o que fazem os sistemas financeiros e seus reguladores

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  • 8/7/2019 O Que Fazem Os Sistemas Financeiros e Seus Reguladores

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    1O que fazem Os sistemas financeirOs e seus reguladOres?

    O que fazem Os sistemas financeirOs e seus reguladOres?

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    1O que azem Os sistemas inanceirOs e seus reguladOres?

    Uma pUblicao do institUto

    brasileiro de anlises sociais e

    econmicas (ibase)

    ro Jo, oo 2010

    o qUe azem os sistemas inanceiros e seUs regUladores?

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    2 institutO brasileirO de anlises sOciais e ecOnmicas

    Esta publicao oi impressa com papel reciclado.

    aUtores

    Fernando J. Cardim de CarvalhoUniversidade Federal do Rio de Janeiro

    Jan Allen KregelThe Levy Economics Institute o Bard College

    organizao

    Fernanda L. de CarvalhoIbase

    editora

    Mariana Dias

    prodUo

    Geni MacedoJuciara Cru

    tradUo

    Jones de Freitas

    colaborao tcnica

    Renata Lins

    reViso

    Flvia Leiro

    proJeto grico e diagramaoGuto Miranda

    participantes

    Adhemar Mineiro BrasilAldo Caliari EUABruno Jetin FranaChalapurath Chandrasekhar ndiaDaniela Magalhes Prates BrasilKevin Young Reino UnidoMarcos Antonio Macedo Cintra BrasilMario Tonveronachi ItliaPenelope Hawkins rica do Sul

    Peter Wahl AlemanhaRenata Lins BrasilRick Rowden EUARogrio Sobreira BrasilStephany Grith-Jones Reino Unido

    o u f u u?

    Uma publicao do Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas (Ibase)

    Esta publicao oi apoiada por TheFord Foundation

    Coordenao: Fernando J. Cardim deCarvalho, Jan Allen Kregel, FernandaLopes de Carvalho

    Distribuio dirigida.Pedidos de exemplares:Ibase

    Avenida Rio Branco, 124 / 8 andarCentro CEP 20040-916Rio de Janeiro RJ

    Tel.: 5521 2178-9400Fax: 5521 2178-9402E-mail: [email protected]: www.ibase.br

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    5 apo8 ioo

    11 O o o?20 q o o o?

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    5O que azem Os sistemas inanceirOs e seus reguladOres?

    a

    Este o terceiro volume produido pela iniciativa Liberalizao fnanceira

    e governana global: o papel das entidades internacionais, iniciada emjulho de 2006, coordenada pelo Ibase e desenvolvida em parceria comespecialistas e ativistas de 13 pases, com o apoio da Fundao Ford.

    Seu objetivo investigar o dfcit democrticoexistente na operaodas instituies nanceiras internacionais e a proposio de alternativaspara super-lo. Trata-se de uma iniciativa que quer oerecer instrumen-tos para organiaes e movimentos sociais, parlamentares, governos de

    pases em desenvolvimento, entre outros, na luta poltica de demandapor vo e infuncia nas instituies que decidem a regulao a ser se-guida por instituies nanceiras em todo o mundo.

    Essas decises exercem um impacto proundo e direto na vida e nobem-estar das populaes. Alm disso, elas limitam a liberdade de es-colha de polticas pblicas, especialmente pelos governos dos pases emdesenvolvimento, que, no entanto, tm participao nula ou reduidanos processos deliberativos dessas instituies.

    O primeiro volume, Quem controla o sistema fnanceiro?, tratou dodfcit democrticonas instituies internacionais voltadas para a or-mulao de estratgias na regulao nanceira. Analisou-se a natureados processos de tomada de deciso e oram explicitados sua impor-tncia e os impactos de seu trabalho. Examinou-se, principalmente, asoperaes de instituies pouco conhecidas pelo pblico em geral, masde importncia central para a regulao do sistema bancrio, como oComit de Basileia.

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    No segundo volume, Crise fnanceira e dfcit democrtico, tratamosda alncia do sistema regulatrio que gerou a atual crise, que, porsua magnitude, levou os governos dos pases desenvolvidos a interviremdrasticamente nos mercados e nas instituies nanceiras, algo inima-

    ginvel at h poucos anos. Fiemos uma breve descrio dos processosnanceiros que levaram crise, analisamos as alhas regulatrias nesseprocesso, e, por m, tratamos de como as organiaes da sociedadecivil podem enrentar essas questes, discutindo algumas alternativas deenrentamento do dfcit democrticona operao de entidades comoo Comit de Basileia, tarea crucial no caminho para uma governanananceira internacional mais democrtica.

    Com este novo volume, iniciamos uma srie de trabalhos visando

    a construo de uma base conceitual e analtica que permita a organi-aes da sociedade civil undamentarem suas aes e demandas nocampo da regulao nanceira. Discutimos as unes do sistema -nanceiro em uma economia capitalista; seu potencial construtivo e seupotencial destrutivo; e mostramos porque necessrio criar um corpode regulao que contenha as tendncias s crises econmicas geradaspelo uncionamento de mercados nanceiros.

    A este volume seguiro outros que exploraro aspectos especcosda operao de sistemas nanceiros relevantes para a denio dedemandas e programas de ao por organiaes da sociedade civil,alm de trabalhos sobre a ormulao de estratgias para essas enti-dades e a experincia de algumas delas com instituies nanceirasmultilaterais.

    Este um momento privilegiado para promover mudanas e deveser explorado pelos movimentos e pelas organiaes sociais. obje-

    tivo desta iniciativa contribuir para o desenvolvimento de capacidadeanaltica entre militantes e lideranas de movimentos e organiaes dasociedade civil, ortalecendo assim postura crtica e ao poltica contraa globaliao nanceira neoliberal.

    Os coordenadores Fernando Cardim de Carvalho e Jan Kregel pro-duziram este texto, aqui publicado, considerando os resultados dos di-logos e debates realizados pelos participantes desta iniciativa em of-cinas e em um seminrio. No entanto, a responsabilidade fnal sobre o

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    7O que azem Os sistemas inanceirOs e seus reguladOres?

    texto dos coordenadores. As anlises produzidas pelos vrios partici-pantes, assim como as publicaes anteriores, esto disponveis no site.

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    iuO o

    o o?

    Ao mesmo tempo que a primeira dcada do novo milnio chega ao

    m, grande parte da populao do mundo no est lutando para en-rentar os problemas do sculo XXI. Pelo contrrio, as pessoas estosorendo com os problemas tradicionais das economias capitalistas:desemprego e capacidade ociosa. Isso no est acontecendo porque ostrabalhadores subitamente esqueceram como as coisas so produidasou porque as mquinas se tornaram obsoletas da noite para o dia. Aproduo oi paralisada por causa da violenta crise nanceira vivida

    nos pases mais ricos do mundo e que interrompeu a atividade econ-mica em todo o planeta.Se precisvamos de mais uma prova da importncia dos sistemas

    nanceiros na vida do homem comum, e no somente na vida de unspoucos jogadores nas bolsas de valores e em outros mercados especu-lativos, os ltimos trs anos serviriam como prova. Cerca de 10% dostrabalhadores dos Estados Unidos (EUA) esto sem emprego (outros 10%simplesmente desistiram de procurar e, portanto, no so mais contados

    como ocialmente desempregados). Na Espanha, o desemprego atingiucerca de 20%. Pode-se imaginar quantos trabalhadores gregos perderoseus empregos com a crise recente que surgiu na Unio Europeia.

