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145 Jurídica, Rio Claro, v. 12, n. 1, p. 145-173, jan./dez. 2017 O reconhecimento da multiparentalidade e seus efeitos nos direitos de família e sucessório Alina Beatriz SOUZA 1 Michele Cristina Montenegro Schio CECCATTO 2 Resumo: Este trabalho tem por finalidade estudar o instituto da multiparentali- dade e as consequências jurídicas de sua aplicação. Para tanto, apresenta-se um estudo das decisões judiciais proferidas no país, bem como o entendimento dou- trinário acerca da possibilidade, limitações e imbróglios da multiparentalidade. Além disso, o estudo também traz uma análise de parte da legislação de Direito de Família e Sucessório, verificando-a a possibilidade de subsunção do instituto às normas já existentes. Palavras-chave: Multiparentalidade. Pluriparentalidade. 1 Alina Beatriz Souza. Bacharel em Direito pela FIC. Atualmente é Servidora Pública estadual. E-mail: <[email protected]>. 2 Michele Cristina Montenegro Schio Ceccatto. Mestra em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Atualmente é Professora e Advogada. E-mail: <michele-montenegro@uol. com.br>.

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Jurídica, Rio Claro, v. 12, n. 1, p. 145-173, jan./dez. 2017

O reconhecimento da multiparentalidade e seus efeitos nos direitos de família e sucessório

Alina Beatriz SOUZA1

Michele Cristina Montenegro Schio CECCATTO2

Resumo: Este trabalho tem por finalidade estudar o instituto da multiparentali-dade e as consequências jurídicas de sua aplicação. Para tanto, apresenta-se um estudo das decisões judiciais proferidas no país, bem como o entendimento dou-trinário acerca da possibilidade, limitações e imbróglios da multiparentalidade. Além disso, o estudo também traz uma análise de parte da legislação de Direito de Família e Sucessório, verificando-a a possibilidade de subsunção do instituto às normas já existentes.

Palavras-chave: Multiparentalidade. Pluriparentalidade.

1 Alina Beatriz Souza. Bacharel em Direito pela FIC. Atualmente é Servidora Pública estadual. E-mail: <[email protected]>.2 Michele Cristina Montenegro Schio Ceccatto. Mestra em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Atualmente é Professora e Advogada. E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

As novas configurações familiares têm admitido novas for-mas de filiação. Se antes a filiação era presumida pelo matrimônio, não se reconhecendo, inclusive, os filhos havidos fora do casamen-to, a Constituição Federal de 1988 deu início ao mandamento de igualdade entre os filhos, independentemente de sua origem paren-tal. Dessa forma, não pode haver discriminação entre filhos bioló-gicos e socioafetivos.

O que acontece atualmente é que, em alguns casos, o filho possui um pai biológico presente (que oferece cuidado, alimentos, amor) e um pai socioafetivo (que cuida da criança como se seu filho fosse exercendo a posse de estado de filho). Nessas situações não pode haver hierarquia entre critérios biológicos e socioafetivos, pois não há como escolher apenas um pai, pois ambos exercem esse papel.

Tendo isso em vista, o que se pretendeu neste trabalho foi verificar a possibilidade de reconhecimento da multiparentalidade, quais os critérios utilizados para esse reconhecimento e quais os fundamentos que poderiam mudar o modelo de relação familiar bi-parental. Para tanto, foi feita análise doutrinária e jurisprudencial atual.

Esse reconhecimento, em sendo feito, gera quais efeitos no mundo jurídico? É possível pedir alimentos para todos os pais? É possível herdar de todos os pais? É possível que três pais herdem de um filho? Tentou-se responder a estas questões através da aná-lise da legislação existente, verificando-se se é possível ocorrer a subsunção entre o instituto da multiparentalidade e as normas do Direito de Família e do Direito Sucessório.

O estudo é importante para a sociedade, pois toda decisão que reconhecer ou negar o direito à multifiliação trará reflexo não ape-nas do Direito de Família, mas também no campo sucessório, pois possibilitará o direito à herança. Além disso, a busca pela felicidade e pela família eudemonista, garantem a existência plena e digna do ser humano. Já em relação ao campo acadêmico, crê-se que este tra-balho trará grandes contribuições e despertará maior interesse dos

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estudantes de Direito para pesquisar as consequências que podem advir do reconhecimento da multiparentalidade, fazendo com que mantenham atenção e curiosidade para as exigências que a vida real traz ao mundo jurídico.

2. MULTIPARENTALIDADE

Multiparentalidade é a possibilidade de um indivíduo ter pais biológicos e socioafetivos sincronicamente. A grande questão da multiparentalidade está justamente em permitir que os critérios bio-lógico e socioafetivo coexistam, sem que haja hierarquia entre eles. Indo mais a fundo, é importante trazer à tona a teoria tridimensional do direito de família, desenvolvida pelo Dr. Belmiro Pedro Welter (2007), a qual explica que o ser humano compartilha em si três mundos: o genético, o afetivo e o ontológico. Esses mundos são diferentes, mas simultâneos:

É dizer, o ser humano não é apenas “ele e suas circunstâncias pessoais”, mas, sim, ele e suas circunstâncias genéticas (mundo das necessidades biológicas dos seres vivos em geral), (des)afetivas (mundo da convivência em família e em sociedade e ontológicas (mundo pessoal, endógeno, o seu próprio mundo) (WELTER, 2007, p. 12, grifo do autor).

Assim, o critério biológico não pode ser considerado mais importante que o socioafetivo a ponto de excluir a parentalidade advinda das relações de afeto; muito pelo contrário, todo pai bioló-gico deve escolher ser também o afetivo. Toda relação de multipa-rentalidade preconiza que existam dois pais socioafetivos, um de-les, além da relação de afeto, possui a relação genética que o outro não possui. Já ensinou Villela (1979, p. 12): “Pai e mãe ou se é por decisão pessoal e livre, ou simplesmente não se é”.

Com efeito, Farias e Rosenvald (2015b, p. 414) definem que a multiparentalidade é a “possibilidade de concomitância, de simul-taneidade, na determinação da filiação de uma mesma pessoa”, ou seja, “a possibilidade de uma pessoa ter mais de um pai e/ou mais de uma mãe simultaneamente, produzindo efeitos jurídicos em re-lação a todos eles a um só tempo”. Para Dias (2015, p. 409)

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[...] coexistindo vínculos parentais afetivos e biológicos, mais do que apenas um direito, é uma obrigação constitu-cional reconhecê-los, na medida em que preserva direitos fundamentais de todos os envolvidos.

Cabe ressaltar que o julgador deve ter muito cuidado ao ana-lisar a casuística, pois os critérios não são unicamente objetivos, devendo-se verificar se há o sentimento de pai e o sentimento de filho pelas partes envolvidas, ou seja, deve-se verificar se existe a afetividade necessária para a existência da relação (posse de es-tado de filho). Além disso, é preciso ter claras as consequências da aplicação desse instituto. Se há como reflexo da socioafetivida-de uma possibilidade indistinta de acréscimo sem substituição (ou seja, “múltiplas” multiparentalidade), as consequências de ser pai ou de ser mãe não se colocam apenas do ponto de vista da intra-subjetividade das pessoas envolvidas, mas a rigor, das consequên-cias intersubjetivas e que vão além da satisfação de ver o nome no registro ou de chamar de pai. Deve-se saber de quem a criança herda, a quem ela pede alimentos, a quem cabe o poder familiar, quem responde civilmente pelo ato do filho menor, quem autoriza o casamento, quem concede a emancipação, pois não existe meia paternidade, a paternidade deve existir por completa.

