o regime do patent box...como patent box, previsto no código do imposto sobre o rendimento das...
TRANSCRIPT
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Mestrado Profissionalizante em Ciências Jurídico-financeiras
Tese de Dissertação
O Regime do Patent Box
Sofia Isabel Monteiro da Silva Mourisca
Sob Orientação do
Professor Doutor Gustavo Lopes Courinha
Lisboa,
23 de janeiro de 2017
2
Índice
LISTADEABREVIATURAS 4
RESUMO 2
ABSTRACT 4
1. INTRODUÇÃO 6
1.1CONJUNTURA 6
1.2OPAPELDODIREITODEPROPRIEDADEINDUSTRIALNOCONTEXTODOSIMPOSTOS 9
1.3OBJETIVOEOBJETODOESTUDO 12
2.PATENTBOX:ORIGEMEDEFINIÇÃOCONCEPTUAL 13
2.1.OSINCENTIVOSFISCAISÀI&D 14
3.ORIENTAÇÕESDAOCDE/G20NOÂMBITODOPROJETOBASEEROSIONAND
PROFITSHIFTINGPROJECT 17
4.OREGIMEPATENTBOX 21
4.1ÂMBITOSUBJETIVO 25
4.1.1REQUISITOSRELATIVOSÀPESSOADOCEDENTE 26
4.1.2REQUISITOSRELATIVOSÀPESSOADOCESSIONÁRIO 26
4.1.3ESTRUTURASDEPLANEAMENTOFISCAL 29
3.1.4RELAÇÕESESPECIAISNOÂMBITODOREGIME 32
4.2TIPOLOGIADEATIVOSDEPROPRIEDADEINDUSTRIAL 38
4.2.1PATENTES 39
4.2.2DESENHOSOUMODELOS 40
4.3TIPOLOGIADERENDIMENTOS 41
4.3.1LICENÇADEEXPLORAÇÃO 42
4.3.2VIOLAÇÃODODIREITODEPROPRIEDADEINDUSTRIAL 45
4.3.3ROYALTIES 47
4.3.4FÓRMULAPARAOBTENÇÃODOMONTANTEPARAAPLICAÇÃODAISENÇÃOPARCIAL 50
4.3.5GASTOSEDESPESASEFETUADOSCOMATIVIDADESDEI&D 55
4.4PAPELDASRECOMENDAÇÕESDAOCDENADEFINIÇÃODOREGIMEPREFERENCIALPORTUGUÊS:
“MODIFIEDNEXUSAPPROACH” 58
3
4.4.1MODIFIEDNEXUSAPPROACH 60
5.OPATENTBOXEADUPLATRIBUTAÇÃOJURÍDICAINTERNACIONAL 61
6.REGIMETRANSITÓRIO 64
7.REGIMESIDÊNTICOSDETRIBUTAÇÃODERENDIMENTOSPROVENIENTESDE
PROPRIEDADEINTELECTUAL 65
7.1AAÇÃOCONJUNTADAOCDEEDAUENADEFINIÇÃODOSREGIMESDEPI 66
8.CONCLUSÃO 78
9.BIBLIOGRAFIA 81
ANEXOS 89
ANEXOII 1
4
ListadeAbreviaturas
BEPS-BaseErosionandProfitShifting
CDT-ConvençõesdeDuplaTributação
CIRC-CódigodoImpostosobreoRendimentodaspessoasColetivas
CPI-CódigodePropriedadeIndustrial
EBF-EstatutodosBenefíciosFiscais
FHTP-ForumonHarmfulTaxPractices
I&D-Investigação&Desenvolvimento
LGT-LeiGeralTributária
OCDE-OrganizaçãoparaCooperaçãoeDesenvolvimentoEconómico
PI-PropriedadeIndustrial
RGIT-RegimeGeraldasInfraçõesTributárias
TRIPS/ADPIC-AgreementonTrade-RelatedAspectsofIntellectualProperty
Rights/AcordosobreAspetosdosDireitosdePropriedadeIntelectualrelaciona-
doscomoComércio
UE-UniãoEuropeia
1
Agradecimentos
Quero agradecer, antes demais, ao meu orientador, o Professor Doutor Gus-
tavo Lopes Courinha, por todo o apoio e tempo dedicado, por me ter incentivado
constantemente durante este processo de construção do presente trabalho, assim
como pelo conhecimento partilhado nas várias etapas.
Deixo o mais profundo agradecimento à minha família pela compreensão e
apoio, a todos os níveis, assim como aos meus amigos com os quais partilhei os bons e
os maus momentos passados nos últimos meses.
Obrigada a todos, esta tese é a forma mais genuína que está ao meu alcance de
agradecer a todos os que me acompanharam no caminho do meu sucesso pessoal,
profissional e académico.
2
Resumo
Opresentetrabalhotemcomoobjetivodefinireclarificarosaspetosdo
regimefiscalpreferencialdetratamentoderendimentosobtidosatravésdaces-
são, ou violação, de direito de propriedade intelectual, denominado entre nós
comoPatentBox,previstonoCódigodoImpostosobreoRendimentodasPessoas
Coletivas.
Oregimefiscal,quenospropomosaanalisar,éumamedidarelativamente
recente,comotal,urgeanecessidadedeumaclarificaçãodanorma, tendoem
contaararefeita informaçãodisponívelsobreaaplicaçãodamesma.Arelação
diretaentreoregimesujeitoaestudo,comprojetosextrínsecosaPortugal,eas
dificuldadesdecompreensãoqueestacomplexidadeacarretaparaoscontribu-
intesnomomentodatomadadedecisõesapoiadasnapossívelverificaçãodeuma
reduçãodacargafiscal,sãooutrasrazõesquenoslevaramaabordaropresente
tema.
Oregimeportuguês,queassumeanaturezadebenefíciofiscal,consistena
sujeiçãoàtaxaefetivadeIRCdeapenas50%dorendimentoobtidoatravésda
cessão de um direito de propriedade industrial, comummente denominados
comoroyalties.
Debruçar-nos-emossobreosaspetosdesteinstituto,assimcomoasrazões
quelevaramàsuaadoção,àimagemdeoutrospaíseseuropeusenãoeuropeus,
assimcomoainfluênciadaconjunturaeconómico-socialquevemconduzirosgo-
vernosalançaremmãodemedidasdestetipoparamelhoraraeficiênciadosseus
sistemasfiscais,nocombateàevasãofiscaleàconcorrênciainternacionalpreju-
dicial.ContextonoqualaOCDE,atravésdoprojetoBEPS,vemassumirumpapel
deextremarelevâncianadefiniçãodascaracterísticasdosváriosregimesemvi-
gor,sendoquePortugalseguedepertoestasorientaçõesegrandepartedoseu
regimeencontra-sedesenhadoàimagemdasorientaçõessugeridas.
TambémporpartedaUE,quevemseguindodepertooexemplodaOCDE,
têm surgidoprovasdepreocupação coma conjunturadescrita. Como tal, tem
vindoelaprópriaaadotarmedidaseaoferecerorientaçõesaoEstados-Membros,
3
paraalémdeumaadoçãoeacolhimentointegraldasorientaçõesoferecidaspela
OCDE.
Palavras-chave:PropriedadeIntelectual,Patentbox,Investigação&Desenvolvi-
mento,royalties,incentivofiscal.
4
Abstract
Themaingoaloftheworkweareexposingistodelineateandclarifythe
aspects of the preferential tax regime of treatment of the income obtained
through intellectualproperty assignment agreements, as fromviolationof the
correspondingright,knownasPatentBox,definedatthecodeofcorporatetax
law.
Thisregime,thatourselvesareproposingtoexamine,it isarecentstep
insidetheportuguesetaxsystem,asdoso,itisnecessarytoexplainanddissect
thelaw,sincetheinformationavailable,duetothisaid,itisnotenoughtooffera
panoramicviewofthismatter.
Thedirectrelationbetweentheregimewestudyhere,andtheextrinsic
projectsthathasahugeinfluenceinourowndefinitionofthelaw,anddifficulties,
thatthiscomplexityandnovelty,cancreatewithinourjurisdictiontoourtaxpay-
ersandtaxprofessionals,aresomeofthereasonswhywechoosenthistopicto
workthroughthisdissertation.
ThePortugueseregime,thatassumesthenatureofataxbenefit,consistin
asubmissionoftheIPincome,knownasroyalties,totaxationinonlyfiftypercent
oftheamountreceivedbythecompany.
Wewill study the aspects of this institute, as well as the reasons that
leadedourGovernmenttowardstheadoptionofthistaxmeasure,followingthe
behaviorofotherEuropeanandnon-Europeancountries,aswellastheeconomic
andsocialjunctureinfluencethatdroveourgovernorstointroducethiskindof
measurestoenhancethetaxsystemeffectiveness,whenitcomestomattersre-
latedwithtaxevasionandharmfultaxpractices.
InthiscontextthattheOECD,throughtheBEPSproject,assumeamajor
roledefiningthebasiccharacteristicsofthenumeroussimilarregimes,sincePor-
tugalfollowscloselytheorientations,andmostofourlawitisdesignedbasedon
whatthisorganizationsuggest.
5
Aspredictable,EuropeanUnion,thatfollowscloselyOCDEwork,hasbeen
showingsomeworriesduetothismatteraswell.Consequently,hasbeenadopt-
ingmeasuresandofferingorientationtothecountriespartofthishugeorganiza-
tion.
Keywords:IntellectualProperty;PatentBox;Research&Development;royalties;
taxincentive.
6
1. Introdução
1.1Conjuntura
DuranteodecorrerdasegundametadedoséculoXXsurgiuofenómeno,
comumente denominado, da globalização, responsável, ao longo dos últimos
anos,porprofundasalteraçõesnomundoeconómico,financeiroesocial,nasmais
variadasáreas.Comoabrirdasfronteiras,físicasevirtuais,acirculaçãodepes-
soas,bensecapitaisea,cadavezmais,notávelfacilidadedeacessoàinformação,
vieramrelativizaredeitarporterraváriosconceitoserealidadesanterioresao
séculoXXeXXI,abrindoocaminhoparanovasoportunidades,crescimentoeevo-
lução.
Estefenómenoinfluenciouasempresasaadotaremestratégiasglobais,as-
simcomoforçouosprópriosEstadosaencetarememreformasdosseusregimes
fiscaisemvigor,comvistaacorrigirasdistorçõesprovocadaspelalegislaçãoina-
dequadaànovarealidade.
Aglobalizaçãoteveefeitosnosmercados financeirosquesofreramuma
liberalização,e,porconsequência,umamaiorfacilidadededeslocalizaçãodoca-
pitaleareduçãodoscustosdorendimentonesteâmbito.Todavia,vistoquehá
sempreumreversodamedalha,veiotambémabrirasportasanovosdesafiose
realidadesdesconhecidasatéentão.Nosdiasquecorrem,acertezaétemporária,
eoqueatualmenteéassim,amanhãpoderásercompletamentediferente.Ode-
safioéacompanhar,tantoporpartedoEstado,queagoravê-seobrigadoainter-
virparaalém-fronteiras1,comodasempresas,eatémesmopornós,particulares,
estastendências,deformaeficienteeapropriada.Estamosnumaépocademu-
dançasconstantes,quenãovãoestabilizarporqueotirodapartidafoidisparado,
enãoháfimávistaparaestacorrida.
Dentrodestecontextodeinteressesdivergentes2,otecidoempresarialé
dossetoresdaeconomiaquemaissofreumutaçõesnoâmbitodasuaorganização,
1Comaglobalização,surgiuumaexigênciadecoordenaçãoepromoçãodoses-
forçosporpartesdosestadosparaumprogressoeconómico,orientado.
7
advindasdaadoçãodeestruturasdeorganizaçãocomplexas.Asempresaspassa-
ramamarcarpresençaemdiferentes localizações,provocandoacirculaçãode
todososseuselementosdefácilmobilização.Estasmetamorfoses,desencadea-
ramumaconcorrênciainternacional3,porvezesprejudiciais4,porpartedosEs-
tados.Estes,atravésdosseussistemasfiscais,procuramevitarqueasempresas
residentessedeslocalizemparaumoutropaís,assimcomoatrairoinvestimento
erendimentoestrangeiroparaoseuterritório.Aformamaisutilizadadealcançar
estesobjetivosoferecendovantagenseregimesfiscaisbenévolos.
Noentanto,tambémcomoporpartedasempresasépossívelverificarum
comportamentoconcorrencialporvezesprejudicial,vistoqueagora,maisdoque
nunca,sentemanecessidadedeinvestirnosentidodeumaevoluçãoconstante,
paranãoseremempurradosparaforadacorrida.Asobrevivênciadeumaem-
presadepende,entreoutros,emlargaescala,dasuacapacidadedeevoluçãoe
modernização constantes, tanto no que toca à sua oferta de serviços ou bens,
comodeumagestãoeficientenosentidodeumplaneamentofiscalbenéficoein-
teligente. Todavia,osregimesfiscaistêmvindoaassumirumpesoprepon-
derantenahoradatomadadedecisõesnoseiodeumaatividadeeconómica.
Como tal, o conceito de planeamento fiscal, passa a assumir um papel
muitosignificativoesobeparaaribaltanasdiscussõesereuniõeslevadasacabe
dentrodasváriasorganizaçõesinternacionais,comoaOCDEeoG-20,assimcomo
2OEstadoprocura,porumlado,arrecadarreceita,enquantoqueosagenteseco-
nómicosprocuramformasdepagaromínimopossívelnoâmbitodosimpostos.3NaspalavrasdeClotildeCeloricoPalma(2015),aconcorrênciafiscalentrees-
tadospodeassumirumafunçãodinamizadoradaseconomias,comotambémpodeassu-mir“umanaturezapredadora,interferindocomoprincipiodaneutralidade,conduzindoaumaerosãodereceitas”.
4Acompetitividadefiscalresulta,naspalavrasdeCATARINO, J.R.,DIOGO,S.&
LOPES,A.(2015),“dacrescentenecessidadedeumEstadoatrairosrecursosmoveisdeoutrosestados,gerando-seuma“luta”pelareceitafiscalentreeles.”(p.432).Paratal,eaindadentrodosugeridopelosautores,“anecessidadedecompetirpelasreceitasfiscaislevouosestadosaadotarempoliticasmenospenalizadorasemaiseficazes,procurandoalcançarsistemasfiscaismenoscomplexos,maiseficazesecomníveisdesegurançacadavezmaiselevados,deformaatornaroseuterritórioomaisapelativopossívelnoâmbitofiscal”(p.434).
8
dentrodosEstados,atorespreocupadoscomopercursodestacorridaàqualtêm
vindoaassistirquasepacificamente.
Emlinhadecontacomodireitoqueassisteaossujeitospassivos,deliber-
dadegestãoeplaneamentofiscal,aadoçãode“estruturasdeplaneamentofiscal
bastantesofisticadas,queoferecemapossibilidadedereduçãodecargafiscal”5
foi assumindo contornos alarmantes. Neste contexto,muitas vezes estará em
causaaténuefronteiraqueseparaoscomportamentosconsideradoslesivoseos
considerados,dopontodevistalegal,legítimos6.Estaliberdadegestão,incremen-
tadapelofenómenodaglobalização,é,noentanto,restringidapeloDireitoFiscal.
Asnormasqueregulamatributaçãodasempresas,sobreasquaisnosfocamos
emdetrimentodasoutrasáreasdodireitofiscal,sãodeterminantesparaasop-
çõesprivadasdasempresas,noquetocaàtomadadedecisõesrelativamenteà
localização7dassuasoperaçõeseinvestimento,eaotipodenegóciosrealizados.
OsEstadosreconhecemestainfluênciadasopçõesdepolíticafiscal8,edas
suasconsequênciasdevastadorasparaaseconomiasdomésticaseinternacionais,
5PINHEIRO,MariaCarolinaAlves.(2014).PlaneamentoFiscalatravésdePropri-
edadeIntelectual.DissertaçãodeMestradodaFaculdadedeDireitodaUniversidadeCa-tólicadoPorto.
6Recaisobreocontribuinteumdeverdepagarimpostos,noentanto,tambémlheassisteodireitodeplanificaras suasatividadesgeradorasderendimentode formaapagarmenosimpostos.Todavia,estedireitotemlimites,vistoquenemtodososmeiosexistentesparareduziracargafiscal,sãomeioslegítimoselícitos.“Destacamos,comoinstrumentosdeplaneamentofiscallegitimo,asexclusõestributarias,osbenefíciosfis-caiseasalternativasfiscais”(PINHEIRO,2014).Opatentboxéuminstrumentolegitimodeplaneamentofiscal,talcomoautilização,porpartedossujeitos,dasdiretivaseuro-peiasedarededeCDT’s, instrumentosestesquesofrerãooutrasreferênciaseestudomaisaprofundadoaolongodestetrabalho.
7Sãováriososfatoresdecisivosparaasempresasnoquetocaàlocalizaçãodos
ativosdePI:“aonívelnacional:ataxaefetivaeosbenefíciosouisençõesfiscaisaplicá-veis;aoníveleuropeu:asdiretivaseuropeiasaplicáveis;aonívelinternacional:arededeCDT’sexistente;aosváriosníveis:atributaçãodosroyalties,adistribuiçãodedividendoseasregrasrelativasàsCFC’s(ControlledForeignCorporations)eaaplicaçãodeoutrasnormasanti-abuso”.Isto,tendoemcontaqueofimdadoàempresaparaoativoseráumdosfatoresmaisrelevantesaquandodatomadadestadecisão.(PINHEIRO,2014)
8Ofluxofinanceiroeofluxodecapitaisacabamporseapresentaremdistorcidos,
devidoaosfatoresjáaquireferidos.Comotal,surgeporpartedosGovernos,umadificul-dadeacrescidadetributarorendimentodaquelasatividades,quesãoaltamentemóveispornatureza.Parafazerfaceaestaperdadereceitafiscal,provocadapelamobilização
9
e,comorespostaaesteestimulodaeconomia,assumiramodeverdefazeralei
fiscalcaminhardepertocomaevoluçãoqueseverificanomundoempresarial.
Paratal,foramcriandomecanismosparafazerfaseàconcorrênciafiscalinterna-
cional,paraatrairoinvestimentoparaoseuterritórioeevitarque,osqueaíse
localizem,optempeladeslocalizaçãoparaumoutroEstadoouprocuremoutras
formasdeplaneamentofiscalilegítimo.
1.2OpapeldoDireitodePropriedadeIndustrialnocontextodosimpostos
Osdireitosdepropriedadeintelectualsão,nosdiasquecorrem,umdos
temasdefocoparaasadministraçõesfiscaiseparaoGoverno,tendoemconta
quesetraduzemnumafontederendimentoelevadoenuminstrumentoprivile-
giadodeplaneamentofiscal9,legitimoeilegítimo10,paraasempresas,devidoà
suavolatilidadee fácilmobilização,comoformadereduziracarga fiscal.Para
decapitaleinvestimento,estesvêm-seobrigadosaaumentarosimpostosincidentesso-breoconsumoeorendimentodotrabalho.Destemodo,acabamporcolocaremcausaaequidadedosistemaemcausa,gerandoquadrosdeinjustiça,vistoqueoscontribuintesquenãoseencontramhabilitadosparafugiraosimpostos,acabamporpagarmais,paracompensarasperdasprovocadasporaquelesquetêmestapossibilidade.
9Devidoàssuascaracterísticas,osroyalties-designaçãooferecidapelosdiversosdiplomaslegais,nacionaiseinternacionais,aosrendimentosdePropriedadeIntelectual-sãouminstrumentoprivilegiadodeplaneamentofiscal.Istoverifica-seaoníveldautili-zaçãodosparaísosfiscais(questãoqueiremosaprofundarmaisàfrenteaquandodoes-tudodon°3,alínead)doartigo50°-AdoCIRC),oudepaísescomregimesficaisatrativos;aoníveldasrelaçõesdegrupoedospreçosdetransferência(talcomoaquestãoanterior,serárealizadoumestudomaisaprofundadomaisafrentenopresentetrabalhoaquandodaanálisedaalíneac),don°3doartigo50°-A);peloconhecimentodas lacunasda leigeradaspela interaçãodosdiferentessistemas,permitindoaocorrênciadaduplanãotributação.(PINHEIRO,2014)
10Umaformaconhecidadeplaneamentofiscalabusivo,recorrendoàPI,éefetu-
adaatravésdasIPHoldings,que,naspalavrasdePinheiro(2014,pp.30-31),“deveserentendidacomouma“empresadepropriedade intelectual”queseja,dentrodogrupoempresarial,adetentoradosdireitosdePIequemantenhaumaligação,diretaouindi-reta,comoutra(s)empresa(s)dogrupo.”OobjetodestasempresasseráunicamenteolicenciamentodosdireitosdePIaoutrasempresasdomesmogrupo,oumesmoparaforadogrupo.Comaadoçãodestemecanismoasempresaslicenciadaspoderãoefetuarde-duçõesrelativasaosroyaltiespagosaquelaempresa,enquantoqueosmesmosserãotri-butadosaumataxamuitobaixaouinexistente.Istoporque,pornormaestasempresaslicenciantesencontram-sesituadasemparaísosfiscaisouEstadoscomregimesfiscaismuitofavoráveis.
10
alémdisso,dopontodevistadoatorpúblicoEstado,oinvestimentofeitoneste
tipodeativos,paraalémdegerarelevadasreceitas,comatributaçãodorendi-
mentoobtidoatravésdasuaexploração,tambémgeraacriaçãodeempregoalta-
mentequalificadoedesencadeiaumdesenvolvimentoecrescimentodaecono-
mia(EVERSetal.,2015).Comotal,asempresasassumemnaturezaprimordialno
quadropolítico-fiscal11,comoprotagonistasdepolíticasdeincentivoaoinvesti-
mento12, dos quais beneficiam, na criação e exploração destes direitos, como
objetivo,nãodearrecadarreceita,masdebeneficiaraseconomiascomasreco-
nhecidasvantagensreferidas.
Portugalfaz,desde199713,dogrupodepaísesconscientesdestesfactos,e
temvindoaadotarpolíticasfiscaisdefavorecimentonomomentodotratamento
11UmaboagovernançaporpartedoGoverno,passaporumsistemafiscallegí-
timoe justo,querespondeaosdesafios levantados,sendoqueaadoçãode incentivosfiscais,comooregimePatentBoxaquiemanálise,figuraentreosmétodosdeacompa-nhamentodaconjunturaedeumacompetitividadefiscalsaudável,comefeitospositivosnaeconomia.Paramaispormenorrelativamenteaoconceitodeboagovernançaerela-çãodamesmacomacompetitividadefiscal,aosváriosníveis,consultarCATARINO,J.R.,DIOGO,S.&LOPES,A.(2015,pp.415-472).
12AsempresasoptamporencetarematividadesdeI&Dnaexpectativadeobter
benefíciosfuturos,comobaixaroscustosdeproduçãoouaumentaroslucrosobtidos.Infelizmente,eapesardetodasasvantagensreconhecidas,asmédiasrelativasaoinves-timentoempresarialnestasatividadesficammuitoaquémdodesejadoenecessárioparabeneficiarocrescimentoeconómicoglobal.Istodeve-se,entreoutros,àscaracterísticasintrínsecasdestetipodeinvestimentos,devidoaoelevadorisco,àdeterminanteincer-tezanoque tocaaoretornoeàprocura.Nestassituações,a intervençãodosEstados,atravésdaadoçãodepolíticasfiscais,podeconduziraumaumentodestamédiae,porconsequência,dariquezanacional,sobajustificaçãodeque,nocontextodemercadoli-vrede intervençãoestatal,estasatividadessofremdeausênciade investimento,ogo-vernovemintervir,eutilizaosistemafiscalparaobjetivosextrafiscais.
13Em1997PortugalintroduziunoSistemafiscalportuguêsoSistemadeIncen-
tivosFiscaisàInvestigaçãoeDesenvolvimentoEmpresarial(programaSIFIDE).Sofreualteraçõesem2001e2005, substituído, em2003,pelaReservaFiscalparao Investi-mento,efoiretomadoem2005.Atualmenteencontra-seemvigoroSIFIDEII,introdu-zidopelaLeinº55-A/2010,de31dedezembro,alteradopelaLei83-C/2013,de31dedezembro, que vigorará até 2020 (http://www.portaldosincentivos.pt/index.php/si-fide).Esteprograma“visaaumentaracompetitividadedasempresas,apoiandooseues-forçoemInvestigaçãoeDesenvolvimentoatravésdadeduçãoàcoletadoIRCdasrespe-tivasdespesas”(http://sifide.adi.pt/index.php?cat=4).Paraalémdisso,temcomoobje-tivo“apoiarasatividadesdeInvestigaçãoedeDesenvolvimento,relacionadascomacri-açãooumelhoriadeumproduto,deumprocesso,deumprogramaoudeumdeumequi-pamento,queapresentemumamelhoriasubstancialequenãoresultemapenasdeuma
11
dosrendimentosedespesassupervenientesdacriaçãoeexploraçãodosativos
dePI.Noentanto,“amaioriadosindicadoressobreciência,tecnologiaeinovação
colocaPortugalnosúltimoslugaresentreospaísesdaOCDEeUniãoEuropeia
(EU),equeoatrasorelativodePortugalnestamatériaéestruturaletempersis-
tidoaolongodotempo”14.Estesfatoresacabamporlevantarumobstáculoàca-
pacidadeinternadeproduçãodeconhecimentoeinovaçãotecnológica,nasmais
variadasáreas,assimcomoaopapeldePortugalnomercadointernacional15.Por
norma,obomdesempenhoeconómicodeumdeterminadosujeito,sejaelepaís
ougrupodeEstados,comoaEU,dependeemlargaescaladeumnúmerolimitado
desetoresindustriais,emcompetiçãoconstante,queacabamporinvestirforte-
mentenaI&Dparasemanteremàsuperfície.Noentanto,daanálisedomercado,
épossívelconstatarumcomportamentodereceioporpartedasempresasnoque
tocaaoinvestimentonestetipodeativos.Istodeve-se,emlargamedida,aoele-
vado riscoqueesteenvolve, vistoqueos custosde investigaçãoedesenvolvi-
mentosãosempreelevadoseosresultadossãosempreincertos,factosquedifi-
cultamoacessodasempresasaofinanciamentoexterno,atravésdebancosou
outrasinstituiçõesdefinanciamento(SHI,2016).ApesardePortugalverosseus
númeroscresceremnestecontexto16,ocrescimentoémodestoetímido17.Nosen-
tidodecontrariarestatendência,oGovernoportuguêsvemapostandonamoder-
nizaçãodosregimesfavoráveis18aoI&Deàtributaçãodosrendimentosqueeste
simplesutilizaçãodoestadoatualdastécnicasexistentes”(http://www.portaldosincen-tivos.pt/index.php/incentivos-fiscais/sifide-ii).
14CARVALHO,A.(2006)pp.199-214.15Infelizmente,esteéumproblemaquetambémconstadoquadrodepreocupa-
çõesnoseiodaEU,vistoque“aintensidadedeI&DempresarialmédianaEUésubstan-cialmenteinferioràdosEUAedoJapão”(CARVALHO,2006).