    Nas economias capitalistas, a propriedade do capital nanciadapela emisso de ativos nanceiros. Os mercados nanceiros que criame negociam esses ativos so, portanto, elementos centrais na operaodas economias capitalistas. Ao apoiar investimentos em novos ativos decapital, os mercados nanceiros podem aumentar o crescimento e o po-

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    9O que azem Os sistemas inanceirOs e seus reguladOres?

    tencial de emprego das economias capitalistas. Assim, se os mercadosso regulados e supervisionados corretamente, podem contribuir paraacelerar a acumulao de capital e ajudar a criar as condies necess-rias para o desenvolvimento e a distribuio mais equitativa da renda e

    da riquea. No entanto, deixados sem controle, a experincia histricados pases capitalistas tem mostrado que podem expor as economias aenormes riscos e impor gigantescas redues renda e ao emprego.

    A Grande Depresso dos anos 1930 e a Grande Qualquer Coisaque nos atinge desde 2007 (ainda cedo demais para saber o nome) soexemplos dolorosos do poder destrutivo das crises nanceiras. Os riscosdescontrolados dos mercados nanceiros podem levar at mesmo eco-nomias desenvolvidas ao colapso, como est acontecendo agora. As eco-

    nomias em desenvolvimento vm sorendo crises nanceiras com maisrequncia ainda (relacionadas a crises de balano de pagamentos).1Basta lembrar a crise da Tequila no Mxico, em 1994; Coreia do Sul eoutros pases asiticos, em 1997; Rssia, em 1998; Brasil, em 1999;Argentina, em 2001; e assim por diante.

    Warren Buet comparou alguns instrumentos nanceiros a armas dedestruio em massa. Talve, possamos modicar essa analogia e com-

    parar a atividade nanceira energia nuclear: pode ser extremamentetil, mas seus riscos so igualmente extremos.Assim como o uso da energia nuclear, a atividade nanceira requer

    regulao rigorosa. Durante os ltimos trinta anos, at o incio desta cri-se, a contrarrevoluo neoliberal dominou o modelo das polticas sobreos mercados nanceiros nos pases desenvolvidos e em desenvolvimen-to. Um dos princpios centrais desse enoque era a ecincia inerente a

    1 O balano de pagamentos de um pas uma conta nacional que representa as transaesdos residentes de uma determinada economia com suas contrapartes estrangeiras duran-te determinado perodo de tempo. Essas transaes so classicadas em dois grupos:contas correntes, que incluem exportao e importao de bens e servios e pagamentosde rendas (juros, remessa de lucros, salrios pagos a trabalhadores ora do seu pas deresidncia etc.); conta de capitais, que incluem investimentos estrangeiros, aplicaesnanceiras, derivativos etc.. Na linguagem comum, a expresso balano de pagamen-tos se reere a transaes estrangeiras em geral, e no somente a documentos contbeiscomo tal. Assim, tornou-se comum se reerir crise de balano de pagamentos quando asreservas de um pas esto exauridas e h gastos que ainda no oram liquidados.

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    mercados competitivos livres, pois eles permitiriam que agentes nan-ceiros privados expressassem suas preerncias livremente, evitando oltro dos burocratas governamentais. O resultado oi que todo o aparatode regulao e superviso das atividades nanceiras erguido em respos-

    ta aos danos causados pelos mercados nanceiros nos anos 1930 oidesmantelado ou neutraliado.Medidas de liberaliao e desregulamentao nanceira oram intro-

    duidas para criar mercados de capitais livres, ecientes e competitivos.Tais adjetivos evocam independncia e liberdade de ao, atributos consi-derados positivos em sociedades democrticas livres. Na verdade, muitosapologistas dos mercados nanceiros argumentavam, com sucesso, queo direito de cidados e cidads disporem de sua riquea como quisessem

    era quase um direito civil bsico. At mesmo governos progressistas eesquerdistas evitaram desaar esse princpio e buscaram a liberaliaonanceira de seus mercados nacionais e o movimento de capitais paraalm de suas ronteiras.

    Toda a indignao contra os excessos nanceiros atualmente de-monstrada por lderes polticos, assim como a descoberta tardia de queos mercados nanceiros so movidos pela ganncia de tipos como Alan

    Greenspan (ele, obviamente, no viu o lme Wall street, de Oliver Stone!),no pode esconder o ato de que as ideologias neoliberais de desregula-mentao e liberaliao deendidas pelos undamentalistas do merca-do prevaleceram durante mais de trs dcadas.

    No entanto, o recente racasso dos mercados nanceiros no deveocultar que, sob regulao e superviso apropriadas, eles podem con-tribuir muito para melhorar o bem-estar e acelerar o desenvolvimento.O texto a seguir explica por que a regulao e a superviso so cruciais

    e quais estratgias tm uncionado melhor. O objetivo no deenderuma estratgia regulatria especca, mas ornecer a ativistas sociais al-gumas das erramentas conceituais necessrias para avaliar os debatesque esto ocorrendo nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, assimcomo em entidades internacionais por exemplo, o G-20, o Conselho deEstabilidade Financeira, o Comit de Basileia etc. , ajudando-os a seposicionarem na deesa dos interesses da sociedade civil, em contrapo-sio aos interesses particulares dos agentes nanceiros.

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    o u f?

    Para os economistas ortodoxos, a principal uno dos mercados a alocao eciente de recursos escassos. Sendo assim, a principal

    uno de um sistema nanceiro de livre mercado alocar capital es-casso para os que podem us-lo da orma mais produtiva e lucrativa. Ouso da palavra capital nessa sentena no por acaso. A maior partedas pessoas associa o termo a instrumentos concretos de produo,como erramentas ou bricas. Assim, quando se di que os sistemasnanceiros trabalham para garantir que o capital seja transerido dospoupadores (que no querem ou no sabem como utili-lo) para os

    investidores, ca implcito que os mercados nanceiros so to im-portantes para a operao eciente do ncleo do sistema econmicoquanto, por exemplo, os supermercados, que disponibiliam mercado-rias para consumidores.

    o uNa verdade, os sistemas nanceiros no lidam com o capital sico, mascom ttulos nominais sobre a renda, que tambm servem de meios de pa-

    gamentos. Ao tornar esses ttulos lquidos, os mercados nanceiros podemornecer aos capitalistas o controle sobre recursos econmicos reais.

