o que é um fóssil

Upload: glenda-villarroel-silva

Post on 14-Feb-2018

230 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    1/16

    PARTE 1: OS FSSEIS E SUA IMPORTNCIA PARA O ESTUDO DA VIDA

    O que um fssil?Fssil todo resto de um organismo, ou evidncia de sua presena, em geral preservado nas

    rochas. Podem, contudo, ser conservados no gelo, mbar, depsitos de betumem ou no interior decavernas. Ao longo da Histria, o homem sempre se questionou a respeito do significado destas

    estruturas, que ora apresentavam formas consideradas bizarras (j que estruturas semelhantesestavam ausentes das paisagens modernas), ora se pareciam muito com os animais e as plantas queconhecemos hoje.

    Graas a eles sabemos que a Terra j foi habitada por samambaias do tamanho de rvores e peixesmaiores que baleias!

    O estudo dos fsseis chamado Paleontologia, e os paleontlogos so os cientistas encarregadosda meticulosa tarefa de procurar, limpar e descobrir a que organismos pertenceram estas estruturas,quo antigas so, e a partir da, propor os antigos ambientes do planeta e a idade das rochas que oscontm.

    Para que possamos entender porque estas evidncias podem testemunhar a vida do passado, necessrio em primeiro lugar que, segundo os gelogos e os mtodos de datao, a Terra temaproximadamente 4,5 bilhes de anos e que, ao longo deste tempo, passou por grandes transformaes.

    Durante muitos sculos a cultura ocidental acreditou que os animais, as plantas, assim como asmontanhas e mares, nunca passavam por transformaes. Por volta do sculo XVII iniciaram-se asprimeiras contribuies no sentido de compreender que os fsseis poderiam ser mais que um merocapricho da natureza que se manifestava nas rochas, e sim o registro de animais e plantas de pocasmuito antigas. Como estes organismos eram muito diferentes daqueles que conhecemos hoje, ospesquisadores acreditam que o mundo pode ter tido outros ecossistemas, compostos por faunas e florasdistintas das atuais, e que seria necessrio um enorme perodo de tempo para que os ecossistemas e osorganismos pertencentes a eles fossem sucessivamente substitudos por outros, at adquirir ascaractersticas atuais.

    OS UNIFORMITARISTAS(segundo eles observando o presente, poderamos inferir o passado)Muitos cientistas se dispuseram a explicar as mudanas que ocorreram em nosso planeta. Dentre

    eles destacam-se Niels Stensen (ou Nicolaus Steno, dinamarqus, 1638 1686) e James Hutton(ingls, 1726 1797). Eles ainda no podiam ser considerados gelogos (eram considerados filsofos eseus livros, filosofia, porque o termo Geologia ainda no existia). Mais tarde seriam reconhecidoscomo os pais desta nova cincia.

    Steno e Hutton foram os primeiros a dizer que os mares e os continentes nem sempre estiveramno lugar que hoje ocupam no globo. Para eles a crosta terrestre estaria em constante movimento,embora na maior parte das vezes ele seria to lento, que no poderamos perceber as mudanas queprovocava ao longo de nosso tempo de vida. A ao do vento, da chuva e do gelo capazes de desgastar as

    rochas e as montanhas, carregariam os sedimentos atravs dos rios, para o mar e os lagos. Com o passardo tempo, e pela presso do choque das massas de terra estes gros se tornariam novamente rochas emontanhas, que seriam novamente erodidas, em ciclos repetidos infinitas vezes. Assim, propuseram queas montanhas altas e pontiagudas eram mais jovens que as arredondadas.

    Os fsseis iriam comprovar a teoria de Hutton e Stensen, pois muitos restos de animais marinhosforam encontrados preservados em camadas que formam a parte mais alta de montanhas. J. Huttontambm foi um dos primeiros de sua poca a compreender que, quanto mais profundas fossem as rochasem um conjunto de camadas, mais antigas elas seriam.

    Como estes eventos precisam de um tempo muito longo para acontecer, seria muito difcil falardeles se usssemos nossa escala de tempo. Para resolver este problema, os gelogos criaram uma escalade tempo de modo a poder relatar os acontecimentos importantes de nosso planeta ao longo dosmilhares e milhares de anos. Como o tempo em geologia muito longo, a escala temporal foi dividida emEons, Eras e Perodos (Figura 2).

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    2/16

    Figura 1. A contribuio de James Hutton ao nascimento da Geologia(fonte:https://edmundsiderius.wordpress.com/category/wissenschaft/politics/scotland/ e,esquerda,http://pixgood.com/james-hutton-theory-of-the-earth.html)

    Figure 2. Escala Geolgica do tempofonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Geologic_time_scale.jpg

    Hutton in the field by JohnKay

    E-W Section strathc cle in Isle of Arran, Scotland sketch from J. Hutton

    https://edmundsiderius.wordpress.com/category/wissenschaft/politics/scotland/https://edmundsiderius.wordpress.com/category/wissenschaft/politics/scotland/https://edmundsiderius.wordpress.com/category/wissenschaft/politics/scotland/http://pixgood.com/james-hutton-theory-of-the-earth.htmlhttp://pixgood.com/james-hutton-theory-of-the-earth.htmlhttp://pixgood.com/james-hutton-theory-of-the-earth.htmlhttp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Geologic_time_scale.jpghttp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Geologic_time_scale.jpghttp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Geologic_time_scale.jpghttp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Geologic_time_scale.jpghttp://pixgood.com/james-hutton-theory-of-the-earth.htmlhttps://edmundsiderius.wordpress.com/category/wissenschaft/politics/scotland/
  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    3/16

    A ideia de analisar os eventos geolgicos sob a tica do UNIFORMITARISMO foi depois ampliada (oucontraposta) pelos chamados CATASTROFISTAS, que observaram os depsitos sedimentares sob aperspectiva de que sua deposio, mesmo quando espessa, pudesse representar eventos catastrficos(e.g. vulcanismo, deslocamento de blocos, tsunamis) e assim, intervalos curtos de tempo.

    TAFONOMIA: Como os fsseis se formam?

    A fossilizao no um processo comum, j que na natureza o normal que os organismos sejamdecompostos pelas bactrias ou pela ao do oxignio. Por isso, para que um organismo fossilize necessrio interromper o processo de decomposio.

    Vrios mecanismos estaro envolvidos no processo de fossilizao, mas quase sempre dependem deque estejam presentes trs fatores cruciais: (1) isolamento do cadver da ao de bactrias e dooxignio; (2) a composio qumica original das partes mais resistentes do organismo; (3) os processosambientais e geolgicos que atuam sobre este aps a morte.