Princípios norteadores da multiparentalidade

É claro que a multiparentalidade se rege pelos mesmos prin-cípios do direito das famílias, mas há alguns fundamentais para justificar a aplicação do instituto. Em primeiro lugar, vê-se que o princípio da igualdade entre os filhos é realmente muito importan-te, pois está relacionado com o compartilhamento de direitos e de-veres, sem distinção a qualquer filho. Assim, quando existe a posse de estado de filho não é correto que os direitos (e deveres) dessa relação não sejam reconhecidos, sob pena de se ferir a igualdade entre um filho biológico e um filho socioafetivo. Assim, a multi-parentalidade assegura que os filhos que convivem com diversas figuras parentais, tenham respaldo jurídico para a relação fática, ga-rantindo todos os mesmos efeitos que nascem da relação biológica.

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Em segundo, temos o princípio da dignidade da pessoa huma-na. Para Welter (2007, p. 64-66), somente haverá dignidade quando o ser humano for reconhecido pelos seus modos de ser no mundo genético, no mundo-(des)afetivo e no mundo-ontológico. Isso por-que quando se trata de direito das famílias, a violação à dignidade da pessoa de um indivíduo se reflete na dignidade de todos os ou-tros que fazem parte do seu convívio familiar. Ao se afastar a teo-ria tridimensional do direito das famílias, negando, por exemplo, a paternidade afetiva a um indivíduo que também possui um pai biológico, estar-se-ia confiscando sua dignidade, “[...] na medida em que o ser humano deixaria de ser humano, já que somente nos mundos afetivo e ontológico ele atinge a condição humana, sendo, no mundo genético, um mero ser vivo” (WELTER, 2007, p. 66).

Outro princípio muito importante é o princípio do superior interesse da criança. De acordo com a Constituição e com o Esta-tuto da Criança e do Adolescente a prevalência dos interesses da criança é o sentimento que deve orientar a condução do processo em que se debate a verdade biológica versus a verdade afetiva da filiação. O julgador deve proteger os interesses dos filhos menores, pois a confusão presente na recusa, no acréscimo ou na troca de paternidade pode abalar a identidade das crianças. A fragilidade dos relacionamentos entre os seres humanos não deve atingir as rela-ções entre pais e filhos, as quais devem sólidas e duradouras, com vistas ao maior interesse da criança.

Reconhecimento doutrinário e jurisprudencial

Uma recente decisão do Supremo Tribunal Federal (FUX, 2016), do mês setembro de 2016, que reconheceu a possibilidade de multiparentalidade, mostrou que o Poder Judiciário não pode se manter concentrado a uma realidade falsa, absorto em questões le-gislativas. Ao contrário, deve abrir os olhos para a realidade fática, reconhecendo os casos em que as relações de parentalidade biológi-ca e afetiva coexistem e permitir sua existência jurídica.

No julgado, o Relator Ministro Luiz Fux votou pelo reco-nhecimento da multiparentalidade, fundamentando seu voto nos di-

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reitos fundamentais à busca pela felicidade e à dignidade humana, esclarecendo que o direito não pode empenhar-se em agir contra a realidade social, muito pelo contrário, deve se adequar a ela:

Cuida-se, a busca da felicidade, de preceito que eleva o indivíduo à centralidade do ordenamento jurídico-político, reconhecendo-se não apenas as suas capacidades de au-todeterminação, autossuficiência e liberdade de escolha dos próprios objetivos, mas também que o Estado, então recém-criado, deveria atuar apenas na extensão em que essas 10 capacidades próprias fossem respeitadas. Traduz--se em um mandamento a que o governo se abstenha de eleger finalidades a serem perseguidas nas mais diversas esferas da vida humana, bem assim a que não se imiscua nos meios eleitos pelos cidadãos para a persecução das vontades particulares. Nenhum arranjo político é capaz de prover bem-estar social em caso de sobreposição de vonta-des coletivas a objetivos individuais. [...] Transportando-se a racionalidade para o Direito de Família, o direito à busca da felicidade funciona como um escudo do ser humano em face de tentativas do Estado de enquadrar a sua realidade familiar em modelos pré-concebidos pela lei. É o direito que deve se curvar às vontades e necessidades das pessoas, não o contrário, assim como um alfaiate, ao deparar-se com uma vestimenta em tamanho inadequado, faz ajustes na roupa, e não no cliente. [...] Tanto a dignidade humana, quanto o devido processo legal, e assim também o direito à busca da felicidade, encartam um mandamento comum: o de que indivíduos são senhores dos seus próprios destinos, condutas e modos de vida, sendo vedado a quem quer que seja, incluindo-se legisladores e governantes, pretender submetê-los aos seus próprios projetos em nome de coleti-vos, tradições ou projetos de qualquer sorte. Sob essa lógi-ca merece ser interpretada a legislação infraconstitucional, abdicando-se o operador do direito de pré- compreensões e formatos padronizados de família para atender, na sua totalidade, às idiossincrasias das formulações particulares de organização familiar. [...] Estabelecida a possibilidade de surgimento da filiação por origens distintas, é de rigor estabelecer a solução jurídica para os casos de concurso entre mais de uma delas. O sobre princípio da dignidade humana, na sua dimensão de tutela da felicidade e rea-lização pessoal dos indivíduos a partir de suas próprias configurações existenciais, impõe o reconhecimento, pelo

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ordenamento jurídico, de modelos familiares diversos da concepção tradicional. O espectro legal deve acolher, nesse prisma, tanto vínculos de filiação construídos pela relação afetiva entre os envolvidos, quanto aqueles origi-nados da ascendência biológica, por imposição do princí-pio da paternidade responsável, enunciado expressamente no art. 226, § 7º, da Constituição. Não cabe à lei agir como o Rei Salomão, na conhecida história em que propôs divi-dir a criança ao meio pela impossibilidade de reconhecer a parentalidade entre ela e duas pessoas ao mesmo tempo. Da mesma forma, nos tempos atuais, descabe pretender decidir entre a filiação afetiva e a biológica quando o me-lhor interesse do descendente é o reconhecimento jurídico de ambos os vínculos. Do contrário, estarse-ia transfor-mando o ser humano em mero instrumento de aplicação dos esquadros determinados pelos legisladores. É o direito que deve servir à pessoa, não o contrário. A omissão do legislador brasileiro quanto ao reconhecimento dos mais diversos arranjos familiares não pode servir de escusa para a negativa de proteção a situações de pluriparentalidade. É imperioso o reconhecimento, para todos os fins de direito, dos vínculos parentais de origem afetiva e biológica, a fim de prover a mais completa e adequada tutela aos sujeitos envolvidos (FUX3, 2016, p. 9-17, grifo nosso).