16VerificargráficoemAnexoIII.17Desdeoanode1990quesetemverificadoumamelhorianoquetocaaestes
números.Entre1995e2001oI&Dempresarialcresceusignificativamente,factoquesedeveaosistemadeincentivosfiscais(SIFIDE),introduzidoem1997(CARVALHO,2006),doqualiremosfalarmaiséfrentenopresentetrabalho.
12
gera,oscomumentedenominadosroyalties,seguindodepertoastendênciasin-
ternacionais.
OregimePatentBox,emestudonopresentetrabalho,éumadessasmedi-
dasadotadaspelosestadosparacaptarinvestimentoeevitaramobilizaçãode
rendimentos19.RegimeessequeacompanhadepertoasresoluçõesdaOCDEado-
tadasnoâmbitodoprojetoBEPS20,maisespecificamentedaação521destepro-
jeto,quesugereaabordagemdestetemaespecíficodatributaçãoebenefíciosfis-
caisatribuídosàpropriedadeintelectual.Esteassumeumpapeldeextremaim-
portâncianadefiniçãoderegimessimilaresdetributaçãoderendimentosadvin-
dosdeativosdepropriedadeintelectual,dentrodosquaisconstaoregimepor
1.3Objetivoeobjetodoestudo
No presente trabalho iremos estudar aprofundadamente os contornos
desteregimefavoráveldetributaçãodosrendimentosdePI,ocontextoemque
18Estatipologiadepolitica-fiscaltradicional,deconcessãodebenefíciosfiscais,
tem-sereveladoadequado,vistoquefomentaoinvestimentoematividadesdeI&Dem-presarialprivadaporpartedeumgrupoheterogéneodeempresas,tocandoatéasPME’s(pequenasemédiasempresas)(CARVALHO,2006).
19Quandoumaempresadecide investirnacriaçãoedesenvolvimentodeuma
ideia,estafá-lonaexpectativadeobterlucrosfuturos.Nocontextodomercadoglobal,adecisãodelocalizaçãodessesativosassumeamaiorrelevância,sendoquesãotomadosemlinhadeconta,nãosóotratamentofiscaldosrendimentosobtidosatravésdaexplo-raçãodesseativo,asuacessãooualienação,comoaqualidadedacriaçãoedaideiapordetrásdesta,aexistênciadeatividadesubstancial,quedeuvidaàcriaçãonoterritórioemponderação,osistemadeproteçãoeregistodestetipodeativos,otamanhodomer-cadolocaleoníveldeinovaçãotecnológicadessemesmomercado(Griffithetal.,2014).
20OprojetoBEPS,quevemconjugarinteressesepreocupaçõesdemaisde100
paísesejurisdições,membrosdaOCDEedoG-20,relacionados,comoonomeindica-BaseErosionandProfitShifting-,visacombaterestratégiasdeplaneamentofiscalreali-zadasatravésdelacunasefalhasdaleifiscalparadeslocalizarartificialmenteosrendi-mentosparaordenamentoscomtributaçãoreduzidaounula,ondeaatividadeeconó-micalevadaacaboémuitoreduzidaounula(Vd.http://www.oecd.org/tax/beps/beps-about.htm).
21OprojetoBEPSéconstituídopor15Ações,entreasquaisconstaaAção5,inti-
tuladacomoCouteringHarmfulTaxPracticesmoreEffectively,TakingIntoAccountTrans-parencyandSubstance,queseráobjetodeestudomaisaprofundadoaolongodestetra-balho.
13
surgiu,tantoemPortugalcomonoutrospaísesquedecidiramadotar,comome-
didadecaptaçãodereceita fiscaledesenvolvimentodaseconomiasnacionais,
assimcomoosregimessimilares,deformaaestabelecerumtermodecompara-
ção.
2.Patentbox:origemedefiniçãoconceptual
Comoaquijáfoidito,devidoàssuascaracterísticasdinâmicas,aproprie-
dadeindustrial,eosrendimentosobtidosatravésdelaporpartedasempresas,
temsidoalvodeinvestidasporpartedosEstados22,atravésdeincentivosfiscais
comooPatentBox.Ospaísespioneirosnaadoçãodeumregimedestegénerofo-
ramaFrançaeaIrlanda,em1973,eem2000,respetivamente23.Esteregimepre-
ferencial consiste na atribuição de benefícios fiscais aos rendimentos obtidos
atravésdaexploraçãodeativosdepropriedadeindustrial.Assuascaracterísticas
diferemdepaísparapaís,desdeosdireitosdepropriedadeindustrialaquese
aplicam,24atéàstaxasaplicáveisaorendimentoelegível.
EmPortugal,encontra-seprevistonoartigo50º-AdoCIRC,sobaepígrafe
“Rendimentosdepatenteseoutrosdireitosdepropriedadeindustrial”.Foiintro-
duzidonestediplomaem2014,pelaLeinº2/201425,queprocedeàreformada
22Ofenómenoglobalização,talcomodescrito,eaconsequenteconcorrênciafis-
calentreosEstados,tempreocupadoaOCDEeaEU,vistoquepartedestasmedidasdeatraçãodeinvestimentoerendimento,demonstramsernocivasparaaconcorrênciafis-calinternacional,assimcomoaoníveldomundoempresarialedosnegócios,extrínsecoaouniversopúblicoestadual.
23SeguindoospassosdaIrlanda,aFrançaimplementa,em2000,umregimesi-
milar,seguidadaHungria,em2003,daBélgicaeHolanda,em2007,daEspanha,Luxem-burgoeChinaem2008,deMaltaem2010,Liechtenstein,em2011,da Inglaterra,em2013,dePortugal,ItáliaeTurquia,em2014(SAKAR,2015).
24“Osregimessãodiferenciados,variandoquanto(i)aotipodePI(unscompre-
endemtodootipodedireitoseoutrosapenaspatentes),(ii)aotipodeaquisição(desen-volvidointernamenteoutambémadquiridoaterceiros),(iii)àdatadedesenvolvimento/aquisição/exploração,(iv)aotipoderendimento(somenteroyaltiesoutambémmais-valias)e(v)àformadecálculodobenefício(amortizaçãodoativointangível,exclusãodepartederendimentooureduçãodataxadeimposto)”(ERNEST&YOUNG,2013).
14
tributaçãodorendimentodassociedades,artigo140ºnúmeros1e2,de16de
janeiro,querepublicouoCIRC.AopçãodeadoçãodesteporPortugalfoiefetuada
comointuitodeimpulsionarainovaçãotecnológicaecientíficanacional,assim
comodifundiraspráticasdeproteçãodapropriedadeindustrial26,tendoemlinha
decontaasvantagensqueestaspodemacarretaraníveleconómicoefinanceiro,
tantonoplanoprivadodasempresas,comoanívelpúblico,paraoEstado.Sofreu,
em2016,umaalteraçãopeloDecreto-Leinº47/2016,de22deagosto,quepro-
cedeuàintroduçãodaabordagemnexusmodificadanosistemafiscalportuguês.
Estaconsistenumafórmuladecálculoqueapuraaproporçãodeencargossupor-
tadosqualificáveisrelativamenteàsdespesasglobais,aqualiremosabordarcom
maisdetalhemaisàfrentenonossoestudo.
Trata-sederegimefiscalfavorávelque,talcomootitulodopreceitolegal
indica,incidesobreosrendimentosprovenientesdacessãodedireitosdepropri-
edadeindustrial,maisespecificamente,depatentesedesenhosoumodelosin-
dustriais.
2.1.OsincentivosfiscaisàI&D
ApesardacooperaçãoentreosváriosEstados,aoníveldaEU,daOCDE,e
deoutrasorganizaçõesnasquaissefazemencontrarosseusinteressescomuns,
opodersoberano,dedeterminarascaracterísticasdosistemafiscal,pertencea
cadaEstado,individualmenteconsiderado.Estepoderincide,nãosósobreode-
senhodascaracterísticasgeraisdosregimesadotados,comolhesconfereodi-
reitodeadotarmedidasespeciaisparatornarestesregimesmaisatrativospara
oinvestimento.Todavia,comoaquijáfoireferido,nocontextoeconómicoatual
25EstareformadoCIRCfoiinvocadapelacriseeconómicaquesefazsentirem
Portugaldesde2008,cujooqualsefocou,entreoutros,napolíticafiscalinternacional(GUERRA&PIRES,2014).
26Oartigo45°-A,quevemaceitarcomogastofiscal,dedutívelemsededeIRC,duranteosprimeiros20períodosdetributação,apósoreconhecimentoinicial,ocustodeaquisiçãodosativosintangíveisinumeradosnasalíneasaebdomesmoartigo,entreosquaisfiguraosativosdepropriedadeindustrial.
15
deglobalização,estepodernãoéilimitado,háqueteremconsideraçãoasopções
políticaselegislativasdospaísesvizinhos27.
SegundoaProfessoraLilianaPereira28,osbenefíciosfiscaistraduzem-se
em“medidasqueconduzirãoaumavantagemoudesagravamentoemfavorde
determinadaspessoas,entidades,atividadesousituações”,“devendoestacarac-
terísticaconsiderar-seimplícitanapróprianaturezadebenefício”.Aintençãodo
legislador,aoadotarumincentivofiscal,será,emprimeiralinha,odeatrairati-
vidadeseconómicase/oucapital,localizadosnoutrasjurisdiçõese/ouinduziros
sujeitospassivosresidentesaadotaremcertacondutaouinvestiremnumacerta
atividade29.
OEBF,atualizadopeloDecreto-Leinº38/2016,de15dejulho,noseuar-
tigo2ºdefinecomo“benefíciosfiscaisasmedidasdecarácterexcecionalinstituí-
dasparatuteladeinteressespúblicosextrafiscaisrelevantesquesejamsuperio-
resaosdaprópriatributaçãoqueimpedem.”30.Comoépossívelretirardestepre-
ceitolegal,osbenefíciosfiscais,paraalémdoquecarácterexcecional,vistoque
derrogamoprincípiodaigualdade,têmcaráterextrafiscal,querendoistodizer
que,oseuobjetivoprimárionãoéadearrecadaçãodereceitafiscal,masantes
objetivosdecaráctereconómico-sociais31.
27BAL,2014,63-70.28Pereira,Liliana,OsBenefíciosFiscaiseoRegimeComunitáriodosAuxíliosdeEs-
tado,AFiscalidadecomoInstrumentodeRecuperaçãoEconómica,VidaEconómica,página87,cit.porPreto(2013).
29NaspalavrasdeBal(2014,p.63-64),“theuseoftaxincentivesmaybejustifiedbythesteeringfunctionoftaxation.Apartfromrevenue-raisingandredistributiveaim,taxesseektoinfluencehumanbehaviorandsteerprivatesectoractivityinthedirectiondesiredbythegovernment”.
30DeacordocomaopiniãodeNabais(2016,p.383),osbenefíciosfiscaisfazem
parte,nãododireitofiscalclássico,masdodireitoeconómicofiscal.Este,porsuavez,éconstituídopornormasjurídicasqueregulamautilizaçãodosinstrumentosfiscaisparaobterresultadosestranhosaodireitofiscal,cujoprincipalobjetivoé,nãoodeobterre-ceitasfiscais,masresultadosextrafiscais.É,portanto,umdireitofiscalderegulaçãoeco-nómicaesocial.
31Sublinhadonosso.
16
Aoconcederumbenefíciofiscal,oEstadoestáaperderareceitaequiva-
lenteaomontantedeimpostoqueiriasercobrado,configurandouma“despesa
fiscal”que,porsuavez,“podeserdefinidacomoumaderrogaçãodeliberadaao
sistemanormaldetributação,quepermiteatuarsobreaeconomiaprivadado
mesmomodoquepordespesasdiretas,representandoumpagamentoimplícito
feitopelospoderespúblicosporintermédiodeumareduçãodosimpostosapa-
gar,ouseja,umadespesapúblicafeitaatravésdosistemafiscal”32.Oartigo14º/3
daLGT,fazdepender“daclaradefiniçãodosseusobjetivos”aatribuiçãodestes
benefícioseaconsequenteperdadereceitafiscal.Objetivosessesquepodemser
deváriasordens33,sendoqueosobjetivosdeinvestimentoprodutivo34edein-
vestigaçãoedesenvolvimento,assumemespecialrelevonamatériaemanálise,
pelapróprianaturezadoregime,masexistemoutros,queserãoindiretamente
alcançados,comooempregoeodesenvolvimentoregionalenacional.
Configuramcomobenefíciosfiscaisasisenções,asreduçõesdetaxa,asde-
duçõesàmatériacoletáveleàcoleta,asamortizaçõesereintegraçõesaceleradas,
assimcomooutrasmedidasfiscais,desdequeobedeçamàscaracterísticasdefi-
nidasnoartigonº2/1daLGT.
32Pereira,ManuelHenriquedeFreitas,2014,Fiscalidade,5ªEdição,Coimbra,Al-medina,p.415.
33Osincentivosfiscaissãointroduzidosnosistemafiscalpelasmaisvariadasra-zões,asquaispassamosaenumerar:objetivosdearrecadaçãodereceita,atravésdaatra-çãodenegóciosqueirãocontribuirparaocrescimentoedesenvolvimentoeconómico,criaçãodetrabalhoecompetitividadenacional;osincentivospodemassumiropapeldecontrapesorelativamenteaosdesincentivosestruturaisounaturais, como fiscais,quepossamexistirnoterritório;objetivosdecompetitividadeinternacionaltambémpodemfazerpartedolequedeobjetivos,vistoqueosEstadossepodemsentirpressionadosaoferecervantagensfiscaisparaatrairinvestimento,competindodiretamentecomascon-diçõesoferecidaspelosestadosvizinhos;outros incentivossãoadotadospelosimplesfatodeque,porvezes,podemsermeiosmuitoeficazesdeatingirobjetivosdeordemambiental,social,etc(BAL,2014,p.64).
34“Qualquerbeneficioaoinvestimentopodeserdefinidocomoumamedidaque
temporfimaumentarofluxoesperadodelucroslíquidosdeimpostosderivadosdesseinvestimentocomparativamentecomoseucustonomomentodadecisãodeinvestir.”(PEREIRA,201,p.437).
17
NocasoderegimePatentBox,estamosperanteumaisenção35,vistoque
osrendimentosdepatentesedesenhosoumodelosindustriassãopressuposto
previstonaleidebasedetributaçãoeque,porrazõesextrínsecas,depoliticaeco-
nómica,estavêabasedeincidênciadeimpostoreduzida,reportando-seauma
determinada parte quantitativa do facto tributário, configurando uma isenção
parcial.Logo,oRegimedoPatentBoxconfiguraumbenefíciofiscal,legalmente
previstodoCIRC36.
3.OrientaçõesdaOCDE/G20noâmbitodoprojetoBaseErosionandProfit
ShiftingProject
Omercadoglobalrapidamenteevidenciouosproblemasdeorigemtribu-
tária37,aoníveldaerosãodabase tributáveleda transferênciade lucrospara
jurisdiçõesdebaixaounulatributação.Problemasessesquesóatravésdeuma
boagovernançaporpartedosestados,atuandodeformacoordenada,poderão
serresolvidosou,pelomenos,atenuados.Deencontroàconjunturadescrita,os
G-20trouxeramassuaspreocupaçõesàtonajuntadaOCDEemjunhode201238.
Estasdiziamrespeitoànecessidadedecombatedoplaneamentofiscalagressivo
35DefinidaporPereira(2014,pp.428-429)como“umbeneficioemvirtudedo
qual,emboraexistaopressupostoprevistonaleicomofonteoubasededeterminaçãotributária,porrazõesextrínsecas,deconveniênciapolíticaoueconómica,atributaçãoéafastada,temporáriaoudefinitivamente”.
36Nabaisvemcorroborarestaideia(2016,p.401),aoconsideraroregimedepa-
tenteboxcomoumbenefíciofiscalprevistopeloCIRC.37A“globalizaçãoeconómicatrazbenefícios.Porém,existemsituaçõesemqueas
normasreguladorasdoimpostorevelamdeficiênciasquepotenciamaerosãodebasestributáriaseatransferênciadelucros,causandogravesproblemasfiscais”(CATARINO,J.R.,DIOGO,S.&LOPES,A.,2015,p.443).
38EstanãofoiaprimeiraabordagemaotemaporpartedaOCDE,sendoqueem
1998lançouumprojetoplurianual,oRelatórioSobreasPráticasdaConcorrênciaFiscalPrejudicial (HarmfulTaxCompetition:NaEmergingGlobal Issue,Paris,France,OCDE),paralimitarautilizaçãodosparaísosfiscaisporpartedossujeitospassivosdeimposto,iniciativaquefoiconsideradaumfracasso,assimcomorefereScottStudebaker,emen-trevistaaQ.C.,PHILIPBAKER(2015,p.1-7).
18
edadeslocalizaçãoderendimentoparajurisdiçõescomtaxasmaisbaixaseape-
tecíveisparaasempresas39,comotambémparaosparticulares.Comorespostaa
estedesafioaOCDEpropõeumplanodeação,emjulhode2013,oprojetoBEPS
(BaseErosionandProfitShifting),comvistaareporegarantiraintegridadedo
impostosobreorendimentoempresarial,aoníveldaconcorrência40,comoaoní-
veldaaceitaçãovoluntariadosimpostosporpartesdossujeitospassivossingu-
lares(OECD,2013).”OrelatórioBEPSvemexporamagnitudedaerosãodabase
tributária,refletindosobreasuaevoluçãoglobaleseusimpactosnossistemas
fiscais,tratandotambématemáticadadeslocalizaçãodelucros”41.OsváriosEs-
tadosintervenientes42,vêmagoradarumarespostaconjuntaaosproblemasre-
feridos,admitindoqueumaatuaçãoisoladateriapouco,ounenhumefeito,sobre
aspreocupaçõeslevantadas.
Oprojeto,apresentadonasuaversãofinalnoanode2015,écompostopor
15ações,queassumemanaturezadepropostasdeatuaçãoemedidasaadotar
pelosEstados,individualmente,oucoordenados,comvistaaumfortalecimento
dossistemas fiscais,deentreasquaisconstaaação5 (CouteringHarmfulTax
PracticesMoreEffectively,TakingintoAccountTransparencyandSubstance).Esta
39DeacordocomorelatóriodaOECD(2013),AdressingBaseErosionandProfit
Shifting, OECD Publishing, disponível para consulta online emhttp://dx.doi.org/10.1787/9789264192744-eng,asleisdomésticasrelativasàtributa-ção de rendimentos plurilocalizados e os standards internacionais definidos, que ba-seiam-senumambienteeconómicocaracterizadoporumbaixoníveldeintegraçãoeco-nómicaalémfronteiras,descurandodoatualambientecaracterizadoporsujeitospassi-vosdeimpostoqueatuamglobalmente,emváriosmercadosepaísesaomesmotempo,ondeapropriedade intelectualassumeumpapeldedestaque,assimcomoaevoluçãodastecnologiasdecomunicaçãoeinformação,sãoosgrandesresponsáveispelaverifi-caçãodocomportamentolesivodoscontribuintes.Assimcomoainteraçãodasleisdo-mésticasnocontextointernacional,queprovocaosurgimentodelacunas,usadasparareduziroueliminaracargafiscal.
40Istoporqueasempresasqueatuamemmaisdoqueumpaís,automaticamente
dispõemdeumlequemaisvariadodeoportunidadesdereduçãooueliminaçãodacargatributária,emdesfavordasempresasqueatuamúnicaeexclusivamenteaníveldomés-tico,quedificilmentetêmacessoacertasopçõesdeplaneamentofiscal,acabando,destemodo,pordistorceraconcorrência.
41CATARINO,J.R.,DIOGO,S.&LOPES,A.(2015,pp.415-472).42Umtotalde105paísesejurisdições.
19
assumeespecialrelevâncianotemaemestudonestetrabalho,assimcomoaação
8 (AligningTransferPricingOutcomeswithValueCreation), de forma residual,
vistoqueversasobreotemadospreçosdetransferêncianoâmbitodosativos
intangíveis,dosquaisfazemparteintegranteosativosdepropriedadeindustrial.
Resumidamente,asorientaçõespropostasnaação5procuramassegurar
queosrendimentossãosujeitosaimpostoondeestálocalizadoondesãocriados
eondeasatividadeseconómicasqueosgeraramsãolevadasacabo.Fundamen-
talmente,ésugeridaaimposiçãodeumrequisitodesubstânciaeconómica43.Com
istoprocura-seevitarquerendimentosbeneficiemderegimesfavoráveisonde
nãofoilevadaacaboaatividadeeconómicaqueogerou,afastandoaaplicaçãode
regimesfavoráveisetaxasreduzidasounulas,destinadasabeneficiarapenasas
entidadesquecontribuemparaocrescimentoeconómicodoEstado44.
NaspalavrasdeMendonça (2015, p..25), o objetivodaOCDE será ode
“promoversistemasmaisequilibrados”,comvistaareduziropapeldafiscalidade
natomadadedecisõesrelativasàlocalizaçãodasoperações,doscapitaisedos
rendimentosdasempresas,“atravésdeprincípiosbemdefinidoseassentesno
combateàconcorrênciafiscalprejudicial”.Oreforçodorequisitodesubstância
vemgarantiruma ligaçãoclaraentreasatividadeseconómicas levadasacabo
numajurisdição,eosbenefíciosatribuídosaosrendimentosadvindosdessaati-
vidade45.EsterequisitoéaplicadoaosregimesPatentBoxouInnovationBoxatra-
vésdaabordagemnexus (modifiednexusapproach)46, segundoaqualosujeito
43Sublinhadonosso.44Maiorníveldecrescimentodesembocanummelhorníveldevida,masaquele
dependedeinvestimentosprivados,inclusiveinvestimentoestrangeiro.Noentanto,osinvestidores,nahoradeinvestir,têmemlinhadecontaosimpostosaplicáveisaosren-dimentos frutodessaaplicação financeira,entreoutros,provocandoumapressãoporpartedoGovernoparaqueesteofereçaregimes fiscaismais favoráveisparacaptareatrairestesatoreseconómicos.
45SANZ-GÓMEZ,(2015).46Estaabordagemfoiaquealcançouummaiorconsenso,deentreas3propostas,
quepassoacitar:“value-createdapproach”,aoabrigodaqualossujeitospassivosteriamquelevaracaboumacertaquantidadedeatividadesdedesenvolvimentosignificativo
20
passivosópoderábeneficiardaPatentBoxnamedidaemquedemonstrarque
incorreu emdespesas e investimentos que levaram à obtenção do intangível”
(MENDONÇA,2015,p.23).Arationalesubjacenteaatribuiçãodestesincentivos
fiscais,deve,naopiniãodaOCDE,seracompensaçãodosriscosaoqualosujeito
passivodeexpõe,decorrentedoinvestimentonasatividadesdeI&D,comvistaà
criaçãodeumativodePI.
AsorientaçõesdirecionadasaosdiferentesEstadosnesteâmbito,têmape-
nascomoobjetivodefiniralinhaqueseparaumregimefavoráveldePIquega-
rantebenefíciosparaosinvestimentosemI&D,deumregimequetemefeitosno-
civosparaoutrosEstados.Atravésdaaplicaçãodestecrivo,épossíveldistinguir
osregimespreferenciaisaplicáveisaosrendimentosprovenientesdePI,quefa-
zemdependerasuaatribuiçãoàextensãodasatividadesdeI&Dlevadasacabo
pelocontribuinte47,dosqueatribuembenefíciosarendimentosadvindosdeati-
vidadessemsubstânciaeconómica,queemnadacontribuemparaodesenvolvi-
mentoeconómico, cujoúnicoeexclusivoobjetivoéreduzirocustodocapital.
Logo,separaregimesbenéficosparaaeconomiaglobaleparaaconcorrênciafis-
caleempresarial,dosregimesmalignos,queminamobomfuncionamento,quer
daeconomia,querdaleifiscal.Osgastosefetuadosparaobterorendimento,eos
benefícios atribuídos, encontram-se, portanto, relacionados, visto que aqueles
irãodefiniramedidadorendimentotributável,aorevelaraatividadesubstancial
que foi levada a cabo para gerar o ativo e o seu consequente rendimento
(NOUWEN,2013).
Com base nesta abordagem, aplicada aos regimes favoráveis de trata-
mentoderendimentosdePI,sãopropostaspelaOCDEumvastolequedeorien-
taçõesqueconvergemnosentidodeassegurarorespeitopelorequisitodaativi-
dadesubstancial,versandosobreosvárioselementosconstituintesdestetipode
parabeneficiardoregime;“transfer-pricingapproach”,segundooqualumregimepode-riaprovidenciarbenefíciosatodoorendimentogeradoatravésdeativosdePI,casopre-enche-seumgrupodecritériospreviamentedefinidos(SANZ-GÓMEZ,2015,p.5).
47“Thepurposeofthenexusapproachistograntbenefitsonlytoincomethatarisesfrom IP where the actual R&D activity was undertaken by the taxpayer itself.” (OECD(2015,p.25)queristodizerqueopropósitodo“nexusapproach”égarantirqueosbe-nefíciosfiscaisseaplicamapenasaorendimentoquesurgedaexploraçãodePIeondeaatividade de I&D foi levada a cabo pelo próprio contribuinte beneficiário (traduçãonossa).
21
incentivos fiscais, os quais iremos abordar e definir ao longo deste trabalho.
Comotal,oprojetoBEPSseráinvocadoinúmerasvezes,tendoemcontaainflu-
ênciasignificativaqueasorientaçõesdaOCDE,nesteâmbito,assumemnadefini-
çãodaslinhasdelimitadorasdosregimesfavoráveisdePI.
4.OregimePatentBox
Cabe-nosagoradefiniroregimePatentBox,detratamentopreferencialde
rendimentosprovenientesdacessãodeumdireitodePI,presentenoCIRC,no
normativonúmero50º-A.Estevemdefiniroregimeaplicáveleosseus traços
característicos,assimcomoosrequisitosexigíveis,aformadecálculoparaobten-
çãodomontantepassivodebeneficiardestefavorecimento,focadonoincentivo
aoinvestimentoematividadesdeI&D.Passamosareproduziroartigoemques-
tão:
1-Concorremparaadeterminaçãodolucrotributávelemapenasme-
tadedoseuvalorosrendimentosprovenientesdecontratosquetenhampor
objetoacessãoouautilizaçãotemporáriadosseguintesdireitosdepropriedade
industrialsujeitosaregisto:
a)Patentes;
b)Desenhosoumodelosindustriais.
2-Odispostononúmeroanterioréigualmenteaplicávelaosrendimentosde-
correntesdaviolaçãodosdireitosdepropriedadeindustrialaíreferidos.