    Um organismo, em princpio, possui mais chances de fossilizar quando possui partes duras, comoossos, conchas, ou madeira. Mas, em casos raros, partes moles dos animais e das plantas tambm sopreservadas as partes macias do corpo. E se um organismo se deslocar ou fizer tneis na lama ainda

    mida ou na borda de lagos onde esteiras alglicas (que hoje se sabe no serem feitas por algas, e simpor cianobactrias) se formam, as marcas deixadas podem igualmente preservar, os icnofsseis. Maspara que isto acontea , em geral, necessrio que haja um rpido recobrimento do organismo, ou que oambiente seja favorvel a sua preservao, com baixa atividade bacteriana, como ocorre nos locais comgelo ou turfa. Na Sibria, foram encontrados mamutes totalmente preservados por terem sidoaprisionados pelo gelo h 25 mil anos atrs. Nas turfeiras, o pH cido inadequado atividade demicroorganismos e assim, no h decomposio. As turfeiras so, por isto, a origem dos depsitos decarvo. O mbar, um tipo de resina produzido por alguns tipos de rvores, tambm ao recobririnstantaneamente pequenos insetos, aranhas e escorpies do cho da floresta, um dos meios onde osorganismos esto melhor preservados. Cavernas tambm so timos locais para a preservao de

    organismos, j que o ambiente frio ou seco no permite a proliferao de bactrias decompositoras.Estes processos, capazes de manter at as partes orgnicas moles (ou mais fceis de decompor) dosorganismos, so denominados mumificao ou tambm, em alguns casos, depreservao autignica.

    Um os melhores exemplos de fossilizao de partes moles o corrido no importante depsito doFolhelho Burguess, do Canad, de idade Cambriano (ver Fig. 2). Nas camadas de Burgess foramencontrados moluscos, artrpodes e esponjas, e muitos outros tipos de organismos marinhosdesconhecidos at ento, e ainda no bem estabelecidos em sua afinidade.

    No Brasil, um exemplo de preservao de partes moles de organismos so os depsitos daFormao Santana, identificados na Bacia do Araripe, no Cear. Milhares de peixes, restos vegetais,insetos, rpteis e anfbios aparecem perfeitamente preservados nas rochas calcrias deste local.Muitos fazem hoje parte do acervo de museus de vrias partes do globo.

    Figura 3. Fsseis com preservao autignica da Bacia do Araripe.Fonte:http://www.paleodirect.com/pgset2/fbr-

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    4/16

    Composio qumica do esqueleto

    Se o organismo no foi recoberto pelo gelo, mbar ou outro mecanismo que bloqueie imediatamentesua decomposio, os tipos de fossilizao pelos quais ser preservado, iro depender do quo pequenafor a granulometria do sedimento que o recobre (quanto menor, como nas argilas e calcreos, melhoresfsseis se formaro), e principalmente, como vimos inicialmente, do tipo de composto qumicode que

    so feitos os seus esqueletos.

    Tipos de fossilizao

    As rochas so os ambientes mais comuns para a fossilizao, e neste caso, dependendo dacomposio original do organismo, diferentes tipos de fossilizao podem resultar.

    FSSEIS INALTERADOS

    1. Permineralizao.

    COMPOSTOS INORGNICOS (principais)

    Esqueletos calcreos (CaCO3)

    CALCITAcompem a testa dos Foraminferos planctnicos, as conchas dosBraquipodes articulados, dos Moluscos e dos Artrpodes conchostrceos(ostracodes p. ex.). A Calcita pode aparecer em duas formas minerais nos

    fsseis:CALCITA MAGNESIANA- Foraminferos bentnicos (eventualmente

    aragonita), esponjas calcreas, ostracodes, equinodermados, algas carfitas,moluscos do grupo dos Bivalves;

    ARAGONITAencontrada nos corais (milepordeos e hexacorais), algunsbriozorios, moluscos escafpodes e gastrpodes (junto c/ calcita), pterpodes,cefalpodes, otlitos de vertebrados, algas clorofceas e rodofceas

    Esqueletos fosfticos (Ca3(PO4)2)HIDRXIAPATITA + CARBONATO- ossos e dentes

    Esqueletos silicosos (SiO2)

    OPALA- algas diatomceas, silicoflagelados, radiolrios, esponjas(Desmospongia)

    COMPOSTOS ORGNICOS

    CELULOSE- plantas (nos troncos, CELULOSE + LIGNINA na membrana)

    QUITINA- artrpodes (nos crustceos e trilobitas, com 30% de CaCO3)

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    5/16

    Neste processo, preferencial para estruturas que com a morte tornam-se porosas, como oslenhos das rvores mortas, ou ossos, guas subterrneas carregadas de minerais solveis penetram nosporos ou outras cavidades. Com a precipitao do material (slica ou o carbonato de clcio) estascavidades ficam preenchidas e, ao mesmo tempo, nas partes orgnicas, cessa a decomposio, graas aproteo que estes compostos da rocha proporcionam ao das bactrias. E, deste modo, ascaractersticas estruturais e anatmicas do organismo ficam mantidas, como por exemplo, os vasos,

    traquedeos, e os anis de crescimento dos troncos fsseis (Fig. 4). Um organismo fossilizado destamaneira considerado INALTERADO, j que h chances de que toda sua estrutura permanea.Centenas de lenhos de conferas, alguns com mais de 1 metro de dimetro ficaram preservados destemodo, em litologias do Rio Grande do Sul, de idade Trissica, ou mais provavelmente, do JurssicoInferior.

    Se no caso de partes duras carbonticas (compostas por carbonato de clcio - CaCo3), que ummineral polimrfico, apenas a forma mineral for trocada (aragonita que mais instvel, substituda porcalcita), o processo chamado de recristalizao e o fssil tambm considerado inalterado.

    Figura 4.Lenhos petrificados da regio de Mata e So Pedro do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil(Foto: Tnia Lindner Dutra)

    FOSSEIS ALTERADOS

    2. Substituio, ou petrificaoOcorre quando o material inorgnico que compem as partes duras substitudo por minerais da

    rocha que o contm. A estrutura original pode ser mantida, se a substituio da matria orgnica pelomineral se der de forma lenta e gradual. Se isto ocorre, eventualmente a estrutura original da parte

    dura ou resistente pode ser preservada. Neste caso teremos uma cpia perfeita do organismo original,apenas com a composio qumica original de seu esqueleto modificada. Se o composto que substitui o o CaCo3, o processo de fossilizao chamado calcificao, se for a slica, silicificao. um dos casosde fsseis ALTERADOS

    3. Carbonificao ou coalificao (coal)Para que este processo ocorra dois elementos so necessrios, que o organismo ao morrer caia num

    corpo de gua e que, na composio de sua parte resistente, exista carbono, ou seja, que seu esqueletoseja feito de um composto orgnico (CHON). Assim, restos de plantas (exceto o lenho ou madeira), decelulose (cutina ou cutneo), e artrpodes (quitina), normalmente so preservados por este modo. Esteprocesso consiste na perda gradual dos elementos volteis da molcula original (hidrognio, oxignio enitrognio), ou devido atividade bacteriana, ou ao peso dos sedimentos, permanecendo na rochaapenas o carbono original. Como possvel concluir, este um processo a frio e graas a ele que seformaram as grandes jazidas de carvo mineral e de petrleo do globo.

