o reencontro: pequena narrativa, grande...

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CIRCUITOMATOGROSSO CUIABÁ, 24 A 30 DE MAIO DE 2012 CULTURA EM CIRCUITO PG 5 www.circuitomt.com.br O REENCONTRO: PEQUENA NARRATIVA, GRANDE OBRA-PRIMA Rosemar Coenga é doutor em Teoria Literária e apaixonado pela literatura de Monteiro Lobato [email protected] ALA JOVEM Por Rosemar Coenga ABCDEF ....GLS Por Menotti Griggi PARA CELEBRAR A VIDA Menotti Griggi é geminiano, produtor cultural e militante incansável da comunidade LGBTT [email protected] MELHOR REMÉDIO Por José Augusto Filho José Augusto é diretor de teatro e produtor de programas de variedades [email protected] MAU HUMOR Quando comento de leitura e de literatura, falo da literatura na sua forma mais pura e não a simples leitura de jornais, revistas, etc. Falo do ato apaixonado de ler, da cumplicidade livro/leitor, da magia hipnótica com que os livros nos tomam, inebriam e nos enternecem, quando, submissos, nos rendemos à sua paixão. O livro O Reencontro, de Fred Ulhman, escritor alemão, de origem judaica, falecido em 1985, é um desses que nos fascinam da primeira à última página. O livro foi publicado pela Editora Planeta e tem 87 páginas. Desde as primeiras páginas senti-me diante de uma grande obra-prima! Não só pela extrema simplicidade da escrita, mas também pela comovente história que nos é contada. O Reencontro, escrito em 1960, não é um livro autobiográfico, embora contenha elementos da vida do autor. O colégio, os professores e os alunos fazem parte da vida real, retratando o Eberhard-Ludwig Gymnasium, a escola mais antiga e famosa de Wérttemberg, onde o autor fez o curso secundário. Em O Reencontro, Uhlman nos conta a história da terna amizade, intensa e inocente, entre dois jovens adolescentes no interior da Alemanha, em 1932. Hans Schwarz, judeu, e Konradin von Hohenfels, descendente da aristocracia alemã, dois jovens que o preconceito e a guerra separam. Anos mais tarde, exilado, uma revelação sobre seu amigo Konradin deixa Hans – assim como a nós, leitores – petrificado. A linguagem usada pelo autor é terna e cálida, traduzindo os sentimentos difusos de almas em formação. Ulhman vai mais longe: traça um paralelo entre a fragilidade afetiva dos dois amigos e a fragilidade da civilização, ambas atropeladas pela insanidade da história; e temos aí mais uma obra-prima. Uma beleza de livro, sem dúvida. Mais que indicado, sobretudo para aqueles que amam a Humanidade com paixão e que acreditam, ainda, nela e na capacidade de regeneração, a despeito dos negros tempos em que vivemos. Você sabia que mau humor é doença e pega????? São comuns as queixas de pessoas mal-humoradas. Não fosse apenas desagradável, o problema pode ser uma doença que tem nome: distimia. Trata-se de um estado depressivo crônico, um transtorno persistente do humor . É normalmente atípico e é perceptível através do mau humor, chatice, birra, implicância, desânimo, irritabilidade. A distimia, assim como outros tipos mais clássicos de depressão, tem tratamento eficaz à custa de antidepressivos e terapia. Entretanto, a maior dificuldade está em fazer o paciente entender e aceitar que é mal- humorado e, mais que isso, que deve submeter-se a tratamento. E, se o mau humor patológico tem remédio, o mau humor “natural”, também. O remédio chama-se ATITUDE: - Atividades físicas , que promovem a liberação de betaendorfina, neurotransmissor que participa da regulação do humor e causa bem-estar; - Ioga e sessões de massagem estimulam a circulação sanguínea, aumentam o fluxo de oxigênio, promovendo sensação de prazer e bem- estar; - Música relaxante , que faz com que a pessoa produza substâncias que colaboram na neutralização dos efeitos danosos do cortisol, hormônio que predomina em momentos de tensão e mau humor; - Ingestão de carboidratos , que estimulam a produção de serotonina, neurotransmissor envolvido no controle das emoções. Mas como são, em geral, calóricos, o ideal é consumi-los com moderação; - E a principal atitude que você deve adotar é se manter longe de pessoas muito mal-humoradas. Pesquisas indicam que o mau humor é contagioso. Na semana de aniversário é comum ficarmos mais fragilizados. Parece que vai passando um filme na cabeça da gente, principalmente quando já não somos tão jovens e com muitas conquistas ainda a serem feitas. Num momento de maturidade a pergunta é: será que o que eu fiz tá tudo certo? Será que o meu caminho tá correto? Algumas certezas no meu coração dizem que sim. Escolhi entre tantas árduas tarefas a militância LGBT por acreditar que é possível no mundo de hoje haver igualdade de direitos. É possível sermos felizes e respeitarmos a felicidade do outro. A intolerância que ainda se alardeia no mundo é que me faz ficar forte para provocar em mim a força na luta diária contra a homofobia e o preconceito. Sei que existem inúmeras pessoas que leem esta coluna e que compartilham com as minhas ideias e pensamentos. Sei também que existem os que são contra. O importante de uma divergência é a conciliação. Não nascemos iguais. Nascemos diferentes um do outro, com desejos e vontades que nem mesmo sabemos de onde vêm. Não fazemos as escolhas, e por mais que digam que é possível fazer o contrário, não consigo absorver essa possibilidade, principalmente no desejo. Quando eu era criança achava que a minha rua era um grande universo. Tinha medo de entender os meus desejos. Brigava contra eles. Na adolescência tentei entender ainda mais esse desejo. Lutei contra ele. Fiquei tempos vagando dentro de mim até compreender que o sentimento que eu tanto negava era o sentimento do AMOR. E ainda bem que consegui compreender isso e me entregar ao mais nobre de todos. As incertezas que temos são tão pequenas diante do amor! Hoje, às vésperas de estar mais maduro, o que mais me deixa feliz é a capacidade de amar um homem sem medo de que isso seja errado ou pecado. Para mim onde há amor não há pecado! Vamos ser felizes como a gente deseja?