Apesar de ser imperioso reconhecer que a decisão do Su-premo Tribunal Federal é essencial para o avanço jurisprudencial nacional, deve-se verificar, caso a caso, se há possibilidade de co-existência entre parentalidade biológica e socioafetiva. Por esse motivo, serão analisadas, a seguir, jurisprudências de várias comar-cas e Tribunais de Justiça brasileiros sobre a questão, que tem sido enfrentada pela justiça já alguns anos, apesar de serem poucos os casos de reconhecimento da multiparentalidade.

Em agosto de 2012, o Tribunal de Justiça de São Paulo reco-nheceu a existência de filiação socioafetiva advinda pela relação de madrastio, sem, no entanto, excluir a maternidade biológica. No caso, a madrasta pleiteou o reconhecimento da filiação sociofetiva com o enteado sem suprimir a filiação biológica. Consta que geni-tora faleceu três dias após o parto do filho, fato que comoveu toda a família e a cidade. Após alguns meses, o pai relacionou-se com ou-3 STF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO 898.060 SÃO PAULO. Relator: Ministro Luiz Fux. Órgão Julgador: Plenário do Supremo Tribunal Federal. Julgado em 22 set. 2016.

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tra mulher, vindo a casar-se quando o filho tinha apenas dois anos. A madrasta criou o enteado como se seu filho fosse, participando de sua vida e criação como sua mãe sendo. Eles poderiam ter recorrido à adoção para reconhecimento dessa relação socioafetiva, mas isso implicaria a retirada do nome da mãe biológica de seu registro, fato que não foi aceito por nenhuma das partes, em razão da importân-cia da memória da genitora. O melhor para todos foi reconhecer que a parentalidade socioafetiva não poderia excluir a maternidade biológica, permitindo a coexistência entre ambas. Importante trazer os principais trechos da decisão4:

O art. 1.593 do Código Civil é expresso no sentido de que “o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de con-sanguinidade ou outra origem”. De “outra origem”, sem dúvida alguma, pode ser a filiação socioafetiva, que de-corre da posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, aliado ao afeto e considerações mútuos, e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se trata de parentes. [...] A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base na afetividade, haja vista o reconhecimento da união estável como entidade familiar (art. 226, § 3º, CF), e a proi-bição de designações discriminatórias relativas à filiação (art. 227, § 6º, CF). As relações familiares deitam raízes na Constituição da República, que tem como um dos princí-pios fundamentais, a dignidade da pessoa humana (art.1º, III), ou seja, como preleciona Jorge Miranda, “na con-cepção que faz da pessoa fundamento e fim da sociedade e do Estado”, além da formação de uma sociedade solidá-ria (art. 3º). Não se evidencia qualquer tipo de reprovação social, ao contrário, pelo caminho da legalidade (diversa-mente da via comumente chamada de “adoção à brasilei-ra”), vem-se consolidar situação de fato há muito tempo consolidada, pela afeição, satisfazendo anseio legítimo dos requerentes e de suas famílias, sem risco à ordem jurídica (SILVA JR., 2012, p. 3, grifos nossos).

Igual fim teve caso5 semelhante no Rio Grande do Sul, quan-do o Tribunal de Justiça do Estado deu provimento ao pedido de 4 Apelação nº 0006422- 26.2011.8.26.0286; Relator(a): Alcides Leopoldo e Silva Júnior; Comarca: Itu-SP; Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Privado TJ-SP; Data do julgamento: 14/08/2012; Data de registro: 14/08/2012.5 Apelação Cível Nº 70065388175, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 17/09/2015.

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adoção feito pelo padrasto sem retirada do nome do pai biológico do registro de nascimento. O pai biológico faleceu e padrasto man-teve a posse de estado de filho desde que a criança possuía quatro anos de idade. O reconhecimento da multiparentalidade permitiu a preservação da memória do pai biológico, o que certamente reflete na formação da identidade do filho.

Cumpre ainda dizer que mais um processo6 semelhante foi julgado de forma idêntica pelo mesmo tribunal, garantindo confor-midade e segurança no entendimento jurisprudencial em situações semelhantes.

No Rio de Janeiro, recente decisão do Tribunal de Justiça do Estado reconheceu a aplicação do instituto da multiparentalidade. Em agosto deste ano, os desembargadores decidiram por incluir o nome do pai biológico ao registro de nascimento da filha, que fora registrado como filha do companheiro da mãe (caso da chamada adoção à brasileira). O pai biológico não sabia da paternidade que lhe foi suprimida e, ao descobrir essa possibilidade recorreu ao Po-der Judiciário, comprovando-se a relação de parentesco através de exame pericial de DNA. O acórdão7 reconheceu o direito de o pai biológico exercer a paternidade, baseando-se no princípio do supe-rior interesse dos filhos. Veja-se a ementa:

APELAÇÃO CÍVEL – DIREITO DE FAMÍLIA – ME-NOR IMPÚBERE – AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE AJUIZADA PELO PAI BIOLÓGICO – REGISTRO ANTECEDENTE PELO PAI REGISTRAL – TENTATIVA DE EXCLUSÃO DO PAI BIOLÓGICO DA RELAÇÃO PARENTAL – ACOLHIMENTO DA TEORIA DA MULTIPARENTALIDADE – DETERMI-NAÇÃO DO REGISTRO CIVIL COM RECONHECI-MENTO DA DUPLA PATERNIDADE – Exame de DNA reconheceu o autor como pai biológico. Registro formali-zado pelo companheiro da mãe da criança, a qual residiu com o autor no período da gravidez, retornando a seguir ao convívio com o pai registral. Nascimento da criança ocultado do pai biológico. Controvérsia solucionada com

6 Apelação Cível Nº 70064909864, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 16/07/2015.7 Apelação nº 2180502-46.2011.8.19.0021; Relator(a): Edson Aguiar de Vasconcelos; Comarca: Duque de Caxias-RJ; Órgão julgador: 17ª Câmara Cível TJ-RJ; Data do julgamento: 31/08/2016; Data de registro: 05/09/2016.

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observância do Poder Familiar, cujo objeto radica na pro-teção do que se entende como “melhor interesse” dos fi-lhos. O Poder Familiar não é um direito subjetivo dos pais e visa a precatar a integridade existencial da prole subje-tivamente considerada. O pai biológico precisou recorrer à via judicial para ver reconhecida a paternidade, median-te realização de exame pericial, e quer assumir integral-mente seu papel na vida da criança, oferecendo, inclusive, alimentos nesta ação de reconhecimento de paternidade. Deve-se possibilitar ao pai biológico o estabelecimento de uma relação de afeto com a filha. Não há complicador no reconhecimento da multiparentalidade. O desagrado com tal solução restringe-se às pessoas da mãe e do pai regis-tral, que pretendem suprimir a figura do pai biológico. Há de se reconhecer a realidade da multiparentalidade, que já não constitui novidade no ordenamento jurídico brasileiro. Declaração judicial da paternidade do autor em relação à menor, com retificação do registro civil para incluir os da-dos qualificativos do mesmo, sem exclusão no assento das informações relativamente ao pai registral. Pensionamento fixado em favor da menor. Parcial provimento do recurso (VASCONCELOS, 2016, [s.p.], grifos nossos).