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    6/16

    O carvo mineral ser tanto mais puro e til, quanto menos volteis contiver (oxignio, nitrognio,enxofre, p. ex.). A maior parte dos carves, utilizados na Europa ainda hoje na produo de energia,formou-se no perodo Carbonfero (Fig. 2). Contudo, no sul do Brasil tem idade Permiano. NoCarbonfero as terras do sul do mundo estavam cobertas pelo gelo o que tornou as reas das latitudesmdias muito frias, no permitindo a formao do carvo. Apenas com o derretimento do gelo no finaldo perodo e incio do Permiano, os pntanos costeiros puderam formar grandes turfeiras, a primeira

    fase da formao do carvo.Para restos de vegetais que foram queimados (incndios naturais ou vulcanismo) o termo correto Carbonizao (em ingls, charcoal).

    4. Piritizao (substituio por Sulfeto de Ferro)Quando o composto original substitudo por algum dos tipos de Sulfeto de Ferro presentes

    nas rochas. Por ser tambm um mineral polimrfico, pode cristalizar de distintas formas, sendo a maiscomum a Pirita, de onde vem o nome do processo.

    Este tipo de fossilizao pode ocorrer com distintos tipos de partes duras, sendo comum comorganismos de quitina ou em ossos. muito comum com organismos que aps a morte, caem em corposde gua profundos, marinhos ou de gua doce. A ao inicial das bactrias decompositoras inibida pela

    falta de oxignio, condio para que os restos piritizem. Como na carbonificao, os esqueletosassumem uma cor escura. No Brasil, um importante registro mostra o processo de pitirizao. Emfolhelhos negros da Formao Irati, no Paran, muitos esqueletos inteiros de um pequeno rptil queviveu exclusivamente no Permiano, o Mesosaurus, aparecem com seus ossos piritizados. E a ausncia debactrias permitiu em alguns deles, a preservao do contorno da pele do animal (Fig. 5).

    Figura 5. Mesosaurusdas camadas do Folhelho Irati, Permiano (exemplar da coleo do Museu deMata, RS). Este pequeno rptil, cujos fsseis so exclusivos de sul do Brasil e Uruguai,e da frica do Sul, foi o primeiro de seu grupo a se adaptar a vida aqutica, graas asmembranas que uniam seus dedos (em parte podem ser vistas neste exemplar fssilexcepcionalmente preservado, onde as partes escuras conservam os contornos da pele edos msculos). Eram, contudo, frgeis nadadeiras que no lhe permitiriam cruzar umoceano e seu achado levou A. Wegener, o grande pensador da Tectnica de Placas, a

    propor a unio pretrita entre frica e Amrica do Sul.

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    7/16

    MOLDE EXTERNO MOLDE INTERNO

    A CONCHA

    Figura 6(fonte: commonfossilsofoklahoma.snomnh.ou.edu)

    INDICIOS

    Um ltimo modo em que os fsseis podem se preservar, e o mais destrutivo deles, quando seuscompostos orgnicos e inorgnicos so totalmente perdidos (pela ao bacteriana ou por suas partesduras terem sido dissolvidas pelas guas subterrneas). Mas, mesmo a, h chance de que a vidapretrita fique preservada. Se os sedimentos que o recobriram so de granulometria fina, o que lhes

    garante plasticidade, podem se moldar to intimamente ao organismo, ou preencher seus espaosvazios, que permanecem nas rochas, molde mais ou menos perfeitos de sua forma.A partir da podemos ter o MOLDE EXTERNO(mold) do organismo, ou se ele tinha partes internas

    que ficaram vazias com a morte, como as conchas, os MOLDES INTERNOS. Forma-se portanto, pelapresso do peso do sedimento e pela capacidade das argilas (e dos calcreos tambm) de moldarem-seaos restos orgnicos. Contorno e adornos externos ou internos ficaro marcados na rocha. O moldeexterno, pode reproduzir as feies externas do organismo (linhas de crescimento e ornamentaes nasconchas) e o molde interno, as marcas musculares e feies de engates das valvas, s possveis deavaliar se abrssemos a concha (Fig. 6).

    Uma particularidade desteprocesso, que com a posterior

    sada das partes duras, e se apresso no for excessiva, podeser mantido vazio o espao antesocupado por elas. E, novas guasde infiltrao carregadas decompostos qumicos, podempenetrar neste espao. S tendo acopiar os moldes, iro produziruma rplica deles. A isto damos onome de CONTRAMOLDEou cpia

    PSEUDOMORFICA (cast). A parteexterna de uma concha,preservada em baixo relevo no

    sedimento, retorna a suatridimensionalidade original,reproduzindo perfeitamente o

    organismo Embora a rplica sejatotalmente inorgnica e facilmente

    diferencivel do fssil verdadeiro j que certos detalhes finos podem ser perdidos, uma cpia doorganismo original se formar na superfcie do sedimento.

    Como os MOLDES, que so evidncias indiretas da presena do organismo, outras estruturas no

    registro fssil que tenham a mesma natureza, so consideradas INDCIOS. o caso das pegadas,tubos de moradia, rastros, etc. (hoje reunidas no que denominado icnofssil. Os icnofsseis so muitoimportantes porque, muitas vezes, so a nica prova da existncia de certos organismos que no tinhamesqueletos ou qualquer estrutura rgida fossilizvel, como o caso da maioria dos vermes. Alm disso,nos mostram certos procedimentos do organismo em vida, que a preservao apenas de seu corpo nopoderia fornecer.

    So ainda considerados indcios, os coprlitos (feses) e urlitos (a urina pode ficar marcada nasuperfcie dos sedimentos), os gastrlitos(pores de tubos digestivos que possuam alguma estruturargida, como a moela das aves e de alguns rpteis, ou a vlvula em espiral do intestino dos tubares) e osovoseninhos, ou seja, qualquer informao indireta sobre um organismo pretrito. A casca dos ovos porser calcrea, e assim se manter em muitos casos, pode preservar pelos processos vistos anteriormente.

