086-9
HUNTER, Wendy. Eroding Military Influence in Brazil: Politicians against
Soldiers. The University of North Carolina Press. ISBN 0-8078-2311-2. 1st edition.
1997, 243 p.
285
ISTO É. Edição on-line – 13 de abril. São Paulo, SP, 2005.
INTERNATIONAL INSTITUTE FOR STRATEGIC STUDIES (IISS), THE. Strategic
Survey 2004/5 – An evaluation and forecast of world affairs. Routledge, Taylor &
Francis Group (IISS), London, England, 384 p. il. 2005. ISBN 0-415-37394-8 – ISSN
0459-7230
JÚLIO, Carlos Alberto. A Arte da Estratégia – Pense grande, comece pequeno,
cresça rápido! Elsevier editora, 150 p. il. Rio de Janeiro, 2005 ISBN 85-352-9030-1.
LAZZARINI, Álvaro (org.). Constituição Federal – Código Penal Militar –Código
de Processo Penal Militar – Estatuto dos Militares. 7ª ed. Ver. atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, 916p.
LEIRNER, Piero de Camargo. Meia-volta volver: um estudo antropológico sobre
a hierarquia militar. Editora Fundação Getúlio Vargas (FGV), 128 p. Rio de Janeiro,
1997.
LOPES, Roberto. Rede de Intrigas - Os bastidores do fracasso da Indústria
Bélica no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1994, 360 p.
MACKAY, Ian. Aprendendo a Perguntar (Asking Questions). Editora Nobel, São
Paulo, 69 p. il. 2001, Reimpressão 2003. ISBN 85-213-0983-X
MCNELLY, MARK. Sun Tzu e a Arte da Guerra Moderna. 1ª Ed. Rio de Janeiro:
Record, 2003, 412 p.
MAHAN, Charles S. Jr. “Sustainment of the Army depends on continuing logistics
transformation”. ARMY. AUSA Symposium Issue. The Magazine of the
Association of the United States Army. Washington, DC, USA, volume 53, No 04,
pág 22 - 26 April 2003.
MARKUSEN, Ann R.; COSTIGAN, Sean S. (editors). Arming the Future – A
Defense Industry for 21st Century. Council on Foreign Relations Press, New York,
USA. 442p. 1999. ISBN 0-87609-246-6
MARTINS, Gilberto de Andrade. Teorias e Modelos nas Ciências Administrativas -
ensaio. VI Seminário em Administração da FEA – USP, São Paulo, 2003, 13 p.
286
MARTINS FILHO, João. Apresentação: Relações Civis-Militares: Principais
vertentes teóricas de análise e seus desdobramentos. São Paulo: 02 de junho de
2007. CD Rom. Palestra no Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da
Universidade de São Paulo.
MASLAND, John W.; RADWAY, Laurence I. Soldiers and Scholars – Military
Education and National Policy. Princeton University Press. Second Printing. 530 p.
Princeton, New Jersey, USA, 1961.
MATTEI, A.; BENEDETTI A.; FERREIRA, M. Inovação Tecnológica de Ruptura no
Ministério da Defesa. Artigo Científico. Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF). 13p. 2005. Acesso www.ufjf.edu.br/defesa, em 03 de setembro de 2006.
MATOS, Edmilson de Queiroz. Apresentação: A Empresa Gerenciadora de
Projetos Navais (EMGEPRON). Rio de Janeiro: março de 2007. CD Rom. Palestra
proferida para a comitiva da 4ª Subchefia do Estado-Maior do Exército.
MATTOS, Carlos de Meira. Estratégias Militares Dominantes. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1986, 100 p.
MILITARY REVIEW. Operações em Ambiente de Selva. Edição Brasileira. 4th
quarter 1995, Fort Leavenworth, USA, 1995.
MINISTRY OF DEFENCE (UK). Implementation of Integrated Project Teams.
Report by the Comptroller and Auditor General HC 671 Session 2001-2002, 14
March 2002. The Stationery Office, 35 p.
MOSCOVICI, Fela. Equipes dão certo. A multiplicação do talento humano. Rio
de Janeiro, José Olympio, 1995.
MYSAP TM, Aerospace e Defense – For National Defense. The White Paper.
Alemanha, 2004. Acesso à Internet em 2004, www.sap.com .
NASSIF, Luís. A Política de Defesa Nacional. Folha de São Paulo, São Paulo, 11
Jun. 2004. Caderno B3, p. 2.
287
OLIVEIRA, Antonio Cunha de – Desenvolvimento de Sistemas de Armas: absorção
de tecnologia específica. A Defesa Nacional. Rio de Janeiro, RJ. Nr 727, p. 110-
139, Set/Out 1986.
OPERATIONS – Proliferation – The Rule of the “8 D’s”. INTELLIGENCE
NEWSLETTER. Paris, France. 13 January, p. 07. 1994.
OTÁVIO, Chico; GALANTE, Alexandre. Força Desarmada – O desafio tecnológico
das três forças. O Globo. Rio de Janeiro, 20 Nov 2005. Caderno Um, p. 12.
PÁDUA, Antônio de. A Base Industrial de Defesa (BID) e a atuação do Ministério da
Defesa (MD). 23º Fórum de debates Projeto Brasil Tecnologia Militar. São Paulo,
17 Nov 2005.
PARET, Peter. Construtores da Estratégia Moderna – Tomo 2. Rio de Janeiro,
BIBLIEX, 2003.
PARKER, Glenn M. O poder das equipes: um guia prático para implementar
equipes interfuncionais e de alto desempenho. Rio de Janeiro, Campus, 2005.
PARRA Filho, Domingos; SANTOS, João Almeida. Metodologia Científica. São
Paulo, Editora Futura, 6ª Edição, 1998, 277 p.
PEREIRA, Merval. A Questão da Amazônia (Parte I, II, III). O Globo, 12/08/2006.
Acesso ao site www.defesanet.com.br em 18/08/2006.
PESCE, Eduardo Ítalo. A Indústria de Defesa e o Tripé do Desenvolvimento.
Monitor Mercantil, página 2, opinião. 14/09/2004.
www.monitormercantil.com.br/mostra_noticia.asp?id2=25405. Acesso em 18 de
setembro de 2007.
________. Investimento em defesa é urgente. Monitor Mercantil Digital. Rio de
Janeiro. www.monitormercantil.com.br/mostra_noticia.asp?id2=33284. Acesso em
18 de setembro de 2007.
________. Ideologias Antimilitares. Monitor Mercantil Digital. Rio de Janeiro.
www.monitormercantil.com.br/mostra_noticia.asp?id2=39896. Acesso em 18 de
setembro de 2007.
288
________. Sapientia Potentia Est: Estratégias de Defesa e C & T. Revista Pesquisa
Naval. Serviço de Documentação da Marinha. Brasília, DF. Nr 18, p. 139-142,
Novembro 2005.
PEREIRA, Potiguara – Tecnologia Militar. História da Técnica e da Tecnologia no
Brasil. UNESP, São Paulo, 1994, p. 283-298.
PEREIRA, Valmir Fonseca Azevedo. As Relações entre Civis e Militares no Brasil
e Suas Implicações na Futura Dimensão do Poder Militar na Região. REDES,
CHDS, Brasília, DF, 2002.
PROENÇA Júnior, Domício (org.) Uma Avaliação da Indústria Bélica Brasileira –
Defesa, Indústria e Tecnologia. Rio de Janeiro: Grupo de Estudos Estratégicos –
UFRJ, 1993, 331 p.
PROENÇA Júnior, Domício; Diniz, Eugenio. Política de Defesa no Brasil: uma
análise crítica. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1998, 149 p.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Um guia do Conjunto de
Conhecimentos em Gerenciamento de Projetos – Guia PMBOK. 3ª ed. Global
Standard, USA. 388 p. il. 2004. ISBN 1-930699-74-3.
PROJETO BRASIL TECNOLOGIA MILITAR. Palestras e Apresentações do 23º
Fórum de Debates. 17 Nov 2005.
RAVARA, Rui Lobato de Faria. O Reequipamento e a Indústria de Defesa. Nação e
Defesa. Revista do Instituto de Defesa Nacional, Nr 98, 2ª série. Pág. 117-145.
Lisboa, Portugal, 2001, ISSN 0870-757X.
RAZA, Salvador Ghelfi. Projeto de Força: o elo ausente em reformas de defesa.
Center for Hemispheric Defense Studies. REDES 2002 (Research and Education in
Defense and Security Studies). Brasília, Agosto 2002, 14 p.
__________. Apresentação: Modelagem do Sistema de Defesa. São Paulo: 19 de
maio de 2007. CD Rom. Palestra no Núcleo de Pesquisa em Relações
Internacionais da Universidade de São Paulo.
289
REVISTA FORÇA AÉREA. A Consolidação da Indústria Aeroespacial dos EUA.
Action Editora. Rio de Janeiro. Ano 10 Nr 40 p. 50-67 – Set/Out/Nov 2005.
REBELO, Aldo; FERNANDES, Luís (organizadores). Seminário de Política de
Defesa para o Século XXI – Coletânea de palestras proferidas no Seminário
Política de Defesa para o Século XXI, realizado nos dias 20 e 21 de agosto de
2002, na Câmara dos Deputados. Câmara dos Deputados. Coordenação de
Publicações. 285p. Brasília, DF, 2003. CDU 351.86(81)(061.3). ISBN 85-7365-269-1
REIS, A. M. V.; COSTA, M. E. B.; BECKER Jr., L. C.; TONET, Helena.
Desenvolvimento de Equipes. Série Gestão de Pessoas. Editora FGV, Rio de
Janeiro, 2005, 156 p. ISBN 85-225-0534-9.
RIBEIRO, Wagner Costa - A Indústria de Armamentos no Brasil. História da
Técnica e da Tecnologia no Brasil. UNESP, São Paulo, 1994 p. 299-314.
RICHARDS, Chester W. A Swift, Elusive Sword – What if Sun Tzu and John
Boyd did a National Defense Review? 2nd edition. Center for Defense Information
(CDI). 88 p., il., Washington, DC, USA. February, 2003.
RODRIGUES, Maria das Graças Villela. Metodologia da pesquisa: elaboração de
projetos, trabalhos acadêmicos e dissertações em ciências militares.
Colaboração e ampliação José Fernando Chagas Madeira, Luís Eduardo Possídio
Santos, Clayton Amaral Domingues. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), 2005. 127p. il., 30cm, ISBN 85-98116-01-7.
RODRIGUES, Marcelo Eschiletti Caldas. Propostas de reativação da indústria
bélica nacional. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Direção para
Engenheiros Militares) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 70p. , 30
cm, Rio de Janeiro, 2002.
RODRIGUES, Marco Antonio. Estudo da Nova Família de Blindados Sobre
Rodas para Substituição dos VBR CASCAVEL e VBTP URUTU. 2004. f.107: il.,
30cm Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização). ECEME, Rio de Janeiro.
290
RONZANI, Ernesto Ribeiro. Reestruturação na Área de Ciência e Tecnologia do
Exército. REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA MILITAR.
Rio de Janeiro, ano LXVII, Nr 96, dezembro de 2004, p. 34-38.
ROSA, Rui Namorado. Olhar de um Físico: a Indústria de Defesa na Europa –
um Estado de Guerra Interminável. www.janelanaweb.com/digitais/rui_rosa36.html
acesso em 09/09/2006.
ROSIÈRE, Antônio Carlos Ayrosa. Apresentação: Economia de Defesa:
Orçamento e Forças Armadas. São Paulo: 30 de junho de 2007. CD Rom. Palestra
no Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo.
RUMESFELD, Donald H. Transformando as Forças Armadas. Política Externa, pág.
12-22, Vol. 11, Nr 2, Set/Out/Nov 2002. Editora Paz e Terra, São Paulo, SP. ISSN
1518-6660.
SÁ JUNIOR, José Antonio de. O Papel do Exército Brasileiro na Lei de
Mobilização Nacional. Dissertação (Mestrado), Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército (ECEME). Rio de Janeiro, 136p., il, 2006.
SALLES JÚNIOR, Carlos Alberto Correa. Planejamento Estratégico. Apostila de
MBA em Gerência de Projetos da Fundação Getúlio Vargas (FGV). 33 p. Editora
FGV, Rio de Janeiro, RJ. 2005.
SCHWANINGER, Markus. The Team Syntegrity Model. An Architecture for
Organizations of the Future. University of St. Gallen, Switzerland. International
Society for the Systems Science (ISSS). July, 1997. www.isss.org/teamsyn.html ,
acesso em 09/09/2006.
SILVA, Carlos Alberto Vicente da. Logística Militar e Empresarial: uma abordagem
reflexiva. MILITARY REVIEW. Edição Brasileira. 1st quarter 2004, pág. 25-35. Fort
Leavenworth USA 2004.
SILVA, Carlos Eduardo Lins da. O Vietnã só deixou perguntas. VALOR
ECONÔMICO & EU. Edição final de semana. Rio de Janeiro, 6,7 e 8 de maio de
2005, ano 6,Nr 242, p. 10-15.
291
SILVA, Iberê Mariano da. Novas Armas Úteis. A Defesa Nacional. Revista de
Assuntos Militares e Estudo de Problemas Brasileiros. Rio de Janeiro, Nr 800, p.65-
68, Set/Dez, 2004.
__________. Armas Sempre Úteis. Gazeta Mercantil. São Paulo, SP, edição de 03
de dezembro de 2004 (fim de semana, página 8).
STEPAN, Alfred. Os Militares na Política – Changing Patterns in Brazil.
(tradução). Original em inglês: The Military in Politics (1971) Rand Corporation.
Editora Artenova S.A. Rio de Janeiro, RJ. 220 p. 1975.
TECNOLOGIA E DEFESA. São Paulo, SP, Nr. 103, 2005.
TECNOLOGIA MILITAR (TECMIL). Grupo Editorial Mönch. Alemanha. Nr 03, Ano
27, setembro 2005.
TEIXEIRA, G. M.; SILVEIRA, A. C.; NETO, C. P. S. B.; OLIVEIRA, G. A. Gestão
Estratégica de Pessoas. Série Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro, Editora FGV,
2005, 144 p. ISBN 85-225-0537-3
VALANDRO, Ademir Antônio; KRONMEYER FILHO, Oscar Rudy. Transformando
Estratégias Empresariais em resultados com Balanced Scorecard e Gerência
por Projetos. 22 p. www.portalqualidade.com/repositorio/bibArq000844.pdf. Acesso
em 8 de setembro de 2006.
VALERIANO, Dalton L. Gerenciamento Estratégico e Administração por
Projetos. São Paulo, Makron Books, 2001.
VARGAS, Milton (Org.) – História da Técnica e da Tecnologia no Brasil. Editora
UNESP - CEETEPS, São Paulo, 1994, 413 p.
VENTURINI NETO, Sílvio. Apresentação: O Centro Logístico da Aeronáutica
(CELOG). São Paulo: abril de 2007. CD Rom. Palestra no Centro Logístico da
Aeronáutica.
www.es.wikipedia.org/wiki/Tiuna. Acesso em 29 de agosto de 2006.
292
YARGER, HARRY R. Strategic Theory for the 21st Century: The Little Book on
Big Strategy. 83 p. USA, February 2006. www.StrategicStudiesInstitute.army.mil,
acesso em agosto de 2006. ISBN 1-58487-233-0
ZAMPIERI, João Alfredo. A Reestruturação do Sistema de Ciência e Tecnologia
do Exército e seus reflexos para a Indústria Nacional de Defesa. Dissertação de
Mestrado. Rio de Janeiro, ECEME, 2006.
359
ANEXO A
PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR N° (...), DE 2006
Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, ins-titui normas para licitações e contratos da Administração Públi-ca nos casos de aquisição de Produtos Estratégicos de Defe-sa, que define, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Capítulo I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrati-vos pertinentes a compras e locações de Produtos Estratégicos de Defesa, abaixo definidos, no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Parágrafo único - Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da adminis-tração pública direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controla-das direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Art. 2o Para efeito desta Lei, entende-se por: I - Produto de Defesa – PD qualquer mercadoria, material, inclusive o material apli-cado, ou serviço necessário ao cumprimento das missões de defesa e segurança atribuídas às Forças Armadas ou Forças de Segurança.
II - Produto Estratégico de Defesa – PED todo produto de defesa cujo uso ou disponibi-lidade seja entendido como crítico ou essencial à consecução de objetivos relacionados à segurança ou à defesa do País, assim estabelecido, de forma inequívoca, em ato do Poder Executivo atualizado com periodicidade não superior a um ano. III - Empresa Estratégica de Defesa – EED é toda pessoa jurídica, privada ou públi-ca, inclusive sociedade de economia mista, reconhecida pelo Poder Executivo como capaz de projetar, pesquisar, desenvolver ou fabricar, no país, produto estratégico de defesa, que atenda, cumulativamente, aos seguintes requisitos: a – ser e manter-se homologada, por órgão competente do Poder Executivo, como de-senvolvedora ou produtora de Produto Estratégico de Defesa; b – demonstrar, segundo regulamento, ser capaz de projetar, pesquisar, desenvolver ou produzir Produto Estratégico de Defesa em território nacional;
360
c – não apresentar restrições de qualquer natureza a eventuais auditorias, contábeis e de segurança, por membros do Ministério da Defesa, observadas as normas de sigilo das informações porventura obtidas; d – não oferecer restrições ao cumprimento dos compromissos internacionais do Brasil na área de segurança e defesa, especialmente no que se refere a salvaguardas; e – possuir área reservada e segregada ao projeto, pesquisa, desenvolvimento e produ-ção de Produto Estratégico de Defesa, quando assim exigido; f – obedecer às leis brasileiras, manter sede e administração no País e ter como diretor-presidente, ou principal dirigente, um brasileiro nato ou naturalizado, nos termos da Constituição Federal; e g – formalizar, conforme regulamento, compromisso de não oferecer restrições que possam limitar, no Brasil, a produção, o projeto, a pesquisa e o desenvolvimento de Produto Estratégico de Defesa. IV - Base Industrial de Defesa – BID é o conjunto das empresas e instituições civis e militares do país que participam de uma ou mais etapas de pesquisa, desenvolvimen-to, produção, distribuição e manutenção de produtos de defesa, aí incluídas as Empre-sas Estratégicas de Defesa.