3-Odispostonon.º1dependedaverificaçãocumulativadasseguintescondi-
ções:
a)[RevogadapeloDecreto-Lein.º47/2016,de22deagosto]
22
b)Ocessionárioutilizeosdireitosdepropriedadeindustrialnaprossecuçãode
umaatividadedenaturezacomercial,industrialouagrícola;
c)Osresultadosdautilizaçãodosdireitosdepropriedadeindustrialpelocessio-
nárionãosematerializemnaentregadebensouprestaçõesdeserviçosqueori-
ginemgastosfiscalmentededutíveisnaentidadecedente,ouemsociedadeque
comestaestejaintegradanumgrupodesociedadesaoqualseapliqueoregime
especialprevistonoartigo69.º,semprequeentreumaououtraeocessionário
existamrelaçõesespeciaisnostermosdon.º4doartigo63.º;
d)Ocessionárionãosejaumaentidaderesidenteempaís,territórioouregião
ondeseencontresujeitaaumregimefiscalclaramentemaisfavorávelconstante
delistaaprovadaporportariadomembrodoGovernoresponsávelpelaárea
dasfinanças.
e)Osujeitopassivoacujosrendimentossejaaplicávelodispostonon.º1dispo-
nhaderegistoscontabilísticosquepermitamidentificarosgastoseperdasin-
corridosousuportadosparaarealizaçãodasatividadesdeinvestigaçãoede-
senvolvimentodiretamenteimputáveisaodireitodepropriedadeindustrial
objetodecessãoouutilizaçãotemporária,eseencontremorganizadosdemodo
aqueessesrendimentospossamclaramentedistinguir-sedosrestantes.
4-Odispostonopresenteartigonãoseaplicaaosrendimentosdecorrentesde
prestaçõesacessóriasdeserviçosincluídasnoscontratosreferidosnon.º1,os
quais,paraoefeito,devemserautonomizadosdosrendimentosprovenientesda
cessãooudautilizaçãotemporáriadedireitosdepropriedadeindustrial.
5-Osrendimentosaqueseapliqueodispostonon.º1sãotambémconsidera-
dosemapenasmetadedoseuvalorparaefeitosdocálculodafraçãoprevistana
alíneab)don.º1doartigo91.º
23
6-Paraefeitosdopresenteartigo,considera-serendimentoprovenientede
contratosquetenhamporobjetoacessãoouautilizaçãotemporáriadedireitos
depropriedadeindustrial,osaldopositivoentreosrendimentoseganhosaufe-
ridosnoperíododetributaçãoemcausaeosgastosouperdasincorridosousu-
portados,nessemesmoperíododetributação,pelosujeitopassivoparaareali-
zaçãodasatividadesdeinvestigaçãoedesenvolvimentodequetenharesultado,
ouquetenhambeneficiado,odireitodepropriedadeindustrialaoqualéimpu-
távelorendimento.
7-Odispostonosnúmeros1e2apenaséaplicávelàpartedorendimento,cal-
culadonostermosdonúmeroanterior,queexcedaosaldonegativoacumulado
entreosrendimentoseganhosrelativosacadadireitodepropriedadeindus-
trialeosgastoseperdasincorridoscomarealizaçãodasatividadesdeinvesti-
gaçãoparaorespetivodesenvolvimento,registadosnosperíodosdetributação
anteriores.
8-Adeduçãoaolucrotributávelaquesereferemosnúmerosanterioresnão
podeexcederomontantequeresultedaaplicaçãodaseguintefórmula:
DQ/DTxRTx50%
emque:
DQ=«Despesasqualificáveisincorridasparadesenvolveroativoprotegidopela
PropriedadeIndustrial»,asquaiscorrespondemaosgastoseperdasincorridos
ousuportadospelosujeitopassivocomatividadesdeinvestigaçãoedesenvolvi-
mentoporsirealizadasdequetenharesultado,ouquetenhambeneficiado,o
direitodepropriedadeindustrialemcausa,bemcomoosrelativosàcontratação
detaisatividadescomqualqueroutraentidadecomaqualnãoestejaemsitua-
çãoderelaçõesespeciaisnostermosdon.º4doartigo63.º;
24
DT=«DespesastotaisincorridasparadesenvolveroativoprotegidopelaPro-
priedadeIndustrial»,asquaiscorrespondematodososgastosouperdasincor-
ridosousuportadospelosujeitopassivoparaarealizaçãodasatividadesdein-
vestigaçãoedesenvolvimentodequetenharesultado,ouquetenhambenefici-
ado,odireitodepropriedadeindustrialemcausa,incluindooscontratadoscom
entidadescomasquaisestejaemsituaçãoderelaçõesespeciaisnostermosdo
n.º4doartigo63.º,bemcomo,quandoaplicável,asdespesascomaaquisiçãodo
direitodepropriedadeindustrial;
RT=«RendimentototalderivadodoativoIP»,oqualcorrespondeaomontante
apuradonostermosdosnúmeros6e7.
9-Paraefeitosdaaplicaçãodafórmulaprevistanonúmeroanterior:
a)Apenassãoconsideradososgastosouperdasincorridosousuportadosque
estejamdiretamenterelacionadoscomasatividadesdeinvestigaçãoedesenvol-
vimento,talcomodefinidasnoartigo36.ºdoCódigoFiscalaoInvestimento,
aprovadopeloDecreto-Lein.º162/2014,de31deoutubro,alteradopelaLein.º
7-A/2016,de30demarço,ficandoexcluídos,nomeadamente,osgastoseper-
dasdenaturezafinanceirataiscomojuros,bemcomoosrelativosàaquisição,
construçãooudepreciaçãodeimóveis;
b)Omontantetotaldas«Despesasqualificáveisincorridasparadesenvolvero
ativoprotegidopelapropriedadeindustrialȎmajoradoem30%,tendocomo
limiteomontantedas«Despesastotaisincorridasparadesenvolveroativopro-
tegidopelapropriedadeindustrial».
25
4.1ÂmbitoSubjetivo
Encontram-sehabilitadasparabeneficiardesteregimefavoráveltodosos
sujeitospassivosdeIRC48,consideradosresidentesemterritórioportuguês49,os
sujeitosnãoresidentesqueaquitenhamestabelecimentoestável50,assimcomo
os estabelecimentos estáveis de empresas portuguesas que são sujeitos a im-
postoemPortugal,relativamenteaosrendimentosaquiobtidos,atítuloderoya-
lties,eimputáveisàquele.Ambasaspartes(ocedente,queéquemcedeodireito
dePI,eocessionário,queéaqueleaquemodireitoécedido)terãodeserparte
deumcontratodecessãoouutilizaçãotemporáriadepropriedadeindustrial,que
venhaagerarrendimentostributáveis.Érelativamenteaestesdoisatoresquea
leiestabelecerequisitosquetêmqueseencontrarpreenchidosparaqueoregime
favorávelseaplique.Queristodizerque,oregimenãosófazrecairexigências
sobreobeneficiáriodoregime,mastambémsobreaquelequeobtémodireitode
exploraroativodePI, comvistaaevitarquesegeremsituaçõesdeutilização
destafiguraparaengendrarnumaestruturadeplaneamentofiscalabusivo,com
consequênciasnefastasparaareceitafiscaldecorrentedatributaçãodestesren-
dimentos,talcomoparaaconcorrênciafiscalinternacional,comrespeitopelas
orientaçõesdeOCDEedaEUnestesentido.
48Artigo2°e3°/1/adoCIRC.49Deacordocomon°3doartigo2°doCIRC,consideram-seresidentesaspessoas
coletivaseoutrasentidadesquetenhamsedeoudireçãoefetivaemPortugal.50Artigo4°,n°2doCIRC.OconceitodeEstabelecimentoEstávelencontra-sede-
finidonoartigo5°doCIRCcomo“qualquerinstalaçãofixaatravésdaqualsejaexercidaumaatividadedenaturezacomercial,industrialouagrícola”.Conceitoesteaprofundadonoartigo14°,n°7:“instalaçãofixaatravésdaqualumasociedadeexerce,notodoouemparte,asuaatividadesujeitaaimposto,aoabrigodaconvençãoparaevitaraduplatri-butação,ounasuaausência,aoabrigododireitonacional”.Nomesmoartigo,noseunú-mero14,alíneac),ofereceumaoutradefiniçãodentrodocontextodaDiretivaJuroseRoyalties.
26
4.1.1Requisitosrelativosàpessoadocedente
ParaalémdosrequisitosdoregimegeraldetributaçãoemsededeIRC,
sobreapessoadocedente,queéaentidadequebeneficiadaisençãoparcialpre-
vista legalmente, cai ainda a obrigação de dispor de registos contabilísticos51
atravésdosquaissejafacilmenteidentificávelosgastoseperdasincorridosno
âmbitodoinvestimentoematividadesdeinvestigaçãoedesenvolvimento,paraa
obtençãodorendimento52.
4.1.2Requisitosrelativosàpessoadocessionário
Noâmbitodesteregime,ésobreocessionário,queéaquelesobrequem
recaiodeverdepagaracontraprestaçãonocontratodecessãoouutilizaçãotem-
poráriadeumativointangíveldePI,querecai,commaiorfoco,aatençãodole-
gislador.Oquevaideencontroaosobjetivosdoincentivofiscalàexploraçãodos
rendimentosprovenientesdeI&D53edeumaconcorrência fiscal internacional
saudável,apartirdeumrespeitoconstantepelosprincípiosorientadoresuniver-
saisqueabrandamofenómenodaerosãodebasesedeslocaçãodorendimento
tributável.
51Oartigo123ªdoCIRCvemimporaobrigaçãodeasempresasdisporemdecon-
tabilidadeorganizada,quepermitaocontrolo,porpartedaautoridadetributária,dolu-crotributável.Nesteartigoencontramos,domesmomodo,osrequisitosespeciaisase-remobservados.Paraumestudomaisaprofundadodotratamentocontabilísticodosati-vosintangíveis,consultarCastro(2016).
52Aexigênciarelativaaregistoscontabilísticosclaroseorganizadosfiguraentre
olequederequisitosdeaplicaçãodoregimenaalíneae),don°3doartigoemanálise.Esterequisitojustifica-sepelofatodeseresteomeiomaisfidedignodedemonstraçãodasituaçãofinanceiradaempresa,tendoemcontaqueécombasenasinformaçõesfor-necidasanívelcontabilísticoqueédeterminadoolucrotributáveldasempresas,comasnecessáriasadaptaçõesaoDireitoFiscal.Oscálculosrelativosaorendimentoquebene-ficiarádoregime,queestudaremosmaisà frentenestetrabalho,serãoefetuadoscombasenestesregistos.
53DeacordocomadefiniçãooferecidaporMendonça(2015,p.13),“estesincen-tivospremeiamessencialmenteoscasosdesucesso,ouseja,aI&Dquejáoriginouumnovoativo,umnovoconhecimentoequejáseencontraemfasedeexploraçãoerentabi-lização”.FiguradistintadosincentivosàsatividadesdeI&D,queincentivaacriaçãodenovosintangíveiseainvestigaçãopropriamentedita.
27
Comotal,paraqueaentidadelicenciadatenhaodireitodebeneficiardo
regimerelativamenteaosrendimentosdePI,aoutrapartedocontrato,ocessio-
nário,teráquerespeitarosváriosrequisitosplasmadosnoregimelegalemes-
tudo.Comotal,aleifiscalexigequeesteutilizeodireitocedido,naprossecução
deatividadesdenaturezacomercial,industrialouagrícola54equenãosejaresi-
dentenumpaís,territórioouregiãoondeusufruadeumregimeclaramentemais
54Artigo50°-A,número3,alíneabdoCIRC.
28
favorável,constantedalistaexplanadanaPortariaN.º345-A/2016,de30dede-
zembro5556.Estesterritóriosencontram-seexcluídosdoâmbitoespacialdeapli-
caçãodoregimeemanálise,vistoque“têmcomocaracterísticacomumanãoin-
cidênciade impostosobreorendimentodepessoascoletivas,cujocapitalseja
55Estalista,comnaturezadefensiva,noâmbitodalutacontraaevasãoeafraude
fiscalaonívelinternacional,vemalteraraPortarian°150/2004,de13defevereiro,al-terada,em2011pelaPortarian°292/2011,de8denovembro,queeliminoudaenume-raçãoaRepúblicadoChipreeoLuxemburgo,eprocedeuàpublicaçãodalistadoscomu-mentedenominados“paraísosfiscais”ouoffshores,previstanoartigo63°-DdaLGT,eli-minandodestaaIlhadeJersey,IlhadeManeoUruguai.Estaalteração,econsequenteeliminaçãodestesdaenumeração,foipossíveldevidoàsuaadesãoaoFórumGlobalso-breTransparênciaeTrocadeInformaçõesparaefeitosFiscais;àassinaturadeAcordosdeTrocadeInformaçõesemMatériaFiscal,comPortugalem2010porpartedaIlhadeJerseyedaIlhadeMan,earealizaçãodeumaConvençãoparaevitaraDuplaTributaçãoePreveniraEvasãoFiscalemMatériadeImpostossobreoRendimentoesobreoPatri-móniocomoUruguai.Porultimo,aassinaturadeumAcordoMultilateraldasAutorida-desCompetentesparaTrocaAutomáticade InformaçõesdeContas Financeiras, cele-bradoaoabrigodaConvençãorelativaàAssistênciaMutuaemMatériafiscaldaOCDE(SANTOS, 2017, http://expresso.sapo.pt/economia/2017-01-04-Autoridade-Tributa-ria-atualiza-lista-negra-dos-offshores).DeacordocomasociedadePLMJ,outrosterritó-rios,queaindaconstamda lista,preenchemosrequisitoselencadosnopreâmbulodaPortaria,porissoserádeesperarquefuturamentesejamigualmenterevogados.Nase-guinte tabela, retiradadositehttp://www.plmj.com/xms/files/newsletters/2017/Re-visao-lista-paraisos-fiscais-fiscal.pdf, , publicada por aquela sociedade, constam essesmesmosterritórios:
Jurisdições ExistênciadeATIouCDT
TrocaAutomáticadeInformação
Avaliação GlobaldoFórum
Guernsey ATI* 2017 LargelyCompli-ant
Gibratar ATI 2017 LargelyCompli-ant
IlhasCayman ATI 2017 LargelyCompli-ant
IlhasVirgensBritâ-nicas
ATI* 2017 LargelyCompli-ant
SantaLúcia ATI 2018 LargelyCompli-ant
Bermudas ATI 2017 LargelyCompli-ant
HongKong CDT 2018 LargelyCompli-ant
SanMarino CDT 2017 LargelyCompli-ant
*OsreferidosATIencontram-seemprocessodenotificação.56Listaconstantedoanexo1.
29
detidopornãoresidenteseexerçamexclusivamenteasuaatividadeforadoter-
ritórioemquestão,tambémnãoincindindoviaderegraimpostosobreorendi-
mentonafontesobreosdividendosdistribuídospelossócios”(XAVIER,2014,p.
361).Estamos,pois,perante“benefícios”aplicadosarendimentosdeatividades
semsubstanciaeconómica,oquevaicontraasorientaçõesdaOCDE,osprincípios
tributáriosdefinidosaníveleuropeu,comocontraváriosprincípiosestipulados
constitucionalmenteemPortugal.Comojáaquifoireferido,asempresasrecor-
remcomfrequênciaaestas localizaçõescomopartesdeestruturasdeplanea-
mentofiscal57.Nãocabenopresentetrabalhoumestudoaprofundadodestases-
truturasdeplaneamentofiscal,todavia,paraclarificarejustificarasopçõesnor-
mativasdolegisladorportuguês,éimperativoefetuarumabreveanálisedasmes-
mas.
4.1.3Estruturasdeplaneamentofiscal
Importa,antesdemais,procederàdefiniçãodoconceitoamplodeplanea-
mentofiscalabusivo58,edasvariadasformasqueestepodeassumir,aindaque
deformaresumidaebreve.Assimsendo,fazpartedoconhecimentogeralqueao
contribuinteassisteodireitodeefetuarumplaneamentofiscaldassuasativida-
des,comvistaareduziracargafiscallegitimamente59,comoformadegestãoda
57Podemosprevercomoumadasformasdeplaneamentofiscal,possíveldentro
destamoldura,assublicenças.Noartigo32°,n°9doCPIencontra-seprevistaafaculdade,porpartedocessionário/licenciado,deconcedersublicenças.Queristodizerque,casoolicenciadosejaumaempresalocalizadanumdosparaísosfiscaisconstantesdalistare-ferida,eefetuar,comconsentimentoobrigatóriodo licenciante,umcontratodesubli-cença,passaaatuar,destemodo,comoumaIPHoldingCompany.Questãoessaqueire-mosaprofundardentrodotópicoem4.1.3.
58ConsultaroDecreto-Leinº29/2008,de25defevereiro,queentrouemvigora
15demaiode2008,paraumaumconhecimentomaisaprofundadodas“medidasdere-forço da eficácia no combate à fraude e à evasão fiscais, designadamentemediante aadopçãodemedidasqueestejamemlinhacomasmelhorespráticaseuropeiaseinter-nacionais”,relativasaoplaneamentofiscalabusivoouagressivo.Deacordocomaalíneaa9, do artigo 3º, deste diploma legal, planeamento fiscal diz respeito a “qualquer es-quemaouactuaçãoquedetermine,ouseesperequedetermine,demodoexclusivooupredominante,aobtençãodeumavantagemfiscalporsujeitopassivodeimposto”.
30
empresa.Estedireitotemcomolimitealeifiscal,oquenelaversa,eemúltima
instância,oabusodedireito60.Oqueseencontraparaalémdestalinhadelimita-
dora,assumiráanaturezadeplaneamentofiscalabusivo,oqual,porsuavez,po-
deráassumira formade fraude fiscal, fraudeà lei fiscal61, talcomoevasão62e
elisãofiscal63.Palma(2015)vemdefinirasviasexistentesparaevitaroudiminuir
acargafiscal:
59AtesedefendidaporPALMA(2015,pp.126),vaideencontroaoqueaquiafir-
mamos.Deacordocomaautora,“oplaneamentofiscalnãoé,emsimesmo,umatoilícito,masdepoupançafiscal,degestãotributária,atravésdoqualocontribuinteprocuraobterumavantagem fiscal” (p.126).Estamosperanteumdireitoqueassentano “principioconstitucionaldaliberdadedeiniciativaeconómica”(61º,nª1daCRP).
60 Nas palavras de SILVA (2006, p.791-832), (https://portal.oa.pt/comunica-
cao/publicacoes/revista/ano-2006/ano-66-vol-ii-set 2006/doutrina/joao-nuno-cal-vao-da-silva-elisao-fiscal-e-clausula-geral-anti-abuso/), o abuso de direito assume, nodireitofiscal,umadasformasdeelisãofiscal.Dentrodocampodalicitudefiscal,existemsituaçõesemque,apesarnãoseverificarofatodesencadeadordaaplicaçãodasnormasfiscais,ocomportamentoemquestãopodenãoserformalmentecontráriosàlei,noen-tantooresultadoalcançadoserá,desuaparte,idênticoaoqueaquelavisaimpedir.Nes-tescasos,encontrar-nos-emosnocampodaelisãoouevitaçãofiscal,que,deacordocomoautoraquireferido,podeassumira formadesimulação, fraudeà leie,no limite,deabuso de direito. Para além das cláusulas especiais anti-abuso, a cláusula geral anti-abuso,explanadanoartigo38°daLGTassumeumpapelpreponderantenocombateaestaspráticasecomolimiteàliberdadeeautonomiadoscidadãosquandoasopçõesdosmesmossejamanómalasedeterminadasporfinsfiscais.
61SaldanhaSanchesdelimitaambososconceitos: “teremosde falaremfraude
fiscalsemprequeencontremosumcomportamentoqueviolaumqualquerdeverdeco-operaçãodocontribuinteedefraudeàleifiscalparaoscomportamentosquetorneiemoucontornamaleifiscalsemqueexpressamenteainfrinjam.”(SANCHES,2000).On°1,doartigo103°doRGITdefineoconceitodefraudefiscalcomo“ascondutasilegítimastipificadasnopresenteartigoquevisemanãoliquidação,entregaoupagamentodapres-taçãotributáriaouaobtençãoindevidadebenefíciosfiscais,reembolsosououtrasvan-tagenspatrimoniaissuscetíveisdecausaremdiminuiçãodasreceitastributárias”.
62Aocontrariodoquesucedecomafraudefiscal,naevasãofiscal“ofactotribu-
táriodesencadeadordaaplicaçãodanormadetributaçãonãoseverifica,peloqueaobri-gação fiscal não chega a nascer. Consequentemente, não podemos perspetivar uma“fuga”aoimposto,poiseste,rigorosamente,nuncafoidevido”(SILVA,2006,p.791-832,https://portal.oa.pt/comunicacao/publicacoes/revista/ano-2006/ano-66-vol-ii-set-2006/doutrina/joao-nuno-calvao-da-silva-elisao-fiscal-e-clausula-geral-anti-abuso/).
63Nocontextodeatuaçãoplurilocalizadadasempresas,oconceitodeelisãofiscal
internacional,assenta,naspalavrasdeXAVIER(2014,p.352-353),“numduplopressu-posto:aexistênciadedoisoumaisordenamentostributários,dosquais,umoumais,seapresentamfaceaumadadasituaçãoconcreta,comomaisfavoráveisqueooutroouou-
31
a)intralegem,quandoapoupançafiscaléexpressaouimplicitamente
queridapelolegisladorqueestabelecenormasnegativasdetributação;
b)extralegemapoupançafiscalocorreatravésdautilizaçãodenegócios
jurídicosquenãoestãoprevistosnasnormasdeincidênciasfiscal;
c)contralegem–evasãofiscalnosentidoamplo.
Comoestudaremoscommaispormenornopresentetrabalho,osrendi-
mentosprovenientesdaexploraçãodeativosdepropriedadeintelectual,assu-
memadenominaçãoderoyalties.Estessãoacontrapartidapagapelo licencia-
mentodaPIe“representamuminstrumentoprivilegiadodeplaneamentofiscal
internacional” (Pinheiro, 2014), devido às suas característicasmuitopróprias.
Nestecontexto,surgem,entreoutrasestruturasdeplaneamentofiscal,asdeno-
minadasIPHoldingCompanies(IPHoldCo),empresasque,pornorma,encontram-
selocalizadasemparaísosfiscais,ouempaísesquedetenhamumarededeCDT`s
favorávelaestesesquemas64,tendocomofonte,quaseexclusiva,derendimento
osroyalties,pagosporempresaslocalizadasemoutrospaísescomcargasfiscais
maispesadas.Daíqueasentidadeslicenciadas,residentesemparaísosfiscais,se
encontremexpressamente excluídasdo âmbitode aplicaçãodo regimePatent
Box 65.Namaiorpartedoscasos, estasempresasencontram-se inseridasnum
tros;afaculdadedeopçãoouescolhavoluntáriapelocontribuintedoordenamentotri-butárioaplicável”.Poroutrolado,noâmbitointerno,eaindadeacordocomomesmoautor,aelisãofiscalcorrespondeà“práticadeactoouconjuntodeactos,noâmbitodaesferadeliberdadeconcedidaaosparticularespeloprincípiodalegalidadeoutipicidadedatributação,equetêmcomoefeitoaaplicaçãoderegimetributáriomenosonerosodoqueseaplicariasemquetalactoouconjuntodeactostivessesidopraticado”.
64 Referimo-nos ao comumente denominado pela doutrina comoTreaty Shop-
ping.65Normasespeciaisanti-abuso,semelhantesàspresentesnoartigoemestudo,
comoaalíneac),don°3,proliferamnalegislaçãofiscalportuguesa.Comoexemplotemosaalíneae),donúmero1doartigo51°doCIRC,relativoàeliminaçãodaduplatributaçãoeconómicadelucrosereservasdistribuídos.Normasessasquevisam“preveniroure-primirobtençãodedeterminadasvantagensfiscais”,inseridasnossistemasapósaveri-ficaçãodeumaconstanteecontinuadacondutaerróneaporpartedosatoresdacenajurídico-fiscal,procurando,destaforma,“combateraelisãofiscalouplaneamentoabu-sivo”.PalavrasutlizadasporCourinha(2009),relativasaumoutroassunto,talcomoevi-dênciaotituloatribuídopelomesmoaotexto,masquetêmaplicaçãoanalógicaaoestudoaquilevadoacabo.
32
gruposociedades,comasquaismantêmumaligaçãodiretaouindireta,permi-
tindo,destemodo,odesviodelucrosatravésdadeduçãodosvalorespagosatí-
tuloderoyaltiespelassociedadescessionárias,para,aoabrigoderegimescomo
aquelequeaquisubmetemosaescrutínio,seremtributadasemapenas50%na
esferadaentidadecedente66.
3.1.4Relaçõesespeciaisnoâmbitodoregime
ConstanolequedosrequisitosdeaplicaçãodoPatentBox,naalíneac),do
nº3,doartigo50°-AdoCIRC,que,paraqueosrendimentosdepropriedadein-
dustrial seencontremhabilitadosparabeneficiardo tratamento favorávelpor
partedaautoridadefiscalportuguesa,ocessionárionãopoderáfornecerbensou
serviços,frutodaexploraçãododireitoquelheécedido,àentidadecedente,ou
outraempresaquecomestaseencontrenumarelaçãodegrupo67,osquaisorigi-
nemgastosfiscalmentededutíveis68naesferadeuma,oudeoutra.
66Aestruturadeplaneamento fiscalabusivoaquiexplicadaéapenasumadas
muitashodiernamenteutilizadaspelasempresas,umadasmaisbásicas,vistoquecomalegislaçãoemvigoremPortugalenoutrospaíses,revelam-seineficazesnestecampodeatuação.
67«Existeumgrupodesociedadesquandoumasociedade,ditadominante,de-
tém,diretaouindiretamente,pelomenos,75%docapitaldeoutraououtrassociedadesditas dominadas, desde que tal participação lhe confiramais de 50%dos direitos devoto.”(numero2doartigo69°CIRC).Quandoaparticipaçãoouosdireitosdevotoemquestãosãodetidosdeformaindireta,apercentagemefetivaéobtidaatravésdopro-cessodemultiplicaçãosucessivadaspercentagensdetidasemcadaumdosníveiseoresultadodasomadaspercentagensdasparticipaçõesoudireitosdevototraduzaper-centagemefetivadasparticipaçõesoudireitosdevoto,talcomodefineon°6.ParaumanoçãomaisaprofundadadoconceitoeregimedosgruposdesociedadesverOLIVEIRA(2016)eANTUNES(1993).Esteconceitoabarcanãoapenasos“gruposdedireito”,pre-vistosnoCódigodasSociedadesComerciais,TítuloVI,sobaepígrafe“SociedadesColiga-das”,relativamenteaosquaisseverifica“umadireçãoeconómicaunitáriaresultantedeuminstrumentoexpressamenteprevistonalei”(Oliveira,2016),comoaqueles“gruposdefacto”que,muitoemboranãopreenchaoconceitolegaldegrupodesociedades,veri-fica-se,paraalémdeumarelaçãodedomínio,umadireçãoeconómicaunitária.ParaumareflexãoaprofundadasobreestadistinçãoconsultarAntunes(1993,pp.23-29),e,numasemelhante,masatual,visão,Oliveira(2016,pp.25-31).