No estado de Goiás, inúmeras são as sentenças que julga-ram procedente a adoção da multiparentalidade. Em junho de 2016, através do processo nº 201503135084, a juíza Ana Paula Tano, da Comarca de Joviânia-GO, determinou o acréscimo ao registro de nascimento de pessoa já adulta do nome da mulher que a criou como filha desde os cinco anos de idade, sem excluir o nome da mãe biológica (falecida) e do pai biológico (que não compôs a lide, pois supõe-se o seu falecimento). Nesse caso, apesar de o pai bio-lógico não ter mantido qualquer tipo de relação com a filha por mais de 47 anos, ele não se defendeu processualmente, havendo suspeita de sua morte. Como o óbito não foi comprovado nos autos, a magistrada entendeu por bem resguardar seu direito de paternida-de, impedindo a exclusão de seu nome do registro de nascimento da filha.

Outro caso, julgado em setembro de 2015, através do pro-cesso nº 201501585660, pela juíza Sirlei Martins da Costa, da 1ª Vara de Famílias e Sucessões da Comarca de Goiânia-GO (COS-TA, 2015), reconheceu o direito de acrescer o nome da mãe socioa-

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fetiva ao registro da criança fruto de uma inseminação artificial. As mães vivem em união homoafetiva e receberam o material genético masculino de um amigo, exercendo os três a poder familiar sobre a criança. Entendeu a magistrada que o planejamento familiar foi e é pautado pelo respeito mútuo, lealdade e companheirismo entre ambos, motivo pelo qual os três, na qualidade de pais, participam efetivamente da criação da filha, prestando todos os cuidados ne-cessários ao seu desenvolvimento. Isso demonstra, mais uma vez, que não deve existir hierarquia entre os critérios de filiação, uma vez que possuir mais que um pai ou mãe efetivos é mais benéfico do que preterir um deles, pois traz a dignidade e felicidade plena pretendidas pelas famílias eudemonistas.

Caso semelhante a este último foi também julgado procedente pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Desta vez8, tratou--se de uma “ação declaratória de multiparentalidade” em relação a uma criança recém-nascida. Duas mulheres que viviam em união homoafetiva elaboraram, em conjunto com um amigo, um projeto de terem um filho em comum. Uma das companheiras forneceu o material genético feminino e o amigo do casal o material masculi-no. O incomum da situação é que a criança ainda era recém-nascida quando as partes ingressaram com a ação, o que poderia fazer o de-sembargador acreditar não haver ainda relação socioafetiva cristali-zada entre a companheira e a criança. No entanto, as provas acosta-das aos autos claramente comprovaram que, de fato, o bebê possuía duas mães e um pai. Os três fizeram acompanhamento psiquiátrico por dois anos antes do nascimento do filho e acompanharam todas as consultas obstétricas, participando ativamente da gestação. Cabe trazer um trecho do acórdão:

Portanto, cotejando a realidade do fato concreto, de que LUCIANA, MARIANA e ROBERTO são efetivamente mães e pai de Elena, pois gestaram e nutriram, em con-junto, o projeto de prole, não sendo lícito desconsiderar o vínculo de casamento entre as duas mães e a paterni-dade, tanto biológica como afetiva de Roberto, lançando mão da proteção especial que o Direito das Famílias atu-al deve dar às relações fundadas no afeto e na condição individual do ser humano, de rigor o reconhecimento da

8 Apelação Cível Nº 70062692876, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Pedro de Oliveira Eckert, Julgado em 12/02/2015.

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multiparentalidade e a consequente retificação do regis-tro civil de Elena. No tocante à filha recém nascida, não se cogita de qualquer prejuízo, muito pelo contrário, haja vista que essa criança terá uma “rede de afetos” ainda mais diversificada a amparar seu desenvolvimento, sendo impositivo que o registro público de ciência a terceiros a este arranjo familiar sui generis mas que também deve ter reconhecimento por parte do Estado, como afirmação do princípio da dignidade da pessoa humana e da proteção da entidade familiar sem preconceito de qualquer espécie, segundo a interpretação do texto Constitucional (COSTA, 2015, [s.p.], grifos nossos).

Também optou pelo reconhecimento da multiparentalidade o juiz Lucas de Mendonça Lagares, da Comarca de Formosa-GO, no julgamento do processo nº 2014.0180.7008 (LAGARES, 2015). Em julho de 2015, a sentença deferiu o pedido de uma moça para incluir o nome de seu pai biológico em seu registro de nascimento, após descobrir que seus pais registrais não eram seus pais biológi-cos. Tratou-se de um caso de adoção à brasileira, em que a filha foi entregue pela genitora ao casal que a criou desde o nascimento. O genitor já havia morrido quando a autora pediu o reconhecimento, que foi feito através de exame com a avó paterna. Na fundamen-tação, o juiz utilizou o princípio da dignidade da pessoa humana, afirmando que o direito deve servir à sociedade na busca pela ver-dade real:

A pessoa não é o meio, mas o fim. E o direito foi estabe-lecido para servir ao homem, permitindo-lhe o convívio social e familiar, e não para que o homem o servisse. Daí que a observância das normas jurídicas – e sua interpreta-ção – devem atender as regras mínimas incidentes para as mais variadas relações intersubjetivas existentes. Porém, a dignidade da pessoa humana que integra o vínculo ju-rídico deve ser permanentemente assegurada. Conclusão óbvia é que não basta o reconhecimento da existência dos direitos da personalidade, as chamadas liberdades públi-cas, é necessário conferir dignidade à vida e aos demais direitos personalíssimos que a partir da sua existência po-dem advir, com destaque para os direitos ao nome, iden-tidade e convivência familiar (LAGARES9, 2015, [s.p.], grifos nossos).

9 TJGO. Sentença 2014.0180.7008, Juiz de Direito Lucas de Mendonça Lagares, j. 21/jul/2015.

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Um final diferente teve o julgamento de um pedido feito à Co-marca de Quirinópolis-GO (processo nº 428390-21.2013.809.0134). O filho ajuizou ação pleiteando o direito de ter reconhecido sua paternidade biológica, sem alteração da paternidade socioafetiva (fruto de adoção à brasileira). O pedido foi negado pelo juiz Flavio Pereira dos Santos Silva em junho de 2016, que, apesar de reconhe-cer a existência de julgados sobre multiparentalidade, disse que a análise deve ser feita caso a caso. De acordo com o magistrado, a multiparentalidade é uma tendência, mas deve-se atentar em cada situação às reais intenções dos postulantes: “[...] se é de fato a con-cretização do afeto, do amor e dos vínculos afetivos existentes entre pais e filhos, ou se são eminentemente fundamentados em desejos patrimoniais” (SILVA, 2015, [s.p.]). Foi justamente por isso que o juiz decidiu pela improcedência, pois entendeu que a pretensão era de natureza financeira, não admitindo a predominância do vínculo genético em detrimento do laço afetivo, mormente em desvalor do afeto, carinho e amor.