    As economias capitalistas so economias monetrias, nas quais oacesso a bens e servios, tanto para o consumo como para investimen-tos, dado queles que possuem dinheiro ou capacidade de criar di-nheiro. Para consumir ou investir, necessrio comprar bens. Mas, paracomprar bens, no possvel oerecer outros bens: preciso oerecerdinheiro exceto em pequenos mercados comunitrios, que no esto

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    voltados para o lucro e no so operados por empresas capitalistas.No jargo da economia, o dinheiro, um meio de ter acesso a ele ou

    de cri-lo denominado liquide. Ter liquide signica ter meios depagamento mo ou porque se tem o dinheiro ou porque se tem algo

    que pode ser cil e rapidamente trocado por dinheiro.Naturalmente, o dinheiro necessrio no somente para comprarbens e servios, como tambm para pagar impostos, dvidas etc.. Porisso, chama-se meio de pagamento. Assim, dierentemente do que sugerido pelos economistas ortodoxos, os sistemas nanceiros tm a vercom liquide, e no com capital.

    meios de pagamento: dinheiro oU depsito bancrio

    n o o, o ho po o pp po ovo.

    e , o o eo oo o oo xo -o o o o. n v, o o o-

    o v p o xo o. O eo p o o o o, xo j o o o po o

    , po o o, o oo o , o, o o po o po o pv.

    coo, o po o p o ho v oo

    o po, o o j vo. O oho - o po po o po o. n o o p,

    o p op o po o po

    o. o o o po op po o po oo o o h o o ( oo o po o o o o o po o

    po o).

    coo ov o oo Hy mky, po po -ho, o po o . b, o o o o,

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    13O que azem Os sistemas inanceirOs e seus reguladOres?

    o p o o oo po

    . n oo p o, po, , o p o (pp-o o o ) o o-

    po o. s hov p, po po o, po po o o ov o

    po. i op o po o . do, op o o vo o o o.

    qu f Por que os bancos podem competir com o monoplio governamental na

    criao de dinheiro? Em grande medida, isso ocorre porque os governostomam medidas para apoiar esses substitutos com a nalidade de ga-rantir a estabilidade nanceira. Naturalmente, para ns que usamos de-psitos bancrios, sua principal qualidade a de serem to bons quantomoeda, o que signica que aceitar depsitos bancrios como meio depagamento to bom como aceitar moeda ou at mesmo melhor.

    Isso acontece porque o banco garante que seus depsitos podem

    ser trocados por dinheiro vivo a qualquer momento e, dierentemente damaioria dos outros ativos, seu preo xo: R$ 1 em depsito bancriopode ser sempre trocado por R$1 em moeda. Em outras palavras, se noquiser manter depsitos bancrios, tenho sempre a possibilidade de irao banco e troc-los pela moeda do governo. Esse o motivo pelo qual,em geral, no temos preerncia entre as duas modalidades.

    Naturalmente, h um problema, e ele importante. Geralmente,os bancos so empresas privadas. Como ento garantir que sempre po-

    derei trocar meus depsitos por dinheiro se eles podem alir? Esse oproblema da estabilidade nanceira. Os bancos tomam medidas, comomanter reservas em moeda nacional ou em ativos que possam ser ra-pidamente convertidos em dinheiro vivo. Porm, algumas vees, essasmedidas no so sucientes, e o racasso na troca de depsitos pordinheiro leva quebra da instituio, o que requentemente se espalhae cria a clssica corrida aos bancos, na qual todos tentam converterseus depsitos em dinheiro.

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    A m de evitar esse resultado, os governos tm criado regulamenta-es para garantir prticas bancrias seguras. Em muitos pases, oraminstitudos planos de seguro, nos quais o governo garante que, mesmono caso da alncia do banco, ainda serei capa de cobrar meus dep-

    sitos. Assim, conamos nos bancos porque, na verdade, conamos nogoverno, que garante suas obrigaes na orma de depsitos bancrios.Se, por algum motivo, essa conana no existir ou no or sucien-

    temente orte, podem acontecer as corridas a bancos. Essas corridasso situaes em que os depositantes suspeitam que os bancos nohonraro suas obrigaes de depsitos e que os governos podem noapoi-los ou, como no caso do Reino Unido, acham que a ajuda vaidemorar , e decidem que melhor retirar seus depsitos antes que seja

    tarde demais. Quando um grande nmero de depositantes tomado poressas suspeitas e tenta retirar todos os seus depsitos de uma s ve, obanco acaba entrando, de ato, em colapso.

    d : v O recebimento de depsitos um privilgio concedido pelo governo pormeio de uma carta patente que cria a instituio nanceira. Como esse

    privilgio inclui no somente a custdia de depsitos, mas tambm acriao de undos que ornecem emprstimos aos clientes, ele umaonte importante de renda para os bancos. Esse lucro gerado peladierena entre a taxa de juro cobrado nos emprstimos e a taxa pagaaos depositantes.

    Vejamos um exemplo de como isso unciona. Uma empresa vai a umbanco em busca de emprstimo para contratar trabalhadores e comprarmatrias-primas. O banco decide conceder o emprstimo, mas no em-

    prestar a moeda que recebeu em depsitos de outros clientes. Em vedisso, o banco criar uma conta de depsitos em nome do tomador doemprstimo e registrar o valor emprestado como seu crdito. O toma-dor, por outro lado, possivelmente, no sacar o dinheiro do depsito. mais provvel que ele aa seus pagamentos por meio da transernciados crditos para terceiros, com a utiliao de cheques. Quem estiverabaixo na cadeia de pagamentos deve aer o mesmo. E, assim, o bancoque criou o depsito pode nunca precisar ornecer moeda para honrar

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    os saques. O banco comprou coisas (nesse caso, a dvida da empresatomadora do emprstimo, que pagar juros) e no deu nada em troca!

    Portanto, os bancos no intermedeiam crdito: eles o criam. Criamliquide ao criarem depsitos e disponibili-los aos tomadores de em-

    prstimo. Os bancos no precisam pedir emprestado a um depositanteprimeiro. Na verdade, os bancos criam depsitos e emprstimos aomesmo tempo. A operao bancria moderna a realiao do sonhodo alquimista!

    iu f Por meio de regulao ou controle das cartas patentes dos bancos,esse privilgio no se estende a outras instituies nanceiras ou a

    mercados de capitais. As outras instituies nanceiras no bancriass servem para redistribuir a liquide dos que a possuem, mas notm previso de us-la, para aqueles que tm despesas planejadas,mas no possuem o dinheiro para pag-las. Elas somente emprestamou compram quando conseguem atrair undos.

    Porm, essas instituies ornecem um tipo dierente de liquide.Atuando como avalistas, operadoras ou ormadoras de mercado, elas

    oerecem a seus clientes a possibilidade de trocar ativos por dinheirorapidamente. Portanto, aes de empresas so consideradas lquidasquando podem ser vendidas rapidamente para uma instituio nancei-ra que atua como ormadora de mercado no mercado de aes. Assimcomo os bancos, esses ormadores de mercado s podem ornecer liqui-de se possurem reservas de moeda sucientes para comprar e vendersem grandes mudanas de preo. Quando eles no conseguem aerisso, os preos variam muito, e a liquide do mercado declina.

    Nos dois casos, os bancos e as instituies nanceiras no bancriasesto dando aos clientes acesso aos meios de pagamento, ou seja, liquide e no ao capital. Se esses undos realmente sero utiliadospara nanciar investimentos de capital, depender de quais tomadoresde emprstimos sero mais atrativos para as instituies nanceiras.

    Esses tomadores podem ser empresas desejando aer investimen-tos, mas tambm podem ser consumidores ou at mesmo outras institui-es nanceiras. Na verdade, o crescimento do volume de emprstimos

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    nos ltimos vinte anos em pases como os EUA ocorreu, em grandeparte, entre dierentes instituies nanceiras.

    preserVao da coniana

    coo o o o o po p o o-

    o o, po o v. Hxpo , oo o corralito 2001 2002, oo

    pov o o o po o. e o oo , ppo po ho po o. oh po o

    po ho, v o po , oo p

    p o. e o o o, o o, o popo vo.