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    8/16

    Fi ura 7. Diferentes ru os de or anismos ue atestam a existncia do Gondwana

    Glossopteris,

    Pteridosperma gondwnica

    Onde encontramos fsseis?

    A maior parte dos fsseis provm de rochas sedimentares, devido s condies em que essas seoriginam. Como seu nome sugere, se formam pelo acmulo de sedimentos como areia e lama, nos locaismais baixos do relevo, tambm denominados bacias sedimentares. Estes locais podem ter sido antigosmares, lagos, plancies de rios, deltas (um ambiente que por receber materiais trazidos pelos rios,

    costuma acumular muita matria orgnica) ou ainda o interior de uma caverna. Com o passar de milhesde anos, pela presso e o calor do interior da terra, e a ao das guas subterrneas, estes sedimentospassam por processos qumicos e fisicos (diagnese) que os litificam, ou seja, os transformam emrochas (arenitos e lamitos).

    H ainda rochas que representam o resultado da atividade de organismos microscpicos como asbactrias (estromatlitos, camadas de ferro bandeadas) ou do acumulo de seus restos (calcrios,diatomitos). Por sua pequena granulometria e plasticidade, podem tambm conter fsseis corpreos ecom especial preservao, como nas mumificaes (Fig. 3).

    Qual a importncia de se conhecer os fsseis?

    O estudo dos organismos fsseis de grande importncia para o conhecimento dos processosevolutivos que regem a vida. Sem eles, a Teoria da Evoluo seria apenas uma hiptese. Porm esta no a nica utilidade do registro. Atravs deles podemos conhecer os ambientes antigos e os eventosclimticos e fsicos pelos quais nosso planeta passou, e quando isto ocorreu.

    Atravs dos fsseis podemos conhecer plantas e animais de pocas passadas, muitos dos quais jno existem mais. Os fsseis nos ajudam a determinar o ambiente onde as sedimentos se depositaram enos dizem como o desenho dos continentes (como vimos para o Mesosaurus) e os ambientes mudaram aolongo do tempo.

    Fsseis de corais, por exemplo, indicam que o local onde so encontrados foi um dia um mar raso deguas quentes e lmpidas, porque estas so as condies necessrias para o crescimento de um recife.

    Plantas fsseis nos mostram que um dia a Antrtica e a Groenlndia tiveram um clima mais ameno, epuderam abrigar uma vasta vegetao. Elas cresceram nestas altas latitudes durante todo a EraMesozoica e parte do Cenozico, o que sugere temperaturais globais mas altas do que hoje.

    Utilizando grupos especiais de fsseis, que sejam bons informadores das condies ambientais e dotempo em que viveram, podemos redesenhar o mapa e o clima do mundo no passado (ver p. ex.http://www.scotese.com/earth.htm), Alm do Mesosaurus, um grupo de plantas (as gimnospermasPteridospermas), embora tenham vivido por um curto intervalo de tempo (Permiano-Trissico) espalhou-se por todas as reas do sul do mundo, chegando a Antrtica. Um de seus representantes, asGlossopteris, atesta que as massas de terra dos atuais continentes do sul do mundo j estiveram unidas(Fig. 7), formando o que A. Wegener chamou de Continente do Gondwana. Levou-se em conta para tanto,que as plantas (como os vertebrados), tem dificuldades de atravessar grandes extenses de mar ou

    oceanos.

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    9/16

    Alm disto, alguns fsseis possuem um padro especial de distribuio no registro fossilfero, oupor que so raros, ou por serem tpicos de um determinado Perodoou Idade Geolgica. Graas a isto,foi possvel sugerir uma idade para as distintas rochas que se depositaram ao longo da histria de nossoplaneta. A este tipo especial de fssil, os gelogos chamam de FSSEIS-GUIA. Atravs deles podemosrelacionar as diferentes camadas de rocha, mesmo quando estas se encontram em continentesseparados por grandes distncias (Fig. 8). Alguns fsseis como os trilobitas(Fig, 9), antigos artrpodes,

    so um claro sinal de rochas muito antigas, j que o grupo como um todo extinguiu no final da EraPaleozica. Assim, rochas que contenham trilobitas, s podem ter se depositado neste intervalo detempo.

    Figura 8. Exemplo da possibilidade de correlacionar rochas de distintas reas pelos seus fsseis

    Outro tipo de Fssil-guia so os foraminferos, um grupo de Protistas utilizado pelas empresaspetrolferas em todo mundo. Uma das razes porque suas carapaas microscpicas que originam osdepsitos de leo. A outra, que graas a sua rpida evoluo e pequeno tempo de vida (algumasespcies vivem algumas centenas de milhares de anos, o que para a histria do planeta, um curtoespao de tempo). A presena de uma destas formas de vida curta, pode fornecer uma idade bastanteprecisa para a camada de rocha onde encontrada.

    Figura 9. Fssil de Trilobita(http://science.nationalgeographic.com/)

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    10/16

    PARTE 2: AS MODIFICACES QUE TRANSFORMAM A PAISAGEM TERRESTRE

    Vimos que os fsseis sugerem que os continentes nem sempre ocuparam a atual posio no globo, enem sempre tiveram a mesma configurao. Para entendermos por que os continentes, mares emontanhas mudam de forma e localizao, necessrio que conheamos um pouco da estrutura daTerra, responsvel no apenas pela dana dos continentes, mas tambm pelos terremotos e pelo

    vulcanismo, que vm ocorrendo desde que nossa crosta se solidificou, a cerca de 4 bilhes de anos.

    Tectnica de Placas e Deriva Continental

    Grande parte dos eventos geolgicos que transformam a superfcie do planeta acontecem emescala de milhares, milhes de anos, o que nos impossibilita de presenci-los. As excees se devem aeventos catastrficos como terremotos e vulcanismo, este ltimo capaz de fazer ilhas aparecerem edesaparecerem da noite para o dia, assim como lanar em nossa atmosfera quantidades enormes degases e poeira, que podem levar semanas ou at meses para assentar novamente.