No mesmo sentido, entendeu o Tribunal de Justiça do Paraná, em recente julgamento, impedindo a utilização do instituto quando se percebe intenções unicamente patrimoniais. Vejamos a ementa do acórdão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVESTI-GAÇÃO DE PATERNIDADE POST MORTEM C/C PE-TIÇÃO DE HERANÇA. PRETENSÃO DE BLOQUEIO DA TRANSFERÊNCIA DE BENS ARROLADOS EM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL. ALEGAÇÃO DE QUE O AUTOR DA HERANÇA É PAI BIOLÓGICO DA AGRAVANTE. VÍNCULO SOCIOAFETIVO DELA COM PAI REGISTRAL QUE COMPROMETE O FU-MUS BONI IURIS NECESSÁRIO AO DEFERIMENTO DA MEDIDA PRETENDIDA. FINS MERAMENTE PA-TRIMONIAIS QUE NÃO SE COADUNA COM O PRIN-CÍPIO DA AFETIVIDADE QUE INFORMA O DIREITO DE FAMÍLIA. RECURSO DESPROVIDO (TJPR – 11ª C. Cível – AI – 1485792-6 – Catanduvas – Rel.: Mario Nini Azzolini – Unânime – J. 03.08.2016)

O mesmo Tribunal, em caso semelhante, determinou o reco-nhecimento do vínculo biológico, sem exclusão do pai registral, baseando-se no princípio da dignidade da pessoa humana, na im-

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possibilidade extinguir o vínculo socioafetivo e no direito à ances-tralidade. No entanto, não se trata de decisão controversa ao caso anteriormente analisado, pois enquanto que no anterior reconhe-ceu-se que o pedido era de cunho estritamente patrimonial, neste nada se falou a respeito. A seguir transcreve-se a ementa:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE C/C DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE REGISTRO CIVIL - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA – REQUERENTE QUE EM IDA-DE ADULTA TOMA CONHECIMENTO DE QUE SEU PAI BIOLÓGICO SERIA DIVERSO DO PAI REGIS-TRAL – EXISTÊNCIA DE VÍNCULO SOCIOAFETI-VO COM O PAI REGISTRAL QUE NÃO TEM O CON-DÃO DE EXTIRPAR DA REQUERENTE O DIREITO AO CONHECIMENTO DE SUA ORIGEM GENÉTICA – PRECEDENTES – PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – RECUSA DO INVESTIGADO EM SE SUBMETER AO EXAME DE DNA – FATOR QUE, ALIADO ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO, IMPORTA NA PRESUNÇÃO DE EXIS-TÊNCIA DE VÍNCULO DE PATERNIDADE BIOLÓ-GICA – SÚMULA 301 DO STJ – IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DE NULIDADE DO REGIS-TRO PELO PAI REGISTRAL ANTE A EXISTÊNCIA DE VÍNCULO SOCIOAFETIVO – RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE – SENTENÇA REFORMA-DA - PROCEDÊNCIA DO PEDIDO INVESTIGATÓRIO - IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DECLARATÓRIO DE NULIDADE – RECURSO PARCIALMENTE PRO-VIDO (TJPR – 12ª C. Cível – AC – 1244540-2 – Curitiba – Rel.: Denise Kruger Pereira – Unânime – J. 04.02.2015).

Na Comarca de Bagé, no Rio Grande do Sul, o magistrado determinou a exclusão do nome do pai registral (socioafetivo) para incluir o nome do pai biológico. No caso, o pai biológico descobriu que seu filho havia sido registrado em nome do companheiro da mãe da criança. Na ação de reconhecimento de paternidade ajui-zada pelo pai biológico, os pais registrais deixaram transcorrer in albis o prazo para apresentação da defesa. Em audiência de conci-liação, a mãe compareceu, mas o pai registral não. Após a sentença que mandou excluir o nome do pai registral para incluir o biológico, os requeridos recorreram, alegando que a paternidade socioafetiva

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deve prevalecer sobre a biológica ou, ao menos, mantida em con-junto com esta (multiparentalidade). O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no julgamento do recurso10, manteve a sentença, pois entendeu que o pai registrado foi regularmente citado e intima-do, exercendo seu direito de se manter inerte ao processo, ou seja, o Tribunal entendeu que o silêncio do pai significou que ele não mais queria exercer a paternidade, pois não “lutou” judicialmente pelo filho. Segue um trecho da fundamentação:

Além disso, a simples afirmação feita por Andréia, de que Paulo Vitor possui como figura paterna Michelon, cha-mando o autor, com quem também convive, de “amigo” ou “pai-amigo”, não impressiona e é deveras insuficiente para a comprovação da alegada paternidade socioafeti-va, considerado o próprio comportamento mantido pe-los demandados. Repriso que o pai registral foi citado, teve plena ciência da pretensão do autor (em especial, a de retificação do registro civil), mas não apresentou defe-sa. E, identicamente, intimado à audiência de instrução e julgamento, não compareceu ao ato; desídia que é sinto-mática. Com efeito, o pai registral, embora defenda que a paternidade biológica deva ficar subjugada porque em confronto com a paternidade socioafetiva, desperdiçou as fases postulatória (defesa) e, mormente, instrutória, para lançar mão dos mais amplos meios de prova a comprovar sua tradução acerca do suscitado liame paterno-filial; no entanto, optou pelo silêncio, o que milita, por óbvio, em seu desfavor. Nessa esteira, à míngua de elementos proba-tórios, fica inviabilizado o reconhecimento da paternidade socioafetiva e, por conseguinte, mesmo de uma multipa-rentalidade, que jamais foram objeto de investigação algu-ma, e que, repriso, apenas foi suscitado nesta fase recur-sal (PASTL, 2015, [s.p.], grifos nossos).

Da análise do julgado constata-se que o descuido do requeri-do em não comparecer à audiência de instrução impediu o reconhe-cimento da paternidade socioafetiva. Difícil é imaginar que uma pessoa registra uma criança como seu filho, sabendo que não o é, e, ainda assim, não queira ser o pai. Esse foi o entendimento dos juí-zes. Não se desconhece o princípio da celeridade processual, tam-pouco a obrigatoriedade de seguimento dos trâmites processuais. 10 Apelação Cível Nº 70066248782, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 26/11/2015.

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Sabe-se que todo feito precisa de um final, não podendo se estender ad infinitum, mas é custoso crer em uma situação que o pai perde o seu parental somente por faltar à audiência de instrução.

Em 2014, o Tribunal de Justiça de Roraima11 já havia se manifestado pela determinação do reconhecimento da multiparen-talidade. No caso em análise, o pai biológico não registrou a filha à época do nascimento porque a mãe era casada. O marido, mesmo sabendo que a filha não era sua, registrou a menina. Com o fim do casamento, o pai biológico pleiteou na justiça o direito de ser reconhecido como pai, argumentando que a menina sabe de sua situação filial e reconhece o pai biológico como pai. Na sentença, o juiz de primeiro grau entendeu por priorizar a paternidade afetiva, mantendo o pai registral. Inconformado, o pai biológico recorreu. No tribunal a situação foi modificada, entendendo os desembarga-dores que se trata de caso em que a criança possui dois pais, caso que impede que a paternidade afetiva se sobreponha à biológica. No acórdão, invocou-se o princípio do melhor interesse da criança e da solidariedade familiar para justificar a multiparentalidade. Ve-jamos um trecho:

Ambos, portanto, querem ser “o pai” da menor. Ora, de acordo com o princípio do melhor interesse da criança, da solidariedade familiar, o caso concreto conduz à con-clusão de que ambos devem constar em seu registro como pais, já que os dois exercem o seu papel, sendo, portanto, importantes na vida da criança. Aqui não há necessidade de se falar em vínculo socioafetivo em detrimento do bio-lógico ou vice e versa, mas sim de possibilitar à criança se beneficiar do afeto dos dois pais, já que estão propostos a isso, recebendo também outras vantagens, como a inclusão em planos de saúde, planos previdenciários, podendo figu-rar como dependente dos dois, e até pleitear alimentos dos dois. O Poder Judiciário não pode ignorar que a multipa-rentalidade, ou seja, a possibilidade de uma pessoa ter mais de um pai e/ou mais de uma mãe, ao mesmo tempo, é uma realidade que pode ser verificada socialmente (BIANCHI, 2014, p. 26, grifos nossos).