Capítulo II AQUISIÇÕES DE PRODUTOS ESTRATÉGICOS DE DEFESA
Art. 3º As aquisições de Produtos Estratégicos de Defesa serão realizadas, sempre, de Empresa Estratégica de Defesa, dispensada, nesses casos, a vedação estabele-cida no inciso II do § 1o do Art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. § 1º Os processos de dispensa de licitação, previstos no Art. 24, incisos IX e XIX, da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, observarão o disposto no Art. 26, daquela Lei, nos termos das definições de Produto Estratégico de Defesa e de Empresa Estraté-gica de Defesa, contidos nos inciso II e III, do Art. 2º desta Lei;
§ 2º A inobservância das formalidades no processo licitatório pertinentes aos Pro-dutos Estratégicos de Defesa e à caracterização da Empresa Estratégica de Defesa, torna eficaz o disposto nos Arts. 89 e 93, da Seção III – Dos crimes e das Penas, da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Art. 4° O Poder Executivo com base em parecer de Comissão que instituirá para esse fim, estabelecerá os critérios e procedimentos para a compra de Produtos Es-tratégicos de Defesa. § 1° Tais critérios serão estabelecidos visando o contínuo aprimoramento da quali-dade e eficácia dos Produtos Estratégicos de Defesa e o fortalecimento da Base Industrial de Defesa.
361
§ 2º A referida Comissão será constituída por representantes do Ministério da Defe-sa, das Forças Armadas, das Forças de Segurança, da Base Industrial de Defesa e por representantes convidados do Congresso Nacional, sendo sua composição nu-mérica definida em Portaria do Ministério da Defesa. § 3º A Comissão referida no caput emitirá pareceres sobre a aquisição de Produto Estratégico de Defesa com eficácia em relação ao disposto no inciso XXVII do Art. 24 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Art. 5º Nos casos especiais que envolvam, a critério do Poder Executivo, a impossi-bilidade de aquisição no país e de Empresa Estratégica de Defesa, com base em parecer da Comissão referida no Artigo 4º, a aquisição de Produto Estratégico de Defesa poderá ser excepcionalmente realizada de outras fontes. § 1º A excepcional aquisição de Produto Estratégico de Defesa nas condições do Art 5o, uma vez obtida autorização específica do Poder Executivo, deverá ser reali-zada com o concurso de uma ou mais Empresas Estratégicas de Defesa, prevendo processos de transferência de tecnologia bem como compensações industriais e comerciais conforme estabelecido no Capítulo III. § 2º Quando, na aquisição de Produto Estratégico de Defesa fora do país, ficar de-monstrada a impossibilidade de atender ao determinado pelo § 1º, acima, a critério do Poder Executivo, com base em parecer da Comissão referida no Artigo 4º, a compra de Produto Estratégico de Defesa poderá ser realizada pelas Forças Arma-das ou órgãos de segurança diretamente de empresa estrangeira.
Capítulo III CAPACITAÇÃO E COMPETIVIDADE
DAS EMPRESAS ESTRATÉGICAS DE DEFESA
Art. 6º Quando, por autorização do Ministro da Defesa, a aquisição de Produto Es-tratégico de Defesa for realizada de empresa estrangeira, os contratos deverão in-cluir acordo de compensação industrial, comercial e tecnológica, com o precípuo objetivo de fortalecer a capacitação e a competitividade das Empresas Estratégicas de Defesa além de, quando possível: I – promover o crescimento dos níveis tecnológico e qualitativo da Base Industrial de Defesa; II – fomentar e fortalecer os setores de interesse do Ministério da Defesa, criando condições para o aperfeiçoamento da Base Industrial de Defesa e da sua base tec-nológica; III – ampliar o mercado de trabalho, mediante a criação de novas oportunidades de emprego de alto nível tecnológico na Base Industrial de Defesa; IV – obter recursos externos de toda ordem, diretos e indiretos, para elevar a capaci-tação industrial e tecnológica dos setores de interesse da área de defesa; e
362
V – incrementar a nacionalização e a progressiva independência do mercado exter-no, no que diz respeito aos Produtos Estratégicos de Defesa. § 1º O objetivo do acordo de compensação industrial, comercial e tecnológica deve-rá ser explicitado ao fornecedor estrangeiro desde o início das negociações, bem como em todo e qualquer documento referente ao processo de aquisição, sendo recomendável que as Empresas Estratégicas de Defesa sejam convidadas a partici-par de todas as fases dessas negociações. § 2º As transações válidas de compensação deverão atender às áreas definidas como de interesse pelo Poder Executivo, prioritariamente nos campos de tecnologia, treinamento de pessoal, produção industrial, comércio exterior e investimentos fi-nanceiros no País. Art. 7º O Poder Executivo definirá em 180 (cento e oitenta) dias a partir da publica-ção desta Lei, um programa de aparelhamento, aquisição de equipamentos e pes-quisa e desenvolvimento de Produtos Estratégicos de Defesa, abrangendo o perío-do do Plano Plurianual, atualizado anualmente, compatível com as necessidades das Forças Armadas e de segurança e proporá a inclusão no Plano Plurianual e nos Orçamentos anuais dos recursos compatíveis com sua execução inclusive o financi-amento das aquisições ali previstas. § Único O orçamento do Ministério da Defesa contemplará o Programa de Apare-lhamento, Aquisição de Equipamentos e Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Estratégicos de Defesa como prioridade da política de defesa nacional, explicitada na Lei de Diretrizes Orçamentárias, nos termos do Art. 12 da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999.
Art. 8º O Poder Executivo proporá a “ressalva” do Programa de Aparelhamento, no Anexo da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, que discrimina as despesas que não serão objeto de limitação de empenho (contingenciamento), nos termos do Art. 9º, § 2º, da Lei Complementar nº101, de 4 de maio de 2000. § Único Nos termos do § 2º do Art. 9º da Lei Complementar nº 101/2000, o Pro-grama de Aparelhamento, Aquisição de Equipamentos e Pesquisa e Desen-volvimento de Produtos Estratégicos de Defesa, a que se refere o Art. 7º desta Lei, não será objeto de limitação de despesas.
DISPOSIÇÕES FINAIS Art 9º Revogam-se as disposições em contrário. Art 10 Esta lei entra em vigor na data da sua publicação.
363
ANEXO B
SIMPÓSIO
INVESTIMENTOS NA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE PRODUTOS DE DEFESA
PROGRAMAÇÃO E QUESTIONAMENTOS
1. PROGRAMAÇÃO - QUADRO DE ATIVIDADES
DATA HORÁRIO LOCAL ATIVIDADE PALESTRANTE/COORDENADOR 1315-1330
Abertura Ch EME
1330-1420
CREDEN A cargo da CREDEN / Sen Fed
1420-1430
Intervalo
1430-1520
ABIMDE Sr Carlos Frederico Aguiar-Pres
1520-1530
Intervalo -
10 Jul
Ter
1530-1630
Aud Gen
Marcello
Debates e agradecimentos
Ch CEEEx
1330-1420
MD A cargo da SELOM / MD
1420-1430
Intervalo
1430-1520
EME 4ª S Ch
1520-1530 Intervalo -
11 Jul
Qua
1530-1630
Aud Gen
Marcello
Debates e agradecimentos Ch CEEEx
2. QUESTIONAMENTOS
a. QUESTÕES ESSENCIAIS
Todas as perguntas listadas neste apêndice estão ligadas ao interesse
de se visualizar situações, cenários de longo prazo, isto é, referem-se ao processo de desenvolvimento do EB até 2022, mesmo não sendo tal marco de tempo mencionado nas interrogações.
364
b. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE MATERIAIS DE
DEFESA - Qual o perfil das empresas associadas à ABIMDE quanto à capacidade
tecnológica, ao controle acionário por brasileiros e ao posicionamento no mercado internacional?
- Quais as expectativas a médio (2015) e a longo prazos (2022) para a indústria de produtos de defesa no Brasil quanto à produção, inovação e comercialização?
- Qual a participação percentual das Forças Armadas do Brasil nas vendas totais das empresas vinculadas à ABIMDE nos últimos cinco anos?
- Quais os principais obstáculos ao fortalecimento dessas empresas? - Quais as sinalizações emitidas pelo MD e pelas FA para o futuro da
ABIMDE quanto a parcerias em P&D, a perspectivas de compras e a prioridades de aquisição?
c. COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL
(CREDEN) - Qual a percepção da CREDEN sobre a indústria de produtos de defesa
instalada no Brasil quanto ao estágio tecnológico atual, à contribuição dessa indústria para o desenvolvimento nacional e ao controle acionário dela por brasileiros?
- Quais os obstáculos a essa indústria detectados pela CREDEN? - Quais os incentivos que a CREDEN sinaliza para que a citada indústria
se fortaleça? - Qual o papel do MD e das FA no trato do tema “indústria de produtos de
defesa no Brasil” junto à CREDEN? - Quais as perspectivas visualizadas pela CREDEN para a indústria de
produtos de defesa no Brasil até 2022? d. MINISTÉRIO DA DEFESA (MD) - Quais as sinalizações emitidas pelo MD e pelas FA para o futuro da
ABIMDE quanto a parcerias em P&D, a perspectivas de compras e a prioridades de aquisição?
- Como o MD tem se pautado no trato do tema “indústria de produtos de defesa no Brasil” junto à CREDEN? Quais os resultados obtidos?
- Quais as ações de parcerias desencadeadas pelo MD com Centros de Pesquisa civis no trato do tema em pauta? Quais os resultados?
- Quais as ações de parcerias promovidas pelo MD envolvendo os Centros de Pesquisa das FA quanto à P&D e à produção industrial? Quais os resultados?
- Como o MD avalia o atual estágio de integração dos sistemas de C&T das FA, quanto à P&D e à produção industrial?
e. ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (EME) - Quais as sinalizações emitidas pelo EB à ABIMDE quanto a futuras
parcerias em P&D, a perspectivas de compras e a prioridades de aquisição? - Quais as ações de parcerias desencadeadas pelo EB com as demais FA
e com os Centros de Pesquisa civis no trato do tema em pauta? Quais os resultados?
365
- Qual a participação dos investimentos de C&T do EB em relação ao orçamento total destinado à organização?
- Qual o percentual de compra de produtos de defesa produzido no exterior em relação ao total das compras do Exército desses produtos?
- Quais as principais indicações do EB para o futuro da organização na área de C&T?
f. DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA (DCT) - Quais as relações do DCT com a ABIMDE quanto a parcerias do EB em
P&D e a prioridades futuras de aquisição? - Quais as ações de parcerias desencadeadas pelo EB com as demais FA
e com os Centros de Pesquisa civis no trato do tema em pauta? Quais os resultados?
- Como o DCT avalia o atual estágio de integração dos sistemas de C&T das FA, quanto à P&D e à produção industrial?
- Quais os projetos em curso cuja conclusão representará salto de qualidade em C&T para a F Ter como força de combate?
- Quais as principais indicações do EB para o futuro da F Ter na área de C&T?
GEORGE LUIZ COELHO CORTÊS
Ch do CEEEx
366
ANEXO C
SEGURANÇA INTERNACIONAL E DEFESA: UMA ABORDAGEM NA PERSPECTIVA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS PARA O PROJETO DE
FORÇA BRASILEIRO. I - JUSTIFICATIVA A reconfiguração contínua e acelerada do sistema internacional e suas transformações políticas em curso têm provocado modificações substantivas nos padrões gerais de segurança e nas demandas específicas de defesa dos Estados. Do mesmo modo que outros complexos regionais, a América Latina também sofre tais pressões internacionais o que geralmente culmina em agendas de segurança que nem sempre refletem as percepções de ameaças de seus membros. Nesse sentido, o problema do projeto de força brasileiro emerge basicamente do desafio de consolidar sua própria agenda de segurança coadunando-se com sua política externa tradicionalmente primada pela cooperação e diálogo, sem, no entanto, deixar de lado o questionamento sobre as capacidades brasileiras necessárias para dar consecução a esses propósitos de segurança sob uma ponderação de custos e riscos dentro dos mais diversos e possíveis cenários internacionais. Esse questionamento passa pela qualificação e mensuração das capacidades que possibilitam a construção e manutenção do aparato institucional permitindo dar consecução aos interesses estratégicos nacionais. Sob o entendimento de que esse aparato, ao contribuir para os propósitos de segurança, também contribui para a produção de uma ordem política estável mantida para benefícios do próprio país e reforçada pela criação de novos produtos e métodos de produção, abertura de novos mercados, identificação de novas competências, e inovação tecnológica e das formas de organização social e comercial. Refletir e incentivar o debate no que tange aos atuais desdobramentos da Segurança Internacional e da Defesa tornam-se cruciais à medida que o Brasil adquire destaque no Sistema Internacional. II – Objetivo O curso desenvolve um panorama dos requisitos de segurança e das demandas de defesa do Brasil. Com o objetivo de qualificar os participantes a uma discussão mais aprofundada sobre os desdobramentos políticos, conseqüências econômicas e requisitos tecnológicos de um projeto de força brasileiro como instrumento de política externa bem como fornecer ao participante um instrumental adequado para compreender as mais variadas discussões no que diz respeito à Segurança Internacional. III - Público Alvo Graduandos, pós-graduandos e profissionais de Relações Internacionais, Ciências Sociais, História, Jornalismo ou de outras áreas afins que queiram expandir seus conhecimentos na área de Segurança Internacional e Defesa, assim como funcionários, executivos, empresários e outros profissionais que atuem na indústria de defesa e que almejem compreender a dinâmica da Segurança Internacional no qual estão inseridos. Membros de ONGs com interesse de desenvolverem suas capacidades de reflexão em temas de política internacional e conflitos militares.
367
Assessores parlamentares e outros agentes da indústria, da carreira diplomática e militares interessados em atuarem como vetores de ação e de disseminação do conhecimento na área dos estudos estratégicos, com ênfase nos temas de segurança internacional e defesa sob uma perspectiva das Relações Internacionais. IV - Número de Vagas e critério de prioridade
35 Vagas. Os participantes serão selecionados a partir dos seguintes critérios: - Ordem de Inscrição. - Haverá 3 bolsas para inscritos das distintas categorias da Universidade que possam ter interesse em participar (1- docente; 1- funcionário e 1- estudante);
V - Requisitos e procedimentos de inscrição - Graduandos ou graduados; - Preencher formulário eletrônico e pagar taxa de inscrição
VI - Programa: Os temas do curso estão estruturados em três módulos. O primeiro módulo - O Ambiente das Decisões – apresenta e discute os conceitos estruturantes da segurança internacional e da defesa bem como o contexto estratégico onde a discussão ocorre. O segundo módulo – Projeto de Força – conceitua e analisa as principais variáveis, métodos e processos que instruem a determinação das capacidades estratégicas de defesa brasileiras em apoio à sua política externa, e discute o ambiente de relacionamentos político-militar aonde as decisões sobre o projeto de força se desenvolvem. O terceiro módulo – Cenários – aborda aspectos políticos, condicionantes tecnológicos e requisitos econômicos que se desdobram das diversas alternativas e possibilidades de defesa. Módulo I – O Ambiente das Decisões 14 abr.07 1. Abertura: O entorno de segurança do Brasil e suas demandas de defesa. Responsável: Alm. Mario César Flores - GACINT/USP Bibliografia:
FLORES, M. C. Reflexões Estratégicas - Repensando a Defesa Nacional. Realizações, São Paulo, dezembro de 2002.
28 abr.07 2. Introdução ao estudo da Segurança Internacional: As “novas ameaças” e a nova política de segurança dos EUA. Responsável: Prof. Dr. Rafael Villa – NUPRI/USP Ementa: Apresenta os conceitos básicos das Relações Internacionais, fornecer um panorama do ambiente internacional no pós-Guerra Fria bem como discutir as, assim denominadas, “novas ameaças” no contexto da nova política de segurança dos EUA. Bibliografia:
VILLA, R. A. D. . Segurança internacional: novos atores e ampliação da agenda. Lua Nova, São Paulo. 1994. MARTINS FILHO, J. R. . As Políticas Militares dos EUA para a América Latina (1947-1989). Teoria & Pesquisa, v. 14, p. 101-135, 2005.
368
MATHIAS, S. K. (Org.) ; SOARES, Samuel Alves (Org.). Novas ameaças: dimensões e perspectivas. São Paulo: Sicureza, 2003
05 maio 07 3. O ambiente e a natureza da defesa: Teoria da Guerra, Forças Armadas e Política. Responsável: Prof. Dr. Hector Saint-Pierre – GEDES/UNESP Ementa: Discute o campo da Teoria da Guerra, os conceitos de Segurança e Defesa, a dissuasão de competência e o papel constabular da defesa. Bibliografia:
BROODIE, Bernard. War and Politics. Londres, Inglaterra: MacMillan, 1973. O´CONNEL, Robert L. História da Guerra. Lisboa. Portugal: Teorema, 1989.
12 maio 07 4. América Latina: focos de cooperação e de conflito na região. Responsável: Prof. Dr. Rafael Villa – NUPRI/USP Ementa: Discute os desafios proporcionados pela Globalização à região, os processos de construção e consolidação da Democracia, suas tentativas de cooperação bem como seus pontos de desentendimentos. Bibliografia:
GUTIÉRREZ, I.C. El Gasto Militar. Madri: Eudema, 1994. PETREI, H. Presupuesto y Control: Pautas de reforma para a América Latina. New York: Banco Interamericano de Desarrollo, 1997.
Módulo II - Projeto de Força 19 maio 07 5. Variáveis de análise da defesa: A modelagem do sistema de defesa. Responsável: Prof. Dr. Salvador Raza – CETRIS/NDU Ementa: Apresenta as premissas básicas dos modelos de medida de capacidades de defesa além de identificar seus limites e principais vetores de ação e transformação. Bibliografia:
RAZA, S. Defence Economics – Core issues: Revisiting Basic Assumptions of Force Design Economics. In Defence Finance and Economics New Delhi. Ministry of Defense & Finance. Gov. Índia. Nov.2006. RAZA, S. Marco conceptual para el análisis y la planificación de la seguridad y defensa. Cuaderno de Trabajo nº 15. Asunción, Paraguay: CEPRO, 2001. KAUFMAN, Willian W. Decisions for Defence. Washington, DC. EUA: Brookings, 1991.
26 maio 07 6. Fundamentos do Projeto de Força: Responsável: Prof. Dr. Salvador Raza – CETRIS/NDU Ementa: Discutir estrutura de forças (meios militares, estrutura de comando e controle, organizações), o conceito de emprego (tarefas, estratégias e sistemas de informação e controle), os fatores reguladores (doutrina, graus de prontidão e regras de comportamento), os vários estados do sistema, o modelo PPBS e o modelo de planejamento de defesa do Brasil. Bibliografia:
BUILDER, Carl H. Military Planning today: calculus or charade? California, EUA: RAND: 1993. BINKLER, John. et al. Gainning new military capability: An experiment in concept development. California, EUA: RAND, 1998. O´HANLON, Michael. Defense Planning for the late 1990s. Washington, DC. EUA: Brookings Institution, 1995.
369
NAVAL WAR COLLEGE. Strategy and Force Planning. 2.ed. Newport, EUA: NWC Press, 1995. RAZA, S.. Projeto de força: o elo ausente em reformas de defesa. Research and Education in Defense and Security Studies. Brasília, 2002.