33
Comoédenotar,arelaçãodegrupoassume,nesteâmbito,extremarele-
vância.Antesdemais,importareferirqueumgrupodeempresas,deacordocom
adefiniçãooferecidapelon°3,doartigo69°doCRIC,abarcaumconjuntodeca-
racterísticaspróprias,quevãoparaalémdoqueseencontraprevistonoDireito
dasSociedadesComerciais,tendoemcontaaextremarelevânciadestafigurano
contextodosimpostos.Aqueleartigovemdefiniro“Regimeespecialdetributa-
çãodosgruposdesociedades”69,deacordocomoqual,adeterminaçãodolucro
tributáveldeumgrupoempresarialéefetuadaatravésdolucroconsolidado,que
porsuavezsetraduz,deacordocomoartigo70°doCIRC,“nasomaalgébricados
lucrostributáveisedosprejuízosfiscaisapuradosnasdeclaraçõesperiódicasin-
dividuaisdecadaumadassociedadespertencentesaogrupo”.Assim,mesmoque
osresultadosdautilizaçãodosdireitosdePIcedidospelaempresaproprietária
doativoemquestão,nãosematerializememgastosdedutíveisnaesferadesta,o
factodeistoseverificarnaesferadeumaoutrasociedade,comaqualestaseja
partenumgrupo,osefeitosqueolegisladorpretendeuevitarcomaimposição
desterequisito,verificar-se-iam,mesmoqueindiretamente.Contudo,estarestri-
çãoaplicar-se-áapenasquandoseverifiqueaexistênciaderelaçõesespeciais70
68Gastosfiscalmentededutíveis,reconduzem-sea“todososgastosouperdasin-
corridosousuportadospelosujeitopassivoparaobterougarantirosrendimentossujei-tosaimposto”,elencadosnasvariasalíneasdon°2doartigo23°doCIRC.
69ODireitoFiscalreconheceuarelevânciadestapersonagem,queapesardenão
lhe ser reconhecidapersonalidade jurídica, vistoqueas empresaspartedo complexomantêmasuapersonalidadejurídicaindividual,nãodescurandodaunidadeverificadanoâmbitodadireçãoeconómicadogrupo,efetuadapelaempresadita“mãe”,nomundoempresarial,eassuasconsequênciasparaoquadrojurídico-fiscal,eabraçouoconceitode“gruposdesociedades”.EspelhodissomesmoéapublicaçãodoDecreto-Lein°414/87de31dedezembro,queintroduziuoregimedetributaçãodestafigurajurídicapeloseulucroconsolidado,adotando,nasuaversãoatualizada, lugarnoCIRCnoartigo70°.Odireitocontabilísticoengendrounestatendênciaem1991,comaentradaemvigordoDecreto-lein°238/91,de2dejulho,versãoatualizadapeloDecreto-lein°35/2015de17defevereiro,introduzindoafiguradaconsolidaçãodecontasnoâmbitodestadisciplina,atualmentepresentenoSistemadenormalizaçãoContabilística,naNormadeContabi-lísticadeRelatoFinanceiron°15,sobaepigrafe“InvestimentosemSubsidiáriaseCon-solidação”.
70Existemrelaçõesespeciaisentreduassociedadesquandoumatemopoderde
exercer, de forma direta ou indireta, uma influência significativa de gestão da outra,sendoqueoartigo63°/4elencatodasassituaçõesqueseverificaestevinculoentreen-tidades.
34
entreolicenciadoealicenciante,ouentreesteeumaempresaqueseencontre
integradanumgrupodeempresascomaquela,deacordocomadefiniçãodocon-
ceitoemapreçopelonº4doartigo63º71.
Segue-seumaesquematizaçãodoqueaquidescrevemosparaumamelhor
compreensãodosignificadodesta“circularidadedegastos”queolegisladorpor-
tuguês procurar evitar com a exigência de preenchimento deste requisito. Na
Fig.1,AéaentidadecedenteeBaentidadecessionária.OdireitodePIpassapor
B,“transformando-se”emroyaltiesefornecimentodebenseserviçosnaesfera
daentidadeA,sendoqueopreçopagoporestesúltimos,irágerarnestaumgasto
dedutível.NaFig.2,surgeaentidadeC,queseencontranumarelaçãodegrupo
comA,eadquirebenseserviçosfornecidosporB,decorrentesdasuaexploração
doativocedidoporA.Nestesegundocaso,apesardeosgastosnãoseremdireta-
mentededutíveisnaesferadeA,72,asociedadecedenteacabaporbeneficiarin-
diretamentecomestefluxo,aoabrigodoartigo70ºdoCIRC.
Fig.1CircularidadedeGastosnocicloderelaçõesentrecedenteecessio-
nário.
71“Considera-sequeexistemrelaçõesespeciaisentreduasentidadesnassitua-
çõesemqueumatemopoderdeexercer,diretaouindiretamente,umainfluenciasigni-ficantenasdecisõesdegestãodaoutra.”Estaidentificaçãofoiintroduzida,nasuareda-çãoinicialpelaLein°30-G/2000de29dedezembro.
72Artigo70ºdoCIRC.
AcededireitodePI
Bexploraodireito
Royaties+Benseserviços
Apagapreço
preçodedutível
35
Fig.2Circularidadedegastosnocicloderelaçõesentrecedenteecessio-
nárioeumaterceiraentidaderelacionadacomocedente.
Donossopontode vista, oque seprocura evitar comestanormaanti-
abusoéestadenominada“circularidadedegastos”.OtitulardaPIestará,dentro
destequadrodeoperações,apagarpelosefeitosdautilizaçãodoseuprópriodi-
reitocedido.Comotal,paraalémdebeneficiardeumatributaçãofavorável,ao
abrigodoregimeemestudo,quantoaosroyaltiesrecebidosatítuloderemune-
raçãoporpartedocessionário,poderáaindadeduzirosgastosefetuadosatravés
daaquisiçãodebense serviços à entidade cedente, resultantesdaexploração
dessemesmodireitodePI.Tendoemcontaqueestamosperanteaaquisiçãode
bensouserviçosqueaprópriaentidadecedentepoderiaproduzirdentrodasua
esfera,obtendorendimentoatravésdaexploraçãododireitoporeladesenvol-
vido,ecriadoatravésdeinvestimentosavultadoseexposiçãoaosriscosnormais
domercado.Dentrodestalinhaderaciocínioémanifestoovaziodejustificação
económicadestefenómenocirculatório,sendoaindamaismanifestoquandove-
rificadonoâmbitodeumarelaçãoespecial.Quer-nosparecerque,diantedetal
estruturaempresarialedefluxosfinanceiros,estaríamosperante,antesdemais,
deumesquemadeplaneamentofiscalabusivo,que,nanossaopinião,epensamos
quetambémolegisladorseorientounestesentido,assumiráestescontornosno
seiodeentidadesentreasquaisexistealgumtipoderelaçãodecontrolo,tendo
emcontaque,dentrodestecontexto,aobtençãodevantagensnoâmbitofiscal
sãodemaisfácilacesso.
AcededireitodePI
Bexploraodireito
BenseserviçosC
pagapreço
lucroconsolidado
36
Paraalémdoexposto,cremosqueaquestãodospreçosdetransferência73,
também teve influência significativa sobre a análise e decisão do legislador.
Tendo em conta que é no desenvolver destas relações que aqui descrevemos,
sendopatenteofactodeestarmosperanteaproblemáticadafixaçãodevalores
noquetocaaosativos intangíveis,quese levantamgrandepartedasquestões
relativasà“transferência indiretade lucros”.Esta“pressupõeumadivergência
entreopreçoefetivamenteestipuladoeopreço“justo”,“normal”ou“objectivo”,
entendendo-seporeste,oqueseriafixadoentreempresasindependentes,atu-
andoemcircunstânciasanálogas(arm’slenghtprice,cláusuladealingatarm’sle-
ght)”(XAVIER,2014,p.432).Oprincipiodo“arm’slenght”74,evocadoporesteau-
tor,encontraconsagraçãonaleiportuguesanonº1doartigo63ºdoCIRC75,na
Portaria1446-C/2001,de21dedezembro,queversasobreospreçosdetransfe-
rêncianasoperaçõesefetuadasentresujeitospassivosdeIRSoudoIRCequal-
queroutraentidade,assimcomooartigo9ºdaConvençãoModelodaOCDE,ado-
tadaquasenaintegranasconvençõesrealizadasporPortugal.
73Nasoperaçõescomerciais,bemcomonasoperaçõesfinanceiras,entreumsu-
jeitopassivoeumaoutraentidade,que,comaquele,estejaemsituaçãoderelaçõeses-peciais, é expressamenteexigidopeloordenamentoportuguês,noartigo63°,n°1doCIRC, que sejam contratados, aceites e praticados os termos e condições substancial-menteidênticosaosqueseriamcontratados,aceitesepraticadosentreentidadesinde-pendentes,nummesmocontexto.
74Aaplicaçãodoprincipiodo“arm’slenght”,oudaplenaconcorrência,temcomo
funçãoestabelecerumtratamentofiscalequiparado,entreempresasintegradasemgru-posinternacionaisplurilocalizadas,eempresasindependentes,assimcomoneutralizaralgumaspráticasdeevasãofiscalreconhecidas,parasalvaguardarabasetributávelin-terna.
75Esteprincípionormativotemumâmbitoterritorialilimitado,queristodizer
que,aocontráriodemuitasoutrasnormaspresentesnosistemafiscalportuguês,“ore-gimeemapreçoéaplicávelqueraoperaçõesmeramenteinternas,realizadasentreresi-dentesesujeitosapenasàjurisdiçãoportuguesa,queraoperaçõesmultinacionais,emqueumdoscontratantesnãoéresidente,implicandoasujeiçãoa,pelomenos,duasdasjurisdiçõesnacionaisdiferentes”,deacordocomALBUQUERQUE,PauloF.C.M.(2015).PreçosdeTransferência.InJ.R.Catarino&V.B.Guimarães(coord.),LiçõesdeFiscalidade(pp.167-197).Almedina.Estaopçãolegalvemrealçarofactodequecertasdecisõesin-ternas,têmconsequênciasexternas,eque,comotal,existemcertosprincípioslegaisquesedevemestenderparaalém-fronteiras,deencontroaointeressedetodososEstadosenvolvidos.DaíqueotrabalhodaOCDEnoâmbitodoBEPSvenhachamaraatençãoparaestasquestões.
37
ParasublinharestapreocupaçãoporpartedosGovernos,noâmbitodos
ativos intangíveis, refira-se que, na definiçãodo conceito de royaltiesadotado
pelaOCDE,naConvençãoModeloparaevitaraDuplaTributação,noartigo12º,
estavemdizerque,“quando,devidoarelaçõesespeciaisexistentesentreodeve-
doreobeneficiárioefectivodasroyaltiesouentreambosequalqueroutrapes-
soa,omontantedasroyalties,tendoemcontaousoeodireitoouasinformações
pelasquaissãopagas,excederomontantequeseriaacordadoentreodevedore
obeneficiárioefectivo,naausênciadetaisrelações,asdisposiçõesdesteArtigo
aplicar-se-ãoapenasaesteúltimomontante”.Nestecaso,oexcessopodeconti-
nuarasertributadodeacordocomalegislaçãodecadaEstadocontratante,tendo
emcontaasoutrasdisposiçõesdestaConvenção”.É,pois,nodesenrolardestas
relaçõesespeciaisentrecedente,ouempresaterceirarelacionada,eocessioná-
rio,quemaisfacilmentenosiremosdepararcomcasosdeutilizaçãodepreçosde
transferênciaparaobtençãoindevidadelucros.
Aquestãodospreçosdetransferênciaassumerelevânciatal,tantonoqua-
dronacional, como internacional, queumadasaçõesdoprojetoBEPS, já aqui
mencionado,sedebruçasobreestatemática.Aação8,vem,entreoutros,sugerir
umaatuaçãoconjuntadosEstadosnaaplicaçãodoprincípio“arm’slenght”,defi-
nindoque“theprinciplerequiresthattransactionsbetweenassociatedenterpri-
ses76arepricedasiftheenterpriseswereindependent,operatingatarm’slenght
andengagingincorporatetransactionsundersimilarconditionsandeconomiccir-
cumstances”77.Comotal,aaplicaçãodesteprincipiobaseia-senacomparaçãodas
condiçõesqueseriamestabelecidasentreduasentidadesnãorelacionadas,com
aquelasquesãoacordadasentreentidadesrelacionadas.Estaoperaçãoteóricaé
efetuadaatendendoaofactoqueentidadesnãorelacionadas,aoavaliarostermos
76“Twoenterprisesareassociatedifoneoftheenterprisesparticipates,directlyor
indirectly,inthemanagement,control,orcapitaloftheotherorif“thesamepersonspar-ticipatedirectlyorindirectlyinthemanagement,control,orcapital”ofbothenterprises”(OECD,2017).
77“Thekeyquestioniswhetertheactualtransactionpossessesthecommercialra-
tionalityofarrangementsthatwouldbeagreedbetweenunrelatedpartiesundercompa-rableeconomiccircumstances.”OECD(2)(2015).
38
deumapossíveltransação,terãoemlinhadecontaasopçõesdisponíveiseopta-
rãoporefetuá-laapenasnassituaçõesemqueestafigurecomocomercialmente
maisvantajosaerentável,deentreasopçõespossíveis.
Estaquestãolevantaproblemas,tantoparaasempresas,comoparaasad-
ministraçõesfiscais,aoníveldaspolíticasadotadaseaonívelprático:“atthepol-
icylevel,countriesneedtoreconciletheirlegitimaterighttotaxtheprofitsofatax-
payerbaseduponincomeandexpensesthatcanreasonablybeconsideredtoarise
withintheirterritorywiththeneedtoavoidthetaxationofthesameitemofincome
bymorethanonetaxjurisdiction.Atapracticallevel,acountry’sdeterminationof
suchincomeandexpenseallocationmaybeimpededbydifficultiesinobtainingper-
tinentdatalocatedoutsideitsownjurisdiction”78.
Concluímos,portanto,quepoderãosurgirabusoseaocorrênciadaerosão
dabasetributáriodentrodoquadrodesituaçõesanalisados.Aempresacedente
poderiautilizarodireitoporeladesenvolvidoparaobtervantagensfiscaisilegí-
timas,lançandomãoderelaçãoespeciaiscomoutrasempresasparaobterlucro
edeturpartodooobjetivodesteregime.
4.2TipologiadeativosdePropriedadeindustrial
OregimePatentBoxportuguêsprevêqueapenasosrendimentosprove-
nientesdecontratosqueincidamsobredireitosdepatentesoudesenhosemo-
delosindustriais,sãoeleitosparabeneficiardoincentivoestatal79.Importa,por-
tanto,delimitarcadaumadestasfigurasdepropriedadeindustrial.
78OECD(2017).79 Esta opção legal, justifica-se, entre outras, pela adoção das orientações da
OCDEnoâmbitodoprojetoBEPS,ação5.Deacordocomesta,sobosdesígniosdo“Mo-difiedNexusApproach”,apenasaspatenteseosativosdePIfuncionalmenteequivalentes,quesãoprotegidoslegalmenteesujeitosaumprocessodeaprovaçãoeregisto,sãocon-sideradoscomoqualificáveisparabeneficiardoregime,excluindodolequedeativosele-gíveisosativosdePIrelacionadoscommarketing(comoasmarcas).Opçãoestareafir-madanodocumentodaOECD(1)(2015,p.5).
39
Aatribuiçãodeumdireitodepropriedadeindustrialtraduz-senumaex-
ceçãoaoprincípiodaliberdadeconcorrencial,vistoque,comreconhecimentole-
galdeumdireitoexclusivodeexploraçãodaquelainovação,passaaexistirum
monopóliodeexploraçãonaesferadotitulardessedireito.Estalimitaçãodali-
berdadedeconcorrênciadeterceirosemrelaçãoaosujeitotitulardodireito,tem
comoobjetivoprimárioodeestimularodesenvolvimentoeoprogressotécnico,
atravésdagarantedeumaproteçãolegaldoinvestimentofeitoparadesenvolver
ecriaroativoprotegidoergaomnes,assumindoanaturezaderecompensapelo
esforçofinanceiroeeconómicoinvestidopelosujeitoeconómico.
Importaagoradefinircadaumdestesdireitoscomtempladospeloregime.
4.2.1Patentes
Umapatentedeinvençãoé,naspalavrasdePedroSousaeSilva80,“umtí-
tuloqueconfereumdireitoexclusivo81deexploraçãodeuminvento”,quepode
consistirnumprodutonovo,umprocessonovodeobtençãodeumprodutoou
umanovautilizaçãodeumproduto.Deacordocomadefiniçãooferecidapelo
EuropeanPatentOffice,umapatenteé“alegaltitlethatgivesinventorstheright,
foralimitedperiod(usually20years),topreventotherfrommaking,usingorsell-
ingtheirinventionwithouttheirpermissioninthecountriesforwhichthepatente
hasbeengranted”82.
Odireitodepatenteatribuíaoseutitularoexercícioexclusivodeumaati-
vidadeeconómicadeexploraçãodainvenção,paraqueestepossaobteraremu-
neraçãodoinvestimentofeito83,mastambémvemprotegerosinteressesdaso-
ciedade,vistoqueexigequeessedireitosejaexplorado,proporcionandoafruição
80SILVA,PedroSousa(2011p.43).81Deacordocomoartigo101º,nº1doCPI,odireitoconferidopelapatenteéum
direitopositivoeexclusivoderealizar,utilizarecomercializaroproduto,procedimentoouusopatenteado.
82http://www.epo.org/service-support/glossary.html.
40
dasvantagensda invençãoporpartedacomunidade84.NaóticadeLuísCouto
Gonçalves(2015,p.38)“osistemadepatentesvemrespondendo,emgeral,com
maissegurança,eficáciaeequilíbrioaosinteressesessenciaisempresença:oes-
timulodaatividadeinventiva,adifusãodoconhecimento,odesenvolvimentoda
ciênciaedatecnologiaeaproteçãodotitulardapatente.”
OInstitutoNacionaldePropriedadeIndustrialenumeraasvantagenscon-
feridascomaproteçãodasinvençõesatravésdoinstitutodapatente,deentreas
quaisconstaavalorizaçãodoesforçofinanceiroeoinvestimentoemcapitalhu-
manoeintelectualutilizadoeagarantiadapossibilidadedetransmitirouceder,
atravésdelicençasafavordeterceiros,odireitoconcedido.
4.2.2DesenhosouModelos
Osdesenhosoumodelosindustriais85tambémfazempartedosdireitosde
propriedadeindustrialeosrendimentosobtidosatravésdasuaexploraçãoen-
contram-seelencadosnoregimeemestudo86.
83NaspalavrasdeSilva(2011,p.51)“afunçãodapatenteconsisteemassegu-
raraoinventorapossibilidadedeesteextrairdomercadoaremuneraçãodoseues-forçocriativo,pondo-otemporariamenteaoabrigodaconcorrência,noexercíciodasuaatividadeeconómicadeexploraçãodoinvento”.
84“Themostimportantobjectivebehindpatentingistopreventthirdpartiesfrom
exploiting the related invention. However, strategic patenting seems increasingly im-portantandmayalsoprovidesignaltorivals,potentialnegotiation,reputation,butalsoincentivesforR&Demployeesandthemeasurementofperformance”(ALSTDSAETERetal.,2015,p.7).
85 Os desenhos oumodelos industriais, que, de acordo com Gonçalves (2015,p125)têm“finalidadepráticaeconcorrencial”,sãodistintosdosdesenhosemodelosar-tísticos,cujafinalidadeépuramenteestéticaenãoutilitária.
86DeacordocomorelatóriodaOCDErelativoàAção5doprojetoBEPS(OCDE(3),
2015),apenasaspatentes,definidasamplamenteeoutrosativosdePIquepartilhemdasmesmascaracterísticasdaspatentes(novidade,atividadeinventiva,suscetibilidadedeaplicaçãoindustrial),comoosoftwareprotegidopordireitosdeautor.Nesteultimocaso,ondeseincluemosdesenhosemodelosindustriais,comexceçãodosoftware,asjurisdi-çõesqueatribuembenefíciosdentrodestacategoriadeativosdePI,deverãonotificaroFHTPefornecerinformaçõessobreoregimelegalaplicável,onúmerodecadatipodeativo incluído nesta terceira categoria, o número de contribuintes que beneficiamdomesmoeototaldorendimentoobtido.
41
Adefiniçãolegaldestetipodedireitosencontra-seplasmadonoartigonú-
mero173ºdoCPI87como“aaparênciadatotalidade,oudeparte,deumproduto
resultantedascaracterísticasde,nomeadamente,linhascontornos,cores,forma,
texturaoumateriaisdopróprioprodutoeasuaornamentação”.Queristodizer
queodireitoexclusivoincidesobreoaspetoexteriordoproduto,enãosobreo
produtoemsimesmoconsiderado. Aproteçãoconcedida temaduraçãode5
anos,renováveisatéaomáximode25anos88,econcedeodireitoexclusivode
exploraroobjetodoregistoeimpedirasuautilizaçãoporterceiros89,comode
transmitiroucederasuautilização90.
4.3TipologiadeRendimentos
Oregimedoartigo50º-AdoCIRCéaplicávelaosrendimentosprovenien-
tesdaexploraçãodeativosdepropriedadeindustrial,nomeadamentepatentese
desenhosoumodelosindustriais,atravésdecontratos,cujoobjetoseidentifique
comumacessãoouutilizaçãotemporáriadosdireitosdepatentesoudedesenhos
oumodelosindustriais,assimcomoaosrendimentosprovenientesdaobrigação
extracontratualquenascedaviolaçãodeumdireitodesteâmago.
NoâmbitodocontratodecessãodedireitodePI, caberáao licenciado,
comocontrapartidadodireitodeexploraroativodepropriedadeindustrial,o
pagamentodeumaremuneração,consideradacomorendimentotributávelem
sededeIRC,naesferadocedente,sendoesta“asuaprincipalobrigaçãocontra-
tual”91,queassumeadenominaçãoderoyalties.
87(ASCENSÃO&VICENTE,2013)88Artigo201ºdoCPI.89Artigo203ºnúmero1doCPI.90Artigo31ºnúmero1doCPI.91(SOUSA,2010,p.37)
42
Importadefiniresteconceitoderendimentodeexploraçãodedireitosde
PI,anaturezaqueassumeeoscontornosdoregimenesteâmbito,dentrodeuma
análisedoquadronormativoedoutrinaldosvárioselementosqueestãodireta
ouindiretamenterelacionadoscomoconceitoderoyalties.
4.3.1LicençadeExploração
Osdireitosdepropriedade intelectual,devidoàsuanaturezaessencial-
mentepatrimonial,e“enquantodireitossubjetivosprivadosabsolutos”92,podem
serobjetodeexploraçãoeconómica,atravésdetransmissãooucessão.Estafa-
culdade93atribuídaaotitulardedireitoindustrial,deexploraroseudireitode
formaexclusiva,ecomoconsiderarmaisvantajoso,prende-secomaideiadere-
compensapeloinvestimento,tantofinanceiro,comointelectualecriativo,feito
pelocriador94.Apesardapossibilidadedeobterrendimentosatravésdepropri-
edadeindustrial,objetodenegóciosjurídicosvários,oregimelegaldoPatentBox
contemplaapenasosrendimentosprovenientesdecontratosdelicença.Esta,por
suavez,consistenum“negóciojurídico,normalmenteatitulooneroso,peloqual
otitulardeumdireitodepatenteautoriza,temporariamente,umaoutrapessoa,
àexploraçãoeconómica,totalouparcial,quernoplanoobjectivo,quernoplano
geográfico,dodireitodepatentedequeétitular”95.Oobjetodestenegóciojurí-
dicotraduz-seno“usoouexploraçãodeumdireitoprivativoindustrialtalcomo
emergedorespetivoregime”96.Ocontratopoderáserrealizadojánapendência
92(MARQUES,2008,p.18)93Faculdadeessaqueconsistenofactodeotitulartransmitiroucederoseudi-
reitodepropriedadeindustrialencontra-selegalmenteprevistanoartigonº31doCPI,paraastransmissões,enoartigo32ºparaaslicenças.Ocontratodetransmissãoincidirásobreapropriedadedodireito,enquantoqueocontratodelicençatemcomoobjetooseuusooufruição.
94(SOUSA,2009/2010,p.9).95(GONÇALVES,2014,p.113).96(SOUSA,2010,p.18).
43
dopedidoderegisto,deacordocomoartigo32ºnº2doCPI,tendoemcontaque
estepedidoconfereumaproteçãoprovisóriaaorespetivorequerente(artigo5º
doCPI).
Dentrodacategoriadecontratosdelicençadedireitosdepropriedadein-
dustrial,temosduassubcategorias:aslicençasvoluntáriaseaslicençascompul-
sóriasouobrigatórias,cujosconceitospassamosadelimitar.
LicençasVoluntárias
As licençasvoluntárias já foramaquipornósdefinidas.Consistemnum
contratoemqueolicencianteautorizaogozoeaexploraçãodoseudireitoao
licenciado,assumindo,destemodo,umcaráctervoluntário,estecontratonasce
davontadedaspartes.CitandoadefiniçãooferecidaporMarques(2008),“ali-
cença(voluntária)exprimeeéfrutodeumnegóciojurídico,peloqualotitular
(ouorequerentedeumdireitodepropriedadeindustrialou,ainda,ousufrutuá-
rioourepresentantedotitular)deumdireitodepropriedadeintelectualautoriza,
temporariamente(aindaquepor todoo tempodevigênciadoexclusivo),uma
outrapessoaaexerceratotalidadeousomentealgumasdasfaculdadesjurídicas
singularesdeutilizaçãoeconómicaínsitasaodireitointelectualouindustrialde
queseétitular”.
Licençascompulsóriasouobrigatórias
Poroutrolado,aslicençascompulsóriasouobrigatórias97,aindanaspala-
vrasdeMarques(2008),“sãoautorizaçõesconstitutivasheterónomas–emitidas,
entrenós,peloInstitutoNacionaldePropriedadeIndustrialoupeloGoverno(nos
casosemqueaconcessãosebaseiaemmotivosdeinteressepúblico98)e,noutros
97Artigo107ºdoCPI:“1-Podemserconcedidaslicençasobrigatóriassobreuma
determinadapatente,quandoocorreralgumdosseguintescasos:a)Faltaouinsuficiên-ciadeexploraçãodainvençãopatenteada;b)Dependênciaentrepatentes;c)Existênciademotivosdeinteressepúblico.”
44
ordenamentosjurídicos,pelostribunais-,pelasquaisobeneficiáriodalicença,
sem o concurso da vontade do titular dos direitos de propriedade industrial,
passaapoderexercertodas,oualgumas,dasfaculdadesinerentesaorespetivo
estatuto,deacordocomascondiçõesdeexploraçãoimpostaspelareferidaenti-
dadeadministrativa(oujudicial)competente”.Oelementocaracterizadordeste
tipodelicençasé,portanto,aausênciadevontadedotitulardodireitodepropri-
edadeindustrialnarealizaçãodesteatojurídico99.
Aslicençasobrigatórias,sobreumadeterminadapatente,podemsercon-
cedidasquandoseverifiqueafaltaouinsuficiênciadeexploraçãodainvenção;
dependênciaentrepatentes;motivosdeinteressepúblico(artigo107º/1doCPI).
Relativamenteapatentescujoobjetoconsistaemtecnologiadesemicondutores,
sópoderãoserobjetodeatojurídicodelicençacompulsóriaquandoseverifique
umanecessidadepúblicaenãocomercial(artigo107º/5doCPI).