11 TJRR – AC 0010.11.901125-1, Rel. Juiz(a) Conv. ELAINE CRISTINA BIANCHI, Câmara Única, julg.: 27/05/2014, DJe 29/05/2014, p. 26.

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Em outro caso (processo nº 0012530-95.2010.8.22.0002), ainda mais antigo, de 2012, ocorrido em Ariquemes-RO, a juíza Deisy Cristhian Lorena de Oliveira Ferraz, da 1ª Vara Cível, tam-bém reconheceu a multiparentalidade. Os autos contam que a ge-nitora teve um relacionamento por quatro anos, tendo engravidado já ao final desse tempo, separando-se antes de tomar conhecimento disso. Meses depois, iniciou outro relacionamento, já grávida. Com o nascimento, o companheiro da genitora registrou a criança em seu nome, tendo conhecimento que o filho era do ex-companheiro. Após alguns anos, na tentativa de corrigir seus erros do passado, a genitora (como representante da infante) ajuizou ação para de-clarar a inexistência de vínculo parental entre o pai registral e a filha. Feito o exame de DNA, comprovou-se que o pai biológico realmente era o ex-companheiro da genitora. Feito o estudo psicos-social, constatou-se o forte vínculo socioafetivo entre a criança e o pai registral, inclusive com a família deste (principalmente avó pa-terna). Também se verificou que após o exame de DNA, a menina e o pai biológico aproximaram-se, iniciando uma relação afetiva. Com isso, a magistrada entendeu que a questão demandava uma análise mais profunda da dinâmica familiar, com uma releitura dos princípios constitucionais, principalmente do princípio da dignida-de da pessoa humana. Por fim, considerando a vontade da criança em manter os dois pais, e a vontade dos dois requeridos em serem reconhecidos como pais, a magistrada manteve o nome do pai re-gistral e determinou a inclusão do nome do pai biológico no assento de nascimento da filha.

De tudo o que foi analisado, pode-se dizer que os tribunais pátrios têm avançado no sentido de reconhecer a multiparentali-dade sem tanta resistência, quando a situação fática assim exige. É uma tendência do direito das famílias, que tem se fundado no conceito pluralista da família contemporânea.

O instituto da multiparentalidade tende a ser consolidado e até simplificado, tendo em conta o Provimento nº 63 do CNJ, edi-tado em 14 de novembro de 2017. Tal provimento considera que a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios e

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apresenta em seu artigo 14, a possibilidade de a multiparentalidade ser firmada diretamente pelo Cartório de Registro Civil.

Dessa forma, o reconhecimento voluntário da paternidade ou da maternidade socioafetiva de pessoa de qualquer idade poderá ser feita perante o oficial de registro civil (art. 10). Além disso, o provi-mento deixa claro que o reconhecimento voluntário da paternidade ou maternidade será irrevogável, somente podendo ser desconstitu-ído pela via judicial, nas hipóteses de vício de vontade, fraude ou simulação (art. 10 §1º).

No entanto, o provimento estabelece um limite de pais para o registro em cartório, proibindo o registro de mais de dois pais e de duas mães no campo filiação no assento de nascimento.

Não obstante o reconhecimento do esforço do Poder Judici-ário em se adequar à realidade prática de um incontável número de famílias, aceitando a paternidade e maternidade socioafetiva de maneira mais ampla, possibilitando a dignidade da pessoa humana pela ótica da filiação civil, ainda é cedo para afirmar houve a con-cretização instituto da multiparentalidade, pois a questão é, de fato, muito complexa.

Sabe-se que toda quebra de paradigma demora um tempo até acontecer. Acerca disso, Kreuz (2012, p. 138) ensina que toda tran-sição demanda um tempo até ser estruturada:

As transições são fenômenos inevitáveis na vida das pes-soas, da família, da vida social, da estrutura do Estado, do Direito, enfim, em todos os níveis. Toda transição, in-dependentemente de sua natureza, requer um período de adaptação, de acomodação, de reorganização, para atuar nas situações novas que se estabeleceram.

O que se percebe acerca jurisprudência existente são tendên-cias de julgamento a depender da situação fática. O que se observou foi o seguinte: quando o pedido for por motivo unicamente patri-monial (normalmente questões relacionadas ao direito sucessório), o entendimento é a impossibilidade, pois o critério biológico não pode se sobrepor ao socioafetivo. Quando a questão não for apenas patrimonial, mas também, relacionada ao conhecimento da ances-

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tralidade, à busca pela identidade e pela felicidade, tem-se reconhe-cido a multiparentalidade.

Portanto, percebe-se que o modelo de parentalidade vem sen-do ampliado. Isso se dará de forma mais acelerada agora, com a aceitação pelo Supremo Tribunal Federal. No entanto, só mesmo o tempo será capaz de consolidar um entendimento jurisprudencial e alterar o paradigma sobre a temática.

3. AS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DA MULTIPARENTALIDADE

O grande cerne da adoção da multiparentalidade são os efeitos jurídicos que dela advém. O Instituto Brasileiro de Direito de Família já se manifestou, através da elaboração de seu enunciado nº 9, que a multiparentalidade gera efeitos jurídicos. Sendo assim, temos que se a multiparentalidade for reconhecida, o filho poderá pedir alimentos e herdar de todos os pais. E todos os pais exercerão o poder familiar em conjunto.

Os efeitos jurídicos da multiparentalidade são extremamente complexos, posto que fogem ao padrão de costume. No entanto, apesar das dificuldades práticas, o fenômeno da multiparentalida-de precisa ser compreendido na sua inteireza, uma vez que pater-nidade e maternidade são situações complexas que só se permite a existência por inteiro, ou seja, não há falar em “meio-pai” ou “meia-mãe”. Ou se é pai/mãe, e disso decorrem todas as responsa-bilidades legais, ou não se é. Reconhecer a paternidade socioafetiva é mais do que reconhecer um vínculo de afeto existente, é garantir ao filho os direitos à vida, saúde, segurança, dignidade e todos os outros previstos na Constituição Federal.

No direito de família

Estabelecido o vínculo parental através da multiparentalida-de, toda a relação de parentesco, colateral e em linha reta, será in-fluenciada. O filho passará a ter parentesco com a família de todos os pais/mães. Assim, o filho terá, pelo menos, seis avós, além de

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todas as relações de irmãos, tios, sobrinhos e primos socioafetivos decorrentes de seus três (ou mais) pais. Em decorrência disso, to-das as proibições relativas ao casamento, determinadas pelo artigo 1.521 do Código Civil, deverão ser aplicadas aos parentes biológi-cos e socioafetivos. Se o filho precisar de autorização para o enlace, todos os pais deverão autorizar. Caso não haja acordo, a questão deverá ser resolvida pelo juiz. Da mesma forma deverá acontecer em relação à emancipação: ou todos os pais concordam ou a solu-ção virá do magistrado.