02 jun.07 7. Relações civis-militares: Principais vertentes teóricas de análise e seus desdobramentos. . Responsável: Prof. Dr. João Martins Filho – Ana Lagoa/UFSCAR Ementa: Apresenta os embates teóricos nas relações civis-militares e, nesse contexto, analisar o processo decisório da defesa no Brasil. Bibliografia: HUNTINGTON, Samuel. The soldier and the State. The theory and politics of civil-military relations. Cambridge/London, Harvard U.P., 1957. FINER, S.E. The Man on horseback. The role of the military in politics. New York, Frederick Praeger, 1962. PION-BERLIN, David. Civil-military relations in Latin America. Chapel Hill/London, University of North Carolina Press, 2001 PIERRE, H. L. S. . As novas alternativas no âmbito da segurança internacional e os seus efeitos sobre as relações entre civis e militares no Brasil. In: Defense and Secutrity Challenges in the 21st Century: continuity or change do Center for Hemispheric Defense Studies, REDES 2002,, 2002, Brasília, Brazil, August 7-10,. Defense and Secutrity Challenges in the 21st Century: continuity or change do Center for Hemispheric Defense Studies, REDES 2002,. Washington : Center for Hemispheric Defense Studies, REDES 2002,, 2002. Módulo III – Cenários 09 jun.07 8. Economia de Defesa: Orçamento e Forças Armadas Responsável: Secretário Dr. Antonio Rosiere – SEORI/Ministério da Defesa Ementa: Apresentar as atuais iniciativas e políticas do Ministério da Defesa (Política de Defesa Nacional, Política Militar de Defesa, Política de Mobilização Nacional, Política de Ciência, tecnologia e Inovação e Política Nacional da Indústria de Defesa) além de discutir a estrutura de seu orçamento e seus conseqüentes impactos nas dimensões das Forças Armadas. Bibliografia:
SANDLER, T. E HARTLEY, K. The Economics of Defense. Cambridge, Ma: Cambridge University Press, 1995. SILVA, Othon Luiz Pinheiro da. Capacidade militar de defesa: aspectos materiais, tecnológicos. In: REBELO, Aldo e FERNANDES, Luis (org.). Política de defesa para o século XXI. Brasília: Câmara dos Deputados, Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, 2003.
16 jun.07 9. A Base Industrial de Defesa (BID) Responsável: Representante COMDEFESA Ementa: Apresentação do conceito de base Industrial de Defesa (BID), sua importância estratégica, o conceito de spin off, e seu impacto na C&T; as políticas de offset e cases de indústrias do setor. Bibliografia:
MACNEILL, W. The pursuit of power: technology, armed forces and society since A.D. 1.000. Chicago, EUA: The University of Chicago Press, 1982. CREVELD, Martin van. Technology and war: from 2000 B.C to the present. New York, USA: Free Press, 1991.
370
23 jun.07 10. Instituições e arranjos colaborativos regionais e globais: OTAN e suas atuais prerrogativas, a OEA e a defesa dos direitos humanos, Responsável: Prof. Dr. Rafael Villa – NUPRI/USP Ementa: As diversas organizações e arranjos de cooperação (OTAN, OEA, CS/ONU), a defesa dos Direitos Humanos e o debate em torno da ampliação do CS/ONU e seus desdobramentos para a América Latina e para o Brasil. Bibliografia:
JOHNSON, Bradfor e BARNES, Catherine. Conflict Resolutions and Negotiations. Washington, EUA: Institute of Word Affairs, 1996. OLIVEIRA, E. R. . Posições estratégicas e diplomáticas do Brasil quanto à Segurança Hemisférica. In: Francisco Rojas Aravena; Paz Milet. (Org.). Seguridad y Defensa em las Américas. La Búsqueda de Nuevos Consensos. Santiago, Chile: Flacso-Chile, 2003, VILLA, R. A. D. . A segurança global multidimensional. Lua Nova, São Paulo. 1999.
30 jun.07 11. Diplomacia Coercitiva: Fundamentos conceituais e práticas. Responsável: Prof. Dr. Salvador Raza – CETRIS/NDU Ementa: Discutir o ponto de encontro entre Política Externa e Política de Defesa, seus graus de dissuasão/coerção e seu impacto no que tange às metas de política externa. Bibliografia:
CRAIG, Gordon A. e GEORGE, Alexander L. Force and Statecraft: diplomacy problems of our time. 3.ed. New York, USA: Oxford U.P., 1995. DAVIES, Paul. New challenges for defense planning. California, EUA: RAND, 1994. MURRAY, Willianson. et ali. The Making of Strategy. EUA: Cambridge U.P., 1995. SCHELLING, Thomas C. The strategy of conflict. Massachusetts, EUA: Harvard U.P., 1980. TELLIS, A. et. al. Measuring National Power in the Postindustrial Age. California: Rand Corporation, 2000.
07 jul.07 12. Democracia e Defesa Nacional: O papel do Legislativo Responsável: Prof. Dr. Eliezer Rizzo – CBEAL Ementa: A criação do Ministério da Defesa, a relação do Legislativo com o tema de Defesa Nacional, a discussão em torno dos “livros brancos” de Defesa e o atual nível de controle e supervisão da Defesa no Brasil. Bibliografia:
OLIVEIRA, E. R. . Democracia: Passado e Presente. Como as democracias incorporam temas. Nossa América. Revista do Memorial da América Latina, São Paulo, SP, v. 22, p. 38-41, 2005. OLIVEIRA, E. R. . Democracia e Defesa Nacional. A criação do Ministério da Defesa na Presidência de FHC. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2004. OLIVEIRA, E. R. ; SOARES, S. A. . Forças Armadas, direção política e formato institucional. In: Celso Castro; Maria Celina D´Araújo. (Org.). Democracia e Forças Armadas no Cone Sul. 1 ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora FGV, 2000,
VII - Freqüência mínima exigida e Certificação Aqueles que obtiverem 85% de presença receberão certificado. VIII – Local/horário do Curso O curso será realizado aos sábados, das 9h à 13h30. De 14 de abril a 07 de julho de 2007 á Rua do Anfiteatro, 181 Colméia, Favo 13-B.
***
295
APÊNDICE A
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
PESQUISA
� Grupo / Área de Estudos (doutorado): Operações / Logística e Mobilização
� Tema: O Relacionamento entre o Exército Brasileiro (EB) e a Base
Industrial de Defesa (BID): um Modelo para Auxiliar a sua Integração.
� Autor: Maj Art Valério LUIZ LANGE
� Orientadores: Cel Art QEMA João Camilo Pires de CAMPOS – SEF
TC QEM QEMA Hildo Vieira PRADO Filho – ECEME
O presente questionário destina-se a subsidiar trabalho científico relacionado à proposta
de um modelo para auxiliar a integração de esforços entre o EB e a BID na produção de
Materiais de Emprego Militar (MEM).
As perguntas visam a identificar dificuldades técnico-operacionais no relacionamento
entre estes atores na busca de objetivos comuns. Visam, também, a buscar elementos para
propor uma estratégia viável no intercâmbio do EB com a BID no nível do planejamento e
execução, de forma integrada, de projetos de MEM para dotação na Força Terrestre Brasileira
(FTB) por meio do emprego de uma Equipe Integrada de Projeto (EIP).
“O ideal é que fabricássemos tudo o que fosse preciso para a tropa em
combate – o armamento, a pólvora, o projétil, o estojo, a viatura, o
equipamento, o fardamento, sem recorrer à indústria estrangeira.” [Marechal
Bento Ribeiro, Chefe do Estado Maior do Exército (EME), História do EME,
1917].
“O sucesso dos empreendimentos produtivos depende do empreendedor,
do investidor e em grande parte da sociedade, seu comportamento e do
Governo que a representa.” (Professor Michael E. Porter, em ‘A Vantagem
Competitiva das Nações’, Ed. Campus, 1989).
296
“Existe um hiato entre os inventores que sabem que poderiam inventar,
caso fossem capazes de saber o desejado, e os soldados que sabem o que
querem e o poderiam pedir, se eles fossem capazes de saber o quanto a
ciência pode fazer por eles. Na verdade este abismo ainda não foi preenchido.”
(Winston Curchill no contexto da 1ª Guerra Mundial).
QUESTIONÁRIO PARA INSTRUTORES E ALUNOS DA ECEME
Assinale com um (X) o parêntese que apresenta a proposição mais viável para a solução
do problema em questão, ou enumere a ordem de preferência, sfc. Por favor, sempre que for
solicitado, complemente a resposta com as suas idéias sobre o assunto. Sendo necessário,
utilize o verso da folha.
1. Qual a sua condição de oficial na ECEME?
( ) Instrutor ( ) Aluno CAEM ( ) Aluno CDEM ( ) Estagiário
CPEAEx
Seção: _______________ Arma/Quadro/Serviço: ________________
2. Qual o grau de conhecimento pessoal/profissional que o senhor avalia possuir sobre a BID?
( ) Muito Bom ( ) Bom ( ) Regular ( ) Insuficiente
3. Assinale as empresas nacionais produtoras de MEM que o senhor avalia possuir algum grau
de conhecimento.
( ) Agrale ( ) Atech ( ) Avibras ( ) CBC
( ) Condor ( ) D.F. Vasconcellos ( ) Diana Paolucci ( ) Embraer
( ) Emgepron ( ) Helibras ( ) Hobeco ( ) Imbel
( ) Inbrafiltro ( ) Indios ( ) Logitec ( ) Mectron
( ) Omnisys ( ) Orbisat ( ) RJC Defesa ( ) Target
( ) Taurus ( ) Vertical do Ponto ( ) Universal ( ) ETR
( ) Troller ( ) Atlantide ( ) Daimler Benz ( )_________
4. Quais as estruturas macro, internas ao EB, que deveriam participar, efetivamente, em uma
interação / integração de esforços com a BID para a produção de MEM?
( ) Gab Cmt EB ( ) EME – 3ª Subchefia ( ) EME – 4ª Subchefia ( ) DCT
( ) D Log ( ) DGP ( ) COTer ( ) SEF
( ) DEC ( ) DEP ( ) ________________
297
5. Por meio de qual (is) segmento (s) abaixo listado (s), a Sociedade e o Estado Brasileiro
poderiam participar deste processo de associação EB/BID, proporcionando confiabilidade,
segurança, perspectiva de continuidade, visibilidade ao processo e desenvolvimento de
mentalidade de Defesa?
( ) Congresso Nacional ( ) Ministério da Defesa ( ) Universidades civis
( ) Parques tecnológicos ( ) Associações de empresas ( ) Pesquisadores
( ) ONG ( ) BNDES – Banco do Brasil ( ) Laboratórios
( ) Ministério da Fazenda ( ) Min. do Planejamento ( ) Min. Desenvolvimento,
( ) _________________ Indústria e Comércio
( )_______________________________________________________________________
( ) _______________________________________________________________________
6. Na eventualidade de o senhor receber a missão de conduzir a organização e o trabalho de
uma Equipe Integrada de Projeto (EIP) de MEM envolvendo elementos do EB e da BID –
desenvolver um veículo militar blindado, por exemplo – qual (is) o(s) integrante(s) abaixo
listado(s) o senhor convidaria a participar por parte do EB e qual (is) aquele(s) oriundos da BID
que o senhor sugeriria que participasse(m)?
- Segmento Militar:
( ) Militar com conhecimento do emprego operacional do MEM (Inf, Cav, Art, Eng,Com).
( ) Militar da estrutura de Apoio Logístico (MB, Intendência)
( ) Engenheiro(s) Militar(es) especializado(s) na(s) área(s) de interesse
( ) Militar com especialização na administração de/por projetos
( ) Militar com especialização jurídica – advogado (contratos, etc.)
( ) Militar com especialização na área de Operações Psicológicas (Op Psico) para o
desenvolvimento de atividades que proporcionem liberdade de ação no campo psicossocial
( ) Militar com especialização em Comunicação Social
( ) Militar com especialização em Inteligência (estratégica, operacional)
( ) Militar com especialização em Negociação
( ) Militar com especialização em Tecnologia da Informação
( ) Pesquisador(es) Militar(es)
( ) ____________________________________________________________
- Segmento Civil:
( ) Setor comercial da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Setor de Engenharia da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Setor de Logística da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Setor de Marketing da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Setor jurídico da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Pesquisador(es) de Universidade(s) e/ou parque(s) tecnológico(s)
298
( ) Banco para financiamento do projeto
( ) ____________________________________________________________
7. Coloque em ordem de importância (1º, 2º, 3º, 4º, 5º sfc) o tratamento que o senhor considera
prioritário no tratamento dos recursos para aquisição de MEM para proporcionar poder de
combate ao Exército Brasileiro? Considere um quadro atual de limitadas ameaças externas
imediatas à Soberania nacional.
( ) Realizar compras de MEM nacionais, desenvolvendo a BID em médio prazo, porém sem
obter o comprometimento desta Base Industrial de Defesa no fornecimento continuado ao
Exército.
( ) Realizar um planejamento de aquisição de MEM a médio e longo prazo, obtendo o rigoroso
comprometimento da BID no sentido de efetivá-lo.
( ) Realizar preferencialmente “compras de oportunidade” de MEM em países estrangeiros para
manter um nível mínimo de adestramento do Exército.
( ) “Montar”, no Brasil, MEM oriundos de países estrangeiros.
( )__________________________________________________________________________.
8. Metodologia do Planejamento Estratégico – Diagnóstico Estratégico
• Matriz DOFA (SWOT) – “Brainstorming” – Levantamento de Idéias
• DOFA – Debilidades, Oportunidades, Fortalezas e Ameaças.
• SWOT – Strenghts, Weakness, Opportunitties, Threats.
Solicita-se que o senhor colabore com o levantamento de idéias em cada tópico.
Para tal, POSICIONE-SE como PARTICIPANTE MILITAR em uma EQUIPE
INTEGRADA DE PROJETOS, ou seja, será componente de uma associação do EB e da BID
para o desenvolvimento de um MEM, procurando “observar” o que poderá afetar esta
associação.
Cada tópico possui uma pequena explicação para auxiliar a sua interpretação. Não se
preocupe com ordem/prioridade. Participe com idéias e sugestões.
OBJETIVO (Missão):
Desenvolver MEM de interesse comum para o EB e para a BID
por meio de uma Equipe Integrada de Projeto (EIP).
299
Ambiente externo (à associação EB/BID):
a. Oportunidades (atuais e futuras) – Tendências sociais, econômicas, comerciais,
mercadológicas e políticas com conseqüências potencialmente positivas para a
organização (EB/BID).
- Atuais:
( ) Necessidade de reaparelhamento do EB
( ) Venda de MEM para países da América do Sul/Central, África e Ásia.
( ) Integração do EB com a sociedade brasileira.
( ) Obtenção de recursos oriundos de Parcerias Público – Privada (PPP) entre
EB/BID no âmbito do Governo Federal
( ) Afirmação do emprego de tecnologia dual (civil/militar) no âmbito nacional
( ) Aprendizado da gestão pela excelência (PEG)
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
- Futuras:
( ) Desenvolvimento de MEM de caráter estratégico
( ) Venda de MEM para países da OTAN ou mais desenvolvidos que o Brasil
( ) Incremento da mentalidade de Defesa no Brasil
( ) Incremento tecnológico dos MEM nacionais
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
b. Ameaças – Tendências sociais, econômicas, comerciais, mercadológicas e políticas,
com conseqüências potencialmente negativas para a organização (EB/BID).
- Atuais:
( ) Restrição à produção de MEM por meio de imposições de protocolos
internacionais assinados pelo Brasil (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, Não-
Proliferação de Armas Nucleares, Proibição do uso de Minas Anti-pessoal, Proibição do
uso Armas Químicas, dentre outros).
( ) Pressão de ONG nacionais e/ou internacionais para evitar uma “corrida
armamentista” no Brasil.
( ) Desinformação da Sociedade Brasileira sobre o assunto
( ) Desconhecimento sobre o trabalho desenvolvido pela BID, EB e vice-versa
( )Oferta de MEM estrangeiros por custos mais baixos ao EB para impedir o
desenvolvimento autóctone
( ) Cenários voláteis, incertos, complexos e ambíguos
( )______________________________________________________________
300
( )______________________________________________________________
( ) ______________________________________________________________
- Futuras:
( ) Acusações de comportamento(s) não-éticos na integração EB/BID
( ) Pressões internacionais sobre fornecedores de produtos para BID ou MEM
para o EB para “quebrar” empresas brasileiras.
( ) ______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
Ambiente interno (à associação EB/BID):
c. Fortalezas (Forças) – Recursos e competências superiores de que se dispõe para
explorar / alavancar oportunidades e minimizar ameaças.
( ) Profissionais operacionais, engenheiros e técnicos de alto nível por ambos
atores
( ) Laboratórios e Campos de Prova Militares em boas condições
( ) BID com capacidade de crescimento
( ) Sucesso de MEM nacionais no passado recente (Cascavel, Urutu, ASTROS
II)
( ) MEM voltados para a realidade brasileira e com penetração no mercado
internacional
( ) Uma Equipe de Projetos com visão balanceada entre EB/BID e sociedade
( ) Comprometimento com a satisfação de ambas as partes (EB/BID)
( ) Elevado padrão ético de relacionamento EB/BID
( ) Fortalecimento da Força Terrestre, diminuindo sua dependência aos
interesses externos
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
d. Debilidades (Fraquezas) – Deficiências que inibem a capacidade de desempenho e
que devem ser superadas para explorar / alavancar oportunidades e minimizar
ameaças.
( ) Falta de recursos para investimento em MEM no EB
( ) Atuação limitada do Ministério da Defesa neste setor
301
( ) Preconceito negativo de militares do EB em relação à capacidade BID/MEM
nacionais e vice-versa
( ) Pouca integração no desenvolvimento de projetos comuns entre EB/BID
( ) Alta rotatividade de oficiais em funções decisórias para o estabelecimento de
Requisitos Operacionais Básicos (ROB) e Requisitos Técnicos Básicos (RTB)
( ) Influência limitadora do Ministério da Defesa no orçamento do EB e das
demais forças
( ) Limitação no fluxo interno das Informações organizacionais do EB
( ) Dificuldade no trabalho em equipe, especialmente civil-militar
( ) Estrutura compartimentada do EB
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
9. Qual a sua opinião sobre a participação de militares da ativa – diferentes postos ou
graduações (operacionais, técnicos e/ou engenheiros militares) – isolados ou em grupos – em
atividades de desenvolvimento de MEM de interesse para o EB, ficando adidos a uma OM e
junto a empresas da BID no Brasil por um prazo determinado?