Como contrapartida, o titular do direito receberá uma remuneração100,
quepoderáounãoseradoseuvalordemercado,dependendodoscasos,sendo
queestadecisãoé suscetívelde recurso judicialouarbitral (artigo107º/7do
CPI).Noentanto,comonãosetratadeumcontrato,vistoqueestãoausentesas
característicastípicasdestafigurajurídica(“caráctervoluntárioeautonomiada
vontadedo titulardodireitoprivativo industrial”101).Assimsendo, fundamen-
tandoaatribuiçãodobenefícionaletradalei,osrendimentosauferidosaoabrigo
destalicençacompulsória,nãobeneficiamdoregimedoPatentBox.Todavia,não
podemosteremlinhadecontaapenasaletradalei,háqueanalisaroespíritoda
98Artigo110ºdoCPIDE2008.99Nãosetratarádeumnegóciojurídico,“umavezquenãoseverificaocarácter
voluntário nem a autonomia da vontade do titular do direito privativo industrial”(SOUSA,2010,p.16).
100Artigo107º/6doCPI.NoacordoTRIPS/ADPIC,noartigo31º,encontramosumanormaquesalvaguardatambémosinteressesdoprópriotitulardodireito,quenãodeveráverosseusdireitosdeexploraçãonormaldapatente,oumodelodeutilidade,limitadosdeformainjustificável.Ideiaqueteráinteressepráticonoquetocaaorendi-mentoquelheseráatribuído,sendoque,apenasemcasosmuitoexcecionais,équesedeveráatribuir-lheumaremuneraçãoinferioraumpreçojusto,sejadevalordemercadooueconómicododireito.
101SOUSA(2009/2010,p.16).
45
lei,e,nestecaso,oespiritodaleiémaisamplodoqueapróprialetra.Nãoestare-
mos,nestecaso,perantearealizaçãodeumencontrodevontades,noentanto,o
titulardodireitoreceberácomocontrapartidaumaremuneração,queassumea
naturezaderoyalties,deacordocomasdefiniçõeslegaisoferecidas.Comotal,na
nossaopinião,tambémorendimentoobtidoatravésdacessãonãovoluntariade
direitodePIdevebeneficiardotratamentofavorávelaquiemestudo.
4.3.2ViolaçãodoDireitodePropriedadeIndustrial
Osdireitosdepropriedadeindustrialsãodireitosexclusivos102e,comotal,
sãooponíveisergaomnes,assistindoaoseutitularumdireitodeimpedirasua
violaçãoedeexigir,casoestaseverifique,pelaviajudicial,aindemnizaçãolegal-
mentedevidapelosdanossofridos.NoCPI,noseucapituloIII,vemreguladoo
processorelativoaosilícitoscriminaisecontraordenacionaiscometidosatravés
daviolaçãodeumdireitodePI,e,dentrodas“medidaseprocedimentosquevi-
samgarantirorespeitopelosdireitosdepropriedadeindustrial”,encontramos
previstaafiguradaindemnização,noartigo338°-L.Estepreceitolegalprevêque
aviolaçãoilícitadeumdireitodepropriedadeindustrialalheio,origina,naesfera
dolesante,umaobrigaçãodeindemnizarolesadopelosdanosresultantesdessa
atuação.Estareparaçãodosdanoscausadosdeveráserefetuadaemdinheiro103.
Nocálculodestemontanteindemnizatórioemdinheiro,étidoemcontaolucro
obtidopeloinfrator,paraalémdosdanosemergenteselucroscessantessofridos,
talcomoestabelecidopelaDiretiva2004/48/CE,doParlamentoEuropeuedo
102Aexclusividadedosdireitosindustriaisvemreconhecidalegalmentenoartigo
1°doCPI.NaspalavrasdeMonteiro(2012,p.24),“osdireitosintelectuaissãodireitosexclusivos,gozandoosseustitularesdopoderdeimpedirasuaviolaçãooucontinuaçãodamesma,edereclamaraindemnizaçãopelosdanossofridos.Sãooponíveisergaomnes,podendootitulardodireitoemquestãoopor-secontratodosequalquerumqueoviolar,independentementedeestaviolaçãoserdolosaoudiligente.”.Estetrabalhoaprofundaestaquestão,comooutrasrelacionadascomotema.Paraumestudomaisdetalhadodes-tas,eoutrasquestõesrelacionadascomatutelapenaldosdireitosdePropriedadeIn-dustrial,comoasuafundamentaçãolegaledoutrinal,ostiposdecrimesprevistoslegal-mente,oseupapelnaordemjurídicaesocial,consultarMENDES(2012).
103Artigo566°doCódigoCivil.
46
Conselho,de29deabrilde2004104enaLei16/2008,de1deabril,quetranspôs
adiretivaparaoordenamentojurídicoportuguês,noreferidoartigodoCPI.
Apesardeapenasarelaçãoextracontratualserpassíveldegerarumavio-
laçãododireitodePropriedadeIndustrial,otitulardeumdireitodepropriedade
industrial“poderáinvocarosseusdireitosconferidospeloregistocontraolicen-
ciadoqueinfrinjaqualquercláusula,oudisposiçãodocontratodelicença”105.To-
davia,nocasodeviolaçãocometidapelolicenciado,aoabrigodarelaçãocontra-
tual,verificar-se-ãosituaçõesemqueseránecessárioprocederaumaseparação
dosatosquedesrespeitemcláusulascontratuais,equegeremresponsabilidade
civilcontratual,daquelesqueextrapolamestelimite,efiguramjácomoviolações
típicasdodireitodePropriedadeIndustrialpropriamentedito,dentrodoqualo
titulargozadeumatutelacontraordenacionalepenal106doseudireito.Istonão
afastaapossibilidadedeolicenciantereagir judicialmentecontrao licenciado,
impedindoqueesteutilizeodireitocedidocontratualmente,quandooseucom-
portamentoassumaoscontornosdeumaviolaçãodoprópriodireitoindustrial,
passíveldedesencadeararesponsabilidadeextracontratualdolicenciado107.
104Noartigo13°,sobaepigrafe“IndemnizaçãoporPerdaseDanos”,prevêeste
regime,estabelecendoquenadeterminaçãodomontanteindemnizatório,devemserti-dosemcontaoslucroscessantes,sofridospelapartelesada,oslucrosindevidosobtidospeloinfrator,paraalémdospossíveisdanosmorais.
105Artigo264ºdoCPI.106Noanode2002,foiconcedidoaoGovernoautorizaçãoparalegislarsobreas
matériasdedireitoindustrial,atravésdaLein.º17/2002de15dejulho,daAssembleiadaRepública,aoabrigodaqualfoiaprovadooCódigodaPropriedadeIndustrial,pelaLein.º16/2008,de1deabril,noqualfoiincluído,nosartigos316°eseguintes,atutelapenalecontraordenacionaldestatipologiadedireitos.Estatutelapenalentraemcenanosca-sosemquealesãodobemjurídicofundamental,“ouseja,interessessociaiseindividuaisjuridicamentereconhecidosemvirtudedoespecialsignificadoqueassumemparaaso-ciedade”,atuandosempreemultimaratio.Oscrimesdepropriedadeindustrial,previs-tosnoartigo321°a329°doCPI,visamgarantirousoexclusivoeaexploraçãododireitoindustrialporpartedoseutitular,mas,paraalémdisso,visamtambém,deformaindi-reta,adefesadoconsumidor,justificando-sedestemodoocruzamentododireitodePro-priedadeIndustrialcomaleipenal.
107NestesentidoMINATTI(2013,pp.12613-12669,http://www.cidp.pt/publi-
cacoes/revistas/ridb/2013/11/2013_11_12613_12669.pdf).
47
Osmontantesrecebidos,atituloindemnizatório,pelotitulardeumdireito
de propriedade industrial violado ilicitamente, assumem a natureza de rendi-
mento,tributávelemsededeIRC108.Nestemontanteencontram-seincluídosos
valoresrelativosalucroscessantesdolesado,oslucrosobtidosindevidamente
pelo lesanteeosdanosmoraisemateriaiseventualmentesofridos.Deacordo
comon.°2doartigo51°-A,tambémestesvalores,queapesaremdenãoassumi-
remanaturezaderemuneraçãodevidanumcontratodecessãoouutilizaçãotem-
poráriadedireitodepropriedadeindustrial–royalties-,sãolegalmenteequipa-
radosaestese,comotal,concorremparaadeterminaçãodolucrotributávelem
apenasmetadedoseuvalor.
4.3.3Royalties
Comojáaquifoidito,osroyaltiessãoacontrapartidanocontratosinalag-
mático,decessãoouutilizaçãotemporáriadedireitodepropriedadeindustrial,
obtidapelocedentepelacessãodoseudireitoexclusivo.
Esteconceitoassumeextremarelevânciaanívelnacional,mastambéma
níveleuropeu,noseiodaUE,eanível internacional, emorganizaçõescomoa
OCDE,comotal,importadesdejá,exporasváriasdefiniçõesdesteconceito,ado-
tadasaosváriosníveis.
O artigo 12º número 2 da ConvençãoModelo daOCDEdefine royalties
como“asretribuiçõesdequalquernaturezaatribuídaspelousooupelaconces-
sãodousodeumdireitodeautorsobreumaobraliterária,artísticaoucientífica,
incluindoosfilmescinematográficos,deumapatente,deumamarcadefabrico
oudecomércio,deumdesenhooudeummodelo,deumplano,deumafórmula
oudeumprocessosecreto,ouporinformaçõesrespeitantesaumaexperiência
adquiridanosectorindustrial,comercialoucientífico”(sublinhadonosso).
TambémnoCIRCpodemosencontrarumadefiniçãodesteconceitonoar-
tigo14º,número14,alíneab,como“asremuneraçõesdequalquernaturezare-
cebidasemcontrapartidadautilização,ouconcessãododireitodeutilização,de
108Alíneai),don.°1doartigo20°doCIRC.
48
direitosdeautorsobreobrasliterárias,artísticasoucientíficas,incluindofilmes
cinematográficos e suportes lógicos, patentes,marcas registadas, desenhosou
modelos,planos,fórmulasouprocessossecretos,ouemcontrapartidadeinfor-
maçõesrelativasàexperiênciaadquiridanodomínioindustrial,comercialouci-
entíficoe,bemassim,emcontrapartidadautilizaçãooudaconcessãododireito
de utilização de equipamento industrial, comercial ou científico” (sublinhado
nosso).
EncontramosdefiniçãosemelhantenaDiretiva2003/49/CEdoConselho,
de3dejunhode2003,queversasobreamatériadepagamentodejuroseroyal-
tiesefetuadosentre sociedadesassociadasdeEstados-Membrosdiferentes,no
seuartigo2ºalíneab.Royaltiessão“asremuneraçõesdequalquernaturezare-
cebidasemcontrapartidadautilização,ouconcessãododireitodeutilização,de
direitosdeautorsobreobrasliterárias,artísticasoucientíficas,incluindofilmes
cinematográficos e suportes lógicos, patentes,marcas registadas, desenhosou
modelos,planos,fórmulasouprocessossecretos,ouemcontrapartidadeinfor-
maçõesrelativasàexperiênciaadquiridanodomínioindustrial,comercialouci-
entífico;serãoconsideradosroyaltiesospagamentosefetuadosemcontrapartida
dautilizaçãooudaconcessãododireitodeutilizaçãodeequipamentoindustrial,
comercialoucientífico”(sublinhadonosso).
Asdefiniçõesacolhidasnosdiferentesdiplomas legais,sãomuitoseme-
lhantes,concluindo-sequeapenasautilizaçãoouconcessãododireitodeutiliza-
çãodedireitosdePI,sãopassíveisdegerarestatipologiaderendimento.Porsua
parte,osrendimentosobtidospormeiodatransmissãodedireitosdeproprie-
dadeindustrial,nãosequalificamparaaplicaçãodoregimeemestudo,vistoque
assumemanaturezademais-valias.Atransmissãodeumdireitoopera-seatravés
deumcontratodetransmissãodedireitodepropriedadeindustrial,operando-se
automaticamenteeporefeitodomesmo,asaídadodireitodaesferajurídicado
titularqueodesenvolveu,eneleinvestiu,eumapossívelsaídadesteativodoter-
ritório português. Esta dinâmica iria contra os objetivos do regime, dos quais
constaoobjetivodecativarefixarrendimentoempresarial.
Osrendimentosauferidospelocedenteatítulodeprestaçõesacessórias
incluídasnocontrato,nãoserãocontabilizadoscomorendimentoselegíveispara
49
aplicaçãodoregimefavorável,comoroyalties,portanto.DeacordocomoN.º4,
doartigo51°,estesdeverãoserautonomizadosdosrendimentosqueprovenham
docontratodecessãooudeutilizaçãotemporáriadodireitodepropriedadein-
dustrial109.Istoverifica-seapesardeemdiversasdasConvençõesparaEvitara
DuplaTributação(CDT)estenderem“àqualificaçãoderoyalty”ospagamentos
relativosàassistênciatécnicaprestadaemconexãocomousoouconcessãodo
usodosdireitos,bensouinformaçõesreferidasnoartigo12º”110daConvenção
ModelodaOCDE(XAVIER,2014,p.702).Noscasosemqueasimplestransmissão
dodireitonãosejasuficienteeplenaeantes,aindanaspalavrasdomesmoautor,
“exijacomplementarmenteumaatividadedeprestaçãodeserviços,permanentes
ouperiódicos,pelaqualainformaçãotecnológicasejaplenamentecolocadaàdis-
posiçãodo cessionário”, ocorreráumaprestaçãode serviços complementares,
com caracter de “assistência técnica” (p. 704). Nomesmo sentido argumenta
Mendonça(2015),defendendoque“ocaráter inovadorealtamente técnicode
determinadostiposdeintangíveispoderáobrigaraqueaentidadefornecedora
de I&D necessite de providenciar formação à entidade adquirente”, formação
essaquepoderáatémesmoassumirumpapeldefatordeterminantedaeficiente
transmissãodainformaçãoematerialrelativoaodireito.Nanossaopinião,eado-
tandoaspalavrasdeMendonça(2015)paraaexprimir,aopçãodolegisladorfoi
adeevitarqueestesvaloresobtidosatitulode“prestaçõesacessóriasdeservi-
ços”fossemutilizadoscomvistaa“maximizarosseusrendimentostributáveis
emsededePatentBoxatravésdainclusãodosrendimentosobtidoscomainsta-
laçãoe formação relativosao intangível”. Isto levariaaqueobeneficioobtido
109Nocontextodocontratodecessãode“know-how”,que“temporobjetoatrans-
missãodeinformaçõestecnológicaspreexistentesenãoreveladasaopúblico,emsimes-masconsideradas”(Xavier,2014).
110EstatemáticadeestudosurgenaobradeAlbertoXavier,todavianocontexto
deumoutrodireitointangível,o“know-how”.Apesardasváriascaracterísticasquedis-tinguemestafiguradafiguradaspatentes,desdelogoasuanãosujeiçãoaregisto,emtantasestasfigurasaproximam-se,comoofactodefigurarumativointangívelreconhe-cidodasempresase,comotal,serpassíveldeexploração,atravésdocontratodeknow-how,que“temporobjetoatransmissãodeinformaçõestecnológicaspreexistentesenãoreveladasaopúblico”.Comodireitoqueé,épassíveldegerarrendimentostributáveis.Assim,decidimosadotaralgumasdasconclusõesdoautornesteâmbito,eefetuarumaaplicaçãoanalógicaaosdireitosdepropriedadeindustrialemestudo.
50
atravésdoregimefossedesproporcionadoemrelaçãoàsatividadesdeI&Dleva-
dasacabo.
4.3.4Fórmulaparaobtençãodomontanteparaaplicaçãodaisençãopar-
cial
Daleituradanorma50º-A,épossívelconcluirqueexisteumapreocupa-
ção,porpartedolegislador,nosentidodefazercorresponderobenefíciofiscal,
obtidopelosujeitopassivo,comapercentagem,traduzidanoquantitativodein-
vestimentoefetuado,deatividadeslevadasacaboparaobteroativoexplorávele
rentável,comrespeitopeloespíritoeobjetivodaatribuiçãodesteincentivofiscal.
Osroyalties,que,comojáreferimos,encontram-sesujeitosatributação,
pordefiniçãodaleifiscal111.Todavia,aoabrigodoregimePatentBox,beneficiam
deumaisençãoparcialdeimposto,vistoqueapenas50%dorendimentoobtido
aestetítuloserásujeitoatributação.Há,noentanto,queprocederaajustamen-
tos,comvistaàobtençãodapercentagemderoyaltieselegívelparabeneficiardo
regime,proporcionalaosgastosefetuadosematividadedeI&Dpelosujeitopas-
sivo.
Comotal,edeacordocomanormalegalemestudo,omontantederendi-
mentoeleitoparabeneficiardaisenção,obtém-seatravésdocálculodaseguinte
equação112: rendimentos e os ganhos auferidos no período de tributação em
causa,menosos“gastosouperdasincorridosousuportados,nessemesmoperí-
ododetributação,pelosujeitopassivoparaarealizaçãodeatividadesdeinvesti-
gaçãoedesenvolvimentodequetenharesultado,ouquetenhambeneficiado113,
111Alínead),don.º1doartigo20°doCIRC.112Rendimentos/ganhosnoanoN–gastos/perdasnoanoN=matériacoletável.113Ocritérioaquiadotadoparadistinguirosgastoseperdasquesãodedutíveis,
daquelesquejánãooserão,édistintodocritériodefinidonoregimegeraldededuçãodegastoseperdasdoartigo23°doCIRC.Enquantoqueaqui,apenassãotidosemcontaosgastoseperdasresultadodarealizaçãodeatividadesdeinvestigaçãoedesenvolvi-mentodequetenharesultado,oubeneficiado,odireitodePIaoqualéimputáveloren-dimento,noregimegeral,éadotadoumcritériomaisgenérico,eapenasserãodedutíveis
51
odireitodepropriedadeindustrialaoqualéimputávelorendimento"114.Aeste
resultado,serásubtraídoosaldonegativoacumuladoentreosrendimentosega-
nhosrelativosacadadireitodePI,eosgastoseperdasincorridoscomarealiza-
çãodeatividadesdeI&Dparaorespetivodesenvolvimento,registadosnosperí-
odosdetributaçãoanteriores115.Queristodizerqueaorendimentotributável116,
serãodeduzidos,paraalémdosgastoseperdassofridosreportáveisacadaano
fiscal,individualmenteconsiderados,osgastoseperdassuportadospelosujeito
passivo,nodecorrerdoperíododecriaçãodoativo,ematividadesdeinvestiga-
çãoedesenvolvimento,períododuranteoqualosrendimentosobtidossãopra-
ticamente inexistentes. O investimento efetuado antes da criação do próprio
ativo,edarealizaçãodocontratodecessão,será,destemodo,tidoaquiemconta.
Olucrotributável,traduzir-se-á,portanto,novalorresultantedasubtra-
ção,aosrendimentoseganhos,dosgastoseperdasincorridos117,noperíodoem
osgatoseperdasincorridosousuportadosparaobterougarantirosrendimentossujei-tosatributação.Todavia,apesardestadissimilitudedeconceitos,averdadeéqueestesacabamporsignificaretraduzirumamesmaideia,adequecertosinvestimentos,efetu-adosporpartedosujeitopassivo,revelam-seindispensáveisàobtençãoderendimento,nointeressedapessoacoletiva.Relativamenteaoconceitodeindispensabilidadeeare-centeadoçãodenovasregrasnotocanteadedutibilidadedegastos,consultarMARTINS(2016,p.292-297).
114Número6 do artigo 50°-AdoCIRC.A parte dos rendimentos sujeita a IRC
(50%)serátributadaàtaxanormalde21%;deacordocomoestabelecidonoartigo87°,n°1doCIRC.Noentanto,existeparaaspequenasamédiasempresas,nostermosprevis-tosnoanexoaoDecreto-Lein°372/2007,de6denovembro,queexerçam,diretamenteeatituloprincipalumaatividadeeconómicadenaturezaagrícola,comercialouindus-trial,umataxareduzidade17%aplicávelaosprimeiros15000eurosdematériacoletá-vel.
115Deacordocomon°7doartigo50°-AdoCIRC.116Esterendimentotributávelreporta-seàtotalidadedeganhosauferidosati-
tuloderoyalties,pelosujeitopassivo,numdeterminadoanofiscal.117“Paraadeterminaçãodolucrotributável,sãodedutíveistodososgastoseper-
dasincorridosousuportadospelosujeitopassivoparaobterougarantirosrendimentossujeitosaIRC”(n°1doartigo23°,queversasobreosgastoseperdasdedutíveis).Estanormadecorredoprincípiodacapacidadecontributiva,que,atendendoaofactodeosimpostosseremumaprestaçãounilateral,eaoprincípiodaigualdade,ditaquecadasu-jeitopassivoapenascontribuanamedidadasuacapacidadeeconómica.Estacapacidadeeconómica,oucontributiva,afere-setendoemcontaorendimentoglobale liquidodosujeitopassivo.“Osimpostosdevem,assim,comtemplardeduçõesobjetivas,correspon-dentesàsdespesasquepossamrazoavelmenteconsiderar-senecessáriasàangariação
52
causa,resultadoaoqualserásubtraídoosaldonegativoacumuladonodecorrer
dasatividadesdeI&D,efetuadasparadesenvolveroativodePI,registadasnos
períodosanteriores.
Apenasposteriormenteàobtençãodoresultadodestaequação,équese
procedeàaplicaçãodo51°-A,n°1,doCIRC,quesujeitaatributaçãoapenasme-
tadedorendimentoprovenientedestescontratos.
Exemplo:
A,empresaresidenteemPortugal,cedeaB,residenteemEspanha,odireitode
propriedadeindustrial,registadonodia1desetembrode2016,atravésdeumcontrato
decessão,comefeitosapartirdo1dejaneirode2017,atravésdoqualBsecompromete
apagaraA100000euros,todososanosatitulodecontraprestação.Aefetuou,emati-
vidadesdeI&Dparaacriaçãodoativo,entre2014e2016,50000euros.Assim,aos100
000eurosauferidosporAnoanode2017,serãodeduzidosos50000euros,relativosa
despesasdeI&D,eaesteresultado,de50000euros,aplica-seataxade50%.Logo,be-
neficiarádoregimePatenteBoxumtotalde25000euros,quenãoserãosujeitosatribu-
tação.
Asdeduçõesaorendimentotributáveldequeosnúmeros6e7possibili-
tamaosujeitopassivobeneficiar,encontram,non°8,umteto.Estelimiteestabe-
lecidotraduz-senomontanteresultantedadivisãodasdespesasqualificáveispe-
lasdespesastotais.Oresultadoassimobtido,multiplicadopelo“rendimentototal
derivadodoativodeIP”,apuradonostermosdosnºs6e7,éposteriormentemul-
tiplicadopor0.50.
Despesasqualificáveissãotodasaquelasqueforam“incorridasparade-
senvolveroativoprotegidopelaPI.Correspondemaosgastoseperdas118,incor-
ridosousuportadospelosujeitopassivo,comatividadesdeinvestigaçãoedesen-
volvimentoporsirealizadas,dequetenharesultado,oudosquaistenhabenefi-
dorendimentoequenaturalmenteserãodistintasconformeasuanatureza”(VASQUES,2011,p.2519).
118Ogastoseperdaselegíveisparaadeduçãoàmatériacoletávelencontram-seelencadosnoartigo23°doCIRC.
53
ciado,odireitodepropriedadeindustrialemcausa,bemcomoosrelativosàcon-
trataçãodetaisatividadescomqualqueroutraentidade,comaqualnãoesteja
emsituaçãoderelaçõesespeciais”119.
Omontanteapuradocomo“despesasqualificáveis”,sofrerá,poraplicação
doregime,umamajoraçãoem30%,atéaolimitedas“despesastotais”.Esteup-
lift,previstonanormaemestudo,naalíneab),donº9,vaiprovocarumaumento
domontantedasdespesasconsideradasqualificáveis,masapenasnaextensão
dasdespesastotaisincorridaspelosujeitopassivo120.Deacordocomasorienta-
çõesdaOCDEnesteâmbito,opropósitodestebenefícioemfavordosujeitopas-
sivo,éodeassegurarqueo“modifiednexusapproach”nãopenalizeexcessiva-
menteossujeitospelaaquisiçãodePI,ouporrecorreraentidadesterceirasrela-
cionadasparadesenvolveratividadesdeI&D(outsourcing).Vemaindagarantir
que,deacordocomoespiritodoincentivofiscal,ossujeitospassivosapenasre-
cebambenefícioscasoelesprópriostenhamrealizadoatividadesdeI&D,reco-
nhecendoqueaquelequeadquirePIourecorreaentidadesterceirasrelaciona-
das,nodesenvolvimentodeumaproporçãodeatividadesdeI&D,devemperma-
necerresponsáveisporgrandepartedovalorcriadoquecontribuiuparaaobten-
çãodorendimentodePI(OECD(3),2015,p.28).Estabenessevemprotegeras
empresasquejáseencontravamabeneficiardeumregimefavoráveldePIeque
poderãosofrerumareduçãonomontantederendimentoelegívelparabeneficiar
doregime,dadoqueasdespesasefetuadascomI&Ddevem,deacordocomonexo
proposto,serreduzidas,incluindoaprópriaempresadetentoradodireito.Para
119Nostermosdon°4doartigo63°doCIRC.120Esteup-liftconstadasrecomendaçõesdaOCDE,noâmbitodoprojetoBEPS,
ação5,doqualextraímososeguinteexemplo:“osujeitopassivoincorreuelepróprionomontantede100emdespesasqualificáveis,incorreuemcustosdeaquisiçãonovalorde10,epagou40emdespesasdeI&Daumaparterelacionada.Omontanteinicialdedes-pesasqualificáveisé100,eotetodoup-liftde30(i.e.100x30%).Osujeitopassivosópoderáaumentarovalordassuasdespesasqualificáveisate130casoassuasdespesastotaissejamiguaisousuperioresa130.Omontantedasdespesastotaiscorrespondea150, logooup-liftpodesubiromontantededespesasqualificáveispara130.Orendi-mentodePIirá,daquiemdiante,sermultiplicadopor130/150(ou86.7%)”(traduçãonossa).(OECD(3),2015,pp.27).
54
alémdisto,poderiaexporasempresasacustosdereestruturaçãodentrodosgru-
posdeempresas,atendendoaofactodequemuitosdelesdetêmempresasquese
dedicamaI&D,comvistaareteremosseusbenefíciosfuturos.Alémdeque,édo
consensogeralquedesconsiderarqualquerdespesaefetuadanoâmbitodeuma
aquisiçãodeativodePItrariaconsequênciasnegativasnomundodasdecisões
comerciais.IremosaquiexpordoisexemplosoferecidospelaOCDE121parame-
lhorpercebermosestaquestão:
Exemplo1:
Empresa-mãeincorreem“despesasqualificáveis”de100
Empresa-mãeincorreemcustosdeaquisiçãodeativodePIde10
EmpresasubsidiáriaincorreemdespesasdeI&Dde40
• Montantemáximodeup-lift:100x30%=30
• Totaldasdespesas,incluindoapercentagemlimitedeoutsourcing
e
custosdeaquisiçãodePI=130
Exemplo2:
Empresa-mãeincorreem“despesasqualificáveis”de100
Empresa-mãeincorreemcustosdeaquisiçãodeativodePIde5
EmpresasubsidiáriaincorreemdespesasdeI&Dde20
• Montantemáximodeup-lift:100x30%=30
• Totaldasdespesas,incluindoapercentagemlimitedeoutsourcing
e
custosdeaquisiçãodePI=125
Nomomentodadelimitaçãoedefiniçãodomontantededespesastotais,
tambémas“despesasqualificáveis”serãoincluídasnesteconceito,vistoqueestas
correspondematodosos“gastosouperdasincorridosousuportadospelosujeito
passivocomatividadesdeinvestigaçãoedesenvolvimentoporsirealizadas”das
quaistenharesultadooubeneficiadoodireitoemcausa,inclusiveos“relativosà
121OECD(1),2015,p.4.