    Estes fenmenos, apesar de toda destruio que podem causar, dificilmente alcanam escalasmaiores que regionais, e no so perptuos; um terremoto pode durar alguns minutos e um vulco pode

    ser ativo por centenas ou milhares de anos, mas no passa todo este tempo derramando lava!Existe porm, um tipo mais abrangente de fenmeno de dinmica interna da Terra capaz de

    erguer montanhas, e transformar regies ocenicas em continentes e vice versa.O cientista alemo Alfred Lothar Wegener foi o primeiro, em 1915 a admitir que os continentes j

    ocuparam posies no globo diferente das atuais. Ele observou a semelhana entre as linhas costeirasdo Brasil e da frica e que alguns fsseis de plantas e pequenos animais eram encontrados em regiescorrespondentes em ambos os continentes. Estes organismos no poderiam ter atravessado todo oAtlntico, ento as massas de terra que formam Amrica do Sul e frica j estiveram um dia unidas -disse ele. Na poca Wegener foi ridicularizado pela comunidade cientfica, pois era amplamente aceitoque os continentes sempre ocuparam suas atuais posies e, ele no conseguiu responder pergunta

    mais importante levantada por seus crticos: que tipo de fenmeno poderia ser forte o suficientepara arrastar continentes ao longo de distncias to grandes?Somente em meados dos anos 40, graas a inveno deradares, cientistas descobriram, no meio do

    oceano Atlntico uma longa cadeia de montanhas submersas que se estendiam ao longo do oceanoAtlntico, e que as rochas que formavam estas montanhas eram mais jovens que as de outras partes doglobo. Estas possuem uma cadeia de vulces ativos ao longo de sua extenso, e a lava expelida por estes,ao se solidificar, formam um novo assoalho ocenico que empurra as rochas do assoalho antigo. Comoesta gerao de crosta constante, o afastamento do assoalho ocenico tambm , econsequentemente o afastamento dos continentes!

    J era sabido que a Terra possui um organizao que mantm o material mais pesado no ncleo, que constitudo por ferro e nquel fundido, um mantocomposto de ferro mangans e clcio, e uma fina

    crostaslida e mais leve que as outras duas camadas internas, onde se assentam os continentes e asmassas de gua. A crosta terrestre no inteira, mas sim cheia de fraturas que a dividem em pedaosou placas que flutuam sobre o manto viscoso. Como as placas no esto paradas, pois o manto sob elasest em constante movimento, elas por vezes se chocam, soldando-se umas com as outras, ou seseparam como um dia aconteceu com as camadas que formam a Amrica do Sul e a frica; h milhesde anos atrs estas se chocaram, formando um nico continente, o Gondwana. Por fora do movimentodas correntes de conveco do manto um dia se separaram dando origem ao oceano Atlntico.

    Como crosta nova se formava, mas nem por isso nosso planeta aumentava de tamanho, os cientistassugeriram que em algum ponto as rochas deveriam ser eliminadas, retornando para o manto. Isto foicomprovado observando-se o contato de placas como a do oceano Pacfico e o leste da Amrica do Sul;neste local ocorre o que os cientistas chamam de zona de subduco, ou seja, um ponto onde a crostaantiga cai em direo ao manto devido a presso exercida pela expanso do assoalho ocenico. Apresso deste contato vem erguendo os Andes a milhares de anos.

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    11/16

    Montanhas tambm se formam pelo impacto da coliso de placas, como o caso do Himalaia, que seformou quando a ndia, que j foi ilha um dia, se chocou com o que hoje a Europa e a sia. A pressoexercida pelo impacto foi responsvel pela elevao daquela regio, que deu origem a uma enormecordilheira e ao monte Everest, o mais alto do mundo. Graas a este tipo de impacto, mares podemtornar-se continentes e vice-versa. Wegener estava correto!

    A partir destes dados, foi possvel elaborar um modelo de dinmica dos continentes o que os

    cientistas chamaram de Tectnica de Placas(do grego tectos= formao), que pde explicar a DerivaContinental, ou seja, o movimento das placas continentais que formam a crosta terrestre. Uma dascomprovaes desta teoria provm dos fsseis que encontramos nos vrios continentes que faziamparte do Gondwana, muitos elementos apoiam a Tectnica de Placas, como o caso dos vegetais da florade Glossopteris, encontrada na ndia, Austrlia, Antrctica e Amrica do Sul e de um pequeno rptil, oMesossaurus. (figura acima) encontrado no sul do Brasil e na frica. impossvel imaginar que, mesmonum passado distante, por mais que as condies fossem diferentes das de hoje este organismosconseguissem transpor uma barreira to grande como o Oceano Atlntico.

    PARTE 3: AS MODIFICACES GEOLGICAS QUE CRIARAM NOSSO RELEVOGeologia do Rio Grande do Sul

    As mais antigas formaes rochosas que caracterizam a paisagem do nosso estado comearam a seformar aproximadamente 700 milhes de anos, num perodo conhecido como Arqueano, no qual seformaram as rochas mais antigas do globo. Foi em algum momento deste perodo que comeou ochamado Ciclo Brasiliano, ciclo que deu origem s feies mais antigas do nosso relevo. Este ciclo incluia formao dos morros de Porto Alegre, conhecido como Cinturo Dom Feliciano,que seoriginou apartir do choque de duas placas continentais as quais os gelogos chamam de crton. Todos oscontinentes so formados por grandes aglomerados de crtons, que so as rochas mais antigas a seformar em nosso planeta.

    As rochas que "testemunharam" este evento de coliso podem ser encontradas em vrios locais do

    estado, inclusive em Porto Alegre. Todos os morros que circundam a rea central de Porto Alegre, comoo Santa Teresa, o Morro Santana, entre outros, so feitos do mesmo tipo de rocha que se formou com acoliso daquelas imensas massas de terra. Por sua formao to antiga, estes morros so hoje bastantebaixos, arredondados, mas um dia j foram bastante imponentes.

    Um outro registro marcante destes eventos em nosso estado a Bacia Sedimentar do Camaqu.Como j sabemos, bacia sedimentar uma grande regio do relevo, mais baixa que as regiescircundantes, e por isso recebe sedimentos vindos destas regies mais altas. fcil imaginar aformao de uma bacia sedimentar; aps um choque de placas, por exemplo, as regies que colidem doorigem a montanhas, e as regies mais afastadas do local do choque sofrem um rebaixamento de seuterreno dando origem a uma bacia. A bacia do Camaqu se encontrava na regio onde hoje corre o rioCamaqu, por isso recebeu seu nome. Naquela poca, a mais de 550 m. a. ela era tomada por gua

    salgada, pois se comunicava com um oceano, formando um grande lago de guas rasas, que podia secarem alguns momentos, at que a mais ou menos 500 milhes de anos, no final do Perodo Cambriano, estabacia foi totalmente preenchida.A bacia do Camaqu possuiu uma grande importncia econmica paranosso Estado, pois at poucos anos atrs, era explorada como uma grande fonte de cobre.