( ) Concordo ( ) Não possuo opinião a respeito ( ) Discordo
Por quê?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
10. “Programa Mobilizador é um programa capaz de arregimentar, aglutinar, organizar e pôr em
movimento, ou criar, o potencial nacional necessário para uma ação política que vise o
desenvolvimento social, econômico e/ou militar, através do domínio, uso, aperfeiçoamento,
geração de conhecimentos empíricos, intuitivos, científicos, tecnológicos, inovações, que
resultem em produtos, processos, sistemas ou serviços novos ou substancialmente melhorados”.
(Wladimir Pirro e Longo, PHD).
302
Dentro deste contexto, enumere a ordem de prioridade que o senhor considera
adequada para o desenvolvimento de tecnologias de interesse para o Exército Brasileiro nas
seguintes áreas de programas ditos mobilizadores no Brasil.
( ) Ciclo do Combustível Nuclear (energia controlada)
( ) Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) (sensoriamento remoto, reconhecimento, apoio
de fogo)
( ) Veículo Lançador de Satélites (VLS) (mísseis e foguetes de artilharia)
( ) Veículo Blindado de Transporte de Pessoal (VBTP) (carros de combate e transporte
de tropa)
( ) Biotecnologia (Defesa Biológica)
( ) Hidrogênio e célula de combustível (energia)
( ) Biomassa / Biodiesel (energia)
( ) Eletromagnetismo (armas de pulso eletromagnético, interferências, guerra eletrônica)
( ) Informática (guerra cibernética)
( ) Nanotecnologia (emprego diversificado, espionagem, sensoriamento, etc.)
( ) ____________________________________________________________________
11. O espaço a seguir é destinado a colher sugestões, bem como identificar-se, caso ache
necessário ou pretenda receber informações sobre o andamento dos trabalhos de pesquisa.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Observação:
Este pesquisador solicita a gentileza do envio de referências bibliográficas (revistas e/ou
publicações) para os seguintes endereços de correio eletrônico: [email protected] ou
[email protected] a fim de aprimorar a pesquisa ora em curso.
SOLICITA-SE A DEVOLUÇÃO NA CAIXETA DA SALA DE AULA,
NA SEÇÃO DE CORPO DISCENTE (SCD) – com indicação para entrega ao
OFICIAL PESQUISADOR OU, SE PREFERIR, PESSOALMENTE,
ATÉ 24 DE AGOSTO DE 2006.
Muito obrigado pela sua colaboração!
303
ANÁLISE DAS RESPOSTAS
INTRODUÇÃO
A pesquisa conduzida junto ao pessoal do Exército buscou verificar a opinião
dos militares em um universo de alto nível dentro da FTB, caracterizado pela
oficialidade que freqüenta os diversos cursos da ECEME, bem como seus
instrutores. Esse universo possui, em tese, alto grau de representatividade na
estrutura do Exército por agregar militares de diversas origens, especialidades e com
bom conhecimento da Força Armada.
As respostas recebidas e as idéias levantadas indicaram tendências já
observadas e são válidas partindo-se da premissa principal da seriedade e
responsabilidade dos oficiais ao responderem tal pesquisa1. A não-observância
desse aspecto poderia vir acarretar ‘achismos’ ou um caráter tendencioso nos
resultados verificados.
O interesse sobre o relacionamento EB-BID nos profissionais do EB,
entrevistados e/ou que responderam à pesquisa, confirmou uma percepção prévia,
indicadora de uma tendência: que a maior parte do universo procura estar atenta
aos assuntos sobre a BID porque busca entender de que maneira as empresas
nacionais poderão contribuir para a manutenção de um Exército pelo fornecimento
de MEM adequados para a FTB.
Esta pesquisa está referenciada nas seções 3 e 4, no corpo do trabalho.
1. Qual a sua condição de oficial na ECEME?
• Aluno CAEM – 53
• Aluno CDEM – 13
• Estagiário CPEAEx – 05
• Instrutores ECEME – 34
o TOTAL: 105
2. Qual o grau de conhecimento pessoal/profissional que o senhor avalia possuir
sobre a BID?
• Muito Bom – 05
1 Um questionário com uma resposta considerada inconsistente por incoerência lógica foi desprezada. Nota do autor.
304
• Bom – 31
• Regular – 48
• Insuficiente – 15
• Não sabe – 06
O grau de conhecimento sobre o tema é bastante variável em função da
origem distinta e do período da carreira militar, pois a maioria (alunos da ECEME,
com exceção daqueles do CDEM) começou, recentemente, a lidar de forma mais
direta com assuntos de logística, mobilização e C&T que afetam o desenvolvimento
de MEM e sua incorporação ao Exército.
A maioria dos militares, todavia, possui um grau mínimo de conhecimento da
BID, caracterizado pela referência às principais empresas e MEM nacionais
(Pergunta 3). O conhecimento sobre o relacionamento entre o EB-BID é limitado
porque, no entendimento das respostas, observou-se falta de experiência direta no
assunto, bem como de referenciais mais específicos. O tratamento dispensado às
pesquisas foi qualitativo e não quantitativo, porém indica, a priori, um limitado
conhecimento das capacidades da BID por parte daquele universo.
3. Assinale as empresas nacionais produtoras de MEM que o senhor avalia possuir
algum grau de conhecimento. (Quantidade de indicações por empresa)
IMBEL – 92 AVIBRAS – 90 EMBRAER – 90
HELIBRAS – 76 CBC – 72 Taurus – 72
Condor – 47 DF Vasconcellos – 45 Troller – 43
Mectron – 35 EMGEPRON – 34 DAIMLER-BENZ – 33
Vertical do Ponto – 26 Diana Paolucci – 17 ORBISAT – 13
Inbrafiltro – 12 ATECH – 11 Universal – 08
Logitech – 07 RJC Defesa – 02 Omnisys – 02
Índios – 01
As principais empresas referenciadas neste instrumento foram: IMBEL,
AVIBRAS, EMBRAER, HELIBRAS, CBC, TAURUS, CONDOR, DF
VASCONCELLOS, TROLLER (pertencente, hoje, à empresa ‘Land Rover’),
MECTRON, EMGEPRON, DAIMLER-BENZ, dentre outras.
305
4. Quais as estruturas macro, internas ao EB, que deveriam participar, efetivamente,
em uma interação / integração de esforços com a BID para a produção de MEM?
(Quantidade de indicações por estruturas)
Gab Cmt EB – 46 EME/3ª SCh – 71 EME/4ª SCh – 77
DCT – 94 D Log – 96 DGP – 13
COTer – 49 SEF – 28 DEC – 37
DEP – 18
O Gab Cmt Ex, o EME (3ª e 4ª subchefias), o DCT, o D Log e o COTER são,
segundo a pesquisa conduzida, as principais estruturas macro, internas ao Exército,
que deveriam fazer parte de uma interação de esforços com a BID, segundo
tendência indicada no levantamento conduzido.
5. Por meio de qual (is) segmento (s) abaixo listado (s), a Sociedade e o Estado
Brasileiro poderiam participar deste processo de associação EB/BID, proporcionando
confiabilidade, segurança, perspectiva de continuidade, visibilidade ao processo e
desenvolvimento de mentalidade de Defesa? (Quantidade de indicações por
segmento)
Congresso Nacional – 66 Ministério da Defesa – 99 Universidades civis – 70
Parques tecnológicos – 64 Ass. Empresas – 48 Pesquisadores – 60
ONG – 05 BNDES/BB – 68 Laboratórios – 35
Min. Fazenda – 27 Min. Planejamento – 46 MDIC – 69
O MD, as universidades, o BNDES, o MDIC, os parques tecnológicos e o
Congresso Nacional se constituem nas principais referências da sociedade que
poderiam participar do processo de associação EB-BID.
6. Na eventualidade de o senhor receber a missão de conduzir a organização e o
trabalho de uma Equipe Integrada de Projeto (EIP) de MEM envolvendo elementos
do EB e da BID – desenvolver um veículo militar blindado, por exemplo – qual (is)
o(s) integrante(s) abaixo listado(s) o senhor convidaria a participar por parte do EB e
306
qual (is) aquele(s) oriundos da BID que o senhor sugeriria que participasse(m)?
(Quantidade de indicações por especialidade)
Segmento Militar:
• Militar com conhecimento do emprego operacional do MEM – 101
• Militar da estrutura de Apoio Logístico – 78
• Engenheiro Militar especializado – 104
• Militar com especialização na administração de/por projetos – 82
• Militar com especialização jurídica /advogado – 66
• Militar com especialização Op Psico (Com Soc) – 17
• Militar com especialização em Inteligência – 25
• Militar com especialização em Negociação – 32
• Militar com especialização em Tecnologia da Informação (TI) – 53
• Pesquisador Militar – 59
Segmento Civil:
• Setor comercial da(s) empresa(s) envolvida(s) – 71
• Setor de Engenharia da(s) empresa(s) envolvida(s) – 100
• Setor de Logística da(s) empresa(s) envolvida(s) – 70
• Setor de Marketing da(s) empresa(s) envolvida(s) – 25
• Setor jurídico da(s) empresa(s) envolvida(s) – 48
• Pesquisador de Universidade(s) e/ou parque(s) tecnológico(s) – 74
• Banco para financiamento do projeto – 65
As respostas indicam um elevado grau de importância ao aspecto
operacional-militar, de engenharia, pesquisa, administração de/por projetos, jurídica,
TI, tudo na esfera militar. No segmento civil, por sua vez, elas confirmam o caráter
primordial da engenharia, comércio e logística, bem como, a ligação fundamental
com a Universidade e o setor financeiro.
As respostas acima, assim como o estudo de seu interelacionamento com as
respostas obtidas na pesquisa conduzida junto à BID, serviram de referencial para o
trabalho criador deste autor na organização de especialidades componentes dos
grupos da EIT, conforme proposta existente na Seção 6 do corpo do trabalho.
307
7. Coloque em ordem de importância (1º, 2º, 3º, 4º, 5º sfc) o tratamento que o
senhor considera prioritário no tratamento dos recursos para aquisição de MEM para
proporcionar poder de combate ao Exército Brasileiro? Considere um quadro atual
de limitadas ameaças externas imediatas à Soberania nacional.
• 1º – Realizar um planejamento de aquisição de MEM a médio e longo prazo,
obtendo o rigoroso comprometimento da BID no sentido de efetivá-lo.
• 2º – Realizar compras de MEM nacionais, desenvolvendo a BID em médio
prazo, porém sem obter o comprometimento desta Base Industrial de Defesa
no fornecimento continuado ao Exército.
• 3° – “Montar”, no Brasil, MEM oriundos de países estrangeiros.
• 4º – Realizar preferencialmente “compras de oportunidade” de MEM em
países estrangeiros para manter um nível mínimo de adestramento do
Exército.
• Outras: Realizar compra de MEM em licitação internacional, com vantagens
para a indústria nacional (02); Realizar a compra de MEM nacionais, com
desenvolvimento da BID em médio prazo, mas sem o comprometimento da
mesma (02).
A ordem de importância indica uma forte tendência de apoio ao
desenvolvimento da BID e planejamento de longo prazo entre o EB e a BID.
8. Metodologia do Planejamento Estratégico – Diagnóstico Estratégico –
Levantamento de idéias (“Survey”)
Para tal, POSICIONE-SE como PARTICIPANTE MILITAR em uma EQUIPE
INTEGRADA DE PROJETOS, ou seja, será componente de uma associação do EB
e da BID para o desenvolvimento de um MEM, procurando “observar” o que
poderá afetar esta associação. (Quantidade de indicações obtidas por item)
OBJETIVO (Missão):
Desenvolver MEM de interesse comum para o EB e para a BID
308
por meio de uma Equipe Integrada de Projeto (EIP).
Ambiente externo (à associação EB/BID):
Oportunidades (atuais e futuras) – Tendências sociais, econômicas, comerciais,
mercadológicas e políticas com conseqüências potencialmente positivas para a
organização (EB/BID).
Atuais:
• Necessidade de reaparelhamento do EB – 92
• Venda de MEM para países da América do Sul/Central, África e Ásia – 54
• Integração do EB com a sociedade brasileira – 50
• Obtenção de recursos oriundos de PPP EB/BID – 55
• Afirmação da tecnologia dual (civil/militar) no âmbito nacional – 70
• Aprendizado da gestão pela excelência – 26
• Outras: Necessidade de desenvolver tecnologias; Formação de RH civis na
área de Defesa; Necessidade de desenvolvimento da indústria nacional e a
respectiva geração de empregos.
Futuras:
• Desenvolvimento de MEM de caráter estratégico – 83
• Venda de MEM para países mais desenvolvidos que o Brasil – 32
• Incremento da mentalidade de Defesa no Brasil – 86
• Incremento tecnológico dos MEM nacionais – 80
• Outras: Ampliação do universo de seleção para os cursos da ESG;
Aprendizado da gestão pela excelência; Projeção de uma imagem favorável
do EB no exterior.
Ameaças – Tendências sociais, econômicas, comerciais, mercadológicas e
políticas, com conseqüências potencialmente negativas para a organização
(EB/BID).
309
Atuais:
• Restrição à produção de MEM por meio de imposições de protocolos
internacionais assinados pelo Brasil – 74
• Pressão de ONG nacionais e/ou internacionais para evitar uma “corrida
armamentista” no Brasil – 43
• Desinformação da Sociedade Brasileira sobre o assunto – 76
• Desconhecimento sobre o trabalho desenvolvido pela BID, EB e vice-versa –
45
• Oferta de MEM estrangeiros por custos mais baixos ao EB para impedir o
desenvolvimento autóctone – 72
• Cenários voláteis, incertos, complexos e ambíguos – 33
• Outras: Inexistência de tecnologia nacional em determinadas áreas;
Mudanças de mentalidade / prioridades do MD; Falta de representatividade
militar nos centros decisórios nacionais; Ênfase de ações governamentais na
área social.
Futuras:
• Acusações de comportamento(s) não-éticos na integração EB/BID – 25
• Pressões internacionais sobre fornecedores de produtos para BID ou MEM
para o EB para “quebrar” empresas brasileiras – 81
• Outras: Aumento das restrições de todo tipo contra o País; Políticas
governamentais prejudiciais.
Ambiente interno (à associação EB/BID):
Fortalezas (Forças) – Recursos e competências superiores de que se dispõe para
explorar / alavancar oportunidades e minimizar ameaças.
• Profissionais operacionais, engenheiros e técnicos de alto nível – 87
• Laboratórios e Campos de Prova Militares em boas condições – 71
• BID com capacidade de crescimento – 65
• Sucesso de MEM nacionais no passado recente (Cascavel, Urutu, ASTROS
II) – 78
310
• MEM voltados para a realidade brasileira e com penetração no mercado
internacional – 58
• Uma Equipe de Projetos com visão balanceada entre EB/BID e sociedade –
30
• Comprometimento com a satisfação de ambas as partes (EB/BID) – 29
• Elevado padrão ético de relacionamento EB/BID – 29
• Fortalecimento da FTB, diminuindo sua dependência aos interesses externos
– 58
Debilidades (Fraquezas) – Deficiências que inibem a capacidade de desempenho e
que devem ser superadas para explorar / alavancar oportunidades e minimizar
ameaças.
• Falta de recursos para investimento em MEM no EB – 92
• Atuação limitada do Ministério da Defesa neste setor – 63
• Preconceito negativo de militares do EB em relação à capacidade BID/MEM
nacionais e vice-versa – 27
• Pouca integração no desenvolvimento de projetos comuns entre EB/BID – 60
• Alta rotatividade de oficiais em funções decisórias para o estabelecimento de
ROB e de RTB – 68
• Influência limitadora do MD no orçamento do EB e das demais forças – 45
• Limitação no fluxo interno das Informações organizacionais do EB – 24
• Dificuldade no trabalho em equipe, especialmente civil-militar – 27
• Estrutura compartimentada do EB – 36
• Outras: Falta de uma política de pessoal em determinados locais que
desenvolvam MEM (Ex. IPD); Falta de apoio (institucional) a projetos
desenvolvidos pelo pessoal militar.
O entendimento deste autor a respeito deste “Brainstorm” é apresentado na
Seção 6 do corpo do trabalho, em associação com o levantamento conduzido junto
às empresas da BID, no que diz respeito à matriz DOFA, em aspectos que poderão
vir a afetar uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT).
311
9. Qual a sua opinião sobre a participação de militares da ativa – diferentes postos
ou graduações (operacionais, técnicos e/ou engenheiros militares) – isolados ou em
grupos – em atividades de desenvolvimento de MEM de interesse para o EB, ficando
adidos a uma OM e junto a empresas da BID no Brasil por um prazo determinado?
• Concordo – 94
• Não possuo opinião a respeito – 10
• Discordo – 01
Constata-se que a grande maioria das respostas indica a viabilidade dessa
proposta. Segundo entendimento deste autor, com objetivos diferentes para cada
situação particular, a finalidade desse tipo de missão é realizar o fomento industrial
da BID.
10. “Programa Mobilizador é um programa capaz de arregimentar, aglutinar,
organizar e pôr em movimento, ou criar, o potencial nacional necessário para uma
ação política que vise o desenvolvimento social, econômico e/ou militar, através
do domínio, uso, aperfeiçoamento, geração de conhecimentos empíricos, intuitivos,
científicos, tecnológicos, inovações, que resultem em produtos, processos, sistemas
ou serviços novos ou substancialmente melhorados”. (Wladimir Pirro e Longo, PHD).
Dentro deste contexto, enumere a ordem de prioridade que o senhor
considera adequada para o desenvolvimento de tecnologias de interesse para o
Exército Brasileiro nas seguintes áreas de programas ditos mobilizadores no Brasil.
(Quantidade de enumerações. O somatório mais baixo indicará a ordem de
prioridade)
• 1º (389) – Veículo Blindado de Transporte de Pessoal (VBTP) (carros de
combate e transporte de tropa)
• 2º (409) – Veículo Lançador de Satélites (VLS) (mísseis e foguetes de
artilharia)
• 3º (469) – Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) (sensoriamento remoto,
reconhecimento, apoio de fogo)
• 4º (469) – Informática (guerra cibernética)
312
• 5° (483) – Ciclo do Combustível Nuclear (energia controlada)
• 6° (509) – Eletromagnetismo (armas de pulso eletromagnético, interferências,
guerra eletrônica)
• 7º (573) – Hidrogênio e célula de combustível (energia)
• 8° (584) – Nanotecnologia (espionagem, sensoriamento, etc.)
• 9º (628) – Biomassa / Biodiesel (energia)
• 10° (648) – Biotecnologia (Defesa Biológica)
A análise dessa ordem de prioridade indica uma semelhança acentuada com
aquela indicada pelas empresas da BID. As cinco primeiras prioridades são iguais.
Entende-se, em caráter preliminar, que essa similaridade de pensamento poderá
indicar uma trilha comum de áreas de interesse para uma futura EIT, que associe EB
e BID.