    Poo, opo o o p oph popo o po o o o o o o, j oo -

    po oo po oo o o. eo o , o o. g v o p p-

    v o o.

    p u u?Por que no conar que os mercados privados garantiro a estabilidadecomo acontece em tantos outros setores? Porque o setor nanceiro no como os outros setores. Meios de pagamento so insumos essenciaispara todas as transaes. Como o depsito bancrio o principal meio

    de pagamento, cabe aos bancos administrar os pagamentos eitos emuma economia. Quando eles alham, dvidas e obrigaes no so liqui-dadas, e a economia ca paralisada. Alm da uno de administrar osistema de pagamentos, os bancos tambm so os principais ornece-dores de crdito, outro insumo essencial para as atividades produtivas epara o apoio a mercados, como o mercado de bens durveis.

    O problema que os bancos no so instituies pblicas operandono interesse da sociedade. Bancos no compensam cheques porque

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    mais eciente do que pagamentos em moeda, mas porque a compensa-o de cheques um servio subsidirio manuteno de depsitos achave do lucro dos bancos. Esse tipo de servio uma externalidade queos economistas chamam de bens pblicos, pois avorecem a economia

    e seus benecios no podem ser restringidos por quem os ornecem.Como qualquer empresa privada, os bancos querem maximiar oslucros. E como seus lucros aumentam conorme o volume de liquidecriado, eles tm interesse em emprestar sem limites, pois qualquer novoemprstimo tra mais lucro. O pior que pode acontecer o emprstimono ser pago. No entanto, os bancos no tm com o que se preocupar,pois no utiliam nem o prprio capital para aer o emprstimo, nemdinheiro tomado emprestado. Bancos emprestam moeda que no tm.

    Na verdade, o depsito bancrio criado para aer emprstimos sim-plesmente uma promessa de ornecer moeda quando solicitado. O queacontece quando um emprstimo no tem o retorno esperado?

    Esse exatamente o ponto no qual surge a regulao prudencial.Como o termo indica, ela serve para impor um comportamento maisprudente aos bancos, j que no existe nenhum incentivo privado paraque essas empresas ajam com prudncia. Estabilidade um bem p-

    blico e, quando deixado nas mos de agentes privados, nunca e-ciente. A regulao prudencial impe aes aos bancos para garantirque eles sempre cumpram a promessa de devolver os depsitos nabase de um para um na moeda do governo. Essa regulao constitu-da principalmente de limites sobre os montantes que os bancos podememprestar com relao aos depsitos que recebem ou em proporo aseu capital.

    lu vvNo entanto, a estabilidade no a nica preocupao quando se avaliaa uno dos sistemas nanceiros nas economias capitalistas modernas. muito importante analisar qual o destino da liquide criada ou rea-locada pelas instituies nanceiras e pelos mercados.

    O sistema pode privilegiar investimento e acumulao de capital,acelerando o crescimento e apoiando o desenvolvimento econmico,como tambm pode nanciar atividades especulativas ou levar amlias

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    a se endividarem alm da conta. Em grande medida, o caminho esco-lhido depende de uma regulao que dena tanto os obstculos como osincentivos para as estratgias operacionais das instituies nanceiras. possvel utiliar a regulao nanceira com o objetivo de incentivar o sis-

    tema a canaliar a liquide para as atividades que a sociedade prioria.A regulao pode, de ato, no somente avorecer algumas ativida-des em detrimento de outras, como tambm contribuir para que metassociais sejam atingidas. Deixados soltos, os mercados nanceiros ten-dem a privilegiar as atividades mais lucrativas, que normalmente estoligadas a servios prestados aos setores mais abastados, como empresas(especialmente as grandes) e amlias ricas (oerecendo private banking,gerncia de investimentos, administrao de portlio etc.). As amlias

    de baixa renda e as empresas pequenas e mdias tm acesso limitadoao sistema nanceiro e, quando tm, normalmente pagam muito maispelos servios.

    a lei do reinVestimento comUnitrio

    O pp po p o po x pvo o

    vo o o ov. a ppo o po po- vo povo l o rvo coo o eua,

    1970. e h oo ojvo vo p - v p , oo o oo

    o o p. a o v p o o po x (oo -

    ) o p o o po pv-

    o o .

    a o o p poov o

    po po, v poo v -o xpo po po poo po p o

    o v.

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    19O que azem Os sistemas inanceirOs e seus reguladOres?

    d o, popo o v povo o, o o o po x o o

    p o opho o o pop o, oo

    ppo o vo.

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    qu uf?

    Os sistemas nanceiros so regulados tanto por raes similares s deoutros setores como por objetivos especcos da atividade nanceira. Re-

    gulaes especcas so necessrias porque, como oi discutido na seoanterior, o sistema nanceiro ou melhor, o sistema bancrio um casoespecial, pois opera o principal sistema de pagamentos da economia. Por-tanto, o uncionamento fuido desse sistema condio undamental parao uncionamento de todos os outros mercados da economia.

    Como so empresas privadas, bancos tentam maximiar seus lucrosdentro das limitaes nas quais trabalham. O problema que, na ver-

    dade, existem poucas limitaes intrnsecas a atividade dos bancos e,portanto, h uma tentao constante para extrapolar suas atividades.Pode-se pressupor que no existe limite natural para a expanso dosemprstimos bancrios. Em especial, a disponibilidade de depsitos no um obstculo eca, j que depsitos so criados quando emprstimosso concedidos.

    a

    A origem do privilgio desrutado pelos bancos nas economias modernas a conana do pblico de que os depsitos podem sempre ser honra-dos, caso decidam retirar o dinheiro desses depsitos. Como as pessoasconam nos bancos, elas tendem a no tentar sacar seus depsitos emmassa, e, assim, a conana se mantm por si prpria.

    Porm, h uma questo a mais: caso os depositantes tentem sacarseus depsitos em grandes quantidades, o banco central normalmenteintervm para emprestar aos bancos o dinheiro que precisam para satis-

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    aer esses depositantes. Os bancos centrais so chamados de empres-tadores de ltimo recurso para o sistema bancrio, pois esto prontospara garantir que os depsitos possam ser transormados em dinheirode modo que a conana do pblico no seja seriamente aetada (como

    aconteceu no incio da crise de 2007-2008).Portanto, o pblico no cona nos bancos porque as pessoas so ing-nuas, mas porque instituies que apoiam essa conana oram desenvol-vidas. Garantir a estabilidade do sistema nanceiro tem sido sempre umamisso essencial dos bancos centrais mesmo daqueles diretores queparecem acreditar que a luta contra a infao sua nica obrigao.

    O ato de que a sociedade, na verdade, subsidia as atividades ban-crias, por meio da criao e manuteno dos emprestadores de ltimo

    recurso, planos de seguro de depsitos etc., crucial para se entenderpor que a regulamentao deve existir, assim como por que a sociedadepode aer algumas exigncias a essas empresas.

    Em grande medida, a regulao, ou pelo menos a regulao pru-dencial, o outro lado da moeda das acilidades criadas para apoiaros depsitos. Se a moeda e os depsitos so substitutos quase equiva-lentes, os bancos poderiam e certamente abusariam desse privilgio

    compartilhar o poder de criar meios de pagamento. Na verdade, cadave que a regulao relaxada, os bancos estendem seus emprstimosat que uma nova crise surja para interromper o processo.