    Como seria a paisagem do Rio Grande do Sul naquela poca? Devemos lembrar que um longo perodosepara os dias de hoje daquele tempo, e naturalmente a paisagem era um tanto diferente da que temoshoje. As guas da bacia do Camaqu ocupavam a regio central do estado, porm quem imaginar estasguas repletas de peixes, ter uma surpresa; os peixes sequer tinham surgido naquela poca! Eles siriam aparecer muitos milhes de anos depois, no Siluriano, e ns estamos falando do Cambriano. Estegrande lago era quase um grande deserto de vida, habitado somente por medusas, algas unicelulares ealguns vermes. Na terra a desolao no era diferente, muito semelhante uma paisagem marciana,porm com gua. Feche os olhos e tente imaginar o nosso Rio Grande a 500 milhes de anos atrs;grandes montanhas ocupavam a regio onde hoje a serra, o litoral ficava a muitos quilmetros dedistncia, e um grande lago (bacia do Camaqu) ocupava a regio central do nosso estado e toda esta

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    12/16

    extenso de terras sem um nico vestgio de vegetao! No s aqui, mas em todo globo no haviasequer uma cobertura de lquen, mato nas margens dos rios, nada, nem um nico vegetal. As plantas svo aparecer no cenrio no Siluriano, alguns milhes de anos mais tarde.

    Existem poucas evidncias biolgicas que demonstrem como era a vida nesta poca em nossoEstado. Algumas marcas de atividade orgnica (icnofsseis) encontrados, so ainda cercadas de dvidasquanto a sua origem.

    O admirvel mundo do PermianoPor muitos milhes de anos o continente passaria por um perodo de agitao tectnica, at o final

    do Ordoviciano quando as massas de terra se aproximariam para formar o Gondwana.Neste perodo boa parte do Gondwana ocupava a regio polar, e inicia-se a formao de outra

    grande bacia sedimentar que ir ocupar o cenrio desta regio pelos prximos 290 milhes de anos, doOrdoviciano at o perodo Jurssico: a Bacia do Paran(figura ao lado).

    Esta bacia se estendeu desde o norte da Argentina e do Uruguai at as regies sul e sudeste doBrasil, oeste do Mato Grosso e Gois, sendo sua depresso mais acentuada, a rea que corresponde aosestados do Paran e Santa Catarina. Era uma bacia enorme! E conforme os continentes iam semovimentando mais para o Norte (o movimento das placas continua) a temperatura da regio foi se

    amenizando, e durante o Permiano Inferior, as geleiras que tomavam conta do cenrio do Estadocomeavam a recuar. A paisagem que encontramos no litoral do Rio Grande do Sul neste momento emuito diferente do nosso litoral. O cenrio era dominado por picos elevados e cobertos de neve,geleiras avanando em direo ao mar, em resumo, uma paisagem semelhante a que encontramoshoje na Escandinvia. No existiam praias arenosas, e o mar avanava em entre as regiesmontanhosas formando baias estreitas, longas em forma de labirintos com muitos quilmetros deextenso em direo ao continente e inundando a bacia do Paran.

    Alguns milhes de anos depois, mas ainda no Permiano, as mudanas climticas do globo permitem osurgimento de uma densa vegetao que beirava os rios cujas guas banhavam a bacia do Paran, sendodenominada de turfa. Este tipo de vegetao extremamente densa, alagada e se estendia por milhares

    de quilmetros da bacia, e a medida em que seus vegetais morriam, suas folhas galhos e razes seacumulam no solo, que se compactava com o peso, dando origem a um tapeta denso escuro e fofo, aturfeira. Foram estas turfeiras que deram origem s reservas de carvo mineral do Rio Grande do Suldurante o perodo Permiano. Durante o Permiano Mdio estas grandes matas de turfa, sofreraminundao do mar por mais de uma vez, e cada vez que ele invadia as plancies onde estas matascresciam, depositava sobre elas grande quantidade de areia marinha, alm de modificar toda a paisagemdo local. sabido que a bacia do Paran foi inundada pelas guas do mar por mais de uma vez; cada vezque uma inundao acontecia, devemos imaginar que tipo de mudanas ela acarreta num ambiente queantes era continental; se olharmos as rochas deste perodo, iremos encontrar, a parte inferiorcontendo carvo mineral, formado pela compactao das turfeiras, e intercalados ao carvo, camadasde areia e sedimentos marinhos, muitas vezes contendo fsseis de animais tipicamente marinhos, como

    certos tipos de moluscos com concha, chamados Aviculopecten, mais comuns em rochas do Rio Grandedo Sul. Em outras localidade contendo rochas da bacia do Paran como por exemplo as de SantaCatarina, encontramos grande quantidade de Heteropecten, que tambm so moluscos de duas conchas. comum encontrarmos tambm um outro tipo de invertebrado com concha, porm muito diferentes dosmoluscos, os braquipodos. Voc provavelmente nunca ouviu falar deles, como tanto se ouve falar emmoluscos, sendo que este grupo hoje muito restrito, encontrado principalmente na Antrtica. Masestes invertebrados j foram um grupo muito diversificado e abundante no s durante o Permiano ouna bacia do Paran, mas durante todo a era Paleozica, com uma ampla distribuio por diversas partesdo globo e com muitos de seus grupos servindo de fsseis-guia para alguns perodos.

    Uma outra importante evidncia de nosso passado geolgico que ficou marcada nas rochas do finaldo Permiano a presena de um pequeno rptil que habitava as guas calmas deste mar que inundava abacia do Paran, o Mesossaurus. Como sabemos, este pequeno animal foi muito importante para a teoriada Deriva Continental, pois seus fsseis so encontrados em muitas partes dos continentes que faziamparte do Gondwana, o que prova que estes j estiveram unidos um dia. Por milhes de anos este era o

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    13/16

    cenrio do nosso Estado, onde boa parte do Rio Grande do Sul estava no fundo do mar, a bacia doParan era um grande mar interno onde proliferavam moluscos, braquipodos, peixes e mesossaurosentre outros inmeros grupos de seres vivos, at que o mar comeou a recuar. Mas isto no aconteceuda noite para o dia; como tudo no tempo geolgico, na virada do Permiano para o Trissico, estatransio de mar para terra seca se deu de forma lenta, porm contnua. Toda a regio da bacia doParan, ser caracterizada, pelos prximos milhes de anos por grandes sistemas de gua doce,

    principalmente os fluviais enquanto o ambiente se tornar cada vez mais seco e quente, o quecaracteriza toda a Era Mesozica, nossa prxima etapa atravs da Histria do Rio Grande.