*********
313
APÊNDICE B
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
PESQUISA
� Grupo / Área de Estudos (doutorado): Operações / Logística e Mobilização
� Tema: O Relacionamento entre o Exército Brasileiro (EB) e a Base
Industrial de Defesa (BID): um Modelo para Auxiliar a sua Integração.
� Autor: Maj Art QEMA Valério LUIZ LANGE
� Orientadores: Gen Bda João Camilo Pires de CAMPOS – Cmt AD/1
Cel QEM QEMA Hildo Vieira PRADO Filho – ECEME
O presente questionário destina-se a subsidiar trabalho científico relacionado à proposta de um modelo para auxiliar a integração de esforços entre o EB e a BID na produção de Materiais de Emprego Militar (MEM) ou de Produtos Estratégicos de Defesa (PED).
As perguntas visam a identificar dificuldades técnico-operacionais no relacionamento entre estes atores na busca de objetivos comuns. Visam, também, a buscar elementos para propor uma estratégia viável no intercâmbio do EB com a BID no nível do planejamento e execução, de forma integrada, de projetos de MEM para dotação na Força Terrestre Brasileira (FTB) por meio do emprego de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT).
“O ideal é que fabricássemos tudo o que fosse preciso para a tropa em
combate – o armamento, a pólvora, o projétil, o estojo, a viatura, o
equipamento, o fardamento, sem recorrer à indústria estrangeira.” [Marechal
Bento Ribeiro, Chefe do Estado Maior do Exército (EME), História do EME,
1917].
“O sucesso dos empreendimentos produtivos depende do empreendedor,
do investidor e em grande parte da sociedade, seu comportamento e do
Governo que a representa.” (Professor Michael E. Porter, em ‘A Vantagem
Competitiva das Nações’, Ed. Campus, 1989).
314
“Existe um hiato entre os inventores que sabem que poderiam inventar,
caso fossem capazes de saber o desejado, e os soldados que sabem o que
querem e o poderiam pedir, se eles fossem capazes de saber o quanto a
ciência pode fazer por eles. Na verdade este abismo ainda não foi preenchido.”
(Winston Curchill no contexto da 1ª Guerra Mundial).
QUESTIONÁRIO PARA INTEGRANTES DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA
Assinale com um (X) o parêntese que apresenta a proposição mais viável para a solução
do problema em questão, ou enumere a ordem de preferência, sfc. Por favor, sempre que for
solicitado, complemente a resposta com as suas idéias sobre o assunto. Sendo necessário,
utilize o verso da folha.
1. Qual a sua condição pessoal junto à Base Industrial de Defesa (BID)?
( ) Presidente/Diretor de Empresa ( ) Comercial ( ) P&D
( ) Setor Logístico ( ) Marketing ( ) Suporte ao cliente
Empresa: _______________ Sede: _____________________________
Setor: __________________ Principais produtos: __________________
2. Qual o grau de conhecimento pessoal/profissional que o senhor avalia possuir sobre o
Exército Brasileiro?
( ) Muito Bom ( ) Bom ( ) Regular ( ) Insuficiente
3. Assinale o(s) setor(es) do Exército Brasileiro que o senhor avalia possuir algum grau de
conhecimento.
( )Estado-Maior do Exército (EME)
( ) Comando de Operações Terrestres (COTer)
( ) Departamento Logístico (D Log)
( ) Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT)
( ) Departamento Geral do Pessoal (DGP)
( ) Departamento de Engenharia de Construção (DEC)
( ) Centro Tecnológico do Exército (CTEx)
315
( ) Centro de Avaliação do Exército (CAEx)
( ) Centro de Desenvolvimento de Sistemas (CDS)
( ) Centro Integrado de Guerra Eletrônica (CIGE)
( ) Diretoria de Suprimento (DS)
( ) Diretoria de Manutenção (D Mnt)
( ) Diretoria de Material de Aviação do Exército (DMAvEx)
( ) Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC)
( ) Diretoria de Transporte e Mobilização (DTMob)
( ) Instituto Militar de Engenharia (IME)
( ) Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME)
( ) Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN)
( ) Escola de Sargentos das Armas (ESA)
( ) Centro de Instrução de Blindados (CIBld)
( ) _____________________________________________________________
( ) _____________________________________________________________
4. Qual (is) a(s) organização(ões) / associação(ões) da BID , que deveria(m) participar,
efetivamente, em uma interação / integração de esforços com o Exército Brasileiro para a
produção de MEM?
( ) ABIMDE – Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa
( ) COMDEFESA – Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa (FIESP)
( ) SIMDE – Sindicato das Indústrias de Defesa
( ) AIAB – Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil
( ) _______________________________________________
( ) _______________________________________________
5. Por meio de qual (is) segmento (s) abaixo listado (s), a Sociedade e o Estado Brasileiro
poderiam participar deste processo de associação EB/BID, proporcionando confiabilidade,
segurança, perspectiva de continuidade, visibilidade ao processo e desenvolvimento de
mentalidade de Defesa?
316
( ) Congresso Nacional ( ) Ministério da Defesa ( ) Universidades
civis
( ) Parques tecnológicos ( ) Associações de empresas ( ) Pesquisadores
( ) ONG ( ) BNDES – Banco do Brasil ( ) Laboratórios
( ) Ministério da Fazenda ( ) Min. do Planejamento ( ) MDIC
( ) _________________
6. Na eventualidade de o senhor receber a solicitação para compor uma Equipe Integrada de
Trabalho (EIT) de MEM envolvendo elementos do EB e da BID – desenvolver um veículo militar
blindado, por exemplo – qual (is) o(s) integrante(s) abaixo listado(s) o senhor convidaria a
participar por parte da BID e qual (is) aquele(s) oriundos do Exército que o senhor sugeriria que
participasse(m)?
- Segmento Civil:
( ) Setor comercial da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Setor de Engenharia da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Setor de Logística da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Setor de Marketing da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Setor jurídico da(s) empresa(s) envolvida(s)
( ) Pesquisador(es) de Universidade(s) e/ou parque(s) tecnológico(s)
( ) Banco para financiamento do projeto
( ) ____________________________________________________________
- Segmento Militar:
( ) Militar com conhecimento do emprego operacional do MEM (Inf, Cav, Art, Eng,Com).
( ) Militar da estrutura de Apoio Logístico (MB, Intendência)
( ) Engenheiro(s) Militar(es) especializado(s) na(s) área(s) de interesse
( ) Militar com especialização na administração de/por projetos
( ) Militar com especialização jurídica – advogado (contratos, etc.)
( ) Militar com especialização na área de Operações Psicológicas (Op Psico) para o
desenvolvimento de atividades que proporcionem liberdade de ação no campo
psicossocial
317
( ) Militar com especialização em Comunicação Social
( ) Militar com especialização em Inteligência (estratégica, operacional)
( ) Militar com especialização em Negociação
( ) Militar com especialização em Tecnologia da Informação
( ) Pesquisador(es) Militar(es)
( ) ____________________________________________________________
7. Coloque em ordem de importância (1º, 2º, 3º, 4º, 5º sfc) o tratamento que o senhor considera
prioritário no emprego dos recursos para aquisição de MEM para proporcionar poder de combate
ao Exército Brasileiro? Considere um quadro atual de limitadas ameaças externas imediatas à
Soberania nacional.
( ) Realizar compras de MEM nacionais, desenvolvendo a BID em médio prazo, porém
sem obter o comprometimento desta Base Industrial de Defesa no fornecimento continuado ao
Exército.
( ) Realizar um planejamento de aquisição de MEM a médio e longo prazo, obtendo o
rigoroso comprometimento da BID no sentido de efetivá-lo.
( ) Realizar preferencialmente “compras de oportunidade” de MEM em países
estrangeiros, por meio de representantes comerciais no Brasil, para manter um nível mínimo de
adestramento do Exército.
( ) “Montar”, no Brasil, MEM oriundos de países estrangeiros.
( )____________________________________________________________________.
8. Metodologia do Planejamento Estratégico – Diagnóstico Estratégico
• Matriz DOFA (SWOT) – “Brainstorming” – Levantamento de Idéias
• DOFA – Debilidades, Oportunidades, Fortalezas e Ameaças.
• SWOT – Strenghts, Weakness, Opportunitties, Threats.
Solicita-se que o senhor colabore com o levantamento de idéias em cada tópico.
318
Para tal, POSICIONE-SE como PARTICIPANTE CIVIL em uma EQUIPE INTEGRADA
DE TRABALHO, ou seja, será componente de uma associação do EB e da BID para o
desenvolvimento de um MEM, procurando “observar” o que poderá afetar esta associação.
Cada tópico possui uma pequena explicação para auxiliar a sua interpretação. Não se
preocupe com ordem/prioridade. Participe com idéias e sugestões.
OBJETIVO (Missão):
Desenvolver MEM de interesse comum para o EB e para a BID
por meio de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT).
Ambiente externo (à associação EB/BID):
e. Oportunidades (atuais e futuras) – Tendências sociais, econômicas, comerciais,
mercadológicas e políticas com conseqüências potencialmente positivas para a
organização (EB/BID).
- Atuais:
( ) Necessidade de reaparelhamento do EB
( ) Venda de MEM para países da América do Sul/Central, África e Ásia.
( ) Integração do EB com a sociedade brasileira.
( ) Obtenção de recursos oriundos de Parcerias Público – Privada (PPP) entre
EB/BID no âmbito do Governo Federal
( ) Afirmação do emprego de tecnologia dual (civil/militar) no âmbito nacional
( ) Aprendizado da gestão pela excelência (PEG)
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
- Futuras:
( ) Desenvolvimento de MEM de caráter estratégico
( ) Venda de MEM para países da OTAN ou mais desenvolvidos que o Brasil
( ) Incremento da mentalidade de Defesa no Brasil
319
( ) Incremento tecnológico dos MEM nacionais
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
f. Ameaças – Tendências sociais, econômicas, comerciais, mercadológicas e políticas,
com conseqüências potencialmente negativas para a organização (EB/BID).
- Atuais:
( ) Restrição à produção de MEM por meio de imposições de protocolos
internacionais assinados pelo Brasil (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, Não-
Proliferação de Armas Nucleares, Proibição do uso de Minas Anti-pessoal, Proibição do
uso Armas Químicas, dentre outros).
( ) Pressão de ONG nacionais e/ou internacionais para evitar uma “corrida
armamentista” no Brasil.
( ) Desinformação da Sociedade Brasileira sobre o assunto
( ) Desconhecimento sobre o trabalho desenvolvido pela BID, EB e vice-versa
( )Oferta de MEM estrangeiros por custos mais baixos ao EB para impedir o
desenvolvimento autóctone
( ) Cenários voláteis, incertos, complexos e ambíguos
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
( ) ______________________________________________________________
- Futuras:
( ) Acusações de comportamento(s) não-éticos na integração EB/BID
( ) Pressões internacionais sobre fornecedores de produtos para BID ou MEM
para o EB para “quebrar” empresas brasileiras.
( ) ______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
320
Ambiente interno (à associação EB/BID):
g. Fortalezas (Forças) – Recursos e competências superiores de que se dispõe para
explorar / alavancar oportunidades e minimizar ameaças.
( ) Profissionais operacionais, engenheiros e técnicos de alto nível por ambos
atores
( ) Laboratórios e Campos de Prova Militares em boas condições
( ) BID com capacidade de crescimento
( ) Sucesso de MEM nacionais no passado recente (Cascavel, Urutu, ASTROS
II)
( ) MEM voltados para a realidade brasileira e com penetração no mercado
internacional
( ) Uma Equipe de Trabalho com visão balanceada entre EB/BID e sociedade
( ) Comprometimento com a satisfação de ambas as partes (EB/BID)
( ) Elevado padrão ético de relacionamento EB/BID
( ) Fortalecimento da Força Terrestre, diminuindo sua dependência aos
interesses externos
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
h. Debilidades (Fraquezas) – Deficiências que inibem a capacidade de desempenho e
que devem ser superadas para explorar / alavancar oportunidades e minimizar
ameaças.
( ) Falta de recursos para investimento em MEM no EB
( ) Atuação limitada do Ministério da Defesa neste setor
( ) Preconceito negativo de militares do EB em relação à capacidade BID/MEM
nacionais e vice-versa
( ) Pouca integração no desenvolvimento de projetos comuns entre EB/BID
( ) Alta rotatividade de oficiais em funções decisórias para o estabelecimento de
Requisitos Operacionais Básicos (ROB) e Requisitos Técnicos Básicos (RTB)
321
( ) Influência limitadora do Ministério da Defesa no orçamento do EB e das
demais forças
( ) Limitação no fluxo interno das Informações organizacionais do EB
( ) Dificuldade no trabalho em equipe, especialmente civil-militar
( ) Estrutura compartimentada do EB
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
( )______________________________________________________________
9. Qual a sua opinião sobre a participação de militares da ativa – diferentes postos ou
graduações (operacionais, técnicos e/ou engenheiros militares) – isolados ou em grupos – em
atividades de desenvolvimento de MEM de interesse para o EB, ficando adidos a uma OM e
junto a empresas da BID no Brasil por um prazo determinado?
( ) Concordo ( ) Não possuo opinião a respeito ( ) Discordo
Por quê?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
10. “Programa Mobilizador é um programa capaz de arregimentar, aglutinar, organizar e pôr em
movimento, ou criar, o potencial nacional necessário para uma ação política que vise o
desenvolvimento social, econômico e/ou militar, através do domínio, uso, aperfeiçoamento,
geração de conhecimentos empíricos, intuitivos, científicos, tecnológicos, inovações, que
resultem em produtos, processos, sistemas ou serviços novos ou substancialmente melhorados”.
(Wladimir Pirro e Longo, PHD).
322
Dentro deste contexto, enumere a ordem de prioridade que o senhor considera
adequada para o desenvolvimento de tecnologias de interesse para a Base Industrial de Defesa
nas seguintes áreas de programas ditos mobilizadores no Brasil.
( ) Ciclo do Combustível Nuclear (energia controlada)
( ) Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) (sensoriamento remoto, reconhecimento, apoio
de fogo)
( ) Veículo Lançador de Satélites (VLS) (mísseis e foguetes de artilharia)
( ) Veículo Blindado de Transporte de Pessoal (VBTP) (carros de combate e transporte
de tropa)
( ) Biotecnologia (Defesa Biológica)
( ) Hidrogênio e célula de combustível (energia)
( ) Biomassa / Biodiesel (energia)
( ) Eletromagnetismo (armas de pulso eletromagnético, interferências, guerra eletrônica)
( ) Informática (guerra cibernética)
( ) Nanotecnologia (emprego diversificado, espionagem, sensoriamento, etc.)
( )_____________________________________________________________________
11. O espaço a seguir é destinado a colher sugestões, bem como identificar-se, caso ache
necessário ou pretenda receber informações sobre o andamento dos trabalhos de pesquisa.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Observação:
Este pesquisador solicita a gentileza do envio de referências bibliográficas (revistas e/ou
publicações) para o seguinte endereço de correio eletrônico: [email protected] a fim
de aprimorar a pesquisa ora em curso.
SOLICITA-SE, GENTILMENTE, A DEVOLUÇÃO IMEDIATA DESTA PESQUISA.
Muito obrigado pela sua colaboração!
323
ANÁLISE DAS RESPOSTAS
INTRODUÇÃO
A pesquisa conduzida junto às empresas (presidências e diretorias) da BID
apresentou, em caráter preliminar, e considerando-se a premissa fundamental da
responsabilidade no preenchimento2, os resultados abaixo.
As empresas3 que participaram desta pesquisa foram: CONDOR, MECTRON,
HOBECO, INDIOS, EMBRAER, EMGEPRON, INBRAFILTRO, URUTECH,
AVIBRAS, IMBEL (JUIZ DE FORA), ORBISAT, VW CAMINHÕES, TAURUS,
AGRALE e OTIMIZA ENGENHARIA. A ABIMDE e o COMDEFESA também
responderam à pesquisa.
Esta pesquisa está referenciada nas seções 3 e 4, no corpo do trabalho.
1. Qual a sua condição pessoal junto à Base Industrial de Defesa (BID)?
• Presidente/Diretor de Empresa – 09
• Comercial – 02
• P&D – 04
• Setor Logístico – 01
• Marketing – 01
• Suporte ao cliente – 01
• Outro: Consultor Técnico (01)
o TOTAL: 19
2. Qual o grau de conhecimento pessoal/profissional que o senhor avalia possuir
sobre o Exército Brasileiro?
• Muito Bom – 04
• Bom – 07
• Regular – 06
• Insuficiente – 00
• Não sabe/não respondeu – 02 2 A resposta aos questionários foi feita, em sua maioria, pelos presidentes e pela diretoria das empresas. Nota do autor. 3 Algumas delas participaram com elementos associados/consultores, além de sua própria equipe, como foi o caso da INDIOS e da AVIBRAS. Nota do autor.
324
As empresas pesquisadas acreditam ter, de forma geral, um bom
conhecimento do Exército Brasileiro.
3. Assinale o(s) setor(es) do Exército Brasileiro que o senhor avalia possuir algum
grau de conhecimento. (Quantidade de indicações por órgão)
• Estado-Maior do Exército (EME) – 10
• Comando de Operações Terrestres (COTer) – 06
• Departamento Logístico (D Log) – 12
• Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) – 14
• Departamento Geral do Pessoal (DGP) – 03
• Departamento de Engenharia de Construção (DEC) – 04
• Centro Tecnológico do Exército (CTEx) – 18
• Centro de Avaliação do Exército (CAEx) – 13
• Centro de Desenvolvimento de Sistemas (CDS) – 04
• Centro Integrado de Guerra Eletrônica (CIGE) – 09
• Diretoria de Suprimento (DS) – 05
• Diretoria de Manutenção (D Mnt) – 04
• Diretoria de Material de Aviação do Exército (DMAvEx) – 10
• Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC) – 10
• Diretoria de Transporte e Mobilização (DTMob) - 02
• Instituto Militar de Engenharia (IME) – 13
• Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) – 08
• Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) – 08
• Escola de Sargentos das Armas (ESA) – 02
• Centro de Instrução de Blindados (CIBld) – 05
• Outros citados: Campo de Instrução de Formosa (01); Bateria LMF (01) e
AGR (01).
325
Os principais órgãos da estrutura do Exército que são mais bem conhecidos /
referenciados pelas empresas são o D Log, EME, CTEx, CAEx, DMAvEx, DFPC,
IME e ECEME.
4. Qual (is) a(s) organização(ões) / associação(ões) da BID , que deveria(m)
participar, efetivamente, em uma interação / integração de esforços com o Exército
Brasileiro para a produção de MEM? (Quantidade de indicações por organização)
• ABIMDE (Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa e
Segurança) – 18
• COMDEFESA (Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa) – 14
• SIMDE (Sindicato das Indústrias de Defesa) – 09
• AIAB (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil) – 12
• Outras: Centro Técnico Aeroespacial (01); Centro Tecnológico do Exército
(CTEx); Centro de Avaliações do Exército (CAEx).
