O que me levou a participar no programa de mobilidade foi a vontade de sair do país, aproveitando as oportunidades daí decorrentes, para ver como é lá fora, poder ter um termo de comparação, além da oportunidade de poder viajar e conhecer novas culturas, que de outra forma poderia nunca acontecer. Tomada a decisão, comecei por averiguar quais as opções para o meu curso, e inicialmente a ideia era ficar na Europa, mas ao ouvir falar da Bolsa Luso-Brasileira SantaderTotta, depressa virei as minhas atenções para outro Continente. Recebi o incentivo e o apoio do meu professor orientador, que tinha cursado nessa mesma escola, o que facilitou bastante alguns aspectos, nomeadamente o transporte do aeroporto internacional para a cidade onde fica a escola. A faculdade em questão é a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" em Piracicaba, São Paulo.

Depois em termos práticos, ou mais exactamente, burocráticos, foi cansativo; primeiro tratar de tudo para concorrer à bolsa, os apoios financeiros são sempre bem-vindos e claramente necessários, mas não são o suficiente nem chegam a horas, por isso o apoio familiar é de primordial importância! Aprovada a bolsa foi tempo de tratar de todos os documentos necessários à emissão de visto de estudante, o que nos faz andar de instituição pública em instituição pública; o mesmo acontece para a emissão de passaporte, no entanto, este tratado na loja do cidadão é muito mais rápido. Em termos de saúde, existe um acordo entre a nossa segurança social e o sistema brasileiro, que convém tratar, no entanto, para descanso dos nossos pais (!) e é recomendado mesmo pelas instituições de acolhimento, existe a possibilidade de se fazer um seguro de saúde, pelo tempo da nossa estadia que cobre todas as ocorrências, ficando pelos 400 €.

A viagem foi tratada directamente com a TAP, através de e-mail, sendo possível usufruir de um acordo entre a transportadora aérea e o banco. Foram imensos os e-mails trocados, de maneira a esclarecer horários, regras e muito importante, o número de bagagens e a sua capacidade. A questão da estadia foi tratada com o departamento das relações internacionais da escola, através de e-mail, onde se esclareceu a data de chegada e o que se pretendia, isto é, fiquei num pensionato (a renda rondava os 110 €), uma casa dividida com outras estudantes, em que a senhoria vive por perto, no meu caso, era numa casa adjacente, mas que nos fazia a limpeza da casa, tínhamos acesso à Internet (wireless) e tv por cabo, a comida ficava por nossa conta. Não tive a oportunidade de ficar numa chamada República, existem, femininas, masculinas e mistas; são casas com mais liberdade e confusão também, no entanto, tinham todas uma senhora que lhes fazia a limpeza e a comida, acrescendo o valor da renda (cerca de 150 €). Aí são preferidos os alunos que permanecem o ano lectivo inteiro, o que convém lembrar tem início em Janeiro, ou seja, lá o ano civil coincide com o ano lectivo, ao contrário do que se passa por cá.

A recepção foi muito boa, quem trabalha nas relações internacionais está sempre disposto a ajudar e a organizar eventos para uma melhor integração dos alunos estrangeiros, como um encontro que fizeram reunindo todos os alunos exteriores que estavam a frequentar a USP (Universidade de São Paulo),onde houve a oportunidade de conhecer praticamente todos os alunos portugueses, e ainda os franceses, venezuelanos, argentinos, espanhóis, e até de Singapura. Posso dizer que conheço pessoas por todo o mundo!

Um pormenor importante são as tomadas eléctricas lá, com os carregadores de telemóvel não há problema, mas as fichas dos computadores só dão com os adaptadores, que se compram lá. A comida, boa, barata e abundante, o problema é a escolha!

Na faculdade (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz") fui muito bem recebida, a professora que me orientou esteve sempre disponível, os recursos disponíveis excelentes, tanto em termos de condições de salas de aulas, de leitura e de lazer; as bibliotecas são bastante apetrechadas, com manuais actuais, tal como os laboratórios, e semanalmente ocorriam visitas de estudo interessantes e abertas a quem quisesse participar. A diferença, que depressa se ultrapassa, reside mais nos horários, que se relaciona muito com o clima, pois as aulas começam cedinho, e a hora de almoço termina às 13h, e aí por volta das 18h30m começa a escurecer; mas uma vantagem em relação ao ISA é o facto de existirem aulas em horário pós-laboral. Os professores são acessíveis e acostumados com alunos estrangeiros, sempre disponíveis a ajudar, com um nível elevado de exigência.

Outro pormenor importante é a questão da roupa, tudo bem que estamos em clima tropical, mas quanto mais para Sul se for convém ir minimamente preparada, nem que seja com um ou dois casacos de algodão, ou ganga, além de não esquecer de levar roupa de cama, mas também podem não levar nada e comprar tudo lá, mas mais uma vez atenção ao peso permitido por malas, que no caso do Brasil, são duas bagagens (porão de carga) de 23 kg, e mais a bagagem de mão. Um conselho importante, levem pouca coisa, porque vão trazer muito mais!

Aproveitem os churrasquinhos e as baladas, a escolha interminável de sucos e lanches, e se tiverem oportunidade, conheçam o país, existe uma rede bem estruturada de autocarros (onibus) para qualquer ponto do Brasil e vale a pena, pois é muito mais que os pacotes turísticos existentes por cá, e não se aborreçam quando disserem que não vos compreendem por não falarem português (o famoso oi?oi?oi?oi?)... É uma experiência que vale mesmo muito a pena e recomenda-se!! Nunca se vão esquecer dos lugares e das pessoas, e até da experiência académica.

Mara Carvalheira