    Assim, a regulao prudencial criada para controlar os bancos,para limitar a exposio ao risco, pois se o pblico perder a conanano sistema bancrio e uma corrida aos depsitos acontecer, todo o sis-tema de pagamentos pode car paralisado. Alm disso, se houver umacorrida, muitos bancos provavelmente quebraro, e o ornecimento de

    crdito car reduido, diminuindo a produo e o emprego. O compor-tamento prudencial regulado tem o objetivo de evitar todos esses eeitosprejudiciais, impedindo a ampliao exagerada das atividades.

    Naturalmente, h outras boas raes para regular o sistema nancei-ro, e no somente o sistema bancrio. No entanto, essas outras raesno so especcas das instituies nanceiras e dos mercados, emboraalguns problemas compartilhados pelo setor com outros setores possamse maniestar de orma ainda mais perversa nas atividades nanceiras.

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    oligoplio bancrio

    O po o oopo o o o po po o

    o o o oo o. a v j oo o-, o po o o opov o o o. coo oopo, o -

    o po o po vo, o o opo o o popo ho o opo. O o ,

    v, o xpo oopo o oo po poo o o xpo o oopo.

    ojv uA transparncia e a assimetria de inormao so outros problemas quecaracteriam as atividades nanceiras. Mesmo produtos simples, como aparticipao em undos de investimento, podem ser mais complicados doque as pessoas pensam. A gama de riscos aos quais cada produto estexposto quase sempre escondida ou apresentada de orma incompreen-

    svel para os clientes. As crises nanceiras de 2007 e 2008 mostraramque nem mesmo executivos nanceiros sabiam exatamente o que as ins-tituies que administravam estavam aendo.

    Muitas das inovaes nanceiras das ltimas duas ou trs dcadasparecem ter sido motivadas pelo objetivo de tornar tudo mais obscuro paraos outros participantes do mercado, reguladores e o pblico em geral. Oscontratos nanceiros raramente so documentos simples. Com o neces-srio esoro, eles podem tornar-se inacessveis. Algumas vees, esse

    exatamente o mtodo para aer dinheiro: negociar produtos nanceirosque nenhum comprador entenda. Claro que se algum quer apostar aprpria ortuna nesses mercados, o problema dele. Mas, por outro lado,se or, por exemplo, um undo de penso ou se voc um negociador queest tentando enganar clientes para que apliquem suas poupanas eminvestimentos que no entendem, o problema de poltica pblica.

    Assim, o objetivo da regulao rear os incentivos que levam ban-cos, outras instituies nanceiras e mercados nanceiros em geral a

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    mesmo que atinja somente alguns poucos bancos (e no necessaria-mente grandes bancos), poderia se espalhar primeiramente por meiodo sistema bancrio e, depois, para toda a economia. A primeira parteresultaria na perda de conana dos depositantes com relao solide

    dos bancos, levando-os a questionar a solide do sistema bancrio egerando corridas a bancos, alidos ou no. O contgio para toda a eco-nomia resultaria na paralisao do sistema de pagamento e na reduoda oerta de crdito.

    A interveno sistmica consistia em atacar ao longo de duas li-nhas: a criao de regras de comportamento prudente que os bancoseram obrigados a respeitar para minimiar as chances de problemasque pudessem abalar a conana do pblico em geral, e a construo

    de uma rede de segurana, por meio de esquemas de seguros de dep-sitos e melhoria da operao do emprestador de ltimo recurso, paraconter os eeitos negativos dos choques que rompessem as barreirascriadas pela regulao prudencial. Assim, a ideia geral era a de que,garantindo que nenhum banco individual tivesse problemas srios, orisco de uma crise seria diminudo. Em qualquer caso, se algo desseerrado, a rede de segurana ajudaria a conter os danos antes que todo

    o sistema osse contaminado.

    i : u u Durante dcadas, no se esperava que riscos sistmicos pudessem sergerados por outros segmentos do sistema nanceiro, principalmenteporque eles no operavam o sistema de pagamentos como aiam osbancos. Portanto, para as instituies no bancrias, a regulao estavaconcentrada principalmente na chamada integridade dos mercados. A

    meta no era proteger tanto os investidores, mas os prprios mercados.Se a especulao, a manipulao do mercado, o uso de inormao pri-vilegiada etc., no soressem restries, as bolhas se tornariam normais,assim como as depresses.

    Quando os investidores se dessem conta do grau de manipulao eespeculao do mercado aos quais estavam sujeitos, poderiam entrarem pnico, e crises nanceiras poderiam ser detonadas. No entanto,no se acreditava que essas crises ossem capaes, por si s, de ge-

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    rar danos signicativos economia real, embora pudessem ajudar acriar um ambiente de desconana solo rtil para corridas a bancose, portanto, para crises sistmicas. A regulao de integridade dosmercados estava concentrada, principalmente, no mercado de ttulos,

    denindo regras de conduta que pudessem minimiar os problemaslistados anteriormente.A dierena de diagnsticos sobre os eeitos de choques adversos

    nos mercados bancrio e de ttulos estava refetida no somente na de-nio de rgos de regulao dierentes para cada segmento, comotambm na criao de entidades dierentes encarregadas de sua super-viso. No caso dos EUA, essa diviso do trabalho oi ortalecida pelaseparao obrigatria do mercado bancrio e de ttulos por meio da Lei

    Glass-Steagal, de 1933.

    a u Apesar da importncia da regulao para a integridade dos mercados,vamos nos concentrar na regulao da estabilidade, isto , na regula-o para controlar os riscos sistmicos, direcionada principalmente aosbancos. A evoluo da regulao bancria no sculo passado pode ser

    dividida em duas etapas.

    REGULAO BANCRIANa primeira, comeando com as reormas dos anos 1930 e durandoat aproximadamente a dcada de 1980, a regulao bancria eraquase uma ao policial contra desvios de normas. A relao entrebancos e supervisores era hierrquica: os supervisores exerciam au-toridade supervisora sobre as decises operacionais dos bancos, limi-

    tando o alcance dessas operaes e controlando a exposio ao risco.A regulao da estabilidade estava concentrada, principalmente, naposio de liquide do banco, ou seja, na sua capacidade de honraras obrigaes de depsitos, de modo que o risco de corridas a ban-cos pudesse ser minimiado. Naturalmente, os bancos administravamseus riscos, mas essa atividade estava limitada s linhas de negciospermitidas pela regulao. Atividades arriscadas, como a participaono mercado de ttulos, estavam restritas ou eram totalmente ilegais.

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    Discrepncias entre ativos e passivos nos balanos dos bancos tambmeram controladas.2

    Nessa abordagem, a superviso nanceira era exercida como auto-ridade policial. Comportamentos que sujeitavam a sociedade a riscos

    inaceitveis eram alvos de represso, e os supervisores tinham poderpara aer cumprir as regras. Como em outros setores de atividades ondeo poder de polcia visto como necessrio, esperava-se que os bancosopusessem resistncia e tentassem se esquivar das regras. Muitas daschamadas inovaes nanceiras nasceram como tentativas de burlaros controles. Porm, isso s signicava que as regras tinham de ser re-quentemente atualiadas e no que a regulao osse invivel.