    A era dos Grandes RpteisA contnua deriva do Gondwana em direo ao norte, resultou em uma coliso com um outro grande

    continente que existiu no Hemisfrio Norte, a Laursia vindo a formar a Pangea (pan = todo; gea =terra), que no Trissico j tinha alguns milhes de anos de existncia. O clima do globo sofreualteraes devido formao desta massa nica de todos os continentes do globo. Este grandecontinente se posicionava em forma de meia lua com suas terras mais ou menos distribudas entre osdois hemisfrios. Esta localizao afetava a circulao das correntes ocenicas e elicas ao redor doglobo, a distribuio de calor sobre este continente tambm era diferente, j que havia uma imensa

    massa de terras no banhadas pelo mar, o que tornava o interior do continente quente e seco. exatamente isto que encontramos marcado nas rochas arenosas e avermelhadas que se formaram nesteperodo. E no precisamos ir muito longe para encontrar um indcio que nos mostre um pouco de comoera esta ambiente; da prxima vez que encontrar aquela laje spera muito usada em construo decaladas, ruas, a to comum pedra grs, imagine que ela guarda um pouco da histria da nossa histriadurante este perodo, no alvorecer do Trissico, com sua colorao tipicamente avermelhada to comumdeste perodo.

    Muitos cientistas dizem que a formao deste gigantesco continente foi o estopim para a maiorextino em massa pela qual nosso planeta j passou. Noventa e cinco por cento de todas as espciesexistentes durante o Paleozico se extinguiram na transio do Permiano para o Trissico, o que incluiu

    muitas espcies de peixes a maioria das espcies de braquipodos, e extino total dos trilobitas, quetinham sido abundantes por toda Era Paleozica.Mas apesar deste holocausto que separa o Permiano do Trissico, este perodo foi rico, com sua

    fauna de grandes rpteis, e a flora, composta de plantas perfeitamente adaptados seu clima e que lheso tpicos. O clima do Trissico, como sabemos era predominantemente seco e quente, e nem mesmocalotas de gelo existiam nos plos, porm ele sofre diversas modificaes ao longo do perodo. O RioGrande do Sul ocupava uma posio semelhante que temos hoje, e isto provavelmente favoreceu aexistncia de um clima quente intercalados por chuvas, ocasionalmente torrenciais. A paisagem eraprofundamente recortada por rios largos e relativamente fortes. Em regies onde existem rochasdeste momento do Trissico podemos encontrar uma infinidade de fsseis de peixes e anfbios, queeram abundantes neste perodo pois o clima, mais ameno que o do Permiano favorecia a proliferao

    destes pequenos animais. neste Perodo que viviam um tipo muito especial de vertebrados terrestresherbvoros, que se alimentavam da flora Dicroidium, pastando e migrando pelas vastas plancies doTrissico, tal qual as zebras e gnus fazem hoje nas plancies africanas. Um dos mais facilmenteencontrados no Rio Grande o de um rptil, com tamanho de um elefante beb, que recebeu o nome dePareiassauros, encontrados na regio de Bag e Acegu. Estes rpteis possuam longos dentes lateraisque lembram vagamente os dentes dos tigres dente-de-sabre, mas a funo era bem diferente; ospareiassauros os utilizavam para arrancar plantas do solo. Entre outros animais tambm comuns destafauna destacam-se os rincossauros, bem mais corpulentos, e de aspecto assustador, mas igualmenteherbvoros, e os cinodontes, que receberam este nome devido ao formato de seu focinho e dentes, quese assemelham aos de um co (cino = co; donte = dentes). Os cinodontes eram muito parecidos com osmamferos, inclusive acredita-se que faam parte do grupo que deu origem aos mamferos ou ento,esto proximamente relacionados. Os fsseis indicam que eram provavelmente onvoros, ou seja, comiamde tudo e algumas formas podem ter sido carnvoras.

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    14/16

    Um outro importante grupo de rpteis trissicos so os tecodontes. Alguns vocs j devem terouvido falar em filmes de dinossauros, e no por um motivo qualquer que se costuma relacionar os doisgrupos; acredita-se que os tecodontes tenham dado origem aos dinossauros. Os tecodontes eramgrandes animais de at seis metros de comprimento, do focinho cauda, eram muito diversificados,possuindo algumas formas aquticas que eram parecidas com os atuais crocodilos. Eram carnvoros epredavam as manadas de rincossauros e pareiassauros.

    Todos estes rpteis so encontrados em rochas que aparecem regio de Santa Maria e Faxinal doSoturno, e so muito importantes e conhecidos em todo o mundo, pois acredita-se que os dinossaurostenha surgido nestas plancies que hoje fazem parte dos continentes sul-americano e africano.

    Nos ltimos milhes antes da passagem do Trissico para o Jurssico mudanas profundas, aindano totalmente esclarecidas transformou as plancies ricamente abastecida de lagos e crregos dabacia do Paran, e estes, como mostram as rochas deste episdio foram aos poucos deixando de existir.Estas rochas podem ser encontradas na regio de Candelria, e estes registros evidenciam grandesdeltas fluviais, o que significa que no final do trissico o clima passou de rido intercalado com chuvastorrenciais, para um clima de perodos chuvosos mais freqentes e moderados. Estes fenmenosafetaram profundamente o tipo de vegetao. Para melhor compreender como o clima afeta a vegetaode uma regio, tomemos como exemplo o Pantanal. Qual a primeira imagem que lhe vem cabea ao

    ouvir falar em "Pantanal"? Algo como uma grande plancie alagada mais ou menos no meio do continentesul-americano que passa por perodos de estiagem, seca e aridez, e posteriormente por longos perodosde chuva, que podem durar meses, onde tudo volta a ser alagado? No parece familiar? Exatamente, apaisagem do incio e metade do Trissico era muito semelhante ao Pantanal. Agora tentemos imaginarcomo seria o pantanal sem seus perodos de estiagem intercalados por longos perodos chuvosos, se suafauna e flora caractersticos, que esto to adaptados quele ambiente tivessem que sofrermodificaes para se adaptar s novas, o clima e at o tipo de solo do terreno diferentes. Este tipo deanlise interessante para tentar imaginar como eram os ambientes do passado, comparando-os aosambientes que encontramos hoje. "O presente a chave do passado"como os gelogos costumam dizer.

    A flora de Dicroidium sofreu neste momento do final do Trissico, uma diminuio em sua

    abundncia por toda a bacia do Paran, assim como em todo o Pangea. Acredita-se que esta flora notenha conseguido acompanhar as mudanas climticas que estavam acontecendo, que aos poucostornavam o clima gradativamente mais mido, sendo substitudas por um tipo de flora composta deconferas, que so rvores semelhantes nossa araucria. Fsseis deste momentos podem serencontrados na cidade de Mata, que ficou conhecida como cidade da "Floresta Petrificada" justamentepela imensa quantidade de troncos fsseis que l existem. Esta imensa quantidade de rvorespetrificadas que ali se encontram tem chamado a ateno dos paleontlogos, levando-os a acreditar quegrandes modificaes climticas estavam agindo neste momento da nossa Histria, quando umaenchente de propores regionais soterrou toda esta floresta, aproximadamente 230 milhes de anos,que fossilizou e hoje podem ser encontradas nesta cidade.