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CIRCUITOMATOGROSSO

CUIABÁ, 24 A 30 DE MAIO DE 2012CULTURA EM CIRCUITO PG 5www.circuitomt.com.br

O REENCONTRO: PEQUENA NARRATIVA, GRANDE OBRA-PRIMA

Rosemar Coenga é

doutor em Teoria Literária e

apaixonado pela literatura de

Monteiro Lobato

[email protected]

ALA

JOVEM

Por R

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oenga

ABC

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PARA CELEBRAR A VIDA

Menotti Griggi é

geminiano, produtor

cultural e militante incansável da

comunidade LGBTT

[email protected]

MELH

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ÉDIO

Por Jo

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José Augusto é diretor de

teatro e produtor de programas de

variedades

[email protected]

MAU HUMOR

Quando comento deleitura e de literatura, falo daliteratura na sua forma maispura e não a simples leitura dejornais, revistas, etc. Falo doato apaixonado de ler, dacumplicidade livro/leitor, damagia hipnótica com que oslivros nos tomam, inebriam enos enternecem, quando,submissos, nos rendemos à suapaixão. O livro O Reencontro,de Fred Ulhman, escritoralemão, de origem judaica,falecido em 1985, é um dessesque nos fascinam da primeiraà última página.

O livro foi publicado pelaEditora Planeta e tem 87 páginas. Desdeas primeiras páginas senti-me diante deuma grande obra-prima! Não só pelaextrema simplicidade da escrita, mas

também pelacomovente históriaque nos é contada.

O Reencontro,escrito em 1960, nãoé um livroautobiográfico,embora contenhaelementos da vida doautor. O colégio, osprofessores e osalunos fazem parte davida real, retratando oEberhard-LudwigGymnasium, a escolamais antiga e famosade Wérttemberg, ondeo autor fez o curso

secundário.Em O Reencontro, Uhlman nos conta

a história da terna amizade, intensa einocente, entre dois jovens adolescentes

no interior da Alemanha, em 1932. HansSchwarz, judeu, e Konradin vonHohenfels, descendente da aristocraciaalemã, dois jovens que o preconceito e aguerra separam. Anos mais tarde,exilado, uma revelação sobre seu amigoKonradin deixa Hans – assim como a nós,leitores – petrificado. A linguagem usadapelo autor é terna e cálida, traduzindo ossentimentos difusos de almas emformação. Ulhman vai mais longe: traçaum paralelo entre a fragilidade afetivados dois amigos e a fragilidade dacivilização, ambas atropeladas pelainsanidade da história; e temos aí maisuma obra-prima.