Quanto às associações da BID que efetivamente deveriam participar em uma
integração de esforços com o Exército Brasileiro para a produção de MEM, a
indicação prioritária das empresas recaiu sobre a ABIMDE (Associação Brasileira
das Indústrias de Material de Defesa e Segurança), porém com participação
associada do COMDEFESA (Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa),
SIMDE (Sindicato das Indústrias de Defesa) e AIAB (Associação das Indústrias
Aeroespaciais do Brasil).
5. Por meio de qual (is) segmento (s) abaixo listado (s), a Sociedade e o Estado
Brasileiro poderiam participar deste processo de associação EB/BID, proporcionando
confiabilidade, segurança, perspectiva de continuidade, visibilidade ao processo e
desenvolvimento de mentalidade de Defesa? (Quantidade de indicações por
segmento)
326
Congresso Nacional – 13 Ministério da Defesa – 18 Universidades civis – 12
Parques tecnológicos – 10 Ass. Empresas – 11 Pesquisadores – 12
ONG – 01 BNDES/BB – 13 Laboratórios – 08
Min. Fazenda – 06 Min. Planejamento – 08 MDIC – 10
MCT – 01
As empresas componentes da BID entendem, ao responderem a referida
pesquisa, que o MD, o BNDES, o MDIC, os pesquisadores e universidades civis,
bem como o Congresso Nacional, se constituem nas principais referências da
sociedade brasileira que poderiam auxiliar no processo de associação EB-BID.
6. Na eventualidade de o senhor receber a solicitação para compor uma Equipe
Integrada de Trabalho (EIT) de MEM envolvendo elementos do EB e da BID –
desenvolver um veículo militar blindado, por exemplo – qual (is) o(s) integrante(s)
abaixo listado(s) o senhor convidaria a participar por parte da BID e qual (is)
aquele(s) oriundos do Exército que o senhor sugeriria que participasse(m)?
(Quantidade de indicações por especialidade)
Segmento Civil:
• Setor comercial da(s) empresa(s) envolvida(s) – 12
• Setor de Engenharia da(s) empresa(s) envolvida(s) – 20
• Setor de Logística da(s) empresa(s) envolvida(s) – 09
• Setor de Marketing da(s) empresa(s) envolvida(s) – 05
• Setor jurídico da(s) empresa(s) envolvida(s) – 07
• Pesquisador de Universidade(s) e/ou parque(s) tecnológico(s) – 10
• Banco para financiamento do projeto – 14
• Outros: FINEP (01); Governo (01); Usuários (01).
Segmento Militar:
• Militar com conhecimento do emprego operacional do MEM – 17
• Militar da estrutura de Apoio Logístico – 09
327
• Engenheiro Militar especializado – 17
• Militar com especialização na administração de/por projetos – 18
• Militar com especialização jurídica /advogado – 05
• Militar com especialização Op Psico (Com Soc) – 04
• Militar com especialização em Inteligência – 06
• Militar com especialização em Negociação – 08
• Militar com especialização em Tecnologia da Informação (TI) – 07
• Pesquisador Militar – 08
As respostas fortalecem a idéia da importância da engenharia, do setor
comercial, da participação das universidades e do setor financeiro no segmento civil.
Quanto ao segmento militar, verifica-se o interesse das empresas no conhecimento
operacional (cliente/usuário), o técnico (engenheiro militar), a administração de/por
projetos, bem como em pesquisadores e especialistas em negociação.
As respostas obtidas, assim como o estudo de seu interelacionamento com as
respostas obtidas na pesquisa conduzida junto ao Exército, serviram de referencial
para o trabalho criador deste autor na organização de especialidades componentes
dos grupos da EIT, conforme proposta existente na Seção 6 do corpo do trabalho.
7. Coloque em ordem de importância (1º, 2º, 3º, 4º, 5º sfc) o tratamento que o
senhor considera prioritário no emprego dos recursos para aquisição de MEM para
proporcionar poder de combate ao Exército Brasileiro? Considere um quadro atual
de limitadas ameaças externas imediatas à Soberania nacional.
• 1º – Realizar um planejamento de aquisição de MEM a médio e longo prazo,
obtendo o rigoroso comprometimento da BID no sentido de efetivá-lo.
• 2º – Realizar compras de MEM nacionais, desenvolvendo a BID em médio
prazo, porém sem obter o comprometimento desta Base Industrial de Defesa
no fornecimento continuado ao Exército.
• 3° – “Montar”, no Brasil, MEM oriundos de países estrangeiros.
• 4º – Realizar preferencialmente “compras de oportunidade” de MEM em
países estrangeiros para manter um nível mínimo de adestramento do
Exército.
328
• Outras: Envolver a BID nos levantamentos de necessidades, oportunidades e
definição de programas de aparelhamento e adestramento da Força (01);
Parceria entre o EB/Mercado Privado para o desenvolvimento de MEM
nacional (01).
A ordem de importância indica uma natural tendência de apoio ao
desenvolvimento da BID. O resultado é semelhante àquele da pesquisa com os
oficiais do Exército.
8. Metodologia do Planejamento Estratégico – Diagnóstico Estratégico –
Levantamento de idéias (“Survey”) (Quantidade de indicações obtidas por item)
Para tal, POSICIONE-SE como PARTICIPANTE CIVIL em uma EQUIPE
INTEGRADA DE TRABALHO, ou seja, será componente de uma associação do EB
e da BID para o desenvolvimento de um MEM, procurando “observar” o que
poderá afetar esta associação.
OBJETIVO (Missão):
Desenvolver MEM de interesse comum para o EB e para a BID
por meio de uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT).
Ambiente externo (à associação EB/BID):
Oportunidades (atuais e futuras) – Tendências sociais, econômicas, comerciais,
mercadológicas e políticas com conseqüências potencialmente positivas para a
organização (EB/BID).
329
Atuais:
• Necessidade de reaparelhamento do EB – 18
• Venda de MEM para países da América do Sul/Central, África e Ásia – 12
• Integração do EB com a sociedade brasileira – 11
• Obtenção de recursos oriundos de PPP EB/BID – 08
• Afirmação da tecnologia dual (civil/militar) no âmbito nacional – 11
• Aprendizado da gestão pela excelência – 06
Futuras:
• Desenvolvimento de MEM de caráter estratégico – 14
• Venda de MEM para países mais desenvolvidos que o Brasil – 10
• Incremento da mentalidade de Defesa no Brasil – 15
• Incremento tecnológico dos MEM nacionais – 15
Ameaças – Tendências sociais, econômicas, comerciais, mercadológicas e
políticas, com conseqüências potencialmente negativas para a organização
(EB/BID).
Atuais:
• Restrição à produção de MEM por meio de imposições de protocolos
internacionais assinados pelo Brasil – 13
• Pressão de ONG nacionais e/ou internacionais para evitar uma “corrida
armamentista” no Brasil – 07
• Desinformação da Sociedade Brasileira sobre o assunto – 17
• Desconhecimento sobre o trabalho desenvolvido pela BID, EB e vice-versa –
13
• Oferta de MEM estrangeiros por custos mais baixos ao EB para impedir o
desenvolvimento autóctone – 14
• Cenários voláteis, incertos, complexos e ambíguos – 05
Futuras:
• Acusações de comportamento(s) não-éticos na integração EB/BID – 06
330
• Pressões internacionais sobre fornecedores de produtos para BID ou MEM
para o EB para “quebrar” empresas brasileiras – 13
Ambiente interno (à associação EB/BID):
Fortalezas (Forças) – Recursos e competências superiores de que se dispõe para
explorar / alavancar oportunidades e minimizar ameaças.
• Profissionais operacionais, engenheiros e técnicos de alto nível – 14
• Laboratórios e Campos de Prova Militares em boas condições – 11
• BID com capacidade de crescimento – 12
• Sucesso de MEM nacionais no passado recente (Cascavel, Urutu, ASTROS
II) – 09
• MEM voltados para a realidade brasileira e com penetração no mercado
internacional – 15
• Uma Equipe de Projetos com visão balanceada entre EB/BID e sociedade –
07
• Comprometimento com a satisfação de ambas as partes (EB/BID) – 16
• Elevado padrão ético de relacionamento EB/BID – 13
• Fortalecimento da FTB, diminuindo sua dependência aos interesses externos
– 12
• Outras: Orçamento de Defesa impositivo (01)
Debilidades (Fraquezas) – Deficiências que inibem a capacidade de desempenho e
que devem ser superadas para explorar / alavancar oportunidades e minimizar
ameaças.
• Falta de recursos para investimento em MEM no EB – 18
• Atuação limitada do Ministério da Defesa neste setor – 15
• Preconceito negativo de militares do EB em relação à capacidade BID/MEM
nacionais e vice-versa – 12
• Pouca integração no desenvolvimento de projetos comuns entre EB/BID – 16
• Alta rotatividade de oficiais em funções decisórias para o estabelecimento de
ROB e de RTB – 10
331
• Influência limitadora do MD no orçamento do EB e das demais forças – 13
• Limitação no fluxo interno das Informações organizacionais do EB – 07
• Dificuldade no trabalho em equipe, especialmente civil-militar – 07
• Estrutura compartimentada do EB – 05
• Outras: Estabelecimento de metas planejadas com recursos em longo prazo
(O exemplo da MB é saudável para a indústria naval brasileira) (01).
O entendimento deste autor a respeito deste “Brainstorm” é apresentado na
Seção 6 do corpo do trabalho, em associação com o levantamento conduzido junto
aos oficiais do Exército, no que diz respeito à matriz DOFA, em aspectos que
poderão vir a afetar uma Equipe Integrada de Trabalho (EIT).
9. Qual a sua opinião sobre a participação de militares da ativa – diferentes postos
ou graduações (operacionais, técnicos e/ou engenheiros militares) – isolados ou em
grupos – em atividades de desenvolvimento de MEM de interesse para o EB, ficando
adidos a uma OM e junto a empresas da BID no Brasil por um prazo determinado?
• Concordo – 17
• Não possuo opinião a respeito – 01
• Discordo – 00
Constata-se que a grande maioria das respostas das empresas indica o
interesse e/ou viabilidade inicial dessa proposta. Segundo entendimento deste autor,
com objetivos diferentes para cada situação particular, a finalidade desse tipo de
missão é realizar o fomento industrial da BID.
10. “Programa Mobilizador é um programa capaz de arregimentar, aglutinar,
organizar e pôr em movimento, ou criar, o potencial nacional necessário para uma
ação política que vise o desenvolvimento social, econômico e/ou militar, através
do domínio, uso, aperfeiçoamento, geração de conhecimentos empíricos, intuitivos,
científicos, tecnológicos, inovações, que resultem em produtos, processos, sistemas
ou serviços novos ou substancialmente melhorados”. (Wladimir Pirro e Longo, PHD).
332
Dentro deste contexto, enumere a ordem de prioridade que o senhor
considera adequada para o desenvolvimento de tecnologias de interesse para a
Base Industrial de Defesa nas seguintes áreas de programas ditos mobilizadores no
Brasil. (Quantidade de enumerações. O somatório mais baixo indicará a ordem de
prioridade)
• 1º (67) – Veículo Blindado de Transporte de Pessoal (VBTP) (carros de
combate e transporte de tropa)
• 2º (68) – Veículo Lançador de Satélites (VLS) (mísseis e foguetes de
artilharia)
• 3º (68) – Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) (sensoriamento remoto,
reconhecimento, apoio de fogo)
• 4º (77) – Informática (guerra cibernética)
• 5° (55) – Ciclo do Combustível Nuclear (energia controlada)
• 6º (93) – Biomassa / Biodiesel (energia)
• 7º (96) – Hidrogênio e célula de combustível (energia)
• 8° (99) – Eletromagnetismo (armas de pulso eletromagnético, interferências,
guerra eletrônica)
• 9° (119) – Nanotecnologia (espionagem, sensoriamento, etc.)
• 10° (122) – Biotecnologia (Defesa Biológica)
• Outros: Desenvolvimento de armas não-letais (01); Dinâmica dos fluidos (01),
Desenvolvimento de aeronaves de asa fixa (01); e Tração Elétrica (02).
A análise dessa ordem de prioridade indica uma semelhança acentuada com
aquela indicada pelos oficiais do EB. As cinco primeiras prioridades são iguais.
Entende-se, em caráter preliminar, que essa similaridade de pensamento poderá
indicar uma trilha comum de áreas de interesse para uma futura EIT, que associe EB
e BID.
333
APÊNDICE C
MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEP - DFA
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Escola Marechal Castello Branco
PESQUISA QUALITATIVA
1. REFERÊNCIA
Projeto de dissertação apresentado na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), de autoria do Maj Art VALÉRIO LUIZ LANGE, cujo tema é “O RELACIONAMENTO ENTRE A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MATERIAL DE DEFESA E O EXÉRCITO BRASILEIRO VISANDO À IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA RESISTÊNCIA”. 2. INFORMAÇÕES A pesquisa realizada tem por objetivo levantar subsídios e relacionar casos estrangeiros de sucesso e insucesso na integração das Forças Armadas (Exército, em especial) com a Indústria de Defesa Nacional em busca de soluções para as suas necessidades complementares, tudo isso com a finalidade de indicar possibilidades de adaptação de soluções estrangeiras para a realidade brasileira na interação Exército – Base Industrial de Defesa (BID).
Serão apresentados alguns questionamentos relativos ao Exército, às Forças Armadas e à Indústria de Material de Defesa do país ao qual o Sr exerce a função de adido militar.
Agradeço, desde já, a atenção dispensada por V Sa no preenchimento dessa documentação e no fornecimento de informações julgadas adequadas e oportunas para o trabalho escolar deste oficial. Orientações adicionais para a condução do tema desta dissertação serão bem-vindas.
NOME/POSTO DO OFICIAL: _________________________________________
FUNÇÃO: _________________________________________________________
PAÍS: ____________________________________________________________
334
DATA: ____________________________________________________________
3. QUESTIONAMENTOS
a. Como está estruturada a Indústria de Defesa Nacional? Como ela se organiza
para fornecer MEM para as Forças Armadas do país e para a exportação (sfc)?
b. Como as Forças Armadas, em especial o Exército, desenvolvem e adquirem
MEM dos fabricantes nacionais?
c. Qual é atuação do Ministério da Defesa (ou similar) no controle (e/ou outras
ações) do relacionamento entre as Forças Armadas e as indústrias de defesa locais
nos processos de desenvolvimento, aquisição, suprimento e manutenção de MEM?
d. Quais são os mecanismos que regulam o relacionamento entre as Forças
Armadas e os fabricantes de material de defesa? Quais são os aspectos positivos e
negativos desses mecanismos?
e. Quais são os principais aspectos legais e jurídicos que impulsionam e/ou
dinamizam a indústria local de material de defesa?
f. Como a população local participa dos assuntos relativos à Defesa, em especial
no tocante ao apoio à Indústria de Material de Defesa Nacional?
g. Exemplifique, caso seja possível, situações de sucesso e insucesso recentes
no relacionamento entre as Forças Armadas e a Indústria de Material de Defesa
Nacional na consecução de projetos de interesse comum, que poderiam ser
aplicáveis à realidade brasileira.
h. Para finalizar, solicito a sua opinião e colaboração, calcada na experiência
pessoal e profissional, quanto à condução do tema do presente projeto de pesquisa.
4. OBSERVAÇÕES E OU COMPLEMENTOS
Folders de companhias e produtos que caracterizem o relacionamento Forças
Armadas e empresas da área de defesa, por exemplo.
______________________________________
Assinatura do oficial responsável
335
1.1 RESPOSTAS À PESQUISA DO REINO UNIDO (INGLATERRA)
a. Como está estruturada a Indústria de Defesa Nacional? Como ela se
organiza para fornecer MEM para as Forças Armadas do país e para a
exportação (sfc)?
País Resposta Observações
Reino
Unido
(RU)
A coordenação é feita pelo Ministério da
Defesa (Ministery of Defence – MoD)
britânico. A exportação é feita por um
departamento denominado
“Organização de Exportação de
Serviços de Defesa (DESO)”.
Anualmente, edita-se o Catálogo de
Equipamentos de Defesa Britânicos
(BDEC), com todos os equipamentos de
defesa produzidos no país.
O RU possui um dos
melhores parques
industriais de MEM do
mundo, com grande
quantidade de material
exportado.
b. Como as Forças Armadas, em especial o Exército, desenvolvem e
adquirem MEM dos fabricantes nacionais?
País Resposta Observações
Reino
Unido
(RU)
O desenvolvimento e aquisição de MEM são
coordenados pelo MoD. Em alguns casos, o
exército participa nos testes e avaliação técnica
do material. A aquisição de MEM para todas as
Forças Armadas é feita, exclusivamente, por
meio da “Agência de Aquisições de Defesa
(DPA)”, subordinada ao MoD.
DPA – Defence
Procurement
Agency
c. Qual é atuação do Ministério da Defesa (ou similar) no controle (e/ou
outras ações) do relacionamento entre as Forças Armadas e as indústrias de
defesa locais nos processos de desenvolvimento, aquisição, suprimento e
manutenção de MEM?
336
País Resposta Observações
Reino
Unido
(RU)
O MoD controla e centraliza
todas as ações entre as FA e a
BID britânica. O Secretário de
Defesa (MoD) é responsável por
suas ações junto ao Parlamento
Britânico, que aprova e fiscaliza
os recursos destinados ao MoD.
O Ministro da DPA possui os
seguintes encargos:
� aquisições: a Política de
Aquisições do MoD; o
Programa de Dotação de
Material das Forças
Armadas; o Programa de
Alienação de MEM das
Forças Armadas; a
aprovação de projetos de
Equipamentos e de Apoio
Logístico; a aquisição e a
alienação de Material
Nuclear (inclusive
armamento); a Agência de
Aquisições de Defesa (DPA);
as aquisições destinadas à
Organização Logística de
Defesa (DLO); as questões e
assuntos relacionados com a
Indústria de Defesa; a
colaboração internacional na
área de aquisições.
O Secretário de Estado de
Defesa (equivalente ao ministro
no Brasil) formula e conduz a
política de defesa no RU, bem
como provê os meios para tal.
Possui três ministros
subordinados: FA, Aquisições e
Assuntos de Veteranos (dois
últimos são subsecretários de
defesa). Todos são civis,
escolhidos pelo Primeiro-
ministro entre parlamentares de
seu partido.