    LIBERALIzAO FINANCEIRANa segunda etapa, a revoluo neoliberal do m dos anos 1970 e come-o da dcada de 1980 modicou esse cenrio, assim como aconteceuem praticamente todas as reas em que as liberdades privadas tinhamsido controladas pelo poder do Estado. Muitos argumentos oram utili-ados para desmantelar a regulao criada nos anos 1930 e mudar asestratgias de superviso.

    O mais importante oi a mudana de atitude com relao ao Estado emgeral: o conceito de que a interveno do Estado nas questes econmicaspodia ser positiva para a sociedade oi severamente criticado. Alguns argu-mentavam que o Estado era inerentemente corrupto e que as burocraciasestatais buscavam somente os prprios interesses, e no os da sociedadeem geral.3 Outros argumentavam que a burocracia podia ser bem-intencio-nada, mas que a inecincia do Estado era inevitvel. Essa viso oi ilustra-da pelo ento candidato presidencial Ronald Reagan quando armou que

    2 A tomada de emprstimos por meio de instrumentos de curto prao para emprestar alongo prao, com o intuito de ganhar o spread(dierena) entre as taxas de juros de curtoe longo praos, oi limitada pelas autoridades. Assim, o risco de no conseguir rolar dvi-das enquanto ativos estavam ainda maturando oi contido dentro de limites consideradosseguros pelos reguladores.

    3Alguns economistas at receberam prmios Nobel por armarem isso, como James Buchanan,lder do grupo conhecido como Economia da Escolha Pblica.

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    as palavras mais perigosas da lngua inglesa eram em que posso ajudar?,se proeridas por um uncionrio governamental.

    Ao mesmo tempo, velhas ideias conservadoras assumiam novas or-mas, a maior parte sob o rtulo da hiptese do mercado eciente e de

    coisas como a Lei de Lawson, que levava o nome do ministro da Faendado governo de Margaret Thatcher. Ele deendia que somente os dese-quilbrios criados pelo governo seriam perigosos para a sociedade, poisaqueles criados pelos agentes privados expressariam interesses privadose seriam resolvidos por mercados ecientes.

    Os mercados nanceiros pareciam se aproximar do conceito ideali-ado por pensadores e economistas de direita. Dessa orma, a regulaonanceira se tornou alvo especial de iniciativas polticas para a reduo

    dos poderes do Estado, incluindo sua autoridade regulatria. At mesmoa Grande Depresso oi reexaminada, e os novos estudos concluramque ela tinha sido causada por erros das autoridades monetrias, e node agentes privados e instituies nanceiras. Se isso osse verdade,signicaria que todo o aparato regulatrio construdo com base no pres-suposto de que sistemas nanceiros no regulados eram inerentementeinstveis estava errado.

    Todos esses elementos, e alguns outros, levaram ao que se tornouconhecido como o processo de desregulao (ou liberaliao nanceira)que moldou a regulao e a superviso nanceira nas dcadas seguintesat o estouro da crise atual. Nessa segunda etapa, a regulao aindabuscava assegurar a estabilidade, porm, a maneira de aer isso tinhasorido uma mudana radical.

    m f?

    Primeiro, o prprio conceito de estabilidade oi redenido. A hiptese deque o sistema nanceiro era inerentemente instvel oi substituda pelanoo de que os mercados eram em geral ecientes, mas poderiam sermelhorados com estmulos adequados. O Estado deveria estimular essasmudanas, e no impedi-las.

    Em especial, a criao de novos instrumentos nanceiros e a aber-tura de novos mercados deveriam ser apoiadas sem reservas. Segundo ateoria explicava, quanto mais mercados, mais oportunidades de negcios

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    surgiriam, o sistema caria mais eciente e melhor seria o resultado. Porexemplo, isso oi o que aconteceu com os derivativos4 e com a securi-tiao.5 Essas inovaes oram bem recebidas, e as poucas tentativasde control-las oram agressivamente rejeitadas por tipos como Robert

    Rubin, Alan Greenspan e Larry Summers,6

    na era Clinton o perodo deauge da inovao nanceira.A regulao prudencial tambm teve de mudar tanto em termos de

    instrumentos como de procedimentos. A nase na liquide oi considera-da obsoleta, pois o seguro de depsitos (que os neoliberais, com requn-cia, propuseram eliminar) acabou com o risco de corridas a bancos. Agora,o problema era conscientiar os bancos dos riscos a que se expunham epression-los para melhorar suas estratgias de gesto de risco.

    Com relao a procedimentos, a superviso deveria abandonar o en-oque policial e substitu-lo por tticas amigveis para o mercado. Naverdade, toda a concepo baseava-se em imitar prticas privadas paraempurrar gentilmente as instituies nanceiras na direo de maiorestabilidade. De ato, presumia-se que supervisores governamentais se-riam incapaes de entender as sosticadas prticas de gesto de riscodos bancos e, portanto, o mtodo mais eciente de superviso era deix-

    las nas mos dos prprios bancos.

    4 Derivativos so contratos nanceiros cujos valores so derivados de outros contratos(por exemplo, nos mercados uturos de cmbio ou de emprstimos) e servem tanto parapermitir que investidores se protejam contra eventos adversos, o que se chama de hedge,como para especular sobre desenvolvimentos uturos do mercado (por exemplo, variaesde preos de ativos).

    5 O termo securitiao deriva da palavra securities (ttulos nanceiros em ingls) e sereere substituio de prticas de emprstimo pela colocao de papis no mercado. Em-presas costumavam pedir emprestado capital de giro a bancos. Hoje, muitas delas preeremcaptar recursos vendendo ttulos de curto prao no mercado, isto , diretamente a undosde investimentos, pessoas sicas etc., chamados de commercial papers. Outro exemplo omercado de nanciamento para a compra de residncias (hipotecas): antes, o mais comumera solicitar esse tipo de emprstimo em algum banco de poupana. Depois, passou a sercomum obter esses recursos atravs de um processo bem mais complexo, diretamente pelavenda de papis a undos de penso, seguradoras e outros nanciadores.

    6 Respectivamente: secretrio do Tesouro (1995 a 1999), presidente do Federal Reserve esecretrio do Tesouro (1999 a 2001).

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    29O que azem Os sistemas inanceirOs e seus reguladOres?

    O pice dessa nova abordagem oi o Acordo de Basileia II.

    o comit da basileia

    O co b ro b o o bo cop-

    io (bis), oo o 1930 ppoov oopo o o v oo o

    p o .

    O co b o o 1974 p p oo o o pvo o o, b, c, ,

    ah, i, Jpo, lxo, Ho, eph, s, s, ro u-o eua. e o o 2007, oo p,

    v , o ovo pp o co: a,a, b, ch, Ho Ko sar, , io, co o s, mxo,

    Ho, r, a s, sp, o s t.

    O co po o, po o o o p . O po recomendaeso o o p

    pp o o. d, po o, 1980,o co b o o pp oo o p oo

    o o. Po o o, o o ov o oo o xp o oo ov.

    m u uv

    O o o o o po co b po p oo oo o o pvo. O po aoo b(1988) v po p o -

    o po o p o o o. e o o o p o o vo poo po o, xo

    o 8%. O po o o vo o o oo oo f o o vo po vo.