55
contraçãodetaisatividades”aterceiro,comoqualnãoseencontreemsituação
derelaçõesespeciais122,eas“despesascomaquisiçãododireito”123.
4.3.5GastosedespesasefetuadoscomatividadesdeI&D
Adefiniçãolegaldosgastosouperdasincorridosousuportadospelosu-
jeitopassivo,diretamenterelacionadascomatividadesdeinvestigaçãoedesen-
volvimento,assume,nestepontodoestudo,amáximarelevância,vistoque,ape-
sardofactodequeasempresas,nodecorrerdodesenvolvimentoecriaçãodeum
ativodePI,deparam-secomanecessidadedeaplicaçãodecapitalnumvastole-
queheterogéneodedespesas,nemtodasestasserãoconsideradasparafinsda
aplicaçãodesteregime.Queristodizerque,nemtodasasdespesasincorridasse-
rãotomadasemcontanomomentodocálculodafórmuladonº8doartigo51º-A
doCIRC.Onº9,alíneaa),vemdesdelogorestringirestamolduradegastosou
perdasàdefiniçãodegastosouperdasincorridosousuportados,diretamentere-
lacionadoscomainvestigaçãoedesenvolvimento,oferecidapeloartigo36ºdo
CódigoFiscaldoInvestimento,aprovadopeloDecreto-leinº162/2014,de31de
outubro,alteradopelaLeinº7-A/2016,de30demarço.Estediplomalegalvem
122“Thereisabasicpresumptionthatinallcasesofoutsourcingtorelatedparties,
thetaxpayerdoesnotconductsubstantialactivities.”(Shi,2016).123Nestasituação,emqueorendimentoprovémdeumdireitodepropriedade
intelectualquefoiadquiridopelosujeitopassivo,nãopoderãoserdeduzidasosgastosouperdassuportadas,pelomesmo,comatividadesdeinvestigaçãoedesenvolvimentodequetenharesultadoodireitodePI.Todavia,estasdespesas,quandoefetuadasnosen-tidodebeneficiarodireitoaoqualéimputávelorendimento,jápoderãoserdeduzidasvistoqueserãoconsideradascomodespesasqualificáveis.Comotal,apesardeestere-gimesedestinarabeneficiarapenasosrendimentosprovenientesdecontratosdecessãoouutilização temporáriadeumdireitodepropriedade industrial,pelas razõesque jáapontamos,nãodescuradestasoutrassituaçõeseacabaporbeneficiar,deformaindi-reta,nãoosrendimentosprovenientesdaaquisiçãododireito,naesferadotransmitente,masfazcairdentrodoregimeosrendimentosprovenientesdepropriedadeindustrialadquirido,reconhecendocomodespesasqualificáveisaquelasqueosujeitopassivosu-portacomvistaabeneficiaroativo,eincluindonasdespesastotaisasdespesasefetuadascomaaquisiçãodoativo.Assim,estepreceitovemincluirosrendimentosprovenientesdecontratosdecessãoouutilizaçãotemporáriadedireitodepropriedadeindustrialad-quirido,geradorderendimento,noâmbitodoregimequepareciaapenasincluiraquelesrendimentosprovenientesdaexploraçãodeumdireitodePIdesenvolvidopelosujeitopassivo.
56
definirasmatrizeseestabelecer,entreoutros,umconjuntodeincentivosfiscais
àinvestigaçãoedesenvolvimentoempresarial(SIFIDEII),avigorarentre2014e
2020,eénoseuartigo36ºqueencontramosasdespesasa teremcontapara
aplicaçãodoregimeemestudo:
a) “Despesasdeinvestigação,sãoaquelasquesãorealizadaspelosu-
jeitopassivodeIRCcomvistaàaquisiçãodenovosconhecimentoscientíficose
técnicos;”
b) “Despesasdedesenvolvimento,sãotodasaquelasquesãorealiza-
daspelosujeitopassivodeIRCatravésdaexploraçãoderesultadosdetrabalhos
deinvestigaçãooudeoutrosconhecimentoscientíficosoutécnicoscomvistaà
descobertaoumelhoria substancialdematérias-primas,produtos, serviçosou
processosdefabrico.”
Assimsendo,osgastosouperdasdenaturezafinanceira,comojuros,eas
despesasefetuadascomaaquisição,construçãooudepreciaçãodeimóveis,ficam
excluídosdoâmbitodeaplicaçãodo regime,nãosendocontabilizadosnomo-
mentodocálculodaproporçãoderendimentos,emrelaçãoàsdespesasefetuadas
paraaobtençãodomesmo,eleitaparabeneficiardoregime.
Nesteâmbito,afigura-serelevanteadefiniçãodoconceitodeatividadesde
I&D,paraumamelhorcompreensãodasdespesasegastosateremcontanoâm-
bitodesteregime.Anívelinternacional,adefiniçãoatividadesI&Dutilizadaen-
contra-seno“ManualdeFrascati”124:“asatividadesdeinvestigaçãoexperimental
(I&D)compreendemotrabalhocriativodesenvolvidodeformasistemáticatendo
emvistaaumentarabasedeconhecimentos,incluindoconhecimentosobreoho-
mem,aculturaeasociedade,eousodesteconhecimentoparacriarnovasapli-
cações”,poroutro lado,define-seI&Dempresarialcomo“asatividadesdeI&D
desenvolvidasporempresas,organizaçõeseinstituiçõescujaatividadeprincipal
124Estemanualnasceuem1963,emFrascati,Itália,esurgiudareuniãodaOCDE
comosanalistasnacionaisespecialistasnaáreadainvestigaçãoedesenvolvimentoex-perimental.Trata-sedeumdocumentotécnico,mastornou-senabasedeapoiodaOCDEnosentidodefacilitaremelhoraracompreensãodopapeldaciência,tecnologiaeinova-ção através da analise dos sistemas nacionais de investigação e inovação (OECD (4),2015,http://dx.doi.org/10.1787/9789264239012-en).
57
éaproduçãodebenseserviçosparatransacionarparanomercadoaumpreço
económicosignificativo”125.
No“ManualdeFrascati”(OECD(4),2015)podemosencontrarumadeli-
mitaçãodasatividadesque,apesarderelacionadas,nãosãoconsideradascomo
atividadesdeI&D,quepassamosaenumerar:
1. “Serviçosdeinformaçãocientificaetécnica,queincluemasativi-
dade de recolha, codificação, gravação, classificação, disseminação, tradução,
análise,avaliação,levadasacaboporpessoaltécnicoecientifico,serviçosbiblio-
gráficos,serviçosdepatenteamento(nocasodePortugal,oINPI),informaçãotéc-
nicaecientifica,extensãoeserviçosdeconsultoria,conferênciascientificas,de-
verãoserexcluídasdesteâmbito,excetoquandosãoconduzidasunicamentecom
opropósitodesuportedaI&D;
2. Testeseestandardização;
3. Estudosdeviabilidade;
4. Tratamentosdesaúdeespecializados;
5. Estudosrelacionadoscomaspolíticaslegais;
6. Avaliaçõesprogramáticas;
7. AtividadesdepurofinanciamentodeI&D;
8. Atividadesindiretasdeapoio”126.
Éapartirdasatividades,consideradascomoatividadesdeI&D,quedes-
tacaremososgastosedespesasrealizadoscominvestigaçãoedesenvolvimento,
que,comotal,concorremparaadefiniçãodomontantederendimentoeleitopara
usufruirdobeneficiofiscal,daquelasque,apesardepoderemdealgumaforma
contribuirparaodesenvolvimentodoativo,nãosãoconsideradasnocálculoda-
quelapercentagemderendimento.Logo,adefiniçãodasatividadesdeI&Dfunci-
onarãocomoumproxyparaasdespesascomrelevânciaaoníveldoincentivofis-
cal.
125Traduçãodosconceitos,adotadaapartirdaobradeCARVALHO(2006),do
“ManualdeFrascati”relativaàversãopublicadano2002,quesemantêminalterada.126Paramaisumestudomaisaprofundadodestesconceitosedosmétodosde
recolhaeutilizaçãodedadosestatísticosrelativosaatividadesdeI&D,consultar(OECD(4),2015).
58
4.4PapeldasrecomendaçõesdaOCDEnadefiniçãodoregimepreferencial
português:“ModifiedNexusApproach”
OsregimesdePatentBox,quecomeçaramaproliferartantodentrodaEu-
ropa, comonoutros continentes, foramapontadospormuitos comosendoum
meioineficazdealcançaroobjetivopretendido.Istoporqueapenasverificavam-
seefeitosdestesregimesaoníveldalocalizaçãodosativosdePI,atuandoantes
comouminstrumentodeplaneamentofiscal,atravésdoqualasempresasmobi-
lizavamosseusativosdePIpara jurisdiçõesqueoferecessemestetratamento
favorávelderendimentosdePI,semquelevassemacaboatividadessubstanciais
deI&Dnesseterritório(SHI,2016).
Ospreceitoslegaisdedeterminação,atravésdecálculo,domontantede
rendimentoquesequalificaparabeneficiardoregime,foramintroduzidospelo
Decreto-Lein°47,de22deagosto,queveioalteraroregimeintroduzidonoCIRC
em2014,nosentidodeintroduzir,noregimepreferencialdepropriedadeindus-
trialportuguês,asorientaçõesediretrizesadotadasnoâmbitodaOCDEedoG-
20,propostasnoprojetoBEPS(BaseErosionandProfitShifting).
OprojetoBEPSsurgenocontextodeumaconjuntura internacional,no
quetocaàspreocupaçõesporpartedasadministraçõesfiscaisdetodoomundo,
queconvergemnummesmosentido:odecombateraerosãodabasetributáriae
atransferênciadelucrospararegimesclaramentemaisfavoráveis.Preocupações
estasquetêmvozjuntodasorganizações,noseiodasquais,asvariasjurisdições,
incluindoPortugal,colaboramnacriaçãodemedidasderesoluçãodasquestões
queestes acontecimentos económicos e financeiros levantam, tendoemconta
queafetam,commaioroumenorintensidade,todososestadosintervenientes.
Dauniãodeforças,nasce,em2013orelatórioBEPS127.
127OrelatórioBEPSdebruçou-sesobreasquestõesrelacionadascomasestraté-
giasdeplaneamentofiscalutilizadaspelosatoresdaeconomiainternacionalquefazemuso das lacunas e conflitos das leis fiscais para deslocalizar os seus rendimentos, deformaartificial,paraterritóriosqueoferecemumabaixa,ealgunscasosinexistente,tri-
59
Oplanodeaçãoconsistenumconjuntode15ações128,dasquaisaação5,
assumeextremarelevâncianoâmbitodosregimesfavoráveisdetratamentode
rendimentosdepropriedadeintelectual.ÉnoâmbitodestaqueoForumonHar-
mfulTaxPractices(FHTP),secomprometenosentidodemonitorizarereveres-
taspráticasfiscais,dasdiferentesjurisdições,prejudiciaisparaaeconomiaglobal
e para cada Estado, individualmente considerado. O relatório elaborado pelo
FHTP,debruça-sesobreatemáticadaharmonizaçãodalegislaçãofiscalrelativa-
menteaaspetoscomefeitosinternacionais.EsteFórumtrabalhanosentidode
umamaiortransparênciadosregimesfiscaiseumaconstantetrocadeinforma-
ções,talcomosobreaexigênciadesubstânciadasatividades,àsquaissãoimpu-
tadosrendimentosquebeneficiamderegimesfavoráveis129,comooquesubme-
temosaestudoaprofundadonestetrabalho.Estaúltimaexigência,desubstância
dasatividadeseconómicas,devidoaopapelprincipalqueassumedentrodosmé-
todosadotadosparacombateraevasãofiscal,passouaconstarcomorequisito
nosdiferentesregimespreferenciaisvigentesaonívelinternacional,comoobje-
tivoaalinharatributaçãofavoráveldosrendimentoscomasatividadesqueos
geraram.
butação,nosquaisnãolevamacabonenhumaatividadecomsubstanciaeconómica.Mui-tosdestesesquemasnãopodemserconsideradosilegais,vistoquetêmcomobasefalhasdasprópriasadministraçõestributárias.
128NositeoficialdaOCDEépossívelconsultartodaainformaçãosobreoprojeto,comoosprogressosverificadosapósapublicaçãodorelatórioem2013,eosrelatóriosrelativosacadaação,asquaissão,passoaenumerar:“1°adressthetaxchallengesofthedigitaleconomy;2°neutralisetheeffectsofhybridmismatcharrangements;3°strenghtenCFC(ControlledForeignCompanies)rules;4°limitbaseerosionviainterestdeductionsandotherfinancialpayments;5°counterharmfultaxpracticesmoreeffectively,takingintoac-counttransparencyandsubstance;6°preventtreatyabuse;7°preventartifialavoidanceofPEstatus;8°-9°-10°assurethattransferpricingoutcomesareinlinewithvaluecration;11°establishmethodologiestocollectandanalyzedataonBEPQSandtheactionstoadressit;12°requiretaxpayerstodisclosetheiragressivetaxplaningarrangements;13°re-ex-aminetransferpricingdocumentation;14°makedisputeresolutionmechanismsmoreef-fective;15°developamultilateralinstrument”.
129OsregimesfavoráveisdetratamentoderendimentosdePIforamsubmetidos
aoescrutíniodaOCDE/G20edaUEdevidoàalegadaausênciadeconexãoentreosbene-fíciosoferecidoseasatividadesdeI&D,talcomoapontaAlstadsaeteretal.(2015,p.6),“thepatentboxschemescameunderscrutinyoftheEUandOECDbecauseoftheapparentlackoflinkagebetweenthetaxadvantageofferedandthepresenceofresearchorinnova-tionactivity”.
60
4.4.1ModifiedNexusApproach
Nodesenrolardaanáliseeestudo,porpartedoFHTP,surgea“modified
nexusapproach”130 ou abordagemnexusmodificada, desenvolvidano contexto
dosregimesdePropriedadeIntelectual,comoobjetivode“garantirqueosbene-
fíciosfiscaisapenasseaplicamaorendimentoquesurgedaexploraçãodePIe
ondeaatividade I&Dfoi levadaacabopeloprópriobeneficiário”131.Assim,de
acordocomasdiretrizesdaOCDE,osregimesdePI,vigentesefuturamentecria-
dos,devemcondicionarosbenefíciosoferecidosàextensãodasatividadesdeI&D
levadasacabopelosujeitopassivo.Deacordocomestaideia,ocontribuintepara
veroseurendimentodePIbeneficiardatributaçãofavorável,teráqueterincor-
rido,elepróprio,emdespesasegastossuportadascomasatividadesdeI&D,que
levaramàcriaçãodoativointangível.
Estaconclusão,obtidaatravésdoesforçoconjuntodosEstados,unidosna
lutacontraaevasãofiscaleaspolíticasdeconcorrênciafiscalprejudiciais,pro-
cura,poroutrolado,captarrendimentoempresarialeafixaçãodasempresasno
seuterritório,evitandoqueestassedeslocalizemporrazõesligadasaoplanea-
mentofiscal,arrastandocomelasreceitafiscal,postosdetrabalhoe,emúltima
instância,estagnandoodesenvolvimentoeprogressotecnológico.
Oregimeportuguês,seguindoasorientaçõesdaOCDE,talcomoverifica-
mosnopreceitolegalaquiemanálise,utilizaosgastosedespesasefetuadaspelo
130 Este conceito é definido no prefacio do Decreto-Lei n.°47/2016, de 22 de
agosto,quevemintroduzirnoregimeportuguêsaspropostasdaOCDE,comoumaexi-gênciade“conexãodiretaentreobeneficiousufruídoporumdeterminadocontribuinteaquandodaobtençãoderendimentosprovenientesdacriaçãoouexploraçãodeativosdepropriedadeintelectualeasdespesasemI&Dqueestetenhaefetuadoequecontri-buíramdiretamenteparaacriaçãoouparaodesenvolvimentodessesmesmosativos”.NaopiniãodeSantos(2015)opropósitodestecritérioéodeevitarqueosregimesfiscaispreferenciais,comooqueanalisamosnopresentetrabalho,sejamatribuídosaempresassemconteúdoesubstanciaeconómica,que,comojáaquireferimos,sãocriadasporra-zõesdeplaneamentofiscal.
131TraduçãonossadotextoincluídonoRelatóriofinaldaação5(OCDE(3),2015,
p.29,parágrafo29):“ThepurposeofthenexusapproachistograntbenefitsonlytoincomethatarisesfromIPwheretheactualR&Dactivitywasundertakenbythetaxpayeritself”.
61
sujeitopassivo,comatividadesdedesenvolvimentodoativo,paradefinirapro-
porçãoderendimentoelegívelparabeneficiardoregime.Aformadecálculopro-
postapelaOCDE,etranspostaparaalegislaçãoportuguesa,paraobteresteresul-
tado,ésimilar132.
5.OPatentBoxeaDuplaTributaçãoJurídicaInternacional
NoâmbitodoregimeportuguêsdoPatentBox,osrendimentosconsidera-
dosemmetadedoseuvalor,porefeitodaaplicaçãodomesmo,tambémassimo
serãoparaefeitosdocálculodadeduçãodomontantedaduplatributaçãojurídica
internacional133,aoabrigodonº5,doartigo50º-AdoCIRC.Queristodizerque,
quando,namatériacoletáveldosujeitopassivo,sujeitoaIRC,emPortugal,este-
jamincluídosrendimentosobtidosnoestrangeiro,e,aoabrigodoprincípioda
residênciaedatributaçãoglobaldosrendimentos,estessejamaquisujeitosatri-
butação,mas,deacordodoprincípiodafonte,sejamtambémsujeitosatributação
nopaísondesãoobtidos,porconsequênciaretidosnafonte,naliquidaçãodoIRC,
serãoefetuadasasdeduçõesrelativasaduplatributaçãojurídica internacional
(90°/2/aCIRC).EstacorresponderáàfraçãodoIRC,calculadoantesdadedução,
correspondenteaosrendimentosquenopaísemcausasejamtributados,consi-
derados pelas respetivas importâncias ilíquidas dos impostos sobre o rendi-
mentopagonoestrangeiro(68°/1CIRC),líquidosdegastosdiretaouindireta-
mentesuportadosparaasuaobtenção(91°/1/bCIRC).Rendimentosestesque
serãoaquitambémconsideradosemapenas50%doseuvalor134.
132Épossívelverificarestasimilitudedasfórmulasdecálculo,adotadaporPor-
tugal,epropostapelaOCDE,comodasdefiniçõesdosconceitosaplicados,norelatórioBEPS,ação5,notópico“II.SubstantialactivityrequirementinthecontextofIPregimes”(OCDE(3),2014,pp.24-30).
133Aduplatributaçãodeummesmorendimentoocorrequandoseverificaum
concursodenormas,queristoocorre“quandoomesmofatoseintegranahipótesedeincidênciadeduasnormastributariasmateriaisdistintas,dandoorigemàconstituiçãodemaisdoqueumaobrigaçãodeimposto”(XAVIER,2014).
62
Todavia, dentro da União Europeia135, devido à crescente preocupação
comarealizaçãoesolidificaçãodeummercadoúnico,sembarreirasàlivrecir-
culaçãodecapitais,postaemcausapelofenómenodaduplatributaçãojurídica
internacional,vigoraaDiretiva2003/49/CEdoConselhoDE30denovembrode
2011,comummentedesignadacomoDiretivaJuroseRoyalties136.Estediploma
legal,deaplicaçãoimperativaparatodosospaísesdaEU,vemisentarestetipo
derendimentosdetributaçãonoseupaísdeorigem137,atribuindoprevalênciaao
princípiodaresidênciaemdetrimentodoprincípiodafonte.
AideiapordetrásdestaopçãolegaldaEUéadequeosrendimentosde
juroseroyalties,dentrodosgruposdesociedades,devemsertributadosondeas
despesasefetuadasparaoobterforamefetuadasesãodeduzidas(oscustosde
obtençãodecapitaleoscustosdeI&D,respetivamente)138.
134Exemplo:AempresaAobtém,comorendimentossujeitoaIRC,500000,dos
quais100000sãoprovenientesdecontratodecessãodeumdireitodepropriedadein-dustrial,sendoque50000sãopagos,atituloderoyaltiespelasociedadeB,residentenoEstadoX;diferentedePortugal.Deacordocomoartigo50°-A/5,destes50000sujeitosaimpostoemX,apenasserãoconsiderados25000paraefeitosdededuçãodecorres-pondenteàduplatributaçãojurídicainternacional.
135Estaisençãoalarga-seàConfederaçãoSuíça,“nostermosecondiçõesreferi-
dosnoartigo15°doAcordoentreaComunidadeEuropeiaeaConfederaçãoSuíça”(n°16doartigo14°).
136AsnormasconstantesdestenormativodaUEencontram-setranspostaspara
oregimeportuguêsnoartigo14°,n°12doCIRC.On°13domesmoartigodefineosre-quisitosecondiçõesdequefazdependeraaplicaçãodaisenção,enquantoqueon°14defineosconceitosde“juros”,“royalties”ede“estabelecimentoestável”relevantesparaaverificaçãodascondiçõesdeaplicaçãodoregime.Non°15encontram-seprevistasassituaçõesemquenãoseaplicaráobenefíciofiscal.
137“1.OspagamentosdejurosouroyaltiesgeradosnumEstado-Membroestão
isentosdetodososimpostosincidentessobreessespagamentosnoEstadoemquestão,quermedianteretençãonafontequermedianteliquidação,desdequeobeneficiárioefe-tivodosjurosouroyaltiessejaumasociedadedeoutroEstado-Membroouumestabele-cimentopermanentesituadonoutroEstado-MembrodeumasociedadedeumEstado-Membro.”
138TERRA&WATTEL,2012,p.388(traduçãonossa).
63
OmesmoseverificarelativamenteaospaísescomosquaisPortugalcele-
brouConvençõesparaevitaraDuplaTributação139.Aoabrigodomodelodecon-
vençãosugeridopelaOCDE,daadoçãodoartigo12°daConvençãoModelopara
evitaraDuplaTributação,queafastaaaplicaçãotaxaliberatóriade25%donº4
doartigo87°,aplicávelaos“rendimentosdeentidadesquenãotenhamsedenem
direçãoefetivaemterritórioportuguêseaínãopossuamestabelecimentoestável
aoqualosmesmossejamimputáveis”,aoabrigodoartigo98°doCIRC,queacolhe
assoluçõesversadasnasconvençõesnopróprioCódigo.Destemodo,estesren-
dimentosaquiobtidosporumresidentedeoutroEstadocontratante,encontram-
seisentosdetributaçãonoterritórioportuguês.
Assimsendo,relativamenteàregradaretençãonafontedestetipoderen-
dimentos,determinadapelanorma94°,n°1,alíneaa)doCIRC,eaoprincípioda
fonte,existemestasduasexceções,quandoverificadososrespetivosrequisitos,
envolvidos estejamEstados-membrosdaUE, pelaDiretivan°2003/49/CE,do
Conselho,de3dejunho,ouEstadosterceiros,masassinantesdeumaConvenção
paraevitaraDuplaTributaçãocomPortugal,pelasregrasdaconvençãoemvigor.
139Porordemalfabética,edeacordocomatabeladisponibilizadapeloGoverno
noPortaldasFinanças,queéatualizadatodososanos,estessãoospaísescomosquaisPortugalcelebrouumaConvençãoparaevitaraDuplaTributação:ÁfricadoSul,Alema-nha,Andorra,Arábia Saudita (aindanão entrouemvigor),Argélia,Áustria,Barbados(aindanãoentrouemvigor),Barém,Bélgica,Brasil,Bulgária,CaboVerde,Canadá,Chile,China,Chipre,Colômbia,Coreia,CostadoMarfim,Croácia,Cuba,Dinamarca,EmiradosÁrabesUnidos,Eslováquia,Eslovénia,Espanha,EstadosUnidosdaAmérica,Estónia,Eti-ópia,Finlândia,França,Geórgia,Grécia,Guiné-Bissau,Holanda,HongKong,Hungria,Ín-dia, Indonésia, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão,Koweit,Letónia,Lituânia,Luxem-burgo,Macau,Malta,Marrocos,México,Moçambique,Moldávia,Montenegro,Noruega,Panamá,Paquistão,Peru,Polónia,Qatar,ReinoUnido,RepúblicaCheca,Roménia,Rússia,SanMarino,SãoTomeePríncipe,Senegal,Singapura,Suécia,Suíça,SultanatodeOmã,Timor-Leste(aindanãoentrouemvigor),Tunísia,Turquia,Ucrânia,VenezuelaeViet-name(“TabelaPráticadasConvençõesparaevitaraDuplaTributaçãocelebradasporPortugal”, 2017, http://info.portaldasfinancas.gov.pt/NR/rdonlyres/A9E92685-90D6-46D4-A39F-DEBF3FB51122/0/Tabela_CDTs_2017.pdf).
64
6.RegimeTransitório
Comojáreferimosanteriormente,esteregimesofreuumaalteraçãocom
oDecreto-Lein°47/2016de22deagosto,sendoqueestanovaredaçãoaplicar-
se-áapenasaspatentesedesenhosoumodelosindustriaisregistadosemouapós
odia1dejulhode2016.
Noquedizrespeitoaosregistosefetuadosapósodia1dejaneirode2014,
que,nodia30dejunhode2016,preenchamascondiçõesdeaplicaçãodoregime
naredaçãoanterioradadaporaquele,everificando-seavigênciadecontratos
quetenhamporobjetoacessãoouutilizaçãotemporáriadosdessesdireitosde
propriedadeindustrial,seráaplicáveloregimedecorrentedessaredação140,até
aodia30dejunhode2021141.