A “Organização de Exportação
de Serviços de Defesa (Defence
Export Services Organisation -
DESO)” é a responsável pelo
relacionamento entre FA e BID,
especialmente para
exportações, enquanto a DPA
adquire, centralizadamente os
MEM requeridos pelas distintas
FA.
A “Organização de Logística de
Defesa (Defence Logistics
Organisation – DLO)” provê o
apoio logístico para as três FA
britânicas. Foi criada em 2000 e
está sob um comando de um
oficial general do último posto,
nomeado para um período de
337
� Ciência e Tecnologia de
Defesa: a Política de Ciência
e Tecnologia de Defesa; a
colaboração internacional na
área de C&T de Defesa; os
Laboratórios de C&T de
Defesa (DSTL); a empresa
QinetiQ .
� Exportações: Política de
Exportação de Material de
Defesa; a Organização de
Serviços de Exportações de
Defesa (DESO); campanhas
de Marketing para
exportação de Material de
Defesa.
cinco anos, sendo que ele
possui o mesmo grau
hierárquico e funcional que os
Chefes de Estado-maior das
três Forças (Comandantes, no
Brasil). Cada FA, por sua vez,
possui um diretor de logística,
cargo exercido por um oficial-
general (nível divisão). Suas
principais missões, além de
assegurar a capacidade
logística corrente e futura, são:
o planejamento logístico
nacional relacionado com a
segurança e a defesa do país; o
gerenciamento de recursos e de
equipamentos; o suporte
contratual e político de vendas e
aquisições internas e externas
de material de defesa; o
gerenciamento dos sistemas de
transportes, comunicações e
informações; a coordenação de
transportes e movimentos de
pessoal e material; a aquisição
e fornecimento de alimentação,
munição, combustíveis, óleos e
lubrificantes; o fornecimento e a
armazenagem de material bélico
e de intendência; serviços
postais; etc
338
d. Quais são os mecanismos que regulam o relacionamento entre as Forças
Armadas e os fabricantes de material de defesa? Quais são os aspectos positivos e
negativos desses mecanismos?
País Resposta Observações
Reino
Unido
(RU)
O RU encontrou soluções
políticas e econômicas viáveis no
equilíbrio às suas ações
estratégicas e operacionais. O
desafio se encontra no
gerenciamento logístico dentro do
país, entre o que pertence ao
governo e o que cabe à iniciativa
privada. O MoD exerce papel
relevante, ao lado do Parlamento
Britânico, na coordenação e
controle da Logística Nacional,
especialmente entre as FA e os
fabricantes de material de defesa.
Conclusão parcial: bastante
diferente do Exército Brasileiro
Há um grande número de
organizações e empresas civis
voltadas para a logística
industrial e empresarial que
realizam serviços, de forma
terceirizada, para o MoD.
Atuam, principalmente na área
de transportes, suprimento e
manutenção.
Conclusão parcial: bastante
diferente do Exército Brasileiro.
e. Quais são os principais aspectos legais e jurídicos que impulsionam e/ou
dinamizam a indústria local de material de defesa?
País Resposta Observações
Reino
Unido
(RU)
A BID britânica conta com total
apoio e incentivo
governamental. Além deste
respaldo político, ocorre um
efetivo apoio direcionado para a
indústria de defesa pela
liberação de volumes
O governo tem incentivado o
estabelecimento de parcerias
público-privadas (PPP) entre
agências, órgãos
governamentais e iniciativa
privada no sentido de dinamizar
e desenvolver as melhores
339
consideráveis de recursos
financeiros para a P & D.
Observa-se que ocorre um
direcionamento – ainda que
velado – para aquisição e
dotação de MEM
prioritariamente britânicos ou
produzidos em consórcios
internacionais com indústrias
locais, considerando-se as
legislações vigentes nos
acordos com a União Européia
(EU) e com os EUA.
condições de investimentos no
setor de defesa. O MoD usa o
termo “The Public Private
Partnership in the Ministry of
Defence”.
f. Como a população local participa dos assuntos relativos à Defesa, em especial
no tocante ao apoio à Indústria de Material de Defesa Nacional?
País Resposta Observações
Reino
Unido
(RU)
A população compreende muito
bem os assuntos de defesa,
fruto do passado histórico do
RU. A existência e a magnitude
de sua indústria de defesa são
fruto do seu engajamento nos
conflitos regionais e mundiais ao
longo da sua história, a qual
conta com expressivo apoio da
população britânica em geral.
Os pacifistas e as vozes
discordantes não encontram eco
no país.
Há várias associações e
entidades civis e universitárias
voltadas para o estudo e a
divulgação de temas
relacionados com a Defesa e os
assuntos Estratégicos, inclusive
no tocante à indústria de defesa,
tais como a “Royal United
Services Institute” (RUSI)
340
g. Exemplifique, caso seja possível, situações de sucesso e insucesso recentes
no relacionamento entre as Forças Armadas e a Indústria de Material de Defesa
Nacional na consecução de projetos de interesse comum, que poderiam ser
aplicáveis à realidade brasileira.
País Resposta Observações
Reino
Unido
(RU)
O adido julga indispensável a
valorização do papel do Ministério
da Defesa (MD) no Brasil,
particularmente à coordenação
entre as FA e a BID. Segundo ele,
precisa-se estimular a
centralização de procedimentos e a
racionalização da estrutura
logística de defesa do país.
Prossegue afirmando que não se
justifica pulverização de recursos
humanos e econômicos.
Procedimentos comuns deveriam
ser adotados entre as FA, MD e
BID, à semelhança do que relata
ocorrer no RU.
Registra-se o aumento expressivo
do número de fusões e
associações de empresas
produtores de MEM, não só no RU,
mas em toda a UE. No momento, a
empresa Thales, a segunda maior
contratada do país no setor de
defesa, constitui, na realidade, um
conglomerado de empresas que
inclui: a antiga Avimo; a Pilkington
Optronics; a Racal; a Shorts
O Ministério da Defesa
britânico mantém estreita
ligação com a BID,
particularmente por
intermédio da DPA, a qual
coordena as Equipes
Integradas de Projetos (EIP),
em inglês, “Integrated Project
Teams (IPT)”.
341
Missiles Systems; a Thomson
Marconi Sonar e a Thorn.
h. Para finalizar, solicito a sua opinião e colaboração, calcada na experiência
pessoal e profissional, quanto à condução do tema do presente projeto de pesquisa.
País Resposta Observações
Reino
Unido
(RU)
O adido militar
observa que há
necessidade de
um efetivo
engajamento
governamental
para que se
tenha sucesso
na desejada
integração das
Forças Armadas
com a Indústria
de Defesa
Nacional. No
caso do Reino
Unido, esse
engajamento
existe e é
bastante
consistente, sob
a firme condução
do Ministério da
Defesa e o
respaldo e o
indispensável
apoio político do
Links interessantes:
� http://www.ndi.org.uk/
� http://jdin.janes.com/public/jdin/index.shtml
� http://www.dti.gov.uk/sectors_aerospace.html
� http://www.the-dma.org.uk/
342
Parlamento
britânico.
i. Adido Militar ou Defesa (ou similar) responsável pela elaboração das
respostas ao questionário
País Nome do Adido Observações
Reino Unido (RU) Cel Hélio Bessa de Almeida Filho
Conclusões Parciais:
1. O modelo de Equipe Integrada de Projeto utilizado pelo Reino Unido é
bastante atual. É estudado amiúde no trabalho, constituindo-se em referencial
importante para a proposta de um modelo nacional;
2. As palavras integração, cooperação, parceria aparecem constantemente na
relação entre a BID britânica e as respectivas FA, por meio do MoD.
1.2 ANÁLISE DO PAPEL DO MD NOS DIVERSOS PAÍSES
Qual é atuação do Ministério da Defesa (ou similar) no controle (e/ou outras
ações) do relacionamento entre as Forças Armadas e as indústrias de defesa
locais nos processos de desenvolvimento, aquisição, suprimento e
manutenção de MEM?
País Resposta Observações
Alemanha
A organização da Defesa é
bastante diferente da experiência
brasileira, coordenada pelo MD
alemão.
É responsabilidade do Depto de
Armamento (CIVIL) equipar as
Forças Armadas com material
O Ministério da Defesa é
dirigido pelo Ministro, com
assessoria de dois
Secretários parlamentares,
todos eles necessariamente
civis. Na estrutura do
Ministério são encontrados
343
bélico, de forma econômica e de
acordo com suas necessidades.
Para isso o Departamento dispõe
de duas divisões, a Divisão de
Tecnologia Militar e Aquisição
(Bundesamt für Wehrtechnik und
Beschaffung – BWB) e a Divisão
de Gestão e Tecnologia da
Informação das Forças Armadas
(Bundesamt für
Informationsmanagement und
Informationstechnik der
Bundeswehr – IT-AmtBw).
Através do BWB são realizadas
as aquisições de material bélico e
desenvolvidos os projetos de
novos materiais, podendo haver
contratos com a Indústria em
todas as fases do processo, isto
é, desde a fase de análise das
necessidades até a fase de
manutenção ou repotencialização
de material em uso.
11 Departamentos, dos
quais 6 militares e 5 civis.
Os Departamentos militares
são constituídos pela
Inspetoria das Forças
Armadas, a qual tem como
titular o único General de 4
estrelas da ativa e que tem
controle administrativo
sobre os outros 5
Departamentos militares, os
quais correspondem às
nossas Forças Singulares,
mas sobre os quais não
tem comando operacional.
Os demais Departamentos
militares são as Inspetorias
do Exército, da Marinha, da
Aeronáutica, da Base de
Apoio das Forças Armadas
e do Serviço Central de
Saúde. Os Departamentos
civis, colocados no mesmo
nível dos militares, são os
Departamentos de
Armamento, Pessoal/
Social e de Assuntos
Centrais, Orçamento,
Jurídico e de Administração
Militar.
Rússia
O MD controla todos os
processos ligados à pesquisa,
desenvolvimento, fabricação e
344
comercialização de MEM.
França A DGA é encarregada de atuar
em nome do MD francês.
Polônia
As atividades governamentais
que visam a condução de diálogo
social, referente à problemática
da indústria de defesa:
- encontros regulares da parte
governamental com os
representantes dos sindicados de
trabalhadores e organizações
sociais no âmbito do Grupo para
os assuntos das Condições
Sociais e Financeiras de
Reestruturação dos
Estabelecimentos do Potencial
Industrial de Defesa (é um dos
subgrupos que trata dos assuntos
da indústria de defesa)
- organização de conferências
para a imprensa no âmbito da
problemática da indústria de
defesa e offset, pelos diferentes
ministérios, inclusive o da
Economia e do Trabalho.
- atividades de promoção e
informação (publicação de artigos
e vademecum, produção de
filmes).
Órgãos representativos da
indústria de defesa na
Polônia:
- União de Empregadores
dos Estabelecimentos da
Indústria de Defesa: reúne
os presidentes das maiores
fábricas/empresas,
controladas pelo Tesouro
Nacional.
- Câmara Polonesa dos
Fabricantes a Favor da
Defesa do Estado - livre
associação dos
empresários poloneses que
atuam na área de produção
às necessidades da defesa
e segurança do Estado
Polonês
- Associação da Indústria
Polonesa de Aviação – livre
associação dos
empresários poloneses cujo
objeto de atuação é a
fabricação de aparelhagem
para aviões.
Chile O MD controla, coordena e
345
distribui a verba orçamentária
para as FA.
Venezuela
A CAVIM está vinculada ao MD.
Há busca por parcerias para esta
empresa com estatais de outros
países. Não são observados
incentivos para empresas
privadas investirem em assuntos
de defesa.
Conclusão Parcial:
1. O Ministério da Defesa, organizado nesses países, se apresenta como a
estrutura macro de controle da logística estratégica de aquisições das FA
enquadradas por ele.
346
APÊNDICE D
Entrevistas conduzidas durante as pesquisas:
Algumas entrevistas foram realizadas, com destaque inicial, para as
seguintes:
• General de Brigada (R/1) Iberê Mariano da Silva – Universidade
Federal Fluminense (UFF). Ela teve caráter exploratório e permitiu
estabelecer um contato inicial com o tema;
• Professor Doutor Ítalo Pesce – UFF. Foi conduzida em conjunto com a
entrevista anterior, estando revestida da mesma orientação;
• General-de-Exército Reformado Diogo de Oliveira Figueiredo – Antigo
chefe do Departamento de Material Bélico (DMB). Este instrumento
ficou caracterizado por uma referência histórica ao período das
décadas de 1970 e 1980;
• General-de-Brigada Luís Eduardo da Rocha Paiva – Cmt da ECEME.
Esta entrevista ficou caracterizada pela compreensão que trouxe a este
autor da necessidade de uma maior divulgação do tema no âmbito
institucional do Exército, revestida com caráter exploratório;
• Professor Doutor José Carlos Amorim – Pesquisador civil do IME. Este
instrumento foi importante no entendimento da quebra de continuidade
no trabalho de pesquisas científicas no âmbito daquele ODS que
ocorreu quando da substituição dos seus chefes ao final de 2005. O
referido pesquisador indicou uma grande dificuldade do EB em manter
políticas que, segundo ele, vinham dando bons resultados,
notadamente na Amazônia;
• TC QEM QEMA Mauro Guedes Ferreira Mosqueira Gomes – DCT. Os
contatos realizados com este Doutor, em mais de uma oportunidade,
foram importantes para caracterizar o ambiente do DCT e suas
relações com os demais setores do Exército. Ficaram caracterizados
como orientações sobre o campo e sobre o trabalho de pesquisa, com
referenciais interessantes e, normalmente, fidedignos;
347
• Maj Art André Luís Maciel de Oliveira – Oficial de Ligação do EB junto à
AVIBRAS para o desenvolvimento do Sistema ASTROS II. A entrevista
conduzida com este oficial teve por finalidade verificar a continuidade
de um processo de relacionamento com uma empresa da BID que
havia se iniciado com o autor desta tese. O contato constante e
informações recebidas confirmam o acerto daquela iniciativa. O atual (e
bom) estágio de inserção do Sistema ASTROS II no EB se constitui em
parte dos frutos colhidos com esta ‘parceria’;
• Cel Art QEMA Rodrigo Martins Prates – Adido do Exército no Reino
Unido. Esta entrevista teve por finalidade estabelecer um contato com
um oficial do Exército na condição de adido militar, verificando o seu
trabalho diuturno e como ele poderia vir a contribuir com o
aprimoramento do relacionamento entre o EB e a BID; dentre outros.
Em relação às empresas, entrevistas foram conduzidas com personalidades
de destaque no campo de atuação da BID. As seguintes pessoas foram
entrevistadas:
• Engenheiro João Verdi Carvalho Leite – Diretor-Presidente da
AVIBRAS. Conduzida ainda no alvorecer do trabalho de pesquisa, teve
caráter exploratório e permitiu colher importantes informações sobre a
importância do caráter político das negociações que envolvem a
produção de material bélico e o caráter estratégico envolvido;
• TC QEMA (R/1) Roberto Guimarães de Carvalho – Diretor-presidente
da ABIMDE (2003 a 2006). A entrevista, conduzida por escrito, foi
complementada por um sem número de contatos e ligações
estabelecidas posteriormente. Ao longo de todo este trabalho, são
feitas citações a respostas ou posicionamentos emitidos por esta
autoridade;
• Jairo Cândido – Coordenador do COMDEFESA (FIESP). O contato
com esta personalidade foi realizado de maneira formal e informal em
várias reuniões ordinárias do COMDEFESA (2007), feiras e outros
encontros. A maneira clara e objetiva com que expressou suas
posições a respeito do tema permitiu captar a sua intenção, qual seja,
348
proporcionar oportunidades de negócios e busca de tecnologia a
empresas do setor, ao mesmo tempo que busca fortalecer as FA,
engrandecendo o País, em uma última análise;
• Pesquisador EXPEDITO Carlos Stephani Bastos – Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF). Esta entrevista, conduzida na
residência do pesquisador permitiu verificar o grau bastante profundo
de conhecimento sobre o tema, especialmente veículos militares
blindados, bem como o excelente acervo em informações e materiais
oriundos da antiga ENGESA e de seu período áureo;
• Capitão-de-Fragata André Luís Melo de Andrade – Encarregado da
Área de Estudo II – Administração e Logística da EGN. O encontro com
este oficial foi bastante profícuo e proporcionou excelentes informações
sobre o relacionamento da MB com a BID, expostos na Seção 3, na
seção relativa ao relacionamento das demais Forças Singulares com a
BID;
• CMG (IM – RM1) Antonio Carlos Teixeira Martins – Instrutor de
Logística da EGN. Da mesma maneira que os contatos realizados com
o CF André Luís, as entrevistas conduzidas com o Comandante
Teixeira Martins foram claras, com respostas objetivas e diretas, que
permitiram a aquisição de um bom conhecimento (ainda que inicial)
sobre o tratamento que a MB dá ao tema. Os resultados são mostrados
na Seção 3, seção secundária 3.6;
• Maura Curci – Supervisora do COMDEFESA. Os contatos
estabelecidos, uma breve entrevista concedida e um grande número de
pequenas conversas foram bastante elucidadores para a compreensão
do papel do COMDEFESA na conjuntura atual da BID e da FIESP. A
lhaneza, objetividade e elevado espírito profissional na busca de
soluções, bem como a recente orientação pessoal para a área de
marketing (uma das limitações da BID) caracterizam o seu trabalho;
• Sr. Romero Brito – Setor Comercial da Embaixada Brasileira no Reino
Unido. O contato com o Sr. Romero ocorreu fruto da visita à embaixada
brasileira em Londres, em dezembro de 2006, e serviu para identificar
349
a necessidade de uma maior atuação externa da BID, em coordenação
com o MRE; dentre outros.
Íntegra de algumas entrevistas compiladas:
Entrevistado: Capitão de Corveta (CC) André Luís Melo de Andrade –
Instrutor de Logística da EGN
Rio de Janeiro, RJ, 31 de Agosto de 2006.
Palavras iniciais, entrevista exploratória sobre a Marinha do Brasil (MB).
1. Como o Sr caracteriza, pela sua perspectiva, a Logística da Marinha do
Brasil – Ciclo de Vida do Material (custos, desenvolvimento, emprego e
alienação)?
R. Na MB, existe o Apoio Logístico Integrado (ALI), que é o principal aspecto
a ser considerado. Relaciona-se, no meio civil, com o ILS (Integrated Logistic
Support). O Navio é o cerne da Armada, que é o cerne da MB, por isso o ALI, para
apoiar o navio. A MB trabalha com os Requisitos de Alto Nível (RAN), elaborados a
partir do desempenho operacional que a MB vislumbra para a belonave.