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    a, v o o po o ovo p vovo

    po o o v o o o p po o vo vo , o o po o

    hpo h po 100% o v o o h oo vo p p po. coo o p o

    o o po oo o vo vo o pop-o o o po h, o o ,

    o, vo o o.

    eo, oo o o o po po vo ( -po o o poo o hpo j),

    o o pov oo po o oo o o . a o, x -o o o oo p o o, p

    ovo p o, o po o o.

    a, vo o aoo b ii o p o p o p p oo o, oo o op. io

    p o o v po p oo po o oo ppo o.

    O oo o p b ii, o o ppoo -

    po o v o o poppo o, o : pov o

    vo po po o o vo ov p opo . io oo o, po oo o o h

    p o o poo o oo vpxo ov. io po ho o vo

    o o o v p 7.

    7 Para mais detalhes sobre o Comit da Basileia, veja CARVALHO, Fernando J. Cardim de;KREGEL, Jan Allen. Quem controla o sistema fnanceiro?. Rio de Janeiro: Ibase, 2007.Disponvel em: http://www.ibase.br/userimages/livro_versao_nal.pd. Acesso em: 15jul. 2010.

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    b iiAps certo atraso na concluso, o novo Acordo de Basileia, destinadoa substituir o acordo original de 1988 e sua Emenda de 1996, oi -nalmente anunciado em 2004. Acreditava-se que ele proclamaria uma

    nova era da regulao prudencial, deixando de lado todas aquelas estra-tgias agressivas concebidas aps a Grande Depresso, que tratavam asinstituies nanceiras como inimigas ou, pelo menos, como perigo empotencial que precisava ser contido por medidas eetivas.

    O Acordo de Basileia II um instrumento de regulao nanceira ex-tremamente complicado, porm, baseado em alguns princpios simples.

    A essncia desse acordo, assim como o anterior, a denio doscoecientes de capital exigidos, ou seja, a exigncia de que os bancos

    (e, dependendo do pas, tambm outras instituies nanceiras) mante-nham um patrimnio lquido como proporo de seus ativos totais pon-derados pelo risco. Em outras palavras, os bancos no poderiam operarsomente com undos de terceiros: eles teriam de poder contar, pelomenos em parte, com o prprio capital.

    cil conundir exigncia de capital com outras variveis. Na ver-dade, mesmo analistas experientes de jornais como o Financial TimeseThe New York Timescometeram esse erro em livros escritos sobre a criseatual. O Acordo de Basileia no sobre reservas em dinheiro nem sobrese os bancos podem ou no usar todo o dinheiro que tm. O Acordo deBasileia baseia-se em coecientes de capital, que esto relacionados aontes de recursos: um banco (ou qualquer outra empresa) pode com-prometer os prprios recursos (isto , seu patrimnio lquido ou capitalacionrio ornecido pelos donos) ou recursos emprestados por terceiros.Em princpio, um intermedirio nanceiro no precisa ter nenhum ca-

    pital. Pode pedir emprestado de quem tem recursos e emprestar essemontante. O que Basileia II di que eles tm de manter, por ordem dosreguladores, alguns recursos prprios.

    Assim, se os bancos quiserem captar emprstimos para comprarativos rentveis, tm de entrar, primeiro, com capital prprio. Ou seja,os acionistas do banco precisam arriscar a prpria pele no negcio.Coeciente de capital simplesmente a relao entre patrimnio lquidodos acionistas e os ativos totais ponderados pelo risco que os regulado-

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    res julgam adequada. Dessa orma, os primeiros prejuos por prticasbancrias inapropriadas recairiam sobre os donos do banco.

    caractersticas gerais do acordo de basileia ii

    eo o po aoo b, o 1988, o p v pvo o v o o o o-

    vo v p o (p ppo) popoo 8% vo poo po o, o oo b ii o opxo.

    a x p p o, o aoo o o pvo x

    p vo o.

    O aoo b ii p p: o p o o; vo o pvo; p o. d o, o

    po o ovo xo x p. O o v vo o p: o o o oo o -

    x p oo o v vo o- po x, oo o o; o

    o o j po o o oo poo o po ppo o p x

    p. e o o oo, o o vo o vo, po o po o ppo o o o.

    Pp- o pvo v ph o o ovo

    o o po. e v v o o o

    o, o v o o po o vov o po o o o o o xp o o ovo aoo, oo o o .

    , o o p, p o, o po o-

    o o o v v p o o po ppvo o.

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    Supe-se que os coecientes de capital sejam ecaes como ins-trumentos regulatrios por vrios motivos. Primeiro, como os acionistastm de comprometer o prprio patrimnio lquido na operao dos ban-cos (concesso de emprstimos, investimentos em ttulos etc.), espera-

    se que sejam mais cuidadosos ao escolher que ativos compraro do quese estivessem utiliando somente recursos de outras pessoas. Operandoassim, os acionistas tm algo a perder com decises erradas e, portanto,espera-se que prestem mais ateno aos riscos e no sejam somenteatrados pelas vantagens em termos dos retornos esperados.8

    A segunda vantagem da exigncia de capital que, no caso da a-lncia de um banco, o patrimnio dos donos pode ser utiliado paracompensar pelo menos uma parte das perdas que resultaram de prticas

    imprudentes. Uma parte do passivo dos bancos ca garantido pelas au-toridades: os depsitos, em especial, mas tambm outros passivos. Nocaso da alncia bancria, essas obrigaes precisam ser honradas dequalquer orma. Se o banco tem capital, o que signica que uma parcelados ativos que controla propriedade do prprio banco, esses ativos po-dem ser vendidos para ajudar a pagar as obrigaes no cobertas.

    Por ltimo, estabelecer um coeciente de capital obrigatrio equiva-le a impor um limite alavancagem,9 j que os bancos no podem apelarpara o nanciamento de terceiros para sempre. O quanto o banco podese endividar depender de quanto capital prprio ele tenha. No entanto,o ato de o acordo de Basileia calcular quanto capital prprio exigidoem proporo aos ativos ponderados pelo risco tornou os coecientesde capital menos ecaes no controle da alavancagem do que poderiamser. A prova dessa insucincia que, na atual reviso de Basileia II

    8 Argumenta-se que sem exigncia de capital os bancos seriam atrados irresistivelmentepara investimentos de risco, pois eles pagam taxas de juros mais altas. Assim, se o inves-timento osse bem-sucedido, os bancos ganhariam muito. Caso contrrio, o depositanteperderia seu depsito. Com os requisitos de capital, se o investimento racassar, os acio-nistas do banco tambm tm algo a perder.9 Genericamente, alavancagem uma expresso que se reere a qualquer processo quepermita amplicar o impacto da ao de um agente individual baseada apenas nos prpriosrecursos. O modo mais simples de se alavancar uma atividade usar o capital prpriocomo meio (ou seja, como garantia) para obter emprstimos, aumentando assim o volumede ativos que se pode adquirir.