Uma beleza de livro, sem dúvida.Mais que indicado, sobretudo paraaqueles que amam a Humanidade compaixão e que acreditam, ainda, nela e nacapacidade de regeneração, a despeitodos negros tempos em que vivemos.

Você sabia que mau humor édoença e pega????? São comuns asqueixas de pessoas mal-humoradas.Não fosse apenas desagradável, oproblema pode ser uma doença que temnome: distimia. Trata-se de um estadodepressivo crônico, um transtornopersistente do humor. É normalmenteatípico e é perceptível através do mauhumor, chatice, birra, implicância,desânimo, irritabilidade.

A distimia, assim como outros tiposmais clássicos de depressão, temtratamento eficaz à custa deantidepressivos e terapia. Entretanto, amaior dificuldade está em fazer opaciente entender e aceitar que é mal-humorado e, mais que isso, que devesubmeter-se a tratamento.

E, se o mau humor patológico temremédio, o mau humor “natural”,também. O remédio chama-seATITUDE:- Atividades físicas, que promovem a

liberação de betaendorfina,neurotransmissor que participa daregulação do humor e causa bem-estar;- Ioga e sessões de massagemestimulam a circulação sanguínea,aumentam o fluxo de oxigênio,promovendo sensação de prazer e bem-estar;- Música relaxante, que faz com que apessoa produza substâncias quecolaboram na neutralização dos efeitosdanosos do cortisol, hormônio quepredomina em momentos de tensão emau humor;- Ingestão de carboidratos, queestimulam a produção de serotonina,neurotransmissor envolvido no controledas emoções. Mas como são, em geral,calóricos, o ideal é consumi-los commoderação;- E a principal atitude que você deveadotar é se manter longe de pessoasmuito mal-humoradas. Pesquisas indicamque o mau humor é contagioso.

Na semana de aniversário é comumficarmos mais fragilizados. Parece quevai passando um filme na cabeça dagente, principalmente quando já nãosomos tão jovens e com muitasconquistas ainda a serem feitas. Nummomento de maturidade a pergunta é:será que o que eu fiz tá tudo certo? Seráque o meu caminho tá correto?

Algumas certezas no meu coraçãodizem que sim. Escolhi entre tantasárduas tarefas a militância LGBT poracreditar que é possível no mundo dehoje haver igualdade de direitos. Épossível sermos felizes e respeitarmos afelicidade do outro.

A intolerância que ainda se alardeiano mundo é que me faz ficar forte paraprovocar em mim a força na luta diáriacontra a homofobia e o preconceito.

Sei que existem inúmeras pessoasque leem esta coluna e quecompartilham com as minhas ideias epensamentos. Sei também que existem osque são contra. O importante de umadivergência é a conciliação. Nãonascemos iguais. Nascemos diferentesum do outro, com desejos e vontades

que nem mesmo sabemos deonde vêm.

Não fazemos as escolhas, epor mais que digam que épossível fazer o contrário, nãoconsigo absorver essapossibilidade, principalmente nodesejo.

Quando eu era criançaachava que a minha rua era umgrande universo. Tinha medo deentender os meus desejos. Brigavacontra eles. Na adolescênciatentei entender ainda mais essedesejo. Lutei contra ele.

Fiquei tempos vagandodentro de mim até compreenderque o sentimento que eu tantonegava era o sentimento doAMOR. E ainda bem que conseguicompreender isso e me entregarao mais nobre de todos.

As incertezas que temos sãotão pequenas diante do amor!

Hoje, às vésperas de estarmais maduro, o que mais medeixa feliz é a capacidade deamar um homem sem medo de

que isso seja errado ou pecado.Para mim onde há amor não há

pecado!Vamos ser felizes como a gente

deseja?