140“1-Concorremparaadeterminaçãodolucrotributávelemapenasmetadedoseuvalorosrendimentosprovenientesdecontratosquetenhamporobjetoacessãoouautilizaçãotemporáriadosseguintesdireitosdepropriedade industrialsujeitosare-gisto:a)Patentes;b)Desenhosoumodelosindustriais.2-Odispostononúmeroanterioréigualmenteaplicávelaosrendimentosdecorrentesdaviolaçãodosdireitosdepropriedadeindustrialaíreferidos.3-Odispostonon.º1dependedaverificaçãocumulativadasseguintescondições:a)Osdireitosdepropriedadeindustrialtenhamresultadodeatividadesdeinvestigaçãoede-senvolvimentorealizadasoucontratadaspelosujeitopassivo;b)Ocessionárioutilizeosdireitosdepropriedadeindustrialnaprossecuçãodeumaatividadedenaturezacomer-cial,industrialouagrícola;c)Osresultadosdautilizaçãodosdireitosdepropriedadein-dustrialpelocessionárionãosematerializemnaentregadebensouprestaçõesdeservi-çosqueoriginemgastosfiscalmentededutíveisnaentidadecedente,ouemsociedadequecomestaestejaintegradanumgrupodesociedadesaoqualseapliqueoregimees-pecialprevistonoartigo69.º,semprequeentreumaououtraeocessionárioexistamrelaçõesespeciaisnostermosdon.º4doartigo63.º;d)Ocessionárionãosejaumaenti-daderesidenteempaís,territórioouregiãoondeseencontresujeitaaumregimefiscalclaramentemaisfavorávelconstantedelistaaprovadaporportariadomembrodoGo-vernoresponsávelpelaáreadasfinanças.4-Odispostonopresenteartigonãoseaplicaaosrendimentosdecorrentesdepresta-çõesacessóriasdeserviçosincluídasnoscontratosreferidosnon.º1,osquais,paraoefeito,devemserautonomizadosdosrendimentosprovenientesdacessãooudautiliza-çãotemporáriadedireitosdepropriedadeindustrial.5-Osrendimentosaqueseapliqueodispostonon.º1sãotambémconsideradosemapenasmetadedoseuvalorparaefeitosdocálculodafraçãoprevistanaalíneab)don.º1doartigo91º.”
141Noartigo3.ºdoDecreto-leinúmero47/2016de22deagosto,encontramosanormatransitóriarelativaàspatentesedesenhosoumodelosindustriaisquebeneficiamdoregimeanterioràpresentealteração,comaseguinteredação:“1-Odispostonoartigo50.º-AdoCódigodoIRC,naredaçãodadapelopresentedecreto-lei,aplica-seapenasàs
65
7.RegimesIdênticosdeTributaçãoderendimentosProvenientesdePro-
priedadeIntelectual
ÀimagemdoqueseverificaemPortugal,noanode2015existiam13re-
gimessimilaresaoregimeemestudonoseiodaUE,comtaxasefetivasdetribu-
taçãoentreos0%eos15,5%(SHI,2016).
Dentrodolequederegimessimilaresàqueleque,nestetrabalho,subme-
temosa escrutínio, existeumaheterogeneidadede característicasdefinidoras,
nestabreveanálisedessesoutrosregimesnosquaisoregimeportuguêsseinspi-
rou,focaremosanossaatençãoem4características:
a)Otipodeativosquesequalificamparaaaplicaçãodoregime;
b)Otratamentooferecidoaosativosjáexistentesaotempodaimplemen-
taçãodoregime;
c)OtratamentodosativosdePIadquiridos;
e)Aexistênciaderequisitosdedesenvolvimentodoativo.
Todososregimesemvigorapresentamcomocaracterísticacomumapre-
visãodaspatentescomodireitodePIgeradorderendimentoeleitoparaaaplica-
çãodoregime,eosroyaltiescomorendimentoqualificável.Noentanto,alguns
destesregimesvãomaislongeeincluemosrendimentosobtidosatravésdemar-
cas (ex Ciprus eHungria), outros os copyrights (ex Liechtenstein eMalta), ao
Know-how (Ciprus eHungria), ou a fórmulas secretas (ex Ciprus e Espanha).
Grandepartedestesregimesaplicam-se,nãosóaativosdesenvolvidospelopro-
prietário,comotambémaosadquiridos,ealgumasjurisdiçõesexigemqueexista
uminvestimentoposteriorparadesenvolveroumelhoraroativo,paraqueoren-
dimentoobtidosejaeleitoparaaaplicaçãodoregime,comoéocasodePortugal.
patentes e aosdesenhosoumodelos industriais registadosemouapós1de julhode2016.2-Relativamenteàspatenteseaosdesenhosoumodelosindustriaisregistadosemouapós1dejaneirode2014que,em30dejunhode2016,preenchamascondiçõesdeaplicaçãododispostonoartigo50.º-AdoCódigodoIRC,naredaçãoanterioràdadapelopresentedecreto-lei,verificando-se,nomeadamente,aessadataavigênciadecon-tratosquetenhamporobjetoacessãoouautilizaçãodessesdireitosdepropriedadein-dustrial,éaplicávelregimedecorrentedessaredaçãoaté30de junhode2021.3 -Ossujeitospassivosdevemdisporderegistoscontabilísticosquepermitamaidentificaçãodosrendimentosimputáveisaosdireitosdepropriedadeindustrialreferidosnonúmeroanterior,distinguindo-osclaramentedosrestantes.”
66
Regimesháqueadmitemqueosganhosdecapital,comnaturezademais-valia,
obtidosatravésdavendadosativos,sãorendimentoqualificável(ex:Bélgicae
Malta).Noentanto,apenasalgunspaísesincluemosrendimentosobtidosatravés
daexploraçãodoativo.(SHI,2016)
7.1AaçãoconjuntadaOCDEedaUEnadefiniçãodosregimesdePI
Tendoemconsideraçãoainfluênciadeterminantequeasorientaçõesda
OCDE,noâmbitodoprojetoBEPS,revela-serelevantefazerumabrevereferência
aconsideraçõestransparecidasnoRelatórioBEPS,relativaàação5(OCDE(3),
2015),antesdeprocedermosàanálisedosmaisrelevantesregimessimilaresao
queaquiestudamos.
Épossívelencontrarnoreferidorelatório,umalistaderegimesdePIque
foramsubmetidosaoescrutíniodoFHTPsoboscritériosestabelecidosnorela-
tóriode1998,oqualdefineascaracterísticasdeumregimeprejudicial,sobofa-
torfundamentaldoconceitodeatividadesubstancial.Destaanálise,oFórumcon-
cluiuqueosregimesanalisadossãoinconsistentes,notodoouemparte,como
“modifiednexusapproach”,queaferedasubstânciaeconómica,adotadonoâm-
bitodoprojeto.Comotal,aOCDEaconselhaosenvolvidosareveremosseusre-
gimeseefetuarasalteraçõesnecessáriasparaqueestesseencontrememharmo-
niacomasorientações,comvistaaseremconsideradoscomonãoprejudiciais
(OECD(3),2015,p.63).Natabela1.Aseguirapresentadaépossívelverempor-
menorostiposderegimesquepassarampelocrivodaOCDE.
Tabela1.IPRegimes(fonte:RelatórioBEPSação5(OECD,2015)
Country Regime
1. Belgium Patentincomededutction
2. Peoples’s of
RepublicofChina
Reducedrateforhigh&newtech
enterprises
3. Colombia SoftwareRegime
4. France Reducedrateforlongtermcapital
67
gainsandprofitsfromthelicensing
of
IPrights
5. Hungary IPregimeforroyaltiesandcapital
gains
6. Israel Preferredcompanyregime
7. Italy PatentBox
8. Luxembourg Partialexemptionforincome/gains
derivedfromcertainIPrights
9. Netherlands Innovationbox
10. Portugal Partialexemptionforincomefrom
certainintangibleproperty
11. Spain Partialexemptionforincomefrom
certainintangibleassets
12. Spain–
BasqueCou-
ntry
Partialexemptionforincomefrom
certainintangibleassets
13. Spain–
Navarra
Partialexemptionforincomefrom
certainincomefromcertainintang
bleassets
14. Switzerland
–CantonofNidwal-
den
Licencebox
15. Turkey Technologydevelopmentzones
16. United
Kingdom
Patentbox
Comapublicaçãodestes resultados edas orientaçõesdaOCDE, surgiu,
juntosdospaísesdaEU,comregimesdetratamentopreferencialderendimentos
dePI,entreoutros,emvigornasuajurisdição,anecessidadedepronunciapor
68
partedaUE,noquetocaàconcordânciaeoreconhecimentodaimplementação
dasdiretrizesexplanadasnoprojeto142.
ÉpontoassentequenoseiodaEUsefazemsentirasdificuldadeseques-
tõeslevantadaspelaOCDE143,assimcomooreconhecimentogeraldadesatuali-
zaçãodasleisvigentesnosváriosEstados-membros,tantoaonívelinterno,como
aoníveleuropeu,verificando-seumaausênciadecoordenaçãonoquetocaàtri-
butaçãodorendimentodasempresasqueatuamnomercadoúnico.144
Nocontextopolítico,épossívelidentificarduasgrandesdificuldadesque
osGovernosultrapassam,noquetocaàtributaçãodorendimentoempresarial.
Seporumlado,existeaexigênciadeumatributaçãojustaecapazdearrecadar
maisreceita,poroutro,estesencontram-sesobpressãoparacriarregimesmais
favoráveiseatrativosparaasmultinacionais,noâmbitodaconcorrência fiscal
internacional.Comotal,acabamporpisaralinhadoqueéconsideradoumsis-
temafiscal justoeviolamoprincípiodaconcorrênciadoâmbitointernacional,
142Umadasquestõeslevantadas,commaiorrelevâncianesteâmbito,encontra-
serelacionadacomofactodeoriscocorrido,aoadotarmedidasdeexigênciadeativi-dadesubstancial,queàpartidasededuzquelevariaaumaexigênciadequesejamleva-dasacaboatividadesdeI&DnoterritóriodoEstadoqueofereceotratamentopreferen-cial.IstoiriacontraasliberdadesfundamentaisreconhecidaspelaEUnoâmbitodoMer-cadoÚnicoEuropeu. Todavia, as liberdades fundamentais apenas proíbem requisitosquedescriminememrazãodalocalização,masnãoquandoestessefocamnapessoaquedesenvolveaatividade,queéoqueaOCDEpretendeatingircomassuasorientações(MANG,2015).
143“ThecurrentlackofcoordinationincorporatetaxationbetweenMemberStates
createsobstaclesforcompaniesactingintheSingleMarket,astheyareconfrontedwith28differenttaxbasesofcorporatetaxation,creatingheavycompliancecostsandadministra-tiveburdenswhicharedetrimentaltoEuropeancompetitiveness.Italsoallowscompaniestoexploitmismatches.Intensecompetitionformobiletaxbaseshascreatednewopportu-nitiesforaggressivetaxplanners,whileothercompaniesarestillfacingdoubletaxation”(EUROPEANCOMMISSION,2015).
144 Communication from theCommission to theEuropeanParliament and the
Council–AFairandEfficientCorporateTaxSystemintheEuropeanUnion:5KeyAreasfor Action, (2015, https://ec.europa.eu/taxation_customs/sites/taxation/files/re-sources/documents/taxation/company_tax/fairer_corporate_taxa-tion/com_2015_302_en.pdf).NestacomunicaçãoaComissãoEuropeiavemalertarparaofactodeatransferênciaderendimentosparajurisdiçõescomregimesmaisfavoráveis,deve-se,emgrandeparte,àslacunasedivergênciasentresistemasfiscaiseasleisqueosconstituem,oquenocontextodeglobalizaçãoeconcorrênciafiscalemqueseviveatu-almente,revelam-seumfatordeterminantedeobtençãodereceitafiscal.
69
entreEstados.Emdezembrode2015145,oECOFIN(EconomicandFinancialAf-
fairsCouncil),vemreconhecerestanecessidadesentidaporpartedosEstados-
membros,assimcomoaimportânciadocombateaoplaneamentofiscalabusivo,
tantoaoníveleuropeucomoaonívelglobal,eacolheasrecomendaçõesdaOCDE,
investindonarevisãodetodososregimeseuropeusenvolvidos146.
Reconhecidaaimportânciadocombatedosproblemasrelacionadoscom
osregimesfiscaisprejudiciais,trazidosàtonanoprojetoBEPS,oECOFINopta
pela implementação dasmedidas e recomendações sugeridas através de “soft
law”,atravésderecomendações.Nodecorrerdestadinâmica,aComissãoEuro-
peia,vempublicaropacote“Anti-taxAvoidancePackage”,queconsistenumpa-
cotedepropostaslegislativasdealteraçãodasleissoberanasnosentidodeuma
harmoniacomasrecomendaçõesoferecidaspelaOCDE.Emparalelocomaativi-
dadedoECOFIN,aComissãoEuropeia147tambémdecidiuanalisarosregimesde
PI,tendoemcontaqueestaveiorecebendoindicaçõesdequeestesregimesaca-
bavamporbeneficiarnegóciosaltamentemóveis,acabandopornãoencorajarum
145Todavia,estapreocupaçãoporpartedaUErelativaaoplaneamentofiscalabu-
sivo,nãoédeagoraejáemdezembrode1997,oECOFINdecidenosentidodacriaçãodeumCódigodeCondutaparaasempresas,aomesmotempoqueestabelece,nesteâm-bito,umgruporesponsávelporreverosregimesfiscaiseuropeuseidentificarosquesãoprejudiciais(Kalloe,2016).
146“Inparallel,theEuropeanCommissionalsostartedreviewingIPregimesinthe
contextoofEUStaterulessincedeCommissionhadreceivedindicationsthatthesespecialtaxregimesseemedtomainlybenefithighlymobilebusinessesanddidnotencouragesig-nificantadditionalR&Dactivity.TheGroupdecidedthattheOECDworkshouldtakeprec-edence and this led to the 2015 Council Agreement accepting the “modified nexus ap-proach”aspresentedinOECDBEPSfinalreportAction5.”
147AComissãoEuropeiavemtambémcomprometer-sea fornecerorientações
relativasàaplicaçãoeadoçãodasdiretrizesdaOCDE,assimcomomonitorizarasuaim-plementação(COMMISSIONSTAFFWORKINGDOCUMENT,2015,Annex4,http://ec.eu-ropa.eu/transparency/regdoc/rep/10102/2015/EN/SWD-2015-121-F1-EN-MAIN-PART-1.PDF).
70
volumedeI&Dsignificativo.OgruponomeadonoseiodoECOFINvemreconhe-
cerqueotrabalhodaOCDEnesteâmbitodeveseradotadonoseiodaEU148,de-
sembocandono“CouncilAgreementacceptingthe“modifiednexusapproach”,tal
comopropostopelaOCDEnorelatóriofinaldoBEPSação5149.
DasubmissãodosregimesexistentesnaEU, sobasdiretrizesdaOCDE,
esteconcluiqueosregimesnãosãocompatíveiscomoMNA,edecidefecharos
regimesexistentesanovasentradasate30dejunhode2016,abolindo-os,omais
tardar,até30dejunhode2021(KALLOE,2016).
DaquiconcluímosqueosváriosregimesdePatentBoxespalhadospelo
globoencontram-seemprocessode transformação, e épontoassentedeque,
apesardeasrecomendaçõestantodaOCDE,comodaUEassumiremumcaracter
de“softlaw”,merasrecomendaçõesdeatuaçãoaonívelestatal,osgovernosre-
conhecemasuarelevânciaeexternalidadespositivas,quandoacolhidaseadota-
dasatravésdalegislaçãonacional.Oregimeportuguêsjáabraçouasorientações
propostas, em 2016, e à semelhança do nosso país, muitos outros caminham
numamesmadireção.
PassamosamencionaralgunsdosregimesPatentBoxemvigornoutros
Estados,detraçosaindaincertos,deformasucinta,apresentandoapenasasca-
racterísticasmaisrelevantesparaobterumtermocomparativoentreoregime
portuguêseasoutrasopçõeslegais.
148“In2014theCodeofConductforBusinessTaxationGroupagreedthat,inorder
toaddressthisproblem,preferentialregimes,suchaspatentboxes,shouldbebasedonthe“modifiednexusapproach”.Thismeansthattheremustbeadirect linkbetweenthetaxbenefitand theunderlyingresearchanddevelopmentactivities.”(EUROPEANCOMMIS-SION,2015).
149 “TheEU’sCodeofConductGrouphasmade specific reference to theongoing
workattheOECDleveland,moreinparticular,toBEPSAction5.Itistherefore,fullyex-pectedthattheOECD’sleadwillbefollowedbytheEuropeanUnion.ThowasconfirmedinaCommunicationfromtheEuropeanCommissionona“FairEfficientCorporateTaxSystemintheEuropeanUnion”(LIEBMANetal.,2016).Norelatórioporesteautorreferido,osEstados-membrosdevemadotarasmedidasacolhidaspelaComissãoEuropeiaealterarassuasleisdeacordocomasmesmas.
71
Irlanda
AIrlandafoiopaíspioneironaadoçãodosregimesfavoráveisaplicáveis
a rendimentos de Propriedade Intelectual. Inicialmente o foco dos incentivos
deste tipo era a comercializaçãoda inovação, daí que os rendimentos obtidos
atravésdeativosdePIadquiridosbeneficiassemdotratamentofiscalpreferen-
cial.
Emoutubrode2015,aIrlanda,quetinharevogadooseuregimefavorável
detratamentoderendimentosdePI,introduzumnovoregime-“KnowledgeDe-
velopment Box” - seguindo de perto as orientações do BEPSAção 5 e onexus
approach,comefeitosapartirdodia1dejaneirode2016.Noâmbitodestenovo
regime,aadministraçãofiscalirlandesaaplicaráumataxade6,25%,quecorres-
pondeametadedataxanormalaplicada,de12,5%,aosrendimentosobtidosatra-
vésdecertosativosdePI,noscasosemquefoilevadaacaboI&Dnoterritório
irlandês.Tambémesteregimeprevêumup-liftnomontantedasdespesasconsi-
deradasqualificáveis, correspondente àmenosdos seguintes valores: 30%do
montante de despesas qualificáveis ou os custos agregados de aquisição e
outsourcingdeempresasemrelaçãodegrupo.
Noentanto,deacordocomasorientaçõesdaOCDErelativamenteàcon-
corrênciafiscal,noâmbitodoProjetoBEPS,noquadrodasuaação5,éexigida
substânciaeconómicadasatividadesparaqueasempresaspossamusufruirda-
quele.Queristodizerque,deacordocomoMNA,sóbeneficiarãodoregimefavo-
rávelasempresasseexistirumnexodireto,eproporcional,entreorendimento
dePIeasdespesasdeI&Dquegeraramessemesmorendimento.
Comvistaaalinharoregimeirlandêscomestasorientações,juntamente
comoorçamentopara2015,foipublicadoTheRoadMapForIreland’sTaxCom-
petitiveness,comaintençãodeintroduzirumregimecompetitivo,combaseno
rendimento,conhecidocomoKnowledgeDevelopmentBox150.
150Oobjetivodestaalteraçãolegislativafoiincentivarasempresasirlandesasa
desenvolverecomercializarprodutospatenteadosoucomosrespetivosprocessosdeproduçãopatenteados,comvistaaatrairinvestigaçãoeinvestimentoporpartedeem-presasestrangeiras(SAKAR,2015).
72
França
OregimePatentBoxfoiintroduzidoemFrançaem2000,alteradoem2005
eem2010.Atualmenteesteregimeofereceumareduçãodataxaaplicávelaoren-
dimentoempresarialderivadodaexploraçãodeativosdePI,sendoqueataxa
normaléde33,33%,ataxareduzidaseráde15%.
OsativosdePIcujorendimentoéelegívelparaaplicaçãodoregimesãoas
patentes,asinvençõespatenteáveis,processosindustriaisdemanufaturaçãoque
sãoumacontinuaçãodepatentesouinvençõespatenteáveis,certificadosrelaci-
onadoscominvençõesvegetais151,desenvolvidosouadquiridos,tendo,nesteul-
timocaso,quepermanecerpelomenosdurantedoisanosnaempresaparaque
sejaaplicáveloregimefavorável.
NoquetocaaadoçãodasorientaçõesdaOCDE/G20/UE,aFrançaestáa
apresentaralgumaresistênciaquejáfoireconhecidaexternamente152.
Itália
Oregimepatentboxitalianofoiintroduzidoem2015,éopcionalebenefi-
ciaasempresascomumatributação inferiordosrendimentosoriginadospela
cessãoetransferênciadepropriedadeintelectual.
Aocontráriodoregimeportuguês,oregimeitalianoaplica-seapatentes,
ao know-how, outro tipo de informação industrial e software, protegidos por
copyrights,modelosedesenhosindustriais.Existeapossibilidadedeasmarcas
tambémseremabrangidas,masapenascasosejamlevadasacaboatividadesde
I&Dparaoseudesenvolvimentoemanutenção,talcomoativosintangíveiscom-
plementaresseremconsideradoscomoumativo intangívelparaefeitosdore-
gime.
151SAKAR,2015.152 “However, all other EU countries are reforming their tax regime and insist
Francemustdothesame.Someofthesecountries,manyofthemresentfuloverFrenchcrit-icism of tax dumping, are rejecting the French arguments against reform”(https://www.bna.com/french-patent-box-n57982077841/).
73
Aisençãoatribuídaéde30%em2015,40%em2016ede50%apartirde
2017,garantidaapenaspor5anoseaplica-seapenasaoproprietáriododireito
depropriedadeintelectualeaolicenciado,sendoestesossujeitosqueinvestem
nodesenvolvimentodeI&D.
Orendimentogeradopela transferênciadapropriedade tambémseen-
contraabrangidopeloregime,nocasoitaliano,quando,pelomenos90%dosga-
nhossãoreinvestidosematividadedeI&D.
ReinoUnido
OregimePatentBoxdoReinoUnidofoiimplementado,em2012,peloFi-
nanceAct153,comefeitosapartirdeabrilde2013.Esteregimeassumeanatureza
dededuçãoadicional,aorendimentototaldaempresa,oferecendoàsempresas
umataxaefetivadetributaçãode10%154,comparativamenteaos20%normal-
menteaplicados.
OsativosdePIqualificadosparaoregimesãoaspatentes155,exclusividade
deinformação156,direitossobrevariedadesdeplantasecertificadosdeproteção
suplementares.
Asentidadesqualificadasparausufruirdestebeneficiosãoasempresas
quedetêm,oucriaramedesenvolveram,patentesqualificadasouprodutoque
fazpartedeumapatente.Seforumaoutraentidadeadesenvolverapatente,esta
153Asregrasdesteregimeencontram-sedefinidaspelaautoridadetributáriado
ReinoUnido(HerMajesty‘sRevenueandCostums)noCorporateIntangiblesResearchandDevelopment(CIRD)Manual(OBUOFORIBO,2013).
154Omontanteaserdeduzidodorendimentototaldaempresaéconseguidoatra-
vésdaseguintefórmula:RIPPx(MR–IPR)/MR.EmqueoRIPPéosrendimentosrele-vantesdePI,oMRéataxanormalaplicávelaorendimentoempresarial,eoIPRéataxaaplicávelaorendimentodePIelegível(traduçãonossa).Oresultadodestaequaçãoéde-duzidoaosrendimentostributáveisdaempresa(OBUOFORIBO,2013).
155Aspatentespodemsernovas,existentesouadquiridasetêmquefazerparte
deumadastrêscategoriasdefinidas:patentesregistadasnoUKIPOffice,noEuropeanPatentOfficeeaspatentesregistadasnospaísesdaEUqueseguemregraserequisitossimilaresaosdoReinoUnido(OBUOFORIBO,2013).
156OsRegulatorydataprotection,conhecidoscomodataexclusivitysãoconside-
radosdireitosdePI.
74
teráqueserresponsáveleincluídanasdecisõesrelativasaodesenvolvimentoe
exploraçãodamesma157.Orendimentoquebeneficiadesteregimetantopodeser
dacessãoeexploraçãodapatente,comodasuatransmissãoecomercialização
dosprodutosqueincorporamumainovaçãopatenteada.
Em2015oReinoUnidodecidiuacolherasresoluçõesdoBEPSnúmero5
noquetocaaorequisitodaatividadesubstancialparaquesejapossívelacederao
regimeemvigor.
Holanda
AHolanda,quefoioprimeiropaísdaBenelux(Bélgica,HolandaeLuxem-
burgo)aintroduzirumregimefavoráveldePI,em2007colocaemvigoroPatent
Box158.Aoabrigodeste instituto,aorendimentoobtidoatravésdePI,aplica-se
uma taxa efetiva de 10%. Depois de 2010, este regime passa a denominar-se
comoInnovationBox,passandoaoferecerumataxaefetivade5%aplicávelaos
rendimentosprovenientesdePI159queresultedeinvestimentosdeI&D.Asem-
presasbeneficiariastêmaindaapossibilidadedededuziraorendimentoqualifi-
cávelasdespesasdedesenvolvimentoseasperdas.
Seguindooexemplodeoutrospaíses,aHolandaadotouasdiretrizesda
OCDEeoMNA160.
157Estaexigênciagarantequeosbenefíciosdesteregimeapenassãoaproveita-
dosporempresasparticiparamativamentenasatividadesdeI&D(OBUOFORIBO,2013).158Esteregimefiscal favorávelparaasempresas foi introduzidocomefeitosa
partirdodia1deJaneirode2007,noartigo12bdaWetopdevennootschapsbelasting(lei que versa sobre o imposto sobre o rendimento das empresas) (SCHELLEKENS,2013).
159Estesativos,geradoresderendimento,podemserdetidosporumaempresaholandesa,comoporumaempresadeoutropaís,desdequedetenhaemterritórioho-landêsumestabelecimentoestávelqueestejasujeita,enãoisenta,deimpostosaqui,po-dendotratar-sedeativospatenteadosounãopatenteados(SAKAR,2015).
160“ThenewDutchinnovationboxregimeisinlinewiththeOECD’sso-called‘mod-
ifiednexusapproach’.Underthemodifiednexusapproach,qualifyingprofitsthatbenefitfromthenewinnovationboxregimearecalculatedasfollows:
(Qualifyingexpenditures/Totalexpenditures)xoverallincomefromipasset=in-comereceivingIPbenefit”(http://www.atlas.tax/en/news/item/178-new-innovationbox-regime-in-the-netherlands).
75
Bélgica
Em2007foiintroduzidonaBélgicaumregimefiscalquepermitiaumade-
duçãodorendimentodepatentes161,registadasapós2007.Aoabrigodeste,em-
presasbelgaseestrangeiras162, comestabelecimentoestávelnaBélgica, têma
possibilidadedededuzir, ao seu rendimento sujeitoa imposto,80%do rendi-
mentototalobtidoatravésdacessãodePI,sendoqueataxadeimpostoaplicável
éde20%.Noentanto,oregimebelgaémaisrestritodoqueoholandês,vistoque
apenasosrendimentosprovenientesdepatentesecertificadossuplementaresde
proteçãosãoelegíveisparaaaplicaçãodoregime.
Luxemburgo
OregimeexistenteemLuxemburgo,foicriadoàimagemdobelgaedoho-
landês.Introduzidonosistemafiscalem2007,permiteaaplicaçãodeumaisen-
çãode80%dorendimentoliquidodePI,deduzidasasdespesasrelacionadas,in-
cluindoasmais-valiasefetuadascomavendadestesativos.Nãosãoelegíveisos
rendimentosobtidosdeempresasdiretamenterelacionadas,masosquesãoob-
tidosatravésdaexploraçãointernadoativojáoserão,talcomoseriamseeste
tivessesidocedido.
Porseulado,esteregimeaplica-sealequemaisamplodeativosdePIdo
queosregimesdosquaissegueexemplo163.
161ConhecidocomoPatentIncomeDeduction(PID)(SAKAR,2015).162Alocalizaçãodaempresa,ouEE,quelevaacaboasatividadesdeI&Dpodem
estar localizadas forado territóriobelga, desdequepertençamaumaempresabelga(SAKAR,2015).
163Patentes,marcas,design,domínios,modelosedireitosdesoftware(SAKAR,
2015).