Em função das ofertas do mercado mundial e de poucos recursos para
investimento – conjuntura atual – a Marinha precisa se adequar ao que é oferecido,
adaptando as suas necessidades às disponibilidades e possibilidades. Os estoques
de peças de reposição são baixos justamente pela falta de recursos financeiros, com
muitos itens que já não são produzidos pelas empresas, com compras em
“terceiros”, que cobram mais caro. Tornou-se um ciclo vicioso.
Complementou dizendo que as compras de oportunidade prejudicam o
desenvolvimento de uma mentalidade de C & T brasileira, bem como a
nacionalização dos meios de defesa.
2. Como a MB se relaciona com os fabricantes de seus MEM? E com Indústria
Brasileira de Material de Defesa - Base Industrial de Defesa (BID)?
R. Com extrema dificuldade, pela carência de recursos financeiros para
aquisição de produtos de defesa nacionais. Referenciou que é importante considerar
350
quem é o DECISOR no processo, ou seja, quem vai “pagar” pelo produto, indicando
a preocupação no convencimento dos atores corretos para a alocação de recursos
orçamentários.
3. Como o Sr descreve o relacionamento entre o MB e a BID na atualidade e
dentro de uma perspectiva histórica? O que “deu certo” no passado e que,
presumivelmente, hoje ocorrem dificuldades?
R. Em função de discussões prévias com este pesquisador, o CC André Luís
indicou o Almirante R/1 Boavista e o Almirante R/1 Capeti para responderem este
questionamento com maior propriedade.
4. O que é a EMGEPRON?
R. É uma empresa pública vinculada ao Ministério da Defesa por intermédio
da Marinha do Brasil. O CC André Luís indicou o Almirante Napoleão, presidente da
EMGEPRON, para maiores detalhes. Ela se constitui, também, em uma interface da
MB com o meio civil e com oficiais da Marinha (técnicos e operacionais) que foram
para a Reserva Remunerada e continuam apoiando esta Força Armada.
(Obs.: este pesquisador pretende buscar as características da EMGEPRON
diretamente na empresa. A resposta do CC André Luís foi feita em função do que,
na prática, a empresa desempenha fruto de colocações verbais deste pesquisador
durante a entrevista).
5. Que visão o Sr acredita que as empresas fornecedoras de MEM, nacionais e
estrangeiras, possuem a respeito do cliente “MB” e vice-versa?
R. Em função de recente visita que fez a São Paulo, acredita que as
empresas nacionais consideram a MB um cliente pouco promissor, pois não garante
a compra de seus produtos em uma área de poucos clientes que é dependente de
compras governamentais.
6. É possível incrementar o relacionamento MB-BID (gestão da excelência)?
R. Não. Somente com o aporte de recursos financeiros de vulto.
7. Quais são os principais Pontos Fortes no relacionamento MB-BID? E os
Pontos Fracos?
351
R. Ponto Forte: a MB pode ser o cartão de visitas dos produtos de defesa
nacionais. Pontos Fracos: a MB dispõe de parcos recursos para aquisições; a
assessoria parlamentar encontra dificuldades de conseguir apoio no Congresso
Nacional (CN), fruto da atual baixa representatividade política dos militares nesta
instituição brasileira.
8. Oportunidades? Ameaças e óbices? Protocolos internacionais: ajudam,
atrapalham ou são neutros?
R. Oportunidades: aproveitar a ‘propaganda’ positiva gerada no cumprimento
de atividades subsidiárias junto à população brasileira. Ameaça (óbice) principal:
baixa representatividade política dos militares no momento atual do Brasil, com
pouca capacidade de influência em decisões políticas de alocação de recursos para
as FA.
9. Quais são as suas sugestões para o aprimoramento do relacionamento MB-
BID, levando-se em conta a restrição conjuntural (estrutural) de recursos?
R. A BID necessita saber claramente quais são as necessidades da MB. A
MB precisa identificar corretamente a capacidade de produção de MEM da BID.
Essas duas ações, em conjunto, poderão estabelecer a confiança mútua, fator que
auxiliará sobremaneira o relacionamento.
10. No caso da execução de atividades em conjunto MB-BID, qual o histórico
que o senhor gostaria de repetir? E de evitar?
R. O CC André Luís indicou o CMG R/1 Teixeira Martins (EGN) e o Almirante
R/1 Boavista como as pessoas mais indicadas para auxiliarem nesta resposta.
11. Qual a sua ‘Visão de Futuro’ a respeito do tema?
R. A melhoria do relacionamento entre MB e BID por meio do estreitamento
das relações em prol do desenvolvimento desta base de forma a conseguir uma
maior destinação de recursos financeiros para a Marinha adquirir no mercado
nacional.
12. Como a MB prepara os seus RH para este tema, em especial a EGN?
352
R. No Curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores (CEMOS), equivalente
ao Curso de Comando e Estado-Maior da ECEME, a MB não aborda diretamente
este assunto. O Curso de Política e Estratégia Marítimas dispõe de uma disciplina
específica chamada ‘Logística de Defesa’.
• Entrevista TC Art e Estado-Maior Ref Roberto Guimarães de Carvalho
� Oficial do Quadro de Estado-Maior do Exército, antigo instrutor da
ECEME.
� Especialista no Sistema ASTROS II (AVIBRAS) e em Indústria de Defesa.
� O TC Carvalho foi Diretor-Presidente da Associação Brasileira das
Indústrias de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) entre 2003 e
2006.
São José dos Campos, SP, 07 de Setembro de 2006.
Palavras iniciais, agradecimentos à bondade do amigo em atender este longo
questionário.
Agradeço a oportunidade especialmente porque, neste momento, o Sr está eximido
de compromissos profissionais anteriormente assumidos, permitindo-lhe emitir a sua
opinião completa sobre o assunto, sem limitações de ordem pessoal.
1. Peço-lhe, primeiramente, a gentileza de emitir a sua opinião sobre o tema “O
RELACIONAMENTO ENTRE O EXÉRCITO BRASILEIRO (EB) E A BASE
INDUSTRIAL DE DEFESA (BID): UM MODELO PARA AUXILIAR A SUA
INTEGRAÇÃO”.
Considero este tema de maior relevância a ser tratado por ambas as
organizações, tendo em vista estabelecer um caminho natural para que as Forças
Armadas brasileiras possam ter como fonte de fornecimento de seus materiais de
emprego militar, as indústrias de defesa nacionais, não ficando na dependência de
aquisição em outros países.
2. Em sua opinião, qual o interesse e o grau de conhecimento do EB sobre o
tema? Considere a sua experiência profissional militar, na AVIBRAS e na
353
ABIMDE. Considere, também, a perspectiva dos diferentes escalões do EB
com os quais o Sr trava contato diariamente.
Acredito piamente que o Exército Brasileiro tenha total interesse e grau de
conhecimento sobre este assunto, sendo que a maioria dos seus chefes, nos mais
diversos escalões, advoga a idéia de ter o seu suprimento de materiais no mercado
nacional. Existem, porém, outros aspectos a serem considerados no tratamento
deste assunto, que exigem uma mudança de política do governo para permitir que
uma solução seja adotada.
3. Em sua opinião, qual o interesse, grau de conhecimento e capacitação da BID
sobre o tema? Opinião pessoal e, também, pelo enfoque das empresas.
É claro que as empresas integrantes da BID são as mais favoráveis para que
este assunto seja analisado e solucionado, o que evitará, no futuro, a concorrência
com empresas do mercado internacional. A BID é inteiramente favorável a uma real
aproximação de suas empresas com as organizações militares, tendo em vista o
estabelecimento de um relacionamento permanente entre ambas as organizações
para definição dos procedimentos a serem utilizados.
4. Como o Sr caracteriza, pela sua perspectiva, a Indústria Brasileira de Material
de Defesa - Base Industrial de Defesa (BID) – fornecedor (es) das Forças
Armadas (FA) brasileiras?
É o único caminho possível e viável para ambas as organizações. Do lado da
Indústria Brasileira de Material de Defesa, sendo assegurado que os programas de
aquisição das Forças Armadas serão destinados às suas indústrias, podendo
proporcionar-lhes uma carga de trabalho programada, deixando de viver com as
alterações conjunturais como acontecem atualmente.
5. Como o senhor “vê” o ‘cliente’ EB? E a MB? E a FAB?
Hoje, infelizmente, podem ser caracterizados como extremamente deficitários.
A empresa de defesa tem que buscar outros caminhos na atualidade: seja na
diversificação de seus produtos procurando atingir o mercado civil, seja através do
spin-off ou da dualidade de utilização; ou mesmo investindo para concorrer no
mercado internacional, buscando nichos nos quais possa negociar os seus produtos.
Esta situação no mercado nacional de defesa só poderá ser modificada quando as
Forças Armadas receberem do governo um tratamento diferenciado à altura de sua
importância, sendo aquinhoadas com os recursos financeiros necessários para o seu
354
reaparelhamento, colocando-as em condições de cumprir as suas missões
constitucionais.
6. Qual o papel do Ministério da Defesa (MD) no relacionamento das Forças
Armadas (FA) com a BID – Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID)?
Acredito que o principal papel do Ministério da Defesa neste assunto seria,
conforme previsto na PNID, atuar junto ao governo para o cumprimento dos
objetivos estratégicos previstos na política, cuja consecução seguramente trará
melhores condições tanto para as empresas de defesa como para as próprias
Forças Armadas. Deve caber também ao MD demonstrar aos demais órgãos de
governo a importância da BID, seja no apoio às Forças Armadas no cumprimento de
suas missões, seja como participante na balança comercial através das exportações
de seus materiais, da mesma forma que acontece em outros países.
7. Como o Sr descreve o relacionamento entre o EB e a BID na atualidade e
dentro de uma perspectiva histórica?
Como já considerado acima, o relacionamento entre as duas organizações é,
como sempre foi, normal. O que não permite uma maior aproximação é, sem dúvida,
a diminuição continuada nos últimos anos dos recursos financeiros destinados ao
reaparelhamento das Forças Armadas, em especial o Exército (ver dados
orçamentários apresentados pelo Secretário Rosyére na FIESP).
8. O que “deu certo” no passado (especialmente na década de 80)? E errado?
Nas décadas de 70 e parte de 80, o setor da indústria de defesa brasileiro
contava com o apoio integral do então governo, dito “militar”. Assim eram previstos
maiores recursos financeiros para aquisição de materiais de emprego militar pelas
Forças Armadas, além de haver uma conscientização do governo para apoiar as
empresas nas suas investidas no mercado internacional, contando para isto com
apoio do governo central, do MRE, das Forças Armadas e até das instituições
financeiras.
9. Que visão o Sr acredita que as empresas fornecedoras de MEM, nacionais e
estrangeiras, possuem a respeito do cliente “EB” e vice-versa?
As empresas nacionais sabem muito bem que o Exército constitui-se no
principal elemento no mercado nacional para aquisição de seus produtos, devendo,
se possível, proporcionar condições para sua sobrevivência. O Exército tem que
considerar a BID como seu ponto de apoio para fornecimento de materiais de
355
emprego militar de seu interesse, tendo em vista evitar a dependência externa no
futuro, quando em situação de beligerância.
10. É possível implementar um tratamento moderno ao relacionamento EB-BID
por meio, por exemplo, da gestão pela excelência? Como?
Em minha opinião, qualquer tratamento para tornar este relacionamento
eficaz tem que estar baseado em uma convivência franca, honesta e aberta, onde a
BID tomará conhecimento das necessidades da Força e atuará de forma a ficar em
condições de melhor atendê-la.
11. Quais são os principais Pontos Fortes no relacionamento EB-BID? E os
Pontos Fracos? Oportunidades, ameaças e óbices?
Ponto forte: início de um relacionamento integrado.
Ponto fraco: falta de conhecimento por integrantes da Força das
possibilidades da BID.
Oportunidades: Serão criadas com o trabalho integrado das duas
organizações.
Ameaças: A aquisição de materiais no exterior que podem ser desenvolvidos
e produzidos no Brasil.
Óbices: A falta de recursos financeiros suficientes para o reaparelhamento
das Forças Armadas.
12. Qual o papel desempenhado pelos Protocolos internacionais (MTCR, TNP,
etc) dos quais o Brasil é signatário em relação à produção nacional de MEM
para as FA?
Estes Protocolos, propostos pelos países do primeiro mundo, somente
interessam a eles mesmos. Para o Brasil e para as indústrias são apenas medidas
limitantes, seja para aquisição de novas tecnologias, seja para atender solicitações
de outros países que não aceitam estas limitações. Infelizmente os nossos governos
têm assinado estes protocolos sem visualizar quão prejudicial são para nossas
indústrias.
13. Como o Sr caracteriza o relacionamento EB / Universidades civis / Empresas
BID em se tratando da produção de MEM?
Em relação às Universidades, extremamente limitado, não havendo nenhuma
ação buscando uma aproximação. Quanto às indústrias, totalmente dependente da
disponibilidade de recursos financeiros.
356
14. Quais são as suas sugestões para o aprimoramento do relacionamento EB-
BID, levando-se em conta a restrição conjuntural (estrutural) de recursos?
Tem que haver uma atuação conjunta das duas organizações para buscar
junto ao governo uma mudança na atual política de destinação de recursos
financeiros para o reaparelhamento das forças. Estes recursos deveriam ser
separados do atual orçamento do MD, que destina atualmente mais de 75% para
pagamento de pessoal, ativo e inativos (o MD é o único ministério que contempla em
seu orçamento os recursos para pagamento do pessoal inativo). Esta característica
do orçamento destinado à defesa concorre para distorcer a opinião pública mais
desavisada sobre sua real destinação.
15. Como o senhor organizaria, em caráter inicial, uma equipe integrada
multidisciplinar para conduzir projetos de interesse para o EB e para a BID?
A condução de projetos de interesse de ambas as organizações deveria ser
feita por uma equipe mista, integrada por representantes da área executiva do
governo (Secretaria de Assuntos Institucionais, Casa Civil, Ministério da Fazenda,
Ministério do Planejamento, Ministério da Defesa e Forças Armadas), do poder
legislativo (Senado e Câmara) e das empresas privadas (BID) com vistas a
implementar uma política com força de lei, para regulamentar estes assuntos. A
atual política é apenas ministerial, com força apenas no MD.
16. No caso da execução de atividades em conjunto, qual o histórico que o Sr
gostaria de repetir? E de evitar?
Confiança mútua e atuação em conjunto para o atendimento de objetivos
comuns às duas organizações. Evitar as aquisições no mercado internacional
quando os produtos puderem ser desenvolvidos e produzidos no país.
17. Como motivar a Sociedade brasileira para o tema DEFESA, em especial sobre
a necessidade da existência de uma BID forte?
Conscientização inicialmente da necessidade de Forças Armadas
competentes e capazes de cumprir a sua destinação constitucional, devidamente
equipadas com materiais tecnologicamente atualizados. Por conseqüência, as
empresas de defesa seriam também valorizadas perante a opinião pública quanto à
sua importância.
18. Em que o EB e a BID precisam se aperfeiçoar para melhorarem o
relacionamento, trazendo “lucros” para ambos?
357
Em relação a este aspecto gostaria de citar o que acontece nos EUA. Apesar
de não gostar da maneira que os americanos agem, existem algumas coisas que
podem ser copiadas. O relacionamento Exército - Indústrias de defesa nos EUA é de
total integração. Os planos de reaparelhamento da Força são dados a conhecer,
durante a realização de seminários, às empresas da AUSA (Association of the
United States Army), sendo solicitado como elas poderão contribuir para a sua
consecução. Este tipo de relacionamento conduz para o sucesso nas tratativas entre
as duas organizações.
19. Como preparar os Recursos Humanos do EB para melhorar a interface do EB
com a BID? E da BID?
Acredito que os recursos humanos de ambas as organizações estejam
convenientemente preparados para isto. Existe a necessidade de conscientizá-los
para realizar um trabalho conjunto e integrado.
20. Qual a sua opinião sobre o relacionamento entre os militares da linha
operacional com aqueles da linha técnica no tratamento do desenvolvimento
de MEM?
Este é um problema histórico na Força. Não se conversam, não sabem o que
cada um faz, por conseguinte os seus objetivos normalmente estão totalmente
dissociados. A existência de um DCT e um EME separados conduz a esta
separação. Sou de opinião que a área técnica deveria ser um órgão do EME para
poder trabalhar de forma integrada.
21. Qual a sua ‘Visão de Futuro’ a respeito do desenvolvimento de ARMAS de
emprego no nível TÁTICO e ARMAS de emprego no nível ESTRATÉGICO no
Brasil?
Acho que permaneceremos ainda um longo tempo no campo tático e
operacional. Não existe visão para o desenvolvimento de armas no nível estratégico,
tendo em vista o atual panorama continental.
22. Palavra Livre.
Caro amigo, considero seu trabalho muito importante. Ele deve se constituir
em um cerne para que este assunto passe a ser tratado com maior atenção e
profundidade e para procurar novos caminhos que permitam a eficiência do
relacionamento entre as Forças Armadas e as empresas de defesa brasileiras.
358
• Entrevista com Sr. João Verdi Carvalho Leite, Diretor-Presidente da AVIBRAS
AEROESPACIAL S.A.
� São José dos Campos, SP, julho de 2005.
Considerações obtidas:
1. O futuro do relacionamento entre EB e BID passa pela educação, melhorando
a formação de profissionais aptos a conduzirem este relacionamento;
2. Não deve haver choque entre o oficial e o cidadão, pois são a mesma pessoa;
3. FAB e MB estão em melhores condições que o EB;
4. Exército x Empresa – um garante a segurança, a outra o sustento;
5. FAB – Universidade – gestão empresarial na AFA;
6. Os conceitos de empresa, indústria de defesa e cidadão deveriam ser
incluídos na AMAN;
7. O EB enxerga a logística somente pelo seu lado. A empresa tem custos que o
EB não percebe;
8. A gerência do EB é voltada somente para a parte operacional;
9. O relacionamento do EB com a BID é imaturo, abaixo da crítica, distante dos
países de 1º mundo;
10. Não há no EB, um grupo querendo aproximar a instituição das empresas e
dos Centros de Tecnologia;
11. Para o EME, o EB não precisa das empresas e sim o contrário. O EB precisa
‘amadurecer’;
12. Exemplo dos EUA, relacionamento FA e BID é preocupação constitucional;
13. Brasil – EB, projeto de força com BID como suporte;
14. Trabalho para mudar a cultura do EB, muito fechado em verdades próprias;
15. O MD é ‘um zero à esquerda’ na atual estrutura, com as FA ‘fazendo força
para sobreviverem’;
16. Reunião MD/empresas não é respeitada. A SELOM não tem força, mesmo
com a assinatura do ministro;
17. Exemplo atual negativo URUTU III;
18. Projeto integrado no EB somente com chancela do Cmt, Ch EME, Cmt
COTer, Ch D Log. Um grupo forte, com ordem direta do Alto Comando
poderia se irradiar aos demais setores.