    Findando-se o Trissico inicia-se o Jurssico, a cerca de 190 milhes, e dentre alguns de seus

    eventos mais marcante podemos citar a quebra do Pangea e o final da deposio de sedimentos na baciado Paran. O jurssico ficou marcado em muitos locais do globo como sendo a "A Idade dosDinossauros". Rochas encontradas em vrios locais do Rio Grande daquela poca, nos mostram que oclima comeava a se tornar seco. O aquecimento que se verificava em toda Terra foi responsvel pormodificaes drsticas na paisagem, pois os rios e lagos do final do Trissico j no existiam mais. Oregistro geolgico deste perodo no apresenta registro de fsseis. No h evidncias de cascalho, nemargila somente um tipo de rocha, arenosa, onde gros finos e grossos se encontram misturados,modelados pelos ventos que assolavam a regio e so tpicos de um tipo de ambiente caracterstico porser o mais rido e seco que pode haver na Terra: o deserto. Toda a regio da bacia do Paran, e muitosestados mais aos norte ficaram cobertos por um imenso deserto, comparvel ao Saara, que durariamilhes de anos at mais ou menos o final da Era Mesozica: o deserto Botucatu. No difcil imaginarcomo uma regio outrora to rica, frtil e povoada de diferentes tipos de seres se torna um grande edesolado deserto; o Rio Grande do Sul, assim como muitas outras regies que viriam se tornar nossoquerido Brasil, estavam no meio de um grande continente. Isto significa que nosso to mundialmente

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    15/16

    famoso litoral ainda nem existia, ou seja, naquela poca no tnhamos nenhum contato com o mar. Osoceanos so os grandes moderadores do clima terrestre, responsveis pela distribuio de chuvas,frentes frias e quentes que se formam graas s correntes marinhas que por sua vez do origem aosventos, que carregam umidade para dentro dos continentes, tornando o clima continental mais ameno.Isto significa que reas muito distantes da influncia marinha tendem a se tornar muito ridas: e eraexatamente esta a situao do Rio Grande, naquele momento: estvamos no meio de um gigantesco

    continente, muito distantes da influncia marinha, e portanto secos como um deserto salvo apenas poralguns meses de chuva que em alguns perodos do ano que tornavam o clima um pouco mais mido.Este cenrio no duraria muito tempo, pelo contrrio, sofreria grandes modificaes em escala

    global ao final da era Mesozica, que transformariam no s a paisagem, mas grande parte das formasde vida que habitavam a Terra, pois o final da era Mesozica marcado pelo que os cientistas chamamde Extino em Massa. Extines em massa ocorrem quando uma grande quantidade de seres vivosdesaparecem para sempre mais ou menos ao mesmo tempo. E "grande quantidade" significa uma escalaglobal de extines. Dentre os grupos que desapareceram durante a extino em massa do final da EraMesozica, destacam-se seus grandes rpteis, tanto aquticos, quanto areos ou terrestres. Dentreeste ltimo grupo, podemos incluir os dinossauros, tidos como um grupo dominante durante grandeparte da Era Mesozica devido infinidade de ambientes em que eram encontrados, e s inmeras

    formas que possuam, desde animais do tamanho de galinhas, at os gigantescos saurpodos, que podiammedir at 20 m de comprimento.

    A extino tambm foi marcante nos mares, onde desapareceram vrios grupos, incluindo osinvertebrados at ento abundantes, como as amonites. Estes eram moluscos (ou seja, invertebrados decorpo mole) muito comuns durante esta era, possuindo grande variedade de formas e grande nmero deespcies, sendo tambm considerado um dos grupos caractersticos da Era Mesozica.

    Muitos cientistas atribuem esta grande extino queda de um grande corpo celeste, como ummeteoro, que modificou o clima da Terra, pois o impacto fez levantar uma nuvem de poeira to densaque tapou o Sol por vrios meses. Sem Sol as plantas morreram aos poucos, e em seguida os animais quedela se alimentavam. a grande nuvem de poeira foi responsvel tambm por um longo e rigoroso inverno

    que atingiu todo o planeta, j que todos os raios solares no conseguiam atravessar a nuvem de poeira eaquecer superfcie da Terra. o choque do meteoro tambm afetou a crosta terrestre provocandovulcanismo e terremotos em diversas partes de nosso planeta, mesmo algumas distantes bem distantesdo provvel ponto de impacto.

    A vez dos mamferosO cenrio que se seguiu ao impacto era o de um grande vazio como um deserto onde no se

    encontravam nem plantas ou animais. Mas o Sol um dia voltou a brilhar e o longo inverno teve fim. Assementes enterradas no cho puderam finalmente germinar e tornar a Terra novamente repleta deverde, trazendo a aurora para um grupo de animais que por toda a era mesozica viveu sombra dosgrandes rpteis, e agora encontraram um mundo vazio cheio de novos ambientes espera de serem

    ocupados. Estes pequenos animais, peludos e de sangue quente, os mamferos, se espalhariam por todaTerra, tal qual os grandes rpteis um dia fizeram, seja na gua, no ar ou na terra, tornando o mundonovamente repleto de formas, cores e tamanhos. O final da era Mesozica registra uma das grandestransies da vida em nosso planeta, e a chegada da era Cenozica marcada pela ascenso dosmamferos, e pela definio dos limites geolgicos do nosso estado, que originaram todas aquelasimagens que nos vm memria sempre que falamos no nosso Rio Grande.

  • 7/23/2019 O Que Um Fssil

    16/16

    Referencias

    ANELLI, L.E. O Guia Completo dos Dinossauros do Brasil. Ed. Peirpolis, SP.CARVALHO, I. de S. (ed.).2000.Paleontologia. Rio de Janeiro : Intercincia, 2000, 628 p.CHIARELLI, A.; PALEARI, L. M. 2000. Terra, um planeta em movimento. So Paulo: Editora UNESP,28p.

    HOLTZ, M. 1999. Do mar ao deserto; A evoluo do Rio Grande do Sul no tempo geolgico. PortoAlegre: Ed. Universidade, 142 p.HOLZ, M.; Simes, M.G. 2002. Elementos Fundamentais de Tafonomia. EditoraUFRGS. Porto AlegrePARKER, S. 1990. The Practical Paleontologist. New York: Quarto Publishing plc. 1990. 160 p.Maravilhas da Natureza: O Mundo Pr-histrico.1973. Ed. Abril Cultural. 46 p.Maravilhas da Natureza: O Planeta Terra.1973. Ed. Abril Cultural. 46 p.Biblioteca da Natureza Life: A Terra. Livraria Jse Olympio Editora. 192 p.