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    realiada pelo Comit de Basileia, um novo limite de alavancagem deveser denido diretamente entre ativos totais e capital prprio, a ser res-peitado com o coeciente de capital ponderado pelo risco.

    interessante observar que os coecientes de capital tm relevn-

    cia apenas indireta para evitar as crises bancrias. No caso de umacorrida aos bancos ou de esgotamento da liquide desses bancos (isto, quando emprestadores se recusam a conceder emprstimos a ban-cos), os coecientes de capital no so muito ecientes para prevenir acrise propriamente dita. Eles podem ajudar a recompor a conana dosemprestadores de que o banco, em ltimo caso, ser capa de honrarsuas obrigaes. Em ltimo caso, no entanto, no suciente paralidar com uma crise defagrada. Assim, ndices de liquide podem ser

    mais ecaes do que os coecientes de capital, pois ter ativos lquidossignica que os bancos podem honrar suas obrigaes de imediato, emve do somente em ltimo caso.

    Tanto os participantes do mercado como os reguladores pareciam acharque essas preocupaes eram ultrapassadas, que ningum se preocupariacom liquide atualmente. Estavam equivocados. E o prprio Comit deBasileia descobriu tardiamente o risco e, agora, tenta corrigir a situao,

    propondo que os ndices de liquide sejam denidos com os coecientesde capital ponderados pelo risco e os ndices de alavancagem.10

    O Acordo de Basileia II dependeu muito do estabelecimento de coe-cientes de capital apropriados baseados no risco, juntamente a outrosdois pilares: a reviso dos supervisores e a disciplina do mercado.

    A reviso supervisora signicava que os supervisores teriam de exa-minar constantemente a adequao desses coecientes, considerandoum conjunto de condies adicionais, tais como: a eccia das tcnicas

    de gesto de risco utiliadas pelo banco; a solide de sua base de da-dos para dar apoio medio adequada do risco; a ecincia da gestobancria em lidar com riscos na determinao de suas estratgias ope-racionais etc.

    10 As novas propostas, ainda em estudo, so em geral conhecidas como Basileia III paraindicar que constituiriam uma terceira onda de reormas regulatrias, agora incorporandoas lies da crise atual.

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    A disciplina de mercado era o resultado residual do pressuposto queos mercados eram ecientes. Assim, os clientes dos bancos deveriamcontrolar sua exposio ao risco por meio dos spreadsexigidos sobrettulos sem riscos quando comprassem ttulos bancrios ou emprestas-

    sem ao banco. Um resultado da crise uma reavaliao radical da ec-cia que se pode esperar desse mecanismo.Porm, Basileia II no somente um plano para exigir coecientes

    de capital dos bancos. Anal, essa exigncia j estava na essncia doAcordo de Basileia I, assinado no m dos anos 1980. O que distingueBasileia II menos os instrumentos e mais a maneira de calcular oscoecientes de capital.

    No Acordo de Basileia I, os coecientes de capital baseados no risco

    eram calculados de acordo com uma tabela de grupos de risco estabe-lecida pelo regulador. Em Basileia II, os pesos de risco seriam baseadosem avaliaes privadas. Bancos menos sosticados dependeriam dasavaliaes eitas pelas agncias de classicao de risco, enquanto osbancos com sistemas de medio de risco mais avanados poderiamusar as prprias avaliaes de risco (na chamada opo IRB - InternalRating-Based, em ingls).

    A ideia era induir todos os bancos a se tornarem no somente maiscautelosos, como argumentado anteriormente, como tambm mais e-cientes na medio e gesto dos riscos, pois isso lhes daria a possi-bilidade de reduir seus requisitos de capital. Isso era um mtodo deregulao amigvel ao mercado, atuando com o interesse dos prpriosbancos, aendo crescer o desejo de melhorar seu comportamento etornando o sistema bancrio mais estvel.

    Os sistemas de medio de risco que os bancos podiam utiliar ti-

    nham de ser aprovados pelos reguladores e supervisores. Isso no che-gava a ser um problema, pois os padres de medio eciente oramestabelecidos tendo como reerncia os modelos atualmente em usopelos prprios bancos no jargo dos reguladores, para se basear nasmelhores prticas bancrias. Naturalmente, pensava-se que a gestode risco dos bancos seria suciente para manter a estabilidade e evitaras crises.

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    a u uCertamente, cedo demais para dier que a crise econmica terminou.O mais provvel que o m ainda esteja longe. Por outro lado, a quebrananceira talve seja uma pgina virada aps o espetacular asco de

    2008 e da enorme interveno das autoridades monetrias e dos Te-souros de toda parte do mundo desenvolvido. A situao no segura,mas o senso de urgncia, tpico dos anos 2008 e 2009, parece j terdesaparecido.

    A atual crise da Grcia tem a ver principalmente com arranjos mo-netrios, nanas pblicas e balano de pagamentos, e no com a ra-gilidade nanceira no sentido descrito neste artigo. Em toda a parte, osgovernos no esto mais cheios de elo com relao necessidade de

    reormar o sistema nanceiro como estavam, e os lobbiesda indstria jesto de volta com ora total.

    Apesar da insistncia retrica inicial na necessidade de ao globalpara a reorma (para ser eca no contexto da globaliao nanceira),a maior parte das iniciativas atuais nesse campo so de carter nacionalou regional, como no caso da ona do euro.

    Apesar das reunies do G-20, a nica atividade internacional con-centrada na reorma da regulao parece ser a reviso do Acordo deBasileia II, que atualmente est sendo eita pelo Comit de Basileia. Areviso tem sido chamada de Basileia III, mas talve esse novo rtuloexagere na certea de que novos conceitos estariam sendo realmenteaplicados. O Comit j tornou pblico e abriu para comentrios as ver-ses preliminares das novas propostas, que parecem consistir basica-mente em certo aperto dos atuais dispositivos, sem nenhuma mudan-a radical de abordagem.

    b iiiEspera-se que os coecientes de capital sejam aumentados uma con-cluso inevitvel, j que a maioria dos bancos que aliram ou tiveramde ser resgatados durante a crise estavam cumprindo as exigncias decoeciente estipulados em Basileia II. Novas operaes devem ser in-cludas no radar da superviso, e melhores denies esto sendo bus-cadas para echar algumas brechas regulatrias presentes no Acordo de

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    Basileia II. Espera-se tambm que a reviso supervisora que um poucomais estrita mas isso se deveria lembrana da crise e poderia nodurar muito.

    Os princpios e, principalmente, a abordagem amigvel ao mercado

    que caracteria o acordo de Basileia II esto mantidos no Basileia III.No h crtica viso estratgica orientada pelas teorias do mercadoeciente que estiveram por trs do desenvolvimento regulatrio das l-timas trs dcadas, apesar de a hiptese do mercado eciente ter sidoamplamente desmoraliada pela crise.

    Isso quer dier que progressistas e ativistas das organiaes dasociedade civil tm a importante tarea de pressionar por reormas re-gulatrias mais ecaes. Existe um conjunto de estratgias regulatrias

    alternativas disponveis que vai desde a volta a mtodos regulatriosque uncionaram bem no passado, revertendo a tendncia dominantede imitar os mercados privados, at ideias mais radicais de restringirdrasticamente a liberdade dos mercados de ttulos e o escopo da secu-ritiao, tornando ilegal o uso de derivativos ou, pelo menos, daquelesque no esto justicados para ns de hedge(proteo contra perdasnanceiras), ou at mesmo a nacionaliao do sistema bancrio.

    Algumas dessas alternativas so discutidas em documentos produi-dos por este projeto e podem ser consultadas em:.

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