Outra situação é a prestação de alimentos. Reconhecidas as parentalidades, todos os pais possuem responsabilidade com a cria-ção do filho e, portanto, têm o dever de prestar alimentos. Para Cassetari (2015), a pensão alimentícia deve ser paga por qualquer dos pais, sem que exista solidariedade entre eles, em função do ar-tigo 265 do Código Civil, que determina que a solidariedade não se presume (resulta da lei ou da vontade das partes).

Em junho de 2014, o juiz Fernando Nóbrega da Silva, da co-marca de Rio Branco-AC, reconheceu a multiparentalidade em uma situação em que o pai biológico apresentou, através da Defensoria Pública, um acordo extrajudicial de reconhecimento de paternidade e fixação de alimentos, fundamentando que, ao existir afetividade na relação biológica e socioafetiva, não se pode recusar a multipa-rentalidade. O juiz, ao reconhecer a multiparentalidade, homologou o acordo sobre os alimentos:

Não havendo inexorável vinculação entre a função paren-tal e a ascendência genética, mas concretizando-se a pa-ternidade atividade voltada à realização plena da criança e do adolescente, não se pode conceber como legítima a recusa da multiparentalidade. Basta ver que a família con-temporânea é mosaico e, portanto, baseia-se na adoção de um explícito poliformismo, em que arranjos pluriparen-tais, plurívocos, multifacetados, pluralísticos, são igual-mente aptos a constituir um núcleo familiar, merecendo “especial proteção do Estado”, como resulta do próprio art. 226, da CF/88. [...] Diante desse quadro, é se concluir como perfeitamente viável a coexistência de elos parentais afe-tivos e biológicos. O reconhecimento do elo paternidade socioafetivo não afasta a paternidade biológica, ou melhor, uma não tem preferência sobre a outra. Sendo certo que,

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na linha positivada no art. 27, do ECA – Lei nº 8.069/90 -, “O reconhecimento do estado de filiação é direito per-sonalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça” (SILVA12, 2014, [s.p.], grifos nossos).

Cassetari (2015) também explica que, em relação aos alimen-tos avoengos, caso os pais não tenham condições de arcar com a prestação, poder-se-á fazer o pedido aos avós. Nesse caso, a res-ponsabilidade dos avós é subsidiária, consoante à jurisprudência consolidada a respeito, ou seja, só pode ser pleiteada após a consta-tação de que os pais não têm condições de prestar alimentos. Não há litisconsórcio necessário nesses casos, o filho pode escolher um ou todos os avós (comumente escolhe-se o que tem melhor condi-ção financeira), em razão do artigo 1.698 do Código Civil, o qual prevê que, sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção de seus respectivos recursos.

Ainda em relação aos alimentos, cumpre dizer que os direitos e obrigações são recíprocos. Assim, não só o filho tem o direito de receber alimentos de três pais, como a obrigação de prestar alimen-tos a todos os pais, observado o disposto no parágrafo primeiro do artigo 1.694 do Código Civil.

A multiparentalidade também pode gerar questionamentos sobre quem deve ficar com a guarda do filho no caso de rompimen-to do relacionamento. Aqui, deve-se invocar o princípio do melhor interesse da criança. O ideal é que a guarda seja compartilhada en-tre os pais de forma amigável, de maneira que não traga prejuízo ao filho, que não deve ser penalizado pelos problemas existentes entre seus pais. Caso não seja possível, o juiz poderá determinar a guarda unilateral em favor de um dos pais ou até mesmo em favor de outra pessoa que possua mais afinidade e afetividade com a criança (art. 1.584, §5º CC). Nesses casos, os pais que não partilham da guarda terão direito à regulamentação de visitas.

12 TJAC. Sentença 0711965-73.2013.8.01.0001, homologação de transação extrajudicial, Juiz de Direito Fernando Nóbrega da Silva, j. 24/06/2014.

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No direito sucessório

A multiparentalidade também gera muitos questionamentos em relação ao direito sucessório. Desde já se adianta que os filhos terão todo o direito de herdar de todos os seus pais e mães, não im-portando quantos sejam. A filiação socioafetiva gera todos os efei-tos da filiação biológica e não poderá ocorrer qualquer forma de discriminação dos filhos, independentemente da origem do vínculo de filiação. A maior dificuldade consiste em fazer certas divisões, uma vez que o instituto não está previsto na lei.

O filho será considerado herdeiro necessário de todos os seus pais e terá direito à legítima prevista na legislação, recebendo por direito próprio (por cabeça). O filho multiparental poderá herdar de todos os avós também, caso seus pais sejam pré-mortos no momen-to da sucessão, situação em que herdarão por representação (parti-lha por estirpe).

Como a filiação é uma via recíproca, todos os ascendentes, sejam eles de origem genética ou afetiva, herdarão do filho, caso não exista a primeira classe de herdeiros. Nesse caso, a representa-ção se dá por direito próprio, pois não há possibilidade de represen-tação. Dessa forma, se o autor da herança falece e deixa uma mãe e dois pais vivos, cada um herdará 1/3 (um terço) da herança, pois em caso de graus iguais a divisão é feita por cabeça. Entretanto, quando houver a igualdade de grau, mas diversidade de linhas, deve-se, primeiro, fazer a divisão igual entre linhas maternas e paternas e, depois, dentro da linha, fazer a divisão por cabeça. Assim, se o filho tiver seus três pais pré-mortos, mas seus seis avós vivos, cada um herdará 1/6 (um sexto). No entanto, se o filho tiver seus pais e mãe e uma avó materna pré-mortos, os avós paternos receberam 1/6 (um sexto) cada um e o avô materno receberá 1/3 (um terço).

Em relação à concorrência entre ascendente e cônjuge, o Có-digo Civil prevê, em seu artigo 1.837, que ao cônjuge tocará um terço da herança ou a metade, se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau. Pretto (2013, p. 69) explica claramente como deve ser interpretado esse artigo em caso de multiparentalidade:

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Em casos de multiparentalidade, essa norma facilmente continuaria seguindo a lógica a que se propõe – partilha em quotas iguais para cada um dos pais e para o cônjuge sobrevivente. Falecendo o autor da herança, que deixa um pai e duas mães, caberá ao seu cônjuge a quarta-parte do montante a ser partilhado. Falecido um dos genitores, ca-ber-lhe-á a terça parte; falecidos dois, a metade. Já quando o cônjuge concorre com ascendentes de grau mais distante, caber-lhe-á a metade. Nesse caso, separam-se os cinquenta por cento do cônjuge e a metade restante segue a partilha por linhas: metade para a linha materna, metade para a pa-terna (lembrando sempre que os ascendentes de grau mais próximo excluem os de grau mais remoto, o que pode fazer com que prevaleça apenas uma das linhas).