76
Hungria
AHungriatambémdecidiuacolherasresoluçõesdoBEPSdaOCDEealte-
raroseuregimepatentboxparairaoencontrodoBEPS5,introduzindoomodi-
fiednexusapproach,comefeitoapartirdejunhode2016,comexceçãodasenti-
dades que beneficiam do antigo regime, as quais continuarão a beneficiar do
mesmoaté2021.
Aoabrigodesteregime,anterioraoacolhimentodasdiretrizespropostas
noprojetoBEPS,osroyatiesdaPIbeneficiamdeumatributaçãoemmenos50%,
resultandonaaplicaçãodeumataxaefetivaentreos5%eos9.5%,dependendo
donívelderentabilidade.Noscasosemqueseverifiqueumadespesaconsiderá-
velrelacionadacomaobtençãodesterendimento,poderãoseralcançadastaxas
inferiorescomapossibilidadedededuções.Atransmissãodapropriedadeinte-
lectualbeneficiadeumaisençãodetributação,casoestatenhasidomantidana
esferadoproprietáriopor,pelomenos,1anooucasoorendimentoobtidoseja
reinvestidoemaquisiçãodePI.
Comaadoçãodonovoregime,houveramalteraçõesrelativamenteaotipo
dePIqualificadaeaabordagemaodeterminaraquantiaderoyaltieseaextensão
dosbenefíciosfiscais.
Adefiniçãoderoyaltiesficoulimitadaaospagamentosefetuadosrelativa-
menteaPIrelacionadacomaindustria,nãoincluindomarcas,know-howouou-
trostiposdePIrelacionadoscommarketingouprotegidospelaleidecopyrights,
comexceçãodosoftware.Osbenefíciosatribuídospassamasercalculadosapar-
tirdoslucrosdePI,enãopelorendimentobrutoobtido,eserãolimitadosàpro-
porçãodecontribuintesqueincorreramemdespesascomI&D.
Turquia
Oregimefiscalturco,aplicávelaorendimentodePI,isentadeimpostoos
rendimentosemais-valiasderivadosdeinvençõesqueexigiram,dapartedobe-
neficiário,quepoderáserumaempresaouumapessoaindividual,investigaçãoe
desenvolvimento, investimentona contrataçãode serviçosde terceiros, trans-
77
missãoouvendadoativo,exploraçãoeproduçãomassificadadainvenção,inde-
minizaçõesporviolaçãodedireitoindustrial,segurosououtrascompensações
relacionadascomoativo.Se50%destesrendimentosdepatentesoumodelosde
utilidade foremobtidosatravésdeproduçãoe comercializaçãodos respetivos
produtosnaTurquia,estarãoisentosdeimposto.
Parausufruirdesteregimefavorávelasinvençõesdevemestarprotegidas
legalmenteeaisençãonãopoderáultrapassar50%dopreçodefinidonorelató-
riodeavaliaçãodoativo,porcasasujeitopassivoindividualmente.
Espanha
OregimePatentBoxouIPBoxespanholconsistereduçãoem60%doren-
dimentoobtidoatravésdaexploraçãodeativosdePI,apósadeduçãodosgastos
eperdassofridosparaaobtençãodomesmo.Contemplaorendimentoobtido
atravésdaexploraçãodepatentes,desenhosemodelos,planos,fórmulassecretas
ouprocessos,direitossobreinformaçãoindustrial,científicaoucomercial(know-
how)164.
Daleituradoartigo23ªdoCódigodoImpostosobreasSociedadesEspa-
nhol,épossívelverificarquetambémaEspanhaseencontraacaminharnosen-
tidodaharmonizaçãodasualeifiscalcomasorientaçõesdaOCDE.
164https://lawants.com/en/blog/spanish-patent-box/.
78
8.Conclusão
Presentemente,Portugalcontinuaaser,semsombradedúvida,umdos
Estados-membroscommaiorestaxasnominaisdeimposto,dentrodaUE.Para
alémdisso,comoficouclaro,atravésdaanálisedeoutrosregimesanálogosao
PatentBoxportuguês,onossoregimenãoécompetitivo,tendoemcontaqueou-
trosEstados-membrosvãomaislonge,quantoàpercentagemderendimentode
propriedadeintelectualexcluídodabasetributável–entre80%a85%-equanto
aosrendimentos,queabrangem,paraalémdosroyalties,asmais-valias,obtidas,
nãosóatravésdepatentesedesenhosemodelos,mastambémdeoutrosativos
dePIcomomarcas.DeacordocomaErnest&Young(2013),emcolaboraçãocom
diferentesautores,numaanálisedaspropostasdealteraçãoedasefetivasaltera-
ções efetuadasno IRC em2014, “Portugal, pelo factodenão apresentar taxas
competitivasgera,intrinsecamente,edeformaautomática,umefeitodenãoatra-
çãodoinvestimento”165.Comotal,edeacordocomamesmaobra,“continuare-
mosaverasempresasportuguesasa transferir,nãosóoscentrosdedecisão,
comotambémosseusativosintangíveisque,atualmente,poderãomesmorepre-
sentaroseumaiorvalor.”166
Comotal,apesardeaadoçãodestesregimesdeincentivos,comvistaabe-
neficiaraeconomianacional, serumpassosignificativonadireçãodosucesso
financeiroeeconómicodonossopaís,háqueexigirdolegisladorumcomporta-
mentomaisradical.Talcomonomundodosnegóciosedasempresas,o lucro
obtém-seapósaexposiçãoaumriscoconsiderável,anossover,nocontextodos
benefíciosfiscaisatribuídos,que,pornatureza,perseguemobjetivosextrafiscais,
omesmoriscoéinerente,masétambémeleoúnicocaminhoparaalcançaros
objetivosestabelecidospeloEstadodemocrático.Assumirosriscosinerentes,a
possívelperdairrecuperáveldereceita,ésempreumadireçãodolorosadeseto-
mar,masasconsequênciaspoderãosempreserasmelhores,eoquesearriscou
165P.188166P.190
79
perder numa fase inicial, poder-se-á obter emmelhores condições numa fase
avançada.
Peloqueaquifoidito,consideramos,esublinhamos,quePortugalcaminha
nadireçãodosucesso,equeestefoiapenasoprimeiropasso.Ambicionamosas-
sistiraumreconhecimentodasvantagensdotratamentopreferencialdosrendi-
mentosdePI,eatomadadedecisõesnosentidodaadoçãodeumregimemais
amplo,noquetocaaosdireitosdePIprevistos,àtaxaaplicávele,quemsabe,no
tipoderendimentosabrangidos167.
Poroutrolado,éessencialreconhecerqueaadoçãodestesincentivosfis-
cais,comvistaaobtençãodebenefícios,tantoparaasociedadeeeconomia,como
paraoEstadoeasuareceitaarrecadável,nãoésuficiente.Háquedirecionaro
focoparaas“condiçõesfacilitadoras”(enablingconditions)168,dasquaisPortugal
sofreumdéfice,devidoà“baixaqualificaçãodosrecursoshumanos,umacultura
empresarialaindapoucovocacionadaparainvestiremI&D,umaestruturaem-
presarialcommuitasempresasdepequenadimensãoecompoucopesonasin-
dustriasdealta tecnologia, fraca interaçãoentreasempresase instituiçõesde
investigação, e uma cultura de inovação ainda pouco enraizada” (CARVALHO,
2006).
Assim,osincentivosfiscaispouco,ounenhum,efeitoterãosenãoestiver
pordetrásumapreocupaçãocomtodasasestruturasassociadas,vistoqueosu-
cessodestasmedidassósealcançacomaharmoniadetodoumsistemaenvol-
167“Wefindthatpatentboxeshavestrongeffectonattractingpatentsmostlydue
to their favourable tax treatment, especially so far high-quality patents. Patent boxeswithalargescopeintermsoftaxbasedefinitionhavealsostrongereffectsontheloca-tionofpatents.”(ALSTADSAETER,NICODEME,&VEZZANI,2015,p.2).Namesmaobrapodemos encontrar outras considerações relativas às vantagens obtidas através daadoçãodestesregimes:“Ourresultssuggestthatthepatentboxeshaveastrongeffectonattractinghigh-valuepatentsmainlyduetothefavourabletaxtreatmenttheyoffer.Pa-tentsarealsofoundtobemoresensitivetothetaxadvantagesofferedbypatentsboxeswhenthosehavealargescopeintermsofipcovered,andwhentheygranttheirbenefittopre-existingpatents,acquiredpatents,and/orembeddedroyalties.”
168OECD(2003),TaxIncentivesforResearchandDevelopment:Trendsandissues,
Paris:OECD.
80
vente.Pordetrásdoêxitodasopçõesdogovernoedolegislador,estará,indubi-
tavelmente,umaanálisedascausasdosproblemasencontradosearesoluçãodos
mesmos169.
Paracomprovaroqueaquidefendobastafocaranossaatençãonapers-
petivadoinvestidor,quecolocaemsegundoplanoapanópliadeincentivosebe-
nefíciosfiscaisnahoradetomarasdecisões,focando-seemprimeiroplanono
tamanho do mercado, acesso a matérias-primas e habilitações dos funcioná-
rios170,entreoutros.
Noentanto,eapesardestaordemdepreocupaçõeseinfluênciasnasdeci-
sõesdeinvestimento,otratamentofiscaldosrendimentosobtidosegastosedes-
pesasefetuados, têmsempreumpesopreponderante171,daíqueconcordemos
numtrajetonosentidodeumamelhoriasignificativadas“condiçõesfacilitado-
ras”,aliadasaumregimePatentBoxmaiseficaz.
169“Countriesthatintendtoimplementtaxincentiveshaveaparticularobjective
inmind…beforeintroducinganytaxmeasures,however,itisworthconsideringwhatcausedtheproblemthatistobetackled.Thepropercourseofactionistodealwiththecausesfirst.Whenthosestructuraldisadvantagesareremoved,thenextstepistothinkaboutfurtherimprovementstrategies,whichmaytaketheformoftaxincentives….Theyshouldnotbeofferedasacounterweighttoinvestmentdisincentivesinherentinthegen-eraltaxandeconomicsystem.”(BAL,2014,p.70)
170“Numerousempiricalstudiesthathaveattemptedtoestablishtheroleoftaxincentivesinpromotingforeigndirectinvestment(FDI)showthattheavailabilityoftaxincentivesisasecondaryconsiderationindecidingwheretolocate,andthatcommercialconsiderations,suchasmarketsize,accesstorawmaterialsandskilledlaborarefore-mostininvestorminds.However,theimportanceoftaxincentivesisheightenedwhencountries in close geographical proximity share similar infrastructure capabilities.”(BAL,2014,p.66)
171“Taxconsiderationsdonotalwaysfigureprominentlyintheinitialdecisionto
investabroad,butoncethedecisionismadetoinvestinaparticularregionoftheworld,thetaxdifferencesbetweenthecountriesinthatregion,orbetweentheprovinces,statesormunicipalitieswithinthecountry,tendtohaveamajorimpactonthepreciselocationoftheinvestment.”(BAL,2014,p.66).
81
9.Bibliografia
ALSTADSAETER,A.,BARRIOS,S.,NICODEME,G.,SKONIECZNA,A.M.&VEZZANI,
A. (2015).PatentBoxesDesign,PatentLocationandLocalR&D.Taxation
Papers N. 57 – 2015, European Comission. Disponível em: https://ec.eu-
ropa.eu/taxation_customs/sites/taxation/files/resources/documents/taxa-
tion/gen_info/economic_analysis/tax_papers/taxation_paper_57.pdf);
CARVALHO,A.(2006).Investigaçãoedesenvolvimentoempresarial:investirnofu
turo, inM.Branco,M.L.S.Carvalho,C.Rego(eds.).EconomiacomCompromisso:
EnsaiosemMemóriadeJoséDiasSena,Évora:UniversidadedeÉvora;
CASTRO,JoãoManuelOliveira,(2015).Otratamentocontabilistico-fiscaldosati-
vos intangíveis.Tese deMestrado em Direito Fiscal, Universidade Católica do
Porto;
Santos,AntónioCarlos(2015).WhatisSubstantialEconomicActivityforTaxPur-
poses in the Context of the European Union and the OECD Initiatives against
HarmfulTaxCompetition?ECTaxReview,3,166-175;
CATARINO,J.R.&GUIMARÃES,V.B.(coord.).(2015).LiçõesdeFiscalidade:Vol.II
–GestãoePlaneamentoFiscalInternacional.Almedina;
CommunicationfromtheCommissiontotheEuropeanParliamentandtheCoun-
cil–AFairandEfficientCorporateTaxSystemintheEuropeanUnion:5KeyAr-
eas for Action, COM (2015) 302 final (17 junho 2015). Disponível em:
https://ec.europa.eu/taxation_customs/sites/taxation/files/resources/docu-
ments/taxation/company_tax/fairer_corporate_taxation/com_2015_302_en.pdf;
CommissionStaffWorkingDocument,CorporateIncomeTaxation intheEuro-
peanUnion,SWD(2015)121final(17de junho2015).Annex4,“RelationsEU
82
Actions and BEPS Initiative”. Disponível em: http://ec.europa.eu/transpar-
ency/regdoc/rep/10102/2015/EN/SWD-2015-121-F1-EN-MAIN-PART-1.PDF;
COURINHA,GustavoLopes.(2009).OArtigo23.°,N.°7,doCIRC,AConstituiçãoe
oRegimedePreçosdeTransferênciadasConvençõessobreDuplaTributação, in
ReestruturaçãodeEmpresaseLimitesdoPlaneamentoFiscal,CoimbraEditora;
ERNEST&YOUNG(etal.).(2013).ONovoIRC.Almedina;
EUROPEAN COMMISSION Comunication. (2015) 302 Final. Disponível em:
https://ec.europa.eu/taxation_customs/sites/taxation/files/resources/docu-
ments/taxation/company_tax/fairer_corporate_taxation/com_2015_302_en.pdf;
EVERS,L.,MILLER,H.&SPENGEL,C.(2015).Intellectualpropertyboxregimes:
effectivetaxratesandtaxpolicyconsiderations.InternationalTaxPublicFinance,
22,502-530;
GRIFFITH, R.,MILLER, H. & O’CONNELL,M. (2014). Ownership of Intellectual
PropertyandCorporateTaxation.JournalofPublicEconomics,112,12-23;
GUERRA,J.C.&PIRES,J.D.M.(2014).InternationalAspectsoftheNewPortu-
gueseCorporate IncomeTaxRegime:EnhancingTaxCompetition in theEuro-
peanMarket.EuropeanTaxation,54,nº2-3,101-103;
KALLOE,Vinod.(2016).EUCodeofConduct–FromreviewingIndividualTaxRe-
gimestoDevelopingHorizontalPolicy:CrackingthecodeintheBEPSEra.Euro-
peantaxation,56,nº5,183-191;
KIRWIN, Joe. (2016).FrenchPatentBoxRatesChallenged inEUConductGroup.
Disponívelem:https://www.bna.com/french-patent-box-n57982077841/(con-
sultadoem22deoutubrode2017);
83
LIEBMAN,H.M.,HEYVAENT,W.&OYEN,Valérie.(2016).CouteringharmfulTax
Practices:BEPSAction5andEUInitatives–PastProgress,CurrentStatusand
Prospects.EuropeanUnion,56,nº5,102-105;
MANG,Fabian.(2015).The(In)CompatibilityofIPBoxRegimeswithEULaw,the
CodeofConductandBEPSInitiatives.EuropeanTaxation,55,No.2/3,78-87;
MARQUES,J.P.Remédio.(2007).Biotecnologia(s)ePropriedadeIndustrial.Vol.I.
Coimbra:Almedina;
MARQUES,J.P.Remédio.(2008).Licenças(voluntáriaseobrigatórias)deDireitos
dePropriedadeIndustrial.Coimbra:Almedina;
MARTINS,António.(2016).TheDedutctionofCorporateCostsinPortugal:Recent
Developments.56EuropeanTaxation7,p.292-297;
CARRIÇO,AnaIsabelMendes.(2012).ATutelaPenaldosDireitosdePropriedade
Industrial.TesedeMestradoForense.FaculdadedeDireitodaUniversidadeCa-
tólicaPortuguesa;
MENDONÇA,RobertoFilipedeCastro.(2015),AsPatentBoxesnumaPerspectiva
deDireitodaUniãoEuropeia,TesedeMestradoemDireitoFiscal,Faculdadede
DireitodaUniversidadeCatólica,Lisboa;
MINATTI,LuísGustavo,ContratosdeLicençaeasuaNaturezaJurídica,inRevista
doInstitutoBrasileirodaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeLisboa,Ano2.
(2013), n°11, pp. 12613-12669. Disponível em: http://www.cidp.pt/publica-
coes/revistas/ridb/2013/11/2013_11_12613_12669.pdf(consultadoem24de
agostode2017);
84
MONTEIROGASPAR,AnaSofia.(2012).AIndemnizaçãoporInfracçãoaosDireitos
dePropriedade Intelectual.TesedeMestradoForense.FaculdadedeDireitoda
UniversidadeCatólicaPortuguesa;
MORAIS,RuiDuarte.(2007).ApontamentosaoImpostosobreoRendimentodas
PessoasColectivas,Almedina;
NABAIS,J.Casalta.(2016).DireitoFiscal,9ªedição,Coimbra,Almedina;
NOUWEN, Martijn. (2013). “The Gathering Momentum of International and
SupranationalActionagainstAggressiveTaxPlaningandHarmfulTaxComtetion:
TheStateofPlayofRecentWorkoftheOECDandEuropeanUnion.”European
Taxation,10;
OBUOFORIBO,BelemaR. (2013). “TheTechnicalAspectsof theUKPatentBox
Rules.”EuropeanTaxation;
OECD(1).(2015),Action5:AgreementonModifiedNexusApproachforIPregimes,
OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project. Disponível em:
https://www.oecd.org/ctp/beps-action-5-agreement-on-modified-nexus-
approach-for-ip-regimes.pdf(siteconsultadoem09/05/2017);
OECD.(2013).AdressingBaseErosionandProfitShifting,OECDPublishing.Dis-
ponívelem:http://dx.doi.org/10.1787/9789264192744-eng;
OECD(2).(2015).AligningTransferPricingOutcomeswithValueCreation,Actions
8-10–2015FinalReports,OECD/g20BaseErosionandProfit ShiftingProject,
OECD Publishing, Paris. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1787/9789264241244-en;
85
OECD(3).(2015).CounteringHarmfulTaxPracticesMoreEffectively,Takinginto
AccountTransparencyandSubstance,Action5-2015FinalReport.OECD/G20Base
Erosion and Profiting Shifting Project, Paris: OECD Publishing.
http://dx.doi.org/10.1787/9789264241190-en;
OECD(4).(2015).FrascatiManual2015:GuidelinesforCollectingandReporting
DataonResearchandExperimentalDevelopment,TheMeasurementofScientific,
TechnologicalandInnovationActivities,OECDPublishing,Paris.DOI.Disponível
em:http://dx.doi.org/10.1787/9789264239012-en;
OECD.(2017).OECDTransferPricingGuidelinesformultinationalEnterprisesand
tax Administrations 2017, OECD Publishing, Paris. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1787/tpg-2017-en;
OECD (2003),Tax Incentives forResearchandDevelopment: Trends and issues,
Paris:OECD
OLIVEIRA,AnaPerestrelo.(2016).ManualdeGruposdeSociedades,Almedina;
PEREIRA,ManuelHenriquedeFreitas.(2014).Fiscalidade,5ªEdição,Coimbra,
Almedina;
PINHEIRO,MariaCarolinaAlves.(2014).PlaneamentoFiscalatravésdeProprie-
dadeIntelectual.Porto:DissertaçãodeMestradodaFaculdadedeDireitodaUni-
versidadeCatólicadoPorto;
PLMJ. (2017). Revisão da Lista de “Paraísos Fiscais”. Disponível em:
http://www.plmj.com/xms/files/newsletters/2017/Revisao-lista-paraisos-fis-
cais-fiscal.pdf,(consultadoa26dejulhode2017);
86
PORTALDASFINANÇAS.(2017).TabelaPráticadasConvençõesparaEvitaraDu-
plaTributaçãoCelebradasPorPortugal.Disponívelem:http://info.portaldasfi-
nancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/convencoes_evitar_dupla_tributacao/con-
vencoes_tabelas_doclib/Documents/Tabela_CDTs_2017.pdf;
PORTALDOSINCENTIVOS.IncentivosFiscais.Disponívelem:http://www.portal-
dosincentivos.pt/index.php/incentivos-fiscais(consultadoem07-11-2017);
PRETO,AntónioHugoBarrocasDelgado.(2013).BenefíciosFiscaisaoSistemaFi-
nanceiroeMercadodeCapitaiseàPropriedadeIntelectual,TesedeMestradoem
DireitoCurdodeCiênciasJurídico-financeiras,FaculdadedeDireitodaUniversi-
dadedeLisboa;
Q.C.,PHILIPBAKER.(2015).ABEPSAppraisal–InterviewwithPhilipBakerQC,
inScottStudebakerJournalofInternationalTaxation.28,1-7;
ROYALTIERANGE.PatentBox inEurope.Disponívelem:https://www.royalty-
range.com/home/royalty-rate-database/patent-box (consultado em 6 de feve-
reiro2017);
SANCHES,Saldanha.(2000).AbusodeDireitoemMatériaFiscal:Natureza,alcance
elimites,inCiênciaeTécnicaFiscal,N°398–2°Trimestre2000,Abril-Junho,Bo-
letimdasFinanças,Lisboa,PublicaçãoOrganizadapeloCentrodeEstudosFiscais;
SANTOS,AnaSofia.(04/01/2017).AutoridadeTributáriaatualiza‘listanegra’das
Offshores, Jornal Expresso. Disponível em: http://expresso.sapo.pt/econo-
mia/2017-01-04-Autoridade-Tributaria-atualiza-lista-negra-dos-offshores, con-
sultadoa26dejulhode2017;
SAKAR,AyseYigit.(2015).InnovationforaNewTaxIncentive:PatentBoxRegime
TurkeyandEUApplication.Istambul:Elselvier;
87
SBERT,Hector.(2016).SecretsoftheSpanishPatentBoxandOtherTaxIncentives
toR&D in Spain.Disponível em: https://lawants.com/en/blog/spanish-patent-
box/(consultadoem25deoutubrode2017);
SCHAWARTE,Frank&MOSK,Lennaert. (2017).New innovation regime inThe
Nteherlands.Disponível em: http://www.atlas.tax/en/news/item/178-new-in-
novationbox-regime-in-the-netherlands(consultadoem22deoutubrode2017);
SCHELLEKENS, Marnix. (2013). “The Netherlands as an Innovation Hub: An
AppraisaloftheInnovationBoxRegime.”EuropeanTaxation,10;
SHI,Chu.(2016).IPBoxesinLightoftheBEPSProjectandEULaw–PartI.Euro-
peanTaxation.56,nº8,August,334-341;
SIFIDE.Disponívelem:http://sifide.adi.pt/index.php?cat=4(consultadoem07-
11-2017);
SILVA,PedroSousa.(2011).DireitoIndustrial.1ª.Lisboa:CoimbraEditora;
SILVA,JoãoNunoCalvão.(2006).ElisãoFiscaleClausulaGeralAnti-Abuso,inRe-
vista da Ordem dos Advogados, Lisboa, Ano 66. p.791-832. Disponível em:
https://portal.oa.pt/comunicacao/publicacoes/revista/ano-2006/ano-66-vol-
ii-set-2006/doutrina/joao-nuno-calvao-da-silva-elisao-fiscal-e-clausula-geral-
anti-abuso/(consultadoem23deagostode2017);
SOUSA,AnaPatríciaBrancoFragoso.(2009/2010).ContratosdeLicença,Tesede
MestradoCientificodeDireitoIntelectual,FaculdadedeDireitodaUniversidade
deLisboa;
TERRA,BeNJ.M.,WATTEL,PeterJ.(2012).EuropeanTaxation,6°edição,Wolters
Kluer,Netherlands;
88
VASQUES,Sérgio.(2011).ManualdeDireitoFiscal,2011,Almedina;
CORNISH,William,LLERELYN&APLIN,Tanya.(2013).IntellectualProperty.8ª.
London:ThomsonReuters;
XAVIER,Alberto.(2014).DireitoTributarioInternacional.2°.Coimbra:Almedina.
89
Anexos
Anexo1
Portaria345-A/2016,de30dedezembro
Artigo1°
Paraosefeitosprevistosnalei,alistadospaíses,territórioseregiõescom
regimesdetributaçãoprivilegiada,claramentemaisfavoráveis,constantedaPor-
tarian.º150/2004,de13defevereiro,passaateraseguinteredação:
1)Andorra;
2)Anguilha;
3)AntíguaeBarbuda;4)AntilhasHolandesas;
5)Aruba;
6)Ascensão;
7)Bahamas;
8)Bahrain;
9)Barbados;
10)Belize;
11)IlhasBermudas;
12)Bolívia;
13)Brunei;
14) IlhasdoCanal (Alderney,Guer-nesey,GreatStark,Herm,LittleSark,Brechou,JethoueLihou);
15)IlhasCayman;
16)IlhasCocosoKeeling;
17)(Revogado.)
18)IlhasCook;
19)CostaRica;
20)Djibouti;
21)Dominica;
22)EmiratosÁrabesUnidos;
23)IlhasFalklandouMalvinas;
24)IlhasFiji;
25)Gâmbia;
26)Grenada;
27)Gibraltar;
28)IlhadeGuam;
29)Guiana;
30)Honduras;
31)HongKong;
32)Jamaica;
33)Jordânia;
34)IlhasdeQueshm;
35)IlhadeKiribati;
36)Koweit;
37)Labuán;
38)Líbano;
39)Libéria;
40)Liechtenstein;
41)(Revogado.)
42)IlhasMaldivas;
43)(Revogado.)
1
44)IlhasMarianasdoNorte;
45)IlhasMarshall;
46)Maurícias;
47)Mónaco;
48)Monserrate;
49)Nauru;
50)IlhasNatal;
51)IlhadeNiue;
52)IlhaNorfolk;
53)SultanatodeOman;
54)IlhasdoPacíficonãocompreen-didasnosrestantes
números;
55)IlhasPalau;
56)Panamá;
57)IlhadePitcairn;
58)PolinésiaFrancesa;
59)PortoRico;
60)Quatar;
61)IlhasSalomão;
62)SamoaAmericana;
63)SamoaOcidental;
64)IlhadeSantaHelena;
65)SantaLúcia;
66)SãoCristóvãoeNevis;
67)SãoMarino;
68)IlhadeSãoPedroeMiguelon;
69)SãoVicenteeGrenadinas;
70)Seychelles;
71)Suazilândia;
72) Ilhas Svalbard (arquipélagoSpitbergeneilhaBjornoya);
73)IlhadeTokelau;
74)Tonga;
75)TrinidadeTobago;
76)IlhaTristãodaCunha;
77)IlhasTurkseCaicos;
78)IlhaTuvalu;
79)(Revogado.)
80)RepúblicadeVanuatu;
81)IlhasVirgensBritânicas;
82)IlhasVirgensdosEstadosUnidosdaAmérica;
83)RepúblicaÁrabedoYémen.
Artigo2.º
Produçãodeefeitos
Apresenteportariaproduzefeitosapartirde1dejaneirode2017.
1
AnexoII