Em se tratando de concorrência entre ascendentes ou outros parentes e companheiro, o artigo 1.790, III, do Código Civil, deter-mina que caberá 1/3 (um terço) ao companheiro e o restante será dividido entre os ascendentes (ou entre os outros parentes). No en-tanto, é importante destacar que este artigo é pauta de julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, encarregado de apreciar sua (in)constitucionalidade. Apesar de o julgamento do Recurso Extra-ordinário nº 878694 estar suspenso, sete ministros já declamaram seus votos no sentido de reconhecer a inconstitucionalidade do artigo, acompanhando o voto do Relator, Ministro Luís Roberto Barroso. O fundamento abraçado é que a Constituição Federal não admite qualquer distinção de regime sucessório entre cônjuges e companheiros, pois viola os princípios da dignidade da pessoa hu-mana, da igualdade e da proteção da família (SUPREMO TRIBU-NAL FEDERAL, 2016). Dessa forma, em caso de união estável, deverá ser aplicado o artigo 1.829 do Código Civil para determina-ção da ordem de vocação hereditária. Assim, não havendo descen-dentes ou ascendentes, o companheiro não concorrerá com “outros parentes”, como prevê o artigo 1.790, III, Código Civil, herdando sozinho, na forma de seu artigo 1.829, III.

De todo o que foi visto, verifica-se que não há qualquer di-ficuldade ou impedimento legal em se permitir os efeitos jurídicos da multiparentalidade no direito sucessório. Ainda que o instituto seja novo e possa causar algum furor por outros parentes quando se trata de questões patrimoniais, terceiros não envolvidos na criação

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da relação socioafetiva nada podem fazer para impedir o reconheci-mento da parentalidade e consequentemente a produção de efeitos jurídicos. Sobre isso, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.259.460/SP (ANDRIGHI, 2012), reconheceu que o filho biológico não teria legitimidade para ingressar com ação negatória de paternidade em relação à irmã socioafetiva, pois o pai ao praticar a adoção à brasileira, sabia que a menina não era sua filha biológica.

Por fim, cabe trazer a ementa de um julgado13 do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná que reconheceu o direito sucessório na mesma decisão que reconheceu a multiparentalidade:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE DESCONSTITUIÇÃO DE ATO JURÍDICO CUMULADO COM INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE E MATERNIDADE, ALIMENTOS E PETIÇÃO DE HERANÇA – SENTENÇA DE IMPRO-CEDÊNCIA – COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DE UM DOS REQUERIDOS QUE AFASTA EVEN-TUAL NULIDADE - ADOÇÃO À BRASILEIRA – RE-QUERENTE QUE, EM IDADE ADULTA, PUGNA PELO RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE E MATER-NIDADE BIOLÓGICA – EXISTÊNCIA DE VÍNCULO SOCIOAFETIVO COM OS PAIS REGISTRAIS QUE NÃO TEM O CONDÃO DE EXTIRPAR DO REQUE-RENTE O DIREITO AO CONHECIMENTO DE SUA ORIGEM GENÉTICA – PRECEDENTES – PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – RECONHE-CIMENTO DO PEDIDO INICIAL PELA GENITORA BIOLÓGICA – EXAME PERICIAL QUE COMPROVA A PATERNIDADE – IMPOSSIBILIDADE DE RECO-NHECIMENTO DE NULIDADE DO REGISTRO ANTE A EXISTÊNCIA DE VÍNCULO SOCIOAFETIVO – RE-CONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE – SEN-TENÇA REFORMADA – PROCEDÊNCIA DO PEDIDO INVESTIGATÓRIO – PLEITO DE ALIMENTOS QUE DEVE SER AFASTADO – AUSÊNCIA DE COMPRO-VAÇÃO DA NECESSIDADE DO ALIMENTANDO – RECONHECIMENTO DOS DIREITOS SUCESSÓRIOS – POSSIBILIDADE – RECURSO DE APELAÇÃO PAR-CIALMENTE PROVIDO (PEREIRA, 2016, [s.p.], grifos nossos).

13 TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1381669-4 - Palmital - Rel.: Denise Kruger Pereira - Unânime - - J. 03.08.2016

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Verifica-se, então, a possibilidade e a real necessidade, como forma de garantir a igualdade entre os filhos e a dignidade da pes-soa humana, de permitir os direitos sucessórios decorrentes da re-lação multiparental.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Viu-se que os critérios paterno-filiais não podem se sobrepor uns aos outros em razão da teoria tridimensional do direito de famí-lia, pois o ser humano possui três relações de vivência em si: gené-tica (mundo das necessidades biológicas dos seres vivos em geral), (dês)afetivas (mundo da convivência em família e em sociedade) e ontológicas (mundo pessoal, endógeno, o seu próprio mundo). Para que o ser humano seja feliz, esses critérios devem conviver entre si, um não deve se sobrepor ao outro.

Com isso, surgiram questionamentos sobre a possibilidade da existência de mais que duas pessoas na relação paterno-filial, ou seja, a possibilidade de o indivíduo ter dois pais e uma mãe, por exemplo. A isso se dá o nome de multiparentalidade. Como essa si-tuação já ocorre no mundo real já há algum tempo, cumpre ao direi-to se adequar para garantir sua eficácia também no mundo jurídico.

Sobre a celeuma, o Supremo Tribunal Federal se manifestou favorável ao reconhecimento da multiparentalidade, em razão do direito que o ser humano tem de buscar a sua felicidade plena, ga-rantindo a existência de forma digna. Os Tribunais inferiores tam-bém têm entendido que, em algumas situações, não se pode esco-lher entre um ou outro pai, pois ambos são e sentem pais, e ambos fazem parte da formação da identidade do filho. Nesses casos, não respaldar juridicamente a situação fática, seria uma medida de in-justiça, o paradoxo do Direito, que deve prestar à sociedade e não engessá-la em seu molde.

O argumento dos Tribunais para permitir a multiparentalida-de é no sentido de que os critérios biológico e socioafetivo podem coexistir, garantindo igualdade na relação familiar e permitindo a construção de uma vida digna em busca da felicidade própria e dos membros da família.

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Contudo, o reconhecimento da multiparentalidade implica em questionamentos sobre as consequências jurídicas desse fato. Viu-se que a paternidade e a maternidade devem ser vividas de ma-neira integral, pois ninguém é meio-pai ou meia-mãe. E isso traz di-reitos e deveres entre o filho e os pais. Assim, o filho terá direito de receber alimentos de todos os pais na mesma medida em que todos os pais terão o direito de pedir alimentos ao filho, caso necessitem.

As proibições de casamento se estendem aos parentes dos pais socioafetivos também, não só aos do biológico. Quando hou-ver necessidade de autorização para algum ato, todos os pais devem autorizar.

Em relação à herança, o filho terá direito à partilha de todos os pais. Da mesma forma, todos os pais poderão ser herdeiros do filho. E não há muita dificuldade em realizar os cálculos, pois a legislação, em sua maior parte, se adapta à existência de três ou mais pais.

Sendo assim, acredita-se que a multiparentalidade, além de perfeitamente possível, é uma tendência e uma necessidade a ser seguida pelos Tribunais. É claro que o juiz deverá analisar os nuan-ces de cada caso, porém, em se verificando a necessidade de reco-nhecimento de muitos pais, não há nenhuma dificuldade em reco-nhecer todos os direitos de uma relação paterno-filial.

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